Chamuças de Bacalhau 24

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Chamuças de Bacalhau Capitulo muito rápido para dizer que “no comer e no dormir está o existir”. A culpa é do xarope mágico. Mais uma ida ao cinema sem perceber patavina. Estofos turcos e dois polegares: Sharing is Scaring. 1

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Aventuras na India

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Chamuças de BacalhauCapitulo muito rápido para dizer que “no comer e no

dormir está o existir”. A culpa é do xarope mágico. Mais uma ida ao cinema sem perceber patavina. Estofos

turcos e dois polegares: Sharing is Scaring.

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XXIVViciada em Xarope

Posologia:-Imodium-Ultralevur-Sinarest-Mits Lictus Codeinaco

Perdi a voz, podia ter perdido outra coisa qualquer, mas a voz foi logo a primeira a abandonar-me. Isto deve ter-se passado algures nas 16 horas do melhor sono do planeta e satélites que tal, como não tinha há 24 dias. Aliás se for a ver bem acho que há 24 anos que nunca dormi assim, este xarope, o que quer que contenha já vai a meio, talvez isso explique qualquer coisa.

Acordámos e demos de caras com a Premila a fazer o pequeno-almoço, mandou-me logo ir gargarejar com água quente e sal, enquanto nos contava a sua história. Mãe e aventureira teve uma vida cheia de viagens e ousadias, nunca conhecemos uma mulher com tanta genica, fez-nos um chá com leite e gengibre que dava para reanimar um paralítico.

Depois de um mega duche quente, saído de um chuveiro enorme do tipo monção, fomos almoçar peixe frito e caril de camarão feito pela Baby, a cozinheira deles que só fala em Konkani (dialecto goês). Como continuava a beber o xarope às goladas, adormeci com a cara dentro do prato e decidi voltar para a cama.

Acordei lá para as seis da tarde. Os Fernandes, que viam o nosso apetite voraz e o nosso cansaço absurdo deviam achar que tínhamos atravessado a Índia a pé. Basicamente hoje só comemos e dormimos.

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Para fazer qualquer coisa activa-mas-não-muito, decidimos ir ao cinema. Panjin tinha um cinema gigantesco, novíssimo. A Índia ainda é daqueles sítios que tem salas de cinema sem um centro comercial à volta. Decidimos ir ver o Sunday, estávamos sempre a ouvir falar dele na rádio, e constantemente a ouvir a música do genérico, por isso arriscámos. Não percebemos um charuto do filme que, ainda por cima, era uma comédia mas como aquilo era quase só dança e cantilena, viu-se bem.

Íamos voltar para casa a pé, a noite estava morna e suave, podia-se bem dormir-se na rua. Mas o alarme de pânico da Rita que dizia qualquer coisa como “estás ali a ver aquele tipinho? Vai nos violar às duas ao mesmo tempo e depois de nos tirar a medula óssea e alguns rins vai obrigar-nos a comprar 20 lenços de seda falsa” disparou, e então fomos de riquexó. Fomos directas para a cama, já estava feliz e contente a pensar no sono eterno quando estendo a minha mão para o xarope…mas eis que o meu xarope mágico tinha desaparecido!

O horror, o mistério, a insónia!!Depois de uns berros, a Rita lá confessou que o tinha

escondido porque achava que eu estava a abusar do elixir. Mas depois de muito barafustar lá mo voltou a dar, quiçá devido ao meu ar infeliz de drogadito aflito. Adormecemos rápido a rir às gargalhadas porque nos lembrámos dos estofos do carro do Atish, e (que medo) dos dois polegares do homem que tínhamos visto no autocarro. E demos razão ao travesti estridente que fazia a locução na Rádio Índigo, rádio badalada da zona, de facto: Sharing is Scaring!

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