Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

37
1 A Mina Misteriosa K. Luger Terence Hillman foi assassinado com varias facadas e seu relógio de bolso foi roubado. O jovem advogado Douglas Maccay acusado como assassino, embora tivesse um álibi para a hora do crime foi sentenciado a morte na forca, pois essa é a justiça no Texas. Na ultima hora, porém, Christine, a dama com quem passara a noite e cuja reputação, ele não quisera comprometer, aparece no Tribunal e diante do próprio pai,o Juiz do caso, conta toda a verdade, inocentando-o. Disposta a descobrir o verdadeiro assassino, Walpola, filha do morto contrata o detetive Matt Griffin para investigar, e como não tem dinheiro para arcar com seus caros honorários, oferece a si mesma como moeda de troca. Disponibilização: Marisa/ Digitalização: Marina/ Revisão: Paulo

Transcript of Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

Page 1: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

1

A Mina MisteriosaK. Luger

Terence Hillman foi assassinadocom varias facadas e seu relógio de bolsofoi roubado. O jovem advogado DouglasMaccay acusado como assassino, emborativesse um álibi para a hora do crime foisentenciado a morte na forca, pois essa éa justiça no Texas.

Na ultima hora, porém, Christine, adama com quem passara a noite e cujareputação, ele não quiseracomprometer, aparece no Tribunal ediante do próprio pai,o Juiz do caso,conta toda a verdade, inocentando-o.

Disposta a descobrir o verdadeiroassassino, Walpola, filha do mortocontrata o detetive Matt Griffin parainvestigar, e como não tem dinheiropara arcar com seus caros honorários,

oferece a si mesma como moeda de troca.

Disponibilização: Marisa/ Digitalização: Marina/ Revisão: Paulo

Page 2: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

2

Copyright © MOMXCNOVA LEITURA EDITORA LTDA.Direitos ExclusivosRua Engenheiro Francisco Passos, 32-A CEP 21.070 — Rio deJaneiro1* EdiçãoDistribuidor Exclusivo para todo o Brasil: Fernando ChinagliaDistribuidora S.A. Rua Teodoro da Silva, 907 CEP 20.563 — Rio deJaneiroComposto e Impresso por: ERCA Editora e Gráfica Ltda. Rua SilvaVale, 870 CEP 21.370 — Rio de JaneiroTodos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ouparcial, sob qualquer forma.

Page 3: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

3

PRÓLOGO

O Sentenciado

O Juiz, Sidney Cord, olhou penalizado para o rapaz que estava de pé, junto aobanco dos réus.

Conhecia Douglas McKay havia muito tempo, desde que ele ainda era ummoleque com pouco mais de sete anos de idade.

Cord gostava dele, sempre o achara muito inteligente e, no curto período em quesubstituíra a professora, na escola local, pudera perceber que não se enganara a respeitode Douglas: ele possuía uma inteligência muito acima da média.

Quando começara a crescer e, consequentemente a se interessar mais abertamentepelos livros, Douglas McKay era conhecido na cidade toda como um verdadeiro bicho-de-biblioteca e como a biblioteca do Juiz Cord era a melhor e a mais bem sortida detodo o condado, se alguém quisesse encontrar o pequeno Douglas era só ir procurá-lo nacasa do Juiz.

Fatalmente o iria encontrar, a cara metida em algum livro que tanto podia ser umromance mais moderno, quanto um clássico da literatura mundial ou até mesmocomplicados tratados de filosofia pura.

Douglas lia, devorava tudo o que encontrava pela frente, dizendo sempre que ogrande prazer de sua vida era ler.

Dizia-se, à boca pequena, que tinha sido dessa época, de quando o menino pratica-mente morava na casa do Juiz para melhor poder ler e estudar, que nascera o romanceentre Chris, a filha única de Cord e ele, Douglas McKay.

Na realidade, porém, nada havia entre os dois, mesmo porque entre um menino dequinze anos e uma criança de treze, dificilmente acontece qualquer coisa demais.

No entanto, as más línguas da cidade tanto falaram, tanto mentiram que o Juizachou, para o bem da reputação de sua filha, que o melhor que tinha a fazer era enviá-lapara um colégio do Leste mais para afastá-la do ambiente de maledicências deDaugherty, no Texas.

A prova de que nada havia entre McKay e Chris, surgiu exatamente por ocasiãoda partida da menina.

É claro que Douglas sentiu a sua falta mas, nem por causa disso, ficou chorandopelos cantos, nem parou de comer e muito menos, parou de ler.

Continuou, muito pelo contrário, a frequentar a casa do Juiz da mesma maneiraque antes, até um pouco mais, talvez, lendo sempre, estudando todos os dias e não seacanhando de perguntar a Cord alguma coisa que não tivesse entendido...

Foi o próprio Cord que tomou as providências necessárias para que Douglas Mc-Kay pudesse ir estudar em San Francisco, em uma faculdade de Direito, já que o estudodas Leis era o que mais o empolgava.

Page 4: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

4

Douglas, órfão de pai e mãe desde muito pequeno, tinha que ter a oportunidade deestudar e Cord, sabia quem era aquele menino e como tinha plena e total confiança emseu futuro, achou que era sua obrigação, como homem bem sucedido e bem situado navida, ajudá-lo a ser alguém.

Assim, Douglas partiu para San Francisco, com uma renda mensal decorrente deum depósito que Cord tinha feito em sua conta, com a finalidade de se formar um bomadvogado.

— Sei que você terá sucesso, Douglas — dissera-lhe o Juiz, no momento em queDouglas subiu para o vagão em que iria viajar — E baste que você continue como épara que jamais venha a ter problemas na vida.

Douglas partiu; Chris já estava longe havia três anos.Cord percebeu de repente como era triste a vida sem o espírito de um jovem por

perto, sempre querendo saber as coisas, sempre ansioso por novos aprendizados.Douglas tinha ido para longe e, depois de cinco anos de ausência, tinha voltado...Segundo o que dissera em sua carta, voltara para o aniversário de Chris que, ainda

em Boston, deveria chegar naqueles dias.

* * *

Cord olhou para Douglas McKay, meneou a cabeça com tristeza e perguntou:— O réu tem alguma declaração a fazer? Não, meritíssimo — disse McKay —

Tenho apenas a dizer que eu sou inocente.Cord suspirou e, mostrando o corpo de jurados, falou:— Caberá ao corpo de jurados decidir sobre a sua culpa ou sobre a sua inocência.Bateu com o martelinho na mesa e disse, a voz sumida, como se estivesse presa

em sua garganta:— A corte entrará em recesso até que os jurados cheguem a uma decisão!Os doze jurados se levantaram e se dirigiram para a sala atrás do local onde o Juiz

estava sentado, na realidade, o fundo do palco do saloon de Dougherty.Sim. Quando havia um julgamento importante, aberto ao público para servir de

exemplo, o Juiz Cord requisitava o saloon da cidade pois era justamente ali que se podiaacomodar o maior número de pessoas.

— O réu pode permanecer sentado — disse o Juiz fazendo um sinal para queDouglas sentasse.

Douglas obedeceu. Olhou para o Juiz. Sabia que Cord não podia fazer grandecoisa para ajudá-lo, uma vez que nem ele mesmo pudera fazer mais do que ao menostentar reverter todas as provas que a acusação tinha contra ele.

Não conseguira uma só testemunha que falasse alguma coisa a seu favor.Não conseguira um só álibi.E, no entanto, ele tinha um álibi que certamente derrubaria todas as acusações.E ele não podia usar esse álibi, não poderia de maneira nenhuma dizer o que

estivera fazendo naquela noite, exatamente havia um mês.

Page 5: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

5

A noite seguinte à festa de aniversário de Chris; as poucas horas que antecederama sua partida de volta para Boston.

* * *

Enquanto os jurados decidiam sobre a sua sorte, Douglas fechou os olhos, sentadoali naquele terrivelmente desconfortável banco dos réus, e deixou que seu pensamentovoasse para aqueles momentos.

Christine tinha voltado para Daugherty, ele a tinha ido buscar na estação.— Como você está linda, Chris! — disse ele, beijando-a nas faces.— Como você está simpático! — exclamou a moça, retribuindo os beijos.De braços dados, os dois rumaram para a casa do Juiz, onde Douglas também es-

tava hospedado e, de braços dados, os dois jovens permaneceram durante o tempo todoem que estiveram perto um do outro.

Sim... Desde pequenos eles sabiam que havia algo muito mais forte do quesimplesmente uma amizade de infância que os unia. Que os atraía um para o outro.

Agora, já mais vividos, já mais escovados, eles reconheciam que essa força que osunia não era outra senão o Amor.

— Vamos nos casar, Chris — disse Douglas — Creio que o que "eu” estouconseguindo ganhar com o meu escritório de advocacia, lá em Frisco, nós dois podemosviver muito bem!

Christine não esperava outra coisa.Beijando apaixonadamente Douglas, ela respondeu:— Sim... Vamos nos casar assim que eu regressar em definitivo de Boston. Tenho

ainda mais alguns meses de curso. Afinal de contas não posso abandonar os meusestudos de belas artes já tão perto do final.

Douglas concordou com um sinal de cabeça e a moça prosseguiu:— Não fale nada a papai... Vamos fazer-lhe uma surpresa, está bem assim?Para Douglas, tudo era válido desde que, no final do túnel, Christine estivesse

esperando por ele.E, naquela noite, naquela última noite de Christine em Daugherty, tudo se tinha

precipitado.Os dois jovens tinham já se despedido, Christine tinha se recolhido até um pouco

mais cedo pois deveria viajar ao raiar do dia.Douglas ainda tinha ficado alguns minutos perambulando pela sala em companhia

do Juiz e, depois, dizendo que iria andar um pouco pela cidade, deixara a casa.Fora o próprio Juiz Cord quem lhe entregara a chave da porta, recomendando-lhe

que não se metesse em encrencas.Douglas já estava no meio do jardim quando escutou a voz de Christine que o

chamava, do bonito caramanchão exatamente ao lado do pequeno lago onde, de dia,dois casais de cisnes passavam o tempo todo a nadar de um lado para o outro emevoluções que pareciam um verdadeiro ensaio de balé.

— Christine! — exclamou Douglas — Mas você não tinha ido dormir?

Page 6: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

6

— Não consegui conciliar o sono — falou a moça — Fiquei pensando em nossavida como um casal, fiquei sonhando com a família que nós vamos constituir.

Douglas sorriu.Sentou-se ao lado da moça e abraçou-a.Sentiu, ao apertá-la junto a si, que a moça estava usando apenas uma roupa de

dormir, o corpo todo livre por baixo.Afastou-se, recatado, receoso mesmo, de não conseguir controlar o violento de-

sejo que começava a se apossar de si.Christine sorriu, percebendo o que acontecia com Douglas e, puxando-o para si,

falou:— Venha, querido... Quero ir para Boston levando comigo a lembrança de um

momento sublime com você!Os dois se amaram.Ali, sob o caramanchão, à luz da lua, os dois jovens se entregaram ao amor des-

vairado daqueles que não têm a paciência de esperar.O dia já começava a raiar quando eles pararam, quando eles se conscientizaram de

que tinham passado a noite em verdadeiras loucuras de amor.Pouco depois de sete horas da manhã, Christine partiu.Seu pai, que não tinha passado muito bem durante a noite, mal-estar fruto de

alguma coisa tomada em excesso na noite anterior, durante a festa de aniversário deChris, não foi acompanhá-la à estação.

Douglas esteve ao seu lado e só parou de acenar com o lenço quando já não maispodia ver o trem lá longe, quase naquele ponto onde os dois trilhos se encontram.

Triste, cansado, os olhos vermelhos e as olheiras no meio da cara, Douglas co-meçou a voltar para casa.

Já estava junto ao portão quando escutou a voz autoritária do xerife, dizendo:— Pare, Douglas! Não dê um passo e não tente reagir!Imaginando que fosse alguma brincadeira do representante da Lei, Douglas re-

solveu colaborar com a piada e ergueu os braços, dizendo:— Não atire, xerife! Eu me entrego!Percebeu, atônito, que não se tratava de nenhuma brincadeira quando viu os ou-

tros três auxiliares se adiantando, passando-lhe algemas nos pulsos e empurrando-obrutalmente em direção à delegacia.

— Ei! — protestou Douglas — Mas o que diabo estão fazendo? Uma brincadeiradessas não é possível! Isto não está certo!

Ao seu lado, o xerife falou:— Você está sendo preso, Douglas Mc-Kay! Acusado do assassinato do senhor

Terence Hillman!

* * *

O Juiz Cord voltou a ocupar o seu lugar e, uma vez, olhou para Douglas Mc-Kay.Havia uma profunda tristeza em seu olhar e, ao mesmo tempo, havia ódio.

Page 7: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

7

Ódio decorrente de ele se julgar traído por Douglas, ódio por não ter percebidoque aquele rapaz, em quem ele depositara tanta esperança, tanta confiança, na realidade,não passava de um ladrão vulgar, de um assassino frio que tinha matado uma pessoapara roubar pouco mais de mil dólares e um relógio.

Um a um os jurados voltaram aos seus lugares e permaneceram de pé, junto àscadeiras.

Cord pigarreou e, voltando-se para o presidente dos jurados, perguntou:— Os senhores jurados já chegaram a alguma conclusão?— Sim, meritíssimo — respondeu o presidente — A nossa conclusão é a de que o

réu é culpado!Houve um burburinho percorrendo o salão.Por cerca de cinco vezes, o Juiz pediu silêncio batendo freneticamente com o

martelinho de madeira sobre a mesa.Finalmente, quando conseguiu novamente se fazer ouvir, ele disse:— Douglas McKay. Levante-se para ouvir a sentença!Douglas não pode deixar de sentir um frio no estômago.Sabia de antemão, como advogado que era, qual seria a sentença.Afinal, ele era acusado de um delito grave: roubo, seguido de morte!No Texas, esse tipo de crime era punido com a forca. E ele estava no Texas! Era

um texano e um advogado, o que fazia com que tanto jurados quanto juízes, proferissemsentenças mais pesadas exatamente por que os advogados têm a obrigação de defender alei e não têm o menor direito de transgredi-la.

Cord pigarreou, mais uma vez.Podia-se perceber perfeitamente que ele não estava nem um pouco à vontade para

dizer o que tinha que ser dito naquele momento.Pigarreou mais uma vez e, erguendo os olhos para o teto, como se buscasse auxí-

lio Divino, ele disse:— Douglas McKay.Baixou os olhos para o réu e prosseguiu:— Você foi acusado de ter assassinado o senhor Terence Hillman para se apossar

de mil dólares que ele tinha nos bolsos e de um relógio.Fez uma pausa enfático-retórica e, depois de olhar intensamente para o réu,

continuou:— Não se contentou em roubar. Teve que matar! E assassinou o pobre velho a

golpes de faca. Faca que esqueceu no local do crime, tão embriagado estava. Depois,levou para o seu quarto o relógio do morto e o dinheiro, ainda manchado de sangue.

Balançou a cabeça de um lado para o outro e falou:— Um homem que mata o seu semelhante para roubar, não merece o convívio da

sociedade humana. Um homem que age como você agiu, não merece a continuidade naface deste planeta.

Douglas começou a sentir um nó que lhe subia à garganta, antecipando-se ao nóque lhe seria posto no pescoço dentro de pouquíssimo tempo.

Ouviu o Juiz dizer:

Page 8: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

8

— Baseado na Constituição e lastreado pelo veredicto dos senhores jurados, eu,Sidney Cord, Juiz de Direito, o condeno a morrer na forca!

Houve, mais uma vez um princípio de desordem no tribunal e Cord teve que batermuito sobre a mesa, com o martelinho de madeira, para fazer todo aquele povo ficar emsilêncio.

Quando conseguiu, quando todos estavam outra vez calados, o Juiz perguntou aoréu:

— Tem alguma coisa a declarar?A resposta veio pronta, imediata, embora a voz de Douglas não conseguisse estar

muito firme:— Sim, meritíssimo. Tenho a declarar que eu sou inocente!O silêncio permaneceu denso no salão.Ouviu-se a porta de vaivém se abrir, ouviram-se passos apressados avançando pe-

lo corredor entre as cadeiras e, de repente, uma voz feminina bradou:— E é verdade! Douglas McKay é inocente desse crime!Imediatamente, todos olharam aparvalhados para a filha do Juiz, Christine Cord,

que se aproximava da mesa do pai e dizia:— Parem com esta palhaçada! Douglas é tão culpado da morte de Terry Hillman

quanto eu ou você, papai!O julgamento estava irremediavelmente perdido.Furioso, o juiz perguntou:— Mas como é que você, que esteve desde sempre na Costa Leste, pode dizer que

Douglas é inocente?! Baseada em que você afirma uma coisa destas?A moça esperou que se fizesse silêncio outra vez e respondeu com um sorriso:— Fiquei sabendo do que estava acontecendo aqui em Daugherty no instante em

que cheguei a Boston. Imediatamente, voltei, procurando abreviar o mais possível oscaminhos, para poder chegar a esta cidade antes do julgamento de Douglas.

Respirou, sorriu para o pai e disse:— Infelizmente, não consegui. Cheguei um pouquinho depois de já ter sido

proferida a sentença mas, acredito eu, isso não terá nenhuma importância pois estasentença estará perfeita para o homem que matou Terry Hillman, mas jamais paraDouglas McKay, um inocente!

O silêncio no salão era tão grande que se poderia escutar perfeitamente, umamosca voando.

Ouviu-se um soluço.Todos olharam para o réu que, em prantos, levantou-se para dizer:— Cale-se, Christine! Não fale nada!Christine olhou desafiadoramente para o corpo de jurados, olhou para o promotor

e falou:— Douglas McKay não poderia jamais ter matado Terry Hillman. E isso porque

ainda não é dado ao homem o dom da ubiquidade.Sorriu e explicou:— Não é dado ao homem estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Page 9: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

9

O Juiz franziu as sobrancelhas e, abismado, ouviu a filha dizer:— Douglas não poderia estar matando Terry e me amando ao mesmo tempo! Nós

estávamos juntos. Estávamos nos amando e assim ficamos a noite inteira! Portanto,Douglas não poderia ter assassinado ninguém!

Mais uma vez, a desordem tomou conta do salão e, desta vez, Cord não se preo-cupou em bater com o martelinho na mesa.

Deixando que todos falassem o que bem quisessem, olhou para Douglas e sorriu.— Porque não disse isso antes? — perguntou Cord.— Não sabia se Christine iria voltar para se casar comigo ou não — respondeu

Douglas, prontamente — Não se pode saber o que é que iria acontecer com ela, lá emBoston, depois de dois ou três meses longe de mim! Podia ser até que ela viesse aconhecer um outro homem e desistisse de mim!

Olhou para a moça e encerrou, já deixando novamente as lágrimas escorrerem porsuas faces:

— Não seria justo de minha parte, destruir a vida de uma mulher por causa de umerro de sentimentos, não é verdade? Chris poderia ter se entusiasmado por mim, poderiater até se deixado possuir por mim... enganada! Eu jamais teria o direito de estragar asua reputação para salvar o meu couro! Todos ouviram.

Um silêncio terrível pesou sobre o salão.De repente, o promotor e os dois assistentes da acusação, começaram a aplaudir.O julgamento estava encerrado.O réu, de um momento para o outro, tinha deixado de ser réu!

Page 10: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

10

CAPÍTULO PRIMEIRO

Os Atentados

— O que eu estou dizendo, senhor Griffin, é que este é mais um desses casos emque a maldita Justiça dos homens não vai funcionar! Esse homem, esse assassino, ficaráimpune a menos que se faça valer, de uma vez por todas, a mais antiga e mais eficienteforma de justiça, ou seja a Justiça de Talião!

Os olhos de Wapolla Hillman brilharam, tornando-a ainda mais bonita, quando eladisse isso.

Sorri.Procurando afastar de meus pensamentos toda e qualquer imagem que represen-

tasse uma tentação em relação àquela beldade que se encontrava à minha frente, eufalei:

— Mas é preciso levar em consideração que, efetivamente, não temos nenhumsuspeito. O único que havia e que chegou até a ser julgado e condenado, acabouabsolvido e isento de toda e qualquer culpa, depois que a própria filha do Juiz lheforneceu o álibi perfeito!

Wapolla sacudiu energicamente a cabeça, fazendo com que seus cabelos lisos emuito negros balançassem produzindo uma onda de efeito visual muito bonito.

— Não estou querendo dizer que McKay seja o culpado e que Christine Cordtenha mentido no tribunal — falou ela — o que eu estou querendo é que se descubra overdadeiro assassino de meu pai!

Ficou em silêncio por alguns instantes e, abrindo um sorriso encantador, falou:— É por isso que eu vim de tão longe para contratá-lo, senhor Griffin. Segundo o

que me foi dito por várias pessoas, o senhor é o único capaz de descobrir a verdade arespeito desse assassinato e, além de tudo, fazer com que o culpado seja justiçado!

E, olhando fixamente para mim, acrescentou:— Nem que isso me custe até o meu último centavo.Mais uma vez, sorri.Sacudi negativamente a cabeça e falei, baixando dois tons a minha voz:— Não creio que a senhorita venha pagar o meu preço... Creio, aliás, que as

pessoas que lhe indicaram o meu nome, esqueceram-se de lhe dizer que eu cobro caro...Muito caro!

Wapolla Hillman ficou muito séria e retrucou:— Sim, todos me disseram que seria uma verdadeira loucura eu contratá-lo.

Houve um conhecido que me disse até que eu poderia começar a me habituar a trabalharcomo escrava durante o resto de meus dias para poder pagar os seus honorários.

Confesso que senti uma ponta de raiva dessa tal pessoa.Isso não é maneira de se fazer propaganda de um profissional!Está certo que o meu preço, naquela ocasião, era o mais alto do mercado...

Também era mais do que certo que eu não aceitava qualquer caso, e muito menostrabalhava para quem eu não simpatizasse de imediato.

Page 11: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

11

Porém, daí a dizer que eu haveria de cobrar um preço que significasse um trabalhoescravo para poder pagar meus honorários, também não era de justiça para comigo!

Sacudi negativamente a cabeça e falei.— Há certos casos em que não há uma compensação do investimento. O seu caso,

por exemplo, está muito complicado e muito sem qualquer base, sem qualquer pista!Wapolla sorriu, cheia de tristeza.Pareceu-me perceber que as suas últimas esperanças de justiça, estavam des-

moronando.Mas para não deixar de dizer alguma coisa, eu perguntei:— De quanto a senhorita dispõe para cuidar desse assunto?A moça ficou em silêncio por quase trinta segundos e, depois, baixando os olhos

disse, em um fio de voz:— Não disponho de coisa alguma. Pensei que, talvez, o senhor aceitasse...

serviços.Com os olhos marejados de lágrimas, a voz saindo espremida de sua garganta, ela

falou:— Tenho vinte e três anos de idade, senhor Griffin. Sei que há muitos homens que

me pagariam muito bem para estarem comigo durante uma noite! No entanto, eu jamaisme entreguei a nenhum deles! Sempre tive uma série de fantasias e de sonhos,compreende? Por isso, apesar de eu ser uma bailarina, jamais fui para a cama comninguém!

Seus olhos brilharam um pouco mais, as lágrimas escorreram e ela, levantando-se,falou:

— Eu estava disposta a qualquer espécie de sacrifício para que se fizesse justiçacom respeito ao assassinato de meu pai. Porém, pensando melhor, creio que estavaenganada. Estava enganada especialmente com relação ao senhor! Esperava encontrarum homem que de fato se dedicasse a fazer justiça e não apenas um mercenário quedeixa de lado qualquer espécie de sentimentos para pensar somente nos dólares!

Já estava se afastando em direção â porta do meu escritório, quando eu lhe disse:— Mas espere um pouco, Wapolla. Afinal de contas, eu não falei se aceito ou não

o seu caso.Wapolla Hillman estancou, olhou para mim e disse, em tom de escárnio:— Compreendo. A princípio, estávamos falando em dólares, coisa que eu não

tenho. Agora, no instante em que eu disse que estava até disposta ao pior dos sacrifícios,a meu ver, para que o senhor aceitasse esse caso, agora, o senhor Griffin se interessa!

E, com profundo desprezo, ela acrescentou:— O que prova que todos os homens são iguais!Bem, eu não poderia, jamais, deixar passar aquela ofensa sem a devida resposta.Levantei-me, segurei Wapolla pelos ombros, obriguei-a até mesmo com uma certa

brutalidade, a sentar.— Escute aqui, mocinha — falei, com severidade, há algumas coisas a meu

respeito que você precisa saber.

Page 12: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

12

Wapolla arregalou os olhos, mostrou em sua expressão, que estava com medo.Medo de mim.

— Em primeiro lugar não sou o mercenário que você está dizendo. É evidente queeu trabalho por dinheiro pois a minha atividade profissional, por menos ortodoxa queseja, é uma atividade como qualquer outra, compreende? E é preciso dinheiro para sepoder comer!

Fiz uma pausa e acrescentei:— Tenho a impressão de que a senhorita, como toda e qualquer pessoa que tra-

balha para viver, sabe compreender perfeitamente o que estou dizendo.Wapolla fez um gesto afirmativo com a cabeça e ameaçou levantar da poltrona em

que eu a tinha feito sentar.Segurei-a novamente e continuei:— Em segundo lugar, é preciso que entenda uma outra coisa muito importante:

não sou do tipo aproveitador!— Não é isso que eu... — começou a falar a moça.Interrompi-a com um gesto e prossegui:— Eu jamais aceitaria esse preço que a senhora diz que estava disposta a pagar.

Especialmente porque seria pago, segundo suas próprias palavras, "com sacrifício". Ora,eu ainda sou do tempo em que não pode haver sacrifício de nenhuma das partes paracerto tipo de coisa! Há que haver, isso sim, doação. Doação e entrega recíproca,compreende?

Larguei-a voltei para trás de minha escrivaninha.Wapolla olhou para mim e, de repente, começou a chorar.Deixei-a que desabafasse por alguns minutos e, depois, fui sentar ao seu lado,

segurei suas mãos e falei:— Não há necessidade de chorar dessa maneira. Vá para casa, descanse, pense

bem no que quer fazer e volte a me procurar amanhã de manhã.Wapolla enxugou as lágrimas, abriu a bolsa e, entregando-me um ingresso para o

teatro, falou:— Estarei hoje no Saint Paul Theater. Se puder, venha assistir.Levantando-se, recompondo o rosto, falou:— Eu me sentirei honrada com a sua presença lá. E talvez acredite que não se

sentiu demasiado ofendido com o meu comportamento.

* * *

Sentei-me bem junto ao balcão e, quando Wapolla se apresentou, fazendo a pri-meira bailarina em uma maravilhosa interpretação de "Natacha", de Korsakov, pareceu-me que ela estava dançando unicamente para mim.

Todas as vezes que olhava para o público, fixava mais demoradamente e maisintensamente os seus belos olhos de um azul profundo e líquido, em mim.

Page 13: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

13

Terminada a apresentação, corri aos camarins e, depois de deixar escorregar paraas mãos de dois seguranças do teatro, duas notas de cinquenta dólares, consegui chegarà sua porta.

Uma velhota com cara de coruja doente abriu às minhas batidas e rosnou:— A senhorita Hillman não recebe nenhum admirador em seu camarim!Já ia fechando a porta, mas eu, muito delicadamente, meti a ponta da bota no vão

da porta, impedindo-a de fechá-la.— Diga à senhorita Hillman que é Matt Griffin quem quer vê-la. Sou capaz de

apostar que ela vai me receber e ainda por cima, vai mandá-la ver se há passarinhossoltos embaixo do palco!

A velha não parecia com a menor disposição de seguir a minha recomendação e,com cara ameaçadora, começou a erguer o pé para pisar, com o salto quadrado de seusapato, em cima de meus dedos.

Nesse instante, a senhorita Hillman apareceu e, ao me reconhecer, falou:— Abra a porta, Molly, eu quero receber o senhor Griffin.E, para espanto e consternação da velha, acrescentou:— Estou com muita fome. Não quer ir buscar alguma coisa para mim, Molly?A velha com cara de coruja olhou para mim com ódio e, bufando, passou pela por-

ta, em direção ao fundo do corredor.Wapolla sorriu, jogou sobre os ombros nus e sedutores uma estola de peles e fa-

lou:— Que tal convidar-me para comer alguma coisa? Estou realmente com fome e

tenho muita coisa para lhe dizer.— E a coruja? — perguntei — Vai ficar furiosa quando aparecer aqui com a

comida que pediu.Wapolla sorriu e respondeu:— Molly até vai gostar. Ela também não deve ter comido coisa alguma desde a

manhã!

* * *

O San Francisco Bay Restaurant era considerado, naquela época, como o pontomais sofisticado da cidade e o lugar de eleição para os casais que queriam encontrar umpouco de paz e de requinte para passarem algumas horas agradáveis depois de umespetáculo teatral.

Sentados na varanda do restaurante, admirando a incansavelmente bela paisagemda cidade mais bonita dos Estados Unidos, Wapolla e eu guardávamos silêncioenquanto o garçom servia os nossos drinques.

— À sua brilhante apresentação — falei, erguendo o meu copo assim que o fun-cionário do restaurante se afastou.

— Ao seu perdão — disse a moça, olhando sorridente para mim.— Perdão? — indaguei — Mas perdão de quê?

Page 14: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

14

— Perdão pelo meu comportamento hoje à tarde. Por eu ter confundido um poucoas coisas. — disse ela.

Sorri, segurei sua mão esquerda sobre a mesa e murmurei:— Não pense nisso. Você não me ofendeu, de maneira nenhuma. Acredito, isso

sim, que estivesse muito mal informada a meu respeito!Voltamos a ficar em silêncio por alguns momentos e, depois de tomar mais um

gole de sua bebida, uma farmácia adocicada que se eu pusesse na boca ficaria doentepor várias semanas, Wapolla abriu a sua bolsa, tirou lá de dentro um recorte de jornal e,entregando-o para mim, falou:

— Acho que tudo começou com a publicação desta notícia, há três meses atrás.Cheio de curiosidade desdobrei a folha de papel e li:WAPOLLA HILLMAN DECLARA QUE FARÁ TUDO PARA ELUCIDAR A

MORTE DE SEU PAI!Algumas linhas abaixo, a notícia dizia:A FAMOSA BAILARINA CLÁSSICA ASSEGURA QUE SEU PAI FOI ASSAS-

SINADO POR QUE TINHA DESCOBERTO UMA RIQUÍSSIMA MINA DE OURO NAREGIÃO DE DAUGHERTY.

Olhei para Wapolla e, antes que perguntasse qualquer coisa, ela disse:— Essa notícia é mentirosa.E, com um sorriso, corrigiu-se:— Bem, pelo menos, parcialmente.Tomou mais um gole de sua bebida e explicou:— Eu não disse as coisas exatamente como foram escritas no jornal. Falei apenas

que eu queria, a todo custo, que o assassino de meu pai fosse encontrado e punido. Edisse que não achava uma explicação lógica para a sua morte, uma vez que ele semprefoi um homem de recursos muito reduzidos e que não acreditava que, de repente, tivessedescoberto uma mina de ouro de maneira a justificar o seu assassinato.

Assenti com um sinal de cabeça.Conhecia de sobra os repórteres, especialmente aqueles que gostavam de notícias

sensacionalistas.Sabia que eles eram pessoas capazes de distorcer á sua vontade as declarações deterceiros de maneira a darem maior vendagem às edições, explorando o gosto

mórbido da população pela desgraça alheia.Wapolla olhou para o prato que o garçom lhe trazia, um apetitoso peixe ao molho

de camarões e mariscos curtidos em vinho branco, sorriu e disse:— Há muito tempo que não como algo tão sofisticado!Como eu a olhasse, incrédulo, ela explicou:— Nós, artistas, somos muito mal pagos, na realidade. Temos algumas pequenas

regalias como, por exemplo, a possibilidade de usarmos roupas caríssimas, como estaestola de petit-gris, por exemplo. Porém, as roupas não são nossas, mas sim dacompanhia a que pertencemos.

Era algo que eu não sabia e arregalei os olhos, surpreso.Rindo de minha expressão, Wapolla prosseguiu:

Page 15: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

15

— É claro que recebemos muitos convites para jantares assim, à luz de velasperfumadas e com pratos requintados, porém, nós pagamos um preço muito alto poresses luxos. Normalmente, quem convida quer algo em troca e, como eu já

lhe disse, esse pagamento não figura, pelo menos por enquanto, de meus planos.Sorrindo, eu lhe disse:

— Bem, eu não estou cobrando coisa nenhuma por esta noite, Wapolla. De minhaparte, pode ficar tranquila!

Como se essa minha frase a estivesse deixando mais sossegada, Wapolla meteu naboca uma valente garfada de seu peixe e, depois de engolir com delícia o bocado, falou:

— Voltando ao assunto, depois que essa notícia saiu em vários jornais, comecei asofrer atentados.

— Alentados? — indaguei, cheio de surpresa — Mas que espécie de atentados?Pousando os talheres na beirada do prato, ela me contou:— Primeiro, tentaram me sequestrar. Recebi um convite para uma apresentação

especial na residência de um certo senhor Wilkinson, em Boston. Quando lá cheguei,percebi que não haveria apresentação nenhuma, mas sim um sequestro e, então, fugi.Tive muita sorte: encontrei urna patrulha policial e consegui uma escolta até minhacasa. No dia seguinte, o comissário de polícia veio confirmar as minhas suspeitasdizendo que o tal senhor Wilkinson jamais existiu naquele endereço e que a casa em queeu tinha estado não passava de um casarão abandonado e que era objeto de uma terrívelcomplicação judicial entre os herdeiros. Uma investigação feita junto a estes, provouque não tinham absolutamente nada a ver com o que me tinha acontecido.

A moça respirou fundo e continuou:— Depois, tentaram me assustar, entrando em meu quarto enquanto eu estava

fora. Roubaram-me algumas pequenas joias e diminutas quantidades de dinheiro.Sorriu e acrescentou:— Mesmo porque eu jamais tive grandes quantidades de dólares ou grandes e

valiosas joias.Olhei para ela com interesse e perguntei:— Mas a troco de quê alguém sentiria a necessidade de assustá-la?Um sorriso iluminou o rosto de Wapolla e ela falou:— Desde o dia seguinte à publicação dessa malfadada reportagem, tenho recebido

telegramas dizendo que eu preciso tomar cuidado, que eu preciso me proteger e quedevo contratar uma equipe de seguranças. Ora, será que esses atentados não sãoexatamente para me convencer disso? Para mostrar que eu realmente preciso de umaequipe de homens para me proteger?

Meneei a cabeça em sinal de dúvida.Seria uma atitude muito infantil da parte de quem estivesse querendo alguma

coisa nesse sentido, provocar o pânico na futura cliente.— Sabe qual é a companhia que deseja ser contratada? — perguntei.Wapolla fez um sinal afirmativo com a cabeça e, depois de engolir o que tinha na

boca, disse:

Page 16: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

16

— Sei. Os telegramas começaram a chegar depois que eu vim para San Franciscocom a Companhia de Balé e todos eles trazem o meu endereço de remetente.

Fez uma pausa, respirou fundo e disse:— O remetente é um advogado. Um advogado que eu não conheço pessoalmente

mais que de nome.Olhou intensamente para mim e arrematou :— Chama-se McKay. Douglas McKay e é exatamente o homem que foi acusado

de ter matado meu pai!

CAPITULO SEGUNDO

Uma História Mal Explicada

Refleti por alguns instantes.Era muito engraçado o que ela estava me dizendo.Pelo que eu tinha escutado dizer de McKay, ele era um homem brilhante, capaz de

se destacar com facilidade entre os seus colegas de profissão exatamente por suainteligência.

Além disso, desde que tinha acontecido aquela história de ser acusado da morte deHillman, McKay tinha dado provas mais do que suficientes de uma idoneidade semlimites, de uma honestidade a toda prova.

Assim, levando-se em consideração apenas esses dois fatores, seria muito difícilque ele fosse o verdadeiro autor desses telegramas.

Afinal de contas, um homem conhecido e reconhecidamente honesto e idôneo,dotado de uma inteligência superior, jamais e em tempo algum cometeria uma estupidezdessas.

Jamais poria em risco a sua reputação com um golpe tão pueril!— Não acho que ele seja o responsável por esses atentados, Wapolla — falei.

Aliás, acho muito pouco provável que ele tenha alguma coisa a ver com empresas desegurança pessoal ou coisas do gênero!

A moça nada disse.Limitou-se a olhar interessada para mim e eu continuei:— Por outro lado, não há uma explicação muito lógica para atentados, não é ver-

dade? Ainda mais, atentados que servem apenas para assustá-la, sem nenhuma intençãode lhe trazer grandes prejuízos físicos ou materiais.

Abri um sorriso e, com um gesto de quem afasta alguma coisa incomodativa,falei:

— Mas não vamos pensar nessas coisas agora. Aproveite o seu jantar, já que mecontou que não é sempre que pode usufruir de algo assim sem ter que estar com medode que lhe cobrem excessivamente caro pela refeição.

Wapolla riu, tomou um bom gole de vinho e disse:

Page 17: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

17

— Você tem razão. De mais a mais, nem sei por que é que estou lhe contandoessas coisas. A possibilidade de você se decidir a trabalhar para mim é tão pequena queeu posso mesmo considerar como inexistente.

Olhei para ela. Seus olhos estavam cravados em mim, súplices.Compreendi perfeitamente o que é que ela estava querendo com aquela frase:— Não diga coisas que não pode provar — disse eu — Pode ser que você se

engane redondamente e, então, vai ficar sem jeito e sem coragem de olhar para mim.Wapolla arregalou os olhos e perguntou:— O que é que está querendo dizer com isso? Será que eu posso, então, ter espe-

ranças?Mais uma vez, segurei a sua mão sobre a mesa e falei:— Vamos conversar outra vez amanhã. Não foi isso que nós combinamos?

Negócios só são tratados no escritório!Beijei a sua mão e acrescentei:— Neste momento, quero apenas aproveitar os momentos deliciosos de uma bela

noite em companhia de uma bela mulher. O que é, em resumo, o sonho dourado dequalquer homem!

A tarde já ia pelo meio, as horas se arrastando com peso de séculos, com sacrifíciode milênios.

Até aquele momento o dia me parecera ser o mais longo de minha vida, o mais pe-noso e mais angustiante.

Wapolla já deveria ter aparecido antes do meio-dia e, no entanto, não tinha dadosinal de vida.

— Creio que ela desistiu — falei para mim mesmo, olhando pela milésima vezpara a porta aberta de meu escritório, coisa que eu não costumava fazer mas que,naquele dia cheio de expectativas e de ansiedade, não hesitara em quebrar a minharotina de segurança.

Percebendo que estava efetivamente perturbado pela lembrança de Wapolla, re-criminei-me, dizendo para mim mesmo:

— Mas que diabo, Matt! Você não é mais um colegial para se comportar dessamaneira!

De fato eu já tinha deixado de ser um colegial havia muitos anos!E aquele tipo de comportamento não condizia, de maneira nenhuma com um ho-

mem de trinta e cinco anos de idade e com a profissão de justiceiro!Sim, eu tinha trinta e cinco anos de idade e era um justiceiro, um mercenário que

trabalhava ao lado da Justiça e que ganhava o pão de cada dia, fazendo com que pessoasinatingíveis para os braços da Justiça Comum, pagassem por seus crimes.

Fazia já quinze anos que eu me dedicava a esse tipo de coisa e, desde o início,jamais me tinha sentido envolvido sentimentalmente com nenhuma de minhas clientes.

É bem verdade que mais de umas cem vezes houve um certo tipo de envolvimen-to, uma certa intimidade até mesmo excessiva. Mas daí a dizer que tivesse acontecidoalguma espécie de sentimento, alguma espécie de amor... Não.

Page 18: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

18

Isso jamais tinha ocorrido em minha vida profissional e o fato de eu não conseguirtirar Wapolla de minha mente era mais do que significativo.

Inquieto, olhei o relógio de bolso que eu trazia preso por uma corrente de ouro aomeu colete e constatei que já passava longe de quatro horas da tarde.

— Não fiz nada o dia inteiro, a não ser esperar por Wapolla! — exclamei, surpre-so comigo mesmo. Isso não pode continuar dessa maneira.

Já estava me levantando para ir ao pub, ao lado de meu escritório para tomar umgrande copo de uísque, quando escutei passos no corredor.

— É ela! — pensei, entusiasmado, é Wapolla, chegando!Porém, antes mesmo de os passos se aproximarem de minha porta, percebi que

não podia ser a moça.Era um ruído pesado demais, nada tinha a ver com o toc-toc leve de um sapato

feminino.Já desanimado, ia pensando no que eu iria dizer para afastar aquele cliente ines-

perado e inconveniente, quando os dois homens entraram em minha sala.Quando digo dois homens, estou sendo excessivamente magnânimo pois o que

estava diante de mim naquele momento, era, na realidade, uma dupla de gorilas.E gorilas muito perigosos pois ambos estavam empunhando revólveres, amea-

çadores armas Smith & Wesson calibre trinta e oito, cujos canos apontavam para mim...— Não tente reagir, Griffin, falou um deles, o que estava à minha direita e que

pelo tamanho um pouquinho maior de sua testa, parecia ser mais inteligente, maispróximo do ser humano — Não vacilaremos em feri-lo, compreende?

Mostrou, tirando do bolso, os brincos que Wapolla estava usando na noite anteriore acrescentou:

— A bailarina está em nosso poder. Se você não quiser que alguma coisa de ruimaconteça a ela na próxima hora, trate de nos acompanhar docemente.

Sorriu.Era um sorriso simiesco, que mais parecia um esgar de dor ou de simples desa-

grado do que um sorriso propriamente dito.É interessante notar como as pessoas de alma negra, como deveria ser a daqueles

dois indivíduos, não tenham a capacidade e sorrir normalmente.Nos lábios de uma pessoa normal, ou seja, normalmente boa e normalmente má,

como bem tem que ser o Homo sapiens, uma mistura bem equilibrada de bondade e demaldade, um sorriso sempre tem a tendência de tornar a sua fisionomia mais agradável,até mesmo mais bonita.

Já em gente como aqueles dois macacos, o sorriso só fazia era enfeia-los.— O que querem que eu faça? — perguntei, em uma tentativa de ganhar tempo.O gorila da direita disse, em voz rascante:— Temos um tílburi esperando lá na frente. Você deverá nos acompanhar sem

oferecer resistência, compreende?E, com olhar ameaçador, repetiu:— Isso se não quiser que alguma coisa de ruim aconteça à sua noiva.Franzi as sobrancelhas, intrigado.

Page 19: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

19

Como assim, minha noiva? Desde quando havia alguma coisa que pudesse fazeralguém desconfiar que existisse alguma espécie de ligação afetiva entre Wapolla e eu?

Por um breve momento, pensei em dizer para aqueles dois que eu não tinha noivanenhuma mas, achei melhor calar.

Havia a imensa possibilidade de Wapolla ter dito que era minha noiva para seafastar de alguma situação delicada e embaraçosa.

Não era meu direito desmenti-la, pelo menos naquele instante.Erguendo os ombros, levantei-me e disse:— Muito bem. Podemos ir. E, forçando um sorriso, falei:— Estou desarmado. Podem me revistar, se assim o quiserem!

CAPÍTULO TERCEIRO

Por Conta do Desespero

O tílburi nos levou, dirigido por um dos gorilas, para o lado leste da cidade,exatamente para a estrada para Sacramento.

Não achei muito interessante aqueles bandidos não estarem se preocupando com ofato de eu estar vendo para onde estava sendo levado.

Para mim, esse fato era muito negativo: mostrava apenas que eles não tinham amenor intenção de me deixar voltar para casa.

Sem a menor possibilidade de escutar uma resposta confiável, perguntei, maispara descarregar um pouco o nervosismo:

— Para onde é que estão me levando? O que fizeram com Wapolla?O gorila que estava ao meu lado, rosnou qualquer coisa e, depois de alguns mo-

mentos, disse:— Não interessa o que é que vamos fazer com você, para onde é que está sendo

levado. Creio que para você, apenas tem que interessar que sua noivinha está bem einteira... ainda!

Pronto!Lá vinha ele outra vez com aquela história de noiva!Forcei um sorriso e disse:— Se vocês estão querendo dinheiro, até posso lhes dar. Mas deixem-nos em paz!O gorila riu alto e falou:— Não nos interessa pouca porcaria! Estamos atrás é de coisa realmente grande e

valiosa!Mais uma vez, fiquei preocupado.Sabia muito bem o que é que aquele bando estava se referindo, ou seja, ele estava

achando que a tal mina de ouro descoberta pelo pai de Wapolla existia.— Não sei de coisa grande nenhuma — resmunguei — E já estou começando a

me fartar desta brincadeira!

Page 20: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

20

O gorila olhou ameaçadoramente para mim e disse:— Pois acho bom que não se farte tão cedo. Qualquer coisa que tente fazer contra

nós, repercutirá diretamente sobre sua noiva e imagino que não esteja querendo issopara ela, não é verdade? Bem... Wapolla Hillman não era minha noiva e essa era umapossibilidade quase inexistente, para não ser radical e dizer que era uma probabilidadeimpossível.

Porém, nem por causa disso eu haveria de querer que alguma coisa de ruimacontecesse para ela! Muito pelo contrário!

Se pudesse fazer qualquer coisa para lhe evitar aborrecimentos, era mais do queevidente que o faria.

Aliás, naquele exato momento, eu poderia agir contra os dois bandidos.Eu estava sem meus Colts, é claro. Porém, na parte de trás de minha cintura, um

pequeno Smith & Wesson calibre trinta e dois estava bem encaixado e, no instante emque eu quisesse, poderia sacá-lo e fuzilar os dois bandidos sem qualquer dificuldade.

Já tinha podido perceber que eles eram bandidos de verdade, homens que, acimade tudo, não tinham a menor rapidez na lide com os revólveres.

Poderiam, sem dúvida, ser bons atiradores mas, daí a poderem competir comigo, opasso era grande demais.

Afinal de contas, um justiceiro mercenário e um pistoleiro têm, entre si, apenasdiferenças filosóficas.

Na prática, na hora das armas, os dois funcionam da mesma e idêntica maneira!Vi que o bandido que estava fazendo o papel de cocheiro, enveredava por uma

estrada mais estreita, rumo a alguma granja já há mais de cinco milhas da cidade.— Vocês poderiam ter escolhido um lugar mais perto para se esconderem —

comentei — Assim, terei muito trabalho para voltar para casa!O bandido ao meu lado soltou uma risada e disse:— Acho que é perfeitamente desnecessário você se preocupar com esse detalhe,

Griffin!Olhou divertido para mim e, confesso, cheguei a sentir um frio no estômago.Sabia muito bem porque razão ele estava dizendo que eu não precisava me

preocupar com a volta para casa.Mais uma vez, avaliei a possibilidade de reagir, de fazer com que os bandidos

sentissem o sabor do chumbo de meu pequeno, mas eficiente Smith & Wesson.E, novamente, cheguei à conclusão de que não poderia de maneira nenhuma fazer

isso.Afinal, eu não poderia saber quantos bandidos estavam com Wapolla, não poderia

adivinhar como é que ela estava.Não. Eu não poderia, de maneira nenhuma reagir, ainda.Não poderia correr o risco de fazer aqueles bandidos ou os que estavam mantendo

Wapolla como prisioneira, por conta do desespero, tomarem alguma iniciativa querepresentasse mais riscos para a moça,

Page 21: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

21

Não pude deixar de sorrir ao me lembrar que, até cerca de vinte e quatro horasantes, eu não tinha a menor ideia de que estaria envolvido daquela maneira em um casotão complicado, tão mal explicado.

Mas...era assim mesmo, em minha vida!Quando menos esperava, estava metido até o pescoço em alguma espécie de

encrenca que, normalmente, homem nenhum haveria de querer para si!Chegamos, nesse momento, em um pequeno rancho, um dos muitos ranchos que

foram abandonados por seus proprietários quando da entrada em vigor das novas leistrabalhistas.

A manutenção de pequenas propriedades rurais, depois de l9 de maio de 1890,passara a ser praticamente impossível dado o custo altíssimo dos salários e dado asexigências exorbitantes dos trabalhadores rurais que, pretendiam ganhar o mesmo queos trabalhadores urbanos e com regalias e garantias ainda maiores.

Assim, os pequenos proprietários não podiam, em hipótese alguma, manterem osseus ranchos em funcionamento. Sem a intenção de vendê-los, acabaram por abandoná-los completamente, deixando que o mato tomasse conta deles até que um dia, com leistrabalhistas um pouco mais favoráveis, pudessem voltar a "explorá-los”.

O rancho em que estávamos chegando, deveria ter sido muito bonito, situado àsmargens de um regato e com uma casa pequena mas pitoresca, construída com troncosroliços, à moda das construções canadenses.

Não pude deixar de pensar que um lugar como aquele deveria ser extremamenteromântico

desde que não houvesse bandidos tomando conta da situação.— Desça, Griffin! — falou o homem que estava ao meu lado, no banco de trás do

tílburi.

Obedeci, mantendo as mãos bem à mostra, para que não houvesse a menor dúvidaquanto às minhas intenções.

Já com todos os sentidos em alerta, observei que havia mais dois cavalosamarrados a um palanque na frente da casa e, assim, concluí que no interior da vivenda,deveriam estar mais dois bandidos junto com Wapolla.

A porta se abriu e eu fui empurrado para dentro da sala onde Wapolla se en-contrava sentada em uma cadeira de madeira, sob a mira do revólver de um bandido.

Seu companheiro, com um sorriso, disse:— Bem... Aqui está o homem que sabe de tudo! Vamos ver se ele também vai

guardar segredo.Olhei para Wapolla e sorri, tentando infundir-lhe um pouco de confiança e de

esperança.— Não se preocupe querida — falei. Tudo vai se resolver. Tenho certeza de que

estes senhores logo vão compreender que foi um erro muito grande terem tentado nosarrancar algum tipo de informação!

Page 22: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

22

Wapolla ia abrindo a boca para falar alguma coisa, quando o Destino, esse meugrande aliado, apesar de eternamente um grande brincalhão, deu-me a oportunidade queeu estava esperando para a minha reação.

Um dos cavalos relinchou, outro respondeu.Coisa perfeitamente natural e que não significava, obrigatoriamente, que houvesse

algum estranho se aproximando.Porém, os nervos daqueles homens estavam tensos, estavam já no limite.Os quatro bandidos olharam para fora, através da janela da sala.Foi um momento muito breve, um infinitésimo de instante mas que eu não poderia

de maneira nenhuma deixar passar.Baixando as mãos, levando a mão direita para a parte traseira de minha calça,

saquei o revólver e disparei.Disparei inicialmente contra o bandido que estava mais perto de Wapolla, pois

talvez fosse o que maior risco estivesse representando para a moça, naquele momento.Em seguida, girando sobre mim mesmo, já deitado no chão, procurei o abrigo de

uma pilha de lenha que estava jogada a um canto da sala e, enquanto fazia esse -movimento disparei mais duas vezes, atingindo na cabeça dois outros bandidos.

O último, exatamente aquele que falara comigo durante a viagem e que tinha meparecido ser o mais perigoso, mostrou que, na realidade, não valia grande coisa.

Sim, um homem que se propõe a ganhar a vida usando armas, não pode cometerasneiras em momentos importantes como aquele, deixando-se levar a atitudes imbecis,meramente por conta do desespero.

Um homem como aquele não poderia, jamais, entrar em pânico, não poderia ja-mais se desesperar.

No entanto, foi o que aconteceu.Apavorado, percebendo que não teria a menor chance contra mim, o bandido

achou que poderia se utilizar de Wapolla como escudo.Dessa maneira, ele saltou para a moça, tentando agarrá-la, tentando fazê-la de

refém.Não lhe dei tempo nem mesmo de chegar a tocar em Wapolla.Meu Smith & Wesson latiu mais uma vez.O homem recebeu a bala na fronte, no momento exato em que tocava o solo, jáa menos de meio metro de distância de onde Wapolla estava.A pequena, mas eficiente bala calibre trinta e dois com a ponta cortada em forma

de cruz, empurrou-o de encontro à parede em uma pirueta, fazendo-o cair, já morto, nochão.

Wapolla olhou para mim. Percebi que ela já não aguentava mais...A moça tentou se por de pé mas seus joelhos não a sustentaram, suas pernas se

dobraram e ela teria caído ao chão se eu não tivesse corrido a ampará-la, segurando-aem meus braços.

Um pouco mais tarde, já no tílburi, a caminho da cidade, ela me disse:

Page 23: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

23

— Eles tentaram me fazer dizer onde é que fica a mina de meu pai; o que éimpossível, uma vez que eu não tenho a menor ideia de onde é que ela possa selocalizar!

Sacudindo negativamente a cabeça, ela acrescentou:— Aliás, não existe mina de espécie alguma! Tenho a mais absoluta certeza disso!Sorri para ela e falei:— Acho que você jamais vai conseguir fazer gente como esses bandidos que aca-

bamos de liquidar, entender isso que acaba de me dizer. Para eles, essa mina existe evocê sabe a sua localização!

Wapolla se encostou a mim e falou:— Eu me vi desesperada! Estava vendo a hora em que eles iriam começar a me

violentar!Estremeceu, com horror apenas com a lembrança do medo por que tinha passado e

continuou:— Não tinha a quem ou a que recorrer e, por isso, inventei a história de que você

era meu noivo e de que você era a única pessoa a saber onde é que ficava a mina.Ergueu os olhos para mim, sorriu sem jeito e disse:— Espero que não tenha ficado muito aborrecido com isso. Com o fato de eu o ter

atraído para uma armadilha, para um perigo incomensurável. Mas, acredite, eu estavacompletamente desesperada e a única esperança que poderia ter era você!

Afaguei seus cabelos e murmurei:— Não se preocupe com isso, Wapolla, para mim, ser seu noivo, mesmo que

apenas ficticiamente, já é uma recompensa das maiores.E, tomando à direita na estrada para Sacramento, acrescentei:— Foi uma pena não ter conseguido deixar pelo menos um deles vivo para nos

prestar alguns esclarecimentos!Fustiguei os cavalos, fazendo-os trotar mais depressa.Wapolla, notando que não estávamos voltando para San Francisco, perguntou:— Mas para onde é que estamos indo? Porque não estamos voltando para Frisco?Não respondi de imediato.Senti um prazer um tanto quanto mórbido em deixá-la preocupada e assustada,

imaginando, talvez, que ela tivesse conseguido escapar da frigideira para o fogo.Porém, Wapolla não se deixou apanhar.Encostando-se mais a mim, ela disse:— Acho que vou gostar de viver uma aventura assim. Na realidade, minha vida

estava ficando insípida demais, limitada apenas às apresentações do teatro e à rotina deter que escapar de admiradores mais insistentes que se acham com o direito de me levarpara a cama.

Sorri, tornei a afagar os seus cabelos e disse:— Hoje, você não vai dançar, Wapolla. Nós iremos para Sacramento pois acho

que será mais seguro para você ficar longe de San Francisco por algumas semanas.A moça arregalou os olhos, espantada e eu prossegui:

Page 24: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

24

— Amanhã pela manhã, pelo primeiro trem, iremos para Daugherty. Creio que asexplicações para muita coisa estão nessa cidade e o advogado Douglas McKay poderános ajudar a esclarecer uma porção de pontos que ainda estão muito obscuros nesse seucaso.

O indolente recepcionista do hotel, em Sacramento, não fez muitas perguntas arespeito de coisa nenhuma, limitando-se apenas a verificar o registro de nossos nomes ea nos entregar a chave do quarto de número dezesseis, o único, segundo ele, com umbanheiro completo e privativo.

Escorreguei vinte dólares para a sua mão, para que mandasse subir o maisdepressa possível vários baldes de água quente para Wapolla poder tomar um banho eele, já se mostrando mais interessado depois de embolsar o dinheiro, disse:

— Não se preocupe, o senhor e sua esposa terão a água quente dentro de poucosminutos! E mandarei subir, também, uma garrafa de champanha.

Com um olhar carregado de malícia, ele falou, em tom mais baixo, para mim:— Sempre é bom tomar uma taça de champanha antes, não é verdade?Não falei nada.Não lhe disse que era da mesma teoria, ou seja, que o amor é melhor quando bem

regado com um champanha.Wapolla olhou satisfeita para o amplo e confortável aposento e disse, enquanto eu

verificava as janelas para ver se estavam bem trancadas:— Muito bonito. Bem melhor do que o meu quarto lá no hotel de San Francisco!Menos de dez minutos depois, uma criada trazia dois grandes baldes de água

quente para o banho e logo em seguida, outras duas criadas faziam o mesmo, acabandopor encher a banheira italiana, um autêntico e verdadeiro luxo para um hotel em umacidade como Sacramento.

— Tome seu banho — falei — Enquanto isso, eu vou tratar de arrumar algumasroupas para você. Não pode continuar a usar esses trajes que servirão apenas parachamar demasiadamente a atenção para a sua pessoa.

Já estava saindo, a minha mão sobre a maçaneta da porta, quando Wapolla mesegurou pelo braço, dizendo:

— Não, Matt! Pelo amor de Deus! Não me deixe sozinha aqui!Sorriu e murmurei:— Mas não há perigo, Wapolla, não acredito que os bandidos desconfiem que

estamos em Sacramento. Pelo menos, não vão descobrir isso antes de um dois dias.Pode ficar sossegada.

Porém, Wapolla não soltou meu braço e, puxando-me para mais perto, abraçando-me, ela falou:

— Não saia, agora! Sua presença me traz uma impressão de segurança que eununca senti antes.

Beijou-me sobre os lábios, um beijo quente, voluptuoso, ardente.Afastando-se um pouco, ela olhou fixamente para mim, sorriu e disse:— De mais a mais, eu preciso de alguém para me ajudar a esfregar as costas.Era demais para mim.

Page 25: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

25

Aliás, tenho certeza de que seria demais para qualquer homem normal.Voltei a trancar a porta e, por medida de segurança, empurrei a pesada cômoda

que havia no quarto contra a maçaneta, barricando de maneira segura a única entradanaquele quarto, naquele pedaço de mundo que estava prometendo se transformar, dentrode alguns instantes, em um autêntico e idílico paraíso.

Fato que se confirmou cerca de uma hora mais tarde, quando senti Wapolla entremeus braços, dizendo-me com a voz rouca e quente das mulheres que não conseguemmais controlar os seus desejos, que tinha sonhado com aquele momento desde o instanteem que me conhecera.

CAPÍTULO QUARTO

Nunca se está Livre do Perigo.

Já passava muito de dez horas da manhã quando finalmente consegui acordar.Por alguns momentos fiquei espichado sobre a cama, sentindo com indizível

prazer o contato do corpo de Wapolla e as dores musculares a que me tinham levado osabusos da noite. Sim,

Wapolla era uma mulher sensacional!Exatamente aquele tipo de mulher com quem um homem sonha a vida inteira e

que, quando encontra, não mede esforços e nem sacrifícios para prendê-la a si pelo restoda vida.

Acariciei as costas nuas de Wapolla e, beijando-a, procurei despertá-la o mais do-cemente possível.

— Ainda é muito cedo — protestou ela — Vamos ficar aqui mais um pouquinho.De fato era uma tentação muito grande, porém eu sabia que isso não poderia ser.Tínhamos que partir, tínhamos que encontrar o mais depressa possível uma res-

posta para as muitas perguntas que, desde que Wapolla aparecera era minha vida,estavam me martelando o cérebro e impedindo-me de pensar em qualquer outra coisa.

Perguntas que, se não tivessem sua resposta no mais breve espaço de tempopossível, acabariam por atormentar de tal maneira a minha existência que me deixariamlouco.

E isso, sem contar com o fato de que não estaríamos livres do perigo enquanto nãodescobríssemos por que, por exemplo, Terence Hillman, o pai de Wapolla tinha sidoassassinado.

De acordo com o que me contara a moça, seu pai jamais tivera uma vida desta-cada, jamais conseguira reunir bens e dinheiro que justificassem um assalto seguido demorte. Da mesma maneira, não se poderia pensar que ele tivesse inimigos uma vez que,exatamente pelo fato de sempre ter sido alguém apagado e inexpressivo, não haveriaquem se interessasse em prejudicá-lo.

Page 26: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

26

Quando Wapolla me falou sobre esse assunto, não pude deixar de refletir.Sim, é uma triste verdade.Pode-se até mesmo medir a importância de uma pessoa, de um homem, pela

quantidade de inimigos que consegue fazer durante a sua vida.O que é muito claro pois, à medida que alguém sobe na vida e nas realizações,

alguém terá que descer. Na luta diária por um lugar ao sol, aquele que consegue,consegue porque alguém caiu, porque alguém não conseguiu.

E, daí, acontece a inveja, daí acontece a inimizade, a perseguição.Um homem medíocre, simplesmente de boa alma, como era o caso de Terry Hill-

man, não costuma ter inimigos.O medíocre é indiferente para a imensa maioria das pessoas e, por esta razão, não

há quem queira ver a sua desgraça.Já aquele que se destaca...Bem, nesse caso, no caso dos que por esta ou aquela razão se mostram melhores

do que os outros, aí sim, os inimigos aparecem, frutos da inveja e do despeito.Levando-se em consideração todas essas ponderações, era fácil de chegar à

conclusão de que deveria haver um motivo muito forte para que Terry Hillman tivessesido assassinado.

Enquanto tomávamos o desjejum, perguntei para Wapolla:— Afinal de contas, o que é que fazia seu pai?— Não sei — respondeu a moça com o semblante carregado de tristeza — Papai

tentou tudo em sua vida. Desde ser lavrador, até mesmo vendedor de produtosfarmacêuticos.

Tomou um gole de chá, passou geleia de maçã em uma torrada e falou:— Nunca teve sorte. Viveu o tempo todo com grandes dificuldades e, quando eu

me tornei um pouquinho mais velha, ele fez questão de me enviar para um colégio defreiras onde, segundo o que dizia, eu poderia ter uma educação melhor e mais refinadae, assim, ter a oportunidade de vir a conhecer um homem bom e rico o bastante parasuprir as minhas necessidades.

Olhou intensamente para mim e disse, erguendo os ombros de maneira sedutora:— Creio que esse desejo de papai eu consegui realizar esta noite, com você.Sorri para ela e perguntei:— Seu pai jamais falou para você de alguma coisa referente a minas ou a ganhos

extraordinariamente grandes?Wapolla refletiu em silêncio por alguns instantes e disse:— Não. Papai jamais conseguiu ganhar ou mesmo juntar muito dinheiro. Tinha

um pequeno capital a que ele se agarrava com unhas e dentes, sem deixar jamais que afome ou a necessidade avançasse nesse dinheiro. Preferia passar fome a ter que usar dezdólares desse seu pequeno patrimônio.

Balancei negativamente a cabeça, completamente desanimado.As respostas de Wapolla não estavam me levando a nada.Um homem como Terry Hillman, dificilmente correria o risco de ser assassinado.

Page 27: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

27

Porém, para servir de prova de que jamais se está livre do perigo, Hillman tinhasido morto.

— Seu pai deixava o dinheiro desse capital em casa? — perguntei.— De maneira nenhuma! — exclamou a moça — Ele sempre deixou esse dinheiro

investido, no Banco. Achava que não tinha o menor cabimento guardar dinheiro emcasa.

Sorri.Pela primeira vez, ali estava uma coisa sólida e palpável.Havia uma imensa probabilidade de Hillman não ter sido, afinal, assassinado por

um motivo de inimizade.Ele poderia, realmente, ter sido morto porque se recusara a facilitar as coisas para

os bandidos.Por exemplo, contando onde é que tinha o dinheiro escondido.Relembrando os acontecimentos e o que Wapolla me tinha contado, afastei por

completo a possibilidade de seu pai ter tido, quando ainda vivo, uma mina. A história damina tinha sido inventada por Wapolla, em uma simples suposição que, por mero azardela, tinha caído no conhecimento de bandidos que imaginaram ser uma históriaverídica.

Porém, Terence Hillman tinha sido morto.E, pelo menos de acordo com a lógica, ninguém mata outra pessoa unicamente

pelo prazer de matar.A menos que seja um indivíduo mentalmente perturbado, o que então, sairia fora

da lógica.Sacudi a cabeça tentando por em ordem os meus pensamentos, tentando encontrar

uma explicação para tudo aquilo.Wapolla sorriu para mim e disse, como se estivesse lendo, o que me ia pela mente:— Um bocado confuso, não é mesmo, querido?Não havia como negar.A única coisa que poderíamos fazer era, realmente, partirmos o mais depressa

possível para Daugherty, para, no local que tinha sido o palco dos acontecimentos,tentar descobrir alguma coisa.

Olhando para o vazio, à minha frente, eu falei:— Não há como tentar adivinhar. Se ao menos pudéssemos ter mantido vivo um

dos bandidos para que dissesse alguma coisa. Mas não! Tive que matar todos eles!Wapolla franziu as sobrancelhas e perguntou:— Você acha que esses bandidos estão metidos com a morte de papai?— Pode ser — respondi — Nada nos impede de pensar assim. Na realidade,

devemos antes imaginar que todo o caso esteja imbricado e que haja apenas uma causapara que seu pai tenha sido morto e para que você esteja sofrendo essa perseguiçãotoda!

Wapolla ficou em silêncio por alguns instantes e ponderou:— Nesse caso, somos obrigados a imaginar que havia mesmo uma razão para que

ele fosse morto. Quero dizer, pode ser que ele estivesse escondendo alguma coisa!

Page 28: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

28

Olhei para a moça, como se não a estivesse vendo.Na realidade, ela tinha acabado de tocar o ponto nevrálgico de tudo aquilo.— Sim, é bem possível — falei — E acho que a resposta a muitas das perguntas

que estamos nos fazendo esteja exatamente nesse pequeno capital de que você me falou.Essa pequena importância que seu pai possuía e que não mexia de maneira nenhuma.

Alguns minutos depois, estávamos na agência de telégrafos, esperando a respostaa um telegrama urgente que eu tinha remetido para o xerife de Daugherty.

Não tivemos que esperar mais do que duas horas.Com um sorriso, o funcionário do Telégrafo me entregou a folha com a resposta,

dizendo:— Aqui está senhor, e se precisar de mais alguma mensagem urgente, estou à sua

disposição.Não pude deixar de sorrir.Aquele funcionário não era nem um pouquinho diferente da imensa maioria dos

outros que eu já tinha visto e conhecido. Jamais estavam à disposição para enviarmensagens urgentes a menos que se estivesse disposto a lhe fazer escorregar algunsdólares para dentro do bolso.

Juntamente com Wapolla, olhei para o papel e li:CONFIRMO O FATO DE QUE TERENCE HILLMAN MANTINHA UMA CONTA

BANCÁRIA COM CERCA DE CINQUENTA MIL DÓLARES, ESSA CONTA FOIESGOTADA CERCA DE UM MÊS ANTES DE HILLMAN SER ASSASSINADO.

Imediatamente, enviei outro telegrama, desta vez para o agente do Registro deMinas e Propriedades, em Austin, uma vez que seria lá e não em Daugherty que Hill-man teria registrado alguma aquisição imobiliária que, por ventura tivesse feito.

Já começava a escurecer quando o estafeta do telégrafo veio me procurar, emnosso quarto de hotel, com a resposta ao meu telegrama.

Àquela altura dos acontecimentos, não foi surpresa nenhuma para mim, ler o queestava escrito na mensagem:

TERENCE HILLMAN NÃO POSSUI NENHUMA TERRA NO CONDADO DEDAUGHERTY E NEM EM NENHUM OUTRO LUGAR DO TEXAS. SOB ESSEMESMO SOBRENOME, HILLMAN, FIGURA O REGISTRO DE UMA PRO-PRIEDADE DE TRÊS MIL ACRES EM DAUGHERTY, EM NOME DE WAPOLLAHILLMAN.

Olhei para a moça e sorri.— Com que então, minha querida, você é uma proprietária rural! Três mil acres já

é um rancho bastante bom, mesmo que para os padrões texanos!

CAPÍTULO QUINTO

Page 29: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

29

Um Encontro com um Advogado Honesto

Christine McKay, ajudada por Wapolla, serviu os pratos do jantar e disse:— Eu jamais poderia imaginar que Terry tivesse uma filha famosa! Uma bailarina

clássica tão conhecida!Wapolla sorriu, encabulada, e protestou dizendo que não era famosa coisa nenhu-

ma e que o fato de ser bailarina e relativamente bem conhecida no meio artístico, nãoapenas não lhe trazia confortos materiais, como também só lhe trazia dores de cabeça.

Mudando o assunto, eu indaguei de Douglas McKay:— Você nunca procurou descobrir o verdadeiro assassino de Terry Hillman?O advogado deu de ombros e respondeu:— No início, sim. Andei tentando fazer algumas investigações, andei à cata de

indícios que me levassem ao homem ou aos homens que tinham liquidado TerenceHillman. Porém, o meu tempo ficou muito escasso. Tive muitos trabalhos, muitosprocessos e, por isso, acabei deixando essas investigações para depois e, finalmente,acabei por desistir.

Deu um sorriso sem graça e continuou.— Certas coisas têm que ser feitas na hora. Se as deixarmos para mais tarde, esse

mais tarde jamais chegará!O advogado estava coberto de razão. E era perfeitamente justificável o fato de ele,

não mais se ter preocupado em encontrar o assassino de um homem que tão poucoparecia significar para a sociedade de Daugherty!

— Sabia que Hillman tinha adquirido três mil acres de terras aqui em Daugherty?— perguntei.

O advogado franziu as sobrancelhas.— Não é possível! — exclamou ele — Todos os negócios de terras feitos aqui

passam peles mãos de meu sogro. Acho que Cord teria dito alguma coisa para mim.Nesse momento, Chris, olhando para mim, falou:— Papai não tem o hábito de comentar em casa as coisas e os problemas de seu

trabalho. Além disso, ele é muito distraído e pode nem mesmo ter levado emconsideração esse fato.

Sorri para a moça e disse:— Bem, de qualquer maneira, ele não comprou as terras em seu nome, mas sim

em nome de Wapolla.Voltando-me para o advogado, eu pedi:— Não quer cuidar desse caso para nós? Gostaria de regularizar a situação dessa

propriedade e, se houver alguma coisa que seja necessário fazer...McKay sorriu e disse:— Você nem mesmo precisaria ter pedido. Com a chegada de vocês dois à cidade,

e tendo em vista a série de problemas por que Wapolla está passando, era minhaintenção desenterrar o caso do assassinato de seu pai. E é evidente que, de posse dessa

Page 30: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

30

informação a respeito da compra de terras, vou pedir uma certidão de propriedade paraque Wapolla possa legalmente, tomar posse de seu rancho.

Com um olhar maroto, McKay falou:— Aliás, acho que serão dois a tomarem posse do rancho, não é mesmo?Deixando a casa de McKay já bem tarde, rumamos, à pé, para o hotel.Wapolla seguiu à minha esquerda e eu, com o paletó desabotoado de maneira a

não haver o que me atrapalhasse na eventualidade de uma necessidade de reação com osrevólveres, olhava constantemente para todos os lados, temeroso de que alguém pudesseaparecer, com más intenções.

Aquela altura, os bandidos que estavam querendo alguma coisa de Wapolla, jádeveriam estar sabendo que nós nos encontrávamos em Daugherty e isso, se por umlado era ruim pois não poderíamos jamais adivinhar de onde é que partiria o ataque, poroutro era bastante bom, pois possibilitava-me desentocar os bandidos.

Mais ou menos como nos fazermos de iscas-vivas.Entre a casa de McKay e o hotel em que estávamos — o único da cidade — havia

uma distância de aproximadamente duzentas jardas.Ora, duzentas jardas é uma distância imensa, quase que transcontinental, quando

se está com medo de alguma coisa.Era exatamente essa a sensação que eu tinha naquele instante, enquanto atra-

vessava uma espécie de ruela mais estreita, para chegar à rua principal.— Este lugar me dá arrepios — disse "Wapolla, apertando-se a mim. É tão es-

curo!”O medo de Wapolla — bem como o meu, também — mostrou-se totalmente

justificável nos instantes seguintes.Dois homens surgiram à nossa frente, ambos já empunhando seus revólveres,

ambos mostrando um sorriso maldoso de quem têm a certeza de que vai conseguir o seuobjetivo...

— Não tentem reagir — falou o homem que estava à direita, mais perto da paredede uma casa. — Não queremos matá-los, queremos apenas uma palavrinha de vocês emum lugar bem tranquilo e sossegado.

Ora, mesmo que eu fosse o mais ingênuo de todos os habitantes do planeta.A situação era extremamente delicada pois não havia a menor possibilidade de

tentar resistir.Aqueles homens, ao contrário daqueles que eu tinha enfrentado em San Francisco,

não eram "bandidos de cidade grande", homens pouco habituados à lide rápida dasarmas de fogo.

Eram, muito pelo contrário, homens do oeste, homens com capacidade de tiro bas-tante respeitáveis, até mesmo para mim que me considerava um bom pistoleiro.

Aliás, esta é uma das características dos verdadeiros ases com os Colts. Elesjamais subestimam os adversários pois têm plena consciência de que bastará uma falhaou uma dose um pouco maior de sorte para que tudo esteja terminado.

Dessa maneira, considerei as possibilidades mais uma vez e cheguei à conclusãode que não deveria tentar reagir.

Page 31: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

31

Se sacasse meus revólveres, tinha uma chance em um milhão de conseguir atirarantes dos bandidos e, na eventualidade de eu tombar, Wapolla estaria em péssimoslençóis.

Vivo, apesar de em situação difícil, ainda existiria a chance de sair vivo daencrenca.

Por isso, procurei abrir um sorriso e disse:— Não fiquem nervosos, amigos. Não vamos oferecer resistência.Foi precisamente nesse instante que uma sombra se projetou para o interior da

viela, tapando a fraca iluminação do lampião a carbureto da rua principal.Como eu, os bandidos perceberam e, imediatamente, pressentiram o perigo.Em um movimento instintivo, de tratarem de se defender do inimigo mais evi-

dente, os dois se voltaram para trás, as armas já engatilhadas, prontas para atirar.Era exatamente o que eu estava esperando.

CAPÍTULO SEXTO

Uma Limpeza Necessária

Agindo com a maior velocidade possível, saquei o revólver da direita, e atireicontra o bandido que estava à esquerda e, portanto, mais próximo de Wapolla.

Não estava nem um pouco disposto a correr o risco de ver aqueles miseráveistentarem se apoderar da moça para se servirem dela como se fosse um escudo.

Não me incomodei com o fato de o facínora estar de costas para mim, ou seja, nãoliguei para o que se diz habitualmente que jamais se deve atirar em um homem pelascostas.

Para começar, eu não estava considerando aqueles dois como homens, comopessoas normais que merecessem a minha consideração.

Ouvi, com satisfação a voz de McKay, gritando:— Ao chão, Wapolla!Ouvi o baque do corpo de Wapolla que, sumariamente se jogava ao chão e escutei

o estampido de um revólver calibre quarenta e cinco.O bandido que eu tinha poupado foi simplesmente arremessado de encontro à

parede da casa.Olhei para McKay que sorria para mim e, antes que eu pudesse dizer alguma coi-

sa, o advogado falou:— Sinto muito. Pensei somente depois de já ter dado ao gatilho. Devia tê-lo

poupado, não é mesmo?Sacudi os ombros com indiferença.— Não faz mal — disse eu — Haverá outros.McKay se aproximou dos dois cadáveres e murmurou:

Page 32: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

32

— Mas eu os conheço! Dois bandidos de primeira linha, daqueles que nunca dei-xam uma prova de sua culpa para que possamos fazer alguma coisa contra eles!

Obrigando-nos a acompanhá-lo de volta à sua casa, ele explicou:Vi, assim que vocês dois saíram, de casa, estes dois homens que os seguiram.

Imediatamente, apanhei meus revólveres e me decidi a acompanhá-los pois tinha certezade que vocês iriam precisar de ajuda, cedo ou tarde.

Sorriu, mostrou os dois corpos já a cerca de cinquenta passos de distância, e disse:— Como vê, eu não estava enganado!Já em sua casa, enquanto Chris e Wapolla arrumavam o quarto de hóspedes para

nós dois, McKay contou:— Esses dois homens fazem parte de um bando de malfeitores que, de uma certa

forma, chegam a controlar a cidade.Franzi as sobrancelhas e McKay explicou:— Eles agem muito bem. É mais do que sabido que nenhum deles presta mas,

sempre que matam alguém, fazem-no de uma maneira tal que não se pode deixar deadmitir que eles agiram em defesa própria.

Fez uma careta de desagrado e encerrou:— Com isso, eles conseguem impor uma espécie de lei do terror e não se pode

fazer nada contra esses bandidos. De mais a mais, eles são quase trinta e não há quemseja tão corajoso ou louco, aqui na cidade, que tenha condições de enfrentar tantosbandidos de uma só vez!

Balancei afirmativamente a cabeça e falei:— Tem razão. É uma empreitada bastante arriscada mas, ainda assim, é uma

limpeza que deve e precisa ser efetuada. E é exatamente o que pretendo fazer.Levantei-me, aproveitando um momento em que Wapolla não estava na sala e

falei para McKay:— Fique aqui e cuide das duas mulheres. Pode ser que alguns bandidos ainda

queiram vir atacar-nos aqui.— Mas onde é que pretende ir? — perguntou, alarmado, o advogado — É uma

loucura tentar alguma coisa sozinho!Fiz um sinal para que ele não falasse alto pois não tinha nenhum interesse em que

Wapolla escutasse e, consequentemente, inventasse de não me deixar sair.— É preciso limpar a cidade — falei — E isso não poderá ser feito de uma outra

maneira a não ser com sangue!— Você nem sequer conhece os bandidos! — exclamou McKay em um sussurro.Sorri.— Você tem razão — falei — Mas não se preocupe muito com isso pois os ban-

didos me conhecem e muito bem! Eles mesmos se encarregarão de aparecer!McKay ergueu os ombros, tentando parecer resignado, e disse:— Procure deixar alguns com vida, Matt, assim, poderei interrogá-los!O lugar mais lógico de se encontrar maus elementos, em qualquer cidade do Oeste

dos Estados Unidos, é o saloon.

Page 33: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

33

Isso não é nenhuma novidade para ninguém e, é claro, foi para o saloon que eu medirigi assim que deixei a casa de McKay, fugindo, literalmente, de Wapolla.

Empurrei a portinhola de vaivém do saloon e entrei, notando imediatamente queum silêncio pesado se fazia, mostra mais do que evidente que a minha presença alicausava incômodo para alguns e curiosidade para a maioria.

Não tive tempo nem mesmo de chegar ao balcão e já o xerife, que ali se encon-trava exatamente por prever que haveria barulho ainda naquela noite, veio ao meuencontro.

Segurando-me pelo braço, ele falou:— Venha comigo, Griffin, temos muito o que conversar.Eu podia muito bem imaginar o que é que ele estava querendo comigo.Não há um xerife que aprecie a presença de um justiceiro em seu condado e isso,

primeiro porque um justiceiro é sempre sinônimo de encrencas e, segundo, porquedepõe contra a imagem do próprio xerife como defensor da Lei. Uma cidade que precisade um justiceiro mercenário como eu é porque, certamente, o xerife local não temcapacidade para lutar e defender os seus eleitores.

Enganei-me, porém.O Xerife de Daugherty não fazia parte do grupo de homens despeitados e

preconceituosos que, pelo fato de estarem com uma estrela no peito, acham que são ver-dadeiros heróis, semideuses absolutamente isentos da possibilidade de qualquer erro oude qualquer falha.

— Há pelo menos dez homens aqui no saloon que estão apenas esperando umaoportunidade para matá-lo, Griffin — falou ele — E pelo que sei, eles não terão muitapaciência. Se a oportunidade não surgir, pode acreditar que eles haverão de criá-la!

Fiz um sinal de assentimento com a cabeça e perguntei!— Quais são esses homens, xerife? Creio que vou proporcionar-lhes essa

oportunidade muito antes do que estão esperando.O xerife mostrou, com o olhar, os dois homens que se encontravam no mezanino

do andar dos quartos e, depois, outros quatro que estavam ao lado do pequeno palcoonde uma corista de idade indefinida e de plástica já um bocado fenecida, se esforçavapara chamar a atenção com a sua voz, já que estava perfeitamente cônscia de que poroutra razão ela jamais apareceria para o público.

— Há ainda pelo menos outros dois do lado de fora, Griffin — acrescentou o xe-rife —eu não sei como é que você vai fazer para se safar desta situação.

Olhei fixamente para ele e perguntei:— Poderei contar com a sua ajuda? O xerife sorriu.Mostrou a espingarda de canos serrados que estava segurando e disse:— Esta limpeza é necessária, meu amigo! Já estou cansado dos desmandos desse

grupo. Por isso, eu é que pergunto: depois que tivermos liquidado estes dez, podereicontar com a sua ajuda para acabar com o restante do bando?

Fiz um sinal afirmativo com a cabeça e disse:

Page 34: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

34

— É claro que sim, mas o mais importante é deixarmos alguns deles vivos.McKay quer interrogá-los e eu estou muitíssimo interessado, também em algumas dasrespostas que eles certamente terão para nos dar!

CAPÍTULO SÉTIMO

Tem que Haver uma Razão

Saí do reservado onde tinha estado conversando com o xerife e pude perceber queos quatro homens que estavam junto ao palco, olhavam de maneira interrogativa para osdois que estavam no mezanino.

Não tive nenhuma dificuldade em perceber que o sinal havia sido trocado.Em síntese: os quatro bandidos tinham recebido a ordem para atacar!Ao meu lado, o xerife fez uma careta.Não estava gostando da coisa e começava a considerar se teríamos ou não alguma

chance contra aqueles homens, o que era perfeitamente justificável.Enquanto os quatro estariam nos provocando, os dois do mezanino poderiamcalmamente apontar suas armas para nossas costas e fuzilar-nos sem a menor

contemplação.— Vamos para debaixo do mezanino — sussurrei — Lá, não teremos que nos

preocuparmos com as nossas costas.Rapidamente, enquanto os quatro bandidos que estavam diante de nós posicio-

navam seus braços para um saque rápido, o xerife e eu começamos a nos dirigir paradebaixo do mezanino, em uma posição que tornaria impossível aos dois pistoleiros queestavam em cima, enxergarem-nos.

Os bandidos perceberam a manobra e decidiram precipitar as coisas.— Não os deixem escapar! — gritou o que estava mais à frente, já levando a mão

à coronha de seu revólver.Foi nesse momento que o xerife e eu agimos, com um sincronismo perfeito de

movimentos, como se tivéssemos já treinado aquela mesma situação por muitas emuitas vezes.

O xerife atirou com a sua espingarda, levando-a a altura da cintura e provando,com o seu disparo perfeito, puxando os dois gatilhos da arma de uma só vez, que elebem merecia ser o representante da lei naquela cidade.

Ao mesmo tempo, eu dei um salto para frente, pondo-me completamente adescoberto em relação aos dois bandidos que estavam no mezanino...

Minhas mãos, como se independessem completamente de comando cerebral, emum movimento rápido e quase que instintivo, sacaram meus dois Colts, já disparandopara cima, para os dois facínoras que lá estavam para nos apanharem pelas costas.

Nossos tiros foram perfeitos.

Page 35: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

35

Os quatro bandidos atingidos pelo verdadeiro canhão de mão que o xerife usava,foram literalmente destroçados pelas quase cem gramas de chumbo grosso que eleenviara em sua direção.

Os dois que estavam em cima, nem sequer tiveram tempo de disparar.Ainda com as armas nas mãos, a testa perfurada por meus projéteis, eles des-

pencaram, quebrando a balaustrada do mezanino e vindo se estatelar sobre as mesas dosalão de jogos. Restam os dois lá de fora! — gritou o xerife.

Não perdi tempo.Praticamente mergulhei pela portinhola de vaivém, aterrisando na poeira da ruae logo virando uma espécie de cambalhota indo buscar abrigo atrás do bebedouro

dos cavalos.Apanhados completamente de surpresa pois eles jamais poderiam esperar que seus

companheiros fossem batidos lá dentro, os facínoras perderam um tempo precioso emcompreender que tudo estava terminado para eles.

Assim, graças aos poucos segundos que os dois deixaram passar por causa doespanto, pude atirar visando os seus ombros e, assim, inutilizá-los, deixando-os in-capazes de qualquer reação.

Já os estava prendendo quando um cavaleiro saiu, o animal a pleno galope, deuma das vielas que desembocavam na rua principal, atirando desesperadamente contramim e — tive certeza — contra os dois presos.

Um deles caiu, o outro ainda conseguiu se esquivar das balas.— Maldito! — exclamou este — Maldito seja esse O'Nurse! Tentou nos matar! A

nós! Que somos seus companheiros!O xerife sorriu.Tinha escutado o que o bandido dissera e aquilo era mais do que suficiente para

mostrar que ele e McKay não teriam a menor dificuldade em arrancar uma boaconfissão daquele bandido!

De minha parte, a única coisa que poderia fazer, era tratar de perseguir obandoleiro que tinha atirado em mim e nos dois prisioneiros...

Montando no primeiro cavalo que encontrei, meti-lhe as esporas sem dó e nempiedade e saí atrás dele.

Não consegui alcançá-lo.O cavalo que eu havia "tomado emprestado" não tinha a menor condição de

perseguir e alcançar um animal como o que aquele tal de O’Nurse estava montando.Assim, depois de menos de um quarto de hora de perseguição, fui obrigado a

desistir e, mantendo um trote apressado, regressei a Daugherty.Havia, ainda, os outros vinte homens que o xerife e eu iríamos enfrentar, com toda

a certeza, dentro de algumas horas.Era totalmente impossível imaginar-se que os bandidos não viriam atacar a cida-

de, já que toda a população tinha se mostrado dócil quanto aos caprichos de suasvontades.

Ao chegar a Daugherty, porém, uma surpresa me aguardava.

Page 36: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

36

Os homens da cidade estavam todos armados, uns com rifles, outros com es-pingardas, e a maioria com revólveres.

— Você mexeu com os brios desses homens — explicou o xerife — Eles vão nosajudar quando os bandidos chegarem!

Sorri, satisfeito.Ali havia mais de cem homens e todos pareciam decididos a cobrar com sangue

todas as ofensas que tinham sido obrigados a engolir.— Não tem o menor cabimento deixarmos que você enfrente esses bandidos

sozinho — disse Moses Bricker, o proprietário da farmácia da cidade — Vamos ajudare acho que quando os bandidos perceberem que estão completamente cercados, seentregarão!

Não precisamos esperar por muito tempo.Cerca de duas horas mais tarde, depois que eu e o xerife, já tínhamos colocado os

homens em posições estratégicas que permitissem uma boa defesa, os bandidosapontaram contra o céu já começando a avermelhar com a aurora.

— Será que eles vão perceber alguma coisa. Griffin? — perguntou o xerife, de pé,no meio da rua principal, ao lado de McKay que fizera questão fechada de participar dofinal de toda aquela história.

— Não acredito — falei — Os homens estão muito bem escondidos.McKay sorriu e disse:— O mais engraçado de tudo é que os bandidos que foram presos disseram que há

uma mina no terreno de Hillman, mas eles não a encontraram por mais que tivessemrevirado tudo por lá! Por isso é que acabaram matando o velho e queriam fazer Wapollacontar, imaginando que o pai, por carta, lhe tivesse dito alguma coisa.

Sorri para McKay e falei:— Creio que eu tenho uma leve ideia do que é que seja essa mina. E, assim que

tivermos acabado de limpar a cidade, cuidarei para que tudo fique esclarecido.O xerife olhou surpreso, para mim e perguntou:— Será possível que você também está acreditando nessa bobagem, Griffin?Não tive tempo de responder.Os bandidos, mantendo seus cavalos em pleno galope, avançavam já contra a

cidade, atirando sem cessar.Não me deixaram dar a ordem de atacar, de abrir fogo contra os facínoras.Do alto dos telhados e das janelas dos segundos pavimentos das casas, a popula-

ção abriu fogo.Uma fuzilaria cerrada teve lugar e os bandidos, apanhados completamente de

surpresa, não tiveram a menor chance de se defender.Caíram todos, varados de balas, pesados de chumbo das espingardas de caça que a

maioria dos chefes de família de Daugherty estava usando.A batalha não chegou a durar dez minutos.Quando o último tiro foi disparado, não havia nenhum deles com vida.Daugherty estava limpa, livre daqueles bandidos.

Page 37: Chaparral -28 - a Mina Misteriosa - Kenneth Luger

37

E, para mim, restava apenas saber por que tinham dito que havia uma mina nasterras do pai de Wapolla.

Tinha que haver uma razão para esse boato. E eu haveria de encontrá-la!

EPÍLOGO

Uma Surpresa para Todos

Durante os sessenta dias que se seguiram, Wapolla e eu fomos para o rancho queseu pai tinha comprado e enfurnamo-nos lá, cuidando apenas de nos amarmos aomáximo, já na condição de um casal legalmente constituído, segundo o que nos disserao Juiz Cord.

Durante esses dois meses, alguns homens que eu tinha mandado vir de Denver ede Saint Louis, tomaram conta, delicada, mas firmemente, de nossas divisas, impedindotoda e qualquer pessoa de lá entrar.

Eu já estava começando a ser malvisto na cidade, acusado de estar formando umanova quadrilha de bandidos, quando um dos homens que tinham vindo para as nossasterras para estudar a tal "mina" de Hillman, surgiu na sala de nossa casa com umcalhamaço de papéis e um sorriso de orelha a orelha.

— Já terminam os, chefe! — disse ele — E o resultado está aqui!Entregou-me o maço de documentos e acrescentou:— Leia, chefe... Será uma surpresa para todos!Sorri para o engenheiro Tony Kalamazoo e falei:— Para mim, não é surpresa... Folheei o calhamaço e disse:— O resultado é exatamente o que eu esperava...Kalamazoo sorriu e, com um aceno de cabeça, confirmou:— Isso mesmo, chefe. Podemos começar a furar os poços assim que o equi-

pamento chegar!Abracei Wapolla, beijei-a e disse:— Vamos abrir aquelas garrafas de champanha, querida, Kalamazoo bem que

merece se embebedar.

Enquanto Wapolla ia buscar as taças e as garrafas, o engenheiro me disse:— Há petróleo que não acaba mais, chefe. Vocês já podem se considerar

milionários!Bati nas costas de Kalamazoo e corrigi:— Errado, meu amigo. Todos nós podemos nos considerar milionários! Você sabe

disso! Esse petróleo não é apenas meu! Ele é, na realidade, de todos nós!!!

FIM