Chico Buarque

52
CONHECENDO CHICO “ATRÁS DA PORTA” Conhecendo Chico “Atrás da Porta”

description

Slide da oficina ministrada pelo acadêmico da Faculdadade Uneouro Jenefissom Fagundes em caráter especial e apresenta a subjatividade e a interface presentes na obra do autor

Transcript of Chico Buarque

Page 1: Chico Buarque

CONHECENDO CHICO “ATRÁS DA PORTA”

Conhecendo Chico “Atrás da Porta”

Page 2: Chico Buarque

Chico Buarque de HolandaChico

Conviveu com grandes escritores, compositores: Vinícius de Moraes, Tom Jobim, João Gilberto, Manoel Bandeira, entre muitos outros;

Artista consagrado nos Anos de Chumbo (após o Golpe Militar de 1964);

Consciente da responsabilidade social (“Mas eu continuo achando que é melhor ser censurado do que omisso” BUARQUE, Chico. Revista 365, 1976. Disponível no site;

Primeira peça teatral: Roda Viva; Optou , após a repressão sobre a peça de teatro

Roda Viva, auto-exílio na Itália;

Julinho da Adelaide

Page 3: Chico Buarque

Chico Buarque de Holanda

Ranking dos músicos do século:

1º Chico Buarque - 76,48%Autor de "A banda" e "Apesar de você" um dos poetas mais exuberantes da MPB.

2º Tom Jobim - 73,78% - Compositor popular brasileiro mais conhecido internacionalmente.

3º Vinícius De Moraes - 59,76% - Poeta que deu qualidade à música popular

O músico do século. Istoé - 28/02/99

Page 4: Chico Buarque

SILVA, Anazildo Vasconcelos da. A poética e a nova poética de Chico Buarque. Rio de Janeiro.

Ed. E Distr. 3/A, 1980. p. XVII.

“A poesia de Chico Buarque é a tentativa de encontrar um sentido para o homem num mundo desfigurado pela técnica, projetando-se como uma interrogação, O espaço externo, entendido não como uma dimensão limitada do real, mas todo o contexto humano-existencial do século XX como totalidade do real, atravessado pela angústia e incerteza da humanidade, carece de sentido.”

Page 5: Chico Buarque

CHARTIER, Roger ., op. Cit., p. 52-53

“a obra só adquire sentido através das estratégias de interpretação que constroem suas significações. A do autor é uma dentre outras, que não encerra em si a “verdade”, suposta única e permanente da obra. Através disso, pode ser restituído um justo lugar ao criador, cuja intenção (clara ou inconsciente) não contém mais toda a compreensão possível de sua criação, mas cuja relação com a obra não é, no entanto, eliminada.”

Page 6: Chico Buarque

Subjetividade

Mario Prata; Autores Independentes; Literatura Contemporânea, não

possui um estilo; Caracois (Roberto Carlos) As entrelinhas

Page 7: Chico Buarque

Roda Viva

Page 8: Chico Buarque

Roda VivaTem dias que a gente se senteComo quem partiu ou morreuA gente estancou de repenteOu foi o mundo então que cresceuA gente quer ter voz ativaNo nosso destino mandarMas eis que chega a roda-vivaE carrega o destino pra láRoda mundo, roda-giganteRoda-moinho, roda piãoO tempo rodou num instanteNas voltas do meu coração

A gente vai contra a correnteAté não poder resistirNa volta do barco é que senteO quanto deixou de cumprirFaz tempo que a gente cultivaA mais linda roseira que háMas eis que chega a roda-vivaE carrega a roseira pra láRoda mundo (etc.)

A roda da saia, a mulataNão quer mais rodar, não senhorNão posso fazer serenataA roda de samba acabouA gente toma a iniciativaViola na rua, a cantarMas eis que chega a roda-vivaE carrega a viola pra láRoda mundo (etc.)

O samba, a viola, a roseiraUm dia a fogueira queimouFoi tudo ilusão passageiraQue a brisa primeira levouNo peito a saudade cativaFaz força pro tempo pararMas eis que chega a roda-vivaE carrega a saudade pra láRoda mundo (etc.)

Page 9: Chico Buarque

Ditadura

Composta em 1967 é um protesto contra a falta de liberdade de expressão;

A gente tem que ter voz ativa (a roda viva - ditadura/exercito - que matava a voz das pessoas);

Nosso destino mandar/Mas eis que chega roda viva/E carrega o destino pra lá... (destino carregado pela roda viva, as pessoas não podiam escolher o destino);

Page 10: Chico Buarque

A gente toma iniciativa/Viola na rua a cantar/Mais eis que chega a roda viva/E carrega a viola pra lá... (a roda viva - ditadura/exercito protesto contra o militarismo – pessoas presas e torturadas);

Faz tempo que a gente cultiva/A mais linda roseira que há/Mas eis que chega a roda viva/E carrega a roseira prá lá... (rosa como símbolo do socialismo);

Page 11: Chico Buarque

O samba, a viola, a roseiraQue um dia a fogueira queimouFoi tudo ilusão passageiraQue a brisa primeira levou... (samba, viola é o fim da liberdade de expressão e, roseira/rosa = socialismo é a ilusão queimada pela ditadura);

OLIVEIRA, Walklenguer H. de. Disponível no site http//analisedeletras.com.br/chico-buarque/roda-viva/

Page 12: Chico Buarque

O Cotidiano

Sentimento de impasse:construção de uma vida com a responsabilidade do cotidiano, a rotina circular e repetitiva,

Roda vida como onipresente (forma de sentir a vida);

Primeiros versos transmitem impotência (partiu, morrei, estocou) a alienação da pessoa com o mundo, o mundo cresce e você não, a roda viva o impede;

A repetição da estrofe ao fim de cada verso dá a ideia de rotação (roda-gigante, moinho e peão);

Page 13: Chico Buarque

As roseiras cultivadas por nós é levada pela roda-viva antes que floresça, tirando a capacidade de viver);

Os versos representam a fraqueza do protesto, a liberdade é oprimida;

O ultimo verso dito por várias pessoas representa o que todos pensam sobre a supressão “Pare o mundo que eu quero descer”

Page 14: Chico Buarque

Critica ao show business

Os cantores revolucionários foram proibidos de cantar (os cantores do Tropicalismo) surgindo assim a criação do POP, a imagem e produto de novos ídolos;

A indústria constrói um sistema musical que atinja a massa, padronizando as diferenças;

Page 15: Chico Buarque

Foram oferecidas atrações para distrair o povo do que estava acontecendo no Brasil (ditadura), abrindo espaço ao Fino da Bossa com Elis Regina e Jovem Guarda comandado por Roberto Carlos e sua turma do iê-iê-iê do Zé-do-Mato, (copiando as guitarras estrangeiras);

Roda-Viva descreve o tortuoso caminho de um recente ídolo (que não sabe cantar) dentro dessa máquina poderosa em que se transformou o mercado de consumo;

(JÚNIOR, Egon Hamann Seidler. Acadêmico do Curso de Artes Cônicas – Centro de Artes – UNDESC. Artigo Científico: A encenação no Brasil entre os anos 1967 e 1974 – O tropicalismo no teatro.

Page 16: Chico Buarque

A visão de Chico Buarque segundo Wagner Homem “Critica ao show business”

A peça Roda-viva nada tinha de político. Refletia tão somente o am biente em que Chico vivia e com o qual estava assustado: o show business. Ele descreve a trajetória do cantor popular Benedito Silva, engolido pelo esquema da televisão. Num primeiro momento o Anjo, seu empresário, o transforma em Ben Silver, depois em Benedito Lampião, para, finalmente, quando não mais atende aos interesses da máquina, induzi-lo à morte.

HOMEM, Wagner. Histórias de Canções - Chico Buarque, Ed. Leya, 2009 (fl. 55, 56, 57)

Page 17: Chico Buarque

ConstruçãoConstrução

Page 18: Chico Buarque

ConstruçãoConstrução

Amou daquela vez como se fosse a últimaBeijou sua mulher como se fosse a últimaE cada filho seu como se fosse o únicoE atravessou a rua com seu passo tímidoSubiu a construção como se fosse máquinaErgueu no patamar quatro paredes sólidasTijolo com tijolo num desenho mágicoSeus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábadoComeu feijão com arroz como se fosse um príncipeBebeu e soluçou como se fosse um náufragoDançou e gargalhou como se ouvisse músicaE tropeçou no céu como se fosse um bêbadoE flutuou no ar como se fosse um pássaroE se acabou no chão feito um pacote flácidoAgonizou no meio do passeio públicoMorreu na contramão atrapalhando o tráfego

Page 19: Chico Buarque

ConstruçãoConstrução

Amou daquela vez como se fosse o últimoBeijou sua mulher como se fosse a únicaE cada filho seu como se fosse o pródigoE atravessou a rua com seu passo bêbadoSubiu a construção como se fosse sólidoErgueu no patamar quatro paredes mágicasTijolo com tijolo num desenho lógicoSeus olhos embotados de cimento e tráfegoSentou pra descansar como se fosse um príncipe

Comeu feijão com arroz como se fosse o máximoBebeu e soluçou como se fosse máquinaDançou e gargalhou como se fosse o próximoE tropeçou no céu como se ouvisse músicaE flutuou no ar como se fosse sábadoE se acabou no chão feito um pacote tímidoAgonizou no meio do passeio náufragoMorreu na contramão atrapalhando o público

Page 20: Chico Buarque

ConstruçãoConstrução

Amou daquela vez como se fosse máquinaBeijou sua mulher como se fosse lógicoErgueu no patamar quatro paredes flácidasSentou pra descansar como se fosse um pássaroE flutuou no ar como se fosse um príncipeE se acabou no chão feito um pacote bêbadoMorreu na contra-mão atrapalhando o sábadoPor esse pão pra comer, por esse chão prá dormirA certidão pra nascer e a concessão pra sorrir

Por me deixar respirar, por me deixar existir,Deus lhe pague Pela cachaça de graça que a gente tem que engolirPela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossirPelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,Deus lhe paguePela mulher carpideira pra nos louvar e cuspirE pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrirE pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,Deus lhe pague

Page 21: Chico Buarque

O homem como um trabalhador comum

“Amou daquela vez como se fosse a última /Beijou sua mulher como se fosse a última/E cada filho seu como se fosse o único /E atravessou a rua com seu passo tímido ”. O sujeito da canção é um homem, pai de família, ainda sugere que é de baixa condição social, devido ao andar tímido, e também pelo número de filhos.

Page 22: Chico Buarque

“Subiu a construção como se fosse máquina”. O desempenho no emprego é comparado a uma máquina, o que nos revela que o homem trabalha sem questionar o que faz. Pelo fato da letra ter sido escrita na época da ditadura, nos remete a pensar que Ele, ou faz aquilo que mandam ou é punido.

“Ergueu no patamar quatro paredes sólidas /Tijolo com tijolo num desenho mágico.” Comprova o emprego do Homem na construção civil.

Page 23: Chico Buarque

O  sentimentalismo se faz presente em “ Seus olhos embotados de cimento e lágrima“ ou seja nos olhos do trabalhador , reflete o sofrimento dessa condição social.

“Sentou pra descansar como se fosse sábado/ Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe ”. Retrata a necessidade de descansar e o fato de comer arroz e feijão é a rotina que não pode escapar.

Page 24: Chico Buarque

O homem como um trabalhador comum

“Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago /Dançou e gargalhou como se ouvisse música .” O alcoolismo que é comum nas classes inferiores que ajuda manter a força muscular dos trabalhadores de construção. A alegria barata da bebida proporcionou a queda “E tropeçou no céu como se fosse um bêbado /E lutou no ar como se fosse um pássaro/E se acabou no chão feito um pacote flácido “, tropeçar no prédio alto é como tropeçar no céu.

Page 25: Chico Buarque

“Agonizou no meio do passeio público /Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”, os últimos momentos do homem que foi indiferente, a única preocupação do povo era que atrapalhava o tráfego. A contradição existente é que dentro de casa o homem é o líder, mas na rua é um sujeito qualquer, um parafuso da engrenagem capitalista.

Page 26: Chico Buarque

A ultima estrofe é de um modo mais acelerado, com sons vindo de todos os lados, ilustra a vida sem rumo daquele trabalhador, como outros trabalhadores por aí, invisíveis à sociedade.

SENKEVICS, Adriano. Disponível no site http//analisedeletras.com.br/chicoBuarque/Construção/

Page 27: Chico Buarque

Três diferentes classes sociais

A música difere três antagonismo da sociedade brasileira: a diferença social, a vida profissional, familiar e a visão social sobre eles;

Page 28: Chico Buarque

A primeira estrofe retrata o pobre trabalhador: “Beijou sua mulher como se fosse a última “, “Sentou pra descansar como se fosse sábado “ qualquer descanso como se fosse sábado, “Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe” qualquer feijão com arroz é banquete porque é trabalhoso conseguir, e por fim, “Morreu na contramão atrapalhando o tráfego” pessoa ignorada pelo povo.

Page 29: Chico Buarque

A segunda a classe média (talvez um engenheiro): “Beijou sua mulher como se fosse a única “, “Sentou pra descansar como se fosse um príncipe “ na hora em que o trabalhador trabalha, “Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo”, não é o máximo poderia ir a uma churrascaria, por fim, “Morreu na contramão atrapalhando o público”, atrapalha o trânsito porque ainda não é conhecido.

Page 30: Chico Buarque

A terceira os militares: “Beijou sua mulher como se fosse lógico“, “Sentou pra descansar como se fosse um pássaro “, por fim, “Morreu na contramão atrapalhando o sábado” atrapalhando o sábado de todo o Brasil, mexendo com a mídia, funeral com todas as obrigações como se fosse mais importante que o trabalhador e o engenheiro...

João Paulo, disponível no site http//analisedeletras.com.br/chicobuarque/Construção/

Page 31: Chico Buarque

Desumanização do homem A consciência social de Chico Buarque

de Holanda, em Construção, como em toda a sua obra, é evidente. Sabe o poeta que a poesia é seu instrumento, o seu veículo de denúncia, de crítica, de representação de uma realidade desumana e injusta. Pois é preciso que o homem não seja “máquina”, nem “pacote”. Mas que signifique. Mas também que possa exercer sua liberdade. Assim deve ser visto pela sociedade, assim deve ser

Page 32: Chico Buarque

entendido por todos. Chico aponta para uma estrutura social que não gostaria que existisse para uma coisificação do homem que não deve persistir. Em Construção, o sujeito é generalizado. O homem é visto, em relação a sociedade, de maneira trágica, oprimido, marcado pela inutilidade. Ele constrói, mas é destruído. Ah!, se ele não morresse num sábado...

Chico atesta a desumanização do homem: amou daquela vez como se fosse máquina.

DANTAS, José Maria de Souza. MPB o canto e a canção. Rio de Janeiro. Ed. Ao Livro Técnico S/A. 1988.

Page 33: Chico Buarque

A visão de Chico Buarque segundo Wagner Homem

Falando à revista Status, em 1993, Chico confessa que inicialmente tudo não passava de uma experiência formal, e que a idéia de narrar os últimos instantes de vida de um operário veio depois da música quase pronta.

O jornalista David Nasser, que sugeriu a inclusão de mais uma proparoxítona: "Médici", o nome do presidente.

HOMEM, Wagner. Histórias de Canções - Chico Buarque, Ed. Leya, 2009 (fl. 97, 98)

Page 34: Chico Buarque

Não passava de experiência formal, jogo de tijolos. Não tinha nada haver com o problema dos operários – evidente, aliás, sempre que você abre janelas. Na hora que eu componho não há intenção – só emoção. Em Construção, a emoção estava no jogo de palavras (todas paroxítonas). Agora, se você colocar um ser humano dentro de um jogo de palavras, como se fosse... Um tijolo – acaba mexendo com a emoção das pessoas.

Entrevista a Judith Patarra, revista Status, 1973.

Page 35: Chico Buarque

Geni e o Zepelin

Page 36: Chico Buarque

Geni e o ZepelinDe tudo que é nego torto

Do mangue e do cais do portoEla já foi namoradaO seu corpo é dos errantesDos cegos, dos retirantesÉ de quem não tem mais nadaDá-se assim desde meninaNa garagem, na cantinaAtrás do tanque, no matoÉ a rainha dos detentosDas loucas, dos lazarentosDos moleques do internatoE também vai amiúdeCom os velhinhos sem saúdeE as viúvas sem porvirEla é um poço de bondadeE é por isso que a cidadeVive sempre a repetirJoga pedra na GeniJoga pedra na GeniEla é feita pra apanharEla é boa de cuspirEla dá pra qualquer umMaldita Geni

Um dia surgiu, brilhanteEntre as nuvens, flutuanteUm enorme zepelimPairou sobre os edifíciosAbriu dois mil orifíciosCom dois mil canhões assimA cidade apavoradaSe quedou paralisadaPronta pra virar geléiaMas do zepelim giganteDesceu o seu comandanteDizendo – Mudei de idéia– Quando vi nesta cidade– Tanto horror e iniqüidade– Resolvi tudo explodir– Mas posso evitar o drama– Se aquela formosa dama– Esta noite me servirEssa dama era GeniMas não pode ser GeniEla é feita pra apanharEla é boa de cuspirEla dá pra qualquer umMaldita Geni

Page 37: Chico Buarque

Geni e o ZepelinMas de fato, logo ela

Tão coitada e tão singelaCativara o forasteiroO guerreiro tão vistosoTão temido e poderosoEra dela, prisioneiroAcontece que a donzela– e isso era segredo delaTambém tinha seus caprichosE a deitar com homem tão nobreTão cheirando a brilho e a cobrePreferia amar com os bichosAo ouvir tal heresiaA cidade em romariaFoi beijar a sua mãoO prefeito de joelhosO bispo de olhos vermelhosE o banqueiro com um milhãoVai com ele, vai GeniVai com ele, vai GeniVocê pode nos salvarVocê vai nos redimirVocê dá pra qualquer umBendita Geni

Foram tantos os pedidosTão sinceros, tão sentidosQue ela dominou seu ascoNessa noite lancinanteEntregou-se a tal amanteComo quem dá-se ao carrascoEle fez tanta sujeiraLambuzou-se a noite inteiraAté ficar saciadoE nem bem amanheciaPartiu numa nuvem friaCom seu zepelim prateadoNum suspiro aliviadoEla se virou de ladoE tentou até sorrirMas logo raiou o diaE a cidade em cantoriaNão deixou ela dormirJoga pedra na GeniJoga bosta na GeniEla é feita pra apanharEla é boa de cuspirEla dá pra qualquer umMaldita Geni

Page 38: Chico Buarque

Geni e o Zepelim poderá ter surgido a partir da estória da

prostituta francesa, Bola de Sebo A história de Bola de Sebo se passa na

França, no período final da guerra contra a Alemanha. O país estava sendo invadido pelos prussianos. Na cidade de Ruão, um grupo de habitantes resolve partir para o porto de Havre. Entre os viajantes havia pessoas da nobreza e outros menos favorecidos, entre eles uma gorda prostituta, apelidada, adivinhem? Bola de Sebo. Com o passar das horas, todos sentiam fome, mas apenas Bola de Sebo havia levado comida.

Page 39: Chico Buarque

Gentil, ela compartilha com os outros que, desta forma, deixaram de lado o preconceito inicial. No caminho foram impedidos de sair por um oficial alemão, que impôs a condição de dormir com Bola de Sebo, para que fossem liberados. No início ela recusa, afinal aquele é um homem que faz parte do povo que invadiu sua pátria e aquilo seria antiético para sua profissão, mas com a insistência de seus companheiros, ela acaba cedendo.

Page 40: Chico Buarque

Acredito que Chico Buarque tenha tido a intenção de compartilhar com o seu público essa história do significado do valor de um indivíduo para as pessoas. É como a seguinte situação: A sua utilidade (bondade, talento) é valiosa até o favorecimento de outros. Depois a sua utilidade(serventia) não vale mais.

Izabele - Mossoró-RN

Page 41: Chico Buarque

Geni era uma prostituta

Chico Buarque conta a história de uma mulher que é vista como uma prostituta e é julgada e humilhada pela sociedade que a mesma não ajuda. Trata-se de uma mulher simples e com ‘respeito’ por ser donzela e boa, o suficiente, para auxiliar as pessoas como os idosos.

Page 42: Chico Buarque

Porém, quando a comunidade necessita dela para os salvar, se ajoelham a seus pés – O padre, o banqueiro e o prefeito- O poder religioso, financeiro e político se cegam para enxergar os princípios, ou seja, só pensam nos seus interesses próprios. O compositor reputa a hipocrisia das pessoas e a ingratidão. Após Geni salvar a cidade, ela volta ao patamar baixo no qual a sociedade a colocou e no, no fundo, sempre a enxergou.

Page 43: Chico Buarque

Geni como um Homossexual

Em Geni e o Zepelin “De tudo que é nego torto/Do mangue e do cais do porto/Ela já foi namorada” é narrada a estória de um homossexual (por ele próprio) que salva uma cidade de uma possível explosão, ameaçada por um ser cósmico que por ali desembarcara. No entanto, mesmo tendo proporcionado essa salvação à custa de seu sacrifício pessoal “Entregou-se a tal amante/Como quem dá-se ao carrasco”.

Page 44: Chico Buarque

Geni é repudiado e apedrejado “Joga pedra na Geni/Joga bosta na Geni/Ela é feita pra apanhar/Ela é boa de cuspir/Ela dá pra qualquer umMaldita Geni”. Geni é um plano idealizado de mulher, que de dia é Genival e de noite é Geni.

CARVALHO, Gilberto de. Chico buarque: análise poético- musical. Rio de Janeiro, Editora Codecri, 1982.

Page 45: Chico Buarque

A visão de Chico Buarque segundo Wagner Homem

A música, cuja história é baseada na da prostituta do conto "Bola de sebo", de Guy de Maupassant, rapidamente virou sucesso — e, como tal, gerou reações as mais diversas. Interpretações equivocadas da letra levaram até vândalos a atirar areia em prostitutas, usando o bordão catártico "joga bosta na Geni". Em entrevista ao programa Canal livre, em 1980, Chico lamenta o fato, dizendo que todo artista está sujeito a coisas do tipo, mas que não deve submeter o processo criativo ao temor de ser mal entendido.

HOMEM, Wagner. Histórias de Canções - Chico Buarque, Ed. Leya, 2009 (fl. 169, 170, 171)

Page 46: Chico Buarque

Atrás da porta

Quando olhaste bem nos olhos meusE o teu olhar era de adeusJuro que não acreditei, eu te estranheiMe debrucei sobre teu corpo e duvideiE me arrastei e te arranheiE me agarrei nos teus cabelosNo teu peito, teu pijamaNos teus pés ao pé da camaSem carinho, sem cobertaNo tapete atrás da portaReclamei baixinho

Dei pra maldizer o nosso larPra sujar teu nome, te humilharE me vingar a qualquer preçoTe adorando pelo avessoPra mostrar que inda sou tua

Page 47: Chico Buarque

Eu lírico A música, narrada por um eu-feminino, compõe um

cenário de separação, numa espécie paradoxal de amor e ódio, paixão e vingança. O título da canção, “Atrás da Porta”, já evidencia uma separação, com a porta servindo com barreira entre os dois lados.

Os primeiros versos, não foi necessária nenhuma palavra, senão apenas o olhar, para ficar subentendida a mensagem de partida.

Em “Juro que não acreditei / Eu te estranhei / Me debrucei / Sobre o teu corpo e duvidei”, a assonância causada pela terminação ‘ei’ reforça a idéia de pretérito perfeito.

Page 48: Chico Buarque

Chico realça a noção de amor como instinto selvagem, uma série de atitudes impulsivas, a visão selvagem dá destaque a esta ação..

Um dos versos mais interessantes é “Sem carinho, sem coberta”. A ausência de carinho, uma palavra que assume sentido abstrato.

A primeira estrofe termina com “No tapete atrás da porta / Reclamei baixinho”. O tapete atrás da porta destaca a submissão.

Page 49: Chico Buarque

Na segunda estrofe rompem com a submissão e mostram uma vingança inevitável, tendo como pano de fundo, logo, a selvageria. A ambigüidade da canção fica a cargo de “Te adorando pelo avesso” que cria uma imagem confusa de amor.

A letra finaliza com ótimo desfecho; Chico, em vez de escrever ‘ainda’, escreveu ‘inda’, para mostrar sua intimidade com a língua portuguesa.

SENKVICS, Adriano. http://letrasdespidas.wordpress.com/2007/07/19/chico-buarque-atras-da-porta/

Page 50: Chico Buarque

A visão de Chico Buarque segundo Wagner Homem

É a primeira parceria da dupla, Francis começou a cantarolar a música ao piano, e Chico fez o que nunca havia feito e nem voltaria a fazer: compor na frente dos outros. Conforme ele mesmo diz, "tenho vergonha de fazer na frente dos outros". Prefere a so lidão do seu estúdio. Mas com "Atrás da porta" foi diferente. Na mesma hora, no meio da confusão, saiu a primeira parte da letra. E parou aí.

Page 51: Chico Buarque

A segunda parte não veio no dia seguinte nem nos meses subse quentes. Quem cantaria a canção seria Elis Regina, cujo disco já estava sendo gravado. Dos Estados Unidos, onde morava na ocasião, Francis fez com que o produtor enviasse a Chico uma fita com todos os arranjos e a voz da intérprete até onde havia letra e com a segunda parte já orquestrada. Não dava para protelar. O expediente utilizado para pressionar ficou conhecido como "O Golpe de Francis".

Page 52: Chico Buarque

A vigilante censura parecia ter preferência por homens glabros, e os versos "E me agarrei nos teus cabelos/ Nos teus pelos" tiveram que ser substuídos por "E me agarrei nos teus cabelos/ No teu peito". Chico cantou a letra original no show do Teatro Castro Alves. Mas quando o espetáculo virou disco, novamente a censura proibiu os "pelos", e a solução encontrada pela gravadora foi enxertar um estranhíssimo e crescente aplauso fora de hora quando os cantores pronunciavam a palavra condenada.

HOMEM, Wagner. Histórias de Canções - Chico Buarque, Ed. Leya, 2009 (fl. 106, 107)