Chico buarque, roberto carlos, a crise e eu 2009 jan

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Chico Buarque, Roberto Carlos, a crise e eu

Antonio Cândido Carneiro de Azambuja Neto*

A crise atravessou o Atlântico! (Que me perdoem os colegas professores, mas foi o

presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, quem primeiro fez essa afirmação).

Tenho andado por todo lado e verificado nas pessoas, talvez por força da mídia, ou

mesmo para se sentir parte da sociedade, certa complacência em aceitar o fato de que

a crise realmente aportou por aqui.

Talvez todos estejam certos e a crise chegou mesmo. Mas, se chegou, e daí? Se chegou

mesmo, o que podemos fazer? De imediato veio-me a letra de “Apesar de você”, de

Chico Buarque, com sua presença quase inequívoca de que a crise chegou: “A minha

gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão. Viu? Você que inventou esse

Estado, inventou de inventar toda escuridão...”. Mas ao mesmo tempo, numa fração de

segundos, Roberto Carlos cortou meu pensamento com sua não menos famosa “Além

do Horizonte” dizendo: “Além do horizonte deve ter algum lugar bonito pra viver em

paz. Onde eu possa encontrar a natureza, alegria e felicidade com certeza”.

Por uma questão de patriotismo poético, Chico retornou ao meu pensamento

afirmando que – “Apesar de você (certamente aqui “você” é a crise), amanhã há de ser

outro dia” – e Roberto completou com: “Lá nesse lugar o amanhecer é lindo. Com

flores festejando mais um dia que vem vindo”.

Fiquei meio ressabiado – estranho tanto acerto na combinação das letras! Entretanto,

refletindo melhor, o que esperar desse Brasil que sempre se reinventou e sobreviveu a

tantos outros males? Se Chico, ainda em “Apesar de você”, afirma: “Você que inventou

o pecado, esqueceu de inventar o perdão” e Roberto sublime endossa: ”Se você não

vem comigo, tudo isso vai ficar, no horizonte esperando por nós dois”. Certo é que não

podemos nos deixar abalar, por mais grave que possa ser a situação.

Economista por formação, acredito que nada como um dia após o outro para ver

teorias sendo questionadas e previsões, desmoralizadas. Não se deixe impregnar por

qualquer tipo de análise, por melhor que seja seu autor. Em contrapartida, imagine o

que, desde sempre, você deveria e poderia fazer para melhorar seu negócio. A partir

dessa identificação, coloque em prática tudo aquilo que listou.

Naturalmente que melhorar seu negócio significou, de cara, reduzir custos. Muito

bom. Melhor ainda, se reduzir custos for, melhor utilizar fontes geradoras de despesas

ao invés de eliminar fontes consumidoras de investimento, tanto financeiras quanto, e

principalmente, de tempo de formação e aprendizagem, como os membros de sua

equipe.

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Numa ação clássica, seriam naturais demissões, redução da produção, eliminação de

riscos, etc. Mas, “como vai se explicar, vendo o céu clarear, de repente...” quando

precisar recontratar aquele colaborador que conhecia tão bem o que fazia? Como

responder rapidamente a qualquer mudança de cenário? Minha recomendação recai

numa ação coordenada entre sua empresa, seus fornecedores, seus clientes e seus

colaboradores. Não percamos mais tempo tentando avaliar o tamanho da crise. Como

já diziam os mais velhos “prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”,

logo, fazer a lição de casa é nossa obrigação.

Mãos à obra! Seus fornecedores estão com o mesmo receio que você: uma redução de

faturamento como consequência de uma redução da atividade. Seus clientes, no

mesmo sentido, temem uma queda nas vendas por conta de um desaquecimento do

consumo. O efeito dominó está formado. Para acontecer, basta demitir colaboradores

e garantiremos o desaquecimento do consumo – consequência imediata de quem não

tem emprego: consumir menos! E assim, um dominó derrubará o outro, e o outro, e o

outro...

Recomendo uma análise crítica de seu balancete mensal. Olhe com atenção para a

rubrica “contas a pagar”. Quem nela representa sozinho mais de 15 ou 20%?

Certamente alguns fornecedores diretamente ligados ao seu “core business”. Olhando

agora para o “contas a receber”. Quem representa mais de 20% do seu faturamento?

Novamente aquele cliente que você não pode pensar em perder. Veja depois as contas

em aberto. Quais são os clientes com contas em aberto, vencidas? Quanto isso

representa do seu faturamento? Isso para ficar numa análise superficial do seu

balancete. Veja que até o momento não envolvemos na conversa seus colaboradores,

contatos no cliente ou fornecedores.

Conversando a gente se entende. Numa análise direta reveja, junto aos seus

fornecedores, que acordos ou casamentos e ajustes podem ser feitos para assegurar a

manutenção de uma situação minimamente confortável às empresas. O mesmo junto

a seus clientes. Que promoções especiais podem ser oferecidas aos colaboradores e

empresas parceiras das empresas envolvidas nessa cadeia produtiva? Não reduza seus

investimentos. Mais do que nunca essa é a melhor oportunidade deles acontecerem.

Aqueça o seu mercado, mostre suas intenções.

Acredite. Aproveite os incentivos que o Estado e seus congêneres estão oferecendo.

Ninguém ganha com o ostracismo e desanimo. O momento requer cautela. Mas

também requer assertividade. A característica maior do brasileiro é acreditar que tudo

sempre poderá ser melhor.

Pois bem, aja! Ponha em prática a sua criatividade. Que tal vencer a crise apagando o

“s”? Inúmeras oportunidades estão surgindo nesse exato momento. Aqueles que

estiverem atentos, procurando como melhor identificá-las, conseguirão vê-las e,

vendo, aproveitá-las. A oportunidade está aí. Dias melhores virão! Mesmo porque não

há mal que sempre dure.

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Convido, para encerrar, essa dupla de compositores, que sempre me incentivaram com

suas bem trabalhadas letras, letras compostas com toda a cautela, buscando não

deixar passar nenhuma oportunidade de usar a melhor palavra, a melhor rima: “De

que vale o paraíso sem amor.” E “eu vou morrer de rir e esse dia há de vir antes do que

você pensa”.

Crise? Prefiro ouvir Chico e Roberto. Mãos à obra!

*Antonio Candido Carneiro de Azambuja Neto

Especialista em política e estratégia pelo NAIPPE/USP, Economista e professor do

curso de Administração da Universidade Guarulhos e Faculdade Anhanguera.