CHRIS Sobre Douglas

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SESSÃO LIVRE

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Mary Douglas

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  • SESSO LIVRE

  • MARGINALIDADE RELATIVA DO AFRICANISMODE MARY DOUGLAS: NARRATIVAS DE UMA ANLISE

    DO CAMPO ACADMICO BRITNICO1

    Christiano K. Tambascia*

    Resumo: A pesquisa etnogrfica de Mary Douglas (1921-2007) no Congo Belga pouco estudada no conjunto de sua obra, ainda que tenha sido crucial para suaformao intelectual. Meu objetivo analisar os problemas enfrentados por Douglasem sua tentativa de insero no campo britnico dos estudos africanistas, entre asdcadas de 1940 e 1960, decorrentes principalmente de sua relao com outrosantroplogos j estabelecidos, como Max Gluckman. Pretendo fornecer elementosque tracem hipteses sobre a forma como as narrativas de marginalidade e osmecanismos de prestgio produziram efeitos na trajetria acadmica da antroploga.

    Palavras-chave: Mary Douglas; Africanismo Britnico; Histria da Antropologia;Max Gluckman.

    Abstract: Mary Douglass (1921-2007) ethnographic research in the Belgian Congois fairly unexplored in the sum of her work, despite being crucial to her intellectualupbringing. My objective is to analyse the struggles faced by Douglas in herefforts to integrate the British field of africanist studies, between the 1940s and the1960s, risen mainly by her relation with other already established anthropologists,such as Max Gluckman. I intend to bring elements that formulate hypothesisconcerning the way the marginality narratives, and the prestige mechanisms producedeffects on the anthropologists academic trajectory.

    Keywords: Mary Douglas, British Africanism; History of Anthropology; Max Gluckman.

    1 Este texto resultado de uma apresentao realizada durantea 27a RBA, em 2010. Agradeo os comentrios de Luciana Hartmann,Vnia Zikn Cardoso, Esther Jean Langdon e os colegas do GT Narrativasem Performance: experincia, subjetivao e etnografia. Sou igualmentegrato CAPES pela bolsa de Estgio de Doutoramento no Exteriorque possibilitou esta pesquisa.* Doutor em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas.

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    IntroduoOs trabalhos etnogrficos acerca do continente africano

    produzidos por Mary Douglas (1921-2007), do final da dcada de1940 at meados da dcada de 1960, so relativamente poucoanalisados pelos historiadores da disciplina e pelos estudiososda obra da antroploga britnica. Entretanto, alguns elementosde sua teoria cultural, reconhecida principalmente coma publicao de Pureza e Perigo (Douglas, 1976), em 1966, j podemser vislumbrados em suas reflexes sobre o simbolismo e as formasde racionalidade Lele do Congo Belga, onde fez seu trabalhode campo.

    O objetivo deste texto fornecer alguns elementos quepossibilitem delinear uma anlise das regras de insero, prpriasda academia britnica, ao campo2 de estudos africanistas demeados do sculo passado, de modo a relativizar as narrativas 3

    de uma marginalidade acadmica de Douglas levantadas pelaprpria autora. No final do artigo farei algumas consideraessobre a noo de experincia, que creio poder conciliar este cotejoentre as estruturas objetivas do campo e a subjetividade narrativa mesmo que esta contraposio possa expor aparentescontradies. Pretendo, para tanto, dispor de material de arquivo cartas, manuscritos e documentos das instituies em quea antroploga trabalhou para descrever a trajetria de Douglase sua tentativa de estabelecer interlocues com os autoreafricanistas j estabelecidos, neste perodo4. O estudo deste corpodocumental foi possvel, principalmente, atravs das pesquisas:

    2 Adoto aqui a noo de campo tal como formulada por Bourdieu (2001):um espao relativamente autnomo de estruturas de relaes sociaisobjetivas, em que devem ser compreendidas as produes e as disputassimblicas dos agentes envolvidos, dadas suas posies, decorrentesde trajetrias e capitais simblicos especficos.3 Narrativas, aqui, so consideradas sequncias explicativas construdas,mas relacionadas, a eventos reais.4 Entendo por africanistas britnicos, os estudiosos formados por umatradio antropolgica particular que publicavam anlises sobreo continente africano. Ou, como coloca Fardon, um pesquisador que

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    dos arquivos do International African Institute contidos na bibliotecada London School Of Economics em Londres e dos arquivosda Universidade de Northwestern, Evanston, onde Douglaslecionou na dcada de 1980 e para onde doou grande partede seus manuscritos e correspondncia.

    Tive a oportunidade de entrevistar, ao longo do anode 2007, alguns colegas e familiares de Mary Douglas, bem comoa prpria antroploga, pouco antes de sua morte aos 86 anos.Isto permitiu discutir algumas das hipteses delineadas por mim,ou por outros pesquisadores da disciplina, sobre os desafiosenfrentados por Douglas em seu desejo de reconhecimentoe interlocuo, ao encarar os discursos sobre seu lugar na literatura antropolgica como indcios das foras institucionaisem jogo. Espero tambm poder fornecer exemplos da importnciade seu trabalho de campo para a produo terica que a consagrouinternacionalmente. Talvez seja possvel ver sob uma nova luza trajetria intelectual da autora, ao assumir que estruturasinstitucionais e redes de colaborao assumem um peso, por vezes,pouco considerado na histria da antropologia.

    fizesse o esperado: produzir anualmente uns dois artigos etnogrficoscaprichados, fazer a resenha da bibliografia referente a sua regio parapublicaes especializadas, terminar sua monografia e partir para estudosregionais comparados (Fardon, 2004, p. 93). claro que pocada pesquisa de campo de Mary Douglas este grupo abarcava a maiorparte dos antroplogos britnicos. Entretanto, h uma conotao empricaao termo, mesclada suposio de que existe um campo especficode estudos focados em temas correlatos. Se Douglas iria utilizar dadosetnogrficos sobre os Lele pelo restante da carreira, pareceser implicitamente aceito que depois da publicao de Pureza e Perigoela no mais foi considerada uma africanista profissional.

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    A pesquisa etnogrfica no CongoA despeito da perspectiva claramente estrutural-

    funcionalista, a etnografia congolesa de Mary Douglas no deixa,entretanto, de demonstrar os interesses da autora pela relaoentre cosmologia, instituies sociais e padres culturais,desenvolvidos principalmente a partir da dcada de 1960.Igualmente, se considerarmos que seus escritos africanistas tocamem alguns pontos caros aos antroplogos da Universidadede Manchester que pesquisaram em territrios prximos aosvisitados por Douglas, e cujas teorias j pareciam superara perspectiva do estudo de uma sociedade africana tradicional,intocada pelo aparato colonial o silncio por parte destes autoresda poca publicao de sua monografia Lele (Douglas, 1963),ignorada pelos primeiros, parece estranho.

    Em entrevista a Peter Fry (Douglas, 1999c), a antroplogafornece alguns indcios para sua explicao deste silncio,aparentemente menos em termos tericos do que por motivospessoais, ao lembrar de forma um tanto amarga da vindade Gluckman e seus escudeiros para Oxford, ainda antesde formarem a escola de antropologia em Manchester. Fardontambm alude s relaes conturbadas entre Douglase Gluckman, estendidas aos seus colaboradores, transformando-as no elemento chave de sua anlise da marginalidade acadmica5,que, segundo o autor, no uma hiptese sua, mas reproduzidadas conversas com sua antiga professora6. Segundo Fardon,o fato de a publicao de Os lele ter passado relativamentedespercebida na antropologia britnica reforou os sentimentosde marginalizao e desvalorizao que Douglas vivenciava,sob vrios aspectos (Fardon, 2004, p. 98).

    Na realidade, Mary Douglas havia dedicado um captulode sua monografia ao impacto europeu na sociedade Lele(Douglas, 1963), em consonncia com as crticas de Gluckman

    5 Marginalidade esta que no importa tanto, aqui, se imaginada ou real,como deixarei claro adiante.6 Comunicao pessoal com o autor.

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    aos estudos de aculturao, ou aos estudos que abdicavamde uma perspectiva processual e no-esttica. Richard Werbner,antroplogo formado em Manchester, tambm assinaloua importncia da antropologia desta universidade para MaryDouglas, que foi resenhista incansvel das obras dos autores destegrupo. Afirma Werbner, ao tambm tocar na questoda marginalidade:

    Talvez o primeiro reconhecimento externo de queuma nova escola tinha surgido veio em uma resenhade Douglas, uma antroploga treinada em Oxfordfamiliarizada (ainda que marginal) com a reaprincipal e o grupo de trabalho original da Escola(Werbner, 1993, p. 158) 7.

    Entretanto, a despeito da previso de alguns autores 8

    de que a monografia Lele seria um clssico na disciplina, o livronunca foi referncia nos cursos de formao no Reino Unido.

    Talvez seja importante expor rapidamente algunsdos elementos da etnografia Lele, bem como indicar a importnciada experincia etnogrfica no Congo para as publicaesde Douglas que de fato receberam reconhecimento acadmico,antes de continuar a refletir sobre estas narrativas acerca de umamarginalidade. Os dados etnogrficos de suas duas viagensao Congo9 foram utilizados por Douglas em publicaes maistericas (Douglas, 1970 e 1976) e a ajudaram a tecer comparaesentre suas reflexes acerca das regras para a preveno de malefcios(expressas, simbolicamente, nas descries de restriesalimentares e sexuais), com as normas contidas no VelhoTestamento. J em 1953 possvel identificar, na correspondnciada autora, a preocupao com as regras contidas nas Escriturassobre pureza e poluio que sem dvida remete influncia

    7 Traduo livre do autor.8 Vansina (1964a, 1964b) e Kuper (1963).9 No final da dcada de 1940 e comeo da dcada de 1950, e depois, pormais alguns meses, durante 1953.

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    dos estudos sobre tabu de Franz Steiner, que lecionava em Oxfordna mesma poca em que Douglas iniciou sua carreira (Douglas,1999a). Pouco depois de sua volta do Congo, por exemplo,Douglas escreveu para diversas sociedades catlicas pedindoinformaes sobre pureza ritual nos textos sagrados, para quepudesse compar-las com suas observaes sobre a estruturalsocial e a cosmologia Lele10.

    Douglas tambm pediu a opinio de alguns mdicos sobreos rituais de cura e as tcnicas Lele para evitar o perigo,j demonstrando sua preocupao acerca da poluio e a relaoentre o substrato simblico das formas de preveno de riscoe a manuteno da estrutura social. Em 16 de dezembro de 1953,por exemplo, F. M. Day, oficial mdico de sade de Londres, enviouuma carta para Douglas em que explicava que certosprocedimentos rituais primitivos tm certa validade mdica:

    Seu costume de postergar o funeral no um quetenha muita significao mdica. Voc enfatiza queeles consideram matria animal em putrefao comosujeira por excelncia, de modo que claro quecadveres no seriam manuseados exceto demaneira mnima. Odores putrefatos de cadveres,ainda que muito desagradveis para o nariz, e ocadver para os olhos, so deveras inofensivos doponto de vista da doena.11

    Douglas tambm se mostrou interessada na opiniode especialistas em botnica, sobre a possibilidade de algumavalidade cientfica no tratamento Lele, com ervas e plantas, decertas chagas. Mas so em suas cartas para estudiosos da religio,ao indagar sobre as formas de preveno das impurezas rituaistais como descritas no Velho Testamento, que possvel entrever

    10 Ver a este respeito, Northwestern University Archives (doravante NUA),Mary Douglas papers, series 11/3/2/2, box 5, folder 9.11 Day para Douglas, 16 de dezembro de 1953. NUA, Mary Douglas papers,series 11/3/2/2, Box 1, folder 2. Traduo livre do autor.

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    alguns dos temas desenvolvidos pela antroploga em meadosdcada de 1960 sobre as normas simblicas e sua base sociale institucional. Estava delineado o projeto de uma sociologiado conhecimento que encontrou na teoria cultural de basebastante ambiciosa a possibilidade de uma ferramenta analticaque lidasse com sistemas de conhecimento africanos e ocidentais.

    Em carta de 25 de maro de 1955, o padre ODonovanforneceu uma extensa descrio de comentaristas e estudiosos doVelho Testamento que analisaram as proibies alimentares acercadas ideias de poluio contidas nas Escrituras. Um pequeno trechopermite identificar o interesse de Douglas sobre as noesde impureza, prefigurando a questo sobre a interpretao dasLeis Sagradas pelos grupos que as significam. ODonovan,inclusive, levanta o tema do sentido simblico das normas a autenticidade dos livros do Pentateuco, algo que, paraDouglas, perdia importncia quando contrastado com seusubstrato racional:

    Qualquer considerao sobre a questo da origem(e desenvolvimento?) da Lei Mosaica sobre impurezae o resto como expressa no Levtico nos levaao campo de batalha sangrento sobre a origeme autenticidade do Pentateuco (...) Muito antesdo Ramo de Ouro, escritores cristos estavamcompelidos a buscar uma prova da transcendnciade sua religio. Apologistas pagos do segundosculo encontraram facilmente argumentos contidosno V.T. para justificar suas prticas.12

    Em suas notas de campo, Douglas tambm se mostravaatenta para a simbologia ritual encontrada nos resguardosalimentares e sexuais da sociedade Lele, e sua relao com as formasde evitar os efeitos do perigo da feitiaria, causa dos males

    12 ODonovan para Douglas, 25 de maro de 1955. NUA, Mary Douglaspapers, series 11/3/2/2, Box 5, folder 9. Traduo livre do autor.

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    e das tenses sociais que pareciam reforar uma ordem moralsimbolicamente mediada. Por exemplo, em agosto de 1953,Douglas escreve:

    Adultrio perigoso para uma mulher se doente.Se seu marido est doente, e voc tem relaessexuais com outro homem, ele ficar muito pior.Por exemplo a lepra de Pung, recuperao atrasadapelo abandono de Whahela e indo ficar com outrohomem. No apenas homens, mas mulherese crianas, qualquer pessoa doente, est em perigoe pode morrer se colocada em contato com algumque teve relaes sexuais, mesmo licitas,e igualmente com uma mulher em seu perodomenstrual.13

    Suas anotaes de campo esto recheadas de observaesque deixam entrever as causas atribudas pelos Lele parao infortnio, pela ao mgica. No cabe aqui realizar uma anlisedensa da etnografia de Mary Douglas, mas importante ressaltarque os dados etnogrficos lhe permitiram perceber a importnciada relao entre as faltas sociais e um vocabulrio simblicoreligioso expresso na noo de contaminao e impureza rituaisquando em contraste com a quebra das normas devidas para cadamembro da sociedade. As formas de racionalidade calcadas emcrenas em magia e feitiaria, no mbito da esfera religiosa (masindissocivel da economia e da poltica entre cls e vilas),possibilitou que a relao entre cosmologia e morfologia socialfosse estudada em diferentes sociedades (no mais na perspectivaevolucionista que dissociava o pensamento primitivodo ocidental). Afirma Douglas sobre o lugar de sua pesquisaafricanista no conjunto de sua obra:

    13 Caderno de campo de Mary Douglas, 13 de agosto de 1953. NUA, MaryDouglas papers, series 11/3/2/2, box 2, volume 2. Grifo no original. Traduolivre do autor.

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    Eu nunca me sentiria impelida a tentar uma leituraantropolgica do Levtico se durante o trabalho decampo africano eu no tivesse sido confrontada porregras dietticas locais, e ento pensado em procurara passagem no captulo 11 sobre animais proibidos.Eu na verdade citei o Levtico e a passagem paralelano Deuternimo no meu Animals in Lele religioussymbolism (1957). O que eu escrevi dez anos depoissobre impureza e poluio em Purity and Danger(1966) foi motivado pela experincia de campo,endurecida pelo treinamento da antropologia deOxford e enriquecido por alguma leitura sobrepsicologia da percepo. (Douglas, 1999b, p. vi).

    No parece difcil imaginar uma espcie de projetointelectual que a antroploga desenvolveu durante sua carreirae que remonta, reflexivamente, a ideias que teve mesmo emperodos bastante iniciais de suas publicaes. A despeitoda inexistncia de uma autobiografia no sentido estrito do termo,Douglas forneceu, em pequenos textos, entrevistas e mesmo emprefcios de alguns de seus livros, pistas dos rumos de sua teoria,deixando claro o lugar de destaque de sua pesquisa africanistana mesma14.

    H que se levar em considerao o risco que a noode projeto intelectual pode suscitar no caso da anlise da obrade Mary Douglas, tendo em mente as objees feitas por PierreBourdieu (1997) sobre a possibilidade do indivduo pautar suahistria social pela ideia de uma direo lgica determinada.Entretanto, esta noo de auto-reflexo, que coloca a etnografiaLele como o pice de sua obra15 (Douglas, 1998), parte

    14 Exemplos so Douglas (1970), Douglas (1983), Douglas (1989), Douglas(1999c) e Douglas (2002).15 Em conversa com o autor, Douglas reiterou o desejo, infelizmente no realizado, de publicar mais uma obra sobre a etnografia Lele confirmado por conversas com familiares e colegas.

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    constitutiva de sua experincia como intelectual britnica.Experincia que, se levada a srio, no pode deixar de lado umasrie de narrativas que aparentemente contradizem a imagem deuma pensadora influente e imbuda de prestgio. So informaesdelicadas, que requerem um cuidado especial ao tratar da carreirade Mary Douglas, mas que sob a luz de uma anlise do contextodo campo acadmico britnico, especialmente o africanismopraticado em meados do sculo passado, adquirem significadoespecial. Afinal, possvel falar de marginalidade, mesmoque relativa, no caso de Douglas? Ao adotar uma metodologiaque conjugue uma anlise do campo acadmico e das relaesentre os autores do perodo ao estudo de sua trajetria nestecontexto talvez seja possvel enxergar como a antroplogaexperimentou (experincia tornada visvel no apenasem entrevistas, mas no conjunto de suas reflexes e nasinterlocues intelectuais alcanadas) este processo da histriada disciplina.

    Os primeiros passos de insero na academia, a relao comMax Gluckman e narrativas de marginalidade relativa

    importante retomar a questo da marginalidade no casode Mary Douglas, tal como exposta por Richard Fardon. J noincio da biografia intelectual de Douglas, o autor afirma:

    Em Mary Douglas, foi impossvel desconhecero sentimento de marginalizao disciplinar queinaugurou sua carreira. Ele envolveu questesde personalidade e do contexto institucional. Numsentido lato, era quase fatal que uma inglesade classe mdia, catlica romana praticante, dagerao de Douglas e movida por grandes ambiessentisse um certo grau de marginalizao numadisciplina que afora o fato de ser de classe mdia,por definio no era nenhuma dessas coisas.(Fardon, 2004, p. 21).

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    Fardon analisa uma srie de desavenas que Douglas sofreuao longo dos anos, especialmente pelos que criticavam suatentativa de colonizar outras reas do conhecimento e mesmode fazer uma antropologia menor, ftil (como analisar os costumesalimentares da sociedade inglesa). Entretanto, apesar do autorassinalar a difcil relao de Douglas com Max Gluckman, queem meados da dcada de 1940 e por toda a dcada seguinteencabeou o grupo africanista hegemnico no Reino Unido,acredito que esta impossibilidade de ingressar na rede dos estudosafricanistas praticados em Manchester deva ser mais densamenteestudada.

    De seus anos em Oxford, posteriormente pela UniversityCollege de Londres, e pela Universidade de Northwestern no nortede Chicago, h que se levar em considerao a estrutura do campoacadmico britnico e a histria da disciplina no pas.Especificamente, no campo africanista, a constituio de uma redede relaes entre alguns intelectuais, em sua maioria vindosdo Rhodes Livingstone Institute na Rodsia do Norte, paraa Universidade de Manchester, crucial para compreender asdificuldades de Douglas em criar um espao de atuao e renome,que talvez exponha fatores concretos de uma marginalidade16.

    Schumaker (Schumaker, 2001 e 2004), por exemplo, lembraque os antroplogos do instituto possuam mais do que umaagenda terica comum: partilhavam uma experincia de pesquisa.Dificuldades similares em campo eram discutidas, imprimindouma considervel coeso ao grupo de intelectuais que,posteriormente, se deslocariam da frica para o Reino Unido,quando Gluckman assumiu a ctedra de antropologiaem Manchester no final da dcada de 1940.

    16 Helosa Pontes (2004), por exemplo, ao analisar a constituio do campointelectual e cultural modernista paulista apontou para algumasparticularidades do meio teatral para a obteno de um renome no casodas artistas, em um mesmo perodo em que as dificuldades prpriasda crtica cultural tornavam esta tarefa mais rdua para as intelectuais.

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    Ainda que no concorde inteiramente com Fardon,que toma a escassa repercusso que a principal monografia Lelepublicada por Douglas (Douglas, 1963) como o principalindicativo da marginalizao da autor 17, no possveldesconsiderar o lugar reservado sua obra etnogrfica na histriada antropologia britnica e na antropologia de lngua francesa,j que esta foi discutida por diversos autores desta tradio, comoLuc de Heusch (1981) e Lvi-Strauss (1993).

    Jan Vansina, j citado, fez pesquisa de campo em regioprxima ao territrio Lele, na mesma poca em que Douglasesteve na frica, e ambos puderam trocar informaes etnogrficasimportantes. Em comunicao pessoal com o autor, Vansinacomenta:

    Silncio relativo, Escola de Manchester dada ainfluncia do marxismo l versus a posio liberalde Mary no final dos anos 1960, isto no surpreendente. Mais um fator relacionado com atentativa de fazer de Manchester o lugar para umaantropologia social africana (...) mas Mary talvezreclamasse muito facilmente. Seu Natural Symbols afez famosa em vrios crculos intelectuais, umasituao sem dvida invejada por alguns, que podeexplicar algumas reticncias.18

    Talvez seja necessrio considerar o cuidado de Vansina emrelao questo da marginalidade de Douglas. Mas existemoutros indcios que apontam para uma dificuldade em lidar coma estrutura do campo acadmico. Em um debate com Gluckman,por exemplo, possvel entrever uma espcie de legitimidadecalcada na senioridade acadmica, que deixou clara a fragilidadeda posio ocupada por Douglas. Esta publicou uma resenha dolivro organizado por Gluckman e Elizabeth Colson, Seven Tribes

    17 Vrios artigos que precederam a publicao da monografia de 1963foram discutidos por alguns dos principais autores do perodo.18 Comunicao pessoal com o autor. nfases no original.

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    of British Central Africa (Gluckman e Colson, 1951), em que criticaa organizao do livro e a no tentativa de comparao dos dadosapresentados (Douglas, 1952). Os autores da coletnea publicaramuma resposta, na qual questionavam a capacidade de Douglas decriticar a pesquisa, por desconhecer tanto o funcionamento doinstituto Rhodes-Livingstone, quanto os procedimentos de umacoletnea de artigos comparados (Gluckman e Colson, 1952). Estedesconhecimento, conclui-se, advinha de uma alegadainexperincia de Douglas, por ser uma antroploga jovem e defora.

    Mas resta precisar melhor esta noo de marginalidaderelativa em Mary Douglas, e tambm sobre a maneira em queesta noo se mostra indissocivel de sua experincia no campoafricanista britnico.

    Experincia e estruturasEm iluminador texto (Douglas, 1990), em que escreve sobre

    a coletnea de Victor Turner e Edward Bruner, Anthropologyof Experience (Turner e Bruner, 1986), Mary Douglas atenta,curiosamente, para a faceta pessoal da vida de Turner, seusinteresses pelo drama, teatro e performance quando jovem,entendidos por ela como elementos significativos para os resultadosda pesquisa condensados no livro. como se houvesse umasemente adormecida, que cresceu progressivamente, que a autoradiz ter se dado conta somente quando conheceu Turner: comose seu senso de humor escocs mordaz estivesse limitado por umaformao estrutural-funcionalista (e pela influncia daantropologia poltica de Manchester) muito rgida.

    Victor Turner, segundo Engelke (2004), ressentiu-se do queconsiderou uma nfase exagerada nos aspectos polticos de suapesquisa entre os Ndembu, exigncia de seu orientador, MaxGluckman, para a defesa de sua tese. Acabou por aceitar realizar,juntamente com sua esposa Edith, que partilhava de suaspreferncias metodolgicas e o ajudou na pesquisa que resultou

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    em Schism and Continuity in an African Society (Turner, 1957),uma sociologizao de seu material de pesquisa, em detrimentodas anlises do simbolismo ritual que os interessavam. De fato,parece que a ida do casal para os Estados Unidos na dcadade 1960 foi largamente influenciada pela insatisfao crescenteem Manchester. Em Chicago, onde passou a lecionar e onde MaryDouglas iria residir pouco tempo depois segundo Peter Fry, seuantigo aluno, exilada19 e onde encontravam-seconstantemente, Turner iria desenvolver mais livremente seusinteresses sobre os aspectos dramticos dos rituais.

    O importante de se reter da observao de Mary Douglas,entretanto, pensar sobre as maneiras como a antroploga via,nos trabalhos da coletnea, a relao entre performancee experincia e as maneiras como estes so padronizados. a herana, admitida por ela mesma, do durkheimianismo queguiou toda sua obra.

    Ressaltei o comentrio de Douglas sobre o trabalhode Turner porque gostaria de pensar exatamente sobrea possibilidade de compreender sua experincia de marginalidade luz de um processo mais abrangente de significao. No fujo,neste sentido, do prprio projeto douglasiano de buscar a relaoentre a estrutura social e as formas simblicas e morais queas legitimam.

    Hartmann (2005) acertadamente relaciona a apreensoda experincia vivida com as narrativas, sejam elas expressasem performances ou em textos. Ou seja, entre a experinciade um processo, constitudo em uma certa estrutura que lhed sentido, e sua enunciao, h uma reconstruo, passvelde apreenso. Paul (1987) acredita que h uma diferena entrea objetificao da experincia em textos, objetos e outrasprodues culturais, mas partilha da premissa que estas formasde compreenso do mundo devem ser estudadas no interiorde padres culturais em partilha. Pessoalmente, acredito que indagarsobre marginalidade em conversas com Mary Douglas tem efeitos

    19 Comunicao pessoal com o autor.

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    distintos da apreenso desta narrativa tal como encontrada em suaspublicaes. Mas ambas perspectivas compem o quadro em quesua experincia sobre o lugar reservado sua pesquisa etnogrficana literatura antropolgica significam.

    Em maro de 2007, apenas alguns meses antes de MaryDouglas falecer, eu a entrevistei. A antroploga j estava debilitadafisicamente, mas parecia no querer abandonar sua rotinade trabalho e fez questo de oferecer um apetitoso lanche, bemcomo um passeio pelo bairro londrino em que morava.Conversamos sobre a possibilidade de entender sua alegadamarginalidade acadmica atravs de uma anlise do campointelectual britnico, o que parece t-la empolgado. Pareciaconsiderar que uma abordagem de inspirao no trabalhode Bourdieu poderia ajudar a descrever uma estrutura queorquestrava os sentidos e os rumos de sua trajetria. Ficouespecialmente animada ao relembrar seus anos no Congo,ao tentar relacionar sua prpria formao catlica coma experincia de campo, como uma matriz para sua anlise dasformas de organizao de hierarquia nas sociedades.

    Tambm me contou que no tinha grande considerao porGluckman e seus guarda-costas, como chamou Clyde Mitchell,John Barnes e outros tericos ligados ao grupo. O mal-estar haviacomeado desde que lera uma crtica contundenteque Gluckman escrevera sobre Malinowski, o que Mary Douglasconsiderou que s poderia resultar de um homem que no fossebom20.

    No entanto, ambos Gluckman e Douglas j haviamtrabalhado juntos. Ele fora seu supervisor no projetodo Ethnographic Survey of Africa21 e quase fora seu orientador,

    20 Na verdade no so poucos os relatos sobre o humor difcile o temperamento controlador de Gluckman, mesmo de ex-alunose colaboradores prximos (Middleton, 1999; Leach, 1984; Gewald, 2007).21 Projeto empreendido pelo International African Institute sob coordenaode Daryll Forde e que foi constitudo por diversas publicaes acerca dosaspectos sociais, polticos e econmicos de regies da frica,principalmente as controladas pelo Imprio Britnico.

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    quando ainda estava em Oxford, antes de ir para Manchester.Entretanto, interessante o fato dela indagar-se, frente s minhasperguntas sobre este pouco reconhecimento de que falou Fardon,o que poderia ter acontecido se ela tivesse colaborado comGluckman e rumado para Manchester. Oxford ainda eraconsiderado o centro de antropologia de maior prestgio no ReinoUnido, mas Manchester logo se tornaria o polo africanista porexcelncia. De modo que, sua ida para a universidade e a participao nas redes de interlocuo de seu departamentode antropologia, seguramente trariam Douglas reconhecimentoe apoio de pesquisa.

    importante notar que a entrevista de Douglas, ainda queguiada por minhas perguntas e indagaes, tinha um carterde repetio que me chamou a ateno. Foram elementos queouvi em outras entrevistas e que Fardon me confirmou depois,confidenciando conversas que ele mesmo teve com a antroploga. como se houvesse um discurso sobre os problemas quea afastaram do africanismo, que no hesitava em comentar, jem sua maturidade acadmica, com os amigos prximos ou comum antroplogo brasileiro, que no tinha relaes explcitasde alianas no interior do campo acadmico britnico. Se, porum lado, essas expresses sobre uma marginalidade relativa (aomenos para o campo africanista) pareciam absurdas, ainda maispara uma antroploga to influente, por outro lado, me deixavam vontade para no rejeit-las por completo.

    Minha hiptese de que essa noo de marginalidade apontapara um elemento crucial na obra de Mary Douglas, que a reflexividade de sua teoria, sobre como o pensamento simblico padronizado. Foi este projeto que inspirou, afinal, seus livrospublicados a partir da dcada de 1960 e a comparao entreos dados etnogrficos africanos, seja com a observao dos rituaisprprios da sociedade inglesa, seja com as regras dietticasdo Velho Testamento.

    Mary Douglas parecia ter uma noo muito refinadado lugar de cada livro e de cada problema ou interesse de anliseno conjunto de sua obra, e ressentia-se por ser conhecida

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    basicamente por Pureza e Perigo, um livro que considerou, poucotempo depois de sua publicao, incompleto (ainda queno caminho certo), e mesmo equivocado em alguns sentidos(Douglas, 1975). Enquanto a etnografia dos Lele, que consideravato importante, fosse to esquecida.

    Creio que estas reflexes permitem pensar na questode o que falar sobre marginalidade realmente significa? Porque estas reiteradas expresses sobre sua experinciade marginalidade na academia britnica? Ela estaria chamandoateno para determinadas regras prprias da antropologiaafricanista britnica? Afinal, me parece que os significados destasnarrativas orais, no exatamente particulares e privadas,s podem ser realmente compreendidas com o conhecimentode outras formas de reflexo, talvez mais tericas, presentesno conjunto de sua obra escrita.

    Um leitor atento a estas reflexes e as narrativas de suaexperincia talvez pudesse levantar algumas hipteses. MaryDouglas, provavelmente como qualquer outra pessoa, gostariade ser reconhecida. Mas tal reputao parecia vir principalmentede antroplogos de fora da academia britnica ou de estudiososde outras reas do conhecimento. Foi apenas na volta ao ReinoUnido, em 1989, que Douglas recebeu um significativoreconhecimento, tornando-se uma fellow da academia britnica,indicativo do quanto esta havia mudado durante os 10 anos emque estivera nos Estados Unidos (Fardon, 2007). Em 1992, recebeuo ttulo de Commander of the British Empire, e pouco antesde falecer foi tornada Dama do Imprio, pelas mos do prncipeCharles.

    Talvez a prpria experincia fora de lugar, expressa nestanoo de marginalidade, permita, em um sentido bem queridopor Douglas, deixar evidentes as regras partilhadas, os padresde inteligibilidade, as exigncias e convenes da antropologiabritnica. Enfim, reclamar que uma parte que considerava crucialde sua obra no recebeu ateno atentar para a incompletudeda apreciao da mesma, mas tambm mostrar quais eramas regras do jogo.

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    Mas, afinal, seria importante compreender os sentidos destasnarrativas referentes marginalidade de acordo com o tipode estrutura do campo acadmico britnico? Estaria seguindo,a, acredito, um pouco de seu prprio interesse na relao entresimbolismo, observado nas formas de classificao e ordenaodo mundo, com as estruturas sociais subjacentes. Ou seja, entreexperincia e contexto social.

    Acredito que quando Mary Douglas fala de marginalidade,todo um contexto do campo acadmico deve ser tambmanalisado: a rede de relaes sociais de que no conseguiu (ouno quis) participar, as estruturas de prestgio, as oportunidadesde financiamento (que no caso de Mary Douglas tinham grandeimportncia na possibilidade de fazer pesquisa). Afinal, essasnarrativas iluminam um pouco a maneira como estas estruturasdo campo foram significadas por alguns dos sujeitos que asvivenciaram.

    As informaes que me passava sobre esta poca talvezpossam ser compreendidas como ferramentas para expressaro lugar que seu trabalho de campo teve em sua trajetria, almda percepo que tem do lugar que acredita que atribuem a estaexperincia na apreciao de sua obra. Experincia que, segundoJoan Scott (1999), no se distingue da elaborao discursivae simblica dela mesma, mas guia ao e constitutivada percepo de si. As experincias criadas em dadas estruturassociais acabam tambm por agir no processo social.

    Em seu livro Implicit Meanings (Douglas, 1975), MaryDouglas rev algumas de suas anlises em Pureza e Perigo,ao analisar a maneira como Turner pensava a relao entreo simblico e o social de forma que os significados constitudosfossem misturados dinamicamente, evitando impor as categoriasdo prprio pesquisador no material analisado. Afirma Douglas:

    No se deveria nunca mais ser permitido prover umaanlise de um sistema entrelaado de categorias depensamento que no tenha nenhuma relaodemonstrvel com a vida social das pessoas que

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    pensam nestes termos. Por exemplo, minha prpriadiscusso das categorias animais no VelhoTestamento, uma anlise do Levtico 11 em Purity andDanger (1966), no pode ser aceitvel segundoos padres expostos22. (Douglas, 1975, p. 144).

    Em outro momento, a antroploga continua a tratardo mesmo tema:

    Em Purity and Danger eu tracei um paralelo entrea classificao Lele de animais com aquela emLevtico 11. Ralph Bulmer foi a nica pessoa queprotestou que ao escrever sobre cosmologiaHebraica eu fizera a mesma coisa que o resto dolivro foi escrito para evitar. Era uma anlise de umsistema de ideias com nenhuma possibilidade dedemonstrao de sua conexo com as preocupaesdominantes das pessoas que as usaram parapensar23. (Douglas, 1975, pp. 207-208).

    Lembrar da apreciao da obra de Victor Turner por MaryDouglas remete observao da antroploga sobre a necessidadede priorizar a anlise de sistemas simblicos, cuja influncia naforma cotidiana de pensar e agir das pessoas fosse comprovvel.Em outras palavras, ao comentar sobre aspectos da vida pessoalde Turner e relacion-los sua produo terica, Douglas apontapara uma semelhana de procedimentos lgicos e simblicos.Seguindo as pegadas de Douglas, procurei fazer o mesmo comsua trajetria. Levar a srio as narrativas sobre sua relativamarginalidade na antropologia britnica e sobre o lugar que alifoi reservado para sua produo etnogrfica, significa atentarpara as lgicas que orientavam o modo de pensar e agir quecompunham o contexto em que sua obra foi produzida.

    22 Traduo livre do autor.23 Idem.

  • |178|Marginalidade Relativa do Africanismo de Mary Douglas...

    Entend-la apenas a partir das narrativas a posteriori que adescrevem como uma grande e influente terica da disciplina seriadeixar de lado uma parte vital da compreenso desta mesma obra.Algo como reduzir o ethos hebraico s interdies do Levtico.

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