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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica Dissertação de Mestrado Cibercultura, Imaginário e Juventude A influência da Internet no imaginário de Jovens Brasileiros Lygia Socorro Sousa Ferreira Orientador: Prof. Dr. Eugênio Rondini Trivinho São Paulo 2009

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica

Dissertação de Mestrado

Cibercultura, Imaginário e Juventude

A influência da Internet no imaginário de Jovens Brasileiros

Lygia Socorro Sousa Ferreira

Orientador: Prof. Dr. Eugênio Rondini Trivinho

São Paulo

2009

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LYGIA SOCORRO SOUSA FERREIRA

Cibercultura, Imaginário e Juventude

A influência da Internet no imaginário de Jovens Brasileiros

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para obtenção do título de

Mestre em Comunicação e Semiótica pelo

Programa de Estudos Pós-Graduados em

Comunicação e Semiótica, sob a orientação do

Prof. Dr. Eugênio Rondini Trivinho.

Área de Concentração:

Signo e Significação nas Mídias

Linha de Pesquisa: Cultura e Ambientes Midiáticos

São Paulo

2009

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BANCA EXAMINADORA

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À minha Mãe.

Não poderia dedicar esta vitória a outra pessoa. Afinal, ela só foi possível porque

você esteve sempre ao meu lado. Nunca serei capaz de retribuir tudo o que tem feito por mim.

Mas, qual o filho que consegue retribuir integralmente o amor de uma mãe? Infelizmente,

todos nós somos impotentes diante dos gestos de cuidado e de carinho dispensados desde o

nosso nascimento. Com o passar dos anos, quando se pensa que os “laços” foram rompidos

com a chegada da rotina da vida adulta, qual a surpresa? Vemo-nos ainda mais ligados aos

ensinamentos da mãe. A ligação umbilical “física”, de fato, foi rompida. No entanto, os laços

sentimentais estão cada vez mais firmes, pois o tempo nos ensina a enxergar o quando a sua

presença é importante.

Então, minha mãe, Nazaré Ferreira, este Mestrado é para você. Ele representa a

conclusão de mais uma etapa de minha vida. Sei que ainda estou apenas no começo, tenho

muito a aprender. Porém tenha certeza de que é o meu exemplo de ser humano. Sua presença

ajuda a dar sentido em minha vida e seus ensinamentos são a base que fundamenta o meu

caminho.

Você soube transmitir suas qualidades na firmeza de sua atitude; na sabedoria de

suas palavras; nos seus gestos de carinho e de solidariedade; no silêncio dos seus

sofrimentos e preocupações; na beleza do seu sorriso e na grandiosidade do seu AMOR.

Neste instante, lembrei-me que há pouco tempo atrás, um poeta já dizia: “só as mães

são felizes!”. É verdade, são felizes, simplesmente, porque vivem para amar.

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AGRADECIMENTO

São cinco horas manhã. Já começo a ver, timidamente, os primeiros

raios de sol em minha janela. Passei a noite acordada, terminando a Dissertação. Esta é a

última página que escrevo. Não por ser a menos importante, pelo contrário, quero

cuidadosamente, escrever nela os nomes das pessoas que me acompanharam ao longo deste

percurso acadêmico.

Meu primeiro agradecimento é a Deus por ter concedido o dom maior,

o DOM da VIDA. Vida cheia de presentes. Presentes representados em forma de experiências

e pessoas que me ensinam o quanto é maravilhoso viver.

No transcurso destes dois anos, como qualquer ser humano, deparei-

me com situações de alegria, mas também com dificuldades. Não foi fácil chegar ao fim.

Muitas vezes, até pensei em não ser capaz de conseguir. Porém, todos que citarei nesta folha,

direta ou indiretamente, ajudaram-me a concluir esta etapa. Peço desculpas àqueles que,

eventualmente, não serão citados. Acreditem, não foi por esquecimento ou ingratidão.

Simplesmente, porque é impossível; falta espaço para escrever todos os nomes das pessoas

que são especiais para mim. Mas saibam que tenho todos guardados em meu coração.

No entanto, não poderia deixar de lembrar minha irmã, Lourdes

Ferreira, companheira de todas as horas. Não tenho palavras para agradecer o carinho e o

apoio nas horas difíceis. Sem essa mão amiga, jamais seria capaz de superar os obstáculos

surgidos ao longo do tempo.

Outra pessoa igualmente importante, Prof. Dr. Eugênio Trivinho.

Educador na expressão máxima que o termo encerra. Exemplo de dedicação e de

competência. Como poderei agradecer a paciência com que me orientou? Sinto-me honrada

em ter como orientador e amigo, um dos maiores pesquisadores da área crítica

comunicacional da atualidade.

Agradeço a CAPES, pela bolsa de estudos de fundamental importância

para a conclusão deste meu percurso acadêmico;

Aos professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em

Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Em especial a profª Lucrécia Ferrara, prof. Norval

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Baitello e prof. Oscar Cezarotto, os seus conhecimentos e as suas experiências foram de

imenso valor;

A minha querida Cida Bueno (PEPGCOS-PUC/SP). Muito mais do que

uma secretária, é uma mulher de fibra que abraça o serviço com responsabilidade e amor. É,

também, uma amiga cuidadosa. Obrigada por tudo que fez por mim, durante estes dois anos.

Aos colegas do grupo de pesquisa CENCIB (PUC-SP), Edilson,

Heloísa, Michele e Ana, e aos colegas do Programa de Estudos Pós-Graduados em

Comunicação e Semiótica, em especial ao Daniel, a Marlise e ao Romilson, pela partilha

intelectual de fundamental importância para o meu crescimento acadêmico;

Às irmãs do Pensionato Santa Marcelina, pelo carinho com que me

acolheram em “terra estranha”; e as colegas de pensionato Fabíola, Rosário, Shizuko,

Paula, Lívia e em especial a Maíra, que – assim como eu – vieram para São Paulo se

qualificar. Partilhamos as dificuldades, a saudade da família, as conquistas e as alegrias;

Aos meus amigos fiéis: Ruberval Oliveira, Débora Campos, Júlia

Célia, Rosiléia Guedes, Maria Lygia, Arlete, Dédima, Ângela, Claudinha, Alda, Márcia

Bragança e outros tantos que, infelizmente, não poderão ser citados por falta de espaço, mas

estão presentes em meu coração. Agradeço imensamente a Bárbara Barbosa e Márcio

Wariss, pelas “dicas”, pela partilha das experiências acadêmicas e pelas orações. Em

especial, aos queridos: Profª. Elomar Alencar, pelo carinho e pela confiança que sempre

depositou em mim; e ao Prof. Msc. Mário Tito Almeida, pela amizade, pelo incentivo e pelas

boas sugestões que auxiliaram na construção do quadro teórico da dissertação. Obrigada,

que Deus abençoe a sua vida e de sua família.

Aos meus colegas professores que abraçam com responsabilidade a

missão de educar. Ás irmãs salesianas do Instituto Dom Bosco que me acolhem desde

pequena com tanto carinho. Com elas aprendi a colocar em prática os ensinamentos do

grande educador Dom Bosco em minha vida. Estendo os agradecimentos às irmãs da Escola

Berço de Belém que sempre acreditaram em mim. E a Zenaira, Regina e Ir. Janete do

Centro Social Auxilium, pela compreensão e paciência durante esta reta final do curso;

Às escolas que abriram as suas portas para a realização de minha

pesquisa. A participação de vocês dá sentido ao trabalho;

A toda a minha família, principalmente as minhas tias Profª. Drª.

Maria Olinda Souza Pimentel (UFPa) e a Profª. Ms. Maria da Conceição Fernandes

(UFPa), pelo estímulo constante para que eu concluísse esta etapa. À tia Célia que, mesmo

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de longe, sempre esteve torcendo por mim. Aos meus primos, em especial a Conci, minha

companheira em São Paulo;

Agora, no final, relembro daqueles que já não me alegram com a sua

presença. Meus avós Cacilda e Tertuliano Souza; Vicentina e Raimundo Ferreira e a Maria

Ziená, pelo amor com que cuidaram de mim. A minha tia Iraci Sousa, sempre tão

preocupada com os meus estudos “na cidade grande” e ao meu tio Eloy. As lembranças

permanecem e o amor transcende na certeza de que descansam em paz.

Os raios de sol já invadiram a sala. É mais uma manhã quente de verão

do norte. Termino de escrever esta página de agradecimentos. Olho para a imagem de um

quadro pendurado na parede. É a fotografia de meu pai, comigo em seu colo. Vejo o

semblante sério, firme, mas com olhar carinhoso. Ao ver a imagem, entendo Kamper: as

imagens realmente transformam os homens em seres imortais. Meu pai, Sebastião Ferreira, a

morte lhe levou cedo, mas o seu exemplo de dignidade e o seu amor permanecem vivos dentro

de mim. Eu sei que... “As pessoas não morrem, ficam encantadas.” (Guimarães Rosa).

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“Se a velocidade é luz, então aparência é o que se

move. Transparências momentâneas e enganosas,

dimensões do espaço que não passam de aparições

fugitivas, objetos percebidos no instante do olhar,

este olhar que é, a um só tempo, o lugar e o olho”. (VIRILIO, 2005, p. 19.)

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RESUMO

A presente Dissertação está inserida no atual arranjamento mediático planetário

configurado pela convergência entre a comunicação e a informática: a Cibercultura. Hoje,

vive-se em uma época marcada por avanços científicos contínuos e, sobretudo, pela imensa

utilização de equipamentos infotecnológicos. A interatividade e a velocidade passaram a ser

concebidas como processos capazes de dinamizar as relações socioculturais, políticas e

econômicas da vida contemporânea. Nesse contexto em que as tecnologias interativas

tornaram-se imprescindíveis, tornou-se importante investigar a influência da internet no

imaginário dos jovens brasileiros. Atualmente, as relações sociais se fazem sobremaneira com

o auxílio da máquina. Então, é imperioso questionar como a web age no imaginário dessa

faixa etária. As relações mediadas pela internet colaboram para a autonomia e para a

formação da identidade dos jovens? Como a internet os seduz? Os conteúdos explorados na

rede auxiliam a formação pessoal desses indivíduos? As respostas para tais questionamentos

mostram que o jovem, ao interagir com o mundo virtual, constrói para si um sentimento de

autonomia e identidade. Ao mesmo tempo, essa relação jovem-internet também proporciona

dependência e solidão, num contexto eventualmente assumido de ausência de criticidade. O

Trabalho trata-se de uma pesquisa empírica, em que foram consultados 100 jovens, na faixa

etária entre 14 a 17 anos, estudantes de escolas públicas e particulares das cidades de Belém e

São Paulo. A apuração dos dados foi feitas por sistematização tematização qualiquantitativa

de dados. As perspectivas teóricas mobilizadas para a fundamentação teórica incluem o pós-

modernismo reflexivo (Lyotard, Harvey, Kumar e Jameson), o pós-estruturalismo francês

(Baudrillard), a teoria critica pós-frankfurtiana da comunicação (Sfez), a teoria

sociodromológica (Virilio), a epistemologia da critica da cibercultura (Trivinho), as teorias do

imaginário (Castoriadis e autores da área de psicologia), entre outras vertentes coerentes com

estas. Os resultados (teórica e empírica) se projetaram na forma de conclusões científicas

contextuais sobre o problemático fascínio desse acoplamento entre juventude e ciberespaço.

PALAVRAS-CHAVE: cibercultura, imaginário, velocidade, interatividade, internet,

juventude.

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ABSTRACT

The Master dissertation is inserted in the present planetary mediatic arrangement

configured by the convergence between communication and the data processing information:

cyber-culture. We are currently living in a time impacted by continuous scientific

advancements and, moreover, by the huge utilization of info-technologic equipment. The

interactivity and speed are now conceived as processes capable of dynamizing the socio-

cultural, political and economic relations of the contemporary life. On that context, where

interactive technologies became essential, it is important to investigate the Internet’s influence

on the Brazilian youngsters’ imaginary. Nowadays, the social relationships are built with the

help of digital technologies and the cyberspace. The question arises, then: How does the

Internet impact the youth? Do the relationships measured by the Web collaborate for the

autonomy and identity formation of young people? How does the Internet seduce them? The

contents explored at the Web help in the personal formation of those individuals? The

answers for those questions show that when reaching the virtual world, youngsters develop a

feeling of autonomy and identity. At the same time, that relationship young people-Internet

provides dependence and loneliness in a context occasionally taken over by criticism absence.

In addition to the bibliographic research on the studied object, the work involves empirical

research, through a specialized consultation with 100 youngsters aging 14 to 17 years old,

students of public and private schools of Belém and São Paulo. The data study was done

through qualitative and quantitative systemization and the results were posted in elucidative

graphic spreadsheets. The theoretical perspectives deployed for the argumentation basis

include post-modernism (Lyotard, Harvey, Kumar and Jameson), French post-structuralism

(Baudrillard), communication post-Frankfurt critique (Sfez), socio-dromological theory

(Virilio), cyber-culture critical epistemology (Trivinho) and the ‘imaginarium’ theories

(Castoriadis and authors of the psychological area), among other less relevant sources. The

(theoretical and empirical) results reflect as contextual scientific conclusions on the

problematic seduction of that coupling between youth and cyberspace.

KEY WORDS: cyberculture, imaginarium, speed, interactivity, Internet, youth

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LISTAS

FIGURAS

FIGURA 1-Significados da modernidade .............................................................................. 17

FIGURA 2- Desenvolvimento do mercado e do sistema capitalista ....................................... 21

FIGURA 3- Imaginário moderno e imaginário pós-moderno: comparações .......................... 25

FIGURA 4- Os modelos de culturas sustentadas pela comunicação ....................................... 28

GRÁFICOS

GRÁFICO 1-Ser jovem, é bom ou ruim? .............................................................................. 83

GRÁFICO 2- As melhores coisas em ser jovem..................................................................... 84

GRÁFICO 3- Assunto de interesse dos jovens (grupo de jovens da área urbana).................. 84

GRÁFICO 4- Assuntos de interesse dos jovens (grupo de jovens da área rural) ................... 85

GRÁFICO 5-Preocupação do jovem....................................................................................... 86

GRÁFICO 6- Assunto discutido com os amigos .................................................................... 87

GRÁFICO 7- Assunto discutido com os pais ......................................................................... 88

GRÁFICO 8- A função da escola ........................................................................................... 89

GRÁFICO 9- Mídia utilizada pelo jovem ............................................................................... 90

GRÁFICO 10- Quantidade de entrevistados - Belém ............................................................. 97

GRÁFICO 11- Quantidade de entrevistados – Belém ............................................................ 97

GRÁFICO 12- Quantidade de entrevistados – São Paulo....................................................... 98

GRÁFICO 13- Quantidade de entrevistados – São Paulo....................................................... 98

GRÁFICO 14- Renda familiar – rede particular Belém e São Paulo...................................... 99

GRÁFICO 15- Renda familiar – rede pública Belém e São Paulo ......................................... 99

GRÁFICO 16- Participação na renda familiar - Belém ........................................................ 100

GRÁFICO 17- Participação na renda familiar – São Paulo .................................................. 100

GRÁFICO 18- Objetos infotecnológicos - Belém ................................................................ 101

GRÁFICO 19- Período de acesso a rede - Belém ................................................................. 102

GRÁFICO 20- Período de acesso a rede- São Paulo ............................................................ 102

GRÁFICO 21- Horas dedicadas a internet – Belém ............................................................. 103

GRÁFICO 22- Horas dedicadas a internet – São Paulo ........................................................ 104

GRÁFICO 23- Preferência dos jovens – Belém ................................................................... 104

GRÁFICO 24- Preferência dos jovens – São Paulo .............................................................. 105

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GRÁFICO 25- O que os jovens procuram na internet – Belém............................................ 106

GRÁFICO 26- O que os jovens procuram na internet– São Paulo ....................................... 106

GRÁFICO 27- Opinião do jovem sobre a internet – Belém ................................................. 107

GRÁFICO 28- Opinião do jovens sobre a internet– São Paulo ............................................ 107

GRÁFICO 23- Experiencias na internet ............................................................................... 108

GRÁFICO 30- Sentimentos proporcionados pela a internet ................................................. 109

GRÁFICO 31- Desejos dos usuários ................................................................................... 110

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................. 14

COMUNICAÇÃO E A CONTEXTUALIZAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DA

CONTEMPORANEIDADE .......................................................................... 16

1.1. FENÔMENO MODERNO E PÓS-MODERNO ........................................................... 17

1.1.1. Modernidade e pós-modernidade: definições e interpretações ............................... 17

1.1.2. A lógica do capitalismo e o imaginário social pós-moderno .................................. 20

1.1.3. O imaginário social pós-moderno: transformações e desafios ................................ 24

1.2. DOS MASS MEDIA AOS MEDIA INTERATIVOS: A TRAJETÓRIA DOS MEIOS DE

COMUNICAÇÃO NO IMAGINÁRIO SOCIAL ................................................................ 28

1.3. A CIBERCULTURA ..................................................................................................... 36

1.3.1. O sistema dromocrático cibercultural ..................................................................... 39

1.3.2. O fenômeno glocal .................................................................................................. 42

IMAGEM E IMAGINÁRIO .......................................................................... 45

2.1. O IMAGINÁRIO EM REPRESENTAÇÃO ................................................................. 47

2.1.1.. As imagens: definição ............................................................................................ 47

2.1.2. Origem das imagens: o mito da caverna ................................................................. 48

2.1.3. A sedução das imagens ........................................................................................... 51

2.2. CONTRIBUIÇÕES DO IMAGINÁRIO ....................................................................... 55

2.2.1. Desvendando o imaginário: conceitos .................................................................... 55

2.2.1.1. Fase de sucessão ........................................................................................... 56

2.2.1.2. Fase de subversão ......................................................................................... 57

2.2.1.3. Fase de autorização ...................................................................................... 57

2.2.1.4. As significações imaginárias: imaginário radical e imaginário social ........ 59

2.3. O IMAGINÁRIO NA CIBERCULTURA..................................................................... 62

2.3.1. A ditadura do imaginário: o imaginário tecnológico .............................................. 66

2.4. UTOPIAS DO IMAGINÁRIO TECNOLÓGICO: O FENÔMENO GLOCAL ........... 69

2.4.1. As práticas glocais interativas ................................................................................. 69

2.4.2. A máquina como alteridade .................................................................................... 71

2.4.3. A teleexistência: a fuga dos corpos ......................................................................... 72

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CIBERCULTURA, IMAGINÁRIO E JUVENTUDE BRASILEIRA ................... 74

3.1. CONCEITO DE JUVENTUDE ..................................................................................... 76

3.2. PÓS-MODERNIDADE E CIBERCULTURA NO CONTEXTO BRASILEIRO ....... 80

3.3. RETRATO DA JUVENTUDE BRASILEIRA ............................................................ 83

3.4. UTOPIAS DO IMAGINÁRIO GLOCALIZADO ........................................................ 91

3.4.1. Recontando a história de Narciso ............................................................................ 91

3.4.2. As relações na rede.................................................................................................. 93

3.5. O IMAGINÁRIO DOS JOVENS BRASILEIROS ...................................................... 96

3.5.1. Caracterização ......................................................................................................... 96

3.5.2. Apresentação dos dados .......................................................................................... 96

2.5.2.1. Dados pessoais .............................................................................................. 96

2.2.1.2. Utilização da internet .................................................................................. 102

3.5.3. Análise final .......................................................................................................... 109

CONCLUSÃO .............................................................................................. 110

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 114

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INTRODUÇÃO

Com o advento dos meios de comunicação inaugurou-se a era da

civilização mediática. Época histórica marcada pela presença da tecnologia em todas as

dimensões da vida humana, incluindo a esfera do trabalho até a esfera do tempo livre e de

lazer. Indivíduos (jovens, adultos, crianças), instituições (educacionais, religiosas, fundações),

empresas (públicas e privadas), Estados (desenvolvidos ou subdesenvolvidos) são convidados

ou pressionados a adequarem-se as modificações sociais, culturais e imaginárias provocadas

pelos media, principalmente, após terem tornado-se o principal vetor de articulação da vida

humana.

O tema principal do presente Trabalho é investigar a influência da

internet no imaginário de jovens brasileiros de 15 a 17 anos. Sabe-se que nessa faixa etária, os

indivíduos gostam de viver em grupo, buscam conquistar a autonomia e firmar a sua

identidade. Por isso, tornar-se pertinente os seguintes questionamentos: será que o espaço

virtual é o “lugar” propício para o desenvolvimento dos anseios da juventude? ou esse “novo

mundo” alimenta o imaginário dos adolescentes com a falsa sensação de liberdade e de

autonomia?

Na tentativa de responder a esses questionamentos, estruturou-se a

análise em três momentos. No primeiro Capítulo é apresentado o contexto societário

articulado pelos meios de comunicação que instituem-se no imaginário social por meio do

sistema invisível e totalitário denominado por Virilio (1997) e Trivinho (2001) de

dromocracia e pela ação interativa provocada pelo fenômeno glocal (TRIVINHO 2001, 2007)

que vigora como o imaginário próprio da cibercultura. Mas, para a compreensão desses

conceitos, foi necessário, anteriormente, discorrer sobre as significativas transformações

sociais provocadas pela passagem da modernidade para a pós-modernidade e abordar a

trajetória dos meios de comunicação, enfocando o percurso social e histórico dos mass media

até os media interativos que impulsionaram o surgimento da configuração social tecnológica

denominada de cibercultura.

O segundo Capítulo é dedicado exclusivamente as questões do

imaginário. Primeiramente, destaca-se a importância da íntima relação existente entre as

imagens e o imaginário, para depois conceituá-lo levando em consideração a sua forma

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15

radical (individual) e social (coletiva). (CASTORIADIS, 1986). Com a emergência da

cibercultura, a tecnologia apropria-se do imaginário social e o transforma em imaginário

tecnológico ou imaginário glocalizado. Criado e desenvolvido somente por meio da

tecnologia, o imaginário glocal possibilita a concretização de todas as utopias ciberculturais (a

interatividade, a teleexistência, sociabilidade), como também colabora para o fortalecimento

do sistema que a promove, o capitalismo.

O terceiro e último Capítulo trata sobre a juventude. Apresentam-se

conceitos e traça-se o perfil dos jovens brasileiros no século XXI, para então mostrar os dados

da pesquisa norteadora deste Trabalho. O corpus da pesquisa que pretende analisar a interação

jovem e internet é constituído de duzentos jovens, entre 15 a 17 anos, estudantes de ensino

médio de escolas públicas e particulares nas cidades de Belém e de São Paulo. As diferenças

culturais, geográficas, econômicas e sociais existentes entre as duas cidades anulam-se ao

perceber que a comunicação tecnologia possue o poder de padronizar comportamentos em

qualquer lugar em que se faça presente. No espaço virtual, obliteram-se as características

individuais em detrimento das coletivas, por isso, o jovem deixa de ser um indivíduo local

para ser um usuário global. Em busca da liberdade total, o jovem encontra no ciberespaço o

“lugar” para transgredir todos os limites impostos pela sociedade, visando concretizar (pelo

menos na virtualidade) o sonho de liberdade absoluta.

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16

CAPÍTULO I

COMUNICAÇÃO E A CONTEXTUALIZAÇÃO

SOCIAL-HISTÓRICA DA CONTEMPORANEIDADE

“A imagem do homem sentado, contemplando, num dia de greve, sua tela de

televisão vazia, constituirá no futuro uma das mais belas imagens da antropologia

do século XX”.

(BAUDRILLARD, 1990, p. 19)

Este primeiro Capítulo tem a finalidade de apresentar o contexto sócio-

histórico em que o corpus da pesquisa está inserido. Nele será tratado o tema relativo à

passagem da modernidade para a pós-modernidade, observando as transformações sociais e

imaginárias ocorridas durante o processo de transição, sobretudo, dando destaque à

comunicação tecnológica que – a partir do século XX – tornou-se o principal vetor de

articulação da vida humana.

Após a Segunda Guerra, a humanidade descrente nas metanarrativas

modernas, vê na comunicação (eletrônica e informática) a possibilidade de reedificar o mundo

destroçado. Com a promoção das “tecnoteleologias” (TRIVINHO, 1999, p. 380), a

comunicação de base tecnológica penetra no cerne da sociedade e assume status de valor

social, cultural, político e econômico, vigorando com poder totalitário.

O quadro teórico desta primeira parte da Dissertação é inspirado na teoria

crítica da pós-modernidade, de Lyotard, Harvey e Jameson; no pós-estruturalismo francês de

Baudrillard; na teoria sociodromocrática, de Virilio, e na epistemologia crítica da cibercultura,

de Trivinho, entre outros conceitos coerentes com esses, que colaboram para elucidar de

maneira conceitual e introdutória as principais mudanças provocadas pela comunicação ao se

tornar vetor de articulação social em escala planetária.

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1.1. FENÔMENO MODERNO E PÓS-MODERNO

1.1.1. Modernidade e pós-modernidade: definições e interpretações

Historicamente, a modernidade é definida como a época marcada por

transformações de ordem política, econômica e social. No entanto, a mais significativa

transformação ocorreu primeiramente no campo do imaginário. Sabe-se que durante a

antiguidade clássica e, sobretudo, na idade média, o homem encontrava-se totalmente ligado

às crenças religiosas. Com a emergência da era moderna, ele rompeu com o dogma religioso,

descobriu as suas potencialidades e passou a creditar na técnica e na ciência a sua liberdade.

Essa nova forma de pensar desencadeou, na prática, revoluções de âmbito político-econômico

e sociocultural fundamentada em três núcleos de significações norteadoras do imaginário

moderno, como mostra a ilustração abaixo.

FIGURA 1: Tripé de significações do imaginário moderno

Originada do rompimento com as crenças religiosas do passado, a

significação humanista pode ser compreendida como o próprio esprit du temps moderno. Ela

é responsável em articular todas as outras significações por meio do desenvolvimento das

metanarrativas e de impulsionar mudanças no campo cultural, cognitivo e ético. A

significação econômica e cultural influencia as ações de livre comércio, segundo o princípio

de satisfação das necessidades individuais, possibilitando a expansão do comércio e o

aumento da lucratividade. A significação político-revolucionária desenvolve-se por meio da

técnica e da tecnologia, contribuindo para o processo de industrialização e urbanização das

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cidades, para o surgimento dos estados nacionais e dos movimentos de “massa” e para a

promoção dos princípios democráticos.

É válido explicitar que nas significações imaginárias estão imbricados

os projetos idealizados e a prática diária, ambos misturam-se e constroem uma rede de

sentidos que norteiam a vida humana. No caso da modernidade, esse tripé de significações é

constituído de propostas revolucionárias e de práticas que – apesar de inovadoras – não

conseguem converter em realidade o sonho iluminista. Essa contradição existente entre o real

e o ideal é característica preponderante do período moderno, podendo ser percebido logo em

sua fase inicial, quando a humanidade “liberta-se” das amarras religiosas e eleva o homem ao

status messiânico, acreditando na possibilidade do sujeito racional – “eu cogito” – apoiado no

princípio de liberdade, igualdade e fraternidade, desenvolvido sobre o tríplice pilar razão-

ciência-técnica, construir um mundo altamente civilizado. No entanto, o tão sonhado projeto

de emancipação humana não se concretizou, pelo contrário, converteu-se em barbárie.

Para David Harvey (2004), a lógica iluminista, desde sua origem, estava

fadada ao fim trágico. Como já ressaltado, na contradição dos discursos ideológicos residia a

fragilidade da condição moderna. O excesso de racionalidade, a crença absoluta no ente

humano e a exacerbada valorização da técnica aprisionaram o homem, ao invés de libertá-lo.

Trivinho (2007) analisa a ineficiência dos projetos teleológicos justificando que isso ocorre

devido toda razão revelada guardar em seu íntimo sonhos, assim como a técnica tende a virar

objeto de fetiche. O autor ainda enfatiza: “o problema da utopia é a própria utopia”

(TRIVINHO, 1999, p. 383). Afinal, durante anos, a sociedade tem testemunhado o desfecho

trágico de seus projetos de emancipação.

O cristianismo desembocou num império medieval de dez séculos e na

Inquisição sob o álibi da libertação da alma pecadora e da condução final dos

homens ao paraíso; os religiosos fragmentários geraram mais preconceito,

intolerâncias étnicas e espíritos belicosos em nome de um Deus monoteísta, em

vez de levarem ao enunciado encontro harmonioso com a divindade. O

iluminismo redundou na falácia do progresso técnico e na industrialização da

cultura de massa a pretexto de, por elas, emancipar a totalidade da espécie

humana da ignorância, do mito e do obscurantismo. O liberalismo preservou,

em novas bases, as desigualdades sociais e econômicas sob a evasiva de

equacioná-las pela melhor distribuição de uma forma obscura e obsoleta de

Estado que o nazismo e o socialismo, por má fé da história, acabaram, cada

qual a sua maneira, por confiscar para si e por encarnar: os três culminaram no

totalitarismo estatal-burocrático sob o pretexto dos fins emancipatórios. O

marxismo, em particular, sob o pilar da dialética como princípio teórico-

metológico e da luta de classes como motor da história e como práxis acabou

por reduzir – conforme já assinalado –, depois de realizadas as revoluções

proletárias, a lógica da dominação contra a qual se lançou desde cedo. E, agora,

o neoliberalismo triunfante no âmbito da política burocrática e do valor de

troca, bem como, o neonazismo que insurge em diversas partes do mundo

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colocam-se como repetições cínicas da catástrofe pregressa de seus originais.

(Ibidem).

Diante da contínua incapacidade de concretização, os discursos

teleológicos caíram em descrédito, possibilitando a emergência da pós-modernidade.

Historicamente, existem divergências quanto ao surgimento dessa época. Não é possível

apontar uma data ou um acontecimento específico capaz de explicar com precisão o seu

surgimento. Apenas sabe-se que o fenômeno pós-moderno surgiu silenciosamente em meio

aos escombros deixados pela Segunda Guerra e estabelece significativas transformações ao

trazer consigo a comunicação tecnológica. A dificuldade em apontar um fator determinante

para a ascensão pós-moderna reflete na complexidade de conceituá-la com precisão. Para

Trivinho (2001), a maioria das literaturas ensaísticas define a pós-modernidade enfocando três

aspectos distintos: [1] Época histórica relativamente definida: nesse caso, a pós-modernidade

é compreendida sob o ponto de vista da economia. Então, é definida como momento histórico

em que o sistema capitalista se perpetua; [2] Condição cultural da época: ou seja, o sprit du

temps. É a maneira de ser e atuar no mundo. Esta amplamente relacionada com a sensibilidade

de uma nova época com características específicas: efêmera, fragmentada e massificada; e [3]

Corrente de pensamento propositivo-instituinte: definições específicas e variadas que

justifiquem novas manifestações na área da literatura, da filosofia e da arte.

Conforme Trivinho (2001, p. 43), o fenômeno pós-moderno não pode

ser compreendido com base em apenas um dos enfoques elencados acima, porque, na

verdade, é a soma de todos eles; “nutre-se de todos os fatores a um só tempo” (ibidem). Para

Lyotard (2002), essa multiplicidade de sentidos também é decorrente do processo de ruptura

com as crenças passadas. O consenso exercido pelas grandes narrativas esvai-se e cede lugar

aos pequenos relatos, impulsionando a construção de percepção de mundo fluida. Bauman

(2001) compara a fluidez do espírito pós-moderno com o efeito característico dos líquidos.

Estes ao serem submetidos às pressões externas têm suas partículas facilmente modificadas.

De acordo com o autor, o mesmo ocorreria com o “clima” da pós-modernidade. A cada nova

situação, as formas de pensar e de agir transformam-se provocando o embaralhamento dos

sentidos e dos sentimentos humanos.

Jameson (2000) enfatiza que a liquidez da condição pós-moderna

aumenta a avidez pelo consumo, favorecendo o enraizamento da lógica capitalista no cerne da

sociedade por meio de dois fatores conexos: [1] a globalização do comércio impulsionado

pelo avanço da tecnologia informática e [2] a forma com que os indivíduos interagem com os

media. Com o advento do fenômeno pós-moderno, a comunicação tecnológica passou a gozar

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de privilégios no âmbito cultural, político e econômico, atuando como promotora dos ideais

das grandes corporações empresariais que transformam a cultura em produto de consumo,

perpetuando a lógica do sistema capitalista no imaginário da sociedade. A discussão a cerca

da contribuição dos media no fortalecimento do capitalismo no imaginário social, será matéria

tratada no item a seguir.

1.1.2. O imaginário social pós-moderno e a perpetuação da lógica

capitalista

Para melhor compreensão do tema abordado neste item, será necessário,

primeiramente, definir o significado de imaginário social. Castoriadis (1986) o concebe como

a operação mental responsável em conduzir à práxis humana, exercendo a função de

organizador do comportamento e das relações sociais independente da consciência moral e

dos valores pessoais dos indivíduos. Para Freud (1976), o imaginário possui uma “influência

magnética” capaz de levar o grupo social ao delírio. A personalidade consciente e individual

desvanece em detrimento da personalidade consciente e coletiva. Os comportamentos se

modificam por meio da sugestão e do contágio dos sentimentos, ocasionando o nascimento

das idéias e dos atos coletivos, construindo a rede simbólica que sustenta o “pensar e o

operar” dos sujeitos. (CASTORIADIS, 1986, p. 159).

Fundamentada nessas definições, é possível reescalonar o sentido do

capitalismo, retirando-o do reduto da teoria política e econômica e introduzindo-o no campo

do imaginário. Nesse caso, ele pode ser concebido como a principal rede imaginal

articuladora da vida humana. Desde sua introdução na história ocidental, logo após o ocaso do

feudalismo no final da idade média, o capital expandiu-se velozmente e conduziu a

humanidade para uma verdadeira revolução. É importante ressaltar, o crescimento voraz do

sistema impulsionou Marx1 a criar uma proposta ideológica objetivando libertar o homem das

amarras do sistema.

Com o passar do tempo, o discurso ideológico marxista enfraqueceu

diante das imensuráveis transformações sócio-históricas impostas pelo capitalismo, sobretudo,

após a Segunda Guerra. Segundo Castoriadis (1986), o fator desencadeador da falência do

projeto socialista residia na tentativa de Marx apropriar-se de parte do pensamento tradicional

1 Esta Dissertação não tem o objetivo de adentrar em questões específicas da teoria marxista. A abordagem

referente à proposta ideológica criada por Marx serve para facilitar a elucidação de aspectos importantes

relacionados a ação do imaginário.

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burguês com a intenção de aplicá-lo em uma teoria voltada aos anseios da classe trabalhadora.

Para o autor, o problema das grandes narrativas é não conseguir acompanhar o processo de

evolução da humanidade. No momento em que novas situações surgem, exigem –

conseqüentemente – alterações no comportamento e na forma de pensar, sendo

completamente inviável continuar “olhando” o mundo sobre o prisma da linha tradicional

imposta pelo “pensamento herdado” (ibid., p. 65). Então, apesar dos trabalhadores

compartilharem dos mesmos desejos, almejarem a liberdade proposta por Marx, eles não

conseguiam viver de acordo com o que a teoria postulava. Diante disso, o proletariado não

tardou em perceber que a ideologia jamais conseguiria cumprir a promessa de emancipação

humana, apenas conduziria o sujeito ao processo de alienação. (CASTORIADIS, 1986).

A incapacidade dos projetos teleológicos adequarem-se as mudanças

contribuiu para que os ideais marxistas sucumbissem, assim como impulsionou a falência de

todos os outros postulados totalizantes. A derrocada das grandes visões de mundo aliada às

heranças do pós-guerra (a parafernália tecnológica, a fragilidade da população e a ascensão do

império capitalista) favoreceu o surgimento da pós-modernidade. Época marcada pelo

desenvolvimento da tecnologia informática, pelo domínio da comunicação e pela perpetuação

do capitalismo. Segundo Jameson (2000), a característica preponderante do fenômeno pós-

moderno está relacionada ao enraizamento do sistema capitalista. Hoje, o capital deixou de

restringir-se ao plano econômico e político e invadiu a esfera simbólica e cultural.

Aprofundando o pensamento do referido autor, Baurdillard (1991) analisa que no transcurso

da história, o mercado e seu elemento identificador, o valor de troca, passou por três estágios,

como mostra a ilustração a seguir:

FIGURA 2: Fases do desenvolvimento do mercado.

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De acordo com a ilustração, a primeira fase está relacionada à forma de

produção primitiva. Momento sócio-histórico em que as mercadorias eram comercializadas

visando somente à subsistência humana. A segunda fase refere-se à modernidade, período de

introdução de novas formas de produção e de valorização da técnica. O homem é forçado a

migrar do campo para a cidade, deixando de trabalhar no cultivo da terra para enfrentar a

jornada de trabalho nas indústrias em troca de salário para garantir sua sobrevivência. A

terceira fase é sem dúvida a mais complexa. Tudo passa a ser comercializado, inclusive os

sentimentos humanos e as expressões culturais viram produto de consumo. Os meios de

comunicação como o principal articulador da produção e da venda desses produtos. Os media

permitem que qualquer produto exceda a sua concretude e atinja o plano simbólico,

favorecendo o consumo primeiramente na dimensão imaginária, para somente depois ser

concretizado eficazmente no plano real.

Para Kumar (1997), mesmo a comunicação tecnológica vigorando

como principal vetor de disseminação do capitalismo, proporcionando a geração de lazer cada

vez mais industrializada, ela ainda encontra-se submetida à lógica de racionalização presentes

nos modelos tayloristas e fordistas. Os antigos procedimentos industriais exigidos na linha de

montagem mostraram-se eficazes na produção e no consumo e, por isso, foram mantidos,

sofrendo apenas algumas modulações. Os media apropriaram-se dos conceitos estabelecidos

na relação compra-venda e construíram uma linguagem estratégica persuasiva capaz de agir

no imaginário dos indivíduos, “convidando-os” adquirir os produtos ofertados. A publicidade,

as pesquisas de opinião pública, as notícias dos telejornais e a necessidade de atualização

constante para aprender a manipular os equipamentos infotecnológicos, são exemplos de que

hoje se vive sob a égide do “taylorismo social”. (TRIVINHO, 2001).

O processo de desaparecimento do espaço físico do mercado e a

associação do objeto com sua marca favoreceram a simbiose entre comércio e media. Os

produtos saíram das prateleiras das lojas e passaram a flutuar no tempo e no espaço das

programações televisivas ou nas janelas pop up dos sites. Eles perderam a referência concreta

e passaram a estar imbricados na linguagem promocional dos programas de televisão. Um

exemplo bem comum, o merchandising: estratégia comercial que se faz presente em quase

todos os programas de televisão, principalmente nas telenovelas ou nos reality shows. Nesse

caso, não são os produtos que atraem o consumidor, mas a própria narrativa reificada e

transformada em mercadoria.

A prodigiosa expansão do capitalismo impulsionada pela comunicação

tecnológica favorece a desmaterialização do capital e reorganiza os modos de produção e de

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consumo, conduzindo-os ao campo do imaginário. Cazeloto (2008) lembra que apesar de

todas essas mudanças, o sistema capitalista continua vigorando sob as mesmas bases. As

hierarquias, as zonas privilegiadas, os pólos de produção e toda sua estrutura não se

encontram em estágio autocrático, pelo contrário, livre dos constrangimentos da circulação

concreta (máquinas, moeda etc.) e do espaço físico (fábricas, mercado etc.), o sistema

capitalista continua cumprindo seu papel totalitário por meio da lógica da mais potência (a

velocidade é o produto). O sujeito deve estar sempre atualizado, obter os objetos

infotecnológicos disponíveis no mercado e dominar todas as linguagens necessárias para seu

acesso. O autor ainda enfatiza, a forma cultural e imaterial do capitalismo que age num campo

fluido e indeterminado geograficamente, buscando possibilidades mais rentáveis que a

civilização mediática possa oferecer. (cf. CAZELOTO, 2008).

Na relação imaterial entre mercado e media, as transações comerciais e

o valor das mercadorias são ocultados. O que vem à tona é a utopia “sui generis” da

comunicação, denominada por Trivinho (2007) de “tecnoteleologias”. Elas são definidas pelo

autor como “utopias condicionadas pela tecnologia, fundadas na tecnologia e desenvolvidas

até a sua realização com base e por meio da tecnologia” (ibid., p. 380), com o interesse de

beneficiar as grandes corporações.

Ao contrário das metanarrativas modernas que eram propostas

ideológicas inalcançáveis e contraditórias, a tecnoteleologia revela-se plenamente possível de

ser realizada. Por meio da freqüente utilização dos aparatos tecnológicos, o indivíduo sente-se

parte integrante do processo de construção, de disseminação e de concretização de todas as

utopias tecnológicas. Até mesmo o sonho de emancipação humana torna-se real ao ser

mediado pela tecnologia. Diante do computador ou com o celular na mão, ambos conectados

a rede, o ente humano pode ingressar num espaço em que tudo é permitido, onde os limites

geográficos e temporais são facilmente ultrapassados e para singrar nesse mar de

possibilidades basta apenas apropriar-se da função mais complexa e completa do ser humano,

a imaginação.

Levando em consideração esse aspecto, Trivinho (2007) chama atenção

para o encantamento que os objetos infotecnológicos de tamanho mini estão causando

atualmente. Eles transformaram-se em fetiches sociais. Observados pelos consumidores com

alegria e deslumbramento, rapidamente, viram alvo de desejo e de “devoção silenciosa, mais

emocionalmente intensa” (TRIVINHO, 2001, p. 84). A sedução é alimentada pela promoção

publicitária, rica em detalhes e imagens que transformam um simples objeto em algo

espetacular. Os media tem poder de transformar a realidade em espetáculo. Eles encantam

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pela emoção e sutilmente promovem o aumento do consumo. Nessa escalada dos extremos, a

tecnologia e a comunicação convertem-se em instrumentos ideológicos de legitimação e

dominação do sistema capitalista renovado.

1.1.3. As significações imaginárias do fenômeno pós-moderno: transformações e

desafios

Como ressaltado anteriormente, cada momento histórico possui sua

própria rede simbólica composta por elementos que lhe são identitários. Essa rede é

constituída de significações imaginárias que só podem ser compreendidas dentro do contexto

no qual estão inseridas (CASTORIADIS, 1986). Justamente por causa disso, os projetos

ideológicos do passado são completamente incapazes de corresponder às necessidades da

atualidade.

Esse argumento serve como base para entender o movimento de

transição da modernidade para a pós-modernidade. À medida que o projeto iluminista caiu em

descrédito, outros característicos da época nascente ocuparam o seu lugar. Porém, as crenças

anteriores não desapareceram bruscamente. A transição aconteceu de forma gradual,

possibilitando às significações passadas deixarem marcas nas atuais, dentro de uma dinâmica

arbitrária. Por esse motivo, ainda hoje se presencia – mesmo sob outras bases – traços da

política de exclusão purificadora do passado. Antigamente, a exclusão constava na separação

do “povo eleito” de seus inimigos. O inimigo deveria ser punido por não ser capaz de

corresponder aos objetivos da elite dominante (o povo eleito), como é o caso dos “hereges”

para o cristianismo medieval; os burgueses para o marxismo/comunismo e os judeus para o

nazismo. Hoje, as experiências excludentes foram reescalonadas, passando a acontecer

também no plano simbólico. A principal delas é concebida por Trivinho (2001) como o

apartheid da civilização mediática. Ele configura o fosso existente entre os indivíduos que

possuem capital cognitivo e econômico necessário para o pleno domínio das linguagens

infotecnológicas e os indivíduos que, por inúmeros motivos, não conseguem acompanhar a

frenética transformação tecnológica. Esses, infelizmente, são condenados a viver à margem.

Tal fato serve para demonstrar que as significações imaginárias modernas ainda sobrevivem

na pós-modernidade, mas ao serem aplicadas num novo contexto sócio-histórico, elas têm os

seus sentidos alterados, tornado-se parte constitutiva da nova época.

Ao observar o quadro a seguir, é válido relembrar do tripé de

significações do imaginário moderno apresentado no primeiro item deste capítulo. Assim fica

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fácil de constatar na pós-modernidade, o mesmo sonho de liberdade que movimentou as ações

da era moderna. A diferença reside apenas na estratégia utilizada para atingir esse objetivo.

Na modernidade, acreditava-se totalmente nas potencialidades humanas. Na pós-

modernidade, a tecnologia comunicacional destitui a soberania do homem e assumi o status

messiânico, anteriormente ocupado pelo sujeito. Tal fato desencadeou a notável

transformação no imaginário da sociedade atual.

FIGURA 3: Imaginário moderno e imaginário pós-moderno: comparações

Como se pode perceber, as significações imaginárias da pós-

modernidade resultam na visão niilista dos modos de encarar a existência humana,

favorecendo o “neoindividualismo” 2, a fugacidade nas relações interpessoais, a busca pela

satisfação momentânea, a paixão por si mesmo (glamorização da autoimagem) e o narcisismo

militante (SANTOS, 2000, p. 87). Martín-Barbero (1996) ressalta que a identidade una da

modernidade fratura-se na pós-modernidade. Essa fratura, sobretudo, é resultado da crescente

utilização dos recursos tecnológicos.

Encontramo-nos diante de sujeitos dotados de uma elasticidade cultural que se

assemelha a uma falta de forma, é mais bem receptivas as mais diversas

formas, e de uma “plasticidade neural” que lhes permitem uma camaleônica

adaptação aos mais diversos contextos e uma enorme facilidade para os

idiomas da tecnologia. (Ibid., 1996, p.13).

2 Segundo Jair Ferreira dos Santos, o “neoindividualismo” trata-se de uma releitura do individualismo moderno

acrescido do forte consumismo e da distração provocada pelos meios.

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Essa ação “camaleônica” define bem a identidade plural e performática

da pós-modernidade. Enquanto a identidade moderna era fundamentalmente construída a

partir da linearidade dos discursos e da clareza dos valores, a identidade pós-moderna é

basicamente calcada no consumo, conforme exemplifica Silverstone (2002, p. 258): “Posso

ser homem pela manhã, mulher à tarde e talvez algo completamente diferente após o jantar, e

onde meus gostos, estilos e minha pessoa podem mudar com cada momento de consumo”. No

que tange a identidade pós-moderna, o autor ainda conclui:

Falamos da fatura de identidades numa era pós-moderna, das indeterminações

de etnias, classes, gêneros e sexualidade em torno dos quais as culturas se

formam, oferecendo-nos uma grande coisa agora, outra depois; aqui e acolá,

em toda parte, enquanto vagueamos nômades, pelo tempo e pelo espaço.

Somos vistos como foliões num carnaval sem fim; num baile de máscaras no

hiper-real, e cercados por ele. (Ibid., p.83)

No entanto, a comunicação de par com a tecnologia não apenas invade o

imaginário social, por meio de seu discurso persuasivo, incentivando o consumo, a moral

hedonista, os estilos e as tendências ecléticas, como “concretiza” todos os possíveis “sonhos”

dessa geração. Diante desse “poder” da comunicação tecnológica, Trivinho (1999) ressalta

que na transição da modernidade para a pós-modernidade houve um deslocamento do

significado das projeções ideológicas da humanidade. Elas deixaram de ser “aspirações”, para

transformarem-se em “ações” concretizadas no plano tecnológico.

A Filosofia, a Economia Política e as Ciências Sociais cedem lugar à

tecnologia e seus discursos comerciais (publicitários, jornalísticos, técnicos,

acadêmicos etc.); o que antes habitava o centro do cenário como parâmetro de

construção e de uma nova sociedade é desbancado pela tecnociência como

meio e fim em si, a mesma que, com efeito, pleiteia a realização de princípios

não muito diferentes dos de outrora. (Ibid., p. 381).

Além da efemeridade nas relações sociais, da pluralidade de identidades, do

íntimo relacionamento entre sociedade e tecnologia e, da mundialização da cultura, outra

característica do contexto da pós-modernidade é a individualidade. O sujeito pós-moderno

preza a liberdade, desconsidera as condições concretas disponíveis para o seu exercício e

concebe o “individualismo” como sendo “o valor pelo qual todos os outros valores vieram

ser avaliados e a referência pela qual a sabedoria a cerca de todas as normas e resoluções

supraindividuais devem ser medidas” (BAUMAN, 1998, p. 09). Se na modernidade a

humanidade abria mão de certo grau de liberdade em troca de relativa segurança; na pós-

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modernidade ela prefere a liberdade total em detrimento a qualquer estabilidade. Essa forma

de encarar a vida repercute, principalmente, nas relações interpessoais.

A excessiva busca pela liberdade acentua os sentimentos de insegurança, de

incerteza e de solidão. A afetividade passa a ser compreendida apenas como fonte de prazer

momentâneo, impossibilitando a solidificação dos sentimentos e causando, igualmente, um

vazio existencial. Planejar objetivos a serem realizados no futuro não é atitude atraente,

“qualquer oportunidade que não for aproveitada aqui e agora é uma oportunidade perdida”

(BAUMAN, 2001, p. 187). Laços e parcerias humanas não são “embalados” pelo utópico

sonho de completude, afinidade, ideais partilhados; pelo contrário, são estabelecidos

imediatamente pela lógica do consumo, lê-se de caráter utilitário. Assim, que “melhores

oportunidades” surgirem, as relações podem ser extintas. A satisfação individual é regra

maior, tornando as relações duradouras algo inviável diante de uma realidade constantemente

mutável, onde em cada “esquina”, em cada “mudança de canal” ou em cada “link”, um novo

produto – ou relacionamento – está pronto para ser consumido.

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1. 2. DOS MASS MEDIA AOS MEDIA INTERATIVOS: A TRAJETÓRIA

DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NO IMAGINÁRIO SOCIAL

Como discorrido nos itens iniciais deste capítulo, a promoção da

comunicação tecnológica origina-se do lastro destrutivo deixado pela Segunda Guerra

Mundial. Com o descrédito nas grandes narrativas, ela passou a ocupar o centro da cena

sociocultural promovendo e articulando três modelos de culturas, como mostra a figura a

seguir.

FIGURA 4: As culturas articuladas pela comunicação tecnológica

Ao comparecer como epicentro impessoal e auto-organizado, a

comunicação, estruturada em bases da rede mediática, movimenta-se e ramifica-se no interior

de cada uma das culturas, atuando como vetor tecnológico totalitário de produção, ligação e

sedimentação das três culturas com a finalidade de atingir concretizar o velho sonho de

emancipação humana por meio da promoção de novos discursos ideológicos. Entre eles,

destaca-se o apelo à “globalização” (Matellard, 2000) e à “visibilidade total” (Trivinho,

2001). Ambos ligados ao “poder” comunicacional de ultrapassar os limites (temporal e

geográfico), obliterando o real convencional, o real cotidiano, da vida prosaica, em proveito

do real imagético, fantasioso, fabuloso, fugaz, originado da matrix tecnológica3.

3 Matrix, palavra latina, deriva de mater que quer dizer mãe. Em latim, Matrix é o órgão de reprodução onde o

embrião se desenvolve, o útero.

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Essa idéia de articulação e de “integração” do mundo, proporcionada

pela tecnologia, principalmente, pela comunicação informática, não é recente. Remonta à

concepção da teoria social de Nobert Wiener, a Cibernética4. No livro a “Cibernética e

sociedade: o uso humano dos seres humanos”, o autor afirma que a comunicação e o controle

colaboravam na tentativa de impedir a tendência entrópica, isto é, a degradação natural da

sociedade5. O empenho de Wiener era buscar alternativas de superação desse óbice,

relacionado à termodinâmica6. Ele aplica a lei da física com o intuito de adequá-la às relações

sociais. Para o autor, a circulação ininterrupta das informações evita a degradação e o caos

social. “Assim como a entropia é uma medida de desorganização, a informação conduzida por

um grupo de mensagens é medida de organização”. (WIENER, 1978, p. 21).

É impossível compreender o pensamento de Nobert Wiener sem

reescaloná-lo à dimensão sociopolítica. O imaginário da teoria cibernética consiste em manter

o desenvolvimento harmonioso dos laços sociais. Esse paradigma antropológico, vislumbrado

por Breton e Proulx (2000), estabelece a máquina como meio de reorganizar

“harmonicamente” a sociedade, transformando-a em sociedade da informação. Nela, o

humano comparece pulverizado em bits e em códigos genéticos vulneráveis a técnicas que

possibilitam até mesmo a reprodução em série (clonagem). O hommo communicans se despe

de conceitos clássicos, como a interioridade, para tornar-se um ser voltado essencialmente

para o que vem do exterior.

O valor atribuído à informação pela teoria cibernética contribuiu para a

proliferação incontrolável de técnicas e tecnologias comunicacionais que introduziram

aparelhos e objetos infotecnológicos em todos os setores da vida cotidiana (TRIVINHO,

2001). Essa proliferação surge na metade do século XX, mais precisamente, no período de

guerra, com a finalidade tática de aniquilamento do inimigo. “A comunicação possui

umbilicais relações com o campo bélico” (ibid. 2001) e, por isso, continua exercendo sua

finalidade prática de aniquilação. Desta vez, é a aniquilação da realidade em prol de uma

“hiper-realidade” (BAUDRILLARD, 1991, p. 20), uma realidade inexistente, vazia de

sentido.

4 Não se trata aqui de aprofundar a teoria cibernética, somente, de apresentar os alicerces lançados por Wiener e

analisar, de maneira geral, as respectivas repercussões no cenário social. 5 Argumentação inspirada na aula de Fundamentos da Comunicação, ministrada pelo Prof.Dr. Eugênio Trivinho,

em 29/03/2007, do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC/SP. 6 A segunda lei da termodinâmica diz que o universo e todos os sistemas físicos em menor escala evoluem

espontaneamente para a situação máxima de entropia, degradando-se pelo nivelamento absoluto de elementos.

Como há homogeneidade, não existem trocas de elementos e o sistema estanca e morre. (WIENER, 1978, p. 14).

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Segundo Kumar (1997), a humanidade já testemunhou duas grandes

revoluções. A Primeira, de acordo com o autor, foi à revolução causada pela utilização da

energia (vapor e eletricidade). A segunda, e mais atual, é a revolução da informação

(tecnologia e comunicação). Gestada há mais de um século, suas primeiras manifestações

assumiram diversas formas: telégrafo elétrico, cinema, rádio e televisão. Mas, é o computador

que simboliza o principal motor de transformação, colocando-se ao centro da sociedade da

informação. As experiências comuns da vida diária são suficientes para confirmar esse fato:

bancos em funcionamento 24 horas, o virtual desaparecimento do dinheiro na maioria das

transações bancárias, reservas em hotéis, compras de passagens aéreas, até mesmo check-in;

pesquisas em bibliotecas e consultas em catálogos e arquivos de bancos de dados de

instituições públicas, resultado de exames laboratoriais, sistemas de segurança monitorado por

microcâmeras conectado ao terminal de computador, são alguns dos exemplos de como a

tecnologia da informação invadiu o cotidiano.

No transcurso da história7, a comunicação, fincada em bases

tecnológicas, alcança o ápice no século XX. Mas, as primeiras sementes já se faziam

presentes ainda no século XIX8. Primeiro, na forma de telégrafo e, posteriormente, na

organização de grupos de imprensa (agências de comunicação), promovendo os primeiros

gêneros culturais de massa. Antes mesmo da Primeira Guerra, as indústrias de cinema e

música começavam a revelar seu potencial de exportação.

Contudo, as significativas transformações sociais promovidas pelos

meios de comunicação, realmente, só foram sentidas com maior efeito a partir da década de

20. O advento das programações de rádio contribuiu para o aparecimento de novos estilos

musicais e para o crescimento da indústria de discos e gramofones. A população,

principalmente, a elite acostumada a ouvir música erudita, passou a escutar melodias mais

ligeiras, estilo relacionado à agitação das cidades em crescimento. Claro que no início houve

resistências. Chegou-se a levantar hipóteses de que esse “modismo” não iria adiante. Porém,

rapidamente, o “novo estilo” atingiu as camadas populares e dominou a sociedade. Durante o

período de guerra, os programas radiofônicos foram utilizados como instrumento sutil no

processo de manipulação da opinião pública. As programações dividiam-se em transmissões

de propagandas do sistema de governo, músicas e as “campeãs de audiência”: as rádios

7 Não é o objetivo deste tópico, recontar a história dos mass media e a dos media interativos e, nem tão pouco,

aprofundar reflexões a respeito de sua função social. Devido entender que a temática já foi bastante

desenvolvida, esmiuçada e, por hora, superada. O contexto histórico dos meios de comunicação, a ser

brevemente abordados, será analisado sobre a ótica do imaginário. 8 Argumento baseado nas obras de Armand Matellard, “História da Utopia Planetária: da cidade profética à

sociedade global” (2002) e “A globalização da comunicação” (2002).

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novelas. Histórias românticas contadas pari passu em capítulos de curta duração, capazes de

unir a família em torno do rádio, aguçando o imaginário do ouvinte. Se o rádio deixava o

ouvinte “livre” para criar suas próprias imagens, o cinema passou a encantar o telespectador

ao dar vida às imagens, transformando a ficção em realidade.

O cinema surgiu no século XIX com os irmãos Lumière. Inicialmente

era mudo, tornou-se sonoro no final dos anos 20. Pouco tempo depois, as cores invadiram o

écran. A partir de então, o cinema transformou-se em uma indústria de entretenimento,

movimentando muito dinheiro e atraindo multidões fascinadas pelo mundo espetacular. Foi a

indústria cinematográfica que instituiu no imaginário do público o conceito de “star system”,

as estrelas e astros do universo ficcional da comunicação. Atores e atrizes transformados em

“modelos de seres humanos”. Imagens artificiais construídas pelo comércio comunicacional

para serem endeusadas e consumidas pelo imaginário. Os artistas ao se tornarem pessoas

públicas, passaram a dividir com os fãs, muitas vezes forçadamente, a sua privacidade. A vida

prosaica destas pessoas foi descortinada e virou objeto da mídia. Não são poucos os exemplos

de “famosos”, vítimas de invasão de privacidade em nome da “necessidade” de deixar o

público informado.

A televisão criada no período entre guerras, e melhor desenvolvida

depois de 1945, possui total conformidade com intentos da teoria cibernética. A manutenção

dos laços sociais é uma delas. Wolton é grande entusiasta desse pensamento.

O espectador, ao assistir à televisão, agrega-se a esse público potencialmente

imenso e anônimo que assiste simultaneamente, estabelecendo assim, como

ele, uma espécie de laço invisível [...]. Trata-se, portanto, de um laço social

tênue, menos forte e menos forte e menos limitador do que as situações

institucionais ou as interações sociais vêm justamente do seu caráter ao

mesmo tempo restritivo, lúdico, livre e espetacular. (WOLTON, 1996, p.

124).

O autor desenvolve suas argumentações sempre contrapondo a televisão

geralista à fragmentada. De maneira geral, a primeira corresponderia aos canais abertos e a

segunda aos fechados, à TV por assinatura. Wolton mostra-se claramente partidário da

generalista, acreditando ser o modelo apropriado para promover ligações entre indivíduos e

gerar a rede global. É válido ressaltar que a televisão geralista apesar de acessível, também

possui a funcionalidade de servir aos interesses de quem detém as concessões de transmissão,

reforçando não apenas a cultura mediática como também engendrando força ao sistema

capitalista. Um bom exemplo de empresas que fazem parte desta “rede global” é a Televisa

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(emissora mexicana) e a Rede Globo (emissora brasileira). Ambas exibem seus seriados e

suas telenovelas muito além de seus países de origem.

Com o crescimento dos media interativos, a televisão de modelo

centralizador, a TV analógica, começou a sofrer alterações quanto à forma de transmissão. O

mercado mediático, com a intenção de atender aos ideais de interatividade, apropria-se das

tecnologias digitais e cria a TV digital (HDTV).

A movimentação em torno da TV de alta definição começou em 1987,

nos Estados Unidos. No ano de 1991, as empresas européias produtoras de equipamento

eletrônico e os órgãos reguladores começaram a discutir a viabilidade do desenvolvimento da

televisão digital. Mas foi no Japão, em 1995, que ela concretizou-se. O governo japonês e as

principais redes de televisão investiram cerca de trinta milhões de dólares na digitalização das

transmissões televisivas do país. No Brasil, as primeiras experiências com os sinais digitais já

existentes foram iniciadas no segundo mandato de governo do presidente Fernando Henrique

Cardoso; em 2003, já na gestão do presidente Luís Inácio Lula da Silva, foi baixado decreto

autorizando as universidades realizarem pesquisas com a finalidade de verificar a

possibilidade da construção de um padrão nacional da televisão digital. Em 2007 ocorreu à

inauguração da primeira transmissão com sinal digital e em 2008, iniciou-se a campanha em

prol da popularização da TV digital no país.

A televisão digital surge com as seguintes promessas de [1] alta

qualidade em imagem e som. Os primeiros aparelhos de TV tinham apenas 30 linhas de

vídeo. Enquanto um monitor analógico possui entre 480 a 525 linhas, um monitor digital

chega a 1080 linhas, possibilitando maior definição sonora e imagética; e de [2]

interatividade. O telespectador passa a ter a liberdade para interferir nos dados armazenados

no receptor ou estabelecer troca de informações por meio de uma rede à parte do sistema, no

caso a linha telefônica ou a rede de banda larga. Em outras palavras, é possível navegar na

internet, interagir com o comércio eletrônico e estabelecer contatos por meio dos

comunicadores instantâneos.

Não será realizada neste Trabalho, a análise das prováveis

transformações que a televisão digital poderá ocasionar. Mas com certeza, esta nova forma de

“fazer” televisão dividirá opiniões. Principalmente, no que tange à aquisição do produto, já é

possível vislumbrar mais uma forma de “estratificação sociodromológica cibercultural” 9.

(TRIVINHO, 2001, p. 226).

9 O conceito de “estratificação sociodromológica cibercultural”, segundo Trivinho (2001), refere-se à

desigualdade própria da civilização mediática atual. Em que se cria um fosso entre a elite, categoria social que

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Seja no modelo digital ou analógico, a televisão continua encantando o

telespectador por meio de programações variadas que simulam a vida real. Atualmente,

público tem acompanhado a novelização do cotidiano. Todos os fatos, desde os mais

prosaicos aos mais inusitados, são contatos e recontados pari passu, cena a cena,

exaustivamente, em todos os veículos de comunicação. Se as emissoras utilizam desse recurso

com a justificativa de serem promotoras do direito inalienável à informação, elas – na verdade

– promovem o crescimento do fenômeno hipertélico (BAUDRILLARD, 1996). As imagens e

informações veiculadas de maneira desordenada ultrapassam o sentido de sua existência e

perdem a funcionalidade. Por isso, não raramente, é possível observar a indiferença do

telespectador diante das notícias. Mesmo que a principio, elas causem impacto e comoção,

como é o caso do ataque às Torres Gêmeas (2001), acidente com o avião da TAM (2007),

assassinato de Isabela Nardoni (2008), os consecutivos erros nas ações policiais (2008),

escândalos políticos etc. Após algumas semanas, caem na rotina. Almoça-se assistindo aos

desfechos dos casos com tranqüilidade, como se fosse o último capítulo de uma telenovela.

Nos programas de entretenimento, a exposição da alteridade vira motivo de “chacota

pública”. Os segredos, a intimidade, o escuso, o ilegal, a obscenidade, o criminoso, tudo vem

a luz da visibilidade mediática.

O direito à informação aliada à ordem de que “nada deverá ficar

escondido” possibilita rumos incontroláveis ao ideal cibernético da transparência social. Não

é de estranhar que a exposição pública do universo privado cause tanto interesse ao

imaginário social. A possibilidade de desvendar os segredos alheios, de ver o escuso,

proporcionada pela tecnologia facilita ao ser humano concretizar o desejo de adentrar num

terreno íntimo e proibido. As câmeras escondidas, os paparazzi, os programas de auditório

que mostram diuturnamente a vida das pessoas, famosas ou anônimas, é a prova irrefutável da

realização de uma “barbárie” silenciosa e violenta que assassina a privacidade alheia sem a

menor chance de defesa, em prol de um ideal de verdade e de imparcialidade inatingível que

apenas mascara a vontade primária do homem de derrotar o seu semelhante, fortalecendo os

interesses do sistema.

Se o arranjamento mediático configurado pelos mass media foi

corrompido pelos ideais do mercado, frustrando o sonho de liberdade, os media interativos

surgem para transformar o sonho em realidade. A interatividade proporcionada pelas

possui capital econômico, cognitivo e informativo suficiente para acompanhar a lógica da mais-potência

proposto pelo mercado, a “nova miséria técnica”, os que vivem à margem por não ter condições de acompanhar

os avanços tecnológicos. Os temas relativos à “dromocracia”, suas características e conseqüências, serão

aprofundados nos itens posteriores.

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tecnologias da informação pretende concretizar as promessas de democracia e liberdade não

cumpridas pelos meios de massa.

Os media interativos oferecem total flexibilidade em função do modelo

comunicacional descentralizado. Devido possuir uma estrutura infoeletrônica rizomática que a

possibilita não vincular-se a um controle central, a web proporciona ao usuário a interação

direta com os elementos constitutivos do espaço virtual. Os links, as janelas pop-up, os

domínios de endereçamento permitem os usuários interagirem facilmente com a máquina,

postando fotos, participando de bate-papos em chats ou nas inúmeras comunidades existentes

na rede. Desta forma, concretizando o ambicioso sonho humano de ultrapassar os limites

geográficos e temporais e transformar o planeta numa pequena aldeia global. Nessa aldeia, a

humanidade unida, vive plenamente a liberdade de expressão. Porém, sabe-se que isso não é

verdade. As questões de democracia e de liberdade precisam ser bem analisadas, já que o

pleno acesso à rede é prerrogativa de pouquíssimos. Para utilizar os objetos infotecnológicos,

sobretudo, o computador, é necessário acompanhar a “lógica da reciclagem estrutural” da

cibercultura. Aqueles que não acompanham, vivem à margem. Os indivíduos com receio de

serem discriminados fazem o possível para atender as exigências impostas pela tecnologia.

Um bom exemplo é a utilização das comunidades virtuais que tem proporcionado a inclusão

de milhares de pessoas no totalitário sistema dromocrático cibercultural (tema a ser

aprofundado no item 1.3.1. desta Dissertação).

Diante das relações efêmeras da pós-modernidade, as comunidades

virtuais surgem como possibilidade de unir aquilo que se distanciou. A carência humana

incentiva o imaginário a buscar formas de pertencimento na vida de outros. Muitas vezes, os

usuários nem se conhecem pessoalmente, tão pouco dividem o mesmo espaço geográfico, mas

agregam-se por meio da rede. Eles criam parâmetros de afinidades (gostam do mesmo estilo

musical, de filmes, novelas, escritores etc.), expõem sem receio algum os seus hábitos e a sua

imagem. Nessa busca pela superação de suas carências, o indivíduo também reflete a

necessidade própria de sua época, a exposição extrema de tudo o que é de fórum intimo. As

comunidades deixam vir à tona todos os desejos, os segredos ocultos e a “obscenidade do

excesso das aparências” em máquinas de dissimular. (BAUDRILLARD, 1996, p. 63).

Os meios de comunicação acostumaram o imaginário social a

sobreviver da ficção e do espetáculo. As novelas, os filmes, as transmissões esportivas, os

vídeoclip‟s, as propagandas, os sites, ou seja, todo o universo mediático encontra-se

subordinado aos efeitos “especiais” tecnológicos. A tecnologia se instalou no coração da

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sociedade e institui uma nova época, composta de fenômenos híbridos, instigantes e

inusitados, a Cibercultura.

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1. 3. CIBERCULTURA

A irradiação da cultura pós-moderna aliada ao domínio dos meios de

comunicação, à expansão absoluta de produção, circulação e consumo de objetos

infotecnológicos e a propagação da web nos últimos anos, são alguns dos fatores que

contribuíram para o aparecimento de um fenômeno de “longevidade indeterminada”, a

cibercultura (TRIVINHO, 2001, p. 59). Consolidada na segunda metade do século XX, o

fenômeno cibercultural se faz presente em todos os setores da vida humana, na medida em

que procedimentos e processos usuais do cotidiano dependem de alguma forma da tecnologia

informática. Em termos conceituais, a cibercultura pode ser definida como “modelo

tecnológico de cultura” e pela sua amplitude e flexibilidade acabou por construir um “mundo

próprio”. (Ibid., p. 60).

De acordo com Trivinho (2001), a cibercultura está implicada em tudo

“o que é de mais importante socialmente” na vida contemporânea. Ela impulsiona descobertas

na área das ciências biológicas (clonagem, conservação e experiências com células-tronco

embrionárias etc.). Sua maquinaria é requerida na área das ciências exatas e na área da

educação, servindo como ferramenta de apoio no processo ensino-aprendizagem. Faz-se

presente nos tratamentos estéticos, na segurança pública e também nas organizações

criminosas. Está inserida no ambiente de trabalho e até na esfera do tempo livre e do lazer. A

cibercultura modifica todas as formas de relacionamento e práticas sociais. Não por acaso,

essa “tecnocultura tem implicado em complexos debates de questões sobre direito e ética”.

(Ibid., p. 58).

Para melhor compreender o advento cibercultural, é preciso percorrer a

história da informática. A cibercultura deriva diretamente das implicações socioculturais do

desenvolvimento da microeletrônica. Segundo Breton (1991), o progresso informático não

depende somente de critérios científicos e técnicos. É necessário observar a confluência dos

avanços tecno-científicos associados aos fatores de transformação cultural, social e

ideológico, provocados desde o aparecimento dos primeiros computadores. O autor aponta

três fases importantes do desenvolvimento da informática: a primeira fase ocorre entre 1945 e

1960 e possui forte ligação com a teoria cibernética; a segunda fase, de 1960 até o final de

1970. Esta fase caracteriza-se pelo surgimento de sistemas centralizados, representantes

fidedignos da tecnocracia estatal, militar, científica e empresarial; a terceira e última fase, de

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acordo com Breton, surgiu após 1970, é identificada pelo aparecimento dos

microcomputadores e das redes telemáticas.

Para Breton (ibidem), é no primeiro estágio que os princípios essenciais

se estabelecem e surgem as grandes inovações. As pesquisas embasadas na teoria cibernética

eram realizadas em universidades e patrocinadas por verbas militares. Além das inúmeras

empreitadas a favor da criação de tecnologia que servissem às Forças Armadas e, portanto, ao

Estado norte-americano, as atenções se voltavam para a tentativa de desenvolver “máquinas

pensantes”, dotadas de “inteligência artificial” que simulassem o funcionamento do cérebro e

o do comportamento comunicacional dos seres humanos. De acordo com o autor, o segundo é

caracterizado pela ruptura entre a informática e a cibernética. Enquanto esta se concentra no

desenvolvimento de máquinas simuladoras do comportamento humano em situações relativas

à comunicação no âmbito social, aquela se traduz em pura técnica de manipulação de

informação por meio do computador que, como o próprio nome indica, tinham o objetivo de

computar, de calcular, e controlar informações10. Também o fato da cibernética ter se tornado

abrangente demais, abarcando várias áreas distintas (matemática, física, psicologia, biologia

etc.), e não conseguir concretizar suas promessas iniciais permitiu que a informática rompesse

com ela. Nesse período, a informática necessitava de credibilidade do público para estabilizar-

se enquanto ciência, disciplina e paradigma, definindo sua identidade e seus limites.

Se na primeira informática os computadores eram praticamente restritos

aos interesses estatais e militares. Na segunda, apesar das pesquisas, majoritariamente, serem

fomentadas pelo escalão militar, havia interesse em popularizá-lo. Não por outro motivo, eles

foram introduzidos nos setores governamentais, até que as corporações empresariais

adotaram-no e financiaram o desenvolvimento do microcomputador. O microcomputador e,

conseqüentemente, a microinformática, foi um convite à ruptura com os sistemas burocráticos

e centralizadores, representantes de uma informática controlada e inacessível para a maioria

dos indivíduos. (BRETON, 1991).

Sabe-se que o microcomputador começou a ser comercializado na

metade da década de 70, mas a grande expansão só aconteceu no início de 80. Essa fase,

Breton caracteriza como terceira informática. Fase marcada pela fusão entre a informática, as

telecomunicações, a interação entre a microinformática e as grandes corporações

empresariais. Esse estágio possui marcos significativo como o aparecimento do IBC-PC

(personal computer – computador pessoal), em 1981, e a criação da Word Wide Web,

10

A primeira máquina de computador criada chamava-se ENIAC (Eletronic Numerical Analyzer and computer),

foi criada para auxiliar nos cálculos balísticos da Segunda Guerra Mundial.

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interface gráfica multimedia que ampliou consideravelmente a utilização da internet a partir

de 1990. Então, o computador deixou a ser utilizado somente na esfera militar e passou a

ocupar a ambiente domiciliar. Sendo usado para fins de trabalho, lazer e entretenimento.

É na terceira fase que a informática assume o propósito de re-encantar o

mundo por meio do uso dos computadores pessoais e dos demais objetos infotecnológicos

possíveis de conexão de rede. Então, se as duas fases anteriores possuíam “ares” da

modernidade com a presença de ideais racionalistas técnico-científicos, na terceira, viceja o

espírito da pós-modernidade. Pode-se afirmar que o contexto pós-moderno é terreno fértil

para a cibercultura se desenvolver como novo esprit du temps, possuindo características

próprias que possibilita o surgimento de novas utopias.

A cibercultura invade implacavelmente o “coração” da civilização

contemporânea com discurso doce e fantástico, convidando o indivíduo a se adaptar às regras

estabelecidas, sob pena de sofrer exclusão. Para se viver nesta nova época, é necessário um

novo condicionamento psíquico e comportamental. O indivíduo deve possuir capital cognitivo

indispensável para agir no mundo virtual e/ou para utilizar os objetos infotecnológicos cada

vez mais sofisticadas. O fenômeno cibercultural vigora por meio de linguagens estruturadas,

sujeita a mudança constante, a qual implica em contínuo aprendizado, a ciberalfabetização. A

ciberalfabetização consiste na apreensão das senhas infotécnicas (linguagens/códigos) de

acesso compatíveis para sobrevivência na cibercultura. De acordo com essa afirmativa,

Trivinho (2001) enfatiza:

Se o pleno domínio das senhas infotécnicas promove inserções, a inexistência

desse domínio envolve uma exclusão em cadeia, uma hiperexclusão: exclusão do

mercado de trabalho, exclusão do lazer, exclusão do cyberspace, exclusão da

época, exclusão da vida. (Ibid. 2001, p. 225)

A revolução high tech implica em consideráveis transformações, tais

como: [1] a memória cultural e social desloca-se do cérebro humano para ser armazenada em

chip da “memória” tecnológica; [2] o conhecimento e a cultura se convertem em espectro e

passam a existir em códigos nos bancos de dados informáticos; [3] a vida humana é

desmaterializada e desterritorializada. Tudo se dobra a lógica da instantaneidade. A

velocidade supera o tempo e o espaço, tornando-se o motor principal que movimenta a

cibercultura.

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1.3.1. O SISTEMA DROMOCRÁTICO CIBERCULTURAL

Os conceitos de dromocracia, dromologia e suas possíveis variações

[dromocrático, dromológico, dromocrata], devem ser creditadas as obras de Paul Virilio. Em

“Velocidade e Política”, de 1977, o autor apresenta as primeiras bases da categoria

epistemológica crítica que permite compreender a história humana pelo prisma da velocidade.

Dromos é um prefixo grego que designa rapidez, agilidade. Remete as

ações na urbis e está imbricado nos planos estratégicos e táticos com fins bélicos. O termo se

utilizado dentro do contexto empírico, pretende colaborar na compreensão de que o progresso

humano sempre esteve mais ligado à ditadura do movimento fomentado pela guerra, do que a

projetos herdeiros dos pensamentos tradicionais greco-clássico, cristãos, cartesianos e/ou

positivistas. (TRIVINHO, 2007).

No transcurso da história, o processo de dromocratização da vida

humana passou por diversas transformações até configurar-se como sistema que rege a vida

social na cibercultura. A relação humana com a dimensão dromológica da existência está

implicada desde a descoberta de “vetores de movimentação de corpos, objetos e valores

materiais e/ou simbólicos” (ibid., p. 71-72) presentes nos planos estratégicos de conquistas

por espaço geográfico nas sociedades nômades primitivas. Depois, passa pela dominação

“trans-histórica” do mar e do ar, até chegar ao estágio mais avançado quando apresenta-se

como parte constitutiva do “meio de transporte” mais veloz, a comunicação tecnológica.

De acordo com Virilio (1997), os meios de comunicação comparecem

no mesmo plano epistemológico dos meios de transporte. Afinal, eles não deixam de ser

autênticos produtores de velocidade. Se os meios de transporte são denominados de “veículos

metabólicos” [corpos vivos vocacionados à velocidade (humana e animais)], seguidos dos

veículos técnicos (canoa, jangada, caravela, bicicleta etc.) e dos tecnológicos (automatizados:

automóvel, avião, navio etc.), os de veículos de comunicação (de massa e interativos), devido

operar na velocidade da luz, podem ser denominados de “último veículo”. Seguindo essa

perspectiva, Trivinho (2007) conclui:

Os vetores de produção de movimento convencionais cedem espaço aos de

transmissão e circulação de produtos simbólicos (informação e imagens),

representativos ou não de referentes concretos. O secular império sucede o

último veículo, fadado a mais alta velocidade praticável, a velocidade da luz.

A subtração do território geográfico que se confunde com a diminuição

anuladora do planeta. (TRIVINHO, 2007, p. 57).

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Os meios de comunicação revelam-se o principal vetor de

dromodratização da vida humana, ao ser capaz de ultrapassar os limites do tempo e do espaço,

romper com a lógica da partida e da chegada e transportar códigos e imagens. Vale ressaltar

que eles possuem procedimentos e princípios, mutatis mutandis, ligados as mesmas

características das táticas bélicas, da logística e da estratégia dos campos de guerra.

“Logística, pela qualidade de precisão adequada de meios e fins” e “estratégia, qualidade de

planejamento eficaz de ação” (ibid., p. 63). Então, velocidade e guerra são categorias

indissociáveis no modus operandi da dromocracia cibercultural e estão imbricadas na cultura

do controle resultante do processo de informatização das sociedades contemporâneas, o qual é

levado a cabo pela megatecnoburocracia, incontestável instância de ponta na promoção da

cibercultura. (TRIVINHO, 2001).

A dinâmica da dromocratização cibercultural converge para uma nova

forma de pressão social identificada por Trivinho (ibid., p. 223) como “gerenciamento

infotécnico da existência” que, acumulada a outras existentes, torna-se essencial para a

compreensão do processo de dromocratização da civilização mediática contemporânea. Há

algum tempo, especialmente a partir da segunda metade do século XX, o cenário mundial tem

sido configurado, sobretudo, pelas tecnologias digitais. Todos os âmbitos da experiência

humana, direta ou indiretamente, estão associados a processos interativos proporcionados

pelos media informáticos. Por isso, Trivinho (ibdem) lembra “[...] a cibercultura de par com

a dromocracia articula todos os poros, institui, portanto, um novo agenciamento sócio-

histórico do ser em sua integridade [...]”. Esse processo, coercitivo em sua natureza, denota o

quanto os indivíduos precisam e devem se subordinar – sem poder de escolha – a sua

existência e suas experiências aos padrões do mercado informático aliado a

megatecnoburocracia promovida pela cibercultura. Para viver a presente época, na medida do

possível, o indivíduo deve estar dromoapto. Precisa saber lidar com o ritmo e as exigências

específicas impostas pelo mercado. Essa (dromo) aptidão peculiar caracteriza-se pelo domínio

das chamadas “senhas infotécnicas de acesso à cibercultura”, a saber,

[...] o domínio pleno (tanto mais privado quanto possível), nomeadamente,

do objeto infotecnológico completo, do capital cognitivo-informático

conforme (língua inglesa pressuposta), da linha telefônica [ou de qualquer

outro meio recente para acessar a Internet, de preferência em banda larga],

do status de usuário teleinteragente e do potencial de acompanhamento

concreto das reciclagens estruturais (equipamentos e capital cognitivo) [ou

seja, do capital financeiro]. (Ibid., p. 221-222)

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Na cibercultura, tais senhas correspondem à atualização mais fiel do

aforismo dromocrático: “a velocidade é o poder” (VIRILIO, 2000, p. 16). Assim, quem passa

a indicar a cadência a ser seguida são os que detêm essas chaves cognitivas de acesso.

Aqueles que não compõem a nova elite high tech encontram-se dromoinaptos, restando

alvitrados, tentam de todas as formas ganharem sobrevida à condição desfavorável. No

processo totalizante e irresistível de informatização sociocultural, comparece a estratificação

sociodromológica cibercultural. Uma estratificação social baseada nos parâmetros da

dromoaptidão própria da cibercultura. (TRIVINHO, 2001, p. 224).

Não por acaso as senhas infotécnicas, apontadas por Trivinho (2001),

são chamadas de “acesso”. Nas cidades desenvolvidas, o mercado de trabalho, a interação

social, a vida doméstica, o gozo do tempo livre e as atividades de lazer comparecem norteados

tecnologias informáticas. Claro, é preciso considerar que o fator econômico associado a

outros indicadores de diferenciação social (grau de escolaridade, sexo, etnia etc.) são aspectos

que aumenta, ainda mais, o abismo entre a “nova elite” e os “novos miseráveis”. No entanto, a

situação financeira favorável não garante a inserção social. É necessário que os indivíduos

tenham aptidão própria para lidar com as exigências da cibercultura. O cumprimento dessas

exigências, a posse do capital cognitivo adequado para apreensão das senhas infotécnicas,

assegura a participação ativa no âmbito societário da atualidade. O autor ainda lembra, a

participação social ocorre, efetivamente, através do “estado permanente de exclusão

iminente”, visto que na cibercultura vigora a “lógica da reciclagem estrutural” (ibid., p. 216),

ou seja, a necessidade de incessante atualização de produtos ciberculturais. “Esse fenômeno

diz respeito ao movimento inflexível e compulsivo da megatecnoburocracia no sentido de

firmar o imperativo da mais-potência como valor de mercado”. (Ibidem).

A movimentação em direção ao que há de mais potente no mercado

infotecnológico (maior velocidade de processamento e de transmissão de dados, maior

capacidade de armazenamento de informações, maior quantidade de recursos programáveis,

maiores recursos interativos, maior mobilidade [praticidade] é uma dinâmica angustiante e

obsessiva. O que se adquire hoje, amanhã já estará obsoleto. Essa é a lógica do consumo, a

lógica do sistema invisível, tão ou mais autoritário do que qualquer outro já existente, capaz

de massacrar, de excluir, de aniquilar o sujeito. Na verdade, em grande parte das aquisições,

principalmente, para o mercado doméstico, não é a finalidade (valor de uso) que conta, mas o

desejo compulsivo de se ter o novo, o potente, o avançado.

Trivinho (2001, p. 217) observa que nessa dinâmica de reciclagem há

um autoritarismo velado por parte da magatecnoburocracia.

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Não só consumidores, mas também governos e empresas de ramos diferentes

dos do high tech no mundo inteiro são praticamente coagidos a se dirigir ao

mercado, com regularidade, para incrementar e atualizar seus pertences,

quando não para substituir o patrimônio inteiro. (Ibid., p. 217)

É uma cadeia recursiva sem fim – pelo menos evidente – que faz da

exclusão a regra da dinâmica cibercultural. Vale repetir: a lógica da reciclagem estrutural faz

com que todos os considerados incluídos em um determinado momento vivam em “estado

permanente de exclusão iminente”. (Ibid., p. 226).

1.3.2. FENÔMENO GLOCAL

O termo “glocal” também foi introduzido na área das ciências humanas

por Paul Virilio (1995). Trata-se da fusão de duas palavras global e local que, obviamente,

abarca profundas conseqüências semânticas (TRIVINHO, 2007, p. 242). A aglutinação das

palavras resulta na fusão de sentidos (nem o local, nem o global são reduzidos de sentindo) e

no aparecimento de outro, talvez o mais relevante, refere-se ao modo com que ocorre o

processo civilizatório na sociedade contemporânea.

Segundo Trivinho11, o fenômeno glocal é recente, pertence ao século

XX, mas as suas características básicas comparecem no primeiro media capaz de possibilitar

troca de informações emissor-receptor em tempo real, o telefone. O autor também lembra que

ainda no século XIX, já se faziam presentes todos os elementos básicos que servem de suporte

ao glocal na atualidade.

[...] no último quartel do século XIX, já estão presentes todos os elementos

básicos que sustentam a existência do glocal atual: equipamentos de

telecomunicações, infra-estrutura de rede (pressupostas aí as estações de

processamento, codificação e decodificação internacional), acoplamento entre

ser humano e máquina, procedimentos de emissão e recepção, tempo real,

fluxo (sonoro e/ou imagético) de sentido e não sentido, espectralização da

interação humana, desejo comunicacional (de abordagem da alteridade como

espectro, isto é, imagem, texto, ícone etc.) [...]. (Ibid, p. 246).

Essa nova configuração civilizatória tornou-se mais evidente após a

Segunda Guerra Mundial, quando a comunicação é elevada ao status de valor e passa a

11

Paul Virilio (1997) foi o primeiro autor a tratar do termo “glocal” no campo das ciências humanas.

Posteriormente, Trivinho (2001, 2007) alargou e aprofundou o termo, inserindo-o no contexto social, cultural e

político da sociedade mediática contemporânea. Então, o glocal passou a ser concebido como conceito analítico-

crítico que “mergulha no coração da cultura tecnológica imagética e informacional em sua configuração pós-

ideológica, transpolítica, despolitizada, inteiramente satelizada e planetária”, como define o próprio autor.

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configurar como eixo dinamizador do mundo. Apesar do glocal se fazer presente nos meios

de massa, é no contexto das tecnologias digitais que ele mostra-se em sua fase mais avançada.

Não deixa de ser pitorescamente interessante o fato de o fenômeno glocal ter

sido mais amplamente percebido em relação ao cyberspace do que à rede

televisiva, e menos ainda em relação à rede de rádio e de telefonia.

(TRIVINHO, 2007, p. 245)

Fenomenologicamente, esse fenômeno acontece num contexto local

(casa, escritório, cybercafé, lan house) em exista um equipamento capaz de rede (televisão,

rádio, computador de base ou móvel, celular etc.), operando em tempo real por meio de fluxos

informacionais capturados por antenas, satélites, cabos etc. Observadas essas condições,

verifica-se a combinação indissociável entre a ambivalência local (corpos e subjetividade) e

os fluxos globais, numa hibridação que “pressupõe, necessariamente, uma clivagem

bidimensional do mundo vivido” (ibid., p. 254): a dimensão material/palpável e

imaterial/espectral. Porém, ao mesmo tempo essa clivagem é pressuposta, o processo de

glocalização trata de assimilar o hiato e, no limite, fazer constatar apenas a realidade do

contexto da experiência (“local”) concreta.

Trivinho (2001) esclarece que na imbricação entre local e global, os

contextos são indexados um pelo outro, ainda que o global pese mais sobre o local. Ao

considerar os mass media, por exemplo, pode-se afirmar que existe a indexação do global

pelo local quando há participação do receptor-consumidor na programação, seja radiofônica

ou televisiva. Essa intervenção é mínima e sempre vigiada pelo próprio emissor. Se formos à

direção oposta, o receptor ao consumir um produto mediático da rede, permite refundição do

contexto local no qual se encontra pelos conteúdos globais. É neste último que se manifesta a

plena potência do glocal:

[...] um implante tecnológico forjado no âmbito local, um esquema mediático

cavado de cada reduto imediato de ação do corpo, exatamente para dar

sustentação material à completa irradiação simbólica e imaginária do que

pertence à ordem global. (Ibid., 2001, p. 78).

Não se pode esquecer, o fenômeno glocal refunda a relação entre

homem e a máquina. Antes, essa relação era quase restrita à esfera do trabalho,

prioritariamente no setor industrial; hoje, ela está presente em várias outras situações do

cotidiano. Outrora, parecia evidente o domínio humano sobre a máquina por ele

instrumentalizada, agora essa evidencia é questionável. Já não é tão simples analisar em que

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bases se fundam a relação. Os media interativos, de modo bastante diverso dos meios de

massa, exige um engajamento humano muito mais efetivo do que simplesmente ligar e/ou

desligar o aparelho eletrônico/informático; ou mudar de “canal”, ainda que se trate de zapping

(no caso da televisão). Vale ressaltar, o acoplamento vai além das sinergias entre “corpos”. O

que está em jogo são a conjuminação entre as subjetividades envolvidas, o imaginário

(individual e social) e os fluxos mediáticos da rede.

O glocal é “um fenômeno comunicacional de (con) fusões em cadeia”

(ibid., p.68). Ele não se reduz às questões técnicas. Em sentindo amplo, ele corresponde ao

arranjamento sociocultural sofisticado sobre teia comunicacional formada inicialmente pelos

meios de massa e, agora, acrescida e capitaneada pelos interativos. Sua finalidade não –

teleológica – hipertelia (BAUDRILLARD, 1996) – não é senão sua multiplicação

indeterminada para enredar indivíduos e máquinas até o esgotamento de todas as

possibilidades. É uma expansão avassaladora que busca integrar os media de massa, os

interativos, a telefonia (móvel e fixa) e, por reverberação, os impressos e os próprios corpos e

a subjetividade, para formar o grande glocal (informação verbal) 12. Esse é um dos efeitos da

realização (perversa) da utopia de Wiener: o humano transformado em máquina comunicante

condutora de fluxos informacionais a serviço do enraizamento mais radical da comunicação

como eixo articulador do atual processo civilizatório. “Como tal, o glocal é a fonte e, ao

mesmo tempo, a caixa de ressonância do modelo de cultura hegemonicamente produzida na

era mediática”. (TRIVINHO, 2001, p. 82).

Esse telos heterodoxo, o grande glocal, não se vincula ao por vir, mas se

apresenta como realizável aqui e agora. Em qualquer momento histórico ele comparece como

atual. Há, portanto, uma tendência e sua perpetuação.

12

Argumento inspirado nas aulas de Mídias e Impactos Socioculturais, ministrada pelo Prof. Dr. Eugênio

Trivinho, em 19/09/2007, no Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC/SP.

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CAPÍTULO II

IMAGEM E IMAGINÁRIO

“O imaginário que falo não é a imagem de. É criação incessante e essencialmente

indeterminada”.

(CASTORIADIS, 1986, p. 13)

As relações entre o imaginário e o real revelam a complexidade da condição

humana. As lembranças da infância, os desejos da vida adulta, a memória dos fatos passados,

as projeções do futuro, as manifestações folclóricas, a religiosidade, as demonstrações de

afeto são ações impulsionadas pelas forças imaginais. É impossível compreender as

experiências da vida limitando-se apenas em respostas fisiológicas e/ou materiais. Todas as

aptidões humanas e a interação com o mundo social obedecem a motivações “obscuras”

denominada por Castoriadis (1986) de “magma de significações”. Para o autor, o magma de

significações dá sentido ao imaginário. Ele age como catalisador de valores, costumes,

crenças e sonhos influenciando o comportamento individual e a ação coletiva dentro de uma

dinâmica em que o passado, o presente e o futuro permanecem emaranhados.

Castoriadis ainda enfatiza que o imaginário jamais pode ser concebido como

uma faculdade mental inferior, porque ele é a constante e indeterminada criação de imagens,

capazes de movimentar a realidade. Tudo o que se apresenta na esfera social está entrelaçado

no mundo simbólico. Certamente, nada se esgota nele (simbólico), mas sem ele não consegue

sobreviver.

Neste capítulo será aprofundada a discussão de todos os aspectos da ação

imaginante, levando em consideração a sua dimensão psíquica e social. A finalidade desse

“mapeamento do imaginário” é compreender as transformações pelas quais ele passou ao

inserir-se no contexto tecnológico.

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A construção do quadro teórico fundamenta-se na semiótica da cultura

de Bystrina, Kamper, Belting e Baitello; na teoria do imaginário, de Castoriadis; na

psicanálise, de Freud, na teoria sociodromológica, de Virilio e na epistemologia crítica da

cibercultura, de Trivinho, entre outros teóricos e conceitos relevantes, os quais possibilitam

compreender que o imaginário é o agente mobilizador e articulador intrínseco da cibercultura.

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47

2.1. O IMAGINÁRIO EM REPRESENTAÇÃO

2.1.1. AS IMAGENS: DEFINIÇÃO

Desde o início da história, filósofos e pesquisadores se debruçam sobre

a complexidade que une a imagem, o imaginário e a realidade. Mas antes de entender essa

relação, é necessário definir o sentido etimológico da palavra imagem.

No latim, “imago” – imagem – significa retrato de um morto. Na língua

portuguesa, segundo o Dicionário Aurélio (2004), ela é a “representação mental, gráfica,

plástica fotográfica de pessoa ou objeto; ou a impressão, lembrança, recordação de momentos

ou pessoas”. No grego antigo, o sentido dessa palavra está ligado ao termo eidos (idéia), cujo

conceito foi desenvolvido por Platão. Para ele, as idéias estão inseridas no mundo das

essências verdadeiras. Mas para seu discípulo Aristóteles, as imagens são apenas aquisições

mentais de um objeto real. Durante a Idade Média, a imagem era definida como “aliquid stat

pro aliquo”, ou seja, algo que está além da concretude do objeto e não possue sentido

definido. Na verdade, muitos significados vêm à tona, mas o verdadeiro sentido encontra-se

ocultado.

Segundo o semioticista Ivan Bystrina (1995), as imagens são

inextinguíveis, fazem parte de outra existência e ocupam o status semiótico da segunda

realidade13. Para o autor, elas possuem a capacidade de sobreviver independentemente de seus

suportes materiais, porque apropriam-se do imaginário humano. Diante disso, Baitello (1995)

ressalta que o envolvimento existente entre imagem e o imaginário ocorre primeiro no

inconsciente humano. Sabe-se que a mente é uma verdadeira usina de imagens construídas a

partir das experiências vividas. A dinâmica dessa construção se dá, essencialmente, por meio

da natureza perceptiva das informações envolvidas no processo do pensamento.

A complexidade das imagens está relacionada ao seu caráter mágico, o

qual permite, simultaneamente, representar algo presente ou ausente. Para serem percebidas

e/ou interpretadas, as imagens precisam obrigatoriamente de suportes. Eles permitem que a

imagem concretizada e classificada, levando em consideração a sua natureza e a sua

linguagem. Mas vale ressaltar, mesmo com ajuda dos suportes alguns significados

permanecem invisíveis aos olhos humanos. Isso ocorre devido os sentidos e sentimentos

serem imprevisíveis. Ao observar uma imagem, vêm à tona as lembranças presentes na

13

A segunda realidade é, de acordo com Bystrina (1995), “nitidamente um fenômeno psíquico”, construída após

o nascimento da linguagem.

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memória, mas como as imagens penetram no íntimo do ser, elas não deixam de evocar as

histórias soterradas e “enraizadas nas profundezas invisíveis do esquecimento”. (BAITELLO,

1995).

2.1.2. ORIGEM DAS IMAGENS: O MITO DA CAVERNA

É impossível falar da origem das imagens sem lembrar-se da famosa

alegoria “O mito da caverna”. Para introduzir o tema tratado neste item será importante citar

um trecho do texto platônico14.

“Imagine uma caverna escura, separada por um muro bem alto. Entre

o muro e o chão, existe um fino feixe de luz, deixando a caverna em quase completa

escuridão. Os moradores daquele lugar, desde o nascimento, convivem com a ausência de

iluminação. Vivem acorrentados e de costas para o muro. Ali, não podem ou já se

acostumaram a não fazer movimentos bruscos e a olhar apenas a parede do fundo, sem

jamais terem visto o mundo exterior; nem a luz do sol. Sem jamais terem, efetivamente, visto

uns aos outros e nem a si mesmos. A visão era apenas das sombras. A vida que passa do lado

de fora é projetada como imagens sombrias nas paredes da caverna.

Os prisioneiros se comunicam, dando nomes as “coisas” que julgam ver e ficam atentos

escutando os sons vindos do lado de fora. Para eles, são as vozes das próprias sombras. Um

dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide fugir. Fabrica

instrumentos com o qual quebra os grilhões. De início, sente dificuldades de se mexer.

Entretanto, enfrentando os caminhos e obstáculos, consegue fugir. Ao primeiro instante, fica

totalmente cego pela luminosidade do sol, com quais os seus olhos não estavam acostumados.

Após passar o mal-estar, vê, de fato, a realidade. Sente-se dividido entre a incredulidade e o

deslumbramento: incredulidade porque será – a partir de então – obrigado a decidir onde

“habita” a verdade: no que vê naquele momento, ou nas sombras que sempre conheceu; e

deslumbramento, porque seus olhos nunca tinham enxergado com “tamanha nitidez”.

Apenas esta parte inicial da alegoria platônica é suficiente para ilustrar a relação existente

entre a imagem e o imaginário.

O sociólogo e antropólogo Dietmar Kamper, inspirado no sentido da

palavra latina “imago”, define imagem como a “presença de uma ausência” (KAMPER, 2002,

p. 07). Para o autor, as imagens possuem características sombrias, próprias dos habitantes da

14

Trecho extraído, na íntegra, do livro: CHAUI, Marilena. Convite a filosofia. São Paulo: Ática, 2003. p. 11.

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alimentando o famigerado imaginário, sedento por imagens vazias, assim como os moradores

das cavernas, ansiosos por sombras de algo inexistente.

Kamper (ibidem) afirma que no transcorrer da história, é possível

perceber a importância das imagens. Durante a Revolução Francesa, a tríade razão-ciência-

técnica ocasionou a derrubada da idolatria das imagens da Idade Média. Porém, o próprio

princípio da técnica e da superação científica contribuiu para a projeção de um mundo ideal

fonte somente de aparências. Durante a Segunda Guerra Mundial, a barbárie e a ditadura

conduziram o projeto das luzes e o sonho de progresso ao precipício. Com pessimismo tenaz,

Adorno e Horkheimer fazem a constatação da reintegração da razão no terreno fantástico das

imagens. No entanto, os autores revelam que “no mundo racionalizado, a mitologia invadiu o

domínio do profano” (in. KAMPER, 1974, p. 44). No contexto desencantado da pós-

modernidade, as imagens continuam conduzindo a vida humana. Elas apenas abandonaram o

campo religioso e místico da Idade Média, deixaram de constituir os sonhos iluministas e

passaram a ocupar o reduto da indústria cultural (o cinema, a imprensa, a publicidade etc.).

Por isso Kamper enfatiza, “não existe vida sem imagens”. (Ibidem).

De fato, as imagens fazem parte da essência e da existência humana.

Como já citado, elas nasceram na caverna da percepção do homem e transformaram-se num

“oásis de escuridão em meio à luz do dia” (KAMPER, 2002, p. 06). Depois, fizeram-se

presente no mundo das palavras, dando significado ao que é perceptivo, extrapolando os

limites fortes da razão, até mostrarem-se, despidamente, ao universo exterior, quando

finalmente romperam os grilhões e passaram a ser vistas do lado de fora da caverna humana.

O primeiro sinal dessa exteriorização remete-se ao Período Paleolítico, época em que homem

ainda vivendo no nomadismo, passou a construir instrumentos de auxílio para sua

sobrevivência e a desenvolver a arte rupestre. Desde então, as imagens foram sendo

projetadas em suportes. Mas mesmo assim, continuavam sendo fruto da introspeccção

humana. No entanto, com o passar dos anos, sobretudo, após o desenvolvimento da

tecnologia, as imagens proliferaram-se desordenadamente e deixaram de restringir-se a

criação humana e individual. A capacidade de reprodutibilidade proporcionada pelos meios

tecnológicos contribuiu para que elas perdessem a essência e a profundidade. A luz da

velocidade tecnológica, ao mesmo tempo em que ofusca o significado original das imagens,

torna evidente todo o seu poder de sedução.

Os homens hoje vivem no mundo. Não vivem nem na linguagem. Vivem na

verdade nas imagens do mundo, de si próprios e dos outros homens que

foram feitos, nas imagens do mundo, deles próprios e dos outros homens que

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foram feitos para eles. E vivem mais mal do que bem nessa imanência

(permanência) imaginária. Morrem por isso. No ápice da produção de

imagens existem maciços distúrbios. Existem distúrbios das imagens que

tornam enormemente ambígua a vida das imagens e a morte das imagens.

(KAMPER, 2002, p 08).

Kamper (ibid., p. 09) afirma que o imaginário humano tornou-se refém

das imagens. Hoje, elas vigoram soberanas. O cotidiano está permeado de marcas, símbolos,

dígitos e ícones. Até mesmos os sentimentos são expressos por meio de códigos (emoticons,

avatares, buddy poker) no espaço virtual. A imagem tecnológica ofuscou a realidade,

permitindo o indivíduo enxergar somente as formas sombrias projetadas pela luz artificial dos

media no interior de “nossas” residências. Porém, evadir da caverna das imagens gera outra

dificuldade, nada que emerge somente do real consegue sobreviver. Afinal, é por meio da

relação imaginário e imagem que a vida movimenta-se. A dupla premissa diz: “como

imagens, os homens são imortais, sem imagens talvez pudessem ser mortais” (KAMPER,

2002, p. 03). Tal afirmativa leva a compreender que o ser humano nunca deixará de produzir

imagens. Elas movem o imaginário. E o imaginário é vida, é a ação imortalizadora do ser

humano.

2.1.3. A SEDUÇÃO DAS IMAGENS

De acordo com Baitello (1995), o ser humano possue a característica de

criar seres que atuam sobre seus criadores. Esses seres originam-se no imaginário e ganham

vida através das imagens. A história dessa ação aparece sob as figuras titânicas onipotentes.

Depois, sob a forma de “deuses justiceiros e reparadores” (HILMAN, 1995) e mais tarde, são

representados nas figuras políticas e nas relações entre dominadores e dominados, até todos

esses símbolos serem destronados pela tecnologia.

O semioticista Belting (in: BAITELLO, 1995) propõe a compreensão

da complexa atividade sedutora das imagens a partir das categorias operativas denominadas

de “imagens endógenas e imagens exógenas”. As endógenas possuem valores dominantes que

conduzem a força imaginativa à interiorização. Podem-se citar inúmeros exemplos

artisticamente produzidos pela cultura humana em diversas áreas na arquitetura, na pintura, na

fotografia, na literatura, no teatro, que conseguem remeter o indivíduo às profundezas íntimas

de seu ser. Opostamente, as imagens exógenas possuem valores exteriorizantes. Elas são

criadas e recriadas pela tecnologia e sobrevivem por meio do processo inflacionário. E essa

desmesurada proliferação das imagens provoca a perda de seus significados.

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51

Diante do descontrole das imagens causado pelos aparatos tecnológicos, sobretudo, pelos

media, Flusser (1995) afirma que a invasividade e a onipresença da imagem é a terceira

catástrofe provocada pelo homem. Ainda de acordo com o autor, a primeira catástrofe seria a

transição da fase arborícola para o nomadismo. A segunda, o assentamento do nômade, a

posse e o cultivo da terra; e a terceira equivale à perda dos espaços de privacidade e de

projeção que são invadidos pelo “furacão da mídia”. (Ibid., p. 45)

Vilém Flusser foi um importante pensador tcheco que viveu no Brasil

por 31 anos e se ocupou em refletir sobre as densas possibilidades de construção de imagens

numa sociedade cada vez centralizada na tecnologia. Para ele, as imagens produzidas pelas

máquinas tecnológicas já estão programadas para essa finalidade. Elas estão previamente

inscritas na própria memória de funcionamento dos programas. Na verdade, os programas são

formalizadores de um conjunto de procedimentos conhecidos, onde parte do elemento

constitutivo de determinado sistema simbólico, bem como as suas regras de articulação são

inventariados, sistematizados e simplificados para serem colocadas às disposições de um

usuário genérico, preferencialmente leigo.

Flusser denomina de “funcionário” aquele que interage com os objetos

tecnológicos e extrai deles as imagens técnicas. Para o funcionário, as máquinas

infotecnológicas são “caixas pretas” cujo seu funcionamento e o seu mecanismo gerador de

imagens não são totalmente conhecidos. O usuário lida apenas com o canal produtivo, mas

não com o processo codificador interno. Porém, isso não importa, tais “caixas” tecnológicas

seduzem por meio de um discurso “amigável”. Ou seja, elas podem funcionar e colocar em

operação o programa gerador de imagens técnicas mesmo quando o indivíduo que as

manipula desconhece o que se passa em suas entranhas. O usuário deve dominar apenas o

input e o output das “caixas pretas” e saber como acionar os botões adequados, de modo a

permitir que o dispositivo ativasse as imagens desejadas. Assim, o sujeito escolhe, dentre as

categorias disponíveis no sistema, a mais adequada para construir o que deseja. O poder da

escolha faz com que o funcionário acredite estar exercendo a liberdade de criar as suas

próprias imagens.

As imagens criadas com o auxilio da tecnologia são muito mais livres e

enigmáticas. Por isso, exercem o poder de dominar, de “hipnotizar” os olhos humanos. No

que se refere à sedução, Baudrillard (1996) lembra que esse é um processo dual. “Ninguém

pode seduzir, se não estiver seduzido. Ninguém pode jogar sem o outro, é a regra

fundamental” (ibid., p. 92). Logo, as imagens não seduzem o imaginário humano sozinhas,

como revela o autor, o homem sempre esteve seduzido por elas.

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52

O sujeito deseja, o objeto seduz. A relação existente entre sujeito e

objeto não é estabelecida por meio de trocas, mas pela lei da compensação. Em outras

palavras, as imagens seduzem compensando as carências íntimas do sujeito, causando-lhe

prazer, mesmo que momentâneo.

A sedução, como a paixão, alimenta-se da fome. Vive o excesso da falta.

Nutre-se da vertigem pelo nada. Alimenta-se de si mesma numa espiral de

gasto inútil e sem retorno [...]. (MACHADO, 2003, P. 27).

Vale ressaltar que o poder sedutor das imagens não está somente ligado

aos suportes tecnológicos. Os gregos, por exemplo, cultuavam os deuses, seres imortais com

capacidade de agirem na vida dos seres humanos15. Na tribo dos xamãs, a figura da serpente

possuía um significado especial, simbolizava a força da natureza sobre as ações humanas.

(BYSTRINA, 1995, p. 31). Os relatos bíblicos do cristianismo também revelam o poder das

imagens. Por exemplo, a figura da serpente também é mencionada. No entanto,

diferentemente da tribo xamânica, ela não é adorada, mas é utilizada como instrumento das

ações de divinas. A imagem da serpente exerce um simbolismo dual no cristianismo. No

contexto de Adão e Eva, aparece como símbolo da fraqueza humana. Assim como, revela-se

instrumento da “força divina” no momento em que Moisés precisa libertar seu povo da

escravidão no Egito16. Outra simbologia importante no cristianismo é a prática da ceia, ainda

repetida durante a missa nos dias de hoje. A partilha do pão e do vinho é a possibilidade do

homem estar mais próximo de Deus. O símbolo da aliança entre o ser divino e a humanidade,

concretiza-se na imagem da hóstia sagrada.

As imagens também estão presentes nos sonhos. Sabe-se que não é

apenas o homem que sonha outros animais também o fazem. Segundo Bystrina (ibid., p. 14),

o sonho humano acontece na fase REM do sono, porém não fica apenas nela. As imagens que

se produzem durante a noite, muitas vezes estão desconexas com a realidade física ou social

do sonhador. Apesar disso, conseguem causar sensações múltiplas (tristeza, alegria, impacto)

como se realmente tivessem ocorrido. O autor relata que em comunidades primitivas de

aborígines australianos, o sonho exercia a função criadora.

15

Na concepção greco-romana, os deuses eram seres supremos. Presidiam os fenômenos atmosféricos,

recolhiam e dispersavam as nuvens, comandavam as tempestades, criavam relâmpagos. Por outro lado,

mandavam chuva benéfica para fecundar a terra e endurecer os frutos. 16

De acordo com o relato bíblico, na época em que os israelitas estavam no Egito e queriam sair em busca da

terra prometida. Moisés atirou o seu cajado diante do faraó, mas os servos do faraó fizeram a mesma coisa. Os

cajados se transformaram em serpentes, porém, o cajado de Moisés devorou as outras serpentes.

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[...] o sonho é o próprio momento de criação de tudo o que existe. Os

primórdios da criação, quando todos os seres surgiram, são designados por

esses aborígenes como o “Tempo dos Sonhos”. Na sua narrativa, os

primeiros seres sonhavam as plantas, os animais; depois desenhavam seus

sonhos e rochas e lhes davam a alma. A partir dos desenhos na rocha, os

seres adquiriram corpo, materialidade. (BYSTRINA, 1995, p. 14)

A narrativa aborígine faz recordar do “sonho criador de Deus”, quando,

em sete dias, povoa o planeta com a rica diversidade de plantas e animais, além de fazer o

homem a sua imagem e semelhança. A partir de então, o ser humano acredita ser “imagem e

semelhança de Deus”, mas convive com a imperfeição própria de sua natureza, é mortal. Por

isso, o indivíduo busca incessantemente as imagens. Elas agem como possibilidade de ofuscar

o medo da morte. Somente as imagens conseguem imortalizar o sujeito e fazê-lo atingir a

perfeição, característica dos seres divinos. (KAMPER, 1995).

Dentro ou fora dos sonhos, as imagens dão sentido ao mundo real. As

expressões artísticas, os mitos, as esculturas reverenciadas nas religiões ou em culturas

diversas revelam o quanto a imagem é importante na vida do ser humano. Baitello (1994)

lembra que, após algum tempo, as pinturas rupestres depositadas no interior das cavernas

pelos ancestrais humanos, contribuíram para a criação de objetos como adornos, utensílios,

apetrechos. Este deslocamento da imagem estática, existente apenas do plano imaterial, para o

mundo real com finalidades práticas no cotidiano, pode ser entendido como a primeira forma

de mobilidade das imagens.

[...] Objetos móveis passam a ser portadores dos registros antes circunscritos

aos espaços interiores ou de interioridade. Está dado o momento em que

encontramos as primeiras inscrições sobre pedras, sobre madeira, sobre os

ossos de animais, sobre a areia, sobre a argila fresca e sobre o papiro. São

materiais da luz do dia, não mais presos dentro das cavernas, mas móveis,

passíveis de transportes e de longos deslocamentos, como seus possuidores

ancestrais. (BAITELLO, 1995).

Primeiro, as imagens deixaram de existir apenas na imaginação humana

e passaram a habitar o interior das cavernas. Mas, não perderam a sua essência: serem figuras

representativas da introspecção humana. Ao deslocarem-se das paredes frias das cavernas

para o mundo real, as imagens libertaram-se do obscuro e passaram a viver sob a luz do dia.

Elas ganharam o espaço aberto e apoio dos suportes luminosos da tecnologia. Então, “ao

invés de imagens inscritas, o que passamos a ter são imagens sobrescritas numa fina película

de pigmentos que se colocam sobre uma superfície” (Ibidem).

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Este mecanismo de sobreposição facilita uma característica (e talvez aquela

caracterização mais simples que nós teríamos da imagem): a de que toda

imagem é uma superfície. E, tendo-se transformado em superfície, a imagem

deu origem a todas as outras superfícies tecnicamente desenvolvidas para

receber imagens: o couro, a madeira, o papiro, o papel e depois as telas de

vidro, as telas de luz e suas variantes. A leveza da sobreposição já não

precisava mais cavar as entranhas materiais e do suporte. (BAITELLO,

18995, p. 53).

As imagens ao se sustentarem em suportes cada vez mais simples e

fáceis de reprodução em larga escalam, proliferam-se exacerbadamente e invadiram o

cotidiano. É impossível estimar quantas imagens externas atingem o imaginário dos

habitantes do planeta. Com certeza, a quantidade delas é tão grande que a capacidade da

imaginação humana jamais conseguiria mensurar. Principalmente, porque são construídas

pelas velozes “máquinas de fazer imagens”. (SFEZ, 1994, p. 34). A partir do momento em

que as imagens passaram a habitar o planeta, perderam a sua essência e tornaram-se referência

de si mesmas. (ibid., p.75). De acordo com Baudrillard (1996), o mundo real é cada vez mais

dispensável e distante para as imagens. Elas deixaram de ser vetor de mediação entre homens-

homens e entre homens-mundo para serem vetores de dispersão da realidade.

As imagens se tornaram seres auto-suficientes e independentes. Fizeram

um pacto com a luz dos media e cegaram os olhos humanos. Hoje, a sociedade encontra-se

numa situação bem parecida com aquela vivida pelo morador da caverna, sedento em se

libertar do mundo das imagens. Porém, a dificuldade é enxergar, de fato, o real. Afinal, os

olhos já estão acostumados a ver somente a superficialidade das imagens. É justamente na

superficialidade que reside à sedução das imagens. Ela desafia o imaginário a “descobrir os

seus segredos”, a enxergar além da superfície. Mas, isto não é possível. Nunca se consegue

atingir o âmago da imagem. Não existe meio de desvendar todos os mistérios dela. “Por mais

que olhemos, não penetramos, não atingimos nunca o dentro, a escuridão que é aquilo que

gerou a nossa vida e a nossa capacidade imaginativa, nossa capacidade de produzir imagens”

(BAITELLO, 2005, p.72).

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2.2. CONTRIBUIÇÕES DO IMAGINÁRIO

2.2.1. DESVENDANDO O IMAGINÁRIO: CONCEITOS

Na alegoria platônica, os habitantes da caverna ao verem as sombras

(imagens) projetadas na parede, nomeavam as “coisas” que julgavam ver associando-as aos

sons vindos de fora. Para eles, aquele som era a “voz das imagens”. Mesmo não conhecendo a

realidade existente do lado de fora das paredes úmidas das cavernas, os moradores

“imaginavam”, davam sentido ao que viam. Enxergavam naquelas figuras mal definidas os

seus sonhos, seus medos e seus anseios. Elas ganhavam vida. Vida originada da força

imaginal e que acabou impelindo um dos moradores da caverna a procurar a liberdade. Essa

força impulsionada das ações concretas é o imaginário. Ele é o pensamento simbólico que

ativa os diferentes sentidos. Constrói os esquemas de reconhecimento social e dinamiza a

evolução de sua própria produção. E, justamente, pelo fato desse pensamento simbólico ser

um “mundo criador”, torna-se difícil de ser definido. Entender as estruturas do imaginário

remete a tautologia, uma vez que a única via de acesso depende do próprio pensamento

simbólico.

Por esse motivo, o termo imaginário está associado a uma infinidade de

outros termos, como: mito, imaginação, sonho, devaneio, fantasias etc. No entanto, todas

essas palavras, assim como o próprio conceito de imaginário está envolto num cenário

nebuloso, afinal ele é sombra que se movimenta nas paredes da mente humana. É impossível

dar apenas um significado ao imaginário. Ele pode ser tudo o que existe e o que não existe,

uma espécie de mundo oposto à realidade ou uma produção de devaneios de imagens

fantásticas que permitem a evasão para longe das preocupações cotidianas e também pode ser

resultado da força criadora radical dos indivíduos.

O imaginário parece resistir a todas as tentativas de definição precisa.

Apesar de ser da mesma natureza da racionalidade, o imaginário não admite fixar-se em

explicações racionais, pois, a própria razão está fixada em ações imaginárias. A máxima de

Descarte, “cogito ergo sun” ou “penso logo existo” que norteou todo o pensamento racional

moderno, não deixa de fazer referência a maior capacidade inerente do ser humano, o

imaginação. Ele funciona como a bússola orientadora da existência humana, conduzindo a

história e as realidades culturais, bem como, todos os processos subjetivos: os sentimentos, os

sonhos e racionalidade.

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No entanto, durante algum tempo, o imaginário não era reconhecido.

Falava-se sobre mitos, razão, religiosidade, pensamento, impulsos, libido, mas nunca do

imaginário. A seguir, será relatado um pouco da história dos conceitos de imaginário, baseada

na obra descritiva de Barbier (1984).

2.2.1.1. FASE DE SUCESSÃO

A primeira fase do conceito de imaginário caracteriza-se pela

atualização do pensamento racional e pela potencialização da função imaginante do ser

humano. Após os pré-socráticos, o pensamento grego impôs o dualismo entre o real e o

imaginário, separando a sensação, a percepção, os sentimentos e as condutas da fantasia do

sonho e dos mitos. Détienne e Vernant (1978) afirmam que desde a epopéia homérica até o

século III a.C, os “poderes” do imaginário começaram a ser concebidos como ações do

sobrenatural e, por isso, foram marginalizados. Por volta de 432 a.C, em Atenas, transformou-

se delito misturar crenças sobrenaturais com os conhecimentos ligados à astronomia. Isso

porque os conhecimentos astronômicos começaram a representarem o primeiro contato com o

campo científico formalizado. Porém, as condições intelectuais da ciência, criadas a partir do

século IV, estavam distantes de triunfar. A própria filosofia de Platão, por exemplo, continuou

a fazer apelo ao mito e a justapor um grande rigor de raciocínio às concepções místicas ou

religiosas. Sócrates não hesitava em invocar o seu “demônio” quando necessitava executar

algum tipo de atividade. Esse “demônio” representava sua força interior que orientava as suas

condutas. Aristóteles acreditava nos sonhos premonitórios como representação dos desejos ou

do temor que suscitavam a representação onírica de um evento provável de acontecer ou de

algo a ser evocado pelo indivíduo logo em seguida.

Com o advento do cristianismo, a tendência religiosa prevaleceu sobre a

tendência científica grega, provocando confronto entre a religião revelada e as argumentações

racionais, causando certa elevação do imaginário. Sabe-se que as simbologias cristãs, sempre

estiveram carregadas de pulsões imaginais. Durante o Renascimento reapareceu a sucessão

grega. O abandono do ideal contemplativo colaborou para o surgimento da obrigação de criar

um pensamento ao mesmo tempo rigoroso e apropriado aos fenômenos vividos. A ação

passou a não ser antítese de conhecimento. Nada seria indigno de ser conhecido, embora,

fosse necessário o encontro dos métodos de conhecimento. Nesse momento, sobressaiu o

pensamento de rigor intelectual racionalista moderno de Descartes, o método cartesiano.

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Após Descartes, os filósofos começaram a julgar severamente a

imaginação enquanto faculdade, modo de exercício de pensamento. O imaginário passou a ser

concebido como forma de mascarar o real. Nunca alguém poderia aprender algo por meio do

imaginário. Sartre (1971) afirma que cada ser humano possui a capacidade de dominar o

objeto real. Os objetos “fantasmas” alteram o real e tornam o sujeito inábil diante das

situações complexas da realidade. Para o autor, existe “um abismo que separa o real do

imaginário” (ibid., p. 168). A cada instante que o sujeito apropria-se do real, o EU imaginário

desaparece e passa a dar lugar ao EU real.

2.2.1.2. FASE DE SUBVERSÃO

A fase da subversão é caracterizada por uma nova concepção de

imaginário e pela potencialização do real/racional. Vale ressaltar que entre os gregos essa

ambivalência já era possível de ser notada. Para eles, existia uma espécie de impossibilidade

de se desfazer do imaginário e, por isso, era necessário reconhecer o seu valor positivo. Essa

posição de reconhecimento das “ações imaginais” tornou-se mais explícita no século XIX,

quando o imaginário transformou-se no único real.

A elevação do imaginário revela o abismo existente entre o real e o

imaginário. Na tentativa de resolver o problema, passou-se a acreditar que as força psíquica

do indivíduo, liberada dos entraves das urgências perceptivas, seria capaz de separar a

realidade exterior e ouvir as “possíveis vozes interiores” (BARBIER, 1984, p. 18). Tal

pensamento, apesar de ser uma proposta de união entre imaginação e realidade, reforça a

relação abismal existente entre eles. Por isso, o imaginário permaneceu potencialmente

subversivo mantendo-se ao mesmo tempo oculto e voluntariamente ignorado.

2.2.1.3. FASE DE AUTORIZAÇÃO

A fase da autorização iniciou-se no século XX e também caracteriza-se

pela busca de equilíbrio entre o imaginário e o real. Este período é rico em contribuições

intelectuais e alguns autores destacaram-se nesta fase, como Barchelard (1974), Durand

(1969) e Castoriadis (1986).

Barchelard (1974) considera a função do irreal tão útil quanto à função

do real. O autor afirma que o homem da ciência – o homem diurno – deve atuar no domínio

da consciência, no locus da técnica e da razão; e o homem da poiesis – o homem noturno –

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enraizado nos domínios arcaicos, profundos e ainda desconhecido da psique, tem a

responsabilidade de atuar no locus da criação. Vale observar que Barchelard, ao mesmo

tempo em que potencializa a razão, também evidencia que ela é incapaz de atingir sozinha o

nível ontológico. Esse só pode ser atingido por meio da função psíquica fundamental, a

poiesis, criação.

Nesta fase, outro teórico que se destaca é Durand17 (1969). Em seus

estudos sobre o imaginário, o autor propôs-se “recensear” as imagens que constituem o

“capital homo sapiens” (ibid., p.12). Para ele, a coleta de imagens gera uma série de conjuntos

constituídos em torno de núcleos organizadores (constelações e arquétipos) com a finalidade

de servir como instrumento de normalização para estudo com fins científicos. Paralelamente

as compreensões ao novo espírito antropológico iniciado por Durand, Cornelius Castoriadis

(1986) também apresentou uma via de acesso para compreensão do imaginário, analisando as

ações provocadas por ele no contexto social.

Castoriadis foi antigo animador do grupo “Socialisme ou Barbarie”,

durante o período de 1949 a 1965. Economista do OCDE (Organização para Cooperação e

Desenvolvimento Econômico), psicanalista e sociólogo, esse intelectual heterodoxo se

interrogou sobre a experiência do movimento operário, as burocracias comunistas (partidos,

estados, sindicatos), os obstáculos do pensamento marxista, antes de abordar o lugar do

imaginário no processo (sócio-histórico) de auto-instituição da sociedade. O autor faz

rigorosas objeções às concepções de Marx. Para ele, as formas de associações dos

trabalhadores – decorrentes do socialismo – se tornaram ultrapassadas. O ritmo de trabalho

não é individual, como afirmam as teorias capitalistas de organização, mas ditado pelo ritmo

de trabalho do “conjunto” ao qual pertence. Tratando-se de um conjunto de operários, em

regime socialista somente este próprio conjunto deve determinar tal ritmo, o que transforma

um suposto problema de remuneração (fruto do “pensamento herdado” capitalista) em um

problema de gestão operária da economia – modo de pensar socialista.

Castoriadis adverte ainda que esta nova forma de dimensionar a questão

não resulta em solução mais fácil: o estabelecimento coletivo dos ritmos e das equivalências

entre desperdícios de energia em atividades diferentes pode conduzir a muitos erros a serem

permanentemente corrigidos até chegar às soluções ao menos provisórias. Esses erros, porém,

seriam fecundos para o desenvolvimento do socialismo, ao passo que “enquanto se colocar o

problema sob forma do „salário pelo rendimento‟ ou do „direito burguês‟, permaneceremos de

17

Durand foi fundador do Cantro de Pesquisa sobre o imaginário (C.R.I) em Grenoble, no ano de 1966.

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imediato no âmbito de uma sociedade de exploração” (CASTORIADIS, 1986, p. 62). O autor

sugere que a idéia de “homem econômico” foi criada pela sociedade burguesa à sua própria

imagem e semelhança. Ou melhor, à imagem e semelhança do burguês na sociedade burguesa

e não a imagem do operário. Nesse sentido, o pensamento marxista deveria lutar para

desembaraçar-se da penetração do modo de pensar capitalista em suas problematizações,

teorias e ações revolucionárias, mesmo que tal modo de pensar provenha do próprio Marx.

A militância e o empenho nos estudos sobre a teoria marxista

impulsionou Castoriadis a romper com o trotskismo em nome das fontes vivas do marxismo,

mas levando igualmente a seus últimos limites. Após penetrar o cerne da teoria, pouco a

pouco vai abandonando o a teoria e avaliando que o prosseguimento (ou mesmo recomeço) do

projeto revolucionário demanda a destruição das bases doutrinárias vigentes. Em 1975, o

autor publicou a obra “A instituição imaginária da sociedade”, título que celebrizou todos os

termos empregados. Não é fácil explorar seus escritos. Os textos condensam anos de trabalho,

com vista não exatamente a uma nova teoria que tomasse o lugar do marxismo, mas a uma

elucidação inseparável de um projeto político. Abordado dentro das classificações

epistemológico-filosóficas habituais, não podem e não devem ser congelados em formatos já

instituídos. A teoria proposta por Castoriadis não é marxista, freudo-marxista, historicista,

hegeliana, fenomenológica, sartreana, heideggeriana ou estruturalista, embora faça menção a

todas essas vertentes. Analisada do ponto de vista das idéias (de que lança mão) é

extremamente poliforma: história como criação, imaginário social, autoinstituição da

sociedade, imaginário radical, instituinte e instituído, sócio-histórico, autoalienação,

sociedade heterônoma e autônoma, lógica conjuntiva-identitária, pensamento herdado e

magma de significações são algumas categorias originais investigadas e conceituadas pelo o

autor. É um desafio expor as idéias de Castoriadis sem recair no que ele tanto combate,

transformar a sua teoria na “busca pela lucidez em luz no fim do túnel”. (CASTORIADIS,

1986, p. 13).

2.2.1.4. AS SIGNIFICAÇÕES IMAGINÁRIAS: IMAGINÁRIO RADICAL E

IMAGINÁRIO SOCIAL

O termo imaginário leva imediatamente a pensar em psicanálise. Essa

afirmativa não está totalmente errada, mas, antes de tudo, vale lembrar que Castoriadis (1986)

não visava articulações e/ou conciliações entre Marx e Freud. O que o autor faz é

fundamentar-se em alguns conceitos psicanalíticos, em especial o imaginário, desviando-o de

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seu sentido canônico e promovendo novos significados. Ele faz questão, no prefácio de seu

livro “A instituição imaginária da sociedade”, de distinguir seu trabalho de eventuais

construções de teoria no sentido herdado do termo. Ao invés de teoria, Castoriadis chama de

“elucidação”, ou seja, a procura por uma lucidez indispensável a um projeto político,

fundamentado nas transformações constantes da história e, conseqüentemente, da sociedade.

De acordo com o autor, o processo sócio-histórico é coletivo, anônimo,

humano e impessoal. Ele serve para localizar a sociedade e inseri-la nos mais variados

contextos, inscrevendo-a numa lógica de continuidade em que estejam presentes o “que não

existem mais, o agora e ainda o que está por nascer”. Sendo então, ao mesmo tempo,

estruturas dadas, instituições e obras materializadas (concretas ou não) e também “o que”

estrutura, institui e materializa. Ou seja, é a “união e a tensão da sociedade instituinte e da

sociedade instituída, da história feita e da história se fazendo”. (Ibid., p. 131).

Dessa forma, é fácil compreender porque a história pode ser definida

fundamentalmente como poiesis: uma criação constante capaz de proporcionar

transformações constantes. Nessa perspectiva, o social-histórico se auto-institui não como

ordem identitária ou dialética, nem como caos, mas na qualidade do que Castoriadis

denomina de magma de significações. O magma é uma diversidade em principio irredutível à

lógica conjuntista-identitária, sendo impossível dizer/representar o modo de ser daquilo que se

transforma em condição da lógica sem apelar, de algum modo, para esta própria lógica. Então,

do que trata a lógica conjuntista identitária? É tudo aquilo que possa ser reconhecido como

“marca” da sociedade. É a impressão deixada pelo passado, o qual influencia o modo de

pensar e agir no presente e colabora para construções de novas projeções no futuro.

Para compreender melhor, utilizaremos a linguagem como exemplo do

pensamento do autor. Toda a palavra é aberta e os seus significados (magma) ultrapassam os

limites da percepção humana (lógica conjuntista identitária). Ou seja, a palavra “mesa” refere-

se a um objeto concreto. A ligação indissociável entre objeto-nome é algo que já foi herdado

dos antepassados e por isso pode ser afirmado como parte da lógica conjuntiva-identitária da

sociedade. Porém, a constituição do objeto jamais vai reduzir os múltiplos sentidos que a

palavra proporciona. Uma única palavra pode reportar a infinitas “remissões”, mas nunca se

esgotará “no que seria a coisa em si”. (CASTORIADIS, 1986, p. 394). Essa impossibilidade

de esgotamento dos sentidos deve-se a movimentação constante do magma de significações.

Segundo Castoriadis, o motor que movimenta toda a existência humana

é o imaginário. Ele constitui o social-histórico, envolve a lógica conjuntiva-identitária, e

movimenta o magma de significações da sociedade. Para compreender a extensão da ação

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imaginária, o autor classifica o imaginário em radical e social. O imaginário radical origina-se

no interior da mente humana; depois, passa a reinar como social-histórico e como “psique-

soma”. Como o sociol-histórico, absorve os significados coletivos e anônimos e como

“psique-soma” exerce funções no âmbito representativo, afetivo e intencional. Já o

imaginário social é posição, criação, fazer ser. Ele articula e dá sentido a sociedade instituinte,

impulsionando o movimento das significações sociais (magma).

O imaginário radical cria as significações e o imaginário social propaga,

modifica e a instala no cerne da sociedade. As contribuições imaginárias estão presentes em

todos os momentos da vida humana. Seja na descoberta do fogo, nas pinturas no interior das

cavernas primitivas, no modo de vida nômades, nas construções de apetrechos de guerra ou de

instrumentos para auxílio na caça e na pesca, na organização dos sistemas feudais, no

pensamento burguês, nas ações revolucionárias, nas críticas socialistas ao sistema capitalista,

no modo de sobrevivência durante os conflitos, nas batalhas sangrentas das guerras mundiais,

nos sofrimentos dos exilados nos campos de concentração nazistas, no terror das bombas que

devastaram Hiroshima e Nagasaki, nas matanarrativas emancipatórias, nas “tecnoteleologias

sui generis” da comunicação, bem como, no vestuário, nas gírias, na política, na economia,

nas relações afetivas e nas ideologias, enfim, tudo só tem sentido no e pelo imaginário. Por

isso, Castoriadis ressalta que “falar das significações imaginárias sociais quer dizer também

que essas significações são presentificadas e figuradas pela efetividade dos indivíduos, dos

atos e dos objetos que eles informam. (Ibid., p. 514).

O imaginário instituído na sociedade determina o que é “real‟ e o que

não é. Habita no que tem sentido e no que é desprovido dele. Uma sociedade não vive sem

mitos, lendas, crenças, utopias, sonhos e projetos. Elas estão inseridas no sistema de

interpretação do mundo para incentivar a sociedade a investir de significações o mundo.

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2.3. O IMAGINÁRIO NA CIBERCULTURA

No domínio acadêmico, as palavras parecem ser difíceis de serem

definidas. Foi assim com o termo “pós-modernidade”, cuja popularidade entre os teóricos das

ciências sociais não cessou em ser investigado até meados da década de 90. Nesta época,

falava-se exaustivamente de “sociedade pós-moderna”, “sociabilidade pós-moderna”,

“estética pós-moderna” entre outras variações, mas todos os conceitos possíveis revelavam a

incerteza quanto o processo de transição da modernidade para a pós-modernidade. Algo

semelhante aconteceu com a palavra cibercultura que, hoje, desfruta de significativa

notoriedade nos meios acadêmicos. O termo quase sempre se refere ao contexto cultural

totalmente dominado pela tecnologia.

Segundo Davis (1999), toda cultura é desde sempre uma “tecnocultura”.

Porém, a cibercultura equivale a esfera da experiência contemporânea na qual a tecnologia

passa a ser pensada como fator central determinante das vivências sociais, das sensorialidades

e das elaborações estéticas. Ou seja, ela é muito mais do que uma tecnocultura. A cibercultura

representa o momento em que a tecnologia se coloca como vetor essencial de articulação da

sociedade.

Desde a Revolução Industrial, as experiências tecnológicas mantêm um

relacionamento paradoxal com a humanidade. Ao mesmo tempo em que impulsionam a

evolução da história, também se constituem em problemas explícitos para a humanidade. No

que tange às tecnologias comunicacionais, o surgimento dos meios de massa se convertem em

temática central desde meados da década de 40. Nesse sentido, “A dialética do

esclarecimento” (1947), de Adorno e Horkheimer, pode ser considerada uma obra

emblemática daqueles instantes iniciais em que a comunicação massiva se constituía como

força determinante. Os debates no campo das ciências humanas e sociais giravam em torno da

“ação alienadora” dos media, concebidos como “reprodutoras” das ideologias vigentes. A

“indústria cultural” (cinema, rádio, televisão) era concebida como instrumento de

padronização de comportamentos e como limitadora do senso crítico, visando o

fortalecimento do sistema. Atualmente, já é possível perceber que os meios de comunicação

(de massa ou interativos) não reproduzem e nem fortalecem o sistema, eles são o próprio

poder e o próprio sistema que conduz a sociedade.

Sabe-se que durante algum tempo os mass media reinaram absolutos.

Mas, na década de 90, começaram a perder espaço para os media interativos que rapidamente

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caíram no gosto do usuário (consumidor tecnológico). Afinal, a comunicação passiva dos

meios de massa foi transformada em comunicação interativa. O indivíduo passou a atuar

como agente direto do processo comunicacional mediado pela máquina.

Não há como negar que se vive um momento de inaudito fascínio pela

tecnologia. A miniaturização das máquinas de comunicar, bem como sua crescente

mobilidade presente em aparatos como telefones celulares, palmtops e notebooks tornaram a

comunicação mediada num fenômeno ubíquo. O lema é “comunicar sempre, cada vez com

mais freqüência”. Nesse sentido, Sfez (1994) acrescenta que todas as tecnologias de

vanguarda se aliaram a comunicação. Assim a cibercultura pode ser definida como o instante

supremo de realização da comunicação tecnológica, mas também não se reduz a só isso. Na

verdade, ela é a uma nova configuração social e imaginária.

Felinto (2003) recorre à antropologia para lembrar que esta geração não

é a primeira a maravilhar-se com as rápidas e extraordinárias mudanças provocadas pela

comunicação. No entanto, a marca ontológica que diferencia a cibercultura de outros períodos

precedentes é a propalada passagem do paradigma “analógico” para o “digital”. O fenômeno

cibercultural assinala sua especificidade com base nesse novo modelo tecnológico, cujas

características ultrapassam todo e qualquer modelo anterior. A maior delas foi à

informatização do mundo. Toda natureza, inclusive a subjetividade humana pode ser

compreendida por padrões funcionais passíveis de digitalização em sistemas

computadorizados. Um dos melhores exemplos de processos de “informatização” é o

mapeamento do genoma humano em computadores que desfiam as seqüências genéticas

binárias.

Nesse sentido, o pós-humanismo representa o desdobramento direto da

“visão de mundo” cibercultural. Se o sujeito pode ser traduzido em partículas de informações

discretas, por que não seria possível aperfeiçoá-lo por meio da manipulação consciente dessa

mesma informação? Só não seria possível, como também já existem métodos (ou softwares)

capazes de duplicar ou modificar pessoas e/ou objetos (como o photoshop18, o processo de

rotoscopia digital19 dos cinemas, até a biotecnologia, a clonagem e a manipulação de células-

18

O photoshop é um software caracterizado como editor de imagens bidimensionais do tipo raster (imagens que

contém descrição em cada pixel). Foi desenvolvido pela Adobe Systems e é considerado o líder no mercado de

editores de imagens profissionais. Ele está disponível para sistemas operativos Microsolf Windows e Mac OS-X,

mas também pode ser rodado no Linux, através da camada de compatibilidade. 19

Rotoscópia é um dispositivo que permite os animadores redesenhar quadros de filmagens para serem usados

em animações. Pode ser utilizado para animar uma referência filmada ou com auxílio de outros aparatos

tecnológicos (motion tracking e onion-skinning), reproduzir (scanear) pessoas e objetos para serem

posteriormente manipulados por meio da computação gráfica. Esse método de animação é bastante utilizado nos

efeitos especiais do cinema. O primeiro a utilizá-lo foi Walt Disney, no filme “Branca de Neve e os sete anões”.

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tronco). No universo cibercultural, cada átomo converte-se em informação e comunicação.

Logo, a informação pode ser compreendida como conceito-chave da cibercultura.

Diante desse panorama e de todos os elementos nele incluídos, como

explicar o fenômeno cibercultural? A explicação só poderia vir da categoria que possibilita

penetrar no interior de todos os sistemas e os obriga a afinar conceitos, quer trate do

simbólico, do estético, do conhecimento e de seus prolongamentos dirigiridos ao social. Ele se

encontra no centro de todos os dispositivos do saber. “Força central, condição inevitável da

vida em sociedade” (FELINTO, 2003, p. 20), o imaginário se encontra na fundação de todas

as formas de conhecimento, nas práticas e nas representações sociais.

Vale recordar que há algum tempo atrás, a categoria do imaginário

desfrutava de popularidade acadêmica. Principalmente na década de 70, a temática atingiu seu

ápice nos trabalhos de Durand e Castoriadis. Depois, os estudos sobre o imaginário passaram

por certo arrefecimento. Porém, no âmbito da cibercultura, o imaginário reaparece como

conceito importante, impondo-se no campo científico. Autores como Sfez (1996), Ferrer

(1996), Lemos (2002), Trivinho (2007) e Rüdiger (2002) denominam a força social que

projeta sobre a tecnologia determinadas imagens, expectativas e representações coletivas de

“imaginário tecnológico”. Dessa forma, a cibercultura poderia ser definida como imaginário

tecnológico fecundado a partir do paradigma digital. Esse imaginário tecnológico compreende

aos processos, projetos e sonhos que se plasmam em aparatos materiais e ao impacto que

esses objetos ensejam no cotidiano por meio do imaginário coletivo.

A cibercultura se manifesta como imaginário no qual o paradigma

digital chega para realizar um sonho imemorial da humanidade: a superação das limitações

humanas através do rompimento espaço-tempo, a manipulação da realidade convertida em

padrões de informação, “a conquista absoluta da natureza e das leis do cosmo – em uma só

palavra – a divinização do homo ciberneticus” (FELINTO, 2003, p. 32). As crenças (os

mitos, as metanarrativas etc.), aparentemente, superadas pelo conhecimento científico,

retornam – no contexto cibercultural – na forma de “fetichismo” tecnológico no qual

máquinas adquirem valor imanente e são pensadas como seres dotados de “inteligência

artificial”.

e depois se popularizou. Algumas produções destacam-se na utilização desse recurso: A trilogia “Guerra nas

Estrelas” (utilizado para construir os sabres luminosos), A trilogia “Matrix” e em especial “A scanner darkly”,

filme todo produzido por meio da técnica de rotoscópia, sendo utilizada para transformar os “seres reais” (atores)

em ilustrações simuladas de traço de linha e tinta. No campo da música, destaque para o vídeo clip da música

“Take on me” da banda norueguesa A-ha, na década de 80 e “Black or White” de Michael Jackson, em meados

de 90.

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Além do fascínio pelas máquinas “inteligentes” e pela comunicação de

uma forma geral, a cibercultura também contribui para mudanças de comportamento e nas

relações sociais. Lemos (2002) recorda do aparecimento da atitude “cyberpunk”, a saber, um

estilo de vida (undergroud) inspirado no movimento homônimo de ficção cientifica que

associa “tecnologias digitais, psicodelismo, tecnomarginais, ciberespaço, ciborg e poder

midiático, político e econômico dos grandes conglomerados multinacionais” (ibid., p. 200).

Segundo o autor, “os cyberpunks são outsiders, criminosos, visionários da tecnologia. Eles

encarnavam, na ficção e na vida real, uma atitude de apropriação vitalista da tecnologia”,

orientada pelo tema “do it youself”. Esse undergroud hightech, direta ou indiretamente, é

herdeiro da contracultura tecnocrática das décadas de 60 e 70, contudo não há mais rejeição às

tecnologias, ao contrário, a apropriação e o desvio na lógica de produção, consumo e a

utilização delas abre uma possibilidade para escapar do controle social imposto pelos

tecnocratas. A libertação pretendida vai além de possíveis coerções sociais, abrange também a

superação das limitações do próprio corpo humano, seja por meio de próteses, de

manipulações biotecnológicas e até o uso de drogas. Tal fato é semente da utopia do corpo

perfeitamente saudável, lembra Sfez (1996).

A cibercultura revela um apelo à transcendência e ao misticismo (como

citado anteriormente). De acordo com Timothy Leary – um dos destaques da contracultura

dos anos 60 e, posteriormente, do movimento cyberpunk afirmam que o “computador pessoal

é o LSD dos anos 90” (aput. DERY, 1999, p.28). Se nos anos 60 falava-se de psicodelismo, a

partir dos anos 80 o que se destaca é a “ciberdelia” que “reconcilia os impulsos

transcendentais da contracultura dos anos 60 com a informania dos anos 90”. (Ibidem., p.29).

A apropriação das tecnologias informáticas pode, então, ser

compreendida em duas direções: uma pessoa, com o propósito de manter o corpo livre e

superpotencializado e a outra social. Neste caso, promove-se a “democratização” da

tecnologia: todos podem e devem usufruir dos benefícios gerados pelos avanços tecnológicos.

Esta era a ideologia propagada pelos cyberpunks, “computers for the people”.

Vale ressaltar, essa utopia democrática da informatização não atingiu o

seu objetivo. Apenas uma minoria conseguia dominar os conhecimentos técnicos específicos.

Para rebelar-se contra a “exclusão” provocada pela tecnologia, jovens chamados harckers

passaram a usar a tecnologia contra os infotecnocratas. Passando algum tempo, os jovens da

“era higtech” ao perceberem que o mercado tecnológico cresceu e tornou-se rentável,

transformaram-se em poderosos empresários da microinformática. É o caso de Bill Gates,

presidente de fundador da Microsoft, Steve Jobs e Steve Wozniak, fundadores da Apple e

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inventores do famoso Macintosh. Ou seja, os jovens idealistas “hippies” tornaram-se

“yuppies”, executivos infotecnocratas bem sucedidos.

O imaginário cibercultural não é somente alimentado pelos ideais

libertadores propagados pela tecnologia. Mas, principalmente, mantido pela

magatecnoburocracia da informatização, virtualização e ciberespacialização das sociedades

contemporâneas, a qual Trivinho (2001) define como “rede institucional internacional

responsável pela produção e circulação de bens ciberculturais (hardware, solftware e netware,

em seja qual formato for) e pela fomentação acelerada do cyberspace”. (TRIVINHO, 2001, p.

214).

É importante lembrar que a informatização aconteceu. Porém, não

atingiu o objetivo inicial (a democratização), livre acesso a todos. O que houve foi um

reescalonamento da infotecnocracia. A atitude socialista transgressora transformou-se numa

atitude conservadora de perpetuação do status quo. A reprodução infinda das estruturas

sociais e culturais e das dinâmicas políticas e econômicas, pretendidas pela

megatecnoburocracia para alimentar o capitalismo cibernético, estabelecem a cibercultura

como cultura de controle velada, escondida por trás das promessas de interatividade,

velocidade e informação

2.3.1. A DITADURA DO IMAGINÁRIO: O IMAGINÁRIO TECNOLÓGICO

Segundo Castoriadis (1986), o imaginário “é a introjeção do real, a

aceitação inconsciente de um modo de ser partilhado com os outros” (ibid., p. 67). Para o

indivíduo penetrar no interior da caverna do imaginário social é necessário compreender,

aceitar e participar de suas regras. Ao apropriar-se mentalmente dessas regras, o sujeito

consegue criar novos procedimentos que dão origem a novas ações imaginárias. Este processo

de construção e reconstrução é natural e acontece devido o imaginário sair de sua condição

original (imaginário radical) e passar para a dimensão social.

Especificamente no contexto da cibercultura, as manifestações podem

continuar sendo compreendidas a partir da “diagnose” de Castoriadis. No entanto, o

imaginário tecnológico, diferentemente das “ações imaginais” vivenciadas no passado, está

fincado em processos complexos e efêmeros. Apesar de ainda possuir umbilicais ligações

com o patrimônio afetivo, imagético, simbólico, individual e grupal, o imaginário tecnológico

infiltra dois novos elementos capazes de sustentar todos os outros já citados: a velocidade e a

informação. Eles passam a constituir o “magma de significações”, agindo como grandes

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estimuladores das atividades concretas do cotidiano e assim, produzindo sentido “no viver na

ciberrcultura”.

[...] o imaginário era fruto puro das relações interpessoais, sem mediação

maquínica, sem meio, finalidade em si (teatro, poesia oral, “causos”, contos,

fábulas). O pecado original estabeleceu-se com a mediação. A tela entrou na

vida do homem como um divisor de águas. Passou-se da fluência à fruição,

da conjunção à intermediação e do troco ao meio. Aos poucos, tudo virou

meio. O meio se tornou fim [...]. (MACHADO, 2003, p. 75)

Durante muito tempo, a voz do imaginário foi calada e relegada a uma

posição secundária e até mesmo marginal, sendo concebida como parte maldita do espírito

humano. Na modernidade, por exemplo, foram cortados os laços com as fontes vitais da

imaginação em detrimento da supremacia da razão. Agora, parece que a humanidade tenta

recuperar o tempo perdido. Durand (1970) destaca a irônica situação contemporânea, na qual

a vitória da ciência e da técnica (anteriormente inimigas da imaginação) conduz

paradoxalmente ao ressurgimento do imaginário como força vital. A civilização da imagem

dos meios de comunicação reinstala no mundo o domínio do imaginário. A sociedade passa

de um extremo ao outro: da exclusão absoluta do imaginário ao desejo da substituição do

racional pela imaginação. Por isso, Felinto (2003) enfatiza: “quando o imaginário está por

toda a parte, quando o seu poder é ubíquo, sem centro e inteiramente pervasivo torna-se tão

perigoso quanto à razão totalitária”. (Ibid., p. 28)

Essa afirmação possibilita reportar a Freud (1971) – que na pista de Le

Bon (1895) pretende explicar a “alma das massas” e a sua capacidade de “invetividade”. Logo

na introdução do texto “Psicologia das massas e a análise do eu”, Freud afirma:

O individuo nas relações com os pais, com os irmãos e irmãs, com a pessoa

amada, com os amigos com o médico, cai sob a influência de apenas uma só

pessoa ou de um número bastante reduzido de pessoas, cada uma das quais se

torna importante para ele. Ora quando se fala de psicologia social ou de grupo,

costuma-se deixar essas relações de lado e isolar como tema de indagação o

influenciamento de um indivíduo por grande número de pessoas

simultaneamente, pessoas com quem se acha ligado por algo, embora, sob

outros aspectos e em muitos respeitos, possam ser-lhes estranhas. (FREUD,

1970)

Para o psicanalista, o indivíduo ao se inserir num grupo adquire um

poder invencível, o qual permite render-se a instintos que, se estivesse sozinho, com certeza

teria mantido reprimido. Dentro do grupo, todos os membros tornam-se anônimos,

favorecendo que o “espírito de responsabilidade” desapareça inteiramente. (LE BON, in.

FREUD, 1970, p. 90). O autor ainda lembra que o grupo é conduzido pela “voz da

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fascinação”. Ela conduz o grupo pela sua ação hipnótica. Por isso, todos os sentimentos e

pensamentos inclinam-se na direção determinada pelo “hipnotizador”. Sob a influência de

apenas uma sugestão, serão realizados atos com irresistível impetuosidade. Essa

impetuosidade é ainda mais irresistível porque a “voz de comando” é a mesma para todos os

membros do grupo, favorecendo assim, a aceitação imediata.

Vemos então que o desaparecimento da personalidade consciente, a

predominância da personalidade inconsciente, a modificação por meio da

sugestão e do contágio de sentimentos idéias sugeridas em atos, estas, vemos,

são características principais do indivíduo que faz parte de um grupo. Ele não é

mais ele mesmo, mas, transformou-se num autômato que deixou de ser dirigido

pela vontade. (Ibidem)

A análise de Le Bon e de Freud sobre o comportamento das massas, de

certa forma, reforça o sentido de imaginário social proposto por Castoriadis, quando o autor

afirma que o imaginário é o modo de ser partilhado inconscientemente com os outros.

Seguindo a lógica desses argumentos e relacionando com a atuação do imaginário tecnológico

nos dias de hoje, é possível compreender que o imaginário tecnológico atua na esfera social,

mudando comportamentos, modificando os valores e implantando novos meios de relações

sociais, devido “convocarem” a massa, ou melhor, os usuários a corresponderem a voz de

comando da tecnologia da informação.

Esse “inconsciente tecnológico” dos usuários é alimentado por meio de

discursos devotados que anuncia o surgimento de um novo tipo de consciência, capaz de

expandir-se sem limites pela rede (TURKLE, 1997). Nessa expansão, o corpo torna-se

maleável, podendo, inclusive, romper os limites do espaço e do tempo (numa ação mais

complexa que o estado de bilocação) ou até mesmo, desaparecer, já que o corpo deixa de ser

matéria para converter-se em códigos padrões da informatização. A narrativa organizadora em

torno da qual se desenrolam todas as ações do imaginário tecnológico, implica na idéia de

desaparição de todo o obstáculo ou materialidade envolvendo as noções de imediatez e de

transparência. Essa narrativa ou utopia sem a qual o imaginário tecnológico não poderia

sobreviver é denominada de “fenômeno glocal”.

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2.4. UTOPIAS DO IMAGINÁRIO TECNOLÓGICO: O FENÔMENO

GLOCAL

O fenômeno glocal equivale à produção imaginária que conduz o

fazer/ser da sociedade tecnológica. Ele age como a “voz de comando” da tese freudiana,

conduzindo e controlando as “massas”, principalmente, introduzindo no imaginário social a

“alma” da cibercultura.

Teoricamente, Trivinho (2007) define o fenômeno glocal como a

mescla “inextricável” entre o conteúdo global da rede e o espaço local de socialização e

reprodução da existência cotidiana. Segundo o autor, esse fenômeno é recente, pertence ao

século XX. No entanto, as suas sementes já eram possíveis de serem notadas a partir do

telégrafo elétrico, como mencionado no primeiro Capítulo deste Trabalho.

O glocal trata-se da junção das palavras local e global. O que pertence

ao local e ao global passa a existir em via única no imaginário social tecnológico. O vetor de

articulação das ações glocais imaginárias é a velocidade e a interatividade. Esses dois

processos constituem o que atrevo chamar de “utopias do imaginário tecnológico”. Eles

colocam em prática o processo de “planetarização” do mundo por meio da capacidade de

desterritorialização e imaterialidade eletromagnética, possibilitando o condicionamento de

toda a vida humana ao estado dromocrático. Ou seja, dominam os discursos institucionais e

corporativos, interferem na cultura e no contexto do trabalho, mediam relações sociais e

destacando-se como entretenimento na hora do lazer.

A seguir serão apresentadas algumas das principais significações

imaginárias promovidas pelas utopias do “fenômeno da glocalização da existência”.

2.4.1. O FASCÍNIO PELAS PRÁTICAS GLOCAIS INTERATIVAS

A interatividade é o processo comunicacional em que agentes com igual

poder de decisão e de ação relacionam-se de maneira direta dentro de um ambiente

imaginário, o espaço virtual. As relações interativas equivalem ao principal paradigma

cibercultural, desafiando todas as elementares teorias da comunicação existentes. Até pouco

tempo, a comunicação era dominada pelos modelos tradicionais, modelo ponto-a-ponto

(ligação telefônica) e um-todos (impressos em geral, rádio e televisão).

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Com o advento da tecnologia da informação, a interatividade surgiu

para “desbancar” e “reconfigurar” todos os modelos já existentes. A interatividade representa

o esquema “todos-todos”, cuja característica principal é permitir que os usuários tornem-se

emissores e receptores simultaneamente. Quando um computador está conectado à internet, o

usuário pode A rede oferece infinitas possibilidades de ação do usuário. Esse parece ser o

ponto mais fascinante e sedutor; dá a sensação de poder e de domínio da situação. O usuário

sente-se autônomo para fazer as suas escolhas e acessar o que desejar. Afinal, ele está

protegido pelo bunker tecnológico. O bunker, segundo Trivinho (2007) significa:

[...] nomeia redutos ou, muitas vezes, cinturões fortificados, erigidos ou

sulcados no solo ou construídos em patamar totalmente subterrâneo, para

cumprir objetivos logísticos de proteção, resistência ou defesa contra

investidas inimigas em contextos de guerra ou guerrilha e, como tal, para

oferecer, simultaneamente, retaguarda a processo progressivo de contra-

ataque. (Ibid., p. 307)

Nesse sentido, o usuário protegido pela a sua parafernália tecnológica

sente-se livre para “deixar” o corpo material e “penetrar” na rede com seu corpo imaterial. O

autor enfatiza que o “emissor e, em especial, o receptor, meramente distintos no processo real,

obliteram-se para ressurgir como usuários teleinteragentes”. (TRIVINHO, 2001, p. 124). O

conceito de usuário teleinteragente pressupõe um grau de participação e intervenção mais

pleno o que de um receptor num processo de comunicação de massa. É diferente ligar um

rádio ou a televisão e receber sinais de emissoras apresentado conteúdos pré-estabelecidos e

acessar um site e interagir com os hiperlinks, traçando caminhos de leitura e/ou pesquisa de

acordo com os próprios interesses, tendo a possibilidade imediata de construir e emitir novos

conteúdos a partir do que foi consultado e apreendido.

A comunicação interativa desafia o ente humano, anteriormente

identificado como protagonista do processo comunicacional. O indivíduo sempre foi o

sujeito-agente da comunicação e a máquina figurava apenas como meio ou “canal”. Porém a

interatividade exige um novo redimensionamento dos esquemas teóricos de comunicação e

também da compreensão das relações sociais, visto que a própria máquina tornou-se

alteridade no processo social e comunicacional. Essa condição revela a extrema dependência

do ente humano em relação à máquina. Na modernidade, o sujeito “construía” sua identidade

e exercitava sua autonomia a partir da relação EU-TU (pessoa-pessoa). Acreditava-se que o

“EU” (res cogitan) diferia-se do “OBJETO” (res extensa). Então, o sujeito só poderia manter

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diálogo existencial com o seu semelhante20. Hoje, essa concepção sofreu modulações devido

as máquinas passarem a materializar funções humanas. Esse processo é notado na relação

com os objetos infotecnológicos, sobretudo, os celulares e os computadores pessoais

(principalmente se conectados à rede), atuam como um “segundo eu” (TRIVINHO, 2001,

p.83), capaz de condicionar o sujeito a percebê-lo como extensão do próprio corpo.

2.4.2. A MÁQUINA COMO ALTERIDADE

A tecnologia tornou-se mais marcante no final do século XVII, com a

Revolução Industrial. No século XX, ela se intensificou, principalmente, com o

desenvolvimento da microeletrônica. Na Revolução Industrial as máquinas tecnológicas

estavam presentes exclusivamente no âmbito do trabalho e eram utilizadas para auxiliar o

desenvolvimento das atividades humanas. Esse tipo de máquina é o Santaella (1997, p. 35)

chama de “máquinas musculares”. Ou seja, aquelas que auxiliam o trabalho humano somente

naquilo que é puramente mecânico e físico. A autora também classifica outros tipos de

máquinas com o intuito de mostrar que, de alguma forma, as máquinas sempre estão

associadas ao auxilio dos indivíduos.

Sob o pretexto inicial de auxiliar os indivíduos, a máquina acabou

substituindo as faculdades humanas e, em alguns casos, os próprios indivíduos acabam

cedendo as suas facilidades e capacidades. Principalmente, após a nova configuração

sociocultural deste século que aponta para a onipresença das máquinas do cotidiano. Portanto,

as máquinas inteligentes, instrumentos de irradiação do imaginário glocal, condicionam o

modo de ser, de estar, de pensar, de agir e de existir. Elas introduzem o sistema dromocrático

em todas as relações por elas estabelecidas. Por isso, merecem certa desconfiança. A sua

facilidade e praticidade de uso criam dependência no indivíduo. Inclusive, tornam-se

indispensáveis até para executar as tarefas mais corriqueiras.

Independente de juízos de valor sobre a relação homem-máquina, elas

figuram literalmente como alteridades na cibercultura. No passado, as máquinas dependiam

integralmente dos indivíduos para funcionar. Hoje, em alguns casos, elas funcionam sozinhas,

somente, por meio de um comando de voz.

As máquinas se autolegitimaram como alteridade demonstrando sua

utilidade e seu poder. Vigoram como sujeitos das ações. Le Breton (2003) afirma que os

20

Argumento inspirado na obra de Martin Buber “EU e TU”, 1979.

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“computadores transformaram-se em parceiros da vida, em companheiros, em abertura para o

mundo”. (Ibid., p. 155).

2.4.3. A TELEEXISTÊNCIA: A FUGA DOS CORPOS

“Telepresença”, “teleação”, “telerrealidade”, “terceira janela”,

“poluição dromosférica”, “espaço crítico” são algumas expressões usadas por Virilio para

denominar o efeito do imaginário glocal por meio da dinâmica dromocrática.

As práticas glocais ciberculturais pressupõem a tele-existência

interativa. Ou seja, a capacidade de existir a distância através das redes telemáticas. Nesse

caso específico, a tele-existência pode configurar tanto como telepresença, quanto como

teleação. Virilio (1993, p. 22) diz que a telepresença e a teleação acontecem sob a “aurora do

falso dia”. Para o autor, o falso dia é o “dia artificial” que complementa, mas geralmente

sobrepõe, o dia real. A “realidade extensiva” (concreto) sempre foi percebida a partir da

iluminação direta (sol, eletricidade). Mas, com as tecnologias de comunicação em tempo real,

a realidade extensiva dá lugar à “intensiva”, a terrealidade.

A telerrealidade é a “realidade” percebida indiretamente pela mediação

tecnológica. O corpo imaterial desloca-se, entra no ciberespaço e partir disso, tem acesso à

nova dimensão existencial do espaço virtual das redes interativas.

Com a instituição do ciberespaço como lugar privilegiado de ação do

imaginário glocal, o “solo” duro da superfície ficou ainda desvalorizado. O terreno citadino

passou a ser local de trânsito, fluxo e passagem. Tornou-se via de acesso, trajeto, sendo

tocado por quem não possui alternativas. É quase insensível para aqueles que têm condições

de viver sem pisá-lo. Isso acontece nas grandes cidades em que o caos do trânsito e a

violência são manifestados com maior intensidade. Desse modo, as práticas glocais são

imprescindíveis. Fazer compras, pagar contas, manter contato com amigos e parentes, sem

precisar correr o risco de eventuais infortúnios. Porém, evitar as ruas pode significar que

estamos perdendo o corpo matéria em benefício de um corpo espectral. Trivinho afirma que

“[...] o glocal e a existência em tempo real por ele permitida significam abandono e

esvaziamento do espaço urbano extensivo [...] em proveito da feudalização e povoamento da

vasta socioespacilização eletrônica em que se transformou o planeta”. (TRIVINHO, 2001, p.

87).

No processo de tele-existência, o usuário abandona o próprio corpo. NO

ciberespaço, propriamente, fluidos, só há lugar para corpos “liquefeitos” pela digitalização. O

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corpo espectral multimediático torna-se protagonista das relações da realidade virtual.

Segundo Le Breton (2003), a “internet tornou-se a carne e o sistema nervoso dos que não

conseguem mais ficar sem ela e que só sentem despeito de seu antigo corpo”.

Para Virilio a banalização do alhures também se dá pelo “primado do

tempo sobre o espaço que hoje, se exprime no primado da chegada (instantânea) sobre a

partida (VIRILIO, 1993b, p. 43). O audiovisual é “[...] o veiculo para avançar à alta

velocidade, isto é, para não ir à parte nenhuma” (ibid., p. 51). A tela é o ponto coincidente da

partida e da chegada No ciberespaço, à viagem não é realizada pelos indivíduos, mas pelas

imagens. Elas deslocam-se enquanto o usuário continua no mesmo lugar, geralmente

sentados. Com a propagação da comunicação informática, a sedentariedade se intensificou.

Por isso, Virilio (ibid., p. 48) conclui que “em última análise, cada avanço dos transportes não

é mais do que um progresso e uma emancipação do assento” e, desse modo, a humanidade

caminha para uma “sedentarização terminal”: “o espaço já não se estende, o momento da

inércia sucede à deslocação continua”. (Ibid., p. 33)

A crise da motricidade desencadeada pela “lei da menor ação” chega ao

cume com o glocal interativo. Se já era observada na utilização de controles remotos, escadas

rolantes e elevadores, tanto mais agora, com o surgimento do ciberespaço e das inúmeras

possibilidades de teleação proporcionadas. Vale ressaltar que o acesso à rede em contextos

como grandes saguões de aeroportos ou mesmo em espaços variados contribuem para o

aparecimento de um sentimento paradoxal. Ao mesmo tempo em que o usuário está “livre” no

ciberespaço, está igualmente encarcerado. Esse fato é denominado por Trivinho (2007) de

“nomadismo veicular sedentário nômade”. Ou seja, equivale à mescla entre duas realidades:

nômade, porque o corpo espectral navega sem rumo no ciberespaço. Sedentário, devido o

aprisionamento do corpo “material” em apenas um local. Em outras palavras, o nomadismo

contemporâneo se conforma à invalidez motora.

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74

CAPÍTULO III

CIBERCULTURA, IMAGINÁRIO E JUVENTUDE

“Se a velocidade é luz, então aparência é o que se move. Transparências

momentâneas e enganosas, dimensões do espaço que não passam de aparições

fugitivas, objetos percebidos no instante do olhar, este olhar que é, a um só tempo, o

lugar e o olho”.

(VIRILIO, 1993, p. 34)

Segundo Castoriadis (1986), o imaginário social é a “rede simbólica

socialmente sancionada, onde se combinam em proporções variáveis um componente

funcional e um componente tecnológico” (ibid., p.159). Essa rede se firma à medida que os

indivíduos a utilizam para “pensar e operar” no cotidiano.

Como já ressaltado anteriormente, em tempos de cibercultura, o

imaginário social une-se aos mecanismos da comunicação tecnológica e reescalona o sentido

de “ser/fazer” na atualidade. O imaginário da era mediática equivale ao imaginário

tecnológico. Nele estão imbricados todas as formas de interação mediada pelos objetos

infotecnológicos, sobretudo, os capazes de conexão de rede. Vale ressaltar que o imaginário

tecnológico ou imaginário glocalizado ao ser parte constituinte do imaginário social, também

se estabelece por meio de sua utilização.

Hoje, vive-se um momento de fascínio pelos aparatos tecnológicos. A

miniaturização e a mobilidade deles transformaram-se em “fetiches” sociais. Em especial para

a juventude, a internet oferece múltiplas possibilidades, favorecendo a construção de

conhecimento, a possibilidade de comunicação e de lazer.

Neste último capítulo, será apresentado o resultado da pesquisa

empírica que objetiva revelar a influência da internet no imaginário de jovens brasileiros. A

pesquisa foi realizada em duas cidades: Belém do Pará e São Paulo. A faixa etária dos

membros que compõe o corpus da pesquisa é entre 14 a 17 anos de idade.

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75

Ao realizar as pesquisas bibliográficas, foi possível perceber que a

grande maioria das obras científicas e/ou trabalhos acadêmicos fazem distinção entre a

adolescência e juventude. Neste Trabalho não se fará distinção. Será utilizado o termo

“jovem” para especificar o sujeito que está na fase entre a infância e adolescência. Existe um

motivo para esta “não especificação”: esta Dissertação não pretende ater-se, somente, em

aspectos psicológicos e/ou comportamentais de cada faixa etária. Na verdade, pretende-se

levantar indicadores, por meio de pesquisa empírica, capazes de possibilitar discussões sobre

as significações imaginárias existente na relação entre internet-juventude.

A construção do quadro teórico fundamenta-se em Castoriadis, Freud,

Piaget, Vygotsky, Trivinho, Virilio, Barbero, Canclini e Libâneo.

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76

3.1. CONCEITO DE JUVENTUDE

A categoria de juventude, assim como todas as categorias instituídas no

imaginário social, pode ser compreendida como parte constitutiva da “lógica conjuntista-

identitária”. Segundo Castoriadis (1986), a lógica conjuntista-identitária é um conjunto de

elementos com funções definidas e determinadas pelos fatores socio-históricos. Uma vez

ligado ao socio-histórico, esse elemento (categoria) sofre significativas transformações à

medida que a própria sociedade se modifica com o passar dos anos. Por isso, é complexo

estabelecer uma definição que seja capaz de abranger todas as significações sociais, culturais

e históricas do “ser jovem”.

De acordo com o senso comum, a juventude é a fase intermediária entre

a infância e a vida adulta, caracterizando-se por significativas modificações biopsicossociais.

O seu início é marcado por alterações físicas e hormonais com influência psíquica (alterações

físicas e hormonais com repercussões psíquicas) e o fim, por transformações de âmbito social

(entrada no mercado de trabalho, responsabilidade com encargos cívicos, constituição da

própria família e ingresso no ensino superior).

Não é apenas difícil determinar um conceito para a categoria juventude.

Outro ponto polêmico capaz de gerar discussões é a determinação da faixa etária. Segundo o

Plano Nacional da Juventude (PNJ) 21

·, o jovem é o indivíduo que se encontra na faixa etária

entre 15 a 29 anos. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), jovem é o

aquele que se encontra entre 12 a 18 anos. Por isso, o amparo judicial é até os 18 anos. Salvo

algumas exceções, o sujeito de até 21 anos consegue usufruir dos benefícios estabelecidos

pela lei (ECA). Já a UNESCO considera jovem a pessoa entre 16 a 25 anos. E a OMS

(Organização Mundial de Saúde) define o período entre 10 a 20 anos. Diante dessa

discordância quanto à faixa etária, este Trabalho utilizará o termo para nomear os sujeitos

entre 14 a 17 anos que representam o corpus desta Pesquisa.

Historicamente, a juventude passou por várias transformações. Na

antiguidade, os jovens assumiam responsabilidade com as tarefas ligada à prática da

cidadania. Em Atenas, por exemplo, os jovens do sexo masculino, maiores de 18 anos,

freqüentavam um “noviciado cívico” de preparação moral e religiosa com o objetivo de 21

É o conjunto de políticas públicas e medidas que beneficiam os jovens brasileiros entre 14 a 29 anos. O PNJ

foi elaborado pela Comissão Especial da Juventude. O Plano estabelece como prioridade erradicar o

analfabetismo juvenil, oferecer bolsas de estudo e alternativas de financiamento aos jovens com dificuldades

econômicas, manutenção e permanência no ensino superior, incentivo e empreendedorismo juvenil e ampliação

de programas de incentivo ao primeiro emprego. Em 2006, o PNJ teve parecer aprovado e aguarda votação em

plenário.

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77

exercer, plenamente, – quando adulto – sua cidadania. Também em Roma, o jovem auxiliava

os mais velhos durante os combates e participava das assembléias políticas, cabendo-lhe o

direito ao voto. As mulheres jovens, tanto em Atenas quanto em Roma, dedicavam-se em

aprender as tarefas domésticas, preparando-se para um futuro casamento. Nessa época, a

transição de uma fase para a outra, era ritualizada e, por isso, as funções sociais eram bem

definidas. No entanto, a modernidade causou alterações no mundo do trabalho que,

consequentemente, influenciaram no modelo de família. Também durante essa época,

surgiram inúmeras teorias pedagógicas com a finalidade de compreender o desenvolvimento

humano e melhorar a formação daqueles sujeitos que ainda não haviam ingressado na vida

adulta. Dessa forma, o jovem passou a permanecer mais tempo na escola, afastado das

responsabilidades com o trabalho (mundo adulto) e distante da família, fator que contribuiu

para o aparecimento e fortalecimento da classe jovem. Dessa forma,

Morin (1977) lembra que a juventude, por não ser uma categoria

antropologicamente e sociologicamente definida, só pode existir nas sociedades em que a

transformação da criança em adulto não ocorre de forma brusca, mas sim de maneira

gradativa, desenvolvendo-se num espaço de cultura e de história que não pertencente ao

universo infantil e nem a vida adulta (ibid. p. 137). Esse crescimento gradativo é marcado por

mudanças que vão desde a maturação sexual até o desejo de tornar-se autônomo, ficando

evidente a necessidade de romper com os limites estabelecidos pela família e pela

comunidade e buscar dentro de si referências que o possibilite construir sua própria

identidade. No entanto, ao mesmo tempo em que procura se libertar dos ideais da família,

compactua com o pensamento de um novo grupo, os amigos. De acordo com psicólogo e

sociólogo Jean Piaget22, a partir dos 12 anos, o indivíduo encontra-se com todas as suas

habilidades cognitivas em pleno funcionamento. Tal fato colabora para o desencadeamento de

reflexões sobre a sua existência, estimulando a construções de projetos para o futuro. Porém,

o dualismo entre o amadurecimento do corpo e o amadurecimento psicológico causa,

frequentemente, susceptibilidade à instabilidade emocional, desencadeando alguns problemas

que podem levar ao consumo de drogas, doenças psíquicas, distúrbios alimentares (como

anorexia e bulimia) e, na grande maioria das vezes, a compulsividade por aquisição de

produtos propagados pelos media.

22

Jean Piaget dedicou-se a estudar o desenvolvimento humano a partir do processo de aprendizagem. Segundo o

teórico, a aprendizagem ocorre por meio de dois princípios básicos: a assimilação e a acomodação. A teoria

piagetiana influenciou muitos autores, entre eles destaca-se Jürgen Habermas, no campo da teoria da

comunicação e na área da pedagogia, campo fértil de propagação dos estudos de Piaget, um nome de destaque é

de Emília Ferreiro.

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78

Tanto para Piaget quanto para Vigostki23, o processo de maturidade está

subordinado as significações sociais. Diante desse aspecto é possível entender o motivo pelo

qual a ação da juventude na sociedade mudou com o passar dos anos. Durante a modernidade,

os jovens eram preparados para trilhar o caminho estabelecido pelos pais. As jovens do sexo

feminino preparavam-se para se tornarem “esposas”. Saiam do controle dos pais para o

convívio submisso ao lado dos maridos. Os homens jovens, por sua vez, aprendiam o ofício

do pai e, de acordo com o poder aquisitivo, saiam de casa para estudarem em faculdades

situadas nas capitais. Já a pós-modernidade, como estudado no capítulo I, traz consigo

consideráveis transformações, dentre elas, o aparecimento da juventude cética. Diante dos

horrores da guerra, o idealismo caiu por terra e os sonhos perderam o encanto. Os jovens

passaram a “enxergar” o futuro com desconfiança. Mas, mesmo assim, a juventude queria

reconstruir a história, resgatando os seus ideais. Nas décadas de 50, 60 e 70, os movimentos

juvenis24 atingiram o seu ápice de contribuição política e social através de atitudes de caráter

revolucionário.

Na ânsia de reescrever a história, apagando o passado sangrento, os

jovens tornaram-se alvo fácil dos media que, naquele período, surgiam propagando uma nova

utopia, a reconstrução do mundo destroçado. Os mass media conseguiram se infiltrar e se

fortalecer no imaginário social persuadindo os jovens através de seu discurso de vanguarda

democrático. Diminuindo a distância entre as culturas, possibilitando o livre acesso de tudo

aquilo que, antes, pertencia ao mundo do adulto: a violência, o erotismo, os comportamentos

controversos etc. (BARBÉRO, 1998, p. 28); quebrando as hierarquias por meio de ações

anarquistas e propiciando a separação e fortalecimento dos grupos juvenis.

Na América, na U.R.S.S, na Suécia, na Polônia, na Inglaterra, na França, no

Marrocos, vemos uma tendência comum aos grupos adolescentes a afirmar sua

própria moral, a arvorar seu uniforme (blue jeans, tênis, suéteres) a seguir

sempre a moda, a reconhecer-se nos heróis, uns exibidos no cinema (James

Dean, Belmondo), outros oriundos da imprensa sensacionalista; ao mesmo

tempo, uma sensibilidade adolescente se infiltra na cultura (filmes novelle vague,

romances de Sagan). (MORIN, 1997, p. 148).

Diante desse panorama social, é interessante observar que apesar da

juventude ao procurar se distanciar dos valores e ideologias estabelecidas na cultura integrou-

23

Lev Semenovich Vogostki foi o grande fundador da escola soviética de psicologia histórico-cultural.O autor

construiu a teoria Sociointeracionista a partir de sua experiência de vida, testemunhou todo o processo da

Revolução Russa, e através da leitura crítica dos textos de Karl Marx e de Frederich Engels e das teorias da

psicologia: behaviorismo, gestalt, psicanálise e do desenvolvimento humano, de Piaget. 24

Na década de 60, houve a revolução cubana

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79

se ao sistema através do ávido consumo dos produtos culturais. Sabiamente, os meios de

comunicação apoderaram-se dos sonhos e carências juvenis e passaram a “produzi-la em larga

escala” e a “vendê-la” como ideal de vida para todos, inclusive para aqueles que ainda não são

ou, até mesmo, já são adultos.

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80

3.2. PÓS-MODERNIDADE E CIBERCULTURA NO CONTEXTO

BRASILEIRO

As relações entre sociedade e cultura adquirem, hoje, total relevância.

No âmbito acadêmico, especialmente, existe a preocupação em entender as características

próprias do contexto latino-americano levando em consideração o multiculturalismo.

Especialmente no Brasil, torna-se evidente as diferenças étnicas e culturais proveniente da

miscigenação dos povos.

Canclini (2003) recorre à história para responder algumas questões

importantes do contexto brasileiro, como da América Latina. Segundo o autor, as

contradições latino-americanas revelam que muitos dos problemas enfrentados nos dias de

hoje, ainda são resultados do período de colonização.

Os países da América Latina e o Brasil foram colonizados por nações

européias atrasadas, submetidas à Contra-Reforma e a outros movimentos modernos. Após

essa situação, nunca houve plenamente uma manifestação moderna, mas, “ondas de

modernização” (ibid., p. 67). Essas ondas modernas foram impulsionadas por fatos ocorridos

entre o século XIX e início do século XX, como:

[...] a oligarquia progressiva, pela alfabetização e pelos intelectuais

europeizados; entre os anos 20 e 30 deste século, pela expansão do capitalismo e

ascensão democratizadora dos setores médios e liberais, pela contribuição de

migrantes e pela difusão em massa da escola, pela imprensa e pelo rádio; desde

os anos 40, pela industrialização, pelo crescimento urbano, pelo maior acesso à

educação média e superior, pelas novas indústrias culturais. (ibidem)

Apesar desses movimentos, a América Latina e o Brasil não

conseguiram atingir o patamar de desenvolvimento moderno europeu. Pode-se perceber que o

Brasil e os países latinos americanos sobrevivem num contexto em que é visível o desajuste

entre “modernidade” e “modernização”. De acordo com o autor, esse “desajuste” não é apenas

um fator resultante do processo histórico da colonização – não deixa de ser, mas não se limita

a isso –, outros fatores colaboraram para que os efeitos da modernização não fossem

vivenciados como na Europa. Um deles, ou o mais importante, seria a utilidade que “os

desajustes” possui no estabelecimento da ideologia dominante. A modernização com

expansão restrita de mercado, democratização para minorias, renovação das idéias, mas com

baixa eficácia nos processos sociais são exemplos de condições que fortalecem a hegemonia

das classes dominantes nos países da América Latina e no Brasil.

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81

Enquanto a modernidade européia propagava o desenvolvimento

científico, a autonomia pessoal e a remuneração pelos serviços pessoais, o Brasil ainda vivia

em clima de “escravidão”. A dependência econômica agrária latifundiária brasileira com o

mercado externo influenciou o surgimento da racionalidade econômica burguesa ainda nos

moldes serviçais. Se a intenção era introduzir a prática do trabalho com retorno de

remuneração proporcional com o serviço realizado, o que aconteceu foi a dominação da classe

dirigente condutora das forças de trabalho, acostumadas a conduzir o disciplinamento integral

da vida dos escravos, preferiu prolongar o serviço ao máximo de tempo e não dar a

remuneração cabível. Essa falta de remuneração compatível com a força de trabalho revelou-

se, mais tarde, o maior fator dos problemas sociais vivenciados no Brasil.

As horas de dedicação exclusiva ao serviço e os salários incompatíveis

com que era realizado conduziu o grupo de “baixa renda” a margem da sociedade. Sem direito

a educação e saúde de qualidade e de moradia com infra-estrutura adequada para a

sobrevivência digna, os sujeitos marginalizados socialmente procuraram “as formas escusas”

para sobreviver. A violência que tanto preocupa a sociedade atualmente é fruto das

discriminações vivenciadas ainda nos momentos iniciais da história brasileira.

Se por um lado o Brasil não conseguiu viver plenamente a modernidade

e a modernização, por outro, já nasceu pós-moderno. A pós-modernidade é compreendida

pelas (con)fusões de sentidos e na forma de ver o mundo e pela multiplicidade cultural. Nesse

sentido, a sociedade brasileira vive a pós-modernidade desde a sua colonização. Misturas

étnicas, religiosas e culturais caracterizam o povo brasileiro.

No que diz respeito à relação com os media e a influência deles no

contexto social, o Brasil também possui comportamento pós-moderno. Apesar de todas as

desigualdades sociais, o atraso em alguns aspectos sociais e econômicos, o Brasil destaca-se

pelo número de acessos a internet. É cada vez maior o uso de microcomputadores domésticos

e consumo de aparelhos infotecnológicos pelos brasileiros.

Pesquisa realizada pelo IBGE, em 2007, mostra que o Brasil ocupa 5ª

posição no uso da internet. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) apontam que 32,1 milhões de brasileiros, cerca de 21, 9% da população

acima de 10 anos de idade, utilizam a rede mundial de computadores. O número é expressivo

e coloca o Brasil como o primeiro país da América Latina e o quinto no mundo. Se for levado

em consideração o número de internautas em relação à população do país, a situação muda

um pouco. O Brasil cai para a 62ª posição, sendo ultrapassada pela Costa Rica, Guiana

Francesa e Uruguai. Segundo o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações

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82

(Anatel), isso ocorre devido a população de baixa renda não tem poder aquisitivo suficiente

para adquirir uma máquina, utilizando somente por algumas horas em lan house ou cyber

café. Mas existe a promessa do governo de desenvolver mecanismos para favorecer a

aquisição de computadores e acesso à internet por pessoas de baixa renda.

Na interpretação desse paradoxo – vale lembrar que pesquisa realizada

pelo MEC, em 2008, revelou que o Brasil tem cerca de 16 milhões de analfabetos, ou seja,

16.295 milhões de pessoas são incapazes de ler e escrever. E se levado em consideração o

conceito de analfabetismo funcional, o número salta para 33 milhões – não pode ser ignorado

o fato de que para se comunicar no ciberespaço é necessário dominar a linguagem de acesso a

rede (sociossemiose).

Diante desse panorama paradoxal, é importante perceber como a

cibercultura é um fenômeno que não pode ser desprezado. E se já movimenta estudos quanto

a sua importância, com certeza ainda não foi desvendada todas as suas possibilidades de

atuação e de significação social. Nesse sentido, a afirmação de Rüdiger (2004) é conveniente:

“a cibercultura é o movimento histórico, a conexão dialética entre sujeito humano e suas

expressões tecnológicas, através da qual transformamos o mundo e, assim, nosso próprio

modo de ser interior e material em dada direção (cibernética)” (ibid., p.54)

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83

3.3. RETRATO DA JUVENTUDE BRASILEIRA

Em 200325, uma pesquisa solicitada pela Fundação Perseu Abramo em

parceria com o Instituto Cidadania traçou o perfil do jovem brasileiro. Foram entrevistados

cerca de 3.501 jovens entre 15 a 24 anos (correspondendo – na época – 20,1% do total da

população de acordo com o Censo 2000/IBGE) de 198 municípios estratificados por

localização geográfica (capital, interior, áreas urbanas e rurais), contemplando 25 estados do

território nacional. Os resultados servem como parâmetro de análise do comportamento da

juventude brasileira no século XXI.

As questões norteadoras que contribuíram para traçar o perfil dos

jovens centraram-se em aspectos emocionais, psicológicos e sociais. De acordo com a

pesquisa, é possível perceber certa homogeneidade na forma de pensar da juventude atual. Os

indivíduos residentes nas cidades urbanizadas, independente de classe social, gostam das

mesmas coisas e possuem comportamento semelhante diante dos problemas sociais. Algumas

diferenças são sensivelmente sentidas nos jovens das áreas rurais.

A primeira parte da pesquisa se detém a aspectos emocionais e

psicológicos da classe jovem. A pergunta inicial refere-se à existência/condição de ser jovem:

Ser jovem é bom ou ruim? Por quê? De acordo com os entrevistados, é bom ser jovem no

Brasil. O motivo destacado como ponto positivo nesta fase é a falta de responsabilidade. Para

eles, não ter preocupações e responsabilidades contribuem para que se possa aproveitar mais a

vida, como se pode perceber no gráfico a seguir:

GRAFICO 1:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

25

A Pesquisa está disponível na íntegra no site www.planalto.gov.br/secgeral/juventude/juventude.pps .

74%

14%

11%

1%

Ser jovem, é bom ou ruim?

Boas Ruins Amabas N.R

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84

GRÁFICO 2:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

A segunda etapa da pesquisa corresponde a aspectos sociais. Para

facilitar a compreensão, dividimos os resultados em grupo A e grupo B. O grupo A é formado

por jovens da área urbana, independentemente, de sexo, cor e situação econômica. O mesmo

ocorre com o grupo B, porém, os indivíduos incluídos nessa classe, são jovens moradores das

áreas rurais e/ou interiores. A pergunta 2 (P [2]) refere-se aos assuntos de interesse do jovem.

GRÁFICO 3:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

0% 10% 20% 30% 40% 50%

Não ter responsabilidade

Viver com alegria

Atividades de lazer

Estudar para adquirir …

Não ter responsabilidad

e

Viver com alegria

Atividades de lazer

Estudar para adquirir

conhecimento

As melhores coisas em ser jovem 45% 40% 10% 5%

As melhores coisas em ser jovem

38% 37%

17%

8%2%

Assunto de interesse dos jovens

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85

GRÁFICO 4:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

De acordo com os gráficos é possível perceber que a maioria dos jovens

do grupo A, se interessam por temáticas sobre educação, principalmente, assuntos referentes a

vestibulares e faculdades. Os demais entrevistados apontam assuntos referentes ao ingresso no

mercado de trabalho e cultura e lazer como seus favoritos. Vale ressaltar que neste no aspecto

“cultura e lazer” estão incluídas temáticas referentes a festas, músicas, cinema, televisão,

internet, namoro e moda. Apenas 2% dos jovens mostram-se interessados com os problemas

sociais. Em alguns itens, o grupo B é igual ao A. O interesse pela educação continua em

primeiro lugar. Na sequência aparece o interesse por problemas sociais. Compreensível, por

tratar-se de uma classe de pessoas que vivenciam – de perto – as situações abandono por parte

dos governantes. Sabe-se que os moradores das áreas rurais e dos interiores vivem em

condições precárias (ausência de hospitais bem equipados, educação precária, falta de

saneamento básico. E no caso das comunidades ribeirinhas (no norte do Brasil), falta

inclusive estuário e alimentação). Nesse grupo, o interesse por cultura e lazer é de apenas 2%.

A segunda pergunta da segunda etapa da pesquisa está voltada para

aspectos sócio-políticos. Refere-se à preocupação do jovem: O que preocupa o jovem? Nessa

pergunta não houve ponto de contradição. Todos os jovens afirmaram que a preocupação está

na violência.

38% 37%

17%

8%2%

Assunto de interesse dos jovens

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GRÁFICO 5:

FONTE: Fundação Perseu abramo

É importante refletir sobre os fatores que desencadeiam a violência. O

século XX foi marcado por barbáries mundiais. E o século XXI, os atos violentos só fizeram

aumentar, principalmente na classe jovem.

Alguns fatores contribuem para o aumento do índice da violência.

Libâneo. (2004) afirma que as novas gerações têm mostrado estrutura psíquica frágil e

instável. Um dos motivos seria a falta de referência familiar. As multiplicações dos modelos

de família acabam gerando conflitos nas relações e estimulando o indivíduo em formação a

fazer o mesmo. Além desse motivo familiar, também existe os problemas sociais. Ainda de

acordo com o autor, a atenção dispensada pela sociedade à juventude é bastante contraditória.

Ao mesmo tempo em que ampara, legalmente, seus direitos e deveres, impõe condições

etárias e de experiência para o ingresso nas atividades laborais. Não raramente, é possível ver

jovens passando por situações de subordinação e submetidos à marginalização social. A

ausência de emprego, a despreocupação com a educação, a ausência de interesse político,

dificuldades econômicas e demográficas são alguns dos fatores que tem contribuído para o

prolongamento dessa fase. Ao viver numa sociedade fundada na desigualdade e na

exploração, o jovem vê seu futuro com desconfiança, embora – muitas vezes – não seja capaz

de verbalizar. Afinal, sente-se, ao mesmo tempo, apto e inepto para a vida social.

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%

A violência

Emprego

Drogas

Educação

Saúde

Preocupação do jovem

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87

No entanto, não raramente, ainda, se vêem jovens vivendo situações de

subordinação e submetidos à marginalização social. Segundo Libâneo (2004), a falta de

emprego, a despreocupação com a educação de qualidade, a ausência de interesse político,

dificuldades econômicas e até demográficas, são fatores que tem contribuído para o

prolongamento dessa fase. Ao viver numa sociedade fundada na desigualdade e na

exploração, o jovem vê seu futuro com desconfiança, embora – muitas vezes – não

verbalizada. Afinal, sente-se, ao mesmo tempo, apto e inepto para a vida social.

A terceira pergunta refere-se ao conteúdo dos assuntos tratados pelos

jovens com os amigos e com os pais. De acordo com os entrevistados, o tema mais frequente

nos grupos de amigos é o “relacionamento amoroso”, em seguida, costumam conversar sobre

drogas, esporte, arte, incluindo moda, música, cinema, televisão e internet. Por último aparece

o interesse em discutir sobre educação. Com os pais, a pesquisa revela que a temática das

discussões sofre alterações. Isso demonstra que, apesar, das transformações sociais ocorridas

na pós-modernidade, o diálogo entre pais e filhos ainda é carregado de tabus. Nem sempre o

jovem sente-se a vontade de conversar sobre assuntos polêmicos com a família, procurando os

amigos para partilhar suas dúvidas, como mostra os gráficos.

GRAFICO 6:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Relacionamento amoroso

Drogas

Esporte

Arte

Educação

Assuntos discutidos com os amigos

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88

GRAFICO 7:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

A pesquisa aponta também o nível de importância que a escola tem para

os jovens. Segundo eles, a função dos estabelecimentos de ensino é prepará-los para ingressar

no mercado de trabalho.

No contexto atual, a escola assume o desafio de continuar exercendo a

função de propagar os valores morais e éticos instituídos na sociedade e atender as

expectativas impostas pela nova configuração social. Como discernir com lucidez os

binômios certo/errado, legal/ilegal, normal/anormal, moral/imoral, numa época marcada pela

quebra dos conceitos opostos? Como falar de normas, regras e respeito, em um momento

marcado pelo individualismo e pela perda de entusiasmo pelas grandes causas? É um grande

dilema manter a educação dentro de princípios tradicionais em meio a uma situação que leva

os jovens a vivenciar, no dia-a-dia, experiências contrárias a tudo o que é ensinado.

O panorama da educação brasileira não é dos melhores. São muitos os

problemas e, até o momento, poucas soluções. A decadência do ensino público, a

inadimplência nas escolas particulares, o “comércio” que envolve o ensino médio, os

processos de avaliação que dificultam o ingresso no ensino superior, os salários vergonhosos

dos professores, a falta de policiamento nas escolas, entre tantos outros. Além de todos esses

dilemas de aspecto político, social e econômico, a educação ainda necessita descobrir

estratégias que a possibilite atrair os alunos. Os métodos utilizados em sala de aula, já não

conseguem atrair crianças e jovens acostumados a interagir com as TIC (tecnologias da

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Educação

Drogas

Ética e Moral

Sexualidade

Desigualdade Social

Assuntos discutidos com os pais

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89

informação e comunicação). Pesquisas especificamente ligadas a educação revelam que os

recursos tecnológicos têm colaborado na melhoria do processo ensino-aprendizagem26. Mas,

fica a pergunta: será que a melhoria do ensino brasileiro reside apenas na inclusão das

tecnologias nas escolas? Qual o lugar das tecnologias na educação brasileira? A pergunta é

polêmica e, com certeza, dividiria opiniões. Como não é interesse deste Trabalho adentrar no

campo educacional, a indagação serve como estímulo para novas reflexões e, quem sabe, abre

caminho para novas pesquisas acadêmicas.

Na pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, os jovens

destacaram que a escola é o espaço onde o indivíduo deve se preparar para ingressar no

mercado de trabalho. A crise econômica força o jovem, principalmente, de baixa renda, a

começar a trabalhar cedo, muitas vezes, sujeitando-se ao subemprego, sem direitos

trabalhistas garantidos, sem remuneração adequada e sem segurança. Por isso, o jovem

acredita que a qualidade educacional o impulsionará a melhor condição de vida. Como aponta

o gráfico a seguir.

GRAFICO 8:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

26

O campo teórico está rico em obras dedicadas ao tema. Muitas delas discutem o assunto e outras ensinam –

como manual – o educador a fazer bom uso das tecnologias da informação e comunicação. Recentemente, a

Revista Nova Escola dedicou quatro páginas com uma reportagem “ensinando” os profissionais da área de

educação a utilizarem as tecnologias em benefícios das aulas. A reportagem apresenta modelos de plano de aula

e sugestões de sites.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

Preparar para o mercado de trabalho

Para entender a realidade

Para ajudar no dia-a-dia

Para fazer amigos

A função da Escola

Pouco importante Importante Muito importante

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90

A última etapa da pesquisa refere-se ao lazer dos jovens. No ano em

que foi realizada a pesquisa, 2003, os entrevistados afirmaram que o “melhor” lazer era

assistir televisão. É importante ressaltar que após cinco anos, o crescimento de acesso a

internet tornou-se superior a 41, 5 milhões, somente nos primeiros meses de 2009, segundo

IBOPE/ NetRatings.

GRAFICO 9:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

De forma sucinta, a pesquisa mostra que o jovem brasileiro, mesmo

diante dos problemas sociais, ainda compreende a juventude como “uma etapa da vida sem

responsabilidades e preocupações”. Não demonstra interesse por questões de âmbito social,

gasta parte do tempo assistindo televisão, gosta de conversar com os amigos sobre

relacionamentos amorosos, vê a escola apenas como “lugar” importante para capacitá-lo para

o mercado de trabalho e não conversa com os pais e/ou responsáveis sobre assuntos relevantes

para sua formação pessoal. Parece não se preocupar com o amanhã. Vive o hoje, sobretudo,

pensando em seu bem estar. Diferentemente, da classe jovem das décadas de 50 e 60 que se

uniu em busca de um ideal, o jovem da cibercultura acostumou-se a ser um SER ÚNICO em

frente às telas do computador ou da televisão.

Mídia utilizada pelo jovem?

Televisão

Rádio

Jornal

Web

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91

3.4. UTOPIAS DO IMAGINÁRIO GLOCALIZADO

3.4.1. RECONTANDO A HISTÓRIA DE NARCISO

Assim como os argumentos do segundo capitulo foram introduzido a

partir da alegoria platônica “O mito da caverna”, essa terceira parte do Trabalho possibilita

relembrar o conto mitológico de Narciso27

. A seguir, o trecho que introduzirá a análise.

Narciso era conhecido por todos da região como sendo o mais lindo

jovem de toda a Grécia. A sua aparência despertava paixões e admirações por onde quer que

passasse. Mas, quando uma jovem se aproximava de Narciso para declarar seu amor,

afastava-se devido sua arrogância.

Seus pais, ninfa Liríope e deus-rio Céfiso preocupados com o

comportamento do filho, procuraram o adivinho Tirésias. Este vaticinou que Narciso poderia

ter vida longa desde que jamais contemplasse a própria imagem. Os pais desolados fizeram o

possível para defender o jovem de seu trágico destino. Porém, não foi possível.

Um dia, Narciso fugiu de casa. Foi à floresta caçar, mas perdeu-se.

Desesperado, começou a gritar. Ninguém o ouvia. Apenas ele ouvia a sua própria voz sendo

reproduzida inúmeras vezes... Depois de um tempo, percebeu que barulho vinha da ninfa Eco.

Eco era apaixonada por Narciso, porém não conseguia se declarar. Tinha sido condenada

pela deusa Hera, esposa de Zeus, a viver sem falar o que sentia ou pensava. Podia apenas

repeti os sons que escutava.

Narciso, sabendo do drama de Eco, resolveu brincar com os seus

sentimentos. Nesse instante, deusa Nêmesi, que representava a vingança e punia os maus

tratos, resolveu castigá-lo. Sem desconfiar de nada, Narciso foi conduzido até a beira de um

rio. Ao abaixar-se para beber água, viu ali uma belíssima imagem. Imediatamente, o rapaz se

viu apaixonado. Era apenas o seu reflexo... Sem pensar, Narciso mergulhou em busca de seu

amor e nunca mais voltou.

Em tempos de cibercultura recontar a história de Narciso parece ser

bastante coerente. No conto, a água-espelho foi à perdição do rapaz. Ao ver sua imagem

refletida, Narciso acabou esquecendo-se do mundo real e mergulhou nas águas profundas,

tentando buscar o seu amor ideal Hoje, os indivíduos também se esquecem da realidade ao

penetrarem nas águas do ciberespaço. Apenas com uma senha, o sujeito mergulha no mar

27

Trecho extraído, na íntegra, do livro: CHAUI, Marilena. Convite a filosofia. São Paulo: Ática, 2003. p. 11.

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92

virtual em busca da agradável sensação da imaterialidade provocada pelo fenômeno de

glocalização. O glocal equivale a é a concretização do imaginário tecnológico. Por meio dele,

o sujeito transforma-se em espectro e consegue superar todos os seus limites. Sem o corpo

físico é possível estar presente em vários lugares ao mesmo tempo e atingir o seu “eu ideal”.

De acordo com Freud (1945), o comportamento narcísico está ligado à

projeção do eu ideal. Durante a infância, a energia pulsional está dirigida para o próprio Eu. A

criança experimenta, inicialmente, um “tipo” de narcisismo em que todo o prazer está

vinculado a ela mesma, como se tudo confluísse para o engrandecimento e satisfação do seu

Eu. Somente mais tarde, essa energia volta-se para algo exterior. Sendo assim, o narcisismo é

uma reação psíquica que conflui não apenas para proporcionar prazer a si mesmo, mas

principalmente para satisfazer a necessidade de engrandecimento do “nosso Eu”. Seria em

outras palavras, o reestabelecimento da “onipotência” existente no estágio de vida infantil,

uma vez que essa grandiosidade egocêntrica é “quebrada” em vários momentos da vida e de

diferentes formas. Um dos elementos corrosivos do amor-próprio são os conflitos do dia-a-dia

e o trabalho árduo, sem criatividade e pouco recompensador o qual o indivíduo é obrigado a

se submeter para garantir sua sobrevivência.

Nesse sentido, a tecnologia, sobretudo a rede, favorece a libertação dos

sentimentos reprimidos vinculado à satisfação narcisista de integrar-se a um meio lúdico,

despreocupado, que ressoa a mesma liberdade existente na etapa da infância. Protegido pelo

bunker tecnológico, o sujeito apropria-se do imaginário glocalizado que o conduz ao

sentimento de onipotência. A excitação causada pela liberdade da experiência online

possibilita a sensação de superioridade e a relativa independência do Eu virtual com relação

ao corpo ordinário. Sendo assim, o cibernarcisismo, construído pelo imaginário glocal, trata-

se da condição psicológica original de atingir o Eu ideal transcendendo as limitações do

próprio corpo biológico.

O corpo físico “prende” o indivíduo a um mundo repleto de limitações,

sofrimentos e obstáculos. O corpo re-significado pela tecnologia, o corpo espectral, se

desvincula do corpo tangível e permite experimentar somente o que satisfaz o ego humano. O

território virtual em três dimensões do Second Life é um bom exemplo das potencialidades da

“vida virtual”. Nele, os participantes planejam os seus personagens e duas identidades, sob a

ilusão de conquistar o que talvez nunca venham a ter, pelo menos não com a mesma

facilidade na vida online. Trata-se de uma oportunidade de viver uma versão idílica da própria

vida, o que geralmente significa possuir boa forma física, alto padrão financeiro, experimentar

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93

ao extremo as vantagens de uma vida social ativa, com fama, muitos amigos, festas e sexo

seguro. (MOHERDAUI; MING, 1997).

No virtual, o corpo tecnológico é um corpo em potência e não está

submetido às limitações peculiares ao corpo tangível, ele muda de aparência, de gênero, se

extingue com a mesma facilidade e rapidez de um log off e se recria no instante seguinte,

aperfeiçoado. Em outras palavras, o imaginário glocal é o fenômeno encantador que atrai o

sujeito a mergulhar no mar profundo da tecnologia e “morrer” feliz em busca da superação

dos anseios do seu Eu ideal.

3.4.2. AS RELAÇÕES SOCIAIS NA REDE

Alberoni (1993, p. 13), ao refletir sobre as relações humanas, apresenta

a amizade como uma “centelha” que atrai as pessoas, uma específica forma de amor norteada

pela admiração, pelo companheirismo. Apesar dos novos contornos dados pela cibercultura as

relações afetivas, o princípio da necessidade humana de sociabilidade continua vivo. Ainda

para o autor, a relação entre amigos permanece pautada pela ética.

“Temos necessidade de ser nós mesmos de maneira mais verdadeira, de ser

autênticos. Nós não sabemos quem somos. Somos uma multiplicidade de

pessoas, de desejos, de aspirações, cada um dos quais fala pela mesma

boca, apresenta-se naquele mesmo palco que chamamos “eu”. (Ibid., p.17)

A manutenção da ética, defendida por Alberoni como base que perdura

na amizade contemporânea, é uma afirmação frágil diante do cenário do ciberespaço. Como

não poderia deixar de ser, o relacionamento de amizade online assumiu a efemeridade e a

superficialidade da condição pós-moderna. A fragilidade característica dos vínculos de

amizade estabelecidos pelo sujeito foi potencializada nas relações em rede, apesar da

permanente necessidade de criar laços.

Os internautas, em meio às interfaces sociais cada vez mais inovadoras,

adicionam, deletam, excluem e bloqueiam aqueles com quem não mais desejam se relacionar.

Em redes de relacionamento, como o Messenger, há a possibilidade de o cadastrado

determinar o grau de envolvimento estabelecido com cada um dos candidatos a compor sua

lista de amigos. A distinção pode ser feita por meio de uma classificação (trabalho, família

etc.) ou por definição do grau de afinidade como “favorito” ou “grupo” e até mesmo “outros

contatos”. Esses seriam o que é menos íntimo ao usuário cadastrado, no entanto comparece na

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94

“lista de amigos”. Tal fato retrata uma característica própria da rede, a superficialidade das

relações. A máxima ensinada às criancinhas “não fale com estranhos”, foi suplantada no

momento em que se relacionar com “estranhos” passa a ser considerado também como

amizade.

Bauman (2001, p. 123-124) aborda o encontro com estranhos sob o

prisma da desconformidade com o trivial oferecido nas relações ordinárias. O discurso do

autor vai ao encontro do que vem sendo tratado, pois revela uma espécie de manifestação

contra a segurança da rotina, regida pela atração, pelo perigo de partilhar a companhia de

estranhos, “tanto mais ameaçadora a diferença e tanto mais intensa a ansiedade que ela gera”.

Sob essa lógica, torna-se evidente que a mensuração da qualidade das relações de amizade

típicas da cibercultura não pode se dar a partir dos preceitos modernos. A longa duração já

não é mais uma medida respeitável, pois a tecnologia inaugurou a instantaneidade. O tempo

passa a corresponder à duração do fenômeno, melhor dizendo, o oximoro “momento de

tempo” (ibid., p. 138) é capaz de traduzir as relações virtuais movidas pelo aqui-agora,

preocupadas somente com o momento. Apesar da existência de casos de relações estáveis que

se sustentam prioritariamente pelo espaço virtual e assim perpetuam.

Ainda que o caráter efêmero e descartável seja apregoado criticamente a

esse tipo de relação, é relevante observar os demais vetores envolvidos nas interações,

considerando o fato de, no campo virtual, não existe fronteiras que possibilitem distinguir

entre os interlocutores e os vetores pertencentes ao contexto. O momento do bate-papo se

mistura como comércio, com o lazer, com os apelativos sexuais, com os procedimentos

criminosos, a alteridade, o “outro” virtual fica diluído nessa miscelânea (TRIVINHO, 1999, p.

404-405). É possível, por exemplo, movido pelo interesse pessoal, empenhar-se na busca por

um site especializado em um determinado conteúdo e, de repente, ser alvejado pela

publicidade de um produto, cujo interesse foi denunciado pelos agentes inteligente

rastreadores contidos num site de busca consultado outrora, ou mesmo, participar de uma

sessão de conversação através de um aplicativo de conversa em tempo real, enquanto ouve

notícias de uma rádio virtual ou as acompanha nas manchetes de jornal online.

Outro ponto que merece relevância diz respeito à sofisticação high tech,

que, além de ampliar o horizonte de opções e oportunidades de relacionamento para além da

presença física, deixou os “amigos” à vontade para o desenvolvimento de linguagens próprias,

que misturam gírias, jargões da informática, giffs animado e abreviações, além das expressões

de sentimentos e movimentos possíveis pelos avatares como, por exemplo, o buddy poke das

páginas do Orkut. Tudo isso, para melhor adaptação do clima e a velocidade exigida pelo

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95

ambiente ciberespacial. A voracidade da comunicação digital pode ser considerada a mola

propulsora desse “novo idioma”, visto que superou a paciência necessária para esperar que

uma frase fosse digitada corretamente num aplicativo de conversa simultânea, até mesmo,

encurtou a disposição para a leitura de longos textos dispostos entre links, ícones e outros

atrativos que povoam as telas dos computadores cada vez mais portáteis. A linguagem da rede

é a linguagem do agora, não permite fruições.

Essa “nova linguagem”, chamada popularmente de internetês, mantém

opiniões divididas entre educadores e especialistas. O repúdio tem sob alegações o infringir

das regras gramaticais e o fato de o sistema de codificação, ao invés de ficar restrito ao

ambiente virtual, influencia na escrita em sala de aula. Os entusiastas reconhecem a

importância de destinar atenção para esse tipo de escrita, visto o número crescente de adeptos.

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96

3.5. A INTERNET E O IMAGINÁRIO DOS JOVENS: APRESENTAÇÃO

DOS DADOS DA PESQUISA

3.5.1. CARACTERIZAÇÃO

I. Período de aplicação dos questionários: abril a outubro de 2008.

II. Local: Belém (PA) e São Paulo (SP)

III. Instituições de ensino em que a pesquisa foi realizada: Escolas da rede publica e da

rede particular. Em Belém, a escola particular está situada no centro da cidade,

bairro do Reduto, e a escola pública na periferia, no bairro do Guamá. Em São

Paulo, a escola particular está localizada na zona Oeste, no bairro de Perdizes,

enquanto que a escola pública fica localizada no bairro Jabaquara, zona sul da

capital.

IV. Número de participantes: Duzentos (200) jovens, sendo cem (100) de cada cidade.

V. Idade dos participantes: 15 a 17 anos

VI. Nível de escolaridade dos participantes: ensino médio (cursando)

Vale ressaltar, as escolas de São Paulo não autorizaram que os seus

nomes fossem divulgados. Devido a isso, também preferi manter no anonimato o nome das

escolas de Belém.

3.5.2. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

A pesquisa foi dividida em duas partes: a primeira está relacionada aos

dados pessoais e a segunda parte refere-se, especificamente, a utilização da internet pelos

jovens.

3.5.2.1. Dados Pessoais:

A) Participantes da pesquisa

Como mostra o gráfico a seguir, a maioria dos jovens participantes da

pesquisa – em ambas as cidades – possuem 17 anos. Cabe aqui, de antemão, esclarecer que,

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97

inicialmente, pensava-se que a idade e o nível de escolaridade dos participantes seria um fator

importante na análise dos dados. Contudo, ao decorrer do processo da pesquisa começou-se a

perceber que a idade não é um fator relevante no que diz respeito a utilização da internet, uma

vez que todos os jovens demonstraram interagir da mesma forma com os meios. Por isso, na

segunda fase da pesquisa, os dados não serão apresentados levando em consideração a faixa

etária, somente o sexo (em alguns casos).

GRAFICO 10: Quantidade de entrevistados

GRÁFICO 11: Quantidade de entrevistados

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4

Meninas

Meninos

Alunos da rede particular - Belém

17 anos 16 anos 15 anos

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4

Meninas

Meninos

Alunos da rede pública - Belém

17 anos 16 anos 15 anos

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98

GRÁFICO 12:

GRÁFICO 13:

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4

Meninas

Meninos

Alunos da rede particular - São Paulo

17 anos 16 anos 15 anos

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4

Meninas

Meninos

Alunos da rede pública - São Paulo

17 anos 16 anos 15 anos

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99

B) Renda média (familiar) dos entrevistados

O nível médio da renda familiar dos jovens entrevistados diferencia-se

bastante nas duas cidades. Na escola particular de São Paulo, localizada em Perdizes, o índice

médio da renda familiar dos alunos participantes chegou a mais de dez salários mínimos. Em

Belém, a maior renda ficou em torno de cinco a sete salários mínimos. Na rede pública a

diferença também fica evidente, permitindo observar que a renda média dos entrevistados de

Belém é sempre inferior aos moradores de São Paulo.

GRÁFICO 14: Renda média familiar

GRÁFICO 15: Renda Média familiar

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Meninos Meninas Meninos Meninas

Média da renda familiar dos alunos da rede particular - Belém e São Paulo

1 salário mínimo 2 a 4 salários mínimos 5 a 7 salários mínimos

8 a 9 salários mínimos mais de 10 salários mínimos

0%

20%

40%

60%

80%

Meninos Meninas Meninos Meninas

Média da renda familiar dos alunos da rede pública - Belém e São Paulo

1 salário mínimo 2 a 4 salários mínimos 5 a 7 salários mínimos

8 a 9 salários mínimos mais de 10 salários mínimos

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100

C) A contribuição do jovem na renda familiar

Os jovens das escolas particulares das duas cidades afirmaram não

contribuírem na renda da família, ou seja, os alunos apenas estudam e não trabalham

Diferentemente, os alunos das escolas públicas afirmaram ser necessário dividir o tempo entre

estudo e trabalho para aumentar a renda familiar. Devido o pouco tempo disponível para o

trabalho, a maioria ingressa no mercado informal. De acordo com os dados, continua-se

percebendo a significativa diferença de renda entre as cidades de Belém e de São Paulo.

GRÁFICO 16: Participação na renda familiar

GRÁFICO 17: Participação na renda familiar

0%

50%

100%

MeninosMeninas

MeninosMeninas

Participação do jovem na renda familiarEscolas particulares - Belém e Sâo Paulo

Colunas1 Colunas2

0%

50%

100%

MeninosMeninas

MeninosMeninas

Participação do jovem na renda familiarEscolas públicas - Belém e São Paulo

Colunas2 Colunas1

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101

D) Objetos eletrônicos que possuem em suas residências

De acordo com os dados a serem apresentados a seguir, é possível

observar que a maioria dos jovens – independente da idade ou do poder aquisitivo – faz

questão de adquirir os objetos infotecnológicos divulgados na mídia. Os que possuem poder

aquisitivo favorável nem se esforçam para obter as “parafernálias” tecnológicas do momento,

mas aqueles que – infelizmente – sobrevivem com dificuldades financeiras, fazem o possível

para acompanhar o avanço do mercado informático. Inclusive, durante a aplicação dos

questionários, alguns alunos relataram ter “furtado” celular porque não tinham condições de

comprar o modelo desejado.

GRÁFICO 18: Objetos infotecnológicos que possuem

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

Sim

Não

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102

3.5.2.2. Utilização da Internet

Nesta segunda parte da pesquisa serão apresentados dados referentes à

forma como o jovem relaciona-se com a internet, deixando evidente a sedução que a mesma

exerce no imaginário da juventude brasileira.

No que toca ao acesso a rede, não há diferença entre sexo e idade.

Todos os jovens interagem da mesma forma e demonstram-se fascinados com as

possibilidades do espaço virtual. Como será possível observar, os jovens fazem questão de

dedicar boa parte de seu tempo as atividades na web.

GRAFICO 19: Período de acesso a rede

GRAFICO 20: Período de acesso a rede

10%10%

70%

0%10%

Período de acesso a redeJovens de Belém

Somente aos finais de semana

De segunda a sexta-feira

Todos os dias, a qualquer tempo

Somente no período de férias

Durante o expediente de trabalho

5%10%

74%

0%11%

Período de acesso a redeJovens de São Paulo

Somente aos finais de semana

De segunda a sexta-feira

Todos os dias, a qualquer tempo

Somente no período de férias

Durante o expediente de trabalho

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103

GRAFICO 21: Horas dedicadas à rede

GRAFICO 22: Horas dedicadas à rede

8%

17%

33%

25%

17%

Jovens de Belém

1 a 2 horas

2 a 4 horas

4 a 6 horas

6 a 8 horas

mais de 8 horas

5%9%

19%

19%

48%

Jovens de São Paulo

1 a 2 horas

2 a 4 horas

4 a 6 horas

6 a 8 horas

mais de 8 horas

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104

Nas duas cidades, fica clara a preferência dos jovens pelas comunidades

virtuais e pelos comunicadores instantâneos. Para eles, estes sites oportunizam entrar em

contato com os amigos, expressar sentimentos e principalmente propiciam lazer. A

comunidade mais acessada é o Orkut, em seguida Facebook e Twitter. Entre os

comunicadores instantâneos, o Messenger é o mais utilizado. Além desses sites, os

entrevistados destacam o Youtube, Second Life, os sites de Games e os de conteúdo adulto

como os acessados com freqüência tanto por meninas quanto por meninas, como mostra o

gráfico seguinte.

GRAFICO 23: A preferência dos jovens na internet

100%

90%

80%

10%

80%

20%

100%

8%

40%40%40%

10%10%

20%

10%

75%

20%15%

80%80%

70%

30%

10%

30%

10%

Ork

ut

Mes

sen

ger

(MSN

)

You

tub

e

Ch

at's

Gam

es

Seco

nd

Lif

e

E-m

ail

Blo

g's

Site

s d

e m

úsi

ca

Site

s d

e es

po

rtes

Site

s d

e en

tret

enim

ento

: te

levi

ão e

cin

ema

Site

s d

e cu

rio

sid

ades

Site

s d

e co

nte

úd

o r

elig

ioso

Site

s d

e re

vist

as e

jorn

ais

nac

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0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

Jovens de Belém

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105

GRAFICO 24: A preferência dos jovens na internet

A maioria das vezes em que os jovens acessam a internet, eles não

possuem objetivo definido. Se eventualmente tiver, acabam cedendo aos encantos da rede.

Tomando por base esse comportamento, foi perguntado aos entrevistados: o que eles

procuram na internet? Impressionantemente, todos deram a mesma resposta: procuram

relacionamentos amorosos. Por isso, o jovem se expõe em sites de relacionamento, postando

fotos e, não raramente, comunicando-se com pessoas que nem conhece, ficando exposto a

situações de violência física e moral.

100%

90%

80%

10%

80%

20%

100%

8%

40%40%40%

10%10%

20%

10%

75%

20%15%

80%80%

70%

30%

10%

30%

10%

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(MSN

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Go

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0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

Jovens de São Paulo

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106

GRAFICO 25: O que o jovem procura na internet

GRAFICO 26: O que o jovem procura na internet

Na entrevista, perguntou-se aos jovens qual a sua opinião sobre a

internet. A maioria dos entrevistados afirmou que a web é um “invento” revolucionário, capaz

de melhorar a comunicação das pessoas e também é um ótimo meio de lazer. Para eles, a rede

também favorece a aprendizagem, uma vez que possue enorme acervo de textos sobre os mais

variados assuntos.

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Fazer trabalhos escolares

Enviar mensagens por e-mail

Participar de chat's

Comprar produtos

Fazer download de arquivos, filmes e …

Assistir a vídeos

Namorar

Ouvir música

Fazer amizadesJovens de Belém

Nâo

Sim

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Fazer trabalhos escolares

Enviar mensagens por e-mail

Participar de chat's

Comprar produtos

Fazer download de arquivos, filmes e …

Assistir a vídeos

Namorar

Ouvir música

Fazer amizadesJovens de São Paulo

Nâo

Sim

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107

GRAFICO 27: A opinião do jovem sobre a internet

GRAFICO 28: A opinião do jovem sobre a internet

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Jovens de Belém

Sim

Não

Não sabe

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Jovens de São Paulo

Sim

Não

Não sabe

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108

No que toca as experiências vivenciadas pelos jovens no espaço virtual,

é possível perceber que elas são diversificadas e que causam dependência ao usuário. Os

entrevistados foram enfáticos ao afirmarem que após “experimentar” uma vez a internet, não

será mais possível viver sem ela. Um dos fatores, apontados pelos entrevistados, como

desencadeador dessa necessidade imprescindível de utilização da rede, está relacionada à

velocidade e a interatividade. Para eles, não há “coisa” melhor do que estar conectado e se

fazer “presente” em vários lugares ao mesmo tempo. Mais de 80% dos participantes, de

Belém e de São Paulo, disseram encantados com a possibilidade de “postar” fotos no Orkut e,

na mesma hora, conversar com amigos pelo Messenger. Outra experiência apontada pelos

jovens como “atraente”, é a liberdade de manterem-se no anonimato quando se toma alguma

atitude “errada”, ou seja, dentro dos padrões estabelecidos pela sociedade.

GRAFICO 29: Experiências na internet

Por último, foram feitas duas perguntas essenciais para a pesquisa: A

primeira está relacionada aos sentimentos causados pela utilização da internet e a segunda está

ligada aos desejos do usuário teleinteragente. 70% dos jovens apontaram os sentimentos de

liberdade e de autonomia como os mais recorrentes. Em seguida, com 50%, o sentimento de

alegria também parece ser constante. Quanto aos desejos, os entrevistados mostraram-se

ávidos pelo consumo, pela beleza, pelo dinheiro e, sobretudo, pela fama.

0% 20% 40% 60% 80% 100%

A internet causa dependência

A internet é mais interessante do que a vida real

Você já cometeu algum ato de violência moral na rede

Você tem ou teve perfis "fakes" nas comunidades que utiliza

Quando online, costuma acessar mais de um site

Não sei

Não

Sim

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109

GRAFICO 30: Sentimentos proporcionados pela internet

GRAFICO 31: Desejos dos usuários da internet

3.5.3. ANÁLISE FINAL

De acordo com os dados apresentados, foi possível perceber que a

influência exercida pela internet no imaginário dos jovens brasileiros é de controle e de

domínio de um sistema que vigora totalitariamente no cotidiano. Este sistema transpolítico é o

capitalismo em seu estágio mais avançado (JAMESON, 2000) que de par com a tecnologia

invadiu todas as dimensões da vida humana, anulando, completamente, os princípios e valores

26%

27%16%

24%

5%

2%

Autonomia

Liberdade

Prazer

Alegria

Raiva

Ódio

23%

20%

12%

18%

4%

23%

Fama

Dinheiro

Paz

Felicidade

Tranquilidade

Beleza

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110

tradicionais, os redutos particulares e a vida privada em detrimento da espetacularização do

dia-a-dia promovida pelos meios de comunicação, que deixam vir à tona os sentimentos

insondáveis do ser humano.

Estimulados pelos ideais de interatividade e de velocidade, os jovens

alimentam o falso sentimento de liberdade e de autonomia durante o acesso a rede. Na

verdade, ao consumirem objetos infotecnológicos e utilizarem constantemente a internet, eles

perpetuam a lógica do sistema vigente. No entanto, parece que a juventude atual não está

preocupada com isso, eles apenas buscam diversão, e a internet é o lugar propicio. Protegido

pelo bunker tecnológico e possuindo o pleno domínio das senhas infotécnicas (TRIVINHO,

2001; 2007), o indivíduo pode ser tudo o que quiser: herói ou bandido, famoso ou anônimo.

Ao instituir-se na sociedade por meio da comunicação tecnológica, o

capitalismo apropriou-se do imaginário social, transformando-o em imaginário glocal. Esse

imaginário é responsável em articular e dar sentido a civilização mediática. E por ser

identitário a época, ele não sofre influencia dos elementos que o constituem. Na verdade,

esses elementos só tem sentido porque o próprio imaginário produz. Em outras palavras, a

internet, como instrumento consitutivo do imaginário glocalizado, só tem valor porque esse

imaginário o dar sentido.

Diante disso, pode-se afirmar que as sensações de liberdade e

autonomia, assim como, o desejo de fama e de riqueza apontados pelos jovens como

sentimentos recorrentes da utilização da internet, tratam-se de respostas diretas das ações

imaginárias glocais. Pois, somente por meio delas que a configuração societária mediática, a

cibercultura, ganha significado e insere veladamente o capitalismo no âmago da sociedade.

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111

CONCLUSÃO

Diante das diversas transformações pelas quais o mundo tem passado

qualquer conclusão corre o risco de equívocos. Ainda assim, é possível e necessário apontar

certas tendências que gradativamente parecem cristalizar e marcar singularmente a civilização

contemporânea. Uma delas é a irreversibilidade das mudanças operada pela comunicação

tecnológica.

O presente trabalho apresentou o contexto histórico e cultural nos quais a

comunicação contemporânea está inserida, a fim de colaborar para o entendimento de sua

significação social, a partir de uma abordagem crítica focada nas implicações e/ou influências

que o fenômeno comunicacional possui no imaginário coletivo. A carga utópica da

comunicação pode ser vista como remodulação do ideal cibernético de criar uma sociedade de

caráter informacional, na qual computadores, como máquinas de comunicar, teriam funções

sociais e primordiais e, para à qual os humanos precisariam se adaptar, tornando-se

“máquinas comunicantes”.

Não é necessário grande esforço para notar que a descrição da sociedade

cibernética coincide, em parte, com a configuração social da cibercultura. Se, de um lado os

computadores gozam de prestígio social e os indivíduos transformaram-se em “máquinas de

comunicar”, mediante acoplamentos informáticos de toda a espécie, de outro, o desejo de

harmonia e transparência social, resta irrealizável.

Ao longo dos anos, os media de massa foram perdendo espaço para os

media interativos. E, para sobreviver, precisam incentivar as práticas interativas. A velocidade

e a interatividade vigem como esteio da cibercultura e, desse modo, funda bases sociais e

culturais específicas. A lógica da cibercultura funciona segundo a dinâmica dromocrática.

Esta condiciona a vida humana, exigindo forçadamente a ciberaculturação, sem a qual a

existência se torna duvidosa e a morte simbólica tende a ser o horizonte (TRIVINHO, 2007).

Para acompanhar o ritmo acelerado instituído pela dromocracia, os indivíduos vêem-se

pressionados a acoplar o corpo e a mente a diversos dispositivos tecnológicos, na tentativa de

não ficar ao largo da sociedade. (Ibidem).

As protetizações e os demais artifícios técnicos e/ou tecnológicos não

atendem apenas às determinações da dromoaptidão própria da cibercultura, como também

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112

corresponde ao devaneio mercadológico de superação das limitações intrínsecas à condição

humana, sob o pretexto de as máquinas serem superiores aos humanos. Como nem todos

podem se equipar devidamente vislumbra-se mais uma vez na história a exclusão em massa.

Diante disso, o presente Trabalho conclui que o imaginário social na

atualidade vigora como imaginário glocal, o qual influencia a sociedade e, sobretudo, os

jovens com ideais identitários a época regida pela comunicação tecnológica, como a

sociabilidade, a teleexistência, o narcisismo e os comportamentos iconofágicos (consumo de

imagens artificiais) (BAITELLO, 1995) que apenas servem para fortalecer e perpetuar o

sistema capitalista.

Os relacionamentos online lançam novos desafios para a reflexão teórica e

também para a constituição de vínculos sociais consistentes, na medida em que o preço da

conexão generalizada é o afastamento físico da alteridade, agora percebida como espectro

informacional multimediático (TRIVINHO, 2007). Tal sociabilidade é simultaneamente

sintoma e causa da intensificação do espírito individualista que gera relações interpessoais

descomprometidas, superficiais e efêmeras. Características próprias do contexto pós-

moderno. Época em que a cibercultura encontra ambiente propício para sobreviver e se

desenvolver.

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113

INTERNET

Ciência avançada

Homem que pensa

Constrói e destrói,

Pensa que é Deus

Perdeu o sentido

Perdeu o limite

Perdeu a si mesmo

Busca o infinito,

Amor, amizade,

Dinheiro, vaidade,

Paixão, rancor.

INTERNET...

Veículo ingênuo

Cultura inocente

Vigília da dor,

Do horror e da morte,

Suicídio em massa,

Triste quimera

De quem com loucura buscava

Antecipar a “Nova Era...”

Nazaré Sousa28.

28

Escritora paraense. Poesia extraída do livro “Coletâneas” para a Academia Paraense de Letras. 1998, p.14.

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