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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA •Nº 472 •ANO XLII MARÇO 2013 •MENSAL •1,50 CIBERSEGURANÇA E CONHECIMENTO SITUACIONAL MARÍTIMO

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA •Nº 472 •ANO XLII MARÇO 2013 •MENSAL •€ 1,50

CIBERSEGURANÇA E CONHECIMENTO SITUACIONAL MARÍTIMO

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ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS DE OFICIAIS

1ª PÁGINA

A Biblioteca Central de Marinha – Arquivo Histórico dispõe de um acervo fotográfico com imagens desde a década de sessenta do século XIX.

A fotografia institucional dos militares, nomeadamente oficiais, começa a ser utilizada pela Marinha na década de oitenta do século XIX.

Os primeiros álbuns de oficiais são interessantes, não só pelas imagens, mas também pela sua própria or-ganização, que é o reflexo da forma de funcionamento e organização da Marinha à época.

O álbum nº. 1 de oficiais contém fotografias de oficiais da Classe de Marinha, começando na patente mais elevada, vice-almirante (o único almirante general era o Rei, que não é incluído nos álbuns), até ao posto de primeiro-tenente, terminando com a repetição de fotos já existentes no mesmo álbum. No álbum nº. 2 de oficiais, prosseguindo com a Classe de Marinha, encontram-se as fotos dos segundos-tenentes e guardas-marinhas. No álbum nº. 3A de oficiais termina a Classe de Marinha com os aspirantes. O álbum nº. 3 de oficiais contém as fotografias dos restantes oficiais, organizado respetivamente por classes e patentes.

A partir de junho de 1903, com o início do álbum nº. 4 de oficiais, já não é apresentada uma organização hierárquica. As fotografias passam a ser colocadas à medida que vão sendo tiradas.

O Arquivo Histórico dispõe, presentemente, de instrumentos de recuperação da informação que permi-tem a rápida localização das fotografias.

Isabel BeatoTécnica Superior - Arquivo

Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas

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CONTRACAPA

FOTOGRAFIAS ANTIGAS, INÉDITAS OU CURIOSASREFLEXÃO ESTRATÉGICA 8TOMADA DE POSSE DO DIRETOR-GERAL DO INSTITUTO HIDROGRÁFICOPENSAR A «DEFESA»NTM CREOULAO RENASCER DA JOÃO ROBYA MARINHA NO FINAL DA DINASTIA DE AVIS (2)COOPERAÇÃO TÉCNICO-MILITAR COM ANGOLAACADEMIA DE MARINHAMUSEU DE MARINHA – 150 ANOS. OS RESERVADOS DO CENTRO DOCUMENTALTOMADAS DE POSSEVIGIA DA HISTÓRIA 52 / ESTÓRIAS COMISSÃO CULTURAL DA MARINHASAÚDE PARA TODOS 1 NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (21)QUARTO DE FOLGANOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIONAVIOS HIDROGRÁFICOS

Visita a um submarino em Paris

Museu de Marinha – 150 anos O FUNDADOR – REI D. LUÍS

Cibersegurançae conhecimento situacional marítimo

Almirante Souto Cruz

Publicação Oficial da MarinhaPeriodicidade mensal

Nº 472 • Ano XLIIMarço 2013

DiretorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de Redação CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

Redação1TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito

Secretário de RedaçãoSAJ L Mário Jorge Almeida de Carvalho

Colaboradores PermanentesCFR Jorge Manuel Patrício Gorjão

CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de MatosCFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa

1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves

Administração, Redação e PublicidadeRevista da Armada

Edifício das InstalaçõesCentrais da Marinha

Rua do Arsenal1149-001 Lisboa - Portugal

Telef: 21 321 76 50Fax: 21 347 36 24

Endereço da Marinha na Internethttp://www.marinha.pt

e-mail da Revista da [email protected]

Paginação eletrónica e produçãoSmash Creative

Tiragem média mensal:4500 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Revista anotada na ERC

Depósito Legal nº 55737/92ISSN 0870-9343

Mariana FacadaDesigner de Comunicação

ANUNCIANTES:LISSA - AGÊNCIA DE DESPACHOS E TRÂNSITOS, Lda; ROHDE & SCHWARZ, Lda.

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SUMÁRIO

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REFLEXÃO ESTRATÉGICA 8

Alfred T. Mahan foi o maior estrategis-ta marítimo do século XX, como se evidenciou nos três artigos antes pu-

blicados e dedicados à sua vida e obra. Sem querer menorizar este facto excepcional e in-desmentível, neste texto identificam-se as prin-cipais fragilidades do pensamento estratégico de Mahan, questionando a sua originalidade e validade actual. Relativamente à originalidade, estruturam-se os argumentos com base na-quilo que Fernando Oliveira escreveu sobre a estratégia marítima de Portugal. Quanto à validade actual, fundamentam-se as alega-ções na natureza dos princípios estratégicos que Mahan identificou e na metodologia histórica que utilizou para sustentar a sua conceptualização sobre as marinhas como instrumento político.

O trabalho mais famoso de Mahan, The Influence of Sea Power Upon History, 1660--1783, publicado em 1890, revela clara-mente que, no essencial e no que de mais original tem o seu pensamento estratégico, conceptualiza as marinhas como instrumento político, com base em quatro linhas de acção: fortalecer o poder marítimo, isto é, todas as ac-tividades e recursos marítimos; dispor de arma-das que garantam o comando do mar; concen-trar a força naval, como o princípio primacial e a chave da estratégia naval; obter bases navais que permitam abrigar, reparar e abastecer a es-quadra.

Estas quatro linhas de acção dificilmente podem ser aceites como um contributo original de Mahan para a estratégia maríti-ma. Com efeito, nem será preci-so sair da realidade portuguesa, para se perceber que, três sécu-los antes, já Fernando Oliveira explicara, na Arte da Guerra do Mar, que: é preciso desenvolver e empregar o poder marítimo para aumentar a prosperidade e afir-mar internacionalmente Portugal; só um grande poder marítimo permite alcançar o senhorio do mar; este estatuto de força será obtido através de batalhas navais decisivas, envolvendo navios combatentes; Portugal necessitava de adquirir e preservar bases navais que prolongassem o tempo de operação das suas armadas.

Quanto à validade das quatro linhas de acção apresentadas por Mahan para fundamentar o papel das marinhas como instrumento político, importa realçar que, apesar de extremamen-te úteis aos EUA durante parte substantiva do século XX, não passam de regras concretas, de interesse prático, que variam com o tem-

po, em função do estado de organização do sistema político e económico mundial, e do desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Por isso, para além de nunca terem sido aplicá-veis a todos os países de forma idêntica e com resultados semelhantes, aquelas quatro linhas de acção revelam-se, hoje, inadequadas para orientar a formulação da estratégia das potên-cias marítimas.

Fundamenta-se esta convicção, no facto de as relações entre os interesses económicos dos Estados e os respectivos poderes navais e ma-rítimos, estarem profundamente alteradas rela-tivamente ao tempo de Mahan. Com efeito, a base estruturante da economia mundial não é o comércio marítimo, apesar da relevância do transporte por mar. Para além disso, nenhum Estado dispõe de um controlo verdadeiramente

soberano da sua economia, em resultado da acumulação de capital e da concentração do poder económico residir, crescentemente, no capitalismo transnacional.

As quatro linhas de acção apresentadas por Mahan para fundamentar o papel das mari-nhas como instrumento político, também não possuem validade actual, porque o estudo que este autor fez da História para as fundamentar, não obedeceu aos requisitos metodológicos de

abrangência, profundidade e contextualização. Com efeito, não olhou para a História de uma forma global, distante e isenta. Considerou os casos que melhor se adequavam à justificação da relevância da Marinha dos EUA como ins-trumento político decisivo para a prosperidade e afirmação internacional do seu país no final do século XIX.

É um facto que Mahan não chegou às suas conclusões a partir de um longo estudo crí-tico e de reflexão instruída cientificamente. Usou a História para sustentar as suas certe-zas. Por isso, procurou as lições prontas e as receitas fáceis para resolver os problemas de prosperidade e afirmação internacional dos EUA no seu tempo. Paradoxalmente, foi esta a extraordinária valia do seu pensamento es-tratégico, que ninguém pode menorizar, ape-sar de, por deficiências metodológicas, não ter encontrado o entendimento perfeito para a realidade, as circunstâncias e os relaciona-mentos perenes do uso das marinhas como instrumento político, facto que também nin-

guém pode deixar de reconhecer.Apesar das quatro linhas de acção que sus-

tentam a conceptualização de Mahan sobre as marinhas como instrumento político, não serem originais nem terem, actualmente, plena validade na política internacional, os elementos básicos do poder marítimo e o objectivo táctico do controlo do mar, possuem total aplicabili-dade no quadro das acções de política externa

de qualquer país. É esta a razão fundamental pela qual o pen-samento estratégico de Mahan ainda não foi relegado para plano secundário nos EUA, onde algu-mas elites idealistas do seu tempo rejeitaram a ética e a moral ine-rentes à concepção de imperia-lismo progressivo, subjacente às conceptualizações estratégicas que propôs, devido à experiên-cia dos norte-americanos como vítimas da colonização inglesa. Na actualidade, essas elites idea-listas consideram Mahan profun-damente incompatível com os princípios que preconizam para a estruturação da nova ordem

internacional: cooperação, direitos humanos, respeito pelas minorias, valores democráticos e primazia do direito. Paradoxalmente, adoptam uma atitude profundamente realista, porque mantêm ao serviço da sua política externa a armada mais poderosa do mundo, tal como preconizado por Mahan.

António Silva Ribeiro CALM

A ORIGINALIDADE E VALIDADE DE MAHANA ORIGINALIDADE E VALIDADE DE MAHAN

A Grande Esquadra Branca em manobras.

A obra e o autor.

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TOMADA DE POSSE DO DIRETOR-GERAL DO INSTITUTO HIDROGRÁFICO

TOMADA DE POSSE DO DIRETOR-GERAL DO INSTITUTO HIDROGRÁFICO

No passado dia 22 de Janeiro, o CALM António Silva Ribeiro tomou posse como Diretor-geral do Instituto Hidro-

gráfico, em substituição do VALM Agostinho Ramos da Silva.

A cerimónia realizou-se no Instituto Hidro-gráfico, foi presidida pelo Ministro da Defesa Nacional, Dr. José Pedro Aguiar-Branco, e con-tou com a presença do Secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional, Dr. Paulo Braga Lino, do Secretário de Estado do Mar, Professor Doutor Manuel Pinto de Abreu, do Secretário de Estado do Ensino Superior, Professor Doutor João Filipe Queiró, do Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Saldanha Lopes, bem como dos Deputados da Comissão de Defesa Nacional da Assembleia da Re-pública, Dr. João Soares e Dr. João Rebelo. Para além destas individualidades, partici-param na cerimónia representantes de de-partamentos governamentais, organismos científicos, estabelecimentos de ensino superior e outros parceiros cooperativos, bem como diversos oficiais generais, os convidados do Director-geral cessante e do novo incumbente, e militares, militari-zados e funcionários civis da Marinha.

O evento teve início com a condeco-ração do Director-geral cessante, VALM Agostinho Ramos da Silva, com a Me-dalha Militar de Serviços Distintos – grau ouro, pelo Ministro da Defesa Nacional, acompanhado pelo Chefe do Estado--Maior da Armada.

Após ter tomado posse do cargo de Di-rector-geral do IH, o contra-almirante An-tónio Silva Ribeiro proferiu um discurso, onde começou por salientar a multidisci-plinaridade de competências, bem como a postura de plena abertura e cooperação interinstitucional, que são apanágio do IH, essenciais para uma resposta holística e si-nérgica na defesa do ambiente marinho e no desenvolvimento científico e tecnoló-gico de Portugal no mar. Acrescentou que, na linha do que vem sendo feito há vários anos, o IH continuará a disponibilizar à Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Conti-nental, o saber, a experiência e os meios que forem considerados necessários para que o país possa preservar os seus interesses marítimos. Com vista a servir ainda melhor a Marinha, a comunidade científica e os restantes parceiros, considerou que o IH dará especial prioridade ao fortalecimento das capacidades científicas e tecnológicas dos navios hidrográficos, das brigadas hidrográficas e das equipas de campo da Direção Técnica. Neste âmbito, enfatizou a importância de serem prosseguidas as acções necessárias à conclusão da modernização do NRP D. Carlos I, de forma a que os diferentes utilizadores do navio tirem pleno partido das

capacidades proporcionadas pelo investimen-to nele já efectuado. Também referiu que o IH prosseguirá o esforço de inovação, de melhoria e de certificação da qualidade dos produtos e serviços, face às necessidades do universo dos seus utilizadores.

No que se refere aos processos ambientais, o contra-almirante António Silva Ribeiro reiterou que o IH continuará a desenvolver as redes de observação em tempo real de parâmetros físico-químicos, essenciais para alimentar a base de dados do oceano e permitir uma boa gestão ambiental marinha. Considerou, ainda, que o desenvolvimento da capacidade cien-

tífica e tecnológica do IH implica reforçar a formação profissional e académica do pessoal. Neste âmbito, evidenciou a importância de se incrementar o número de técnicos, de mestres, de doutorados e de investigadores dedicados à prospecção e liderança de projetos nas áreas da investigação e do desenvolvimento. Relati-vamente à actividade da Escola de Hidrografia e Oceanografia, realçou a necessidade de certi-ficar novos cursos e de adoptar modalidades de ensino à distância. Para além disso, manifestou o propósito de promover estágios no IH, em co-operação com outras entidades, em particular com os órgãos do Ministério da Educação e Ci-ência e do Ministério da Agricultura, Mar, Am-biente e Ordenamento do Território. Também referiu o propósito de empenhar o IH no desen-

volvimento de ações formativas ou informativas sobre o mar, essenciais para reforçar a educa-ção científica e tecnológica de base dos alunos dos ensinos superior, secundário e básico.

O contra-almirante António Silva Ribeiro teceu, ainda, algumas considerações sobre a necessidade de manter uma robusta sustenta-ção económico-financeira do IH, para o que considerou necessário desenvolver novos pro-dutos e serviços para a Marinha e para outras organizações com responsabilidades e ativi-dades ligadas ao mar, especialmente nos seto-res da economia e do ambiente. Neste âmbito, realçou a necessidade do IH ser pró-ativo na

antecipação das necessidades, original na procura de soluções e competente na satisfação das expectativas dos uti-lizadores dos seus serviços e produtos. Ao terminar, afirmou que o enorme potencial do IH será mantido como um pilar sólido do produto institucional da Marinha e um vetor dinâmico da defesa do ambiente marinho e do desenvolvi-mento científico e tecnológico de Portu-gal no mar.

A intervenção do Ministro da Defesa Nacional concluiu a cerimónia oficial. S. Ex.ª começou por se dirigir ao VALM Agostinho Ramos da Silva, evidencian-do o competente trabalho realizado pelo IH sob a sua direcção. Neste âm-bito, realçou a importância dos contri-butos para a investigação e desenvolvi-mento das ciências do mar e evidenciou o conhecimento multidisciplinar acu-mulado durante mais de 50 anos de investigação no mar, aspecto que con-siderou ser um dos pontos fortes da acti-vidade realizada pelo IH. Num discurso onde colocou em grande evidencia a importância do mar para o futuro de Portugal, entre outros aspectos relevan-tes, salientou que: “O mar continua a ser afinal, nove séculos depois, aquilo que verdadeiramente nos distingue, que

nos diferencia, que nos dá futuro e riqueza.” O Ministro da Defesa Nacional também mani-festou o seu firme propósito em contribuir para alterar o paradigma de desenvolvimento que o país conheceu nas últimas décadas, e que o conduziu à difícil situação em que se encontra hoje. Neste contexto, evidenciou que o pro-blema não esteve na falta de recursos, mas na definição de prioridades. Por isso, considerou essencial sensibilizar os cidadãos para os as-suntos do mar, de forma a que se passe “de-finitivamente, de uma alusão poética de uma nação saudosa, a uma referência económica de um país com o sentido de futuro”.

Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO

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PENSAR A «DEFESA»

É lícito que em tempos de uma alteração significativa da realidade em que vivemos se questionem modelos, linhas

de ação e, sobretudo, custos. É possível abordar esta temática de várias

formas, mas a discussão tem vindo a centrar--se muito nos números, nas estatísticas, nas representações matemáticas. Acontece que as leituras baseadas neste tipo de aproximação permitem tirar conclusões muito díspares, con-forme a contextualização e a interpretação que lhes é dada pelo analista, jornalista ou leitor.

Gostaria, a título meramente exemplifica-tivo, de ilustrar esta ideia com dados com-parativos, relativos às Marinhas de Portugal e de Espanha.

Em números redondos, o orçamento da Marinha Por-tuguesa – incluindo investi-mento – ronda, em 2013, os quinhentos milhões de eu-ros. A Marinha de Espanha tem um orçamento anual de cerca de mil milhões. Se pretendermos avaliar quanto implica para cada país man-ter a sua Marinha, somos levados a concluir que cabe ao cidadão Português pagar cerca de quarenta e sete eu-ros por ano, e ao espanhol cerca de vinte e três. Nestas circunstâncias, o encargo para um cidadão português é cerca do dobro daquele que é suportado por um cidadão espanhol.

No entanto, a questão pode ser apresentada de outra forma: Portugal tem uma área marí-tima que, com a extensão da plataforma con-tinental, assumirá uma dimensão de três vír-gula oito milhões de quilómetros quadrados. Espanha, nas mesmas condições, terá sob sua soberania e jurisdição, uma área de seiscen-tos mil quilómetros quadrados. Permitam-me que reforce estes números: três vírgula oito milhões em comparação com seiscentos mil; uma relação de quase sete para um.

Se quisermos agora avaliar quanto investe cada país na Marinha, relativamente à di-mensão do seu mar, ou seja, quanto precisa cada país para proteger as suas áreas marí-timas, chegamos à conclusão que Portugal suporta cento e trinta e dois euros por quiló-metro quadrado, por ano, e Espanha, cerca de mil setecentos e sessenta. Ou seja, nesta nova perspetiva, Espanha suporta um custo 13 vezes mais elevado que Portugal.

A discussão não pode, nem deve, por isso centrar-se exclusivamente nos números.

As tarefas fundamentais do Estado, por mui-to que se discuta a sua dimensão e o modelo de intervenção na sociedade, mantêm-se, em génese, inalteradas: garantir a segurança – lato sensu – e o desenvolvimento, incluindo-se neste último a justiça, também em sentido lato, e o bem-estar. Ora, não é possível promo-ver o desenvolvimento sem segurança, e esta será tanto mais fácil de prosseguir quanto mais desenvolvida for uma sociedade.

Num ambiente de competitividade, ab-dicar de prosseguir desígnios próprios sig-nifica aumentar as dependências, perder significado e relevância. Mas para isso há que pugnar por tais desígnios, afirmando--nos perante vontades contrárias, e evitando

ceder à tentação de enveredar por soluções conjunturais que, resultando em benefícios no imediato, são potencialmente onerosas para a liberdade de ação e para a capaci-dade de decisão no médio e longo prazos. A história assim nos tem ensinado.

Os portugueses devem por isso procurar identificar as melhores formas de assegurar que o País prossegue numa rota de desen-volvimento, defendendo os seus interesses e os seus espaços estratégicos, os quais são fundamentais para a afirmação do país no seio da comunidade internacional. Só assim se poderá decidir, e assumir, em consciência, se o que pretendemos é uma afirmação que reforçará o nosso posicionamento interna-cional e a nossa identidade enquanto povo, abrindo novas perspetivas económicas, ou uma subalternização que resultará da dilui-ção das nossas opções estratégicas e nos con-duzirá ao desaparecimento progressivo num contexto regional mais alargado.

Escolher outra abordagem, que não a da defesa e da proteção dos interesses, propósito

que também implica participar no esforço in-ternacional de preservação da paz e da segu-rança, é deixar de ter controlo sobre as opções anteriores, sendo levados pela maré (permitin-do-me aqui uma expressão marinheira).

A Defesa e a Segurança, enquanto promoto-ras da afirmação nacional e de um ambiente de estabilidade essencial para estimular o de-senvolvimento, são assim hoje tão necessárias a Portugal como no passado.

Mas, ainda assim, a questão mantém-se: que Defesa queremos?

Apesar desta pergunta ser constantemente repetida, parece-me mais crucial questionar-mo-nos antes sobre «que Defesa precisamos»!

A resposta não é fácil, mas arrisco dois pres-supostos fundamentais: uma defesa que garanta uma ca-pacidade autónoma de ação para permitir a sobrevivên-cia da Nação e do Estado quando são ameaçados inte-resses vitais; uma defesa que possibilite dar um contributo credível, e visível, para as soluções multinacionais que visam a promoção de um ambiente de estabilidade e de segurança internacional.

Sendo legítimo revisitar, periodicamente, as opções do Estado sobre esta maté-ria, importará não esquecer que o processo de análise e de avaliação das variáveis,

que visa apoiar o decisor político sobre as diferentes alternativas e soluções, está pen-sado, comprovado e devidamente validado. Começa com a identificação e priorização dos interesses, ajuíza as potencialidades e as vulnerabilidades próprias, considera oportu-nidades, ameaças e riscos, e define as linhas de ação que regem o emprego das capacida-des nacionais. É através deste exercício que se avalia quais as capacidades necessárias, corolário que resulta coerente com um pen-samento estruturado.

Reforço aqui a ideia de «Capacidade», e a omissão, propositada, a «meios», uma vez que estes constituem apenas a componente material de um conjunto de elementos funcionais, cuja articulação é essencial para a materialização de uma «capacidade».

Mas perguntar-me-ão: e pode o país su-portar os encargos de um sistema edificado sobre a lógica anterior?

Para responder a esta pergunta, faço notar que as «capacidades de que precisamos» po-dem não ser «as capacidades que podemos

O Mar «Português».

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ter», ou, colocando o problema de outra for-ma, podem não ser «as capacidades que es-tamos dispostos a custear». Mas tal significa, à partida, assumir mais riscos ou redesenhar a nossa estratégia, tentando otimizar o apoio mútuo entre linhas de ação, para maximizar os efeitos do emprego das capacidades. Im-porta, por isso, não esquecer que as opções estratégicas, e as linhas de ação que as ma-terializam, não se restringem à utilização de instrumentos militares, para elas contribuindo múltiplos agentes, não só do Estado.

Faz assim parte do processo de decisão avaliar as diferentes alternativas à luz da sua «adequabilidade», assegurando que respondem ao problema de partida, «exe-quibilidade», aferindo que são concreti-záveis, e «aceitabilidade». É relativamente a este último critério que se encontram as respostas que procuramos.

Em primeiro lugar, a «aceitabilidade» de-veria incidir sobre o respeito pelos valores e pelos princípios que a Nação, enquanto entidade unida por um sentimento de viver coletivo, professa. Estes, em última análise, condicionam a própria ação do Estado. Ge-orge Friedman, no seu livro «A próxima dé-cada», referindo o apoio da Administração Norte Americana a países que não respeitam os direitos humanos – valor universal que os Estados Unidos se orgulham de defender –, desmistifica que este seja, muitas vezes, um fator prioritário na decisão.

A «aceitabilidade» passa então a privile-giar a análise custo-benefício, e é aqui, e só nesta fase, que se estabelecem os limites do aceitável em termos dos custos, ou mais cor-retamente, dos investimentos, que o país está disposto a suportar para a sua segurança e de-fesa. Tal equivale à definição de um nível de ambição, mas este não está isento de custos, ou de consequências. No entanto, se tivermos seguido a metodologia que venho a descrever, esses custos e essas consequências transpare-cem claras porque vão resultar da degradação da capacidade de resposta, ou da impossibili-dade de atender a todas as prioridades iden-tificadas no processo de análise e de planea-mento. Em suma, as opções têm reflexo direto e objetivo naquilo que deixará de ser possível garantir e do risco acrescido que tal acarreta. Preconizar uma aproximação diferente é arris-car «perder o Norte», para usar uma expressão tipicamente portuguesa.

Impõe-se, todavia, fazer um ponto de si-tuação e indagarmo-nos se teremos vindo a trilhar um caminho adequado, edificando as capacidades necessárias à nossa estratégia.

Neste particular, as Forças Armadas têm sabi-do, com níveis baixos de investimento e atra-vés de soluções imaginativas, transformar-se e evoluir para modelos organizacionais mais ágeis e para sistemas de forças que favorecem:

∙ A flexibilidade de emprego, para respon-der à indeterminação, na forma e na dimen-são, das ameaças;

∙ A prontidão, que responde à imprevisibi-lidade, temporal e espacial, dessas mesmas ameaças;

∙ A projeção e a mobilidade, que reconhe-cem a necessidade de atuar com parceiros e aliados, porque a interdependência entre as causas e entre as consequências dos diferen-tes fenómenos, faz com que todos sejamos igualmente afetados, mesmo quando não diretamente envolvidos.

Nos últimos dez anos, os quantitativos de pessoal militar foram reduzidos em cerca de trinta e seis por cento, percentagem que equi-vale a um decréscimo de vinte e duas mil pessoas. Esta redução foi conseguida muito à custa da melhoria dos processos, da eficiência da gestão e da aposta em tecnologia. Mas a exigência ao nível da formação e do treino, conferindo elevadas competências e níveis de proficiência profissional, tornaram mais caros os recursos humanos encarecendo os gastos com pessoal. Ainda assim, gostaria de relem-brar, trazendo aqui outra vez a lume a questão dos números, que uma peça num órgão de comunicação escrita recentemente publicada, colocava as Forças Armadas, no universo dos servidores do Estado, nas cinco profissões com remuneração média mais baixa.

Contudo, alterando novamente a perspeti-va de análise, a aposta na qualificação, a que atrás aludo, não pode deixar de ser conside-rada como uma valorização do capital hu-mano do País, o que reforça a ideia de que as despesas nas Forças Armadas devem ser vistas como um investimento.

E o que é absolutamente essencial? Saber empregar este valioso recurso, que são as pessoas com elevada formação, apostar nas capacidades que melhor respondem aos nos-sos interesses estratégicos prioritários, como o mar e a posição geoestratégica de Portugal, esclarecer a opinião pública sobre o racional destas opções estratégicas, e explicar as mais--valias que daí resultam, para o País, para o Estado e o para o cidadão comum.

Neste contexto não posso deixar de voltar a referir o mar.

A relação de Portugal com o Mar tem raízes históricas, e o mar moldou o caráter, a cultura e os hábitos das gentes portuguesas. Não dei-xando de ser uma verdade, esta constatação não será hoje mais do que mera nostalgia, se não a soubermos ler naquilo que realmente nos pode proporcionar: uma identidade ma-rítima e uma predisposição para usar o mar.

A afirmação do mar Português, enquanto espaço político e estratégico, transparece como a verdadeira alternativa de que o País dispõe para garantir a sua independência e li-berdade de ação. De facto, situando-se numa

área geográfica de inegável valor estratégico, como pivot do Atlântico Norte e da ligação ao Atlântico Sul, e como centro nevrálgico de trocas comerciais, e das rotas energéticas que suportam o desenvolvimento da Europa, o controlo sobre este espaço confere centrali-dade e dimensão ao Estado.

Já numa perspetiva económica, o valor deste mar vai muito para além do potencial de exploração dos recursos naturais que en-cerra. Não sendo despiciendo recordar que o estabelecimento de novas rotas de comuni-cação marítimas pode significar um elevado potencial económico para os países ribeiri-nhos, a sua grande vantagem competitiva re-side, mais uma vez, na ideia da relação biu-nívoca entre Segurança e Desenvolvimento.

Situada numa zona do globo que une a costa Leste dos EUA, a Europa, a África Ocidental e a América do Sul, onde são reduzidos os focos de tensão e de conflitualidade, gera o ambien-te de segurança e de estabilidade ideais para o desenvolvimento de uma zona económica com um elevado potencial de crescimento, em contraponto a áreas como a Ásia Pacífico, onde os fatores de incerteza são maiores.

Desta forma, se adicionarmos à porção terrestre do território toda a extensão das águas nacionais, e se soubermos ser consequentes, edificando capacidades para vigiar, controlar e intervir nesse espaço, Portugal deixa de ser um país pequeno, tornando-se credível e rele-vante no seio das Nações desenvolvidas.

A ação do Estado no mar terá, por isso, de ser capaz de promover a governança, ga-rantir o equilíbrio e a qualidade – factores essenciais para o desenvolvimento e para a exploração sustentável –, visar a ordem e o respeito pela lei, e fomentar os valores identitários, que agreguem a sociedade, em geral, e os cidadãos, em particular, em torno de um projeto e de objetivos compreendi-dos e aceites por todos.

Será assim mais fácil investir no mar, mes-mo em contraciclo. Se não o fizermos outros o farão por nós, tirando disso os devidos di-videndos. Sempre assim foi, e não será dife-rente num futuro.

Outra linha de ação que nos poderá ajudar a concretizar os nossos objetivos de seguran-ça e defesa, é passarmos a posicionar a nossa indústria como um pilar da estratégia de segu-rança e defesa nacional. É assim que as Na-ções desenvolvidas conseguem atingir níveis de ambição considerados aceitáveis.

Permitam-me, por fim, que suscite uma questão:

Merece Portugal, um país com novecentos anos de história, não saber na atualidade para que servem a Defesa e a Segurança?

Luís Carlos de Sousa PereiraCMG

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NTM CREOULABODAS DE DIAMANTE, TEMPERADAS COM SAL E VENTO

NTM CREOULA

O Creoula comemorou durante o ano de 2012 as suas bodas de diamante pelos seus 75 anos de história, o que faz dele

o navio mais antigo da Marinha atualmente em operação. Estas bodas de diamante estão natural-mente temperadas com sal e vento pelas mais de 100.000 milhas navegadas e pelos cerca de 16.000 instruendos (homens e mulheres civis) que recebe-ram formação marinheira nestes 25 anos ao serviço de Portugal, como Navio de Treino de Mar (NTM).

No período operacional de 2012, o Creoula esteve empenhado durante quase 1500 horas de missão, tendo percorrido cerca e 4.260 milhas náuticas durante 750 horas de navega-ção. Embarcou um total de 328 instruendos e praticou seis portos nacionais e um estrangeiro, além de dezenas de fundeadouros. O Navio foi igual-mente visitado por cerca de 61.000 pessoas, nos diferentes portos onde esteve aberto a visitas.

Antes de iniciar a atividade opera-cional propriamente dita, o navio foi sujeito a um período de treino pró-prio, de 12 a 16 de março, em que permaneceu no Mar da Palha, tendo realizado o aprontamento de todos os sistemas e condições de bordo. Posteriormente, foi submetido a uma Avaliação dos Padrões de Pronti-dão (APP) e ao subsequente Plano de Treino Específico (PTE), que foi conduzido pela Equipa de Avaliação do CITAN (EACITAN), permitindo à guarnição do navio um adequado nível de co-nhecimento e confiança, especialmente no de-sempenho em condições de emergência.

No dia 21 de março, o navio estava pronto para iniciar as suas missões, tendo de imediato realizado uma viagem de dois dias de treino de mar com os associados do Clube Náutico dos Oficiais e Cadetes da Armada (CNOCA), antes do início da operação com as entidades externas que se candidatam a embarcar no navio.

No dia 11 de abril, a Secretária de Estado do Turismo, Dra. Cecília Meireles, visitou o navio e recebeu a bordo a equipa de atores do filme “Ni-ght Train to Lisbon” cujas gravações decorreram em Lisboa. Marcaram presença os atores Jeremy Irons, Charlotte Rampling e Bruno Ganz, que mui-to apreciaram o navio e a sua história.

De 3 a 6 de maio embarcaram pela primeira vez, os alunos do Colégio Pedro Arrupe, colégio com vocação marítima e que possui o mar como tema fulcral do seu currículo. A navegação decorreu na área de Setúbal, tendo o navio praticado aquela barra e fundeado durante um dia, junto a Tróia.

CREOULA E AS COMEMO-RAÇÕES DO 75º ANIVER-SÁRIO

Para comemorar o septuagésimo quinto ani-versário do Creoula, e o vigésimo quinto como

Navio de Treino de Mar ao serviço da Marinha, o navio atracou de 6 a 14 de maio na Marina do Parque das Nações a convite desta.

No dia 10 de maio, decorreu a bordo a cerimó-nia militar oficial dos 75 anos, que foi presidida pelo Contra-Almirante Comandante da Flotilha em representação do Almirante Chefe do Estado--Maior da Armada, tendo sido descerrada uma placa alusiva à efeméride. Seguiu-se um almoço na Câmara de Oficiais com os antigos coman-dantes do navio, presidido pelo Vice-Almirante Vice-chefe do Estado-Maior da Armada.

Ainda no mesmo dia, realizou-se a bordo um pôr-do-sol com diversos convidados. De salientar que este evento foi realizado numa parceria com

a Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS), no sentido de se promover e di-vulgar produtos portugueses e o que se faz de me-lhor em Portugal, tendo contado com a participa-ção dos seguintes produtores: Maló Tojo, Sivipa e José Maria da Fonseca. Aliás, estes produtores viní-colas da região de Setúbal aceitaram prontamente um desafio lançado pela Marinha Portuguesa, em que cada um produziu um tipo de vinho com o nome “CREOULA 75” alusivo ao aniversário. O resultado desta parceria foram 4 vinhos diferentes sendo estes: Vinho Tinto 2010 e Vinho Tinto Re-serva 2009, ambos da Maló Tojo, Vinho Branco de José Maria da Fonseca e Moscatel Roxo da Sivipa. Contou-se igualmente com a parceria da prestigiada marca de sabonetes portugueses Ach Brito/Claus, a qual produziu um sabonete com a imagem e logótipo dos 75 anos do navio.

Os festejos revestiram-se de especial significado entre os dias 09 e 12 com a presença do navio gé-meo do Creoula, o “Santa Maria Manuela”, facto que já não acontecia há mais de três décadas, bem como a presença das embarcações da Marinha do Tejo e a animação de rua do Chapitô, proporcio-nando, todos eles, uma excelente imagem no rio Tejo e uma boa oportunidade para visitar ambos os navios que estiveram abertos a visitas. Foram igualmente efetuadas diversas atividades a bordo e em terra, numa parceria com o Pavilhão do co-

nhecimento- Ciência Viva e com o “Kit do Mar”. Pelo Creoula passaram cerca de 8 mil visitantes.

De 4 a 10 de junho, o navio participou na ex-pedição de mergulho ”Nautilus” ao banco do Gorringe, nomeadamente aos montes submari-nos Gettysburg e Ormonde, embarcando igual-mente investigadores que recolheram diversa informação da fauna e flora do local.

De regresso ao porto de Lisboa, houve ainda tempo para marcar presença na largada da rega-ta Volvo Ocean Race.

Seguidamente, de 2 a 10 de julho, embarcou pela 3ª vez consecutiva um grupo de jovens da Bee - Aventura em movimento, tendo o navio escalado o porto de Portimão.

CREOULA NAS GRANDES REGATAS

O navio participou igualmente na TALL SHIPS RACE 2012 ten-do embarcado para o efeito 52 instruendos da associação Portu-guesa de vela (APORVELA), dos quais 25 eram escuteiros prove-nientes dos Açores (numa parce-ria com a APORVELA, e o apoio da Marinha Portuguesa) que as-sim realizaram a atividade regio-nal “Mar que nos Une VI”. Dos 25 escuteiros 19 eram jovens ca-renciados e/ou em risco, a quem

foi proporcionada uma experiência única no âmbito da responsabilidade social do programa “Jovens e o Mar”.

Atracados no porto de Lisboa, de 19 a 22 de julho, estiveram 47 grandes veleiros que partici-param igualmente na tirada Lisboa-Cádis desta regata mundial. O NTM Creoula obteve neste porto o prémio para o melhor desfile das tripula-ções. O navio esteve igualmente aberto a visitas tendo recebido a visita de inúmeras escolas e en-tidades, num total de 30.828 visitantes.

Já no porto de Cádis, juntaram-se mais 20 ve-leiros. A largada na bacia daquele porto ocorreu no dia 29 de julho, tendo os 4 veleiros portu-gueses Creoula, Sagres, Santa Maria Manuela, e caravela “Vera Cruz”, navegado em conserva, numa inédita e magnífica imagem da maritími-dade Portuguesa.

O Creoula esteve igualmente presente no “Ílha-vo Sea Festival”, (enquadrado na comemoração dos 75 anos do Museu Marítimo de Ílhavo) junta-mente com outros 17 grandes veleiros oriundos de 9 países, que aproveitaram o festival para fa-zer escala na tirada de Cádis para La Corunha. Este festival foi uma excelente demostração da capacidade portuguesa de bem receber os gran-des veleiros, com uma magnífica organização, onde tudo foi pensado de forma a assegurar aos navios todas as condições.

Durante a estadia em Ílhavo, o Presidente da Câ-mara Municipal de Ílhavo, Dr. José Ribau Esteves, foi condecorado peloo Almirante CEMA, com a

Creoula em primeiro plano, Sagres e Santa Maria Manuela

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REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2013 9

Medalha Naval Vasco da Gama. Nesta cerimónia, foi igualmente lançado pelos CTT um selo come-morativo do 75º Aniversário do Creoula,, que será complementado com a edição de um livro em 2013. A Casa de vinhos Dª Berta apresentou nessa cerimónia um conjunto de vinhos (Branco e Tinto) alusivos ao aniversário do Navio, tendo igualmen-te a Casa Santa Eufémia apresentado um Vinho do Porto comemorativo do 75º aniversário.

De salientar o facto dos três “irmãos” Creoula, Santa Maria Manuela e Argus terem estado atra-cados no mesmo cais, acontecimento que já não sucedia há largas dezenas de anos e que muito foi apreciado pela população da zona de Ílhavo, contribuindo essa imagem para, inevitavelmente, reavivar aos ainda vivos e familiares, os tempos difíceis da pesca do bacalhau.

CREOULA COMO UNIVERSIDADE ITINERANTE

O Creoula converteu-se, como já vem sendo hábito, na Universidade Itinerante do Mar (UIM), sob o tema “O Oceano Ibérico. Os Açores, uma ponte na conexão Americana”. Um projeto que ocorreu pela 7ª vez a bordo do Creoula, tendo como promotores a Universidade de Oviedo, a Universida-de do Porto e a Escola Naval.

A Universidade Itinerante do Mar é uma plataforma de cooperação euro-peia dirigida a estudantes universitá-rios e pré-universitários. Esta iniciativa tem como objetivo aproximar do mar estudantes de várias origens, e levá--los a descobrir também o valor do trabalho em equipa e a partilha de dificuldades e de projetos, visando a promoção da identidade marítima de estudantes portugueses e espanhóis, através de uma experiência única de contacto com o Mar e do conhecimento sobre as suas potencialidades, atividades e cultura.

Para o efeito, embarcaram 46 instruendos de nacionalidades Portuguesa, Espanhola e Brasi-leira, dos quais 4 cadetes da EN, acompanhados por 8 professores.

Esta viagem teve como itinerário Ílhavo- Santa Maria-Ponta Delgada-Horta-Lisboa e permitiu evocar um conjunto de temáticas relevantes desde o posicionamento geoestratégico do arquipélago nas relações entre a América do Norte e a Europa até ao aproveitamento dos potenciais recursos do mar profundo e ainda projetos de desenvolvimen-to local e regional valorizadores do recurso Mar. Devido à passagem do furacão “Gordon”, a esta-dia em Santa Maria teve de ser cancelada, devido ao facto das condições meteorológicas não terem permitido a chegada do navio em tempo.

Durante esta missão, foram realizadas 493 horas de missão, das quais 312 horas de navegação, per-corridas 1936 milhas, efetuadas 12 conferências, 19 palestras, 13 aulas teóricas, 4 exercícios e 80 quartos.

Estes expressivos números, exprimem a von-tade e dedicação de “Formar Navegando” e de utilizar toda a capacidade formativa no Mar em ambiente “on Job”, pois o Navio de Treino de Mar Creoula é uma plataforma que permite o encontro de dois mundos, o militar e o aca-démico, proporcionando espaço para o trabalho,

aprendizagem e lazer, assente num forte espírito de equipa e salutar convívio.

Importa mencionar e agradecer o apoio presta-do ao navio pelo CZMA e Autoridade Marítima quando este esteve em águas da Zona Marítima dos Açores.

No dia 11 de setembro, decorreu a bordo, a cerimónia de entrega de Comando, tendo o Ca-pitão-de-fragata Nuno Maria D’Orey Roquette Cornélio da Silva entregue o comando ao seu su-cessor, Capitão-de-fragata José Zacarias da Cruz Martins, numa cerimónia presidida pelo Coman-dante Naval, VALM Monteiro Montenegro.

CREOULA COMO PLATA-FORMA DE APOIO À INVES-TIGAÇÃO CIENTÍFICA

Pelo 3º ano consecutivo, o Creoula transfor-mou-se em navio de apoio à investigação cien-tífica ao embarcar a equipa de investigadores da Estrutura de Missão para a Extensão da Pla-

taforma Continental (EMEPC), no âmbito do programa M@rbis (Marine Biodiversity Infor-mation System). A missão, que decorreu de 17 a 30 de setembro, teve como destino o arqui-pélago das Berlengas, com vista à inventaria-ção e caracterização das espécies e cartografia dos seus habitats, de forma a complementar a pouca informação atualmente existente.

Com efeito, embarcaram a bordo do Creou-la, 69 cientistas de 24 instituições, das quais 6 estrangeiras, o que permitiu a realização de 64 mergulhos (até aos 35 metros de profundida-de, em que cada mergulho era composto por 5 mergulhadores), num total de 195 horas de mergulho.

Estas operações de mergulho foram pla-neadas e supervisionadas por uma equipa de mergulhadores profissionais especializados em mergulho científico, por forma a garantir a preparação e execução dos mergulhos em segurança.

Importa referir as visitas a bordo efetuadas pelo Presidente da Câmara Municipal de Pe-niche, Dr. António José Correia, e do Secretário de Estado do Mar, Comandante Manuel Pinto de Abreu, que acompanhou pessoalmente e de forma informal o último dia de trabalhos no local.

Esta missão de relevante importância para Portugal, que constitui igualmente um contri-buto da Marinha para o desenvolvimento cien-

tífico e cultural do país, teve um forte impacte mediático e permitiu efetuar no programa M@rbis, cerca de 10.000 novos registos de orga-nismos, dos quais 120 são espécies que não se sabia existirem naquele arquipélago, sen-do alguns deles completamente novos para a ciência.

CREOULA COMO NAVIO DE LARGADA DA REGATA PANERAI TRANSAT CLASSI-QUE 2012

No dia 2 de dezembro, o Creoula foi o navio de largada da regata Panerai Transat Classique 2012, a convite do Clube Naval de Cascais, com o apoio da Câmara Municipal de Cascais e da Marina de Cascais.

O Presidente da Câmara de Cascais, Dr. Car-los de Jesus Carreiras, deu através da sereia do navio o sinal de partida daquela que é conside-rada a única regata transatlântica de barcos clás-

sicos, levando a frota de embarca-ções clássicas e vintage a percorrer as cerca de 4000 milhas através do Oceano Atlântico até à ilha de Barbados, nas Caraíbas.

CREOULA E O FUTURO

Após 75 anos sempre ao serviço de Portugal, o Creoula continua a representar a ligação viva de um passado da maior importância his-tórica a um presente de serviço no mar e à formação dos Portugueses, na perpetuação de uma tradição marítima sem igual no mundo, proporcionando aos jovens o con-

tacto com o mar e a experiência de vida a bordo de um navio.

O Creoula, caso único no mundo em que uma guarnição militar promove a formação da comunidade civil, vem cumprindo com suces-so, há 25 anos, a missão de desvendar o mar aos Portugueses. O reflexo desse sucesso é o amplo conjunto de referências e relatos elogio-sos oriundos das mais diversas fontes, nomeada-mente das entidades que estiveram associadas às missões do navio, dos 61 mil visitantes rece-bidos a bordo, das autoridades locais dos portos nacionais e internacionais praticados e, sobretu-do, de todos quantos tiveram a oportunidade de embarcar no NTM Creoula.

Ou seja, o Creoula é hoje um vetor real, é o navio que “passa das palavras aos atos” contri-buindo para o despertar e estimular de vocações marítimas entre os nossos jovens, pois serão eles que deterão no futuro responsabilidades naqui-lo que seremos como País, no quadro do de-sempenho das respectivas funções profissionais, sendo por isso da primordial importância dar prossecução à sua existência, dinamizando a sua utilização, por forma a oferecer, como tem sido seu apanágio, um inestimável contributo à Marinha e, consequentemente, ao País.

Colaboração do COMANDO DO NTM CREOULA

Da esquerda para a direita, Creoula, Santa Maria Manuela e Argus

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MARÇO 2013 • REVISTA DA ARMADA10

VISITA A UM SUBMARINO EM PARISCONTRIBUTOS E BOAS PRÁTICAS DUMA EXPOSIÇÃO

Na altura em que se comemoram em Portugal os 100 Anos da Arma Sub-marina, é oportuno debruçarmo-

-nos sobre algumas ideias museológicas na perspectiva do aproveitamento dos Sub-marinos Barracuda e Delfim que, como é do conhecimento púbico, foram dispo-nibilizados pela Marinha Portuguesa para eventual exposição estática.

Encontra-se exposto, a Norte de Paris, na “Cité des Sciences de la Vilette”, o Submari-no Francês Argonaute (S.636), do tipo “Arthé-tuse”, com características muito semelhantes às dos Submarinos Portugueses da classe Albacora, acima referidos. Este Submarino “Parisiense” foi alvo duma interessante inter-venção museológica, cheia de ensinamentos para os projectos de musealização que vie-rem a ser preparados em Portugal.

A visita e as soluções museológicas en-contradas para o Submarino Argonaute chamaram a nossa atenção e fundamenta-ram este pequeno artigo.

O PROJECTO MUSEOLÓGI-CO DO SUBMARINO FRAN-CÊS ARGONAUTE

O Argonaute foi construído em 1957, nos Estaleiros de Cherbourg. Submarino anterior e de dimensões inferiores aos submarinos franceses da classe Daphnée (e portanto tam-bém aos nossos submarinos da classe Alba-cora), tem 49 m de comprimento para 543 toneladas. Esteve ao serviço da Marine Na-tionale de 1958 até 1982. Durante 24 anos totalizou 32.700 horas de imersão (ou seja, o equivalente a 10 voltas ao Mundo). Em 1988, a AmerAmi, Associação de Utilidade Pública ligada ao Museu da Marinha de Paris, conse-guiu que o submarino, depois de abatido ao serviço, fosse classificado como Património Marítimo Francês, salvando dessa forma os restos do navio.

Em Outubro de 1989, com o apoio do Ministério da Defesa Francês, o Parc da Vi-lette, a Cité des Sciences et de l´Industrie e o patrocínio de uma dezena de empresas ligadas ao sector da Construção Naval, o Argonaute foi transportado do Arsenal de Toulon até à “Cité des Sciences de la Vilet-te” em Paris, por mar e por via fluvial. Após trabalhos de reparação do casco e de prepa-ração no interior para fins museológicos, o submarino Argonaute foi transportado na sua integralidade. Sustentado por 16 flutuadores, foi rebocado por mar ao longo das costas Es-panholas e Portuguesas, até ao Porto do Havre

onde foi depois rebocado pelo Rio Sena e pe-los canais fluviais até Paris. A Torre do Subma-rino foi desmontada para que pudesse passar por debaixo das pontes do Sena. Em Paris, o

casco foi levantado do Canal de l´Ourq, assen-te num trenó com 96 rodas e transportado até à sua “nova doca”, na Vilette.

Aí, desde então, assume uma nova função: a de testemunho da história dos submarinos e dos submarinistas Franceses.

Em 1998, o núcleo museológico constituído pelo Submarino Argonaute, recebeu o Troféu do Organismo Britânico “World Ship Trust”, ga-lardoado pela qualidade do seu projecto.

Hoje, constitui sem dúvida um pólo muito atractivo e de grande sucesso. Para memó-ria, em Junho de 2007, o Argonaute regista-va 2 milhões de visitantes, com uma média de 340.000 visitas por ano.

A VISITA AO INTERIOR DO ARGONAUTE

A visita ao submarino comporta três mo-mentos principais: uma aproximação do na-vio, exposto ao ar livre, assente em base de betão e sustentado por pilares de aço (Fig. 1), num espaço que não deixa de fazer sugerir uma doca seca; o segundo tempo consiste num percurso pelo interior do Argonaute da ré para vante, seguida por uma visita com-plementar ao Edifício de Apoio/Centro de Interpretação que flanqueia o navio e pelo qual se faz a entrada no pólo museológico.

Na entrada, no primeiro piso do Edifício de Apoio (Fig. 2), o visitante pode adquirir um bilhete em distribuidor automático, mediante o pagamento de 3 Euros (essa entrada é independente do resto da visita da “Cité des Sciences” de la Vilette). Após aquisição do bilhete, o visitante desce pelas escadas até ao piso térreo, onde um funcio-nário lhe fornece um audiofone que o vai guiar ao longo da visita individual que vai efectuar no interior do Argonaute (explica-ções disponíveis em Francês, Inglês, Espa-nhol e Italiano).

Após passar por baixo do casco do sub-marino, por um corredor vedado (que ser-ve para organizar as filas de espera em dias de grande afluência), o visitante sobe nova-mente uma escada metálica que dá acesso a uma porta recortada no casco do Argo-naute. A entrada faz-se a estibordo e na altu-ra do compartimento do posto a ré, no caso do Argonaute, o dos motores eléctricos (Fig. 3). Por razões de segurança, não nos foi per-mitido fotografar ou filmar a bordo do Argo-naute, sendo a visita monitorada do exterior por um sistema de video-vigilância.

Alguns apectos do arranjo interior são de salientar: ao longo do corredor central, foi

colocado um corrimão de metal que resguarda e veda a passagem do visitante para outras zo-nas que não estejam programadas. Foram utili-zadas placas de vidro no piso do corredor do submarino, que permitem observar elementos e compartimentos inferiores, como por exem-

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REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2013 11

plo os motores diesel, situados por debaixo do posto de comando, ou o reduzido espaço da cozinha. As cabinas e compartimentos situa-dos de um lado e de outro do corredor central encontram-se abertos, mas resguardados do visitante por portas de vidro. No seu interior foram introduzidos alguns objectos em ex-posição estática que ajudam a perceber a vida dos marinheiros a bordo. Por exemplo, na cabina do Comandante, está pendurada uma farda e, na mesa de trabalho, coloca-do um compasso, uma carta e um boné de oficial. Mais à frente, no pequeníssimo com-partimento da copa, foram colocados pratos e talheres que fizeram parte da baixela do Argonaute. Nos pequenos espaços utilizados a bordo para armazenagem estão arrumados víveres (conservas, caixas de madeira com réplicas de legumes, frutas, e alguns enchi-dos pendurados!). No Posto de Comando de Operações, alguns painéis de instrumentos próximos do corrimão que delimita a visita estão também recobertos por placas de vidro.

Em quase todas as secções do submarino Argonaute foi colocado um écran multi-média, no qual desfilam imagens a preto e branco, fotografias dos anos 1960 que re-lembram a vida a bordo dos membros da guarnição. No posto Avante, a zona dos be-liches das praças e dos torpedos (idêntico ao dos nossos Submarinos da classe Albacora), pode observar-se um torpedo de 550 mm L3, semi-introduzido no seu tubo. Aliás, no exterior do submarino, uma das comportas lança-torpedos encontra-se entreaberta, per-mitindo ao visitante observar o tubo (Fig. 4) .

Terminada a visita do interior do submari-no, o visitante desce as escadas e penetra de novo no edifício de apoio, onde entrega o equipamento áudio.

A VISITA AO EDIFÍCIO DE APOIO

O Edifício de Apoio, com cerca de 200 m2, constitui um núcleo explicativo e interpreta-tivo dedicado à história da Arma Submarina Francesa, aos equipamentos técnicos e à vida a Bordo dos Submarinos da Marine Nationale.

Na primeira sala, figura um mural que conta cronologicamente a história mundial e a evo-lução da Arma Submarina ao longo destes 200 últimos anos (Fig. 5). No lado oposto des-se corredor, foram colocadas por ordem cro-nológica um conjunto de maquetas que mos-tram os primeiros submersíveis e submarinos utilizados pela Marinha Francesa, desde os antepassados “Gymnote” aos modernos sub-marinos nucleares da classe Rubis, passando pela classe Redoutable, primeiros submarinos franceses equipados de mísseis balísticos.

Na segunda sala, constituída por um auditório, o visitante pode visionar um documentário sobre

a concepção, construção e testes do submarino nuclear de ataque francês Le Triomphant.

O terceiro e último espaço da visita comporta uma série de painéis e de fotografias compara-

tivas sobre as condições de vida das guarnições a bordo do Argonaute, submarino do anos 1960, e dos modernos submarinos nucleares

de ataque franceses da classe Rubis. Nessa sala, o visitante pode igualmente simular a partir duma consola interactiva, e de forma lúdica, a pilotagem e a imersão do Argonaute. Tem

igualmente à sua disposição o periscópio do submarino, que aliás comunica com o ar li-vre pelo terraço situado à superfície do Edifí-cio de Apoio (Fig. 6). Munido do periscópio, o visitante pode “observar” as imediações do Submarino na “Cité des Sciences” de la Vi-lette. Na última sala, e já no final do percurso da visita, estão igualmente expostos um fato de resgate para as guarnições dos submari-nos franceses, uma escotilha do submarino Argonaute, bem com uma célula de baterias e um torpedo de fabrico francês L3 de 550 mm utilizado nos anos 1960 e 1970 a bordo dos submarinos e outros navios da Marine Nationale .

AS "BOAS PRÁTICAS" DA EXPOSIÇÃO DO ARGONAUTE

No final da visita, ficamos com a sensação dum conjunto museológico muito bem con-seguido, bem organizado e muito didáctico. Alguns aspectos a salientar prendem-se com:

- O acompanhamento audio-visual (durante a visita interna ao submarino Argonaute, com explicações disponíveis em várias línguas);

- Arranjos interiores que retratam alguns as-pectos das condições de vida a bordo;

- Edifício de Apoio muito bem organizado, onde convivem elementos históricos com elementos técnicos próprios do submarino Argonaute (Periscópio, Baterias, Torpedo etc.), numa perspectiva de exposição estática e de utilização interactiva de alguns elemen-tos pelo visitante;

- Interessante comparação entre as condi-ções de vida no interior dos submarinos fran-ceses da década de 1960 com as das últimas unidades operacionais da Marine Nationale.

Dr. Paulo Santos

Legendas das Figuras:

Fig.1: Aspecto exterior do Submarino “Argonaute” e do seu Edifício Museológico, na “Cité des Sciences da la Vilette”, em Paris.Fig. 2: Entrada do Polo Museológico do “Argonaute”, pelo Edifício de Apoio/Centro de Interpretação.Fig. 3: O acesso para visita do interior do “Argonau-te” faz-se à Popa, por escadas de metal e porta re-cortada no casco.Fig. 4: Submarino visto de Proa.Fig. 5: Interior do Edifício de Apoio/Centro de Inter-pretação: Sala 1: Mural cronológico e exposição de Maquetas.Fig. 6: Exterior do Edifício de Apoio, vara do Periscópio. Este pode ser operado pelo visitantes, a partir do nível inferior.

N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.

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MARÇO 2013 • REVISTA DA ARMADA12

Encontra-se em fase final de preparação para integração no dispositivo naval o NRP João Roby após terminar a Revisão

Intermédia/Docagem (RI/DO10) que decorreu nestes últimos 8 meses.

A RI/DO10 iniciou-se em abril de 2012, tendo compreendido alagem, tratamentos de superfície, nomeadamente, roda de proa, obras vivas, obras mortas, convés e superestruturas, casas de ventila-ção e totalidade de porões/tanques/espaços vazios, substituição de chapa (cerca de 150m2), substitui-ção dos antigos grupos eletrogéneos por novos gru-pos electrogéneos, revisão dos motores principais, grupos de ar condicionado, frigoríficas e ventilação, revisão geral às peças de artilharia e a algumas áreas de habitabilidade e bem-estar de que se salienta a modernização das casas de banho das praças. Esta RI apesar de necessária (atenta a idade do navio com quase 38 anos, a com-pletar em 18 de março) e planeada, tinha vindo a ser adiada, terminando um período operacional de 8 anos, ga-nhando nos meses que antecederam a reparação evidências da sua necessida-de, que culminou na imobilização do navio decorrente de uma avaria grave nos grupos eletrogéneos.

Motivada pela conjuntura socio-económica nacional com inerentes reflexos na Marinha, a RI decorreu de forma inovadora, não só devido aos li-mites orçamentais impostos que obri-garam a que um elevado conjunto de trabalhos fosse efetuado em 1º e 2º escalão por elementos da guarnição ( razão pela qual se manteve a lotação normal), mas também devido ao curto prazo imposto para a sua realização (aproximadamente 8 meses) as-sim como decorreu com o novo modelo privado da Arsenal do Alfeite, SA (AA,SA).

Os preparativos de afinação da lista de traba-lhos, nomeadamente em trabalhos a realizar na alagem, foram efetuados enquanto decorria o processo administrativo para aprovação da RI (que requereu a aprovação pelo Tribunal de Con-tas e pelo Primeiro-Ministro através do seu despa-cho n.º 2466/2012, de 13 de fevereiro de 2012). Destes, salientam-se a trasfega de todo o com-bustível, óleo, víveres, apósitos e equipamentos de saúde, munições, armamento, material desal-fandegado, jangadas pneumáticas, embarcações, palamenta e sobressalentes de modo a que o na-vio ficasse no estado de deslocamento leve, bem como a deslocalização da guarnição para uma coberta da base (asilantes) e para as Instalações para Navios em Fabricos no Arsenal (INFA), onde foram criadas oficinas, gabinetes de trabalho e vestiários. A permanência da guarnição nas INFA, local próximo do navio em fabricos, constituiu-se como determinante para o sucesso do projecto.

Com o início da reparação em abril decorre-ram essencialmente a desmontagem e retirada de equipamentos de bordo para reparação nas oficinas da AA, SA, a que se sucedeu a ala-gem no plano inclinado nº1 da AA, SA, entre 10 de maio e 28 de setembro, com limpeza

por hidrodecapagem, medição de espessura de chapa, substituição de chapa e pintura das obras vivas. Desde a reflutuação e até ao final da reparação, decorreram as montagens dos equipamentos a bordo e as provas de receção, a que se seguiram as provas de mar e posterior correção de “não conformidades”.

Apesar da natureza da missão, penosa por ser longe do campo da honra para os marinheiros – o mar, necessária no ciclo de aprontamento de uma unidade naval, efetuada num tão curto período dis-ponível, a RI decorreu num estreito relacionamen-to, de que se salienta o profissionalismo e sinergias criadas, entre a Direção de Navios (DN), Direção de Abastecimento (DA), Flotilha, Esquadrilha de Es-coltas Oceânicos (EEO), AA,SA e a guarnição, con-tribuindo estes fatores de forma determinante para

que o objetivo fosse atingido e considerado um sucesso, pese embora as normais vicissitudes e im-ponderados inerentes a um projeto desta dimensão e complexidade, mas que foram debeladas casuís-tica e atempadamente. De referir também a impor-tância de ter sido colocado à disposição do navio durante toda a RI um transporte (pela Direção de Transportes) que possibilitou a deslocação de uma elevada e constante quantidade de material entre o navio/INFA/DA/SANFLOT/EEO.

Para a sua concretização salienta-se a criação de uma estrutura organizacional interna robusta, com envolvimento de toda a guarnição, que permitiu o permanente, e rigoroso, acompanhamento e con-trolo dos trabalhos (Controlo de Avanço de Obra – CAO) realizados a bordo que frequentemente se prolongaram amplamente fora do horário nor-mal de serviço, com a ininterrupção dos trabalhos durante toda a estação de verão, não obstante as condições muito adversas vividas (com temperatu-ras no interior do navio por vezes intoleráveis), com o navio sem água, ventilação, elevado ruído, resí-duos e cheiros provenientes da reparação, a que acresce as instalações improvisadas para pernoita do grupo de serviço (próximo do navio, nas antigas instalações da Inspeção de Reparação de Subma-rinos - IRS), não climatizadas, de modo a assegurar a prontidão e segurança LA do navio, e uma célere intervenção em caso de sinistro.

Um dos aspetos relevantes para o sucesso deste projeto foi a sua gestão pela DN controlado pelo

coordenador de navios, da DN, em estreita co-laboração com o gestor de projetos, da AA, SA e com a estrutura organizacional criada pelo navio para o efeito do CAO. Foram realizadas formal-mente 37 reuniões de coordenação (periodicida-de semanal e normalmente às quintas-feiras de manhã) que deram origem a mensagens de coor-denação que reflectiam os aspetos do projeto tais como os relacionados com a segurança e o estado das diversas atividades macro do projeto (cerca de 270) bem como os aspetos logísticos relacionados com o fornecimento de sobressalentes (cerca de 1850). Para além das reuniões formais foram reali-zadas outras reuniões sectoriais (muitas vezes mais do que uma por dia) visando a resolução imediata da situação, o que se veio a constituir como um dos aspetos mais importantes pelo facto de ocorrer

a tomada de decisão quase sempre em tempo útil.

Para além do acompanhamento e apoio dos trabalhos da AA, SA, são de realçar outras ações, que o navio teve de realizar, tais como a retirada da grande maioria do material de bordo (equipamentos, palamenta e sobressa-lentes), a reabilitação das INFA que se encontravam num estado de degra-dação avançada, obrigando à recu-peração pela guarnição dos espaços de vestiários, gabinetes de trabalho, espaços comuns e casas de banho (estas com auxílio da DN e AA, SA), e improvisação de oficinas que per-mitissem efetuar os trabalhos de 1º escalão, e inúmeras intervenções em

equipamentos e espaços de bordo, nomeadamen-te em todos os paióis, ponte e casas de banho, bem como a inventariação, identificação de todos os sobressalentes e a centralização da sua gestão no serviço de abastecimento. Acresce às dificuldades já relatadas, o facto de a guarnição ter estado sujei-ta a um número reduzido de divisões de serviço, motivado por dificuldades no completamento da guarnição concomitantemente com um elevado número de substituições temporárias que efetuou (cerca de 35), fatores que mais uma vez enaltecem o desempenho exemplar dos seus elementos, de que se salienta o excelente espírito de camarada-gem, entreajuda e motivação evidenciados.

Esta postura, de pro-atividade, de disponibilidade e de vontade de bem servir, que constitui apanágio da 21ª guarnição do NRP João Roby cujo motto é “DIFERENTES NO FAZER”, foi por diversas ve-zes transmitida por responsáveis da DN, AA, SA e chefias da Marinha, tendo sido reconhecido publi-camente mediante a atribuição de um louvor cole-tivo avocado pelo Comandante da Esquadrilha de Escoltas Oceânicos.

Depois deste esforço por parte da Marinha, o NRP João Roby regressa “ao ativo” com melhores equipamentos, fiabilidade e condições de habitabilidade, necessários para o prolongamen-to do período operacional e da sua longevidade.

Colaboração do COMANDO DO NRP JOÃO ROBY

O RENASCER DA JOÃO ROBY

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REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2013 13

CIBERSEGURANÇA E CONHECIMENTO SITUACIONAL MARÍTIMO

Já é lugar-comum afirmar-se que as Tecno-logias de Informação e Comunicação (TIC) estão em todo o lado e condicionam a nossa

vida de forma inexorável; a comunidade cujas atividades estão ligadas ao mar, não é exceção. De facto, a atividade marítima depende cada vez mais deste tipo de tecnologias, uma vez que o seu contributo é determinante para a otimização dos processos do setor, contemplando tanto as áreas ligadas diretamente aos processos a bordo dos navios, como as associadas às entidades que, em terra, apoiam esta área da economia e que vão desde os sistemas de nave-gação aos que permitem o controlo da propulsão e produção de energia dos navios, controlo de tráfego, da carga e descarga, comunicações, etc. De igual modo, são estes sistemas que permitem que o pessoal embarcado mantenha o contacto com terra através do ciberespaço, viabilizando um mais fácil acesso à informação relevante, quer para os assuntos de cariz privado, quer sobretudo para aqueles que estão associados à atividade profissional. No entanto, este contacto incrementa a exposição aos perigos que existem naquele domínio, e assim o risco associado a uma maior interação com aquele espaço, o qual amentará progressivamente com o incremento da depen-dência das TIC e com a frequência da ligação ao ciberespaço. É, assim, fundamental desen-volver uma estratégia que, contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento do que se passa no espaço marítimo de interesse nacional, mitigue os efeitos do extensivo recurso às TIC e da quase permanente ligação ao ci-berespaço.

Com este quadro em mente, o pre-sente artigo pretende partilhar algumas reflexões relativas às especificidades dos assuntos relacionados com a cibersegu-rança no âmbito dos processos que nos permitem desenvolver conhecimento situacional marítimo, incluindo algumas recomendações que contribuirão para mitigar algumas das situações que hoje se verificam.

Para isso, começaremos por referir os conceitos de Segurança da Informação, de Cibersegurança, e de Conhecimento Situacional Marítimo (CSM), o qual, devi-do à sua complexidade, será descrito com mais profundidade. De seguida, relacionaremos estes conceitos para enaltecer as características singulares e os desafios associados à cibersegu-rança no contexto dos sistemas que contribuem para o CSM. No mesmo sentido, serão referidos os resultados publicados pela European Ne-twork and Information Security Agency (ENISA) em 19DEZ11 sobre este tema1, onde se faz uma interessante e pertinente análise da situação

existente relativa à cibersegurança no contexto marítimo no universo da União Europeia (UE). No final, será apresentado um conjunto de reco-mendações que são fruto de um debate que tem sido feito sobre esta matéria na SSTI.

De acordo com a ISO 27001, “Segurança da Informação” é um conjunto de medidas e pro-cedimentos aplicados para proteger e preservar a

Informação, nomeadamente a sua confidencia-lidade, integridade, autenticidade e fiabilidade. Por outro lado, e de acordo com a International Telecommunication Union (ITU), “Cibersegu-rança” é o conjunto de ferramentas, de políticas, de conceitos, de orientações, de processos de gestão de risco e atividades de treino que, com as tecnologias, podem ser utilizadas para proteger o ciberespaço da organização e respetivos meios2.

A Marinha tem vindo a desenvolver um qua-dro doutrinário onde se define que CSM é a criação de saber acerca do espaço marítimo de ação ou de envolvimento (de interesse nacional ou conjuntural), com o objetivo de prever, identi-ficar e localizar situações de interesse e propiciar a tomada de decisões atempadas e mais infor-madas, que levem a que as ações subsequentes produzam os efeitos desejados no tempo e na

medida dos interesses de quem as toma.O espaço marítimo é complexo e tem uma

natureza multidimensional, consistindo em três dimensões, designadamente a física, a virtual e a humana. A física inclui o domínio terrestre, o marítimo (que contempla a superfície e a subsuperfície), o aéreo e o espacial. A dimen-são virtual inclui o ciberespaço e a informação

que lá circula. Finalmente, a dimen-são humana, talvez a mais complexa, leva em linha de conta os aspetos so-ciais, morais e cognitivos de todos os atores envolvidos que fazem parte da comunidade de interesse específica, uma vez que, cada pessoa, dada uma mesma peça informacional, produz juízos diferenciados e assim percebe a realidade envolvente de maneira distinta, dependente do seu quadro de valores, do conhecimento tácito que já possui sobre o assunto e também do conhecimento explícito que esteja disponível sobre o tema em apreço. Releva-se que este conceito difere do existente na NATO e denomina-do Maritime Situational Awareness (MSA), uma vez que este não inclui a

componente cognitiva e portanto a dimensão humana que o CSM contém. Enquanto que o MSA tem o seu foco na partilha e fusão da infor-mação, cuja interpretação se realizará à custa essencialmente de conhecimento tácito, e tem por finalidade a superioridade de informação, o CSM vai mais longe, abrangendo a criação de conhecimento (novo ou decorrente da transfor-mação de conhecimento tácito em explícito), a

partir da informação disponibilizada pelo MSA, cuja interpretação será reforçada substancialmente através da utilização das TIC. Estas permitirão a incorporação do conhecimento gerado no universo do saber existente, tendo por finalidade a su-perioridade de decisão, a qual será mais atempada e mais fundamentada, e em princípio com efeitos mais pertinentes. Enquanto que estar aware é estar ciente e informado e por isso pronto para rea-gir, ter conhecimento é mais do que isso pois permite prever e por isso antecipar a ocorrência de determinados aconteci-mentos. Esta subtil diferença conceptual tem um impacto muito significativo na conceção dos sistemas que contribuem para o CSM, designadamente no seu

âmbito e na sua arquitetura, pois as compo-nentes de análise, de correlação e de fusão de informação deverão ser construídas levando em linha de conta uma base de conhecimento que deverá ser capaz de ser enriquecida com as múltiplas interações que a comunidade de utilizadores suscita. Se falarmos apenas de MSA esquecemos as relevantes componentes de análise e de aprendizagem que se consubstan-

CIBERSEGURANÇA E CONHECIMENTO SITUACIONAL MARÍTIMO

Fig. 1 – Exemplos de sistemas baseados nas TIC utilizados na atividade marítima.

Fig. 2 – Partilha de conhecimento em rede.

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ciam em funções de mineração de dados (data mining) e de machine learning.

Neste contexto, uma questão fundamental que se coloca é a seguinte: Como se poderá tirar partido desta riqueza que são as diferen-tes perceções da realidade existentes numa comunidade de interesse (COI) e simultanea-mente tornarmos o processo decisório efetivo? Uma das formas de atingir aquele desígnio é através da partilha da informação e do co-nhecimento existente na COI sobre todos os aspetos relevantes alusivos à área marítima de interesse, recorrendo à utilização inten-siva mas controlada da rede. Por outras palavras, deverá utilizar-se a rede para partilha da informação e do conhecimento entre os múltiplos atores, a qual deverá ser enquadra-da pelo princípio da necessidade de conhecer e da responsabilidade de partilhar: quem detém conhecimento sobre algo deve ser responsável pela sua partilha por quem, na COI, tem necessidade de saber. É neste proces-so que a partilha de conhecimento promove uma compreensão mais profunda do ambiente operacional ou da área de interesse, tendo como base a experiência e a intuição dos decisores nos diversos escalões e a forma como cada um deles percecio-na a situação envolvente. Partilhar o conheci-mento permite aos níveis inferiores de decisão compreender a forma como os escalões mais elevados estão a interpretar a situação, o que viabiliza melhores decisões e uma mais efi-caz coordenação das ações subsequentes de todos os atores envolvidos. Em suma, partilhar o conhecimento por quem tem necessidade de conhecer permite introduzir melhorias na velocidade e na qualidade das decisões, pelo que a partilha deve ser fomentada, o que só acontecerá se alterarmos o paradigma vigente, i.e., se introduzirmos o princípio da responsabilidade de partilhar – pró--ativo, complementar ao princípio da ne-cessidade de conhecer – reativo, no qual a disponibilização da informação carece de pedido prévio. Como posso pedir algo cuja existência desconheço?

A construção do CSM obedece a um processo no qual, de forma colaborativa e recorrente, se observa a situação no espa-ço envolvente segundo as dimensões física e virtual já mencionadas. A isto correspon-de a fase de vigilância. A informação com-pilada é então analisada, correlacionada, fundida e partilhada através da rede para os atores pertencentes às agências envol-vidas e que constituem a COI, de modo a que, com base nas supracitadas caraterísticas da di-mensão humana dos intervenientes, se crie o necessário conhecimento situacional para que se suceda o processo decisório. A partir des-ta fase estar-se-á em condições de se agir de forma coordenada, o que levará ao empenha-mento articulado dos meios atinentes. Os efei-tos da ação modificarão o espaço envolvente, reiniciando-se novo ciclo no processo.

É para todos evidente que sistemas baseados em TIC são multiplicadores de capacidade neste processo de criação de CSM. Seria, aliás, muito difícil (senão impossível) fazer-se tudo isto sem o recurso à tecnologia. Todavia, este “ecossistema” de múltiplos e complexos equi-pamentos ligados em rede, aumenta o risco de ataques oriundos do ciberespaço, devendo, assim, suscitar o incremento dos requisitos de segurança desses sistemas. É neste contexto que de seguida passaremos à análise das con-clusões mais relevantes contidas no relatório da ENISA sobre este tema acima mencionado.

Os sistemas que a comunidade marítima utiliza diariamente, quer a bordo quer em ter-ra, em apoio às atividades ou operações ma-rítimas (aqui num sentido lato), são, de uma forma geral, altamente complexos, e utilizam uma ampla diversidade de tecnologias, pro-venientes de uma variedade de fabricantes de outras tantas nacionalidades.

O rápido desenvolvimento tecnológico, amiúde motivado pelo ímpeto de incremen-

tar a eficiência de todos os processos através da automatização de um grande número de procedimentos, para diminuir custos opera-cionais e assim aumentar os proveitos, leva a que as questões associadas à segurança sejam, frequentemente, relegadas para segundo plano, incrementando, assim, os riscos potenciais as-sociados, os quais devem ser geridos adequa-damente, de modo a repor o imprescindível equilíbrio entre benefícios e vulnerabilidades.

Se a este aspeto coligarmos a possibilidade da quase permanente conectividade à In-ternet de quem anda no mar, sem que esse facto seja levado na devida consideração no que concerne a cibersegurança, podemos fa-cilmente concluir que estão potencialmente criadas as condições que, se malevolamente exploradas, poderão provocar degradação ou negação do acesso a serviços que hoje são essenciais para as atividades do setor, de-signadamente os já descritos nos processos de construção e gestão do CSM.

O relatório mencionado refere ainda que, no setor em apreço, não existe uma ade-quada padronização e identificação de boas práticas que, em conjunto, garantam que os assuntos relativos à cibersegurança são devidamente considerados neste ambiente espe-cífico. Quando existem, não são consentâneas com a complexidade dos sistemas existentes, não cobrindo todos os aspetos relevantes.

Se a estes aspetos adicionarmos a multiplicidade e multinacionalidade dos atores envolvidos, os quais, quan-do a bordo, raramente são da naciona-lidade da bandeira do navio (podendo ter portanto motivações substancial-mente diferentes), podemos facilmen-te deduzir que a envolvente é particu-

larmente e potencialmente vulnerável a ataques do ciberespaço, que poderão resultar em dis-rupções do serviço com implicações considerá-veis em vários domínios.

A Maritime Security Review (www.marse-creview.com/tag/cyber-security/) documenta que o seguimento da carga e sua identificação estão a ser cada vez mais sujeitos a incidentes de cibersegurança, que resultam em perda de carga, falhas graves nos sistemas que efetuam

o respetivo seguimento e identificação e no roubo de informação relevante, que depois é utilizada para fins criminosos.

A produção de informação enganosa (in-formation spoofing) é também uma reali-dade, havendo mesmo um projeto de I&D financiado pela UE para resolver os proble-mas associados com o spoofing do sinal de GPS, que pode originar uma perceção errada do ambiente marítimo de interesse e assim ser utilizado com vantagens para quem o induz.

A ENISA também relata a inexistência de regulamentos específicos alusivos aos assuntos respeitantes à cibersegurança, designadamente o que fazer e como agir legalmente se forem sujeitos a um ciberata-que num determinado contexto marítimo.

A maioria dos regulamentos contemplando o assunto da segurança refere a sua componente física, não havendo qualquer menção explícita à componente “ciber”. Este facto é compreensível porque se constata que há, nesta comunidade, uma fraca sensibilidade para estes assuntos, o que resulta num baixo ou inexistente sentido de urgência para os estudar, tendo em vista a res-petiva resolução. Estes dois aspetos contribuem para o incremento do risco global.

Fig. 3 – A construção do CSM e a sua relação com o ciclo OODA.

Fig. 4 – Os problemas da cibersegurança no setor marítimo.

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A governação dos assuntos do mar no univer-so da UE é também difusa, desenvolvendo-se em múltiplos patamares ou níveis e lesando dois princípios fundamentais para uma ação efetiva: a unidade de comando e a unidade de esforço. Este facto implica que, em caso de ataque, dificilmente se conseguirá uma coor-denação eficaz da ação, para além de poder trazer discrepâncias significativas relativamente à forma como um mesmo assunto é tratado de uma zona marítima para outra.

Finalmente será fácil deduzir que atualmente não há uma abordagem holística a esta questão na UE em geral: os atores, que pertencem às diversas agências que constituem as comunidades de interes-se nacionais e internacionais, quando lidam com os incidentes de cibersegu-rança, fazem-no de forma eminente-mente ad hoc, com pouca ou nenhu-ma coordenação. Apenas parte dos riscos são levados em linha de conta, não se possuindo o conhecimento glo-bal da situação em que se encontram.

É, por isso, imperativo que uma abordagem holística seja efetuada, numa lógica de Cibersecurity Capabi-lity for the Maritime Community, contemplan-do todas as componentes da edificação dessa capacidade (DOTPMLII)3. Se assim não se fizer, o risco existente é demasiado grande para um setor que é determinante para a economia da Europa em geral e do nosso país em particular.

Do que foi escrito atrás, facilmente se conclui que a capacidade que hoje em dia existe no setor marítimo para fazer face a incidentes de cibersegurança é escassa, ou mesmo pratica-mente inexistente, quer nos sistemas relaciona-dos com os processos a bordo dos navios, quer nos existentes em terra para gestão da carga, descarga, ou construção do CSM, quer mesmo naqueles que envolvem processos conjuntos navio-terra.

Todos sabemos que o setor marítimo é vital para o Mundo, para a Europa e para Portugal: 90% do comércio mun-dial utiliza as SLOCS, 52% dos bens trocados na Europa em 2010 utiliza-ram o transporte marítimo e mais de 75% das exportações e importações em Portugal usam os 5 maiores portos nacionais, que recorrem ao sistema Janela Única Portuária (JUP), que é crí-tico para um eficiente processamento dos navios e respetiva carga, e con-tribui para que os portos sejam mais eficientes e, assim, mais competitivos.

Deixa-se à imaginação dos leitores o que poderá acontecer se um conjunto de pessoas mal-intencionadas atacar a JUP na-queles portos e se entretanto nada for feito com carácter de urgência para mitigar aquela situação.

O relatório da ENISA é bastante exaustivo no que diz respeito às recomendações para minimizar a situação ora caracterizada, reco-mendando-se a respetiva leitura para aprofun-damento do assunto.

Assim, e complementarmente, o que será par-tilhado com o leitor a título de recomendações

é atualmente fruto de reflexão na SSTI. Não podemos combater o facto da multiplicidade de sistemas, de nacionalidades, a sua comple-xidade, e de tudo o que escapa ao nosso con-trolo e que torna este “ecossistema” tão poten-cialmente adverso e cada vem mais complexo. Neste contexto, o que podemos preconizar é a tentativa de encapsular essa complexidade em algo que, criando um “escudo”, proteja o consumidor de informação de índole marítima da “anarquia” descrita. Como? Recorrendo ao conceito de “nuvem computacional” e pro-

movendo a criação de uma Maritime Services Cloud, a qual poderia disponibilizar vários ser-viços à comunidade de utilizadores, incluindo o Cybersecurity as a Service, para além de ou-tros, intrinsecamente relacionados com o CSM, como sejam a vigilância, a correlação, fusão e partilha da informação, o controlo da partilha, planeamento, a JUP, etc.

Na mesma linha de pensamento, podemos mesmo ir mais longe e conceber um sistema que, para além da Cybersecurity as a Servi-ce, poderia providenciar um enquadramento doutrinário (como fazer), um enquadramento organizacional e assim sucessivamente, perspe-

tivando, assim, o provimento da capacidade de cibersegurança como um serviço, em linha com a tendência de federação de serviços na rede que se observa na NATO com o Multi National Maritime Information Services (MNMIS) e na UE com o Common Information Sharing Environ-ment (CISE), no qual Portugal está amplamente envolvido com diversos participantes, sob a li-derança da DGPM, e que poderia perfeitamente ser o embrião do que aqui se propõe.

Estes são desafios para empresas nacionais do setor tecnológico, para a academia e entida-des governamentais. Vemos esta aproximação como muito promissora para o futuro.

Neste contexto, seria muito positivo ver em-presas nacionais a liderarem este processo, como foi recentemente o caso da CSW que, com o Comando Naval, DGAM, IH, SSTI e Escola Naval desenvolveram o BlueEye (www.oversee-solutions.com) vocacionado para o CSM, e que já ganhou um prémio internacio-nal de inovação.

Para que, ao nível nacional, resol-vêssemos ou reduzíssemos o impacto da governação difusa relativamente aos assuntos da cibersegurança, deve-riam ser criados Computer Emergency Response Teams (CERT) nos portos que operam a JUP, os quais deveriam envolver todos os atores relevantes do setor marítimo e fariam parte integran-te da rede de CERTS nacional já exis-tente. Com isto, seria possível que um ataque pudesse ser rapidamente de-belado ou isolado, limitando os seus efeitos perniciosos.

Finalmente, na estratégia nacional de cibersegurança que está em desenvolvimen-to, deveria ser contemplada uma parte específi-ca alusiva ao setor marítimo, atenta a sua espe-cificidade e importância para Portugal, e ainda ao facto dos portos deverem ser considerados infraestruturas críticas.

Se assim for feito, estarão criadas as condições que permitirão incrementar a sensibilidade dos decisores políticos para esta situação e assim viabilizar a sua resolução de forma global, propiciando uma maior resistência à falha que poderá ser provocada por incidentes desta na-tureza neste importante setor, imprescindível para o desenvolvimento científico, tecnológico

e económico nacional.Ter conhecimento sobre o que se

passa no espaço marítimo de interes-se nacional é uma forma de exercício da soberania. Fazê-lo com recurso a doutrina, métodos, procedimentos e tecnologias desenvolvidas nacional-mente, é um contributo para o desen-volvimento nacional. Fazê-lo, identi-ficando os problemas que advêm da exposição do setor marítimo em geral ao ciberespaço e propondo medidas para os mitigar é mais uma forma de afirmação de Portugal no Mar da nos-sa identidade.

CALM António Gameiro Marques SSTI

Notas:1 Disponível em http://www.enisa.europa.eu/activities/Re-silience-and-CIIP/critical-infrastructure-and-services/depen-dencies-of-maritime-transport-to-icts/cyber-security-aspects--in-the-maritime-sector-1. 2 Tradução livre de “Collection of tools, policies, security concepts, security safeguards, guidelines, risk management approaches, actions, training, best practices, assurance and technologies that can be used to protect the cyber environ-ment and organization and user’s assets.”.3 Doutrina, Organização, Treino, Pessoal, Material, Liderança, Infraestruturas e Interoperabilidade.

Fig. 5 – Provimento de uma Capacidade como um serviço.

Fig. 6 – Os CERT do setor marítimo na rede de CERTS nacionais.

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MARÇO 2013 • REVISTA DA ARMADA16

A MARINHA NO FINAL DA DINASTIA DE AVIS

O curto reinado do Cardeal D. Henri-que foi marcado pela incessante bus-ca de uma solução sucessória que

ultrapassasse o imbróglio em que a morte pre-matura de D. Sebastião deixara o reino. O ab-surdo e a impotência são as palavras que me ocorrem com maior propriedade para descre-ver a situação vivida em Portugal naquele ano e meio de governo. Mas para que possamos medir a sua dimensão é interessante recordar a sucessiva descendência dos reis de Portugal, desde o reinado de D. Manuel. Veremos os caprichos que o destino nos pode reservar e como são complexas e inesperadas as vias sinuosas da tragédia.

Pouco depois de subir ao trono, o “Ven-turoso” casou em primeiras núpcias com Dª Isabel, a viúva do príncipe D. Afonso, o malogrado filho de D. João II, morto prema-turamente num acidente de cavalo. Retoma-va assim o projecto de união ibérica do seu antecessor e, poucos meses depois, a rainha dava-lhe um filho, a que foi dado o nome de D. Miguel, neto dos Reis Católicos e jurado como dos reinos de Portugal, Castela e Ara-gão. O príncipe, contudo, não completaria dois anos de idade. Faleceu no ano de 1500 e está sepultado na catedral de Granada, junto ao túmulo dos seus avós.

D. Manuel voltou a casar com outra prin-cesa de Castela, a sua cunhada Dª Maria, de quem teria 10 filhos sobrevivos ao nascimen-to. O mais velho foi D. João III, rei de Portugal, seguindo-se-lhe ordenadamente Dª Isabel (a Imperatriz), Dª Beatriz (duquesa de Sabóia), D. Luís, D. Fernando, D. Afonso, Dª Maria, D. Henrique (cardeal rei), D. António e D. Duar-te. Este último desposou a filha do 4º duque de Bragança, de quem teria três filhos, entre os quais Dª Catarina que, como veremos ain-da, viria a ser uma das candidatas ao trono português, em 1580. Casou uma terceira vez e teve mais dois filhos, mas nenhum deles viveu até à crise dinástica de 1580. Por seu lado, D. João III, seu sucessor no trono, casou com Dª Catarina, irmã do imperador Carlos V, e dela teve nove filhos, entre os quais D. João, o pai de D. Sebastião.

É impressionante como duas proles tão abun-dantes, como foram a de D. Manuel e D. João III, se extinguiram de forma tão abrupta e dra-mática, marcados por um destino amaldiçoa-do. À data da batalha, da linha de descendência do rei “Venturoso” e em condições de disputar a coroa, sobravam o cardeal D. Henrique, Dª Catarina de Bragança (filha de D. Duarte) e Fe-lipe II de Espanha. A Duquesa de Bragança era filha de D. Duarte, o infante mais novo, e Felipe II de Dª Isabel de Portugal, filha de D. Manuel e imperatriz casada com Carlos V. Não é muito

fácil visualizar esta teia complexa de casamen-tos e filhos, mas entende-se que em 1578 pou-cos podiam candidatar-se ao trono português. E o mais poderoso dos candidatos não era se-quer português, o que muito afrontava os povos como nos dizem os documentos da época.

O cardeal D. Henrique foi aclamado rei de Portugal a 28 de Agosto de 1578, poucos dias depois de se ter confirmado a morte de D. Se-bastião e sem que isso merecesse qualquer con-testação. Mas a complicação futura adivinhava--se na sua idade avançada e no facto de não ter filhos. Felipe II percebera muito cedo que o

momento era dele, e trabalhou com diligência para que nada pudesse estorvar o seu caminho. No dia 20 de Agosto de 1578, ainda antes da entronização do Cardeal e logo que recebeu as primeiras notícias de Alcácer Quibir, mandou para Portugal Cristóvão de Moura com uma mensagem formal de condolências e promessas para a coroa e para o povo português, mas com uma intensa agenda política disfarçada, cujo objectivo era o de manter abertas as portas para o seu senhor. D. Henrique sabia bem das in-tenções do seu sobrinho castelhano, tanto mais que acompanhara atentamente as manobras levadas a cabo no tempo de D. Sebastião, e iria fazer o possível para evitar que a coroa lhe fosse

parar às mãos, mas a batalha era muito difícil.Cristóvão de Moura era uma figura hábil: por-

tuguês nascido na Chamusca, foi pajem da mãe de D. Sebastião e emigrou para Castela quan-do a princesa enviuvou e regressou à sua terra; tinha alguma influência na corte madrilena e, sobretudo, sobrava-lhe ambição. Uma ambição que perscrutava o seu caminho na via aberta pela contenda sucessória. Precisava de estar atento ao que ia fazendo D. Henrique de forma e transmitir as informações necessárias para que tudo fosse atrasado. Uma das primeiras decisões do cardeal foi pedir dispensa papal dos votos de celibato, para que pudesse casar e ter descen-dência, mas o tempo urgia. Cristóvão de Moura informou desse propósito Felipe II, que tratou de criar as condições para que o processo se atra-sasse em Roma. Primeiro o pedido foi recusado pelo papa, depois foi reavaliado por interposi-ção portuguesa e enviado um emissário a Lis-boa para se informar e negociar, mas os meses iam passando e o rei definhava. Todavia, a ac-ção mais decisiva do enviado de Castela desen-volveu-se junto de gente influente procurando aliciá-la para o seu partido. Os primeiros foram aqueles que D. Henrique condenou e afastou do poder acusando-os de terem fomentado a expedição africana de D. Sebastião. O mais im-portante de todos foi Pêro de Alcáçova Carnei-ro: exilado para fora da corte sem apelo, foi ele que preveniu o Secretário das diligências de D. Henrique para a sucessão da duquesa de Bra-gança. Mas houve, também, uma distinta classe de juristas que Cristóvão de Moura foi compran-do progressivamente e obtendo os fundamentos escritos necessários à garantia dos direitos suces-sórios de Felipe II. São muitos os exemplos, que incluem figuras gradas de erudição, lentes da Universidade de Coimbra e pessoas formadas em Bolonha ou Salamanca, com importantes cargos na administração portuguesa. Destaca-se o caso do Doutor António da Gama, cujo pare-cer foi comprado com um cargo no Conselho de Castela e uma tença pecuniária para o filho estudar em Salamanca. Portugal foi palco de jo-gos de poder tremendos e é difícil vislumbrar a história do reinado do Cardeal para além destes mesmos jogos. A hipótese de casar e ter filhos perdeu-se com o tempo e a doença, e a possi-bilidade de sucessão de Dª Catarina esfumou-se entre interesses mesquinhos de gente corrupta. Com poucas excepções de resistentes, as elites portuguesas foram compradas ou deixaram-se fascinar por Felipe II.

J. Semedo de MatosCFR FZ

N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.

(2)

AS TEIAS DA DIPLOMACIA IBÉRICAAS TEIAS DA DIPLOMACIA IBÉRICA

Felipe II.Ticiano – Museu do Prado.

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REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2013 17

Cooperação Técnico-Militar com Angola

A Marinha Portuguesa (MP) e a Marinha de Guerra de Angola (MGA) realiza-ram, pela primeira vez, conversações

formais entre os seus Estados-Maiores, no pe-ríodo de 19 a 22 de novembro, em Luanda.

O estabelecimento de Conversações For-mais entre Estados-Maiores, vulgo Naval Staff-Talks, traduz-se na definição de áreas de cooperação a desenvolver numa periodicidade bienal e cuja exe-cução técnica é analisada e acordada caso a caso.

A delegação nacional foi chefiada pelo CALM Cortes Picciochi e a de-legação congénere pelo VALM Jorge Correia da Silva (vice-almirante diretor da Direção de Preparação Combativa e Ensino). Esta iniciativa permitiu iden-tificar um conjunto de ações concretas a desenvolver, tendo em consideração as principais necessidades e ambições de ambas as marinhas, em particular aquelas de apoio ao desenvolvimento e afirmação da MGA.

Durante as conversações, foram discuti-das futuras áreas de cooperação de caráter técnico-naval, nomeadamente no ensino e formação, do treino, da realização de exer-cícios combinados, do desenvolvimento de apoio logístico, da doutrina, do conheci-mento situacional marítimo, do sistema de autoridade marítima e ainda cooperação cultural, e que refletem os interesses estraté-gicos e operacionais de ambas as marinhas,

No âmbito das atividades de for-mação da Academia Naval de Angola, ocorreu, no passado

dia 21 de outubro, o embarque de nove cadetes no navio-patrulha Golfinho.

Este embarque, no qual partici-param cinco cadetes da classe de Marinha e quatro da classe de Me-cânica, constituiu uma oportunida-de indispensável para complemen-tar e consolidar as aprendizagens lecionadas na Academia Naval de Angola, na sua vertente prática. O acompanhamento dos cadetes feito pelos assessores técnicos da Marinha Portuguesa, nas valên-cias de Marinharia, Navegação e Mecânica, veio reforçar e apoiar a formação dos futuros oficiais da Marinha Angolana.

O navio-patrulha, da classe Mandu-me, largou da Base Naval de Luanda na

tendo por objetivo contribuírem para o de-senvolvimento mútuo.

As autoridades navais angolanas proporcio-naram várias visitas técnicas, destacando-se: o Comando da MGA, a Base Naval e Acade-mia Naval, em Luanda; o Comando da Re-gião Naval do Sul e a Escola de Especialistas

Navais, no Lobito; a Brigada de Fuzileiros e a Escola de Fuzileiros, no Ambriz. Estas visitas permitiram à delegação portuguesa aprofun-dar o seu conhecimento sobre as capacida-des da MGA e constatar o forte empenho daquela Marinha para o desenvolvimento daquele país parceiro.

A delegação foi muito bem recebida pela MGA, a qual demonstrou uma atitude de elevado respeito pela Marinha Portuguesa e pelo trabalho que tem sido desenvolvido pe-

manhã de sábado com destino ao Norte da barra do Dande, permitindo a prática de navegação costeira, com marcação

de pontos-radar na carta, assim como a prática de marinheiro do leme e de ma-nobras de homem ao mar. No regresso, à tarde, os cadetes do 2.º ano tiveram a

los nossos militares em Angola, no âmbito da cooperação técnico-militar.

A delegação portuguesa pôde notar que o processo de reedificação em curso na MGA é um contributo significativo para a moderni-zação das Forças Armadas Angolanas (FAA): a MGA tem todo o potencial para ser uma

marinha moderna.Durante a visita houve oportunidade

de assistir a demonstrações táticas dos fuzileiros navais angolanos: as mano-bras efetuadas impressionaram pelo profissionalismo, cuidado na prepara-ção e eficácia demonstrada.

Houve também oportunidade para verificar o nível de organização, de-senvolvimento e espírito de formação dos oficiais, sargentos e praças da Es-cola de Especialistas Navais da MGA, localizada na Praia do Bebé, no muni-cípio da Catumbela.

É motivo de orgulho para a Marinha Portuguesa, o facto de o bom traba-

lho que está a ser feito na Escola Naval da MGA, em Luanda, se dever em parte aos nossos especialistas.

As conversações levadas a cabo decorre-ram num ambiente de grande cordialidade e constituíram-se um bom ponto de partida para o desenvolvimento da cooperação entre as duas marinhas no futuro próximo, tendo a próxima edição de conversações ficado agendada para Lisboa, durante o 2º semestre de 2013.

oportunidade de observar a entrada no porto de Luanda, assim como de se intei-rar da faina e das manobras de atracação

do navio. A continuidade destas ações é

indispensável para uma adequada formação dos militares angolanos, permitindo-lhes um contacto com a realidade da vida de bordo e um ganho de toda uma série de expe-riências de índole naval essenciais para a sua formação. O comando da Academia Naval de Angola está sensibilizado para a importân-cia destes embarques, pelo que se prevê que eles venham a ocorrer de forma mais frequente no futuro, proporcionando aos cadetes ango-lanos as imprescindíveis oportuni-

dades de prática a bordo das unidades navais angolanas.

Colaboração EMA-DIVRE

Cooperação Técnico-Militar com AngolaCONVERSAÇÕES FORMAIS ENTRE ESTADOS-MAIORES

DA MARINHA DE GUERRA ANGOLANA E DA MARINHA PORTUGUESA

CADETES ANGOLANOS EMBARCAM EM NAVIO-PATRULHAPROJETO N.º 8 – MARINHA DE GUERRA ANGOLANA

O CALM Picciochi recebe honras no Ambriz.

Patrulha Golfinho na Base Naval de Luanda.

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MARÇO 2013 • REVISTA DA ARMADA18

ACADEMIA DE MARINHA

TOMADA DE POSSE DOS MEMBROS DO CONSELHO ACADÉMICOTRIÉNIO 2013/2015

Teve lugar em 10 de janeiro, na bi-blioteca Teixeira da Mota, em ce-rimónia presidida pelo Almirante

Chefe do Estado-Maior da Armada, o ato de tomada de posse dos titulares dos cargos es-tatutários no triénio 2013/2015, eleitos em 30 de novembro de 2012 na Assembleia dos Académicos convocada para o efeito. O Conselho Académico ficou assim constituído:● Presidente Almirante Nuno Gonçalo Vieira Matias; ● Vice-presidente, da Classe de História Marítima – Prof. Doutor Francisco José Rogado Contente Domingues; ● Vice-presidente, da Classe de Artes, Letras e Ciências – Prof.ª Doutora Maria Raquel Viegas Soeiro de Brito; ● Secretário-geral – Capitão de mar e guerra Adriano Manuel de Sousa Beça Gil; ● Vice-secretário, da Classe de História Ma-rítima – Dr. João Abel Rodrigues Baptista da Fonseca; ● Vice-secretário, da Classe de Artes, Letras e Ciências – Capitão de mar e guerra José Manuel Malhão Pereira.

No seu discurso de tomada de posse, o Almirante Vieira Matias disse:

É meu dever de gratidão dar as boas vindas à Academia de Marinha ao Senhor Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e agrade-cer-lhe a disponibilidade para presidir a esta cerimónia de tomada de posse do Presidente e dos detentores dos demais cargos estatutários, conferindo, assim, especial relevância e digni-dade a este acto de alcance trienal.

Muito honrado estou, igualmente, pela pre-sença dos senhores presidentes das acade-mias, num gesto de nobre amizade para com a Academia de Marinha, e também, se me é permitida a interpretação, de consonância no propósito de valorizar tudo o que diga respeito ao Mar Português.

Grato fico também pela vinda até à Acade-mia, em horário não usual, das senhoras e dos senhores Académicos que quiseram, com a sua presença, conferir identidade ao voto anó-nimo e dar-lhe ainda mais força.

Dou ainda as boas-vindas às Senhoras e Se-nhores convidados e transmito-lhes a mensa-gem de que serão sempre recebidos com gos-to em qualquer das nossas sessões culturais ou em quaisquer outras actividades.

Cumprida gostosamente esta formalidade protocolar, constitui minha obrigação reiterar, publicamente, o meu compromisso de cum-prir com todo o empenho, a honrosa missão que acabo de assumir e que, como aqui disse há três anos, é mais uma forma de servir o País,

mandato. Trata-se de um reconhecimento que, na verdade, tem ainda uma outra componente que me compete traduzir na forma de público louvor à Senhora Professora Raquel Soeiro de Brito e ao Senhor Professor Contente Domin-gues, Presidentes das Classes de Artes, Letras e Ciências e de História Marítima, respectiva-mente, ao Senhor Secretário-Geral, Coman-dante Beça Gil, e aos Senhores Secretários das Classes, Comandante Malhão Pereira e Dr. João Abel da Fonseca. Trata-se de um elogio da maior justiça pela forma competente, de-dicada e materialmente desinteressada como serviram a Academia, atribuindo-lhe muito do seu tempo, dos seus conhecimentos e, acima de tudo, da sua exemplar entrega aos objecti-vos e actividades desta Casa. Foi, e estou seguro de que continuará a ser, uma dádiva exemplar de cidadania em que o único interesse se situa no prazer altruísta da nobre causa do serviço ao País. Por isso aqui lhes endereço o meu sentido e grato louvor.

Felizmente que a guarnição da Academia de Marinha conta, para além destes elemen-tos, também com um dedicado conjunto de académicos, para além do competente apoio de serviços, com os quais tem sido possível continuar a desenvolver uma intensa e metó-dica actividade, quer de sessões culturais, por regra em cada terça-feira útil, quer de exposi-ções, simpósios, seminários, conferências no exterior, etc. Exemplifico que a Exposição de arte O Mar e Motivos Marítimos, organizada pela Classe de Artes, Letras e Ciências, durante o período do passado Verão, onde estiveram expostas obras de pintura, escultura e mode-lismo de quase uma centena de artistas, cons-tituiu um assinalável êxito.

Também a publicação de textos tem estado a recuperar de atrasos significativos, como o

a Marinha e o mar que com ambos se identi-fica e funde. Para um velho marinheiro, trata--se de um privilégio poder exercer tais funções e, por isso, testemunho a minha gratidão à Assembleia dos Académicos por ter elegido, sem qualquer voto contra, a lista proposta para os Cargos Estatutários. Bem hajam to-dos, incluindo o único que se absteve.

Contudo, a mensagem mais significativa que gostaria de transmitir aqui hoje, aproveitando

até a solenidade da sessão para lhe dar especial realce, tem uma expressão dupla e dirige-se à Senhora e aos Senhores Membros do Conselho Académico. Na verdade, devo testemunhar--lhes os meus profundos agradecimentos pelo elevado sentido de serviço que demonstraram ao aceitarem integrar a lista agora eleita e, as-sim, servirem a Academia durante mais um

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Almirante Vieira Matias, Presidente do Conselho Académico da Academia de Marinha.

Membros do Conselho Académico – Triénio 2013/2015.

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REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2013 19

demonstram a publicação no ano pretérito dos volumes de memórias correspondentes a três anos, bem como a ultimação de um quarto a sair dentro de dias, e temos também já previsto o lançamento dos sétimo e oitavo livros da His-tória da Marinha, no próximo mês.

Trata-se de uma actividade intensa a que iremos dar continuidade com a força que a experiência incrementa e, nessa linha, está já planeado para o corrente ano aumentar o nú-mero de ciclos temáticos de conferências, dar grande expressão ao XIII Simpósio de História Marítima sobre o tema Nos Mares da China � a propósito da chegada de Jorge Álvares, em 1513, bem como promover a publicação de textos relativos às últimas actividades ope-racionais da Marinha em África e na Índia. Sobre estas operações, encontra-se em tradu-ção, para ser editada com direitos exclusivos em língua portuguesa da Academia de Ma-rinha, a versão do livro do Prof. John Cann, Brown Waters of Africa, actualizada com a nossa colaboração. Também está a ser ulti-mada a colecção de textos das conferências proferidas no IESM, no seminário intitulado A Marinha em África (1955-1975). Especifici-dades, assim como se encontra em fase final de preparação o conjunto de textos sobre os últimos combates navais na Índia Portuguesa.

Senhor Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, Senhoras e Senhores Académi-cos, Ilustres Convidados:

A missão da Academia de Marinha tem por tarefas o estudo e a divulgação da his-tória marítima, das artes, das letras e das ci-ências do mar e de tudo o que diga respeito ao mar, como se pode ler no seu estatuto. O propósito destas tarefas não se encontra nos documentos formais, mas é, certamen-te, o de contribuir para que o Mar Português constitua, no presente e no futuro, elemento de-terminante do interesse nacional, assim como o foi quando bem utilizado, em tempos idos. Para isso, temos de desenvolver o enorme po-tencial que o mar contém, em valores morais, científicos e económicos e é imperativo que o saibamos proteger, no domínio da segurança, contra velhas e novas ameaças, mas também, em âmbito político e diplomático, contra anti-gas e novas cobiças.

E estas são até frequentemente mais danosas do que aquelas, porque usam de subtileza e ex-ploram falhas de conhecimento e até, às vezes, de determinação.

Penso que a objectividade das tarefas que nos são cometidas não nos vai deixar esquecer o enorme alcance do propósito da Academia e que iremos fazer tudo o que estiver nas nossas capacidades para servir o interesse nacional. Para isso, peço o contributo de todos os Senho-res Académicos, mas também o de todos os amigos que sentem o portuguesíssimo orgulho de termos um mar quase tão vasto quanto a Lín-gua Lusa. É esse mar que aqui continuaremos a esforçarmo-nos por conhecer melhor e melhor divulgar.

Aqui, todo e qualquer dia das nossas sessões tem de continuar a ser não apenas Dia do Mar, mas Dia do Mar Português. É esse o nosso propósito.

realizadas nos últimos anos, e desde já realço as diversas sessões culturais, a XII exposição “O Mar e Motivos Marítimos”, que tive a honra de inaugurar e visitar, as muito merecidas home-nagens ao Almirante Pereira Crespo, ao Co-mandante Estácio dos Reis e In Memoriam ao Coronel Valdez dos Santos.

Gostaria de, ainda neste âmbito, realçar a re-alização do XII simpósio de História Marítima, desta vez subordinado ao tema “A Formação da Marinha Portuguesa. Dos primórdios ao In-fante”, congratulando-me com o sucesso que o

mesmo obteve.Só assim, promovendo a excelência e cul-

tivando a autonomia científica, que caracte-riza este singular órgão cultural da Marinha, é que se consegue agregar este tão alargado conjunto de eminentes personalidades aca-démicas, militares e civis, conferindo assim o devido lustre e o reconhecimento académico devido, dos setores científicos e culturais da nossa sociedade, à Academia de Marinha.

Efetivamente esta Academia continua a ser um lugar de eleição para o ensaio e pesquisa da nossa história marítima, para a divulgação cientifica e para a reflexão, académica, so-bre os temas da atualidade ligados ao mar e assim aprofundar o nosso conhecimento so-bre este tema de inegável importância para Portugal.

Senhor Almirante Vieira MatiasSenhores membros do Conselho Académico,

Das reconhecidíssimas qualidades do Senhor Almirante, não pretendo fazer rol, pois estas são do conhecimento público e constituem-se como uma referência para a Marinha.

Ao leme desta Academia encontra-se bem coadjuvado pelos seus vice-presidentes, secre-tário-geral e vice-secretários, que constituem uma equipa coesa, de elevadíssima compe-tência, pelo que prevejo a continuação de um trabalho de indiscutível qualidade, neste ano em que a Academia celebra as bodas de coral.

Sendo um desígnio nacional tornar o mar um vetor essencial do desenvolvimento português, incumbe a esta Academia continuar a pro-mover iniciativas conducentes à divulgação e enriquecimento do nosso património cultural, histórico e artístico e, simultaneamente, colabo-rar e estreitar relações com outras entidades e instituições culturais, aprofundando o conheci-mento do mar e desta forma contribuir para o prestígio da Marinha e de Portugal.

Termino estas minhas palavras, manifestando toda a minha disponibilidade e apoio para que a Academia de Marinha possa continuar a desen-volver os estudos relativos à história, às ciências, às letras e às artes relacionados com o mar e com as atividades marítimas, honrando a sua di-visa “por mares nunca de outro lenho arados” .

A cerimónia terminou com a apresentação de cumprimentos e felicitações ao Presidente e demais membros do Conselho Académico.

Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA

Na alocução que então proferiu, o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada referiu:

É com subida honra que presido à cerimónia de tomada de posse dos titulares dos cargos es-tatutários da Academia de Marinha para o trié-nio 2013/2015, saudando cordialmente todos os presentes e apresentando os meus votos de um Feliz Ano de 2013.

No passado dia 7 de dezembro homologuei a relação dos titulares dos cargos estatutários para o próximo triénio, eleitos na Assembleia de Académicos de 30 de novembro.

Congratulo-me, em nome da Marinha, com a vontade que foi expressa pela votação da Assembleia de Académicos, reiterando a con-fiança nesta equipa, que é indubitavelmente composta por personalidades de reconhecido mérito, e desta forma, dando continuidade ao trabalho até agora realizado.

Esta aposta reconhece a qualidade do trabalho desenvolvido nos últimos anos, mas por outro lado vem exigir que esta qualidade tenha conti-nuidade, naquilo que é o empenho e a dedica-ção que a Academia de Marinha coloca na di-vulgação do saber e do conhecimento do mar.

Nos últimos anos Portugal, e por consequên-cia a Marinha, têm vivido tempos difíceis, de austeridade e de contenção, onde a tendência é cortar nas atividades, por muitos designadas como supérfluas, como por exemplo a cultura. Mas alguém que pensa que a cultura é supér-flua tem uma visão pouco abrangente de uma sociedade que se quer moderna. A cultura esti-mula a sociedade e esta estimula o desenvolvi-mento do País. É claro que não nos podemos fechar sobre nós próprios e esquecer as con-dicionantes que nos envolvem, mas temos de continuar a trabalhar com afinco, em busca do conhecimento.

É esta procura, incessante, de fazer mais e me-lhor que norteia a atividade desta Academia, bem espelhada pelo conjunto de atividades

Almirante Saldanha Lopes, Chefe do Estado-Maiorda Armada.

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MARÇO 2013 • REVISTA DA ARMADA20

MUSEU DE MARINHA - 150 ANOSO FUNDADOR - REI D. LUÍS

COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA

Vai ser num cenário de intensa reformu-lação política e social na Europa, e num Portugal agitado pelas convulsões do iní-

cio do liberalismo, sem experiência democrática e destruído pela guerra civil, que vai nascer o segun-do filho de D. Maria II e D. Fernando II, no Palácio das Necessidades no dia 31 de Outubro de 18381. Agraciado com o título de Duque do Porto, D. Luís desde cedo obteve uma educação refinada e cul-turalmente exigente, muito devido ao rigor e sen-sibilidade artística de seu pai, D. Fernando. Juntamente com a sua esposa, o casal provi-denciou todo o conforto, carinho e atenção ao novo membro da Casa Real, denotando--se claramente uma aproximação à cultura e costumes da Europa do século XIX, nomea-damente das classes médias, que reorganiza-vam a estrutura familiar com novos alicerces, compondo e constituindo agregados onde pais e filhos se envolviam com uma maior afectividade física e emocional, criando as-sim numa primeira análise, a própria reali-zação individual de cada um dos membros que compunham o seio familiar.

Iria ser segundo um critério de perfeccio-nismo que D. Luís receberia a sua educação, juntamente com seu irmão mais velho, D. Pe-dro. Sob Carl Dietz seria posta a responsabili-dade pela formação dos jovens, mantendo-se nessas funções até ao ano de 1847, vindo a ser substituído pelo visconde da Carreira, Luís António de Abreu Lima, um grande conhe-cedor da Europa daquele período. Acompa-nhados por um vasto conjunto de mestres li-gados a diversas áreas e sob as ordens de Luís Lima, D. Luís e seu irmão receberam aquilo a que se pode chamar de formação global, estudando e adquirindo conhecimentos nomeada-mente em línguas, arte, música, dança e desporto, alcançando no final uma formação bastante mais completa do que aquela que se obtinha nas melho-res escolas de Lisboa.

Fizeram ainda parte da educação de D. Luís, caminhando a par com os costumes seguidos noutras casas reais europeias, as viagens que jun-tamente com seu irmão D. Pedro, realizou pela Europa nos anos de 1854 e 1855. As instruções de D. Fernando para estas viagens é que as mesmas fossem aproveitadas como complemento de ins-trução, e para que ambos verificassem as diferen-ças e as disparidades culturais e sociais dos vários países da Europa por onde passaram.

Para além do carácter instrutório, estas viagens tinham igualmente uma componente política. A rainha D. Maria II tinha falecido no ano de 1853, e D. Fernando assumiu a regência até que o príncipe mais velho atingisse a maioridade. Preocupado com a preparação do futuro rei, es-tas viagens serviriam igualmente, para que este

observasse e anotasse as discrepâncias das insti-tuições desses países e de Portugal, assim como dos progressos civilizacionais, factor chave para mais tarde se reinar o país de modo a colocá-lo na mesma linha de desenvolvimento dos demais europeus. Foi sob essa mesma tensão e preocu-pação que foi realizada a segunda viagem, na qual D. Pedro sentiu o peso da responsabilidade de em breve assumir a coroa portuguesa tentan-do absorver tudo o que de útil a sua estadia no

estrangeiro lhe pudesse proporcionar; o irmão, livre de responsabilidades de dirigir os destinos do país, não punha sequer como hipótese vir a suceder-lhe.

Após o regresso da segunda viagem, D. Pedro recebe de seu pai o governo do país iniciando um reinado durante o qual se esforçou pessoalmente por todos os meios ao seu alcance de melhorar, nomeadamente ao nível das estruturas nacionais.

O ano de 1861 iria ser um ano de festa e ao mesmo tempo de tragédia na Casa Real. No dia 12 de Setembro, D. Antónia casa-se com o prín-cipe Leopoldo de Hohenzollern-Sigmaringen em Lisboa. Após vários dias de festividades, o casal parte numa viagem pela Europa com destino à Alemanha, a bordo da corveta Bartolomeu Dias, e acompanhados pelos infantes D. João e D. Luís, este último exercendo função de comandante do navio. Pelo mesmo período, D. Pedro V decide viajar até Vila Viçosa acompanhado de seus irmão D. Fernando e D. Augusto a fim de descansarem e exercerem algumas actividades lúdicas. Retornam

à capital no dia 6 de Outubro, volvidos apenas oito dias de estadia, bastante doentes, tendo o infante D. Fernando falecido no dia 6 de Novembro. D. Pedro V, assolado pela tragédia e bastante debili-tado, veio a falecer pouco tempo depois no dia 11 de Novembro, contando apenas 25 anos de idade.

D. Luís e seu irmão D. João, já de retorno da sua viagem pela Europa, encontravam-se na lo-calidade de Compiègne, em França, a convite do Imperador Napoleão III. Deste ouviram a pre-

ocupante notícia sobre o estado de saúde de seus irmãos. Rapidamente trataram de regressar a Portugal, interrompendo todas as actividades diplomáticas. Passariam antes em Inglaterra para que D. Luís pudesse entre-gar o comando da corveta Bartolomeu Dias. De Southampton, a bordo do paquete inglês Oneida, fizeram a viagem até Lisboa. Che-gados à capital, ainda no interior do navio, receberam o fatal anúncio. Por força das cir-cunstâncias, a 14 de Novembro D. Luís jura respeitar e fazer respeitar a Constituição, e no dia 22 de Dezembro é aclamado como o novo rei de Portugal. No aparelho governa-tivo, embora tivesse mais em conta a figura de Fontes Pereira de Melo, decidiu manter o duque de Loulé – chefe dos «Históricos» - à frente do governo, se bem que, pouco tempo depois, tenha procedido a uma remodelação governamental. D. Luís deixava assim ante-ver um anseio em criar condições de estabili-dade e pacificação governamental, algo que procurou energicamente realizar durante o seu reinado.

Neste contexto, a própria classe política na sua generalidade apoiou o soberano, no entanto, quando D. Luís assumiu as funções

de soberano duas questões saltavam à vista dos estadistas, a primeira, o facto de D. Luís não ter sido preparado para reinar, em parte, fruto da sua educação mais tolerante e leve (como já foi visto anteriormente) comparativamente à do seu irmão D. Pedro V que sempre soube que mais cedo ou mais tarde iria assumir o mais alto cargo da Nação, por último, o facto de D. Luís se encontrar solteiro, sendo necessário para o efeito procurar com al-guma celeridade uma esposa com quem pudesse ter filhos e assim assegurar a continuidade da Casa Real e o respectivo trono.

Este último ponto foi resolvido no dia 6 de Ou-tubro de 1862 quando D. Luís se casa, após vá-rias controvérsias, com a princesa Maria Pia de Sabóia, filha do rei Vítor Manuel II de Itália. Logo no ano seguinte e ao contrário do que muita gente esperava, a jovem rainha dava à luz o primeiro filho do casal e futuro herdeiro da coroa. D. Carlos viria a nascer no dia 28 de Setembro no Palácio da Ajuda e dois anos depois, no dia 31 de Julho, nasceria D. Afonso, 2º duque do Porto.

MUSEU DE MARINHA - 150 ANOS

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REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2013 21

Foi também durante o reinado de D. Luís que a cultura em Portugal mais se evidenciou. No campo literário destacaram-se escritores que para sempre permaneceram nos anais da história de Portugal, com especial destaque para a «Ques-tão Coimbrã», as «Conferências do Casino» e o Grupo dos «Vencidos da Vida». Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis, Teófilo Braga, Antero de Quental, Ramalho Ortigão, Alexandre Herculano, Cesário Verde, Guerra Junqueiro, são alguns dos nomes mais sonantes deste período.

Na pintura e escultura sobressaíram igualmen-te alguns dos artistas mais importantes da nossa história, como Marciano Henriques da Silva, Marques de Oliveira, João Vaz, José Malhoa, Co-lumbano, Soares dos Reis, Rafael Bordalo Pinheiro, entre outros.

Figura extremamente sensível às questões culturais interiorizadas durante o processo de educação enquanto jovem, devido à forte in-fluência e estímulo por parte de D. Fernando, o monarca embora não tivesse o peso que seu pai teve nestas matérias, sempre se esfor-çou por estabelecer uma ligação direta com os vários artistas e às novas correntes, visi-tando regularmente inúmeras exposições de pintura, adquirindo ao mesmo tempo a título pessoal algumas delas para as expor na Gale-ria de Pintura do Palácio da Ajuda. Monarca de personalidade literata e artista, foi também ele autor de diversas pinturas e gravuras de marinha, dedicava-se à música tocando com grande desenvoltura violino e várias foram as obras de Shakespeare que traduziu nos seus tempos livres. Seguiu igualmente os passos de sua mãe, e por sua ordem foram constru-ídos e fundadas diversas associações cultu-rais. Mas mais que um simples artista, D. Luís era principalmente um homem das ciências, evidenciando-se na oceanografia, área onde investiu uma boa parte da sua fortuna em projectos e estudos científicos, grande parte elaborados pelo próprio.

Mas falar de D. Luís é falar obrigatoriamen-te da sua ligação à Marinha e da sua paixão pelas actividades marítimas que desde cedo se fez sentir, não só pelo gosto pessoal do próprio, mas porque era hábito nos países da Europa incorporarem-se os jovens príncipes das casas reais no exército ou na marinha para aí fazerem carreira.

Não era de estranhar que segundo esta tradição, os seus pais colocassem o jovem príncipe nos tri-lhos de uma carreira militar, não devendo a mes-ma ser confundida com os propósitos de outros tempos passados, em que os reis e príncipes eram colocados à frente dos seus exércitos para os con-duzirem na guerra e ostentarem as suas fardas e galões como simples aparato honorífico destinado a dignificar as Corporações e a prestigiar a Coroa.

O desejo de seus pais foi formalizado quando D. Luís, ainda não tendo completado 8 anos de idade, em 9 de Outubro de 1946 foi alistado na Companhia dos Guardas-Marinha. A cerimónia decorreu na Sala do Risco do Arsenal da Marinha perante a Companhia formada em parada e onde a rainha D. Maria, acompanhada pelo seu esposo, viram o jovem infante prestar juramento de com-promisso colocando a mão sobre a nova ban-

deira da Companhia. Logo iniciou a sua carreira quando ainda nesse mesmo ano, acompanhou o almirante inglês Parker nas manobras de uma esquadra inglesa no Tejo. Como seria de esperar, o jovem D. Luís teve uma rápida ascensão hierár-quica mas que, e como indicado anteriormente, não era atribuída à posição honorífica que o prín-cipe detinha, muito pelo contrário, atingiu-a pela devoção à Armada e pela carreira a tempo inteiro que desempenhou entre os anos de 1851 e 1861.

Com 13 anos apenas é promovido a segundo--tenente e em 1854 embarca, juntamente com o seu irmão D. Pedro V, na sua primeira grande viagem de navio pela Europa. A bordo da corveta Mindelo, D. Luís escreveu um pequeno diário da

viagem onde se destaca a sua tristeza e desconten-tamento por sofrer algo de comum a quem anda no mar: o enjoo! Promovido a capitão-tenente em 29 de Outubro de 1854 e já com o irmão no trono, D. Luís vai intensificar o estudo e a partici-pação efectiva dos deveres da Armada, o que lhe valeu em 15 de Setembro de 1857 a nomeação de comandante do brigue Pedro Nunes. Em Janeiro do ano seguinte, efectuou um cruzeiro na costa de Por-tugal e uma comissão a Gibraltar, sendo promovi-do em 24 de Março ao posto de capitão-de-fragata. Entregou o comando do navio em 21 de Junho ao primeiro-tenente Domingos de Sousa Rodrigues a fim de tomar o comando do mais recente navio da Armada, a corveta Bartolomeu Dias.

Seria também durante esse período que D. Luís iria completar a sua formação naval, instruída por alguns dos oficiais mais distintos da época. Ao comando deste navio, e durante cerca de 3 anos e meio, vai efetuar diversas comissões aportando em vários destinos, tendo sido promovido ao pos-

to de capitão-de-mar-e-guerra em 9 de Março de 1859. Das diversas comissões destacam-se em 1858 a viagem à Madeira e Açores. Sobre esta, D. Luís recordou-se até aos últimos dias da sua vida, como tendo sido a viagem mais dura de-vido ao forte temporal que apanhou no regresso a Lisboa. Efectuou nos anos seguintes comissões à Europa e Norte de África, sendo de realçar a viagem em Abril de 1859 em que foi a Inglaterra buscar o príncipe Jorge da Saxónia que iria ca-sar com a sua irmã, Infanta D. Maria Ana, e em Setembro de 1861 quando transportou até Antu-érpia a sua irmã D. Antónia e o marido príncipe Leopoldo, recentemente casados.

Retirado da carreira naval pelas obrigações que a coroa impunha, D. Luís, directa ou indi-rectamente, sempre marcou a sua presença nos assuntos da Marinha. Acompanhando os progressos das técnicas navais, visitando frequentemente navios de guerra nacionais ou estrangeiros que aportavam em Lisboa, e usando o seu título de Almirante General da Armada Portuguesa, por inerência da fun-ção de rei, influenciou e apoiou os progra-mas navais dos seus ministros da Marinha, na tentativa de renovação e aumento da esquadra, fortemente debilitada após a inde-pendência do Brasil. Encontrou na Marinha um complemento à sua formação, e o seu carácter e personalidade em muito revela-va essa paixão e tristeza, de um marinheiro vagueando pelas ruas de Lisboa ao sabor do seu infortúnio.

Monarca de qualidades reconhecidas, her-dou de seu pai o gosto e a prática das artes. Portador de uma formação e sensibilidade cultural acima da média, destacou-se na car-reira naval, o que aliado a todos os fatores mencionados, fez com que por sua iniciativa se criasse a 22 de Julho de 1863 o Museu de Marinha, funcionando na Escola Naval, à época sediada no Terreiro do Paço.

Marcado pela doença e saturação política em que foi envolvido, o monarca iria passar os últimos anos da sua vida em viagens pelo estrangeiro, visitando familiares, e deixando a regência do país a cargo do seu filho D. Carlos. O casamento deste com a princesa

Amélia d´Orleães (1886), e o nascimento do seu neto Luís Filipe (1887), terão sido as suas últimas alegrias. Apaixonado pelas artes e ciência, pela literatura, coleccionador de mérito, amado pelo povo, considerado por muitos como o monarca mais instruído da Europa, o “Popular” perece na Cidadela de Cascais a 19 de Outubro de 1889.

T. Resende de CarvalhoSTEN TSN

Nota:1 O casal real teve mais seis filhos: Pedro (1837), her-

deiro por direito ao trono, João (1842), Maria Ana (1843), Antónia (1845), Fernando (1846) e Augusto (1847). Nas-ceram outros quatro filhos, mas viriam a falecer após o parto atestando igualmente a elevada taxa de mortalidade infantil registada na época.

N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.

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MARÇO 2013 • REVISTA DA ARMADA22

OS RESERVADOS DO CENTRO DOCUMENTAL«Pensei...num sinuoso labirinto crescente

que abrangesse o passado e o porvir e que im-plicasse de algum modo os astros.» Jorge Luís Borges, Ficções

Quando, em 1962, o Museu de Ma-rinha se instalou em Belém foram transferidas do Palácio das Laran-

jeiras, a par de um valioso conjunto de objec-tos museológicos, centenas de obras impressas e manuscritos.

À biblioteca do Museu ficou come-tida a tarefa de acolher e proceder ao tratamento bibliográfico desse acervo.

Ao longo dos tempos, a biblioteca, hoje Centro Documental (C.D.), tem sido, também, tributária da relação de afecto e admiração de inúmeras personalidades para com o Museu de Marinha. Daí que um vasto nú-mero de objectos entre os quais im-portantes documentos e publicações nos tenham sido legados por pres-tigiados oficiais de Marinha, como o Almirante Gago Coutinho, ou os Comandantes Jaime do Inso, Quirino da Fon-seca, Marques Esparteiro entre tantos outros.

De igual modo, o acervo documental tem sido enriquecido por doações e ofertas pro-cedentes de figuras de destaque da cultura nacional e estrangeira, quer particulares quer institucionais. Alguns destes documentos, pela sua raridade, valor intrínseco ou antiguidade merecem figurar nos fundos reservados de que a seguir falaremos.

Num universo de mais de 200 espécimes destacaremos apenas alguns exemplares to-mando como ponto de partida o século XX.

Vamos ter de percorrer, regressivamente, vários séculos até chegarmos à obra a que é possível atribuir a datação mais antiga deste conjunto. Trata-se de Ephemerides IO. Baptistae de Carelli Placentini, que remonta ao ano de 1557.

Do século XX começaremos por destacar um simples dossier verde em cuja capa se pode ler: «Original do manuscrito do Pai, para o Museu de Marinha». Lá dentro depa-ramo-nos com 6 folhas manuscritas na cali-grafia difícil do Professor Agostinho da Silva - são rascunhos de uma sessão em que o Professor tomou parte após ter estado a bor-do da Sagres e começam assim as palavras do ilustre pensador:

“Há tempos, a bordo da “Sagres”, res-pondendo a umas palavras que o seu Co-mandante tivera a bondade de me dirigir, declarei que jamais navegara senão à vela e pondo no leme apenas a mais leve mão que me era possível”. Este exemplar foi ofere-

cido ao Museu de Marinha, em 1995, pelo Dr. Pedro Agostinho, filho do Professor Agostinho da Silva.

Dos finais do século XIX primeira metade do século XX destacaremos o espólio de Henri-que Lopes de Mendonça.

Autor prolífero e multifacetado (1856/1931), Henrique Lopes de Mendonça foi oficial de Marinha, dramaturgo, escritor, arqueólogo

naval, investigador, membro destacado da Academia das Ciências de Lisboa e autor do poema A Portuguesa que deu origem à letra do Hino Nacional.

É uma experiência fascinante deparar com os seus escritos de infância, as minúsculas peças de teatro escritas em folhas de papel pardo cuidadosamente dobradas em forma de libreto.

Do espólio de Henrique Lopes de Mendon-ça fazem parte, ainda, inúmeros manuscritos em que se incluem poemas de juventude, rascunhos de contos, notas pessoais, aponta-mentos, correspondência, artigos para jornais, investigação histórica, e um grande número de esboços de peças dramáticas de que são exemplo “Orfãos de Calecute”, “Um Mi-lagre de Santo António”ou“O Azebre”.

O manuscrito desta última peça, apresentada a concurso em 1908, está completo e, na página de rosto, ostenta os carimbos «Admittida” e «Theatro de D. Maria II Jury de Ad-missão de Peças.”.

O espólio de Henrique Lopes de Mendonça, existente no C.D., é um conjunto notável de documentos que poderá proporcionar diversas e plurais abordagens.

Ainda no século XX referimos o manuscrito original do livro Ó-Yoné e Ko-Haru, de Wenceslau de Mora-es. Concluído em Tokushima, no Ja-pão, em Outubro de 1919, virá a dar

origem à obra impressa com o mesmo título, editada no Porto, em 1923.

Ó-Yoné, a primeira esposa japonesa do autor, morre, prematuramente, em Kobe; Ko--Haru, sobrinha de Ó-Yoné, viverá com ele em Tokushima mas também ela morrerá de tu-berculose aos 23 anos. Sobre as duas compa-nheiras escreverá Wenceslau de Moraes «...o meu jardim de saudades – saudades de alma – é o cemiterio de Chio on-ji, onde repoisam alguns punhados de cinzas de umas pobres mulheres japonezas, cuja lembrança me faz companhia ao pensamento.»

Ó-Yoné e Ko-Haru é um conjunto de tex-tos sobre a tristeza e a perda, mas é, simul-taneamente, um fresco sobre a paisagem, as pequenas coisas, os hábitos diários, as cren-ças da gente comum do Japão no início do século XX.

No que se refere ao século XIX, possui o C.D. várias dezenas de obras em que se in-cluem alguns exemplares de grande interesse. Como não seria possível abordar todas elas, fácil será eleger a que se destaca quer pela importância, quer pela monumentalidade. Fa-lamos do Atlas do Visconde de Santarém.

O 2º Visconde de Santarém (1791-1856) foi um distinto fidalgo que muito jovem iniciou estudos profundos de investigação histórica. Em 1807 acompanhou a comitiva de D. João VI para o Brasil e aí permaneceu durante vá-rios anos entregue ao estudo e compilação de muitos documentos históricos, entre eles os da Real Biblioteca da Ajuda, que o rei D. José tinha principiado a ordenar.

Manuscrito de Ó-Yoné e Ko-Haru.

Folha de rosto de Epanáforas.

MUSEU DE MARINHA - 150 ANOS

COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA

MUSEU DE MARINHA - 150 ANOS

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REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2013 23

Regressado a Portugal, desempenha vários cargos e prossegue as suas investigações. Após a morte de D. João VI, o Visconde de Santa-rém, não escondendo a simpatia pela causa miguelista, atrai sobre si a hostilidade da fac-ção liberal. É, no entanto, um intelectual mo-derado que, apesar da lealdade que sempre devotou a D. Miguel, expressa as suas opini-ões sobre as vantagens da capitulação dos mi-guelistas perante as tropas de D. Pedro IV. Por essa razão é destituído de todos os seus cargos em 1833. Após a vitória da causa liberal exila--se voluntariamente em Paris até à sua morte em 1856.

Várias das suas obras são editadas em Fran-ça, incluindo o seu famoso Atlas. A primeira compilação dos documentos que compõem esta obra data de 1841.

Posteriormente continuou a publicar mais documentos cartográficos, considerando--se geralmente a existência de mais duas edições, as de 1842 e 1849. No entanto, mesmo após a edição de 1849, o visconde continuou a divulgar novas cartas. Além disso, a maioria delas foi publicada em di-ferentes versões. Estes factos tornam bastante complexa a classificação do conteúdo de cada uma das edições. O C.D. do Museu de Marinha possui exemplares do Atlas do Visconde de Santarém que incluem pelo menos um exemplar de todas as cartas que se sabe terem integrado esta obra.

Em seguida, abordaremos documen-tos reservados datados do século XVIII.

Existe no C.D. mais de meia centena de exemplares, impressos uns, manus-critos outros, cujas datações variam entre 1701 e 1799.

À antiguidade destes espécimes, soma-se a diversidade dos temas, a raridade ou a beleza de algumas ilustrações ou mesmo, em certos exemplares, o modelo de encadernação que pode constituir, por si só, objecto de estudo sobre o livro antigo.

Escolhemos, de entre os muitos que mere-cem ser evidenciados, uma obra impressa e um conjunto de manuscritos.

A obra impressa, de 1796, Descripção do Novo Planetario Universal,… é um opúscu-lo de 16 páginas que acompanha a litografia do referido planetário. A litografia contém as seguintes lengendas: «Planetario, inventado em França pelo Pe Theodoro d’Almeida, e pelo mesmo augmentado em Lisboa, e se mostra na Caza do Espirito Santo da Cong do Orat.».

O Padre Teodoro de Almeida, sacerdote da Congregação Oratoriana, foi alvo de per-seguição pelo Marquês de Pombal, tendo-se refugiado em França em 1768. Aí leccionou e prosseguiu os estudos filosóficos e científicos. Regressado a Lisboa, em 1778, colaborou na fundação da Academia das Ciências e nesta cidade finalizou o esquisso de um dos mais antigos planetários que se conhecem.

Ainda no século XVIII, destacamos o conjun-to de manuscritos que se designa por diários do Marquês de Nisa. São 4 cadernos, escritos

pelo 7º Marquês de Nisa, e contemplam o pe-ríodo de 29 de Julho de 1798 a 12 de Outubro de 1799.

O Almirante Marquês de Nisa, personagem de grande destaque na segunda metade do século XVIII, foi um prestigiado oficial da ma-rinha portuguesa. Em 1797, aos 31 anos de idade, é promovido a chefe de esquadra, a que corresponde actualmente o posto de contra--almirante. Em 1798 comanda a esquadra por-tuguesa enviada para o Mediterrâneo para, em conjunto com a inglesa, combater as forças de Napoleão. Nomeado pelo almirante Nelson para levar a cabo o bloqueio do porto de Malta (1798/1799), tem papel preponderante e deci-sivo na condução desta operação militar.

Os cadernos do Marquês de Nisa, para além do seu valor intrínseco, constituem testemu-nho inestimável de uma das épocas mais con-turbadas do século XVIII na Europa.

Do século XVII, entre mais de uma dezena de espécimes, elegemos os seguintes:

Epanaphoras… da autoria de D. Francisco Manuel de Melo.

O exemplar impresso que possuímos data de 1676.

D. Francisco Manuel de Melo (1608/1666) foi fidalgo da alta nobreza, militar e homem de letras cuja idade adulta decorre durante o perí-odo de reinado de Filipe IV de Espanha, III de Portugal. A sua vida aventurosa, a par da apa-rente indefinição política, quer face ao poder filipino quer à causa de D. João IV, criam-lhe inimizades e propiciam intrigas que o levam a passar longos anos no cárcere.

Datam do tempo de prisão na Torre de Belém, e mais tarde na Torre Velha em Porto Brandão, algumas das obras mais conhecidas do autor: O Fidalgo Aprendiz, a Carta de Guia de Casados e a primeira das Epanáforas.

A obra referida consta de cinco capítulos em que se repetem as dedicatórias ou os prólogos e constituem, com a excepção da terceira, narrativas de acontecimentos contemporâne-os do autor.

Na primeira das epanáforas, a Política, D. Francisco Manuel narra e analisa os aconte-cimentos das “Alterações de Évora” em 1637.

Na segunda, a Trágica, descreve o naufrá-gio da armada de D. Manuel de Meneses, no Golfo da Biscaia, em 1627. O autor fazia parte

desta armada mas logrou salvar-se.A terceira, a Amorosa, relata em forma de

lenda o descobrimento da Ilha da Madeira.A quarta, a Bélica, ocupa-se do conflito en-

tre as Armadas Espanhola e Holandesa que teve lugar no canal de Inglaterra em 1639.

A última epanáfora, a Triunfante, conta-nos a insurreição de Pernambuco que conduzirá ao fim da dominação holandesa no nordeste brasileiro.

As Epanáforas de D. Francisco Manuel de Melo são, segundo alguns estudiosos, uma das obras mais significativas da literatura barroca em Portugal, tendo a edição de 1931 sido ob-jecto de análise do prestigiado intelectual bri-tânico Edgar Prestage.

Ainda no século XVII, cumpre-nos destacar a obra Descrição dos Portos Marítimos do Reino de Portugal.

Esta obra, também conhecida por Atlas de João Teixeira, é datada de 1648, sen-do o autor, João Teixeira Albernaz, um eminente cartógrafo português. São dezassete cartas legendadas, uma geral e dezasseis de pormenor que representam a costa portuguesa do Minho ao Algarve.

A nível mundial conhece-se a existência de, apenas, 7 exempla-res originais e 1 cópia. 2 dos origi-nais encontram-se no Reino Unido, outros 2 na Áustria, 1 em Itália e 1 cópia em França. Dos 2 exemplares originais existentes em Portugal, um pertence à Sociedade de Geografia de Lisboa e o outro ao Museu de Marinha. Trata-se de um espécime

raro e iconograficamente muito belo.Mas, voltemos ao ponto de partida, a obra

EPHEMERIDES IO. BAPTISTAE Carelli Placentini….

Obra em latim impressa em Veneza, no ano de 1557, contém efemérides astronómicas re-lativas aos anos de 1557 a 1575. Na página de rosto apresenta a marca de posse de Pedro Nunes, tendo sido acrescentadas ao exemplar impresso algumas folhas manuscritas e notas à margem do texto. Embora não se tenha podi-do, em rigor, atribuir autoria às referidas notas e folhas manuscritas, tudo indica terem sido escritas pelo famoso cosmógrafo português.

E chegamos ao fim do nosso périplo. Os documentos aqui referidos são apenas al-guns dos existentes no acervo reservado do Centro Documental do Museu de Marinha. Destacámo-los por algumas das suas especi-ficidades; cientes, no entanto, que a matéria não se esgota aqui, que muito mais haveria a dizer sobre eles e que muitos mais espécimes deste conjunto de reservados são de um enor-me interesse.

Como nota final, acrescentaremos que todas as obras referidas se encontram catalogadas em base de dados própria, o mesmo aconte-cendo com o restante acervo documental.

Elvira Henriques da SilvaTEC SUP 1CL

Atlas de João Teixeira.

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MARÇO 2013 • REVISTA DA ARMADA24

DIRETOR DOS SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS E FINANCEIROS CENTRAIS

SUBCHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA

● Em 18 de outubro, na Sala de Reuniões da SSF, presidida pelo CALM Superintendente dos Serviços Financeiros (SSF), teve lugar a cerimónia de tomada de posse do novo Di-retor dos Serviços Administrativos e Finan-ceiros Centrais, CMG AN Simões Candeias, em substituição do CMG AN Carvalho Silva. Assistiram à cerimónia diversas entidades e numerosos oficiais superiores, bem como os oficiais, sargentos, praças e civis que servem a Marinha na Direção dos Serviços Administrativos e Financeiros Centrais.

Após a leitura da Ordem, usou da palavra o novo Diretor, de cujo discurso se realça:

“… Para o cumprimento da missão concorrem decisivamente os relaciona-mentos institucionais, quer com os outros órgãos da Superintendência, quer intersectoriais, nomeadamente com o EMA, SSP e a SSTI, com os quais zelarei para manter e, se possível, fortalecer os laços de profícua cooperação e diálogo que, reforço, são, sem dúvida, fatores críticos de sucesso. (...)

… De facto, a vincada tendência para a mudança acelerada e contínua dos antigos paradigmas, pautada por carências de toda a ordem, particularmente orçamentais, leva a que a Marinha tenha de encarar com acrescido rigor a definição, atualização e tratamento dos fatores de planeamento orçamental no âmbito das despesas com o pessoal, pois só assim se poderá, sem correr o risco de desguarnecer esta área, otimizar os recursos financeiros colocados à disposição da Marinha. Para isso, relevo, novamente, o papel decisivo do esforço de cooperação institucional intersectorial. (...)”

● Em cerimónia presidida pelo VCEMA, VALM Carvalho Abreu, realizou-se no passado dia 16 de janeiro, na Biblioteca do Estado-Maior da Armada, a tomada de posse do CALM Mendes Calado como Subchefe do Estado-Maior da Armada, rendendo no cargo o CALM Silva Ribeiro.

No início da cerimónia procedeu-se à leitura do louvor concedido ao CALM Silva Ribeiro. O novo Subchefe do Estado--Maior da Armada, após a leitura da ordem, usou da palavra manifestando determinação para ultrapassar os desafios, no de-sempenho do novo cargo, com espírito de coesão: ”…O futuro próximo será certamente desafiante, mas habituei-me ao longo da mi-nha carreira a constatar que os desafios são para ser vencidos em união de esforço, onde cada um deve sentir-se parte activa na procura das melhores soluções. Mais uma vez vou tentar que assim seja, enquanto coordenador do Estado-Maior da Armada…”

Posteriormente, o VCEMA, VALM Carvalho Abreu, agrade-ceu o trabalho desenvolvido no EMA pelo CALM Silva Ribei-ro e desejou-lhe os maiores sucessos no desempenho das suas novas funções. Por fim, o ALM VCEMA dirigiu-se ao CALM Mendes Calado, manifestando confiança para o seu desempe-nho como Diretor Coordenador do EMA e, de forma breve, apontou algumas linhas de orientação para desenvolver a sua ação, como líder dinamizador de capacidades e vontades nos profissionais do EMA.

No final, o novo SUBCEMA foi cumprimentado por todos os presentes.

TOMADAS DE POSSE

O CMG Henrique Josué Simões Candeias nasceu em Lisboa, e entrou para a Escola Na-val, onde concluiu a licenciatura do Ramo de Administração Naval em setembro de 1989.

No mar, prestou serviço como Chefe do Serviço de Abastecimento, na corveta João Coutinho e nas fragatas Roberto Ivens e Álvares Cabral e, ainda, como Chefe do De-partamento de Logística, na fragata Corte-Real. Acumulou cerca de 14.000 horas de navegação em diferentes tipos de missões, das quais se destacam duas comissões nos Açores e comissões em navios integrados na “STANAVFORLANT” por quatro vezes.

Em terra, chefiou serviços de abastecimento e/ou administrativos e financeiros na EF, no DMC e no Gabinete do CEMA, chefiou, também, a Secção de Gestão Orça-mental da Direção de Administração Financeira, o Serviço de Protocolo do Gabinete do CEMA e o Gabinete do SSF. Prestou, ainda, serviço como Portuguese Navy Liaison Officer no Gabinete de Ligação da Marinha junto do NAVICP-Philadelphia.

Foi agraciado com diversos louvores e condecorações.

O CALM António Maria Mendes Calado nasceu em Ca-beço de Vide, entrou no Curso de Marinha da EN, tendo sido promovido a G/M em 1 de Outubro de 1978.

Especializou-se em Artilharia e possui, entre outros, os CGNG, o CCNG e o Curso de Promoção a Oficial General. Frequentou cursos na área dos sistemas de armas das fra-gatas Vasco da Gama em escolas nacionais e estrangeiras designadamente da Marinha dos EUA, na área dos siste-mas de mísseis Seaparrow e Harpoon. Frequentou também o International Defence Management Course no Defense Resources Management Institute, em Monterey, Califórnia,

e o Maritime Warfare Course, na HMS Dryad School, em Portsmouth. Navegou mais de vinte mil horas tendo desempenhado cargos em diferentes unidades

navais, como Chefe do Serviço de Navegação e de Comunicações dos NRPs João Coutinho e Afonso Cerqueira, Oficial Imediato do NRP Lagoa, Chefe do Serviço de Artilharia do NRP Cte João Belo e Chefe do Departamento de Operações do NRP Vasco da Gama. Participou ainda como oficial de EM embarcado e terminou a sua carreira no mar como comandante do NRP Corte Real, no período de 19 Julho de 2002 a 5 Dezembro de 2005, durante o qual participou no treino operacional no Flag Officer Sea Training (FOST), em diferentes exercícios internacionais, chefiou a força tarefa que foi envolvida na crise da Guiné-Bissau em 2004, e integrou a Standing Nato Maritime Group One em 2005.

Desempenhou funções de instrutor do curso de oficiais na EAN do G2EA, Diretor de Instrução da EAN, chefiou o Gabinete de Operações ASuW/AAW do CITAN, chefiou a Secção de Exercícios do CN, chefiou a Secção de Treino do Departamento Operacio-nal da Flotilha onde acumulou as funções de oficial de ligação ao FOST, para o treino das fragatas da classe Vasco da Gama, exerceu funções de oficial adjunto do Chefe da Divisão de Pessoal e Organização do EMA, foi Adido de Defesa junto da Embaixada de Portugal em Varsóvia, e em acumulação nas embaixadas de Portugal em Kiev, Ucrânia, em Bratislava, Eslováquia, em Bucareste, Roménia e em Budapeste, Hungria.

Depois de ter terminado o Curso de Promoção a Oficial General (2007/08) desempen-hou o cargo de chefe da Divisão de Pessoal e Organização do EMA e, após a promoção a CALM, desempenhou o cargo de Comandante da Zona Marítima dos Açores.

Da sua folha de serviços constam vários louvores e condecorações.

Discursou em seguida o CALM Esteves Nunes, de cujas palavras se salienta:

“… considero relevar, em termos de orientação geral, centrada nos seguintes eixos:

A execução de operações financeiras de caráter global e/ou aplicação dos recursos financeiros ge-ridos centralmente; o cumprimento das obrigações fiscais e contributivas da Marinha; o planeamen-to e gestão centralizada dos recursos financeiros alocados no âmbito das despesas com pessoal nos

subagrupamentos Remunerações Certas e Permanentes, Abonos Variáveis e Eventuais e Segurança Social; implementação de Sistema de Controlo Interno eficaz; o processamento, liquidação e pagamento dos vencimentos, pensões e abonos de todo o pessoal da Marinha, decorrentes das decisões dos órgãos de-tentores de competências em matéria de administração de pessoal. (...)”

Foto

Júlio

Tito

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Júlio

Tito

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REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2013 25

ALMIRANTE SOUTO CRUZALMIRANTE SOUTO CRUZEXEMPLO DE CARÁCTER, COMPETÊNCIA E DEDICAÇÃO

Em 23 de Junho de 1917 nasce em Lis-boa Augusto Souto Silva Cruz, que após ter frequentado o Curso de Preparatórios

Militares na Faculdade de Ciências é alista-do na Armada em 1935 como aspirante de Marinha, pertencendo ao último curso que frequentou a antiga Escola Naval, situada na Ribeira das Naus.

Promovido a guarda-marinha, em Setembro de 38, efectua a viagem de fim de curso no avi-so Pedro Nunes a bordo do qual faz o périplo de África, de Leste para Oeste, visitando portos de Moçambique, Angola, S. Tomé, Guiné e Cabo Verde. Com a chegada a Lisboa, em Mar-ço de 1939,termina a sua formação básica.

Embarca então no aviso Gonçalo Velho como oficial da guarnição. É o início de uma brilhante carreira naval. O navio, além de ter efectuado missões no Continente e nos Açores, de Março de 1940 a Agosto do ano seguinte está em co-missão no Extremo-Oriente, tendo-se mantido em Macau durante nove meses e mês e meio em Timor, regressando a Lisboa, com escalas em Moçambique, Angola e Guiné.

Em Novembro de 1941, o 2º Tenente Souto Cruz, promovido em Maio de 1940, destaca para a Escola da Aviação Naval Almirante Gago Coutinho, em S. Jacinto. Começa o pe-ríodo, que durará cerca de 10 anos, de serviço na Aviação Naval. Em Julho de 1942 é qua-lificado como Observador Aeronáutico e em Maio do ano seguinte fica habilitado com o Curso de Aperfeiçoamento em Rádio-Telegra-fia e Comunicações, que tinha frequentado na Escola de Mecânicos, em Vila Franca de Xira, no ano lectivo de 1942/43. Os conhecimen-tos de Comunicações, que influenciarão grande parte da sua vida profissional, aliados aos do âmbito da Aeronáutica, levam à sua nomeação, a partir de Agosto de 1943, de Instru-tor de Comunicações Ae-ronáuticas na Escola de S. Jacinto, cargo que irá exer-cer durante quatro anos.

Em 1947, a Inglater-ra cede a Portugal seis bimotores “Oxford II“, avião trilugar para treino de pilotagem e navega-ção para plurimotores. Faz parte das tripulações encarregadas de trazer, pelo ar, os aparelhos para Lisboa. A viagem decorre sem novidade, em Agosto desse ano, com escalas em Bordéus e Madrid.

O 1º Tenente Souto Cruz, promovido a este posto em Fevereiro de 1948, aprofunda ao longo dos anos o seu saber em Comunica-ções, começando então a ser considerado um

perito na matéria. Assim, desde Abril de 1948 até Março de 1950, na cidade suíça de Gene-bra e no âmbito da União Internacional de Te-lecomunicações, participa em várias reuniões internacionais. Destacam-se as de delegado

do Ministério da Marinha à Comissão Provisó-ria de Frequências e de delegado de Portugal às Conferências Internacionais Administrativas de Rádio-Comunicações Aeronáuticas e Es-pecial de Rádio-Comunicações do Atlântico-

-Norte (LORAN) e as de Rádio-Comunicações da Região 1 (Europa e África) e da Região 3 (Ásia e Oceânia).

Passa em Outubro a prestar serviço no Cen-tro de Aviação Naval de Lisboa e em Dezem-bro de 1950 assume o cargo de Secretário da Comissão Técnica de Aeronáutica Naval.

Em Junho de 1951, com a sua nomeação para Capitão do Porto de Vila do Porto e Di-rector da Estação Radionaval de Santa-Maria, cessa a segunda fase da sua carreira, isto é, o período referente à Aviação Naval. A sua liga-ção às Rádio-Comunicações, área em que o seu prestígio nacional e internacional é ampla-mente reconhecido, foi interrompida.

Quando termina a sua comissão nos Açores, em Setembro de 1952, é louvado pelo Direc-tor Geral da Marinha pelo superior critério, grande competência e dedicação com que soube exercer aquele cargo. É o seu primeiro louvor individual dos muitos que lhe hão-de seguir ao longo dos anos. Passa aos Serviços de Marinha Privativos de Moçambique, por ser nomeado Capitão do Porto do Chinde e em acumulação Comandante da canhoneira Tete, lancha de fiscalização pequena que na-vega nos rios Zambeze e Chire em apoio das populações ribeirinhas. Também é de curta duração a sua comissão pois finda em Setem-bro do ano seguinte. Na ocasião, o Gover-nador da Zambézia louva-o pelo zelo, com-petência e dedicação como exerceu as suas funções e o Chefe do Departamento Marítimo de Moçambique pela muita dedicação, notá-vel competência e espírito de iniciativa.

Após as comissões em terra nos Açores e em Moçambique, em Novembro de 1953 assume o cargo de oficial imediato do aviso Pedro Nu-nes, já seu conhecido quando da viagem de guarda-marinha. O navio larga de Lisboa em Janeiro de 1954, em missão de soberania para o Extremo-Oriente. A situação na Índia com-plica-se. É o ano de ocupação dos territórios

de Dadrá e Nagar-Aveli, no distrito de Damão, por forças da União Indiana e por esse facto urge reforçar o nosso dispositivo naval. O Pedro Nunes, a partir de Março e com base em Mormugão, sai para o mar com frequência, para pa-trulha das águas da então Índia Portuguesa. Em Maio é promovido a oficial su-perior. O navio segue em Dezembro para Macau, tendo na ocasião o seu co-mandante louvado o Ca-pitão-tenente Souto Cruz, não só pelas excepcionais e demonstradas qualidades de organização, carácter,

lealdade e bom senso aliadas a muita compe-tência, como também pelo esforço dispendi-do durante a comissão.

Desembarca em Macau em Maio de 1955, terminando assim a terceira fase da sua carrei-ra, durante a qual teve a oportunidade de co-nhecer os territórios do Estado da Índia, fican-

Augusto Souto Cruz.Aspirante do 1º ano da Escola Naval.

2º Tenente Souto Cruz integrado nas tripulações dos aviões “Oxford II” , em 1947.

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MARÇO 2013 • REVISTA DA ARMADA26

do deste modo a pertencer ao restrito número de oficiais que prestaram serviço em todas as parcelas do Ultramar Português.

A partir de Agosto passa à Direcção do Ser-viço de Electricidade e Comunicações (DSEC) como Chefe de Secção de Comunicações, onde permanecerá até Fevereiro de 1958. Du-rante esse período frequenta o Curso Geral Na-val de Guerra, no ano lectivo de 1956/57, no qual obtém elevada classificação.

Na DSEC tem oportunidade de reatar os trabalhos no âmbito das Comunicações e participar em reunião internacionais relativas a essa actividade. A amplitude e o rigor dos estudos então efec-tuados pelo Comandante Souto Cruz, aliados a uma dinâmica e produtividade excepcionais, con-solidam o seu prestígio, pelo que em Outubro de 1956 o Superin-tendente dos Serviços da Armada louva-o pelos seus excepcionais conhecimentos e capacidade realizadora, muita inteligência e inexcedível dedicação ao servi-ço, subjacente demonstrada na elaboração da “Instrução de Comunicações”.

Em acumulação com a DSEC, de Fevereiro a Setembro de 1956, é Comandante do Agru-pamento de Draga-Minas Não Operacionais, tendo sido, ao deixar o cargo, louvado pelo Chefe da Força Naval da Metrópole pela forma notável como procurou conservar os navios mostrando não só conhecimentos técnicos, dedicação ao serviço e espírito de cooperação.

De Maio de 1958 a Setembro de 1973 pres-ta serviço na Secretaria-Geral da Defesa Na-cional, organismo então criado, onde na área das Telecomunicações faz parte da respectiva Comissão de Coordenação, cuja acção se es-tende não só à área militar como também à civil, exer-cendo durante essa década e meia cargos relacionados com as Comunicações e Infra-estruturas da NATO. Assume, em acumulação, as funções de Consultor Militar dos Correios e Telecomuni-cações de Portugal.

A partir de 1958 e até 64 é Delegado Militar Nacional à Agência Europeia de Rádio--Frequências e ao Comité Coordenador das Comuni-cações Militares Europeias e Delegado de Por-tugal ao Comité de Planeamento das Comuni-cações Civis. Nas reuniões destes organismos e de grupos de trabalho internacionais, especial-mente no âmbito da NATO, são consideradas oportunas e dedicadas as suas intervenções, nas quais sempre defendeu com vigor os pon-tos de vista e os interesses do nosso País.

Atendendo ao início da guerrilha em Angola, torna-se necessário tratar com urgência, neste território e em S. Tomé, de problemas de co-ordenação das telecomunicações militares e civis. Com essa missão o Comandante Souto

Cruz desloca-se a África durante os meses de Junho e Julho de 1961.

Em Setembro desse ano é promovido a ca-pitão-de-fragata. Sucedem-se as suas presenças em reuniões internacionais. De destacar que em Abril de 1964 é eleito Presidente do Grupo de Trabalho de Transmissões Transatlânticas no Comité de Estudo das Telecomunicações Civis da NATO, ocasião em que o Subsecretário de

Estado da Presidência do Conselho manifesta ao Comandante Souto Cruz o alto apreço pela actividade desenvolvida e pela forma como dirigiu os trabalhos da Delegação Portuguesa.

Em 1965 entra em vigor o Acordo Luso--Francês segundo o qual são dadas facilida-des ao Governo Francês para instalar na ilha açoriana das Flores uma estação de rastreio de mísseis balísticos e, no aeroporto da ilha de Santa Maria, apoio a aviões militares daquele país empenhados no seguimento das respecti-vas trajectórias.

O Comandante Souto Cruz participa a par-tir de 1964 nas negociações iniciais deste

Acordo e faz parte da Comissão Luso-Fran-cesa até 1974.

Foi o principal organizador da Comissão Eventual de Infra-estruturas da Organização do Atlântico Norte (CEIOTAN) e da Comissão de Manutenção das Infra-estruturas (COMIN), e negociador dos Acordos com os represen-tantes dos países utentes das infra-estruturas construídas em Portugal. Em Janeiro de 1966, o Secretário-Adjunto da Defesa Nacional con-sidera o Capitão-de-fragata Souto Cruz como um oficial inteligente, dinâmico, com notável espírito de organização e excepcionais quali-

dades e capacidade de trabalho, a sua acção reflectiu-se com o maior prestígio nas relações com os organismos internacionais. Oficial da Armada distinto e qualificado técnico em Comunicações e Electrónica, distintos e rele-vantes considero os seus serviços nas Infraes-truturas OTAN onde colaborou com a maior competência técnica, zelo administrativo e muita dedicação.

Em Outubro de 1968 o Ministro da Defesa Nacional louva-o por no exercício das suas funções no Departamento da Defesa Nacio-nal, ter desenvolvido acção de reconhecido valor no tocante aos múltiplos e complexos problemas, da coordenação das telecomuni-cações, especialmente pela alta proficiência com que se empe-nhou para a garantia das ligações rádio com o Ultramar, em período de maior acuidade para a situação ali decorrente. No mesmo louvor destaca a sua posição de alto ní-vel no concerto de organizações militares internacionais, onde se tem distinguido como técnico de

telecomunicações de vastos e seguros conheci-mentos. Refere-se depois às meritórias qualida-des de que é detentor e termina considerando-o oficial de extraordinária categoria, o que impli-citamente sobrevém dos serviços relevantes e distintos por si prestados no âmbito da Defesa Nacional

O seu dinamismo reflete-se não só na área das Comunicações, mas também em assuntos respeitantes às Infra-estruturas, tendo este as-pecto sido destacado no louvor que recebeu em Dezembro de 1970, no qual o Secretário Adjunto do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas o considera um oficial

como um dos mais firmes e positivos valores da nossa Armada, a quem se podem confiar com as máximas probabilidades de êxito, as mais complexas e dedicadas missões e cujos serviços, na COMIN, devem ser consi-derados relevantes e muito distintos.

Na mesma data é promovi-do a capitão-de-mar-e-guerra. Frequenta o Curso Superior Naval de Guerra do ano lec-tivo de 1971/72, onde é classi-

ficado de “Muito Apto”, e nos meses de Junho e Julho de 1972 o 1º Curso da Defesa Nacional no respectivo Instituto de Altos Estudos. A frequên-cia destes cursos é feita em acumulação, pelo que tem de continuar as suas diversas tarefas no Secretariado-Geral, especialmente as relativas à Comissão Luso-Francesa.

Atendendo à necessidade de obter condições de promoção a oficial-general, em Setembro de 1973 destaca da Secretaria-Geral da Defesa Nacional, sendo louvado pelo respectivo Mi-nistro, pelos importantes e dedicados serviços prestados no Departamento da Defesa Nacio-

Cerimónia, na Casa da Balança, da tomada de posse do Almirante Souto Cruz como Chefe do Estado-Maior da Armada, em 29NOV1975.

Posse do Almirante Souto Cruz como Vice-Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.

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REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2013 27

nal, designadamente na Comissão Luso-Francesa, mantendo sempre o mesmo nível de eficiência e de com-petência técnica que tem sido muito apreciado não só pelas nossas Forças Armadas como por entidades estran-geiras.

Inicia mais um período da sua carrei-ra naval, em Outubro de 1973, quan-do assume o comando da Flotilha de Patrulhas.

Dá-se o 25 de Abril e a partir des-ta data as suas promoções suce-dem-se com rapidez. Em Junho de 1974 é nomeado Superintendente dos Serviços de Material da Ar-mada, cargo que se coaduna com os seus profundos conhecimentos e distintos trabalhos realizados nas áreas das Comunicações e das Infra-estruturas. A promoção a Comodoro chega em Setembro de 1974 e logo em Junho do ano seguinte é Contra-Almirante.

A situação social e política a nível nacional, depois de um período de convulsões, começa a normalizar-se a partir dos acontecimentos de 25 de Novembro de 1975. É então que a Marinha faz saber que necessita, com brevidade, de um Almirante que desem-penhe, em exclusividade, as funções do Chefe do Estado Maior da Armada (CEMA), já que na época quem exerce essas funções é o Almirante Pinheiro de Azevedo, desde Setembro 1º. Ministro.

A escolha recai no Contra-Almirante Souto Cruz, promovido a Vice-Almirante a 29 de Novembro, data em que assume o cargo mais elevado da Marinha. Apesar de, contrariamente à sua tradição, a Mari-nha encontrar-se com significativas cliva-gens devido a causas internas e externas, a indicação do seu nome mereceu um alargado consenso.

Membro por inerência do Conselho de Revolução, o Almirante Souto Cruz, mer-cê das suas excepcionais qualidades de carácter, competência e dedicação, põe a Marinha “a navegar no rumo certo”.

Durante cerca de três anos que esteve à frente dos destinos da Marinha é vas-ta e notável a sua obra. A sua preocupação principal é “apaziguar” a Corporação, para o que tem especial atenção com a área do Pes-soal, regulamentando os Conselhos de Classe e de Promoções e reestruturando o Estatuto dos Oficiais e os Quadros do Pessoal. A Ins-trução é outra área que toma como prioritária e cujo plano de actividades merece sempre o seu melhor atendimento. Igualmente os as-suntos respeitantes a infra-estruturas, de que era perfeito conhecedor dada a sua recente passagem pela Superintendência do Material, constituem pontos importantes da sua agen-da de trabalhos. Versado em assuntos NATO, mantém as participações em reuniões interna-cionais daquela Organização, como delegado do Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas (CEMGFA). As suas sólidas propostas e esclarecidas opiniões continuam a ser muito

apreciadas em encontros internacionais.Quando entrega o cargo de CEMA, em Ou-

tubro de 1978, a Marinha tinha, claramente, ultrapassado as sequelas causadas pelo perí-odo revolucionário pós 25 de Abril.

Em Novembro assume o cargo de Presiden-te da Delegação Portuguesa à Comissão Mista Luso-Alemã.

O General CEMGFA, que muito apreciou o modo como chefiou a Marinha, nomeia-o seu Vice.

Como Vice-CEMGFA, o Almirante Souto Cruz se por um lado continua muito ligado a assuntos NATO, por outro, devido à sua ponde-ração e espírito conciliador, consegue harmoni-zar as relações entre os Chefes dos três Ramos das Forças Armadas e estabelecer acordos con-juntos, sempre difíceis perante escassos recur-sos e arreigados espíritos corporativistas.

Em Junho de 1979 é exonerado de Vice--CEMGFA por ter transitado para a situação de Reserva, por limite de idade. Recebe então um extenso louvor do CEMGFA, General Ra-malho Eanes, em que o considera oficial de indefectível lealdade, dotado de inexcedível espirito de missão e de hombridade e de ine-quívocas qualidades de inteligência e trabalho,

desempenhou-se de forma brilhante das suas responsabilidades como V/CEMGFA, desenvolvendo acção que muito contribuiu para o bom enten-dimento e frutuosa cooperação entre os três Ramos e para a manutenção da coesão e disciplina das Forças Ar-madas. Enumera depois as actividades desenvolvidas pelo Almirante Souto Cruz, afirmando que fica a dever-se-lhe uma notável e aturada acção na cor-recta inserção das Forças Armadas na Nação, e que nas reuniões nacionais e internacionais, em particular nestas últimas, exerceu uma representação prestigiante, afirmando-se com inegá-vel autoridade junto dos círculos po-líticos e militares da Aliança Atlântica

e defendendo da melhor maneira os interesses das Forças Armadas e do País. Menciona que a sua acção foi desenvolvida no sentido de obter compensações e contrapartidas dos países nos-sos fornecedores do material indispensável ao funcionamento e reequipamento das Forças Ar-madas, conseguindo, assim, criar novas opor-tunidades para as nossas indústrias. Termina o

General CEMGFA declarando que com o louvor deseja deixar público testemunho do meu apreço e admiração pelas suas qualidades de homem e de militar e do re-conhecimento pelos serviços prestados às Forças Armadas e à Nação, que reputo de extraordinários, relevantes e distintíssimos.

Com a Medalha Militar de Ouro dos Serviços Distintos que então lhe é muito justamente concedida, cessam, na práti-ca, 48 anos de uma distintíssima carreira.

Apesar de ter deixado o serviço efec-tivo, continua dedicado à sua Marinha. Assim, em 1984, preside à Comissão Promotora de um Monumento a Gago Coutinho e Sacadura Cabral que, situado perto da Torre de Belém, é solenemente inaugurado em Novembro de 1991.

Já na situação de Reforma, a que passa em Setembro de 1988, é de Outubro de 1990 a Maio do ano seguinte Presidente da Comissão Executiva para a Recupera-ção da fragata D. Fernando II e Glória.

Em 1 de Maio de 1995 falecia em Lisboa o Almirante Augusto Souto Silva Cruz, oficial dotado de inexcedíveis qualidades de carácter, inteligência, competência e dedica-ção com que serviu de uma forma altamente meritória a Marinha durante cinco décadas.

Cerimónia de imposição da Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo ao Almirante Souto Cruz, no Palácio de Belém.

Almirante Souto Cruz.

As cinzas do Almirante Souto Cruz foram lançadas ao mar no dia 8 de Junho, a 5 milhas do farol do Bugio, em cumprimento do dese-jo expresso por aquele oficial. A pequena urna contendo as suas cinzas, coberta com a bandei-ra nacional, foi lançada ao mar na presença da viúva, do filho e do neto do Almirante, enquan-to eram lançadas ao mar duas coroas de flores, uma em nome da família e outra em nome da Marinha (Revista da Armada – Julho 1995).

José Luís Leiria Pinto CALM

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MARÇO 2013 • REVISTA DA ARMADA28

CÓDIGO DE SINAIS

A PROVERBIAL FAMA DE MARINHEIRO?

CÓDIGO DE SINAIS

A PROVERBIAL FAMA DE MARINHEIRO?

quanto à preparação da defesa. As respos-tas a estas perguntas encontram-se à parte, resumindo-se a Sim (Bandeira Igual a Todas) e Não (Bandeira de Cifra) e se for necessário indicação de número, à bandeira correspon-dente ao número juntamente com um galhar-dete para significar tratar-se de resposta.

Os sinais 47 e 49 representam ordens, rela-cionadas com a defesa do Porto.

O procedimento de reconhecimento dos sinais também se encontra igualmente regu-lado. Em ambos os códigos se salienta que o estipulado não invalida as ordens que o Quartel General do Exército estabelecer quanto às comunicações das vigias para o Norte do Cabo da Roca.

O código de 1797 deve ter tido aplicabili-dade e interesse pois, no seu número de 29 de Agosto de 1801, a Gazeta de Lisboa pu-blicava o seguinte anúncio:

“Regimento de Sinais da Entrada dos navios no porto de Lisboa, novamente acrescentado com a explicação dos cinco números de 42 a 47 (o que não tem o que corre impresso há dias)2 como também os sinais particulares, praticados nessa ocasião no sítio de Buenos Aires.”

Com. E. Gomes

Notas:1 É conhecida a utilização anterior de sinais, efectuados por tiros de artilharia, entre navios da mesma armada, sinais esses integrados no regimento do capitão mor dessas armadas.2 Os exemplares analisados têm falta dos cinco artigos 43 a 46 inclusive.

Fontes: Cod. 49-II-51 e Cod 49-II-52 da Biblioteca da Ajuda, Biblioteca Central da Marinha. RDd 4 31 e RDd 4 32.

– Oh menina, ele embarcou! Não pense mais nisso!!!!!

Fiquei sem fala e desliguei. Contactei o respetivo indivíduo através do seu te-lemóvel particular.

Passados uns tempos volto a ligar para a Base Naval, para contactar um outro utente e repete-se a cena:

– Oh menina, ele embarcou! Não pense mais nisso!!!!!

Luísa RegoAssistente Social

Tanto na Biblioteca Central da Marinha como na Biblioteca da Ajuda existem dois manuscritos iguais que julgo ser

dos primeiros códigos de sinais em uso em Portugal 1.

Datados de 1796 e 1797 têm por título “Signaes que a Raynha Nossa Senhora Man-da Estabelecer, e executar em algumas Forta-lezas, e outros sítios”.

Apesar de terem o mesmo objectivo, in-formar da aproximação de navios a Lisboa, são de conteúdo bem diferente. Em qualquer deles se encontra estabelecido que os sinais, de bandeiras durante o dia e por fachos ou fogueiras durante a noite, se iniciariam no Farol do Cabo da Roca e transmitidos suces-sivamente entre o Forte do Cabo da Roca, o Forte das Três Pedras, o Forte dos Oitavos, o Farol da Guia, a Fortaleza de Cascais, o For-te de S. António, a Fortaleza de S. Julião da Barra, o Forte das Maias, o Forte de Caxias, a Torre de Belém, a Cordoaria, o Forte de Alcântara, a Torre das Chagas, o navio que servia de cábrea, um guindaste da Ribeira, o observatório da Casa das Formas e o Castelo de S. Jorge e bem assim a comunicação até ao palácio de Queluz.

Para o período nocturno considerava-se ainda a possibilidade de sinalização entre o Farol do cabo Espichel, a Serra da Arrábida, o Castelo de Almada e por fim o Castelo de S. Jorge.

O código de 1796 estabelecia a necessida-de de uma vara transversal, ao pau da ban-deira, para, no caso de falta de vento, se dis-porem as bandeiras, estabelecia igualmente a necessidade de, nos locais sem gente, haver três homens efectivos para estes serviços, de-finindo-se também que, nalguns locais, não se poderiam fazer fogos ou utilizar fachos,

Q uando entrei como Assisten-te Social para a Marinha em 1995, o sistema de Acção

Social das Forças Armadas era uma realidade que eu praticamente desco-nhecia. Com o objectivo de apoiar os militares e familiares que se dirigiam ao meu gabinete na DAS, ficava com os respectivos contactos, para onde li-gava após ter obtido junto das colegas do IASFA as informações necessárias.

Aconteceu que a dada altura fui contactada por uma praça a prestar serviço na Base Naval do Alfeite. Ten-

casos do Arsenal e da Cábrea e que na Torre das Chagas se deveriam usar tigelas ou pe-quenos alguidares com o material usado para as luminárias.

As recomendações que se acabam de refe-rir fazem supor que todo o processo era novo e, até então, não praticado.

O código de 1796 incluía 3 bandeiras e três galhardetes, sendo as bandeiras utilizadas para informar quanto ao número de navios avistados e os galhardetes para inquirir sobre o avistamento de navios, a sua nacionalidade e rumo seguido.

No que se refere aos sinais nocturnos en-contravam-se previstos 4. O código de 1797, que se me afigura veio revogar o anterior, já que a sua utilização simultânea se afigura impossível, inclui 11 bandeiras, de que 9 re-presentam os algarismos de 1 a 9, uma desig-nada por “Cifra” poderia representar o zero e uma última designada “Igual a todas” que representava o algarismo da bandeira içada conjuntamente. No que se refere aos sinais nocturnos este código prevê a utilização de 10 sinais, 9 de fachos (ou fogueiras) e 1 de fachos e foguetes.

O uso de galhardetes não se encontra con-templado excepto para uma única situação. Pela utilização de uma bandeira, ou asso-ciando duas, elaborou-se uma tabela com 49 itens dos quais 4 (o 43, 44, 45 e 46) não se encontram preenchidos. Os itens de 1 a 30 são informativos, referindo-se a navios que se aproximam, de que tipo são, do seu número, a que rumo seguem, de que nacionalidade, etc ...

Os itens de 31 a 41 constituem perguntas, sobre as informações prestadas, acerca da distância a que se encontram, para onde na-vegam, se se aproximaram entretanto e ainda

do já as informações solicitadas, op-tei por procurar o número telefónico interno do respectivo serviço, em vez de gastar à Marinha uma chamada para o telemóvel particular do militar. Tratando-se de assunto delicado, ao contactar a Base Naval solicitei que me chamassem o utente, mas não me identifiquei de modo a preservar a pri-vacidade do mesmo. Do outro lado da linha, após ter mencionado o nome do militar com que pretendia falar ocorre um longo …… silêncio, seguido da se-guinte frase:

VIGIA DA HISTÓRIA

ESTÓRIAS

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REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2013 29

II CICLO DE CONFERÊNCIAS DO PATRIMÓNIO NABIBLIOTECA CENTRAL DA MARINHA

I niciativa da Comissão Cultural de Marinha e no âmbito do Plano de Ação Cultural de 2012, o II Ciclo

de Conferências do Património foi organizado pela Biblioteca Central da Marinha, tendo--se realizado em 13 de De-zembro. Subordinado ao tema “Património Documental: Preservação e Divulgação”, contou com a participação de representantes de entidades externas, de reconhecida com-petência e intervenção nesta matéria.

Foram proferidas as seguin-tes conferências: Na temáti-ca da Preservação, modera-da pelo Dr. Paulo Batista, do Arquivo Municipal de Lisboa, foram apresentadas as comunicações: “Con-servação Documental e Bibliográfi-ca: um desafio em tempo de crise”,

de Fotografia”, Dr.ª Margarida Rodri-gues (Museu de Marinha).

Na temática da Divulgação, mode-rada pela Dr.ª Paula Ochoa, da Biblioteca Nacional de Portugal, foram apresentadas as seguintes comunicações: “O Arquivo dos Presidentes da República: Tratamento e Acesso”, Dr. Diogo Gas-par (Museu da Presidência); “Para além da memória – o arquivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros”, Dr.ª Margarida Lages (Arquivo His-tórico Diplomático); e “Bi-blioteca Central da Marinha (BCM): divulgando a memó-ria da Marinha”, Dr.ª Isabel

Beato e Dr. José Pereira (BCM).

Colaboração da BIBLIOTECA CENTRAL DA MARINHA

Dr.ª Catarina Figueiredo e Dr. Pedro Fernandes (Biblioteca do Palácio Na-cional da Ajuda); “Preservação de

informação nos novos suportes”, Dr.ª Anabela Ribeiro (Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Biblio-tecas); e “Preservação de Coleções

COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA

II CICLO DE CONFERÊNCIAS DO PATRIMÓNIO NABIBLIOTECA CENTRAL DA MARINHA

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MARÇO 2013 • REVISTA DA ARMADA30

LOMBALGIA

∙ Preferir as mochilas às malas a tiracolo (proporcionam uma distribuição mais simé-trica do peso);

∙ Vigiar o peso corporal. O excesso de peso e a obesidade, especialmente em redor da cintura, aumentam significativamente o es-forço na coluna lombar;

∙ Não tentar levantar coisas que sejam de-masiado pesadas. Se tiver de o fazer, deve dobrar os joelhos, manter as costas direitas e manter o objeto que vai levantar junto ao seu umbigo, evitando torcê-lo enquanto o levanta;

∙ Se estiver sentado ou de pé por longos períodos de tempo tenha atenção à sua pos-tura. Sente-se, ou esteja em pé, direito, com os ombros para trás. Certifique-se que a sua cadeira tem um bom suporte nas costas. Faça pausas regulares para caminhar.

Oito em cada dez portugueses so-frem de dor na região lombar em algum momento da sua vida. Esta

dor, também conhecida como "lumbago", "dor nas costas", “dor na coluna” ou "dor nos rins", é considerada pela Organização Mun-dial de Saúde (OMS) o principal problema de saúde funcional nos países industrializados, constituindo uma das principais causas de absentismo laboral. Em Portugal é responsá-vel por cerca de 1.400.000 dias de trabalho perdidos por ano, representando a segunda maior causa de recorrência aos serviços de saúde.

A lombalgia não é uma doença, é um tipo de dor que pode ter diferentes causas. Fre-quentemente, o problema é postural, isto é, tem origem numa má posição ao sentar, dei-tar, baixar ou carregar objetos pesados. Isto acontece porque é na região lombar que se apoia a maior parte do peso corporal, estan-do esta zona também envolvida na maioria dos nossos movimentos.

No entanto, a lombalgia também pode ser causada por inflamação, infeção, hérnia dis-cal, artrose (processo degenerativo de uma articulação) ou por mau posicionamento, ou fratura, de vértebras.

A lombalgia pode atingir qualquer faixa etá-ria. A obesidade, o sedentarismo, a gravidez, os desportos de alto impacto e alguns traba-lhos repetitivos constituem fatores de risco para o aparecimento de lombalgia. O stress também pode agravar esta situação.

Habitualmente surge após um esforço físico mais intenso e desaparece em poucos dias ou semanas. Esta dor pode ser acompanhada

de formigueiros ou dormência que desce ao longo dos membros inferiores (dor ciática). Quando a dor persiste além dos três meses denomina-se lombalgia crónica, situação que ocorre em menos de 10% dos casos.

Na maioria dos casos não há necessidade de realizar exames complementares de diag-nóstico, como radiografias, tomografia com-putorizada (TC) ou ressonância magnética, pois o diagnóstico é sobretudo clínico, baseado nas queixas do doente e no exame físico.

Existem várias medidas básicas para ajudar na recuperação:

∙ Repouso;∙ Aplicação de calor húmido na área do-

lorosa (saco de água quente enrolado numa toalha húmida, emplastro térmico de venda livre em farmácias, ou duche quente);

∙ Massagens com pomada ou creme anti--inflamatório;

∙ Terapêutica oral com anti-inflamatório, relaxante muscular e analgésico.

Se as dores não melhorarem após duas se-manas de cumprimento destas medidas é im-portante marcar uma consulta médica, pois pode ser necessário recorrer a uma terapêu-tica analgésica mais forte ou realizar exames complementares de diagnóstico, de forma a esclarecer a origem da dor e excluir a ne-cessidade de cirurgia. Em alguns casos pode também existir benefício em fazer fisiotera-pia: os músculos do tronco suportam a colu-na vertebral, logo, fortalecer estes músculos pode melhorar a postura, melhorar o equilí-brio e reduzir a probabilidade de uma lesão.

Após o primeiro episódio de lombalgia existe o risco de recorrência. No entanto, esta pode ser evitada através da adoção de medi-das preventivas simples:

∙ Adotar uma boa postura quando estiver em pé, a caminhar ou sentado (costas direi-tas, não cruzar a perna);

∙ Fazer exercício regular e de baixo impac-to, como caminhar, nadar, fazer hidroginásti-ca ou andar de bicicleta estacionária. Alon-gar antes e depois de fazer exercício. Usar sapatos de desporto adequados;

∙ No caso das mulheres, devem usar sapa-tos de saltos baixos e com um bom suporte;

SÁUDE PARA TODOS 1

Durante os movimentos do tronco nas várias direções, a pressão nos discos da coluna torna-se irregular. A repetição destes movi-mentos, especialmente se o movimento for brusco e a pessoa não estiver preparada para o executar, pode causar lesões num disco. Após várias destas lesões podem surgir ruturas da parte externa do disco, e o interior do disco intervertebral pode exteriorizar-se por essas fendas, produzindo uma hérnia discal. Também as alterações degenerativas relacionadas com a idade tendem a provocar a perda de flexibilidade e elasticidade dos dis-cos intervertebrais e, consequentemente, a sua fragilidade e rutura.

HÉRNIA DISCAL

COLUNAVERTEBRALA coluna vertebral é composta por trinta e três pequenos ossos ou vértebras que sustentam o corpo, permitindo o movimento e prote-gendo a medula. Entre cada duas vértebras típicas existe um disco intervertebral, que ajuda a absorver as pressões e impede o atrito entre as vértebras. Para além de servirem de amorte-cedores, estes discos garantem a flexibilidade da coluna vertebral.A coluna também protege a me-dula, que é constituída por fibras nervosas que ligam o cérebro ao resto do corpo. Trinta e três pares de raízes nervosas saem da me-dula, por ambos os lados, através de espaços existentes entre as vértebras.A coluna vertebral possui três segmentos principais: o cervical (pescoço), o torácico (tórax) e o lombar (cintura). A coluna lombar é constituída por cinco vértebras.

Ana Cristina Pratas 1TEN MN

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REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2013 31

O primeiro dia… para lá da Taprobana…

NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (21)

A nobre ilha também de Taprobana1

Já pelo nome antigo tão famosaQuanto agora soberba e soberana Pela cortiça cálida e cheirosa2

Dela dará tributo à LusitanaBandeira, quando, excelsa e gloriosa na torre erguida,Em Columbo3, dos próprios tão temida…

Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas

Chegou o dia que marca a diferença. Lá fui, de guia em punho, para a minha Nova Unidade. Nada menos que o

HFAR, a Unidade do Lu-miar, do Pólo de Lisboa, do Centro Hospitalar de Lisboa das Forças Arma-das (…longo não é!?). Al-guém, sorrindo, reparou que HFAR também pode corresponder às iniciais de Hospital da Força Aé-rea. Certamente a dupla correspondência não terá sido mais que outra das traições da Língua Portu-guesa. É uma certamente justa traição, porque o edifício principal e sede da nova estrutura corres-ponde ao que antes se designava por Hospital da Força Aérea.

Levava alguma ansie-dade. Estou formatado pela Marinha e não só pela Marinha do finado Hospital da Marinha, agora encalhado num estertor agónico ali para os lados de Sta. Clara. O inesperado e a rapidez do movimento ainda me causam surpresa. Não fui o primeiro, nem o mais an-tigo, a rumar para o Pólo do Lumiar – já tra-balham no HFAR vários outros médicos que fardam do “Azul Mais Escuro” e usam óculo carmim nos galões, entre eles um Almirante na Reserva Ativa.

Aos poucos fui percebendo que sou Co-mandante. Em tantos anos de Marinha, e excetuando a passagem pelo Instituto de Es-tudos Superiores Militares, sempre fui Dou-tor. E lá fui andando entre Capitães que não são de mar, Majores e Coronéis, que não são “meus”… Mas são da Força Aérea e do Exér-cito Português…

Percebi que a estrutura hospitalar era nova e moderna, com um ar americano, que fazia lembrar o Hospital Naval da Base Naval de Mayport, em Jacksonville, Florida, EUA, que

tive o prazer de visitar aquando de missão NATO – que agora me parece tão longínqua. Conheci a “Cafeteria Geral”, onde os preços são iguais aos do público em geral e muito, muito longe, dos quadros compostos por nós de marinheiro, dos nossos “Bares da Canti-na”, com preços convencionados à bolsa dos marinheiros…

Também na Messe dos Oficiais senti, imen-so, a falta do bacalhau à Segunda-Feira, e de algum dos marinheiros da Taifa que comigo embarcaram e que fui encontrando pelas vá-rias Unidades Navais por onde passei. Tive saudades das suas gentilezas, que nunca dei-

xei de retribuir, e azedei com o peixe cozido onde as proporções estavam invertidas; em vez de peixe temperado com algum sal, rece-bi sal temperado com algum peixe…

Posso dizer que fui bem recebido, com muita dignidade e, ouso afirmá-lo, até com alguma simpatia. Esta foi demonstrada parti-cularmente pelos camaradas da Força Aérea, especialmente da Cardiologia, que conheço desde há muitos anos. De certo modo po-demos dizer que já constituímos uma Task Force Aero-Naval, sediada naquele porta--aviões… Na verdade muitos lembram que a Força Aérea nasceu na Marinha…

A verdade é que o paradigma da Saúde Militar mudou irreversivelmente. Dizia--me um outro marinheiro na mesma Uni-dade, eles não te conhecem, ó Doc… É bem verdade. É verdade que muitos dos novos técnicos de saúde com que agora vou privar não conhecem o balanço das

Corvetas no Canal entre o Faial e o Pico. É verdade que não viram os milhares de mati-zes que o sol toma no brilho metálico do mar espelhado de um tom prata, que fere o olhar. É verdade, fundamentalmente, que não conhe-cem o tempo que o mar tem para histórias de marinheiros (…únicas de intriga e sabor), que ao longo dos anos fui descrevendo… Não conhecem, numa palavra, o sentir da mare-sia (que é parecido com o sentir da saudade, da solidão e do vento em dia de tempestade), que me marcou profundamente…

Contudo, tenho a certeza, todas as pessoas têm os seus méritos, a sua cultura (também

certamente influenciada pela cultura da instituição a que pertenciam). Uma coisa é certa, pelo que me toca, não deixarei de ser quem sou… Vou também fazer o que esti-ver ao meu alcance para fazer da “nova Unidade” uma Marinha “pequeni-na”, no que diz respeito às relações interpessoais. Tecnicamente acredito (…e acreditamos muitos), que se deve aproveitar esta nova realidade, um Hospital maior e com mais recursos, para criar mais capacidades técni-cas, só possíveis com a massa crítica que agora se antevê…Também esta será na conjuntura atual a melhor maneira de servir a Marinha…

Deste modo, como na estrofe introdutória do Grande Camões, a Saúde Naval passou para lá da longínqua Taprobana cujo mito há muito se antevia. Eu, humildemente, espero ter a arte para, deste novo estar, saber colher a canela doce, para glória desta tão maltra-tada pátria Lusitana. Os meus novos cama-radas a seu tempo saberão certamente que há um médico de Marinha que escreve sem mandato. Não é poeta grande como o outro Luís atrás citado. É o Doc e é marinheiro…

DocNotas:1 Ilha de Taprobana – Ilha de Ceilão2 Cortiça cálida, cheirosa – Casca cheirosa, a canela.3 Columbo – Capital de Ceilão.

N.R. O 1TEN MN J.R. Croca passa a ilustrar as Novas Histórias da Botica.

O primeiro dia… para lá da Taprobana…

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MARÇO 2013 • REVISTA DA ARMADA32

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REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2013 33

JOGUEMOS O BRIDGE PALAVRAS CRUZADAS

QUARTO DE FOLGA

JOGUEMOS O BRIDGE

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 160

SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 442

Problema Nº160PALAVRAS CRUZADAS

Problema Nº442

W – E vuln. S abre em 4♠ e recebe a saída a ♣A. Analisando as 4 mãos constatamos que existem 4 perdentes face à má colocação do A de ♥ e do R de ♦. Como deve S jogar para anular uma das perden-tes e cumprir o seu contrato?

Solução neste número

À mesa pode haver a tentação da passagem ao R de ♦, pois se estiver bem até fará vazas a mais. Todavia, essa linha não será segura e tem apenas 50% de probabilidades de sucesso. A segurança neste jogo consiste em baldar um ♦ na saída e cortar só à 2ª; a seguir destrunfar para o que basta uma vez; joga A♦ e D cortando se E entrar de R, ou baldando uma ♥ caso não aparecesse o R, pois não haveria perigo se a mão fosse para W; com entrada no morto em trunfo, no V♦ terá mais uma balda a ♥ para o cumprimento do contrato. Este problema mostra como é importante fazer uma pausa antes da primeira joga-da, de modo a evitar que haja precipitações irreparáveis, o que será o caso se cortar o A♣ e pensar depois.

Nunes MarquesCALM AN

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Horizontais: 1- Molhelha ( prov ); género de árvores de Moçambi-que (inv). 2-Plantas anonáceas do Brasil; sino na confusão. 3-Usada por condutores de bestas para as fazer parar (int.); grande navio antigo de carga; rio português. 4-Vazio; o mesmo que arco–íris; preposição. 5-Desperta; noventa e nove romanos. 6-Faz aparecer a irisação; físico e político franc., redactor de O Amigo do Povo, foi um dos instiga-dores da matança de Setembro (1743-1793) (ap). 7-Nota musical; a parte delgada do navio, entre a linha de água e o gio grande. 8-Estás; fazer intumescer; tira de pano, sobre que se ajustam os punhos e o co-larinho (inv). 9-Tília (Poét.); mais adiante; no meio da alna. 10-Nome genérico dos calabres que servem de apoio lateral aos mastros do navio (Náut.); atascai. 11-O mais ilustre dos poetas persas, autor do Jardim das Rosas (1184 -1291); lago do Brasil, na margem esquerda do Solimões, com o qual comunica subterraneamente.Verticais: 1- Ordem de cogumelos que formam massas moles, gela-tinosas, sem forma determinada. 2-Levar à boca; terceira pessoa da Trindade hindu, deus que é ao mesmo tempo destruidor, terapeuta e fecundador. 3-Moeda chinesa; seita (inv); é quase leal. 4-Eiró; lago da Itália, na Lombardia, atravessado pelo Óglio; mil e quinhentos roma-nos. 5-Águas-vivas das marés; utensílio de cozinha. 6-Deus da Mito-logia grega, identificado com o deus Marte dos Romanos (inv); oculta. 7-Grito de dor; pequena onda. 8-Artigo definido pl.; camada superior de rocha da crosta terrestre, de 50 a 100 kms de espessura, constituí-da principalmente por rochas de natureza granítica, ricas em silício e alumínio (Geol.); no princípio de montar. 9-Reboque; rio de Portugal, afluente do Dão; nota musical. 10-Vocifera; afiara. 11-Arte de cultivar e aumentar a memória.

Norte (N)

Sul (S)

Oeste (W) Este (E)

A53

RDV109762

4 8

123456789

1011

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

876

R32

AV104

D95

ADV7

109

865

R432

V84

-

AR632

D10975

Horizontais: 1-malim; aotum. 2-ibiras;soin. 3-xo;olea;ave.4--oco;iris;em. 5-matina;ic. 6-irisa;marat. 7-re;calime. 8-es;opar;soc. 9-til;alem;ln. 10-ovem atolai. 11-saadi;anama.Verticais: 1-mixomicetos. 2-abocar;siva. 3-li;otir;lea. 4-iro;iseo;md. 5-malina;pa. 6-sera;cala. 7-ai;mareta. 8-os;sial;mon. 9-toa;cris;la. 10-uive;amolam. 11-mnemotecn ia.

Carmo Pinto1TEN REF

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NOTÍCIAS PESSOAIS

CONVÍVIO

COMANDOS E CARGOS

RESERVA

REFORMA

FALECIDOS

NOMEAÇÕES● CALM António Manuel Fernandes da Silva Ribeiro nomeado Di-retor-geral do Instituto Hidrográfico ● CALM Fernando Manuel de Macedo Pires da Cunha nomeado Comandante da Zona Marítima dos Açores, em acumulação Chefe do Departamento Marítimo dos Açores ● CALM António Maria Mendes Calado nomeado Subche-fe do Estado-Maior da Armada ● CFR Carlos Osvaldo Rodrigues Campos nomeado Chefe da Repartição de Sargentos e Praças ● CFR António José Duarte Costa Canas nomeado Diretor do Museu de Marinha ● CTEN Paulo de Carvalho dos Santos Garcia nomeado Comandante do NRP Arpão ● CTEN ENM Paulo Manuel Marques da Silva Triunfante Martins nomeado Chefe do Serviço de Apoio do Departamento Marítimo do Norte e em acumulação Chefe do Ser-viço de Manutenção e Apoio Geral do Comando da Zona Marítima do Norte.

● VALM Agostinho Ramos da Silva ● CMG César Martinho Gus-mão Reis Madeira ● CMG Carlos Fernando Heitor Cardoso ● CMG Diogo Alberto Font Xavier da Cunha ● CMG EMT Paulo Manuel Dinis Mónica de Oliveira ● CMG Fernando Manuel Maia Pimentel ● CMG EMQ Vítor João Nunes Bernardino ● CMG João Manuel Rijo da Fonseca Ribeiro ● CMG EMQ Francisco José Piedade Oli-veira ● CMG Guilherme Adelino Figueiredo Marques Ferreira ● CMG Pedro Manuel Filipe do Amaral Frazão ● CMG Luís Manuel Costa Crispim de Sousa ● CMG EMQ Paulo Alexandre de Almei-da Machado ● CMG José Eduardo Madureira Ferreira da Costa ● CMG AN Henrique Josué Simões Candeias ● CMG MN Nuno Ma-nuel de Freitas Lomelino Gomes Machado ● CFR SEP José Manuel Morais Torres Borges ● CFR José Eduardo Fragoso Gouveia ● CFR Nuno José Galvão Teles Viegas ● CFR SEG Gil Valentim dos San-tos Lopes ● CFR António Manuel Loureiro de Sousa ● CTEN TS João Manuel da Silva Graça ● CTEN SEC José Virgulino Sebastião Martins Teodósio ● CTEN SEL Tito Manuel Carvalho ● CTEN SEP José António Neves Ferreira ● CTEN SEL Paulo Jorge Branco Va-lentim ● CTEN SEP José Carlos Teixeira Fernandes ● CTEN AN Sérgio Manuel da Piedade Miranda ● CTEN SEF Adelino de Jesus da Costa Bernardo ● 1TEN STP José Ascenso Pereira ● 1TEN STL Fernando José Fialho dos Santos Lucas ● 1TEN STL Vítor Manuel Carrança Luís ● SMOR V Jaime de Jesus Lopes ● SCH ETS Mário João de Brito Martins Santos ● SAJ L Ilídio Joaquim da Costa ● SAJ MQ Paulo Jorge Lopes D´Assunção ● SAJ MQ Lucílio Manuel Peli-xo Monteiro ● SAJ CM Joaquim Manuel Branco Bico ● SAJ C Ma-nuel António Nunes Dias ● SAJ A Mário Manuel Guerreiro Galam-ba ● SAJ FZ António Manuel Campos Dias ● 1SAR MQ Fernando Manuel da Silva Nordeste de Oliveira ● 1SAR MQ Victor Manuel Novo Lajes ● 1SAR MQ Alcino Eugénio Paiva Azevedo ● 1SAR R

Paulo Jorge Amâncio Ferreira ● 1SAR FZ Victor Manuel Cabete de Almeida ● CAB A António Manuel Teixeira Estácio Gonçalves ● CAB A José Hilário Dias Serra ● CAB A José Manuel Pascoal Mes-tre ● CAB V Afonso António Neves ● CAB TFH Nuno José Grilo Honrado ● CAB TFD César Augusto Pinto ● CAB A João Augusto Duarte Rodrigues ● CAB L Victor Manuel Dias Fernandes.

● CMG Rogério António Jorge Guerra ● CMG César Augusto Nogueira da Fonseca ● CFR SEL Augusto de Almeida Machado ● CFR SEF Carlos Manuel Gaspar das Neves ● CFR SEI Manuel Victorino Rodrigues da Silveira ● CTEN SEF Francisco Rodrigues Sá Pombo ● 1TEN TS João Manuel Fernandes Esteves ● SMOR L Jorge Duarte Monteiro ● SMOR L José Norberto Gonçalves da Silva ● SMOR L António Manuel João da Conceição ● SMOR US Ma-nuel Avelino Rebelo Rodrigues ● SMOR H Alberto Mestre Palma Rodrigues ● SMOR TF Adão Castro Silveira ● SCH CE Carlos Ma-nuel Rosa Ferreira ● SCH B Amílcar de Sousa Muranho ● SCH E Albano da Silva Furtado Ginja ● SAJ L Jorge Manuel Calado Valério ● SAJ CM Jerónimo Chambino Flores ● SAJ A José Joaquim André Martins ● SAJ A José António Duarte Rodrigues ● SAJ R Joaquim Luís de Sousa ● SAJ FZ Alberto Farinha Martins ● 1SAR A Manuel Francisco Duarte do Amaral ● 1SAR CM José Luís Alfaiate Torres ● 1SAR E Modesto Mendes da Silva ● 1SAR CM José Carlos da Conceição Antunes Abreu ● 1SAR US José Luís Silva Salvaterra ● 1SAR CM José Manuel Fernandes de Matos ● 1SAR C Rui Manuel Ramos Leal Pereira ● CAB TFD Victor Parreira de Jesus ● CAB A José Manuel Borrego Ramos ● CAB M Joaquim Ferreira Leal ● CAB L António Augusto Caldas ● CAB CM Domingos da Salvação Loureiro ● CAB T Manuel Cardoso Patrício ● CAB T João Manuel da Silva Mareiros ● CAB CM Mário Rui dos Anjos Marques ● CAB CM Carlos Alberto Dias Marques ● CAB M José da Graça Tojo.

● CMG EMQ REF Joaquim António Leal Martins ● CTEN SG REF João Ricardo Moreira ● 1TEN OTT REF José Joaquim Barros Arenga ● SAR MOR CM REF Cipriano Manuel Vicente ● SCH CE REF Joaquim Saraiva Nascimento ● SAJ A REF Manuel Joa-quim Ferreira ● SAJ R REF António Luís da Cruz ● SAJ M REF Carlos dos Santos ● SAJ FZ REF Manuel Aguiar Beleza ● SAJ FZ DFA REF Ataíde Alves Candeias ● 1SAR L REF João Marreiros Batista ● 1SAR TES REF José Miranda do Nascimento ● CAB A REF António dos Santos ● CAB M REF Luís Filipe Almeida dos Santos ● CAB CCT REF Agostinho Carvalho Banha ● CAB FZ REF Manuel Carlos Serra Lopes Pombeiro ● CAB A REF João Pe-reira Esteves Dias ● 2GR DFA REF Luís Carlos Freitas Castelo ● AG 1ª CL QPMM APO Inácio dos Santos Caetano ● Patrão Costa QPMM APO António Rodrigues Ziz.

“FILHOS DA ESCOLA” DOS RECRUTAMENTOS DE SETEMBRO DE 1959 E MARÇO DE 1960

●Avisam-se todos os “Filhos da Escola” dos recrutamentos de Setembro 1959 e Março 1960 que se vai realizar o almoço anual de confraternização no dia 13 de abril, no restaurante VIAMAR, em Alfeizerão, concelho de Alcobaça.Os interessados devem contactar: Fernando Mendes (coordenador) – 913 571 333.

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Navios HidrográficosNavios Hidrográficos

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NRP DOM JEREMIAS

LANCHA HIDROGRÁFICA CRUZEIRO DO SUL

O NRP Dom Jeremias era uma lancha de fiscalização, construída nos Estaleiros Navais de S. Jacinto, em Aveiro, pertencente à classe Dom Aleixo. A atribuição da denominação Dom Jeremias foi feita em homenagem ao régulo timorense D. Jeremias de Lucas, morto pe-los invasores japoneses, em defesa da soberania por-tuguesa, durante a II Guerra Mundial.

Foi aumentada ao Efe-tivo dos Navios da Ar-mada em 22 de dezem-bro de 1967, estando ini-cialmente destinada a servir em Timor. Porém, em 10 de abril de 1968, foi atribuída ao Coman-do Naval de Cabo Ver-de, onde se manteve du-rante dois anos e meio em operações de fiscalização, tendo regressado a Lisboa em 27 de outubro de 1970.Em 1975, foi adaptada a lancha hidrográfica e, a partir de então, participou em inúmeros trabalhos hidrográficos e oceanográficos.

O NRP Cruzeiro do Sul era um antigo iate construí-do em Inglaterra em 1935 apresado pelas autoridades portuguesas numa operação de contrabando. Conver-tido em lancha hidro-gráfica, foi aumentado ao Efetivo dos Navios da Armada em 1 de no-vembro de 1968.A atribuição da deno-minação Cruzeiro do Sul foi feita em alusão à constelação do he-misfério sul dada a co-nhecer à Europa no sé-culo XVII pelo navega-dor português Pedro Fernandes de Queirós.A lancha apresentava as seguintes características:Deslocamento máximo . . . . . . . . . . . . . . . . 120 toneladasComprimento (fora a fora) . . . . . . . . . . . 28,33 metrosBoca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5,49 “Calado máximo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2,43 “Velocidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 nósEra propulsionada por dois motores a diesel de 320 ca-valos e dispunha de uma guarnição de 8 homens.Entre os trabalhos em que participou destacam-se o cru-

A lancha apresentava as seguintes características:Deslocamento máxmo . . . . . . . . . . . . . . . . 67,7 toneladasComprimento (fora a fora) . . . . . . . . . . . 24,9 metrosBoca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5,1 “Calado máximo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1,5 “Velocidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 nós

Dispunha de dois mo-tores diesel com 1.270 cavalos e a sua guarni-ção era de 8 homens.Colaborou em diversos trabalhos de hidrogra-fia e oceanografia, es-pecialmente na costa continental portugue-sa. Em 1987 foi subs-tituída pela lancha hi-drográfica Auriga, ten-do posteriormente sido

entregue ao Comando da Flotilha de Patrulhas. Em 19 de dezembro de 1997, a lancha de fiscalização Dom Jeremias foi abatida ao Efetivo dos Navios da Armada.

Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO

zeiro MALAC, em 1971, para apoiar cientificamente as atividades piscatórias da captura do atum no Algarve e os levantamentos hidrográficos dos portos de Huelva

e Sines e da barra do porto de Lisboa. Ain-da, a bordo teve lugar o primeiro estudo de poluição no rio Tejo, o qual contou com a par-ticipação de técnicos estrangeiros e do Insti-tuto Ricardo Jorge.Efetuou igualmente le-vantamentos hidrográ-ficos na barra do rio Guadiana que tiveram por finalidade resolver

o problema do seu assoreamento, de modo a permitir o acesso a navios com maior calado, atendendo à im-portância crescente da sua área portuária situada numa zona fronteiriça. Em 13 de agosto de 1975, o NRP Cruzeiro do Sul foi de-sarmado e em 7 de julho de 1976 abatido ao Efetivo dos Navios da Armada.

Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO

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Navios HidrográficosNavios Hidrográficos

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NRP DOM JEREMIAS

LANCHA HIDROGRÁFICA CRUZEIRO DO SUL