Ciclo Mundos - INATEL

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DIRETOR - FRANCISCO MADELINO JORNAL BIMEStrAL 3. a SÉRIE • 1€ N. 0 10• Mar-abr 2018 Ciclo Mundos A força do multiculturalismo

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DIRETOR - FRANCISCO MADELINO JORNAL BIMEStrAL3.a SÉRIE • 1€ N.0 10• Mar-abr 2018

Ciclo MundosA força do multiculturalismo

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Jornal Tempo Livre | email: [email protected] | Propriedade da Fundação Inatel | Presidente do Conselho de Administração Francisco MadelinoVogais Álvaro Carneiro e José Alho Sede da Fundação Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 Lisboa Diretor Francisco Madelino Publicidade Tel. 210027000/ [email protected] Impressão So-gapal – Comércio e Indústria de Artes Gráficas, S.A., Estrada de São Marcos, 27 – São Marcos, 2735-521 Agualva-Cacém Tel. 214347100 Dep. Legal 41725/90 Registo de propriedade na ERC 114484 Preço 1 € Tiragem deste número 114.035 exemplares Membro da APCT – Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação | Estatuto editorial publicado em www.inatel.pt

Património Culturale Multiculturalidade

Este ano é o Ano Europeu do Património Cultural. A de-marcação destes anos serve, sobretudo, para chamar a atenção e dar relevo a assuntos considerados determi-nantes para as sociedades atuais.

A preservação e o conhecimento do Património Cultu-ral, material e imaterial, europeu é certamente um destes assuntos importantes.

Património é conhecimento. Liga o sentir dos homens aos seus territórios e ao meio envolvente que marcou e marca a sua forma de ver o Mundo. Demonstra-nos que é importante respeitar as diferenças das pessoas, para que possamos viver em Paz e res-peitando a Liberdade dos outros. Consciencializa-nos que só é possível abrir fronteiras se se tiver consciências das diferenças que estão por detrás delas. Fazem-nos perceber que os homens são uma mistura entre o seu livre-arbítrio e escolhas individuais, mas também enraizados em genéticas culturais profundas, que determinam os seus comportamentos e os seus valores.

Património é economia também, pois os homens usufruem, cada vez mais, de lazer e nele procuram crescentemente expe-riências em zonas diferentes onde vivem e cresceram. Património bem preservado é fonte de exportações e de emprego.

Nas sociedades de hoje, onde é cada vez mais fácil viajar e os movi-mentos demográficos são profundos, entre países e dos campos para as cidades, observa-se um grande desafio à sustentabilidade social das grandes urbes, e nesta o respeito pela diferença dos outros apre-senta-se como um elemento comportamental e educacional crucial.

A Fundação Inatel, porque se constitui de serviços de turismo e hotelaria, porque tem na sua missão a promoção da cultura por-tuguesa, porque tem um património histórico riquíssimo em re-ceber e inserir refugiados, de vários pontos no Mundo e porque se alicerça na economia social, tem consciência da importância profunda deste Ano Europeu.

Este número é assim dedicado a este, e nele ao valor da mul-ticulturalidade. Portugal é um País constituído entre várias he-ranças culturais. Das germanas às árabes, passando pelas latinas e mediterrânicas. Das africanas e americanas, passando pelas asiáticas. É esta mistura que nos deu e dá uma grande riqueza cultural patrimonial.

O Jornal Tempo Livre não poderia assim deixar passar em claro este evento.

FRANCISCO MADELINOPresidente da fundação inatel

Editorial

4Entrevista: Zap Mama

6Entrevista: Elida

Almeida

8Fotorreportagem:

Ação de limpeza das florestas

9Viajando com livros

10 A Casa na árvore

11 Memórias de Júlio

Isidro

12 Entrevista: Cláudio

Torres

14Campeonato

gastronómico

15Viagem: Rota de D.

Quixote

16Desporto: Gonçalo

Nunes

19Teatro da Trindade

Inatel

20Coluna do Provedor |

Notícias

22Contos do Zambujal

23Passatempos | AgendaÍN

DICE

ilustraçãoAlex gozblau

capa

Alex Gozblau é ilustrador com presença regular nas páginas do Expresso, Sábado, Visão, Diário de Notícias e Público; autor de livros ilustrados publicados por Caminho, Alfaguara, Pato Lógico, Texto, Planeta,

Santillana, entre outras editoras; artista gráfico responsável por capas de livros editados pela Porto Editora, Edições Asa, Abysmo, Feltrinelli, Chandeigne, Caravan Edizione, Prisa, Levoir, e por cartazes para filmes e peças de teatro.

Expõe, em nome individual e em mostras colectivas, regularmente e conta ainda com trabalhos reconhecidos em áreas como a banda desenhada e o cinema de animação.

Venceu o Grande Prémio Stuart de desenho de imprensa El Corte Inglés/Casa da Imprensa, na sua sexta edição e teve outros trabalhos distinguidos pelo Clube de Criativos de Portugal, pela Society for News Design, e Society of News Design Ibérica.

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O formato de quinteto vocal foi extinto em 1996. Zap Mama passou por vários ciclos, influenciados pelo ritmo da vida pessoal e profissional de Marie Daulne, que foi criando vários projectos

paralelos de música e de ensino. Zap Mama esteve um longo hiato de 10 anos sem a edição de um disco de temas originais que estará prestes a ser quebrado com a edição este ano (ainda sem data marcada) do oitavo álbum “Eclectic Breath”.Antes de deixar o Teatro da Trindade, Marie Daulne conversou com o Tempo Livre sobre as muitas vidas de Zap Mama. Em plena fase a capella do projecto Zap Mama, a editora norte-americana Ellipsis Arts lançou uma compilação de percussão africana com o curioso nome “The Big Bang: In The Beginning Was a Drum” (ed. 1994). Para si, o início era mesmo a voz…Sim, para mim a voz é o início porque a primeira coisa que fazemos é respirar. As pessoas podem pensar que fazemos ritmo com a voz, mas não é ritmo, é vibração das cordas vocais. Sim, o início é mesmo a voz.

Nasceu no Congo, mas cresceu na Bélgica. O que é que encontrou de diferente e que desconhecia quando já em adulta mergulhou na busca das raízes musicais do Congo, das polifonias vocais das tribos locais de pigmeus?Sem dúvida, os laços que se estabelecem na comunidade, que são muito mais importantes do que o individualismo. Quando se canta em conjunto, há o propósito de servir uma canção, de servir um espírito superior. Na Europa, o cantor é muito mais individualista. Chegou a viver nos Estados Unidos entre 2000 e 2004. O que é que ganhou em termos musicais com essa experiência?Uma maior dieta de música soul. A comunidade afro-americana canta em igrejas. Não canta individualmente, canta em comunidade, para servir Deus, Jesus, ou outra entidade superior. É uma experiência mais espiritual. Aí, a música é muito importante para as suas vidas. Na Europa a música também é importante, mas menos. Os americanos gostam de desporto e de música. Podes ir a qualquer cidade e tens sempre público. No entanto, a Bélgica tem sido ao

longo destes últimos 30 anos um local profícuo de criação musical por parte de artistas de sangue africano. Existem editoras como a Crammed, a Muziekpublique, a Igloo. Há mais uma fornada de novos artistas a afirmarem-se como referências, como por exemplo o Baloji, que também é belgo-congolês. Como é que vê esta evolução?Fico feliz por ter contribuído para abrir algumas portas e que a nova geração tenha seguido esses passos. Há também o Stromae [filho de pai ruandês e mãe belga] que se tornou muito popular na música electrónica. Fico feliz por ter sido uma espécie de “mamã” e espero continuar a usufruir daquilo que a nova geração está a fazer. Miriam Makeba, Hugh Masekela, foram as minhas inspirações. Eles foram-se embora. Qualquer dia eu irei também. Espero que os mais jovens continuem a trabalhar desta forma. Tem outros heróis fora da música africana como a Erykah Badu. Como é se sentiu quando ela lhe ligou para lhe propor uma colaboração?Não sabia o que dizer. Nessa altura estava numa fase de busca de verdade na minha música. E a verdade nessa

Entrevista Zap Mama

Abriu da melhor forma a temporada de 2018 do Ciclo Mundos. Verdadeira lenda viva do universo da chamada “world music”, o projecto Zap Mama da belgo-congolesa Marie Daulne, deixou a sua marca profunda em todos os amantes de música em geral no início dos anos 90 com dois antológicos álbuns em formato a capella, em que a voz era o principal instrumento: “Zap Mama” (ed. Crammed, 1991) e “Sabsylma” (ed. Crammed, 1994)

No início era a

voz

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música não era seguir o que estava na moda. Agora toda a gente toca e segue a nova soul. A música que faço é a minha música, não importa o estilo e penso que a Erykah Badu gosta disso em mim. Pediu-me para a trazer para o meu mundo. A canção que gravámos [“Bandy Bandy”] tem soul, tem influências japonesas…Desde o álbum “Seven” (ed. Virgin, 1997) tem editado discos na área da soul, do r&b, do funk, do jazz. Nunca pensou em voltar às suas raízes, às polifonias vocais em bruto?O espectáculo que fiz o ano passado tinha quatro vozes e um beatboxer. No novo álbum tenho quatro danças a capella (dançamos enquanto cantamos). Tenho feito muitos workshops, ensino o lado histórico das polifonias e cantamos em conjunto, em vez de termos uma banda. Mas tenho uma guitarra e um portátil para o beat. Talvez possamos vir aqui a Lisboa fazer mais um espectáculo.Zap Mama tem tido muitas fases. O último disco que lançou foi há quase 10 anos. Está a preparar um disco novo que se chama “Eclectic Breath”. Porquê este hiato?Precisei de parar, porque servi a música

beatriz LORENA

durante mais de 25 anos. Precisei de ter tempo para ver os meus filhos a crescer. Precisei também de estar com a minha mãe e a minha família. Fui compondo em casa. E entretanto a indústria musical mudou. Precisamos de encontrar uma nova forma de espalhar a palavra. Voltando à Bélgica, começou a gravar com o Marc Hollander da Crammed Discs e com o Vincent Kenis que produziu o seu primeiro disco e que posteriormente foi responsável pela fabulosa série “Congotronics”. O que pensa deste papel belga na evolução da música africana?O Vincent Kenis fez um trabalho fantástico recolhendo música fenomenal como Konono n.º1 e Kasai Allstars que adoro. Somos amigos e gastamos algum tempo a ouvir essa música que nos inspira e que inspira igualmente a Björk. Konono n.º1 inspirou igualmente muita gente na área da música electrónica. Mas a nova geração transformou completamente a sonoridade, a vibração, a frequência. É fantástico. Continua a trabalhar com Vincent Kenis?Apenas falámos de música, das nossas colecções, de coisas que ainda não

editámos. É um homem apaixonado. Continua a ir ao Congo, a Kinshasa para fazer pesquisa, ouvir vozes locais? Não tenho ido de propósito ao Congo pela música. Tenho viajado por todo o mundo. Estive recentemente na Indonésia, em Jacarta e no Bali e fiquei fascinada com a cadência das vozes. Não sou nacionalista. Cada ser humano, cada cultura tem algo belo. Sempre teve uma forma muito própria de trabalhar. Tudo o que a rodeia inspira-a. Recordo-me de um dos seus primeiros temas, “Telephone”, inspirado no ruído criado pelas várias conversas telefónicas em simultâneo que escutava nos aeroportos quando se encontrava em trânsito. Ainda trabalha desta forma? Com esta impulsividade?Absolutamente. No meu novo disco tenho um tema que se chama “Text” porque toda a gente está actualmente a enviar mensagens através do telemóvel. Neste disco irei ter também canções em português, com o actor Vincent Cassel [ex-marido de Monica Bellucci com quem chegou a viver no Rio de Janeiro] e com o Seu Jorge em “Me And You”.Luís Rei[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

“Não tenho ido de propósito ao Congo pela música. Tenho viajado por todo o mundo. Estive recentemente na Indonésia, em Jacarta e no Bali e fiquei fascinada com a cadência das vozes. Não sou nacionalista. Cada ser humano, cada cultura tem algo belo”

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Se “Ora Doci Ora Margos” (ed. Lusafrica, 2015) é um disco autobiográfico em que folheia páginas-canções do seu diário pessoal, “Kebrada (ed. Lusafrica, 2017) para além de reviver boas e doces memórias de infância,

de venerar as suas raízes familiares e culturais, faz uma radiografia social ao lado amargo de alguns dos delicados assuntos que estão a flagelar boa parte da juventude que reside em todo o arquipélago. Na sua obra musical, Elida Almeida foge ao arquétipo de cantora de morna ou de coladeira e, por isso mesmo, nunca poderá ser considerada como uma sucedânea de Cesária Évora. Com o coração apegado às muitas tradições locais (morna, coladeira, batuque, funaná e tabanca), à veneração dos grandes heróis musicais badios (como Katchás, Manuzinhu, Sema Lopi, Norbertu, entre muitos outros) e com os olhos e os ouvidos bem atentos à soul e ao r&b globalizado do séc. XXI, Elida Almeida revela-se uma força da natureza da melhor pop de alma e de calor africano que se faz nos dias de hoje. Estavas à espera da recepção que tiveste no Ciclo Mundos com duas datas esgotadas? Qual foi o segredo?Não. Fiquei surpreendida. Estava na Costa do Marfim de férias. Uma pessoa que me apoia muito enviou-me uma fotografia com o cartaz que dizia Lotação Esgotada. Uau! Isto não é o meu concerto. Fiquei mesmo feliz. Quando surgiu a ideia de fazer um segundo concerto, eu disse: façam o que quiserem! Tivemos montes de mensagens nas redes sociais de pessoas que não conseguiram comprar bilhetes. Ainda esgotavas um terceiro concerto…Acho que sim (risos). A Ana [José Charrua] estava pronta para fazer isso. Ficaste então a dever um concerto a Lisboa...Vamos planear isso. Qual é o sinal de tudo isso? É que estamos a entrar de mansinho no território português. Temos de agradecer e dar uma salva de palmas à diáspora cabo-verdiana que me vem apoiando incondicionalmente há 3 anos. Muito obrigada mesmo. Essa diáspora cabo-verdiana apoia-te não só em Portugal como também em França…Em todo o lado. Onde é que tens esse público mais caloroso para além de Portugal?Em todo o lado. Fiquei mesmo

surpreendida. Só começas a ter noção da importância da diáspora quando sais de Cabo Verde. Há três anos, quando comecei, em todos os concertos havia cabo-verdianos e houve pessoas que, durante esse período, apareceram em todos os meus concertos. Tenho pessoas em Paris que já as conheço de irem sempre aos meus concertos. É uma coisa maravilhosa de ver e sentir. Temos uma comunidade muito forte na França, em todas as cidades: Marselha, Paris. Também há uma comunidade muito forte nos Estados Unidos. Já fui lá duas vezes com concertos completamente esgotados. A maior parte dos artistas cabo-verdianos são sempre muito acarinhados pelos seus conterrâneos. Há sempre ali uma falange de apoio omnipresente e em família (da filha mais nova, à mãe e à avó). A música para o cabo-verdiano é um dos aspectos mais fortes de apego à sua cultura. E o facto de ser emigrante incentiva ainda mais.Sim. Num outro dia estava à mesa com os músicos que me acompanham e estávamos a falar dos nossos artistas e das nossas lendas. Acabei por dizer que, na nossa bandeira, em vez de termos o milho [na anterior bandeira que vigorou entre 1975 e 1992] deveríamos ter tido um ícone da música. Toda a gente conhece Cabo Verde através da música. Sei que Cabo Verde deve muito à diáspora, à emigração. Em cada casa, tem uma ou duas pessoas que é emigrante. Mas não tinha uma percepção do quão unidos são os cabo--verdianos na diáspora. Eles consomem mesmo música. Compram discos. Depois há uma aculturação clara. A neta já tem um namorado franco-português. Leva-o ao concerto e ele, por sua vez, leva também a família dele. Numa sala tens 50% de cabo-verdianos e 50% de luso-franceses que foram com os cabo- -verdianos.Isto é o lado mais doce da tua carreira musical. Nos teus discos também olhas muito para o lado amargo de Cabo Verde. Esse dom da escrita de canções vem desde muito cedo?Sim, eu sempre gostei de escrever e de falar. Os professores sempre me disseram que deveria ter uma profissão relacionada com a comunicação. A minha primeira música, “Nta Konsigui”, que foi também o meu primeiro single, escrevi-a com 17 anos. A partir daí não parei. Escrevo sobre o que acontece em Cabo Verde, o que me acontece, o que se passa com os meus vizinhos, os meus

familiares. Neste disco [“Kebrada”] fui um bocadinho mais longe. Falo no que acontece nas outras ilhas. Falo sobre os flagelos sociais de Cabo Verde com que temos de lidar diariamente. Deixa de ser um disco autobiográfico, para passar a ser um disco de crónica social. É isso?É quase uma radiografia do que se está a passar neste momento em Cabo Verde. Todos os problemas citados nas minhas canções são casos diários que sucedem em Cabo Verde. Desde quem é influenciado a entrar no mundo da droga; à violência doméstica em que a vítima diariamente arranja uma desculpa para ela mesma não tomar uma atitude para mudar de vida; à consequência da má qualidade de grogue que existe actualmente e que está a acabar com a nossa juventude; à guerra de gangs rivais em que uma mãe vê o filho a ir no caixão. É uma radiografia actual do que sucede em todas as ilhas. Esse lado de crónica social tem a ver com o facto de teres sido estudante de Comunicação Social. És uma cantora, poeta, repórter. É isso?Costumo dizer que tenho o privilégio de dizer que o problema da Maria, do João ou do Pedro seja também meu e que o consigo relatar mundo fora. Junto com isso, procuro buscar uma solução. Quando falo, no “Forti Dor”, da dor que uma mãe está a sentir ao ver um filho com a idade entre os 15 e os 20 anos a ser enterrado. Quando canto essa música, estou a chamar a atenção a várias camadas sociais. Começo pela mãe, que infelizmente é solteira, tem de sair cedo para o trabalho, chega à noite e não tem tempo de estar com o filho…Isso remete para outra questão que abordas: muitas das mães têm de ser também o pai de família. Sim, em Cabo Verde 80% é mãe e pai. Começa por essa mãe em tem de encontrar tempo para falar com o filho, começa com o filho que já está naquela fase de perceber que a mãe é a única pessoa com quem pode desabafar quando acontece alguma coisa de estranho na escola. Quando lhe oferecem alguma coisa que nunca tinha experimentado. E vai subindo até chegar ao Estado que tem de fazer alguma coisa. Uma pessoa não pode decidir tirar a vida a outra, ir para a prisão durante cinco ou seis anos e, se for bem comportado, estar na rua ao fim de dois ou três anos. Isso não pode ser. Então, é uma chamada de atenção para várias camadas da sociedade, que começa

na mãe e acaba em quem tem o poder de mudar a lei e de fazer as coisas acontecer. De parar com isso. Estamos a perder vidas de duas formas: uma já morreu e a outra vai para a cadeia. Não podemos continuar a perder a juventude dessa forma. Estavas a falar do “Forti Dor”. Curiosamente, é dos temas mais belos deste disco. Há aqui uma sensibilidade muito forte por parte do Hernâni Almeida que fez os arranjos. Oiço ali uma guitarra que parece uma cora de um griot mandinga. Este disco foi muito melhor cozinhado. Teve tempo para ser apurado. Porque o Hernâni é o produtor do disco e também o director musical. Passámos três anos em digressão a conhecermo-nos. Quando começo a cantar uma música para fazer uma maquete, ele já sabe o que eu preciso. Nesta música, havia-lhe dito que tinha gostado de um arranjo que ele fez para um disco da Lura e ele fez uma coisa parecida. Foi uma das últimas músicas em que pus a voz final, mas uma das primeiras que escrevi, porque não a conseguia gravar. O “Forti Dor” não teve cora, mas teve um violoncelo do Vincent Ségal que já actuou em duo no Ciclo Mundos com o tocador de cora maliano Ballaké Sissoko. Como é que o conheceste? Claro que é um nome que está à mão do teu produtor Djô da Silva. É necessário um violoncelista e contacta-se o Vincent Ségal…Pois é. Foi mais ou menos isso. Há músicos que conheci e que participei na captação de instrumentos e há outros que não tive a oportunidade de conhecer. Hoje em dia, com a internet, não necessitamos de estar presente para um músico gravar um instrumento. A música viaja, vai para Cuba, regressa a Portugal e vai novamente para o Brasil e quando a ouves já vem com toda essa bagagem. Dos músicos que participaram no disco, conheço bem o Gileno, o Régis Gizavo…O Régis Gizavo que entretanto faleceu e que estava com um projecto em formato trio muito interessante: Toko Telo. Segundo o Djô da Silva, foi a última gravação dele. O Miroca Paris, que acabou de gravar finalmente o primeiro disco a solo “D’alma”, também está aqui muito presente nas percussões. Tens uma boa relação de amizade com ele?Não. Ele não vive em Cabo Verde e eu só há três anos é que comecei a viajar. Ele também viaja muito. (risos)

Entrevista Elida Almeida

“A minha identidadeé a minha tradição”A temporada de 2018 do Ciclo Mundos não poderia ter começado da melhor forma com dois espectáculos esgotados de Elida Almeida. Jovem, ousada e incisiva cantautora cabo-verdiana de 24 anos que se tornou um verdadeiro fenómeno de popularidade entre a diáspora com apenas dois álbuns gravados

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Só o vi duas vezes. Mas conheço muito bem o trabalho dele. Sei tudo o que ele tem feito em prol da nossa cultura, sobretudo com a Cesária. Sinto-me lisonjeada em ter um disco com participações muito fortes de músicos da nova geração. E os filhos do Codé di Dona também…Pois.Isso é muito simbólico. És uma artista que vive no mundo globalizado, que ouve a pop e a soul ocidental que se faz actualmente, mas ao mesmo tempo não prescindes daqueles nomes mágicos que fizeram a história da música cabo- -verdiana como Code di Dona, Katchás, Bitori que até tocaste neste concerto. Sim. Há três anos que toco essa música “Bitori Nha Bibinha”.Curiosamente, ainda não gravaste este tema em disco. Porquê?Por acaso, não. Acho que tem mais charme tocá-la só nos concertos. As pessoas vão ter que ir ao espectáculo para a ouvir. Cada dia que passa procuramos dar um novo arranjo. Sou, sim, muito apegada à minha tradição. Não podes ser uma artista de fusão, moderna, sem ter uma identidade. A minha identidade é a minha tradição. Com a minha tradição eu ramifico, misturo coisas e dá no que dá. Os próprios artistas da nova geração inspiram-me e apego-me muito a eles. Esse apego às tradições espelha-se no orgulho que tens em falar da tua mãe como vendedora de fruta, no “Bersu d’Oru” em que exultas os teus heróis musicais locais, no “Sapatinha” em que ouvias o galo a cantar ao acordar, no nome “Kebrada” que deste ao disco…Pois, é tudo isso que eu chamo de orgulho. O disco tem um lado triste em determinados temas que abordo mas também tem um lado mais feliz. O “Bersu d’Oru” fala de um sonho que

beatriz LORENA

tive em ter convivido com os astros da música de Santa Cruz como Katchás, Manuzinhu, Sema Lopi, Norbertu, entre outros, e dizer que eu tive o privilégio de ter nascido num berço de ouro. Somos um concelho pequeno mas com pessoas que foram indispensáveis para a nossa cultura. Também tem o “Sapatinha” que fala de como é acordar em “Kebrada”, com o cantar de galo, de comer cachupa, fidjós e outros alimentos com ingredientes naturais e o sabor que tinha o final do dia com o cambar do sol à espera que os nossos avós contassem histórias do lobo e do chibinho. O disco tem esses dois lados: feliz e triste.Há pouco falavas que ainda não tinhas gravado o “Bitori Nha Bibinha”, mas gravaste o “Sofa” de Katchás…Por acaso, quando gravei o “Sofa” ainda não tínhamos pegado no “Bitori Nha Bibinha”. Assinei com a Harmonia do Djô da Silva na altura da Gamboa. Um festival que existe em Cabo Verde. Naquele ano, havia uma homenagem a Katchás em que participei. Cantei quatro músicas, “Sofa” incluído. O Djô da Silva gostou e disse para a guardarmos. O Hernâni deu uma roupagem completamente nova. E é isso, vamos fazendo coisas, vamos reinventando. Adoro pegar em clássicos e ir dando vida a eles. Mesmo que não os grave, vamos tocando nos concertos. A tua música é feita de imensos estilos musicais, mas há aqui um lado muito especial dedicado à tabanca e ao funaná. Curiosamente duas manifestações musicais proibidas pelos portugueses no tempo das colónias. Isto tem a ver com esta tua face de escritora de canções de intervenção?Na verdade, isso mexe um pouco comigo. Mas essa expressão “cantora de intervenção” não me soa bem. Quando ouço isso digo: O.k.! (pensativo) e fico a

processar. Mas isso é sobretudo porque sou badia da ilha de Santiago. Vivi, consumi, dancei, mastiguei o funaná, a tabanca e o batuque desde muito pequena através do Bulimundo, Sema Lopi, Nha Nacia, Manuzinhu que foi o rei da tabanca. Então está no sangue, está em toda a parte da ilha de Santiago. Por acaso nunca estudei a fundo essa questão, mas sei que tabanca surgiu numa revolta na qual os portugueses decidiram abolir o uso de instrumentos africanos e deram aos escravos um dia para fazerem a festa deles. Vamos vestir como eles e dar uma de chefe, de rei e de rainha (risos). Foi engraçado, mas ganhou uma força e, hoje em dia, o meu principal desafio é que a tabanca chegue às pessoas. Tabanca é um ritmo do outro mundo e é vasto. O tabanca que tocamos é moderno, tentamos dar uma roupagem diferente, chegar mais à juventude e conseguimos. Quando o tocamos em festivais de Cabo Verde é uma coisa do outro mundo ver toda aquela juventude, entre 15 a 30 anos, a dançar e a cantar essa música com uma força. Uau! Temos de fazer mais coisas deste tipo. Temos de ressuscitar estilos como a tabanca que está a desaparecer, dando uma roupagem diferente para trazer a juventude. Estou a estudar uma fórmula de fazer isso com outros estilos. Em relação ao funaná, no teu disco abordas várias ramificações, ora mais latino-americano, ora mais rock. No teu espectáculo tocaste um funaná três vezes mais rápido – o kotxi pó – que se está a desenvolver na rua pelas camadas jovens. Como vês este fenómeno?A música de Cabo Verde sempre foi assim, sempre vai ser assim. Porque os cabo-verdianos são viajantes. Os estudantes que estiveram em Cuba absorveram aí tudo o que puderam e chegaram a Cabo Verde e puseram essas influências na coladeira. Isto vai continuar para sempre. A música é cada vez mais globalizada e o funaná não fica de fora. Tínhamos o funaná de Bulimundo e de repente surgiu o Zé Espanhol. Os críticos diziam que isso não era funaná. De repente surgiu o kotxi pó. Uau! Três vezes mais rápido do que o Zé Espanhol faz (risos). Para veres como é que as coisas mudam todos os dias. Sempre defendo que não podemos competir com outros países africanos ou da América Latina sem estar ao mesmo nível. Temos de abrir a mente, abrir as portas. Temos de estar aptos a fazer coisas novas, a interagir, a fazer intercâmbios culturais.Quer os críticos musicais queiram ou não queiram, esses rapazes que tocam kotxi pó têm poder. É uma coisa do outro mundo ver 15 mil pessoas a dançar funaná três vezes mais rápido à beira-mar. Tem um grande efeito sobre a juventude. Temos de aceitar que a nossa música sofreu uma alteração. Evoluiu. Temos de acompanhar isso. Quer quiser ficar apegado ao que aconteceu há 20 ou 30 anos atrás que fique, mas eu sou da nova geração e quero acompanhar a evolução das coisas. O “Grogu Kaba” não é assim no disco, mas quando regressei a Cabo Verde e vi como é que é o kotxi pó. Convivi com aqueles rapazes e eles são músicos, não são só tocadores de kotxi pó, porque eles tocaram um funaná normal comigo no “Sapatinha” e cantam e tocam um “Sodade” com acordeão. São músicos. A nossa música sofreu uma alteração e temos que acompanhar isso. Eu vou. Quem não quiser ir que não vá. Luís Rei[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

“Só começas a ter noção da importância da diáspora quando sais de Cabo Verde. Há três anos, quando comecei, em todos os concertos havia cabo-verdianos... Tenho pessoas em Paris que já as conheço de irem sempre aos meus concertos. É uma coisa maravilhosa de ver e sentir”

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O governo lançou uma campanha de sensibilização para a limpeza de matas. O primeiro-ministro, António Costa, e vinte membros do go-verno assistiram aos trabalhos florestais no passado dia 24 de março.

Em Entre-os-Rios, o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segu-rança Social, José Vieira da Silva, marcou presença na limpeza de 27

hectares de floresta que pertencem à Fundação Inatel e onde a prevenção é prioridade. A proximidade das habitações, a localização dos terrenos, exige a atenção e ação da Fundação. Maria João Costa e Beatriz LORENA (fotos)

Membros do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e membros da Fundação Inatel presentes por um Portugal sem Fogos. É um dever de cada cidadão proteger e evitar que os cenáriosde 2017 se repitam. A Fundação Inatel está atenta, e a atuar nas unidades hoteleiras atingidas pelos fogos no verão passado, em Piódão, São Pedro do Sul, Manteigas, Linhares da Beira e Vila Ruiva

fotorREPORTAGEM

A Secretária de Estado da

Segurança Social,

Claúdia Joaquim

e o Secretário de Estado

do Emprego, Miguel

Cabrita, participaram

na ação de limpeza

Ministro do Trabalho,

Solidariedade e Segurança

Social a participar no

transporte de eucalipto

depois de cortado por

agentes profissionais

INATEL ENTRE-OS-RIOSAção de limpeza das florestas

Presidente da Fundação Inatel, Francisco Madelino, devidamente equipado, a receber instruções para participar na limpeza das matas

Limpeza de uma das três propriedades da Fundação Inatel com a empresa competente e responsável para o efeito

Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social a participar ativamente na limpeza das matas

Ministro do Trabalho e Solidariedade Social, José Vieira da Silva e José Manuel Alho, membro do conselho de administração da Fundação Inatel. Atividade organizada pela fundação de envasamento de carvalhos. A ação decorreu na unidade hoteleira de Entre-os-Rios

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Um ciclo se abre e outro se encer-ra com a publicação das Odes Modernas. Este primeiro livro de Antero de Quental motivou, em várias dimensões, a controvér-sia literária – o repúdio do sen-timentalismo vazio e retórico; a

controvérsia moral – a desmontagem do elogio mútuo e da corrupção intelectual: e, ainda, a controvérsia política – o incita-mento à indignação e à revolta para ins-taurar a República, como regime político e o Socialismo, como estrutura social.

A poesia portuguesa vai ser outra e tam-bém outra será a ação política, a abordagem da questão social, a urgência da transfor-mação da mentalidade. É o ímpeto seminal que se vai repercutir no primeiro ultimato para modernizar Portugal: a denúncia das Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, apresentada nas Conferências Democrá-ticas do Casino. Antero alertou para os efeitos calamitosos do estabelecimento da Inquisição, para os condicionalismos do ca-tolicismo dogmático e repressivo imposto no Concílio de Trento e para as consequên-cias irreparáveis da expulsão dos Judeus, três fatores que acentuaram a intolerância, o isolamento e a impossibilidade de inte-gração de Portugal na Europa.

A criação poética inicial de Antero permi-te avaliar a influência cultural e a militância cívica que exerceu. Foram de tal amplitude que transpuseram, entre os seus contem-porâneos e numa perspetiva de futuro, a área da literatura para incidir noutros do-mínios da sociedade portuguesa. A primei-ra edição das Odes Modernas (1865) tem es-tado circunscrita a bibliógrafos. A segunda edição, de 1875, – e que Antero considerou definitiva – não se reduziu, apenas, ao apu-ramento formal e à substituição de títulos de poemas. Antero retirou, por exemplo, dois textos essenciais e que reaparecem, na íntegra, na recente edição crítica orga-nizada por Luiz Fagundes Duarte e edita-da pela Abysmo, por iniciativa do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas e in-tegrada nas Obras Clássicas da Literatura Portuguesa. Trata-se da carta – dedicató-ria das Odes Modernas a Germano Meire-les, um dos seus mais íntimos amigos; e do posfácio no qual desenvolve e propõe o entendimento da poesia como arma de combate e de expressão revolucionária.

A polémica desencadeada, em 1865, teve origem na primeira edição das Odes Moder-nas, nas interpelações enérgicas de Antero ao magistério de Castilho e incluídas nos dois textos agora recuperados. Neles se de-para o rastilho da agitação que se estendeu através de todo o país, durante mais de um ano, em jornais e revistas e em panfletos virulentos e oriundos dos dois setores; dos adeptos da tradição intransigente perso-nificada em Castilho; e da nova geração empenhada na revolução política e social e, ao mesmo tempo, em desenterrar a lín-gua que jazia nos túmulos do vernaculis-mo. Tudo isto e muito mais elegeu Antero como a mais emblemática figura intelectual da Geração de 70.

Fez desmoronar o pontificado de Casti-lho e a irrelevância dos seus epígonos que tiveram em Pinheiro Chagas um dos para-digmas nacionais. O perfil deste e outros

ANTERO – ONTEM, HOJE E AMANHÃ

Lido e admirado por Tolstoi, traduzido nas principais línguas europeias, Antero de Quental foi um dos poetas portugueses de maior projeção e reconhecimento universal. Fernando Pessoa também não seria o que é se não tivesse recebido o impacto da aproximação profunda da obra de AnteroPor António Valdemar

Viajando com livros

personagens será objeto das implacáveis caricaturas de Eça de Queiroz: n’O Primo Basílio, do conselheiro Acácio; na Corres-pondência de Fradique Mendes, de Pacheco, ministro, conselheiro, um «imenso talento» elogiado por todos e que só a viúva, não deu por isso, quando, após a morte, recebia condolências nacionais...

Contudo, o renome nacional e universal de Antero tem derivado dos Sonetos (1861-1886) sistematizados em diversas fases. Condensam as indagações em torno da angústia metafísica e o desespero físico que o torturaram e conduziram, numa tarde cinzenta, húmida e opressiva de setembro, e numa praça pública da sua ilha de S. Mi-guel, ao trágico encontro com a morte.

Antero de Quental (1842-1891) além de uma recolha de sonetos de juventude – Coimbra, 1861 – a chamada edição Sté-nio, pseudónimo literário do seu colega, amigo e também açoriano Alberto Teles (1840-1917) publicou, no Porto, em 1881 uma outra edição de Sonetos, numa altura em que já atingira o maior prestígio intelectual, e, cinco anos mais tarde, em 1886, Os Sonetos Com-pletos, acompanhados com um estudo introdutório de Oliveira Martins, incluíram com a anuência de Antero, cinco outras poesias a que chamou «lúgubres»: Os Cativos, os Vencidos, Entre Sombras, Hino da Manhã e A Fada Negra.

Em 1886, Antero acres-centou sonetos inéditos e dispersos e repartidos em cinco ciclos corresponden-tes à evolução intelectual e filosófica, às intervenções cívicas, aos combates políti-cos e às efusões sentimen-tais: 1860-1862, vinte; 1862-1866, vinte e oito; 1864-1874, dezassete; 1874-1880, vinte e três; e 1880-1884, vinte e um.

Desta compilação surgiu uma segunda edição (1890), ainda em vida do autor, sem alterações nos textos dos sonetos, mas in-cluindo 46 traduções de 32 sonetos para alemão (por Wilhelm Storck), espanhol (Curros Enríquez e Baldomero Escobar), italiano (Giuseppe Cellini, Marco Antonio Canini, Emilio Teza e Tommaso Cannizza-ro) e francês (Fernando Leal).

O conjunto de cento e nove Sonetos de Antero teve sucessivas reedições, muitas das quais repetindo gralhas e outras incor-reções que afetaram a autenticidade do tex-to. Entretanto, António Sérgio organizou, no âmbito do centenário do nascimento de Antero celebrado em 1942, uma edição anotada, mais tarde inserida nos Clássicos Sá da Costa, e que não só manteve lapsos tipográficos como, também, alterou por completo a sistematização preconizada por Antero e Oliveira Martins.

A edição crítica, realizada por Luiz Fa-gundes Duarte, apresenta as sucessivas variantes introduzidas pelo poeta, a par-tir dos manuscritos autógrafos, quando

disponíveis, ou da última edição em vida. Numa secção de Addenda, estão três sone-tos apócrifos, um dos quais a propósito de Camões, no centenário de 1880 – ao qual Antero não se associou e assumiu atitude crítica – o soneto Ananké, que se provou não ser de Antero, mas sim de Joaquim de Araújo, pelo que desaparece do corpus anteriano. Mais ainda: dois sonetos atribuí-dos a Antero que circulavam, desde 1916, nos meios espíritas como tendo sido dita-dos por Antero através de um médium.

Na carta autobiográfica, Antero classi-ficou os Sonetos como «a notação de um diário íntimo e sem mais preocupações do que a exatidão das notas de um diário; as fases sucessivas da minha vida intelectual e sentimental» (...) «uma autobiografia de um pensamento e como que as memórias de uma consciência». E Oliveira Martins afirmou que os Sonetos de Antero «não são os quaisquer episódios particulares de uma

vida de homem; são a refração das agonias morais do nosso tempo, vividas, porém, na ima-ginação de um poeta».

Antero optou quase sem-pre pelo soneto que imortali-zara «Dante, Miguel Ângelo, Shakespeare e Camões» para exprimir, conforme salientou, «a forma completa do lirismo puro». Foi, portanto, na con-cisão lapidar do soneto, que Antero manifestou as crises de incerteza, as dúvidas pertinen-tes, os fantasmas interiores, as derrocadas sentimentais que exacerbavam o pessimismo em que mergulhara. O suicídio acabou por ser o desfecho para se libertar de uma vida insu-portável.

A obra poética de Antero teve o maior impacto na sua geração e continuou a motivar, no século XIX e no século XX, as gerações seguintes. Marca-da por Cesário Verde e Camilo Pessanha, a geração do Orpheu, não ficou indiferente à poesia

de Antero, em especial aos Sonetos. Manuscritos existentes na Biblioteca Na-

cional revelam que Pessoa deixou traduções para inglês de muitos sonetos e projetou uma edição das Poesias de Antero, consti-tuída por seis pequenos volumes, uma edi-ção encadernada, de 370 páginas, do tipo da de Coleridge, por W. & Foyle. Existe um exemplar, na Casa Fernando Pessoa, com a sua assinatura na sua biblioteca pessoal. Tal facto leva-nos a admitir que Fernando Pes-soa não seria o que é se não tivesse havido a aproximação e a forte influência da obra poética de Antero de Quental.

Podemos ainda referir que os Sonetos de Antero – através da tradução alemã de Wi-lhelm Storck chegaram ao conhecimento de Tolstoi que registou a profunda emoção que lhe causaram. Antes da obra ortónima e heterónima de Fernando Pessoa – e o Li-vro do Desassossego de Bernardo Soares é um dos exemplos mais significativos – An-tero de Quental foi um dos poetas portu-gueses de maior projeção e reconhecimen-to universal.

Retrato de Antero de Quental (1889), óleo s/ tela de Columbano Bordalo Pinheiro, Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado

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Um caçador chamado Tuggan Tuggan caminhava na floresta quando de repente se apaixo-nou por uma árvore. Era alta, o tronco escuro muito direito, as folhas verdes e prateadas ti-nham um recorte gracioso. Ven-

do que estava triste, Tuggan Tuggan não hesitou perguntar-lhe o que a afligia. A árvore disse-lhe que tinha frio e precisava de um manto. O caçador, pertencente à tribo da Baía de Moreton, de Queensland, na Austrália, lançou-se ao caminho mas nem encontrava o manto nem caçava, e um dia os anciãos, vendo que regressava novamente de mãos vazias, decidiram castigá-lo, tirando-lhe o único instru-mento de caça que possuía: o boomerang. “Como não caças, o boomerang de nada te serve”, dito isto atiraram-no tão alto que desapareceu no ar.

Durante muito tempo, Tuggan Tuggan procurou o boomerang e o manto para a sua árvore amada, mas como não caçava, começou a enfraquecer e a ficar doente e decidiu parar as buscas. No regresso, ao aproximar-se da sua árvore, foi visto por um bom espírito chamado Biami. Saben-do a razão da sua fragilidade, Biami en-controu o boomerang e deu-lho. Tuggan Tuggan não hesitou e atirou-o, pela última vez, em direcção da copa da árvore, para que se desfizesse em milhares de frag-mentos dourados, que a cobriram como um manto protector.

Neste sonho do povo aborígene Nunu-kul (Queensland), recolhido em primeira mão pela poetisa australiana e activista Oodgeroo Noonuccal (1920–1993), reves-te-se de particular interesse o facto do caçador e a árvore terem o mesmo nome, uma vez que Tuggan Tuggan é a forma como esta tribo designa o “carvalho se-doso australiano” (silky oak), ou Grevílea

A árvore que perdeu a tristezametros), também conhecida por Duradi (em Kilkoy), Koomkabang (em Bundaberg) e Warra-garria (a norte de Nova Gales do Sul), vive nas florestas húmidas tropicais de Queensland, rodeada de centenas de pássaros multicolores, insectos e alguns marsupiais, como o possum, que se alimen-tam do pólen e néctar das suas flores her-mafroditas, e das suas sementes.

Para os aborígenes australianos ela não é madeira para construção de casas, como foi vista pelos colonos europeus no século XIX, nem simplesmente ornamental para decorar jardins e arruamentos, ou “árvo-re-operária”, podada à medida da sombra que se pretende nas produções de chá (Sri Lanka), café (Sul da Índia), e milho (Quénia), mas um ser mágico através do qual o tempo pode ser lido. Como explica, Joanna Besley, no artigo ‘This noble species’: Grevillea robusta, publicado no jornal Aus-tralian Garden History, vol. 21, N.º 1, Julho/

A Casa na árvore

A Grevílea veio da Terra Australis, cheia de sonhos, néctar e enguiasPor Susana Neves

(Grevillea robusta A. Cunn. ex R. Br. Brown, R.). Por seu turno, o manto protector, ofe-recido pelo caçador à árvore, merece igual atenção, porque evoca simultaneamente a sensibilidade desta espécie à geada e a sua inesquecível floração laranja-dourada, que ocorre, em Portugal, no mês de Maio, e na Austrália, em Outubro e Novembro.

Mas mais interessante ainda, neste so-nho, é a mentalidade visionária que lhe está subjacente: para um aborígene aus-traliano, Tuggan Tuggan é simultaneamen-te homem e árvore, pela simples razão que a floresta não é concebida como exte-rior ao Homem.

Não se trata, por conseguinte, de uma metamorfose, o caçador não se transfor-ma numa árvore, prescinde de comer para a proteger, morre para salvá-la, ou melhor dito, para se salvar e salvar todos os seres que dela dependem. Porque a no-bre e alta Tuggan Tuggan (pode atingir 35

Agosto/Setembro, de 2009, para os aborí-genes, as grevíleas eram também “calen-dários”, indicando o período de floração, a época de pescar e comer enguias, por nessa altura estarem mais gordas.

Enquanto os botânicos europeus — en-tre eles, Robert Brown (1773-1858) que no-meou o género Grevillea em homenagem a um dos fundadores da Royal Horticultu-ral Society, Charles Francis Greville (1749-1809) — reparavam na estranha forma das suas flores, que se apresentam em espiga e oferecem pingos de néctar, incluindo-a na família das Proteáceas (da qual fazem parte também as próteas, banskias e as wa-ratahs ou telopea), os nativos da Austrália saboreavam-nas como “chupa-chupas do bosque”, e metendo-as em água, sorviam o seu néctar diluído.

O explorador britânico e comandante do navio Endeavour, James Cook (1728-1779) também foi sensível ao Paraíso que era a floresta tropical australiana, quando na segunda-feira, 25 de Abril de 1770 (há 248 anos), atracou em Kurnell. Inicialmen-te, devido à quantidade de mantas ou pei-xe-diabo que encontrara, pensou chamar ao local Baía das Mantas, mas ao ver o número de plantas recolhidas pelos botâ-nicos inglês e sueco que acompanhavam a expedição — respectivamente, sir Joseph Banks (1743-1820) e Daniel Carlsson So-lander (1733-1782) — acabou por chamar--lhe Botany Bay (Baía Botânica).

Incluídas nesse vasto conjunto de plan-tas, várias espécies de grevíleas fariam a viagem de regresso a Inglaterra (o Endea-vour chega a Kent em Julho de 1771), en-volvidas nas folhas do livro Paradise Lost (Paraíso Perdido), longo poema épico in-glês, escrito por John Milton (1608-1674), quando já estava praticamente cego.

[A autora escreve de acordo com a antiga ortografia]Pormenor das folhas e flores

Grevílea bastante alta, perto do Castelo de Silves, Algarve

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Foi do rock quando a música e as palavras não andavam à solta. Pri-meiro os Deltons, depois os Sheiks, rapaziada que fazia das Avenidas Novas o que de mais novo se po-dia fazer.

Eram os tempos do café Vá-Vá onde nascia o cinema novo, a música nova e as ideias feitas de esperança no futuro.

Foi nesse tempo que me cruzei com o Fernando Tordo e, desde então, as nossas vidas estão cheias de cantigas comuns, ele a fazê-las, eu a divulgá-las.

O Fernando que em 1971 escreveu uma das mais belas baladas da nossa música, mesmo antes dos esquecidos, falarem de baladas. Foi até ao nosso festival, e trouxe a consolação de ter feito com o José Carlos Ary dos Santos uma canção para durar.

Estas as primeiras memórias que me chegam ao presente quando o meu amigo chega ao clube dos septuagenários.

Igual na sua criatividade, coerente nas suas indignações, cada vez mais apurado no seu humor corrosivo.

Eu, nos bastidores dos festivais da can-ção, gravador (pesado como um tijolo--burro) na mão, a registar declarações dos candidatos. Ele a surpreender pela sua

Nesta catadupa de fotogramas de um filme ainda por fazer, instalo-me nas noi-tes muito longas no último andar esconso da Rua da Saudade onde se cantava, bebia e se sonhava com um país ressuscitado.

Muitas cabeças, diferentes sentenças, mas o direito à palavra era de todos.

E aquela noite em que saímos a correr para o hospital onde o Fernando e amigos se uniram num enorme sentimento de pa-ternidade.

– São três, são três!!! – o músico e o res-to da orquestra não se calava: – O mais fraquinho é uma força da natureza e vai arribar.

Tempos mais tarde surgia a “Balada para os nossos filhos”, dedicada à Joana e ao João.

O Fernando é um caminheiro que vai, mas está sempre de volta.

Dos Açores trouxe-nos um “Anti-ciclo-ne” e a “Ilha do Canto”. Uma das canções que uso para os meus momentos maus e que foi feita decerto com os olhos no mar, chama-se “Adeus tristeza”. Depois deste exílio assumido, voltou em 1986.

O percurso do Fernando tem sido feito lado a lado, mesmo que por vezes à dis-tância, com dois amigos dos mesmos ve-

FERNANDO TORDOUM CAVALO À SOLTA

lhos tempos do Vá-Vá, o Paulo de Carva-lho e o Carlos Mendes. Um dos projectos mais interessantes da nossa música, foi uma ideia de Pedro Osório, chamou-se Só nós três, e deu quase a volta ao mundo.

E lá vai ele de novo. Agora é o Brasil: – Vou-me reformar deste país. Não me ape-tece ficar aqui. Ainda tenho muita coisa para fazer.

Passados quatro anos voltou. Mais ma-duro e com muito mais música no coração.

E não é que voltou a concorrer ao fes-tival da canção, agora com a voz da Ana-bela? “P’ra te dar abrigo” Não ganhou o direito à Eurovisão, mas o autor teve a co-ragem de dar a cara e manter o respeito daqueles que lhe seguem as canções há mais de cinquenta anos.

Gosta de pintar, escreve palavras pro-fundas, confirmo que continua senhor de uma saudável indignação e de um humor que sublinha com uma gargalhada única.

Acabada esta indisciplinada prosa que não quis ser uma biografia, vou-me sentar a ouvir a “Estrela da tarde” outra balada que os esquecidos do passado precisam de recordar.

[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

MEMÓRIAS DE JÚLIO ISIDRO

frontalidade que é a forma mais fácil de arranjar inimigos.

Aos 21 anos o jovem bonitão, que era, vencia o Prémio da Casa da Imprensa como cantautor porque lhe reconheciam uma enorme riqueza harmónica e meló-dica.

Foi pelo caminho das pedras, cavalgan-do melodias, para chegar ao direito a um álbum a solo, “Tocata” de 1972/73 que to-quei, talvez com a pretensão de estreia, no meu programa do Rádio Clube Português e que guardo ciosamente porque sei que vale como raridade. Para mim, vale como saudade.

E quando fui ao lançamento numa tas-ca do Bairro Alto de um 45 rotações, “O Café” onde nesse ano já se falava de meni-nos bem com a China na bota?! Seria que Tordo/Ary antecipavam o percurso de um menino com mau feitio, rumo ao maior banco do mundo?

É bom saber que a música popular tam-bém escreve história…

Do “Café”, à arena das palavras provo-cadoras, foi um galope. Em 1973, o Fernan-do bandarilhava os lápis azuis, e vencia o festival com a “Tourada”. Nem houve um “inteligente” para acabar com as canções.

Rita Carmo

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Entrevista

Do alto dos seus anos e décadas de trabalho, o historiador diz coisas que para nós são surpreendentes: não houve invasões dos visigodos e celtas, muito menos invasões árabes. Grande parte do que

é hoje Portugal foi muçulmana devido ao comércio e à conversão pacífica. O multiculturalismo não é aqui uma relação com os outros, a arqueologia prova que os muçulmanos que sucederam aos cristãos podiam ser pai e filho. Quando na Europa existe islamofobia e em Portugal veem-se traços disso, não estamos a renegar parte do que somos?Não, porque a questão da islamofobia é uma reação a um existir do islão. De repente, no Mediterrâneo, o islão começou a ter vontade de ser o que é, o que é uma coisa recente. E é de certa maneira uma reação à colonização. Nós colonizamos a parte sul do Mediterrâneo durante séculos. Pela primeira vez surge o islão como qualquer coisa que é diferente. E isso dá uma certa identidade e orgulho. Os dominados e colonizados, aqueles que eram considerados de segunda categoria, estão a encontrar qualquer coisa que têm orgulho de o ser. É uma reação natural, tinha de acontecer. O que aconteceu nos anos 70, do século passado, com a erupção do socialismo pan-arábico não era também uma reação ao colonialismo?Também foi, simplesmente muito imbuído da própria estrutura de cópia da Europa do norte. Neste momento, é através da religião que eles encontraram fenómenos identitários que nunca tinham tido. Se até há pouco tempo havia uma certa reação aos colonizadores, acompanhada por um certo complexo de não serem iguais, hoje parece-me que o islão serve de máquina identificadora e identitária importante, que encontraram

nele uma forma de orgulho contra os outros: nós somos diferentes, temos outra religião, outra postura. Estão a encontrar a forma como podem ser diferentes. E isso vê-se no véu da mulher. A própria tem orgulho de levar o balandrau por cima. “Andas toda coberta e escondes-te”, “não, não sou como tu, tu é que andas assim e eu sou diferente”. É uma outra forma de olhar.Como se pode garantir que a mulher esconde o corpo com orgulho e não é obrigada pela família e pelos costumes a fazê-lo?Isso pensamos nós. O que é interessante é que na Europa, as raparigas muçulmanas, inteligentes e mais de que cultas do ponto de vista cultural, assumem com orgulho essa sua postura diferente. Encontra-se por parte delas não uma submissão, mas sim uma afirmação. Mas em países como a Arábia Saudita e o Irão há mulheres presas por não quererem ser obrigadas a usar essas vestes, como enquadra isso na sua tese?Há coisas misturadas. Em países como a Arábia há uma submissão esclavagista completa, do ponto de vista civilizacional. Aquilo é uma América frustrada. Aquilo não tinha existência real foi criada pelo petróleo. É uma reinvenção no século XX feita pelo dinheiro. É a mesma ideologia e o mesmo tipo de sonho, o que os americanos já não podem fazer porque há uma certa resistência interna, é realizado e executado naquele país. É um país artificial. Já o caso do Irão é diferente, afirma a sua cultura, língua e forma de ser, e o seu xiismo que também tem que ver com a luta contra a Arábia do lado controlada pelo dólar americano. O islão está a afirmar-se de uma forma interessante. Está a encontrar dentro de si próprio – religião, cultura e passado – elementos que vão ser decisivos para o futuro. O islão está-nos a rodear. Nós

estamos ligados a ele, até pelo nosso passado e pela nossa cultura ibérica. E é nesta cultura comum do Mediterrâneo que vamos encontrar qualquer coisa de interessante e mais importante que as eventuais divergências e guerras que ainda existem. Há qualquer coisa de aproximação e reconfiguração que pode ser importante para aquilo que poderá ser o Mediterrâneo. Mas não há efeitos negativos em relação, por exemplo, ao papel da mulher nessas sociedades?Nós esquecemos que na nossa sociedade as mulheres também são espezinhadas. É evidente que aqui é de uma forma muito mais camuflada e a mulher tem mais mecanismos de defesa, pode e sabe defender-se melhor e tem armas para isso, no entanto esta opressão faz parte também da nossa cultura e civilização, principalmente do Mediterrâneo. Conhecemos mal o mundo nórdico, onde a mulher por razões históricas teve sempre um papel mais autónomo. Mas lá também são oprimidas e espezinhadas, embora menos. O processo das mulheres conquistarem uma certa igualdade é muito longo. Ainda estamos muito longe de uma sociedade igualitária. Está a acontecer nas classes superiores e educadas, mas na maioria da sociedade ainda não. Aí a mulher faz o seu trabalho e ainda tem de ir para a cozinha, tem de tratar da casa e dos filhos. Por outro lado, nas sociedades camponesas há uma tradição diferente. A mulher sempre teve um papel autónomo. Tinha o seu mundo. Esse tipo de divisão do trabalho deu à mulher camponesa um tipo de autonomia que se sente na sua participação e na sua capacidade de tomar a palavra, muito mais do que na mulher no mundo pequeno-burguês. Não se pode dizer que o islão nasceu de um certo impulso para a igualdade, as

Cláudio Torres“O ato de conversão é sempre um ato pacífico”O mundo do Mediterrâneo, mais que um lugar de conflito tem de ser visto como um lugar de relação em que decorre um processo de reconfiguração e encontro para o futuro de que somos parte

“O islão está a afirmar-se de uma forma interessante. Está a encontrar dentro de si próprio – religião, cultura e passado – elementos que vão ser decisivos para o futuro. O islão está-nos a rodear. Nós estamos ligados a ele, até pelo nosso passado e pela nossa cultura ibérica”

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“Não houve invasões celtas, como não houve invasões árabes. Nós sabemos hoje que não houve nenhuma invasão árabe, são balelas. São explicáveis pelo próprio sucesso do islão”

DRDeuses irrepresentáveis e abstratos. O monoteísmo surge nas cidades de grande comércio, na zona do Líbano, da Fenícia. Não é por acaso que naquela zona é onde nascem as religiões monoteístas.Muitas das religiões orientais começam a implantar-se e a espalhar-se. Temos ainda poucos dados sobre todo este processo. A nossa formação académica está muito ligada ao período do século XIX, muito devedora de um certo pangermanismo que criou aquilo que é hoje a nossa história: os visigodos e os celtas. Foi tudo inventado pelos alemães.Não existiam?Não se sabe. São necessidades políticas que os inventaram.Os lusitanos são o mesmo género de invenção?Não há nenhuns lusitanos. São zonas de pastorícia. Os pastores da Serra da Estrela eram temporários, havia já transumâncias. Não é claro. O que sabemos é que, do ponto de vista histórico e arqueológico, há 40 anos que buscamos os visigodos e celtas, e eles nunca apareceram. Nada. Nunca apareceu tal coisa. Um zero absoluto. É evidente que faz parte dos nossos manuais. Agora, que tenha havido, em Toledo, uma família de origem europeia que por razões várias se ligou a uma casta senhorial e constituiu um reino visigótico, isso é possível, mas são situações contadas pelos dedos. É perfeitamente plausível, mas isso não tem nada a ver com invasões visigóticas, nem celtas, como constam nos livros. A que propósito viriam para cá?Podem ter sido expulsos pelos hunos?Essas são as nossas justificações. As populações da zona dos bálticos e de parte da Alemanha são maioritariamente braquicéfalos, e nós já escavamos quase 4000 pessoas em cemitérios, e nunca apanhamos cá nenhum braquicéfalo. Não houve invasões celtas, como não houve invasões árabes. Nós sabemos hoje que não houve nenhuma invasão árabe, são balelas. São explicáveis pelo próprio sucesso do islão. Um milagre que em poucos anos espalhou-se por todo o Mediterrâneo. Daí dizer-se que eles eram tantos que só podiam ser uma invasão. Coitadinhos de nós! Mas não é isso que faz expandir as religiões. As religiões nunca foram levadas pela espada, mas pelo comércio. O facto religioso é um facto pacífico. Não é a matar que isso acontece. Nós habituamo-nos a pensar que era assim, por causa do tempo colonial, julgando que era a espadeirada que se resolvia tudo. E nem aí foi assim. Foi a ocupação económica, que veio a seguir, é que impôs a religião dos senhores. Mas no mundo antigo nem pensar em impor pela espada. Tem de haver um diálogo e o diálogo era feito no comércio. O comerciante chegava a um porto e não podia matar o seu comprador. Com as novas ideias que vieram surgiram as ideias religiosas. O ato de conversão é sempre um ato pacífico. Aquilo que estudamos dá-nos é uma informação importantíssima de continuidade e de proximidade entre as pessoas do Mediterrâneo. As investigações têm evoluído nesse sentido. Temos vindo a descobrir arqueologicamente no sul de Portugal que há uma presença muito sólida e prolongada do mundo berbere. Esta é a grande novidade do nosso trabalho. Começamos a apanhar uma grande ligação em termos toponímicos e micro toponímicos à língua tamazigue, que é a língua berbere. Nuno Ramos de Almeida

língua sagrada. Esse contacto direto faz com que o crente dialogue diretamente com o grande e o Deus das barbas, que é uma novidade enorme nas religiões, nas outras é muito difícil de penetrar. Isso não quer dizer que os muçulmanos não sejam iguais aos crentes de outras religiões e não tenham também o seu politeísmo. Em todas as sociedades de todo o Mediterrâneo os camponeses continuam a ter todos os seus santinhos de proximidade que tratam das coisas pequenas: dores de garganta, do sexo que não funciona, de todas as coisas importantes, enquanto as grandes religiões tratam do exoterismo total do crente com a grande divindade. Essa postura não tem nada que ver com aquela pequenina dos de baixo, com os seus pequenos santinhos: em que as mulheres vão ter com o seu santinho pondo-lhe problemas diretos, de nascimento e dores de barriga. Isso é tratado pelo santinho da aldeia, que normalmente é um herói local que lá está enterrado. Não é reconhecido diretamente, o grande islão não reconhece os pequenos santinhos, mas são fundamentais para a vida do camponês. Tal como os santinhos desenvolvidos pelo cristianismo. Disse que a arqueologia era uma espécie de história dos pobres, porque revela aquilo que os detentores da escrita, ligados aos poderosos, nos escondem. Isso permite-nos descobrir que fomos historicamente muçulmanos e católicos em épocas diferentes e não vítimas de uma invasão?Se formos camponeses sim, a atividade não mudou. Faz-se sempre o mesmo há centenas de milhares de anos. Obviamente aí não mudam os deuses. Mas quando surge a atividade comercial é quando aparecem os deuses abstratos. O valor do monoteísmo e o Deus único.

pessoas são submissas apenas perante Deus e iguais nessa adoração?O islão é uma religião irmã do cristianismo, com o judaísmo completa-se as religiões do Livro. Surgiu para facilitar uma melhor organização da sociedade. No planeta Terra, os pobres trabalham e os ricos vivem. Como todas as religiões do Livro serve para dar alento ao pobre. São religiões salvíficas, em que o pobre sofre na terra, mas vai para o céu, em que o rico não conseguirá entrar nem pelo buraco de uma agulha. Os pobres vão ser donos lá em cima e vão-se vingar no céu. Não pode ter duas leituras, a religião não pode ser emancipadora também na terra?Não, todas as religiões prometem coisas para o futuro. Elas têm só como função estabilizar a vida das pessoas neste momento. Permitir que a sociedade não entre em ruturas, revoluções e insubmissões. Manter uma sociedade que está bem hierarquizada. A religião permite a imposição de uma submissão de uma forma muito mais inteligente: aqui na Terra tens de alimentar os barrigudos dos patrões, mas lá em cima quem vai mandar és tu. É sempre a compensação do sofrimento aqui. A grande vantagem do islão é que tem uma linguagem mais popular e menos complicada. O mundo dos vários cristianismos criaram uma linguagem que roça o esoterismo, com poderes tão complexos em que temos de passar por vários intermediários. É isso que o islão anulou. O islão criou uma ligação inédita nas regiões anteriores, que é uma ligação direta entre o crente e a grande divindade.Não há uma classe sacerdotal, salvo naqueles que não falam árabe, como os persas, em que para lá aceder precisavam dos mullahs?É a questão do árabe, porque a língua é a

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As equipas de Cerveira (1.º) e En-tre-os-Rios (2.º), representantes da região Norte, Vila Ruiva (1.º) e Piódão (2.º), da região Centro, Al-bufeira (1.º) e Foz do Arelho (2.º), da região Sul, foram as vencedoras da primeira fase do campeonato.

A última prova decorre a 25 e 26 de maio, no hotel da Foz do Arelho, onde participam três equipas finalistas e duas unidades hote-leiras convidadas, das ilhas de Porto Santo e Flores. Para o apuramento dos pratos vence-dores, a avaliação é feita pelos clientes, me-diante o preenchimento de um formulário entregue antes da refeição. Bom apetite!

CAMPEONATO GASTRONÓMICO INATEL

BONS PRATOS DE NORTE A SUL

Folhado de Alheira de Urtiga

Ingredientes2 un. Massa Folhada; 220 g Alheira urtiga; 100 g Maçã Golden; 50 g Açúcar; 10 ml Azeite.

Preparação Pré-aquecer o forno a 180 graus. Picar a maçã sem pele em pedaços pequenos e colocar numa frigideira com azeite. Deixar cozinhar até que obtenha uma consistência macia. Retirar a pele da alheira e cortar em pedaços pequenos.

Naco de Vitela com Ratatouillee batata gratinada

Ingredientes1,2 kg Vitela Vazia; 20 ml Molho demi- -glace; 1 kg Batatas; 1 l Natas; 50 g Ovos; 20 g Sal; 20 g Oregãos; 400 g Beringelas; 400 g Curgetes; 400 g Cebolinhas; 400 g Cogumelos; 400 g Pimentos; 200 g Salsa; 250 g Manteiga; 200 g Casca de limão.

Preparação Corte os medalhões de vazia depois de lhes tirar as peles duras e as gorduras. Num sauté bem quente sele os medalhões dos dois lados e reserve. Batata gratinada: Corte a batata em chips, tempere com sal e envolva as natas. Forre um tabuleiro com papel vegetal e acame esta mistura. Leve ao forno a 180º C, mais ou menos 45 minutos. Desenforme em frio e corte triângulos de batata, leve ao forno com um fio de azeite durante 10 minutos. Ratatouille:Corte os legumes todos em mirepoix fina. Leve a saltear com um pouco de azeite por ordem de espessura dos legumes. Regue com um pouco de caldo de carne e tempere com sal e orégãos. Manteiga Maitre d’Hotel: Amassar a manteiga, a salsa picada e o sumo de limão até ficar homogénea, fazer rolinhos e cortar em rodelas. Empratamento: Emprate o medalhão em cima do molho demi-glace e coloque uma rodela grossa de manteiga Maitre d’Hotel em cima. Acompanhe com o triângulo de batata gratinada e um pouco de ratatouille.

Inatel CerveIraHotel

Inatel vIla ruIva Hotel

Inatel albufeIra Hotel

Juntar a alheira com o preparado de maçã e deixar cozinhar. Cortar a massa folhada em pedaços, colocar um pouco de recheio e enrolar em forma de croissant.

Cataplana de Peixe

Ingredientes4 kg Tamboril e outros peixes; 1 kg Camarão selvagem; 2 kg Batatas; 1 kg Ameijoa branca; 1 kg Pimento; 1 kg Tomate redondo; 300 ml Azeite; 200 g Alho; 100 ml Vinho; 1 kg Cebola;

Coentros secos q.b.; Creme de marisco q.b.; Louro q.b.; Sal q.b.; Pimenta q.b.Preparação Tempere os peixes com sal grosso. Numa cataplana, junte metade das cebolas cortadas às rodelas e metade dos pimentos cortados em juliana e regue com azeite. Adicione o peixe e tempere com vinho branco e brandy, junte o resto das cebolas e do pimento em juliana e coloque sobre o peixe. Em seguida, adicione o tomate maduro, sem peles e sementes, finamente cortado, os dentes de alho, louro, um ramo de salsa. Para finalizar, decore com presunto, camarão e ameijoas. Vai ao fogo durante 15 minutos. A cataplana é servida com batatas previamente cozidas à parte, cortadas às rodelas, dispostas em volta da mesma.

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ROTA DE D. QUIXOTE DE LA MANCHA E DO AÇAFRÃODe 25 a 30 de outubro

Partidas: Coimbra | Leiria | Santarém | Lisboa | Setúbal | Évora;

Viana do Castelo | Braga | Porto | Aveiro | Viseu | Guarda

Informações: Tel. 211 155 [email protected] | www.inatel.pt

Revisitar D. Quixoteentre a fantasiae a realidadePaisagens de Villanueva de los Infantes, Campo de Criptana ou El Toboso são alguns dos cenários que trazem ao nosso imaginário as aventuras e desventuras do “Cavaleiro da Triste Figura”

Viagem

“Num lugar da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo...”, as-sim começa uma das mais célebres obras da literatura ocidental, Dom Quixote de

la Mancha, cuja primeira parte foi publica-da em 1605.

Miguel de Cervantes, romancista, dra-maturgo e poeta castelhano, que viveu numa época de guerra e com uma passa-gem pela prisão, dedicou a maior parte da sua existência à obra literária. Morreu em 1616, um ano após terminar a segunda par-te do seu extraordinário livro, considerado o mais lido e traduzido em todo o mundo, a seguir à Bíblia.

Ao longo deste itinerário imaginemos o herói cervantino, D. Quixote, montado no seu esquálido cavalo, Rocinante, ao lado do seu escudeiro, Sancho Pança, a percorrer o território da Mancha – derivada da palavra árabe manxa (terra árida) –, lembrando a sua busca: “Alcançar a estrela inatingível.”

Chegamos a Ciudad Real. Aqui se en-contra o Museu del Quijote e a Biblioteca Cervantina. Visitamos a Catedral de Santa Maria del Prado. Segue-se a Plaza Mayor, onde se podem provar os vinhos e os quei-jos da região manchega, aos sons musicais do relógio carrilhão, inaugurado em 2005, numa varanda da praça, com as figuras de Cervantes, D. Quixote e Sancho.

Seguimos para Villanueva de los Infantes. Localidade com uma arquitetura predomi-nantemente renascentista e barroca, cujo

ex-libris é a casa de D. Diogo de Miranda, a quem D. Quixote chamava o “Cavaleiro do Verde Gabão”.

Ao encontro de DulcineiaPela manhã vamos a Almagro. Passeamos pelo centro histórico, perto da Plaza Mayor encontra-se o Museu Nacional de Teatro, no Palácio Maestral, exclusivamente dedi-cado à atividade cénica de Espanha. Nesta localidade realiza-se um importante festival internacional de teatro clássico.

Continuamos para o Campo de Criptana. À nossa frente, uma panorâmica dos moi-nhos de vento do século XVI. Os famosos moinhos contra os quais D. Quixote lutava, confundindo-os com gigantes, e alvoroçan-do o escudeiro Sancho: “Quais gigantes?”

Depois das paisagens de Mora, Temble-que e Villacañas, chegamos a El Toboso. No Museu Cervantino estão expostas nume-rosas edições de Dom Quixote de la Mancha, (cerca de 700 volumes publicados em mais de 70 línguas). Segue-se a Casa Museu de Dulcineia, anteriormente conhecida como a Casa de la Torrecilla, onde terá habitado Ana Zarco, que ficou conhecida pelo nome de Dulcineia del Toboso.

Na praça junto à Igreja de Santo António Abad, de estilo gótico tardio, encontramos uma estátua de Dulcineia defronte à de D. Quixote, simbolizando o eterno enamo-ramento, porque “andante cavaleiro sem

amores era árvore sem folhas nem frutos, e corpo sem alma”, diz Cervantes.

A rosa do açafrãoDe Toledo partimos para Consuegra. Esta pequena localidade organiza a Festa da Rosa do Açafrão, no final de outubro, para celebrar a cultura tradicional de Castilla-La Mancha, com um vasto programa que in-clui folclore, gastronomia e artesanato. Visi-tamos, ainda, um campo de açafrão, o cas-telo medieval e o moinho de vento Bolero. Em Madrilejos vamos ao Museu do Açafrão e Etnográfico, no antigo Convento dedica-do a São Francisco.

Queremos regressar a Toledo. Quando caminhamos pelo centro histórico, nas pra-ças e ruas estreitas, por vezes labirínticas, celebra-se a existência deste Património da Humanidade que ao longo do tempo pre-senteia os nossos sentidos.

Entre os históricos edifícios e monumen-tos da cidade, conhecida pela secular convi-vência entre cristãos, árabes e judeus, des-tacam-se a Catedral Primada de Toledo, a Mesquita do Cristo de la Luz, a Sinagoga de Santa Maria la Blanca, a Igreja dos Jesuítas.

Na Igreja de São Tomé está patente uma obra-prima de El Greco, O Enterro do Conde de Orgaz (1588). Mais adiante, encontra-se a casa que lhe é dedicada, o Museu de El Greco. E há muitos mais locais de interesse cultural para descobrir.

Por fim, uma magnífica vista sobre Toledo pode ser admirada do Miradouro do Vale. E vale a pena lembrar que com D. Quixote podemos “sonhar o sonho impossível”.

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desporto

Com 2 anos agarrado às tabelas, e sob o olhar do pai, a dar os pri-meiros passos de patins no Clu-be Desportivo de Paço de Arcos. A chorar e com medo de quem já andava no ringue, depressa cresceu, “fez-se homem” e hoje

é dele que muitos jogadores têm medo, e é dele que a equipa espera mais um golo para se manter na primeira divisão.

De poucas palavras, tímido, Gonçalo foi deixando cair os braços e escapar o sorriso ao longo de uma conversa sobre o amor e dedicação que tem pela modalidade, à qual se dedica a 100% para conseguir alcançar as metas a que se propõe diariamente, “o meu ponto alto ainda está para vir”.

Cresceu numa família de hoquista, foi inspirado e hoje é a inspiração para o mais novo dos dois irmãos, que com ape-nas oito anos admira o Gonçalo e pede que lhe ensine todos os passes e golos executados no ringue.

A família é o verdadeiro pilar, amigos são poucos, prefere confiar na família, com quem pode contar: “Não tenho muitos amigos, prefiro ter amigos da família, não sou de me agarrar a pes-soas de fora, agarro-me à família.” E se tinha dúvidas de que eles são essen-ciais para a sua formação como joga-dor, quando esteve em Alcobendas deixou de as ter, foram 5 longos meses, de altos e baixos, com mo-mentos que prefere não partilhar,

Gonçalo Nunescomeçou no Clube Desportivo de Paço de Arcos, foi contratado pelo Benfica onde esteve um ano na equipa dos juniores e rapidamente despertou o interesse do Sporting, onde tem contrato até 2020. Com passagem pelo clube espanhol Alcobendas e atualmente emprestado ao Paço de Arcos, Gonçalo, de apenas 19 anos, é atualmente segundo melhor marcador da 1.ª divisão de hóquei em patins e presença assídua na Seleção Nacional

“A Seleção Nacional éo resultado do acumularde trabalho ao longo do ano”

onde percebeu que precisa de estar perto de quem ama.

Quando questionado sobre a possibilida-de de jogar numa equipa fora de Portugal, Gonçalo responde sem hesitações: “Neste momento já estou preparado, já não estou sozinho, e assim será mais fácil. Vivo com a minha namorada, não dependo de nin-guém, pago as minhas contas.” E não es-conde que precisará sempre do apoio da namorada, “é uma das coisas que eu peço, que ela venha, para me sentir melhor”. Mas jogar em Portugal será sempre a sua primeira opção.

“O hóquei português está a crescer em relação às outras ligas. Está ao mesmo nível do futsal português mas ainda não cresceu no meio televisivo. Há muito potencial para o país, para clubes de topo, mas (os jogado-res portugueses) têm que ser mais aprovei-tados, jogar em equipas de alto rendimento em vez de serem emprestados.”

A entrada na Seleção Nacional aconteceu quando tinha 16 anos, entrou na equipa sub-17, mas foi com os sub-20, em 2016, que

mos campeões mesmo por esforço, pela luta, e foi mesmo a acabar que a gente conseguiu dar a volta e depois foi a sor-te dos penáltis e ganhámos, claro que me lembro desse dia, foi um momento alto da minha carreira”, um momento partilhado na bancada com a família que acompanha todos os jogos de forma entusiasta.

A entrada para a Seleção Nacional não é para Gonçalo sinónimo de estabilidade e conforto: “A Seleção é o resultado do acu-mular de trabalho ao longo do ano, e vou continuar a trabalhar no clube onde esti-ver e claro, espero com isso poder voltar à Seleção.”

O clube que ambiciona, não esconde, é o Sporting, com quem tem contrato por mais dois anos, mas era na equipa sénior que se imagina a jogar. “O Sporting é um clube que eu gostava de jogar nos senio-res, é um clube grande, poderá ganhar o campeonato, as ligas dos campeões, e era esse o clube onde gostava de estar”, e acrescenta: “Pode acontecer, tenho traba-lhado para isso, tenho apresentado resul-tados, mas não sei o dia de amanhã, não sei o que eles pretendem.”

Gonçalo pretende continuar a trabalhar. Os seus dias são dedicados ao treino den-tro e fora do ringue, sabe que é preciso mais do que apenas treinar com a equipa para ser um jogador de topo e não perde o foco em momento algum, nem no início, nem a meio e no fim do jogo. “Quando acaba o jogo eu não quero ouvir ninguém, prefiro estar no meu mundo, vou para casa descansar e só quando chegar ao próximo treino é que ouço os treinadores e colegas, e é assim que evoluo.”

Focado no jogo, “despassarado em casa”, a viver com a namorada confessa que o jantar é muitas vezes preparado por ela, mas é ele quem lava a louça.

Não esconde os medos que qualquer jo-gador sente, como uma lesão ou a impos-sibilidade de não conseguir jogar mais, mas o maior medo para Gonçalo é termi-nar a carreira demasiado cedo por falta de contrato. “O pior medo é ter que acabar o hóquei mais cedo por não ter um contra-to numa equipa forte, porque monetaria-mente não é muito alto (jogar Hóquei) e se for para uma equipa abaixo da tabela, sem contrato do Sporting, terei que aca-bar a carreira. Ou só treinar e trabalhar noutra área porque é assim que se vive no hóquei.”

Quando o stick parar e Gonçalo tiver que arrumar os patins de vez, é como trei-nador que imagina o seu futuro e tem em Jaime, o primeiro treinador, o exemplo.

“Foi o treinador que mais me marcou. Ainda hoje, no meu dia de anos, dá-me sempre os parabéns, dos únicos que o faz… E foi das mãos dele que recebi o meu primeiro stick.”

O futuro é incerto mas prefere viver a vida no momento, hoje, a jogar no Clu-be Desportivo de Paço de Arcos, onde se sente completamente em casa, sabe que é um elemento fundamental para

a equipa para não descer de divi-são, e é com orgulho que veste a camisola de uma equipa que o for-

mou e que faz dele o “Saviola” do hóquei em patins, alcunha pela

qual é conhecido mas é com Gonçalo Nunes estampado nas costas que quer alcançar

o topo. Maria João Costa (Texto)Beatriz LORENA (foto)

viveu o momento mais alto da sua carreira até hoje como campeão mundial de Hó-quei em Patins, num jogo contra a vizinha Espanha e onde Gonçalo, aos 7 segundos de terminar o jogo marca o golo do empa-te e permite à equipa disputar os penáltis e assim levar a Taça para casa.

“Foi o meu primeiro ano de sub-20, fo-

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Q uase Normal, uma adaptação do premiado Next to Normal, chega em maio à sala Eça do Trindade. Um musical rock, integralmente tocado e can-tado ao vivo, com encenação de Henrique Feist e direção

musical de Nuno Feist.Já a sala Estúdio recebe, também em

maio, Mário ou Eu Próprio-o-Outro, na ver-são de Rogério Paulo, a partir do texto de José Régio, cartas de Fernando Pessoa e poemas de Mário de Sá-Carneiro.

Segue-se, em junho, ainda na sala Estú-dio, a apresentação de Lições de Dança para Pessoas de Uma Certa Idade, uma adaptação do romance de Bohumil Hrabal por João Lagarto, que interpreta Jyrca, um expe-riente contador de histórias

QUASE NORMALDe 5 de maio a 3 de junho, o Teatro da Trindade Inatel recebe Quase Normal, um musical rock escrito por Brian Yorkey, com música de Tom Kitt. Conta a história de uma mãe que luta contra a sua bipolari-dade e os efeitos que a doença, e as ten-tativas da sua cura, têm sobre a família. A encenação é de Henrique Feist e a direção musical de Nuno Feist.

Quase Normal é uma adaptação do mu-sical Next to Normal. Tem os ingredientes principais que vão desde a comédia ao drama, sendo considerado unanimemen-te como um “poderoso musical rock que lida com questões de doenças mentais numa família suburbana, alargando as-sim a panóplia de assuntos que podem ser explorados em musicais”. Despido de plumas e lantejoulas, neste espetáculo todos são convidados a viver a fantástica história de amor e dedicação de uma famí-lia que tinha tudo para ser normal, mas… não o é!

Estreou-se Off Broadway, em 2008, e recebeu várias nomeações para prémios, vencendo o Outer Critics’ Circle Award para Best Score (Melhor Partitura). Apre-sentou-se no Arena Stage (Washington) e chegou à Broadway, em 2009. Foi no-meado para 11 Tonys, vencendo em três categorias: Melhor Partitura, Melhor Or-questração e Melhor Atriz. Venceu tam-bém o Prémio Pulitzer para Drama, sendo o oitavo musical de sempre a receber esta honra.

Lúcia Moniz, Henrique Feist, Mariana Pacheco, Valter Mira, André Lourenço e Diogo Leite protagonizam duas horas de fortes emoções, num dos melhores musi-cais que passaram pelos palcos portugue-ses.

Uma produção da ArtFeist – Produções Musicais.

MÁRIO OU EU PRÓPRIO-O-OUTROCentrado nos últimos momentos de vida de Mário de Sá-Carneiro, que se suicidou

TRINDADEUM SUCESSO DA BROADWAY, A LOUCURADE UM POETA E UM CONTADOR DE HISTÓRIAS

a 26 de abril de 1916 num quarto de hotel em Paris, este espetáculo estreia a 10 de maio, na sala Estúdio do Trindade.

A partir de Mário ou Eu Próprio-o-Outro, de José Régio, de cartas de Fernando Pes-soa e poemas de Mário de Sá-Carneiro, Rogério Paulo propõe um tecido cénico e performativo sobre o suicídio do poe-ta, recriando uma relação entre dois per-sonagens, com génese apenas num. Na verdade Sá-Carneiro, não se suicidou, foi suicidado. Pelo Outro, por ele próprio, o espelho de uma mente instável e revolta-da em si, de si, para si.

A atuação das palavras e os diálogos visuais são criados num jogo de confli-to, submissão, superioridade e loucura. Os dois personagens não procuram ser o oposto um do outro, mas sim a personifi-cação de desejos e diferenças que Mário almejava. E deu a vida ao Outro. E o Ou-tro, deu-lhe a morte.

Régio, através das suas palavras, conta esse momento: cartas entre Mário e Pessoa ilustram esses pensamentos, e com estes ingredientes a umbigo-companhia de tea-tro recriou cenicamente um espetáculo, que conta com a interpretação de Anous-chka Freitas e Ricardo Barceló.

LIÇÕES DE DANÇA PARA PESSOASDE UMA CERTA IDADEA proposta que João Lagarto traz à sala Estúdio, a partir de 14 de junho, baseia-se no romance homónimo do grande autor checo Bohumil Hrabal (1914-1997). Neste monólogo, João Lagarto dá também voz ao narrador Jyrca, antigo sapateiro e um hábil e torrencial contador de histórias, que recorda episódios do seu tempo.

Neste espetáculo, Jyrka é um homem que sabe viver e a caminho dos setenta anos conta sem parar, à mesa de um bar, episódios da sua vida e com eles a história do século – desde o tempo do imperador até ao comunismo, passando por duas guerras e Adolf Hitler. Ajudado pelos es-píritos do álcool, provoca e dá conselhos à audiência feminina de acordo com os exemplos recolhidos ao longo de uma vida dedicada a consertar os sapatos dos outros.

O romance apresenta a façanha mui-to saudada na altura da sua publicação (1964) de não ter um único ponto final. Pa-rodia a história da antiga Checoslováquia, contrapondo a vida pública do país à vida privada (e lúbrica) do narrador.

Para o ator e encenador, os romances de Hrabal “são sempre longos monólogos, é sempre alguém a falar de uma maneira tão divertida que apetece levá-los para o palco de um Teatro popular, onde imagino um público a rir perdidamente”.

Uma coprodução de João Lagarto com a Câmara Municipal de Almodôvar e a Casa das Artes - Arcos de Valdevez, em cena até 15 de julho.

Um poderoso musical rock, Integralmente tocado e cantado ao vivo

Mário de Sá-Carneiro não se suicidou, foi suicidado. Régio conta-nos esse momento

Um caso sério de humor em palco, com João Lagarto a protagonizar Lições de Dança para Pessoas de Uma Certa Idade

Fotos: DR

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Aos 90 minutos Portugal estava a perder 1-0 num jogo amigável com o Egito. E eis se não quando, nos escassos minutos de compensação, o Cristiano Ronaldo faz dois golos na

sequência de duas assistências de Ricardo Quaresma.

Nem tinha estado a dar muita atenção ao jogo, mas de repente dei por mim a pensar: Isto somos Nós! Uma mistura de gentes e de raças, cheios de arte e engenho, com um ritmo e um “saber fazer” nem sempre dentro daqueles padrões mais ou menos predefinidos.

Recuei então 20 anos e encontrei-me em pleno Parque das Nações, nessa altura um autêntico “estaleiro” porque estávamos a dois meses da inauguração da Expo’98.

Tive nessa altura o privilégio de visitar o espaço, acompanhado de profissionais de várias áreas intervenientes na finalização dos trabalhos, e sentir de perto a evolução dos mesmos.

Éramos cerca de duas dezenas de “visitantes” interessados e, confesso que um pouco incomodado, fui ouvindo aqui e ali alguns comentários passando a mensagem de que a Expo ia ser um “fiasco”, porque era impossível finalizar os trabalhos no prazo previsto... Era a já tão conhecida atitude de “Velho do Restelo”!

Ainda hoje estou a aguardar que me paguem meia dúzia de jantares, resultantes da aposta que fiz nessa altura, como estaria tudo impecável no dia 22 de maio de 1998.

E estava mesmo tudo impecável. Aquele dia foi um acontecimento inolvidável e de grande prestígio para todo o país.

Podia dar-vos aqui muitos outros exemplos de como somos Nós – e não vale a pena inventar e/ou procurar comparações.

No passado recente, como no mais longínquo, encontramos inúmeros exemplos que provam o diferente que somos enquanto povo, enriquecidos pela mistura de raças, culturas e saberes que resultaram nesta miscelânea fantástica de que tanto me orgulho.

Que bom ter nascido aqui.

ColunaDO provedor

Manuel [email protected]

A XXI edição premiou Maria de Fátima Ribeiro, com o grande prémio, e Tiago Correia com uma menção honrosa

A Fundação Inatel criou há 21 anos o Concurso Teatro Novos Textos com o objetivo de incentivar os novos au-

tores, a dramaturgia e a escrita dos mais jovens.

A última edição recebeu mais de 25 ins-crições onde foram entregues dois pré-mios, o Grande Prémio Novos Textos e Menção Honrosa.

Por decisão do júri, o prémio Manuel Rovisco, que premeia jovens autores com menos de 25 anos, não foi entregue na edição 2017/2018.

Carla Raposeira, diretora do departa-

Miguel Torga homenageadopela Fundação Inatel em Vila Real e Sabrosa

O Dia Mundial da Poesia foi comemora-do entre as “fragas” de Trás-os-Mon-tes, para celebrar a vida e obra de

Miguel Torga. Depois de Sophia de Mel-lo Breyner, Fernando Pessoa, José Régio e Natália Correia, a Fundação Inatel quis dar a conhecer quem “manda para lá do Marão”.

Um dos objetivos principais da iniciati-va era descentralizar e diversificar o uni-verso de poetas e escritores, bem como contribuir para a divulgação do patrimó-nio literário português.

Ao longo de dois dias, 21 e 22 de março, Torga foi discutido, declamado e elogiado por muitos. No dia 21, a Inatel reuniu Vila Real à mesa para uma tertúlia sobre o poe-ta, com a participação de Maria Hercília Agarez (professora e escritora), João Luís Sequeira (diretor do Espaço Miguel Tor-

ga), e Domingos Lopes (professor univer-sitário), que conhecem e estudam a obra de Miguel Torga e que se identificam com a escrita do poeta, com a descrição do que via e vivia.

No dia 22, em Sabrosa, o auditório mu-nicipal encheu-se para um espetáculo que pôs à prova todos os sentidos do público. Sob a direção artística de Luís Oliveira, o espetáculo contou com o ator José Pinto; a atriz Sara Barros Leitão, acompanhada pela viola amarantina de Eduardo Costa, na leitura do Manifesto pela poesia “O vento das palavras”, escrito por João Pinto Coelho; os Peripécia Teatro; Rui Oliveira com um projeto de poesia cantada e Luís Antero num concerto onde os sons da na-tureza prevaleceram.

Houve ainda espaço para o projeto Fado ao Centro – Fado de Coimbra, e a apresentação de uma curta-metragem, “Brinquedo”, do agrupamento de Escolas Miguel Torga.

A Alentejana de novo Portuguesa 12 Anos depois a Volta ao Alentejo é em português, Luís Mendonça levou a amarela para casa

Com início em Torres Novas, a 14 de março, a Volta ao Alentejo voltou a desafiar 21 equipas a pedalar 751,9

quilómetros de competição, com o regresso do contrarrelógio, nove anos depois.

Ao longo das seis etapas, o pelotão da 36.ª Volta ao Alentejo lutou por quatro camisolas que representam outras tantas lideranças. Além da amarela, das mais desejadas, os mais jovens competiram pelo Prémio da Juventude, representado na camisola branca da Fundação Inatel, um prémio que o diretor da prova, Joaquim Gomes, destaca: “oferece aos corredores mais jovens a oportunidade de participarem num evento internacional, e é a este nível, que a camisola, o símbolo de liderança dos mais jovens acaba por ter o apoio da Fundação Inatel, a camisola branca, que diariamente vai desseguir o melhor jovem em prova.”

Mark Downey (Team Wiggins) foi o jovem irlandês vencedor da camisola branca da Fundação Inatel, e foi o terceiro classificado da prova depois de ter estado na liderança durante três dias e de ter perdido para Luís Mendonça.

A última etapa começou em Castelo de Vide e terminou em Évora com o chegar sufocante do corredor da Aviludo-Louletano, Luís Mendonça: “Há quatro anos andava aí noutras andanças e agora é só ciclismo, quem diria que estaria aqui a vencer a Alentejana 30 anos depois do meu ídolo de infância ter vencido, é um orgulho enorme.”

Joaquim Gomes é o ídolo de Mendonça, e não esconde que a 36.ª Alentejana foi uma união de coincidências felizes: “A realidade é que em 1988 representei o Louletano, e a única vez, e tendo representado essa equipa, só um ano, é dos locais onde deixei mais amizades, portanto, passados 30 anos e assinalando a minha vitória de 1988, ter um corredor de Loulé a vencer a prova é terminar com chave de ouro.”

A “maldição” foi quebrada e o ter sido um português a vencer é a prova de que “o ciclismo português está em alto nível, não são só os estrangeiros que conseguem ser brilhantes, estamos em alto nível, somos às vezes até superiores”, afirma Luís Mendonça.

A classificação geral da 36.ª Volta ao Alentejo ficou completa com os nomes de Ricardo Mestre (W52/FC Porto) na segunda posição, a 8 segundos de Mendonça, e de Mark Downey (Team Wiggins), na terceira posição a 11 segundos.

“BRO” VENCE CONCURSO TEATRONOVOS TEXTOS INATEL

“Poesia em Torga”

mento de Cultura da Fundação Inatel, destaca que para além do prémio mone-tário, as obras vencedoras são publicadas (já são 30 os livros publicados a partir do concurso) e distribuídas pelos CCD Inatel e bibliotecas.

O texto, se encenado no âmbito do concurso de Teatro Amador, tem ainda a oportunidade de ser apresentado no Tea-tro da Trindade, um desejo que a autora não esconde: “Gostaria que o texto viesse a conhecer o palco, ele nasceu para ser re-presentado e esse é o destino do texto.”

Fátima Ribeiro é professora de cinema, mas confessa que esteve sempre ligada à dramaturgia, e que o texto “BRO” já tinha sido escrito há dois anos, uma primeira versão, mas acreditou nele. “Continuei a trabalhar porque pensava e penso em in-clui-lo num projeto de teatro e comunida-de no Bairro do Condado, em Chelas.”

Tiago Correia, ator há 12 anos, encena, dirige, tem um projeto musical e desco-briu a escrita como meio para ser melhor em cima do palco, mas a escrita começa a falar mais alto, pede mais tempo e dedi-cação. A dedicação deu-lhe uma menção honrosa com o texto “Ponto de Fuga”.

“A escrita ainda é a mais pequenina de todas as coisas que vou fazendo, mas é a que se está a tornar a mais importante. É a segunda peça que escrevo, com a primeira ganhei o Grande Prémio da SPA, e agora, com a segunda peça que escrevo, venço este prémio com júris que admiro.”

Cucha Carvalheiro, Maria João Luís, Rui Pina Coelho foram os membros do júri, que de forma anónima, premiaram os vencedores de mais um concurso que promete continuar, e de uma forma mais revigorada já na próxima edição.

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VER OUVIR

Beijos roubados

A Canção – Novas revelaçõese audições intemporais

Ammore e Malavita, de Antonio Manetti, Marco Manetti | Itália, 2017Com: Giampaolo Morelli, Serena Rossi, Claudia Gerini. •Surpreendente regresso da comédia à italiana (em tom musical, género… ‘breakdance’) com uma história de amor delirante, à mistura com um ajuste de contas atribulado entre mafiosos napolitanos. Premiado em Veneza.

Cinema Paraíso, de Giuseppe Tornatore | Itália/França, 1988Com: Philippe Noiret, Jacques Perrin, Salvatore Cascio. •O regresso ao grande ecrã de uma obra muito amada dos últimos trinta anos. Entre a nostalgia e o realismo, “Nuovo Cinema Paradiso”, marca o fim de uma era – a dos grandes cinemas que desapareceram. Impossível esquecer a cena final, dos beijos roubados. Música de Ennio Morricone.

Acerta o Passo, de Richard Loncraine | GB, 2017Com: Celia Imrie, Imelda Staunton, John Sessions, Joanna Lumley. •Uma comédia dramática-romântica, pouco convencional e assaz divertida, centrada no despertar para a vida de uma mulher irascível de meia idade que é traída pelo marido e se muda para casa de sua irmã. Do mesmo realizador do thriller-fantástico shakespeariano, “Ricardo III”.

Esplendor, de Naomi Kawase | Japão, 2017Com: Masatoshi Nagase, Ayame Misaki, Tatsuya Fuji. •A crítica elogia-lhe a elegância filosófica, a fluidez narrativa, a sublime atmosfera poética. Se há uma palavra que melhor se aplica a “Esplendor” – história de amor entre “uma jovem escritora de versões para invisuais e um fotógrafo mais velho que está a perder lentamente a visão” – é humanismo.

Na Síria, de Philippe Van Leeuw | França /Bélgica, 2017 Com: Hiam Abbass, Diamand Bou

Abboud, Juliette Navis. •Do quotidiano de uma família enclausurada no seu apartamento nos arredores de Damasco com a guerra a acontecer “lá fora”, trata “Insyriated”, no

título original, filmado no Líbano. Para denunciar a violência o cineasta “mostra-a” fora de campo. O que interessa, é dar a ver como existem, como se organizam e sobrevivem essas pessoas à loucura brutal e terrível que as ameaça.

Ilha dos Cães, de Wes Anderson | EUA, 2018Animação. Com (vozes): Bryan Cranston, Edward Norton, Liev Schreiber.

•Fábula política, comovente e inventiva, sobre a intolerância e o poder da amizade, à volta de um autarca corrupto que decreta o exílio a todos os animais de estimação caninos numa ilha-lixeira…

Um prodígio visual, cheio de humor e emoção.

Joaquim Diabinho[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

Através da audição de uma canção podemos vivenciar diversas reações emocionais: tristeza, nostalgia, felicidade, alegria… São sensações pro-vocadas em nós pela imagina-ção de quem as compõe e de

quem tem a capacidade de tocar o outro através da letra e da melodia. Muitas vezes essas canções acompanham-nos pela vida. Resolvem momentos difíceis, ajudam a tomar decisões. Nesta coluna a canção será o elo de ligação de três con-certos, que humildemente considero im-perdíveis. Não posso deixar de partilhar algumas das descobertas sonoras que vou fazendo. O Tim Bernardes foi uma delas. Vocalista da recente banda bra-sileira O Terno, com fortes influências de grupos como os Beatles, Mutantes ou Clube da Esquina, Bernardes lança “Recomeçar”. Nesta estreia enquanto cantautor assina tudo: composição, voz, coros, guitarras, pianos, bateria, baixo, órgão, mellotron, percussões, autoharp e metalofone num jogo perfeito de sons e silêncios. Todas as canções incorporam um sentimento denso, com uma serie-dade crua nas letras e bonito lirismo na voz e instrumentação. Com maturida-de e um extremo bom gosto, Bernardes brinda-nos com uma expressão brutal-mente honesta onde o triste encontra o belo, onde a complexidade das dúvidas e lamentos da mente se tornam memó-rias, diálogos, divagações; uma viagem sonora entre a simplicidade e a fuga à realidade. Bernardes vai dar que falar. Estará na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, a 14 e 17 de junho; na Casa da Cultura de Setúbal, a 15 de junho, e no Auditório de Espinho, a 16 do mesmo mês. Vindo também dos trópicos, outro grande ar-tista passará por Portugal para nos apre-sentar o seu mais recente trabalho. Falo de Chico Buarque. Para quem conhece o

cancioneiro de Chico, o seu 38.º álbum “Caravanas” é mais uma bonita soma de canções com metáforas sobre amores e relacionamentos na primeira e terceira pessoa, aspetos sociais e claro, o samba e o futebol. São ao todo nove canções só-lidas com várias parcerias, em que des-tacamos o cantor Edu Lobo, o baixista Jorge Helder ou a sua neta Clara Buar-que. Estará nos Coliseus do Porto a 2 e 3 de junho, e Lisboa a 7, 8 e 9 de junho. Do outro lado do Atlântico, tivemos este ano o regresso de Sérgio Godinho com o álbum “Nação Valente”. Na longínqua década de 80 do século passado, Go-dinho fez um álbum de parcerias com músicos do Brasil (entre outros, Milton Nascimento, Ivan Lins, João Bosco, Chi-co Buarque) cujo resultado foi uma pa-nóplia de lindas canções que ficaram na memória coletiva, sendo um dos traba-lhos mais reconhecidos do seu público. Passados 35 anos brinda-nos com novas parcerias, desta vez, com músicos portu-gueses. Com letras da sua autoria, o tra-balho resulta de várias colaborações com José Mário Branco, Hélder Gonçalves, Nuno Rafael, Pedro da Silva Martins e Filipe Raposo. O cantautor irá apresen-tar-se de forma inédita com a Orquestra Metropolitana, sendo a primeira vez que o compositor canta os seus temas com arranjos para orquestra. Irá apresentar--se de 5 a 8 de julho, no Teatro Municipal São Luiz. Não querendo entrar em ques-tões académicas musicológicas, omitin-do especificidades de forma, conteúdo, género e estética, de um modo simples, a canção é a forma musical e literária mais antiga em que a relação entre o tex-to e a música ganha uma configuração poética capaz de imprimir sentimentos, legitimando-os e levando os ouvintes a outros lugares. Escrever uma Canção é um desafio superado apenas por alguns. Bons concertos! Susana Cruz

“Cinema Paraíso”, óscar melhor filme estrangeiro, volta às salas em cópia digital remasterizada

Capa do álbum “Recomeçar” de Tim Bernardes

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22 TL MAR-ABR 2018

NÃO DEIXOU DE SER QUEM ERA

Os contos do zambujal

MárioZambujal

O vento assobia lá fora e a chuva bate em rajadas na vidraça da janela. Está um dia triste, Mar-garida vai colocando a roupa e mais pertences em duas malas grandes, nada ficará no apar-tamento de Rodolfo Silvedo,

onde vive e com quem vive vai para seis anos. Ia para seis anos, tempo de encanta-mento e Margarida não entende a trans-formação de Rodolfo nos últimos meses. O homem amoroso, risonho, carinhoso ao ponto de fazer todas as vontades e repetir várias vezes ao dia, “Sim, Margarida, meu amor”, passara a personagem sombria, agreste no pouco falar, seco, frio, ausente.

Desde o início tinha sido uma relação alegre e terna, e ele proferia a cada pas-so aquela expressão mágica: “Margarida, meu amor.” Mais de cinco anos de con-vívio enternecido e, subitamente, Rodol-fo surgia-lhe como um desconhecido, de modos e palavras sem carinho, diferente, tão diferente do jovial companheiro que a fazia feliz.

Por isto Margarida tem os pensamen-tos divididos, amargurada pelo epílogo do romance, firme na decisão de partir, o homem que se encontra na sala ao lado não se assemelha ao que conheceu por casualidade, apresentado por uma ami-ga comum. Lembra-se como logo nesse

momento o achou divertido e atraente, a graça com que lhe suplicou o número de telefone, no dia seguinte o telefonema a convidá-la para jantar e nessa mesma noi-te o desafio para a vida em comum e defi-nitiva, no fim a imploração: “Diz que sim, Margarida, meu amor.”

Poderia ter sido entusiasmo passageiro ou conversa de sedutor de pouco crédito. Mas Margarida, sentindo-se tão fascinada como Rodolfo dizia estar por ela, aceitou o repto. Passaram anos felizes sem que Margarida tivesse a menor razão para se arrepender, ao contrário, Rodolfo confir-mava-se como o perfeito parceiro de vida, pródigo em mimos, e aquela amabilidade – “Sim, Margarida, meu amor” – a qual-quer sugestão dela, fosse para um passeio, ida ao cinema, ou ideia de ser ela a cozi-nhar para o jantar: “Sim, Margarida, meu amor.”

Vai dobrando e emalando os vestidos e casacos com que tantas vezes acompa-nhou Rodolfo, sempre unidos e de mãos dadas, e repetidamente pergunta a si pró-pria: “Porquê?”. Não encontrava resposta no seu comportamento, em momento ne-nhum deixou de ser a companheira afec-tuosa que ele tanto louvava, e nem uma desavença, um arrufo, tinham manchado o bem-estar do casal. Se ao menos ele fa-lasse, explicando tão abrupta mudança

de atitude, Margarida poderia compreen-der ou desfazer qualquer equívoco. Mas todo ele navegava em silêncios e quando, por uma vez, Margarida o interpelou, a resposta foi curta e vazia: “Deixa-me em paz.”

Agora Margarida também quer a paz do afastamento, não suporta viver ao lado da sua desilusão. Voltará para o pequeno apartamento onde era feliz antes de lhe ter chegado a felicidade maior de repar-tir a vida com Rodolfo Silvedo. Fecha as malas e toma o caminho da porta, passará pela sala onde, indiferente, se encontra a distorcida imagem do homem que sempre a tratava por “Margarida, meu amor.”

Rodolfo nem se oferece para a ajudar no carrego das malas até à porta. Olha-a, apá-tico, sem uma palavra. É ela que solta a pa-lavra final e sem resposta: “Adeus”. E sai.

Dois minutos depois volta o sorriso, há tanto arredio, no rosto de Rodolfo. Segura no telefone, marca um número, todo ele parece diferente do homem taciturno dos últimos meses. É em voz animada que diz:

– Tudo resolvido, caminho livre. Fui obrigado a fingir-me um sujeito detestável para ela desistir de mim. De outro modo não sairia e eu era incapaz de a mandar embora, conheces o meu bom feitio. Hoje já podes vir viver comigo. E vem já, Susa-na, meu amor.

josé Alves

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Palavras cruzadas POR josé lattas

Sudoku POR Jorge Barata dos Santos

HORIZONTAIS: 1-Banheiras; Calculam. 2-Ave pernalta, semelhante à avestruz; Também; Ergo. 3-Nobélio (s.q.); Asso-bia; Sufixo, formador de substantivos masculinos, derivados de nomes, que indica uso ou serventia, ou aumenta-tivo. 4-Escarneça; Cólera. 5-Adaptação às circunstâncias, para delas beneficiar. 6-Reboca; Terceira letra, do alfabeto grego. 7-Altar, em que se oferecem sacrifícios; Gemidos (inv.); Apelido de heroína francesa. 8-Nota musical; Érbio (s.q.). 9-Recato. 10-Gálio (s.q.); Grau ou insígnia de doutorados; Ástato (s.q.). 11-Limo; Adivinho.

VERTICAIS: 1-Esticado; Encharca. 2-Intrín-seco; Preposição, que traduz a ideia de movimento; Alumínio (s.q.). 3-Sódio (s.q.); Trajecto. 4-Arau; Cuspo. 5-Ber-mas; Partícula, que exprime exclusão ou alternativa (inv). 6-Titânio (s.q.); Prefixo, com o sentido de dentro, no interior de. 7-Sardinha muito pequena; Sufixo, com o sentido de pequenez, diminui-ção. 8-Melodia; Sobem. 9-Nota musical; Dispneia. 10-Ferro combinado com carbono e endurecido pela têmpera; Disposição; Prata (s.q.). 11-Atado; Vila e concelho do Distrito de Portalegre.

Problema n.08Prencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado.

Passatempos

1-TINAS; PESAM. 2-EMA; ATE; IÇO. 3-NO; APITA; OL. 4-S; RIA; IRA; M. 5-OPORTUNISMO. 6-ATOA; GAMA. 7-ARA; SIA; ARC. 8-LA; B; N; A; ER. 9-A; CAUTELA; A. 10-GA; BORLA; AT. 11-ALGA; A; MAGO.

Soluções:

Soluções:

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BEJACircuito Inatel BTT, Ferrobico – Por Terras de Mato, 27 de maio, Cabeça Gorda.

BRAGA“Braga Fado” – Jovens fadistas 25 de maio, Inatel de Braga, Av. Central, 77.entrada livre.“Bandas destas Bandas” – Comemorações 10 de Junho. Encontro de Bandas, praça Eng. Armando Rodrigues, Póvoa de Lanhoso.

COVILHÃCINEMA AO AR LIVRE – De maio a agosto, às 21h30. As três primeiras sessões incluem curtas-metragens dos alunos do Curso de Cinema da UBI: O Desassalto e Gato Preto, Gato Branco, 18 de maio; Em vez de mimos, semeava ovos nas costas e A Residência Espanhola, 25 de maio; Criados na Serra e Casablanca, 1 de junho. Million Dolar Baby, 8 de junho; A Vida é Bela, 15 de junho; O Padrinho, 22 de junho; Mamma Mia!, 29 de junho; Os Condenados de Shawshank, 6 de julho; Master e Commander, 13 de julho; O Pianista, 20 de julho; Cinema Paraíso, 27 de julho; Avatar, 3 de agosto; A Canção de Lisboa, 10 de agosto.

ÉVORAExposição, 23 a 30 de junho, Galeria Inatel, Palácio do Barrocal: O Surrealismo, de Eusebio Loro.Encontros de Música Tradicional Portuguesa: Beira Serra

– Associação Os Malteses (Almodôvar), Aguarela do Divor – União Recreativa Cultural Igrejinhense (Arraiolos), Sons do Campo – Associação Cultural Sons do Campo (Portalegre), 19 de maio, 17h, Praça da República, Arraiolos; Vozes do Imaginário (Évora), Os Alentejanos (Serpa/Beja), Grupo de Cantares de Santa Eulália (Portalegre), 26 de maio, 21h, Auditório do Centro Cultural de Arronches; Grupo Coral e Instrumental “Amigos da Malagueira” (Évora), Grupo Cantares Cantalagoa (Portalegre), Os Alentejanos (Serpa/Beja), 16 de junho, 21h, Pousada de Alvito.Ciclo de Teatro Inatel: “A MESTRA PATHELINA”, GRUPO TEATRO PENSENNISSO - SOCIEDADE FILARMÓNICA MONFORTENSE, CINE TEATRO CURVO SEMEDO, MONTEMOR-O-NOVO, 12 DE MAIO, 21H30; “ATÉ ÀS BODAS DE OURO”, TEATRO EXPERIMENTAL DE PIAS, CINE TEATRO DE ALTER DO CHÃO, 19 DE MAIO, 21H; “VAMOS A CONTAR MENTIRAS”, GRUPO ALTERENSE DE CULTURA, CINE TEATRO MARQUES DUQUE, MÉRTOLA, 3 DE JUNHO, 18H; “AS ESPINGARDAS DA SENHORA CARRAR”, SOCIEDADE OPERÁRIA DE INSTRUÇÃO E RECREIO JOAQUIM ANTÓNIO DE AGUIAR, SEDE DO GRUPO TEATRO ANIMAÇÃO MOURA ENCANTADA, MOURA, 9 DE JUNHO, 21H30.

LISBOAConcerto dos Laureados do Concurso de Composição para Orquestra de Sopros,

Fundação Inatel/Banda Sinfónica do Exército, 14 de junho, 21h30, Teatro da Trindade. GUARDACircuito de Jogos Tradicionais, 2 de junho, 15h, Parque Urbano do Rio Diz. Informações: Inatel da Guarda/Associação Jogos Tradicionais da Guarda, Tel. 271 221 729.Caminhada “Sou feliz com a idade que tenho”, 15 de junho, 14h, (Local de partida: Associação Cultural Social e Recreativa da Sequeira; Chegada: Parque do Rio Diz). Informações: Inatel da Guarda/Associação Cultural Social e Recreativa da Sequeira, Tel. 271 033 845.

PONTA DELGADAESPETÁCULO DO CURSO DE TEATRO INATEL : “PEÇA ROMÃNTICA PARA UM TEATRO FECHADO”, DE TIAGO RODRIGUES, 24 de maio, 21h30, Teatro Micaelense. Apresentação do trabalho final do grupo de formandos do Curso de Teatro, organizado pela INATEL de Ponta Delgada, em parceria com o Teatro Micaelense.LEITURAS DRAMATIZADAS DE TEXTOS PARA TEATRO – 1.a LEITURA, 30 DE MAIO, 21H, TEATRO MICAELENSE. ENTRADA GRATUITA. A Inatel junta-se ao projeto do Teatro Micaelense e Instituto Cultural de Ponta Delgada, para apresentação de textos vencedores do Concurso Inatel/Teatro Novos Textos. A primeira obra é “O Quarto de Hotel”, de Ana Cristina Valente, vencedora do prémio Miguel Rovisco, em 2006. Inscrições: para ler uma personagem (uma semana antes da Leitura), [email protected] | [email protected] | bilheteira do Teatro Micaelense.

SANTARÉMÓpera para Todos: “Dido e Eneias”, de Henry Purcell, 19 de maio, às 16h, Claustro Principal do Convento de Cristo, Tomar. Espetáculo encenado por Carlos Miguel, com o Coro Polifónico da Golegã, dirigido pelo maestro José Dias, solistas formados pela Escola Superior de Música de Lisboa e, ao piano, Francisco Sassetti. Parceria com a Associação Cultural Cantar Nosso, Câmara Municipal de Tomar e Convento de Cristo. Entrada livre.

VISEU“Vouga Run and Bike” – Prova de BTT e Trail, 23 de junho, Termas de São Pedro do Sul. Parceria com o CCD Termas Hóquei e Clube.

agenda inatelATIVIDADES CULTURAISE DESPORTIVAS

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