Ciclomídia Revista gol 122 comportamento

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COMPORTAMENTO 90 REVISTA GOL 91 REVISTA GOL POR ANA CAROLINA MONTEIRO FOTOS RENATA URSAIA E CLAUDIO LACERDA A partir deste mês, São Paulo vai ganhar mil bikes em um novo sistema de compartilhamento que já é sucesso no Rio, cidade com a maior malha cicloviária do país. Outras capitais, como Brasília, também devem aumentar suas ciclovias, prova de que a cultura da bicicleta está ganhando força em todo o Brasil MUNDO PEDALANDO TODO Família Ploom PEDRO, 8 ANOS, EDUARDO, 40, E THAIZ, 34, USAM BICICLETAS DE PASSEIO ALUGADAS NO PARQUE VILLA-LOBOS, EM SÃO PAULO

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Matéria da Revista Gol, edição Maio/2012 onde a Ciclomídia também aparece com seus produtos e serviços

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COMPORTAMENTO

90 REVISTA GOL 91REVISTA GOL

POR ANA CAROLINA MONTEIRO FOTOS RENATA URSAIA E CLAUDIO LACERDA

A partir deste mês, São Paulo vai ganhar mil bikes em um novo sistema de compartilhamento que já é sucesso no Rio, cidade com a maior malha cicloviária do país. Outras capitais, como Brasília, também devem aumentar suas ciclovias, prova de que a cultura da bicicleta está ganhando força em todo o Brasil

MUNDOPEDALANDO

TODO

Família Ploom

PEDRO, 8 ANOS, EDUARDO, 40,

E THAIZ, 34, USAM BICICLETAS DE

PASSEIO ALUGADAS NO PARQUE

VILLA-LOBOS, EM SÃO PAULO

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COMPORTAMENTO

levou o marido, Eduardo, 40, e o filho do casal, Pedro, 8, ao parque Villa-Lobos, em São Paulo, para participar de um evento promovido pelo hotel onde trabalha como gerente operacional. O bike-nic, como foi batizado, reuniu 30 funcionários e seus familiares em uma manhã nublada de sábado para um passeio de bicicleta seguido de um piquenique. “A ideia é que as pessoas se conheçam e descubram interesses em comum”, explica ela. A família costuma andar de bicicleta no li-toral sul de São Paulo aos fins de semana, mas nunca havia feito um programa como esse na cidade. “A experiência foi ótima e pretendemos voltar ao parque. Andar de bicicleta na rua é arriscado.”

Pedalar nas capitais brasileiras exige uma dose de obstinação e coragem. A infraestrutura dedicada às bicicletas ainda está longe da que é oferecida em cidades europeias como Amsterdã e Copenhague; nem todos os motoristas respeitam os ciclistas; e alguns acidentes acontecem. Pode-se dizer que o Brasil ainda pedala com rodinhas de apoio nesse quesito, mas, no último ano, o transporte não motoriza-do recebeu um empurrãozinho por meio de políticas públicas e iniciativas privadas. Há bikes compartilhadas, serviço de vallet e distribuição de bicicletas a estudantes.

Daniel Esteves, gestor público, 28 anos, engrossa o filão das mais de 147 mil viagens de bicicleta feitas diariamente na capital paulista (segundo o Metrô). Ele se mudou para um prédio sem garagem e decidiu vender o carro. “Passei a me des-locar de bike e chego ao escritório mais disposto”, conta. Na prefeitura de São Paulo, onde trabalha, Esteves se envolveu com projetos ligados ao tema. Um deles, o recém-lançado Escolas de Bicicleta, pre-tende beneficiar mais de 4 mil crianças de 45 Centros Educacionais Unificados (CEUs). No início, 20 alunos de cada

“É DIVERTIDO VER A REAÇÃO DAS PESSOAS QUANDO CHEGAMOS, BEM-VESTIDOS, A UM RESTAURANTE”

A imagem do ciclista com roupa de lycra fosforescente acelerando na mountain bike já não é a única a ser associada à “cultura da bicicleta”. Hoje ele é apenas um entre tantos representantes desse estilo de vida, somado aos que “pedalam chique”, pedalam por prazer ou, simples-mente, pedalam para chegar ao trabalho. As bicicletas foram se adaptando: são híbridas, fixas, dobráveis e até de bambu.

A bike pode ser também um veículo de integração. Thaiz Ploom, 34 anos,

VEJA COMO ANDA A MALHA CICLOVIÁRIA EM ALGUMAS CAPITAIS

PEDALA, BRASIL

BRASÍLIA – DEPOIS DO RIO (270 QUILÔMETROS) A CAPITAL FEDERAL TEM A SEGUNDA MAIOR MALHA CICLOVIÁRIA DO PAÍS, COM 179 QUILÔMETROS. SE-GUNDO O COMITÊ DE MOBILIDADE URBANA DA CIDADE, OUTROS 130 QUILÔ-METROS DEVEM SER CONSTRUÍDOS NO PLANO PILOTO ATÉ O ANO QUE VEM. UM SERVIÇO DE BICICLETAS PÚBLICAS ESTÁ EM LICITAÇÃO E A PREVISÃO É DE QUE ESTEJA FUNCIONANDO ATÉ JUNHO DE 2013.

CURITIBA – A CAPITAL PARANAENSE TEM 125 QUILÔMETROS DE CICLOVIAS E SEIS BICICLETÁRIOS. UM SISTEMA DE BICICLETAS COMPARTILHADAS DEVE EN-TRAR EM FUNCIONAMENTO NO SEGUNDO SEMESTRE E 300 BIKES VÃO ESTAR DISPONÍVEIS PARA EMPRÉSTIMO. “ESTAMOS NEGOCIANDO COM EMPRESAS PRIVADAS PARA QUE ESSE SERVIÇO SEJA GRATUITO”, DIZ O CICLOATIVISTA RAFAEL MEDEIROS, DIRETOR DA EMPRESA BICICLETARIA, QUE CUIDA DA IM-PLANTAÇÃO DO SERVIÇO NA CIDADE.

ARACAJU – A MALHA CICLOVIÁRIA DE ARACAJU, COM 70 QUILÔMETROS DE EXTENSÃO, CONTRIBUIU PARA QUE A CIDADE CONQUISTASSE O TÍTULO DE CAPITAL QUALIDADE DE VIDA EM 2008, SEGUNDO O MINISTÉRIO DA SAÚDE. ATÉ O FIM DESTE ANO, A CIDADE SERGIPANA DEVE GANHAR MAIS 30 QUILÔMETROS DE PISTAS.

RECIFE – A CAPITAL PERNAMBUCANA SOMA 25 QUILÔMETROS DE CICLOVIAS. A CICLOFAIXA MAIS UTILIZADA PELOS RECIFENSES E TURISTAS FICA NA ORLA DA PRAIA DE BOA VIAGEM E TEM QUASE 10 QUILÔMETROS DE EXTENSÃO. A SERTTEL DEVE IMPLANTAR UM SISTEMA DE BICICLETAS COMPARTILHADAS NA CIDADE EM BREVE.

PORTO ALEGRE – ALÉM DOS 19 QUILÔMETROS DE CICLOVIAS E CICLOFAIXAS JÁ OPERANTES NA CIDADE, AOS DOMINGOS E FERIADOS A CAPITAL GAÚCHA GANHA OUTROS 20 QUILÔMETROS DE FAIXAS FECHADAS PARA LAZER EM CORREDORES DE ÔNIBUS COMO O DA TERCEIRA PERIMETRAL E O DA CASCATI-NHA. HÁ BICICLETÁRIOS EM PONTOS TURÍSTICOS COMO O MERCADO PÚBLICO, MAS POR ENQUANTO AINDA NÃO HÁ SISTEMA DE COMPARTILHAMENTO.

EVELYN ARARIPE, EDUCADORA AMBIENTAL

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João Paulo Amaral, 25

anos, e Evelyn Araripe, 26 ELE CUSTOMIZOU A BICICLETA PARA

USAR COMO MEIO DE TRANSPORTE DIÁRIO NA

CIDADE. EVELYN USA UMA BIKE DA MARCA FAHRRAD STATION COMPRADA EM

BERLIM. “RENDE BEM TANTO NA CIDADE QUANTO

NA ESTRADA, PARA CICLOTURISMO”, DIZ

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COMPORTAMENTO

QUER COMEÇAR A ANDAR DE BICICLETA NA CIDADE? CHAME UM BIKE ANJO

MANUAL DO INICIANTE

1 PARA ESCOLHER A MELHOR BICICLETA PARA VOCÊ, PENSE EM QUAL SERÁ O SEU USO (CONFIRA ALGUNS MODELOS NA SEÇÃO BAGAGEM, PÁG. XX).

2 PROCURE UM BIKE ANJO. EM DIVERSAS CIDADES HÁ CICLISTAS EXPERIENTES DISPOSTOS A ACOMPANHAR OS INICIANTES EM SUAS PRIMEIRAS PEDALADAS. WWW.BIKEANJO.COM.BR.

3 EM SÃO PAULO, TENHA EM MÃOS UM MAPA COMO O DAS CICLORROTAS FEITO PELO CEBRAP. WWW.CEBRAP.ORG.BR.

4 VÁ A UM PARQUE E SE ACOSTUME COM A SUA BICICLETA. SE VOCÊ JÁ ESTÁ FAMILIARIZADO COM ELA, VÁ PEDALAR NAS CICLOFAIXAS E CICLOVIAS. QUANDO JÁ ESTIVER ACOSTUMADO A PEDALAR E EM FORMA, APAREÇA EM UM DOS GRUPOS DE NIGHT BIKERS. WWW.LOKOBIKERS.COM.BR.

Fontes: Daniel Esteves (Escolas de Bicicleta) e Carlos Ferreira Neto (LokoBikers)

unidade, equipados com bicicletas feitas de bambu, vão receber aulas de manuten-ção, regras de trânsito, sustentabilidade e cidadania. Por quatro semanas, terão o acompanhamento de 92 monitores no trajeto da escola para casa e vice-versa.

Evelyn Araripe, 26 anos, também diz ter mudado depois que passou a viver so-bre duas rodas. Deixou o jornalismo para trabalhar como educadora ambiental e hoje é responsável pelo Pedalinas, coleti-vo feminino de ciclistas que se reúne todo primeiro sábado do mês para pedalar em São Paulo. Ela conheceu o namorado, o gestor ambiental João Paulo Amaral, 25 anos, em um passeio com a turma da Bi-cicletada, que se reúne toda última sexta do mês na praça do Ciclista, na avenida Paulista. O casal não dispensa a bicicleta nem para sair à noite. “É divertido ver a reação das pessoas quando chegamos, bem-vestidos, a um restaurante”, conta Evelyn. “Você percebe que a bicicleta está sendo reconhecida como meio de trans-porte quando um flanelinha pede para tomar conta da bike na frente de uma pizzaria.” Ela é adepta do “cycle chic”, termo criado para descrever quem pedala

com estilo. “Não se trata apenas de andar de bike usando salto alto, mas de usar as roupas normais do dia a dia, porque não somos atletas”, diz ela, que incorporou o capacete ao look casual.

Chapelaria para bikesA dificuldade de estacionar a bike quando chegava ao destino fez com que o empre-sário Eduardo Grigoletto, 39 anos, criasse a Ciclomídia, que transforma estabeleci-mentos em ambientes cicloamigáveis. A empresa instalou estruturas de ferro para estacionamento de bicicletas, os chama-dos bike points, em estabelecimentos como o pastifício Primo e a confeitaira

Vera Cruz, em São Paulo. Para eventos como shows e feiras, ele desenvolveu o bike vallet, serviço de manobrista para bicicletas que foi colocado em prática na última Bienal de Arquitetura, no parque do Ibirapuera. “Funciona como uma chapelaria”, diz. “Deu tão certo que fomos convidados a apresentar nosso projeto para arquitetos e urbanistas.”

O publicitário Carlos Ferreira Neto, 33 anos, aproveitou a experiência como integrante do grupo de night bikers LokoBikers, que reúne cerca de cem pes-soas semanalmente para passeios notur-nos pela capital paulista, para ajudar sua

“TINHA DIFICULDADE EM ESTACIONAR, ENTÃO

CRIEI UM SERVIÇO DE MANOBRISTA PARA BIKES”

EDUARDO GRIGOLETTO, DA EMPRESA CICLOMÍDIA

Lia Amâncio, 34 anos

USA A BICICLETA COMPARTILHADA DO

SISTEMA BIKE RIO

Ricardo Brajterman,

40 anos COLECIONA ALGUNS

MODELOS E USA UMA BICICLETA HÍBRIDA

DA PINARELLO PARA IR À PUC

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COMPORTAMENTO

agência a desenvolver, em parceria com um portal de internet, o aplicativo para celular Social Bike Yahoo!, com o qual os ciclistas podem compartilhar seus tra-jetos de bicicleta. Foi também por meio de um projeto colaborativo que Leandro Valverdes, empresário e pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), tornou-se referência no assunto. Ele passou dois anos mapeando, voluntariamente, os melhores trajetos

de bike em São Paulo para desenvolver o Ciclo Rotas SP 2011, que indica as vias planas e mais tranquilas. Percorreu o tortuoso caminho das secretarias muni-cipais até conseguir verba e uma parceria da Secretaria dos Esportes com o Cebrap. “Para ser ciclista em cidade grande é primordial saber qual caminho é o mais seguro e adequado”, diz Valverdes.

O Ciclo Rotas será essencial para a implementação de um sistema de

compartilhamento de bicicletas em São Paulo, o Bike Sampa, filhote do Bike Rio – que funciona na capital fluminense desde outubro do ano passado, com 55 estações em operação e 550 bicicletas disponíveis para os usuários. O projeto é uma parce-ria da prefeitura do Rio com a empresa concessionária Serttel e o banco Itaú e já atende 55 mil usuários. As cariocas Lia Amâncio e Ana Fucs, consultora de comunicação e designer, respectivamen-

“PARA PEDALAR NA CIDADE É PRIMORDIAL SABER QUAL CAMINHO É O MAIS SEGURO”

te, utilizam as “laranjinhas”. “Funciona como um complemento ao metrô”, diz Lia, 34 anos. Ana, 32, reclama da falta de sinalizadores nas bicicletas e de manu-tenção, mas gostou do aplicativo Bike Rio para iPhone. “Só não uso a bike diaria-mente porque ainda não há estações perto de casa”, diz.

Até 2014 o Bike Sampa deverá ter 3 mil bicicletas em 300 estações espalhadas por todas as regiões da capital paulista, segundo o diretor de relações institucio-nais e governos do Itaú-Unibanco, Cícero Araújo. A partir de maio, serão implanta-das cem estações, permitindo o compar-tilhamento de mil bikes. Elas estarão à disposição dos usuários todos os dias da semana das 6 às 22 horas . Para usar o sis-tema compartilhado, é preciso preencher um cadastro pela internet (www.move-samba.com.br). A bicicleta pode ser usada por 30 minutos ininterruptos e quantas vezes por dia o usuário desejar. Após esse período, o ciclista precisa estacionar em qualquer estação por um intervalo de 15 minutos. Se quiser continuar andando, sem fazer a pausa, serão cobrados R$ 5 por cada 30 minutos subsequentes.

São Paulo conta desde 2008 com um sistema integrado de empréstimo, aluguel e estacionamento de bicicletas no metrô, o UseBike (www.usebike.com.br). Outro sistema, o Nossa Bike (www.paradavital.org.br), existe na cidade desde 2009. O sistema de compartilhamento surgiu em 2005 em Lyon, na França, e serviu de

referência no resto do mundo (Paris tem hoje 20 mil bicicletas para empréstimo).

Dos 170,7 quilômetros de malha ciclo-viária de São Paulo, 65 fazem parte da Ciclofaixa de lazer, que interliga os par-ques do Povo, do Ibirapuera e Villa-Lobos e por onde passeiam 110 mil pessoas aos domingos. O casal Tatiana e Pierluigi Scarcella, ela paulistana e ele italiano, costuma pedalar com os dois filhos, de 7 e 11 anos. “Faltam bebedouros e sombra no percurso, mas nós gostamos. Meu marido cogitou ir trabalhar usando a ciclovia de Moema, mas não pode chegar à empresa suado”, diz a arquiteta, 39 anos.

Pedalar e trabalharAlgumas companhias já apresentam so-luções. O advogado e professor de direito da PUC-RJ Ricardo Brajterman, 41 anos, pedala 24 quilômetros entre a faculdade onde leciona e seu escritório, no centro do Rio. Ele instalou um vestiário na empresa e incentivou o uso da bicicleta entre os funcionários. “Aos poucos eles começa-ram a adotar a bike. Também incentivo meus alunos mostrando que é saudável, economiza tempo e é ecológico.” A cidade tem a maior malha cicloviária do Brasil, com 270 quilômetros.

Um exemplo do resgate da bicicleta como estilo de vida é a loja Tag and Juice, em São Paulo, que customiza bikes mas também é bar e galeria de arte, funcio-nando como um espaço de convivência para os simpatizantes. Os sócios Pablo Gallardo, 38 anos, designer, e Billy Casti-lho, 50, diretor de arte, tinham em comum a paixão pelo design e pela bicicleta. “A bike é hoje o que eram o skate e o surf anos atrás, moldando a cultura urbana. Chegou a vez dela e as cidades terão de se adaptar”, afirma Castilho. Com tantos es-tilos biker de ser, um deles provavelmente combina com você. Aceite: um dia você também vai se render a uma magrela.

LEANDRO VALVERDES, CRIADOR DO CICLO ROTAS

Pablo Gallardo, 38 anos,

e Billy Castilho, 50

“A BIKE É HOJE O QUE ERAM O SKATE

E O SURF ANOS ATRÁS”, ACREDITAM OS SÓCIOS

DA LOJA TAG AND JUICE, DE SÃO PAULO