Cidadania Empresarial CC
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CIDADANIA EMPRESARIAL
Trabalho realizado por:
Cristina Coelho ([email protected])
Trabalho realizado no âmbito da disciplina
“Cidadania, Assimetrias e Participação ”
Curso de Pós-Graduação e Mestrado em Desenvolvimento Local
Departamento de Economia e Sociologia da UTAD
Setembro de 2003
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO_________________________________________________________________1
2 OS INICIOS DA CIDADANIA EMPRESARIAL _____________________________________3
2.1 Responsabilidade Social, Desenvolvimento Sustentável ou Cidadania Empresarial _____3
2.2 As referências em Portugal ___________________________________________________4
2.3 O Pacto Global (Global Compact) _____________________________________________6
2.4 CSR Europe e o Livro Verde__________________________________________________8
3 CIDADANIA E RESPONSABILIDADE SOCIAL ___________________________________10
3.1 Visão global _______________________________________________________________10
3.2 RSE como estratégia empresarial _____________________________________________11
3.2.1 Os Domínios, pilares ou directrizes da RSE ___________________________________12
3.2.2 A RSE como factor de competitividade_______________________________________13
3.2.3 Em especial a Comunidade e a Solidaridade ___________________________________14
3.3 Da irresponsabilidade social à cidadania _______________________________________16
4 ANÁLISE REFLEXIVO-CONCEPTUAL __________________________________________17
5 CONCLUSÃO_________________________________________________________________23
6 GLOSSÁRIO__________________________________________________________________25
7 BIBLIOGRAFIA ______________________________________________________________36
8 SITES DE INTERNET CONSULTADOS __________________________________________37
CIDADANIA EMPRESARIAL
Cidadanias, Assimetrias e Participação
1 INTRODUÇÃO
Desde há alguns anos que as chamadas “acções sociais” passaram a integrar o conteúdo da
racionalidade económica. O argumento é simples. As empresas são parte integrante da sociedade e
com o apoio prestado a pessoas ou instituições mais necessitadas valorizam o seu capital de imagem e
influenciam os seus negócios.
Depois de ter sido anunciado pelo Secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, em 1999, no
Fórum Económico Mundial, eis que chega a Portugal o Pacto Global, um código de conduta
empresarial baseado em valores universais. O Pacto Global foi lançado em Portugal no início do ano
2003 e visa harmonizar políticas e práticas empresariais internacionais para criar um mercado global
mais estável. A economia descobriu as vantagens institucionais que resultam da prática de acções
sociais. Hoje, sobressai a necessidade de alterações no desenvolvimento de parcerias entre as empresas
e as organizações sem fins lucrativos, assegurando que sejam relações “win-win”, ou seja, em que
tanto as empresas como a comunidade obtêm vantagens com a união de esforços.
Portugal não constitui excepção e, inclusivamente, algumas empresas já integram organismos de
reflexão sobre o tema. Um grupo de empresas fundaram a GRACE em Fevereiro de 2000 Grupo de
Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial, uma associação sem fins lucrativos que tem como
principal objectivo o fomento da participação das empresas nas comunidades em que se inserem,
conciliando os seus objectivos privados com a responsabilidade social. Esta Associação integra-se no
espírito da Cidadania Empresarial, apoiando as organizações e iniciativas da comunidade e a
participação dos quadros das empresas nas acções desenvolvidas, que pode ser exercida em áreas tão
diversas como a ambiental, cultural, desportiva, educativa e social.
Desde aí que assistimos a uma proliferação de iniciativas de acção social por parte de um grupo de
grandes empresas, algumas nacionais mas predominantemente trasnacionais, que em parceria entre si
ou com organizações sem fins lucrativos enveredam projectos de acção social, auto-intitulando-se de
empresas cidadãs ou socialmente responsáveis. A Delta foi a primeira empresa a utilizar no seu
marketing o reconhecimento da sua responsabilidade social pela norma internacional SA8000 sob o
slogan “Este café faz bem”, quase todas as grandes empresas a operarem no mercado português
apresentam nos seus sites relatórios de responsabilidade social ou de cidadania, e mais presentemente,
neste verão de 2003, com a vaga de incêndios que se verificou em Portugal, assistimos também a uma
mobilização empresarial tão forte, senão mais (pelo menos mais visível) que a mobilização da restante
sociedade civil: a Parmalat, demonstrando a sua preocupação pelo meio onde se insere, decidiu apoiar
uma actividade de utilidade pública, a Liga dos Bombeiros Portugueses, como forma de proporcionar a
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Cidadanias, Assimetrias e Participação
estes profissionais melhores condições de trabalho no desempenho das suas funções, a RTP e o grupo
BCP lançaram a operação “Renascer das Cinzas” e a SIC e o BPI, a homónima “Terra queimada”.
Pela primeira vez na história do sistema capitalista, empresas e trabalhadores, estado e sindicatos,
organizações não governamentais e instituições particulares de solidariedade social, académicos e
leigos, estão de acordo no tocante aos benefícios da Responsabilidade Social das Empresas (RSE) ou
Responsabilidade Social das Organizações (RSO) ou Cidadania Empresarial/Organizacional, o que
ficou perfeitamente patente na conferencia de lançamento da RSE Portugal e do Pacto Global em
Portugal em Maio de 2003.
Estando particularmente interessada em investigar a intervenção das empresas no processo de
desenvolvimento local, não poderia deixar de me interessar por o tema de cidadania empresarial e
explorar as suas causas, seus significados e suas consequências numa óptica de participação no
desenvolvimento global e local, de evolução ou expansão do conceito de cidadania e dos potenciais na
resolução das assimetrias.
Kofi Annan, Secretário-Geral das Nações Unidas, disse “Escolhamos conjugar o poder dos mercados
com a autoridade dos ideais universais. Escolhamos conjugar as forças criadoras da iniciativa
empresarial privada com as necessidades dos desfavorecidos e as exigências das gerações futuras.”,
aquando do lançamento da iniciativa global compact. Qual o significado destes movimentos? Será a
emergência de um novo sistema social e económico que ao contrário do vigente integra interesses de
capitalistas e trabalhadores, ao invés de os contrapor e explorar? Ou será uma resposta do capital às
mudanças sociais, económicas e ambientais provocadas essencialmente pelo fenómeno da globalização
do próprio capital, e por isso mesmo uma continuação fortalecida do capitalismo que assim adquire o
poder social que potencie a canibalização completa das forças contra-hegemónicas reflectidas por
Boaventura Sousa Santos (1994)?
Será o reafirmar de uma nova cidadania em que cada organização é um cidadão – uma força
económica e social em contactos com muitos actores? Ou a cidadania empresarial estratégica é mais
do que um bom negócio – é um negócio essencial, impulsionado, cada vez mais, por clientes,
empregados, parceiros de negócio e governo que exigem que as organizações tenham um papel activo
nos aspectos sociais, ambientais e comunitários?
De forma a responder a estas minhas questões, traço em primeiro lugar um quadro das origens dos
conceitos, procurando também referências nacionais e os marcos históricos mais importantes,
elaborando depois um capitulo de definição e esclarecimento dos conceitos, apresentando um glossário
em capitulo anexo, fazendo seguidamente uma análise reflexiva e conceptual da cidadania empresarial.
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CIDADANIA EMPRESARIAL
Cidadanias, Assimetrias e Participação
2 OS INICIOS DA CIDADANIA EMPRESARIAL
2.1 Responsabilidade Social, Desenvolvimento Sustentável ou Cidadania
Empresarial
A ideia de uma responsabilidade social das empresas não é nova. Já em 1920 Henry Ford defendia que
as empresas tinham de participar no bem-estar colectivo. Também não é uma ideia que ressurgiu agora
como uma moda. É um valor que foi crescendo, evoluindo, tomando corpo até adquirir uma dimensão
universal. Mas é nos finais dos anos sessenta, em plena guerra do Vietname, que os movimentos dos
consumidores, exigindo uma nova postura das empresas, tomam posição de uma forma mais
sistemática e generalizada. Organizam boicotes aos serviços ligados à guerra e acções de força contra
algumas empresas como, por exemplo, o ataque à General Motors, impondo a segurança dos seus
automóveis, que levou mesmo ao encerramento da fábrica e que esteve na origem da criação de uma
série de leis sobre a fabricação de viaturas aplicadas depois a todos os fabricantes. É o início da
Responsabilidade Social das empresas tal como a entendemos hoje, é o momento de as empresas
assumirem essa responsabilidade de forma mais concertada e de surgirem os primeiros esboços de
relatórios de Responsabilidade Social. A partir daí o crescimento tem continuado a pequenos passos,
mas de forma sistemática e tendo como base orientações internacionais. A implantação do conceito no
seio das empresas é ainda variável, mas a nível das grandes multinacionais podemos hoje verificar que
quase todas realizam o seu relatório de Responsabilidade Social, onde expressam os seus
compromissos em relação ao ambiente, aos colaboradores e à comunidade.
No final dos anos sessenta/setenta a emergência dos movimentos ambientalistas e a crise petrolífera
fizeram dos recursos naturais, da energia e do ambiente em geral, um tema de importância política,
económica e social. A reflexão gerada então leva uma crítica ao modelo de desenvolvimento
económico vigente, apontando uma incompatibilidade entre crescimento económico, tal como era
entendido na altura, e a preservação dos recursos naturais. É o primeiro passo para o nascimento do
conceito de Desenvolvimento Sustentável como o desenvolvimento que responde às necessidades das
gerações presentes sem comprometer a possibilidade de satisfazer essas mesmas necessidades às
gerações futuras (Notat 2003:4). Um desenvolvimento que em termos de conceito já não é visto de
uma forma fechada e estanque, mas como uma procura permanente de equilíbrio e compromissos
entre: o económico, que se traduz pela procura no novo contexto da eficácia económica; o ambiental,
que significa que o desenvolvimento deve contribuir para preservar, melhorar e valorizar o ambiente; e
o social, que exprime o facto de que esse desenvolvimento deve partir das necessidades humanas e
responder a objectivos de equidade social.
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CIDADANIA EMPRESARIAL
Cidadanias, Assimetrias e Participação
Desenvolvimento Sustentável (Sustentabilidade1) ou Responsabilidade Social, os conceitos
confundem-se e existe a referência a cidadania empresarial para expressar uma e a mesma ideia, uma
postura por parte das empresas que tem em conta não só os aspectos económicos mas também os
aspectos sociais e ambientais.
De uma forma geral, é a mesma ideia tendo percorrido caminhos diferentes, ou tendo origens
diferentes: a Responsabilidade Social tem como pontos de partida questões ligadas à postura das
empresas face aos colaboradores e à comunidade, e o Desenvolvimento Sustentável parte de questões
económicas e ambientais. O ponto de chegada é o mesmo: uma empresa que se diz socialmente
responsável tem de se reger pelos princípios do Desenvolvimento Sustentável e uma empresa que se
rege pelos princípios do Desenvolvimento Sustentável é uma empresa responsável socialmente.
2.2 As referências em Portugal
A primeira vez que a Cidadania Empresarial é referida na legislação portuguesa, é já na segunda parte
da década de 90 do século XX (Acórdão n.º 581/95. DR 18/96 SÉRIE I-A de 1996-01-22 Tribunal
Constitucional). Citando este diploma que versa sobre o abandono do trabalho por parte do
trabalhador, «...mostra (o abandono do trabalho) que o trabalhador já se demitiu da sua “cidadania
empresarial”, que se distanciou inexoravelmente do programa do contrato e que diluiu ele próprio o
nexo de pertença a uma determinada organização produtiva e à sua dimensão social e humana.» Daqui
se depreende que, neste diploma, a cidadania empresarial é entendida como o conjunto de direitos e
deveres do trabalhador no seio da empresa, sendo este o sujeito da cidadania empresarial.
Somente passados cinco anos, em meados do ano de 2001, a cidadania empresarial é novamente
referida na legislação portuguesa (Resolução do Conselho de Ministros n.º 72/2001. DR 142 SÉRIE I-
B de 2001-06-21 Presidência do Conselho de Ministros). Este diploma que aprova a revisão anual,
para 2001, do Plano Nacional de Emprego (PNE), refere «A divulgação de inovações organizacionais
que promovam a participação e o envolvimento directo dos trabalhadores em áreas como a
organização do trabalho, a gestão do tempo de trabalho, a higiene e segurança, a formação contínua e a
cidadania empresarial, por parte dos poderes públicos, constitui igualmente um contributo para a
inovação empresarial com vista à modernização do sistema produtivo, melhorando a competitividade
das empresas e a qualidade do emprego.» Embora aqui o conceito de cidadania empresarial pareça ser
mais lato, existe um enfoque evidente no diálogo social entre empregadores e trabalhadores em
matérias da modernização da organização do trabalho e na segurança, higiene e saúde no trabalho.
1 ver, por exemplo, Criando Valor (ETHOS,2003c)
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Cidadanias, Assimetrias e Participação
Assim, foram definidas as seguintes prioridades: (1)Promover a melhoria das condições de trabalho e
da qualidade do emprego; (2)Actualizar o quadro legislativo, adequando-o, nomeadamente, às novas
formas de emprego; Assegurar a adequada protecção legal dos trabalhadores envolvidos em formas
atípicas de prestação de trabalho; (3)Prosseguir o combate ao trabalho ilegal; (4)Promover o diálogo
social, nomeadamente sobre novas formas de organização do trabalho; Dinamizar a rede de prevenção
de riscos profissionais e promover a gestão da segurança e saúde nos locais de trabalho.
No diploma que no ano seguinte (2002) aprova a revisão anual do Plano Nacional de Emprego
(Resolução do Conselho de Ministros n.º 137/2002. DR 277 SÉRIE I-B de 2002-11-30 Presidência do
Conselho de Ministros), o texto apresentado é exactamente o mesmo com a única novidade de
apresentar 13 instrumentos da política onde 11 dos quais se referem à Segurança, Higiene e Saúde no
Trabalho. Estamos perante um conceito de cidadania empresarial centrada no trabalhador, seus direitos
e deveres, a organização e as condições de trabalho, nomeadamente em matéria de Segurança, Higiene
e Saúde.
Foi necessário esperar pelo segundo semestre deste ano de 2003, para assistirmos a uma mudança
conceptual da cidadania empresarial na legislação portuguesa. No Decreto-Lei n.º 168/2003 (DR 173
SÉRIE I-A de 2003-07-29 Ministério da Segurança Social e do Trabalho) que institui as medidas
temporárias de emprego e formação profissional no âmbito do Programa de Emprego e Protecção
Social (PEPS), é referido no seu prefácio que «Este Programa revela uma visão personalista da
sociedade, num equilíbrio entre competitividade económica e coesão social, com especial incidência
na organização empresarial, na formação profissional e educativa, na segurança laboral, nas condições
de investimento e na investigação.» Neste equilíbrio entre a competitividade económica e a coesão
social, e fase à situação económica e social actual «... o Governo, no plano social, considera que se
torna imperioso: (1)Reforçar a componente preventiva das crises que esbata as consequências sociais
das pessoas e famílias atingidas e utilizar os instrumentos de qualificação e reconversão profissional e
de ajustamento da mão-de-obra com os menores custos sociais possíveis; (2)Aprofundar a cidadania
empresarial, o que significa considerar a empresa como sujeito de direitos e deveres na
comunidade em que se insere; (3)Agilizar o contributo activo dos centros de emprego, de maneira
que se possam constituir como espaços mais dinâmicos de ajustamento da procura e oferta de
trabalho».
Este diploma corta radicalmente com o conceito de cidadania empresarial preconizado pela legislação
anterior ao substituir o trabalhador pela empresa como sujeito da cidadania o que permite que o campo
onde esta cidadania é exercida extravasa o plano interno da empresa e abrange a comunidade onde se
insere. Ao usufruir de uma personalidade jurídica e fiscal própria esta pessoa colectiva é reconhecida
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Cidadanias, Assimetrias e Participação
como cidadã da comunidade em que se insere, como sujeito de direitos e deveres que ultrapassam a
responsabilidade legal, fiscal e social.
A justificação encontra-se na mudança estrutural e vertiginosa do quadro de referências mundiais do
papel da empresa no desenvolvimento sustentável global, cujo marco histórico ocorreu em Janeiro de
1999, no Fórum Económico Mundial com a intervenção do Secretário Geral da ONU e do qual
resultou o Pacto Global.
2.3 O Pacto Global (Global Compact)2
Na sua comunicação para o Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça, em Janeiro de 1999, o
Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, desafia os lideres empresariais a juntarem-se a uma
iniciativa internacional – o Pacto Global – para em parceria (empresas, agências da ONU e sociedade
civil) apoiar nove princípios nas áreas dos direitos humanos, trabalho e ambiente. A iniciativa Pacto
Global foi apresentada em 26 de Julho de 2000 na sede das Nações Unidas em Nova Iorque.
Através do poder da acção colectiva, o Pacto Global procura dinamizar a cidadania empresarial
responsável de forma a que os negócios possam ser parte da solução dos problemas e desafios da
globalização. Neste sentido, o sector privado – em parceria com outros actores sociais – pode
contribuir para a realização da visão de Kofi Annan: uma economia global mais sustentável e
inclusiva.
Hoje, centenas de empresas de todas as regiões do mundo, organizações do trabalho e ouras
organizações da sociedade civil, estão entrelaçadas no Pacto Global. O Pacto Global é uma iniciativa
directa da secretaria-geral da Nações Unidas. Segundo as apresentações públicas oficiais da ONU, o
Pacto Global é assim definido:
a) iniciativa de cidadania empresarial lançado por Kofi Annan em 2000;
b) identifica-se como uma rede de múltiplas partes interessadas que reúne as empresas com a ONU,
os governos, as organizações laborais, as ONG e outros para promover uma cidadania empresarial
responsável;
c) baseia-se em princípios aceites internacionalmente: Declaração Universal dos Direitos Humanos;
Declaração da OIT relativa aos Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho; e Declaração do
Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento;
2 Este título foi elaborado por consulta à página da Internet oficial do Global Compact ( www.unglobalcompact.org) e do Centro de Informação das Nações Unidas em Portugal (www.onuportugal.pt)
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d) não é um instrumento regulador, um substituto de normas ou códigos, um exercício de relações
públicas ou um acto de filantropia;
e) visa uma economia mundial mais sustentável e inclusiva mediante a promoção de uma relação
mais benéfica entre as empresas e as sociedades;
f) tem como objectivos: tornar o Pacto Global e os seus princípios uma parte integrante da estratégia
e do modo de operar das empresas; e facilitar a cooperação entre partes interessadas fundamentais e
promover parcerias que apoiem os objectivos da ONU;
g) justifica-se porque: a classe empresarial faz parte da solução dos problemas relacionados com a
globalização; como único fórum verdadeiramente mundial, a ONU encontra-se numa posição
privilegiada para promover a cooperação e a solução colectiva de problemas entre as diversas
partes interessadas; e até então, não existia um verdadeiro quadro internacional para promover a
cidadania empresarial e um conhecimento mundial das “boas práticas”;
h) rege-se por nove princípios, apoiados pelos governos mundiais nas áreas dos direitos humanos, do
trabalho e do ambiente:
Direitos Humanos
1.É pedido à classe empresarial que apoie e respeite a protecção dos direitos humanos
internacionais na sua esfera de influência; e que
2.Se certifique de que as suas empresas não são cúmplices de violações dos direitos humanos.
Trabalho
3.É pedido à classe empresarial que apoie a liberdade de associação e o reconhecimento efectivo
do direito à negociação colectiva;
4.A eliminação de todas as formas de trabalho forçado e obrigatório;
5.A abolição efectiva do trabalho infantil; e
6.A eliminação da discriminação no que se refere ao emprego e à profissão.
Ambiente
7.É pedido à classe empresarial que apoie uma abordagem cautelar dos desafios ambientais;
8.Empreenda iniciativas para promover uma maior responsabilidade ambiental; e
9.Incentive o desenvolvimento e difusão de tecnologias amigas do ambiente.
i) Opera através de 5 mecanismos de participação: Modelo de Liderança que pretende integrar
líderes empresariais exemplares em cidadania empresarial responsável no conselho; Diálogos
sobre Políticas que consistem em fóruns de múltiplas partes interessadas com vista a resolver
questões fundamentais e produzir resultados; Aprendizagem que com os objectivos de
definir/partilhar boas práticas e definir/eliminar disparidades no domínio do conhecimento, reúne
académicos, empresas, organizações laborais e sociedade civil; Redes
Nacionais/Regionais/Sectoriais dirigidas no espírito do Pacto Global pretendem transferir ideias
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Cidadanias, Assimetrias e Participação
do nível local para o global, prosseguir o Diálogo Global a nível local ou sectorial, permitir a
Aprendizagem no contexto nacional/regional/sectorial e promover o PG junto de outras empresas;
e Projectos em Parceria.
j) a rede do Pacto Global é constituída por: Empresas, às 50 signatárias iniciais já se juntaram quase
1.000; Associações Empresariais,; Organizações Laborais Internacionais; Sociedade
Civil/Organizações não governamentais; Instituições Académicas; e Nações Unidas.
Passado dois anos, no Fórum da Terra, em Joanesburgo, em Setembro de 2002, onde estavam
representadas mais de 800 grandes empresas, ficou definitivamente definido que o papel das empresas
neste domínio podia assumir uma importância maior juntamente com as outras três grandes categorias
de actores: as organizações públicas internacionais, as ONGs e os Estados. Daqui em diante, os
conceitos de responsabilidade social das empresas (RSE) e de investimento socialmente responsável
(ISR), que constituem, de certa forma, a tradução no plano micro-económico de desenvolvimento
sustentável, gozam de um pleno direito de cidadania, uma vez que foram retomados na resolução final
adoptada pelos 150 governos representados ( Albert, 2003:24).
Em Portugal, o Pacto Global foi lançado em Maio de 2003 e tem como parceiro a RSE Portugal –
Associação Portuguesa para a Responsabilidade Social das Empresas, uma entidade sem fins
lucrativos que faz parte de um conjunto de instituições europeias ligadas à CSR Europe.
2.4 CSR Europe e o Livro Verde
O programa de iniciativa comunitária EQUAL foi pioneiro em Portugal a promover acções de
cidadania empresarial. No seu Guia de Apoio ao Utilizador3, elaborado no inicio de 2001, apresenta
dentro da prioridade 3 – Adaptabilidade, a medida 3.2. «Fomentar a capacidade de adaptação das
empresas e dos trabalhadores às transformações económicas estruturais...», que no seu ponto 3 –
Cidadania Empresarial e Economia Cívica, promove acções no âmbito da cidadania
empresarial/responsabilidade social das organizações, capaz de promover a integração dos mais
fragilizados e boas práticas de cooperação empresarial que participem para dinâmicas locais de
desenvolvimento económico e social. As intervenções nas empresas, neste programa, foram assumidas
como um investimento indispensável e a montante da qualidade e sustentabilidade do emprego e da
prevenção da exclusão social. No entanto, no momento ainda o conceito de cidadania empresarial e
RSE eram relativamente desconhecidos pelo que esta medida não usufruiu de candidaturas.
3 EQUAL - Guia de Apoio ao Utilizador, pagina 25, 59 e 70
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No entanto desde 1993, resultado da Declaração europeia das empresas contra a exclusão social, e com
o patrocínio da European Business Network for Social Cohesion (transformada em 1996 em CSR
Europe), que existia, formalmente, a Rede Portuguesa de Empresas para a Coesão Social (RPECS)
cuja missão consistia em: Impulsionar, coordenar e divulgar boas práticas de Responsabilidade Social
de empresas sediadas em Portugal, tendente ao intercâmbio e à multiplicação dessas práticas no tecido
empresarial nacional4. Mas somente com o lançamento do Livre Verde para a Responsabilidade
Social, esta organização começou a ter um caracter mais efectivo que culminou com a sua
transformação em RSE Portugal- Associação Portuguesa para a Responsabilidade Social das Empresas
em 2003.
O Livro Verde para a Responsabilidade Social foi lançado em 2001 pela Comissão Europeia e
incentivou as empresas cotadas em Bolsa, que integram um mínimo de 500 trabalhadores, a publicar
os seus relatórios anuais de forma tripartida, ou seja, tendo em atenção os critérios sociais, ambientais
e económicos. Esta medida foi já adoptada pela França. A Comissão apelou ainda para que, até 2004,
em todos os Estados membros sejam desenvolvidas directrizes e critérios comuns para a elaboração
generalizada por parte das empresas de relatórios de Responsabilidade Social.
Esta comunicação deu um contributo importante tanto na dinamização do debate europeu sobre a
responsabilidade social das empresas, bem como no lançamento de políticas e instrumentos
incentivadores de práticas de cidadania empresarial. Hoje o entendimento em toda a Europa é de que a
função principal de uma empresa «consiste em criar valor através da produção de bens e serviços que a
sociedade exige, gerando assim lucros para os seus proprietários e accionistas e bem-estar para a
sociedade, em especial através de um processo contínuo de criação de emprego». A emergência de
novas pressões sociais e de mercado estão a conduzir progressivamente para alterações dos valores e
dos horizontes da actividade empresarial, existindo hoje a percepção de que o sucesso das empresas e
os benefícios duradouros para os seus agentes associados não se obtêm através de uma tónica na
maximização de lucros a curto prazo, mas antes no de um «comportamento orientado pelo mercado,
porém coerente e responsável». As empresas estão conscientes de que podem contribuir para o
desenvolvimento sustentável «gerindo as suas operações de modo a consolidar o crescimento
económico e aumentar a competitividade, ao mesmo tempo que asseguram a defesa do ambiente e
promovem a responsabilidade social, incluindo os interesses dos consumidores.» (COM, 2002).
4 rpecs (www.talentum.pt/html/home.htm)
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Cidadanias, Assimetrias e Participação
3 CIDADANIA E RESPONSABILIDADE SOCIAL
3.1 Visão global
A Comissão da Comunidade Europeia, no Livro Verde que lançou sobre a temática (COM,2001),
define a Cidadania Empresarial como «a gestão da totalidade das relações entre as empresas e as
comunidades onde actuam, a nível local, a nível nacional e global, obedecendo a valores de
Responsabilidade Social», sendo a Responsabilidade Social um «processo pelo qual as empresas
gerem as suas relações com uma série de partes interessadas que podem influenciar efectivamente o
seu livre funcionamento, a motivação comercial torna-se evidente». Assim, à semelhança da gestão
da qualidade, a responsabilidade social de uma empresa «deve ser considerada como um
investimento, e não como um encargo. Através dela, é possível adoptar uma abordagem inclusiva do
ponto de vista financeiro, comercial e social, conducente a uma estratégia a longo prazo que minimize
os riscos decorrentes de incógnitas».
No entanto, a Responsabilidade Social das Empresas (RSE) é, essencialmente, «um conceito segundo
o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e
para um ambiente mais limpo», «um comportamento que as empresas adoptam voluntariamente e
para além das prescrições legais, porque consideram ser esse o seu interesse a longo prazo» e uma
exigência «Ao afirmarem a sua responsabilidade social e assumirem voluntariamente compromissos
que vão para além dos requisitos reguladores convencionais a que, de qualquer forma, estariam sempre
vinculadas, as empresas procuram elevar o grau de exigência das normas relacionadas com o
desenvolvimento social, a protecção ambiental e o respeito dos direitos fundamentais e adoptam
uma governação aberta em que se conciliam os interesses de diversas partes, numa abordagem global
da qualidade e do desenvolvimento sustentável».
Ou seja é a integração dos valores do Desenvolvimento Sustentável – o desenvolvimento que permite
às gerações presentes satisfazer as suas necessidades, sem pôr em causa a mesma possibilidade às
gerações futuras – em toda a gestão das empresas, estas têm de integrar nas suas operações o impacto
económico, social e ambiental.
Do que se fala aqui é de uma gestão baseada nos 3 P's, ou na Triple Bottom Line, ou seja, uma gestão
norteada por objectivos relacionados não só com os proveitos, tal como era antigamente, mas também
com uma preocupação com o planeta e com as pessoas.
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A Responsabilidade Social, tal como é definida no documento da Comissão Europeia, «implica uma
abordagem por parte das empresas que coloca no cerne das estratégias empresariais as expectativas
de todas as partes envolvidas e o princípio de inovação e aperfeiçoamento contínuos». A empresa
passa assim a ter uma relação muito mais estreita com todo o seu meio envolvente, interno e externo, e
tem de justificar a sua actuação perante todos os que contribuem para sua existência: colaboradores,
fornecedores, accionistas, clientes, comunidade...
Muitas vezes, e durante muito tempo, erradamente, confundiu-se a Responsabilidade Social com
acções de filantropia ou de mecenato, acções pontuais e muitas vezes desligadas do objecto de negócio
da empresa. Naturalmente, estas acções podem fazer parte da Responsabilidade Social de uma empresa
mas, por si só, não tornam uma empresa socialmente responsável.
O caminho da Responsabilidade Social é algo de muito mais metódico e sistemático, precisamente
porque é central e transversal a toda a actuação da empresa. Para começar este percurso é preciso
fazer um diagnóstico, inventariar todos os potenciais impactos negativos da actividade, ouvir as partes
interessadas e fazer um plano que estará, naturalmente, sempre em evolução e em mudança. A empresa
torna-se socialmente responsável à medida que concretiza esse plano, à medida que concretiza essa
genuína vontade de participação e mudança.
É certo que este caminho envolve custos, mas esses custos podem e devem cada vez mais ser vistos
como um investimento: um investimento nas gerações futuras, naturalmente, mas, e a muito mais curto
prazo, também um investimento com claros benefícios na solidez, na imagem, na capacidade da
empresa em fazer face aos imprevistos e no seu valor.
Devido à extensão e diversidade de conceitos relacionados com cidadania e responsabilidade social
das empresas, decidi elaborar um glossário de conceitos, breve, sistemático e ordenado
alfabeticamente de forma a fornecer uma visão geral das problemáticas, conceitos, processos,
instrumentos e intervenientes mais relevantes. Neste ponto socorri-me essencialmente do Livro Verde
da Comissão Europeia ( COM, 2001) e nalguns casos de outras fontes as quais estão referidas
individualmente no texto. Como a tradução e retroversão dos conceitos é muita vezes controversa, em
alguns casos junto a designação na língua inglesa. Pela sua extensão, este glossário é apresentado num
capitulo anexo.
3.2 RSE como estratégia empresarial
As necessidades demonstradas e benefícios apontados por um já muito significativo número de
instituições internacionais, da adopção da RSE como estratégia empresarial, implica a existência de
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CIDADANIA EMPRESARIAL
Cidadanias, Assimetrias e Participação
um número muito significativo de guias e manuais que auxiliam a implementação de estratégias de
Responsabilidade Social nas Empresas independentemente da sua localização, actividade ou tamanho.
De toda a investigação que realizei, sobressai uma produção substancial de instrumentos e ferramentas
em todo o mundo incluindo na Europa e uma escassez significativa em Portugal, onde somente uma
empresa especializada em consultoria em Comunicação da Responsabilidade Social ( Sair da Casca,
www.sairdacasca.com) apresenta um conjunto de informações sobre RSE, benefícios e exemplos
muito pertinentes. Esta escassez em Portugal contrasta com a abundância Brasileira, país do qual
poderíamos importar algumas boas práticas como as ferramentas de apoio à implementação de RSE
em micro e pequenas empresas, nomeadamente o Guia passo-a-passo e os Indicadores para a RSE em
micro e pequenas empresas realizados pelo SEBRAE em parceria com o Instituto Ethos, referidos na
bibliografia e dos quais retiro algumas indicações para construir neste capitulo um referencial da RSE
como estratégia empresarial. Esta minha decisão justifica-se porque estas publicações apresentam os
pilares, os domínios e as directrizes comunamente aceites por toda a comunidade internacional,
embora de forma diferente: mais simples, mais intuitiva e mais pragmática.
3.2.1 Os Domínios, pilares ou directrizes da RSE
O Instituto Ethos (2003a) identifica a RSE como dizendo respeito à maneira como as empresas
realizam os seus negócios; os critérios que utilizam para as tomadas de decisão, os valores que
definem as suas prioridades e os relacionamentos com todos os públicos com os quais interagem.
Os Domínios, áreas ou directrizes, são:
1-Valores e transparência Adoptar Valores e Trabalhar com Transparência
2-Publico Interno Valorizar empregados e colaboradores
3-Meio Ambiente Fazer sempre mais pelo meio ambiente
4-Fornecedores Envolver parceiros e fornecedores
5-Consumidores e Clientes Proteger Clientes e consumidores
6-Comunidade Promover e investir na Comunidade
7-Governo e Sociedade Comprometer-se com o bem comum
Utiliza dois instrumentos fundamentais, o código de conduta ética para estabelecer e comunicar
valores éticos adoptados no negócio e o relatório de responsabilidade social (no brasil é designado por
balanço social como extensão do balanço contabilistico anual das empresas, em Portugal o balanço
social anual é obrigatório para empresas com mais de 100 empregados e compreende apenas elementos
relativos aos colaboradores) para avaliar o desempenho da empresa como um todo (económico,
ambiental e social).
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CIDADANIA EMPRESARIAL
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3.2.2 A RSE como factor de competitividade
Os benefícios da adopção de uma estratégia de Responsabilidade Social na empresa, (Sair da Casca,
www.sairdacasca.com) são sobejamente atractivos, tanto em termos de produtividade como de
competitividade:
(1) Antecipar os contratempos e prevenir os riscos, a empresa socialmente responsável está melhor
armada face aos riscos que ameaçam a sua reputação e performance: riscos sociais, acidentes
industriais e ecológicos, mudanças de regulamentação, riscos jurídicos, greves...;
(2) Reduzir os custos, a poluição e os dejectos são, custos que não correspondem a um valor
acrescentado: os critérios ecológicos juntam-se aos critérios económicos. Limitando o seu
consumo de recursos naturais não renováveis (energia, água, papel, etc.), reduzindo a sua
produção de resíduos e melhorando a eficácia com que utiliza os seus recursos, a empresa pode
alcançar economias substanciais. Em alguns casos, esta estratégia reflecte-se em reduções de
impostos e em taxas bancárias menos elevadas;
(3) Inovação, a Responsabilidade Social e Ambiental traz uma nova visão sobre a actividade da
empresa: é uma fonte potencial de oportunidades, estimulando a inovação e a criatividade. Os
produtos evoluem (durabilidade, capacidade de reparação, tecnologias novas) para integrar mais
qualidade, mais serviço e mais valor acrescentado para os clientes, tornando-os fiéis de uma forma
mais durável. Para além disto, a resolução necessária dos problemas sociais e ambientais fez
aparecer novos sectores de actividade: a título de exemplo, o mercado das tecnologias ambientais
é hoje estimado em 200 milhões de dólares e prevê-se que triplique nos próximos anos;
(4) Diferenciação e aumento de valor para a marca, esta estratégia permite alimentar o
posicionamento da empresa graças a novos critérios de diferenciação (inovação nos produtos e
serviços, novos relacionamentos com todos os implicados através da sondagem e dos valores
partilhados), o que aumenta o valor percepcionado da marca;
(5) A reputação, a melhoria durável da reputação da empresa e a confiança que nela depositam os
seus públicos é o resultado combinado dos factores precedentes. A license to operate da empresa
está assegurada, o que lhe abre novas oportunidades de desenvolvimento (novos países, novos
mercados...) e aumenta a motivação e a fidelidade do conjunto dos seus públicos (accionistas,
colaboradores, clientes, parceiros, etc.);
(6) a performance económica e financeira, este ponto-chave decorre, de forma lógica, dos pontos
precedentes. O problema que se põe nesta questão é que os indicadores e a informação em geral,
sobre os dados extra financeiros das empresas, não estão disponíveis em todo o lado, e nem
sempre são pertinentes, comparáveis ou controláveis.
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3.2.3 Em especial a Comunidade e a Solidariedade5
Para criar valor e ter simbolicamente o direito de exercer a sua actividade (o que os anglo-saxões
chamam license to operate), as empresas, no âmbito da responsabilidade social, iniciam novos tipos de
relacionamento com a comunidade onde estão inseridas. Trata-se, por um lado de comunicar sobre a
actividade, de conhecer a opinião das partes interessadas e de ter em conta essas opiniões, respondendo
às preocupações. Trata-se também de gerir conflitos de interesses, de fazer compromissos de
progressos, de dar informação para que se possa medir estes progressos e de criar verdadeiras parcerias
que vão envolver as partes interessadas, numa relação cada vez mais profunda com a empresa.
Depois do diálogo, do compromisso de mudança e do plano e implementação de acções, a avaliação
dos progressos é uma condição absoluta para a construção da confiança. A ferramenta privilegiada
para acompanhar os progressos das empresas no caminho do Desenvolvimento Sustentável pode ser o
relatório dito social ou relatório de Desenvolvimento Sustentável. Este documento integra uma
apresentação do impacto da actividade da empresa nas áreas económicas, ambientais e sociais.
Frequentemente, o relatório é elaborado com a participação das partes interessadas (mais um acto de
comunicação que reforça a relação) que vão apresentar a sua opinião, as suas críticas e sugestões. O
relatório é publicado, colocado nos sites, e, os observadores - o grande público e os media - podem
consultá-lo.
O Relatório de Responsabilidade Social (RRS) é um meio de comunicação externa da maior
importância: ao identificar as necessidades de informação dos vários públicos, dando-lhes as repostas
pretendidas, o RRS é uma ferramenta poderosa de diálogo, transparência e compromisso. Em
simultâneo funciona também como instrumento de comunicação interna, porque transmite aos
colaboradores os valores mais importantes da empresa, sensibilizando-os para as suas causas e
responsabilidades individuais.
Nesta perspectiva de relação com as Partes Interessadas indissociável do core business da empresa,
deixámos de lado as acções de patrocínio ou as acções relacionadas com a solidariedade, a
filantropia, ou mecenato, que ocupam, no entanto, um espaço importante nos relatórios de
Responsabilidade Social. Um patrocínio ou um projecto de solidariedade só podem ser socialmente
responsáveis se estiverem incluídos numa estratégia geral de RS (que obriga a empresa a preocupar-se
com o seu impacto social e ambiental) e se estiverem submetidos aos critérios de avaliação e
progressos já referidos.
5 Sair da Casca, www.sairdacasca.com
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O benefício da empresa, alcançado pela construção da sua imagem de responsabilidade social, é
sempre maior se a acção estiver relacionada com o seu negócio ou com o seu contexto local - quanto
maior é a coerência da actuação da empresa, mais credível e forte será a sua imagem. A Portugal
Telecom, por exemplo, participa em programas de formação sobre tecnologias de informação,
dirigidos a pessoas portadoras de deficiências. É um cruzamento entre o know-how da empresa e uma
necessidade social. Ainda em Portugal, a DHL disponibiliza os seus meios de transportes para
instituições de solidariedade; a Nova Rede colabora com a Associação Nacional de Direito ao Crédito
e apoia assim o micro-crédito.
Outro modo de criar um elo forte entre a solidariedade e a empresa é adaptar as acções às urgências
locais ou a causas relacionadas com o país de actuação: no Brasil, por exemplo, a maioria das
empresas multinacionais apoia, directamente ou através de associações, as crianças das favelas através
de criação de projectos educativos, donativos, fornecimento de livros, alimentos, roupas,
medicamentos, etc.
Em relação ao segundo tipo de acções - o apoio da Delta para a construção de uma escola em Timor é
exemplar: a empresa escolheu um país não só associado à história de Portugal, como também ligado à
produção da sua matéria-prima. A acção de solidariedade vem completar uma estratégia mais
transversal de Responsabilidade Social: o tipo de agricultura e os acordos com os produtores respeitam
as orientações do Desenvolvimento Sustentável. Coerência com o core business, pertinência na
escolha da causa (actualidade, urgência, etc.), projecto de medio/longo prazo, acompanhamento e
controlo dos resultados são os critérios essenciais para que as acções de solidariedade tenham um
impacto real nas populações e para que a sua comunicação não seja interpretada como um one-shot
oportunista.
A Novadelta S.A. foi a primeira empresa portuguesa a implementar a Certificação de
Responsabilidade Social - SA 8000. Esta certificação tem vindo a ser usada pela marca, como
argumento de marketing, através de uma campanha onde é comunicada a certificação conseguida pela
empresa. A campanha realizada serviu não só para divulgação da marca, como marca socialmente
responsável, como também para a própria difusão do conceito de Responsabilidade Social. Os valores
de Responsabilidade Social associados à marca têm sido ainda reforçados pela participação da Delta
em conferências e seminários, com o intuito de informar e esclarecer diferentes públicos sobre a
questão da Responsabilidade Social e partilhar com outros as boas práticas da empresa.
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3.3 Da irresponsabilidade social à cidadania
O primeiro nível de responsabilidade social (ou irresponsabilidade) que Nicole Nortat (2003:15)
identifica como o grau zero da responsabilidade, consiste em tirar partido das falhas e fraquezas dos
países ou regiões onde a empresa se aloja ou da vulnerabilidade das suas populações. Ocorre
normalmente nos territórios mais pobres e com défices jurídicos e democráticos elevados.
O nível de responsabilidade social mais clássico e básico, identifica-se com as acções de filantropia e
mecenato. Referindo ainda Nicole Nortat, nem todo o mecenato reveste-se necessariamente de
responsabilidade social e não ser mecenas não significa que a empresa seja socialmente irresponsável.
Neste nível, estamos perante organizações cumpridoras da lei, mas que não interpretam como sua
obrigação desenvolver acções que estejam para além da letra da lei. Assim, as acções de filantropia das
empresas neste estágio, são encaradas como operações de marketing ou de gestão financeira e fiscal.
A seguir apresenta-se-nos um nível de responsabilidade social “preventiva”, que consiste em agir
conforme as regras, não correr riscos, sendo o objectivo proteger a reputação da empresa. Identifica-se
com a fase da implementação dos códigos de conduta ou de ética bem como da certificação da
responsabilidade social da empresa pela norma internacional SA8000. Este nível compreende uma
consciência dos riscos e a sua identificação, mas compreende também riscos sérios de publicidade
enganosa quando a responsabilidade social é apenas uma encenação. Estamos perante organizações
que além de cumprirem a lei, reagem às preocupações sociais da envolvente externa e interna,
implementando sistemas de gestão da qualidade, da Segurança e Higiene no Trabalho, ambientais e de
responsabilidade social, enveredando assim esforços de garantia de conformidade com as normas
internacionais.
Num último estágio encontramos a responsabilidade social “pró-activa” quando a empresa escolhe,
relativamente ao investimento estratégico (criador de valor), integrar as dimensões sociais e ambientais
na definição das suas políticas, na aplicação e no controlo dos seus procedimentos. A empresa mostra-
se receptiva a parcerias (impulsionando-as mesmo) em proveito dos territórios e das sociedades onde
se insere ou empenhando-se na resolução de problemas mundiais urgentes. As organizações que
atingem este patamar, estão genuinamente interessadas em atingir situações usualmente denominadas
de win-win, ou seja, situações das quais resulta um duplo benefício: para elas próprias e para a
sociedade (Seabra e Simões, 2003:49). Nestes casos as empresas envolvem-se voluntariamente numa
gestão estratégica da RSE, procurando soluções integradoras de interesses. Aqui estamos mais
próximos de uma noção de cidadania participativa (sendo também esta próxima da noção
preconizada pelo livro verde da Europa) que necessita da confiança total ou condicionada - mas
sempre em diálogo e transparente - das partes interessadas.
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4 ANÁLISE REFLEXIVO-CONCEPTUAL
Os princípios, enunciados por Adam Smith e partilhados pelos restantes economistas clássicos nos
finais do século XVIII, que deram origem à nossa economia de mercado, defendiam essencialmente
que o bem-estar social não depende de intenções altruístas mas sim resultando da troca voluntária e
concorrencial entre produtores e consumidores. Assim, sendo que na maioria os seres humanos
perseguem egoísta e conscientemente o seu interesse pessoal, este sistema liberal promove a
contribuição, mesmo involuntária, dos indivíduos egocêntricos, para o bem comum através dum
mecanismo de auto-regulação social então apelidado de “mão invisível”. Parece que, no início do
século XXI, os princípios básicos do sistema capitalista regressaram novamente com a noção de
responsabilidade social das empresas numa contínua reinvenção do capitalismo. Talvez seja esta
capacidade intrínseca de assimilação de variantes e de mudanças que possibilita a sobrevivência do
sistema produtivo capitalista ao longo dos séculos.
A empresa socialmente responsável é aquela que, não apenas satisfaz as exigências jurídicas e
convencionais aplicáveis, mas que integra também, enquanto investimento estratégico, as dimensões
sociais, ambientais e societárias nas suas políticas globais (Notat, 2003:20). Estamos perante uma
ruptura com o sistema liberal da produção tradicional que se caracteriza, segundo Boaventura Sousa
Santos (1994:264), por uma dupla desigualdade de poder: entre capitalistas e trabalhadores, por um
lado, e entre ambos e a natureza, por outro, assentando numa dupla relação de exploração: do homem
pelo homem e da natureza pelo homem. Neste sentido, o espaço-produção reinventa-se, fruto e como
resposta a imperativos de mercado, declarando-se como um espaço de não-exploração e, ao contrário,
de valorização, de optimização da satisfação das necessidades de todas as partes interessadas
(accionistas, trabalhadores, comunidade, estado, etc) e de solidariedade (de, entre e para sujeitos).
No entanto, a responsabilidade social da empresa não altera as finalidades da mesma, uma gestão
socialmente responsável é criadora de valor acrescentado pelo acréscimo de competitividade que lhe
confere e que explanei no capitulo anterior, no entanto é mais equitativa e redistributiva entre todas as
partes interessadas e a comunidade onde se insere. Perseguindo, assim, egoisticamente interesses
individuais, a responsabilidade social das empresas poderá funcional como um dos dedos da “mão-
invisivel”.
O risco poderá residir em confundir a RSE como o mecanismo autoregulador que permite transformar
interesses individuais em bem comum. Como refere Nicole Notat (2003: 20), não é à empresa, também
ela socialmente responsável, que compete a supressão de todos os desequilíbrios sociais, ambientais e
societais. Apela continuamente à responsabilidade e ao papel dos poderes públicos, dos actores sociais,
regras e sistemas legais.
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Por isso, não é de estranhar, que quando analisada do ponto de vista sociológico por Maria Célia Paoli
(2002), num texto editado na colecção “Reinventar a emancipação social” organizada por Boaventura
Sousa Santos, a responsabilidade social das empresa não mereça uma avaliação positiva como acção
contra-hegemónica potencial ao modelo social e económico neoliberal vigente. A acção empresarial
filantrópica, designação usada por esta autora, «...é mais um contra-exemplo de uma acção
democrática participativa do que uma acção contra-hegemónica, podendo complementar-se, sem
contradições insuperáveis, aos arranjos neoliberais».
M. Célia Paoli, partindo da ideia hoje disseminada da responsabilidade social partilhada entre
cidadãos, organizações e governo, e a entrada neste activismo social de um actor inesperado: o
empresariado, analisa a realidade brasileira, conectando a RSE à tentativa governamental de construir
um discurso de legitimação para a sua auto-desresponsabilidade social através da introdução local do
novo sector “público não-estatal” que passaria agora a se ocupar dos excluídos e, portanto, superar as
falhas do estado, e apontando tensões e ambivalências da aplicação das acções sociais responsáveis das
empresas, argumenta para mostrar que, por mais inovadora e tecnicamente competente que seja a
proposta de investimento sistemático empresarial privado na melhoria das carências mais básicas de
parcelas da população, a face mais conservadora da solidariedade privada contraditoriamente se mostra
por inteiro na própria instituição da filantropia empresarial: a de retirar da arena política e publica os
conflitos distributivos e a procura colectiva por cidadania e igualdade. Nas palavras da autora
«Domesticando o alcance político próprio da noção de bens públicos à eficiência dos procedimentos
privados de gestão, intervindo de modo pulverizado ao arbítrio das preferências privadas de
financiamento, as acções filantrópicas rompem com a medida pública ampliada entre necessidades e
direitos e portanto não criam o seu outro pólo: o cidadão participativo que comparece no mundo para
além da figura passiva de beneficiário, sombra de quem o beneficia».
Contrariando toda a literatura existente sobre RSE impregnada de um sentido estratégico persuasivo,
M.Célia Paoli apresenta uma leitura muito critica sobre a economia social e a responsabilidade social
das empresas e alerta para os riscos das acções privadas de acção social, sejam estas promovidas por
entidades sem fins lucrativos (ONGs) ou empresas, especialmente quando são empreendidas sem
avaliação e controlo estatal. Situa, assim, a RSE como uma resposta do capital às mutações sociais e
ambientais globais e congruente com o sistema social e económico neoliberal vigente, à luz das
reflexões de Boaventura Sousa Santos (1994), e não como o emergir de uma nova cidadania. Neste
sentido, a RSE é vista como mais um instrumento de colonização do social pelo capital,
consubstanciada na angariação de “poder social” que as acções de filantropia empresariais permitem,
exercendo as empresas uma nova forma de tirania – a tirania do auxilio (utilizando a expressão de
Fernando Pessoa no Banqueiro Anarquista) – num processo de des-empowerment dos excluídos.
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As críticas tecidas por M. Célia Paoli, sugerem-me, à priori, três observações iniciais: a primeira tem a
ver exactamente com a noção de responsabilidade social das empresas que na acepção desta autora
fica-se pela filantropia empresarial, como ela própria designa as acções que analisa, não avançando até
estágios mais elevados de responsabilidade social; a segunda prende-se com a própria noção de
empresa ligando-a ainda à unidade básica da organização económica da produção capitalista e não
como um conjunto de pessoas e as relações que as unem em prol do desenvolvimento de um projecto
comum e que cada vez mais são espaços de não-exploração e de valorização individual e colectiva; a
terceira observação inicial é relativa à agregação de dois actores bem diferentes: as empresas e as ONG
(ou terceiro sector), sendo que neste ponto tanto as motivações como as realizações são perfeitamente
diferenciáveis: o terceiro sector busca recursos colectivos para privadamente os utilizar enquanto as
empresas utilizam competências e recursos privados em prol do bem colectivo, sendo que para o
poderem fazer têm de ser rentáveis anteriormente e nunca poderão ficar dependentes dos recursos
públicos já que a sua aplicação contradiz a sua função de lucratividade (ao invés do terceiro sector
constituído por organizações privadas sem fins lucrativos). As restantes observações que se prendem
essencialmente com o conceito de cidadania e de avaliação do potencial contra-hegemónico da
cidadania empresarial, necessitam de uma explanação do quadro conceptual que esteve na base da sua
análise e que se baseia essencialmente nas reflexões de Boaventura Sousa Santos sobre o paradigma da
modernidade.
A propósito do social e político na pós-modernidade, Boaventura Sousa Santos (1994:70 e seg.), situa
o paradigma da modernidade anteriormente a que o modo de produção capitalista se tenha tornado
dominante e, previsivelmente, o mesmo terminará antes deste último deixar de ser dominante. O
projecto sócio-cultural da modernidade assenta em dois pilares fundamentais, o pilar da regulação e o
pilar da emancipação. O pilar da regulação é constituído por três princípios: Estado, Mercado e
Comunidade. O pilar da emancipação é constituído por três lógicas de racionalidade que visam
orientar a vida prática dos cidadãos: a racionalidade estético-expressiva da arte e da literatura, a
racionalidade cognitivo-experimental da ciência e da técnica e a racionalidade moral-prática da ética e
do direito. Como em qualquer construção estes princípios e lógicas interagem e cruzam-se, de forma a
constituírem um projecto ambicioso e cheio de possibilidades que à medida em que se sucedem os três
períodos históricos do capitalismo, por um lado, afunila-se no seu âmbito de realização e, por outro
lado, adquire uma intensidade total e até excessiva nas realizações em que se concentra.
Boaventura Sousa Santos identifica, nas sociedades centrais, o primeiro período do capitalismo como
capitalismo liberal que ocupa todo o século XIX. Neste período, mormente o objectivo de equilíbrio
entre os princípios da regulação enunciados pela política liberal, assistiu-se a uma hipertrofia do
mercado em detrimento do estado e da comunidade, originando neste ponto o dualismo Estado-
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Cidadanias, Assimetrias e Participação
Sociedade civil (agregação competitiva de interesses particulares, suporte da esfera pública e o
indivíduo, formalmente livre e igual, suporte da vida privada). O segundo período, o capitalismo
organizado, iniciou-se nos finais do século XIX, teve o seu auge a seguir à II Grande Guerra e
manteve-se até à década de 60 do século XX. Neste período, o mercado continua a sua expansão
pujante (globalização, concentração, etc.) e, por imperativo do principio da comunidade traduzida na
emergência das práticas e políticas de classes (movimento sindical), sobressai o principio do Estado
como agente activo de intermediação entre o mercado e a comunidade, com a regulamentação dos
mercados e do social, ganhando espaço de consumo colectivo, em fim, o estado-providência. A partir
da década de 60, as transformações têm sido vertiginosas com o princípio do mercado a adquirir uma
pujança sem precedentes, e tanto, que extravasou do económico e procurou colonizar tanto o princípio
do estado, como o princípio da comunidade. Assistiu-se assim a um neo-liberalismo ou a um
capitalismo desorganizado pautado essencialmente por uma desregulação global da vida económica,
social e política (cuja causa mais próxima foi a falência do estado-providência e o seu afastamento dos
cidadãos), e a reemergência da sociedade civil, reafirmação dos valores do autogoverno, expansão da
subjectividade, do comunitarismo, e da organização autónoma de interesses e modos de vida.
Nesta última fase de desenvolvimento do capitalismo, o neo-liberalismo, Michel Albert (2003:22)
identifica dois modelos de capitalismo opostos. O primeiro centralizado na Europa ocidental
(particularmente na zona do reno), o modelo “renano” que valoriza o êxito colectivo, o consenso e a
preocupação com o longo prazo. De acordo com este modelo a empresa é uma instituição com
responsabilidade social, movida por um “pluralismo de parcerias” visando conciliar os interesses dos
clientes, dos accionistas, dos assalariados e os imperativos de curto e longo prazo. O segundo modelo
desenvolvido essencialmente na américa, o modelo “anglo-saxónico”, dependente de um monismo
accionista é baseado no sucesso individual e no lucro. Este modelo considera a empresa
essencialmente como uma coisa, uma propriedade, um conjunto de acções cujo objectivo é valorizar o
seu valor, segundo o novel da economia, Milton Friedman: “ a única responsabilidade da empresa é a
de aumentar os seus ganhos” (Albert, 2003:23).
Segundo o mesmo autor, no decurso da última década do século XX, o modelo “renano” não parou de
recuar perante o modelo de origem anglo-saxónica, essencialmente devido ao atraso da Europa no
desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação, e à regidez estrutural que o
sentido de co-gestão (accionistas e assalariados) tem apresentado, muitas vezes como um entrave ao
desenvolvimento, rentabilidade e competitividade das empresas. Paradoxalmente, é dos Estados
Unidos que surge e tem maior acolhimento a corrente do desenvolvimento sustentável remetendo para
o surgimento de empresas socialmente responsáveis (mesmo que os EUA não tenham ratificado o
protocolo de Kioto). Assim, parece que a Europa recupera, neste domínio o seu atraso relativamente
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aos Estados Unidos, porque existe uma cultura de empresa socialmente responsável e onde a estrutura
empresarial baseada em pequenas e médias empresas conserva elevadas identidades tanto com um
propriedade estável como com uma comunidade permanente. Embora seja uma questão complexa e
demasiado recente, o movimento do “militantismo empreendedor” em favor do desenvolvimento
sustentável não decorre de um modelo pré-definido que serve de referência, mas antes de todo o
conjunto de iniciativas adoptadas no terreno, que poderiam eventualmente conduzir, de forma
empírica, a novos tipos de economias sociais de mercado.
Neste ponto, Boaventura Sousa Santos (1994:272), verifica que se até ao momento o paradigma da
modernidade foi pautado pela hipertrofia do principio do mercado em detrimento do principio do
estado e de ambos em detrimento do principio da comunidade, o que implicou sempre uma relação de
oposição entre a subjectividade colectiva do estado centralizado versus a subjectividade atomizada dos
cidadãos autónomos e livres (cuja conciliação só é realizável através da ficção do “contrato social”-
obrigação auto-assumida dos cidadãos), na pós-modernidade será o principio da comunidade a
sobrepor-se. O principio da comunidade defende que a vontade geral tem de ser construída com a
participação efectiva dos cidadãos, de modo autónomo e solidário, sem delegações que retirem
transparência às relações entre soberania e governo, implicando, mais que uma relação vertical entre
cidadão-estado, um relação horizontal cidadão – cidadão.
Neste sentido, e referindo-se ao que poderá ser o espaço-tempo da produção6 na pós-modernidade,
prevê o conflito e a concorrência entre unidades capitalistas de produção e unidades eco-socialistas de
produção. Estas últimas serão de muito diferentes tipos mas que partilham o facto de não serem
orientadas, nem exclusivamente nem primordialmente, para a obtenção de lucros. Nesta dimensão, será
função primordial do estado apoiar em igualdade de circunstâncias os dois tipos de unidades, para que
possam mostrar o que valem, quer pelo resultado da produção quer pelos valores da subjectividade que
suscitam e promovem. Com o emergir da cidadania empresarial, parece-me que o futuro previsto por
Boaventura Sousa Santos, já começa a ser uma realidade pelo que posso aqui entrever potencialidades
contra-hegenómicas contributivas para uma transição paradigmática.
Falta ainda introduzir o conceito de subjectividade e a sua relação com cidadania, ao qual Boaventura
Sousa Santos dá um contributo essencial (1994: 207 e seguintes), e que a meu entender poderá ser uma
das principais implicações da cidadania empresarial na futura definição de cidadania (ou cidadanias) e
comunidade (ou comunidades). A teoria liberal levou a que o sujeito tenha sido fragmentado nas suas
áreas de relações sociais (na família, no trabalhado, etc.) não o considerando como um todo, como uma
6 Boaventura Sousa Santos (1994:111 e seg.) identifica 4 espaços-tempo nas sociedades capitalistas e que correspondem a sistemas de poder social: espaço doméstico - relações sociais ( os direitos e deveres mútuos) entre os membros da família; espaço da produção - relações do processo de trabalho; espaço da cidadania - relações sociais da esfera pública entre cidadãos e estado; e espaço mundial - relações económicas internacionais. Prevê ainda no futuro a automização do espaço-tempo da comunidade e do espaço-tempo do mercado pela importância que auferem na actualidade e que, previsivelmente, será reforçada no futuro.
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constelação de subjectividades (somos ao mesmo tempo, e cada vez mais, trabalhadores e accionistas,
pais e mães, consumidores e aforradores, etc.), portanto a emancipação requerida é a da subjectividade.
Como já referi, a sociedade liberal é caracterizada por uma tensão entre a subjectividade individual dos
agentes das sociedades civil e a subjectividade monumental do estado. O mecanismo regulador dessa
tensão é o principio da cidadania que, por um lado, limita os poderes do estado e, por outro lado,
universaliza e igualiza as particularidades dos sujeitos de modo a facilitar o controlo social das suas
actividades e, consequentemente, a regulação social. Na linha tradicional liberal, a cidadania «é o
conteúdo da pertença igualitária a uma dada comunidade política e afere-se pelos direitos e deveres
que o constituem e pelas instituições a que dá azo para ser social e politicamente eficaz» (Santos,
1994:210). Ao consistir em direitos e deveres, a cidadania enriquece a subjectividade e abre-lhe novos
horizontes de auto-realização, mas por outro lado, ao fazê-lo pela via dos direitos gerais e abstractos
que reduzem a individualidade ao que nela há de universal, transforma os sujeitos em unidades iguais e
intercambiáveis no interior de administrações burocráticas públicas e privadas. Para além das ideias de
autonomia e de liberdade, a subjectividade envolve as ideias de auto-reflexibilidade e de auto-
responsabilidade, a materialidade de um corpo (real ou fictício, no caso da subjectividade das “pessoas
colectivas”), e as particularidades potencialmente infinitas que conferem o cunho próprio e único à
personalidade.
A partir de aqui não podemos falar de uma única cidadania mas de cidadanias, sendo que na pós-
modernidade (Santos,1994:292) existirá na sociedade uma pluralidade de ordens jurídicas, com
diferentes centros de poder a sustentá-las e diferentes lógicas normativas. Na constituição da
cidadania, é tão importante a obrigação vertical como a horizontal e por essa razão a cidadania não tem
que ser nem individual, nem nacional, pode ser individual e colectiva, nacional, local e transnacional.
Paralelamente, também, deixaremos de falar em comunidade e passaremos a referirmo-nos a
comunidades, às vezes contíguas ou paralelas mas muitas vezes sobrepostas, a que pertence cada
cidadão. Por isso, Boaventura Sousa Santos (1994:272) define comunidade como o conjunto de
relações sociais por via das quais se criam identidades colectivas de vizinhança, de região, de raça, de
etnia, de religião, etc., que vinculam os indivíduos a territórios físicos, virtuais ou simbólicos e a
temporalidades partilhadas passadas, presentes ou futuras.
O conceito de cidadania empresarial é coerente (e recorrente) tanto com a nova noção de cidadania
como de comunidade, o que me permite, de facto, entrever o inicio de uma transição paradigmática
para a pós-modernidade, paradoxalmente (ou não), impulsionada pelo capitalismo que, ao invés do
anunciado por Marcuse (Santos 1994:212), conduz à emancipação da subjectividade individual na
medida em que é capaz de satisfazer todas as necessidades psíquicas e somáticas do indivíduo e de
desenvolver em pleno as capacidades emocionais deste.
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5 CONCLUSÃO
Desde há cerca de vinte anos, as proezas conseguidas pela economia capitalista sob o efeito combinado
da globalização, da desregulação e da revolução informática, têm sido tão espantosas que muitos
acreditaram na emergência de uma “nova economia” fundada sobre um novo modelo de empresa
totalmente accionista e inteiramente sujeita ao lucro. Esta previsão é hoje objecto de uma dupla
contestação: social e ecológica. Por mais desordenada e estranha que esta contestação pareça, ela
influencia de tal modo a opinião pública e os media que um número cada vez maior de empresas se
sentem obrigadas a tomá-la em consideração, quanto mais não seja para proteger a sua imagem. Entre
elas, algumas agem de forma ousada e decidida, procurando promover a sua reputação investindo no
progresso social e nas acções ambientais. Sem dúvida que existe, em parte, um fenómeno de moda mas
esta moda tem também condições para se tornar sustentável, revelando uma vez mais as capacidades
metamorfósicas e de auto-regulação do capitalismo.
Embora a noção de responsabilidade social das empresas ainda seja confusa, difusa, experimental e,
por tudo isto, inacabada, já tem, como refere Nicole Notat (2003), os seus especialistas, as suas escolas
e os seus colóquios. Por pioneirismo ou efeito de moda, ela conta também com os seus próprios
mercados: fundos de investimentos socialmente responsáveis, auditoria e consultoria, gestão e
marketing. Mesmo em Portugal onde a moda chega sempre mais tarde, já existem empresas
especializadas em consultoria na comunicação da responsabilidade social das empresas e até uma pós-
graduação oferecida pela Universidade Autónoma de Lisboa com início marcado para Janeiro de 2004.
Ao não existir uma definição normativa de RSE, é essencial zelar pela autenticidade das iniciativas
adoptadas a este nível e daí o surgimento das agências de notação-avaliação dos comportamentos
sociais, ambientais e societais das empresas que devem vigiar a boa fé e as boas práticas das empresas.
Por outro lado, as normas elaboradas pelas instituições internacionais (desde a OCDE em 1976,
passando pela ONU em 2000 e 2002 até ao Parlamento Europeu) já possuem um caracter normativo
imposto pelo próprio mercado e a sociedade civil, havendo mesmo em alguns países, como é o caso do
Brasil, projectos de lei de regulamentação da RSE. Também a regulamentação dos indicadores de
responsabilidade social está em fase de arranque em quase todos os países da Europa, excluindo
Portugal onde ainda não se ouve falar nisso.
Como afirma Nicole Nortat «O diálogo não está terminado. Ele constrói-se em ligação com os desafios
da democracia no mundo, e necessita do consenso de muitos países em desenvolvimento que receiam a
utilização desta cláusula para fins proteccionistas».
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CIDADANIA EMPRESARIAL
Cidadanias, Assimetrias e Participação
Concordando com Michel Albert, parece que podemos pensar de facto que estas novas tendências ao
nível das empresas se inscrevem na tendência mais alargada das aspirações da “sociedade civil”. Estas
aspirações incitam as empresas, mais ou menos explicitamente, à transparência, ao diálogo e à
participação. Em suma, sugerem-lhes a adopção de uma “concepção menos estreita do Homem”,
considerado como uma constelação de subjectividades pertencentes transversalmente a diversos
espaços-tempo (produção, doméstico, cidadania, mundial, comunitário, mercado) restando no final
somente cidadãos emancipados e participativos numa nova ordem que não sei bem se poderá ser
apelidada de capitalista mas será certamente centrada no sujeito e comunitária.
É neste quadro conceptual que encontro uma nova cidadania, apesar dos perigos e riscos dos abusos do
capital e dos interesses egoístas, que poderá implicar o despertar da cidadania empresarial. Esta nova
cidadania será pautada essencialmente pela liberdade de afirmação do sujeito contrariamente à
iliminação deste em prol da igualdade que a noção liberal de cidadania, como o conjunto de direitos e
deveres iguais do cidadão perante o estado, pretendeu. Aqui a noção de cidadania não é somente
vertical (cidadão-estado) mas sobretudo horizontal (cidadão-cidadão), revelando-se aqui a supremacia
da comunidade ou comunidades.
Esta conclusão é ainda mais pertinente quando reflectimos acerca do espaço nacional e especialmente
no espaço local. Numa economia semi-periférica como a nossa, mantém-se uma heterogeneidade de
quadros de referências tanto modernos como pré-modernos, capitalistas como cooperativistas, sendo
ao mesmo tempo mais crucial e urgente de implementação de forma a evitar os problemas que as
sociedades centrais já passaram e potenciar as oportunidades que este “ subdesenvolvimento” nos
oferece. O único perigo reside no facto de querermos copiar a alteridade ao invés da identidade, ou
seja ter preconceitos de passar directamente de estágios pré-modernos para pós-modernos.
Poderá ser futurismo ou simplesmente um regresso ao passado, depende da inovação e da participação
activa de todos, incluindo obviamente as empresas. Podemos refugiarmo-nos em teorias e paradigmas
já ultrapassados por outros países ou regiões, ou podemos reconhecer a naturalidade de algumas
soluções de resolução de assimetrias como seja a noção de cidadania empresarial que vista pelo angulo
dos princípios enunciados pelo “pai” do capitalismo, Adam Smith, é a solução mais natural para o
desenvolvimento e liberdade do homem - génese do desenvolvimento local.
Como afirmava o Banqueiro Anarquista de Fernando Pessoa, se o anarquismo é uma utopia, o sistema
mais justo é o capitalismo por ser aquele que mais se aproxima das capacidades e instintos naturais do
Homem. Sabendo que a solidariedade humana só é natural se trouxer uma compensação egoísta, cada
um tem que, por suas próprias forças, criar liberdade e combater as ficções sociais, verdadeiras causas
da desigualdade social. Este é, para mim, o principal princípio da nova cidadania e que, também, está
na génese da cidadania empresarial.
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CIDADANIA EMPRESARIAL
Cidadanias, Assimetrias e Participação
6 GLOSSÁRIO
Accountability 1000 (AA1000)
É uma norma de desempenho social criada em 1999 pelo Institute for Social and Ethical
Accountability (uma ONG britânica), especializada na Responsabilidade Social e Ética. Oferece um
quadro de referências (ou benchmark) na base do qual as empresas podem definir os seus próprios
valores e objectivos em matéria de desempenho social e ético e promover o diálogo com as partes
interessadas.
Agenda 21
No final da Cimeira da Terra no Rio de Janeiro em 1992, 150 chefes de Estado assinaram um
programa de acções para o século XXI. Fazem parte deste programa um conjunto de recomendações
que favorecem, a nível mundial o Desenvolvimento Sustentável que dá pelo nome de Agenda 21. A
Agenda 21 integra a acção económica, o desenvolvimento social, a protecção do meio ambiente e tem
aplicação ao nível de cada Estado, das cidades e colectividades locais.
Auditoria ambiental
Avaliação sistemática, documentada, periódica e objectiva do sistema de gestão e do comportamento
ambiental de uma empresa ou organização. Verifica se as empresas satisfazem as disposições legais, se
implantaram o sistema de protecção ambiental de forma efectiva e se este permite alcançar os
objectivos ambientais fixados.
Auditoria social
Avaliação sistemática do impacto social de uma organização em relação aos seus padrões ou
expectativas. É avaliado, entre outros, o cumprimento de normas internacionais, nomeadamente as que
dizem respeito às condições de trabalho (remuneração, liberdade sindical, não discriminação, saúde e
segurança). Apesar de actualmente ser um processo voluntário, existem fortes possibilidade que se
torne obrigatório no futuro.
Avaliação do Impacto Ambiental
Análise do impacto de um projecto ou operação empresarial sobre o ambiente.
Avaliação do Impacto Social
Análise sistemática do impacto de um projecto ou de uma operação empresarial sobre a situação
cultural e social das comunidades afectadas.
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CIDADANIA EMPRESARIAL
Cidadanias, Assimetrias e Participação
Capital natural
É uma extensão da noção económica de capital (meios industriais de produção) que designa os bens e
serviços que o ambiente nos presta. Concretamente, refere-se ao conjunto dos recursos naturais que
produzem bens (pescado, madeira, cereais) e serviços, como a assimilação de resíduos (a absorção de
dióxido de carbono, a decomposição das águas de esgoto, etc.) ou a protecção da vida (protecção UV,
biodiversidade, purificação da água, estabilidade do clima).
Capital Social
Conjunto de Valores comuns e relações de confiança no seio de uma comunidade. O capital social
constitui um pré-requisito para a cooperação e para o comportamento humano organizado, incluindo as
empresas. O capital social pode ser transformado, consumido ou reconstruído, tal como o capital
financeiro.
Cidadania empresarial
É a gestão da totalidade das relações entre as empresas e as comunidades onde actuam, a nível local, a
nível nacional e global, obedecendo a valores de Responsabilidade Social.
Código de Boas Práticas ou Código de Conduta
É uma declaração formal voluntária de uma empresa ou organização sobre os seus valores e práticas.
Divulga um conjunto de princípios básicos de acção e de normas que a empresa se compromete a
seguir na sua relação com as partes interessadas. O Código de Boas Práticas, como também é
chamado, pode estender-se a toda a actividade da empresa ou pode ainda referir-se a práticas
específicas (ex.: práticas sociais, éticas ou ambientais). Os códigos voluntários são uma forma de
responder às preocupações e às necessidades dos consumidores, das ONG’s, dos colaboradores e dos
cidadãos.
Comércio Justo ou Equitativo (fair trade)
O comércio justo tem por objectivo garantir aos pequenos produtores as condições necessárias que lhes
permitam desenvolver, a longo prazo, a sua actividade. Para garantir essas condições, o comércio justo
é regido por regras muito restritas que envolvem todos os actores da relação comercial. As
organizações de comércio justo seleccionam cooperativas de pequenos produtores entre os mais
desfavorecidos nos países em desenvolvimento. Para serem escolhidas, as cooperativas devem ser
geridas de forma democrática. Os produtos são pagos a um preço justo, o que é possível,
nomeadamente, porque são reduzidos os intermediários da relação comercial. Por vezes, e para evitar o
seu endividamento, paga-se aos produtores antecipadamente uma parte da compra. Por outro lado, as
organizações de comércio justo encorajam os agricultores a utilizarem técnicas agrícolas que respeitem
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CIDADANIA EMPRESARIAL
Cidadanias, Assimetrias e Participação
o ambiente, como a agricultura sustentável ou ainda a agricultura biológica. O comércio justo é
praticado principalmente a nível dos produtos alimentares (café, cacau, bananas, etc.) e visa lutar
contra o desequilíbrio do comércio mundial e as suas consequências, resumindo a sua filosofia no
conceito «o comércio, não a caridade.» (www.comercio-justo.net)
Comércio ético (Ethical Trade)
Visa assegurar que as condições no âmbito das principais cadeias de produção cumprem as normas
mínimas, bem como erradicar as formas mais exploradoras de trabalho, tais como o trabalho infantil, o
trabalho forçado e as fábricas clandestinas. Geralmente, os critérios de rotulagem baseiam-se nas
convenções fundamentais da OIT.
Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável(World Business Council for
Sustainable Development, WBCSD)
Em 1990, cerca de 50 dirigentes de empresas de todo o mundo reuniram-se para criar este conselho
cuja ideia central era que, contrariamente àquilo que o Clube de Roma, secundarizado por numerosos
movimentos ecologistas, havia denunciado desde os anos 60, não existe na realidade nenhuma
contradição entre o crescimento económico e a defesa do ambiente. Pelo contrário, afirmavam estas
empresas, um e outra são indissociáveis. Assim, algumas prepararam-se para adoptar as três dimensões
do desenvolvimento sustentável: o crescimento económico, o progresso social e a responsabilidade
ecológica (Albert, 2003:23).
Consumo sustentável (Sustainable Consumption)
O consumo sustentável é uma estratégia baseada na utilização dos recursos naturais e dos serviços
económicos, de modo a responder às necessidades de aumento da qualidade de vida de todos,
respeitando o capital natural para as gerações futuras. O consumo sustentável não se deve confundir
com o consumo ecológico, uma vez que engloba as três dimensões Desenvolvimento Sustentável:
dimensão económica, social e ambiental (ONU e Unesco , www.uneptie.org/pc/sustain)
CSR
É a sigla para Corporate Social Responsability. É a expressão inglesa para Responsabilidade
Empresarial Social mas também é utilizado como Responsabilidade Social das Empresas e, ainda,
Responsabilidade Social das Organizações.
CSR Europe
A CSR é uma rede europeia business-to-business de desenvolvimento da Responsabilidade Social nas
empresas. A CRS tem como missão auxiliar as empresas a alcançar o lucro, o crescimento sustentado e
progresso humano através da Responsabilidade Social. (www.csreurope.org)
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CIDADANIA EMPRESARIAL
Cidadanias, Assimetrias e Participação
Desenvolvimento Sustentável
Desenvolvimento que vai ao encontro das necessidades do presente sem comprometer a possibilidade
de gerações vindouras satisfazerem as suas necessidades(wwwsdgateway.net documentos da ONU)
Aplicado ao mundo das empresas, significa que estas se empenham a desenvolver práticas e processos
baseados na Responsabilidade Social, nos domínios dos recursos humanos, do ambiente, das práticas
comerciais e das implicações sociais.
Direitos do Homem
Os Direitos do Homem assentam no princípio de que o reconhecimento da dignidade intrínseca, da
igualdade e inalienabilidade de direitos de todos os membros da família humana constitui o
fundamento da liberdade, da paz e da justiça no mundo. Encontram-se definidos na Declaração
Universal dos Direitos do Homem (1948). A nível europeu, o artigo 6º do Tratado da União Europeia
reafirma que a União Europeia “assenta nos princípios da liberdade, da democracia, do respeito pelos
direitos do Homem e pelas liberdades fundamentais, bem como do Estado de direito, princípios que
são comuns aos Estados-Membros”. Acresce que a Convenção Europeia dos Direitos do Homem
vincula juridicamente todos os Estados-Membros. Além disso, a Carta Europeia dos Direitos
Fundamentais, adoptada em Nice, em Dezembro de 2000, é um instrumento que pretende inspirar a
observância dos direitos fundamentais por parte das instituições europeias e dos Estados-Membros
quando aplicam o direito comunitário.
Dow Jones Sustainability Index
O Dow Jones é o índice bolsista mais antigo do mundo financeiro. O Dow Jones Sustainability Index,
dedicado ao investimento ético, foi criado em 1999. Em parceria com os especialistas da sociedade
independente de gestão de património na área do Desenvolvimento Sustentável, a Sustainability Asset
Management (SAM) selecciona, entre as duas mil maiores empresas cotadas, as que têm melhor
performance em termos de Desenvolvimento Sustentável.
Eco-eficiência
A produção de bens e serviços economicamente competitivos, que satisfazem as necessidades
humanas e trazem qualidade de vida, ao mesmo tempo reduzindo os seus impactos ecológicos ao longo
do ciclo de vida, até um nível compatível com as capacidades de regeneração do planeta. Em resumo,
significa criar mais valor com menos impacto negativo.
Ecossistema
Relação entre uma comunidade de espécies vivas e de um ambiente físico que fornece água, ar e outros
elementos necessários para viver.
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Cidadanias, Assimetrias e Participação
Empresa Responsável
Conceito lançado pelas Nações Unidas que reconhece o papel das empresas na consecução de um
desenvolvimento sustentável e o facto de poderem gerir as suas operações de forma a fomentarem o
crescimento económico e a aumentarem a competitividade, garantindo concomitantemente a protecção
ambiental e a promoção da responsabilidade social.
Etiqueta social ou rótulo social
Informação na rotulagem dos produtos que esclarece os consumidores acerca do impacto social e ético
decorrente da produção daquele produto, nomeadamente se foi fabricado segundo os princípios
consagrados pelos Direitos Humanos. Este selo ou logotipo é um critério suplementar na decisão de
compra do consumidor. (www.eco-labels.org e ISEAL Alliance)
Fundos sociais e éticos
Fundos de investimento que utilizam critérios sociais (ou outros critérios não económicos) na selecção
dos investimentos. Este tipo de fundos tem sido alvo de uma atenção crescente. Na Europa tínhamos 4
no início dos anos 80 contra cerca de 280 em Janeiro de 2002, apresentando um crescimento anual na
ordem dos 5 a 10% (Nortat, 2003:11).
Global Compact
Por vezes chamado Contrato Global ou Pacto Global, foi lançado em Janeiro de 1999 durante o Fórum
Económico de Davos, por Kofi Annan, o Secretário-geral das Nações Unidas. Tem por ambição «unir
as forças dos mercados à autoridade dos ideais individuais». O Global Compact tem por objectivo
fazer o mundo dos negócios cumprir nove princípios fundamentais: (1) apoiar e respeitar a protecção
dos direitos humanos na esfera da sua influência; (2) ter a garantia de que as suas próprias
organizações não são cúmplices de violação dos direitos humanos; (3) garantir a liberdade de
associação e o direito às associações colectivas; (4) eliminar todas as formas de trabalho forçado e
obrigatório; (5) abolir o trabalho infantil; (6) eliminar a discriminação no trabalho e nas profissões; (7)
apoiar uma abordagem preventiva no âmbito ambiental; (8) tomar a iniciativa para reforçar a
responsabilidade ambiental; (9) encorajar o desenvolvimento e a difusão das tecnologias ambientais
(ONU, www.unglobalcompact.org). Pela sua pertinência, o pacto global foi explanado no capítulo 2.
Governação corporativa ou das empresas (Corporate Governance)
É o sistema pelo qual as empresas são dirigidas e controladas. Na estrutura da governação corporativa
é definida a distribuição dos direitos e responsabilidades de todos participantes envolvidos na empresa,
tais como a direcção, os gestores, os accionistas e as restantes partes interessadas, e quais as regras e
procedimentos para as tomadas de decisão. Ao fazer isso, fornece a estrutura através da qual os
objectivos da empresa são estabelecidos e os meios para alcançá-los e para monitorizar o desempenho.
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CIDADANIA EMPRESARIAL
Cidadanias, Assimetrias e Participação
Governação corporativa significa promover justiça, transparência e responsabilidade empresarial
(www.portalexecutivo.com)
GRI
O Global Reporting Initiative é uma iniciativa internacional em que participam empresas, ONG,
gabinetes de consultores e universidades, interessados em elaborar um quadro de regras destinadas às
empresas preocupadas com o Desenvolvimento Sustentável. O objectivo do GRI é definir linhas
directivas para ajudar as empresas a desenvolverem relatórios de Responsabilidade Social que
apresentem o impacto económico, social e ambiental das suas actividades, produtos e serviços.
Influência dos accionistas
Esforços envidados pelos accionistas no sentido de melhorarem a conduta ética, social e/ou ambiental
através do diálogo, de pressão, do apoio a uma gestão responsável e do voto nas assembleias-gerais
anuais.
Investimento em causas sociais ou locais
Apoio a uma causa ou actividade específica por meio de investimento. Ao contrário de um donativo,
os investidores em causas pretendem recuperar o investimento inicial por amortização (de
empréstimo) ou por transacção (de acções).
Investimento Socialmente Responsável
Integrar critérios sociais, ambientais (Eco-auditoria) e éticos (Auditoria ética) nas decisões de
investimento é denominado Investimento Socialmente Responsável (ISR). O ISR considera tanto as
necessidades financeiras dos investidores como o impacto social do investimento na sociedade. Com o
ISR, os investidores podem aplicar o seu dinheiro tendo em consideração a construção de um futuro
melhor, enquanto vão recebendo no presente os respectivos benefícios. As três chaves do ISR têm
vindo a evoluir e incluem também a monitorização, advocacia dos accionistas, investimento
comunitário e capital de risco social. Representa perto de 12% da capitalização bolsista americana e o
seu montante na Europa varia entre 15 e 22 milhões de Euros (Nortat, 2003:12)
ISO 14001
Norma de certificação ambiental internacional que reconhece um Sistema de Gestão Ambiental,
dizendo respeito aos aspectos ambientais que a empresa pode dominar e sobre os quais a sua
actividade tem influência. Para obter esta certificação é necessário respeitar a legislação em vigor,
praticar os princípios de melhoria contínua e de prevenção da poluição.
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Cidadanias, Assimetrias e Participação
Licence to operate
Expressão inglesa que designa o «direito de exercer as suas actividades», que a opinião pública
simbolicamente concede a uma empresa, mostrando que aceita as suas actividades e práticas.
Livro Verde da Comunidade Europeia sobre “Promover um quadro europeu para a
Responsabilidade Social das empresas”
O objectivo do Livro Verde é lançar um amplo debate público sobre o modo como a União Europeia
poderá promover a Responsabilidade Social das empresas no plano tanto europeu como internacional,
nomeadamente, sobre a melhor forma de explorar as experiências existentes, fomentar o
desenvolvimento de práticas inovadoras, melhorar a transparência e reforçar a fiabilidade da avaliação
e da validação das diversas iniciativas promovidas na Europa. A importância e contribuições do Livro
Verde para a dinamização da RSE em Portugal e na Europa foram explanadas no capítulo 2.
Marketing responsável ou societário
Duas ideias chaves distinguem a óptica do marketing responsável do marketing clássico: (a) o
marketing deve ter em atenção as necessidades e interesses do compradores; deve dar destaque ao
bem-estar do consumidor e do público a longo prazo; (b) a empresa deve estar atenta às bases da sua
actividade económica e industrial, de modo a assegurar o bem estar a longo prazo não só dos
indivíduos consumidores, mas também da sociedade em sentido lato. A empresa responsável deve
exprimir publicamente a sua vontade de adoptar um comportamento ético, em particular no domínio
do marketing que tem por missão específica gerar o interface entre a empresa e o mercado (Labin,
2000).
OIT – Organização Internacional do Trabalho
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma das instituições especializadas da Organização
das Nações Unidas. Foi criada em 1919 para defender os direitos dos trabalhadores e promover a
melhoria das suas condições de trabalho. Através da elaboração de normas internacionais do trabalho,
que no seu conjunto se denominam Código Internacional do Trabalho, são feitas convenções, de
carácter vinculativo e sujeitas a ratificação por parte dos Estados-membros, tal como a Declaração da
Organização Internacional do Trabalho das Normas e Princípios Fundamentais e Direitos no Trabalho,
e são ainda emitidas recomendações de forma a orientar a futura legislação. Todas as normas estão
sujeitas a uma revisão periódica, sempre que se tornar necessário. A OIT elabora estatísticas e faz
pesquisas a nível mundial acerca de problemas sociais como o desemprego, o subemprego, as relações
de trabalho e a protecção dos direitos humanos dos trabalhadores. Conta actualmente com mais de 150
nações associadas.
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ONG
Organização não-governamental. É uma associação sem fins lucrativos que se dedica a acções
relacionadas com a solidariedade social, a cooperação e o desenvolvimento, a defesa do património, a
defesa do ambiente, a defesa dos direitos da mulher, o auxílio a refugiados, a alfabetização e o
planeamento familiar. Na área da Responsabilidade Social, as ONG’s tomam crescente peso na cena
internacional, mobilizando a opinião pública para as questões da responsabilidade das empresas nas
suas actividades e práticas.
Partes interessadas
Indivíduo, comunidade ou organização que afecta as operações de uma empresa ou é afectado por elas.
As partes interessadas podem ser de tipo interno (por exemplo, os trabalhadores) ou externo (por
exemplo, clientes, fornecedores, accionistas, financeiros, a comunidade local).
Pegada ecológica
A pegada ecológica é uma metodologia proposta por vários cientistas e consignada como um
instrumento importante de avaliação do impacto ambiental de cada indivíduo e/ou de cada país, quer
por diversas organizações não-governamentais, quer pelas Nações Unidas. A pegada ecológica permite
avaliar quanto espaço e água são necessários para produzir os recursos que consumimos e
depositarmos os resíduos que produzimos. Neste momento, a humanidade já excedeu as capacidades
de recursos de que necessitamos proporcionados pela natureza, sendo que as consequências sociais,
económicas e ambientais são claramente visíveis em várias partes do mundo.
No caso de Portugal existem pelo menos três estimativas de entidades diferentes (UNESCO para o ano
de 1995, WWF – World Wildlife Fund for Nature para o ano de 1996 e Earth Day Network, estimativa
actual), que confirmam que o modo de vida dos portugueses conduz a uma pegada ecológica por
habitante entre 3,7 e 5,8 hectares, quando a pegada ecológica para a população mundial não deveria
ultrapassar 1,8 a 2,2 hectares. Se extrapolarmos este resultado para a escala mundial, podemos dizer
que se toda a população mundial tivesse a mesma pegada ecológica que os portugueses, seriam
necessários 2,5 planetas Terra (Quercus, www.quercus.pt)
PNUD
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. No plano, prevê-se as seguintes acções: Ajudar
os países a dotarem-se dos meios que permitam assegurar um desenvolvimento sustentável centrado
nas populações, trabalhando com os poderes públicos e com as organizações; Apoiar programas em
174 países em desenvolvimento, com base numa rede de 132 escritórios; Concentrar esforços na luta
contra a pobreza, igualdade entre os sexos, na regeneração do ambiente e na boa administração.
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Cidadanias, Assimetrias e Participação
Princípio da participação
Segundo este princípio, todos devem ter acesso à informação sobre o ambiente, nomeadamente sobre
as actividades, as substâncias e os produtos perigosos. O artigo 10 da Cimeira do Rio estabelece
também a participação dos cidadãos no processo de decisão e o acesso ao recurso jurídico.
Princípio de Precaução
O princípio de precaução aplica-se na ausência de certezas cientificamente provadas. Consiste em
limitar, enquadrar ou impedir actividades ou produtos potencialmente perigosos. Coexistem duas
versões deste princípio: a que defende que a sua aplicação é imperativa e a que se refere à precaução
como sendo um critério parcial de decisão, complementado por outros elementos. O benefício do
princípio de precaução é poder assegurar um nível elevado de protecção do ambiente e da saúde
humana, animal e vegetal, nos casos em que a ciência ainda não nos forneceu uma avaliação completa
do risco. O conceito ainda não tem, em Portugal, uma definição jurídica.
Princípio do poluidor/pagador
O princípio poluidor/pagador foi adoptado pela OCDE em 1972, como pressuposto económico de
imputação de custos associados à luta contra a poluição. Este conceito é um princípio essencial na base
das políticas ambientais nos países desenvolvidos. Segundo este princípio, os custos resultantes da
poluição e das medidas de prevenção e de redução da poluição devem ser pagos pelo poluidor.
Protocolo de Kyoto
Em Dezembro de 1997 mais de 160 nações reuniram-se em Kyoto, no Japão, para negociar a limitação
das emissões de gases com efeito de estufa nos países desenvolvidos, dando continuidade aos
objectivos da Convenção das Mudanças Climáticas de 1992. O resultado deste encontro traduziu-se
num protocolo — o Protocolo de Kyoto — no qual as nações envolvidas concordaram em limitar as
emissões de gases com efeito de estufa em relação aos níveis emitidos em 1990.
Relatório de Informação Social
Documento em que se apresentam as conclusões de uma avaliação do impacto social.
Relatório de Responsabilidade Social ou Relatório de Desenvolvimento Sustentável
Muito mais abrangente que os tradicionais relatórios e contas a que estamos habituados, o Relatório de
Responsabilidade Social (RRS) divulga e torna público o desempenho de uma empresa a nível
financeiro, ambiental e social. Actualmente existem linhas orientadoras para elaboração de relatórios,
nomeadamente as do GRI (Global Reporting Initiative). Pretende-se que os relatórios se tornem uma
prática comum a todas as empresas, construídos da mesma forma e com base nos mesmos indicadores
de modo a que seja possível fazer uma comparação entre empresas.
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Relatório social
Dados não financeiros que cobrem assuntos respeitantes aos colaboradores, desenvolvimentos
económicos comunitários, envolvimento dos stakeholders e podem também incluir voluntariado e
performance ambiental. (Global Reporting Initiative, Instituto Ethos, CRS Europe)
Responsabilidade Social ou Responsabilidade Social Corporativa
Ligado à aplicação nas empresas do conceito de Desenvolvimento Sustentável, este conceito integra
três dimensões: a dimensão económica (criação de riqueza, rentabilidade), a dimensão social e a
dimensão ambiental. A Comissão das Comunidades da Comunidade Europeia, no Livro Verde que
lançou sobre a temática, define a Responsabilidade Social como: «um comportamento que as empresas
adoptam voluntariamente e para além das prescrições legais, porque consideram ser esse o seu
interesse a longo prazo.»
SA 8000 (Social Accountability 8000)
É a única norma que certifica as empresas em função da sua responsabilidade social. Baseia-se numa
evolução do conceito de qualidade, tal como a norma ISO 9001, mas junta-lhe elementos de respeito
pelos direitos humanos baseados nas regras da OIT, da Convenção das Nações Unidas sobre os
Direitos das Crianças e da Declaração dos Direitos do Homem. A SA 8000 permite às empresas a
avaliação dos seus locais de produção assim como dos seus fornecedores e subcontratados. Esta norma
é uma iniciativa da Social Accountability International – SAI, um organismo criado a partir do Council
on Economic Prorities Accreditation Agency (CEPAA) nos EUA. (www.cepaa.org)
Selecção ética
Inclusão ou exclusão de títulos de carteiras de investimento com base em motivos de natureza ética,
social ou ambiental.
Stakeholder
Este termo inglês, frequentemente utilizado num contexto de Responsabilidade Social, representa
todas as partes envolvidas, todos os intervenientes na produção da empresa e todos aqueles sobre os
quais ela tem de alguma forma uma repercussão. São todos os «actores» da empresa (colaboradores,
clientes, fornecedores, accionistas, administradores) e os «observadores» (o Estado, os sindicados, as
instituições, os media) e a sociedade civil (colectividades e associações da região onde está implantada
a empresa).
Sweatshops
Palavra inglesa que se pode traduzir por «loja do suor» e que simboliza, ironicamente, as pequenas
fábricas com condições de trabalho precárias, em particular as clandestinas ou as que utilizam trabalho
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CIDADANIA EMPRESARIAL
Cidadanias, Assimetrias e Participação
infantil. O problema das sweatshops, coloca-se em particular na indústria que subcontrata fornecedores
de países em via de desenvolvimento para fabricarem os seus produtos.
Três P's
Abreviatura da triple bottom line. Refere-se aos três P’s de pessoas, planeta e proveitos. Esta expressão
foi utilizada pela primeira vez pela Shell no seu Relatório de Responsabilidade Social.
Tripla Abordagem (Triple bottom line -TBL)
A noção de que o desempenho global de uma empresa deverá ser avaliado em função do seu
contributo para a prosperidade económica, a qualidade ambiental e o capital social.. Na sua forma mais
redutora, o termo triple bottom line é usado como uma grelha de medida e de elaboração de relatórios
sobre o desempenho da empresa, confrontando-a com os parâmetros económicos, sociais e ambientais.
De um modo mais abrangente, o termo é utilizado para definir o conjunto de valores, assuntos e
processos que as empresas devem ter em conta de modo a minimizarem os danos resultantes das suas
actividades e de modo a criar valor económico, social e ambiental. Isto envolve transparência no
propósito da empresa e ter em conta e consideração as necessidades de todos os stakeholders da
empresa – accionistas, clientes, colaboradores, parceiros de negócios, governos, comunidade local e o
público. (www.sustainability.com)
UNEP United Nations Environment Programme
O Programa das Nações Unidas para o Ambiente foi criado na sequência da Conferência de Estocolmo
em 1972. Tem por missão encorajar a acção em prol da protecção do meio ambiente e a colaboração
neste domínio de forma a permitir aos diversos países melhorar a sua qualidade de vida sem
comprometer o futuro das gerações futuras.
Vigilância Cidadã
Sedeada em Oxford, a Corporate Watch é uma associação que assegura uma vigilância cidadã sobre a
Responsabilidade Social das empresas (www.corporatewatch.org.uk)
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CIDADANIA EMPRESARIAL
Cidadanias, Assimetrias e Participação
7 BIBLIOGRAFIA
ALBERT, MICHEL (2003), Uma nova economia social de Mercado? em A Responsabilidade Social
das Empresas: GEPE
COM, COMISSÃO EUROPEIA (2001); LIVRO VERDE Promover um quadro europeu para a
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COM, COMISSÃO EUROPEIA (2002), Comunicação relativa à Responsabilidade Social das
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CIDADANIA EMPRESARIAL
Cidadanias, Assimetrias e Participação
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Centro de Estudos Sociais, www.ces.fe.uc.pt
Centro de Informação das Nações Unidas em Portugal, www.onuportugal.pt/
Corporate Watch, www.corporatewatch.org.uk
Global Reporting Initiative, www.globalreporting.org
Glocal Compact, www.unglobalcompact.org
Institute for Social and Ethical Accountability, www.accountability.org.uk
Instituto Ethos, www.ethos.org.br
Instituto Nacional Casa da Moeda, Diário da República, www.dr.incm.pt
International Social and Environmental Accreditation and Labelling (ISEAL) Alliance,
www.isealalliance.org
Portal Executivo, www.portalexecutivo.com
Quercus, www.quercus.pt
RSE Portugal, www.talentum.pt/html/home.htm
Sair da Casca, www.sairdacasca.com
SD Gateway, www.sdgateway.net/fr_default.htm
Social Accountability International, www.cepaa.org
SUL- Associação de Cooperação para o Desenvolvimento www.comercio-justo.net
Sustainability, www.sustainability.com
The Center for corporatte Citizenship at Boston college, www.bc.edu/centers/ccc/index.html
UNEP - Sustainable Consumption, www.uneptie.org/pc/sustain/
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