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Departamento de Arquitectura Faculdade de Ciência e Tecnologia Universidade de Coimbra Cidade à margem Reaproximar Águeda ao rio Ana Luísa Tavares de Matos Pimenta Dissertação orientada pelo Professor Doutor João Paulo Cardielos Coimbra, Dezembro 2011

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  • Departamento de Arquitectura Faculdade de Cincia e Tecnologia

    Universidade de Coimbra

    Cidade margem Reaproximar gueda ao rio

    Ana Lusa Tavares de Matos Pimenta

    Dissertao orientada pelo Professor Doutor Joo Paulo Cardielos

    Coimbra, Dezembro 2011

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio

    Dissertao de Mestrado Integrado em Arquitectura

    Apresentada ao Departamento de Arquitectura da FCTUC

  • Agradecimentos:

    Ao meu orientador, Doutor Joo Paulo Cardielos, pela dedicao, acompanhamento e

    incentivo durante todo o processo de trabalho.

    Cmara Municipal de gueda, ao arquitecto e ex-aluno do dArq Rafael Fernandes,

    Habitar e ao Arquitecto Sidnio Pardal, pela disponibilizao de material fundamental

    para a realizao desta dissertao.

    Ao dArq, por me proporcionar anos inesquecveis, repletos das mais variadas

    experincias.

    Vnia, Fbio, Lisa e Diana pela amizade e companheirismo durante todo o percurso

    acadmico.

    minha irm, pela amizade e apoio constantes ao longo da vida.

    Ao Jorge

    Mas principalmente, aos meus pais, que me deram tudo, incluindo a possibilidade de

    realizar este curso.

  • Aqueles que passam por ns no vo ss. Deixam um pouco de si, levam um

    pouco de ns.

    Antoine de Saint-Exupry

    http://www.imotion.com.br/frases/?cat=8881

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 7

    Sumrio

    Resumo 9

    Introduo 11

    1. O Espao 31

    1.1 Localizao geogrfica 31

    1.2 Evoluo urbana 33

    1.3 Desporto 43

    1.4 Indstria 47

    1.5 gueda hoje retrato actual da rea de interveno 53

    1.6 gueda amanh 59

    2. A Ideia 73

    2.1 rea e Estratgica 73

    3. O Projecto 83

    3.1 Eixo Comercial 89

    3.2 Rua 5 de Outubro Parque da Alta Vila 99

    3.3 Largo 1 de Maio 117

    3.4 Bairro da margem Sul 125

    3.5 O campo na Cidade 131

    3.6 O Projecto 141

    4. O Tempo 151

    Concluso 161

    Bibliografia 167

    ndice 181

    Anexos 185

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 8

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 9

    Resumo

    O presente trabalho aborda a condio actual da cidade de gueda e a sua relao

    com as margens ribeirinhas. De costas voltadas ao rio e ao centro histrico, esta cidade

    necessita de um novo impulso, capaz de contrariar o alienemento actual da populao.

    Os projectos de regenerao actuais tm-se revelado insuficientes para revitalizar a

    cidade, porque no so mais do que um somatrio de ideias avulsas, incapazes de

    alterar o rumo de gueda.

    Face aos projectos em curso, ao descontentamento da populao em geral e aos

    conhecimentos que adquiri ao longo dos anos, proponho um projecto urbano para

    esta cidade de pequena dimenso. Este contempla um conjunto de ideias estratgicas

    para reactivar a cidade histrica e torn-la atractiva para os seus habitantes.

    Palavras-chave: gueda, regenerao urbana, cidade/identidade, margens ribeirinhas

    Ideia-chave: Revitalizao de cidades de pequena dimenso no inicio do sc. XXI.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 10

    Figura 1- Embarque no rio gueda, junto ponte.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 11

    Introduo

    Enquadramento Geral

    O sculo XIX foi profundamente marcado pelo crescimento demogrfico e urbano, pela

    exploso da industrializao e tambm dos transportes.

    Os modos de vida e valores da sociedade estavam assim a tomar um novo rumo,

    adaptando-se a uma nova poca, que se vivia sobretudo nas cidades palcos da vida

    moderna.

    Com o forte crescimento econmico que acompanhou a era da maquinaria, os portos

    e seus navios no passaram indiferentes a esta revoluo. Ao longo dos tempos, estes

    deixaram de conseguir responder s novas exigncias da sociedade, passando

    gradualmente para segundo plano. Em geral, foram desactivados deixando de

    constituir zonas de azfama diria, para se tornarem em grandes espaos vazios, nos

    centros das cidades. De facto, os grandes portos constituram e impulsionaram

    grandes centros em diversas cidades, mas a partir da segunda metade do sculo XX

    essa cumplicidade morreu. Quebrando-se este forte elo de ligao, perdeu-se,

    claramente, parte da identidade e do motor de variadssimas cidades.

    Verifica-se pois, que todas as cidades porturias so confrontadas com uma crise

    urbana ligada ao crescimento ou declnio da actividade porturia, pondo em jogo uma

    tenso permanente dos espaos, das funes, dos valores de uso e de mercadorias, dos

    capitais e dos grupos sociais envolvidos.1

    Estes espaos que perderam a sua actividade, tornam-se agora alvo de experincias de

    requalificao das cidades que pretendem encontrar-se de novo com as suas frentes

    de gua. Nos Estados Unidos da Amrica este tema comeou a ser posto em prtica

    ainda no final dos anos 50, em cidades como Baltimore (Figura 2) e Boston (Figura 3),

    enquanto a Europa viu as suas primeira intervenes realizadas neste mbito um

    pouco mais tarde, nos anos 80, como por exemplo no Moll de La Fusta em Barcelona

    (Figura 4).

    1 FERREIRA, Vtor Matias A cidade da Expo 98: uma reconverso na frente ribeirinha de Lisboa, 1999,

    p. 24.

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    Figura 2 - Baltimore, Inner Harbour.

    Figura 3 - Boston, Back Bay e o Rio Charles.

    Figura 4 - Barcelona, Moll de la Fusta.

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    As cidades esto hoje capazes de reconhecer a importncia e potencialidade destes

    espaos vazios, que podem tornar-se de novo reas de grande dinamismo e vitalidade.

    A uma escala um pouco mais reduzida do que a das cidades referidas, Lisboa, mais

    especificamente, a vasta rea onde se realizou a Expo98 (Figura 5 e Figura 6),

    tambm exemplo deste tipo de evoluo to debatido desde os finais do sculo XX.

    Tambm ela foi capaz de aproveitar a oportunidade da Exposio Universal de Lisboa

    (Expo) para gerar uma nova ligao da cidade com a sua frente de gua, requalificando

    uma imensa rea em franca obsolescncia.

    Transpondo novamente de escala, gueda pode ser inserida no contexto referido,

    mesmo sem nunca ter sido um grande porto ou uma frente martima que banha a

    cidade. Tambm esta pequena cidade viu as suas trocas comerciais ribeirinhas

    esmorecer at extino, devido crescente presena da industrializao. Mesmo no

    sendo um grande porto, o transporte de peixe fresco e sal era regular, numa poca em

    que [] comboios ou outros meios de transporte no havia. Eram os rios, desde

    tempos remotos, que resolviam as deslocaes.2

    Com esta nova realidade, no s as trocas comerciais deixaram de se fazer sobre as

    margens do rio gueda, como toda a vida scio-econmica, em tempos efervescente,

    desapareceu, retirando todo o protagonismo ao rio.

    As frentes de gua, mas mais precisamente, as zonas porturias, foram, pois, ao longo

    dos tempos, lugares centrais das cidades. A sua centralidade permite identificar estes

    lugares como espaos de aco e de mxima interaco, dotados de propriedades

    activas e dinmicas, sujeitos a reordenamentos constantes, no sentido de responder a

    situaes de obsolescncia e de renovao.3

    Contrariamente s cidades referidas, gueda no foi nunca alvo de um plano

    revitalizador, capaz de reorientar a cidade a nvel social, cultural ou econmico.

    Com esta dissertao desejo, em parte, lembrar que gueda necessita e tambm

    digna de receber uma interveno forte nas suas margens, fruto da sua histria.

    2 AMARAL, Maria Emia - gueda deste sculo, 1992, p 19.

    3 Ibidem, p. 31.

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    Figura 5 - Lisboa. Vazio urbano anterior construo do Parque das Naes.

    Figura 6 - Lisboa, Parque das Naes.

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    Basta de projectos pontuais e avulsos que pretendem mudar a cidade mas que na

    realidade remedeiam apenas alguns dos seus pequenos problemas. urgente deixar

    de encarar a cidade como um somatrio de partes indiferentes, propondo um projecto

    nico que integre com clareza alguns dos desejos j manifestados em gueda,

    despertando porventura outros ainda em gestao.

    Importa perceber que *+ o planeamento territorial vir alterar o quadro da vida

    quotidiana dos habitantes e que o seu xito humano no pode prescindir de uma

    composio urbanstica, de um quadro arquitectnico, adequados e estimulantes de

    uma vida social activa.4

    A presente dissertao estrutura-se em quatro captulos fundamentais: O Espao da

    cidade, A Ideia, O Projecto e o Tempo.

    O primeiro captulo pretende dar a conhecer a cidade para a qual se prope um

    desenho de estratgia. Para isso, importante referir a sua localizao geogrfica e

    importncia no pas, desenvolver um pouco da sua histria, enunciando as alteraes

    mais profundas at aos dias de hoje, bem como as suas principais caractersticas.

    Relevar uma gueda que considerei incontornvel para o pensamento estratgico da

    cidade. O retracto actual do ambiente social e cultural vivido tambm descrito, para

    que se percebam algumas das dinmicas da prpria cidade.

    Ainda no mesmo captulo apresentam-se alguns dos projectos em estudo e outros j

    em implementao, que partiram sobretudo da iniciativa municipal, tornando-se

    relevantes para a dissertao, principalmente na medida em que permitem perceber o

    dinamismo e vontade de alterar o carcter actual da cidade. Alm disso, no faria

    sentido desenhar parte da cidade sem conhecer aquilo que est a ser, ou foi pensado,

    para o futuro. Importa entender o que relevante e abraar, neste trabalho, as

    propostas que vo ainda a tempo de serem corrigidas em prol de um futuro melhor.

    O segundo captulo enuncia a ideia do projecto, a estratgia capaz de mudar o rumo

    de gueda. A se indicam os pontos fortes e fracos do ncleo urbano tradicional e a

    enorme potencialidade encontrada nas margens do rio. Reforam-se os objectivos

    4 PORTAS, Nuno Os tempos das formas: A cidade feita e refeita, 2005, p.138.

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    fundamentais deste projecto e valorizam-se algumas conexes com pontos existentes

    na cidade que so considerados importantes para a activar as suas margens.

    no terceiro captulo, que se comeam por referir, de uma forma mais concreta,

    algumas das modificaes desejadas. Esta explicao detalha as alteraes principais

    que transformam a lgica de acessibilidade cidade central e, consequentemente, ao

    ncleo estudado. Subdividindo o ncleo de interveno em 5 unidades operativas

    especficas que o captulo replica, expe-se para cada uma tudo aquilo que se

    ambiciona, com reflexos nesta parte da cidade e, consequentemente, para a sede do

    concelho.

    Surge ainda um outro subcaptulo, intitulado de Planeamento Estratgico, no qual se

    explica o sentido de unidade pretendido para o ncleo de interveno, interligando as

    propostas anteriormente nomeadas. Depois de analisadas as partes, interpreta-se o

    conjunto, pois s assim se pode dar sentido a este desafio.

    Por ltimo, o tempo um factor muito importante em projectos escala urbana e, por

    isso mesmo, importante referir o seu papel. Como instrument-lo e ser-lhe fiel,

    sendo com ele, simultaneamente, generoso e flexvel? Enunciam-se aqui as vrias

    etapas de reabilitao urbana desta nova centralidade reencontrada da cidade de

    gueda. Refere-se o que prioritrio para despoletar o investimento e a vontade de

    viver nesta cidade. Repe-se o seu significado histrico-espacial. Existem reas de

    expanso a considerar nas imediaes das intervenes principais que so tambm

    aqui citadas, pela necessidade de acompanharem, com o tempo, a evoluo da cidade,

    garantindo que se estimula a construo de espaos de qualidade, em torno de outros

    considerados prioritrios.

    Em suma, a ideia de uma gueda como cidade com matriz prpria e geografia baseada

    num tempo mais longo, explorada ao mximo ao longo de quatro captulos -

    essenciais para que se consiga alterar a sua rota, recolocando-a no tempo e no espao,

    criando condies de vida atractivas, espaos cultuais e artsticos, visando postos de

    trabalho e espaos pblicos qualificados, capazes de impulsionar uma economia

    reactiva e atrair novos residentes e dinmicas empresariais.

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    E mais do que atrair uma nova audincia para gueda, prioritrio projectar no

    sentido de fixar as geraes mais recentes que, tal como eu, no sentem grande

    afinidade com uma cidade que no soube evoluir e adaptar-se a uma nova era. Se for

    possvel modificar este sentimento, sobretudo nas camadas mais jovens, facilmente

    chegaro novos habitantes, profissionais e visitantes a gueda, pelo ambiente social

    aqui sentido, juntamente todas as outras qualidade geogrficas e fsicas existentes,

    que aqui se expem e renovam.

    Motivao

    Como estudante de arquitectura e aguedense, o interesse por este tema surge de

    forma muito natural, uma vez que o sentido de proteco para com esta cidade,

    juntamente com um olhar mais desperto e atento para as questes do ambiente

    urbano, se conjugam numa vontade de alterar a situao actual.

    Aps cinco anos de aprendizagem e de experincias constantemente novas, decidi

    desafiar-me a redesenhar parte da cidade onde cresci, numa tentativa de traar um

    novo caminho, um novo rumo a seguir.

    Apesar de sempre ter vivido em gueda, a empatia pouco forte e as minhas

    memrias mais consistentes raramente se relacionam com os espaos pblicos. Assim,

    as recordaes que possuo parecem quase dissociveis da cidade onde se formaram,

    impossibilitando o desenvolvimento de um sentimento pessoal forte, dando lugar a

    uma certa indiferena por esta cidade onde cresci. No entanto, esta cidade retm

    memrias capazes de dissolver a indiferena, e qualidades ambientais e histricas

    latentes que importam reactivar. Podemos chamar-lhe reabilitao ou regenerao,

    mas eu preferia apenas invocar algumas apetncias de aguedenses para o fazer,

    atravs do projecto urbano estratgico.

    Algumas memrias estaro sempre presentes, mesmo que estando apenas

    relacionadas com espaos privados que acabaram por funcionar como pblicos, uma

    vez que as cidades so os momentos dos encontros, ou apenas os momentos dos

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    desejos de encontro, materializados como muros, estradas, casas, luzes, praas, salas,

    quartos, feiras, teatros, fontes, banhos, termas 5. Por muito pouca afinidade que

    tenha com esta cidade devido sua inactividade, nunca deixarei de a olhar como a

    cidade que, de alguma forma, me criou e tal como refere Ascher O indivduo,

    adquirindo uma autonomia crescente, no age como se viesse de um lugar qualquer.

    Desde o seu nascimento que condicionado por toda a espcie de experincias e a

    partir delas que constri a sua personalidade. 6

    Interessa-me perceber o porqu de 23 anos de vida em gueda no serem suficientes

    para desenvolver uma relao afectiva forte com esta cidade. O que faltou?! Porque

    que, tal como eu, tantas e tantas pessoas no se agarram cidade que as viu crescer?

    Ou porque so to poucas as pessoas que querem verdadeiramente vir viver para

    gueda?

    Alm de responder a todas estas questes, importa ainda perceber o que poder ser

    feito para contrariar este sentimento de indiferena, comum a tantos habitantes, e

    cativar novos olhares.

    Alguns factores, que respondem parcialmente a algumas das questes expostas, so j

    conhecidos: no existe facilidade de transporte para chegar ao centro da cidade e

    mesmo o centro, ou os centros, no so de forma alguma atractivos; algumas lojas e

    cafs j no so suficientes para cativar a populao. urgente contrariar esta situao

    para que memrias sejam enraizadas em cada habitante.

    H anos que a cidade se encontra secundarizada, sem dinmica e sem interesse, o que

    provoca um alienamento por parte da populao em geral, que primeira

    oportunidade prefere ir at Aveiro, Coimbra ou Porto.

    Por constatar e, eu mesma, sentir este desapego em relao cidade onde sempre

    vivi, entendo que urgente e necessria uma interveno para a melhoria da

    qualidade de vida de todos, para que as geraes futuras se possam identificar desde

    cedo com gueda, criando um estreito relacionamento tanto a nvel fsico como

    emocional. A curiosidade e a vontade de perceber os pontos fracos que geram uma

    5 NUNES, Joo in Proap Arquitectura Paisagista, 2010, p.49.

    6 ASCHER, Franois Metapolis: Acerca do Futuro da Cidade, 1998, p.80.

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    cidade pouco competitiva, sem um carcter claro e dinmico, so grandes, tanto a

    nvel pessoal como profissional.

    Esta escolha do tema surge tambm devido ao facto de a Cmara Municipal revelar

    uma incrvel vontade de rumar contra a mar e dinamizar gueda. Constantemente

    procura de solues para esta cidade dispersa e sem uma centralidade clara e

    atractiva, a Cmara mostra-se disponvel, aberta ao dilogo e a novas ideias. Assim, o

    timming perfeito para o desenvolvimento deste trabalho, o que , sem dvida,

    motivador para a realizao desta dissertao.

    Todos estes factores contriburam para a escolha deste tema; para a requalificao de

    uma cidade margem, que se deixou esmorecer e agora se tenta erguer de novo!

    Objectivos e linhas orientadoras do Projecto

    Revalorizar uma cidade implica fomentar o seu desenvolvimento social, econmico e

    cultural atravs de uma estratgia que no pode () abandonar a requalificao da

    cidade herdada e dos seus espaos mais centrais mas antes a de favorecer ou reforar

    centralidades e amenidades perifricas complementares para fazer cidade fora da

    cidade com formas que sero diferentes porque os processos urbansticos e os modos

    de vida o so tambm. 7

    De forma a contrariar a situao actual necessrio desenvolver condies para gerar

    uma unificao formal e funcional de toda a rea, e desta com a cidade e o rio. Assim,

    torna-se fundamental a construo e requalificao de espaos pblicos de qualidade,

    bem como a apropriao de reas abandonadas e livres para usufruto da cidade.

    Como nica caracterstica natural de gueda, o rio dever resgatar o seu protagonismo

    na cidade, mesmo que sem os mesmos propsitos, para que todos possamos desfrutar

    do mesmo para os mais diversos fins. Para isso urgente promover a interaco com o

    rio que s ser possvel atravs de um elo de ligao forte com as suas margens,

    atravs de espaos de grande diversidade visual e sensitiva.

    7 PORTAS, Nuno Os tempos das formas: A cidade feita e refeita, 2005, p.119.

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    Sabe-se hoje que as frentes de gua, autnticas vitrinas urbanas, no se podem

    limitar a eventos episdicos, e a fluxos ocasionais ligados ao waterfront, sendo

    necessrio, para que a interveno seja objectiva, significativa e sustentvel, construir

    elementos fortes e suficientemente numerosos para conservar de forma permanente

    actividades e fluxos constantes. 8 Para isso importa propor novos espaos culturais,

    pblicos e privados de promoo do sector econmico e incentivando o investimento

    na cidade.

    A proposta de novas reas de lazer e convvio com a Natureza, criando espaos de

    transio gradual entre a cidade e o rio tambm um dos objectivos a atingir com este

    trabalho, bem como o incentivo ao deslocamento pedonal e/ou ciclvel, vida ao ar

    livre e prtica desportiva.

    essencial cativar a populao dia aps dia, para que as margens desta cidade

    comecem a ser palco das memrias de todos, tonando-se profundamente

    heterogneas, reflectindo uma sociedade complexa e de indivduos com aspiraes e

    com prticas mltiplas. 9

    Assim, promover o desenvolvimento de relaes com o espao fsico, com o propsito

    de gerar uma simbiose funcional e afectiva entre as pessoas e a cidade, s ser

    possvel atravs da plurifuncionalidade das margens, uma vez que () necessrio

    considerar os ambientes urbanos como cenrios, mas cenrios vivos, com actividades e

    pessoas, e cenrios que sejam gozados em sequncia ao longo de percursos

    motivadores e atraentes, ritmados por vistas que estimulem a curiosidade; indo-se

    assim de vista em vista; uma curiosa, outra estvel, outra surpreendente, outra

    enquadrada por um edifcio ou uma esquina, outra larga e paisagstica sobre o campo

    ou sobre o casario. 10

    8 PORTAS, Nuno gua: Cidades e Frentes de gua, mostra de projectos de reconverso urbana em frentes de

    gua, 1998, p. 107. 9 ASCHER, Franois Novos Princpios do Urbanismo. 2010 (2001), p.105.

    10 COELHO, Antnio Baptista - Qualidade do Espao Pblico e da Imagem Urbana: Urbanismo. 2000, p.28.

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    Metodologia

    Antes de receitar

    Diagnosticar a doena

    E entender o que a provoca. 11

    Aps a escolha do tema procedi de imediato pesquisa e recolha de variados tipos de

    informao, nomeadamente: livros, artigos e fotografias de gueda com o propsito

    de perceber o que esta cidade foi e agora; elementos grficos para uma melhor

    anlise topogrfica e geogrfica da cidade, e principalmente da rea em estudo; e

    tambm projectos em curso para a cidade.

    Aps esta primeira etapa, procedi ao estudo e compreenso dos dados recolhidos,

    organizando-os. Uma anlise crtica foi feita sobre o projecto recentemente executado

    na margem Norte e outras ideias de interveno em desenvolvimento para a rea em

    questo.

    Importa referir que a par de tudo isto foi ainda necessrio ir observando e desenhando

    a cidade: o comportamento dos seus habitantes, dinmicas, rotinas, hbitos etc, de

    maneira a conhecer aprofundadamente gueda e o seu dia-a-dia.

    Com todos os dados relevantes analisados/observados chegou o momento de

    diagnosticar a doena 12 e perceber o que a despoleta.

    Referindo mais uma vez Nuno Portas, seguiu-se a etapa de receitar. Para isso foi

    necessrio definir e organizar as ideias principais e objectivos para a estratgia a

    desenhar para as margens de gueda. Logo aqui comearam a surgir os primeiros

    esboos e ideias para o projecto que se foram desenvolvendo, explorando, e

    adaptando s mutaes da cidade.

    medida que os esboos se foram transformando em mensagens fortes e objectivas,

    as concluses foram surgindo, uma vez que todo o exerccio estratgico se apoiou em

    decises que as originaram naturalmente.

    11

    PORTAS, Nuno Os tempos das formas: A cidade feita e refeita, 2005, p. 158. 12

    Ibidem.

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    As peas desenhadas foram evoluindo e ganhando a consistncia e o desenvolvimento

    necessrios para que se tornassem elementos finais capazes de ilustrar a estratgia

    para a cidade. Simultaneamente, fui elaborando o documento final escrito, com o

    propsito de explicar tudo aquilo que os desenhos no so capazes de exprimir por si

    s.

    Para finalizar foi apenas necessrio integrar num documento final nico ambas as

    partes escrita e desenhada de maneira a produzir uma dissertao coesa e

    organizada.

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    1. O Espao

    1.1. Localizao Geogrfica

    Fortemente marcada pelo eixo da Estrada Nacional n1 que liga Porto a Lisboa, gueda

    foi durante muito tempo um local de passagem, que facilmente ficava em caminho e

    que, por isso, tinha sempre bastante movimento. Tanto pela EN n1, como pelo rio

    gueda (afluente do rio Vouga), os acessos eram propcios movimentao diria de

    pessoas, bens ou servios.

    Encontrando-se apenas a 20km do mar (Aveiro), gueda constitui um elo de transio

    entre o interior e o litoral, ocupando uma rea de 335,3km. A nascente limitada pela

    Serra do Caramulo; a norte pelo Rio Vouga; a Sul pelo Rio Crtima e a poente pelas

    terras baixas da Ria de Aveiro.

    Devido sua localizao geogrfica no Pas (Figura 7), a cidade encontra-se tambm

    muito prxima de Coimbra (cerca de 45Km), e as distncias at ao Porto, Viseu ou

    Lisboa so facilmente transponveis devido aos acessos existentes em seu redor IP5,

    A1, A17 (Figura 8).

    Como facilmente se verifica, gueda maior concelho do distrito de Aveiro - ocupa

    uma posio privilegiada em Portugal, mas hoje em dia parece estar fora do mapa.

    Se em tempos a Estrada Nacional n1 (Figura 9) colocou gueda num ponto

    estratgico de fcil acessibilidade, uma vez que era obrigatria a passagem por esta

    cidade sempre que se ia para Norte ou Sul, hoje em dia, com todos os novos acessos

    adaptados a novas exigncias, perdeu esse destaque.

    Era a rua de Cima, sem dvida, a mais importante do Lugar de gueda: por ela se

    fazia todo o trnsito de Lisboa ao Porto, sendo tambm este o caminho da velha Mala-

    posta. 13

    Actualmente a EN n1 serve sobretudo os aguedenses no seu dia-a-dia e j ningum

    por ali passa para descansar de um longo dia de viagem ou aproveita para conhecer

    um pouco a cidade enquanto faz uma pausa no percurso.

    13

    GRAA, Serafim Soares da gueda Antiga, 1988, p.36.

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    Figura 7 Mapa de Portugal principais acessos rodovirios.

    Figura 8 gueda: localizao e acessibilidades.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 33

    Talvez seja possvel encontrar algumas semelhanas da cidade de gueda, em tempos,

    com uma actual estao de servio; onde paramos para recarregar energias, descansar

    as pernas, almoar ou simplesmente apanhar um pouco de ar. Tal como uma estao

    de servio, gueda estava mo, sem necessidade de desvios e com tudo o que era

    necessrio a um viajante. Neste contexto, e se imaginarmos o encerramento de uma

    auto-estrada, a consequncia imediata seria a morte das respectivas estaes de

    servio. Estas perderiam o sentido. Perderiam aquilo que as alimenta.

    gueda, de alguma forma, um caso semelhante uma vez que foi crescendo e sendo

    dinamizada custa da afluncia diria e constante tanto pelo Rio como pela Estrada

    Nacional (Figura 9). Assim que estas duas vias circulatrias perderam importncia, a

    cidade foi progressivamente perdendo o seu protagonismo e identidade.

    Devido aos novos acessos que encurtam distncias at outras cidades e falta de

    carcter e capacidade de atraco de gueda, existe o perigo (j eminente?) de chegar

    o momento em que seja fcil sair da mesma e no se encontrarem motivos para

    regressar ou vir cidade pela primeira vez

    1.2. Evoluo Urbana

    Desde que a histria de gueda se conhece, e at cerca de 1940, a sua vida acontecia

    na zona ribeirinha, com o rio no papel principal (Figura 10 e Figura 11). Este exerceu,

    de forma directa e indirecta, uma grande influncia na estruturao e organizao dos

    espaos em seu redor. A norte, a antiga vila estica-se na encosta solarenga at molhar

    os ps na gua do rio14 e, ao longo dos sculos, as suas margens encheram-se de vida

    - pescadores, lavadeiras, regateiras a apregoar a sardinha, comerciantes e bateiras na

    gua preenchiam o espao com cor, rudo e movimento.

    Eram numerosos os barcos que diariamente os sulcavam num curioso vai-vem, com as

    velas enfunadas ao vento se este lhe corria de feio, o que dava paisagem que os

    ladeava uma nota de realada beleza. 15

    14

    PORTELA, Adolfo gueda: crnicas, paisagens, tradies, 2 ed, 1964, p.5. 15

    GRAA, Serafim Soares da gueda Antiga, 1988, p.51.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 34

    Figura 9 Antiga Estrada Real, que mais tarde de designou de EN n1.

    Figura 10 - Comerciantes carregando lenha nos seus barcos, com destino Murtosa e litoral.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 35

    Figura 11B - Etapa 3 Depois de 1970

    A escala de cidade explode, perdendo o controle sobre si mesma.

    Continuao da expanso da cidade ao longo da EN n1 e um pouco pela linha de caminho-de-ferro.

    A Norte gera-se um plo fortemente industrial (1), que se aproxima do IC2 a Oeste da EN n1.

    cota baixa destaca-se a definio e construo do Largo 1 de Maio (4), bem como do GICA (3).

    A acesso N333 a Este do Largo marca tambm profundamente a cidade e suas acessibilidades.

    A margem Sul permanece praticamente inalterada, apesar do crescimento da cidade.

    Figura 11A - Etapa 2 Entre 1850 e 1970

    A estrada nacional define-se, marcando gueda profundamente.

    Destaque para a margem Sul que j apresenta alguma construo, incluindo a Casa da Ponte (6).

    A frente ribeirinha prolonga-se para Oeste, acompanhando o rio e o Instituto da Vinha e do Vinho marca o seu fim. Com a

    demolio parcial do Bairro do Barril, esta rua torna-se num espao pblico desafogado, permitindo melhores condies

    para trocas comerciais e fruio com o rio.

    O Hospital (2) j se encontra cota alta, na linha da EN n1.

    A notria expanso para Norte foi fruto, em grande parte, da estao de caminho-de-ferro (1) inaugurada no incio do sc.

    XX. Esta, incentivou tambm construo de edifcios industriais em seu redor, sobretudo de cermica e metalurgia.

    Na dcada de 70, a Cmara Municipal desloca-se para a cota alta e, juntamente com o Hospital, representa um ponto

    mdio entre a estao de caminho-de-ferro e a Baixa.

    Servios como o tribunal (4), comeam tambm a tentar aproximar-se destes dois pontos, actuando como transio entre

    os mesmos

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 36

    Evoluo de gueda

    Figura 11 - Etapa 1 antes de 1850.

    Construo a Norte do rio, sobretudo prxima da ponte e em redor da encosta.

    Destacam-se trs direces marcantes que, ainda hoje, marcam a cidade: a linha que sai da ponte e

    contorna a Este a encosta; uma outra que companha a linha do rio a Oeste; e, com menor relevo, a

    linha que atravessa a encosta.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 37

    O porto era o impulsionador de toda a agitao e foi ainda durante o sc. XI que

    gueda atingiu uma fase de prosperidade, graas ao seu comrcio e porto

    desenvolvido, que abastecia tambm as populaes vizinhas.

    A antiga ponte de pedra vermelha, do reinado de Filipe II, permitia a unio das duas

    margens, bem prxima do movimentado cais. Um pouco a Este da ponte, situava-se a

    Nora (Figura 12), que se tornou num smbolo de gueda. Esta permitia regar os

    campos sua volta, girando constantemente sobre a gua ao som das lavadeiras que

    ali se juntavam. Ao longo destes trs concorridos pontos (porto, ponte e nora) uma

    frente ribeirinha crescia na margem norte do rio, subindo pela encosta.

    Na Praa da Repblica, antiga Praa Nova (Figura 13) na margem norte do rio,

    concentrava-se o mercado. No entanto, todos os anos as cheias invadiam a baixa de

    gueda impedindo o funcionamento das trocas comerciais por uns dias.

    lindo de ver, nas temporadas de Inverno, como esse rio, mansinho e humilde que ,

    trepa airoso aos cambalhes e aos botarus da vila, e ei-lo a vai, ao longe de algumas

    ruas, de porta em porta e de lojo em lojo, a cumprimentar os moradores, com a sem-

    cerimnia de um velho hspede que se espera todos os anos.16

    Em 1834, gueda tonou-se sede de concelho e no reinado de D.Maria II, j em 1849,

    foi ordenado o melhoramento e a construo de estradas que permitissem boa

    acessibilidade s duas capitais do Reino - Lisboa e Porto. Um troo desta estrada real

    passa ainda hoje por gueda, a actual EN n1. O movimento ao longo desta linha

    tornou-se frequente, modificando a lgica de circulao em gueda e marcando a

    cidade at aos dias de hoje por este grande eixo em direco a Norte. Esta

    requalificao da estrada desencadeou tambm a construo da nova ponte sobre o

    rio, cujas obras se iniciaram em 1879.

    Em 1890, inicia-se a demolio parcial do Bairro do Barril (Figura 14) com o objectivo

    de construir uma rea de qualidade para o comrcio prspero da cidade beira-rio,

    que se designaria de Cais das Laranjeira em 1905 (Figura 15).

    16

    PORTELA, Adolfo gueda Crnicas, paisagens, tradies, 2ed, 1964, p.7.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 38

    Figura 12 - Noras e lavadeiras no rio gueda.

    Figura 13 Mercado na Antiga Praa Nova.

    Figura 14 Ponte velha de gueda - Estrada real e Bairro do Barril.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 39

    Denote-se porm que os aguedenses no estavam unicamente vinculados ao rio, mas

    tambm agricultura. Em 1900 a populao residente era de 20.131 pessoas sendo

    que 15.095 se dedicavam actividade agrcola.

    O Hospital despede-se da Baixa e construdo um novo edifcio cota alta da cidade,

    na linha da estrada nacional, concludo em 1904 (Figura 16), e que veio dar incio

    expanso do ncleo central de gueda.

    Ainda no incio do sculo XX, a construo da linha de caminho-de-ferro (Figura 11A),

    situada um pouco acima do referido hospital, constituiu um marco importante em

    gueda, por ser um meio de transporte alternativo disponibilidade de todos e

    tambm pela sua localizao afastada da Baixa.

    Em 1930 a populao j tinha aumentado para 25.642 habitantes, sendo que o

    nmero de agricultores diminuiu para 14.219 pessoas. A indstria comeou a ganhar

    terreno apresentando nesse ano 3.519 profissionais.17

    Em 1938 foi inaugurada a praia fluvial, a jusante da antiga nora. No entanto, as cheias

    impediram que esta iniciativa tivesse futuro e, num Outono chuvoso, todo o areal

    desapareceu.

    J na dcada de 40, devido ao processo de industrializao e motorizao, o rio foi

    perdendo o seu protagonismo e fluxo dirio, iniciando-se uma nova etapa da vida do

    concelho; uma nova forma de viver e de estar.

    Em 1950, com uma populao de 32.369 habitantes, a agricultura, silvicultura, caa e

    pesca em conjunto apresentavam apenas 6.805 profissionais. Em contrapartida,

    comeavam a surgir dados relevantes na rea dos servios (administrao pblica por

    exemplo), que neste ano tiveram j 1.644 trabalhadores. A indstria no geral

    apresentou um ligeiro declnio mas comearam a evidenciar-se alguns sectores, como

    foi o caso da indstria dos metais e da construo de mquinas e de material de

    transporte com 1.257 profissionais.

    A necessidade de reajustar gueda aos novos valores e dinmicas que comeavam a

    nascer, surge em 1959 com o Ante-Plano de Urbanizao de gueda (ver anexo I), da

    autoria do Engenheiro Miguel Rezende que consistiu numa tentativa lidar com a

    17

    Instituto Nacional de Estatstica Dezembro 2011.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 40

    Figura 15 - Cais das Laranjeiras em construo.

    Figura 16 Hospital Conde Sucena.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 41

    industrializao que se apoderava da cidade, sobretudo a norte. importante salientar

    a vontade de propor uma alternativa EN n1, de forma a retirar o movimento

    excessivo da via que desdobra a cidade em dois, mas sem a afastar do centro. De

    relevar ainda a vontade de propor um campo de jogos numa rea que, actualmente, se

    traduz pelo Largo 1 de Maio e o Ginsio Clube de gueda (GICA).

    Foi, no entanto, um plano que no passou do papel.

    J nos anos 70, prope-se a implantao da Cmara Municipal no planalto da cidade

    (Figura 17), cujo desenho de Pedro Ramalho clarificou um novo perfil de rua (Figura 18),

    correspondendo actual Av. Eugnio Ribeiro e Praa do Municpio. Este desenho

    veio mudar por completo toda a cidade, que de repente viu o seu centro repartido. A

    fixao da Cmara Municipal nesta cota alta da cidade fez com que muitos outros

    servios pblicos e comrcio se aglutinassem nesta rea. Desta forma, a zona

    ribeirinha perdeu movimento e carisma, deixando de constituir um plo nico e

    aglutinador. gueda passou a estar desequilibrada por dois centros sendo que,

    nenhum deles tenha sido, ou seja, suficientemente forte para ser agregador.

    Em 1980, por falecimento da proprietria, o Parque da Alta Vila (Figura 19), localizado a

    poente da EN 1, torna-se pblico. Foi desde sempre (segunda metade do sc. XIX) um

    espao visualmente atractivo pela sua localizao a uma cota alta, prximo do rio e

    majestoso pelas suas velhas rvores altssimas e vastas, juntamente com belos jardins

    to romnticos para conversados a se quedarem 18

    Em 1985 gueda elevada categoria de cidade e durante toda a dcada de 80 houve

    ainda tentativas de recuperar o sector comercial da Baixa, promovendo-se a

    construo de edifcios, como instituies bancrias, o mercado municipal, o pavilho

    gimnodesportivo, estacionamentos e outros servios.

    No ano de 1991 (Figura 11B), com o aumento da populao residente para 44.045

    pessoas, o sector primrio reduziu-se a 2.321 indivduos, enquanto o secundrio

    aumentou para 13.081 profissionais. Numa mudana de sociedade, cresce tambm o

    nmero de pessoas empregadas no sector tercirio, para 9.087.

    18

    AMARAL, Maria Emlia gueda deste sculo, 1992, p.23.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 42

    Figura 17 - Cmara Municipal de gueda, Praa do Municpio.

    Figura 18 - Praa do Municpio - novo perfil de rua que se prolonga pela Av. Eugnio Ribeiro.

    Figura 19 - Parque da Alta Vila. Residncia do Dr. Artur de Melo Freitas e sua famlia.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 43

    Dez anos depois (2001), o nmero de aguedenses volta a aumentar para 49.041, mas o

    sector primrio continua em declnio, com apenas 501 indivduos. Por sua vez, o sector

    secundrio aumentou ligeiramente para 14.297, bem como o tercirio para 9.087.

    Estes valores19 evidenciam, claramente, uma mudana na sociedade, que se afasta do

    campo (e do rio) para se aproximar da indstrias e dos servios em constante

    desenvolvimento.

    Um pouco mais tarde, um plano de pormenor da baixa previa um arranjo urbanstico

    para a Largo 1 Maio (margem Norte do rio, a Este da ponte) (Figura 20) que foi

    executado com a inteno de criar um espao pblico de qualidade que satisfizesse as

    necessidades de lazer dos habitantes desta cidade. Assim, em 2002 o novo Largo foi

    inaugurado.

    Com o passar dos anos gueda foi crescendo com limites pouco claros e de forma

    dispersa, perdendo o seu carisma. Hoje chega at ns uma cidade dividida, cujos

    prprios habitantes muitas vezes desvalorizam. A populao chegou mesmo a diminuir

    nestes ltimos dez anos, em cerca de 1.224 indivduos.

    notria uma vontade crescente de inverter este panorama actual, embora tal no

    seja per si suficiente. preciso avaliar e ponderar bem as propostas actualmente em

    fase de deciso e execuo para que, de facto, sejam eficazes e regeneradoras, de

    forma a reposicionar gueda no pas.

    1.3. Desporto

    Em 1933 a Carta de Atenas referia j a importncia de cultivar o corpo (e tambm o

    esprito) como uma das funes bsicas a ter em conta para o bom funcionamento de

    uma cidade, uma vez que esta o reflexo dos seus habitantes. Hoje, mais do que

    nunca, se incentiva e valoriza a prtica desportiva regular, a vida ao ar livre e o

    contacto com a Natureza, pelos benefcios que representam para a sade fsica e

    mental de cada um de ns.

    A ligao intensa de gueda com o rio no esteve apenas relacionada com o comrcio.

    O desporto, ao contrrio do comrcio, no se extinguiu com o passar dos tempos; o

    gosto e a dedicao cresceram, mantendo-se at aos dias de hoje.

    19

    Instituto Nacional de Estatstica Dezembro 2011.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 44

    Figura 20 - Largo 1 Maio.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 45

    Aproveitando a gua que se acumulava na represa da Nora, o rio gueda teve desde

    sempre muitos adeptos de natao (Figura 21). Inicialmente a modalidade era

    praticada em piscinas de madeira, pertencentes ao Recreio Desportivo de gueda, que

    em Outubro eram retiradas para evitar que as cheias as destrussem.

    Mas no foi apenas a natao que apaixonou os aguedenses. Ainda na dcada de 70,

    gueda viu as primeiras canoas na gua, criando campees nacionais de canoagem e

    enraizando esta modalidade na cidade at actualidade (Figura 22).

    Simultaneamente, o futebol foi, e ainda , uma modalidade bastante praticada, tendo

    sido realizado um Plano de Urbanizao da 1 Zona Desportiva de gueda (ver anexo

    II), ainda em 1970, mas que no chegou a ser construdo com exactido. Este Plano

    contemplava um campo para a prtica de futebol, com previso de uma pista de

    atletismo e adaptao do recinto prtica de outras modalidades. Esta zona

    desportiva apresentava uma capacidade de 5.000 espectadores e 500 lugares de

    estacionamento. Localizava-se prxima do rio e do centro, na Borralha, prevendo-se a

    construo futura de novas instalaes desportivas fluviais.

    Importa referir tambm o Ginsio Clube de gueda (Figura 23), localizado na zona

    baixa da cidade, contribuindo para delimitar o Largo 1 de Maio. A sua construo foi

    iniciada em 1981 e, neste pavilho, praticam-se vrias modalidades, como por

    exemplo: tnis de mesa, atletismo, ginstica, canoagem ou basquetebol.

    Em 1984, devido constante paixo pela natao, surge uma nova piscina j adaptada

    a gua quente e no centro da cidade, tornando-se na piscina municipal a 12 Junho de

    1989.

    Tendo em conta a grande dinmica da cidade, em 1990 constituiu-se mais uma

    associao desportiva, o Clube Tnis de gueda, situando-se mesmo ao lado do campo

    de futebol (mais tarde Estdio), prximo da linha do rio, de campos agrcolas e do

    Palcio da Borralha (Figura 24).

    J em 2003 iniciou-se a construo do estdio Municipal (Figura 25) aproximadamente

    na mesma rea do Plano de Urbanizao anteriormente referido, com capacidade para

    10.000 pessoas.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 46

    Figura 21 - Equipa de nadadores do Sport Algs e Recreio Desportivo de gueda Campees de Aveiro, 1950.

    Figura 22 - Equipa de canoagem do Recreio desportivo de gueda, 1984.

    Figura 23 - GICA Ginsio Clube de gueda, Janeiro 2011.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 47

    Recentemente tem-se verificado um aumento do uso da bicicleta na cidade, embora

    numa vertente mais desportiva e no tanto relacionada com lazer/passeio ou meio de

    transporte dirio. Mas esta nunca esteve totalmente em desuso, uma vez que faz

    parte da histria da cidade e desde cedo, mais cedo que em qualquer outra parte do

    pas, se andava de bicicleta em gueda.

    Para incentivar esta prtica to saudvel e amiga do ambiente, a Cmara Municipal

    colocou dez bicicletas elctricas disposio dos muncipes, no mbito do projecto-

    piloto designado begueda. Esta iniciativa j um indicador do incentivo ao uso de

    meios de transporte alternativos que se traduz na melhoria da qualidade ambiental

    vivida na cidade.

    Actualmente, existem 36 associaes desportivas em gueda, o que revela uma

    grande conscincia por parte dos seus habitantes relativamente importncia que a

    actividade fsica tem para o bem-estar de cada indivduo, aumentando a qualidade de

    vida da populao e da cidade em geral.

    1.4. Indstria

    Depois do ritmo da cidade ter sido alterado devido industrializao, gueda passa a

    revelar um futuro promissor neste novo campo de actividade. Com o passar dos anos,

    tornou-se fortemente industrial, especializando-se em sectores que ainda hoje so

    conhecidos, quer por pessoas que aqui passavam a caminho do Porto ou Lisboa, quer

    pelos seus habitantes, quer pela antiga ou actual concorrncia no resto do Pas.

    Todo o processo de industrializao marcou fortemente a cidade, desenhando-lhe um

    novo perfil, uma nova caracterstica. No entanto, o que a fervorosa EN n1 e as trocas

    comerciais no rio davam cidade, a era industrial retirou: oportunidades de encontro

    e convvio, movimento, cor A vida agitada na baixa da cidade, mesmo que a uma

    escala reduzida, concentrava e atraa a populao pelos mais diversos motivos. Com o

    fim das trocas comerciais pelo rio, um novo modo de vida comeava na cidade que se

    dispersou pelo terreno, perdendo hbitos sociais importantes.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 48

    Figura 24 - Palcio da Borralha.

    Figura 25 Estdio Municipal de gueda, Borralha. Ao fundo, os campos de tnis.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 49

    Para onde fugiu o peixe do rio gueda, que era o ganha po de tanta gente? Onde

    esto os antigos barqueiros e os seus barcos que aos vinte e aos trinta, velas brancas

    inchadas ao vento, coalhavam o nosso rio?

    Que feito das antigas Cambas e guelrichos dos nossos pescadores que j no se

    vem a enxugar no areal? Para onde de deslocou todo aquele movimento de

    transportes e mercadorias, que tornava gueda to rica e comercial?

    Tudo morreu. Nada vemos agora, que nos lembre a vida daqueles tempos, to lindos e

    to alegres! 20

    A indstria em gueda surge ainda em 1880, com uma fbrica de cermica (Figura 26).

    Tambm desde cedo se verifica a tendncia para o fabrico de ferragens (Figura 27) e

    para a construo civil.

    At dcada de 30, e ainda durante o perodo entre guerras, as ferragens continuaram

    a estar relacionadas com a indstria local, surgindo em 1937 a FRAL Ferragens

    Unidas de gueda constituda por dez industriais locais que se juntaram com a

    finalidade de promover e expandir os seus produtos.

    Sobretudo a partir do ps-guerra e at aos anos 70, outras actividades ligadas ao

    mesmo sector (metalomecnico) comearam a surgir, como foi o caso da indstria de

    duas rodas.

    gueda tornou-se pioneira em Portugal no fabrico da bicicleta (montagem e fabrico) e

    um pouco mais tarde surgiu tambm a motorizada, sendo que o crescimento e

    expanso deste tipo de indstria atingiu o seu expoente mximo na dcada de 50. Os

    aguedenses desfrutaram da bicicleta mais cedo que o resto do pas, utilizando-a com

    bastante frequncia e aprofundando os seus conhecimentos.

    Durante os anos 70 a diversificao no fabrico dos produtos cada vez maior:

    aparelhos elctricos, mobilirio metlico e prestao de servios industriais cada vez

    mais especializados tornearia, fundio, moldes e serralharia mecnica.

    Ainda na dcada de 70 surgem dois importantes agentes colectivos que contriburam

    para o desenvolvimento e dinamismo da indstria local: a Associao Industrial de

    20

    GRAA, Serafim Soares gueda Antiga, 1988, p.46.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 50

    Figura 26 - Fbrica de cermica, fundada em 1914.

    Figura 27 - Fbrica de ferragens, fundada em 1924.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 51

    gueda (fundada em 1974) e a Associao Nacional das Indstrias de Duas Rodas,

    Ferragens, Mobilirio e afins (fundada no ano de 1976).

    () sente-se ali uma atmosfera industrial caracterstica duma fase de crescimento dito

    auto-sustentadono surpreende pois que, em 1973, a indstria mecnica de gueda

    permanea invulnervel conjuntura econmica nacional, s guerras coloniais e

    emigrao.21

    A crise atinge a indstria das duas rodas durante os anos 80 e 90, com a liberalizao

    do uso do automvel. Devido sua importncia na cidade, e tambm no pas, esta

    alterao da conjuntura afectou a economia do concelho.

    No ano de 2001 notria uma diminuio do peso geral da indstria na cidade, uma

    vez que uma quantidade significativa de mo-de-obra se transferiu para o sector

    tercirio. Por sua vez, o sector primrio passou a padecer do mesmo problema.

    Com o passar dos anos, possvel verificar que se formou na cidade uma rede de

    empresas de pequena e mdia dimenso, que se especializou no sector

    metalomecnico, desenvolvendo na cidade um carcter fortemente industrial.

    tambm caracterstico de gueda o facto de quase todos os empresrios serem de

    origem local. Na maioria dos casos foram ex-empregados que, depois de terem

    adquirido os conhecimentos necessrios in situ ou, muitas das vezes, a partir da antiga

    Escola Industrial de gueda, decidiram criar as suas prprias empresas.

    Conhecida por muitos como a capital das duas rodas, gueda precisa de valorizar as

    suas memrias antigas, que basicamente se cingem indstria das ferragens e das

    bicicletas. Este o grande potencial para impulsionar a cidade e vice-versa.

    A indstria desenhou esta cidade de forte logstica e expanso industrial, de acessos

    privilegiados sobretudo a Aveiro, Porto e Espanha. O IP5 potencializa a

    internacionalizao, Aveiro est a cerca de 20 minutos de distncia e o Porto

    representa o incio de um corredor industrial fortssimo que termina em gueda.

    Todo este carcter industrial , em grande parte, responsvel pela cidade que Hoje

    conhecemos, fazendo parte do seu passado, presente e futuro.

    21

    CRUZ, Raul da Industrializao em Meio Rural: o Caso de gueda, 1987, p.48.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 52

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 53

    1.5. gueda Hoje - Retracto actual da rea de interveno

    O rio, em tempos o principal motor de gueda, com capacidade para movimentar e

    impulsionar a cidade, j no o mesmo (Figura 28). Por ele passam apenas as canoas

    desportivas (Figura 29) e alguns olhos contemplativos, em dias de sol, cativados pelo

    brilho e reflexos na gua. As suas margens j no se alimentam dele, parecendo quase

    dispensvel a sua presena nesta cidade.

    gueda perdeu a sua identidade e no conseguiu desenvolver um novo conjunto de

    referncias, capazes de gerar de novo uma simbiose entre os seus habitantes e a

    cidade.

    A individualizao da vida urbana provoca tambm uma crise na concepo e no

    funcionamento dos equipamentos e servios pblicos. 22

    A industrializao, sobretudo, levou a vida comercial do rio ao fim e trouxe consigo

    uma nova maneira de estar e de sentir a cidade. As pessoas fecharam-se nas suas

    casas e locais de trabalho, no saindo rua para conviver/passear, como outrora. Era

    importante que a cidade tivesse sido capaz de acompanhar esta fase de transio e

    mudana no estilo de vida da sociedade em geral. No tendo conseguido adaptar-se, a

    descoberta e vivncia do espao pblico e do encontro social foi-se desvanecendo da

    memria de todos.

    gueda no tem monumentos, nem pontos de interesse particularmente marcantes, e

    a bicentralidade (Figura 30 e Figura 31), criada atravs dos anos, contribuiu apenas

    para este alienamento da populao, que no se sente em "casa, nem constri

    memrias de um espao que de todos. No entanto, e como refere Nuno Portas,

    Qualquer cidade tem elementos caractersticos que no so necessariamente

    considerados como patrimnio nacional mas que so importantes porque atravs

    deles que o cidado frequentemente a identifica como a sua terra. 23 So esses

    elementos que a cidade foi deixando camuflar e que agora precisam de ser

    redescobertos, ou reinventados luz dos novos usos, e hbitos de consumo ou

    usufruto.

    22

    ASCHER, Franois Novos Princpios do Urbanismo; seguido de Novos compromissos urbanos: um lxico, 2010 (2001), p.69. 23

    PORTAS, Nuno Os tempos das formas: A cidade feita e refeita, 2005, p. 160.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 54

    Figura 28 - Margens ribeirinhas de gueda, 2011.

    Figura 29 - Canoagem no rio gueda.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 55

    As geraes mais antigas parecem ser as nicas com alguma proximidade emocional

    em relao baixa ribeirinha, e as que mais se acercam do rio com alguma

    regularidade, simplesmente para o contemplar ou pescar. Com geraes mais novas,

    essas memrias so poucas e insuficientemente fortes para os manter na cidade ao

    longo dos anos.

    No entanto, o rio e as suas margens expostas ao sol so, per si,um chamariz, capaz

    de reunir pessoas de todas as idades em ocasies meramente pontuais: festivais, feiras

    ou campeonatos de canoagem.

    A cidade e a sua frente de gua tornam-se os cenrios do espectculo ou do evento

    ocasional, frequentemente assinalados como pretextos e motores de grandes projectos

    urbanos() 24

    A margem sul apresenta uma linha forte de rvores de grande porte beira rio, mas

    nada mais a embeleza; existem apenas algumas habitaes, quase todas voltadas de

    costas para a baixinha e sem grande relevncia, excepo da Casa da Ponte

    (sculos XVII- XVIII) que apesar de escondida pelo arvoredo do lado do rio, revela a sua

    imponncia assim que se comea a cruz-lo (Figura 32).

    Por sua vez, a margem norte apresenta-se mais alegre, com a sua frente ribeirinha

    composta por habitaes com algum comrcio nos pisos trreos (sem grande

    afluncia) e alguns servios. Existem ainda duas antigas empresas a oeste da ponte

    que, juntamente com o Instituto da Vinha e do Vinha parecem criar um limite visual da

    Baixa, uma vez que logo de seguida a estrada se afasta do rio.

    No final de 2010 iniciaram-se obras nesse extremo da margem norte, que vo desde o

    Instituto da Vinha e do Vinho at Praa da Repblica. Esta foi uma iniciativa louvvel

    da Cmara Municipal, numa tentativa de requalificar e revalorizar esta zona

    privilegiada pela gua, exposio solar e acessibilidades. As obras consistiram num

    redesenho de pavimentos de todo o espao pblico da zona, contemplando a

    requalificao de alguns jardins j existentes. O projecto parece querer valorizar o

    peo, mas to homogneo (em materiais e cor) que por vezes se torna imperceptvel

    24

    PORTAS, Nuno gua: Cidades e Frentes de gua, mostra de projectos de reconverso urbana em frentes de gua, p.31.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 56

    Figura 30 - Rua Lus de Cames centro histrico.

    Figura 31 - Av. Eugnio Ribeiro centro de servios cota alta.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 57

    e pouco claro. Num olhar rpido sobre a rea, chega a ser confuso perceber que

    espaos pertencem a quem (peo/automvel) e para qu! (Figura 33) Apesar de tudo

    isto, alguns habitantes j mostram vontade de se aproximar do rio e disfrutar do novo

    espao da cidade.

    Apesar da rea de interveno do referido projecto abranger a rea em redor do

    Instituto da Vinha e do Vinho (Figura 34), este no foi ainda alvo de requalificao. No

    entanto, em Outubro do corrente ano j foi palco improvisado para um Festival.

    Um pouco mais acima, o Parque da Alta Vila revela a sua grande copa verde cidade,

    embora se mantenha sem grande movimento ou interesse. Localizado numa zona

    muito central, cuja diferena de cotas facilmente se vence a p, o parque pouco

    convidativo, criando a iluso de que de difcil percurso e que est apartado da

    cidade, apesar de situado no seu cerne, entre o rio e a nova centralidade cota alta.

    O Largo 1 de Maio (Figura 35) que, no fundo, remata a nascente a baixa, um espao

    vazio, sem a fora necessria para ser confortvel e atractivo, e que apenas se enche

    de gente em momentos pontuais, aquando da promoo de eventos por parte da

    Cmara Municipal. De uma forma frequente, apenas atravessado por jovens que

    transportam as suas canoas desde o pavilho desportivo ao fundo da praa at ao rio

    que parecem no desanimar com a falta de instalaes qualificadas para as respectivas

    modalidades aquticas.

    Relativamente ao pequeno plo desportivo que acabou por se gerar na Borralha, a

    poucos minutos da baixa da cidade, os acessos so algo precrios e pouco

    convidativos. O Estdio Municipal e o Clube de Tnis, apesar de se encontrarem a

    poucos metros de um dos poucos pontos verdadeiramente atraentes na proximidade

    do centro (Palcio da Borralha), a precariedade dos acessos afasta-os da zona central

    da cidade. Os acessos so apenas relativamente fceis de automvel, o que acaba por

    desvalorizar e encobrir estas instituies desportivas de grande parte dos habitantes.

    Note-se, no entanto, que apesar desta falta de abertura em relao ao centro, de que

    est to prximo, o Clube de Tnis e o Estdio funcionam em pleno.

    Recentemente foram desenvolvidos alguns percursos pedestres pela cidade, sendo

    que um deles, mais relevante para este caso, percorre o zona central de gueda,

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 58

    Figura 32 - Casa da Ponte.

    Figura 33 - Margem norte, Rua 5 de Outubro.

    Figura 34 - Instituto da Vinha e do Vinho, Rua 5 de Outubro.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 59

    comeando no Largo 1 de Maio. Este percurso segue ainda at ao Estdio Municipal,

    Clube de Tnis e Palcio da Borralha, o que traduz a necessidade de aproximar este

    espao do centro. No entanto, e apesar da boa iniciativa de criar percursos pedestres,

    estes so descaracterizados e pouco qualificados, passando despercebidos e acabando

    por no alcanar plenamente os seus objectivos.

    gueda parece ter perdido o elo de ligao com os seus 47.817 habitantes

    (aproximadamente), que j no se revem nela. Do passado apenas resta a Nora, que

    continua a ser recriada como smbolo da cidade em alguns eventos, criando um espao

    quase cnico e de memria da vida da gueda de outrora.

    As iniciativas da Cmara Municipal, com vista a alterar a actual situao da cidade so

    constantes, como por exemplo: seminrios/ciclos, que pretendem reunir cidados e

    profissionais para falar da cidade e acerca do que se poder fazer por ela; participao

    no programa Agenda 21; Festa do Leito (Figura 36), que j existe desde 1994 e j

    uma importante tradio anual; Agitgueda (Figura 37) com actividades de animao,

    espectculos e bares em Julho, no Largo 1 de Maio todos os anos; e algumas outras.

    1.6. gueda amanh

    importante referir algumas das iniciativas da Cmara Municipal, que retratam o

    desejo de mudana e de construir ou encontrar um novo carcter para renovar a

    cidade, uma vez que influenciam toda a estratgia de projecto pensada neste mbito

    para gueda. Apenas os projectos relevantes para o trabalho em questo so aqui

    explicados de forma resumida e, em alguns casos, acompanhados de uma breve

    crtica.

    1.6.1. Margem Sul CMA

    Este projecto (ver anexo III) abrange uma enorme rea da cidade que toca o rio em

    dois pontos na margem Sul: no Choupalinho, a caminho da Borralha, e desde a Ponte

    de gueda at direco do Instituto da Vinha e do Vinho. O seu desenho assemelha--

    se a um U que se estende para Sul da cidade, afastando-se do rio e,

    consequentemente, do ncleo histrico (Figura 38).

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 60

    Figura 35 - Largo 1 de Maio, anfiteatro ao ar livre.

    Figura 36 - Festa do leito Bairrada, no Largo 1 de Maio.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 61

    Consiste num grande corredor verde, repleto de reas destinadas ao desporto e ao

    lazer, para desfrutar da Natureza. Inclui ainda zonas de estacionamento e uma rea

    destinada restaurao, no futuro. O projecto prev tambm alguns miradouros

    direccionados para a margem Norte a Este da Ponte e ainda duas travessias pedonais

    que permitem a ligao entre as duas margens.

    Este grande U apresenta ainda uma grande linha, a meio, que se liga ao rio nos dois

    extremos. Actualmente o projecto designa-a como rio de flores mas a ideia que se

    torne num brao de gua vinda do rio e que circule ao longo do parque, circundando o

    ncleo ribeirinho a Sul.

    Resumidamente, nisto que consiste o projecto ainda em estudo para a margem sul

    do rio. Ao analis-lo, depressa me apercebi de vrias fragilidades, pelo que estimulou a

    minha vontade de formular uma proposta nova para esta margem.

    Parece-me que o movimento definido por este grande parque deveria ser no sentido

    oposto, acompanhando a linha do rio. Em vez disso, afasta-se de uma rea importante

    do centro da cidade - o que poderia ser um factor para cativar e incentivar o uso

    constante do mesmo.

    Este grande parque, sem dvida ambicioso, esconde-se do centro evoluindo para uma

    zona distante, sem vida e rodeada de estradas e ns rodovirios de acesso cidade.

    Apresenta um programa fundamentalmente desportivo mas no contempla sequer o

    contacto visual com o GICA. Desta forma, no explora a relao, partida favorvel,

    com um espao desportivo centenrio, enraizado na cultura e no dia-a-dia da cidade, e

    que se encontra actualmente em renovao.

    Alm disso, a rea transformada pelo plano desmesurada para a cidade, agravada

    pela actual situao dos novos constrangimentos de gesto. De facto, no

    apresentada qualquer tipo de estratgia que seja verdadeiramente capaz de

    promover, cativar e/ou dinamizar um parque desta dimenso.

    O projecto admirvel pela ousadia que revela, mas descuida o tratamento de reas

    importantes para o desenvolvimento social e urbano de gueda. Chega a parecer que

    este projecto no foi pensado para gueda e para o seu contexto social actual porque

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 62

    Figura 37 - Agitgueda, no Largo 1 de Maio.

    Figura 38 - Limite Sul da rea de interveno do projecto da Cmara Municipal de gueda.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 63

    realmente necessrio perceber que cada cidade coloca () problemas de urbanismo

    muito diferentes e necessitam de solues adaptadas a contextos variados. 25

    Uma vez que os habitantes de gueda no possuem, na generalidade, hbitos sociais

    dirios relacionados com momentos de convvio, lazer, ou interaco com e no espao

    pblico, de um modo em geral, parece um pouco descabida a dimenso/investimento

    e o afastamento do parque em relao a uma das zonas com maior capacidade de

    atrair pessoas.

    Convm ainda referir que apesar de o projecto se encontrar numa fase de estudo,

    grande parte das expropriaes j foram oficializadas de forma a disponibilizar

    terreno, o que refora a dimenso da oportunidade criada.

    1.6.2. Recuperao do Parque da Alta Vila

    Parque da Alta Vila - um parque no centro da cidade praticamente ao abandono,

    desprezado. este o cenrio que se deseja contrariar com um novo projecto que

    ambiciona reforar a expresso dos espaos verdes ou com significativa expresso

    natural (Figura 39).

    Nestes 3,2 hectares de espao fortemente arborizado por espcies exticas (Figura

    40), a rede de percursos ser reduzida e requalificada. Existe ainda em projecto (ver

    anexo IV) a inteno de abrir um acesso pelo extremo sul que, actualmente, consiste

    apenas num tmido rasgo no muro do Parque. A inteno de definir e assumir este

    rasgo como uma entrada no parque permite sobretudo lig-lo facilmente antiga

    Junta dos Vinhos que espreita, assim que se franqueiam os enormes muros do

    Parque da Alta Vila. Neste projecto anuncia a vontade de, atravs do parque,

    aproximar a antiga vila alta da cota baixa da cidade.

    O acesso existente a Norte, localizado exactamente no extremo oposto, manter-se- e

    com o novo acesso a Sul, o Parque da Alta Vila poder abrir-se cidade, passando a

    fazer parte do quotidiano da populao.

    25

    ASCHER, Franois Novos Princpios do Urbanismo; seguido de Novos compromissos urbanos: um lxico, 2010 (2001), p.105.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 64

    Figura 39 - Parque da Alta Vila, acesso Norte.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 65

    1.6.3. Regenerao Urbana - A cidade como Palco de Inovao

    A Cmara Municipal apresenta, em parceria com mais nove entidades, doze projectos

    que pretendem valorizar a cidade. Consiste num plano verdadeiramente ousado cujo

    investimento atinge os cerca de oito milhes de euros. Pretende qualificar os espaos

    pblicos e melhorar as condies de vida, gerando competitividade econmica. Os

    objectivos a atingir so claros, mas no um caminho fcil, ou rpido.

    Os projectos apresentam programas diversificados e espalham-se pela zona central da

    cidade, na margem norte do rio. Muitos deles no so relevantes para o entendimento

    e fundamentao desta dissertao e, por isso mesmo, explicarei apenas aqueles que

    de facto interagem com o tema em estudo e, se for caso disso, nomearei algumas

    caractersticas relevantes dos mesmos.

    1.6.3.1 Incubadora Cultural de gueda e Movimentos de Arte

    No Parque da Alta Vila h ainda a inteno de criar um espao para alojar artistas das

    mais distintas reas, de uma forma gratuita. O objectivo ser o de criar um lugar de

    residncia de artistas em trnsito (ver anexo V e V.I). Em troca, a cidade receber

    novas experincias e o acesso aos mais diversos tipos de arte, no cerne da cidade.

    A aplicao deste conceito permitir atrair novas pessoas cidade, mesmo que em

    estadias de curta durao, e os prprios habitantes tm a possibilidade de usufruir

    constantemente de exposies e performances que favorecem a oportunidade de

    encontro social.

    O projecto26 que recentemente ganhou o concurso para a sua instalao encosta-se ao

    limite do parque, cota mais elevada, e ocupa ainda duas das construes pr-

    existentes (Figura 41 e Figura 42). A ideia a de que o novo e o velho se juntem numa

    tentativa de conferir uma nova dinmica e energia a todo o Parque que, sua cota

    mais baixa, se aproxima (como j foi referido) das margens do rio.

    Devo referir que me parece um pouco agressivo o modo como se desenha o novo

    edifcio e a sua relao com o parque. Penso que este tipo de programa, certamente

    interessante, no necessitaria de um edifcio construdo de raiz para este propsito.

    26

    Projecto da autoria da Habitar.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 66

    Figura 40 - Parque da Alta Vila.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 67

    No entanto, um compromisso camarrio que aqui respeitado e integrado na

    estratgia para a cidade.

    1.6.3.2 Requalificao Largo 1 de Maio

    O projecto em desenvolvimento pela Cmara Municipal de gueda para o Largo 1 de

    Maio consiste sobretudo na criao e requalificao de uma rea de lazer, agora com a

    introduo de bares/restaurantes e respectivas reas de esplanada, com o objectivo

    de criar uma relao de utilizao e interaco mais intensa com o rio (ver anexo VI).

    O elemento grfico mais recente define a inteno de demolir o anfiteatro ao ar livre,

    bem como o actual parque infantil. Por sua vez, surgem algumas zonas verdes que

    intercalam com os decks e os cubos de granito do pavimento.

    Os bares localizam-se na zona Este do Largo, voltando as costas para a estrada que o

    delimita e, no centro, liberta-se uma grande rea vazia, possivelmente desenhada a

    pensar em eventos como o Agitgueda que aqui acontecem anualmente.

    A inteno de aproveitar toda esta praa para uma rea de lazer virada para o rio e

    para o sol, parece adequada e necessria.

    No entanto, a relao com o resto da cidade permanece comprometida sobretudo

    pelo facto de a margem sul, que lhe serve de cenrio de fundo, no estar contemplada

    neste ou em qualquer outro projecto. preciso ter em mente que () a cidade

    como um sistema de vasos comunicantes em que o que se faz ou deixa de fazer num

    lado influencia ou condiciona o que acontece noutro lado. 27

    Apesar de ser um Largo sem acontecimentos ou movimento dirio relevante, a maioria

    dos habitantes adere j com facilidade aos programas e eventos ali realizados. Apesar

    disso, ainda necessrio agregar este largo ao resto da cidade, num projecto global

    capaz de atrair diariamente as pessoas. No entanto, o projecto apresentado oferece

    uma soluo isolada e pontual, mantendo claramente o carcter de isolamento desta

    grande rea urbana central.

    Podemos questionar se os bares, s por si, sero capazes de cativar a populao dia

    aps dia, uma vez que nada mais acontecer neste espao. Com a excepo de alguns

    27

    PORTAS, Nuno Os tempos das formas: A cidade feita e refeita, 2005, p. 165.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 68

    Figura 41 - Parque da Alta Vila - Alado Norte existente.

    Figura 42 - Parque Parque da Alta Vila - Alado Sul existente.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 69

    dias nos meses de Julho (Agitgueda) e Setembro (Feira do Leito), em que o largo se

    enche de gente e os bares podero ser uma efectiva mais-valia, o projecto no revela

    qualquer movimento ou inteno de ligao com a cidade envolvente, capaz de levar

    as pessoas at l.

    1.6.3.3 Espao Multifunes

    Este projecto consiste numa ampliao e requalificao das instalaes do centenrio

    Clube GICA (ver anexo VII e Figura 43). As obras j esto a decorrer e o resultado ser

    um espao multifuncional, confortvel e com as melhores condies, capaz de receber

    vrias modalidades a nvel nacional e, em alguns casos, mesmo a nvel mundial.

    Este projecto e o do Largo 1 de Maio conjugam-se, na tentativa de regenerar a baixa

    da cidade, aumentando a probabilidade de sucesso do programa de regenerao

    urbana. No entanto, considero que a ligao com o rio e, sobretudo com a margem sul,

    deveria ser mais explorada para que toda a zona, a Este da baixa da cidade, fosse mais

    atractiva, consistente e funcional.

    1.6.3.4 Programa do desporto e bem-estar

    Combater o sedentarismo, motivar e incentivar o desporto sero condies cada vez

    mais fundamentais para a estabilizao de uma populao saudvel a todos os nveis.

    Assim, pretende-se criar programas e eventos, em conjunto com associaes

    desportivas locais, para integrar a actividade fsica no dia-a-dia de todos os aguedenses

    (mulheres, idosos, crianas, portadores de deficincias). Naturalmente, no bastam

    os eventos programados e os espaos urbanos tero de ser devidamente preparados e

    equipados para que tudo possa de facto acontecer.

    Estes so alguns dos projectos da Cmara Municipal para gueda. Importa clarificar

    que o diversificado leque de programas , partida, um ponto forte para a cidade,

    porque, como nos ensina Ascher, Com efeito, os espaos monofuncionais e

    monossociais revelam grande fragilidade face s evolues, enquanto, sendo

    multifuncionais e multissociais, apresentam capacidades de resistncia e de

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 70

    Figura 43 - Ginsio Clube de gueda, temporariamente inutilizvel devido s obras de requalificao e

    ampliao.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 71

    reconverso. 28. No entanto, necessrio mais do que definir novos programas ou

    requalificar espaos avulso; necessrio desenvolver uma estratgia capaz de agrupar

    esses programas convenientes cidade, cosendo-os quer pela proximidade, quer pela

    sua inter-relao e articulao em diversidade ou acessibilidade e praticabilidade

    alargadas.

    Adicionalmente, fundamental interpretar ()as frentes de gua como plos de

    atraco com um sentido de conjunto, contendo diversas funes() recuperando

    ()edifcios antigos para conter novos programas representativos de novas formas

    de habitar estes locais (..)29, com vista a activar e dinamizar toda a rea envolvente. O

    rio, como catalisador pode precipitar facilmente a convergncia de todas as demais

    intenes de projecto.

    28

    ASCHER, Franois, Metapolis; Acerca do Futuro da Cidade, 1998, p.116. 29

    PORTAS, Nuno gua: Cidades e Frentes de gua, mostra de projectos de reconverso urbana em frentes de gua,p.76.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 72

    Figura 44 - Aula de spinning no Largo 1 de Maio, durante o Agitgueda.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 73

    2. A Ideia

    urgente alterar o ritmo da cidade e as suas rotinas. Apesar de ser uma cidade com

    um ncleo central muito pequeno, os seus habitantes no tm por hbito circular a p

    pela cidade, uma vez que esta no , de forma alguma, convidativa a tal actividade.

    Embora algumas ruas tenham j um carcter predominantemente pedonal, so

    utilizadas apenas como local de passagem eventual, pois a falta de coeso com o resto

    da cidade no permitiu que passassem a ser ruas apelativas e com qualidade suficiente

    para atrair o comrcio e reforar a habitao. Assim, esta zona serve apenas de

    momento de passagem, onde se aproveita para encostar o carro e ir simplesmente

    farmcia ou padaria.

    Desta forma, e no encontrando motivos para efectivamente disfrutar de algum

    tempo de qualidade na cidade, a populao no chega a criar laos afectivos fortes

    com esta cidade de gueda renovada. preciso andar na cidade para a conhecer, para

    gostar de um espao e no de outro, para encontrar conhecidos ou desconhecidos,

    para ganhar familiaridade com os espaos e sentir o conforto urbano.

    Quando o corao urbano pra ou se deteriora, a cidade, enquanto conjunto de

    relaes sociais, comea a sofrer: as pessoas que deveriam se encontrar deixam de

    faz-lo, em virtude da falta de actividade do centro. 30

    O desafio est em conseguir esta reaproximao da populao com gueda; em criar

    condies que gritem motivos para que as pessoas saiam de casa para desfrutar da

    cidade.

    2.1 rea e Estratgia

    As categorias que estavam antes no cerne da concepo das cidades devem, assim,

    ser revisitadas para serem actualizadas ou postas em causa. 31

    Um centro histrico esmorecido, um rio, alguns espaos descaracterizados e

    vaziosEm suma, com isto que se pretende jogar positivamente em prol da cidade,

    30

    JACOBS, Jane Morte e Vida das Grandes Cidades, 2003, p. 181 31

    ASCHER, Franois Novos Princpios do Urbanismo; seguido de Novos compromissos urbanos: um lxico, 2010 (2001), p.78.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 74

    Figura 45 - Margem Norte vista da ponte sobre o rio antiga EN n1

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 75

    fazendo-a reaparecer e encontrar-se no tempo.

    A zona ribeirinha foi a eleita para recentrar gueda, uma vez que o seu potencial

    representa, em grande parte, a possibilidade de concretizar os objectivos j

    mencionados, recentrando a condio urbana em torno do rio, onde j se situam

    alguns dos principais projectos e investimentos. O contacto imediato com a Natureza

    (rio, Parque da Alta Vila, forte presena de vegetao ripcola a Sul e de uma antiga e

    importante rea agrcola); a franca exposio solar; a presena de grande parte da

    histria e memrias da cidade (EN n1, toda a margem Norte cota baixa e a Casa da

    Ponte); a rapidez de acesso cota alta da cidade onde se encontra a Cmara Municipal

    e os outros servios; a sua localizao dentro da prpria cidade e os espaos de

    abandono, no-lugares, to prximos da linha do rio, so, sem dvida, os principais

    factores que tornam esta rea propcia ao desenvolvimento de um projecto urbano

    estratgico.

    Fazer cidade hoje , em primeiro lugar, fazer cidade sobre a cidade, fazer centros

    sobre centros, criar novas centralidades e eixos articuladores que dem continuidade

    fsica e simblica, estabelecendo bons compromissos entre o tecido histrico e o novo,

    favorecendo a mistura social e funcional em todas as suas reas.32

    Esta proposta encontrou os seus limites a partir de pontos singulares da prpria

    cidade. A rea foi sendo circunscrita a Este pelo eixo rodovirio existente, N333 (Figura

    46); a Oeste, pelo trio de antigas empresas que marcam, tambm, o fim da zona

    abrangida pelas intenes recentemente realizadas na respectiva margem

    Figura 47); a Norte, pelo Parque da Alta Vila a uma cota mais elevada; e a Sul pela

    estrada que interrompe uma zona agrcola. Estes foram os factores existentes que

    serviram de ncora e a partir dos quais se fechou o permetro da zona a revitalizar.

    Existem, no entanto, outros bastantes relevantes pela sua proximidade, pelos

    programas e pela atraco diria, como so os casos da Biblioteca Municipal, Tribunal

    e GICA. Pretende-se que a rea em estudo represente um plo estratgico, com um

    permetro e intenes bem definidas, mas que no rejeite futuras evolues.

    32

    BORJA, Jordi Fazer cidade na cidade Actual - Centros e espaos pblicos como oportunidades. In BRANDO, P. [et al] - O espao Pblico e a Interdisciplinaridade, 2000, p. 87.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 76

    Figura 46 - Eixo rodovirio N333, delimitando o Largo 1 de Maio.

    Figura 47 - Edifcios industriais que, juntamente com Instituto da Vinha e do Vinho, rematam a Poente a

    rea de interveno. Ao fundo, o Parque da Alta Vila

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 77

    O que se deseja neste momento que esta grande e nova cintura, que envolve parte

    da cidade e do rio, rena condies necessrias para que se torne catalisadora, ou

    seja, que promova e acelere uma nova reaco da populao, uma nova forma de

    sentir e viver em gueda.

    Esta linha que define a rea da proposta no constitui uma barreira na cidade mas um

    plo de concentrao de actividades e servios, recentrando gueda e revalorizando

    uma rea com enorme potencial, que faz parte da sua histria. Consequentemente, a

    afluncia a esta zona ser mais intensa, constante e com finalidades variadas,

    propiciando momentos de encontro social, uma vez que a dinmica da urbanizao

    est ligada ao potencial de interaces que as cidades oferecem, sua urbanidade,

    isto , ao poder multiforme que gera o reagrupamento de grandes quantidades de

    populao num mesmo lugar.33

    A proximidade da respectiva rea com a cota alta da cidade onde se encontram

    diversos tipos de servios bem como a Cmara Municipal, o Hospital, a Escola Superior

    e uma das escolas secundrias da cidade, foi um factor a valorizar neste projecto.

    Facilmente se pode vir a p at Baixa da cidade e esta proximidade uma mais-valia

    para promover a atractividade e afluncia ao local.

    2.1.1 Plo Desportivo - Borralha

    No mesmo sentido, importa referir o plo desportivo na Borralha (Figura 48), e

    tambm o Palcio local, onde actualmente se realizam eventos e festas. Se nos

    colocarmos na margem Sul do rio, na rea da proposta de interveno, e seguirmos a

    linha do rio em direco a Este, rapidamente chegamos ao Estdio Municipal, ao

    Palcio e ao Clube de Tnis, desfrutando de um percurso sempre marcado pela gua e,

    mais frente, tambm por uma vasta zona intensamente arborizada. No entanto, a

    realidade outra, este percurso aqui descrito no existe efectivamente e os acessos

    actuais no so minimamente convidativos, muito menos para o peo. Aproximar

    visualmente este plo j existente da Baixa da cidade, ser importante para ambos os

    sectores urbanos.

    33

    ASCHER, Franois Novos Princpios do Urbanismo; seguido de Novos compromissos urbanos: um lxico, 2010 (2001), p.21

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 78

    Figura 48 - 1. Zona central de gueda. 2. Plo desportivo, Borralha.

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    Para isso, necessrio comear por recentrar a cidade unindo as duas margens e

    revitalizando o seu centro histrico.

    Logicamente, promover a comunicao entre o centro da cidade e o seu polo

    desportivo (na Borralha) intensificar a afluncia a qualquer um destes pontos, que se

    tornaro mais atractivos, quer pela acessibilidade, quer pela promoo da

    interactividade entre as diversas actividades e servios. Esta aproximao beneficiaria

    os desportos ali praticados, uma vez que qualquer criana ou jovem, que sai da escola,

    facilmente desceria a p pela cidade e atravessaria o rio para praticar tnis ou futebol.

    Ao mesmo tempo, a cidade beneficiaria de uma populao com hbitos mais saudveis

    e de um fluxo de pessoas mais intenso que, pelo seu percurso pedonal ou ciclvel,

    aumentaria as probabilidades de trocas comerciais ou de encontro social.

    Uma vez que a rea desta nossa proposta vai apenas at ao eixo rodovirio, a Este da

    baixa, no fica garantida a continuidade de um percurso at ao plo desportivo. No

    entanto, a partir dela, e avaliada a importncia desta relao, acredito que o prximo

    passo lgico o de prolongar este estudo de forma a promover as ligaes referidas. O

    novo ncleo de cidade que esta dissertao prope, certamente teria vantagens em se

    aproximar deste nicho desportivo j instalado e de ver os seus acessos mais

    qualificados, o que tambm incentivaria a procura de habitao proposta nesta rea,

    constituindo mais um ponto forte a seu favor.

    2.1.2 Parque da Alta Vila Margem Norte

    A estratgia engloba tambm o Parque da Alta Vila, que funciona como uma espcie

    de varanda sobre o rio. Como j foi referido, aqui que se vai inserir a Incubadora

    Cultural, com o propsito de revitalizar o parque, existindo tambm o projecto que

    requalifica toda a restante rea verde, de jardim ou parque urbano de proximidade.

    Este Parque representa um ponto importante na cidade, no apenas pelo contacto

    algo romntico com a Natureza (Figura 49), mas por ser um ponto mdio entre a rea

    central cota mais elevada da cidade e o contacto com o rio. Assim, no pode ser

    ignorado no pensamento estratgico, porque alm de fazer parte da histria urbana

    representa uma oportunidade, actualmente desaproveitada, que facilmente se

    identifica como parte do enorme potencial da cidade.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 80

    Figura 49 Limite do Parque da Alta Vila a poente, cota alta.

  • Cidade margem Reaproximar gueda ao rio Pgina 81

    Tal como no plo desportivo, tambm necessrio neste caso, criar permeabilidades

    que facilitem e apelem transio entre cotas, para que rapidamente sejamos capazes

    de percorrer a cidade passando por locais de carcter distinto; experienciando diversas

    sensaes. Torna-se pois uma importante prioridade devolver este parque aos

    habitantes ou visitantes da cidade, para que desfrutem da sua Natureza extica e do

    seu romantismo, nem que seja visto apenas como um local qualificado que permite a

    transposio de cotas de forma facilitada e agradvel. Alm disso, a insero da

    incubadora no parque mais um motivo para cativar a populao, servindo de ncora

    e luz de presena do mesmo.

    Assim, quer pela presena da incubadora, com as suas actividades constantes, ou por

    acessos facilitados para que o peo transite entre cotas e usufrua de espaos verdes,

    gera-se movimentao que atrai ainda mais pessoas. Umas pessoas porque vo ver

    uma exposio, outras porque vo dar um passeio ao fim de semana ou depois do

    trabalho, algumas crianas, porque a escola decide promover actividades no parque,

    ou ainda, algumas pessoas porque precisam simplesmente de chegar cota alta da

    cidade e preferem disfrutar da paisagem que o parque tem para oferecer. Desta

    forma, geram-se fluxos constantes, com objectivos e horrios distintos, tornando este

    projecto em mais um ponto-chave da cidade.

    Em suma, interessa reconhecer as oportunidades da cidade e inscrev-las num novo

    projecto de cidade34, percebendo o que importante preservar (pelo seu valor

    arquitectnico, econmico ou sentimental); o que no relevante e pode ser

    desvalorizado/demolido em detrimento de novas formas e valores; e quais so as

    qualidades que faltam a gueda e, especificamente, a esta rea em estudo, para que

    este seja um espao de qualidade onde os os pontos fortes da sociedade do sculo

    XXI: lazeres e tempo livre; cultura e recreio; turismo e actividades comerciais;

    tecnologias avanadas 35 estejam presentes e pos