CIDADES PLANEJADAS

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Cidades planejadas Roberto Ghione Artigo publicado no newsletter do IAB-PE. O crescimento econômico de Pernambuco impacta nas estruturas das cidades e na organização do território. Novos polos de desenvolvimento desenham hoje um novo mapa político e produtivo do Estado e é preciso uma visão abrangente, com planejamento de médio e longo prazo, para estimular um processo de desenvolvimento racional, integrado, sustentável e socialmente justo. Para isso, torna-se imprescindível que a gestão pública assuma o planejamento territorial em defesa do interesse geral e oriente a iniciativa privada a realizar empreendimentos ajustados a uma concepção integrada entre território, área metropolitana e cidades. No litoral do Estado perfila-se um eixo de desenvolvimento tensionado pelo porto de Suape ao Sul e Goiana ao Norte. Entre estes polos, a Região Metropolitana de Recife assume sua vocação de centro de inteligência e serviços baseada nos seus valores históricos e culturais. Neste contexto, a iniciativa privada lançou nos últimos meses vários projetos de cidades denominadas "planejadas" em diferentes locais da área em desenvolvimento. Aqui aparece o grande questionamento: planejadas por quem? e para quem? As cidades não se planificam só intramuros. Historicamente, elas nascem e se desenvolvem em relação intrínseca com o território. Um planejamento territorial visando as demandas de produção e serviços e as relações com o ambiente natural e as cidades existentes torna-se prioritário para orientar as ações privadas que modificarão as paisagens física, cultural e produtiva. As possíveis novas cidades deveriam surgir como consequência de um planejamento territorial e não ao contrário: primeiro a iniciativa privada e depois a ação pública para resolver os desajustes. Dá a sensação que a cultura da improvisação persiste impulsionada pelos interesses privados e o planejamento (ou melhor, a falta dele) resigna-se a correr atrás para resolver as irracionalidades de ações fragmentárias e setoriais, que protelam um desenvolvimento fisicamente integrado e socialmente justo. Hoje visualizamos no espaço territorial a mesma especulação imobiliária que corrói as cidades, agora fantasiada de planejada e sustentável, oferecendo macroempreendimentos de alta rentabilidade para poucos e grandes incógnitas para muitos. A defesa da paisagem natural e do ambiente construído em condições de integração e sustentabilidade nas escalas urbana, metropolitana e regional, com desenvolvimento econômico e justiça social, constitui o pilar político dos gestores públicos. O planejamento urbano e territorial é o instrumento que possibilita agir com racionalidade e sustento técnico para orientar o correto desenvolvimento dos espaços físicos das gerações vindouras. Cabe aos nossos gestores públicos uma visão transcendente para não serem recriminados pela história.

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Cidades planejadas Roberto Ghione Artigo publicado no newsletter do IAB-PE.

O crescimento econômico de Pernambuco impacta nas estruturas das cidades e na organização do território. Novos polos de desenvolvimento desenham hoje um novo mapa político e produtivo do Estado e é preciso uma visão abrangente, com planejamento de médio e longo prazo, para estimular um processo de desenvolvimento racional, integrado, sustentável e socialmente justo. Para isso, torna-se imprescindível que a gestão pública assuma o planejamento territorial em defesa do interesse geral e oriente a iniciativa privada a realizar empreendimentos ajustados a uma concepção integrada entre território, área metropolitana e cidades.

No litoral do Estado perfila-se um eixo de desenvolvimento tensionado pelo porto de Suape ao Sul e Goiana ao Norte. Entre estes polos, a Região Metropolitana de Recife assume sua vocação de centro de inteligência e serviços baseada nos seus valores históricos e culturais. Neste contexto, a iniciativa privada lançou nos últimos meses vários projetos de cidades denominadas "planejadas" em diferentes locais da área em desenvolvimento. Aqui aparece o grande questionamento: planejadas por quem? e para quem?

As cidades não se planificam só intramuros. Historicamente, elas nascem e se desenvolvem em relação intrínseca com o território. Um planejamento territorial visando as demandas de produção e serviços e as relações com o ambiente natural e as cidades existentes torna-se prioritário para orientar as ações privadas que modificarão as paisagens física, cultural e produtiva.

As possíveis novas cidades deveriam surgir como consequência de um planejamento territorial e não ao contrário: primeiro a iniciativa privada e depois a ação pública para resolver os desajustes. Dá a sensação que a cultura da improvisação persiste impulsionada pelos interesses privados e o planejamento (ou melhor, a falta dele) resigna-se a correr atrás para resolver as irracionalidades de ações fragmentárias e setoriais, que protelam um desenvolvimento fisicamente integrado e socialmente justo.

Hoje visualizamos no espaço territorial a mesma especulação imobiliária que corrói as cidades, agora fantasiada de planejada e sustentável, oferecendo macroempreendimentos de alta rentabilidade para poucos e grandes incógnitas para muitos. A defesa da paisagem natural e do ambiente construído em condições de integração e sustentabilidade nas escalas urbana, metropolitana e regional, com desenvolvimento econômico e justiça social, constitui o pilar político dos gestores públicos. O planejamento urbano e territorial é o instrumento que possibilita agir com racionalidade e sustento técnico para orientar o correto desenvolvimento dos espaços físicos das gerações vindouras. Cabe aos nossos gestores públicos uma visão transcendente para não serem recriminados pela história.