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Ciência e mídia: A experiência da Ciência e mídia: A experiência da Rede Iberoamericana de Rede Iberoamericana de Monitoramento e Capacitação em Monitoramento e Capacitação em Jornalismo Científico Jornalismo Científico Luisa Massarani Luisa Massarani Museu da Vida, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz Museu da Vida, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz [email protected] [email protected] Marina Ramalho, Yurij Castelfranchi, Daniel Hermelin, Tania Arboleda e Marina Ramalho, Yurij Castelfranchi, Daniel Hermelin, Tania Arboleda e cerca de 35 jornalistas e pesquisadores que integram a Rede Iberoamericana cerca de 35 jornalistas e pesquisadores que integram a Rede Iberoamericana de Monitoramento e Capacitação em Jornalismo Científico) de Monitoramento e Capacitação em Jornalismo Científico)

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Ciência e mídia: A experiência da Ciência e mídia: A experiência da Rede Iberoamericana de Rede Iberoamericana de

Monitoramento e Capacitação em Monitoramento e Capacitação em Jornalismo CientíficoJornalismo Científico

Luisa MassaraniLuisa Massarani Museu da Vida, Casa de Oswaldo Cruz, FiocruzMuseu da Vida, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

[email protected]@fiocruz.brMarina Ramalho, Yurij Castelfranchi, Daniel Hermelin, Tania Arboleda e Marina Ramalho, Yurij Castelfranchi, Daniel Hermelin, Tania Arboleda e

cerca de 35 jornalistas e pesquisadores que integram a Rede Iberoamericana cerca de 35 jornalistas e pesquisadores que integram a Rede Iberoamericana de Monitoramento e Capacitação em Jornalismo Científico)de Monitoramento e Capacitação em Jornalismo Científico)

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Rede Ibero-Americana de Monitoramento Rede Ibero-Americana de Monitoramento e Capacitação em Jornalismo Científicoe Capacitação em Jornalismo Científico

● Criada em 2009, é coordenada pelo Núcleo de Estudos da Divulgação Científica, do Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz) e reúne pesquisadores de 10 países ibero-americanos (Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Cuba, Equador, Espanha, México, Portugal e Venezuela);

●  Objetivos: unir esforços e experiências dos grupos envolvidos para apoiar, disseminar e incrementar, de maneira sinérgica, a qualidade do jornalismo científico nesses países.

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Museu da Vida, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz (Brasil)Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Federal

de Minas Gerais (Brasil)Centro de Estudios sobre Ciencia, Desarrollo y Educación

Superior (REDES) y Universidad Nacional de San Martín (Argentina)

Asociación Boliviana de Periodismo Científico (Bolivia)Pontificia Universidad Javeriana (Colombia)Universidad de la Habana, Universidad de Pïnar del Río e

Universidad Hermanos Saíz Montes de Oca (Cuba)Centro Internacional de Estudios Superiores de Comunicación

para América Latina (CIESPAL) (Ecuador)Observatorio de la Comunicación Científica, Universitat

Pompeu Fabra (España)Universidad Nacional Autónoma de México (México)Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (Portugal)Universidad Católica Andrés Bello (Venezuela)

IntegrantesIntegrantes

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Atividades práticasAtividades práticas

● Capacitação de jornalistas nos países ibero-americanos.

2009: Equador e Guatemala.

2010: Brasil (Manaus), Colômbia e Nicarágua.

2011: Bolívia, El Salvador e Venezuela

2012: Honduras

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Atividades práticasAtividades práticas

Também com foco na capacitação, a Rede criou a publicação "Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana", reunindo artigos de reflexão e de prática jornalística aplicada ao campo científico. O livro pode ser acessado gratuitamente em:

http://www.museudavida.fiocruz.br/media/Livro%20NEDC%20web.pdf

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Pesquisa acadêmicaPesquisa acadêmica

● A Rede busca identificar e caracterizar as matérias de ciência nos principais telejornais da região, assim como compreender como certos grupos da audiência controem sentido a partir desse conteúdo.

A ciência faz parte da agenda do Jornal Nacional (mas não de outros países da região)

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Emissor(Fonte de

informação)Mensagem Receptor

(público/audiência)

Modelo básico de comunicação (baseado em Shanon &Weaver, 1948)

Quem fala o quê, por qual meio, para quem, com que efeito? (modelo de Lasswell)

Canal(meios de

comunicação)

Olhares sobre a audiênciaOlhares sobre a audiência

Nos primórdios dos estudos de comunicação (primeira metade do séc. 20), o processo comunicativo era representado basicamente assim:

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Cientistas/ laboratórios/

Journals e periódicos

Meios de comunicação Público/Sociedade

Canal receptor

Olhares sobre a audiênciaOlhares sobre a audiência

Modelo transposto para a divulgação científica

Fonte

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Olhares sobre a audiênciaOlhares sobre a audiência

Teorias mais antigas enxergavam o público como uma massa homogênea, passiva e indefesa, capaz de ser manipulada facilmente pela mídia.

Teorias mais recentes, no entanto, relativizam o poder de manipulação da mídia, destacam a heterogeneidade do público dos meios de comunicação de massa e admitem que parcelas diferentes desse público podem interpretar uma mesma mensagem de maneiras diversas, conforme seu contexto social, seus conhecimentos e experiências prévias etc.

Além disso, a comunicação não é mais vista como um processo apenas linear. Ela pode ser um sistema retroalimentável, de mão dupla.

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MetodologiaMetodologia

● A Rede desenvolveu duas abordagens metodológicas, na busca de identificar como diferentes grupos do público criam sentido em torno das notícias de ciência veiculadas em telejornais:

● Abordagem 1 - estudo “tipo”etnográfico: visita a três famílias com diferentes características socioeconômicas, para assistir ao Jornal Nacional com elas, em seu ambiente familiar (cerca de cinco visitas a cada família).

● Abordagem 2: grupos focais com jovens e adultos (considerando grupos de classe social menos favorecida e classe média/média-alta), usando um trecho do Jornal Nacional como estímulo para iniciar a conversação.

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Metodologia - EtnografiaMetodologia - Etnografia

● Visita a três famílias de classes econômicas diferentes: uma de alta renda (classe A1 a B2 do Critério Brasil), uma de classe média (C1 ou C2) e outra de baixa renda (D ou E).

● Pré-requisito das famílias: ter no mínimo três membros (dos quais ao menos um declarasse assistir ao Jornal Nacional no mínimo duas vezes por semana), não serem previamente conhecidas pela pesquisadora e não ter um jornalista ou cientista entre eles.

● A pesquisadora assistiu ao Jornal Nacional no mínimo quatro vezes com cada família, no ambiente doméstico delas, buscando, na medida do possível, que os membros das famílias mantivessem seus hábitos nesses momentos. Tais visitas foram associadas à aplicação de questionários sobre os hábitos culturais da família.

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Alguns resultados – Etnografia (Brasil)Alguns resultados – Etnografia (Brasil)

● Os telespectadores demonstraram estar mais atentos às matérias de temas de ciência quando estas possuíam, como apoio, infográficos, animações ou outros recursos complementares.

● Assim como ocorria em geral com as demais matérias, os telespectadores costumaram comentar entre si sobre o que assistiam, assim como relacionar o que era exibido aos acontecimentos de seu cotidiano.

● Aparentemente, os telespectadores tiveram menos interesse por matérias sobre assuntos que não conseguiam relacionar a seu dia a dia. Nestas, costumavam fazer menos comentários sobre as notícias, demonstrar mais sinais de dispersão em sua linguagem corporal, iniciar conversas sobre outros temas, começar atividades paralelas e mesmo se ausentar do local.

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Alguns resultados - EtnografiaAlguns resultados - Etnografia

● Não foram observadas diferenças significativas de interesse nas matérias de ciência que pudessem ser relacionadas especificamente à classe social.

● Durante a exibição de cada programa, a pesquisadora anotou o tema das matérias que identificava como sendo relacionadas a temas de ciência. Ao fim do telejornal, questionava às famílias se elas haviam visto alguma matéria de ciência naquela edição. Foi bastante comum que os telespectadores não tivessem identificado as mesmas matérias que ela, associando mais frequentemente à ciência as notícias sobre descobertas nesse campo.

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Grupos focais: como pré-requisitos, os participantes deveriam afirmar ter o hábito de assistir ao Jornal Nacional pelo menos de vez em quando e não exercer carreira científica.

Dinâmica do grupo focal: aos participantes foi dito que se tratava de uma pesquisa sobre

conteúdos de telejornal em geral (sem especificar que o interesse era em matérias de ciência).

dentre as edições analisadas do Jornal Nacional, foi selecionado um bloco do programa com matérias que contivessem as principais características identificadas nas matérias de ciência analisadas, para ser usado como estímulo e ponto de partida para a discussão.

O trecho escolhido, de cerca de 8 min, continha matéria sobre o uso de células-tronco no tratamento de enfisema pulmonar e uma matéria com a recapitulação dos avanços da ciência nos últimos 40 anos, parte de uma série de retrospectivas no aniversário de 40 anos do JN .

Metodologia – grupos focaisMetodologia – grupos focais

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Temas científicos citados no trecho selecionado: (na ordem de aparição)Uso de células-tronco no tratamento de enfisema pulmonar chegada do homem à Luaevolução dos computadores lançamento de um telescópio espacialprimeiro brasileiro a ir pro espaçoevolução dos telefones celularesprimeiro bebê de provetacópia perfeita de uma ovelha (OBS: não usam a palavra Dolly nem o

termo clonagem)busca pela vacina contra AIDSrecuperação de um rim doente com uso de células-tronco

Metodologia – grupos focaisMetodologia – grupos focais

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Temas científicos citados (continuação...)primeiro transplante de rostoa “praga da Aids e a descoberta das drogas que controlam a doença”

(AZT)melhoria dos carros (desenvolvimento do câmbio automático, da

indústria automotiva brasileira, do álcool como combustível)mudanças climáticas (“O planeta Terra em perigo”, “Progresso que

muda o clima não compensa, essa é a mensagem dos cientistas”)

Metodologia – grupos focaisMetodologia – grupos focais

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Metodologia – grupos focaisMetodologia – grupos focais

Roteiro para orientar as discussões:na opinião de vocês, essas matérias são sobre o quê? o que vocês acharam dessas matérias?o que mais chamou a atenção de vocês nas matérias? quando vocês estão assistindo ao telejornal, vocês costumam prestar

atenção em matérias desse tipo? Elas costumam chamar a atenção de vocês? Por quê?

em que temas vocês prestam mais atenção quando veem o Jornal Nacional?  

que tipos de pessoas/personagens aparecem nas matérias?este tipo de matéria é importante, serve para o público? Vocês acham

que é importante um jornal falar desse tipo de coisas? Tem utilidade para as pessoas?

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Roteiro das discussões: (continuação) tem alguma imagem ou cena nessas matérias que ficou mais marcada na

cabeça de vocês, que impressionou mais? Por quê?nessas matérias que vocês assistiram agora, tiveram palavras, ideias,

conceitos que ficaram meio complicados, difíceis de entender, confusos? Teve algo que deu para entender bem?

 quando a gente fala a palavra “ciência”, o que vem na cabeça de vocês? vocês acham que ciência é algo que está próximo de vocês no dia a dia

ou é algo distante?  E a profissão de cientista?que assuntos de ciência vocês acham mais interessantes? Esses temas

costumam aparecer no noticiário?  vocês acrescentariam algo mais às matérias?  se vocês trabalhassem na TV e tivessem que fazer essas matérias, o que

repetiriam? E o que fariam diferente? Acrescentariam alguma coisa?  

Metodologia – grupos focaisMetodologia – grupos focais

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Grupos focais realizadosGrupos focais realizados

Submetidos a análise de conteúdo

Grupo Classe social Local de realização Gênero Idades No. de partipantes1 menos favorecida Manguinhos misto 19 a 28 62 menos favorecida Pré-vestibular comunitário misto 30 a 65 73 menos favorecida Pré-vestibular comunitário misto 18 a 23 54 menos favorecida Pré-vestibular comunitário homens 18 a 27 45 classe média/média-alta Apto na Zona Sul misto 31 a 73 56 classe média/média-alta Apto na Zona Sul misto 30 a 58 57 classe média/média-alta Apto na Zona Sul misto 22 a 26 68 classe média/média-alta Apto na Zona Sul misto 21 a 27 6

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Resultados preliminaresResultados preliminares

Dadas as características anteriormente descritas das matérias, nossa expectativa era que os participantes dos grupos focais associassem o conteúdo exibido a temas de CIÊNCIA & TECNOLOGIA.

Quando perguntados sobre o que eram as matérias exibidas, as respostas, a princípio, foram variadas – ciência, tecnologia, meio ambiente, células-tronco, mudanças, nascimento do Jornal Nacional etc.

Mas conforme a conversa se aprofundava, um termo bastante recorrente foi “evolução” (da humanidade e das técnicas), vislumbrando – explicitamente, em alguns casos – que a menção a todos aqueles temas remetia ao conceito de estágios de evolução.

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Resultados preliminaresResultados preliminares

Os participantes apontaram paradoxos nessa evolução:Grandeza do homem (que leva, por exemplo, à sua chegada na Lua)

versus a “pequenez” do homem (devastação da natureza)Progresso tão veloz numas áreas versus falta de solução em outras  Ciência usada para o bem versus ciência usada para o mal

 Na maioria das vezes, a “ciência usada para o mal” não foi citada como resultante da ação ou postura do cientista, mas do instinto do homem em geral, da sua ganância e egoísmo.

Foram menos frequentes os participantes que destacaram que a atividade científica pode ter riscos e gerar danos.

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Resultados preliminaresResultados preliminares

Temas de ciência e tecnologia chamam atenção, por um lado, pela genialidade a que aludem e pelo espanto que provocam.

Exemplos:Grupo 1:

Roseane: É... querendo ou não, uma reportagem interessante, são coisas que tá acontecendo, são evoluções...

  Fabiane: Evolução, é.  Roseane: Entendeu?  Moderadora: E como é que é isso, de evolução?  Roseane: A clonagem. Uma coisa que ninguém nunca tinha visto, clonaram uma

ovelha, fizeram uma outra... agora já tão clonando pessoas, entendeu? Aí são coisas que a gente para e fica abismado, uma coisa que a gente nunca imaginou que pudesse acontecer.

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EXEMPLOS: (espanto e genialidade)

Grupo 1:

Moderadora: Daiana, você tava contando essa história, né, do lixo do espaço. Você costuma prestar atenção nesse tipo de matéria, assim, em telejornal? Daiana: É, aí eu vi falar assim. Fiquei até também espantada, né? Vai mandar um caminhão? Aí minha tia tava comentando, aí eu falei “ah, não entendi, vai mandar um caminhão pro espaço?”. Aí minha tia falou: “não, eles vão mandar... pra recolher os lixos que tão flutuando, que largaram por lá”.

Grupo 3:

Maria Luiza: realmente, das notícias que apareceram no informe, a que falou sobre células-tronco foi a que mais me deu um tcham... Assim a que mais me deixou... (...) Porque eu vi uma matéria que eu fiquei impressionada que uma criança de 5 anos teve uma queimadura no abdômen.... De um chá da mãe dela, um acidente... E devido as células-tronco, eles reconstruíram a pele do menino todinha como se nada tivesse acontecido! E eu achei aquilo incrível! Esplêndido...

 

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Resultados preliminaresResultados preliminares

Segundo os participantes, a ciência está próxima do dia a dia porque é associada a seus produtos concretos (desde celular até roupa), cujo acesso é bem difundido.

Mas quando se fala do entendimento da ciência, ela está longe da maioria da população brasileira, porque a educação no país está “falida”. O cientista também é um ator social distante para os participantes.

Segundo a visão dominante entre os participantes, por mais que ciência desperte interesse, pessoas sem estudo não vão entender as matérias de ciência no Jornal Nacional. A linguagem é difícil e a educação no Brasil não é adequada. Ciência, sobretudo ciência no JN, é para uma elite.

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EXEMPLOS:

Grupo 4:Moderadora: Só pra ver se eu entendi direitinho... Você acha então que a linguagem foi muito técnica?

  Lucas: Foi, com relação a alguns pontos que eles abordaram, Por exemplo, quando eles falaram sobre pesquisa de células-tronco eles falaram sobre certos órgãos, sobre certos fenômenos que acontecem... Pessoas que não têm essa linguagem não vão entender... Foi como o amigo aqui também falou que às vezes os pais dele assistiam e não entendiam direito o que estava sendo falado mas continuava a assistir... Muita gente, acredito que muita gente no nosso país, faz isso até hoje.

Antônio Marcos: (...) Eu, por exemplo, eu gosto também de ciência... em relação a alguma descoberta na saúde, né, e tudo. Só que, pra mim, a ciência não tá tão próxima assim de... O cara vai lá e explica, né, fala os termos técnicos e eu não vou entender. Creio que, como ele falou, assim, para algumas pessoas esteja mais próximo, né, o que é ciência... E para outros não. Creio que para a maior parte da população, sem ser no sentido que ele falou... Não está próxima, né... Mas pra, eu diria uma minoria, uma classe mais fechada, aí sim, seria mais próxima da população.

 

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Resultados preliminaresResultados preliminares

Sobre os cientistas, a visão dominante girou em torno dos estereótipos: cientistas têm inteligência acima da média, nascem com dom, vocação, precisam ser muito dedicados e, por isso, se fecham nos seus laboratórios, longe da sociedade. São personagens distantes.

Observação de estudo complementar: a imagem dos cientistas é de homens, maduros e brancos

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EXEMPLOS:

Grupo 2:Ana Cristina: Eu acho que o cientista é uma pessoa que... Ela já nasceu com aquele dom... Eu acho que é um dom que a pessoa já nasce pra ela poder... Que ela vai crescendo, vai se desenvolvendo... (...) Porque os grandes inventores, você vê que eles eram grandes pensadores, né... Das coisas, então...

  Moderadora: E essa menina da matéria, você acha que era assim?  Ana Cristina: Eu acho.(...)

Ana Cristina: Eu acho que pra ser cientista, o QI tem que ser muito alto... (…) Sabe por quê? Eu já ouvi até falar mesmo da própria pessoa que tava inclusive conversando com ela hoje no ponto de ônibus... Ela tá fazendo mestrado de Botânica, aí ela “É amiga, as pessoas olham pra mim e nem acreditam que eu faço mestrado de Botânica porque normalmente as pessoas que estudam, que são estudiosas pra ciências normalmente são malucas”... Por isso...

  Rosane: Eu acho que pra ser cientista você tem que ter muita criatividade...  Moderadora: Criatividade?  Rosane: É... Tem que ter um sexto sentido muito assim... Muito aguçado... E eu,

não sei... É muita razão, né... Eu sou muito... Eu acho que eu sou mais sentimento do que razão...

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EXEMPLOS:

Grupo 2:Ana Cristina: Eu acho que o cientista é uma pessoa que... Ela já nasceu com aquele dom... Eu acho que é um dom que a pessoa já nasce pra ela poder... Que ela vai crescendo, vai se desenvolvendo... (...) Porque os grandes inventores, você vê que eles eram grandes pensadores, né... Das coisas, então...

  Moderadora: E essa menina da matéria, você acha que era assim?  Ana Cristina: Eu acho.(...)

Ana Cristina: Eu acho que pra ser cientista, o QI tem que ser muito alto... (…) Sabe por quê? Eu já ouvi até falar mesmo da própria pessoa que tava inclusive conversando com ela hoje no ponto de ônibus... Ela tá fazendo mestrado de Botânica, aí ela “É amiga, as pessoas olham pra mim e nem acreditam que eu faço mestrado de Botânica porque normalmente as pessoas que estudam, que são estudiosas pra ciências normalmente são malucas”... Por isso...

  Rosane: Eu acho que pra ser cientista você tem que ter muita criatividade...  Moderadora: Criatividade?  Rosane: É... Tem que ter um sexto sentido muito assim... Muito aguçado... E eu,

não sei... É muita razão, né... Eu sou muito... Eu acho que eu sou mais sentimento do que razão...

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EXEMPLOS:

Grupo 2:Vera Lúcia: Eu acho que a gente vê o cientista... Popularmente... Como um personagem muito longínquo... Entendeu? Como se fosse... Algo diferente... Pessoa que desce lá de cima do pedestal...

  Ana Cristina: um ser de outro mundo, né?  Vera Lúcia: E muitas vezes não é assim, né... Igual a esse caso dessa cientista

que apareceu aí... Uma pessoa, você olha assim... Quer dizer, ela tem um potencial grande, claro... Mas é uma pessoa comum... Ela passa isso pra gente

  Ana Cristina: Uma simplicidadeMárcio: Eu acho que é uma questão de estereótipo, né... Eu acho assim, um exemplo claro: não precisa nem ser cientista... Um médico... A gente vai falar com o médico cheio de cuidados, né... ‘O doutor, porque isso, porque aquilo’... A gente já se coloca numa posição de inferioridade. (...) Vamos pensar no cientista, qual é a imagem que a mídia passa pra gente do cientista? Cara com cabelo todo arrepiado, né... Com jaleco... E os desenhos!

  Ana Cristina: Óculos fundo de garrafa! (Risos)Márcio: Não pega ninguém, não tem mulher... Já viu mulher de cientista? (Risos)Vera Lúcia: professor pardal.Ana Cristina: Dexter.

 

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EXEMPLOS:

Grupo 4:Moderadora: E você já considerou a hipótese de ser cientista, Anderson? Por quê?Anderson: Não...

  Antônio Marcos: Também nunca pensei.  Anderson: Cara, porque é uma coisa que tem que ter muito estudo, muita

paciência mesmo. Eles têm muita dedicação pra fazer e pra acontecer... Que dê certo o que eles estudam... (...) É uma coisa assim... Porque a gente não se imagina talvez ser porque a gente não sabe como que faz, o quê que faz... É... Sabe que é uma coisa muito importante, a gente não sabe como é o estudo dele no dia a dia, o que ele faz pra chegar lá...Lucas: (...) Então, pra muita gente é uma profissão muito distante... E é uma profissão que requer muita dedicação. Às vezes a pessoa não tem nem vida social pra se dedicar completamente à ciência.

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DesafiosDesafios

● Resultados ainda preliminares...

● Estudos de recepção são incipientes na América Latina (exceção para telenovelas) e poucas análises se debruçam sobre ciência e tecnologia em geral.

● Nos EUA e na Europa, a maioria dos estudos de recepção se dedica a temas específicos de C&T, como OGM ou nanotecnologia.

Grande ponto de interrogação na divulgação científica: A gente, na verdade, não sabe o que significa para as audiências a ciência que a gente comunica. Precisamos colocar significativo esforço nesta área.