Ciência e Técnica

27
Copyright © ANPOCS, 2010 Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada, armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada, reproduzida por meios mecânicos ou outros quaisquer sem a autorização prévia da editora. Projeto editorial: ANPOCS Diagramação: Walquir da Silva - Mtb n. 28.841 Capa: Fernanda Garrido Catalogação da Publicação Serviço de Biblioteca e Documentação Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo H 8 11 Horizontes das ciências sociais no Brasil : antropologia / Coordenador geral Carlos Benedito Nfartins! Coordenador de área Luiz Fernando Dias Duarte. - São Paulo: ANPOCS, 2010. ■ 488 p. Coletânea co-editada pelo Instituto Ciência Hoje, Editora Barcarolla e Discurso Editorial. Outros volumes que compõem esta coletânea: Ciência política e Sociologia. ISBN 978-85-98233-53-6 (Barcarolla) 1. Ciências Sociais - Brasil. 2. Antropologia - Teoria. 3. Antropologia - Brasil. I. Martins, Carlos Benedito. II. Duarte, Luiz Fernando Dias. 21a. CDD 300 301.2 discurso editorial Editora Barcarolla Ltda Av. Prof. Luciano Gualberto, 315 (sala 11) Av. Pedroso de Moraes, 631 - 110 andar 05508-010 - São Paulo - SP Telefone: (11) 3814-5383 Telefax: (II) 3034-2733 e-mail: [email protected] www.editorabarcarolla.com.br 05419-000 - São Paulo - SP Tel.: 11-3814-4600 www.discurso.com.br e-mail: [email protected]

Transcript of Ciência e Técnica

Page 1: Ciência e Técnica

C opyright copy ANPOCS 2010

Nenhuma parte desta publicaccedilatildeo pode ser gravada armazenada em sistemas eletrocircnicos fotocopiada

reproduzida por meios mecacircnicos ou outros quaisquer sem a autorizaccedilatildeo preacutevia da editora

P rojeto ed ito ria l ANPOCS D iagram accedilatildeo W alquir da S ilva - Mtb n 28841

Capa Fernanda Garrido

Catalogaccedilatildeo da Publicaccedilatildeo Serviccedilo de Biblioteca e Documentaccedilatildeo

Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas da Universidade de Satildeo Paulo

H 8 11 Horizontes das ciecircncias sociais no Brasil antropologia Coordenador geral Carlos Benedito Nfartins Coordenador de aacuterea Luiz Fernando Dias Duarte - Satildeo

Paulo ANPOCS 2010

488 pColetacircnea co-editada pelo Instituto Ciecircncia Hoje Editora Barcarolla e Discurso

EditorialOutros volumes que compotildeem esta coletacircnea Ciecircncia poliacutetica e Sociologia

ISBN 978-85-98233-53-6 (Barcarolla)

1 Ciecircncias Sociais - Brasil 2 Antropologia - Teoria 3 Antropologia - BrasilI Martins Carlos Benedito II Duarte Luiz Fernando Dias

21a CDD 300 3012

discurso editorialEditora Barcarolla Ltda

Av Prof Luciano Gualberto 315 (sala 11) Av Pedroso de Moraes 631 - 110 andar05508-010 - Satildeo Paulo - SP

Telefone (11) 3814-5383 Telefax ( I I) 3034-2733 e-mail discursouspbr wwweditorabarcarollacombr

05419-000 - Satildeo Paulo - SP

Tel 11-3814-4600

wwwdiscursocombre-mail editorabarcarollaeditorabarcarollacombr

Ciecircncia e TeacutecnicaCarlos Emanuel Sautchuk

IntroduccedilatildeoA expressatildeo ldquociecircncia e teacutecnicardquo como designaccedilatildeo de tipos de pesquisas

ou temas da Antropologia eacute recente no cenaacuterio brasileiro Teve iniacutecio nos anos 1990 firmando-se como identificador expliacutecito apenas neste seacuteculo quando se consolidou como forma de reunir linhas de reflexatildeo antropoloacutegica com orientaccedilotildees originais diferentes Essa situaccedilatildeo se diferencia da Sociologia brashysileira onde a anaacutelise de fenocircmenos como as poliacuteticas puacuteblicas e as profissotildees alavancou os estudos sobre ciecircncia e tecnologia tomando-os um campo proshyfiacutecuo que se desenvolve de maneira relativamente coesa e bem estabelecida no seio da disciplina Ao contraacuterio o que permite falar de Antropologia da ciecircnshycia e da teacutecnica no cenaacuterio brasileiro eacute a reuniatildeo de linhas diferentes de pesquishysa convergindo para algumas questotildees semelhantes

Pensando na produccedilatildeo atual e nas perspectivas futuras trecircs campos se conectam a este movimento mdash ciecircncia cultura material e biotecnologia Dito isso eacute possiacutevel mirar por dois acircngulos a produccedilatildeo antropoloacutegica sobre ciecircncia e teacutecnica no BrasiL O primeiro deles ao qual esse texto se dedica eacute diacrocircnico e particular evidenciando que cada um desses campos apresenta desenvolvishymento proacuteprio tendo derivado para a reflexatildeo sobre ciecircncia e teacutecnica mais recentemente O outro ponto de vista eacute sincrocircnico e comparativo indicando que nichos de investigaccedilatildeo aparentemente distintos tecircm convergido para disshycussotildees similares recorrendo a reflexotildees de mesma ordem Essa perspectiva permite notar que a reuniatildeo dos trecircs campos se apoia no fato dessas manifes-

Carlos Emanuel Sautchuk eacute professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasiacutelia (UnB) onde coordena o Laboratoacuterio de Antropologia da Gecircncia e daTeacutecnica (LACT)

98 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

taccedilotildees da Antropologia feita no Brasil empreenderem uma anaacutelise sobre as formas de sociabilidade ou sobre o estatuto do humano (ou da pessoa) a partir das relaccedilotildees estabelecidas com diferentes tipos de natildeo humanos sejam eles extraterrestres animais artefatos grafismos embriotildees ou genes

Os diferentes estudos aqui analisados voltam-se ainda que de maneira particular ao fato de que a dimensatildeo natildeo humana da vida social eacute extremashymente relevante para o enfoque das formas de sociabilidade e das noccedilotildees de humanidade Guardadas as especificidades de cada aacuterea de estudo esse intuito geral vale para o iacutendio que tranccedila um cesto o cientista que observa um macashyco ou o casal envolto nos procedimentos de reproduccedilatildeo assistida Ao focar esses tipos de situaccedilotildees os antropoacutelogos tecircm analisado as construccedilotildees cosmoloacutegicas que organizam a distribuiccedilatildeo e as caracteriacutesticas de humanos e natildeo humanos Num outro niacutevel isto aponta para abordagens preocupadas em diferentes graus e perspectivas em repensar a dicotomia entre cultura e natureza e suas tributaacuterias (artificial e natural sujeito e objeto etc) que pershypassam tanto a modernidade de modo geral quanto o proacuteprio fazer antroposhyloacutegico1

No registro dessa preocupaccedilatildeo com a manifestaccedilatildeo da modernidade (na antropologia eou em seus ldquoobjetosrdquo) cabe comentar algo sobre a preshyferecircncia pelo termo teacutecnica e natildeo tecnologia na definiccedilatildeo do escopo deste texto Em primeiro lugar como fica evidente pelo proacuteprio delineamento das abordagens tratadas neste artigo ciecircncia e teacutecnica natildeo demarcam um objeto empiacuterico mdash natildeo se trata de abordagens antropoloacutegicas voltadas ao domiacutenio da ldquociecircncia amp tecnologiardquo nos Estados modernos mdash mas satildeo noshyccedilotildees tomadas antes na qualidade de categorias analiacuteticas a orientar a investishygaccedilatildeo antropoloacutegica

1 Natildeo foram consideradas aqui as pesquisas dedicadas agrave relaccedilatildeo entre conhecimentos tradishycionais e ciecircncia moderna assim como aquelas relativas agrave cibercultura ainda que em alguma medida elas guardem proximidade com o tema Aleacutem disso dada a desproporccedilatildeo entre o campo a resenhar e as dimensotildees do texto pareceu-me necessaacuterio renunciar a qualquer pretensatildeo de ser exaustivo guardando entretanto o objetivo de ser indicativo das principais tendecircncias Trechos deste trabalho receberam a leitura de Mariza Peirano Marcela Coelho de Souza e Guilherme Saacute a quem agradeccedilo pelas observaccedilotildees as quais nem sempre consegui atender Ao Guilherme devo tambeacutem boas indicaccedilotildees sobre estudos relativos ao tema cabe a mim igualmente a responsabilidade por natildeo ter incorporado devidamente todas as informaccedilotildees repassadas Versatildeo inicial deste texto foi apresentada naII Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da Tecnologia em maio de 2009 na Universidashyde Federal de Minas Gerais (UFMG)

C iecircncia e T eacutecnica 99

Nesse sentido adotar o termo teacutecnica natildeo indica rejeiccedilatildeo mas cautela em relaccedilatildeo agrave tecnologia Se no contexto anglo-saxatildeo e no Brasil de modo geral o vocaacutebulo tecnologia eacute mais acionado entre francoacutefonos teacutecnica gashynha mais importacircncia e abrangecircncia Veja-se a tatildeo importante quanto pouco lembrada produccedilatildeo de Mauss (2006) sobre o tema onde tecnologia eacute comshypreendida como o estudo da teacutecnica E verdade que existe alguma corresshypondecircncia entre os dois termos atestada por exemplo na traduccedilatildeo para o inglecircs de autores como Latour Foucault Ellul Daumas Mauss Lemonnier onde technique no original eacute vertido como technolog) Mas essa equivalecircncia eacute parcial e pode dar margem a algumas confusotildees Tanto assim que diversos autores franceses incomodam-se com o emprego do termo tecnologia conshysiderando-o equivocado ou abusivo (Seacuteris 1994 p 3-6 Sigaut 1994 p 442 Latour 2001 p 219) E mesmo Bryan Pfaffenberger em SocialAnthropologj o f Technology (1992) propotildee a substituiccedilatildeo do termo tecnologia por teacutecnica ou por sistema socioteacutecnico

Natildeo se trata de fazer a defesa de uma linha de pensamento em detrishymento da outra o que seria no miacutenimo prova de um estreitamento teoacuterico inoportuno para um esforccedilo de mapeamento O cenaacuterio brasileiro natildeo pershymite que se tracem linhas absolutas pois se cruzam ambas as tradiccedilotildees e amshybos os vocaacutebulos Portanto a escolha do termo teacutecnica aqui se justifica antes de tudo por abrangecircncia e cautela

Explicitemos isto a partir da seguinte indagaccedilatildeo dado que tecnologia natildeo se refere ao estudo da teacutecnica o que justifica a adiccedilatildeo do sufixo ldquologosrdquo Tecnologia pode sugerir o superlativo de teacutecnica no sentido de outra orshydem racional mais sofisticada com meacutetodos complexos consciente dela mesma de suas necessidades e finalidades informada por um saber especishyalizado e cientiacutefico associado ao progresso Opor-se-ia assim agraves teacutecnicas ditas ldquorudimentaresrdquo baseadas no empirismo ou no conhecimento intuitishyvo arraigada nas convenccedilotildees Assim o valor associado ao termo tecnologia estaria conectado agrave dicotomia moderno-tradicional enquanto transformashyccedilatildeo radical Em acepccedilatildeo um pouco diferente tecnologia pode significar a dimensatildeo intelectual da teacutecnica isto eacute os conhecimentos saberes conceitos relativos a alguma operaccedilatildeo material o que remete agrave separaccedilatildeo entre domiacuteshynio ideal e material Ainda que em certas anaacutelises as transformaccedilotildees instaushyradas pelo mundo industrial ou as elaboraccedilotildees abstratas relativas agrave teacutecnica devam ganhar ecircnfase parece injustificado admitir isso como distinccedilatildeo a priori extensiva a todas as situaccedilotildees

100 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

Tecnologia pode tambeacutem significar coletivo de teacutecnicas Este uso conshysagrado entre antropoacutelogos anglo-saxotildees remete agrave ideia de que as teacutecnicas se reuniriam em sistema ou pelo menos num conjunto que se relacionaria com outros (de humanos siacutembolos etc) Assimartefatos estariamprimariamente em relaccedilatildeo com artefatos e este sistema caracterizado pela cultura material manteria uma relaccedilatildeo de outra ordem com a sociedade Essa distinccedilatildeo fundashymental entre o humano e o teacutecnico (derivada do pensamento hilemoacuterfico cf Simondon 2001) sustenta o dilema entre tecnotopia e tecnofobia tatildeo caracshyteriacutestico do pensamento moderno (cf Ribeiro 1999) Note-se entatildeo que considerar as teacutecnicas enquanto um sistema proacuteprio em alguma medida exteshyrior natildeo raro dominado ou dominando a vida humana extrateacutecnica pode implicar em um vieacutes etnocecircntrico instaurando importantes limitaccedilotildees heuriacutesticas Ver-se-aacute que tal dicotomia estaacute em contradiccedilatildeo com parte consishyderaacutevel do esforccedilo reflexivo avanccedilado nos estudos analisados a seguir

Enfim a opccedilatildeo pelo termo teacutecnica natildeo se deve agrave afirmaccedilatildeo de um tipo de abordagem mas agrave reserva epistemoloacutegica e agrave cautela empiacuterica face aos pressushypostos que podem subjazer ao uso do termo tecnologia Pode-se dizer entatildeo que o termo teacutecnica natildeo se opotildee mas engloba os diferentes usos de tecnologia Isso parece especialmente importante quando se trata de designar todo o escopo de abrangecircncia do tema na Antropologia praticada no BrasiL

Cultura materialAo introduzir um artigo sobre habitaccedilatildeo popular Luiz de Castro

Faria notou que os estudiosos das populaccedilotildees de origem africana no Brasil privilegiavam os aspectos religiosos e socioloacutegicos um ldquounilateralismordquo que prejudicava a compreensatildeo dos ldquobens materiais de culturardquo (Castro Faria 2000 p 339-340) Esta frase publicada em 1951 ressalta dois aspectos signishyficativos sobre os desenvolvimentos ulteriores dos estudos de cultura mateshyrial na Antropologia brasileira O primeiro deles eacute o alcance relativamente limitado em que este campo de pesquisa se manteve no quadro de interesses da antropologia no Brasil se comparado com a qualidade dos estudos realishyzados Outro ponto eacute que a forma como Castro Faria buscou minorar essa carecircncia no decurso de sua longa carreira como pesquisador e professor pode ser tomada como representativa dos tipos de preocupaccedilotildees que pautashyram os antropoacutelogos dedicados agrave materialidade Como se sabe dentre sua vasta contribuiccedilatildeo agrave formaccedilatildeo da Antropologia brasileira destacam-se a aproxishy

C iecircncia e T eacutecnica 101

maccedilatildeo (e a criacutetica) aos museus estudos arqueoloacutegicos escritos sobre a arte indiacuteshygena cursos sobre Antropologia econocircmica aleacutem da participaccedilatildeo decisiva na implantaccedilatildeo da legislaccedilatildeo referente ao patrimocircnio histoacuterico cultural Esse rol de temas explorados por Castro Faria se natildeo estaacute na origem direta de todas as abordagens contemporacircneas agrave cultura material no Brasil pode ser tomado como um quadro indicativo delas conforme apresentadas a seguir

Comecemos por sua influecircncia sobre os estudos de populaccedilotildees de pesshycadores Ela pode ser sentida na abordagem que enfocando as questotildees ambientais e poliacuteticas natildeo descuida da dimensatildeo teacutecnica e econocircmica emshypreendendo descriccedilatildeo e anaacutelise cuidada das diferentes formas de pescaria (Kant e Pereira 1997) Os detalhados resultados de uma pesquisa etnograacutefica ao longo da histoacuteria de uma comunidade pesqueira e as transformaccedilotildees em seu ambiente natural e sociopoliacutetico podem ser vistos na obra Gente das areias (Mello e Vogel 2004) que situa boa parte de seu interesse nas teacutecnicas relacionadas ao ambiente

A preocupaccedilatildeo com o trabalho como apropriaccedilatildeo dos recursos vashylendo-se das teacutecnicas eacute que articula os diferentes planos da anaacutelise e define um papel importante na dinacircmica explicativa destas pesquisas para a dimenshysatildeo econocircmica Nisso pode ser encontrado um traccedilo mais geral dos estudos sobre sociedades de pescadores entre pesquisadores brasileiros (por exemplo em Furtado 1993 Chaves 1973 Mussolini 1980) Esse vieacutes preocupa-se com os modos de apropriaccedilatildeo dos recursos naturais ainda que priorize mais uma leitura socioeconocircmica do que propriamente teacutecnica Assim a ecircnfase recai sobre as formas de socializaccedilatildeo e de relaccedilatildeo com o ambiente enquanto modo de reproduccedilatildeo Mas eacute notaacutevel que se os estudos sobre pesca no Brasil emprestam importantes balizas teoacutericas dos de campesinato (como o trabalho articulando ambiente economia e sociedade) eles invesshytem mais na etnografia das atividades teacutecnicas como forma de compreensatildeo das dimensotildees socioeconocircmicas

Malgrado algumas referecircncias raacutepidas eacute curioso notar que as claacutessicas contribuiccedilotildees de Andreacute Leroi-Gourhan (1983 1984) agrave Antropologia da teacutecnica natildeo ecoam nas correntes de pesquisa sobre cultura material no Brashysil Sem explorar aqui as razotildees disso2 limitemo-nos a apontar sua influecircnshycia em trabalhos recentes Em dissertaccedilatildeo sobre as transformaccedilotildees das habitaccedilotildees

2 Ausecircncia tanto mais notaacutevel quanto Leroi-Gourhan se dedicou longa e profundamente agrave relaccedilatildeo entre teacutecnica e esteacutetica e agrave proacutepria noccedilatildeo de arte que veremos a seguir satildeo fundashymentais nas abordagens da cultura material indiacutegena

102 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

kaiowaacute Mura (2000) explora o ambiente domeacutestico indiacutegena face aos divershysos planos do contato intereacutetnico recorrendo a trecircs horizontes teoacutericos a Antropologia da teacutecnica francesa a Antropologia econocircmica de Godelier e a elaboraccedilatildeo da etnicidade inspirada em Barth Assim sua anaacutelise natildeo adota a distinccedilatildeo entre teacutecnica indiacutegena e teacutecnica ocidental buscando compreender a constituiccedilatildeo da materialidade num ambiente de fluxos de diferentes ordens (mateacuterias-primas mercadorias conhecimentos etc) Inspirado noutra faceta de Leroi-Gourhan abordei a gecircnese associada de humanos e teacutecnicas ou ainshyda a tecnogecircnese do humano (Sautchuk 2007) Considerei as atividades de pesca costeira e lacustre no estuaacuterio do Amazonas a partir da conexatildeo entre habilidades teacutecnicas (Ingold 2000) e construccedilatildeo da pessoa buscando comshypreender os sentidos de humanos e de natildeo humanos (como artefatos e anishymais) a partir dos engajamentos praacuteticos

Por outra anoto que um dos acircmbitos da pesquisa sobre cultura mateshyrial que tem crescido em nuacutemero e importacircncia eacute influenciado pelas poliacuteticas puacuteblicas de identificaccedilatildeo de saberes e teacutecnicas enquanto patrimocircnio cultural imaterial Eacute preciso distinguir ao menos trecircs niacuteveis diferentes de implicaccedilatildeo da Antropologia com esse movimento a atuaccedilatildeo na identificaccedilatildeo de bens cultushyrais a reflexatildeo antropoloacutegica sobre a patrimonializaccedilatildeo (cf Carneiro da Cushynha 2005 Coelho de Souza 2005 Gallois 2007) e os estudos de relevacircncia antropoloacutegica associados a tais poliacuteticas Sobre esse uacuteltimo ponto cito dois exemplos que indicam a diversidade e o valor que podem assumir a elegante etnografia sobre alfaiatarias em Curitiba (Santos et al 2009) e a valiosa pesshyquisa sobre os sistemas agriacutecolas do rio Negro (Emperaire et al 2008 Emperaire 2005) Esta uacuteltima apresenta dois pontos a ressaltar O fato de a pesquisa ser levada adiante por uma equipe capaz de lidar com muacuteltiplas dimensotildees do fenocircmeno agriacutecolamdashcomo soacutei acontecer nesse tipo de projeto mdash aponta provavelmente uma tendecircncia metodoloacutegica Depois por contrishybuir agrave reduccedilatildeo da insondaacutevel lacuna nos estudos sobre cultura material dedicashydos agraves teacutecnicas de cultivo e aos processos de disseminaccedilatildeo agriacutecola ela indica um dos campos potenciais para seu desenvolvimento

Mas eacute nos trabalhos voltados agraves populaccedilotildees indiacutegenas que a anaacutelise da materialidade multiplicou-se constituindo uma tradiccedilatildeo de estudos A coshymeccedilar pela etnoarqueologia que estabelece associaccedilotildees entre o passado de uma populaccedilatildeo e a forma em que estatildeo relacionados atualmente artefatos conhecimentos e ambiente (cf Silva 2009 Silva e Souza 2002 Funari 1998 Ribeiro 1990) Para ilustrar o tom recente deste debate - sobre a relashy

C iecircn cia e T eacutecnica 103

ccedilatildeo entre dados etnograacuteficos e arqueoloacutegicos mdash notemos que Silva (2007 p 102) afirma baseada em etnografia sobre fabricaccedilatildeo e uso de artefatos que as formas de descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo atraveacutes da qual satildeo estabelecidas as periodIacute2accedilotildees arqueoloacutegicas em geral natildeo levam em consideraccedilatildeo os mecanisshymos mais complexos de produccedilatildeo de identidades sociais externas e internas aos grupos Tais aspectos podem ser acessados pelo estudo etnograacutefico da produccedilatildeo e da circulaccedilatildeo de artefatos associado agraves categorias ecircmicas usadas para referir-se a eles Ao dar-se conta das tensotildees entre tecnologia e agecircncia continuidade e mudanccedila a etnografia pode assim auxiliar na melhor compreshyensatildeo de comportamentos e trajetoacuterias de populaccedilotildees Eacute movida por estas preocupaccedilotildees que Silva (2002) escreve um dos raros trabalhos realizados no Brasil em que se traccedila um panorama de propostas teoacutericas sobre a relaccedilatildeo entre teacutecnica e significado no acircmbito da Antropologia

Por outro lado satildeo bem conhecidas as abordagens relacionando exshypressotildees materiais e simboacutelicas das sociedades indiacutegenas com base em mateshyrial etnograacutefico A esse propoacutesito sobressai o nome de Berta Ribeiro que aleacutem de suas proacuteprias pesquisas organizou os trecircs volumes da Suma etnoloacutegica brasileira (Ribeiro 1986) Das vaacuterias facetas de sua obra3 sublinhemos duas a ecircnfase na forma como um aspecto central na descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos artefatos (Ribeiro 1988) e o intuito de ldquoestudar a cultura material como uma iconografia eacutetnicardquo (Ribeiro 1986 p 12 cf tambeacutem 1989) o que conshyfere agrave dimensatildeo esteacutetica a chave de abertura para o sentido simboacutelico da vida material indiacutegena Inclusive eacute sob influecircncia desse princiacutepio que se desenvolve uma linha importante de trabalhos acerca da iconografia indiacutegeshyna em suas muacuteltiplas manifestaccedilotildees (Vidal 1992)

Natildeo se trata de negar que tambeacutem compunha o programa de pesquishysas de Berta Ribeiro (1995) a ldquotecnoeconomiardquo isto eacute a dimensatildeo da mateshyrialidade diretamente voltada agrave relaccedilatildeo com o ambiente e agrave subsistecircncia incluindo processos de fabricaccedilatildeo e uso Mas digamos que estas duas disposhysiccedilotildees mdash a ldquoformardquo como dado privilegiado e a ldquoesteacuteticardquo como dimensatildeo reveladora - satildeo cursos principais de sua reflexatildeo assim como da maneira como antropoacutelogos brasileiros lidam com a cultura material Penso que em alguma medida isto seja um subproduto do fato mais geral de a etnologia no Brasil se constituir em contraposiccedilatildeo agraves interpretaccedilotildees materialistas de dishyferentes ordens enfatizando para tal a organizaccedilatildeo social e o simbolismo

3 A esse respeito ver Velthem (1999) e Botelho (2005)

104 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

O texto de siacutentese de Vidal e Silva (1992) evidencia bem os pressuposshytos e as potencialidades desse enquadramento A ecircnfase na noccedilatildeo de um sisteshyma de objetos como base empiacuterica e na articulaccedilatildeo entre arte e cultura material como horizonte compreensivo eacute fundamental Mas o refinamento etnograacutefico alcanccedilado por esses trabalhos deve-se tambeacutem agrave formaccedilatildeo em artes ou museologia de parte consideraacutevel dos antropoacutelogos responsaacuteveis por elas4 Isto natildeo eacute negligenciaacutevel tanto mais se considerarmos que um dos desdobrashymentos mais instigantes nesse cenaacuterio eacute a reflexatildeo sobre a noccedilatildeo ocidental de arte e o modo como ela incide na compreensatildeo antropoloacutegica (nessa linha cf Costa 1988 e Velthem 2000) A tiacutetulo de exemplo citemos as ideias de criatividade individual autoria e autenticidade que se revelam muito diferenshytes no mundo indiacutegena

Contudo este desdobramento na reflexatildeo sobre a esteacutetica indiacutegena somente pode ser considerado em associaccedilatildeo com outro fator que diz resshypeito agrave etnologia de modo geral A partir da deacutecada de 1980 toma-se expliacutecishyta a percepccedilatildeo de que haacute ldquonecessidade de se tomar o discurso indiacutegena sobre a corporalidade e a pessoa como informador da praacutexis social concretardquo (Seeger et al 1979 p 16) Haacute entatildeo uma conexatildeo produtiva entre a tradiccedilatildeo de pesquisa da materialidade em tela mdash com um olhar atento agrave iconografia inclusive agrave ornamentaccedilatildeo corporal mdash e a aproximaccedilatildeo agraves dinacircmicas de forshymaccedilatildeo da pessoa atraveacutes do idioma da corporalidade Nessa direccedilatildeo recente leva de pesquisas renova os estudos sobre cultura material basicamente operando com as noccedilotildees de alteridade e de agecircncia como Velthem (2003) Lagrou (2007) Barcelos Neto (2008) e Miller (2009)

A trajetoacuteria de Luacutecia van Velthem expressa os principais capiacutetulos da transformaccedilatildeo na abordagem da cultura material na Antropologia brasileishyra Suas primeiras publicaccedilotildees a exemplo da dissertaccedilatildeo sobre a cestaria wayana datildeo prova do rigor descritivo da minuacutecia no tratamento da produshyccedilatildeo e da forma dos artefatos e de seus motivos graacuteficos Jaacute em O belo eacute afera explorando o viacutenculo necessaacuterio entre beleza e predaccedilatildeo Velthem (2003) compreende a esteacutetica Wayana frisando que os objetos e os padrotildees figuratishyvos natildeo constituem obras puramente humanas mas satildeo recebidos ou arreshybatados de outros seres sejam eles animais inimigos sobrenaturais etc De modo que a decoraccedilatildeo eacute uma forma de ldquointegrar o que lhe eacute estranho de

4 Eacute o caso de Berta Ribeiro Heloiacutesa Feacutenelon Costa Lux Vidal Luacutecia van Velthem Aristoacuteteles Barcelos Neto etc

C iecircn cia e T eacutecnica 105

assimilar o outro como condiccedilatildeo da proacutepria identidade individual e coletiva capacidade esta veiculada atraveacutes da arte que se revela para os Wayana enquanshyto possibilidade de afirmaccedilatildeo de humanidaderdquo (idem p 389) Natildeo soacute a relashyccedilatildeo com a alteridade eacute condiccedilatildeo de humanidade mas dado que a ldquofabricaccedilatildeordquo tanto de coisas como de pessoas independente de sua constituiccedilatildeo material eacute concretizada de acordo com uma mesma teacutecnica a grande questatildeo aqui eacute detectar ldquoo que haacute de lsquohumanorsquo nas coisas e o que haacute de lsquocoisarsquo nos humanosrdquo (idem p 63 cf Velthem 2009)5

Em seu estudo sobre o estilo graacutefico kaxinawa Lagrou (2007 cf tamshybeacutem 2002) tambeacutem se afasta dos intentos classificatoacuterios ou formalistas que tendem num segundo momento a desviar a atenccedilatildeo dos objetos para os sistemas de pensamento Ela trata de modo inseparaacutevel forma sentido e accedilatildeo apoiando-se em Gell (1998) para levar adiante uma abordagem de objetos artefatos e arte ldquocomo se fossem pessoasrdquo Isto eacute objetos cujo sentido natildeo estaacute no plano contemplativo semioacutetico ou linguumliacutestico mas adveacutem de certas moshydalidades de agecircncia estaacute em seus efeitos praacuteticos (Lagrou 2007 p 54) A ideia mesmo de poder criativo eacute alvo de exame suscitando a rediscussatildeo tanto dos pressupostos de uma Antropologia da arte quanto da ideia de agecircncia no mundo indiacutegena De modo que ldquopensar sobre arte entre os ameriacutendios equumlishyvale a pensar a noccedilatildeo de pessoa e de corpo Porque objetos pinturas e corpos satildeo assuntos ligados no universo indiacutegena no qual a pintura eacute feita para aderir a corpos e objetos satildeo feitos para completar a accedilatildeo dos corposrdquo (idem p 50)

Esse movimento nas abordagens da cultura material a partir das ideias de fabricaccedilatildeo de corpos e pessoas e da alteridade como dimensatildeo constitutiva reorganiza apropria forma de atribuiccedilatildeo da qualidade de sujeito e de objeto estabelecendo um quadro relacionai e situacional para a compreensatildeo do senshytido dos seres e das coisas E de se prever entatildeo que isto oxigenaria fortemenshyte temas proacuteximos como os associados agrave circulaccedilatildeo dos objetos Refiro-me agrave

5 Dedicando-se mais recentemente ao estudo de populaccedilotildees ribeirinhas no Acre Velthem (2008 p 11) constata que a fertilidade dos estudos sobre certas categorias artesanais dos povos indiacutegenas (cestaria plumaacuteria ceracircmica) contrasta com o tratamento meramente utilitaacuterio dado aos objetos envolvidos nos contextos produtivos de outras populaccedilotildees Levando adiante essa constataccedilatildeo seria o caso de acrescentar que muitas vezes esse desequiliacutebrio se apresenta no proacuteprio acircmbito dos estudos sobre povos indiacutegenas Nesse sentido vale ressaltar que a emergecircncia da noccedilatildeo de predaccedilatildeo que estende seu potencial heuriacutestico a diversos planos da vida indiacutegena natildeo tem gerado entre pesquisadores brasileishyros uma valorizaccedilatildeo das aproximaccedilotildees etnograacuteficas sobre a atividade cinegeacutetica propriashymente dita Aspecto que tem sido enfocado por antropoacutelogos de outras nacionalidades como Descola (1986) Ingold (1988 2000) e Kohn (2002)

106 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

inserccedilatildeo de objetos industrializados no meio indiacutegena (cf Ramos e Albert 2002) e de outro lado ao tracircnsito de objetos indiacutegenas no mundo natildeo indiacuteshygena particularmente nas situaccedilotildees de sua comercializaccedilatildeo e musealizaccedilatildeo Baseado em detalhado estudo sobre maacutescaras rituais xinguanas Barcelos Neto (2006 e 2008) estende-se a respeito dos muacuteltiplos sentidos da musealizaccedilatildeo inclusive na oacutetica indiacutegena tema de interesse crescente (por exemplo em Gordon e Silva 2005) Por fim eacute o caso de constatar que objetos (nos dois sentidos artefatos e temas de estudo) outrora relegados aos capiacutetulos sobre cultura mateshyrial ganham vida no cerne da etnologia contemporacircnea Penso que isso faz parte de um deslocamento mais amplo no modo de compreensatildeo das populashyccedilotildees indiacutegenasmdashde suas concepccedilotildees de humanidade e praacuteticas de socialidade mdash que daacute mostras de passar de modo cada vez mais intenso pelos natildeo humanosmdash artefatos animais espiacuteritos

Teacutecnicas do vivoDos trecircs temas definidos no escopo deste artigo este eacute sem duacutevida o

mais profuso e difuso de modo que sobressairaacute mais aqui o caraacuteter apenas indicativo das referecircncias e comentaacuterios De sorte que inicio lembrando que os termos teacutecnicatecnologiabiotecnologia satildeo recorrentes nos estudos sobre as praacuteticas de sauacutede em geral o mais das vezes conotando o processo messhymo de medicalizaccedilatildeo remetendo agraves dinacircmicas de construccedilatildeo de gecircnero e ou de subjetivaccedilatildeo com marcada influecircncia foucaultiana (a exemplo de Rohden 2004 Leibing 2004 Duarte e Leal 1998) Visto que a amplitude dessa produccedilatildeo escapa ao objetivo deste artigo interessaratildeo apenas aqueles estudos que lidam mais explicitamente com a questatildeo da teacutecnica como meshydiaccedilatildeo entre o humano e o natildeo humano na modernidade Ou seja os dedishycados aos problemas da fronteira ou da condiccedilatildeo do humano que remetem por assim dizer ao dilema do Ciborgue (Haraway 2000)

Os textos comentados a seguir apresentam como tema central o hushymano perpassado por suas proacuteprias teacutecnicas A hipoacutetese trazida aqui como criteacuterio de mapeamento eacute que a dramatiddade com que tal questatildeo se anunshycia soacute pode ser adequadamente apreciada na moldura da modernidade ocishydental Antes de tudo porque fora disso o drama tomar-se-ia banal- o humano sempre foi por definiccedilatildeo alvo de suas proacuteprias teacutecnicas (Leroi-Gourhan 1983 Neves 2006) Mas mesmo que se queira conceder preeminecircncia agraves especifi- cidades de nossa eacutepoca ainda assim a pertinecircncia antropoloacutegica do dilema do

C iecircncia e T eacutecnica 107

Ciborguemdashisto eacute do mal-estar com a teacutecnica modificando o seu autor mdash natildeo estaacute em se tratar de uma questatildeo referente ao advento da modernidade para a humanidade mas agraves redefiniccedilotildees do humano na modernidade Como os estudos antropoloacutegicos abaixo denotam por vias distintas a inquietaccedilatildeo geshyrada pelas biotecnologias no Ocidente moderno deve ser tratada como um fenocircmeno ecircmico cujas chaves de inteligibilidade estatildeo em sua proacutepria cosmologia

Uma das formas em que essa preocupaccedilatildeo se verifica eacute nas aproximashyccedilotildees aos modos de diagnoacutestico derivados do saber biomeacutedico Chazan (2007) trata do ultrassom obsteacutetrico que ao transportar o feto para o acircmbito da visualidade participa da reorganizaccedilatildeo da gestaccedilatildeo e da relaccedilatildeo com o feto As imagens e a forma como o ultrassom obsteacutetrico opera por meio da psicologizaccedilatildeo e da fisicalizaccedilatildeo do feto promovem sua existecircncia ldquosocialrdquo (isto eacute na forma do indiviacuteduo) antes do nascimento - a nomeaccedilatildeo passa a ocorrer quando da determinaccedilatildeo do sexo Entre as consequumlecircncias deste dispositivo estaacute sua utilizaccedilatildeo poliacutetica na controveacutersia sobre o aborto como prova da condiccedilatildeo de pessoa do feto e a constituiccedilatildeo do rito de visualizaccedilatildeo onde haacute algo de diagnoacutestico e algo de espetaacuteculo O exame pressupotildee algum aprendizado visual e gira em torno da fruiccedilatildeo das imashygens ldquodecifradasrdquo na tela

Investindo preferencialmente no desenvolvimento laboratorial de dishyagnoacutesticos Monteiro (2005) debruccedila-se sobre o surgimento de novos forshymatos de exame pautados na geneacutetica e na informaacutetica que buscam detectar biomarcadores de cacircncer de proacutestata O foco eacute na forma como interagem percepccedilotildees de corpo e de humano e no modo como estes aspectos associshyam-se no plano poliacutetico No contexto das academias de ginaacutestica delineei os modos de funcionamento da avaliaccedilatildeo antropomeacutetrica considerando o mashynejo das dimensotildees iacutentimas (psiacutequicas) e internas (fiacutesicas) do indiviacuteduo pela elaboraccedilatildeo socioteacutecnica da gordura (Sautchuk 2007) Jaacute Bonet (2004) trata justamente da constituiccedilatildeo do componente humano necessaacuterio aos disposishytivos de diagnoacutestico e terapecircutica pois enfoca o aprendizado praacutetico de meacutedicos em situaccedilatildeo de residecircncia

Haacute igualmente pesquisadores voltados ao transbordamento de discurshysos e dispositivos gerados no acircmbito da ciecircncia movendo a atenccedilatildeo do conshytexto de sua produccedilatildeo ou funcionamento para aquele da sua difusatildeo Veja-se os estudos sobre a forma como as neurociecircncias instituem novos marcadores de identificaccedilatildeo pessoal e de explicaccedilatildeo de sintomas enfim como estes disposhy

108 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

sitivos biomeacutedicos avanccedilam sobre o cotidiano extra-hospitalar seja contribushyindo agrave afirmaccedilatildeo de um ldquosujeito cerebralrdquo (Azize 20082010) seja possibishylitando o surgimento de um movimento de ldquoneurodiversidaderdquo que associa o individualismo com a noccedilatildeo de uma cultura cerebral (Ortega 2008) Sem mencionar aqui estudos voltados ao consumo de medicamentos assinalo que outra forma de explorar os desdobramentos da biotecnologia eacute enfocando seus usos com o fim de gerar os ditos estados de alteraccedilatildeo Vargas (2006 2008) considera as drogas enquanto objetos socioteacutecnicos que natildeo comporshytam sentido intriacutenseco absoluto ou essencial mas sim relacionai De modo que elas permanecem indeterminadas ateacute que os agenciamentos a constituam enquanto tais afinal elas operam mediando formas particulares de engajamentos com o mundo Para notar enfim que o identificador ldquobiordquo aplica-se tambeacutem a teacutecnicas natildeo ligadas agrave medicina veja-se Ferreira (2008) sobre o transe associado agrave muacutesica eletrocircnica

Dado o escopo aqui fixado mdash a relaccedilatildeo entre o humano e a teacutecnica em face da modernidade - eacute preciso demorar um pouco mais nas novas teacutecnicas reprodutivas pois se instaura entre antropoacutelogos brasileiros um verdadeiro diaacutelogo marcado pela influecircncia consideraacutevel de Strathern (1992) e levando adiante por etnografias e elaboraccedilotildees analiacuteticas realizadas em diferentes direshyccedilotildees (Grossi et al 2003 Ramiacuterez-Gaacutelvez 2009) Nesse contexto Salem (1997) circunscreve alguns pontos de referecircncia dentre eles o emprego sisteshymaacutetico do aparato conceituai de Dumont o que demonstra o intuito de colocar em perspectiva a modernidade por meio de um de seus dilemas fulcrais Para ela ldquoo proacuteprio modo de formular o dilema envolvido na manipulaccedilatildeo de embriotildees evidencia que em uacuteltima instacircncia estaacute-se discutindo a Pessoa o que significa ser pessoa e quais as qualidades que instalam em um ser humano essa condiccedilatildeordquo (idem p 84)

Consequumlecircncia disso a condiccedilatildeo de inteligibilidade de toda a controshyveacutersia o suposto de seus diferentes argumentos eacute o Indiviacuteduo a categoria ocidental de pessoa Grosso modo a controveacutersia estaacute em se o embriatildeo eacute e ateacute quando tecido celular ou pessoa E isso se definiria a partir da localizaccedilatildeo de certas caracteriacutesticas instauradoras do indiviacuteduo que confluem para a ldquoposserdquo de certas qualidades ou marcos Independentemente de que sejam defendidos atributos morais ou bioloacutegicos trata-se sempre de ldquouma realidade inerente ao indiviacuteduordquo um ldquodomiacutenio autocontidordquo lsquologicamente anterior agraves relaccedilotildees soshyciaisrdquo (idem p 84) Daiacute emergem questotildees sobre o estatuto mesmo do emshybriatildeo (intra ou extracorpoacutereo) e de como hierarquizar seus ldquodireitosrdquo em relaccedilatildeo aos da matildee

C iecircncia e T eacutecnica 109

A partir de quadro teoacuterico proacuteximo ao de Salem (1997) mas trabashylhando com dados oriundos de etnografia sobre processos de reproduccedilatildeo assistida Naara Luna (2007a e 2007b) insiste na questatildeo sobre quais atribushytos confeririam ao embriatildeo subjetividade e identidade individual Ela nota entatildeo a transferecircncia dos criteacuterios de individualidade e autonomia do plano moral para o plano bioloacutegico afirmando que ocorre genetizaccedilatildeo ou biologizaccedilatildeo do parentesco o que se expressa de modo mais geral

A anaacutelise das novas tecnologias reprodutivas permite vislumbrar como Natureza e Cultura natildeo satildeo domiacutenios estanques mas que haacute um fluxo contiacutenuo de significados um intercacircmbio em que significados natushyrais satildeo culturalizados e significados culturais satildeo naturalizados A Natureza ora serve de m odelo agrave Cultura ora o entendimento pela Cultura se impotildee agrave Natureza (Luna 2004 p 152)

Exemplo disso eacute o sangue que comporta sentidos geneacuteticos (DNA) e de pertencimento familiar acionando a importacircncia do parentesco e da pesshysoa no acircmbito da heranccedila Ademais emergem do universo bioloacutegico novas figuras de parentesco e portanto de humanidade como ceacutelulas oacutevulos feshytos Igualmente se os limites da concepccedilatildeo do humano e das relaccedilotildees de parentesco satildeo redesenhados com as novas teacutecnicas reprodutivas ressignificam- se tambeacutem a paternidade e a maternidade (idem p 151)

E o que indica Fonseca (2005) sobre o exame de DNA para definiccedilatildeo de paternidade Aleacutem disso ela enfatiza que a verdade bioloacutegica abre um horizonte de novas duacutevidas negociaccedilotildees e dilemas em torno do estabelecishymento ou do rompimento de viacutenculos de parentesco Conclusatildeo proacutexima agrave que Machado (2008) avanccedila sobre a alteraccedilatildeo nas definiccedilotildees da intersexuali- dade quanto mais se aguccedila a detecccedilatildeo de traccedilos de veracidade a respeito da definiccedilatildeo do sexo mais afloram ambiguumlidades entre diferentes niacuteveis (anatocircmicogeneacutetico etc)

A partir de pesquisa sobre a tramitaccedilatildeo da Lei de Biosseguranccedila brasishyleira mdash que permitiu sob certas condiccedilotildees o uso de ceacutelulas tronco de embriotildees inviaacuteveis ou congelados e a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos mdash Cesarino (2006) faz contribuiccedilotildees importantes a este debate Notadamente ela proshymove uma articulaccedilatildeo entre a controveacutersia no campo poliacutetico-moral e o fator econocircmico enfrentando o problema de equacionar mercado e ciecircncia nos dilemas cosmoloacutegicos da modernidade Para compreender os sentidos do debate poliacutetico a respeito da Lei de Biosseguranccedila - articulando fatos cientiacutefishy

110 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

cos e mercadorias Cesarino associa de maneira muito oportuna certos asshypectos da Antropologia simeacutetrica latouriana com a teoria dumontiana espeshycialmente no que se refere agrave relaccedilatildeo entre o individualismo e a autonomia da economia na modernidade Assim se ldquoo indiviacuteduo eacute a forma assumida pelos humanos no ciacuterculo de trocas do livre-mercado a mercadoria seria a forma por excelecircncia de inserccedilatildeo dos natildeo humanos no mercado capitalistardquo (Cesarino 2006 p 204-205) Adiccedilatildeo importante jaacute que o indiviacuteduo natildeo eacute entatildeo o uacutenico suposto no debate sobre a Lei de Biosseguranccedila a mercadoria eacute o sushyposto oposto mdash a condiccedilatildeo das coisas No caso da permissatildeo para o uso de embriotildees ela se vale da noccedilatildeo de englobamento para mostrar como sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade as qualidades do indiviacuteshyduo puderam ser consideradas tatildeo diminuiacutedas no preacute-embriatildeo a ponto de permitir sua desumanizaccedilatildeo relativa e seu uso nas pesquisas na qualidade de parte do mundo natural passiacutevel de manipulaccedilatildeo (Cesarino 2007 p 373)

Identificando traccedilos gerais aos trabalhos comentados aqui ressalto a pershycepccedilatildeo de que as biotecnologias remetem agrave questatildeo da fronteira da humanidashyde mas que devem ser explorados frente aos quadros cosmoloacutegicos da modernidade Associado a isso temos a constataccedilatildeo de que estes permanecem muito bem assentados ainda que mobilizados de modo distinto Tanto em relaccedilatildeo agrave Lei de Biosseguranccedila como nos demais casos referidos a ciecircncia natildeo perde nada do seu vigor assim como a separaccedilatildeo entre cultura e natureza Seria o caso de dizer que se as inovaccedilotildees teacutecnicas causam reordenaccedilotildees importantes elas estatildeo longe de reconfigurar as bases da cosmologia moderna Ao menos no plano formal (poliacutetico legal ou meacutedico) as noccedilotildees fundamentais de Indiviacuteduo Mercado Natureza permanecem operando e organizando (ou estimulando) o funcionamento das novas teacutecnicas O que as etnografias mostram satildeo ajustes ldquopragmaacuteticosrdquo que evidenciam plasticidades significativas mas natildeo uma reordenaccedilatildeo Portanto alguns dos aspectos mais interessantes evidenciados peshylos estudos sobre os dilemas biotecnoloacutegicos satildeo o vigor e a agilidade com que suas categorias se rearranjam (mercado natureza indiviacuteduo) para dar conta dos fenocircmenos de fronteira

CiecircnciaEacute um traccedilo caracteriacutestico da Antropologia feita no Brasil o estudo da

proacutepria configuraccedilatildeo das Ciecircncias Sociais enquanto especialidades dentiacutefi- co-acadecircmicas Como observou Peirano haacute um conjunto de trabalhos nessa

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 2: Ciência e Técnica

Ciecircncia e TeacutecnicaCarlos Emanuel Sautchuk

IntroduccedilatildeoA expressatildeo ldquociecircncia e teacutecnicardquo como designaccedilatildeo de tipos de pesquisas

ou temas da Antropologia eacute recente no cenaacuterio brasileiro Teve iniacutecio nos anos 1990 firmando-se como identificador expliacutecito apenas neste seacuteculo quando se consolidou como forma de reunir linhas de reflexatildeo antropoloacutegica com orientaccedilotildees originais diferentes Essa situaccedilatildeo se diferencia da Sociologia brashysileira onde a anaacutelise de fenocircmenos como as poliacuteticas puacuteblicas e as profissotildees alavancou os estudos sobre ciecircncia e tecnologia tomando-os um campo proshyfiacutecuo que se desenvolve de maneira relativamente coesa e bem estabelecida no seio da disciplina Ao contraacuterio o que permite falar de Antropologia da ciecircnshycia e da teacutecnica no cenaacuterio brasileiro eacute a reuniatildeo de linhas diferentes de pesquishysa convergindo para algumas questotildees semelhantes

Pensando na produccedilatildeo atual e nas perspectivas futuras trecircs campos se conectam a este movimento mdash ciecircncia cultura material e biotecnologia Dito isso eacute possiacutevel mirar por dois acircngulos a produccedilatildeo antropoloacutegica sobre ciecircncia e teacutecnica no BrasiL O primeiro deles ao qual esse texto se dedica eacute diacrocircnico e particular evidenciando que cada um desses campos apresenta desenvolvishymento proacuteprio tendo derivado para a reflexatildeo sobre ciecircncia e teacutecnica mais recentemente O outro ponto de vista eacute sincrocircnico e comparativo indicando que nichos de investigaccedilatildeo aparentemente distintos tecircm convergido para disshycussotildees similares recorrendo a reflexotildees de mesma ordem Essa perspectiva permite notar que a reuniatildeo dos trecircs campos se apoia no fato dessas manifes-

Carlos Emanuel Sautchuk eacute professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasiacutelia (UnB) onde coordena o Laboratoacuterio de Antropologia da Gecircncia e daTeacutecnica (LACT)

98 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

taccedilotildees da Antropologia feita no Brasil empreenderem uma anaacutelise sobre as formas de sociabilidade ou sobre o estatuto do humano (ou da pessoa) a partir das relaccedilotildees estabelecidas com diferentes tipos de natildeo humanos sejam eles extraterrestres animais artefatos grafismos embriotildees ou genes

Os diferentes estudos aqui analisados voltam-se ainda que de maneira particular ao fato de que a dimensatildeo natildeo humana da vida social eacute extremashymente relevante para o enfoque das formas de sociabilidade e das noccedilotildees de humanidade Guardadas as especificidades de cada aacuterea de estudo esse intuito geral vale para o iacutendio que tranccedila um cesto o cientista que observa um macashyco ou o casal envolto nos procedimentos de reproduccedilatildeo assistida Ao focar esses tipos de situaccedilotildees os antropoacutelogos tecircm analisado as construccedilotildees cosmoloacutegicas que organizam a distribuiccedilatildeo e as caracteriacutesticas de humanos e natildeo humanos Num outro niacutevel isto aponta para abordagens preocupadas em diferentes graus e perspectivas em repensar a dicotomia entre cultura e natureza e suas tributaacuterias (artificial e natural sujeito e objeto etc) que pershypassam tanto a modernidade de modo geral quanto o proacuteprio fazer antroposhyloacutegico1

No registro dessa preocupaccedilatildeo com a manifestaccedilatildeo da modernidade (na antropologia eou em seus ldquoobjetosrdquo) cabe comentar algo sobre a preshyferecircncia pelo termo teacutecnica e natildeo tecnologia na definiccedilatildeo do escopo deste texto Em primeiro lugar como fica evidente pelo proacuteprio delineamento das abordagens tratadas neste artigo ciecircncia e teacutecnica natildeo demarcam um objeto empiacuterico mdash natildeo se trata de abordagens antropoloacutegicas voltadas ao domiacutenio da ldquociecircncia amp tecnologiardquo nos Estados modernos mdash mas satildeo noshyccedilotildees tomadas antes na qualidade de categorias analiacuteticas a orientar a investishygaccedilatildeo antropoloacutegica

1 Natildeo foram consideradas aqui as pesquisas dedicadas agrave relaccedilatildeo entre conhecimentos tradishycionais e ciecircncia moderna assim como aquelas relativas agrave cibercultura ainda que em alguma medida elas guardem proximidade com o tema Aleacutem disso dada a desproporccedilatildeo entre o campo a resenhar e as dimensotildees do texto pareceu-me necessaacuterio renunciar a qualquer pretensatildeo de ser exaustivo guardando entretanto o objetivo de ser indicativo das principais tendecircncias Trechos deste trabalho receberam a leitura de Mariza Peirano Marcela Coelho de Souza e Guilherme Saacute a quem agradeccedilo pelas observaccedilotildees as quais nem sempre consegui atender Ao Guilherme devo tambeacutem boas indicaccedilotildees sobre estudos relativos ao tema cabe a mim igualmente a responsabilidade por natildeo ter incorporado devidamente todas as informaccedilotildees repassadas Versatildeo inicial deste texto foi apresentada naII Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da Tecnologia em maio de 2009 na Universidashyde Federal de Minas Gerais (UFMG)

C iecircncia e T eacutecnica 99

Nesse sentido adotar o termo teacutecnica natildeo indica rejeiccedilatildeo mas cautela em relaccedilatildeo agrave tecnologia Se no contexto anglo-saxatildeo e no Brasil de modo geral o vocaacutebulo tecnologia eacute mais acionado entre francoacutefonos teacutecnica gashynha mais importacircncia e abrangecircncia Veja-se a tatildeo importante quanto pouco lembrada produccedilatildeo de Mauss (2006) sobre o tema onde tecnologia eacute comshypreendida como o estudo da teacutecnica E verdade que existe alguma corresshypondecircncia entre os dois termos atestada por exemplo na traduccedilatildeo para o inglecircs de autores como Latour Foucault Ellul Daumas Mauss Lemonnier onde technique no original eacute vertido como technolog) Mas essa equivalecircncia eacute parcial e pode dar margem a algumas confusotildees Tanto assim que diversos autores franceses incomodam-se com o emprego do termo tecnologia conshysiderando-o equivocado ou abusivo (Seacuteris 1994 p 3-6 Sigaut 1994 p 442 Latour 2001 p 219) E mesmo Bryan Pfaffenberger em SocialAnthropologj o f Technology (1992) propotildee a substituiccedilatildeo do termo tecnologia por teacutecnica ou por sistema socioteacutecnico

Natildeo se trata de fazer a defesa de uma linha de pensamento em detrishymento da outra o que seria no miacutenimo prova de um estreitamento teoacuterico inoportuno para um esforccedilo de mapeamento O cenaacuterio brasileiro natildeo pershymite que se tracem linhas absolutas pois se cruzam ambas as tradiccedilotildees e amshybos os vocaacutebulos Portanto a escolha do termo teacutecnica aqui se justifica antes de tudo por abrangecircncia e cautela

Explicitemos isto a partir da seguinte indagaccedilatildeo dado que tecnologia natildeo se refere ao estudo da teacutecnica o que justifica a adiccedilatildeo do sufixo ldquologosrdquo Tecnologia pode sugerir o superlativo de teacutecnica no sentido de outra orshydem racional mais sofisticada com meacutetodos complexos consciente dela mesma de suas necessidades e finalidades informada por um saber especishyalizado e cientiacutefico associado ao progresso Opor-se-ia assim agraves teacutecnicas ditas ldquorudimentaresrdquo baseadas no empirismo ou no conhecimento intuitishyvo arraigada nas convenccedilotildees Assim o valor associado ao termo tecnologia estaria conectado agrave dicotomia moderno-tradicional enquanto transformashyccedilatildeo radical Em acepccedilatildeo um pouco diferente tecnologia pode significar a dimensatildeo intelectual da teacutecnica isto eacute os conhecimentos saberes conceitos relativos a alguma operaccedilatildeo material o que remete agrave separaccedilatildeo entre domiacuteshynio ideal e material Ainda que em certas anaacutelises as transformaccedilotildees instaushyradas pelo mundo industrial ou as elaboraccedilotildees abstratas relativas agrave teacutecnica devam ganhar ecircnfase parece injustificado admitir isso como distinccedilatildeo a priori extensiva a todas as situaccedilotildees

100 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

Tecnologia pode tambeacutem significar coletivo de teacutecnicas Este uso conshysagrado entre antropoacutelogos anglo-saxotildees remete agrave ideia de que as teacutecnicas se reuniriam em sistema ou pelo menos num conjunto que se relacionaria com outros (de humanos siacutembolos etc) Assimartefatos estariamprimariamente em relaccedilatildeo com artefatos e este sistema caracterizado pela cultura material manteria uma relaccedilatildeo de outra ordem com a sociedade Essa distinccedilatildeo fundashymental entre o humano e o teacutecnico (derivada do pensamento hilemoacuterfico cf Simondon 2001) sustenta o dilema entre tecnotopia e tecnofobia tatildeo caracshyteriacutestico do pensamento moderno (cf Ribeiro 1999) Note-se entatildeo que considerar as teacutecnicas enquanto um sistema proacuteprio em alguma medida exteshyrior natildeo raro dominado ou dominando a vida humana extrateacutecnica pode implicar em um vieacutes etnocecircntrico instaurando importantes limitaccedilotildees heuriacutesticas Ver-se-aacute que tal dicotomia estaacute em contradiccedilatildeo com parte consishyderaacutevel do esforccedilo reflexivo avanccedilado nos estudos analisados a seguir

Enfim a opccedilatildeo pelo termo teacutecnica natildeo se deve agrave afirmaccedilatildeo de um tipo de abordagem mas agrave reserva epistemoloacutegica e agrave cautela empiacuterica face aos pressushypostos que podem subjazer ao uso do termo tecnologia Pode-se dizer entatildeo que o termo teacutecnica natildeo se opotildee mas engloba os diferentes usos de tecnologia Isso parece especialmente importante quando se trata de designar todo o escopo de abrangecircncia do tema na Antropologia praticada no BrasiL

Cultura materialAo introduzir um artigo sobre habitaccedilatildeo popular Luiz de Castro

Faria notou que os estudiosos das populaccedilotildees de origem africana no Brasil privilegiavam os aspectos religiosos e socioloacutegicos um ldquounilateralismordquo que prejudicava a compreensatildeo dos ldquobens materiais de culturardquo (Castro Faria 2000 p 339-340) Esta frase publicada em 1951 ressalta dois aspectos signishyficativos sobre os desenvolvimentos ulteriores dos estudos de cultura mateshyrial na Antropologia brasileira O primeiro deles eacute o alcance relativamente limitado em que este campo de pesquisa se manteve no quadro de interesses da antropologia no Brasil se comparado com a qualidade dos estudos realishyzados Outro ponto eacute que a forma como Castro Faria buscou minorar essa carecircncia no decurso de sua longa carreira como pesquisador e professor pode ser tomada como representativa dos tipos de preocupaccedilotildees que pautashyram os antropoacutelogos dedicados agrave materialidade Como se sabe dentre sua vasta contribuiccedilatildeo agrave formaccedilatildeo da Antropologia brasileira destacam-se a aproxishy

C iecircncia e T eacutecnica 101

maccedilatildeo (e a criacutetica) aos museus estudos arqueoloacutegicos escritos sobre a arte indiacuteshygena cursos sobre Antropologia econocircmica aleacutem da participaccedilatildeo decisiva na implantaccedilatildeo da legislaccedilatildeo referente ao patrimocircnio histoacuterico cultural Esse rol de temas explorados por Castro Faria se natildeo estaacute na origem direta de todas as abordagens contemporacircneas agrave cultura material no Brasil pode ser tomado como um quadro indicativo delas conforme apresentadas a seguir

Comecemos por sua influecircncia sobre os estudos de populaccedilotildees de pesshycadores Ela pode ser sentida na abordagem que enfocando as questotildees ambientais e poliacuteticas natildeo descuida da dimensatildeo teacutecnica e econocircmica emshypreendendo descriccedilatildeo e anaacutelise cuidada das diferentes formas de pescaria (Kant e Pereira 1997) Os detalhados resultados de uma pesquisa etnograacutefica ao longo da histoacuteria de uma comunidade pesqueira e as transformaccedilotildees em seu ambiente natural e sociopoliacutetico podem ser vistos na obra Gente das areias (Mello e Vogel 2004) que situa boa parte de seu interesse nas teacutecnicas relacionadas ao ambiente

A preocupaccedilatildeo com o trabalho como apropriaccedilatildeo dos recursos vashylendo-se das teacutecnicas eacute que articula os diferentes planos da anaacutelise e define um papel importante na dinacircmica explicativa destas pesquisas para a dimenshysatildeo econocircmica Nisso pode ser encontrado um traccedilo mais geral dos estudos sobre sociedades de pescadores entre pesquisadores brasileiros (por exemplo em Furtado 1993 Chaves 1973 Mussolini 1980) Esse vieacutes preocupa-se com os modos de apropriaccedilatildeo dos recursos naturais ainda que priorize mais uma leitura socioeconocircmica do que propriamente teacutecnica Assim a ecircnfase recai sobre as formas de socializaccedilatildeo e de relaccedilatildeo com o ambiente enquanto modo de reproduccedilatildeo Mas eacute notaacutevel que se os estudos sobre pesca no Brasil emprestam importantes balizas teoacutericas dos de campesinato (como o trabalho articulando ambiente economia e sociedade) eles invesshytem mais na etnografia das atividades teacutecnicas como forma de compreensatildeo das dimensotildees socioeconocircmicas

Malgrado algumas referecircncias raacutepidas eacute curioso notar que as claacutessicas contribuiccedilotildees de Andreacute Leroi-Gourhan (1983 1984) agrave Antropologia da teacutecnica natildeo ecoam nas correntes de pesquisa sobre cultura material no Brashysil Sem explorar aqui as razotildees disso2 limitemo-nos a apontar sua influecircnshycia em trabalhos recentes Em dissertaccedilatildeo sobre as transformaccedilotildees das habitaccedilotildees

2 Ausecircncia tanto mais notaacutevel quanto Leroi-Gourhan se dedicou longa e profundamente agrave relaccedilatildeo entre teacutecnica e esteacutetica e agrave proacutepria noccedilatildeo de arte que veremos a seguir satildeo fundashymentais nas abordagens da cultura material indiacutegena

102 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

kaiowaacute Mura (2000) explora o ambiente domeacutestico indiacutegena face aos divershysos planos do contato intereacutetnico recorrendo a trecircs horizontes teoacutericos a Antropologia da teacutecnica francesa a Antropologia econocircmica de Godelier e a elaboraccedilatildeo da etnicidade inspirada em Barth Assim sua anaacutelise natildeo adota a distinccedilatildeo entre teacutecnica indiacutegena e teacutecnica ocidental buscando compreender a constituiccedilatildeo da materialidade num ambiente de fluxos de diferentes ordens (mateacuterias-primas mercadorias conhecimentos etc) Inspirado noutra faceta de Leroi-Gourhan abordei a gecircnese associada de humanos e teacutecnicas ou ainshyda a tecnogecircnese do humano (Sautchuk 2007) Considerei as atividades de pesca costeira e lacustre no estuaacuterio do Amazonas a partir da conexatildeo entre habilidades teacutecnicas (Ingold 2000) e construccedilatildeo da pessoa buscando comshypreender os sentidos de humanos e de natildeo humanos (como artefatos e anishymais) a partir dos engajamentos praacuteticos

Por outra anoto que um dos acircmbitos da pesquisa sobre cultura mateshyrial que tem crescido em nuacutemero e importacircncia eacute influenciado pelas poliacuteticas puacuteblicas de identificaccedilatildeo de saberes e teacutecnicas enquanto patrimocircnio cultural imaterial Eacute preciso distinguir ao menos trecircs niacuteveis diferentes de implicaccedilatildeo da Antropologia com esse movimento a atuaccedilatildeo na identificaccedilatildeo de bens cultushyrais a reflexatildeo antropoloacutegica sobre a patrimonializaccedilatildeo (cf Carneiro da Cushynha 2005 Coelho de Souza 2005 Gallois 2007) e os estudos de relevacircncia antropoloacutegica associados a tais poliacuteticas Sobre esse uacuteltimo ponto cito dois exemplos que indicam a diversidade e o valor que podem assumir a elegante etnografia sobre alfaiatarias em Curitiba (Santos et al 2009) e a valiosa pesshyquisa sobre os sistemas agriacutecolas do rio Negro (Emperaire et al 2008 Emperaire 2005) Esta uacuteltima apresenta dois pontos a ressaltar O fato de a pesquisa ser levada adiante por uma equipe capaz de lidar com muacuteltiplas dimensotildees do fenocircmeno agriacutecolamdashcomo soacutei acontecer nesse tipo de projeto mdash aponta provavelmente uma tendecircncia metodoloacutegica Depois por contrishybuir agrave reduccedilatildeo da insondaacutevel lacuna nos estudos sobre cultura material dedicashydos agraves teacutecnicas de cultivo e aos processos de disseminaccedilatildeo agriacutecola ela indica um dos campos potenciais para seu desenvolvimento

Mas eacute nos trabalhos voltados agraves populaccedilotildees indiacutegenas que a anaacutelise da materialidade multiplicou-se constituindo uma tradiccedilatildeo de estudos A coshymeccedilar pela etnoarqueologia que estabelece associaccedilotildees entre o passado de uma populaccedilatildeo e a forma em que estatildeo relacionados atualmente artefatos conhecimentos e ambiente (cf Silva 2009 Silva e Souza 2002 Funari 1998 Ribeiro 1990) Para ilustrar o tom recente deste debate - sobre a relashy

C iecircn cia e T eacutecnica 103

ccedilatildeo entre dados etnograacuteficos e arqueoloacutegicos mdash notemos que Silva (2007 p 102) afirma baseada em etnografia sobre fabricaccedilatildeo e uso de artefatos que as formas de descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo atraveacutes da qual satildeo estabelecidas as periodIacute2accedilotildees arqueoloacutegicas em geral natildeo levam em consideraccedilatildeo os mecanisshymos mais complexos de produccedilatildeo de identidades sociais externas e internas aos grupos Tais aspectos podem ser acessados pelo estudo etnograacutefico da produccedilatildeo e da circulaccedilatildeo de artefatos associado agraves categorias ecircmicas usadas para referir-se a eles Ao dar-se conta das tensotildees entre tecnologia e agecircncia continuidade e mudanccedila a etnografia pode assim auxiliar na melhor compreshyensatildeo de comportamentos e trajetoacuterias de populaccedilotildees Eacute movida por estas preocupaccedilotildees que Silva (2002) escreve um dos raros trabalhos realizados no Brasil em que se traccedila um panorama de propostas teoacutericas sobre a relaccedilatildeo entre teacutecnica e significado no acircmbito da Antropologia

Por outro lado satildeo bem conhecidas as abordagens relacionando exshypressotildees materiais e simboacutelicas das sociedades indiacutegenas com base em mateshyrial etnograacutefico A esse propoacutesito sobressai o nome de Berta Ribeiro que aleacutem de suas proacuteprias pesquisas organizou os trecircs volumes da Suma etnoloacutegica brasileira (Ribeiro 1986) Das vaacuterias facetas de sua obra3 sublinhemos duas a ecircnfase na forma como um aspecto central na descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos artefatos (Ribeiro 1988) e o intuito de ldquoestudar a cultura material como uma iconografia eacutetnicardquo (Ribeiro 1986 p 12 cf tambeacutem 1989) o que conshyfere agrave dimensatildeo esteacutetica a chave de abertura para o sentido simboacutelico da vida material indiacutegena Inclusive eacute sob influecircncia desse princiacutepio que se desenvolve uma linha importante de trabalhos acerca da iconografia indiacutegeshyna em suas muacuteltiplas manifestaccedilotildees (Vidal 1992)

Natildeo se trata de negar que tambeacutem compunha o programa de pesquishysas de Berta Ribeiro (1995) a ldquotecnoeconomiardquo isto eacute a dimensatildeo da mateshyrialidade diretamente voltada agrave relaccedilatildeo com o ambiente e agrave subsistecircncia incluindo processos de fabricaccedilatildeo e uso Mas digamos que estas duas disposhysiccedilotildees mdash a ldquoformardquo como dado privilegiado e a ldquoesteacuteticardquo como dimensatildeo reveladora - satildeo cursos principais de sua reflexatildeo assim como da maneira como antropoacutelogos brasileiros lidam com a cultura material Penso que em alguma medida isto seja um subproduto do fato mais geral de a etnologia no Brasil se constituir em contraposiccedilatildeo agraves interpretaccedilotildees materialistas de dishyferentes ordens enfatizando para tal a organizaccedilatildeo social e o simbolismo

3 A esse respeito ver Velthem (1999) e Botelho (2005)

104 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

O texto de siacutentese de Vidal e Silva (1992) evidencia bem os pressuposshytos e as potencialidades desse enquadramento A ecircnfase na noccedilatildeo de um sisteshyma de objetos como base empiacuterica e na articulaccedilatildeo entre arte e cultura material como horizonte compreensivo eacute fundamental Mas o refinamento etnograacutefico alcanccedilado por esses trabalhos deve-se tambeacutem agrave formaccedilatildeo em artes ou museologia de parte consideraacutevel dos antropoacutelogos responsaacuteveis por elas4 Isto natildeo eacute negligenciaacutevel tanto mais se considerarmos que um dos desdobrashymentos mais instigantes nesse cenaacuterio eacute a reflexatildeo sobre a noccedilatildeo ocidental de arte e o modo como ela incide na compreensatildeo antropoloacutegica (nessa linha cf Costa 1988 e Velthem 2000) A tiacutetulo de exemplo citemos as ideias de criatividade individual autoria e autenticidade que se revelam muito diferenshytes no mundo indiacutegena

Contudo este desdobramento na reflexatildeo sobre a esteacutetica indiacutegena somente pode ser considerado em associaccedilatildeo com outro fator que diz resshypeito agrave etnologia de modo geral A partir da deacutecada de 1980 toma-se expliacutecishyta a percepccedilatildeo de que haacute ldquonecessidade de se tomar o discurso indiacutegena sobre a corporalidade e a pessoa como informador da praacutexis social concretardquo (Seeger et al 1979 p 16) Haacute entatildeo uma conexatildeo produtiva entre a tradiccedilatildeo de pesquisa da materialidade em tela mdash com um olhar atento agrave iconografia inclusive agrave ornamentaccedilatildeo corporal mdash e a aproximaccedilatildeo agraves dinacircmicas de forshymaccedilatildeo da pessoa atraveacutes do idioma da corporalidade Nessa direccedilatildeo recente leva de pesquisas renova os estudos sobre cultura material basicamente operando com as noccedilotildees de alteridade e de agecircncia como Velthem (2003) Lagrou (2007) Barcelos Neto (2008) e Miller (2009)

A trajetoacuteria de Luacutecia van Velthem expressa os principais capiacutetulos da transformaccedilatildeo na abordagem da cultura material na Antropologia brasileishyra Suas primeiras publicaccedilotildees a exemplo da dissertaccedilatildeo sobre a cestaria wayana datildeo prova do rigor descritivo da minuacutecia no tratamento da produshyccedilatildeo e da forma dos artefatos e de seus motivos graacuteficos Jaacute em O belo eacute afera explorando o viacutenculo necessaacuterio entre beleza e predaccedilatildeo Velthem (2003) compreende a esteacutetica Wayana frisando que os objetos e os padrotildees figuratishyvos natildeo constituem obras puramente humanas mas satildeo recebidos ou arreshybatados de outros seres sejam eles animais inimigos sobrenaturais etc De modo que a decoraccedilatildeo eacute uma forma de ldquointegrar o que lhe eacute estranho de

4 Eacute o caso de Berta Ribeiro Heloiacutesa Feacutenelon Costa Lux Vidal Luacutecia van Velthem Aristoacuteteles Barcelos Neto etc

C iecircn cia e T eacutecnica 105

assimilar o outro como condiccedilatildeo da proacutepria identidade individual e coletiva capacidade esta veiculada atraveacutes da arte que se revela para os Wayana enquanshyto possibilidade de afirmaccedilatildeo de humanidaderdquo (idem p 389) Natildeo soacute a relashyccedilatildeo com a alteridade eacute condiccedilatildeo de humanidade mas dado que a ldquofabricaccedilatildeordquo tanto de coisas como de pessoas independente de sua constituiccedilatildeo material eacute concretizada de acordo com uma mesma teacutecnica a grande questatildeo aqui eacute detectar ldquoo que haacute de lsquohumanorsquo nas coisas e o que haacute de lsquocoisarsquo nos humanosrdquo (idem p 63 cf Velthem 2009)5

Em seu estudo sobre o estilo graacutefico kaxinawa Lagrou (2007 cf tamshybeacutem 2002) tambeacutem se afasta dos intentos classificatoacuterios ou formalistas que tendem num segundo momento a desviar a atenccedilatildeo dos objetos para os sistemas de pensamento Ela trata de modo inseparaacutevel forma sentido e accedilatildeo apoiando-se em Gell (1998) para levar adiante uma abordagem de objetos artefatos e arte ldquocomo se fossem pessoasrdquo Isto eacute objetos cujo sentido natildeo estaacute no plano contemplativo semioacutetico ou linguumliacutestico mas adveacutem de certas moshydalidades de agecircncia estaacute em seus efeitos praacuteticos (Lagrou 2007 p 54) A ideia mesmo de poder criativo eacute alvo de exame suscitando a rediscussatildeo tanto dos pressupostos de uma Antropologia da arte quanto da ideia de agecircncia no mundo indiacutegena De modo que ldquopensar sobre arte entre os ameriacutendios equumlishyvale a pensar a noccedilatildeo de pessoa e de corpo Porque objetos pinturas e corpos satildeo assuntos ligados no universo indiacutegena no qual a pintura eacute feita para aderir a corpos e objetos satildeo feitos para completar a accedilatildeo dos corposrdquo (idem p 50)

Esse movimento nas abordagens da cultura material a partir das ideias de fabricaccedilatildeo de corpos e pessoas e da alteridade como dimensatildeo constitutiva reorganiza apropria forma de atribuiccedilatildeo da qualidade de sujeito e de objeto estabelecendo um quadro relacionai e situacional para a compreensatildeo do senshytido dos seres e das coisas E de se prever entatildeo que isto oxigenaria fortemenshyte temas proacuteximos como os associados agrave circulaccedilatildeo dos objetos Refiro-me agrave

5 Dedicando-se mais recentemente ao estudo de populaccedilotildees ribeirinhas no Acre Velthem (2008 p 11) constata que a fertilidade dos estudos sobre certas categorias artesanais dos povos indiacutegenas (cestaria plumaacuteria ceracircmica) contrasta com o tratamento meramente utilitaacuterio dado aos objetos envolvidos nos contextos produtivos de outras populaccedilotildees Levando adiante essa constataccedilatildeo seria o caso de acrescentar que muitas vezes esse desequiliacutebrio se apresenta no proacuteprio acircmbito dos estudos sobre povos indiacutegenas Nesse sentido vale ressaltar que a emergecircncia da noccedilatildeo de predaccedilatildeo que estende seu potencial heuriacutestico a diversos planos da vida indiacutegena natildeo tem gerado entre pesquisadores brasileishyros uma valorizaccedilatildeo das aproximaccedilotildees etnograacuteficas sobre a atividade cinegeacutetica propriashymente dita Aspecto que tem sido enfocado por antropoacutelogos de outras nacionalidades como Descola (1986) Ingold (1988 2000) e Kohn (2002)

106 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

inserccedilatildeo de objetos industrializados no meio indiacutegena (cf Ramos e Albert 2002) e de outro lado ao tracircnsito de objetos indiacutegenas no mundo natildeo indiacuteshygena particularmente nas situaccedilotildees de sua comercializaccedilatildeo e musealizaccedilatildeo Baseado em detalhado estudo sobre maacutescaras rituais xinguanas Barcelos Neto (2006 e 2008) estende-se a respeito dos muacuteltiplos sentidos da musealizaccedilatildeo inclusive na oacutetica indiacutegena tema de interesse crescente (por exemplo em Gordon e Silva 2005) Por fim eacute o caso de constatar que objetos (nos dois sentidos artefatos e temas de estudo) outrora relegados aos capiacutetulos sobre cultura mateshyrial ganham vida no cerne da etnologia contemporacircnea Penso que isso faz parte de um deslocamento mais amplo no modo de compreensatildeo das populashyccedilotildees indiacutegenasmdashde suas concepccedilotildees de humanidade e praacuteticas de socialidade mdash que daacute mostras de passar de modo cada vez mais intenso pelos natildeo humanosmdash artefatos animais espiacuteritos

Teacutecnicas do vivoDos trecircs temas definidos no escopo deste artigo este eacute sem duacutevida o

mais profuso e difuso de modo que sobressairaacute mais aqui o caraacuteter apenas indicativo das referecircncias e comentaacuterios De sorte que inicio lembrando que os termos teacutecnicatecnologiabiotecnologia satildeo recorrentes nos estudos sobre as praacuteticas de sauacutede em geral o mais das vezes conotando o processo messhymo de medicalizaccedilatildeo remetendo agraves dinacircmicas de construccedilatildeo de gecircnero e ou de subjetivaccedilatildeo com marcada influecircncia foucaultiana (a exemplo de Rohden 2004 Leibing 2004 Duarte e Leal 1998) Visto que a amplitude dessa produccedilatildeo escapa ao objetivo deste artigo interessaratildeo apenas aqueles estudos que lidam mais explicitamente com a questatildeo da teacutecnica como meshydiaccedilatildeo entre o humano e o natildeo humano na modernidade Ou seja os dedishycados aos problemas da fronteira ou da condiccedilatildeo do humano que remetem por assim dizer ao dilema do Ciborgue (Haraway 2000)

Os textos comentados a seguir apresentam como tema central o hushymano perpassado por suas proacuteprias teacutecnicas A hipoacutetese trazida aqui como criteacuterio de mapeamento eacute que a dramatiddade com que tal questatildeo se anunshycia soacute pode ser adequadamente apreciada na moldura da modernidade ocishydental Antes de tudo porque fora disso o drama tomar-se-ia banal- o humano sempre foi por definiccedilatildeo alvo de suas proacuteprias teacutecnicas (Leroi-Gourhan 1983 Neves 2006) Mas mesmo que se queira conceder preeminecircncia agraves especifi- cidades de nossa eacutepoca ainda assim a pertinecircncia antropoloacutegica do dilema do

C iecircncia e T eacutecnica 107

Ciborguemdashisto eacute do mal-estar com a teacutecnica modificando o seu autor mdash natildeo estaacute em se tratar de uma questatildeo referente ao advento da modernidade para a humanidade mas agraves redefiniccedilotildees do humano na modernidade Como os estudos antropoloacutegicos abaixo denotam por vias distintas a inquietaccedilatildeo geshyrada pelas biotecnologias no Ocidente moderno deve ser tratada como um fenocircmeno ecircmico cujas chaves de inteligibilidade estatildeo em sua proacutepria cosmologia

Uma das formas em que essa preocupaccedilatildeo se verifica eacute nas aproximashyccedilotildees aos modos de diagnoacutestico derivados do saber biomeacutedico Chazan (2007) trata do ultrassom obsteacutetrico que ao transportar o feto para o acircmbito da visualidade participa da reorganizaccedilatildeo da gestaccedilatildeo e da relaccedilatildeo com o feto As imagens e a forma como o ultrassom obsteacutetrico opera por meio da psicologizaccedilatildeo e da fisicalizaccedilatildeo do feto promovem sua existecircncia ldquosocialrdquo (isto eacute na forma do indiviacuteduo) antes do nascimento - a nomeaccedilatildeo passa a ocorrer quando da determinaccedilatildeo do sexo Entre as consequumlecircncias deste dispositivo estaacute sua utilizaccedilatildeo poliacutetica na controveacutersia sobre o aborto como prova da condiccedilatildeo de pessoa do feto e a constituiccedilatildeo do rito de visualizaccedilatildeo onde haacute algo de diagnoacutestico e algo de espetaacuteculo O exame pressupotildee algum aprendizado visual e gira em torno da fruiccedilatildeo das imashygens ldquodecifradasrdquo na tela

Investindo preferencialmente no desenvolvimento laboratorial de dishyagnoacutesticos Monteiro (2005) debruccedila-se sobre o surgimento de novos forshymatos de exame pautados na geneacutetica e na informaacutetica que buscam detectar biomarcadores de cacircncer de proacutestata O foco eacute na forma como interagem percepccedilotildees de corpo e de humano e no modo como estes aspectos associshyam-se no plano poliacutetico No contexto das academias de ginaacutestica delineei os modos de funcionamento da avaliaccedilatildeo antropomeacutetrica considerando o mashynejo das dimensotildees iacutentimas (psiacutequicas) e internas (fiacutesicas) do indiviacuteduo pela elaboraccedilatildeo socioteacutecnica da gordura (Sautchuk 2007) Jaacute Bonet (2004) trata justamente da constituiccedilatildeo do componente humano necessaacuterio aos disposishytivos de diagnoacutestico e terapecircutica pois enfoca o aprendizado praacutetico de meacutedicos em situaccedilatildeo de residecircncia

Haacute igualmente pesquisadores voltados ao transbordamento de discurshysos e dispositivos gerados no acircmbito da ciecircncia movendo a atenccedilatildeo do conshytexto de sua produccedilatildeo ou funcionamento para aquele da sua difusatildeo Veja-se os estudos sobre a forma como as neurociecircncias instituem novos marcadores de identificaccedilatildeo pessoal e de explicaccedilatildeo de sintomas enfim como estes disposhy

108 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

sitivos biomeacutedicos avanccedilam sobre o cotidiano extra-hospitalar seja contribushyindo agrave afirmaccedilatildeo de um ldquosujeito cerebralrdquo (Azize 20082010) seja possibishylitando o surgimento de um movimento de ldquoneurodiversidaderdquo que associa o individualismo com a noccedilatildeo de uma cultura cerebral (Ortega 2008) Sem mencionar aqui estudos voltados ao consumo de medicamentos assinalo que outra forma de explorar os desdobramentos da biotecnologia eacute enfocando seus usos com o fim de gerar os ditos estados de alteraccedilatildeo Vargas (2006 2008) considera as drogas enquanto objetos socioteacutecnicos que natildeo comporshytam sentido intriacutenseco absoluto ou essencial mas sim relacionai De modo que elas permanecem indeterminadas ateacute que os agenciamentos a constituam enquanto tais afinal elas operam mediando formas particulares de engajamentos com o mundo Para notar enfim que o identificador ldquobiordquo aplica-se tambeacutem a teacutecnicas natildeo ligadas agrave medicina veja-se Ferreira (2008) sobre o transe associado agrave muacutesica eletrocircnica

Dado o escopo aqui fixado mdash a relaccedilatildeo entre o humano e a teacutecnica em face da modernidade - eacute preciso demorar um pouco mais nas novas teacutecnicas reprodutivas pois se instaura entre antropoacutelogos brasileiros um verdadeiro diaacutelogo marcado pela influecircncia consideraacutevel de Strathern (1992) e levando adiante por etnografias e elaboraccedilotildees analiacuteticas realizadas em diferentes direshyccedilotildees (Grossi et al 2003 Ramiacuterez-Gaacutelvez 2009) Nesse contexto Salem (1997) circunscreve alguns pontos de referecircncia dentre eles o emprego sisteshymaacutetico do aparato conceituai de Dumont o que demonstra o intuito de colocar em perspectiva a modernidade por meio de um de seus dilemas fulcrais Para ela ldquoo proacuteprio modo de formular o dilema envolvido na manipulaccedilatildeo de embriotildees evidencia que em uacuteltima instacircncia estaacute-se discutindo a Pessoa o que significa ser pessoa e quais as qualidades que instalam em um ser humano essa condiccedilatildeordquo (idem p 84)

Consequumlecircncia disso a condiccedilatildeo de inteligibilidade de toda a controshyveacutersia o suposto de seus diferentes argumentos eacute o Indiviacuteduo a categoria ocidental de pessoa Grosso modo a controveacutersia estaacute em se o embriatildeo eacute e ateacute quando tecido celular ou pessoa E isso se definiria a partir da localizaccedilatildeo de certas caracteriacutesticas instauradoras do indiviacuteduo que confluem para a ldquoposserdquo de certas qualidades ou marcos Independentemente de que sejam defendidos atributos morais ou bioloacutegicos trata-se sempre de ldquouma realidade inerente ao indiviacuteduordquo um ldquodomiacutenio autocontidordquo lsquologicamente anterior agraves relaccedilotildees soshyciaisrdquo (idem p 84) Daiacute emergem questotildees sobre o estatuto mesmo do emshybriatildeo (intra ou extracorpoacutereo) e de como hierarquizar seus ldquodireitosrdquo em relaccedilatildeo aos da matildee

C iecircncia e T eacutecnica 109

A partir de quadro teoacuterico proacuteximo ao de Salem (1997) mas trabashylhando com dados oriundos de etnografia sobre processos de reproduccedilatildeo assistida Naara Luna (2007a e 2007b) insiste na questatildeo sobre quais atribushytos confeririam ao embriatildeo subjetividade e identidade individual Ela nota entatildeo a transferecircncia dos criteacuterios de individualidade e autonomia do plano moral para o plano bioloacutegico afirmando que ocorre genetizaccedilatildeo ou biologizaccedilatildeo do parentesco o que se expressa de modo mais geral

A anaacutelise das novas tecnologias reprodutivas permite vislumbrar como Natureza e Cultura natildeo satildeo domiacutenios estanques mas que haacute um fluxo contiacutenuo de significados um intercacircmbio em que significados natushyrais satildeo culturalizados e significados culturais satildeo naturalizados A Natureza ora serve de m odelo agrave Cultura ora o entendimento pela Cultura se impotildee agrave Natureza (Luna 2004 p 152)

Exemplo disso eacute o sangue que comporta sentidos geneacuteticos (DNA) e de pertencimento familiar acionando a importacircncia do parentesco e da pesshysoa no acircmbito da heranccedila Ademais emergem do universo bioloacutegico novas figuras de parentesco e portanto de humanidade como ceacutelulas oacutevulos feshytos Igualmente se os limites da concepccedilatildeo do humano e das relaccedilotildees de parentesco satildeo redesenhados com as novas teacutecnicas reprodutivas ressignificam- se tambeacutem a paternidade e a maternidade (idem p 151)

E o que indica Fonseca (2005) sobre o exame de DNA para definiccedilatildeo de paternidade Aleacutem disso ela enfatiza que a verdade bioloacutegica abre um horizonte de novas duacutevidas negociaccedilotildees e dilemas em torno do estabelecishymento ou do rompimento de viacutenculos de parentesco Conclusatildeo proacutexima agrave que Machado (2008) avanccedila sobre a alteraccedilatildeo nas definiccedilotildees da intersexuali- dade quanto mais se aguccedila a detecccedilatildeo de traccedilos de veracidade a respeito da definiccedilatildeo do sexo mais afloram ambiguumlidades entre diferentes niacuteveis (anatocircmicogeneacutetico etc)

A partir de pesquisa sobre a tramitaccedilatildeo da Lei de Biosseguranccedila brasishyleira mdash que permitiu sob certas condiccedilotildees o uso de ceacutelulas tronco de embriotildees inviaacuteveis ou congelados e a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos mdash Cesarino (2006) faz contribuiccedilotildees importantes a este debate Notadamente ela proshymove uma articulaccedilatildeo entre a controveacutersia no campo poliacutetico-moral e o fator econocircmico enfrentando o problema de equacionar mercado e ciecircncia nos dilemas cosmoloacutegicos da modernidade Para compreender os sentidos do debate poliacutetico a respeito da Lei de Biosseguranccedila - articulando fatos cientiacutefishy

110 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

cos e mercadorias Cesarino associa de maneira muito oportuna certos asshypectos da Antropologia simeacutetrica latouriana com a teoria dumontiana espeshycialmente no que se refere agrave relaccedilatildeo entre o individualismo e a autonomia da economia na modernidade Assim se ldquoo indiviacuteduo eacute a forma assumida pelos humanos no ciacuterculo de trocas do livre-mercado a mercadoria seria a forma por excelecircncia de inserccedilatildeo dos natildeo humanos no mercado capitalistardquo (Cesarino 2006 p 204-205) Adiccedilatildeo importante jaacute que o indiviacuteduo natildeo eacute entatildeo o uacutenico suposto no debate sobre a Lei de Biosseguranccedila a mercadoria eacute o sushyposto oposto mdash a condiccedilatildeo das coisas No caso da permissatildeo para o uso de embriotildees ela se vale da noccedilatildeo de englobamento para mostrar como sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade as qualidades do indiviacuteshyduo puderam ser consideradas tatildeo diminuiacutedas no preacute-embriatildeo a ponto de permitir sua desumanizaccedilatildeo relativa e seu uso nas pesquisas na qualidade de parte do mundo natural passiacutevel de manipulaccedilatildeo (Cesarino 2007 p 373)

Identificando traccedilos gerais aos trabalhos comentados aqui ressalto a pershycepccedilatildeo de que as biotecnologias remetem agrave questatildeo da fronteira da humanidashyde mas que devem ser explorados frente aos quadros cosmoloacutegicos da modernidade Associado a isso temos a constataccedilatildeo de que estes permanecem muito bem assentados ainda que mobilizados de modo distinto Tanto em relaccedilatildeo agrave Lei de Biosseguranccedila como nos demais casos referidos a ciecircncia natildeo perde nada do seu vigor assim como a separaccedilatildeo entre cultura e natureza Seria o caso de dizer que se as inovaccedilotildees teacutecnicas causam reordenaccedilotildees importantes elas estatildeo longe de reconfigurar as bases da cosmologia moderna Ao menos no plano formal (poliacutetico legal ou meacutedico) as noccedilotildees fundamentais de Indiviacuteduo Mercado Natureza permanecem operando e organizando (ou estimulando) o funcionamento das novas teacutecnicas O que as etnografias mostram satildeo ajustes ldquopragmaacuteticosrdquo que evidenciam plasticidades significativas mas natildeo uma reordenaccedilatildeo Portanto alguns dos aspectos mais interessantes evidenciados peshylos estudos sobre os dilemas biotecnoloacutegicos satildeo o vigor e a agilidade com que suas categorias se rearranjam (mercado natureza indiviacuteduo) para dar conta dos fenocircmenos de fronteira

CiecircnciaEacute um traccedilo caracteriacutestico da Antropologia feita no Brasil o estudo da

proacutepria configuraccedilatildeo das Ciecircncias Sociais enquanto especialidades dentiacutefi- co-acadecircmicas Como observou Peirano haacute um conjunto de trabalhos nessa

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 3: Ciência e Técnica

98 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

taccedilotildees da Antropologia feita no Brasil empreenderem uma anaacutelise sobre as formas de sociabilidade ou sobre o estatuto do humano (ou da pessoa) a partir das relaccedilotildees estabelecidas com diferentes tipos de natildeo humanos sejam eles extraterrestres animais artefatos grafismos embriotildees ou genes

Os diferentes estudos aqui analisados voltam-se ainda que de maneira particular ao fato de que a dimensatildeo natildeo humana da vida social eacute extremashymente relevante para o enfoque das formas de sociabilidade e das noccedilotildees de humanidade Guardadas as especificidades de cada aacuterea de estudo esse intuito geral vale para o iacutendio que tranccedila um cesto o cientista que observa um macashyco ou o casal envolto nos procedimentos de reproduccedilatildeo assistida Ao focar esses tipos de situaccedilotildees os antropoacutelogos tecircm analisado as construccedilotildees cosmoloacutegicas que organizam a distribuiccedilatildeo e as caracteriacutesticas de humanos e natildeo humanos Num outro niacutevel isto aponta para abordagens preocupadas em diferentes graus e perspectivas em repensar a dicotomia entre cultura e natureza e suas tributaacuterias (artificial e natural sujeito e objeto etc) que pershypassam tanto a modernidade de modo geral quanto o proacuteprio fazer antroposhyloacutegico1

No registro dessa preocupaccedilatildeo com a manifestaccedilatildeo da modernidade (na antropologia eou em seus ldquoobjetosrdquo) cabe comentar algo sobre a preshyferecircncia pelo termo teacutecnica e natildeo tecnologia na definiccedilatildeo do escopo deste texto Em primeiro lugar como fica evidente pelo proacuteprio delineamento das abordagens tratadas neste artigo ciecircncia e teacutecnica natildeo demarcam um objeto empiacuterico mdash natildeo se trata de abordagens antropoloacutegicas voltadas ao domiacutenio da ldquociecircncia amp tecnologiardquo nos Estados modernos mdash mas satildeo noshyccedilotildees tomadas antes na qualidade de categorias analiacuteticas a orientar a investishygaccedilatildeo antropoloacutegica

1 Natildeo foram consideradas aqui as pesquisas dedicadas agrave relaccedilatildeo entre conhecimentos tradishycionais e ciecircncia moderna assim como aquelas relativas agrave cibercultura ainda que em alguma medida elas guardem proximidade com o tema Aleacutem disso dada a desproporccedilatildeo entre o campo a resenhar e as dimensotildees do texto pareceu-me necessaacuterio renunciar a qualquer pretensatildeo de ser exaustivo guardando entretanto o objetivo de ser indicativo das principais tendecircncias Trechos deste trabalho receberam a leitura de Mariza Peirano Marcela Coelho de Souza e Guilherme Saacute a quem agradeccedilo pelas observaccedilotildees as quais nem sempre consegui atender Ao Guilherme devo tambeacutem boas indicaccedilotildees sobre estudos relativos ao tema cabe a mim igualmente a responsabilidade por natildeo ter incorporado devidamente todas as informaccedilotildees repassadas Versatildeo inicial deste texto foi apresentada naII Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da Tecnologia em maio de 2009 na Universidashyde Federal de Minas Gerais (UFMG)

C iecircncia e T eacutecnica 99

Nesse sentido adotar o termo teacutecnica natildeo indica rejeiccedilatildeo mas cautela em relaccedilatildeo agrave tecnologia Se no contexto anglo-saxatildeo e no Brasil de modo geral o vocaacutebulo tecnologia eacute mais acionado entre francoacutefonos teacutecnica gashynha mais importacircncia e abrangecircncia Veja-se a tatildeo importante quanto pouco lembrada produccedilatildeo de Mauss (2006) sobre o tema onde tecnologia eacute comshypreendida como o estudo da teacutecnica E verdade que existe alguma corresshypondecircncia entre os dois termos atestada por exemplo na traduccedilatildeo para o inglecircs de autores como Latour Foucault Ellul Daumas Mauss Lemonnier onde technique no original eacute vertido como technolog) Mas essa equivalecircncia eacute parcial e pode dar margem a algumas confusotildees Tanto assim que diversos autores franceses incomodam-se com o emprego do termo tecnologia conshysiderando-o equivocado ou abusivo (Seacuteris 1994 p 3-6 Sigaut 1994 p 442 Latour 2001 p 219) E mesmo Bryan Pfaffenberger em SocialAnthropologj o f Technology (1992) propotildee a substituiccedilatildeo do termo tecnologia por teacutecnica ou por sistema socioteacutecnico

Natildeo se trata de fazer a defesa de uma linha de pensamento em detrishymento da outra o que seria no miacutenimo prova de um estreitamento teoacuterico inoportuno para um esforccedilo de mapeamento O cenaacuterio brasileiro natildeo pershymite que se tracem linhas absolutas pois se cruzam ambas as tradiccedilotildees e amshybos os vocaacutebulos Portanto a escolha do termo teacutecnica aqui se justifica antes de tudo por abrangecircncia e cautela

Explicitemos isto a partir da seguinte indagaccedilatildeo dado que tecnologia natildeo se refere ao estudo da teacutecnica o que justifica a adiccedilatildeo do sufixo ldquologosrdquo Tecnologia pode sugerir o superlativo de teacutecnica no sentido de outra orshydem racional mais sofisticada com meacutetodos complexos consciente dela mesma de suas necessidades e finalidades informada por um saber especishyalizado e cientiacutefico associado ao progresso Opor-se-ia assim agraves teacutecnicas ditas ldquorudimentaresrdquo baseadas no empirismo ou no conhecimento intuitishyvo arraigada nas convenccedilotildees Assim o valor associado ao termo tecnologia estaria conectado agrave dicotomia moderno-tradicional enquanto transformashyccedilatildeo radical Em acepccedilatildeo um pouco diferente tecnologia pode significar a dimensatildeo intelectual da teacutecnica isto eacute os conhecimentos saberes conceitos relativos a alguma operaccedilatildeo material o que remete agrave separaccedilatildeo entre domiacuteshynio ideal e material Ainda que em certas anaacutelises as transformaccedilotildees instaushyradas pelo mundo industrial ou as elaboraccedilotildees abstratas relativas agrave teacutecnica devam ganhar ecircnfase parece injustificado admitir isso como distinccedilatildeo a priori extensiva a todas as situaccedilotildees

100 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

Tecnologia pode tambeacutem significar coletivo de teacutecnicas Este uso conshysagrado entre antropoacutelogos anglo-saxotildees remete agrave ideia de que as teacutecnicas se reuniriam em sistema ou pelo menos num conjunto que se relacionaria com outros (de humanos siacutembolos etc) Assimartefatos estariamprimariamente em relaccedilatildeo com artefatos e este sistema caracterizado pela cultura material manteria uma relaccedilatildeo de outra ordem com a sociedade Essa distinccedilatildeo fundashymental entre o humano e o teacutecnico (derivada do pensamento hilemoacuterfico cf Simondon 2001) sustenta o dilema entre tecnotopia e tecnofobia tatildeo caracshyteriacutestico do pensamento moderno (cf Ribeiro 1999) Note-se entatildeo que considerar as teacutecnicas enquanto um sistema proacuteprio em alguma medida exteshyrior natildeo raro dominado ou dominando a vida humana extrateacutecnica pode implicar em um vieacutes etnocecircntrico instaurando importantes limitaccedilotildees heuriacutesticas Ver-se-aacute que tal dicotomia estaacute em contradiccedilatildeo com parte consishyderaacutevel do esforccedilo reflexivo avanccedilado nos estudos analisados a seguir

Enfim a opccedilatildeo pelo termo teacutecnica natildeo se deve agrave afirmaccedilatildeo de um tipo de abordagem mas agrave reserva epistemoloacutegica e agrave cautela empiacuterica face aos pressushypostos que podem subjazer ao uso do termo tecnologia Pode-se dizer entatildeo que o termo teacutecnica natildeo se opotildee mas engloba os diferentes usos de tecnologia Isso parece especialmente importante quando se trata de designar todo o escopo de abrangecircncia do tema na Antropologia praticada no BrasiL

Cultura materialAo introduzir um artigo sobre habitaccedilatildeo popular Luiz de Castro

Faria notou que os estudiosos das populaccedilotildees de origem africana no Brasil privilegiavam os aspectos religiosos e socioloacutegicos um ldquounilateralismordquo que prejudicava a compreensatildeo dos ldquobens materiais de culturardquo (Castro Faria 2000 p 339-340) Esta frase publicada em 1951 ressalta dois aspectos signishyficativos sobre os desenvolvimentos ulteriores dos estudos de cultura mateshyrial na Antropologia brasileira O primeiro deles eacute o alcance relativamente limitado em que este campo de pesquisa se manteve no quadro de interesses da antropologia no Brasil se comparado com a qualidade dos estudos realishyzados Outro ponto eacute que a forma como Castro Faria buscou minorar essa carecircncia no decurso de sua longa carreira como pesquisador e professor pode ser tomada como representativa dos tipos de preocupaccedilotildees que pautashyram os antropoacutelogos dedicados agrave materialidade Como se sabe dentre sua vasta contribuiccedilatildeo agrave formaccedilatildeo da Antropologia brasileira destacam-se a aproxishy

C iecircncia e T eacutecnica 101

maccedilatildeo (e a criacutetica) aos museus estudos arqueoloacutegicos escritos sobre a arte indiacuteshygena cursos sobre Antropologia econocircmica aleacutem da participaccedilatildeo decisiva na implantaccedilatildeo da legislaccedilatildeo referente ao patrimocircnio histoacuterico cultural Esse rol de temas explorados por Castro Faria se natildeo estaacute na origem direta de todas as abordagens contemporacircneas agrave cultura material no Brasil pode ser tomado como um quadro indicativo delas conforme apresentadas a seguir

Comecemos por sua influecircncia sobre os estudos de populaccedilotildees de pesshycadores Ela pode ser sentida na abordagem que enfocando as questotildees ambientais e poliacuteticas natildeo descuida da dimensatildeo teacutecnica e econocircmica emshypreendendo descriccedilatildeo e anaacutelise cuidada das diferentes formas de pescaria (Kant e Pereira 1997) Os detalhados resultados de uma pesquisa etnograacutefica ao longo da histoacuteria de uma comunidade pesqueira e as transformaccedilotildees em seu ambiente natural e sociopoliacutetico podem ser vistos na obra Gente das areias (Mello e Vogel 2004) que situa boa parte de seu interesse nas teacutecnicas relacionadas ao ambiente

A preocupaccedilatildeo com o trabalho como apropriaccedilatildeo dos recursos vashylendo-se das teacutecnicas eacute que articula os diferentes planos da anaacutelise e define um papel importante na dinacircmica explicativa destas pesquisas para a dimenshysatildeo econocircmica Nisso pode ser encontrado um traccedilo mais geral dos estudos sobre sociedades de pescadores entre pesquisadores brasileiros (por exemplo em Furtado 1993 Chaves 1973 Mussolini 1980) Esse vieacutes preocupa-se com os modos de apropriaccedilatildeo dos recursos naturais ainda que priorize mais uma leitura socioeconocircmica do que propriamente teacutecnica Assim a ecircnfase recai sobre as formas de socializaccedilatildeo e de relaccedilatildeo com o ambiente enquanto modo de reproduccedilatildeo Mas eacute notaacutevel que se os estudos sobre pesca no Brasil emprestam importantes balizas teoacutericas dos de campesinato (como o trabalho articulando ambiente economia e sociedade) eles invesshytem mais na etnografia das atividades teacutecnicas como forma de compreensatildeo das dimensotildees socioeconocircmicas

Malgrado algumas referecircncias raacutepidas eacute curioso notar que as claacutessicas contribuiccedilotildees de Andreacute Leroi-Gourhan (1983 1984) agrave Antropologia da teacutecnica natildeo ecoam nas correntes de pesquisa sobre cultura material no Brashysil Sem explorar aqui as razotildees disso2 limitemo-nos a apontar sua influecircnshycia em trabalhos recentes Em dissertaccedilatildeo sobre as transformaccedilotildees das habitaccedilotildees

2 Ausecircncia tanto mais notaacutevel quanto Leroi-Gourhan se dedicou longa e profundamente agrave relaccedilatildeo entre teacutecnica e esteacutetica e agrave proacutepria noccedilatildeo de arte que veremos a seguir satildeo fundashymentais nas abordagens da cultura material indiacutegena

102 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

kaiowaacute Mura (2000) explora o ambiente domeacutestico indiacutegena face aos divershysos planos do contato intereacutetnico recorrendo a trecircs horizontes teoacutericos a Antropologia da teacutecnica francesa a Antropologia econocircmica de Godelier e a elaboraccedilatildeo da etnicidade inspirada em Barth Assim sua anaacutelise natildeo adota a distinccedilatildeo entre teacutecnica indiacutegena e teacutecnica ocidental buscando compreender a constituiccedilatildeo da materialidade num ambiente de fluxos de diferentes ordens (mateacuterias-primas mercadorias conhecimentos etc) Inspirado noutra faceta de Leroi-Gourhan abordei a gecircnese associada de humanos e teacutecnicas ou ainshyda a tecnogecircnese do humano (Sautchuk 2007) Considerei as atividades de pesca costeira e lacustre no estuaacuterio do Amazonas a partir da conexatildeo entre habilidades teacutecnicas (Ingold 2000) e construccedilatildeo da pessoa buscando comshypreender os sentidos de humanos e de natildeo humanos (como artefatos e anishymais) a partir dos engajamentos praacuteticos

Por outra anoto que um dos acircmbitos da pesquisa sobre cultura mateshyrial que tem crescido em nuacutemero e importacircncia eacute influenciado pelas poliacuteticas puacuteblicas de identificaccedilatildeo de saberes e teacutecnicas enquanto patrimocircnio cultural imaterial Eacute preciso distinguir ao menos trecircs niacuteveis diferentes de implicaccedilatildeo da Antropologia com esse movimento a atuaccedilatildeo na identificaccedilatildeo de bens cultushyrais a reflexatildeo antropoloacutegica sobre a patrimonializaccedilatildeo (cf Carneiro da Cushynha 2005 Coelho de Souza 2005 Gallois 2007) e os estudos de relevacircncia antropoloacutegica associados a tais poliacuteticas Sobre esse uacuteltimo ponto cito dois exemplos que indicam a diversidade e o valor que podem assumir a elegante etnografia sobre alfaiatarias em Curitiba (Santos et al 2009) e a valiosa pesshyquisa sobre os sistemas agriacutecolas do rio Negro (Emperaire et al 2008 Emperaire 2005) Esta uacuteltima apresenta dois pontos a ressaltar O fato de a pesquisa ser levada adiante por uma equipe capaz de lidar com muacuteltiplas dimensotildees do fenocircmeno agriacutecolamdashcomo soacutei acontecer nesse tipo de projeto mdash aponta provavelmente uma tendecircncia metodoloacutegica Depois por contrishybuir agrave reduccedilatildeo da insondaacutevel lacuna nos estudos sobre cultura material dedicashydos agraves teacutecnicas de cultivo e aos processos de disseminaccedilatildeo agriacutecola ela indica um dos campos potenciais para seu desenvolvimento

Mas eacute nos trabalhos voltados agraves populaccedilotildees indiacutegenas que a anaacutelise da materialidade multiplicou-se constituindo uma tradiccedilatildeo de estudos A coshymeccedilar pela etnoarqueologia que estabelece associaccedilotildees entre o passado de uma populaccedilatildeo e a forma em que estatildeo relacionados atualmente artefatos conhecimentos e ambiente (cf Silva 2009 Silva e Souza 2002 Funari 1998 Ribeiro 1990) Para ilustrar o tom recente deste debate - sobre a relashy

C iecircn cia e T eacutecnica 103

ccedilatildeo entre dados etnograacuteficos e arqueoloacutegicos mdash notemos que Silva (2007 p 102) afirma baseada em etnografia sobre fabricaccedilatildeo e uso de artefatos que as formas de descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo atraveacutes da qual satildeo estabelecidas as periodIacute2accedilotildees arqueoloacutegicas em geral natildeo levam em consideraccedilatildeo os mecanisshymos mais complexos de produccedilatildeo de identidades sociais externas e internas aos grupos Tais aspectos podem ser acessados pelo estudo etnograacutefico da produccedilatildeo e da circulaccedilatildeo de artefatos associado agraves categorias ecircmicas usadas para referir-se a eles Ao dar-se conta das tensotildees entre tecnologia e agecircncia continuidade e mudanccedila a etnografia pode assim auxiliar na melhor compreshyensatildeo de comportamentos e trajetoacuterias de populaccedilotildees Eacute movida por estas preocupaccedilotildees que Silva (2002) escreve um dos raros trabalhos realizados no Brasil em que se traccedila um panorama de propostas teoacutericas sobre a relaccedilatildeo entre teacutecnica e significado no acircmbito da Antropologia

Por outro lado satildeo bem conhecidas as abordagens relacionando exshypressotildees materiais e simboacutelicas das sociedades indiacutegenas com base em mateshyrial etnograacutefico A esse propoacutesito sobressai o nome de Berta Ribeiro que aleacutem de suas proacuteprias pesquisas organizou os trecircs volumes da Suma etnoloacutegica brasileira (Ribeiro 1986) Das vaacuterias facetas de sua obra3 sublinhemos duas a ecircnfase na forma como um aspecto central na descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos artefatos (Ribeiro 1988) e o intuito de ldquoestudar a cultura material como uma iconografia eacutetnicardquo (Ribeiro 1986 p 12 cf tambeacutem 1989) o que conshyfere agrave dimensatildeo esteacutetica a chave de abertura para o sentido simboacutelico da vida material indiacutegena Inclusive eacute sob influecircncia desse princiacutepio que se desenvolve uma linha importante de trabalhos acerca da iconografia indiacutegeshyna em suas muacuteltiplas manifestaccedilotildees (Vidal 1992)

Natildeo se trata de negar que tambeacutem compunha o programa de pesquishysas de Berta Ribeiro (1995) a ldquotecnoeconomiardquo isto eacute a dimensatildeo da mateshyrialidade diretamente voltada agrave relaccedilatildeo com o ambiente e agrave subsistecircncia incluindo processos de fabricaccedilatildeo e uso Mas digamos que estas duas disposhysiccedilotildees mdash a ldquoformardquo como dado privilegiado e a ldquoesteacuteticardquo como dimensatildeo reveladora - satildeo cursos principais de sua reflexatildeo assim como da maneira como antropoacutelogos brasileiros lidam com a cultura material Penso que em alguma medida isto seja um subproduto do fato mais geral de a etnologia no Brasil se constituir em contraposiccedilatildeo agraves interpretaccedilotildees materialistas de dishyferentes ordens enfatizando para tal a organizaccedilatildeo social e o simbolismo

3 A esse respeito ver Velthem (1999) e Botelho (2005)

104 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

O texto de siacutentese de Vidal e Silva (1992) evidencia bem os pressuposshytos e as potencialidades desse enquadramento A ecircnfase na noccedilatildeo de um sisteshyma de objetos como base empiacuterica e na articulaccedilatildeo entre arte e cultura material como horizonte compreensivo eacute fundamental Mas o refinamento etnograacutefico alcanccedilado por esses trabalhos deve-se tambeacutem agrave formaccedilatildeo em artes ou museologia de parte consideraacutevel dos antropoacutelogos responsaacuteveis por elas4 Isto natildeo eacute negligenciaacutevel tanto mais se considerarmos que um dos desdobrashymentos mais instigantes nesse cenaacuterio eacute a reflexatildeo sobre a noccedilatildeo ocidental de arte e o modo como ela incide na compreensatildeo antropoloacutegica (nessa linha cf Costa 1988 e Velthem 2000) A tiacutetulo de exemplo citemos as ideias de criatividade individual autoria e autenticidade que se revelam muito diferenshytes no mundo indiacutegena

Contudo este desdobramento na reflexatildeo sobre a esteacutetica indiacutegena somente pode ser considerado em associaccedilatildeo com outro fator que diz resshypeito agrave etnologia de modo geral A partir da deacutecada de 1980 toma-se expliacutecishyta a percepccedilatildeo de que haacute ldquonecessidade de se tomar o discurso indiacutegena sobre a corporalidade e a pessoa como informador da praacutexis social concretardquo (Seeger et al 1979 p 16) Haacute entatildeo uma conexatildeo produtiva entre a tradiccedilatildeo de pesquisa da materialidade em tela mdash com um olhar atento agrave iconografia inclusive agrave ornamentaccedilatildeo corporal mdash e a aproximaccedilatildeo agraves dinacircmicas de forshymaccedilatildeo da pessoa atraveacutes do idioma da corporalidade Nessa direccedilatildeo recente leva de pesquisas renova os estudos sobre cultura material basicamente operando com as noccedilotildees de alteridade e de agecircncia como Velthem (2003) Lagrou (2007) Barcelos Neto (2008) e Miller (2009)

A trajetoacuteria de Luacutecia van Velthem expressa os principais capiacutetulos da transformaccedilatildeo na abordagem da cultura material na Antropologia brasileishyra Suas primeiras publicaccedilotildees a exemplo da dissertaccedilatildeo sobre a cestaria wayana datildeo prova do rigor descritivo da minuacutecia no tratamento da produshyccedilatildeo e da forma dos artefatos e de seus motivos graacuteficos Jaacute em O belo eacute afera explorando o viacutenculo necessaacuterio entre beleza e predaccedilatildeo Velthem (2003) compreende a esteacutetica Wayana frisando que os objetos e os padrotildees figuratishyvos natildeo constituem obras puramente humanas mas satildeo recebidos ou arreshybatados de outros seres sejam eles animais inimigos sobrenaturais etc De modo que a decoraccedilatildeo eacute uma forma de ldquointegrar o que lhe eacute estranho de

4 Eacute o caso de Berta Ribeiro Heloiacutesa Feacutenelon Costa Lux Vidal Luacutecia van Velthem Aristoacuteteles Barcelos Neto etc

C iecircn cia e T eacutecnica 105

assimilar o outro como condiccedilatildeo da proacutepria identidade individual e coletiva capacidade esta veiculada atraveacutes da arte que se revela para os Wayana enquanshyto possibilidade de afirmaccedilatildeo de humanidaderdquo (idem p 389) Natildeo soacute a relashyccedilatildeo com a alteridade eacute condiccedilatildeo de humanidade mas dado que a ldquofabricaccedilatildeordquo tanto de coisas como de pessoas independente de sua constituiccedilatildeo material eacute concretizada de acordo com uma mesma teacutecnica a grande questatildeo aqui eacute detectar ldquoo que haacute de lsquohumanorsquo nas coisas e o que haacute de lsquocoisarsquo nos humanosrdquo (idem p 63 cf Velthem 2009)5

Em seu estudo sobre o estilo graacutefico kaxinawa Lagrou (2007 cf tamshybeacutem 2002) tambeacutem se afasta dos intentos classificatoacuterios ou formalistas que tendem num segundo momento a desviar a atenccedilatildeo dos objetos para os sistemas de pensamento Ela trata de modo inseparaacutevel forma sentido e accedilatildeo apoiando-se em Gell (1998) para levar adiante uma abordagem de objetos artefatos e arte ldquocomo se fossem pessoasrdquo Isto eacute objetos cujo sentido natildeo estaacute no plano contemplativo semioacutetico ou linguumliacutestico mas adveacutem de certas moshydalidades de agecircncia estaacute em seus efeitos praacuteticos (Lagrou 2007 p 54) A ideia mesmo de poder criativo eacute alvo de exame suscitando a rediscussatildeo tanto dos pressupostos de uma Antropologia da arte quanto da ideia de agecircncia no mundo indiacutegena De modo que ldquopensar sobre arte entre os ameriacutendios equumlishyvale a pensar a noccedilatildeo de pessoa e de corpo Porque objetos pinturas e corpos satildeo assuntos ligados no universo indiacutegena no qual a pintura eacute feita para aderir a corpos e objetos satildeo feitos para completar a accedilatildeo dos corposrdquo (idem p 50)

Esse movimento nas abordagens da cultura material a partir das ideias de fabricaccedilatildeo de corpos e pessoas e da alteridade como dimensatildeo constitutiva reorganiza apropria forma de atribuiccedilatildeo da qualidade de sujeito e de objeto estabelecendo um quadro relacionai e situacional para a compreensatildeo do senshytido dos seres e das coisas E de se prever entatildeo que isto oxigenaria fortemenshyte temas proacuteximos como os associados agrave circulaccedilatildeo dos objetos Refiro-me agrave

5 Dedicando-se mais recentemente ao estudo de populaccedilotildees ribeirinhas no Acre Velthem (2008 p 11) constata que a fertilidade dos estudos sobre certas categorias artesanais dos povos indiacutegenas (cestaria plumaacuteria ceracircmica) contrasta com o tratamento meramente utilitaacuterio dado aos objetos envolvidos nos contextos produtivos de outras populaccedilotildees Levando adiante essa constataccedilatildeo seria o caso de acrescentar que muitas vezes esse desequiliacutebrio se apresenta no proacuteprio acircmbito dos estudos sobre povos indiacutegenas Nesse sentido vale ressaltar que a emergecircncia da noccedilatildeo de predaccedilatildeo que estende seu potencial heuriacutestico a diversos planos da vida indiacutegena natildeo tem gerado entre pesquisadores brasileishyros uma valorizaccedilatildeo das aproximaccedilotildees etnograacuteficas sobre a atividade cinegeacutetica propriashymente dita Aspecto que tem sido enfocado por antropoacutelogos de outras nacionalidades como Descola (1986) Ingold (1988 2000) e Kohn (2002)

106 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

inserccedilatildeo de objetos industrializados no meio indiacutegena (cf Ramos e Albert 2002) e de outro lado ao tracircnsito de objetos indiacutegenas no mundo natildeo indiacuteshygena particularmente nas situaccedilotildees de sua comercializaccedilatildeo e musealizaccedilatildeo Baseado em detalhado estudo sobre maacutescaras rituais xinguanas Barcelos Neto (2006 e 2008) estende-se a respeito dos muacuteltiplos sentidos da musealizaccedilatildeo inclusive na oacutetica indiacutegena tema de interesse crescente (por exemplo em Gordon e Silva 2005) Por fim eacute o caso de constatar que objetos (nos dois sentidos artefatos e temas de estudo) outrora relegados aos capiacutetulos sobre cultura mateshyrial ganham vida no cerne da etnologia contemporacircnea Penso que isso faz parte de um deslocamento mais amplo no modo de compreensatildeo das populashyccedilotildees indiacutegenasmdashde suas concepccedilotildees de humanidade e praacuteticas de socialidade mdash que daacute mostras de passar de modo cada vez mais intenso pelos natildeo humanosmdash artefatos animais espiacuteritos

Teacutecnicas do vivoDos trecircs temas definidos no escopo deste artigo este eacute sem duacutevida o

mais profuso e difuso de modo que sobressairaacute mais aqui o caraacuteter apenas indicativo das referecircncias e comentaacuterios De sorte que inicio lembrando que os termos teacutecnicatecnologiabiotecnologia satildeo recorrentes nos estudos sobre as praacuteticas de sauacutede em geral o mais das vezes conotando o processo messhymo de medicalizaccedilatildeo remetendo agraves dinacircmicas de construccedilatildeo de gecircnero e ou de subjetivaccedilatildeo com marcada influecircncia foucaultiana (a exemplo de Rohden 2004 Leibing 2004 Duarte e Leal 1998) Visto que a amplitude dessa produccedilatildeo escapa ao objetivo deste artigo interessaratildeo apenas aqueles estudos que lidam mais explicitamente com a questatildeo da teacutecnica como meshydiaccedilatildeo entre o humano e o natildeo humano na modernidade Ou seja os dedishycados aos problemas da fronteira ou da condiccedilatildeo do humano que remetem por assim dizer ao dilema do Ciborgue (Haraway 2000)

Os textos comentados a seguir apresentam como tema central o hushymano perpassado por suas proacuteprias teacutecnicas A hipoacutetese trazida aqui como criteacuterio de mapeamento eacute que a dramatiddade com que tal questatildeo se anunshycia soacute pode ser adequadamente apreciada na moldura da modernidade ocishydental Antes de tudo porque fora disso o drama tomar-se-ia banal- o humano sempre foi por definiccedilatildeo alvo de suas proacuteprias teacutecnicas (Leroi-Gourhan 1983 Neves 2006) Mas mesmo que se queira conceder preeminecircncia agraves especifi- cidades de nossa eacutepoca ainda assim a pertinecircncia antropoloacutegica do dilema do

C iecircncia e T eacutecnica 107

Ciborguemdashisto eacute do mal-estar com a teacutecnica modificando o seu autor mdash natildeo estaacute em se tratar de uma questatildeo referente ao advento da modernidade para a humanidade mas agraves redefiniccedilotildees do humano na modernidade Como os estudos antropoloacutegicos abaixo denotam por vias distintas a inquietaccedilatildeo geshyrada pelas biotecnologias no Ocidente moderno deve ser tratada como um fenocircmeno ecircmico cujas chaves de inteligibilidade estatildeo em sua proacutepria cosmologia

Uma das formas em que essa preocupaccedilatildeo se verifica eacute nas aproximashyccedilotildees aos modos de diagnoacutestico derivados do saber biomeacutedico Chazan (2007) trata do ultrassom obsteacutetrico que ao transportar o feto para o acircmbito da visualidade participa da reorganizaccedilatildeo da gestaccedilatildeo e da relaccedilatildeo com o feto As imagens e a forma como o ultrassom obsteacutetrico opera por meio da psicologizaccedilatildeo e da fisicalizaccedilatildeo do feto promovem sua existecircncia ldquosocialrdquo (isto eacute na forma do indiviacuteduo) antes do nascimento - a nomeaccedilatildeo passa a ocorrer quando da determinaccedilatildeo do sexo Entre as consequumlecircncias deste dispositivo estaacute sua utilizaccedilatildeo poliacutetica na controveacutersia sobre o aborto como prova da condiccedilatildeo de pessoa do feto e a constituiccedilatildeo do rito de visualizaccedilatildeo onde haacute algo de diagnoacutestico e algo de espetaacuteculo O exame pressupotildee algum aprendizado visual e gira em torno da fruiccedilatildeo das imashygens ldquodecifradasrdquo na tela

Investindo preferencialmente no desenvolvimento laboratorial de dishyagnoacutesticos Monteiro (2005) debruccedila-se sobre o surgimento de novos forshymatos de exame pautados na geneacutetica e na informaacutetica que buscam detectar biomarcadores de cacircncer de proacutestata O foco eacute na forma como interagem percepccedilotildees de corpo e de humano e no modo como estes aspectos associshyam-se no plano poliacutetico No contexto das academias de ginaacutestica delineei os modos de funcionamento da avaliaccedilatildeo antropomeacutetrica considerando o mashynejo das dimensotildees iacutentimas (psiacutequicas) e internas (fiacutesicas) do indiviacuteduo pela elaboraccedilatildeo socioteacutecnica da gordura (Sautchuk 2007) Jaacute Bonet (2004) trata justamente da constituiccedilatildeo do componente humano necessaacuterio aos disposishytivos de diagnoacutestico e terapecircutica pois enfoca o aprendizado praacutetico de meacutedicos em situaccedilatildeo de residecircncia

Haacute igualmente pesquisadores voltados ao transbordamento de discurshysos e dispositivos gerados no acircmbito da ciecircncia movendo a atenccedilatildeo do conshytexto de sua produccedilatildeo ou funcionamento para aquele da sua difusatildeo Veja-se os estudos sobre a forma como as neurociecircncias instituem novos marcadores de identificaccedilatildeo pessoal e de explicaccedilatildeo de sintomas enfim como estes disposhy

108 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

sitivos biomeacutedicos avanccedilam sobre o cotidiano extra-hospitalar seja contribushyindo agrave afirmaccedilatildeo de um ldquosujeito cerebralrdquo (Azize 20082010) seja possibishylitando o surgimento de um movimento de ldquoneurodiversidaderdquo que associa o individualismo com a noccedilatildeo de uma cultura cerebral (Ortega 2008) Sem mencionar aqui estudos voltados ao consumo de medicamentos assinalo que outra forma de explorar os desdobramentos da biotecnologia eacute enfocando seus usos com o fim de gerar os ditos estados de alteraccedilatildeo Vargas (2006 2008) considera as drogas enquanto objetos socioteacutecnicos que natildeo comporshytam sentido intriacutenseco absoluto ou essencial mas sim relacionai De modo que elas permanecem indeterminadas ateacute que os agenciamentos a constituam enquanto tais afinal elas operam mediando formas particulares de engajamentos com o mundo Para notar enfim que o identificador ldquobiordquo aplica-se tambeacutem a teacutecnicas natildeo ligadas agrave medicina veja-se Ferreira (2008) sobre o transe associado agrave muacutesica eletrocircnica

Dado o escopo aqui fixado mdash a relaccedilatildeo entre o humano e a teacutecnica em face da modernidade - eacute preciso demorar um pouco mais nas novas teacutecnicas reprodutivas pois se instaura entre antropoacutelogos brasileiros um verdadeiro diaacutelogo marcado pela influecircncia consideraacutevel de Strathern (1992) e levando adiante por etnografias e elaboraccedilotildees analiacuteticas realizadas em diferentes direshyccedilotildees (Grossi et al 2003 Ramiacuterez-Gaacutelvez 2009) Nesse contexto Salem (1997) circunscreve alguns pontos de referecircncia dentre eles o emprego sisteshymaacutetico do aparato conceituai de Dumont o que demonstra o intuito de colocar em perspectiva a modernidade por meio de um de seus dilemas fulcrais Para ela ldquoo proacuteprio modo de formular o dilema envolvido na manipulaccedilatildeo de embriotildees evidencia que em uacuteltima instacircncia estaacute-se discutindo a Pessoa o que significa ser pessoa e quais as qualidades que instalam em um ser humano essa condiccedilatildeordquo (idem p 84)

Consequumlecircncia disso a condiccedilatildeo de inteligibilidade de toda a controshyveacutersia o suposto de seus diferentes argumentos eacute o Indiviacuteduo a categoria ocidental de pessoa Grosso modo a controveacutersia estaacute em se o embriatildeo eacute e ateacute quando tecido celular ou pessoa E isso se definiria a partir da localizaccedilatildeo de certas caracteriacutesticas instauradoras do indiviacuteduo que confluem para a ldquoposserdquo de certas qualidades ou marcos Independentemente de que sejam defendidos atributos morais ou bioloacutegicos trata-se sempre de ldquouma realidade inerente ao indiviacuteduordquo um ldquodomiacutenio autocontidordquo lsquologicamente anterior agraves relaccedilotildees soshyciaisrdquo (idem p 84) Daiacute emergem questotildees sobre o estatuto mesmo do emshybriatildeo (intra ou extracorpoacutereo) e de como hierarquizar seus ldquodireitosrdquo em relaccedilatildeo aos da matildee

C iecircncia e T eacutecnica 109

A partir de quadro teoacuterico proacuteximo ao de Salem (1997) mas trabashylhando com dados oriundos de etnografia sobre processos de reproduccedilatildeo assistida Naara Luna (2007a e 2007b) insiste na questatildeo sobre quais atribushytos confeririam ao embriatildeo subjetividade e identidade individual Ela nota entatildeo a transferecircncia dos criteacuterios de individualidade e autonomia do plano moral para o plano bioloacutegico afirmando que ocorre genetizaccedilatildeo ou biologizaccedilatildeo do parentesco o que se expressa de modo mais geral

A anaacutelise das novas tecnologias reprodutivas permite vislumbrar como Natureza e Cultura natildeo satildeo domiacutenios estanques mas que haacute um fluxo contiacutenuo de significados um intercacircmbio em que significados natushyrais satildeo culturalizados e significados culturais satildeo naturalizados A Natureza ora serve de m odelo agrave Cultura ora o entendimento pela Cultura se impotildee agrave Natureza (Luna 2004 p 152)

Exemplo disso eacute o sangue que comporta sentidos geneacuteticos (DNA) e de pertencimento familiar acionando a importacircncia do parentesco e da pesshysoa no acircmbito da heranccedila Ademais emergem do universo bioloacutegico novas figuras de parentesco e portanto de humanidade como ceacutelulas oacutevulos feshytos Igualmente se os limites da concepccedilatildeo do humano e das relaccedilotildees de parentesco satildeo redesenhados com as novas teacutecnicas reprodutivas ressignificam- se tambeacutem a paternidade e a maternidade (idem p 151)

E o que indica Fonseca (2005) sobre o exame de DNA para definiccedilatildeo de paternidade Aleacutem disso ela enfatiza que a verdade bioloacutegica abre um horizonte de novas duacutevidas negociaccedilotildees e dilemas em torno do estabelecishymento ou do rompimento de viacutenculos de parentesco Conclusatildeo proacutexima agrave que Machado (2008) avanccedila sobre a alteraccedilatildeo nas definiccedilotildees da intersexuali- dade quanto mais se aguccedila a detecccedilatildeo de traccedilos de veracidade a respeito da definiccedilatildeo do sexo mais afloram ambiguumlidades entre diferentes niacuteveis (anatocircmicogeneacutetico etc)

A partir de pesquisa sobre a tramitaccedilatildeo da Lei de Biosseguranccedila brasishyleira mdash que permitiu sob certas condiccedilotildees o uso de ceacutelulas tronco de embriotildees inviaacuteveis ou congelados e a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos mdash Cesarino (2006) faz contribuiccedilotildees importantes a este debate Notadamente ela proshymove uma articulaccedilatildeo entre a controveacutersia no campo poliacutetico-moral e o fator econocircmico enfrentando o problema de equacionar mercado e ciecircncia nos dilemas cosmoloacutegicos da modernidade Para compreender os sentidos do debate poliacutetico a respeito da Lei de Biosseguranccedila - articulando fatos cientiacutefishy

110 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

cos e mercadorias Cesarino associa de maneira muito oportuna certos asshypectos da Antropologia simeacutetrica latouriana com a teoria dumontiana espeshycialmente no que se refere agrave relaccedilatildeo entre o individualismo e a autonomia da economia na modernidade Assim se ldquoo indiviacuteduo eacute a forma assumida pelos humanos no ciacuterculo de trocas do livre-mercado a mercadoria seria a forma por excelecircncia de inserccedilatildeo dos natildeo humanos no mercado capitalistardquo (Cesarino 2006 p 204-205) Adiccedilatildeo importante jaacute que o indiviacuteduo natildeo eacute entatildeo o uacutenico suposto no debate sobre a Lei de Biosseguranccedila a mercadoria eacute o sushyposto oposto mdash a condiccedilatildeo das coisas No caso da permissatildeo para o uso de embriotildees ela se vale da noccedilatildeo de englobamento para mostrar como sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade as qualidades do indiviacuteshyduo puderam ser consideradas tatildeo diminuiacutedas no preacute-embriatildeo a ponto de permitir sua desumanizaccedilatildeo relativa e seu uso nas pesquisas na qualidade de parte do mundo natural passiacutevel de manipulaccedilatildeo (Cesarino 2007 p 373)

Identificando traccedilos gerais aos trabalhos comentados aqui ressalto a pershycepccedilatildeo de que as biotecnologias remetem agrave questatildeo da fronteira da humanidashyde mas que devem ser explorados frente aos quadros cosmoloacutegicos da modernidade Associado a isso temos a constataccedilatildeo de que estes permanecem muito bem assentados ainda que mobilizados de modo distinto Tanto em relaccedilatildeo agrave Lei de Biosseguranccedila como nos demais casos referidos a ciecircncia natildeo perde nada do seu vigor assim como a separaccedilatildeo entre cultura e natureza Seria o caso de dizer que se as inovaccedilotildees teacutecnicas causam reordenaccedilotildees importantes elas estatildeo longe de reconfigurar as bases da cosmologia moderna Ao menos no plano formal (poliacutetico legal ou meacutedico) as noccedilotildees fundamentais de Indiviacuteduo Mercado Natureza permanecem operando e organizando (ou estimulando) o funcionamento das novas teacutecnicas O que as etnografias mostram satildeo ajustes ldquopragmaacuteticosrdquo que evidenciam plasticidades significativas mas natildeo uma reordenaccedilatildeo Portanto alguns dos aspectos mais interessantes evidenciados peshylos estudos sobre os dilemas biotecnoloacutegicos satildeo o vigor e a agilidade com que suas categorias se rearranjam (mercado natureza indiviacuteduo) para dar conta dos fenocircmenos de fronteira

CiecircnciaEacute um traccedilo caracteriacutestico da Antropologia feita no Brasil o estudo da

proacutepria configuraccedilatildeo das Ciecircncias Sociais enquanto especialidades dentiacutefi- co-acadecircmicas Como observou Peirano haacute um conjunto de trabalhos nessa

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 4: Ciência e Técnica

C iecircncia e T eacutecnica 99

Nesse sentido adotar o termo teacutecnica natildeo indica rejeiccedilatildeo mas cautela em relaccedilatildeo agrave tecnologia Se no contexto anglo-saxatildeo e no Brasil de modo geral o vocaacutebulo tecnologia eacute mais acionado entre francoacutefonos teacutecnica gashynha mais importacircncia e abrangecircncia Veja-se a tatildeo importante quanto pouco lembrada produccedilatildeo de Mauss (2006) sobre o tema onde tecnologia eacute comshypreendida como o estudo da teacutecnica E verdade que existe alguma corresshypondecircncia entre os dois termos atestada por exemplo na traduccedilatildeo para o inglecircs de autores como Latour Foucault Ellul Daumas Mauss Lemonnier onde technique no original eacute vertido como technolog) Mas essa equivalecircncia eacute parcial e pode dar margem a algumas confusotildees Tanto assim que diversos autores franceses incomodam-se com o emprego do termo tecnologia conshysiderando-o equivocado ou abusivo (Seacuteris 1994 p 3-6 Sigaut 1994 p 442 Latour 2001 p 219) E mesmo Bryan Pfaffenberger em SocialAnthropologj o f Technology (1992) propotildee a substituiccedilatildeo do termo tecnologia por teacutecnica ou por sistema socioteacutecnico

Natildeo se trata de fazer a defesa de uma linha de pensamento em detrishymento da outra o que seria no miacutenimo prova de um estreitamento teoacuterico inoportuno para um esforccedilo de mapeamento O cenaacuterio brasileiro natildeo pershymite que se tracem linhas absolutas pois se cruzam ambas as tradiccedilotildees e amshybos os vocaacutebulos Portanto a escolha do termo teacutecnica aqui se justifica antes de tudo por abrangecircncia e cautela

Explicitemos isto a partir da seguinte indagaccedilatildeo dado que tecnologia natildeo se refere ao estudo da teacutecnica o que justifica a adiccedilatildeo do sufixo ldquologosrdquo Tecnologia pode sugerir o superlativo de teacutecnica no sentido de outra orshydem racional mais sofisticada com meacutetodos complexos consciente dela mesma de suas necessidades e finalidades informada por um saber especishyalizado e cientiacutefico associado ao progresso Opor-se-ia assim agraves teacutecnicas ditas ldquorudimentaresrdquo baseadas no empirismo ou no conhecimento intuitishyvo arraigada nas convenccedilotildees Assim o valor associado ao termo tecnologia estaria conectado agrave dicotomia moderno-tradicional enquanto transformashyccedilatildeo radical Em acepccedilatildeo um pouco diferente tecnologia pode significar a dimensatildeo intelectual da teacutecnica isto eacute os conhecimentos saberes conceitos relativos a alguma operaccedilatildeo material o que remete agrave separaccedilatildeo entre domiacuteshynio ideal e material Ainda que em certas anaacutelises as transformaccedilotildees instaushyradas pelo mundo industrial ou as elaboraccedilotildees abstratas relativas agrave teacutecnica devam ganhar ecircnfase parece injustificado admitir isso como distinccedilatildeo a priori extensiva a todas as situaccedilotildees

100 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

Tecnologia pode tambeacutem significar coletivo de teacutecnicas Este uso conshysagrado entre antropoacutelogos anglo-saxotildees remete agrave ideia de que as teacutecnicas se reuniriam em sistema ou pelo menos num conjunto que se relacionaria com outros (de humanos siacutembolos etc) Assimartefatos estariamprimariamente em relaccedilatildeo com artefatos e este sistema caracterizado pela cultura material manteria uma relaccedilatildeo de outra ordem com a sociedade Essa distinccedilatildeo fundashymental entre o humano e o teacutecnico (derivada do pensamento hilemoacuterfico cf Simondon 2001) sustenta o dilema entre tecnotopia e tecnofobia tatildeo caracshyteriacutestico do pensamento moderno (cf Ribeiro 1999) Note-se entatildeo que considerar as teacutecnicas enquanto um sistema proacuteprio em alguma medida exteshyrior natildeo raro dominado ou dominando a vida humana extrateacutecnica pode implicar em um vieacutes etnocecircntrico instaurando importantes limitaccedilotildees heuriacutesticas Ver-se-aacute que tal dicotomia estaacute em contradiccedilatildeo com parte consishyderaacutevel do esforccedilo reflexivo avanccedilado nos estudos analisados a seguir

Enfim a opccedilatildeo pelo termo teacutecnica natildeo se deve agrave afirmaccedilatildeo de um tipo de abordagem mas agrave reserva epistemoloacutegica e agrave cautela empiacuterica face aos pressushypostos que podem subjazer ao uso do termo tecnologia Pode-se dizer entatildeo que o termo teacutecnica natildeo se opotildee mas engloba os diferentes usos de tecnologia Isso parece especialmente importante quando se trata de designar todo o escopo de abrangecircncia do tema na Antropologia praticada no BrasiL

Cultura materialAo introduzir um artigo sobre habitaccedilatildeo popular Luiz de Castro

Faria notou que os estudiosos das populaccedilotildees de origem africana no Brasil privilegiavam os aspectos religiosos e socioloacutegicos um ldquounilateralismordquo que prejudicava a compreensatildeo dos ldquobens materiais de culturardquo (Castro Faria 2000 p 339-340) Esta frase publicada em 1951 ressalta dois aspectos signishyficativos sobre os desenvolvimentos ulteriores dos estudos de cultura mateshyrial na Antropologia brasileira O primeiro deles eacute o alcance relativamente limitado em que este campo de pesquisa se manteve no quadro de interesses da antropologia no Brasil se comparado com a qualidade dos estudos realishyzados Outro ponto eacute que a forma como Castro Faria buscou minorar essa carecircncia no decurso de sua longa carreira como pesquisador e professor pode ser tomada como representativa dos tipos de preocupaccedilotildees que pautashyram os antropoacutelogos dedicados agrave materialidade Como se sabe dentre sua vasta contribuiccedilatildeo agrave formaccedilatildeo da Antropologia brasileira destacam-se a aproxishy

C iecircncia e T eacutecnica 101

maccedilatildeo (e a criacutetica) aos museus estudos arqueoloacutegicos escritos sobre a arte indiacuteshygena cursos sobre Antropologia econocircmica aleacutem da participaccedilatildeo decisiva na implantaccedilatildeo da legislaccedilatildeo referente ao patrimocircnio histoacuterico cultural Esse rol de temas explorados por Castro Faria se natildeo estaacute na origem direta de todas as abordagens contemporacircneas agrave cultura material no Brasil pode ser tomado como um quadro indicativo delas conforme apresentadas a seguir

Comecemos por sua influecircncia sobre os estudos de populaccedilotildees de pesshycadores Ela pode ser sentida na abordagem que enfocando as questotildees ambientais e poliacuteticas natildeo descuida da dimensatildeo teacutecnica e econocircmica emshypreendendo descriccedilatildeo e anaacutelise cuidada das diferentes formas de pescaria (Kant e Pereira 1997) Os detalhados resultados de uma pesquisa etnograacutefica ao longo da histoacuteria de uma comunidade pesqueira e as transformaccedilotildees em seu ambiente natural e sociopoliacutetico podem ser vistos na obra Gente das areias (Mello e Vogel 2004) que situa boa parte de seu interesse nas teacutecnicas relacionadas ao ambiente

A preocupaccedilatildeo com o trabalho como apropriaccedilatildeo dos recursos vashylendo-se das teacutecnicas eacute que articula os diferentes planos da anaacutelise e define um papel importante na dinacircmica explicativa destas pesquisas para a dimenshysatildeo econocircmica Nisso pode ser encontrado um traccedilo mais geral dos estudos sobre sociedades de pescadores entre pesquisadores brasileiros (por exemplo em Furtado 1993 Chaves 1973 Mussolini 1980) Esse vieacutes preocupa-se com os modos de apropriaccedilatildeo dos recursos naturais ainda que priorize mais uma leitura socioeconocircmica do que propriamente teacutecnica Assim a ecircnfase recai sobre as formas de socializaccedilatildeo e de relaccedilatildeo com o ambiente enquanto modo de reproduccedilatildeo Mas eacute notaacutevel que se os estudos sobre pesca no Brasil emprestam importantes balizas teoacutericas dos de campesinato (como o trabalho articulando ambiente economia e sociedade) eles invesshytem mais na etnografia das atividades teacutecnicas como forma de compreensatildeo das dimensotildees socioeconocircmicas

Malgrado algumas referecircncias raacutepidas eacute curioso notar que as claacutessicas contribuiccedilotildees de Andreacute Leroi-Gourhan (1983 1984) agrave Antropologia da teacutecnica natildeo ecoam nas correntes de pesquisa sobre cultura material no Brashysil Sem explorar aqui as razotildees disso2 limitemo-nos a apontar sua influecircnshycia em trabalhos recentes Em dissertaccedilatildeo sobre as transformaccedilotildees das habitaccedilotildees

2 Ausecircncia tanto mais notaacutevel quanto Leroi-Gourhan se dedicou longa e profundamente agrave relaccedilatildeo entre teacutecnica e esteacutetica e agrave proacutepria noccedilatildeo de arte que veremos a seguir satildeo fundashymentais nas abordagens da cultura material indiacutegena

102 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

kaiowaacute Mura (2000) explora o ambiente domeacutestico indiacutegena face aos divershysos planos do contato intereacutetnico recorrendo a trecircs horizontes teoacutericos a Antropologia da teacutecnica francesa a Antropologia econocircmica de Godelier e a elaboraccedilatildeo da etnicidade inspirada em Barth Assim sua anaacutelise natildeo adota a distinccedilatildeo entre teacutecnica indiacutegena e teacutecnica ocidental buscando compreender a constituiccedilatildeo da materialidade num ambiente de fluxos de diferentes ordens (mateacuterias-primas mercadorias conhecimentos etc) Inspirado noutra faceta de Leroi-Gourhan abordei a gecircnese associada de humanos e teacutecnicas ou ainshyda a tecnogecircnese do humano (Sautchuk 2007) Considerei as atividades de pesca costeira e lacustre no estuaacuterio do Amazonas a partir da conexatildeo entre habilidades teacutecnicas (Ingold 2000) e construccedilatildeo da pessoa buscando comshypreender os sentidos de humanos e de natildeo humanos (como artefatos e anishymais) a partir dos engajamentos praacuteticos

Por outra anoto que um dos acircmbitos da pesquisa sobre cultura mateshyrial que tem crescido em nuacutemero e importacircncia eacute influenciado pelas poliacuteticas puacuteblicas de identificaccedilatildeo de saberes e teacutecnicas enquanto patrimocircnio cultural imaterial Eacute preciso distinguir ao menos trecircs niacuteveis diferentes de implicaccedilatildeo da Antropologia com esse movimento a atuaccedilatildeo na identificaccedilatildeo de bens cultushyrais a reflexatildeo antropoloacutegica sobre a patrimonializaccedilatildeo (cf Carneiro da Cushynha 2005 Coelho de Souza 2005 Gallois 2007) e os estudos de relevacircncia antropoloacutegica associados a tais poliacuteticas Sobre esse uacuteltimo ponto cito dois exemplos que indicam a diversidade e o valor que podem assumir a elegante etnografia sobre alfaiatarias em Curitiba (Santos et al 2009) e a valiosa pesshyquisa sobre os sistemas agriacutecolas do rio Negro (Emperaire et al 2008 Emperaire 2005) Esta uacuteltima apresenta dois pontos a ressaltar O fato de a pesquisa ser levada adiante por uma equipe capaz de lidar com muacuteltiplas dimensotildees do fenocircmeno agriacutecolamdashcomo soacutei acontecer nesse tipo de projeto mdash aponta provavelmente uma tendecircncia metodoloacutegica Depois por contrishybuir agrave reduccedilatildeo da insondaacutevel lacuna nos estudos sobre cultura material dedicashydos agraves teacutecnicas de cultivo e aos processos de disseminaccedilatildeo agriacutecola ela indica um dos campos potenciais para seu desenvolvimento

Mas eacute nos trabalhos voltados agraves populaccedilotildees indiacutegenas que a anaacutelise da materialidade multiplicou-se constituindo uma tradiccedilatildeo de estudos A coshymeccedilar pela etnoarqueologia que estabelece associaccedilotildees entre o passado de uma populaccedilatildeo e a forma em que estatildeo relacionados atualmente artefatos conhecimentos e ambiente (cf Silva 2009 Silva e Souza 2002 Funari 1998 Ribeiro 1990) Para ilustrar o tom recente deste debate - sobre a relashy

C iecircn cia e T eacutecnica 103

ccedilatildeo entre dados etnograacuteficos e arqueoloacutegicos mdash notemos que Silva (2007 p 102) afirma baseada em etnografia sobre fabricaccedilatildeo e uso de artefatos que as formas de descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo atraveacutes da qual satildeo estabelecidas as periodIacute2accedilotildees arqueoloacutegicas em geral natildeo levam em consideraccedilatildeo os mecanisshymos mais complexos de produccedilatildeo de identidades sociais externas e internas aos grupos Tais aspectos podem ser acessados pelo estudo etnograacutefico da produccedilatildeo e da circulaccedilatildeo de artefatos associado agraves categorias ecircmicas usadas para referir-se a eles Ao dar-se conta das tensotildees entre tecnologia e agecircncia continuidade e mudanccedila a etnografia pode assim auxiliar na melhor compreshyensatildeo de comportamentos e trajetoacuterias de populaccedilotildees Eacute movida por estas preocupaccedilotildees que Silva (2002) escreve um dos raros trabalhos realizados no Brasil em que se traccedila um panorama de propostas teoacutericas sobre a relaccedilatildeo entre teacutecnica e significado no acircmbito da Antropologia

Por outro lado satildeo bem conhecidas as abordagens relacionando exshypressotildees materiais e simboacutelicas das sociedades indiacutegenas com base em mateshyrial etnograacutefico A esse propoacutesito sobressai o nome de Berta Ribeiro que aleacutem de suas proacuteprias pesquisas organizou os trecircs volumes da Suma etnoloacutegica brasileira (Ribeiro 1986) Das vaacuterias facetas de sua obra3 sublinhemos duas a ecircnfase na forma como um aspecto central na descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos artefatos (Ribeiro 1988) e o intuito de ldquoestudar a cultura material como uma iconografia eacutetnicardquo (Ribeiro 1986 p 12 cf tambeacutem 1989) o que conshyfere agrave dimensatildeo esteacutetica a chave de abertura para o sentido simboacutelico da vida material indiacutegena Inclusive eacute sob influecircncia desse princiacutepio que se desenvolve uma linha importante de trabalhos acerca da iconografia indiacutegeshyna em suas muacuteltiplas manifestaccedilotildees (Vidal 1992)

Natildeo se trata de negar que tambeacutem compunha o programa de pesquishysas de Berta Ribeiro (1995) a ldquotecnoeconomiardquo isto eacute a dimensatildeo da mateshyrialidade diretamente voltada agrave relaccedilatildeo com o ambiente e agrave subsistecircncia incluindo processos de fabricaccedilatildeo e uso Mas digamos que estas duas disposhysiccedilotildees mdash a ldquoformardquo como dado privilegiado e a ldquoesteacuteticardquo como dimensatildeo reveladora - satildeo cursos principais de sua reflexatildeo assim como da maneira como antropoacutelogos brasileiros lidam com a cultura material Penso que em alguma medida isto seja um subproduto do fato mais geral de a etnologia no Brasil se constituir em contraposiccedilatildeo agraves interpretaccedilotildees materialistas de dishyferentes ordens enfatizando para tal a organizaccedilatildeo social e o simbolismo

3 A esse respeito ver Velthem (1999) e Botelho (2005)

104 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

O texto de siacutentese de Vidal e Silva (1992) evidencia bem os pressuposshytos e as potencialidades desse enquadramento A ecircnfase na noccedilatildeo de um sisteshyma de objetos como base empiacuterica e na articulaccedilatildeo entre arte e cultura material como horizonte compreensivo eacute fundamental Mas o refinamento etnograacutefico alcanccedilado por esses trabalhos deve-se tambeacutem agrave formaccedilatildeo em artes ou museologia de parte consideraacutevel dos antropoacutelogos responsaacuteveis por elas4 Isto natildeo eacute negligenciaacutevel tanto mais se considerarmos que um dos desdobrashymentos mais instigantes nesse cenaacuterio eacute a reflexatildeo sobre a noccedilatildeo ocidental de arte e o modo como ela incide na compreensatildeo antropoloacutegica (nessa linha cf Costa 1988 e Velthem 2000) A tiacutetulo de exemplo citemos as ideias de criatividade individual autoria e autenticidade que se revelam muito diferenshytes no mundo indiacutegena

Contudo este desdobramento na reflexatildeo sobre a esteacutetica indiacutegena somente pode ser considerado em associaccedilatildeo com outro fator que diz resshypeito agrave etnologia de modo geral A partir da deacutecada de 1980 toma-se expliacutecishyta a percepccedilatildeo de que haacute ldquonecessidade de se tomar o discurso indiacutegena sobre a corporalidade e a pessoa como informador da praacutexis social concretardquo (Seeger et al 1979 p 16) Haacute entatildeo uma conexatildeo produtiva entre a tradiccedilatildeo de pesquisa da materialidade em tela mdash com um olhar atento agrave iconografia inclusive agrave ornamentaccedilatildeo corporal mdash e a aproximaccedilatildeo agraves dinacircmicas de forshymaccedilatildeo da pessoa atraveacutes do idioma da corporalidade Nessa direccedilatildeo recente leva de pesquisas renova os estudos sobre cultura material basicamente operando com as noccedilotildees de alteridade e de agecircncia como Velthem (2003) Lagrou (2007) Barcelos Neto (2008) e Miller (2009)

A trajetoacuteria de Luacutecia van Velthem expressa os principais capiacutetulos da transformaccedilatildeo na abordagem da cultura material na Antropologia brasileishyra Suas primeiras publicaccedilotildees a exemplo da dissertaccedilatildeo sobre a cestaria wayana datildeo prova do rigor descritivo da minuacutecia no tratamento da produshyccedilatildeo e da forma dos artefatos e de seus motivos graacuteficos Jaacute em O belo eacute afera explorando o viacutenculo necessaacuterio entre beleza e predaccedilatildeo Velthem (2003) compreende a esteacutetica Wayana frisando que os objetos e os padrotildees figuratishyvos natildeo constituem obras puramente humanas mas satildeo recebidos ou arreshybatados de outros seres sejam eles animais inimigos sobrenaturais etc De modo que a decoraccedilatildeo eacute uma forma de ldquointegrar o que lhe eacute estranho de

4 Eacute o caso de Berta Ribeiro Heloiacutesa Feacutenelon Costa Lux Vidal Luacutecia van Velthem Aristoacuteteles Barcelos Neto etc

C iecircn cia e T eacutecnica 105

assimilar o outro como condiccedilatildeo da proacutepria identidade individual e coletiva capacidade esta veiculada atraveacutes da arte que se revela para os Wayana enquanshyto possibilidade de afirmaccedilatildeo de humanidaderdquo (idem p 389) Natildeo soacute a relashyccedilatildeo com a alteridade eacute condiccedilatildeo de humanidade mas dado que a ldquofabricaccedilatildeordquo tanto de coisas como de pessoas independente de sua constituiccedilatildeo material eacute concretizada de acordo com uma mesma teacutecnica a grande questatildeo aqui eacute detectar ldquoo que haacute de lsquohumanorsquo nas coisas e o que haacute de lsquocoisarsquo nos humanosrdquo (idem p 63 cf Velthem 2009)5

Em seu estudo sobre o estilo graacutefico kaxinawa Lagrou (2007 cf tamshybeacutem 2002) tambeacutem se afasta dos intentos classificatoacuterios ou formalistas que tendem num segundo momento a desviar a atenccedilatildeo dos objetos para os sistemas de pensamento Ela trata de modo inseparaacutevel forma sentido e accedilatildeo apoiando-se em Gell (1998) para levar adiante uma abordagem de objetos artefatos e arte ldquocomo se fossem pessoasrdquo Isto eacute objetos cujo sentido natildeo estaacute no plano contemplativo semioacutetico ou linguumliacutestico mas adveacutem de certas moshydalidades de agecircncia estaacute em seus efeitos praacuteticos (Lagrou 2007 p 54) A ideia mesmo de poder criativo eacute alvo de exame suscitando a rediscussatildeo tanto dos pressupostos de uma Antropologia da arte quanto da ideia de agecircncia no mundo indiacutegena De modo que ldquopensar sobre arte entre os ameriacutendios equumlishyvale a pensar a noccedilatildeo de pessoa e de corpo Porque objetos pinturas e corpos satildeo assuntos ligados no universo indiacutegena no qual a pintura eacute feita para aderir a corpos e objetos satildeo feitos para completar a accedilatildeo dos corposrdquo (idem p 50)

Esse movimento nas abordagens da cultura material a partir das ideias de fabricaccedilatildeo de corpos e pessoas e da alteridade como dimensatildeo constitutiva reorganiza apropria forma de atribuiccedilatildeo da qualidade de sujeito e de objeto estabelecendo um quadro relacionai e situacional para a compreensatildeo do senshytido dos seres e das coisas E de se prever entatildeo que isto oxigenaria fortemenshyte temas proacuteximos como os associados agrave circulaccedilatildeo dos objetos Refiro-me agrave

5 Dedicando-se mais recentemente ao estudo de populaccedilotildees ribeirinhas no Acre Velthem (2008 p 11) constata que a fertilidade dos estudos sobre certas categorias artesanais dos povos indiacutegenas (cestaria plumaacuteria ceracircmica) contrasta com o tratamento meramente utilitaacuterio dado aos objetos envolvidos nos contextos produtivos de outras populaccedilotildees Levando adiante essa constataccedilatildeo seria o caso de acrescentar que muitas vezes esse desequiliacutebrio se apresenta no proacuteprio acircmbito dos estudos sobre povos indiacutegenas Nesse sentido vale ressaltar que a emergecircncia da noccedilatildeo de predaccedilatildeo que estende seu potencial heuriacutestico a diversos planos da vida indiacutegena natildeo tem gerado entre pesquisadores brasileishyros uma valorizaccedilatildeo das aproximaccedilotildees etnograacuteficas sobre a atividade cinegeacutetica propriashymente dita Aspecto que tem sido enfocado por antropoacutelogos de outras nacionalidades como Descola (1986) Ingold (1988 2000) e Kohn (2002)

106 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

inserccedilatildeo de objetos industrializados no meio indiacutegena (cf Ramos e Albert 2002) e de outro lado ao tracircnsito de objetos indiacutegenas no mundo natildeo indiacuteshygena particularmente nas situaccedilotildees de sua comercializaccedilatildeo e musealizaccedilatildeo Baseado em detalhado estudo sobre maacutescaras rituais xinguanas Barcelos Neto (2006 e 2008) estende-se a respeito dos muacuteltiplos sentidos da musealizaccedilatildeo inclusive na oacutetica indiacutegena tema de interesse crescente (por exemplo em Gordon e Silva 2005) Por fim eacute o caso de constatar que objetos (nos dois sentidos artefatos e temas de estudo) outrora relegados aos capiacutetulos sobre cultura mateshyrial ganham vida no cerne da etnologia contemporacircnea Penso que isso faz parte de um deslocamento mais amplo no modo de compreensatildeo das populashyccedilotildees indiacutegenasmdashde suas concepccedilotildees de humanidade e praacuteticas de socialidade mdash que daacute mostras de passar de modo cada vez mais intenso pelos natildeo humanosmdash artefatos animais espiacuteritos

Teacutecnicas do vivoDos trecircs temas definidos no escopo deste artigo este eacute sem duacutevida o

mais profuso e difuso de modo que sobressairaacute mais aqui o caraacuteter apenas indicativo das referecircncias e comentaacuterios De sorte que inicio lembrando que os termos teacutecnicatecnologiabiotecnologia satildeo recorrentes nos estudos sobre as praacuteticas de sauacutede em geral o mais das vezes conotando o processo messhymo de medicalizaccedilatildeo remetendo agraves dinacircmicas de construccedilatildeo de gecircnero e ou de subjetivaccedilatildeo com marcada influecircncia foucaultiana (a exemplo de Rohden 2004 Leibing 2004 Duarte e Leal 1998) Visto que a amplitude dessa produccedilatildeo escapa ao objetivo deste artigo interessaratildeo apenas aqueles estudos que lidam mais explicitamente com a questatildeo da teacutecnica como meshydiaccedilatildeo entre o humano e o natildeo humano na modernidade Ou seja os dedishycados aos problemas da fronteira ou da condiccedilatildeo do humano que remetem por assim dizer ao dilema do Ciborgue (Haraway 2000)

Os textos comentados a seguir apresentam como tema central o hushymano perpassado por suas proacuteprias teacutecnicas A hipoacutetese trazida aqui como criteacuterio de mapeamento eacute que a dramatiddade com que tal questatildeo se anunshycia soacute pode ser adequadamente apreciada na moldura da modernidade ocishydental Antes de tudo porque fora disso o drama tomar-se-ia banal- o humano sempre foi por definiccedilatildeo alvo de suas proacuteprias teacutecnicas (Leroi-Gourhan 1983 Neves 2006) Mas mesmo que se queira conceder preeminecircncia agraves especifi- cidades de nossa eacutepoca ainda assim a pertinecircncia antropoloacutegica do dilema do

C iecircncia e T eacutecnica 107

Ciborguemdashisto eacute do mal-estar com a teacutecnica modificando o seu autor mdash natildeo estaacute em se tratar de uma questatildeo referente ao advento da modernidade para a humanidade mas agraves redefiniccedilotildees do humano na modernidade Como os estudos antropoloacutegicos abaixo denotam por vias distintas a inquietaccedilatildeo geshyrada pelas biotecnologias no Ocidente moderno deve ser tratada como um fenocircmeno ecircmico cujas chaves de inteligibilidade estatildeo em sua proacutepria cosmologia

Uma das formas em que essa preocupaccedilatildeo se verifica eacute nas aproximashyccedilotildees aos modos de diagnoacutestico derivados do saber biomeacutedico Chazan (2007) trata do ultrassom obsteacutetrico que ao transportar o feto para o acircmbito da visualidade participa da reorganizaccedilatildeo da gestaccedilatildeo e da relaccedilatildeo com o feto As imagens e a forma como o ultrassom obsteacutetrico opera por meio da psicologizaccedilatildeo e da fisicalizaccedilatildeo do feto promovem sua existecircncia ldquosocialrdquo (isto eacute na forma do indiviacuteduo) antes do nascimento - a nomeaccedilatildeo passa a ocorrer quando da determinaccedilatildeo do sexo Entre as consequumlecircncias deste dispositivo estaacute sua utilizaccedilatildeo poliacutetica na controveacutersia sobre o aborto como prova da condiccedilatildeo de pessoa do feto e a constituiccedilatildeo do rito de visualizaccedilatildeo onde haacute algo de diagnoacutestico e algo de espetaacuteculo O exame pressupotildee algum aprendizado visual e gira em torno da fruiccedilatildeo das imashygens ldquodecifradasrdquo na tela

Investindo preferencialmente no desenvolvimento laboratorial de dishyagnoacutesticos Monteiro (2005) debruccedila-se sobre o surgimento de novos forshymatos de exame pautados na geneacutetica e na informaacutetica que buscam detectar biomarcadores de cacircncer de proacutestata O foco eacute na forma como interagem percepccedilotildees de corpo e de humano e no modo como estes aspectos associshyam-se no plano poliacutetico No contexto das academias de ginaacutestica delineei os modos de funcionamento da avaliaccedilatildeo antropomeacutetrica considerando o mashynejo das dimensotildees iacutentimas (psiacutequicas) e internas (fiacutesicas) do indiviacuteduo pela elaboraccedilatildeo socioteacutecnica da gordura (Sautchuk 2007) Jaacute Bonet (2004) trata justamente da constituiccedilatildeo do componente humano necessaacuterio aos disposishytivos de diagnoacutestico e terapecircutica pois enfoca o aprendizado praacutetico de meacutedicos em situaccedilatildeo de residecircncia

Haacute igualmente pesquisadores voltados ao transbordamento de discurshysos e dispositivos gerados no acircmbito da ciecircncia movendo a atenccedilatildeo do conshytexto de sua produccedilatildeo ou funcionamento para aquele da sua difusatildeo Veja-se os estudos sobre a forma como as neurociecircncias instituem novos marcadores de identificaccedilatildeo pessoal e de explicaccedilatildeo de sintomas enfim como estes disposhy

108 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

sitivos biomeacutedicos avanccedilam sobre o cotidiano extra-hospitalar seja contribushyindo agrave afirmaccedilatildeo de um ldquosujeito cerebralrdquo (Azize 20082010) seja possibishylitando o surgimento de um movimento de ldquoneurodiversidaderdquo que associa o individualismo com a noccedilatildeo de uma cultura cerebral (Ortega 2008) Sem mencionar aqui estudos voltados ao consumo de medicamentos assinalo que outra forma de explorar os desdobramentos da biotecnologia eacute enfocando seus usos com o fim de gerar os ditos estados de alteraccedilatildeo Vargas (2006 2008) considera as drogas enquanto objetos socioteacutecnicos que natildeo comporshytam sentido intriacutenseco absoluto ou essencial mas sim relacionai De modo que elas permanecem indeterminadas ateacute que os agenciamentos a constituam enquanto tais afinal elas operam mediando formas particulares de engajamentos com o mundo Para notar enfim que o identificador ldquobiordquo aplica-se tambeacutem a teacutecnicas natildeo ligadas agrave medicina veja-se Ferreira (2008) sobre o transe associado agrave muacutesica eletrocircnica

Dado o escopo aqui fixado mdash a relaccedilatildeo entre o humano e a teacutecnica em face da modernidade - eacute preciso demorar um pouco mais nas novas teacutecnicas reprodutivas pois se instaura entre antropoacutelogos brasileiros um verdadeiro diaacutelogo marcado pela influecircncia consideraacutevel de Strathern (1992) e levando adiante por etnografias e elaboraccedilotildees analiacuteticas realizadas em diferentes direshyccedilotildees (Grossi et al 2003 Ramiacuterez-Gaacutelvez 2009) Nesse contexto Salem (1997) circunscreve alguns pontos de referecircncia dentre eles o emprego sisteshymaacutetico do aparato conceituai de Dumont o que demonstra o intuito de colocar em perspectiva a modernidade por meio de um de seus dilemas fulcrais Para ela ldquoo proacuteprio modo de formular o dilema envolvido na manipulaccedilatildeo de embriotildees evidencia que em uacuteltima instacircncia estaacute-se discutindo a Pessoa o que significa ser pessoa e quais as qualidades que instalam em um ser humano essa condiccedilatildeordquo (idem p 84)

Consequumlecircncia disso a condiccedilatildeo de inteligibilidade de toda a controshyveacutersia o suposto de seus diferentes argumentos eacute o Indiviacuteduo a categoria ocidental de pessoa Grosso modo a controveacutersia estaacute em se o embriatildeo eacute e ateacute quando tecido celular ou pessoa E isso se definiria a partir da localizaccedilatildeo de certas caracteriacutesticas instauradoras do indiviacuteduo que confluem para a ldquoposserdquo de certas qualidades ou marcos Independentemente de que sejam defendidos atributos morais ou bioloacutegicos trata-se sempre de ldquouma realidade inerente ao indiviacuteduordquo um ldquodomiacutenio autocontidordquo lsquologicamente anterior agraves relaccedilotildees soshyciaisrdquo (idem p 84) Daiacute emergem questotildees sobre o estatuto mesmo do emshybriatildeo (intra ou extracorpoacutereo) e de como hierarquizar seus ldquodireitosrdquo em relaccedilatildeo aos da matildee

C iecircncia e T eacutecnica 109

A partir de quadro teoacuterico proacuteximo ao de Salem (1997) mas trabashylhando com dados oriundos de etnografia sobre processos de reproduccedilatildeo assistida Naara Luna (2007a e 2007b) insiste na questatildeo sobre quais atribushytos confeririam ao embriatildeo subjetividade e identidade individual Ela nota entatildeo a transferecircncia dos criteacuterios de individualidade e autonomia do plano moral para o plano bioloacutegico afirmando que ocorre genetizaccedilatildeo ou biologizaccedilatildeo do parentesco o que se expressa de modo mais geral

A anaacutelise das novas tecnologias reprodutivas permite vislumbrar como Natureza e Cultura natildeo satildeo domiacutenios estanques mas que haacute um fluxo contiacutenuo de significados um intercacircmbio em que significados natushyrais satildeo culturalizados e significados culturais satildeo naturalizados A Natureza ora serve de m odelo agrave Cultura ora o entendimento pela Cultura se impotildee agrave Natureza (Luna 2004 p 152)

Exemplo disso eacute o sangue que comporta sentidos geneacuteticos (DNA) e de pertencimento familiar acionando a importacircncia do parentesco e da pesshysoa no acircmbito da heranccedila Ademais emergem do universo bioloacutegico novas figuras de parentesco e portanto de humanidade como ceacutelulas oacutevulos feshytos Igualmente se os limites da concepccedilatildeo do humano e das relaccedilotildees de parentesco satildeo redesenhados com as novas teacutecnicas reprodutivas ressignificam- se tambeacutem a paternidade e a maternidade (idem p 151)

E o que indica Fonseca (2005) sobre o exame de DNA para definiccedilatildeo de paternidade Aleacutem disso ela enfatiza que a verdade bioloacutegica abre um horizonte de novas duacutevidas negociaccedilotildees e dilemas em torno do estabelecishymento ou do rompimento de viacutenculos de parentesco Conclusatildeo proacutexima agrave que Machado (2008) avanccedila sobre a alteraccedilatildeo nas definiccedilotildees da intersexuali- dade quanto mais se aguccedila a detecccedilatildeo de traccedilos de veracidade a respeito da definiccedilatildeo do sexo mais afloram ambiguumlidades entre diferentes niacuteveis (anatocircmicogeneacutetico etc)

A partir de pesquisa sobre a tramitaccedilatildeo da Lei de Biosseguranccedila brasishyleira mdash que permitiu sob certas condiccedilotildees o uso de ceacutelulas tronco de embriotildees inviaacuteveis ou congelados e a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos mdash Cesarino (2006) faz contribuiccedilotildees importantes a este debate Notadamente ela proshymove uma articulaccedilatildeo entre a controveacutersia no campo poliacutetico-moral e o fator econocircmico enfrentando o problema de equacionar mercado e ciecircncia nos dilemas cosmoloacutegicos da modernidade Para compreender os sentidos do debate poliacutetico a respeito da Lei de Biosseguranccedila - articulando fatos cientiacutefishy

110 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

cos e mercadorias Cesarino associa de maneira muito oportuna certos asshypectos da Antropologia simeacutetrica latouriana com a teoria dumontiana espeshycialmente no que se refere agrave relaccedilatildeo entre o individualismo e a autonomia da economia na modernidade Assim se ldquoo indiviacuteduo eacute a forma assumida pelos humanos no ciacuterculo de trocas do livre-mercado a mercadoria seria a forma por excelecircncia de inserccedilatildeo dos natildeo humanos no mercado capitalistardquo (Cesarino 2006 p 204-205) Adiccedilatildeo importante jaacute que o indiviacuteduo natildeo eacute entatildeo o uacutenico suposto no debate sobre a Lei de Biosseguranccedila a mercadoria eacute o sushyposto oposto mdash a condiccedilatildeo das coisas No caso da permissatildeo para o uso de embriotildees ela se vale da noccedilatildeo de englobamento para mostrar como sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade as qualidades do indiviacuteshyduo puderam ser consideradas tatildeo diminuiacutedas no preacute-embriatildeo a ponto de permitir sua desumanizaccedilatildeo relativa e seu uso nas pesquisas na qualidade de parte do mundo natural passiacutevel de manipulaccedilatildeo (Cesarino 2007 p 373)

Identificando traccedilos gerais aos trabalhos comentados aqui ressalto a pershycepccedilatildeo de que as biotecnologias remetem agrave questatildeo da fronteira da humanidashyde mas que devem ser explorados frente aos quadros cosmoloacutegicos da modernidade Associado a isso temos a constataccedilatildeo de que estes permanecem muito bem assentados ainda que mobilizados de modo distinto Tanto em relaccedilatildeo agrave Lei de Biosseguranccedila como nos demais casos referidos a ciecircncia natildeo perde nada do seu vigor assim como a separaccedilatildeo entre cultura e natureza Seria o caso de dizer que se as inovaccedilotildees teacutecnicas causam reordenaccedilotildees importantes elas estatildeo longe de reconfigurar as bases da cosmologia moderna Ao menos no plano formal (poliacutetico legal ou meacutedico) as noccedilotildees fundamentais de Indiviacuteduo Mercado Natureza permanecem operando e organizando (ou estimulando) o funcionamento das novas teacutecnicas O que as etnografias mostram satildeo ajustes ldquopragmaacuteticosrdquo que evidenciam plasticidades significativas mas natildeo uma reordenaccedilatildeo Portanto alguns dos aspectos mais interessantes evidenciados peshylos estudos sobre os dilemas biotecnoloacutegicos satildeo o vigor e a agilidade com que suas categorias se rearranjam (mercado natureza indiviacuteduo) para dar conta dos fenocircmenos de fronteira

CiecircnciaEacute um traccedilo caracteriacutestico da Antropologia feita no Brasil o estudo da

proacutepria configuraccedilatildeo das Ciecircncias Sociais enquanto especialidades dentiacutefi- co-acadecircmicas Como observou Peirano haacute um conjunto de trabalhos nessa

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 5: Ciência e Técnica

100 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

Tecnologia pode tambeacutem significar coletivo de teacutecnicas Este uso conshysagrado entre antropoacutelogos anglo-saxotildees remete agrave ideia de que as teacutecnicas se reuniriam em sistema ou pelo menos num conjunto que se relacionaria com outros (de humanos siacutembolos etc) Assimartefatos estariamprimariamente em relaccedilatildeo com artefatos e este sistema caracterizado pela cultura material manteria uma relaccedilatildeo de outra ordem com a sociedade Essa distinccedilatildeo fundashymental entre o humano e o teacutecnico (derivada do pensamento hilemoacuterfico cf Simondon 2001) sustenta o dilema entre tecnotopia e tecnofobia tatildeo caracshyteriacutestico do pensamento moderno (cf Ribeiro 1999) Note-se entatildeo que considerar as teacutecnicas enquanto um sistema proacuteprio em alguma medida exteshyrior natildeo raro dominado ou dominando a vida humana extrateacutecnica pode implicar em um vieacutes etnocecircntrico instaurando importantes limitaccedilotildees heuriacutesticas Ver-se-aacute que tal dicotomia estaacute em contradiccedilatildeo com parte consishyderaacutevel do esforccedilo reflexivo avanccedilado nos estudos analisados a seguir

Enfim a opccedilatildeo pelo termo teacutecnica natildeo se deve agrave afirmaccedilatildeo de um tipo de abordagem mas agrave reserva epistemoloacutegica e agrave cautela empiacuterica face aos pressushypostos que podem subjazer ao uso do termo tecnologia Pode-se dizer entatildeo que o termo teacutecnica natildeo se opotildee mas engloba os diferentes usos de tecnologia Isso parece especialmente importante quando se trata de designar todo o escopo de abrangecircncia do tema na Antropologia praticada no BrasiL

Cultura materialAo introduzir um artigo sobre habitaccedilatildeo popular Luiz de Castro

Faria notou que os estudiosos das populaccedilotildees de origem africana no Brasil privilegiavam os aspectos religiosos e socioloacutegicos um ldquounilateralismordquo que prejudicava a compreensatildeo dos ldquobens materiais de culturardquo (Castro Faria 2000 p 339-340) Esta frase publicada em 1951 ressalta dois aspectos signishyficativos sobre os desenvolvimentos ulteriores dos estudos de cultura mateshyrial na Antropologia brasileira O primeiro deles eacute o alcance relativamente limitado em que este campo de pesquisa se manteve no quadro de interesses da antropologia no Brasil se comparado com a qualidade dos estudos realishyzados Outro ponto eacute que a forma como Castro Faria buscou minorar essa carecircncia no decurso de sua longa carreira como pesquisador e professor pode ser tomada como representativa dos tipos de preocupaccedilotildees que pautashyram os antropoacutelogos dedicados agrave materialidade Como se sabe dentre sua vasta contribuiccedilatildeo agrave formaccedilatildeo da Antropologia brasileira destacam-se a aproxishy

C iecircncia e T eacutecnica 101

maccedilatildeo (e a criacutetica) aos museus estudos arqueoloacutegicos escritos sobre a arte indiacuteshygena cursos sobre Antropologia econocircmica aleacutem da participaccedilatildeo decisiva na implantaccedilatildeo da legislaccedilatildeo referente ao patrimocircnio histoacuterico cultural Esse rol de temas explorados por Castro Faria se natildeo estaacute na origem direta de todas as abordagens contemporacircneas agrave cultura material no Brasil pode ser tomado como um quadro indicativo delas conforme apresentadas a seguir

Comecemos por sua influecircncia sobre os estudos de populaccedilotildees de pesshycadores Ela pode ser sentida na abordagem que enfocando as questotildees ambientais e poliacuteticas natildeo descuida da dimensatildeo teacutecnica e econocircmica emshypreendendo descriccedilatildeo e anaacutelise cuidada das diferentes formas de pescaria (Kant e Pereira 1997) Os detalhados resultados de uma pesquisa etnograacutefica ao longo da histoacuteria de uma comunidade pesqueira e as transformaccedilotildees em seu ambiente natural e sociopoliacutetico podem ser vistos na obra Gente das areias (Mello e Vogel 2004) que situa boa parte de seu interesse nas teacutecnicas relacionadas ao ambiente

A preocupaccedilatildeo com o trabalho como apropriaccedilatildeo dos recursos vashylendo-se das teacutecnicas eacute que articula os diferentes planos da anaacutelise e define um papel importante na dinacircmica explicativa destas pesquisas para a dimenshysatildeo econocircmica Nisso pode ser encontrado um traccedilo mais geral dos estudos sobre sociedades de pescadores entre pesquisadores brasileiros (por exemplo em Furtado 1993 Chaves 1973 Mussolini 1980) Esse vieacutes preocupa-se com os modos de apropriaccedilatildeo dos recursos naturais ainda que priorize mais uma leitura socioeconocircmica do que propriamente teacutecnica Assim a ecircnfase recai sobre as formas de socializaccedilatildeo e de relaccedilatildeo com o ambiente enquanto modo de reproduccedilatildeo Mas eacute notaacutevel que se os estudos sobre pesca no Brasil emprestam importantes balizas teoacutericas dos de campesinato (como o trabalho articulando ambiente economia e sociedade) eles invesshytem mais na etnografia das atividades teacutecnicas como forma de compreensatildeo das dimensotildees socioeconocircmicas

Malgrado algumas referecircncias raacutepidas eacute curioso notar que as claacutessicas contribuiccedilotildees de Andreacute Leroi-Gourhan (1983 1984) agrave Antropologia da teacutecnica natildeo ecoam nas correntes de pesquisa sobre cultura material no Brashysil Sem explorar aqui as razotildees disso2 limitemo-nos a apontar sua influecircnshycia em trabalhos recentes Em dissertaccedilatildeo sobre as transformaccedilotildees das habitaccedilotildees

2 Ausecircncia tanto mais notaacutevel quanto Leroi-Gourhan se dedicou longa e profundamente agrave relaccedilatildeo entre teacutecnica e esteacutetica e agrave proacutepria noccedilatildeo de arte que veremos a seguir satildeo fundashymentais nas abordagens da cultura material indiacutegena

102 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

kaiowaacute Mura (2000) explora o ambiente domeacutestico indiacutegena face aos divershysos planos do contato intereacutetnico recorrendo a trecircs horizontes teoacutericos a Antropologia da teacutecnica francesa a Antropologia econocircmica de Godelier e a elaboraccedilatildeo da etnicidade inspirada em Barth Assim sua anaacutelise natildeo adota a distinccedilatildeo entre teacutecnica indiacutegena e teacutecnica ocidental buscando compreender a constituiccedilatildeo da materialidade num ambiente de fluxos de diferentes ordens (mateacuterias-primas mercadorias conhecimentos etc) Inspirado noutra faceta de Leroi-Gourhan abordei a gecircnese associada de humanos e teacutecnicas ou ainshyda a tecnogecircnese do humano (Sautchuk 2007) Considerei as atividades de pesca costeira e lacustre no estuaacuterio do Amazonas a partir da conexatildeo entre habilidades teacutecnicas (Ingold 2000) e construccedilatildeo da pessoa buscando comshypreender os sentidos de humanos e de natildeo humanos (como artefatos e anishymais) a partir dos engajamentos praacuteticos

Por outra anoto que um dos acircmbitos da pesquisa sobre cultura mateshyrial que tem crescido em nuacutemero e importacircncia eacute influenciado pelas poliacuteticas puacuteblicas de identificaccedilatildeo de saberes e teacutecnicas enquanto patrimocircnio cultural imaterial Eacute preciso distinguir ao menos trecircs niacuteveis diferentes de implicaccedilatildeo da Antropologia com esse movimento a atuaccedilatildeo na identificaccedilatildeo de bens cultushyrais a reflexatildeo antropoloacutegica sobre a patrimonializaccedilatildeo (cf Carneiro da Cushynha 2005 Coelho de Souza 2005 Gallois 2007) e os estudos de relevacircncia antropoloacutegica associados a tais poliacuteticas Sobre esse uacuteltimo ponto cito dois exemplos que indicam a diversidade e o valor que podem assumir a elegante etnografia sobre alfaiatarias em Curitiba (Santos et al 2009) e a valiosa pesshyquisa sobre os sistemas agriacutecolas do rio Negro (Emperaire et al 2008 Emperaire 2005) Esta uacuteltima apresenta dois pontos a ressaltar O fato de a pesquisa ser levada adiante por uma equipe capaz de lidar com muacuteltiplas dimensotildees do fenocircmeno agriacutecolamdashcomo soacutei acontecer nesse tipo de projeto mdash aponta provavelmente uma tendecircncia metodoloacutegica Depois por contrishybuir agrave reduccedilatildeo da insondaacutevel lacuna nos estudos sobre cultura material dedicashydos agraves teacutecnicas de cultivo e aos processos de disseminaccedilatildeo agriacutecola ela indica um dos campos potenciais para seu desenvolvimento

Mas eacute nos trabalhos voltados agraves populaccedilotildees indiacutegenas que a anaacutelise da materialidade multiplicou-se constituindo uma tradiccedilatildeo de estudos A coshymeccedilar pela etnoarqueologia que estabelece associaccedilotildees entre o passado de uma populaccedilatildeo e a forma em que estatildeo relacionados atualmente artefatos conhecimentos e ambiente (cf Silva 2009 Silva e Souza 2002 Funari 1998 Ribeiro 1990) Para ilustrar o tom recente deste debate - sobre a relashy

C iecircn cia e T eacutecnica 103

ccedilatildeo entre dados etnograacuteficos e arqueoloacutegicos mdash notemos que Silva (2007 p 102) afirma baseada em etnografia sobre fabricaccedilatildeo e uso de artefatos que as formas de descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo atraveacutes da qual satildeo estabelecidas as periodIacute2accedilotildees arqueoloacutegicas em geral natildeo levam em consideraccedilatildeo os mecanisshymos mais complexos de produccedilatildeo de identidades sociais externas e internas aos grupos Tais aspectos podem ser acessados pelo estudo etnograacutefico da produccedilatildeo e da circulaccedilatildeo de artefatos associado agraves categorias ecircmicas usadas para referir-se a eles Ao dar-se conta das tensotildees entre tecnologia e agecircncia continuidade e mudanccedila a etnografia pode assim auxiliar na melhor compreshyensatildeo de comportamentos e trajetoacuterias de populaccedilotildees Eacute movida por estas preocupaccedilotildees que Silva (2002) escreve um dos raros trabalhos realizados no Brasil em que se traccedila um panorama de propostas teoacutericas sobre a relaccedilatildeo entre teacutecnica e significado no acircmbito da Antropologia

Por outro lado satildeo bem conhecidas as abordagens relacionando exshypressotildees materiais e simboacutelicas das sociedades indiacutegenas com base em mateshyrial etnograacutefico A esse propoacutesito sobressai o nome de Berta Ribeiro que aleacutem de suas proacuteprias pesquisas organizou os trecircs volumes da Suma etnoloacutegica brasileira (Ribeiro 1986) Das vaacuterias facetas de sua obra3 sublinhemos duas a ecircnfase na forma como um aspecto central na descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos artefatos (Ribeiro 1988) e o intuito de ldquoestudar a cultura material como uma iconografia eacutetnicardquo (Ribeiro 1986 p 12 cf tambeacutem 1989) o que conshyfere agrave dimensatildeo esteacutetica a chave de abertura para o sentido simboacutelico da vida material indiacutegena Inclusive eacute sob influecircncia desse princiacutepio que se desenvolve uma linha importante de trabalhos acerca da iconografia indiacutegeshyna em suas muacuteltiplas manifestaccedilotildees (Vidal 1992)

Natildeo se trata de negar que tambeacutem compunha o programa de pesquishysas de Berta Ribeiro (1995) a ldquotecnoeconomiardquo isto eacute a dimensatildeo da mateshyrialidade diretamente voltada agrave relaccedilatildeo com o ambiente e agrave subsistecircncia incluindo processos de fabricaccedilatildeo e uso Mas digamos que estas duas disposhysiccedilotildees mdash a ldquoformardquo como dado privilegiado e a ldquoesteacuteticardquo como dimensatildeo reveladora - satildeo cursos principais de sua reflexatildeo assim como da maneira como antropoacutelogos brasileiros lidam com a cultura material Penso que em alguma medida isto seja um subproduto do fato mais geral de a etnologia no Brasil se constituir em contraposiccedilatildeo agraves interpretaccedilotildees materialistas de dishyferentes ordens enfatizando para tal a organizaccedilatildeo social e o simbolismo

3 A esse respeito ver Velthem (1999) e Botelho (2005)

104 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

O texto de siacutentese de Vidal e Silva (1992) evidencia bem os pressuposshytos e as potencialidades desse enquadramento A ecircnfase na noccedilatildeo de um sisteshyma de objetos como base empiacuterica e na articulaccedilatildeo entre arte e cultura material como horizonte compreensivo eacute fundamental Mas o refinamento etnograacutefico alcanccedilado por esses trabalhos deve-se tambeacutem agrave formaccedilatildeo em artes ou museologia de parte consideraacutevel dos antropoacutelogos responsaacuteveis por elas4 Isto natildeo eacute negligenciaacutevel tanto mais se considerarmos que um dos desdobrashymentos mais instigantes nesse cenaacuterio eacute a reflexatildeo sobre a noccedilatildeo ocidental de arte e o modo como ela incide na compreensatildeo antropoloacutegica (nessa linha cf Costa 1988 e Velthem 2000) A tiacutetulo de exemplo citemos as ideias de criatividade individual autoria e autenticidade que se revelam muito diferenshytes no mundo indiacutegena

Contudo este desdobramento na reflexatildeo sobre a esteacutetica indiacutegena somente pode ser considerado em associaccedilatildeo com outro fator que diz resshypeito agrave etnologia de modo geral A partir da deacutecada de 1980 toma-se expliacutecishyta a percepccedilatildeo de que haacute ldquonecessidade de se tomar o discurso indiacutegena sobre a corporalidade e a pessoa como informador da praacutexis social concretardquo (Seeger et al 1979 p 16) Haacute entatildeo uma conexatildeo produtiva entre a tradiccedilatildeo de pesquisa da materialidade em tela mdash com um olhar atento agrave iconografia inclusive agrave ornamentaccedilatildeo corporal mdash e a aproximaccedilatildeo agraves dinacircmicas de forshymaccedilatildeo da pessoa atraveacutes do idioma da corporalidade Nessa direccedilatildeo recente leva de pesquisas renova os estudos sobre cultura material basicamente operando com as noccedilotildees de alteridade e de agecircncia como Velthem (2003) Lagrou (2007) Barcelos Neto (2008) e Miller (2009)

A trajetoacuteria de Luacutecia van Velthem expressa os principais capiacutetulos da transformaccedilatildeo na abordagem da cultura material na Antropologia brasileishyra Suas primeiras publicaccedilotildees a exemplo da dissertaccedilatildeo sobre a cestaria wayana datildeo prova do rigor descritivo da minuacutecia no tratamento da produshyccedilatildeo e da forma dos artefatos e de seus motivos graacuteficos Jaacute em O belo eacute afera explorando o viacutenculo necessaacuterio entre beleza e predaccedilatildeo Velthem (2003) compreende a esteacutetica Wayana frisando que os objetos e os padrotildees figuratishyvos natildeo constituem obras puramente humanas mas satildeo recebidos ou arreshybatados de outros seres sejam eles animais inimigos sobrenaturais etc De modo que a decoraccedilatildeo eacute uma forma de ldquointegrar o que lhe eacute estranho de

4 Eacute o caso de Berta Ribeiro Heloiacutesa Feacutenelon Costa Lux Vidal Luacutecia van Velthem Aristoacuteteles Barcelos Neto etc

C iecircn cia e T eacutecnica 105

assimilar o outro como condiccedilatildeo da proacutepria identidade individual e coletiva capacidade esta veiculada atraveacutes da arte que se revela para os Wayana enquanshyto possibilidade de afirmaccedilatildeo de humanidaderdquo (idem p 389) Natildeo soacute a relashyccedilatildeo com a alteridade eacute condiccedilatildeo de humanidade mas dado que a ldquofabricaccedilatildeordquo tanto de coisas como de pessoas independente de sua constituiccedilatildeo material eacute concretizada de acordo com uma mesma teacutecnica a grande questatildeo aqui eacute detectar ldquoo que haacute de lsquohumanorsquo nas coisas e o que haacute de lsquocoisarsquo nos humanosrdquo (idem p 63 cf Velthem 2009)5

Em seu estudo sobre o estilo graacutefico kaxinawa Lagrou (2007 cf tamshybeacutem 2002) tambeacutem se afasta dos intentos classificatoacuterios ou formalistas que tendem num segundo momento a desviar a atenccedilatildeo dos objetos para os sistemas de pensamento Ela trata de modo inseparaacutevel forma sentido e accedilatildeo apoiando-se em Gell (1998) para levar adiante uma abordagem de objetos artefatos e arte ldquocomo se fossem pessoasrdquo Isto eacute objetos cujo sentido natildeo estaacute no plano contemplativo semioacutetico ou linguumliacutestico mas adveacutem de certas moshydalidades de agecircncia estaacute em seus efeitos praacuteticos (Lagrou 2007 p 54) A ideia mesmo de poder criativo eacute alvo de exame suscitando a rediscussatildeo tanto dos pressupostos de uma Antropologia da arte quanto da ideia de agecircncia no mundo indiacutegena De modo que ldquopensar sobre arte entre os ameriacutendios equumlishyvale a pensar a noccedilatildeo de pessoa e de corpo Porque objetos pinturas e corpos satildeo assuntos ligados no universo indiacutegena no qual a pintura eacute feita para aderir a corpos e objetos satildeo feitos para completar a accedilatildeo dos corposrdquo (idem p 50)

Esse movimento nas abordagens da cultura material a partir das ideias de fabricaccedilatildeo de corpos e pessoas e da alteridade como dimensatildeo constitutiva reorganiza apropria forma de atribuiccedilatildeo da qualidade de sujeito e de objeto estabelecendo um quadro relacionai e situacional para a compreensatildeo do senshytido dos seres e das coisas E de se prever entatildeo que isto oxigenaria fortemenshyte temas proacuteximos como os associados agrave circulaccedilatildeo dos objetos Refiro-me agrave

5 Dedicando-se mais recentemente ao estudo de populaccedilotildees ribeirinhas no Acre Velthem (2008 p 11) constata que a fertilidade dos estudos sobre certas categorias artesanais dos povos indiacutegenas (cestaria plumaacuteria ceracircmica) contrasta com o tratamento meramente utilitaacuterio dado aos objetos envolvidos nos contextos produtivos de outras populaccedilotildees Levando adiante essa constataccedilatildeo seria o caso de acrescentar que muitas vezes esse desequiliacutebrio se apresenta no proacuteprio acircmbito dos estudos sobre povos indiacutegenas Nesse sentido vale ressaltar que a emergecircncia da noccedilatildeo de predaccedilatildeo que estende seu potencial heuriacutestico a diversos planos da vida indiacutegena natildeo tem gerado entre pesquisadores brasileishyros uma valorizaccedilatildeo das aproximaccedilotildees etnograacuteficas sobre a atividade cinegeacutetica propriashymente dita Aspecto que tem sido enfocado por antropoacutelogos de outras nacionalidades como Descola (1986) Ingold (1988 2000) e Kohn (2002)

106 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

inserccedilatildeo de objetos industrializados no meio indiacutegena (cf Ramos e Albert 2002) e de outro lado ao tracircnsito de objetos indiacutegenas no mundo natildeo indiacuteshygena particularmente nas situaccedilotildees de sua comercializaccedilatildeo e musealizaccedilatildeo Baseado em detalhado estudo sobre maacutescaras rituais xinguanas Barcelos Neto (2006 e 2008) estende-se a respeito dos muacuteltiplos sentidos da musealizaccedilatildeo inclusive na oacutetica indiacutegena tema de interesse crescente (por exemplo em Gordon e Silva 2005) Por fim eacute o caso de constatar que objetos (nos dois sentidos artefatos e temas de estudo) outrora relegados aos capiacutetulos sobre cultura mateshyrial ganham vida no cerne da etnologia contemporacircnea Penso que isso faz parte de um deslocamento mais amplo no modo de compreensatildeo das populashyccedilotildees indiacutegenasmdashde suas concepccedilotildees de humanidade e praacuteticas de socialidade mdash que daacute mostras de passar de modo cada vez mais intenso pelos natildeo humanosmdash artefatos animais espiacuteritos

Teacutecnicas do vivoDos trecircs temas definidos no escopo deste artigo este eacute sem duacutevida o

mais profuso e difuso de modo que sobressairaacute mais aqui o caraacuteter apenas indicativo das referecircncias e comentaacuterios De sorte que inicio lembrando que os termos teacutecnicatecnologiabiotecnologia satildeo recorrentes nos estudos sobre as praacuteticas de sauacutede em geral o mais das vezes conotando o processo messhymo de medicalizaccedilatildeo remetendo agraves dinacircmicas de construccedilatildeo de gecircnero e ou de subjetivaccedilatildeo com marcada influecircncia foucaultiana (a exemplo de Rohden 2004 Leibing 2004 Duarte e Leal 1998) Visto que a amplitude dessa produccedilatildeo escapa ao objetivo deste artigo interessaratildeo apenas aqueles estudos que lidam mais explicitamente com a questatildeo da teacutecnica como meshydiaccedilatildeo entre o humano e o natildeo humano na modernidade Ou seja os dedishycados aos problemas da fronteira ou da condiccedilatildeo do humano que remetem por assim dizer ao dilema do Ciborgue (Haraway 2000)

Os textos comentados a seguir apresentam como tema central o hushymano perpassado por suas proacuteprias teacutecnicas A hipoacutetese trazida aqui como criteacuterio de mapeamento eacute que a dramatiddade com que tal questatildeo se anunshycia soacute pode ser adequadamente apreciada na moldura da modernidade ocishydental Antes de tudo porque fora disso o drama tomar-se-ia banal- o humano sempre foi por definiccedilatildeo alvo de suas proacuteprias teacutecnicas (Leroi-Gourhan 1983 Neves 2006) Mas mesmo que se queira conceder preeminecircncia agraves especifi- cidades de nossa eacutepoca ainda assim a pertinecircncia antropoloacutegica do dilema do

C iecircncia e T eacutecnica 107

Ciborguemdashisto eacute do mal-estar com a teacutecnica modificando o seu autor mdash natildeo estaacute em se tratar de uma questatildeo referente ao advento da modernidade para a humanidade mas agraves redefiniccedilotildees do humano na modernidade Como os estudos antropoloacutegicos abaixo denotam por vias distintas a inquietaccedilatildeo geshyrada pelas biotecnologias no Ocidente moderno deve ser tratada como um fenocircmeno ecircmico cujas chaves de inteligibilidade estatildeo em sua proacutepria cosmologia

Uma das formas em que essa preocupaccedilatildeo se verifica eacute nas aproximashyccedilotildees aos modos de diagnoacutestico derivados do saber biomeacutedico Chazan (2007) trata do ultrassom obsteacutetrico que ao transportar o feto para o acircmbito da visualidade participa da reorganizaccedilatildeo da gestaccedilatildeo e da relaccedilatildeo com o feto As imagens e a forma como o ultrassom obsteacutetrico opera por meio da psicologizaccedilatildeo e da fisicalizaccedilatildeo do feto promovem sua existecircncia ldquosocialrdquo (isto eacute na forma do indiviacuteduo) antes do nascimento - a nomeaccedilatildeo passa a ocorrer quando da determinaccedilatildeo do sexo Entre as consequumlecircncias deste dispositivo estaacute sua utilizaccedilatildeo poliacutetica na controveacutersia sobre o aborto como prova da condiccedilatildeo de pessoa do feto e a constituiccedilatildeo do rito de visualizaccedilatildeo onde haacute algo de diagnoacutestico e algo de espetaacuteculo O exame pressupotildee algum aprendizado visual e gira em torno da fruiccedilatildeo das imashygens ldquodecifradasrdquo na tela

Investindo preferencialmente no desenvolvimento laboratorial de dishyagnoacutesticos Monteiro (2005) debruccedila-se sobre o surgimento de novos forshymatos de exame pautados na geneacutetica e na informaacutetica que buscam detectar biomarcadores de cacircncer de proacutestata O foco eacute na forma como interagem percepccedilotildees de corpo e de humano e no modo como estes aspectos associshyam-se no plano poliacutetico No contexto das academias de ginaacutestica delineei os modos de funcionamento da avaliaccedilatildeo antropomeacutetrica considerando o mashynejo das dimensotildees iacutentimas (psiacutequicas) e internas (fiacutesicas) do indiviacuteduo pela elaboraccedilatildeo socioteacutecnica da gordura (Sautchuk 2007) Jaacute Bonet (2004) trata justamente da constituiccedilatildeo do componente humano necessaacuterio aos disposishytivos de diagnoacutestico e terapecircutica pois enfoca o aprendizado praacutetico de meacutedicos em situaccedilatildeo de residecircncia

Haacute igualmente pesquisadores voltados ao transbordamento de discurshysos e dispositivos gerados no acircmbito da ciecircncia movendo a atenccedilatildeo do conshytexto de sua produccedilatildeo ou funcionamento para aquele da sua difusatildeo Veja-se os estudos sobre a forma como as neurociecircncias instituem novos marcadores de identificaccedilatildeo pessoal e de explicaccedilatildeo de sintomas enfim como estes disposhy

108 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

sitivos biomeacutedicos avanccedilam sobre o cotidiano extra-hospitalar seja contribushyindo agrave afirmaccedilatildeo de um ldquosujeito cerebralrdquo (Azize 20082010) seja possibishylitando o surgimento de um movimento de ldquoneurodiversidaderdquo que associa o individualismo com a noccedilatildeo de uma cultura cerebral (Ortega 2008) Sem mencionar aqui estudos voltados ao consumo de medicamentos assinalo que outra forma de explorar os desdobramentos da biotecnologia eacute enfocando seus usos com o fim de gerar os ditos estados de alteraccedilatildeo Vargas (2006 2008) considera as drogas enquanto objetos socioteacutecnicos que natildeo comporshytam sentido intriacutenseco absoluto ou essencial mas sim relacionai De modo que elas permanecem indeterminadas ateacute que os agenciamentos a constituam enquanto tais afinal elas operam mediando formas particulares de engajamentos com o mundo Para notar enfim que o identificador ldquobiordquo aplica-se tambeacutem a teacutecnicas natildeo ligadas agrave medicina veja-se Ferreira (2008) sobre o transe associado agrave muacutesica eletrocircnica

Dado o escopo aqui fixado mdash a relaccedilatildeo entre o humano e a teacutecnica em face da modernidade - eacute preciso demorar um pouco mais nas novas teacutecnicas reprodutivas pois se instaura entre antropoacutelogos brasileiros um verdadeiro diaacutelogo marcado pela influecircncia consideraacutevel de Strathern (1992) e levando adiante por etnografias e elaboraccedilotildees analiacuteticas realizadas em diferentes direshyccedilotildees (Grossi et al 2003 Ramiacuterez-Gaacutelvez 2009) Nesse contexto Salem (1997) circunscreve alguns pontos de referecircncia dentre eles o emprego sisteshymaacutetico do aparato conceituai de Dumont o que demonstra o intuito de colocar em perspectiva a modernidade por meio de um de seus dilemas fulcrais Para ela ldquoo proacuteprio modo de formular o dilema envolvido na manipulaccedilatildeo de embriotildees evidencia que em uacuteltima instacircncia estaacute-se discutindo a Pessoa o que significa ser pessoa e quais as qualidades que instalam em um ser humano essa condiccedilatildeordquo (idem p 84)

Consequumlecircncia disso a condiccedilatildeo de inteligibilidade de toda a controshyveacutersia o suposto de seus diferentes argumentos eacute o Indiviacuteduo a categoria ocidental de pessoa Grosso modo a controveacutersia estaacute em se o embriatildeo eacute e ateacute quando tecido celular ou pessoa E isso se definiria a partir da localizaccedilatildeo de certas caracteriacutesticas instauradoras do indiviacuteduo que confluem para a ldquoposserdquo de certas qualidades ou marcos Independentemente de que sejam defendidos atributos morais ou bioloacutegicos trata-se sempre de ldquouma realidade inerente ao indiviacuteduordquo um ldquodomiacutenio autocontidordquo lsquologicamente anterior agraves relaccedilotildees soshyciaisrdquo (idem p 84) Daiacute emergem questotildees sobre o estatuto mesmo do emshybriatildeo (intra ou extracorpoacutereo) e de como hierarquizar seus ldquodireitosrdquo em relaccedilatildeo aos da matildee

C iecircncia e T eacutecnica 109

A partir de quadro teoacuterico proacuteximo ao de Salem (1997) mas trabashylhando com dados oriundos de etnografia sobre processos de reproduccedilatildeo assistida Naara Luna (2007a e 2007b) insiste na questatildeo sobre quais atribushytos confeririam ao embriatildeo subjetividade e identidade individual Ela nota entatildeo a transferecircncia dos criteacuterios de individualidade e autonomia do plano moral para o plano bioloacutegico afirmando que ocorre genetizaccedilatildeo ou biologizaccedilatildeo do parentesco o que se expressa de modo mais geral

A anaacutelise das novas tecnologias reprodutivas permite vislumbrar como Natureza e Cultura natildeo satildeo domiacutenios estanques mas que haacute um fluxo contiacutenuo de significados um intercacircmbio em que significados natushyrais satildeo culturalizados e significados culturais satildeo naturalizados A Natureza ora serve de m odelo agrave Cultura ora o entendimento pela Cultura se impotildee agrave Natureza (Luna 2004 p 152)

Exemplo disso eacute o sangue que comporta sentidos geneacuteticos (DNA) e de pertencimento familiar acionando a importacircncia do parentesco e da pesshysoa no acircmbito da heranccedila Ademais emergem do universo bioloacutegico novas figuras de parentesco e portanto de humanidade como ceacutelulas oacutevulos feshytos Igualmente se os limites da concepccedilatildeo do humano e das relaccedilotildees de parentesco satildeo redesenhados com as novas teacutecnicas reprodutivas ressignificam- se tambeacutem a paternidade e a maternidade (idem p 151)

E o que indica Fonseca (2005) sobre o exame de DNA para definiccedilatildeo de paternidade Aleacutem disso ela enfatiza que a verdade bioloacutegica abre um horizonte de novas duacutevidas negociaccedilotildees e dilemas em torno do estabelecishymento ou do rompimento de viacutenculos de parentesco Conclusatildeo proacutexima agrave que Machado (2008) avanccedila sobre a alteraccedilatildeo nas definiccedilotildees da intersexuali- dade quanto mais se aguccedila a detecccedilatildeo de traccedilos de veracidade a respeito da definiccedilatildeo do sexo mais afloram ambiguumlidades entre diferentes niacuteveis (anatocircmicogeneacutetico etc)

A partir de pesquisa sobre a tramitaccedilatildeo da Lei de Biosseguranccedila brasishyleira mdash que permitiu sob certas condiccedilotildees o uso de ceacutelulas tronco de embriotildees inviaacuteveis ou congelados e a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos mdash Cesarino (2006) faz contribuiccedilotildees importantes a este debate Notadamente ela proshymove uma articulaccedilatildeo entre a controveacutersia no campo poliacutetico-moral e o fator econocircmico enfrentando o problema de equacionar mercado e ciecircncia nos dilemas cosmoloacutegicos da modernidade Para compreender os sentidos do debate poliacutetico a respeito da Lei de Biosseguranccedila - articulando fatos cientiacutefishy

110 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

cos e mercadorias Cesarino associa de maneira muito oportuna certos asshypectos da Antropologia simeacutetrica latouriana com a teoria dumontiana espeshycialmente no que se refere agrave relaccedilatildeo entre o individualismo e a autonomia da economia na modernidade Assim se ldquoo indiviacuteduo eacute a forma assumida pelos humanos no ciacuterculo de trocas do livre-mercado a mercadoria seria a forma por excelecircncia de inserccedilatildeo dos natildeo humanos no mercado capitalistardquo (Cesarino 2006 p 204-205) Adiccedilatildeo importante jaacute que o indiviacuteduo natildeo eacute entatildeo o uacutenico suposto no debate sobre a Lei de Biosseguranccedila a mercadoria eacute o sushyposto oposto mdash a condiccedilatildeo das coisas No caso da permissatildeo para o uso de embriotildees ela se vale da noccedilatildeo de englobamento para mostrar como sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade as qualidades do indiviacuteshyduo puderam ser consideradas tatildeo diminuiacutedas no preacute-embriatildeo a ponto de permitir sua desumanizaccedilatildeo relativa e seu uso nas pesquisas na qualidade de parte do mundo natural passiacutevel de manipulaccedilatildeo (Cesarino 2007 p 373)

Identificando traccedilos gerais aos trabalhos comentados aqui ressalto a pershycepccedilatildeo de que as biotecnologias remetem agrave questatildeo da fronteira da humanidashyde mas que devem ser explorados frente aos quadros cosmoloacutegicos da modernidade Associado a isso temos a constataccedilatildeo de que estes permanecem muito bem assentados ainda que mobilizados de modo distinto Tanto em relaccedilatildeo agrave Lei de Biosseguranccedila como nos demais casos referidos a ciecircncia natildeo perde nada do seu vigor assim como a separaccedilatildeo entre cultura e natureza Seria o caso de dizer que se as inovaccedilotildees teacutecnicas causam reordenaccedilotildees importantes elas estatildeo longe de reconfigurar as bases da cosmologia moderna Ao menos no plano formal (poliacutetico legal ou meacutedico) as noccedilotildees fundamentais de Indiviacuteduo Mercado Natureza permanecem operando e organizando (ou estimulando) o funcionamento das novas teacutecnicas O que as etnografias mostram satildeo ajustes ldquopragmaacuteticosrdquo que evidenciam plasticidades significativas mas natildeo uma reordenaccedilatildeo Portanto alguns dos aspectos mais interessantes evidenciados peshylos estudos sobre os dilemas biotecnoloacutegicos satildeo o vigor e a agilidade com que suas categorias se rearranjam (mercado natureza indiviacuteduo) para dar conta dos fenocircmenos de fronteira

CiecircnciaEacute um traccedilo caracteriacutestico da Antropologia feita no Brasil o estudo da

proacutepria configuraccedilatildeo das Ciecircncias Sociais enquanto especialidades dentiacutefi- co-acadecircmicas Como observou Peirano haacute um conjunto de trabalhos nessa

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 6: Ciência e Técnica

C iecircncia e T eacutecnica 101

maccedilatildeo (e a criacutetica) aos museus estudos arqueoloacutegicos escritos sobre a arte indiacuteshygena cursos sobre Antropologia econocircmica aleacutem da participaccedilatildeo decisiva na implantaccedilatildeo da legislaccedilatildeo referente ao patrimocircnio histoacuterico cultural Esse rol de temas explorados por Castro Faria se natildeo estaacute na origem direta de todas as abordagens contemporacircneas agrave cultura material no Brasil pode ser tomado como um quadro indicativo delas conforme apresentadas a seguir

Comecemos por sua influecircncia sobre os estudos de populaccedilotildees de pesshycadores Ela pode ser sentida na abordagem que enfocando as questotildees ambientais e poliacuteticas natildeo descuida da dimensatildeo teacutecnica e econocircmica emshypreendendo descriccedilatildeo e anaacutelise cuidada das diferentes formas de pescaria (Kant e Pereira 1997) Os detalhados resultados de uma pesquisa etnograacutefica ao longo da histoacuteria de uma comunidade pesqueira e as transformaccedilotildees em seu ambiente natural e sociopoliacutetico podem ser vistos na obra Gente das areias (Mello e Vogel 2004) que situa boa parte de seu interesse nas teacutecnicas relacionadas ao ambiente

A preocupaccedilatildeo com o trabalho como apropriaccedilatildeo dos recursos vashylendo-se das teacutecnicas eacute que articula os diferentes planos da anaacutelise e define um papel importante na dinacircmica explicativa destas pesquisas para a dimenshysatildeo econocircmica Nisso pode ser encontrado um traccedilo mais geral dos estudos sobre sociedades de pescadores entre pesquisadores brasileiros (por exemplo em Furtado 1993 Chaves 1973 Mussolini 1980) Esse vieacutes preocupa-se com os modos de apropriaccedilatildeo dos recursos naturais ainda que priorize mais uma leitura socioeconocircmica do que propriamente teacutecnica Assim a ecircnfase recai sobre as formas de socializaccedilatildeo e de relaccedilatildeo com o ambiente enquanto modo de reproduccedilatildeo Mas eacute notaacutevel que se os estudos sobre pesca no Brasil emprestam importantes balizas teoacutericas dos de campesinato (como o trabalho articulando ambiente economia e sociedade) eles invesshytem mais na etnografia das atividades teacutecnicas como forma de compreensatildeo das dimensotildees socioeconocircmicas

Malgrado algumas referecircncias raacutepidas eacute curioso notar que as claacutessicas contribuiccedilotildees de Andreacute Leroi-Gourhan (1983 1984) agrave Antropologia da teacutecnica natildeo ecoam nas correntes de pesquisa sobre cultura material no Brashysil Sem explorar aqui as razotildees disso2 limitemo-nos a apontar sua influecircnshycia em trabalhos recentes Em dissertaccedilatildeo sobre as transformaccedilotildees das habitaccedilotildees

2 Ausecircncia tanto mais notaacutevel quanto Leroi-Gourhan se dedicou longa e profundamente agrave relaccedilatildeo entre teacutecnica e esteacutetica e agrave proacutepria noccedilatildeo de arte que veremos a seguir satildeo fundashymentais nas abordagens da cultura material indiacutegena

102 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

kaiowaacute Mura (2000) explora o ambiente domeacutestico indiacutegena face aos divershysos planos do contato intereacutetnico recorrendo a trecircs horizontes teoacutericos a Antropologia da teacutecnica francesa a Antropologia econocircmica de Godelier e a elaboraccedilatildeo da etnicidade inspirada em Barth Assim sua anaacutelise natildeo adota a distinccedilatildeo entre teacutecnica indiacutegena e teacutecnica ocidental buscando compreender a constituiccedilatildeo da materialidade num ambiente de fluxos de diferentes ordens (mateacuterias-primas mercadorias conhecimentos etc) Inspirado noutra faceta de Leroi-Gourhan abordei a gecircnese associada de humanos e teacutecnicas ou ainshyda a tecnogecircnese do humano (Sautchuk 2007) Considerei as atividades de pesca costeira e lacustre no estuaacuterio do Amazonas a partir da conexatildeo entre habilidades teacutecnicas (Ingold 2000) e construccedilatildeo da pessoa buscando comshypreender os sentidos de humanos e de natildeo humanos (como artefatos e anishymais) a partir dos engajamentos praacuteticos

Por outra anoto que um dos acircmbitos da pesquisa sobre cultura mateshyrial que tem crescido em nuacutemero e importacircncia eacute influenciado pelas poliacuteticas puacuteblicas de identificaccedilatildeo de saberes e teacutecnicas enquanto patrimocircnio cultural imaterial Eacute preciso distinguir ao menos trecircs niacuteveis diferentes de implicaccedilatildeo da Antropologia com esse movimento a atuaccedilatildeo na identificaccedilatildeo de bens cultushyrais a reflexatildeo antropoloacutegica sobre a patrimonializaccedilatildeo (cf Carneiro da Cushynha 2005 Coelho de Souza 2005 Gallois 2007) e os estudos de relevacircncia antropoloacutegica associados a tais poliacuteticas Sobre esse uacuteltimo ponto cito dois exemplos que indicam a diversidade e o valor que podem assumir a elegante etnografia sobre alfaiatarias em Curitiba (Santos et al 2009) e a valiosa pesshyquisa sobre os sistemas agriacutecolas do rio Negro (Emperaire et al 2008 Emperaire 2005) Esta uacuteltima apresenta dois pontos a ressaltar O fato de a pesquisa ser levada adiante por uma equipe capaz de lidar com muacuteltiplas dimensotildees do fenocircmeno agriacutecolamdashcomo soacutei acontecer nesse tipo de projeto mdash aponta provavelmente uma tendecircncia metodoloacutegica Depois por contrishybuir agrave reduccedilatildeo da insondaacutevel lacuna nos estudos sobre cultura material dedicashydos agraves teacutecnicas de cultivo e aos processos de disseminaccedilatildeo agriacutecola ela indica um dos campos potenciais para seu desenvolvimento

Mas eacute nos trabalhos voltados agraves populaccedilotildees indiacutegenas que a anaacutelise da materialidade multiplicou-se constituindo uma tradiccedilatildeo de estudos A coshymeccedilar pela etnoarqueologia que estabelece associaccedilotildees entre o passado de uma populaccedilatildeo e a forma em que estatildeo relacionados atualmente artefatos conhecimentos e ambiente (cf Silva 2009 Silva e Souza 2002 Funari 1998 Ribeiro 1990) Para ilustrar o tom recente deste debate - sobre a relashy

C iecircn cia e T eacutecnica 103

ccedilatildeo entre dados etnograacuteficos e arqueoloacutegicos mdash notemos que Silva (2007 p 102) afirma baseada em etnografia sobre fabricaccedilatildeo e uso de artefatos que as formas de descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo atraveacutes da qual satildeo estabelecidas as periodIacute2accedilotildees arqueoloacutegicas em geral natildeo levam em consideraccedilatildeo os mecanisshymos mais complexos de produccedilatildeo de identidades sociais externas e internas aos grupos Tais aspectos podem ser acessados pelo estudo etnograacutefico da produccedilatildeo e da circulaccedilatildeo de artefatos associado agraves categorias ecircmicas usadas para referir-se a eles Ao dar-se conta das tensotildees entre tecnologia e agecircncia continuidade e mudanccedila a etnografia pode assim auxiliar na melhor compreshyensatildeo de comportamentos e trajetoacuterias de populaccedilotildees Eacute movida por estas preocupaccedilotildees que Silva (2002) escreve um dos raros trabalhos realizados no Brasil em que se traccedila um panorama de propostas teoacutericas sobre a relaccedilatildeo entre teacutecnica e significado no acircmbito da Antropologia

Por outro lado satildeo bem conhecidas as abordagens relacionando exshypressotildees materiais e simboacutelicas das sociedades indiacutegenas com base em mateshyrial etnograacutefico A esse propoacutesito sobressai o nome de Berta Ribeiro que aleacutem de suas proacuteprias pesquisas organizou os trecircs volumes da Suma etnoloacutegica brasileira (Ribeiro 1986) Das vaacuterias facetas de sua obra3 sublinhemos duas a ecircnfase na forma como um aspecto central na descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos artefatos (Ribeiro 1988) e o intuito de ldquoestudar a cultura material como uma iconografia eacutetnicardquo (Ribeiro 1986 p 12 cf tambeacutem 1989) o que conshyfere agrave dimensatildeo esteacutetica a chave de abertura para o sentido simboacutelico da vida material indiacutegena Inclusive eacute sob influecircncia desse princiacutepio que se desenvolve uma linha importante de trabalhos acerca da iconografia indiacutegeshyna em suas muacuteltiplas manifestaccedilotildees (Vidal 1992)

Natildeo se trata de negar que tambeacutem compunha o programa de pesquishysas de Berta Ribeiro (1995) a ldquotecnoeconomiardquo isto eacute a dimensatildeo da mateshyrialidade diretamente voltada agrave relaccedilatildeo com o ambiente e agrave subsistecircncia incluindo processos de fabricaccedilatildeo e uso Mas digamos que estas duas disposhysiccedilotildees mdash a ldquoformardquo como dado privilegiado e a ldquoesteacuteticardquo como dimensatildeo reveladora - satildeo cursos principais de sua reflexatildeo assim como da maneira como antropoacutelogos brasileiros lidam com a cultura material Penso que em alguma medida isto seja um subproduto do fato mais geral de a etnologia no Brasil se constituir em contraposiccedilatildeo agraves interpretaccedilotildees materialistas de dishyferentes ordens enfatizando para tal a organizaccedilatildeo social e o simbolismo

3 A esse respeito ver Velthem (1999) e Botelho (2005)

104 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

O texto de siacutentese de Vidal e Silva (1992) evidencia bem os pressuposshytos e as potencialidades desse enquadramento A ecircnfase na noccedilatildeo de um sisteshyma de objetos como base empiacuterica e na articulaccedilatildeo entre arte e cultura material como horizonte compreensivo eacute fundamental Mas o refinamento etnograacutefico alcanccedilado por esses trabalhos deve-se tambeacutem agrave formaccedilatildeo em artes ou museologia de parte consideraacutevel dos antropoacutelogos responsaacuteveis por elas4 Isto natildeo eacute negligenciaacutevel tanto mais se considerarmos que um dos desdobrashymentos mais instigantes nesse cenaacuterio eacute a reflexatildeo sobre a noccedilatildeo ocidental de arte e o modo como ela incide na compreensatildeo antropoloacutegica (nessa linha cf Costa 1988 e Velthem 2000) A tiacutetulo de exemplo citemos as ideias de criatividade individual autoria e autenticidade que se revelam muito diferenshytes no mundo indiacutegena

Contudo este desdobramento na reflexatildeo sobre a esteacutetica indiacutegena somente pode ser considerado em associaccedilatildeo com outro fator que diz resshypeito agrave etnologia de modo geral A partir da deacutecada de 1980 toma-se expliacutecishyta a percepccedilatildeo de que haacute ldquonecessidade de se tomar o discurso indiacutegena sobre a corporalidade e a pessoa como informador da praacutexis social concretardquo (Seeger et al 1979 p 16) Haacute entatildeo uma conexatildeo produtiva entre a tradiccedilatildeo de pesquisa da materialidade em tela mdash com um olhar atento agrave iconografia inclusive agrave ornamentaccedilatildeo corporal mdash e a aproximaccedilatildeo agraves dinacircmicas de forshymaccedilatildeo da pessoa atraveacutes do idioma da corporalidade Nessa direccedilatildeo recente leva de pesquisas renova os estudos sobre cultura material basicamente operando com as noccedilotildees de alteridade e de agecircncia como Velthem (2003) Lagrou (2007) Barcelos Neto (2008) e Miller (2009)

A trajetoacuteria de Luacutecia van Velthem expressa os principais capiacutetulos da transformaccedilatildeo na abordagem da cultura material na Antropologia brasileishyra Suas primeiras publicaccedilotildees a exemplo da dissertaccedilatildeo sobre a cestaria wayana datildeo prova do rigor descritivo da minuacutecia no tratamento da produshyccedilatildeo e da forma dos artefatos e de seus motivos graacuteficos Jaacute em O belo eacute afera explorando o viacutenculo necessaacuterio entre beleza e predaccedilatildeo Velthem (2003) compreende a esteacutetica Wayana frisando que os objetos e os padrotildees figuratishyvos natildeo constituem obras puramente humanas mas satildeo recebidos ou arreshybatados de outros seres sejam eles animais inimigos sobrenaturais etc De modo que a decoraccedilatildeo eacute uma forma de ldquointegrar o que lhe eacute estranho de

4 Eacute o caso de Berta Ribeiro Heloiacutesa Feacutenelon Costa Lux Vidal Luacutecia van Velthem Aristoacuteteles Barcelos Neto etc

C iecircn cia e T eacutecnica 105

assimilar o outro como condiccedilatildeo da proacutepria identidade individual e coletiva capacidade esta veiculada atraveacutes da arte que se revela para os Wayana enquanshyto possibilidade de afirmaccedilatildeo de humanidaderdquo (idem p 389) Natildeo soacute a relashyccedilatildeo com a alteridade eacute condiccedilatildeo de humanidade mas dado que a ldquofabricaccedilatildeordquo tanto de coisas como de pessoas independente de sua constituiccedilatildeo material eacute concretizada de acordo com uma mesma teacutecnica a grande questatildeo aqui eacute detectar ldquoo que haacute de lsquohumanorsquo nas coisas e o que haacute de lsquocoisarsquo nos humanosrdquo (idem p 63 cf Velthem 2009)5

Em seu estudo sobre o estilo graacutefico kaxinawa Lagrou (2007 cf tamshybeacutem 2002) tambeacutem se afasta dos intentos classificatoacuterios ou formalistas que tendem num segundo momento a desviar a atenccedilatildeo dos objetos para os sistemas de pensamento Ela trata de modo inseparaacutevel forma sentido e accedilatildeo apoiando-se em Gell (1998) para levar adiante uma abordagem de objetos artefatos e arte ldquocomo se fossem pessoasrdquo Isto eacute objetos cujo sentido natildeo estaacute no plano contemplativo semioacutetico ou linguumliacutestico mas adveacutem de certas moshydalidades de agecircncia estaacute em seus efeitos praacuteticos (Lagrou 2007 p 54) A ideia mesmo de poder criativo eacute alvo de exame suscitando a rediscussatildeo tanto dos pressupostos de uma Antropologia da arte quanto da ideia de agecircncia no mundo indiacutegena De modo que ldquopensar sobre arte entre os ameriacutendios equumlishyvale a pensar a noccedilatildeo de pessoa e de corpo Porque objetos pinturas e corpos satildeo assuntos ligados no universo indiacutegena no qual a pintura eacute feita para aderir a corpos e objetos satildeo feitos para completar a accedilatildeo dos corposrdquo (idem p 50)

Esse movimento nas abordagens da cultura material a partir das ideias de fabricaccedilatildeo de corpos e pessoas e da alteridade como dimensatildeo constitutiva reorganiza apropria forma de atribuiccedilatildeo da qualidade de sujeito e de objeto estabelecendo um quadro relacionai e situacional para a compreensatildeo do senshytido dos seres e das coisas E de se prever entatildeo que isto oxigenaria fortemenshyte temas proacuteximos como os associados agrave circulaccedilatildeo dos objetos Refiro-me agrave

5 Dedicando-se mais recentemente ao estudo de populaccedilotildees ribeirinhas no Acre Velthem (2008 p 11) constata que a fertilidade dos estudos sobre certas categorias artesanais dos povos indiacutegenas (cestaria plumaacuteria ceracircmica) contrasta com o tratamento meramente utilitaacuterio dado aos objetos envolvidos nos contextos produtivos de outras populaccedilotildees Levando adiante essa constataccedilatildeo seria o caso de acrescentar que muitas vezes esse desequiliacutebrio se apresenta no proacuteprio acircmbito dos estudos sobre povos indiacutegenas Nesse sentido vale ressaltar que a emergecircncia da noccedilatildeo de predaccedilatildeo que estende seu potencial heuriacutestico a diversos planos da vida indiacutegena natildeo tem gerado entre pesquisadores brasileishyros uma valorizaccedilatildeo das aproximaccedilotildees etnograacuteficas sobre a atividade cinegeacutetica propriashymente dita Aspecto que tem sido enfocado por antropoacutelogos de outras nacionalidades como Descola (1986) Ingold (1988 2000) e Kohn (2002)

106 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

inserccedilatildeo de objetos industrializados no meio indiacutegena (cf Ramos e Albert 2002) e de outro lado ao tracircnsito de objetos indiacutegenas no mundo natildeo indiacuteshygena particularmente nas situaccedilotildees de sua comercializaccedilatildeo e musealizaccedilatildeo Baseado em detalhado estudo sobre maacutescaras rituais xinguanas Barcelos Neto (2006 e 2008) estende-se a respeito dos muacuteltiplos sentidos da musealizaccedilatildeo inclusive na oacutetica indiacutegena tema de interesse crescente (por exemplo em Gordon e Silva 2005) Por fim eacute o caso de constatar que objetos (nos dois sentidos artefatos e temas de estudo) outrora relegados aos capiacutetulos sobre cultura mateshyrial ganham vida no cerne da etnologia contemporacircnea Penso que isso faz parte de um deslocamento mais amplo no modo de compreensatildeo das populashyccedilotildees indiacutegenasmdashde suas concepccedilotildees de humanidade e praacuteticas de socialidade mdash que daacute mostras de passar de modo cada vez mais intenso pelos natildeo humanosmdash artefatos animais espiacuteritos

Teacutecnicas do vivoDos trecircs temas definidos no escopo deste artigo este eacute sem duacutevida o

mais profuso e difuso de modo que sobressairaacute mais aqui o caraacuteter apenas indicativo das referecircncias e comentaacuterios De sorte que inicio lembrando que os termos teacutecnicatecnologiabiotecnologia satildeo recorrentes nos estudos sobre as praacuteticas de sauacutede em geral o mais das vezes conotando o processo messhymo de medicalizaccedilatildeo remetendo agraves dinacircmicas de construccedilatildeo de gecircnero e ou de subjetivaccedilatildeo com marcada influecircncia foucaultiana (a exemplo de Rohden 2004 Leibing 2004 Duarte e Leal 1998) Visto que a amplitude dessa produccedilatildeo escapa ao objetivo deste artigo interessaratildeo apenas aqueles estudos que lidam mais explicitamente com a questatildeo da teacutecnica como meshydiaccedilatildeo entre o humano e o natildeo humano na modernidade Ou seja os dedishycados aos problemas da fronteira ou da condiccedilatildeo do humano que remetem por assim dizer ao dilema do Ciborgue (Haraway 2000)

Os textos comentados a seguir apresentam como tema central o hushymano perpassado por suas proacuteprias teacutecnicas A hipoacutetese trazida aqui como criteacuterio de mapeamento eacute que a dramatiddade com que tal questatildeo se anunshycia soacute pode ser adequadamente apreciada na moldura da modernidade ocishydental Antes de tudo porque fora disso o drama tomar-se-ia banal- o humano sempre foi por definiccedilatildeo alvo de suas proacuteprias teacutecnicas (Leroi-Gourhan 1983 Neves 2006) Mas mesmo que se queira conceder preeminecircncia agraves especifi- cidades de nossa eacutepoca ainda assim a pertinecircncia antropoloacutegica do dilema do

C iecircncia e T eacutecnica 107

Ciborguemdashisto eacute do mal-estar com a teacutecnica modificando o seu autor mdash natildeo estaacute em se tratar de uma questatildeo referente ao advento da modernidade para a humanidade mas agraves redefiniccedilotildees do humano na modernidade Como os estudos antropoloacutegicos abaixo denotam por vias distintas a inquietaccedilatildeo geshyrada pelas biotecnologias no Ocidente moderno deve ser tratada como um fenocircmeno ecircmico cujas chaves de inteligibilidade estatildeo em sua proacutepria cosmologia

Uma das formas em que essa preocupaccedilatildeo se verifica eacute nas aproximashyccedilotildees aos modos de diagnoacutestico derivados do saber biomeacutedico Chazan (2007) trata do ultrassom obsteacutetrico que ao transportar o feto para o acircmbito da visualidade participa da reorganizaccedilatildeo da gestaccedilatildeo e da relaccedilatildeo com o feto As imagens e a forma como o ultrassom obsteacutetrico opera por meio da psicologizaccedilatildeo e da fisicalizaccedilatildeo do feto promovem sua existecircncia ldquosocialrdquo (isto eacute na forma do indiviacuteduo) antes do nascimento - a nomeaccedilatildeo passa a ocorrer quando da determinaccedilatildeo do sexo Entre as consequumlecircncias deste dispositivo estaacute sua utilizaccedilatildeo poliacutetica na controveacutersia sobre o aborto como prova da condiccedilatildeo de pessoa do feto e a constituiccedilatildeo do rito de visualizaccedilatildeo onde haacute algo de diagnoacutestico e algo de espetaacuteculo O exame pressupotildee algum aprendizado visual e gira em torno da fruiccedilatildeo das imashygens ldquodecifradasrdquo na tela

Investindo preferencialmente no desenvolvimento laboratorial de dishyagnoacutesticos Monteiro (2005) debruccedila-se sobre o surgimento de novos forshymatos de exame pautados na geneacutetica e na informaacutetica que buscam detectar biomarcadores de cacircncer de proacutestata O foco eacute na forma como interagem percepccedilotildees de corpo e de humano e no modo como estes aspectos associshyam-se no plano poliacutetico No contexto das academias de ginaacutestica delineei os modos de funcionamento da avaliaccedilatildeo antropomeacutetrica considerando o mashynejo das dimensotildees iacutentimas (psiacutequicas) e internas (fiacutesicas) do indiviacuteduo pela elaboraccedilatildeo socioteacutecnica da gordura (Sautchuk 2007) Jaacute Bonet (2004) trata justamente da constituiccedilatildeo do componente humano necessaacuterio aos disposishytivos de diagnoacutestico e terapecircutica pois enfoca o aprendizado praacutetico de meacutedicos em situaccedilatildeo de residecircncia

Haacute igualmente pesquisadores voltados ao transbordamento de discurshysos e dispositivos gerados no acircmbito da ciecircncia movendo a atenccedilatildeo do conshytexto de sua produccedilatildeo ou funcionamento para aquele da sua difusatildeo Veja-se os estudos sobre a forma como as neurociecircncias instituem novos marcadores de identificaccedilatildeo pessoal e de explicaccedilatildeo de sintomas enfim como estes disposhy

108 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

sitivos biomeacutedicos avanccedilam sobre o cotidiano extra-hospitalar seja contribushyindo agrave afirmaccedilatildeo de um ldquosujeito cerebralrdquo (Azize 20082010) seja possibishylitando o surgimento de um movimento de ldquoneurodiversidaderdquo que associa o individualismo com a noccedilatildeo de uma cultura cerebral (Ortega 2008) Sem mencionar aqui estudos voltados ao consumo de medicamentos assinalo que outra forma de explorar os desdobramentos da biotecnologia eacute enfocando seus usos com o fim de gerar os ditos estados de alteraccedilatildeo Vargas (2006 2008) considera as drogas enquanto objetos socioteacutecnicos que natildeo comporshytam sentido intriacutenseco absoluto ou essencial mas sim relacionai De modo que elas permanecem indeterminadas ateacute que os agenciamentos a constituam enquanto tais afinal elas operam mediando formas particulares de engajamentos com o mundo Para notar enfim que o identificador ldquobiordquo aplica-se tambeacutem a teacutecnicas natildeo ligadas agrave medicina veja-se Ferreira (2008) sobre o transe associado agrave muacutesica eletrocircnica

Dado o escopo aqui fixado mdash a relaccedilatildeo entre o humano e a teacutecnica em face da modernidade - eacute preciso demorar um pouco mais nas novas teacutecnicas reprodutivas pois se instaura entre antropoacutelogos brasileiros um verdadeiro diaacutelogo marcado pela influecircncia consideraacutevel de Strathern (1992) e levando adiante por etnografias e elaboraccedilotildees analiacuteticas realizadas em diferentes direshyccedilotildees (Grossi et al 2003 Ramiacuterez-Gaacutelvez 2009) Nesse contexto Salem (1997) circunscreve alguns pontos de referecircncia dentre eles o emprego sisteshymaacutetico do aparato conceituai de Dumont o que demonstra o intuito de colocar em perspectiva a modernidade por meio de um de seus dilemas fulcrais Para ela ldquoo proacuteprio modo de formular o dilema envolvido na manipulaccedilatildeo de embriotildees evidencia que em uacuteltima instacircncia estaacute-se discutindo a Pessoa o que significa ser pessoa e quais as qualidades que instalam em um ser humano essa condiccedilatildeordquo (idem p 84)

Consequumlecircncia disso a condiccedilatildeo de inteligibilidade de toda a controshyveacutersia o suposto de seus diferentes argumentos eacute o Indiviacuteduo a categoria ocidental de pessoa Grosso modo a controveacutersia estaacute em se o embriatildeo eacute e ateacute quando tecido celular ou pessoa E isso se definiria a partir da localizaccedilatildeo de certas caracteriacutesticas instauradoras do indiviacuteduo que confluem para a ldquoposserdquo de certas qualidades ou marcos Independentemente de que sejam defendidos atributos morais ou bioloacutegicos trata-se sempre de ldquouma realidade inerente ao indiviacuteduordquo um ldquodomiacutenio autocontidordquo lsquologicamente anterior agraves relaccedilotildees soshyciaisrdquo (idem p 84) Daiacute emergem questotildees sobre o estatuto mesmo do emshybriatildeo (intra ou extracorpoacutereo) e de como hierarquizar seus ldquodireitosrdquo em relaccedilatildeo aos da matildee

C iecircncia e T eacutecnica 109

A partir de quadro teoacuterico proacuteximo ao de Salem (1997) mas trabashylhando com dados oriundos de etnografia sobre processos de reproduccedilatildeo assistida Naara Luna (2007a e 2007b) insiste na questatildeo sobre quais atribushytos confeririam ao embriatildeo subjetividade e identidade individual Ela nota entatildeo a transferecircncia dos criteacuterios de individualidade e autonomia do plano moral para o plano bioloacutegico afirmando que ocorre genetizaccedilatildeo ou biologizaccedilatildeo do parentesco o que se expressa de modo mais geral

A anaacutelise das novas tecnologias reprodutivas permite vislumbrar como Natureza e Cultura natildeo satildeo domiacutenios estanques mas que haacute um fluxo contiacutenuo de significados um intercacircmbio em que significados natushyrais satildeo culturalizados e significados culturais satildeo naturalizados A Natureza ora serve de m odelo agrave Cultura ora o entendimento pela Cultura se impotildee agrave Natureza (Luna 2004 p 152)

Exemplo disso eacute o sangue que comporta sentidos geneacuteticos (DNA) e de pertencimento familiar acionando a importacircncia do parentesco e da pesshysoa no acircmbito da heranccedila Ademais emergem do universo bioloacutegico novas figuras de parentesco e portanto de humanidade como ceacutelulas oacutevulos feshytos Igualmente se os limites da concepccedilatildeo do humano e das relaccedilotildees de parentesco satildeo redesenhados com as novas teacutecnicas reprodutivas ressignificam- se tambeacutem a paternidade e a maternidade (idem p 151)

E o que indica Fonseca (2005) sobre o exame de DNA para definiccedilatildeo de paternidade Aleacutem disso ela enfatiza que a verdade bioloacutegica abre um horizonte de novas duacutevidas negociaccedilotildees e dilemas em torno do estabelecishymento ou do rompimento de viacutenculos de parentesco Conclusatildeo proacutexima agrave que Machado (2008) avanccedila sobre a alteraccedilatildeo nas definiccedilotildees da intersexuali- dade quanto mais se aguccedila a detecccedilatildeo de traccedilos de veracidade a respeito da definiccedilatildeo do sexo mais afloram ambiguumlidades entre diferentes niacuteveis (anatocircmicogeneacutetico etc)

A partir de pesquisa sobre a tramitaccedilatildeo da Lei de Biosseguranccedila brasishyleira mdash que permitiu sob certas condiccedilotildees o uso de ceacutelulas tronco de embriotildees inviaacuteveis ou congelados e a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos mdash Cesarino (2006) faz contribuiccedilotildees importantes a este debate Notadamente ela proshymove uma articulaccedilatildeo entre a controveacutersia no campo poliacutetico-moral e o fator econocircmico enfrentando o problema de equacionar mercado e ciecircncia nos dilemas cosmoloacutegicos da modernidade Para compreender os sentidos do debate poliacutetico a respeito da Lei de Biosseguranccedila - articulando fatos cientiacutefishy

110 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

cos e mercadorias Cesarino associa de maneira muito oportuna certos asshypectos da Antropologia simeacutetrica latouriana com a teoria dumontiana espeshycialmente no que se refere agrave relaccedilatildeo entre o individualismo e a autonomia da economia na modernidade Assim se ldquoo indiviacuteduo eacute a forma assumida pelos humanos no ciacuterculo de trocas do livre-mercado a mercadoria seria a forma por excelecircncia de inserccedilatildeo dos natildeo humanos no mercado capitalistardquo (Cesarino 2006 p 204-205) Adiccedilatildeo importante jaacute que o indiviacuteduo natildeo eacute entatildeo o uacutenico suposto no debate sobre a Lei de Biosseguranccedila a mercadoria eacute o sushyposto oposto mdash a condiccedilatildeo das coisas No caso da permissatildeo para o uso de embriotildees ela se vale da noccedilatildeo de englobamento para mostrar como sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade as qualidades do indiviacuteshyduo puderam ser consideradas tatildeo diminuiacutedas no preacute-embriatildeo a ponto de permitir sua desumanizaccedilatildeo relativa e seu uso nas pesquisas na qualidade de parte do mundo natural passiacutevel de manipulaccedilatildeo (Cesarino 2007 p 373)

Identificando traccedilos gerais aos trabalhos comentados aqui ressalto a pershycepccedilatildeo de que as biotecnologias remetem agrave questatildeo da fronteira da humanidashyde mas que devem ser explorados frente aos quadros cosmoloacutegicos da modernidade Associado a isso temos a constataccedilatildeo de que estes permanecem muito bem assentados ainda que mobilizados de modo distinto Tanto em relaccedilatildeo agrave Lei de Biosseguranccedila como nos demais casos referidos a ciecircncia natildeo perde nada do seu vigor assim como a separaccedilatildeo entre cultura e natureza Seria o caso de dizer que se as inovaccedilotildees teacutecnicas causam reordenaccedilotildees importantes elas estatildeo longe de reconfigurar as bases da cosmologia moderna Ao menos no plano formal (poliacutetico legal ou meacutedico) as noccedilotildees fundamentais de Indiviacuteduo Mercado Natureza permanecem operando e organizando (ou estimulando) o funcionamento das novas teacutecnicas O que as etnografias mostram satildeo ajustes ldquopragmaacuteticosrdquo que evidenciam plasticidades significativas mas natildeo uma reordenaccedilatildeo Portanto alguns dos aspectos mais interessantes evidenciados peshylos estudos sobre os dilemas biotecnoloacutegicos satildeo o vigor e a agilidade com que suas categorias se rearranjam (mercado natureza indiviacuteduo) para dar conta dos fenocircmenos de fronteira

CiecircnciaEacute um traccedilo caracteriacutestico da Antropologia feita no Brasil o estudo da

proacutepria configuraccedilatildeo das Ciecircncias Sociais enquanto especialidades dentiacutefi- co-acadecircmicas Como observou Peirano haacute um conjunto de trabalhos nessa

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 7: Ciência e Técnica

102 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

kaiowaacute Mura (2000) explora o ambiente domeacutestico indiacutegena face aos divershysos planos do contato intereacutetnico recorrendo a trecircs horizontes teoacutericos a Antropologia da teacutecnica francesa a Antropologia econocircmica de Godelier e a elaboraccedilatildeo da etnicidade inspirada em Barth Assim sua anaacutelise natildeo adota a distinccedilatildeo entre teacutecnica indiacutegena e teacutecnica ocidental buscando compreender a constituiccedilatildeo da materialidade num ambiente de fluxos de diferentes ordens (mateacuterias-primas mercadorias conhecimentos etc) Inspirado noutra faceta de Leroi-Gourhan abordei a gecircnese associada de humanos e teacutecnicas ou ainshyda a tecnogecircnese do humano (Sautchuk 2007) Considerei as atividades de pesca costeira e lacustre no estuaacuterio do Amazonas a partir da conexatildeo entre habilidades teacutecnicas (Ingold 2000) e construccedilatildeo da pessoa buscando comshypreender os sentidos de humanos e de natildeo humanos (como artefatos e anishymais) a partir dos engajamentos praacuteticos

Por outra anoto que um dos acircmbitos da pesquisa sobre cultura mateshyrial que tem crescido em nuacutemero e importacircncia eacute influenciado pelas poliacuteticas puacuteblicas de identificaccedilatildeo de saberes e teacutecnicas enquanto patrimocircnio cultural imaterial Eacute preciso distinguir ao menos trecircs niacuteveis diferentes de implicaccedilatildeo da Antropologia com esse movimento a atuaccedilatildeo na identificaccedilatildeo de bens cultushyrais a reflexatildeo antropoloacutegica sobre a patrimonializaccedilatildeo (cf Carneiro da Cushynha 2005 Coelho de Souza 2005 Gallois 2007) e os estudos de relevacircncia antropoloacutegica associados a tais poliacuteticas Sobre esse uacuteltimo ponto cito dois exemplos que indicam a diversidade e o valor que podem assumir a elegante etnografia sobre alfaiatarias em Curitiba (Santos et al 2009) e a valiosa pesshyquisa sobre os sistemas agriacutecolas do rio Negro (Emperaire et al 2008 Emperaire 2005) Esta uacuteltima apresenta dois pontos a ressaltar O fato de a pesquisa ser levada adiante por uma equipe capaz de lidar com muacuteltiplas dimensotildees do fenocircmeno agriacutecolamdashcomo soacutei acontecer nesse tipo de projeto mdash aponta provavelmente uma tendecircncia metodoloacutegica Depois por contrishybuir agrave reduccedilatildeo da insondaacutevel lacuna nos estudos sobre cultura material dedicashydos agraves teacutecnicas de cultivo e aos processos de disseminaccedilatildeo agriacutecola ela indica um dos campos potenciais para seu desenvolvimento

Mas eacute nos trabalhos voltados agraves populaccedilotildees indiacutegenas que a anaacutelise da materialidade multiplicou-se constituindo uma tradiccedilatildeo de estudos A coshymeccedilar pela etnoarqueologia que estabelece associaccedilotildees entre o passado de uma populaccedilatildeo e a forma em que estatildeo relacionados atualmente artefatos conhecimentos e ambiente (cf Silva 2009 Silva e Souza 2002 Funari 1998 Ribeiro 1990) Para ilustrar o tom recente deste debate - sobre a relashy

C iecircn cia e T eacutecnica 103

ccedilatildeo entre dados etnograacuteficos e arqueoloacutegicos mdash notemos que Silva (2007 p 102) afirma baseada em etnografia sobre fabricaccedilatildeo e uso de artefatos que as formas de descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo atraveacutes da qual satildeo estabelecidas as periodIacute2accedilotildees arqueoloacutegicas em geral natildeo levam em consideraccedilatildeo os mecanisshymos mais complexos de produccedilatildeo de identidades sociais externas e internas aos grupos Tais aspectos podem ser acessados pelo estudo etnograacutefico da produccedilatildeo e da circulaccedilatildeo de artefatos associado agraves categorias ecircmicas usadas para referir-se a eles Ao dar-se conta das tensotildees entre tecnologia e agecircncia continuidade e mudanccedila a etnografia pode assim auxiliar na melhor compreshyensatildeo de comportamentos e trajetoacuterias de populaccedilotildees Eacute movida por estas preocupaccedilotildees que Silva (2002) escreve um dos raros trabalhos realizados no Brasil em que se traccedila um panorama de propostas teoacutericas sobre a relaccedilatildeo entre teacutecnica e significado no acircmbito da Antropologia

Por outro lado satildeo bem conhecidas as abordagens relacionando exshypressotildees materiais e simboacutelicas das sociedades indiacutegenas com base em mateshyrial etnograacutefico A esse propoacutesito sobressai o nome de Berta Ribeiro que aleacutem de suas proacuteprias pesquisas organizou os trecircs volumes da Suma etnoloacutegica brasileira (Ribeiro 1986) Das vaacuterias facetas de sua obra3 sublinhemos duas a ecircnfase na forma como um aspecto central na descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos artefatos (Ribeiro 1988) e o intuito de ldquoestudar a cultura material como uma iconografia eacutetnicardquo (Ribeiro 1986 p 12 cf tambeacutem 1989) o que conshyfere agrave dimensatildeo esteacutetica a chave de abertura para o sentido simboacutelico da vida material indiacutegena Inclusive eacute sob influecircncia desse princiacutepio que se desenvolve uma linha importante de trabalhos acerca da iconografia indiacutegeshyna em suas muacuteltiplas manifestaccedilotildees (Vidal 1992)

Natildeo se trata de negar que tambeacutem compunha o programa de pesquishysas de Berta Ribeiro (1995) a ldquotecnoeconomiardquo isto eacute a dimensatildeo da mateshyrialidade diretamente voltada agrave relaccedilatildeo com o ambiente e agrave subsistecircncia incluindo processos de fabricaccedilatildeo e uso Mas digamos que estas duas disposhysiccedilotildees mdash a ldquoformardquo como dado privilegiado e a ldquoesteacuteticardquo como dimensatildeo reveladora - satildeo cursos principais de sua reflexatildeo assim como da maneira como antropoacutelogos brasileiros lidam com a cultura material Penso que em alguma medida isto seja um subproduto do fato mais geral de a etnologia no Brasil se constituir em contraposiccedilatildeo agraves interpretaccedilotildees materialistas de dishyferentes ordens enfatizando para tal a organizaccedilatildeo social e o simbolismo

3 A esse respeito ver Velthem (1999) e Botelho (2005)

104 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

O texto de siacutentese de Vidal e Silva (1992) evidencia bem os pressuposshytos e as potencialidades desse enquadramento A ecircnfase na noccedilatildeo de um sisteshyma de objetos como base empiacuterica e na articulaccedilatildeo entre arte e cultura material como horizonte compreensivo eacute fundamental Mas o refinamento etnograacutefico alcanccedilado por esses trabalhos deve-se tambeacutem agrave formaccedilatildeo em artes ou museologia de parte consideraacutevel dos antropoacutelogos responsaacuteveis por elas4 Isto natildeo eacute negligenciaacutevel tanto mais se considerarmos que um dos desdobrashymentos mais instigantes nesse cenaacuterio eacute a reflexatildeo sobre a noccedilatildeo ocidental de arte e o modo como ela incide na compreensatildeo antropoloacutegica (nessa linha cf Costa 1988 e Velthem 2000) A tiacutetulo de exemplo citemos as ideias de criatividade individual autoria e autenticidade que se revelam muito diferenshytes no mundo indiacutegena

Contudo este desdobramento na reflexatildeo sobre a esteacutetica indiacutegena somente pode ser considerado em associaccedilatildeo com outro fator que diz resshypeito agrave etnologia de modo geral A partir da deacutecada de 1980 toma-se expliacutecishyta a percepccedilatildeo de que haacute ldquonecessidade de se tomar o discurso indiacutegena sobre a corporalidade e a pessoa como informador da praacutexis social concretardquo (Seeger et al 1979 p 16) Haacute entatildeo uma conexatildeo produtiva entre a tradiccedilatildeo de pesquisa da materialidade em tela mdash com um olhar atento agrave iconografia inclusive agrave ornamentaccedilatildeo corporal mdash e a aproximaccedilatildeo agraves dinacircmicas de forshymaccedilatildeo da pessoa atraveacutes do idioma da corporalidade Nessa direccedilatildeo recente leva de pesquisas renova os estudos sobre cultura material basicamente operando com as noccedilotildees de alteridade e de agecircncia como Velthem (2003) Lagrou (2007) Barcelos Neto (2008) e Miller (2009)

A trajetoacuteria de Luacutecia van Velthem expressa os principais capiacutetulos da transformaccedilatildeo na abordagem da cultura material na Antropologia brasileishyra Suas primeiras publicaccedilotildees a exemplo da dissertaccedilatildeo sobre a cestaria wayana datildeo prova do rigor descritivo da minuacutecia no tratamento da produshyccedilatildeo e da forma dos artefatos e de seus motivos graacuteficos Jaacute em O belo eacute afera explorando o viacutenculo necessaacuterio entre beleza e predaccedilatildeo Velthem (2003) compreende a esteacutetica Wayana frisando que os objetos e os padrotildees figuratishyvos natildeo constituem obras puramente humanas mas satildeo recebidos ou arreshybatados de outros seres sejam eles animais inimigos sobrenaturais etc De modo que a decoraccedilatildeo eacute uma forma de ldquointegrar o que lhe eacute estranho de

4 Eacute o caso de Berta Ribeiro Heloiacutesa Feacutenelon Costa Lux Vidal Luacutecia van Velthem Aristoacuteteles Barcelos Neto etc

C iecircn cia e T eacutecnica 105

assimilar o outro como condiccedilatildeo da proacutepria identidade individual e coletiva capacidade esta veiculada atraveacutes da arte que se revela para os Wayana enquanshyto possibilidade de afirmaccedilatildeo de humanidaderdquo (idem p 389) Natildeo soacute a relashyccedilatildeo com a alteridade eacute condiccedilatildeo de humanidade mas dado que a ldquofabricaccedilatildeordquo tanto de coisas como de pessoas independente de sua constituiccedilatildeo material eacute concretizada de acordo com uma mesma teacutecnica a grande questatildeo aqui eacute detectar ldquoo que haacute de lsquohumanorsquo nas coisas e o que haacute de lsquocoisarsquo nos humanosrdquo (idem p 63 cf Velthem 2009)5

Em seu estudo sobre o estilo graacutefico kaxinawa Lagrou (2007 cf tamshybeacutem 2002) tambeacutem se afasta dos intentos classificatoacuterios ou formalistas que tendem num segundo momento a desviar a atenccedilatildeo dos objetos para os sistemas de pensamento Ela trata de modo inseparaacutevel forma sentido e accedilatildeo apoiando-se em Gell (1998) para levar adiante uma abordagem de objetos artefatos e arte ldquocomo se fossem pessoasrdquo Isto eacute objetos cujo sentido natildeo estaacute no plano contemplativo semioacutetico ou linguumliacutestico mas adveacutem de certas moshydalidades de agecircncia estaacute em seus efeitos praacuteticos (Lagrou 2007 p 54) A ideia mesmo de poder criativo eacute alvo de exame suscitando a rediscussatildeo tanto dos pressupostos de uma Antropologia da arte quanto da ideia de agecircncia no mundo indiacutegena De modo que ldquopensar sobre arte entre os ameriacutendios equumlishyvale a pensar a noccedilatildeo de pessoa e de corpo Porque objetos pinturas e corpos satildeo assuntos ligados no universo indiacutegena no qual a pintura eacute feita para aderir a corpos e objetos satildeo feitos para completar a accedilatildeo dos corposrdquo (idem p 50)

Esse movimento nas abordagens da cultura material a partir das ideias de fabricaccedilatildeo de corpos e pessoas e da alteridade como dimensatildeo constitutiva reorganiza apropria forma de atribuiccedilatildeo da qualidade de sujeito e de objeto estabelecendo um quadro relacionai e situacional para a compreensatildeo do senshytido dos seres e das coisas E de se prever entatildeo que isto oxigenaria fortemenshyte temas proacuteximos como os associados agrave circulaccedilatildeo dos objetos Refiro-me agrave

5 Dedicando-se mais recentemente ao estudo de populaccedilotildees ribeirinhas no Acre Velthem (2008 p 11) constata que a fertilidade dos estudos sobre certas categorias artesanais dos povos indiacutegenas (cestaria plumaacuteria ceracircmica) contrasta com o tratamento meramente utilitaacuterio dado aos objetos envolvidos nos contextos produtivos de outras populaccedilotildees Levando adiante essa constataccedilatildeo seria o caso de acrescentar que muitas vezes esse desequiliacutebrio se apresenta no proacuteprio acircmbito dos estudos sobre povos indiacutegenas Nesse sentido vale ressaltar que a emergecircncia da noccedilatildeo de predaccedilatildeo que estende seu potencial heuriacutestico a diversos planos da vida indiacutegena natildeo tem gerado entre pesquisadores brasileishyros uma valorizaccedilatildeo das aproximaccedilotildees etnograacuteficas sobre a atividade cinegeacutetica propriashymente dita Aspecto que tem sido enfocado por antropoacutelogos de outras nacionalidades como Descola (1986) Ingold (1988 2000) e Kohn (2002)

106 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

inserccedilatildeo de objetos industrializados no meio indiacutegena (cf Ramos e Albert 2002) e de outro lado ao tracircnsito de objetos indiacutegenas no mundo natildeo indiacuteshygena particularmente nas situaccedilotildees de sua comercializaccedilatildeo e musealizaccedilatildeo Baseado em detalhado estudo sobre maacutescaras rituais xinguanas Barcelos Neto (2006 e 2008) estende-se a respeito dos muacuteltiplos sentidos da musealizaccedilatildeo inclusive na oacutetica indiacutegena tema de interesse crescente (por exemplo em Gordon e Silva 2005) Por fim eacute o caso de constatar que objetos (nos dois sentidos artefatos e temas de estudo) outrora relegados aos capiacutetulos sobre cultura mateshyrial ganham vida no cerne da etnologia contemporacircnea Penso que isso faz parte de um deslocamento mais amplo no modo de compreensatildeo das populashyccedilotildees indiacutegenasmdashde suas concepccedilotildees de humanidade e praacuteticas de socialidade mdash que daacute mostras de passar de modo cada vez mais intenso pelos natildeo humanosmdash artefatos animais espiacuteritos

Teacutecnicas do vivoDos trecircs temas definidos no escopo deste artigo este eacute sem duacutevida o

mais profuso e difuso de modo que sobressairaacute mais aqui o caraacuteter apenas indicativo das referecircncias e comentaacuterios De sorte que inicio lembrando que os termos teacutecnicatecnologiabiotecnologia satildeo recorrentes nos estudos sobre as praacuteticas de sauacutede em geral o mais das vezes conotando o processo messhymo de medicalizaccedilatildeo remetendo agraves dinacircmicas de construccedilatildeo de gecircnero e ou de subjetivaccedilatildeo com marcada influecircncia foucaultiana (a exemplo de Rohden 2004 Leibing 2004 Duarte e Leal 1998) Visto que a amplitude dessa produccedilatildeo escapa ao objetivo deste artigo interessaratildeo apenas aqueles estudos que lidam mais explicitamente com a questatildeo da teacutecnica como meshydiaccedilatildeo entre o humano e o natildeo humano na modernidade Ou seja os dedishycados aos problemas da fronteira ou da condiccedilatildeo do humano que remetem por assim dizer ao dilema do Ciborgue (Haraway 2000)

Os textos comentados a seguir apresentam como tema central o hushymano perpassado por suas proacuteprias teacutecnicas A hipoacutetese trazida aqui como criteacuterio de mapeamento eacute que a dramatiddade com que tal questatildeo se anunshycia soacute pode ser adequadamente apreciada na moldura da modernidade ocishydental Antes de tudo porque fora disso o drama tomar-se-ia banal- o humano sempre foi por definiccedilatildeo alvo de suas proacuteprias teacutecnicas (Leroi-Gourhan 1983 Neves 2006) Mas mesmo que se queira conceder preeminecircncia agraves especifi- cidades de nossa eacutepoca ainda assim a pertinecircncia antropoloacutegica do dilema do

C iecircncia e T eacutecnica 107

Ciborguemdashisto eacute do mal-estar com a teacutecnica modificando o seu autor mdash natildeo estaacute em se tratar de uma questatildeo referente ao advento da modernidade para a humanidade mas agraves redefiniccedilotildees do humano na modernidade Como os estudos antropoloacutegicos abaixo denotam por vias distintas a inquietaccedilatildeo geshyrada pelas biotecnologias no Ocidente moderno deve ser tratada como um fenocircmeno ecircmico cujas chaves de inteligibilidade estatildeo em sua proacutepria cosmologia

Uma das formas em que essa preocupaccedilatildeo se verifica eacute nas aproximashyccedilotildees aos modos de diagnoacutestico derivados do saber biomeacutedico Chazan (2007) trata do ultrassom obsteacutetrico que ao transportar o feto para o acircmbito da visualidade participa da reorganizaccedilatildeo da gestaccedilatildeo e da relaccedilatildeo com o feto As imagens e a forma como o ultrassom obsteacutetrico opera por meio da psicologizaccedilatildeo e da fisicalizaccedilatildeo do feto promovem sua existecircncia ldquosocialrdquo (isto eacute na forma do indiviacuteduo) antes do nascimento - a nomeaccedilatildeo passa a ocorrer quando da determinaccedilatildeo do sexo Entre as consequumlecircncias deste dispositivo estaacute sua utilizaccedilatildeo poliacutetica na controveacutersia sobre o aborto como prova da condiccedilatildeo de pessoa do feto e a constituiccedilatildeo do rito de visualizaccedilatildeo onde haacute algo de diagnoacutestico e algo de espetaacuteculo O exame pressupotildee algum aprendizado visual e gira em torno da fruiccedilatildeo das imashygens ldquodecifradasrdquo na tela

Investindo preferencialmente no desenvolvimento laboratorial de dishyagnoacutesticos Monteiro (2005) debruccedila-se sobre o surgimento de novos forshymatos de exame pautados na geneacutetica e na informaacutetica que buscam detectar biomarcadores de cacircncer de proacutestata O foco eacute na forma como interagem percepccedilotildees de corpo e de humano e no modo como estes aspectos associshyam-se no plano poliacutetico No contexto das academias de ginaacutestica delineei os modos de funcionamento da avaliaccedilatildeo antropomeacutetrica considerando o mashynejo das dimensotildees iacutentimas (psiacutequicas) e internas (fiacutesicas) do indiviacuteduo pela elaboraccedilatildeo socioteacutecnica da gordura (Sautchuk 2007) Jaacute Bonet (2004) trata justamente da constituiccedilatildeo do componente humano necessaacuterio aos disposishytivos de diagnoacutestico e terapecircutica pois enfoca o aprendizado praacutetico de meacutedicos em situaccedilatildeo de residecircncia

Haacute igualmente pesquisadores voltados ao transbordamento de discurshysos e dispositivos gerados no acircmbito da ciecircncia movendo a atenccedilatildeo do conshytexto de sua produccedilatildeo ou funcionamento para aquele da sua difusatildeo Veja-se os estudos sobre a forma como as neurociecircncias instituem novos marcadores de identificaccedilatildeo pessoal e de explicaccedilatildeo de sintomas enfim como estes disposhy

108 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

sitivos biomeacutedicos avanccedilam sobre o cotidiano extra-hospitalar seja contribushyindo agrave afirmaccedilatildeo de um ldquosujeito cerebralrdquo (Azize 20082010) seja possibishylitando o surgimento de um movimento de ldquoneurodiversidaderdquo que associa o individualismo com a noccedilatildeo de uma cultura cerebral (Ortega 2008) Sem mencionar aqui estudos voltados ao consumo de medicamentos assinalo que outra forma de explorar os desdobramentos da biotecnologia eacute enfocando seus usos com o fim de gerar os ditos estados de alteraccedilatildeo Vargas (2006 2008) considera as drogas enquanto objetos socioteacutecnicos que natildeo comporshytam sentido intriacutenseco absoluto ou essencial mas sim relacionai De modo que elas permanecem indeterminadas ateacute que os agenciamentos a constituam enquanto tais afinal elas operam mediando formas particulares de engajamentos com o mundo Para notar enfim que o identificador ldquobiordquo aplica-se tambeacutem a teacutecnicas natildeo ligadas agrave medicina veja-se Ferreira (2008) sobre o transe associado agrave muacutesica eletrocircnica

Dado o escopo aqui fixado mdash a relaccedilatildeo entre o humano e a teacutecnica em face da modernidade - eacute preciso demorar um pouco mais nas novas teacutecnicas reprodutivas pois se instaura entre antropoacutelogos brasileiros um verdadeiro diaacutelogo marcado pela influecircncia consideraacutevel de Strathern (1992) e levando adiante por etnografias e elaboraccedilotildees analiacuteticas realizadas em diferentes direshyccedilotildees (Grossi et al 2003 Ramiacuterez-Gaacutelvez 2009) Nesse contexto Salem (1997) circunscreve alguns pontos de referecircncia dentre eles o emprego sisteshymaacutetico do aparato conceituai de Dumont o que demonstra o intuito de colocar em perspectiva a modernidade por meio de um de seus dilemas fulcrais Para ela ldquoo proacuteprio modo de formular o dilema envolvido na manipulaccedilatildeo de embriotildees evidencia que em uacuteltima instacircncia estaacute-se discutindo a Pessoa o que significa ser pessoa e quais as qualidades que instalam em um ser humano essa condiccedilatildeordquo (idem p 84)

Consequumlecircncia disso a condiccedilatildeo de inteligibilidade de toda a controshyveacutersia o suposto de seus diferentes argumentos eacute o Indiviacuteduo a categoria ocidental de pessoa Grosso modo a controveacutersia estaacute em se o embriatildeo eacute e ateacute quando tecido celular ou pessoa E isso se definiria a partir da localizaccedilatildeo de certas caracteriacutesticas instauradoras do indiviacuteduo que confluem para a ldquoposserdquo de certas qualidades ou marcos Independentemente de que sejam defendidos atributos morais ou bioloacutegicos trata-se sempre de ldquouma realidade inerente ao indiviacuteduordquo um ldquodomiacutenio autocontidordquo lsquologicamente anterior agraves relaccedilotildees soshyciaisrdquo (idem p 84) Daiacute emergem questotildees sobre o estatuto mesmo do emshybriatildeo (intra ou extracorpoacutereo) e de como hierarquizar seus ldquodireitosrdquo em relaccedilatildeo aos da matildee

C iecircncia e T eacutecnica 109

A partir de quadro teoacuterico proacuteximo ao de Salem (1997) mas trabashylhando com dados oriundos de etnografia sobre processos de reproduccedilatildeo assistida Naara Luna (2007a e 2007b) insiste na questatildeo sobre quais atribushytos confeririam ao embriatildeo subjetividade e identidade individual Ela nota entatildeo a transferecircncia dos criteacuterios de individualidade e autonomia do plano moral para o plano bioloacutegico afirmando que ocorre genetizaccedilatildeo ou biologizaccedilatildeo do parentesco o que se expressa de modo mais geral

A anaacutelise das novas tecnologias reprodutivas permite vislumbrar como Natureza e Cultura natildeo satildeo domiacutenios estanques mas que haacute um fluxo contiacutenuo de significados um intercacircmbio em que significados natushyrais satildeo culturalizados e significados culturais satildeo naturalizados A Natureza ora serve de m odelo agrave Cultura ora o entendimento pela Cultura se impotildee agrave Natureza (Luna 2004 p 152)

Exemplo disso eacute o sangue que comporta sentidos geneacuteticos (DNA) e de pertencimento familiar acionando a importacircncia do parentesco e da pesshysoa no acircmbito da heranccedila Ademais emergem do universo bioloacutegico novas figuras de parentesco e portanto de humanidade como ceacutelulas oacutevulos feshytos Igualmente se os limites da concepccedilatildeo do humano e das relaccedilotildees de parentesco satildeo redesenhados com as novas teacutecnicas reprodutivas ressignificam- se tambeacutem a paternidade e a maternidade (idem p 151)

E o que indica Fonseca (2005) sobre o exame de DNA para definiccedilatildeo de paternidade Aleacutem disso ela enfatiza que a verdade bioloacutegica abre um horizonte de novas duacutevidas negociaccedilotildees e dilemas em torno do estabelecishymento ou do rompimento de viacutenculos de parentesco Conclusatildeo proacutexima agrave que Machado (2008) avanccedila sobre a alteraccedilatildeo nas definiccedilotildees da intersexuali- dade quanto mais se aguccedila a detecccedilatildeo de traccedilos de veracidade a respeito da definiccedilatildeo do sexo mais afloram ambiguumlidades entre diferentes niacuteveis (anatocircmicogeneacutetico etc)

A partir de pesquisa sobre a tramitaccedilatildeo da Lei de Biosseguranccedila brasishyleira mdash que permitiu sob certas condiccedilotildees o uso de ceacutelulas tronco de embriotildees inviaacuteveis ou congelados e a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos mdash Cesarino (2006) faz contribuiccedilotildees importantes a este debate Notadamente ela proshymove uma articulaccedilatildeo entre a controveacutersia no campo poliacutetico-moral e o fator econocircmico enfrentando o problema de equacionar mercado e ciecircncia nos dilemas cosmoloacutegicos da modernidade Para compreender os sentidos do debate poliacutetico a respeito da Lei de Biosseguranccedila - articulando fatos cientiacutefishy

110 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

cos e mercadorias Cesarino associa de maneira muito oportuna certos asshypectos da Antropologia simeacutetrica latouriana com a teoria dumontiana espeshycialmente no que se refere agrave relaccedilatildeo entre o individualismo e a autonomia da economia na modernidade Assim se ldquoo indiviacuteduo eacute a forma assumida pelos humanos no ciacuterculo de trocas do livre-mercado a mercadoria seria a forma por excelecircncia de inserccedilatildeo dos natildeo humanos no mercado capitalistardquo (Cesarino 2006 p 204-205) Adiccedilatildeo importante jaacute que o indiviacuteduo natildeo eacute entatildeo o uacutenico suposto no debate sobre a Lei de Biosseguranccedila a mercadoria eacute o sushyposto oposto mdash a condiccedilatildeo das coisas No caso da permissatildeo para o uso de embriotildees ela se vale da noccedilatildeo de englobamento para mostrar como sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade as qualidades do indiviacuteshyduo puderam ser consideradas tatildeo diminuiacutedas no preacute-embriatildeo a ponto de permitir sua desumanizaccedilatildeo relativa e seu uso nas pesquisas na qualidade de parte do mundo natural passiacutevel de manipulaccedilatildeo (Cesarino 2007 p 373)

Identificando traccedilos gerais aos trabalhos comentados aqui ressalto a pershycepccedilatildeo de que as biotecnologias remetem agrave questatildeo da fronteira da humanidashyde mas que devem ser explorados frente aos quadros cosmoloacutegicos da modernidade Associado a isso temos a constataccedilatildeo de que estes permanecem muito bem assentados ainda que mobilizados de modo distinto Tanto em relaccedilatildeo agrave Lei de Biosseguranccedila como nos demais casos referidos a ciecircncia natildeo perde nada do seu vigor assim como a separaccedilatildeo entre cultura e natureza Seria o caso de dizer que se as inovaccedilotildees teacutecnicas causam reordenaccedilotildees importantes elas estatildeo longe de reconfigurar as bases da cosmologia moderna Ao menos no plano formal (poliacutetico legal ou meacutedico) as noccedilotildees fundamentais de Indiviacuteduo Mercado Natureza permanecem operando e organizando (ou estimulando) o funcionamento das novas teacutecnicas O que as etnografias mostram satildeo ajustes ldquopragmaacuteticosrdquo que evidenciam plasticidades significativas mas natildeo uma reordenaccedilatildeo Portanto alguns dos aspectos mais interessantes evidenciados peshylos estudos sobre os dilemas biotecnoloacutegicos satildeo o vigor e a agilidade com que suas categorias se rearranjam (mercado natureza indiviacuteduo) para dar conta dos fenocircmenos de fronteira

CiecircnciaEacute um traccedilo caracteriacutestico da Antropologia feita no Brasil o estudo da

proacutepria configuraccedilatildeo das Ciecircncias Sociais enquanto especialidades dentiacutefi- co-acadecircmicas Como observou Peirano haacute um conjunto de trabalhos nessa

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 8: Ciência e Técnica

C iecircn cia e T eacutecnica 103

ccedilatildeo entre dados etnograacuteficos e arqueoloacutegicos mdash notemos que Silva (2007 p 102) afirma baseada em etnografia sobre fabricaccedilatildeo e uso de artefatos que as formas de descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo atraveacutes da qual satildeo estabelecidas as periodIacute2accedilotildees arqueoloacutegicas em geral natildeo levam em consideraccedilatildeo os mecanisshymos mais complexos de produccedilatildeo de identidades sociais externas e internas aos grupos Tais aspectos podem ser acessados pelo estudo etnograacutefico da produccedilatildeo e da circulaccedilatildeo de artefatos associado agraves categorias ecircmicas usadas para referir-se a eles Ao dar-se conta das tensotildees entre tecnologia e agecircncia continuidade e mudanccedila a etnografia pode assim auxiliar na melhor compreshyensatildeo de comportamentos e trajetoacuterias de populaccedilotildees Eacute movida por estas preocupaccedilotildees que Silva (2002) escreve um dos raros trabalhos realizados no Brasil em que se traccedila um panorama de propostas teoacutericas sobre a relaccedilatildeo entre teacutecnica e significado no acircmbito da Antropologia

Por outro lado satildeo bem conhecidas as abordagens relacionando exshypressotildees materiais e simboacutelicas das sociedades indiacutegenas com base em mateshyrial etnograacutefico A esse propoacutesito sobressai o nome de Berta Ribeiro que aleacutem de suas proacuteprias pesquisas organizou os trecircs volumes da Suma etnoloacutegica brasileira (Ribeiro 1986) Das vaacuterias facetas de sua obra3 sublinhemos duas a ecircnfase na forma como um aspecto central na descriccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos artefatos (Ribeiro 1988) e o intuito de ldquoestudar a cultura material como uma iconografia eacutetnicardquo (Ribeiro 1986 p 12 cf tambeacutem 1989) o que conshyfere agrave dimensatildeo esteacutetica a chave de abertura para o sentido simboacutelico da vida material indiacutegena Inclusive eacute sob influecircncia desse princiacutepio que se desenvolve uma linha importante de trabalhos acerca da iconografia indiacutegeshyna em suas muacuteltiplas manifestaccedilotildees (Vidal 1992)

Natildeo se trata de negar que tambeacutem compunha o programa de pesquishysas de Berta Ribeiro (1995) a ldquotecnoeconomiardquo isto eacute a dimensatildeo da mateshyrialidade diretamente voltada agrave relaccedilatildeo com o ambiente e agrave subsistecircncia incluindo processos de fabricaccedilatildeo e uso Mas digamos que estas duas disposhysiccedilotildees mdash a ldquoformardquo como dado privilegiado e a ldquoesteacuteticardquo como dimensatildeo reveladora - satildeo cursos principais de sua reflexatildeo assim como da maneira como antropoacutelogos brasileiros lidam com a cultura material Penso que em alguma medida isto seja um subproduto do fato mais geral de a etnologia no Brasil se constituir em contraposiccedilatildeo agraves interpretaccedilotildees materialistas de dishyferentes ordens enfatizando para tal a organizaccedilatildeo social e o simbolismo

3 A esse respeito ver Velthem (1999) e Botelho (2005)

104 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

O texto de siacutentese de Vidal e Silva (1992) evidencia bem os pressuposshytos e as potencialidades desse enquadramento A ecircnfase na noccedilatildeo de um sisteshyma de objetos como base empiacuterica e na articulaccedilatildeo entre arte e cultura material como horizonte compreensivo eacute fundamental Mas o refinamento etnograacutefico alcanccedilado por esses trabalhos deve-se tambeacutem agrave formaccedilatildeo em artes ou museologia de parte consideraacutevel dos antropoacutelogos responsaacuteveis por elas4 Isto natildeo eacute negligenciaacutevel tanto mais se considerarmos que um dos desdobrashymentos mais instigantes nesse cenaacuterio eacute a reflexatildeo sobre a noccedilatildeo ocidental de arte e o modo como ela incide na compreensatildeo antropoloacutegica (nessa linha cf Costa 1988 e Velthem 2000) A tiacutetulo de exemplo citemos as ideias de criatividade individual autoria e autenticidade que se revelam muito diferenshytes no mundo indiacutegena

Contudo este desdobramento na reflexatildeo sobre a esteacutetica indiacutegena somente pode ser considerado em associaccedilatildeo com outro fator que diz resshypeito agrave etnologia de modo geral A partir da deacutecada de 1980 toma-se expliacutecishyta a percepccedilatildeo de que haacute ldquonecessidade de se tomar o discurso indiacutegena sobre a corporalidade e a pessoa como informador da praacutexis social concretardquo (Seeger et al 1979 p 16) Haacute entatildeo uma conexatildeo produtiva entre a tradiccedilatildeo de pesquisa da materialidade em tela mdash com um olhar atento agrave iconografia inclusive agrave ornamentaccedilatildeo corporal mdash e a aproximaccedilatildeo agraves dinacircmicas de forshymaccedilatildeo da pessoa atraveacutes do idioma da corporalidade Nessa direccedilatildeo recente leva de pesquisas renova os estudos sobre cultura material basicamente operando com as noccedilotildees de alteridade e de agecircncia como Velthem (2003) Lagrou (2007) Barcelos Neto (2008) e Miller (2009)

A trajetoacuteria de Luacutecia van Velthem expressa os principais capiacutetulos da transformaccedilatildeo na abordagem da cultura material na Antropologia brasileishyra Suas primeiras publicaccedilotildees a exemplo da dissertaccedilatildeo sobre a cestaria wayana datildeo prova do rigor descritivo da minuacutecia no tratamento da produshyccedilatildeo e da forma dos artefatos e de seus motivos graacuteficos Jaacute em O belo eacute afera explorando o viacutenculo necessaacuterio entre beleza e predaccedilatildeo Velthem (2003) compreende a esteacutetica Wayana frisando que os objetos e os padrotildees figuratishyvos natildeo constituem obras puramente humanas mas satildeo recebidos ou arreshybatados de outros seres sejam eles animais inimigos sobrenaturais etc De modo que a decoraccedilatildeo eacute uma forma de ldquointegrar o que lhe eacute estranho de

4 Eacute o caso de Berta Ribeiro Heloiacutesa Feacutenelon Costa Lux Vidal Luacutecia van Velthem Aristoacuteteles Barcelos Neto etc

C iecircn cia e T eacutecnica 105

assimilar o outro como condiccedilatildeo da proacutepria identidade individual e coletiva capacidade esta veiculada atraveacutes da arte que se revela para os Wayana enquanshyto possibilidade de afirmaccedilatildeo de humanidaderdquo (idem p 389) Natildeo soacute a relashyccedilatildeo com a alteridade eacute condiccedilatildeo de humanidade mas dado que a ldquofabricaccedilatildeordquo tanto de coisas como de pessoas independente de sua constituiccedilatildeo material eacute concretizada de acordo com uma mesma teacutecnica a grande questatildeo aqui eacute detectar ldquoo que haacute de lsquohumanorsquo nas coisas e o que haacute de lsquocoisarsquo nos humanosrdquo (idem p 63 cf Velthem 2009)5

Em seu estudo sobre o estilo graacutefico kaxinawa Lagrou (2007 cf tamshybeacutem 2002) tambeacutem se afasta dos intentos classificatoacuterios ou formalistas que tendem num segundo momento a desviar a atenccedilatildeo dos objetos para os sistemas de pensamento Ela trata de modo inseparaacutevel forma sentido e accedilatildeo apoiando-se em Gell (1998) para levar adiante uma abordagem de objetos artefatos e arte ldquocomo se fossem pessoasrdquo Isto eacute objetos cujo sentido natildeo estaacute no plano contemplativo semioacutetico ou linguumliacutestico mas adveacutem de certas moshydalidades de agecircncia estaacute em seus efeitos praacuteticos (Lagrou 2007 p 54) A ideia mesmo de poder criativo eacute alvo de exame suscitando a rediscussatildeo tanto dos pressupostos de uma Antropologia da arte quanto da ideia de agecircncia no mundo indiacutegena De modo que ldquopensar sobre arte entre os ameriacutendios equumlishyvale a pensar a noccedilatildeo de pessoa e de corpo Porque objetos pinturas e corpos satildeo assuntos ligados no universo indiacutegena no qual a pintura eacute feita para aderir a corpos e objetos satildeo feitos para completar a accedilatildeo dos corposrdquo (idem p 50)

Esse movimento nas abordagens da cultura material a partir das ideias de fabricaccedilatildeo de corpos e pessoas e da alteridade como dimensatildeo constitutiva reorganiza apropria forma de atribuiccedilatildeo da qualidade de sujeito e de objeto estabelecendo um quadro relacionai e situacional para a compreensatildeo do senshytido dos seres e das coisas E de se prever entatildeo que isto oxigenaria fortemenshyte temas proacuteximos como os associados agrave circulaccedilatildeo dos objetos Refiro-me agrave

5 Dedicando-se mais recentemente ao estudo de populaccedilotildees ribeirinhas no Acre Velthem (2008 p 11) constata que a fertilidade dos estudos sobre certas categorias artesanais dos povos indiacutegenas (cestaria plumaacuteria ceracircmica) contrasta com o tratamento meramente utilitaacuterio dado aos objetos envolvidos nos contextos produtivos de outras populaccedilotildees Levando adiante essa constataccedilatildeo seria o caso de acrescentar que muitas vezes esse desequiliacutebrio se apresenta no proacuteprio acircmbito dos estudos sobre povos indiacutegenas Nesse sentido vale ressaltar que a emergecircncia da noccedilatildeo de predaccedilatildeo que estende seu potencial heuriacutestico a diversos planos da vida indiacutegena natildeo tem gerado entre pesquisadores brasileishyros uma valorizaccedilatildeo das aproximaccedilotildees etnograacuteficas sobre a atividade cinegeacutetica propriashymente dita Aspecto que tem sido enfocado por antropoacutelogos de outras nacionalidades como Descola (1986) Ingold (1988 2000) e Kohn (2002)

106 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

inserccedilatildeo de objetos industrializados no meio indiacutegena (cf Ramos e Albert 2002) e de outro lado ao tracircnsito de objetos indiacutegenas no mundo natildeo indiacuteshygena particularmente nas situaccedilotildees de sua comercializaccedilatildeo e musealizaccedilatildeo Baseado em detalhado estudo sobre maacutescaras rituais xinguanas Barcelos Neto (2006 e 2008) estende-se a respeito dos muacuteltiplos sentidos da musealizaccedilatildeo inclusive na oacutetica indiacutegena tema de interesse crescente (por exemplo em Gordon e Silva 2005) Por fim eacute o caso de constatar que objetos (nos dois sentidos artefatos e temas de estudo) outrora relegados aos capiacutetulos sobre cultura mateshyrial ganham vida no cerne da etnologia contemporacircnea Penso que isso faz parte de um deslocamento mais amplo no modo de compreensatildeo das populashyccedilotildees indiacutegenasmdashde suas concepccedilotildees de humanidade e praacuteticas de socialidade mdash que daacute mostras de passar de modo cada vez mais intenso pelos natildeo humanosmdash artefatos animais espiacuteritos

Teacutecnicas do vivoDos trecircs temas definidos no escopo deste artigo este eacute sem duacutevida o

mais profuso e difuso de modo que sobressairaacute mais aqui o caraacuteter apenas indicativo das referecircncias e comentaacuterios De sorte que inicio lembrando que os termos teacutecnicatecnologiabiotecnologia satildeo recorrentes nos estudos sobre as praacuteticas de sauacutede em geral o mais das vezes conotando o processo messhymo de medicalizaccedilatildeo remetendo agraves dinacircmicas de construccedilatildeo de gecircnero e ou de subjetivaccedilatildeo com marcada influecircncia foucaultiana (a exemplo de Rohden 2004 Leibing 2004 Duarte e Leal 1998) Visto que a amplitude dessa produccedilatildeo escapa ao objetivo deste artigo interessaratildeo apenas aqueles estudos que lidam mais explicitamente com a questatildeo da teacutecnica como meshydiaccedilatildeo entre o humano e o natildeo humano na modernidade Ou seja os dedishycados aos problemas da fronteira ou da condiccedilatildeo do humano que remetem por assim dizer ao dilema do Ciborgue (Haraway 2000)

Os textos comentados a seguir apresentam como tema central o hushymano perpassado por suas proacuteprias teacutecnicas A hipoacutetese trazida aqui como criteacuterio de mapeamento eacute que a dramatiddade com que tal questatildeo se anunshycia soacute pode ser adequadamente apreciada na moldura da modernidade ocishydental Antes de tudo porque fora disso o drama tomar-se-ia banal- o humano sempre foi por definiccedilatildeo alvo de suas proacuteprias teacutecnicas (Leroi-Gourhan 1983 Neves 2006) Mas mesmo que se queira conceder preeminecircncia agraves especifi- cidades de nossa eacutepoca ainda assim a pertinecircncia antropoloacutegica do dilema do

C iecircncia e T eacutecnica 107

Ciborguemdashisto eacute do mal-estar com a teacutecnica modificando o seu autor mdash natildeo estaacute em se tratar de uma questatildeo referente ao advento da modernidade para a humanidade mas agraves redefiniccedilotildees do humano na modernidade Como os estudos antropoloacutegicos abaixo denotam por vias distintas a inquietaccedilatildeo geshyrada pelas biotecnologias no Ocidente moderno deve ser tratada como um fenocircmeno ecircmico cujas chaves de inteligibilidade estatildeo em sua proacutepria cosmologia

Uma das formas em que essa preocupaccedilatildeo se verifica eacute nas aproximashyccedilotildees aos modos de diagnoacutestico derivados do saber biomeacutedico Chazan (2007) trata do ultrassom obsteacutetrico que ao transportar o feto para o acircmbito da visualidade participa da reorganizaccedilatildeo da gestaccedilatildeo e da relaccedilatildeo com o feto As imagens e a forma como o ultrassom obsteacutetrico opera por meio da psicologizaccedilatildeo e da fisicalizaccedilatildeo do feto promovem sua existecircncia ldquosocialrdquo (isto eacute na forma do indiviacuteduo) antes do nascimento - a nomeaccedilatildeo passa a ocorrer quando da determinaccedilatildeo do sexo Entre as consequumlecircncias deste dispositivo estaacute sua utilizaccedilatildeo poliacutetica na controveacutersia sobre o aborto como prova da condiccedilatildeo de pessoa do feto e a constituiccedilatildeo do rito de visualizaccedilatildeo onde haacute algo de diagnoacutestico e algo de espetaacuteculo O exame pressupotildee algum aprendizado visual e gira em torno da fruiccedilatildeo das imashygens ldquodecifradasrdquo na tela

Investindo preferencialmente no desenvolvimento laboratorial de dishyagnoacutesticos Monteiro (2005) debruccedila-se sobre o surgimento de novos forshymatos de exame pautados na geneacutetica e na informaacutetica que buscam detectar biomarcadores de cacircncer de proacutestata O foco eacute na forma como interagem percepccedilotildees de corpo e de humano e no modo como estes aspectos associshyam-se no plano poliacutetico No contexto das academias de ginaacutestica delineei os modos de funcionamento da avaliaccedilatildeo antropomeacutetrica considerando o mashynejo das dimensotildees iacutentimas (psiacutequicas) e internas (fiacutesicas) do indiviacuteduo pela elaboraccedilatildeo socioteacutecnica da gordura (Sautchuk 2007) Jaacute Bonet (2004) trata justamente da constituiccedilatildeo do componente humano necessaacuterio aos disposishytivos de diagnoacutestico e terapecircutica pois enfoca o aprendizado praacutetico de meacutedicos em situaccedilatildeo de residecircncia

Haacute igualmente pesquisadores voltados ao transbordamento de discurshysos e dispositivos gerados no acircmbito da ciecircncia movendo a atenccedilatildeo do conshytexto de sua produccedilatildeo ou funcionamento para aquele da sua difusatildeo Veja-se os estudos sobre a forma como as neurociecircncias instituem novos marcadores de identificaccedilatildeo pessoal e de explicaccedilatildeo de sintomas enfim como estes disposhy

108 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

sitivos biomeacutedicos avanccedilam sobre o cotidiano extra-hospitalar seja contribushyindo agrave afirmaccedilatildeo de um ldquosujeito cerebralrdquo (Azize 20082010) seja possibishylitando o surgimento de um movimento de ldquoneurodiversidaderdquo que associa o individualismo com a noccedilatildeo de uma cultura cerebral (Ortega 2008) Sem mencionar aqui estudos voltados ao consumo de medicamentos assinalo que outra forma de explorar os desdobramentos da biotecnologia eacute enfocando seus usos com o fim de gerar os ditos estados de alteraccedilatildeo Vargas (2006 2008) considera as drogas enquanto objetos socioteacutecnicos que natildeo comporshytam sentido intriacutenseco absoluto ou essencial mas sim relacionai De modo que elas permanecem indeterminadas ateacute que os agenciamentos a constituam enquanto tais afinal elas operam mediando formas particulares de engajamentos com o mundo Para notar enfim que o identificador ldquobiordquo aplica-se tambeacutem a teacutecnicas natildeo ligadas agrave medicina veja-se Ferreira (2008) sobre o transe associado agrave muacutesica eletrocircnica

Dado o escopo aqui fixado mdash a relaccedilatildeo entre o humano e a teacutecnica em face da modernidade - eacute preciso demorar um pouco mais nas novas teacutecnicas reprodutivas pois se instaura entre antropoacutelogos brasileiros um verdadeiro diaacutelogo marcado pela influecircncia consideraacutevel de Strathern (1992) e levando adiante por etnografias e elaboraccedilotildees analiacuteticas realizadas em diferentes direshyccedilotildees (Grossi et al 2003 Ramiacuterez-Gaacutelvez 2009) Nesse contexto Salem (1997) circunscreve alguns pontos de referecircncia dentre eles o emprego sisteshymaacutetico do aparato conceituai de Dumont o que demonstra o intuito de colocar em perspectiva a modernidade por meio de um de seus dilemas fulcrais Para ela ldquoo proacuteprio modo de formular o dilema envolvido na manipulaccedilatildeo de embriotildees evidencia que em uacuteltima instacircncia estaacute-se discutindo a Pessoa o que significa ser pessoa e quais as qualidades que instalam em um ser humano essa condiccedilatildeordquo (idem p 84)

Consequumlecircncia disso a condiccedilatildeo de inteligibilidade de toda a controshyveacutersia o suposto de seus diferentes argumentos eacute o Indiviacuteduo a categoria ocidental de pessoa Grosso modo a controveacutersia estaacute em se o embriatildeo eacute e ateacute quando tecido celular ou pessoa E isso se definiria a partir da localizaccedilatildeo de certas caracteriacutesticas instauradoras do indiviacuteduo que confluem para a ldquoposserdquo de certas qualidades ou marcos Independentemente de que sejam defendidos atributos morais ou bioloacutegicos trata-se sempre de ldquouma realidade inerente ao indiviacuteduordquo um ldquodomiacutenio autocontidordquo lsquologicamente anterior agraves relaccedilotildees soshyciaisrdquo (idem p 84) Daiacute emergem questotildees sobre o estatuto mesmo do emshybriatildeo (intra ou extracorpoacutereo) e de como hierarquizar seus ldquodireitosrdquo em relaccedilatildeo aos da matildee

C iecircncia e T eacutecnica 109

A partir de quadro teoacuterico proacuteximo ao de Salem (1997) mas trabashylhando com dados oriundos de etnografia sobre processos de reproduccedilatildeo assistida Naara Luna (2007a e 2007b) insiste na questatildeo sobre quais atribushytos confeririam ao embriatildeo subjetividade e identidade individual Ela nota entatildeo a transferecircncia dos criteacuterios de individualidade e autonomia do plano moral para o plano bioloacutegico afirmando que ocorre genetizaccedilatildeo ou biologizaccedilatildeo do parentesco o que se expressa de modo mais geral

A anaacutelise das novas tecnologias reprodutivas permite vislumbrar como Natureza e Cultura natildeo satildeo domiacutenios estanques mas que haacute um fluxo contiacutenuo de significados um intercacircmbio em que significados natushyrais satildeo culturalizados e significados culturais satildeo naturalizados A Natureza ora serve de m odelo agrave Cultura ora o entendimento pela Cultura se impotildee agrave Natureza (Luna 2004 p 152)

Exemplo disso eacute o sangue que comporta sentidos geneacuteticos (DNA) e de pertencimento familiar acionando a importacircncia do parentesco e da pesshysoa no acircmbito da heranccedila Ademais emergem do universo bioloacutegico novas figuras de parentesco e portanto de humanidade como ceacutelulas oacutevulos feshytos Igualmente se os limites da concepccedilatildeo do humano e das relaccedilotildees de parentesco satildeo redesenhados com as novas teacutecnicas reprodutivas ressignificam- se tambeacutem a paternidade e a maternidade (idem p 151)

E o que indica Fonseca (2005) sobre o exame de DNA para definiccedilatildeo de paternidade Aleacutem disso ela enfatiza que a verdade bioloacutegica abre um horizonte de novas duacutevidas negociaccedilotildees e dilemas em torno do estabelecishymento ou do rompimento de viacutenculos de parentesco Conclusatildeo proacutexima agrave que Machado (2008) avanccedila sobre a alteraccedilatildeo nas definiccedilotildees da intersexuali- dade quanto mais se aguccedila a detecccedilatildeo de traccedilos de veracidade a respeito da definiccedilatildeo do sexo mais afloram ambiguumlidades entre diferentes niacuteveis (anatocircmicogeneacutetico etc)

A partir de pesquisa sobre a tramitaccedilatildeo da Lei de Biosseguranccedila brasishyleira mdash que permitiu sob certas condiccedilotildees o uso de ceacutelulas tronco de embriotildees inviaacuteveis ou congelados e a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos mdash Cesarino (2006) faz contribuiccedilotildees importantes a este debate Notadamente ela proshymove uma articulaccedilatildeo entre a controveacutersia no campo poliacutetico-moral e o fator econocircmico enfrentando o problema de equacionar mercado e ciecircncia nos dilemas cosmoloacutegicos da modernidade Para compreender os sentidos do debate poliacutetico a respeito da Lei de Biosseguranccedila - articulando fatos cientiacutefishy

110 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

cos e mercadorias Cesarino associa de maneira muito oportuna certos asshypectos da Antropologia simeacutetrica latouriana com a teoria dumontiana espeshycialmente no que se refere agrave relaccedilatildeo entre o individualismo e a autonomia da economia na modernidade Assim se ldquoo indiviacuteduo eacute a forma assumida pelos humanos no ciacuterculo de trocas do livre-mercado a mercadoria seria a forma por excelecircncia de inserccedilatildeo dos natildeo humanos no mercado capitalistardquo (Cesarino 2006 p 204-205) Adiccedilatildeo importante jaacute que o indiviacuteduo natildeo eacute entatildeo o uacutenico suposto no debate sobre a Lei de Biosseguranccedila a mercadoria eacute o sushyposto oposto mdash a condiccedilatildeo das coisas No caso da permissatildeo para o uso de embriotildees ela se vale da noccedilatildeo de englobamento para mostrar como sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade as qualidades do indiviacuteshyduo puderam ser consideradas tatildeo diminuiacutedas no preacute-embriatildeo a ponto de permitir sua desumanizaccedilatildeo relativa e seu uso nas pesquisas na qualidade de parte do mundo natural passiacutevel de manipulaccedilatildeo (Cesarino 2007 p 373)

Identificando traccedilos gerais aos trabalhos comentados aqui ressalto a pershycepccedilatildeo de que as biotecnologias remetem agrave questatildeo da fronteira da humanidashyde mas que devem ser explorados frente aos quadros cosmoloacutegicos da modernidade Associado a isso temos a constataccedilatildeo de que estes permanecem muito bem assentados ainda que mobilizados de modo distinto Tanto em relaccedilatildeo agrave Lei de Biosseguranccedila como nos demais casos referidos a ciecircncia natildeo perde nada do seu vigor assim como a separaccedilatildeo entre cultura e natureza Seria o caso de dizer que se as inovaccedilotildees teacutecnicas causam reordenaccedilotildees importantes elas estatildeo longe de reconfigurar as bases da cosmologia moderna Ao menos no plano formal (poliacutetico legal ou meacutedico) as noccedilotildees fundamentais de Indiviacuteduo Mercado Natureza permanecem operando e organizando (ou estimulando) o funcionamento das novas teacutecnicas O que as etnografias mostram satildeo ajustes ldquopragmaacuteticosrdquo que evidenciam plasticidades significativas mas natildeo uma reordenaccedilatildeo Portanto alguns dos aspectos mais interessantes evidenciados peshylos estudos sobre os dilemas biotecnoloacutegicos satildeo o vigor e a agilidade com que suas categorias se rearranjam (mercado natureza indiviacuteduo) para dar conta dos fenocircmenos de fronteira

CiecircnciaEacute um traccedilo caracteriacutestico da Antropologia feita no Brasil o estudo da

proacutepria configuraccedilatildeo das Ciecircncias Sociais enquanto especialidades dentiacutefi- co-acadecircmicas Como observou Peirano haacute um conjunto de trabalhos nessa

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 9: Ciência e Técnica

104 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

O texto de siacutentese de Vidal e Silva (1992) evidencia bem os pressuposshytos e as potencialidades desse enquadramento A ecircnfase na noccedilatildeo de um sisteshyma de objetos como base empiacuterica e na articulaccedilatildeo entre arte e cultura material como horizonte compreensivo eacute fundamental Mas o refinamento etnograacutefico alcanccedilado por esses trabalhos deve-se tambeacutem agrave formaccedilatildeo em artes ou museologia de parte consideraacutevel dos antropoacutelogos responsaacuteveis por elas4 Isto natildeo eacute negligenciaacutevel tanto mais se considerarmos que um dos desdobrashymentos mais instigantes nesse cenaacuterio eacute a reflexatildeo sobre a noccedilatildeo ocidental de arte e o modo como ela incide na compreensatildeo antropoloacutegica (nessa linha cf Costa 1988 e Velthem 2000) A tiacutetulo de exemplo citemos as ideias de criatividade individual autoria e autenticidade que se revelam muito diferenshytes no mundo indiacutegena

Contudo este desdobramento na reflexatildeo sobre a esteacutetica indiacutegena somente pode ser considerado em associaccedilatildeo com outro fator que diz resshypeito agrave etnologia de modo geral A partir da deacutecada de 1980 toma-se expliacutecishyta a percepccedilatildeo de que haacute ldquonecessidade de se tomar o discurso indiacutegena sobre a corporalidade e a pessoa como informador da praacutexis social concretardquo (Seeger et al 1979 p 16) Haacute entatildeo uma conexatildeo produtiva entre a tradiccedilatildeo de pesquisa da materialidade em tela mdash com um olhar atento agrave iconografia inclusive agrave ornamentaccedilatildeo corporal mdash e a aproximaccedilatildeo agraves dinacircmicas de forshymaccedilatildeo da pessoa atraveacutes do idioma da corporalidade Nessa direccedilatildeo recente leva de pesquisas renova os estudos sobre cultura material basicamente operando com as noccedilotildees de alteridade e de agecircncia como Velthem (2003) Lagrou (2007) Barcelos Neto (2008) e Miller (2009)

A trajetoacuteria de Luacutecia van Velthem expressa os principais capiacutetulos da transformaccedilatildeo na abordagem da cultura material na Antropologia brasileishyra Suas primeiras publicaccedilotildees a exemplo da dissertaccedilatildeo sobre a cestaria wayana datildeo prova do rigor descritivo da minuacutecia no tratamento da produshyccedilatildeo e da forma dos artefatos e de seus motivos graacuteficos Jaacute em O belo eacute afera explorando o viacutenculo necessaacuterio entre beleza e predaccedilatildeo Velthem (2003) compreende a esteacutetica Wayana frisando que os objetos e os padrotildees figuratishyvos natildeo constituem obras puramente humanas mas satildeo recebidos ou arreshybatados de outros seres sejam eles animais inimigos sobrenaturais etc De modo que a decoraccedilatildeo eacute uma forma de ldquointegrar o que lhe eacute estranho de

4 Eacute o caso de Berta Ribeiro Heloiacutesa Feacutenelon Costa Lux Vidal Luacutecia van Velthem Aristoacuteteles Barcelos Neto etc

C iecircn cia e T eacutecnica 105

assimilar o outro como condiccedilatildeo da proacutepria identidade individual e coletiva capacidade esta veiculada atraveacutes da arte que se revela para os Wayana enquanshyto possibilidade de afirmaccedilatildeo de humanidaderdquo (idem p 389) Natildeo soacute a relashyccedilatildeo com a alteridade eacute condiccedilatildeo de humanidade mas dado que a ldquofabricaccedilatildeordquo tanto de coisas como de pessoas independente de sua constituiccedilatildeo material eacute concretizada de acordo com uma mesma teacutecnica a grande questatildeo aqui eacute detectar ldquoo que haacute de lsquohumanorsquo nas coisas e o que haacute de lsquocoisarsquo nos humanosrdquo (idem p 63 cf Velthem 2009)5

Em seu estudo sobre o estilo graacutefico kaxinawa Lagrou (2007 cf tamshybeacutem 2002) tambeacutem se afasta dos intentos classificatoacuterios ou formalistas que tendem num segundo momento a desviar a atenccedilatildeo dos objetos para os sistemas de pensamento Ela trata de modo inseparaacutevel forma sentido e accedilatildeo apoiando-se em Gell (1998) para levar adiante uma abordagem de objetos artefatos e arte ldquocomo se fossem pessoasrdquo Isto eacute objetos cujo sentido natildeo estaacute no plano contemplativo semioacutetico ou linguumliacutestico mas adveacutem de certas moshydalidades de agecircncia estaacute em seus efeitos praacuteticos (Lagrou 2007 p 54) A ideia mesmo de poder criativo eacute alvo de exame suscitando a rediscussatildeo tanto dos pressupostos de uma Antropologia da arte quanto da ideia de agecircncia no mundo indiacutegena De modo que ldquopensar sobre arte entre os ameriacutendios equumlishyvale a pensar a noccedilatildeo de pessoa e de corpo Porque objetos pinturas e corpos satildeo assuntos ligados no universo indiacutegena no qual a pintura eacute feita para aderir a corpos e objetos satildeo feitos para completar a accedilatildeo dos corposrdquo (idem p 50)

Esse movimento nas abordagens da cultura material a partir das ideias de fabricaccedilatildeo de corpos e pessoas e da alteridade como dimensatildeo constitutiva reorganiza apropria forma de atribuiccedilatildeo da qualidade de sujeito e de objeto estabelecendo um quadro relacionai e situacional para a compreensatildeo do senshytido dos seres e das coisas E de se prever entatildeo que isto oxigenaria fortemenshyte temas proacuteximos como os associados agrave circulaccedilatildeo dos objetos Refiro-me agrave

5 Dedicando-se mais recentemente ao estudo de populaccedilotildees ribeirinhas no Acre Velthem (2008 p 11) constata que a fertilidade dos estudos sobre certas categorias artesanais dos povos indiacutegenas (cestaria plumaacuteria ceracircmica) contrasta com o tratamento meramente utilitaacuterio dado aos objetos envolvidos nos contextos produtivos de outras populaccedilotildees Levando adiante essa constataccedilatildeo seria o caso de acrescentar que muitas vezes esse desequiliacutebrio se apresenta no proacuteprio acircmbito dos estudos sobre povos indiacutegenas Nesse sentido vale ressaltar que a emergecircncia da noccedilatildeo de predaccedilatildeo que estende seu potencial heuriacutestico a diversos planos da vida indiacutegena natildeo tem gerado entre pesquisadores brasileishyros uma valorizaccedilatildeo das aproximaccedilotildees etnograacuteficas sobre a atividade cinegeacutetica propriashymente dita Aspecto que tem sido enfocado por antropoacutelogos de outras nacionalidades como Descola (1986) Ingold (1988 2000) e Kohn (2002)

106 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

inserccedilatildeo de objetos industrializados no meio indiacutegena (cf Ramos e Albert 2002) e de outro lado ao tracircnsito de objetos indiacutegenas no mundo natildeo indiacuteshygena particularmente nas situaccedilotildees de sua comercializaccedilatildeo e musealizaccedilatildeo Baseado em detalhado estudo sobre maacutescaras rituais xinguanas Barcelos Neto (2006 e 2008) estende-se a respeito dos muacuteltiplos sentidos da musealizaccedilatildeo inclusive na oacutetica indiacutegena tema de interesse crescente (por exemplo em Gordon e Silva 2005) Por fim eacute o caso de constatar que objetos (nos dois sentidos artefatos e temas de estudo) outrora relegados aos capiacutetulos sobre cultura mateshyrial ganham vida no cerne da etnologia contemporacircnea Penso que isso faz parte de um deslocamento mais amplo no modo de compreensatildeo das populashyccedilotildees indiacutegenasmdashde suas concepccedilotildees de humanidade e praacuteticas de socialidade mdash que daacute mostras de passar de modo cada vez mais intenso pelos natildeo humanosmdash artefatos animais espiacuteritos

Teacutecnicas do vivoDos trecircs temas definidos no escopo deste artigo este eacute sem duacutevida o

mais profuso e difuso de modo que sobressairaacute mais aqui o caraacuteter apenas indicativo das referecircncias e comentaacuterios De sorte que inicio lembrando que os termos teacutecnicatecnologiabiotecnologia satildeo recorrentes nos estudos sobre as praacuteticas de sauacutede em geral o mais das vezes conotando o processo messhymo de medicalizaccedilatildeo remetendo agraves dinacircmicas de construccedilatildeo de gecircnero e ou de subjetivaccedilatildeo com marcada influecircncia foucaultiana (a exemplo de Rohden 2004 Leibing 2004 Duarte e Leal 1998) Visto que a amplitude dessa produccedilatildeo escapa ao objetivo deste artigo interessaratildeo apenas aqueles estudos que lidam mais explicitamente com a questatildeo da teacutecnica como meshydiaccedilatildeo entre o humano e o natildeo humano na modernidade Ou seja os dedishycados aos problemas da fronteira ou da condiccedilatildeo do humano que remetem por assim dizer ao dilema do Ciborgue (Haraway 2000)

Os textos comentados a seguir apresentam como tema central o hushymano perpassado por suas proacuteprias teacutecnicas A hipoacutetese trazida aqui como criteacuterio de mapeamento eacute que a dramatiddade com que tal questatildeo se anunshycia soacute pode ser adequadamente apreciada na moldura da modernidade ocishydental Antes de tudo porque fora disso o drama tomar-se-ia banal- o humano sempre foi por definiccedilatildeo alvo de suas proacuteprias teacutecnicas (Leroi-Gourhan 1983 Neves 2006) Mas mesmo que se queira conceder preeminecircncia agraves especifi- cidades de nossa eacutepoca ainda assim a pertinecircncia antropoloacutegica do dilema do

C iecircncia e T eacutecnica 107

Ciborguemdashisto eacute do mal-estar com a teacutecnica modificando o seu autor mdash natildeo estaacute em se tratar de uma questatildeo referente ao advento da modernidade para a humanidade mas agraves redefiniccedilotildees do humano na modernidade Como os estudos antropoloacutegicos abaixo denotam por vias distintas a inquietaccedilatildeo geshyrada pelas biotecnologias no Ocidente moderno deve ser tratada como um fenocircmeno ecircmico cujas chaves de inteligibilidade estatildeo em sua proacutepria cosmologia

Uma das formas em que essa preocupaccedilatildeo se verifica eacute nas aproximashyccedilotildees aos modos de diagnoacutestico derivados do saber biomeacutedico Chazan (2007) trata do ultrassom obsteacutetrico que ao transportar o feto para o acircmbito da visualidade participa da reorganizaccedilatildeo da gestaccedilatildeo e da relaccedilatildeo com o feto As imagens e a forma como o ultrassom obsteacutetrico opera por meio da psicologizaccedilatildeo e da fisicalizaccedilatildeo do feto promovem sua existecircncia ldquosocialrdquo (isto eacute na forma do indiviacuteduo) antes do nascimento - a nomeaccedilatildeo passa a ocorrer quando da determinaccedilatildeo do sexo Entre as consequumlecircncias deste dispositivo estaacute sua utilizaccedilatildeo poliacutetica na controveacutersia sobre o aborto como prova da condiccedilatildeo de pessoa do feto e a constituiccedilatildeo do rito de visualizaccedilatildeo onde haacute algo de diagnoacutestico e algo de espetaacuteculo O exame pressupotildee algum aprendizado visual e gira em torno da fruiccedilatildeo das imashygens ldquodecifradasrdquo na tela

Investindo preferencialmente no desenvolvimento laboratorial de dishyagnoacutesticos Monteiro (2005) debruccedila-se sobre o surgimento de novos forshymatos de exame pautados na geneacutetica e na informaacutetica que buscam detectar biomarcadores de cacircncer de proacutestata O foco eacute na forma como interagem percepccedilotildees de corpo e de humano e no modo como estes aspectos associshyam-se no plano poliacutetico No contexto das academias de ginaacutestica delineei os modos de funcionamento da avaliaccedilatildeo antropomeacutetrica considerando o mashynejo das dimensotildees iacutentimas (psiacutequicas) e internas (fiacutesicas) do indiviacuteduo pela elaboraccedilatildeo socioteacutecnica da gordura (Sautchuk 2007) Jaacute Bonet (2004) trata justamente da constituiccedilatildeo do componente humano necessaacuterio aos disposishytivos de diagnoacutestico e terapecircutica pois enfoca o aprendizado praacutetico de meacutedicos em situaccedilatildeo de residecircncia

Haacute igualmente pesquisadores voltados ao transbordamento de discurshysos e dispositivos gerados no acircmbito da ciecircncia movendo a atenccedilatildeo do conshytexto de sua produccedilatildeo ou funcionamento para aquele da sua difusatildeo Veja-se os estudos sobre a forma como as neurociecircncias instituem novos marcadores de identificaccedilatildeo pessoal e de explicaccedilatildeo de sintomas enfim como estes disposhy

108 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

sitivos biomeacutedicos avanccedilam sobre o cotidiano extra-hospitalar seja contribushyindo agrave afirmaccedilatildeo de um ldquosujeito cerebralrdquo (Azize 20082010) seja possibishylitando o surgimento de um movimento de ldquoneurodiversidaderdquo que associa o individualismo com a noccedilatildeo de uma cultura cerebral (Ortega 2008) Sem mencionar aqui estudos voltados ao consumo de medicamentos assinalo que outra forma de explorar os desdobramentos da biotecnologia eacute enfocando seus usos com o fim de gerar os ditos estados de alteraccedilatildeo Vargas (2006 2008) considera as drogas enquanto objetos socioteacutecnicos que natildeo comporshytam sentido intriacutenseco absoluto ou essencial mas sim relacionai De modo que elas permanecem indeterminadas ateacute que os agenciamentos a constituam enquanto tais afinal elas operam mediando formas particulares de engajamentos com o mundo Para notar enfim que o identificador ldquobiordquo aplica-se tambeacutem a teacutecnicas natildeo ligadas agrave medicina veja-se Ferreira (2008) sobre o transe associado agrave muacutesica eletrocircnica

Dado o escopo aqui fixado mdash a relaccedilatildeo entre o humano e a teacutecnica em face da modernidade - eacute preciso demorar um pouco mais nas novas teacutecnicas reprodutivas pois se instaura entre antropoacutelogos brasileiros um verdadeiro diaacutelogo marcado pela influecircncia consideraacutevel de Strathern (1992) e levando adiante por etnografias e elaboraccedilotildees analiacuteticas realizadas em diferentes direshyccedilotildees (Grossi et al 2003 Ramiacuterez-Gaacutelvez 2009) Nesse contexto Salem (1997) circunscreve alguns pontos de referecircncia dentre eles o emprego sisteshymaacutetico do aparato conceituai de Dumont o que demonstra o intuito de colocar em perspectiva a modernidade por meio de um de seus dilemas fulcrais Para ela ldquoo proacuteprio modo de formular o dilema envolvido na manipulaccedilatildeo de embriotildees evidencia que em uacuteltima instacircncia estaacute-se discutindo a Pessoa o que significa ser pessoa e quais as qualidades que instalam em um ser humano essa condiccedilatildeordquo (idem p 84)

Consequumlecircncia disso a condiccedilatildeo de inteligibilidade de toda a controshyveacutersia o suposto de seus diferentes argumentos eacute o Indiviacuteduo a categoria ocidental de pessoa Grosso modo a controveacutersia estaacute em se o embriatildeo eacute e ateacute quando tecido celular ou pessoa E isso se definiria a partir da localizaccedilatildeo de certas caracteriacutesticas instauradoras do indiviacuteduo que confluem para a ldquoposserdquo de certas qualidades ou marcos Independentemente de que sejam defendidos atributos morais ou bioloacutegicos trata-se sempre de ldquouma realidade inerente ao indiviacuteduordquo um ldquodomiacutenio autocontidordquo lsquologicamente anterior agraves relaccedilotildees soshyciaisrdquo (idem p 84) Daiacute emergem questotildees sobre o estatuto mesmo do emshybriatildeo (intra ou extracorpoacutereo) e de como hierarquizar seus ldquodireitosrdquo em relaccedilatildeo aos da matildee

C iecircncia e T eacutecnica 109

A partir de quadro teoacuterico proacuteximo ao de Salem (1997) mas trabashylhando com dados oriundos de etnografia sobre processos de reproduccedilatildeo assistida Naara Luna (2007a e 2007b) insiste na questatildeo sobre quais atribushytos confeririam ao embriatildeo subjetividade e identidade individual Ela nota entatildeo a transferecircncia dos criteacuterios de individualidade e autonomia do plano moral para o plano bioloacutegico afirmando que ocorre genetizaccedilatildeo ou biologizaccedilatildeo do parentesco o que se expressa de modo mais geral

A anaacutelise das novas tecnologias reprodutivas permite vislumbrar como Natureza e Cultura natildeo satildeo domiacutenios estanques mas que haacute um fluxo contiacutenuo de significados um intercacircmbio em que significados natushyrais satildeo culturalizados e significados culturais satildeo naturalizados A Natureza ora serve de m odelo agrave Cultura ora o entendimento pela Cultura se impotildee agrave Natureza (Luna 2004 p 152)

Exemplo disso eacute o sangue que comporta sentidos geneacuteticos (DNA) e de pertencimento familiar acionando a importacircncia do parentesco e da pesshysoa no acircmbito da heranccedila Ademais emergem do universo bioloacutegico novas figuras de parentesco e portanto de humanidade como ceacutelulas oacutevulos feshytos Igualmente se os limites da concepccedilatildeo do humano e das relaccedilotildees de parentesco satildeo redesenhados com as novas teacutecnicas reprodutivas ressignificam- se tambeacutem a paternidade e a maternidade (idem p 151)

E o que indica Fonseca (2005) sobre o exame de DNA para definiccedilatildeo de paternidade Aleacutem disso ela enfatiza que a verdade bioloacutegica abre um horizonte de novas duacutevidas negociaccedilotildees e dilemas em torno do estabelecishymento ou do rompimento de viacutenculos de parentesco Conclusatildeo proacutexima agrave que Machado (2008) avanccedila sobre a alteraccedilatildeo nas definiccedilotildees da intersexuali- dade quanto mais se aguccedila a detecccedilatildeo de traccedilos de veracidade a respeito da definiccedilatildeo do sexo mais afloram ambiguumlidades entre diferentes niacuteveis (anatocircmicogeneacutetico etc)

A partir de pesquisa sobre a tramitaccedilatildeo da Lei de Biosseguranccedila brasishyleira mdash que permitiu sob certas condiccedilotildees o uso de ceacutelulas tronco de embriotildees inviaacuteveis ou congelados e a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos mdash Cesarino (2006) faz contribuiccedilotildees importantes a este debate Notadamente ela proshymove uma articulaccedilatildeo entre a controveacutersia no campo poliacutetico-moral e o fator econocircmico enfrentando o problema de equacionar mercado e ciecircncia nos dilemas cosmoloacutegicos da modernidade Para compreender os sentidos do debate poliacutetico a respeito da Lei de Biosseguranccedila - articulando fatos cientiacutefishy

110 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

cos e mercadorias Cesarino associa de maneira muito oportuna certos asshypectos da Antropologia simeacutetrica latouriana com a teoria dumontiana espeshycialmente no que se refere agrave relaccedilatildeo entre o individualismo e a autonomia da economia na modernidade Assim se ldquoo indiviacuteduo eacute a forma assumida pelos humanos no ciacuterculo de trocas do livre-mercado a mercadoria seria a forma por excelecircncia de inserccedilatildeo dos natildeo humanos no mercado capitalistardquo (Cesarino 2006 p 204-205) Adiccedilatildeo importante jaacute que o indiviacuteduo natildeo eacute entatildeo o uacutenico suposto no debate sobre a Lei de Biosseguranccedila a mercadoria eacute o sushyposto oposto mdash a condiccedilatildeo das coisas No caso da permissatildeo para o uso de embriotildees ela se vale da noccedilatildeo de englobamento para mostrar como sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade as qualidades do indiviacuteshyduo puderam ser consideradas tatildeo diminuiacutedas no preacute-embriatildeo a ponto de permitir sua desumanizaccedilatildeo relativa e seu uso nas pesquisas na qualidade de parte do mundo natural passiacutevel de manipulaccedilatildeo (Cesarino 2007 p 373)

Identificando traccedilos gerais aos trabalhos comentados aqui ressalto a pershycepccedilatildeo de que as biotecnologias remetem agrave questatildeo da fronteira da humanidashyde mas que devem ser explorados frente aos quadros cosmoloacutegicos da modernidade Associado a isso temos a constataccedilatildeo de que estes permanecem muito bem assentados ainda que mobilizados de modo distinto Tanto em relaccedilatildeo agrave Lei de Biosseguranccedila como nos demais casos referidos a ciecircncia natildeo perde nada do seu vigor assim como a separaccedilatildeo entre cultura e natureza Seria o caso de dizer que se as inovaccedilotildees teacutecnicas causam reordenaccedilotildees importantes elas estatildeo longe de reconfigurar as bases da cosmologia moderna Ao menos no plano formal (poliacutetico legal ou meacutedico) as noccedilotildees fundamentais de Indiviacuteduo Mercado Natureza permanecem operando e organizando (ou estimulando) o funcionamento das novas teacutecnicas O que as etnografias mostram satildeo ajustes ldquopragmaacuteticosrdquo que evidenciam plasticidades significativas mas natildeo uma reordenaccedilatildeo Portanto alguns dos aspectos mais interessantes evidenciados peshylos estudos sobre os dilemas biotecnoloacutegicos satildeo o vigor e a agilidade com que suas categorias se rearranjam (mercado natureza indiviacuteduo) para dar conta dos fenocircmenos de fronteira

CiecircnciaEacute um traccedilo caracteriacutestico da Antropologia feita no Brasil o estudo da

proacutepria configuraccedilatildeo das Ciecircncias Sociais enquanto especialidades dentiacutefi- co-acadecircmicas Como observou Peirano haacute um conjunto de trabalhos nessa

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 10: Ciência e Técnica

C iecircn cia e T eacutecnica 105

assimilar o outro como condiccedilatildeo da proacutepria identidade individual e coletiva capacidade esta veiculada atraveacutes da arte que se revela para os Wayana enquanshyto possibilidade de afirmaccedilatildeo de humanidaderdquo (idem p 389) Natildeo soacute a relashyccedilatildeo com a alteridade eacute condiccedilatildeo de humanidade mas dado que a ldquofabricaccedilatildeordquo tanto de coisas como de pessoas independente de sua constituiccedilatildeo material eacute concretizada de acordo com uma mesma teacutecnica a grande questatildeo aqui eacute detectar ldquoo que haacute de lsquohumanorsquo nas coisas e o que haacute de lsquocoisarsquo nos humanosrdquo (idem p 63 cf Velthem 2009)5

Em seu estudo sobre o estilo graacutefico kaxinawa Lagrou (2007 cf tamshybeacutem 2002) tambeacutem se afasta dos intentos classificatoacuterios ou formalistas que tendem num segundo momento a desviar a atenccedilatildeo dos objetos para os sistemas de pensamento Ela trata de modo inseparaacutevel forma sentido e accedilatildeo apoiando-se em Gell (1998) para levar adiante uma abordagem de objetos artefatos e arte ldquocomo se fossem pessoasrdquo Isto eacute objetos cujo sentido natildeo estaacute no plano contemplativo semioacutetico ou linguumliacutestico mas adveacutem de certas moshydalidades de agecircncia estaacute em seus efeitos praacuteticos (Lagrou 2007 p 54) A ideia mesmo de poder criativo eacute alvo de exame suscitando a rediscussatildeo tanto dos pressupostos de uma Antropologia da arte quanto da ideia de agecircncia no mundo indiacutegena De modo que ldquopensar sobre arte entre os ameriacutendios equumlishyvale a pensar a noccedilatildeo de pessoa e de corpo Porque objetos pinturas e corpos satildeo assuntos ligados no universo indiacutegena no qual a pintura eacute feita para aderir a corpos e objetos satildeo feitos para completar a accedilatildeo dos corposrdquo (idem p 50)

Esse movimento nas abordagens da cultura material a partir das ideias de fabricaccedilatildeo de corpos e pessoas e da alteridade como dimensatildeo constitutiva reorganiza apropria forma de atribuiccedilatildeo da qualidade de sujeito e de objeto estabelecendo um quadro relacionai e situacional para a compreensatildeo do senshytido dos seres e das coisas E de se prever entatildeo que isto oxigenaria fortemenshyte temas proacuteximos como os associados agrave circulaccedilatildeo dos objetos Refiro-me agrave

5 Dedicando-se mais recentemente ao estudo de populaccedilotildees ribeirinhas no Acre Velthem (2008 p 11) constata que a fertilidade dos estudos sobre certas categorias artesanais dos povos indiacutegenas (cestaria plumaacuteria ceracircmica) contrasta com o tratamento meramente utilitaacuterio dado aos objetos envolvidos nos contextos produtivos de outras populaccedilotildees Levando adiante essa constataccedilatildeo seria o caso de acrescentar que muitas vezes esse desequiliacutebrio se apresenta no proacuteprio acircmbito dos estudos sobre povos indiacutegenas Nesse sentido vale ressaltar que a emergecircncia da noccedilatildeo de predaccedilatildeo que estende seu potencial heuriacutestico a diversos planos da vida indiacutegena natildeo tem gerado entre pesquisadores brasileishyros uma valorizaccedilatildeo das aproximaccedilotildees etnograacuteficas sobre a atividade cinegeacutetica propriashymente dita Aspecto que tem sido enfocado por antropoacutelogos de outras nacionalidades como Descola (1986) Ingold (1988 2000) e Kohn (2002)

106 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

inserccedilatildeo de objetos industrializados no meio indiacutegena (cf Ramos e Albert 2002) e de outro lado ao tracircnsito de objetos indiacutegenas no mundo natildeo indiacuteshygena particularmente nas situaccedilotildees de sua comercializaccedilatildeo e musealizaccedilatildeo Baseado em detalhado estudo sobre maacutescaras rituais xinguanas Barcelos Neto (2006 e 2008) estende-se a respeito dos muacuteltiplos sentidos da musealizaccedilatildeo inclusive na oacutetica indiacutegena tema de interesse crescente (por exemplo em Gordon e Silva 2005) Por fim eacute o caso de constatar que objetos (nos dois sentidos artefatos e temas de estudo) outrora relegados aos capiacutetulos sobre cultura mateshyrial ganham vida no cerne da etnologia contemporacircnea Penso que isso faz parte de um deslocamento mais amplo no modo de compreensatildeo das populashyccedilotildees indiacutegenasmdashde suas concepccedilotildees de humanidade e praacuteticas de socialidade mdash que daacute mostras de passar de modo cada vez mais intenso pelos natildeo humanosmdash artefatos animais espiacuteritos

Teacutecnicas do vivoDos trecircs temas definidos no escopo deste artigo este eacute sem duacutevida o

mais profuso e difuso de modo que sobressairaacute mais aqui o caraacuteter apenas indicativo das referecircncias e comentaacuterios De sorte que inicio lembrando que os termos teacutecnicatecnologiabiotecnologia satildeo recorrentes nos estudos sobre as praacuteticas de sauacutede em geral o mais das vezes conotando o processo messhymo de medicalizaccedilatildeo remetendo agraves dinacircmicas de construccedilatildeo de gecircnero e ou de subjetivaccedilatildeo com marcada influecircncia foucaultiana (a exemplo de Rohden 2004 Leibing 2004 Duarte e Leal 1998) Visto que a amplitude dessa produccedilatildeo escapa ao objetivo deste artigo interessaratildeo apenas aqueles estudos que lidam mais explicitamente com a questatildeo da teacutecnica como meshydiaccedilatildeo entre o humano e o natildeo humano na modernidade Ou seja os dedishycados aos problemas da fronteira ou da condiccedilatildeo do humano que remetem por assim dizer ao dilema do Ciborgue (Haraway 2000)

Os textos comentados a seguir apresentam como tema central o hushymano perpassado por suas proacuteprias teacutecnicas A hipoacutetese trazida aqui como criteacuterio de mapeamento eacute que a dramatiddade com que tal questatildeo se anunshycia soacute pode ser adequadamente apreciada na moldura da modernidade ocishydental Antes de tudo porque fora disso o drama tomar-se-ia banal- o humano sempre foi por definiccedilatildeo alvo de suas proacuteprias teacutecnicas (Leroi-Gourhan 1983 Neves 2006) Mas mesmo que se queira conceder preeminecircncia agraves especifi- cidades de nossa eacutepoca ainda assim a pertinecircncia antropoloacutegica do dilema do

C iecircncia e T eacutecnica 107

Ciborguemdashisto eacute do mal-estar com a teacutecnica modificando o seu autor mdash natildeo estaacute em se tratar de uma questatildeo referente ao advento da modernidade para a humanidade mas agraves redefiniccedilotildees do humano na modernidade Como os estudos antropoloacutegicos abaixo denotam por vias distintas a inquietaccedilatildeo geshyrada pelas biotecnologias no Ocidente moderno deve ser tratada como um fenocircmeno ecircmico cujas chaves de inteligibilidade estatildeo em sua proacutepria cosmologia

Uma das formas em que essa preocupaccedilatildeo se verifica eacute nas aproximashyccedilotildees aos modos de diagnoacutestico derivados do saber biomeacutedico Chazan (2007) trata do ultrassom obsteacutetrico que ao transportar o feto para o acircmbito da visualidade participa da reorganizaccedilatildeo da gestaccedilatildeo e da relaccedilatildeo com o feto As imagens e a forma como o ultrassom obsteacutetrico opera por meio da psicologizaccedilatildeo e da fisicalizaccedilatildeo do feto promovem sua existecircncia ldquosocialrdquo (isto eacute na forma do indiviacuteduo) antes do nascimento - a nomeaccedilatildeo passa a ocorrer quando da determinaccedilatildeo do sexo Entre as consequumlecircncias deste dispositivo estaacute sua utilizaccedilatildeo poliacutetica na controveacutersia sobre o aborto como prova da condiccedilatildeo de pessoa do feto e a constituiccedilatildeo do rito de visualizaccedilatildeo onde haacute algo de diagnoacutestico e algo de espetaacuteculo O exame pressupotildee algum aprendizado visual e gira em torno da fruiccedilatildeo das imashygens ldquodecifradasrdquo na tela

Investindo preferencialmente no desenvolvimento laboratorial de dishyagnoacutesticos Monteiro (2005) debruccedila-se sobre o surgimento de novos forshymatos de exame pautados na geneacutetica e na informaacutetica que buscam detectar biomarcadores de cacircncer de proacutestata O foco eacute na forma como interagem percepccedilotildees de corpo e de humano e no modo como estes aspectos associshyam-se no plano poliacutetico No contexto das academias de ginaacutestica delineei os modos de funcionamento da avaliaccedilatildeo antropomeacutetrica considerando o mashynejo das dimensotildees iacutentimas (psiacutequicas) e internas (fiacutesicas) do indiviacuteduo pela elaboraccedilatildeo socioteacutecnica da gordura (Sautchuk 2007) Jaacute Bonet (2004) trata justamente da constituiccedilatildeo do componente humano necessaacuterio aos disposishytivos de diagnoacutestico e terapecircutica pois enfoca o aprendizado praacutetico de meacutedicos em situaccedilatildeo de residecircncia

Haacute igualmente pesquisadores voltados ao transbordamento de discurshysos e dispositivos gerados no acircmbito da ciecircncia movendo a atenccedilatildeo do conshytexto de sua produccedilatildeo ou funcionamento para aquele da sua difusatildeo Veja-se os estudos sobre a forma como as neurociecircncias instituem novos marcadores de identificaccedilatildeo pessoal e de explicaccedilatildeo de sintomas enfim como estes disposhy

108 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

sitivos biomeacutedicos avanccedilam sobre o cotidiano extra-hospitalar seja contribushyindo agrave afirmaccedilatildeo de um ldquosujeito cerebralrdquo (Azize 20082010) seja possibishylitando o surgimento de um movimento de ldquoneurodiversidaderdquo que associa o individualismo com a noccedilatildeo de uma cultura cerebral (Ortega 2008) Sem mencionar aqui estudos voltados ao consumo de medicamentos assinalo que outra forma de explorar os desdobramentos da biotecnologia eacute enfocando seus usos com o fim de gerar os ditos estados de alteraccedilatildeo Vargas (2006 2008) considera as drogas enquanto objetos socioteacutecnicos que natildeo comporshytam sentido intriacutenseco absoluto ou essencial mas sim relacionai De modo que elas permanecem indeterminadas ateacute que os agenciamentos a constituam enquanto tais afinal elas operam mediando formas particulares de engajamentos com o mundo Para notar enfim que o identificador ldquobiordquo aplica-se tambeacutem a teacutecnicas natildeo ligadas agrave medicina veja-se Ferreira (2008) sobre o transe associado agrave muacutesica eletrocircnica

Dado o escopo aqui fixado mdash a relaccedilatildeo entre o humano e a teacutecnica em face da modernidade - eacute preciso demorar um pouco mais nas novas teacutecnicas reprodutivas pois se instaura entre antropoacutelogos brasileiros um verdadeiro diaacutelogo marcado pela influecircncia consideraacutevel de Strathern (1992) e levando adiante por etnografias e elaboraccedilotildees analiacuteticas realizadas em diferentes direshyccedilotildees (Grossi et al 2003 Ramiacuterez-Gaacutelvez 2009) Nesse contexto Salem (1997) circunscreve alguns pontos de referecircncia dentre eles o emprego sisteshymaacutetico do aparato conceituai de Dumont o que demonstra o intuito de colocar em perspectiva a modernidade por meio de um de seus dilemas fulcrais Para ela ldquoo proacuteprio modo de formular o dilema envolvido na manipulaccedilatildeo de embriotildees evidencia que em uacuteltima instacircncia estaacute-se discutindo a Pessoa o que significa ser pessoa e quais as qualidades que instalam em um ser humano essa condiccedilatildeordquo (idem p 84)

Consequumlecircncia disso a condiccedilatildeo de inteligibilidade de toda a controshyveacutersia o suposto de seus diferentes argumentos eacute o Indiviacuteduo a categoria ocidental de pessoa Grosso modo a controveacutersia estaacute em se o embriatildeo eacute e ateacute quando tecido celular ou pessoa E isso se definiria a partir da localizaccedilatildeo de certas caracteriacutesticas instauradoras do indiviacuteduo que confluem para a ldquoposserdquo de certas qualidades ou marcos Independentemente de que sejam defendidos atributos morais ou bioloacutegicos trata-se sempre de ldquouma realidade inerente ao indiviacuteduordquo um ldquodomiacutenio autocontidordquo lsquologicamente anterior agraves relaccedilotildees soshyciaisrdquo (idem p 84) Daiacute emergem questotildees sobre o estatuto mesmo do emshybriatildeo (intra ou extracorpoacutereo) e de como hierarquizar seus ldquodireitosrdquo em relaccedilatildeo aos da matildee

C iecircncia e T eacutecnica 109

A partir de quadro teoacuterico proacuteximo ao de Salem (1997) mas trabashylhando com dados oriundos de etnografia sobre processos de reproduccedilatildeo assistida Naara Luna (2007a e 2007b) insiste na questatildeo sobre quais atribushytos confeririam ao embriatildeo subjetividade e identidade individual Ela nota entatildeo a transferecircncia dos criteacuterios de individualidade e autonomia do plano moral para o plano bioloacutegico afirmando que ocorre genetizaccedilatildeo ou biologizaccedilatildeo do parentesco o que se expressa de modo mais geral

A anaacutelise das novas tecnologias reprodutivas permite vislumbrar como Natureza e Cultura natildeo satildeo domiacutenios estanques mas que haacute um fluxo contiacutenuo de significados um intercacircmbio em que significados natushyrais satildeo culturalizados e significados culturais satildeo naturalizados A Natureza ora serve de m odelo agrave Cultura ora o entendimento pela Cultura se impotildee agrave Natureza (Luna 2004 p 152)

Exemplo disso eacute o sangue que comporta sentidos geneacuteticos (DNA) e de pertencimento familiar acionando a importacircncia do parentesco e da pesshysoa no acircmbito da heranccedila Ademais emergem do universo bioloacutegico novas figuras de parentesco e portanto de humanidade como ceacutelulas oacutevulos feshytos Igualmente se os limites da concepccedilatildeo do humano e das relaccedilotildees de parentesco satildeo redesenhados com as novas teacutecnicas reprodutivas ressignificam- se tambeacutem a paternidade e a maternidade (idem p 151)

E o que indica Fonseca (2005) sobre o exame de DNA para definiccedilatildeo de paternidade Aleacutem disso ela enfatiza que a verdade bioloacutegica abre um horizonte de novas duacutevidas negociaccedilotildees e dilemas em torno do estabelecishymento ou do rompimento de viacutenculos de parentesco Conclusatildeo proacutexima agrave que Machado (2008) avanccedila sobre a alteraccedilatildeo nas definiccedilotildees da intersexuali- dade quanto mais se aguccedila a detecccedilatildeo de traccedilos de veracidade a respeito da definiccedilatildeo do sexo mais afloram ambiguumlidades entre diferentes niacuteveis (anatocircmicogeneacutetico etc)

A partir de pesquisa sobre a tramitaccedilatildeo da Lei de Biosseguranccedila brasishyleira mdash que permitiu sob certas condiccedilotildees o uso de ceacutelulas tronco de embriotildees inviaacuteveis ou congelados e a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos mdash Cesarino (2006) faz contribuiccedilotildees importantes a este debate Notadamente ela proshymove uma articulaccedilatildeo entre a controveacutersia no campo poliacutetico-moral e o fator econocircmico enfrentando o problema de equacionar mercado e ciecircncia nos dilemas cosmoloacutegicos da modernidade Para compreender os sentidos do debate poliacutetico a respeito da Lei de Biosseguranccedila - articulando fatos cientiacutefishy

110 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

cos e mercadorias Cesarino associa de maneira muito oportuna certos asshypectos da Antropologia simeacutetrica latouriana com a teoria dumontiana espeshycialmente no que se refere agrave relaccedilatildeo entre o individualismo e a autonomia da economia na modernidade Assim se ldquoo indiviacuteduo eacute a forma assumida pelos humanos no ciacuterculo de trocas do livre-mercado a mercadoria seria a forma por excelecircncia de inserccedilatildeo dos natildeo humanos no mercado capitalistardquo (Cesarino 2006 p 204-205) Adiccedilatildeo importante jaacute que o indiviacuteduo natildeo eacute entatildeo o uacutenico suposto no debate sobre a Lei de Biosseguranccedila a mercadoria eacute o sushyposto oposto mdash a condiccedilatildeo das coisas No caso da permissatildeo para o uso de embriotildees ela se vale da noccedilatildeo de englobamento para mostrar como sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade as qualidades do indiviacuteshyduo puderam ser consideradas tatildeo diminuiacutedas no preacute-embriatildeo a ponto de permitir sua desumanizaccedilatildeo relativa e seu uso nas pesquisas na qualidade de parte do mundo natural passiacutevel de manipulaccedilatildeo (Cesarino 2007 p 373)

Identificando traccedilos gerais aos trabalhos comentados aqui ressalto a pershycepccedilatildeo de que as biotecnologias remetem agrave questatildeo da fronteira da humanidashyde mas que devem ser explorados frente aos quadros cosmoloacutegicos da modernidade Associado a isso temos a constataccedilatildeo de que estes permanecem muito bem assentados ainda que mobilizados de modo distinto Tanto em relaccedilatildeo agrave Lei de Biosseguranccedila como nos demais casos referidos a ciecircncia natildeo perde nada do seu vigor assim como a separaccedilatildeo entre cultura e natureza Seria o caso de dizer que se as inovaccedilotildees teacutecnicas causam reordenaccedilotildees importantes elas estatildeo longe de reconfigurar as bases da cosmologia moderna Ao menos no plano formal (poliacutetico legal ou meacutedico) as noccedilotildees fundamentais de Indiviacuteduo Mercado Natureza permanecem operando e organizando (ou estimulando) o funcionamento das novas teacutecnicas O que as etnografias mostram satildeo ajustes ldquopragmaacuteticosrdquo que evidenciam plasticidades significativas mas natildeo uma reordenaccedilatildeo Portanto alguns dos aspectos mais interessantes evidenciados peshylos estudos sobre os dilemas biotecnoloacutegicos satildeo o vigor e a agilidade com que suas categorias se rearranjam (mercado natureza indiviacuteduo) para dar conta dos fenocircmenos de fronteira

CiecircnciaEacute um traccedilo caracteriacutestico da Antropologia feita no Brasil o estudo da

proacutepria configuraccedilatildeo das Ciecircncias Sociais enquanto especialidades dentiacutefi- co-acadecircmicas Como observou Peirano haacute um conjunto de trabalhos nessa

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 11: Ciência e Técnica

106 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

inserccedilatildeo de objetos industrializados no meio indiacutegena (cf Ramos e Albert 2002) e de outro lado ao tracircnsito de objetos indiacutegenas no mundo natildeo indiacuteshygena particularmente nas situaccedilotildees de sua comercializaccedilatildeo e musealizaccedilatildeo Baseado em detalhado estudo sobre maacutescaras rituais xinguanas Barcelos Neto (2006 e 2008) estende-se a respeito dos muacuteltiplos sentidos da musealizaccedilatildeo inclusive na oacutetica indiacutegena tema de interesse crescente (por exemplo em Gordon e Silva 2005) Por fim eacute o caso de constatar que objetos (nos dois sentidos artefatos e temas de estudo) outrora relegados aos capiacutetulos sobre cultura mateshyrial ganham vida no cerne da etnologia contemporacircnea Penso que isso faz parte de um deslocamento mais amplo no modo de compreensatildeo das populashyccedilotildees indiacutegenasmdashde suas concepccedilotildees de humanidade e praacuteticas de socialidade mdash que daacute mostras de passar de modo cada vez mais intenso pelos natildeo humanosmdash artefatos animais espiacuteritos

Teacutecnicas do vivoDos trecircs temas definidos no escopo deste artigo este eacute sem duacutevida o

mais profuso e difuso de modo que sobressairaacute mais aqui o caraacuteter apenas indicativo das referecircncias e comentaacuterios De sorte que inicio lembrando que os termos teacutecnicatecnologiabiotecnologia satildeo recorrentes nos estudos sobre as praacuteticas de sauacutede em geral o mais das vezes conotando o processo messhymo de medicalizaccedilatildeo remetendo agraves dinacircmicas de construccedilatildeo de gecircnero e ou de subjetivaccedilatildeo com marcada influecircncia foucaultiana (a exemplo de Rohden 2004 Leibing 2004 Duarte e Leal 1998) Visto que a amplitude dessa produccedilatildeo escapa ao objetivo deste artigo interessaratildeo apenas aqueles estudos que lidam mais explicitamente com a questatildeo da teacutecnica como meshydiaccedilatildeo entre o humano e o natildeo humano na modernidade Ou seja os dedishycados aos problemas da fronteira ou da condiccedilatildeo do humano que remetem por assim dizer ao dilema do Ciborgue (Haraway 2000)

Os textos comentados a seguir apresentam como tema central o hushymano perpassado por suas proacuteprias teacutecnicas A hipoacutetese trazida aqui como criteacuterio de mapeamento eacute que a dramatiddade com que tal questatildeo se anunshycia soacute pode ser adequadamente apreciada na moldura da modernidade ocishydental Antes de tudo porque fora disso o drama tomar-se-ia banal- o humano sempre foi por definiccedilatildeo alvo de suas proacuteprias teacutecnicas (Leroi-Gourhan 1983 Neves 2006) Mas mesmo que se queira conceder preeminecircncia agraves especifi- cidades de nossa eacutepoca ainda assim a pertinecircncia antropoloacutegica do dilema do

C iecircncia e T eacutecnica 107

Ciborguemdashisto eacute do mal-estar com a teacutecnica modificando o seu autor mdash natildeo estaacute em se tratar de uma questatildeo referente ao advento da modernidade para a humanidade mas agraves redefiniccedilotildees do humano na modernidade Como os estudos antropoloacutegicos abaixo denotam por vias distintas a inquietaccedilatildeo geshyrada pelas biotecnologias no Ocidente moderno deve ser tratada como um fenocircmeno ecircmico cujas chaves de inteligibilidade estatildeo em sua proacutepria cosmologia

Uma das formas em que essa preocupaccedilatildeo se verifica eacute nas aproximashyccedilotildees aos modos de diagnoacutestico derivados do saber biomeacutedico Chazan (2007) trata do ultrassom obsteacutetrico que ao transportar o feto para o acircmbito da visualidade participa da reorganizaccedilatildeo da gestaccedilatildeo e da relaccedilatildeo com o feto As imagens e a forma como o ultrassom obsteacutetrico opera por meio da psicologizaccedilatildeo e da fisicalizaccedilatildeo do feto promovem sua existecircncia ldquosocialrdquo (isto eacute na forma do indiviacuteduo) antes do nascimento - a nomeaccedilatildeo passa a ocorrer quando da determinaccedilatildeo do sexo Entre as consequumlecircncias deste dispositivo estaacute sua utilizaccedilatildeo poliacutetica na controveacutersia sobre o aborto como prova da condiccedilatildeo de pessoa do feto e a constituiccedilatildeo do rito de visualizaccedilatildeo onde haacute algo de diagnoacutestico e algo de espetaacuteculo O exame pressupotildee algum aprendizado visual e gira em torno da fruiccedilatildeo das imashygens ldquodecifradasrdquo na tela

Investindo preferencialmente no desenvolvimento laboratorial de dishyagnoacutesticos Monteiro (2005) debruccedila-se sobre o surgimento de novos forshymatos de exame pautados na geneacutetica e na informaacutetica que buscam detectar biomarcadores de cacircncer de proacutestata O foco eacute na forma como interagem percepccedilotildees de corpo e de humano e no modo como estes aspectos associshyam-se no plano poliacutetico No contexto das academias de ginaacutestica delineei os modos de funcionamento da avaliaccedilatildeo antropomeacutetrica considerando o mashynejo das dimensotildees iacutentimas (psiacutequicas) e internas (fiacutesicas) do indiviacuteduo pela elaboraccedilatildeo socioteacutecnica da gordura (Sautchuk 2007) Jaacute Bonet (2004) trata justamente da constituiccedilatildeo do componente humano necessaacuterio aos disposishytivos de diagnoacutestico e terapecircutica pois enfoca o aprendizado praacutetico de meacutedicos em situaccedilatildeo de residecircncia

Haacute igualmente pesquisadores voltados ao transbordamento de discurshysos e dispositivos gerados no acircmbito da ciecircncia movendo a atenccedilatildeo do conshytexto de sua produccedilatildeo ou funcionamento para aquele da sua difusatildeo Veja-se os estudos sobre a forma como as neurociecircncias instituem novos marcadores de identificaccedilatildeo pessoal e de explicaccedilatildeo de sintomas enfim como estes disposhy

108 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

sitivos biomeacutedicos avanccedilam sobre o cotidiano extra-hospitalar seja contribushyindo agrave afirmaccedilatildeo de um ldquosujeito cerebralrdquo (Azize 20082010) seja possibishylitando o surgimento de um movimento de ldquoneurodiversidaderdquo que associa o individualismo com a noccedilatildeo de uma cultura cerebral (Ortega 2008) Sem mencionar aqui estudos voltados ao consumo de medicamentos assinalo que outra forma de explorar os desdobramentos da biotecnologia eacute enfocando seus usos com o fim de gerar os ditos estados de alteraccedilatildeo Vargas (2006 2008) considera as drogas enquanto objetos socioteacutecnicos que natildeo comporshytam sentido intriacutenseco absoluto ou essencial mas sim relacionai De modo que elas permanecem indeterminadas ateacute que os agenciamentos a constituam enquanto tais afinal elas operam mediando formas particulares de engajamentos com o mundo Para notar enfim que o identificador ldquobiordquo aplica-se tambeacutem a teacutecnicas natildeo ligadas agrave medicina veja-se Ferreira (2008) sobre o transe associado agrave muacutesica eletrocircnica

Dado o escopo aqui fixado mdash a relaccedilatildeo entre o humano e a teacutecnica em face da modernidade - eacute preciso demorar um pouco mais nas novas teacutecnicas reprodutivas pois se instaura entre antropoacutelogos brasileiros um verdadeiro diaacutelogo marcado pela influecircncia consideraacutevel de Strathern (1992) e levando adiante por etnografias e elaboraccedilotildees analiacuteticas realizadas em diferentes direshyccedilotildees (Grossi et al 2003 Ramiacuterez-Gaacutelvez 2009) Nesse contexto Salem (1997) circunscreve alguns pontos de referecircncia dentre eles o emprego sisteshymaacutetico do aparato conceituai de Dumont o que demonstra o intuito de colocar em perspectiva a modernidade por meio de um de seus dilemas fulcrais Para ela ldquoo proacuteprio modo de formular o dilema envolvido na manipulaccedilatildeo de embriotildees evidencia que em uacuteltima instacircncia estaacute-se discutindo a Pessoa o que significa ser pessoa e quais as qualidades que instalam em um ser humano essa condiccedilatildeordquo (idem p 84)

Consequumlecircncia disso a condiccedilatildeo de inteligibilidade de toda a controshyveacutersia o suposto de seus diferentes argumentos eacute o Indiviacuteduo a categoria ocidental de pessoa Grosso modo a controveacutersia estaacute em se o embriatildeo eacute e ateacute quando tecido celular ou pessoa E isso se definiria a partir da localizaccedilatildeo de certas caracteriacutesticas instauradoras do indiviacuteduo que confluem para a ldquoposserdquo de certas qualidades ou marcos Independentemente de que sejam defendidos atributos morais ou bioloacutegicos trata-se sempre de ldquouma realidade inerente ao indiviacuteduordquo um ldquodomiacutenio autocontidordquo lsquologicamente anterior agraves relaccedilotildees soshyciaisrdquo (idem p 84) Daiacute emergem questotildees sobre o estatuto mesmo do emshybriatildeo (intra ou extracorpoacutereo) e de como hierarquizar seus ldquodireitosrdquo em relaccedilatildeo aos da matildee

C iecircncia e T eacutecnica 109

A partir de quadro teoacuterico proacuteximo ao de Salem (1997) mas trabashylhando com dados oriundos de etnografia sobre processos de reproduccedilatildeo assistida Naara Luna (2007a e 2007b) insiste na questatildeo sobre quais atribushytos confeririam ao embriatildeo subjetividade e identidade individual Ela nota entatildeo a transferecircncia dos criteacuterios de individualidade e autonomia do plano moral para o plano bioloacutegico afirmando que ocorre genetizaccedilatildeo ou biologizaccedilatildeo do parentesco o que se expressa de modo mais geral

A anaacutelise das novas tecnologias reprodutivas permite vislumbrar como Natureza e Cultura natildeo satildeo domiacutenios estanques mas que haacute um fluxo contiacutenuo de significados um intercacircmbio em que significados natushyrais satildeo culturalizados e significados culturais satildeo naturalizados A Natureza ora serve de m odelo agrave Cultura ora o entendimento pela Cultura se impotildee agrave Natureza (Luna 2004 p 152)

Exemplo disso eacute o sangue que comporta sentidos geneacuteticos (DNA) e de pertencimento familiar acionando a importacircncia do parentesco e da pesshysoa no acircmbito da heranccedila Ademais emergem do universo bioloacutegico novas figuras de parentesco e portanto de humanidade como ceacutelulas oacutevulos feshytos Igualmente se os limites da concepccedilatildeo do humano e das relaccedilotildees de parentesco satildeo redesenhados com as novas teacutecnicas reprodutivas ressignificam- se tambeacutem a paternidade e a maternidade (idem p 151)

E o que indica Fonseca (2005) sobre o exame de DNA para definiccedilatildeo de paternidade Aleacutem disso ela enfatiza que a verdade bioloacutegica abre um horizonte de novas duacutevidas negociaccedilotildees e dilemas em torno do estabelecishymento ou do rompimento de viacutenculos de parentesco Conclusatildeo proacutexima agrave que Machado (2008) avanccedila sobre a alteraccedilatildeo nas definiccedilotildees da intersexuali- dade quanto mais se aguccedila a detecccedilatildeo de traccedilos de veracidade a respeito da definiccedilatildeo do sexo mais afloram ambiguumlidades entre diferentes niacuteveis (anatocircmicogeneacutetico etc)

A partir de pesquisa sobre a tramitaccedilatildeo da Lei de Biosseguranccedila brasishyleira mdash que permitiu sob certas condiccedilotildees o uso de ceacutelulas tronco de embriotildees inviaacuteveis ou congelados e a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos mdash Cesarino (2006) faz contribuiccedilotildees importantes a este debate Notadamente ela proshymove uma articulaccedilatildeo entre a controveacutersia no campo poliacutetico-moral e o fator econocircmico enfrentando o problema de equacionar mercado e ciecircncia nos dilemas cosmoloacutegicos da modernidade Para compreender os sentidos do debate poliacutetico a respeito da Lei de Biosseguranccedila - articulando fatos cientiacutefishy

110 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

cos e mercadorias Cesarino associa de maneira muito oportuna certos asshypectos da Antropologia simeacutetrica latouriana com a teoria dumontiana espeshycialmente no que se refere agrave relaccedilatildeo entre o individualismo e a autonomia da economia na modernidade Assim se ldquoo indiviacuteduo eacute a forma assumida pelos humanos no ciacuterculo de trocas do livre-mercado a mercadoria seria a forma por excelecircncia de inserccedilatildeo dos natildeo humanos no mercado capitalistardquo (Cesarino 2006 p 204-205) Adiccedilatildeo importante jaacute que o indiviacuteduo natildeo eacute entatildeo o uacutenico suposto no debate sobre a Lei de Biosseguranccedila a mercadoria eacute o sushyposto oposto mdash a condiccedilatildeo das coisas No caso da permissatildeo para o uso de embriotildees ela se vale da noccedilatildeo de englobamento para mostrar como sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade as qualidades do indiviacuteshyduo puderam ser consideradas tatildeo diminuiacutedas no preacute-embriatildeo a ponto de permitir sua desumanizaccedilatildeo relativa e seu uso nas pesquisas na qualidade de parte do mundo natural passiacutevel de manipulaccedilatildeo (Cesarino 2007 p 373)

Identificando traccedilos gerais aos trabalhos comentados aqui ressalto a pershycepccedilatildeo de que as biotecnologias remetem agrave questatildeo da fronteira da humanidashyde mas que devem ser explorados frente aos quadros cosmoloacutegicos da modernidade Associado a isso temos a constataccedilatildeo de que estes permanecem muito bem assentados ainda que mobilizados de modo distinto Tanto em relaccedilatildeo agrave Lei de Biosseguranccedila como nos demais casos referidos a ciecircncia natildeo perde nada do seu vigor assim como a separaccedilatildeo entre cultura e natureza Seria o caso de dizer que se as inovaccedilotildees teacutecnicas causam reordenaccedilotildees importantes elas estatildeo longe de reconfigurar as bases da cosmologia moderna Ao menos no plano formal (poliacutetico legal ou meacutedico) as noccedilotildees fundamentais de Indiviacuteduo Mercado Natureza permanecem operando e organizando (ou estimulando) o funcionamento das novas teacutecnicas O que as etnografias mostram satildeo ajustes ldquopragmaacuteticosrdquo que evidenciam plasticidades significativas mas natildeo uma reordenaccedilatildeo Portanto alguns dos aspectos mais interessantes evidenciados peshylos estudos sobre os dilemas biotecnoloacutegicos satildeo o vigor e a agilidade com que suas categorias se rearranjam (mercado natureza indiviacuteduo) para dar conta dos fenocircmenos de fronteira

CiecircnciaEacute um traccedilo caracteriacutestico da Antropologia feita no Brasil o estudo da

proacutepria configuraccedilatildeo das Ciecircncias Sociais enquanto especialidades dentiacutefi- co-acadecircmicas Como observou Peirano haacute um conjunto de trabalhos nessa

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 12: Ciência e Técnica

C iecircncia e T eacutecnica 107

Ciborguemdashisto eacute do mal-estar com a teacutecnica modificando o seu autor mdash natildeo estaacute em se tratar de uma questatildeo referente ao advento da modernidade para a humanidade mas agraves redefiniccedilotildees do humano na modernidade Como os estudos antropoloacutegicos abaixo denotam por vias distintas a inquietaccedilatildeo geshyrada pelas biotecnologias no Ocidente moderno deve ser tratada como um fenocircmeno ecircmico cujas chaves de inteligibilidade estatildeo em sua proacutepria cosmologia

Uma das formas em que essa preocupaccedilatildeo se verifica eacute nas aproximashyccedilotildees aos modos de diagnoacutestico derivados do saber biomeacutedico Chazan (2007) trata do ultrassom obsteacutetrico que ao transportar o feto para o acircmbito da visualidade participa da reorganizaccedilatildeo da gestaccedilatildeo e da relaccedilatildeo com o feto As imagens e a forma como o ultrassom obsteacutetrico opera por meio da psicologizaccedilatildeo e da fisicalizaccedilatildeo do feto promovem sua existecircncia ldquosocialrdquo (isto eacute na forma do indiviacuteduo) antes do nascimento - a nomeaccedilatildeo passa a ocorrer quando da determinaccedilatildeo do sexo Entre as consequumlecircncias deste dispositivo estaacute sua utilizaccedilatildeo poliacutetica na controveacutersia sobre o aborto como prova da condiccedilatildeo de pessoa do feto e a constituiccedilatildeo do rito de visualizaccedilatildeo onde haacute algo de diagnoacutestico e algo de espetaacuteculo O exame pressupotildee algum aprendizado visual e gira em torno da fruiccedilatildeo das imashygens ldquodecifradasrdquo na tela

Investindo preferencialmente no desenvolvimento laboratorial de dishyagnoacutesticos Monteiro (2005) debruccedila-se sobre o surgimento de novos forshymatos de exame pautados na geneacutetica e na informaacutetica que buscam detectar biomarcadores de cacircncer de proacutestata O foco eacute na forma como interagem percepccedilotildees de corpo e de humano e no modo como estes aspectos associshyam-se no plano poliacutetico No contexto das academias de ginaacutestica delineei os modos de funcionamento da avaliaccedilatildeo antropomeacutetrica considerando o mashynejo das dimensotildees iacutentimas (psiacutequicas) e internas (fiacutesicas) do indiviacuteduo pela elaboraccedilatildeo socioteacutecnica da gordura (Sautchuk 2007) Jaacute Bonet (2004) trata justamente da constituiccedilatildeo do componente humano necessaacuterio aos disposishytivos de diagnoacutestico e terapecircutica pois enfoca o aprendizado praacutetico de meacutedicos em situaccedilatildeo de residecircncia

Haacute igualmente pesquisadores voltados ao transbordamento de discurshysos e dispositivos gerados no acircmbito da ciecircncia movendo a atenccedilatildeo do conshytexto de sua produccedilatildeo ou funcionamento para aquele da sua difusatildeo Veja-se os estudos sobre a forma como as neurociecircncias instituem novos marcadores de identificaccedilatildeo pessoal e de explicaccedilatildeo de sintomas enfim como estes disposhy

108 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

sitivos biomeacutedicos avanccedilam sobre o cotidiano extra-hospitalar seja contribushyindo agrave afirmaccedilatildeo de um ldquosujeito cerebralrdquo (Azize 20082010) seja possibishylitando o surgimento de um movimento de ldquoneurodiversidaderdquo que associa o individualismo com a noccedilatildeo de uma cultura cerebral (Ortega 2008) Sem mencionar aqui estudos voltados ao consumo de medicamentos assinalo que outra forma de explorar os desdobramentos da biotecnologia eacute enfocando seus usos com o fim de gerar os ditos estados de alteraccedilatildeo Vargas (2006 2008) considera as drogas enquanto objetos socioteacutecnicos que natildeo comporshytam sentido intriacutenseco absoluto ou essencial mas sim relacionai De modo que elas permanecem indeterminadas ateacute que os agenciamentos a constituam enquanto tais afinal elas operam mediando formas particulares de engajamentos com o mundo Para notar enfim que o identificador ldquobiordquo aplica-se tambeacutem a teacutecnicas natildeo ligadas agrave medicina veja-se Ferreira (2008) sobre o transe associado agrave muacutesica eletrocircnica

Dado o escopo aqui fixado mdash a relaccedilatildeo entre o humano e a teacutecnica em face da modernidade - eacute preciso demorar um pouco mais nas novas teacutecnicas reprodutivas pois se instaura entre antropoacutelogos brasileiros um verdadeiro diaacutelogo marcado pela influecircncia consideraacutevel de Strathern (1992) e levando adiante por etnografias e elaboraccedilotildees analiacuteticas realizadas em diferentes direshyccedilotildees (Grossi et al 2003 Ramiacuterez-Gaacutelvez 2009) Nesse contexto Salem (1997) circunscreve alguns pontos de referecircncia dentre eles o emprego sisteshymaacutetico do aparato conceituai de Dumont o que demonstra o intuito de colocar em perspectiva a modernidade por meio de um de seus dilemas fulcrais Para ela ldquoo proacuteprio modo de formular o dilema envolvido na manipulaccedilatildeo de embriotildees evidencia que em uacuteltima instacircncia estaacute-se discutindo a Pessoa o que significa ser pessoa e quais as qualidades que instalam em um ser humano essa condiccedilatildeordquo (idem p 84)

Consequumlecircncia disso a condiccedilatildeo de inteligibilidade de toda a controshyveacutersia o suposto de seus diferentes argumentos eacute o Indiviacuteduo a categoria ocidental de pessoa Grosso modo a controveacutersia estaacute em se o embriatildeo eacute e ateacute quando tecido celular ou pessoa E isso se definiria a partir da localizaccedilatildeo de certas caracteriacutesticas instauradoras do indiviacuteduo que confluem para a ldquoposserdquo de certas qualidades ou marcos Independentemente de que sejam defendidos atributos morais ou bioloacutegicos trata-se sempre de ldquouma realidade inerente ao indiviacuteduordquo um ldquodomiacutenio autocontidordquo lsquologicamente anterior agraves relaccedilotildees soshyciaisrdquo (idem p 84) Daiacute emergem questotildees sobre o estatuto mesmo do emshybriatildeo (intra ou extracorpoacutereo) e de como hierarquizar seus ldquodireitosrdquo em relaccedilatildeo aos da matildee

C iecircncia e T eacutecnica 109

A partir de quadro teoacuterico proacuteximo ao de Salem (1997) mas trabashylhando com dados oriundos de etnografia sobre processos de reproduccedilatildeo assistida Naara Luna (2007a e 2007b) insiste na questatildeo sobre quais atribushytos confeririam ao embriatildeo subjetividade e identidade individual Ela nota entatildeo a transferecircncia dos criteacuterios de individualidade e autonomia do plano moral para o plano bioloacutegico afirmando que ocorre genetizaccedilatildeo ou biologizaccedilatildeo do parentesco o que se expressa de modo mais geral

A anaacutelise das novas tecnologias reprodutivas permite vislumbrar como Natureza e Cultura natildeo satildeo domiacutenios estanques mas que haacute um fluxo contiacutenuo de significados um intercacircmbio em que significados natushyrais satildeo culturalizados e significados culturais satildeo naturalizados A Natureza ora serve de m odelo agrave Cultura ora o entendimento pela Cultura se impotildee agrave Natureza (Luna 2004 p 152)

Exemplo disso eacute o sangue que comporta sentidos geneacuteticos (DNA) e de pertencimento familiar acionando a importacircncia do parentesco e da pesshysoa no acircmbito da heranccedila Ademais emergem do universo bioloacutegico novas figuras de parentesco e portanto de humanidade como ceacutelulas oacutevulos feshytos Igualmente se os limites da concepccedilatildeo do humano e das relaccedilotildees de parentesco satildeo redesenhados com as novas teacutecnicas reprodutivas ressignificam- se tambeacutem a paternidade e a maternidade (idem p 151)

E o que indica Fonseca (2005) sobre o exame de DNA para definiccedilatildeo de paternidade Aleacutem disso ela enfatiza que a verdade bioloacutegica abre um horizonte de novas duacutevidas negociaccedilotildees e dilemas em torno do estabelecishymento ou do rompimento de viacutenculos de parentesco Conclusatildeo proacutexima agrave que Machado (2008) avanccedila sobre a alteraccedilatildeo nas definiccedilotildees da intersexuali- dade quanto mais se aguccedila a detecccedilatildeo de traccedilos de veracidade a respeito da definiccedilatildeo do sexo mais afloram ambiguumlidades entre diferentes niacuteveis (anatocircmicogeneacutetico etc)

A partir de pesquisa sobre a tramitaccedilatildeo da Lei de Biosseguranccedila brasishyleira mdash que permitiu sob certas condiccedilotildees o uso de ceacutelulas tronco de embriotildees inviaacuteveis ou congelados e a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos mdash Cesarino (2006) faz contribuiccedilotildees importantes a este debate Notadamente ela proshymove uma articulaccedilatildeo entre a controveacutersia no campo poliacutetico-moral e o fator econocircmico enfrentando o problema de equacionar mercado e ciecircncia nos dilemas cosmoloacutegicos da modernidade Para compreender os sentidos do debate poliacutetico a respeito da Lei de Biosseguranccedila - articulando fatos cientiacutefishy

110 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

cos e mercadorias Cesarino associa de maneira muito oportuna certos asshypectos da Antropologia simeacutetrica latouriana com a teoria dumontiana espeshycialmente no que se refere agrave relaccedilatildeo entre o individualismo e a autonomia da economia na modernidade Assim se ldquoo indiviacuteduo eacute a forma assumida pelos humanos no ciacuterculo de trocas do livre-mercado a mercadoria seria a forma por excelecircncia de inserccedilatildeo dos natildeo humanos no mercado capitalistardquo (Cesarino 2006 p 204-205) Adiccedilatildeo importante jaacute que o indiviacuteduo natildeo eacute entatildeo o uacutenico suposto no debate sobre a Lei de Biosseguranccedila a mercadoria eacute o sushyposto oposto mdash a condiccedilatildeo das coisas No caso da permissatildeo para o uso de embriotildees ela se vale da noccedilatildeo de englobamento para mostrar como sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade as qualidades do indiviacuteshyduo puderam ser consideradas tatildeo diminuiacutedas no preacute-embriatildeo a ponto de permitir sua desumanizaccedilatildeo relativa e seu uso nas pesquisas na qualidade de parte do mundo natural passiacutevel de manipulaccedilatildeo (Cesarino 2007 p 373)

Identificando traccedilos gerais aos trabalhos comentados aqui ressalto a pershycepccedilatildeo de que as biotecnologias remetem agrave questatildeo da fronteira da humanidashyde mas que devem ser explorados frente aos quadros cosmoloacutegicos da modernidade Associado a isso temos a constataccedilatildeo de que estes permanecem muito bem assentados ainda que mobilizados de modo distinto Tanto em relaccedilatildeo agrave Lei de Biosseguranccedila como nos demais casos referidos a ciecircncia natildeo perde nada do seu vigor assim como a separaccedilatildeo entre cultura e natureza Seria o caso de dizer que se as inovaccedilotildees teacutecnicas causam reordenaccedilotildees importantes elas estatildeo longe de reconfigurar as bases da cosmologia moderna Ao menos no plano formal (poliacutetico legal ou meacutedico) as noccedilotildees fundamentais de Indiviacuteduo Mercado Natureza permanecem operando e organizando (ou estimulando) o funcionamento das novas teacutecnicas O que as etnografias mostram satildeo ajustes ldquopragmaacuteticosrdquo que evidenciam plasticidades significativas mas natildeo uma reordenaccedilatildeo Portanto alguns dos aspectos mais interessantes evidenciados peshylos estudos sobre os dilemas biotecnoloacutegicos satildeo o vigor e a agilidade com que suas categorias se rearranjam (mercado natureza indiviacuteduo) para dar conta dos fenocircmenos de fronteira

CiecircnciaEacute um traccedilo caracteriacutestico da Antropologia feita no Brasil o estudo da

proacutepria configuraccedilatildeo das Ciecircncias Sociais enquanto especialidades dentiacutefi- co-acadecircmicas Como observou Peirano haacute um conjunto de trabalhos nessa

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 13: Ciência e Técnica

108 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

sitivos biomeacutedicos avanccedilam sobre o cotidiano extra-hospitalar seja contribushyindo agrave afirmaccedilatildeo de um ldquosujeito cerebralrdquo (Azize 20082010) seja possibishylitando o surgimento de um movimento de ldquoneurodiversidaderdquo que associa o individualismo com a noccedilatildeo de uma cultura cerebral (Ortega 2008) Sem mencionar aqui estudos voltados ao consumo de medicamentos assinalo que outra forma de explorar os desdobramentos da biotecnologia eacute enfocando seus usos com o fim de gerar os ditos estados de alteraccedilatildeo Vargas (2006 2008) considera as drogas enquanto objetos socioteacutecnicos que natildeo comporshytam sentido intriacutenseco absoluto ou essencial mas sim relacionai De modo que elas permanecem indeterminadas ateacute que os agenciamentos a constituam enquanto tais afinal elas operam mediando formas particulares de engajamentos com o mundo Para notar enfim que o identificador ldquobiordquo aplica-se tambeacutem a teacutecnicas natildeo ligadas agrave medicina veja-se Ferreira (2008) sobre o transe associado agrave muacutesica eletrocircnica

Dado o escopo aqui fixado mdash a relaccedilatildeo entre o humano e a teacutecnica em face da modernidade - eacute preciso demorar um pouco mais nas novas teacutecnicas reprodutivas pois se instaura entre antropoacutelogos brasileiros um verdadeiro diaacutelogo marcado pela influecircncia consideraacutevel de Strathern (1992) e levando adiante por etnografias e elaboraccedilotildees analiacuteticas realizadas em diferentes direshyccedilotildees (Grossi et al 2003 Ramiacuterez-Gaacutelvez 2009) Nesse contexto Salem (1997) circunscreve alguns pontos de referecircncia dentre eles o emprego sisteshymaacutetico do aparato conceituai de Dumont o que demonstra o intuito de colocar em perspectiva a modernidade por meio de um de seus dilemas fulcrais Para ela ldquoo proacuteprio modo de formular o dilema envolvido na manipulaccedilatildeo de embriotildees evidencia que em uacuteltima instacircncia estaacute-se discutindo a Pessoa o que significa ser pessoa e quais as qualidades que instalam em um ser humano essa condiccedilatildeordquo (idem p 84)

Consequumlecircncia disso a condiccedilatildeo de inteligibilidade de toda a controshyveacutersia o suposto de seus diferentes argumentos eacute o Indiviacuteduo a categoria ocidental de pessoa Grosso modo a controveacutersia estaacute em se o embriatildeo eacute e ateacute quando tecido celular ou pessoa E isso se definiria a partir da localizaccedilatildeo de certas caracteriacutesticas instauradoras do indiviacuteduo que confluem para a ldquoposserdquo de certas qualidades ou marcos Independentemente de que sejam defendidos atributos morais ou bioloacutegicos trata-se sempre de ldquouma realidade inerente ao indiviacuteduordquo um ldquodomiacutenio autocontidordquo lsquologicamente anterior agraves relaccedilotildees soshyciaisrdquo (idem p 84) Daiacute emergem questotildees sobre o estatuto mesmo do emshybriatildeo (intra ou extracorpoacutereo) e de como hierarquizar seus ldquodireitosrdquo em relaccedilatildeo aos da matildee

C iecircncia e T eacutecnica 109

A partir de quadro teoacuterico proacuteximo ao de Salem (1997) mas trabashylhando com dados oriundos de etnografia sobre processos de reproduccedilatildeo assistida Naara Luna (2007a e 2007b) insiste na questatildeo sobre quais atribushytos confeririam ao embriatildeo subjetividade e identidade individual Ela nota entatildeo a transferecircncia dos criteacuterios de individualidade e autonomia do plano moral para o plano bioloacutegico afirmando que ocorre genetizaccedilatildeo ou biologizaccedilatildeo do parentesco o que se expressa de modo mais geral

A anaacutelise das novas tecnologias reprodutivas permite vislumbrar como Natureza e Cultura natildeo satildeo domiacutenios estanques mas que haacute um fluxo contiacutenuo de significados um intercacircmbio em que significados natushyrais satildeo culturalizados e significados culturais satildeo naturalizados A Natureza ora serve de m odelo agrave Cultura ora o entendimento pela Cultura se impotildee agrave Natureza (Luna 2004 p 152)

Exemplo disso eacute o sangue que comporta sentidos geneacuteticos (DNA) e de pertencimento familiar acionando a importacircncia do parentesco e da pesshysoa no acircmbito da heranccedila Ademais emergem do universo bioloacutegico novas figuras de parentesco e portanto de humanidade como ceacutelulas oacutevulos feshytos Igualmente se os limites da concepccedilatildeo do humano e das relaccedilotildees de parentesco satildeo redesenhados com as novas teacutecnicas reprodutivas ressignificam- se tambeacutem a paternidade e a maternidade (idem p 151)

E o que indica Fonseca (2005) sobre o exame de DNA para definiccedilatildeo de paternidade Aleacutem disso ela enfatiza que a verdade bioloacutegica abre um horizonte de novas duacutevidas negociaccedilotildees e dilemas em torno do estabelecishymento ou do rompimento de viacutenculos de parentesco Conclusatildeo proacutexima agrave que Machado (2008) avanccedila sobre a alteraccedilatildeo nas definiccedilotildees da intersexuali- dade quanto mais se aguccedila a detecccedilatildeo de traccedilos de veracidade a respeito da definiccedilatildeo do sexo mais afloram ambiguumlidades entre diferentes niacuteveis (anatocircmicogeneacutetico etc)

A partir de pesquisa sobre a tramitaccedilatildeo da Lei de Biosseguranccedila brasishyleira mdash que permitiu sob certas condiccedilotildees o uso de ceacutelulas tronco de embriotildees inviaacuteveis ou congelados e a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos mdash Cesarino (2006) faz contribuiccedilotildees importantes a este debate Notadamente ela proshymove uma articulaccedilatildeo entre a controveacutersia no campo poliacutetico-moral e o fator econocircmico enfrentando o problema de equacionar mercado e ciecircncia nos dilemas cosmoloacutegicos da modernidade Para compreender os sentidos do debate poliacutetico a respeito da Lei de Biosseguranccedila - articulando fatos cientiacutefishy

110 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

cos e mercadorias Cesarino associa de maneira muito oportuna certos asshypectos da Antropologia simeacutetrica latouriana com a teoria dumontiana espeshycialmente no que se refere agrave relaccedilatildeo entre o individualismo e a autonomia da economia na modernidade Assim se ldquoo indiviacuteduo eacute a forma assumida pelos humanos no ciacuterculo de trocas do livre-mercado a mercadoria seria a forma por excelecircncia de inserccedilatildeo dos natildeo humanos no mercado capitalistardquo (Cesarino 2006 p 204-205) Adiccedilatildeo importante jaacute que o indiviacuteduo natildeo eacute entatildeo o uacutenico suposto no debate sobre a Lei de Biosseguranccedila a mercadoria eacute o sushyposto oposto mdash a condiccedilatildeo das coisas No caso da permissatildeo para o uso de embriotildees ela se vale da noccedilatildeo de englobamento para mostrar como sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade as qualidades do indiviacuteshyduo puderam ser consideradas tatildeo diminuiacutedas no preacute-embriatildeo a ponto de permitir sua desumanizaccedilatildeo relativa e seu uso nas pesquisas na qualidade de parte do mundo natural passiacutevel de manipulaccedilatildeo (Cesarino 2007 p 373)

Identificando traccedilos gerais aos trabalhos comentados aqui ressalto a pershycepccedilatildeo de que as biotecnologias remetem agrave questatildeo da fronteira da humanidashyde mas que devem ser explorados frente aos quadros cosmoloacutegicos da modernidade Associado a isso temos a constataccedilatildeo de que estes permanecem muito bem assentados ainda que mobilizados de modo distinto Tanto em relaccedilatildeo agrave Lei de Biosseguranccedila como nos demais casos referidos a ciecircncia natildeo perde nada do seu vigor assim como a separaccedilatildeo entre cultura e natureza Seria o caso de dizer que se as inovaccedilotildees teacutecnicas causam reordenaccedilotildees importantes elas estatildeo longe de reconfigurar as bases da cosmologia moderna Ao menos no plano formal (poliacutetico legal ou meacutedico) as noccedilotildees fundamentais de Indiviacuteduo Mercado Natureza permanecem operando e organizando (ou estimulando) o funcionamento das novas teacutecnicas O que as etnografias mostram satildeo ajustes ldquopragmaacuteticosrdquo que evidenciam plasticidades significativas mas natildeo uma reordenaccedilatildeo Portanto alguns dos aspectos mais interessantes evidenciados peshylos estudos sobre os dilemas biotecnoloacutegicos satildeo o vigor e a agilidade com que suas categorias se rearranjam (mercado natureza indiviacuteduo) para dar conta dos fenocircmenos de fronteira

CiecircnciaEacute um traccedilo caracteriacutestico da Antropologia feita no Brasil o estudo da

proacutepria configuraccedilatildeo das Ciecircncias Sociais enquanto especialidades dentiacutefi- co-acadecircmicas Como observou Peirano haacute um conjunto de trabalhos nessa

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 14: Ciência e Técnica

C iecircncia e T eacutecnica 109

A partir de quadro teoacuterico proacuteximo ao de Salem (1997) mas trabashylhando com dados oriundos de etnografia sobre processos de reproduccedilatildeo assistida Naara Luna (2007a e 2007b) insiste na questatildeo sobre quais atribushytos confeririam ao embriatildeo subjetividade e identidade individual Ela nota entatildeo a transferecircncia dos criteacuterios de individualidade e autonomia do plano moral para o plano bioloacutegico afirmando que ocorre genetizaccedilatildeo ou biologizaccedilatildeo do parentesco o que se expressa de modo mais geral

A anaacutelise das novas tecnologias reprodutivas permite vislumbrar como Natureza e Cultura natildeo satildeo domiacutenios estanques mas que haacute um fluxo contiacutenuo de significados um intercacircmbio em que significados natushyrais satildeo culturalizados e significados culturais satildeo naturalizados A Natureza ora serve de m odelo agrave Cultura ora o entendimento pela Cultura se impotildee agrave Natureza (Luna 2004 p 152)

Exemplo disso eacute o sangue que comporta sentidos geneacuteticos (DNA) e de pertencimento familiar acionando a importacircncia do parentesco e da pesshysoa no acircmbito da heranccedila Ademais emergem do universo bioloacutegico novas figuras de parentesco e portanto de humanidade como ceacutelulas oacutevulos feshytos Igualmente se os limites da concepccedilatildeo do humano e das relaccedilotildees de parentesco satildeo redesenhados com as novas teacutecnicas reprodutivas ressignificam- se tambeacutem a paternidade e a maternidade (idem p 151)

E o que indica Fonseca (2005) sobre o exame de DNA para definiccedilatildeo de paternidade Aleacutem disso ela enfatiza que a verdade bioloacutegica abre um horizonte de novas duacutevidas negociaccedilotildees e dilemas em torno do estabelecishymento ou do rompimento de viacutenculos de parentesco Conclusatildeo proacutexima agrave que Machado (2008) avanccedila sobre a alteraccedilatildeo nas definiccedilotildees da intersexuali- dade quanto mais se aguccedila a detecccedilatildeo de traccedilos de veracidade a respeito da definiccedilatildeo do sexo mais afloram ambiguumlidades entre diferentes niacuteveis (anatocircmicogeneacutetico etc)

A partir de pesquisa sobre a tramitaccedilatildeo da Lei de Biosseguranccedila brasishyleira mdash que permitiu sob certas condiccedilotildees o uso de ceacutelulas tronco de embriotildees inviaacuteveis ou congelados e a produccedilatildeo de alimentos transgecircnicos mdash Cesarino (2006) faz contribuiccedilotildees importantes a este debate Notadamente ela proshymove uma articulaccedilatildeo entre a controveacutersia no campo poliacutetico-moral e o fator econocircmico enfrentando o problema de equacionar mercado e ciecircncia nos dilemas cosmoloacutegicos da modernidade Para compreender os sentidos do debate poliacutetico a respeito da Lei de Biosseguranccedila - articulando fatos cientiacutefishy

110 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

cos e mercadorias Cesarino associa de maneira muito oportuna certos asshypectos da Antropologia simeacutetrica latouriana com a teoria dumontiana espeshycialmente no que se refere agrave relaccedilatildeo entre o individualismo e a autonomia da economia na modernidade Assim se ldquoo indiviacuteduo eacute a forma assumida pelos humanos no ciacuterculo de trocas do livre-mercado a mercadoria seria a forma por excelecircncia de inserccedilatildeo dos natildeo humanos no mercado capitalistardquo (Cesarino 2006 p 204-205) Adiccedilatildeo importante jaacute que o indiviacuteduo natildeo eacute entatildeo o uacutenico suposto no debate sobre a Lei de Biosseguranccedila a mercadoria eacute o sushyposto oposto mdash a condiccedilatildeo das coisas No caso da permissatildeo para o uso de embriotildees ela se vale da noccedilatildeo de englobamento para mostrar como sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade as qualidades do indiviacuteshyduo puderam ser consideradas tatildeo diminuiacutedas no preacute-embriatildeo a ponto de permitir sua desumanizaccedilatildeo relativa e seu uso nas pesquisas na qualidade de parte do mundo natural passiacutevel de manipulaccedilatildeo (Cesarino 2007 p 373)

Identificando traccedilos gerais aos trabalhos comentados aqui ressalto a pershycepccedilatildeo de que as biotecnologias remetem agrave questatildeo da fronteira da humanidashyde mas que devem ser explorados frente aos quadros cosmoloacutegicos da modernidade Associado a isso temos a constataccedilatildeo de que estes permanecem muito bem assentados ainda que mobilizados de modo distinto Tanto em relaccedilatildeo agrave Lei de Biosseguranccedila como nos demais casos referidos a ciecircncia natildeo perde nada do seu vigor assim como a separaccedilatildeo entre cultura e natureza Seria o caso de dizer que se as inovaccedilotildees teacutecnicas causam reordenaccedilotildees importantes elas estatildeo longe de reconfigurar as bases da cosmologia moderna Ao menos no plano formal (poliacutetico legal ou meacutedico) as noccedilotildees fundamentais de Indiviacuteduo Mercado Natureza permanecem operando e organizando (ou estimulando) o funcionamento das novas teacutecnicas O que as etnografias mostram satildeo ajustes ldquopragmaacuteticosrdquo que evidenciam plasticidades significativas mas natildeo uma reordenaccedilatildeo Portanto alguns dos aspectos mais interessantes evidenciados peshylos estudos sobre os dilemas biotecnoloacutegicos satildeo o vigor e a agilidade com que suas categorias se rearranjam (mercado natureza indiviacuteduo) para dar conta dos fenocircmenos de fronteira

CiecircnciaEacute um traccedilo caracteriacutestico da Antropologia feita no Brasil o estudo da

proacutepria configuraccedilatildeo das Ciecircncias Sociais enquanto especialidades dentiacutefi- co-acadecircmicas Como observou Peirano haacute um conjunto de trabalhos nessa

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 15: Ciência e Técnica

110 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

cos e mercadorias Cesarino associa de maneira muito oportuna certos asshypectos da Antropologia simeacutetrica latouriana com a teoria dumontiana espeshycialmente no que se refere agrave relaccedilatildeo entre o individualismo e a autonomia da economia na modernidade Assim se ldquoo indiviacuteduo eacute a forma assumida pelos humanos no ciacuterculo de trocas do livre-mercado a mercadoria seria a forma por excelecircncia de inserccedilatildeo dos natildeo humanos no mercado capitalistardquo (Cesarino 2006 p 204-205) Adiccedilatildeo importante jaacute que o indiviacuteduo natildeo eacute entatildeo o uacutenico suposto no debate sobre a Lei de Biosseguranccedila a mercadoria eacute o sushyposto oposto mdash a condiccedilatildeo das coisas No caso da permissatildeo para o uso de embriotildees ela se vale da noccedilatildeo de englobamento para mostrar como sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade as qualidades do indiviacuteshyduo puderam ser consideradas tatildeo diminuiacutedas no preacute-embriatildeo a ponto de permitir sua desumanizaccedilatildeo relativa e seu uso nas pesquisas na qualidade de parte do mundo natural passiacutevel de manipulaccedilatildeo (Cesarino 2007 p 373)

Identificando traccedilos gerais aos trabalhos comentados aqui ressalto a pershycepccedilatildeo de que as biotecnologias remetem agrave questatildeo da fronteira da humanidashyde mas que devem ser explorados frente aos quadros cosmoloacutegicos da modernidade Associado a isso temos a constataccedilatildeo de que estes permanecem muito bem assentados ainda que mobilizados de modo distinto Tanto em relaccedilatildeo agrave Lei de Biosseguranccedila como nos demais casos referidos a ciecircncia natildeo perde nada do seu vigor assim como a separaccedilatildeo entre cultura e natureza Seria o caso de dizer que se as inovaccedilotildees teacutecnicas causam reordenaccedilotildees importantes elas estatildeo longe de reconfigurar as bases da cosmologia moderna Ao menos no plano formal (poliacutetico legal ou meacutedico) as noccedilotildees fundamentais de Indiviacuteduo Mercado Natureza permanecem operando e organizando (ou estimulando) o funcionamento das novas teacutecnicas O que as etnografias mostram satildeo ajustes ldquopragmaacuteticosrdquo que evidenciam plasticidades significativas mas natildeo uma reordenaccedilatildeo Portanto alguns dos aspectos mais interessantes evidenciados peshylos estudos sobre os dilemas biotecnoloacutegicos satildeo o vigor e a agilidade com que suas categorias se rearranjam (mercado natureza indiviacuteduo) para dar conta dos fenocircmenos de fronteira

CiecircnciaEacute um traccedilo caracteriacutestico da Antropologia feita no Brasil o estudo da

proacutepria configuraccedilatildeo das Ciecircncias Sociais enquanto especialidades dentiacutefi- co-acadecircmicas Como observou Peirano haacute um conjunto de trabalhos nessa

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 16: Ciência e Técnica

C iecircncia e T eacutecnica 111

direccedilatildeo que apresentam ldquoo propoacutesito mais amplo de compreender a ciecircncia como manifestaccedilatildeo da modernidaderdquo (Peirano 1999 p 244) Tal eacute seu espashyccedilo na Antropologia feita no Brasil que estes trabalhos compotildeem uma das quatro denominaccedilotildees usadas pela autora para mapear a produccedilatildeo nacional Deve-se acrescentar que esse tema daacute mostras de atualidade a exemplo do estudo de Garcia Jr (2009) sobre a configuraccedilatildeo dos programas de poacutes- graduaccedilatildeo e as diferentes correntes de pensamento Tem igualmente se dishyversificado pois tambeacutem a praacutetica de antropoacutelogos vinculados diretamente ao Estado e agraves organizaccedilotildees natildeo governamentais que tem se expandido nas uacuteltimas deacutecadas (tanto como peritos na esfera juriacutedica quanto como teacutecnishycos na esfera administrativa) eacute alvo de uma autorreflexatildeo que se afigura cada vez mais intensa e urgente (Silva et at 1994 Leite 2005 Silva 2008 e Leitatildeo 2009) O eixo dessa reflexatildeo entretanto volta-se predominantemente para a anaacutelise do papel desempenhado pelo antropoacutelogo e para as questotildees daiacute derivadas - poliacuteticas eacuteticas juriacutedicas e epistemoloacutegicas

Se essa abordagem antropoloacutegica em tomo da praacutetica cientiacutefica quando dirigida agrave proacutepria Antropologia parece comum no cenaacuterio brasileiro seu avanccedilo sobre outros empreendimentos cientiacutefico-acadecircmicos eacute menos evishydente a ponto de exigir se natildeo um esforccedilo explicativo ao menos um gesto de afirmaccedilatildeo (cf Viveiros de Castro 2003 Marras e Saacute 2005 Monteiro 20062010 Branquinho e Santos 2007) Uma das razotildees eacute que estes trabashylhos tecircm origem mais recente que recua no maacuteximo agrave uacuteltima deacutecada do seacuteculo passado

Pode-se detectar nessa produccedilatildeo duas orientaccedilotildees ou dois momenshytos distintos Sem falar das publicaccedilotildees de escopo mais abrangente tratando de modo geral da ciecircncia e suas crises (Ribeiro 1999 El Far e Hikiji 1998) haacute pesquisas sobre manifestaccedilotildees particulares da atividade cientiacutefica que manshytecircm em primeiro plano o interesse por investigar suas relaccedilotildees com os aspecshytos constitutivos da modernidade

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinacircmica interna agrave ciecircncia - a fala e o fazer dos cientistas - no centro da reflexatildeo antropoloacutegica eacute empreendido por Aranha Filho (19902002) enfocando a busca por inteligecircncia extraterrestre na astronomia moderna Mais especifishycamente a mensagem enviada a bordo da espaccedilonave natildeo tripulada 1Yqyager destinada a vagar indefinidamente pelo espaccedilo sideral A proacutepria escolha do material empiacuterico sobre o qual se desenvolve o estudo eacute sintomaacutetica O autor analisa publicaccedilotildees de cientistas como Carl Sagan referentes ao projeto

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 17: Ciência e Técnica

112 C a rlos E m an u el Sa u tc h u k

de busca por contato com alguma inteligecircncia extraterrestre demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenocircmeno Ovni (Objetos Voashydores Natildeo Identificados) e a ficccedilatildeo cientiacutefica Esses tambeacutem foram tema de antropoacutelogos brasileiros considerados enquanto mitos modernos (FerreiraNeto 1984 Leirner 1992 Lourenccedilo 2000)6 mas Aranha Filho opta por visar agrave proacutepria atividade cientiacutefica Desse modo o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que estaacute em tomo da ciecircncia - seu contexto ou desdobramentos mdashpara explorar justamente o cerne de sua atividade os paracircmetros que regem sua racionalidade e seu fazer Ele delineia entatildeo os viacutenculos da mensagem da Voyager com questotildees fundamentais para a modernidade ocidental como a relaccedilatildeo entre humanidade civilizaccedilatildeo e evoluccedilatildeo teacutecnica

Para Aranha Filho (1990 p 189) a mensagem tem uma funccedilatildeo relativa ao proacuteprio objetivo da espaccedilonave jaacute que ela ldquodesempenha uma funccedilatildeo simboacuteshylica complementar procurando compensar o caraacuteter de investida unilateral da sondardquo Ou seja contrabalanccedilando o desiacutegnio principal da nave de exploraccedilatildeo o disco doa informaccedilotildees sauacuteda e revela algo sobre noacutesmdashembaixador amistoso ao inveacutes de espiatildeo curiosidade cientiacutefica e natildeo apenas territorialidade militar Mas nem por isso o autor deixa de ressaltar as ldquofunccedilotildees terrestresrsquo rsquo da mensagem jaacute que ela se constitui em convite ao intercacircmbio sideral com base no autorretrato genealoacutegico da humanidade na perspectiva da civilizaccedilatildeo oddentaL Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanccedilas) do projeto de busca por inteligecircncia extratershyrestre em relaccedilatildeo agrave ufologia o autor caracteriza o extraterrestre como um outro para certa manifestaccedilatildeo do pensamento oddental que no periacuteodo poacutes-colonial se considera em uma solidatildeo coacutesmica ldquoseja pela violecircncia rubra do extermiacutenio ou pela branca da aculturaccedilatildeo o resultado eacute o mesmo a globalizaccedilatildeo da cultura ocidental fez-se ao preccedilo da extinccedilatildeo do outro ou melhor do exteriorrdquo (1990 p 208) Daiacute a premecircnda da instauraccedilatildeo (coacutesmica e dentiacutefica) de uma alteridade com a qual transacionar Portanto este trabalho tem o meacuterito de voltar o alvo da reflexatildeo antropoloacutegica para processos e loacutegicas constitutivos da ciecircncia enshyquanto tal e natildeo apenas a seu contexto mostrando como a decircnda opera atraveacutes das categorias fundantes da modernidade

O professor Martin A Ibanez-Novion propunha outro modo de aproximaccedilatildeo agrave ficccedilatildeo cientiacutefica Nos cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000 pouco antes de falecer ele argumentava que as vertentes cinematograacutefica e literaacuteria da ficccedilatildeo cientiacutefica satildeo dotadas de um potencial heuriacutestico intriacutenseco mdash satildeo uma espeacutecie de vanguarshyda do pensamento sobre a ciecircncia e a teacutecnica de modo que caberia ao antropoacutelogo estabelecer uma aproximaccedilatildeo e notar seu caraacuteter ativo no pensar sobre a contemporaneidade e o futuro mais do que tomaacute-las apenas na qualidade de objetos de anaacutelise

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 18: Ciência e Técnica

C iecircn cia e T eacutecnica 113

Em movimento semelhante a esse mas jaacute refletindo a difusatildeo na Anshytropologia local das propostas teoacuterico-metodoloacutegicas oriundas dos estudos sociais da ciecircncia Saacute (2002 e 2004) ressalta as associaccedilotildees entre argumentos de matizes cientiacutefico e religioso nos debates sobre o Projeto Genoma Humano O trabalho tambeacutem natildeo se deteacutem na ideia de que a ciecircncia eacute uma forma de religiatildeo ou um mito moderno assim como natildeo se limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noccedilatildeo de humanidade una apelando agraves noccedilotildees de natureza e espiacuterito Saacute ressalta justamente que essa fronshyteira natildeo eacute tatildeo bem definida o que fica demonstrado pelo fato de haver bioacutelogos lanccedilando matildeo de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar e justificar suas descobertas ao passo que religiosos buscam subshysiacutedios elaborados nas pesquisas cientiacuteficas para sustentar suas formulaccedilotildees

A ideia moderna de distinccedilatildeo radical entre ciecircncia e religiatildeo (ou verdade e crenccedila) eacute em grande medida vinculada agrave dicotomia entre natureza e cultura que aparece como uma espeacutecie de noacutedulo gerador das principais questotildees antropoloacutegicas nos estudos sobre a ciecircncia E o que evidenda por exemplo o estudo de Marras (2002) sobre o modo como a induacutestria farmacecircutica busca subtrair da experiecircncia laboratorial toda manifestaccedilatildeo subjetiva como o ldquoefeishyto placebordquo ou a ldquosugestatildeordquo na elaboraccedilatildeo de um medicamento Ocorre que malgrado os recursos investidos isso natildeo se realizamdasho medicamento permashynece sempre um hiacutebrido de moleacutecula biologicamente ativa e efeitos de ldquosugesshytatildeordquo Inspirado no argumento de Pignarre (1999) Marras afirma que dada a impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo o medicashymento assenta-se em uma verdade estatiacutestica disso resulta que apesar de tudo sua eficaacutecia comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais

Esses estudos mostram que a proacutepria praacutetica cientiacutefica natildeo pode ser distinguida de modo absoluto da poliacutetica da religiatildeo dos fatores subjetishyvos Poreacutem Marras aponta que a matriz dualista - naturezacultura - revela- se fraacutegil sobretudo ldquoquando enfim entramos empiricamente num laboratoacuterio e acompanhamosparipassu a feitura do fato [] desde a nascente da ciecircncia dura ateacute enfim surpreendermos a construccedilatildeo do dadordquo (2002 p 128) E a partir deste tipo de convicccedilatildeo que se instaura o que podemos chamar de outra fase da abordagem da ciecircncia entre antropoacutelogos brasileiros associando Anshytropologia da ciecircncia e etnografia de laboratoacuterio Busca-se assim verificar o surgimento dos fatos cientiacuteficos a partir do cotidiano da ciecircncia implementando alternativas interpretativas agrave visatildeo geneacuterica da Ciecircncia e tambeacutem agrave anaacutelise dos fatos jaacute consumados Nesse sentido a influecircncia de autores comoLatour (1994

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 19: Ciência e Técnica

114 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

1997) eacute notaacutevel tanto nas proposiccedilotildees metodoloacutegicas quanto na criacutetica aos desdobramentos analiacuteticos do dualismo naturezaculturamdashseja o realismo-na- turalismo ou o construtivismo-sociologismo (Marras e Saacute 2005)

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciecircncia eacute o estudo desenvolshyvido por Saacute (2006) entre primatoacutelogos no interior de Minas Gerais pois lanccedila matildeo da observaccedilatildeo participante para estudar a atividade de pesquisa Envolvendo-se no cotidiano da relaccedilatildeo entre cientistas e primatas Saacute vai aleacutem de frisar os viacutenculos entre a praacutetica cientiacutefica e os traccedilos marcantes da modernidade Ao deparar-se com a ldquopersonificaccedilatildeordquo atraveacutes da qual os cishyentistas tratam os macacos o autor traccedila um quadro interpretativo elaborashydo buscando associar a visatildeo objetificante (ou purificante no jargatildeo dos estudos sociais da ciecircncia) proacutepria agrave empresa cientiacutefica e a construccedilatildeo intersubjetiva do pesquisador e do alvo da pesquisa Atento aos discursos oficiais e oficiosos Saacute natildeo faz uma inversatildeo simplista que afirmaria serem os primatoacutelogos animistas por definiccedilatildeo ldquotrata-se [] de um tipo de curto- circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona seshygundo a loacutegica naturalistardquo (2006 p 170) Ademais natildeo cabe falar em projeccedilatildeo de caracteriacutesticas humanas sobre os macacos jaacute que natildeo somente os primatas se constituem na relaccedilatildeo com o cientista mas o inverso tambeacutem

Uma das conclusotildees de cunho mais abrangente portanto eacute que a distribuiccedilatildeo dos traccedilos de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas natildeo eacute dada mas merece ser etnografada Entre primatoacutelogos e primatas a praacutetica cientiacutefica caracteriza-se como relaccedilatildeo intersubjetiva a nomeaccedilatildeo dos macacos por exemplo tem a dupla funccedilatildeo de batizar os filhotes natildeo humanos e iniciar os neoacutefitos humanos enquanto primatoacutelogos (Saacute 2006 p 135) Saacute adiciona ainda outro plano a esta anaacutelise ligado ao fato de que o antropoacutelogo eacute tambeacutem cientista a semelhanccedila dos ofiacutecios acarreta alguns aspectos particulares agrave aproximaccedilatildeo etnograacutefica Daiacute resultam conclushysotildees epistemoloacutegicas importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciecircncia levando-o a propor uma ldquoAntropologia da aproximaccedilatildeordquo em que entram em relaccedilatildeo pelo menos trecircs planos de objetivaccedilatildeo e subjetivaccedilatildeo o ldquoobjetordquo o cientista e o antropoacutelogo

E preciso ressaltar que vem crescendo o nuacutemero de etnografias de proshycessos cientiacuteficos e um breve panorama aponta a diversificaccedilatildeo dos temas obtenccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bioatmosfeacutericas da Amazocircnia (Walford 2008) relaccedilatildeo entre cetoacutelogps e baleias (Calheiros 2009) noccedilatildeo de risco entre epidemiologistas (Neves 2008) vinculaccedilotildees entre cobaias de laboratoacuterio e a

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 20: Ciência e Técnica

C iecircn cia e T eacutecnica 115

teoria evolutiva de Darwin (Marras 2009) processos de classificaccedilatildeo botacircnica de cientistas e de populaccedilotildees indiacutegenas (Oliveira 2009) etnografia histoacuterica sobre mudanccedilas em museus de Histoacuteria Natural (Aranha Filho 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Saacute e Santos 2008) conshytroveacutersias acerca de marcadores bioloacutegicos de diferenccedilas raciais (Gonzaacutelez 2009) trocas sanguiacuteneas na sociedade ocidental (Jesus 2009) anaacutelise da construccedilatildeo da pessoa em laboratoacuterio de neurofisiologia (Carvalho 2010)

O estado da produccedilatildeo de certo modo ainda inicial nesse campo natildeo deve enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento de que eacute prova o surgimento de diferentes instacircncias para o diaacutelogo acadecircmico Mas o principal desafio dessa tendecircncia de estudos parece desdobrar de modo enfaacutetico uma questatildeo que Peirano (1995) assinala para a Antropologia de modo geral referente ao papel e agrave importacircncia que assume a etnografia Sem duacutevida o principal aporte da abordagem antropoloacutegica aos estudos sociais da ciecircncia reside justamente no valor que confere agrave dimensatildeo empiacuterica e no seu modo particular de abordaacute-la (cf tambeacutem Peirano 2009 Saacute 2006) Para ressaltar isso parece necessaacuterio evitar a todo custo a circularidade a que podem tender os quadros conceituais proacuteprios de uma proposta que busca se afirmar Seria o caso entatildeo de reverberar aqui a expectativa de vaacuterios pesquisadores de que a ecircnfase na etnografia da ciecircncia ande de par com a heterogeneidade e a reelaboraccedilatildeo dos enfoques teoacutericos

Retorna-se assim ao eixo de articulaccedilatildeo entre as diferentes perspectishyvas que derivam para a configuraccedilatildeo de uma Antropologia da ciecircncia e da teacutecnica no Brasil Afinal se esse campo eacute conformado a partir de um diaacuteloshygo entre tradiccedilotildees de pesquisa de origens tatildeo distintas quanto a cultura material a biotecnologia e a etnografia da ciecircncia o sentido dessa interlocuccedilatildeo reside principalmente no tracircnsito e no manejo criativo de propostas teoacutericas que promovam abordagens antropoloacutegicas voltadas aos natildeo humanos

Referecircncias bibliograacuteficasARANHA FILHO Jayme Inteligecircncia extraterrestre e evoluccedilatildeo as especulaccedilotildees sobre a posshysibilidade de vida em outros planetas no meio cientiacutefico moderno 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ Jakobson a bordo da sonda espacial Voyager In PEIRANO Mariza (Org) Odito e o feito ensaios de antropologia dos rituais Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 2002 p 59-82

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 21: Ciência e Técnica

116 C arlos E m a n u el Sa u tc h u k

_______ Museus de histoacuteria natural em duas cacircmeras In II Reuniatildeo de Antropologia daCiecircncia e da Tecnologia 2009 Anais Belo Horizonte 2009

AZIZE Rogeacuterio Uma neuro Weltanschauung Fisicalismo e subjetividade na divulgaccedilatildeo de doenccedilas e medicamentos do ceacuterebro Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 1 p 7-30 2008

_______ A nova ordem cerebral a concepccedilatildeo de lsquopessoarsquo na difusatildeo neurocientiacutefica 2010Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

BARCELOS NETO Aristoacuteteles Des villages indigegravenes aux museacutees drsquoanthropologie De la proprieteacute et vente des objets rituels amazoniens Gradhiva Revue DAnthropologie et de Museacuteologie Paris n 4 p 86-95 2006

_______ Apapaatai rituais de maacutescaras no Alto Xingu Satildeo Paulo Edusp 2008

BONET Octavio Saber e sentir uma etnografia da aprendizagem da biomedicina Rio de Janeiro Fiocruz 2004

BOTELHO Emiacutelia U Berta Glei^er Ribeiro (1924-1997)- Afinidade e autonomia 2005 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria Cultural) - Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

BRANQUINHO Faacutetima SANTOS Jaqueline Antropologia da Ciecircncia Educaccedilatildeo Ambiental e Agenda 21 local Educaccedilatildeo e Realidade n 32 p 35-50 2007

CALHEIROS Orlando A s transformaccedilotildees do leviatatilde praxiografia de um projeto de cetologia 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CARNEIRO D A CUNHA Manuela Introduccedilatildeo Patrimocircnio imaterial e biodiversidade Revista do Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional n 32 p 15-27 2005

CARVALHO Marcos C Metamorfoses do humano experimentaccedilotildees etnograacuteficas em um laboratoacuterio de neurociecircncia 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sauacutede Coletiva) mdash Instishytuto de Medicina Social Universidade Estadual do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

CASTRO FARIA Luiz de Antropologia espetaacuteculo e excelecircncia Rio de Janeiro UFRJ Tempo Brasileiro 1993

_______ Antropologia escritos exumados 2 dimensotildees do conhecimento antropoloacutegicoNiteroacutei EdUFF 2000

CESARINO Letiacutecia M Acendendo as lu^es da ciecircncia para iluminar o caminho do progresshyso uma anaacutelise simeacutetrica da Lei de Biosseguranccedila Brasileira 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

_______ Nas fronteiras do ldquohumanordquo os debates britacircnico e brasileiro sobre a pesquishysa com embriotildees Mana Estudos de Antropologia Social n 13 p 347-380 2007

CHAVES Luiz Gonzaga M Trabalho e subsistecircncia AJmofala aspectos da tecnologia e das relaccedilotildees de produccedilatildeo 1973 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 22: Ciência e Técnica

C iecircn cia e T eacutecnica 117

CHAZAN Lilian K Meio quilo de gente Um estudo antropoloacutegico sobre ultrassom obsteacutetrico Rio de Janeiro Fiocruz 2007

_______ ldquoEacute taacute graacutevida mesmo E ele eacute lindordquo A construccedilatildeo de ldquoverdadesrdquo naultrassonografia obsteacutetrica Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 n 1 p 99-116 2008

COELHO DE SOUZA Marcela S As propriedades da cultura no Brasil Central indiacuteshygena Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 316-335 2005

CORREcircA Mariza (Org) Histoacuteria da Antropologia no lirasil Campinas Ed Unicamp 1987

COSTA Maria Heloiacutesa Fenelon O mundo dos Mehinacirckue suas representaccedilotildees visuais Brasiacutelia Ed UnB 1988

DESCOLA Philippe h a nature domestique Symbolisme et praxis dans 1rsquoeacutecologie des Achuar Paris Maison des Sciences de 1rsquoHomme 1986

DUARTE Luiz Fernando D ARAN H A FILHO Jayme Um museu de Flistoacuteria natushyral na encruzilhada a fundamentaccedilatildeo conceituai para uma nova exposiccedilatildeo no Museu Nacional In BITTENCOURT J et al (Org) Histoacuteria representada o dilema dos mushyseus Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2003 p 197-218

DUARTE Luiz Fernando D LEAL Ondina F (Org) Doenccedila sofrimento perturbaccedilatildeo perspectivas etnograacuteficas Rio de Janeiro Fiocruz 1998

EL FAR Alessandra HIJIKI Rose S G Entre a paroacutedia e a denuacutencia trajetos de dois fiacutesicos nos bosques das humanidades Entrevista com Alan Sokal Revista Antropologia v 41 n 1 p 215-233 1998

EMPERAIRE Laure A biodiversidade agriacutecola na Amazocircnia brasileira recurso e patrimocircnio Revista do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional v 32 p 31-43 2005

EMPERAIRE Laure VELTHEM Luacutecia van OLIVEIRA Ana G Patrimocircnio cultushyral imaterial e sistema agriacutecola o manejo da diversidade agriacutecola no meacutedio Rio Negro In Reuniatildeo Brasileira de Antropologia 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

FERREIRA Pedro Peixoto Transe maquiacutenico quando som e movimento se enconshytram na muacutesica eletrocircnica de pista Horizontes Antropoloacutegicos v14 n29 pp 189-215 2008

FERREIRA NETO Joseacute Fonseca A ciecircncia dos mitos e o mito da ciecircncia 1984 Dissertashyccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

FONSECA Claacuteudia L W D N A e paternidade a certeza que pariu a duacutevida Florianoacutepolis Revista de Estudos Feministas v 12 n 2 p 13-34 2005

FURTADO Lourdes Pescadores do rio Amazonas um estudo antropoloacutegico da pesca ribeirinha numa aacuterea amazocircnica Beleacutem Museu Paraense Emiacutelio Goeldi 1993

G ALLO IS Dominique T (Org) Patrimocircnio cultural imaterial e povos indiacutegenas Satildeo Paulo IEPEacute 2007

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 23: Ciência e Técnica

118 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

GARCIA JR Afracircnio Fundamentos empiacutericos da razatildeo antropoloacutegica a criaccedilatildeo do PPGAS e a seleccedilatildeo das espeacutecies cientiacuteficas Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 15 n 2 p 4 1 1 -4 4 7 2009

GELL Alfred A rt and agency an anthropological theory Oxford Oxford University Press 1998

GON ZALEZ Elena Calvo ldquoNeutroacutefilo baixo quer dizer peacute na cozinhardquo O papel de cientistas e natildeo cientistas nos discursos sobre leucopenia e diferenccedila ldquoracialrdquo no Brasil contemporacircneo In ENCONTRO ANUAL D A ANPOCS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009 (GT Etnografando o Fazer Cientiacutefico)

GORDON Ceacutesar SILVA Fabiacuteola A Objetos vivos a curadoria da coleccedilatildeo etnograacutefica Xikrin-Kayapoacute no Museu de Arqueologia e Etnologia mdash MAEUSP Estudos Histoacutericos n 36 p 93 -110 2005

GROSSI Miriam et al (Org) Novas tecnologias reprodutivas conceptivas questotildees e desafishyos Brasiacutelia Letras Livres 2003

HARAWAY Donna Manifesto ciborgue ciecircncia tecnologia e feminismo-socialista no final do seacuteculo XX In SILVA Tomaz Tadeu da (Org) Antropologia do Ciborgue as vertigens do poacutes-humano Belo Horizonte Autecircntica 2000 p 39-129

IN GO LD Tim The perception of the environment essays on livelihood dwelling and skill London Roudedge 2000

INGOLD Tim et al (Org) Hunters andgatherers property power and ideology Oxford Berg 1988 v 2

JESUS Daniel Alves Odisseacuteia vermelha da ambivalecircncia do sangue ao sistema de troshycas sanguiacuteneas nas sociedades ocidentais 2009 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropoloshygia) - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

KAN T DE LIMA Roberto PEREIRA Luciana Pescadores de Itaipu meio ambiente conflito e ritual no litoral do Estado do Rio de Janeiro Niteroacutei EdUFF 1997

KOHN Eduardo N atural engagements and ecological aesthetics among the A vila Runa of ama^onian Ecuador 2002 Dissertation (PhD) - University o f Winscosin-Madison

LAGROU Eis O que nos diz a arte kaxinawaacute sobre a relaccedilatildeo entre identidade e alteridade Mana Estudos de Antropologia Social v 8 n 1 p 29-63 2002

_______ A fluidepound da form a A rte alteridade e agecircncia em uma sociedade amazocircnica(Kaxinaua Acre) Rio de Janeiro Topbooks 2007

LATOUR Bruno jamais fomos modernos ensaio de Antropologia simeacutetrica Satildeo Paulo Ed Unesp 1994

_______ Um coletivo de humanos e natildeo humanos no labirinto de Deacutedalo In A espeshyranccedila de Pandora Bauru EDUSC 2001 p 201-246

LATOUR Bruno VC O OGAR Steve A vida de laboratoacuterio a produccedilatildeo dos fatos cientiacuteshyficos Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1997

LEIBING Annette (Orgj Tecnologias do corpo uma Antropologia das medicinas no Brasil Rio de Janeiro Nau 2004

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 24: Ciência e Técnica

C iecircn cia e T eacutecnica 119

LEIRNER Piero C Ficccedilatildeo cientiacutefica um mito moderno Cadernos de campo n 2 1992

LEITAtildeO Leonardo Rafael A periacutecia antropoloacutegica uma etnografia das Ciecircncias Sociais aplicadas In ENCONTRO AN U AL D A AN PO CS 33 2009 Caxambu Anais Caxambu Anpocs 2009

LEITE Ilka Boaventura (Org) Laudos periciais antropoloacutegicos em debate Florianoacutepolis NUER ABA 2005

LEROI-GOURHAN Andreacute O gesto e a palavra Lisboa Ediccedilotildees 70 1983 2 v

_______ Evoluccedilatildeo e teacutecnicas Lisboa Ediccedilotildees 70 1984 2 v

LOURENCcedilO Andreacute Luiz C O melhor dos dois mundos a representaccedilatildeo do humano e do natildeo humano na ficccedilatildeo cientiacutefica 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) - Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

LUNA Naara Novas tecnologias reprodutivas natureza e cultura em redefiniccedilatildeo Camshypos v 5 n 2 p 127 -156 2004

_______ A personalizaccedilatildeo do embriatildeo humano da transcendecircncia na biologia ManaEstudos de Antropologia Social v 13 n 2 p 4 11 -440 2007a

_______ Provetas e clones uma antropologia das novas tecnologias reprodutivas Rio deJaneiro Fiocruz 2007b

MACHADO Paula S Intersexualidade e o ldquoConsenso de Chicagordquo as vicissitudes da nomenclatura e suas implicaccedilotildees regulatoacuterias Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais v 23 p 10 9 -12 4 2008

MARRAS Steacutelio Ratos e homens mdash e o efeito placebo um reencontro da Cultura no caminho da Natureza Campos v 2 2002 p 117 -133

_______ A propoacutesito de aacuteguas virtuosas formaccedilatildeo e ocorrecircncias de uma estaccedilatildeo balneaacuteriano Brasil Belo Horizonte Ed UFM G 2004

_______ Recintos e evoluccedilatildeo In II Reuniatildeo de Antropologia da Ciecircncia e da TecnologiaBelo Horizonte 2009a

_______ Recintos e evoluccedilatildeo capiacutetulos de Antropologia da ciecircncia e da modernidade2009b Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

MARRAS Steacutelio e SAacute Guilherme J S Antropologia e ciecircncia desafios contemporacircneos Comunidade V irtu a l de Antropologia n 2 8 2 0 0 5 D isp o n iacuteve l em lt http wwwantropologiacombrcolucolu28htmgt Acesso em 14 dez 2009

MAUSS Marcel Techniques Technology and Civili^ation O xford D urkheim Press Beighahn Books 2006

MELLO Marco A D S VO G EL Am o Gente das areias histoacuteria meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro Maricaacute RJ mdash 1975 a 1995 Niteroacutei EdUFF 2004

MELLER Joana Things as persons body ornaments and alterity among the Mamaindecirc (Nambikwara) In SANTOS-GRANERO Fernando (Org) The occult life of things native Amazonian theories o f materiality and personhood Tucson The University o f Arizona Press 2009 p 60-80

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 25: Ciência e Técnica

120 C arlos E m anuel Sa u tc h u k

M O N T E IR O M arko Os dilemas do humano reinventando o corpo numa era (bio)tecnoloacutegica 2005 Tese (Doutorado em Ciecircncias Sociais) - Universidade Estadual de Campinas Campinas

_______ A pesquisa social na ciecircncia e na biotecnologia Educaccedilatildeo em Foco v 11 n 1 p1 3 5 - 1 5 0 2006

_______ Antropologia ciecircncia e tecnologia Jornal da Unicamp n 457 p 2 12 abr2010

MURA Faacutebio Habitaccedilotildees kaioma formas propriedades teacutecnicas e organizaccedilatildeo social 2000 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio dejaneiro Rio de Janeiro

MUSSOLINI Gioconda Ensaios de Antropologia indiacutegena e caiccedilara Rio de Janeiro Paz e Terra 1980

NEVES Ednalva Maciel Antropologia e agraveecircncia uma etnografia do fazer cientiacutefico na era do risco Satildeo Luiacutes EDUFMA Fapema 2008

NEVES Joseacute Pinheiro O apelo do objecto teacutecnico A perspectiva socioloacutegica de Deleu^e e Simondon Porto Campo das Letras 2006

OLIVEIRA Joana Cabral O lugar do sensiacutevel nas praacuteticas de classificaccedilatildeo botacircnica In R E U N IAtilde O B R A S IL E IR A D E A N T R O P O L O G IA D A C IEcirc N C IA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

ORTEGA Francisco O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade Mana Estudos de Antropologia Social v 14 n 2 p 477-509 2008

PEIRANO Mariza A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumaraacute 1995

_______ Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada) In MICELI Seacutergio (Org)O que ler na ciecircnagravea soagraveal brasileira (1970-1995) Satildeo Paulo Editora Sumareacute Anpocs1 9 9 9

_______ Trecircs comentaacuterios cacircndidos sobre a antropologia da ciecircncia In REUNIAtildeOBRASILEIRA DE AN TROPOLO GIA D A CIEcircNCIA E D A TECNOLOGIA 2 2009 Belo Horizonte Anais Belo Horizonte 2009

PIGNARRE Philippe O que eacute o medicamento Um objeto estranho entre ciecircnagravea mercado e sociedade Satildeo Paulo Ed 34 1999

PFAFFENBERGER Bryan Social Anthropology o f Technology Annual Review of Anthropology n 21 p 49 1-516 1992

RAMIacuteREZ-GAacuteLVEZ Martha C Corpos fragmentados e domesticados na reproduccedilatildeo assistida Cadernos Pagu Campinas Unicamp n 32 p 83-115 2009

RAMOS Alcida R ALBERT Bruce (Org) Paaacuteficando o branco cosmologias do contato no norte-ama^ocircnico Satildeo Paulo Edunesp IRD Imprensa Oficial 2002

RIBEIRO Berta (Org) Suma etnoloacutegica brasileira Petroacutepolis Vozes 1986 3 v (v 1 Etnobiologia v 2 Tecnologia indiacutegena v 3 Arte iacutendia)

_______ Dicionaacuterio do artesanato indiacutegena Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1988

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 26: Ciência e Técnica

C iecircncia e T eacutecnica 121

_______ A rte indiacutegena linguagem visual Belo Horizonte Ed Itatiaia Edusp 1989

_______ Perspectivas etnoloacutegicas para arqueoacutelogos 1957-1988 BIB mdash Revista Brasileirade Informaccedilatildeo Bibliograacutefica em Ciecircncias Sociais n 29 p 17 -77 1990

_______ Os iacutendtos das aacuteguas pretas modo de produccedilatildeo e equipamento produdvo SatildeoPaulo Companhia das Letras Edusp 1995

RIBEIRO Gustavo L Tecnotopia versus tecnofobia O mal-estar no seacuteculo XXI Seacuterie Antropologia v 248 Departamento de Antropologia Universidade de Brasiacutelia 1999 15p

SAgrave Guilherme J S Uma histoacuteria de noacutes mesmos Consideraccedilotildees sobre o discurso determinista no Projeto Genoma Humano 2002 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

_______ O altar no laboratoacuterio A ciecircncia e o sagrado no Projeto Genoma HumanoCadernos de Campo n 12 p 71-85 2004

_______ Meus macacos satildeo vocecircs Um antropoacutelogo seguindo primatoacutelogos em campoAnthropoloacutegicas v 16 n 2 p 41-66 2005

_______ No mesmo galho ciecircncia natureza e cultura nas relaccedilotildees entre primatoacutelogos eprimatas 2006 Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional Univershysidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

SAacute Guilherme J S SANTOS R V et al Cracircnios corpos e medidas a constituiccedilatildeo do acervo de instrumentos antropomeacutetricos do Museu Nacional na passagem do seacutecushylo XIX para o XX Histoacuteria Ciecircncias Sauacutede mdash Manguinhos v 15 p 197-208 2008

SALEM Tacircnia As novas tecnologias reprodutivas o estatuto do embriatildeo e a noccedilatildeo de pessoa Mana Estudos de Antropologia Soaacuteal v 3 n 1 p 75-94 1997

SANTOS Valeacuteria et al Alfaiatarias em Curitiba Curitiba Ediccedilatildeo dos Autores 2009

SAUTCHUK Carlos E A medida da gordura o interno e o iacutentimo na academia de ginaacutestica Mana Estudos de Antropologia Social v 13 n 1 p 153 -179 2007

_______ O arpatildeo e o an^ol teacutecnica e pessoa no estuaacuterio do Amazonas (Vila SucurijuAmapaacute) 2007 Tese (Doutorado em Antropologia Social) mdash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

SEEGER Anthony DAM ATTA Roberto VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A construccedilatildeo da pessoa nas sociedades indiacutegenas brasileiras Boletim do Museu Nacional n 32 p 2 -19 1979

SEacuteRIS Jean-Pierre Ea technique Paris PUF 1994

SIGAUT Franccedilois Technology In INGOLD Tim (Org) Companion Encyclopedia of Anthropology London New York Routledge 1994 p 420-459

SILVA Fabiacuteola As tecnologias e seus significados Canindeacute mdash Revista do Museu de Arque- tiega de Xingoacute Sergipe n 2 p 119 -138 2002

_______ O significado da variabilidade artefatual a ceracircmica dos Asurini do Xingu e apiumaacuteria dos Kayapoacute-Xikrin do Cateteacute Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi v 2 n 1 p 9 1 -10 3 2007

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Page 27: Ciência e Técnica

122 C arlos E m an u el Sa u tc h u k

_______ A etnoarqueologia na Amazocircnia contribuiccedilotildees e perspectivas Boletim do MuseuParanaense Emilio Goeldi Ciecircncias Humanas v 4 n 1 p 77-89 2009

SILVA Glaacuteucia (Org) Antropologia extramuros mdash novas responsabilidades soaacuteais e poliacuteticas dos antropoacutelogos Brasiacutelia Paralelo 15 2008

SILVA Orlando S LUZ Liacutedia HELM Ceciacutelia (Org) A periacutecia antropoloacutegica em processhysos judiciais Florianoacutepolis Ed UFSC 1994

SILVA Sergio SOUZA Joseacute Otaacutevio Catafesto (Org) Horizontes antropoloacutegicos Arqueoshylogia e sociedades tradicionais Porto Alegre v 18 n 8 2002

SIMONDON Gilbert Du mode drsquoexistence des objets techniques Paris Aubier 2001

STRATHERN Marilyn Reproducing the Future Essays on Anthropology Kinship and the New Reproductive Technologies Manchester Manchester University Press 1992

VARGAS Eduardo Uso de drogas a alter-accedilacirco como evento Revista de Antropologia v 49 p 581-623 2006

_______ Faacutermacos e outros objetos soacutecio-teacutecnicos notas para uma genealogia dasdrogas In LABATE B et al (Org) Drogas e cultura novas perspectivas Salvador EdUFBA 2008 p 41-63

VELTHEM Luacutecia H van A Pele de Tulupereacute uma etnografia dos tranccedilados Wayana Beleacutem Funtec MPEG 1998

_______ Berta Gleiser Ribeiro (1924-1997) Anuaacuterio Antropoloacutegico 97 p 365-372 1999

_______ Os primeiros tempos e os tempos atuais Artes indiacutegenas In AGUILARNelson (Org) Artes indiacutegenas Satildeo Paulo Associaccedilatildeo Brasil 500 Anos Artes Visuais2000 p 58-91

_______ O belo eacute a fera A esteacutetica da produccedilatildeo e da predaccedilatildeo entre os Wayana LisboaAssirio amp Alvim 2003

_______ Accedilotildees e relaccedilotildees dos objetos nas casas de farinha em Cruzeiro do Sul Estado doAcre In REUNIAtildeO BRASILEIRA DE AN TROPOLOGIA 26 2008 Porto Seguro Anais Porto Seguro 2008

_______ Mulheres de cera argila e arumatilde princiacutepios criativos e fabricaccedilatildeo material entreos Wayana Mana Estudos de Antropologia Social v 15 n 1 2009 p 213-236

VIDAL Lux (Org) Grafismo indiacutegena Estudos de Antropologia Esteacutetica Satildeo Paulo Nobel Fapesp Edusp 1992

VIVEIROS DE CASTRO Eduardo A N D After-dinner speech given at Anthropology and Science In The 5th Decennial Conference o f the Association o f Social Anthropologists o f the U K and Commonwealth Manchester University o f Manchester 2003

W ALFO RD Antonia C Cumplicidade cientiacutefica e etnograacutefica explorando o LBA 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antropologia Social) mdash Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro