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CIÊNCIAS HUMANAS e suas TECNOLOGIAS >> CEJA >> Módulo 1 CENTRO DE ESTUDOS de JOVENS e ADULTOS Unidades 1 e 2 Fascículo 1

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CIÊNCIAS HUMANASe suas

TECNOLOGIAS >>

CEJA>>

Módulo 1

CENTRO DE ESTUDOS de JOVENS e ADULTOS

Unidades 1 e 2Fascículo 1

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GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO

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Paulo Mello

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Coordenação de Design Instrucional

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Paulo Miranda

Design Instrucional

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Marcelo Franco Lustosa

Coordenação de Produção

Fábio Rapello Alencar

Capa

André Guimarães de Souza

Projeto Gráfico

Andreia Villar

Imagem da Capa e da Abertura das Unidades

http://www.sxc.hu/photo/1175613 –

Sanja Gjenero

Diagramação

Equipe Cederj

Ilustração

Bianca Giacomelli

Clara Gomes

Fernado Romeiro

Jefferson Caçador

Sami Souza

Produção Gráfica

Verônica Paranhos

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Sumário

Unidade 1 | Memória e Experiência Social 5

Unidade 2 | A diversidade cultural na história do Brasil 45

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Prezado(a) Aluno(a),

Seja bem-vindo a uma nova etapa da sua formação. Estamos aqui para auxiliá-lo numa jornada rumo ao

aprendizado e conhecimento.

Você está recebendo o material didático impresso para acompanhamento de seus estudos, contendo as

informações necessárias para seu aprendizado e avaliação, exercício de desenvolvimento e fixação dos conteúdos.

Além dele, disponibilizamos também, na sala de disciplina do CEJA Virtual, outros materiais que podem

auxiliar na sua aprendizagem.

O CEJA Virtual é o Ambiente virtual de aprendizagem (AVA) do CEJA. É um espaço disponibilizado em um

site da internet onde é possível encontrar diversos tipos de materiais como vídeos, animações, textos, listas de

exercício, exercícios interativos, simuladores, etc. Além disso, também existem algumas ferramentas de comunica-

ção como chats, fóruns.

Você também pode postar as suas dúvidas nos fóruns de dúvida. Lembre-se que o fórum não é uma ferra-

menta síncrona, ou seja, seu professor pode não estar online no momento em que você postar seu questionamen-

to, mas assim que possível irá retornar com uma resposta para você.

Para acessar o CEJA Virtual da sua unidade, basta digitar no seu navegador de internet o seguinte endereço:

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Utilize o seu número de matrícula da carteirinha do sistema de controle acadêmico para entrar no ambiente.

Basta digitá-lo nos campos “nome de usuário” e “senha”.

Feito isso, clique no botão “Acesso”. Então, escolha a sala da disciplina que você está estudando. Atenção!

Para algumas disciplinas, você precisará verificar o número do fascículo que tem em mãos e acessar a sala corres-

pondente a ele.

Bons estudos!

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 5

Fascículo 1 • História • Unidade 1

Memória e experiência socialPara início de conversa...

Vamos começar esta unidade, contando uma pequena história de um caso

verídico. Trata-se do caso de um paciente do sexo masculino, de 26 anos, da cida-

de de Raposos, Minas Gerais, casado, Ensino Médio, garçom e cozinheiro. No dia 6

de fevereiro, ele saiu do trabalho às 21 horas, mas não retornou à sua casa. Ficou

dois dias desaparecido e foi encontrado vagando próximo à rodoviária de Belo

Horizonte, quando foi encaminhado ao hospital.

Ele não se lembrava de nenhum fato relacionado à sua vida. Não sabia

seu nome, nem reconhecia seus familiares. Nas entrevistas com a equipe mé-

dica, o paciente dizia não se lembrar de qualquer fato ocorrido antes do dia 6

de fevereiro, mostrando dificuldades na compreensão e no uso de palavras, no

reconhecimento e na utilização de objetos e conceitos culturais. Não sabia mais

ler ou escrever.

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No hospital, o paciente mostrou-se preocupado com a perda de memória, tentando recordar-se de tudo o que

era informado. Aos poucos, começou a lembrar-se de alguns fatos, especialmente eventos isolados da infância.

Após um ano de acompanhamento, o paciente ainda apresentava apenas lembranças esparsas que não se arti-

culavam bem. Não conseguia contextualizar o que aprendia e, apesar de não exibir alterações do humor, mantinha-se

socialmente isolado.

Esse texto foi adaptado de um artigo científico, publicado na Revista de Psiquiatria Clínica, da Universidade de São Paulo. Ele está disponível, na íntegra, no endereço eletrônico:

http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol35/n1/pdf/26.pdf )

No caso relatado, um trabalhador simplesmente perdeu a memória sem nenhum motivo aparente. Ele não se

lembrava mais quem era, não se recordava de sua família e havia esquecido quase tudo que aprendera durante sua

vida. Ao perder sua memória, praticamente perdeu também sua identidade.

Imagine-se em uma situação semelhante: esquecer o próprio nome, não reconhecer os filhos, desaprender a

ler, escrever e perder todas as habilidades profissionais que dispunha. Como seria possível levar a vida dessa forma?

Dá para ter uma ideia de como seria difícil a situação de um indivíduo sem memória, incapaz de trabalhar e com di-

ficuldade de se relacionar socialmente? Percebemos, assim, como é importante a memória na construção da nossa

experiência pessoal e coletiva.

Figura 1: Perda de memória: algo não funciona bem na “engrena-gem cerebral”

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Nesta unidade, vamos entender o que é memória e como ela se relaciona com nossa identidade. Também

vamos discutir a ideia de memória social ou coletiva, aquela que nos identifica com um passado comum, e, portanto,

faz com que nos reconheçamos como brasileiros. Como será que essa memória se construiu? Como ela é preservada?

Quem cuida da memória do povo brasileiro? Além disso, vamos estudar como se formou a identidade de um povo em

uma outra época da História, na Antiguidade.

Objetivos de aprendizagem � Perceber que a memória dá significado para nossas experiências pessoais e coletivas;

� Analisar as instituições que produzem memórias coletivas;

� Identificar a formação da identidade entre os gregos na Antiguidade;

� Analisar a importância das memórias coletivas e da memória nacional na formação da sociedade brasileira.

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Seção 1O trabalho da memória: dar significado às nossas experiências

Todo mundo tem alguma ideia sobre o que é a me-

mória ou para que ela serve. Falamos em pessoas de “boa

memória” ou “sem memória”, citamos acontecimentos e

histórias “de memória” (sem precisar recorrer a um livro

ou fonte de informação qualquer, utilizando apenas o que

está na nossa cabeça). Também usamos a memória para

realizar exames na escola, guardando certas informações

e utilizando-as na hora certa.

Além disso, sabemos o que é o contrário da me-

mória, isto é, o esquecimento. No caso do paciente que

perdeu a memória, tudo foi esquecido. Mas, na vida coti-

diana, esquecemos pouco a pouco, mal percebemos que

certas informações desaparecem da nossa memória, ou

ficam lá, bem escondidas, até que uma ocasião a desperte

e voltamos a lembrar.

Quando alguém diz “No meu tempo era diferente”,

está se lembrando do que viveu em sua época de juventu-

de ou infância. Quando falamos de política, muitas vezes

recorremos às nossas lembranças: “no tempo da inflação

alta, era uma vergonha”, “na época da ditadura, ninguém

podia falar mal do governo”. Assim, ao utilizar a memória, fazemos comparações, trazemos informações extraídas da

televisão, livros, jornais, de coisas que ouvimos dizer, das nossas vivências e sensações, em suma: de nossas experi-

ências.

Figura 2: Será que esqueci de algo que deveria ter feito?

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Meus oito anos

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores.

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

— Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar é — lago sereno,

O céu — um manto azulado,

O mundo — um sonho dourado,

A vida — um hino d’amor!

Que auroras, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d’estrelas,

A terra de aromas cheia,

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!

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Nossa memória é resultado de diversas experi-

ências e envolve não apenas o que lembramos pessoal-

mente, mas aquilo que a sociedade também considera

como importante de ser lembrado ou de ser esquecido.

Como podemos observar no poema “Meus oito anos”,

temos facilidade para lembrar o passado como se fosse

um “mundo encantado”, selecionando apenas os bons

momentos da infância ou da juventude. Mas, ignora-

mos ou mantemos em silêncio os momentos de confli-

to, tristeza ou de violência.

A parte do poema de Casimiro de Abreu que apresentamos convida a um mergulho

no passado. A partir dele, reflita sobre duas questões:

a. O poema fala sobre as boas lembranças que temos do passado. Indique quais

versos justificam essa imagem de um passado de felicidades.

b. A partir dos seus conhecimentos, escreva sobre um período ou um aconteci-

mento da História do Brasil ou do mundo que traga a você lembranças ruins ou

más recordações.

Figura 3: Gostamos de recordar momentos bons, como as brincadeiras da infância.

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Por outro lado, a memória tem uma função prática muito importante, pois, ela nos ajuda a evitar situações

ruins, vividas anteriormente. Uma criança que tenha se queimado com uma panela quente se esforça para não se

queimar novamente porque se recorda da dor experimentada. Daí o ditado popular: “gato escaldado tem medo de

água fria”.

Nós, seres humanos, somos profundamente culturais, isto é, aprendemos com a experiência. O que nos man-

tém vivos, como indivíduos e espécie, é a nossa capacidade de registrar, preservar e transmitir informações; tanto

as informações das nossas próprias experiências, quanto aquelas que nos chegam por nossos antepassados e pela

sociedade.

Por exemplo, um adulto pode alertar uma criança sobre os riscos de tocar a mão em uma panela quente, mas

pode ser que só a experiência ensine a ela esta lição de modo inesquecível. Por isso, na infância, gostamos tanto de

experimentar tudo. Afinal, nessa fase, dispomos de poucos saberes e ainda estamos construindo as bases dos nossos

conhecimentos sobre o mundo.

Quando nos tornamos jovens ou adultos, continuamos a experimentar, mas, principalmente, utilizamos nos-

sos saberes anteriores para darmos respostas mais satisfatórias no tempo presente. Isso, porém, parece tão natural

que quase nunca pensamos no seu funcionamento, isto é, no trabalho elaborado pela memória.

Leia o seguinte depoimento e depois responda às duas questões a seguir:

Meu nome é Francisco Alves dos Reis, nasci no dia 4 de junho de 1924, em Catas

Altas da Noruega, Minas Gerais.

Meu pai é José Augusto Alves dos Reis e minha mãe, Francisca Firmina de Barros.

Eles nasceram em Catas Altas da Noruega, em Minas Gerais. Meu pai tinha uma pequena

fazenda, onde nós trabalhávamos com criação de gado e plantação. Dos sete aos 12 anos,

trabalhei direto na fazenda em todo tipo de serviço: plantava milho, arroz e feijão, capinava

e guiava boi para arar a terra.  Aos sete anos, aprendi, trabalhando, quantas horas de luz

solar têm o mês de novembro. Eu guiava boi para arar a terra de sol a sol naquele mês; e

o mês de novembro, realmente, tem 14 horas por dia de luz solar. Eu acordava cedinho,

começava o serviço quando o sol nascia e acabava com o sol se pondo.

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Nas mais diversas situações, portanto, nossa

mente recupera experiências, retira certas lições e pro-

cura aplicá-las ao mundo presente. Vejamos alguns

exemplos: uma receita de bolo aprendida com a avó;

um jeito prático para dar nós em cordas; a reviravolta

no estômago depois de uma apimentada feijoada com

couve frita; uma música cantada pela professora na es-

cola infantil; as palavras de um político ditas anos atrás

na televisão - todos esses exemplos ficam guardados

em nossa memória e são utilizados quando precisamos

tomar decisões ou pensar sobre alguma situação con-

creta.

a. Nesse depoimento, Francisco fala dos seus aprendizados trabalhando, ao lado

da família, em uma pequena fazenda. Segundo o depoimento, quais foram os

conhecimentos adquiridos por Francisco?

b. Lembre-se de uma situação em que você considera ter adquirido conhecimen-

tos importantes para sua vida. Procure se lembrar também quem ensinou ou se

você aprendeu sozinho. Relate abaixo a sua experiência.

Figura 4: Se você comer um prato de feijoada e não se sentir bem depois, é possível que, diante de um novo prato, a me-mória desagradável desencoraje-o a comê-lo.

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A memória produz significados para nossa história pessoal e auxilia-nos a nos relacionarmos com o mundo,

com as outras pessoas e com nossas experiências anteriores.

Mas, nesse trabalho da memória, há muito mais conflitos que soluções, pois a nossa recordação não é um

registro perfeito de um evento passado, como se fosse um robô dos filmes de ficção científica ou a memória de um

computador. A nossa memória transforma-se com a passagem do tempo, ela se modifica à medida em que as expe-

riências vividas exigem novas recordações que ajudem a explicar a vida e dar-lhe sentido.

Figura 4: Fotografia e memória – o registro fotográfico é um im-portante recurso para a preservação da memória. A imagem acima registra uma situação ainda hoje muito comum: um grupo de pessoas se reúne para marcar na memória um encontro.

Assim, é importante reforçar que a memória exige esforço e trabalho, pois ela constrói o modo como

sentimos e entendemos nossas experiências pessoais e, como veremos a seguir, nossas vivências co-

letivas.

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Seção 2A memória coletiva e as experiências sociais

A memória ajuda-nos a construir a relação que temos com o mundo e com os demais seres humanos. Cada

um de nós vive em um certo tempo e lugar, e definimo-nos a partir das experiências vividas e das ideias que temos

sobre as coisas.

Por exemplo, Ezequiel é cearense de nascimento, filho de D. Luzia e Seu Antonio, ambos trabalhadores rurais.

Ezequiel mora em Brasília há 32 anos, trabalha como motorista de ônibus, torce pelo Flamengo, é católico, casado há

17 anos e tem quatro filhos.

Para cada uma dessas características, Ezequiel tem as mais diversas memórias e ele se coloca no mundo a partir

delas. Se perguntássemos a ele: “Ezequiel, quem é você?” O que será que ele diria? E se ele for parado na rua por uma

viatura policial, qual será a resposta? E se o chefe dele perguntar a mes-

ma coisa? E, finalmente, quando Ezequiel morrer, o que diremos sobre

ele? Cada uma dessas perguntas exige como resposta a descrição de

características pertencentes a Ezequiel. E é a memória que trará à tona

tais características.

Para cada situação, a identidade e a memória de um individuo

também se reorganizam a partir das experiências, necessidades e desejos. E, principalmente, conforme as circuns-

tâncias. Imagine que Ezequiel foi visitar o Estádio do Maracanã pela primeira vez e, por engano, foi parar no meio da

torcida do Fluminense. Ele poderá se identificar como um motorista de ônibus, um cearense e pai de família, mas,

provavelmente, não irá se apresentar como flamenguista, porque sabe que provocaria muitas inimizades.

Figura 6: Estádio do Maracanã em um jogo do Brasil

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Percebemos assim que precisamos da memória para construir nosso lugar no tempo e no espaço. O

modo como caracterizamos nossa vida, na relação com os outros e com nossa história, forma nossa

identidade pessoal.

Não dá para separar a memória do indivíduo da memória dos grupos sociais dos quais ele faz parte. Quando

alguém se identifica como japonês ou mineiro ou agricultor ou jovem ou mulher, já está se incluindo em um grupo,

isto é, em uma coletividade, seja ela um país, uma profissão, um gênero, uma faixa de idade etc.

Na sua comunidade ou na cidade onde você mora, existem diversas coletividades e

organizações sociais, como, por exemplo times de futebol, igrejas, sindicatos, clubes, gru-

pos de música e associações comunitárias.

Escolha uma dessas organizações, preferencialmente a que você conhece melhor e

identifique as seguintes características:

a. Quais são as principais atividades que as pessoas realizam nessa organização?

b. Que ideias e pensamentos comuns reúnem estas pessoas nessa organização?

c. Narre como foi o início dessa organização: sua fundação, os primeiros partici-

pantes etc.

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A partir da descrição que você fez dessa organização social, podemos entender melhor como construímos

identidades coletivas. Nessas coletividades, vivemos experiências diversas e relacionamo-nos, construindo uma me-

mória comum sobre essas experiências. Essa memória vai se transformando na própria história dos grupos sociais e, à

medida que nos identificamos com ela, também nos mantemos identificados com outros membros do mesmo grupo.

Assim, as identidades coletivas são resultado da experiência dos vários grupos e da sociedade. Desse modo,

um indivíduo pode se identificar, por exemplo, como morador de certo lugar, torcedor de um time de futebol, mem-

bro de um sindicato, fiel a uma determinada religião ou pertencente a um país.

Memória coletiva é o conjunto de significações, construído por um grupo social a partir de vivências comuns, isto é, a partir das experiências compartilhadas.

As memórias coletivas não são apenas resultado das nossas experiências pessoais, isto é, das situações vi-

vidas efetivamente por cada um de nós. Em uma sociedade complexa como a nossa, as memórias coletivas são

construídas de um modo imaginário, isto é, são difundidas como se todos tivessem compartilhado o mesmo passado

de experiências comuns.

Veja um exemplo. Todo cristão tem um passado comum de vivências religiosas, marcadas pela trajetória dos

cristãos, desde a vida do próprio Cristo. Para celebrar a sua fé, todos os cristãos realizam os mesmos rituais religiosos,

onde reproduzem os mesmos gestos, rezam as mesmas orações e utilizam os mesmos símbolos. Cada cristão, em

qualquer parte do mundo, sabe da existência da sua comunidade religiosa, mas não pode conhecer pessoalmente

todos os outros cristãos. Vivenciam sua comunidade de um modo imaginário, através dos rituais tradicionais.

Figura 7: Cristãos, em várias partes do mundo, realizam rituais religiosos onde reproduzem gestos e orações que os tornam parte da mesma comunidade.

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Isso também é válido para outras comunidades: de trabalhadores do comércio, de corintianos, de paranaenses

ou de brasileiros. O problema, então, é o seguinte: por que acreditamos nessas comunidades imaginárias se não as

vivenciamos? Em outras palavras, o que nos faz crer que participamos de uma identidade coletiva se não vivemos

junto com todas as pessoas dessa mesma comunidade?

Seção 3A Grécia Antiga e a identidade de um povo

Na Europa, os gregos foram os primeiros a produzir registros escritos sobre sua própria sua própria história, há

cerca de 4 mil anos. Eles também foram pioneiros ao refletir sobre a sua própria condição, isto é, sobre o fato de “ser

grego” e tudo que isso significava.

Se você observar um mapa com a divisão política da Europa, poderá perceber a posição geográfica da Grécia

atual: situada em uma península, isto é, em uma porção de terras cercada pelo mar por quase todos os lados, os gre-

gos desenvolveram, ao longo de sua história, uma intensa atividade comercial em torno do Mar Mediterrâneo. Essas

trocas comerciais eram também trocas culturais, pois não são apenas produtos que se deslocam de uma região para a

outra, mas também pessoas, atividades artísticas, idiomas, certos gostos e hábitos. Por isso, os gregos beneficiaram-se

dessas trocas, aprendendo e comunicando-se com muitos outros povos, como os sumérios, os assírios, os egípcios,

entre outros, que habitavam o Norte da África e o Oriente Médio.

Figura 8: Mapa atual da península grega e arredores.

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Na Grécia Antiga, a organização política desenvolveu-se de um modo muito diferente da atual. Não havia um

Estado grego como existe hoje, com um presidente eleito ou um rei e um território bem definido onde as decisões

desse Estado seriam soberanas, isto é, inquestionáveis. Com o passar dos séculos, surgiram várias cidades indepen-

dentes, com suas próprias leis, sua moeda, suas práticas culturais. As duas cidades mais conhecidas eram Esparta e

Atenas. A forma independente dessas cidades levou os historiadores a denominá-las de cidades-estado, pois, elas

tinham a dimensão territorial de uma cidade, mas a organização política semelhante à de um estado.

Os gregos habitavam essas cidades-estado e identificavam-se como seus cidadãos, pois eram responsáveis

pela condução das questões públicas, isto é, pela política da cidade. Assim, um cidadão de Atenas reconhecia-se

como ateniense, enquanto um morador de Esparta era visto e via-se como espartano e assim por diante.

Figura 9: Mapa com as principais cidades-estado na Grécia Antiga.

Embora tivessem uma forte identidade local, os povos dessa região tinham algo importante em comum: a

mesma origem histórica e o mesmo idioma. Também compartilhavam fundamentos religiosos muito semelhantes,

inseridos em uma religião politeísta, isto é, que cultuavam vários deuses. Além disso, o desenvolvimento comercial

unificou os interesses de várias cidades e garantiu aos gregos o controle de rotas marítimas do Mar Mediterrâneo

Ocidental até o Mar Negro.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 19

Por volta do século VI a. C., o crescimento do comércio e da população grega havia impulsionado os gregos a

emigrarem para diversas regiões, fundando colônias. Essas colônias eram povoações gregas em territórios distantes

da península grega, por exemplo, na Ásia Menor. Desse modo, o contato com outros povos e impérios também se

intensificou, provocando alianças políticas, mas também disputas por territórios.

Como contar o tempo cronológico?

Há vários tipos de calendários no mundo, definidos conforme a formação cultural e histórica de cada

povo. No Ocidente, o nosso calendário foi construído a partir da forte presença da Igreja Católica e do

Cristianismo. Foram necessários alguns séculos para que esse calendário fosse definido e adotado em

praticamente todo o mundo, mesmo em países onde o Cristianismo não é uma religião importante.

A partir do século VII, a data do nascimento de Jesus Cristo começou a se difundir como o início da

nossa época, substituindo a data da fundação de Roma (o mais importante império da Europa antiga).

Então, quando dizemos que estamos no ano 2012, significa que se passaram 2.012 anos desde o nas-

cimento de Cristo. Já a marcação dos séculos é usada desde o tempo do Império Romano e manteve a

mesma forma que utiliza os numerais romanos, como mostra a tabela a seguir:

A base do algarismo romano são os seguintes números:

Numeral Romano Numeral Arábico

I 1

V 5

X 10

L 50

A partir dela, os outros números são constituídos, como mostra essa tabela:

Numeral Romano Numeral Arábico

II 2 (I + I)

III 3

IV 4 (1 – 5 = 4)

V 5

VI 6

VII 7

VIII 8 (5 + 1 + 1 + 1 = 8)

IX 9 (1 – 10 = 9)

X 10

XI 11

Atualmente, estamos no século XXI, isto é 10+10+1 = 21.

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No século seguinte, V a. C., ocorreu um conflito de grandes proporções entre os gregos e o império persa.

Esse conflito ficou conhecido como Guerras Médicas, pois os persas também eram chamados de medo-persas.

Para se defender, as cidades-estado gregas unificaram-se na Liga de Delos, uma confederação militar, liderada por

Atenas. As Guerras Médicas duraram cerca de cinquenta anos, com períodos de tréguas e novas batalhas, até a

vitória dos gregos.

Essas guerras contribuíram decisivamente para fortalecer a identidade grega, pois a presença de um inimigo

comum e os diversos confrontos militares criaram condições favoráveis à preservação da cultura comum. No início

dos conflitos, algumas colônias gregas foram derrotadas e submetidas ao imperador persa, mas os cidadãos das

cidades-estado compreenderam que teriam o mesmo destino e que seriam destruídos porque eram gregos também.

Atualmente, estamos no século XXI, isto é 10+10+1 = 21.

Esta tabela mostra como a indicação dos séculos deve ser interpretada:

Século Significado

II d. C. “século 2 depois de Cristo”, entre o ano 101 e 200.

IX a. C. “Século 9 antes de Cristo”, isto é, entre o ano 801 e 900.

XX “Século 20”, isto é, entre o ano 1901 e 2000. Como não há “a. C.” nem “d. C.”, é para

supor que se trata de “depois de Cristo”.

Para indicar os anos anteriores ao nascimento de Cristo, utilizamos a sigla a. C. (antes de Cristo) e os

anos posteriores ao seu nascimento a sigla d. C. (depois de Cristo) que raramente é citada. O ano do

nascimento é denominada 1 d. C. , isto é, “ano um depois de Cristo”, e o ano anterior ao nascimento,

como 1 a. C., ou seja, “ano um antes de Cristo”.

Assim, quando pretendemos citar uma data anterior ao nascimento de Cristo, precisamos contar o

tempo “de trás para frente”. Por isso, um acontecimento ocorrido no século X a. C., por exemplo, no ano

1154 a. C. é anterior a um evento do século V, por exemplo, em 632 a. C.

A linha a seguir é uma demonstração desse calendário. Ela pode ajudá-lo a situar os acontecimentos

citados no texto sobre a formação do povo grego.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 21

Aos poucos, a reflexão sobre a identidade grega ganhou contornos mais nítidos, através dos textos dos histo-

riadores e dos poetas populares que faziam versos contando as façanhas militares dos gregos. Até hoje sobreviveram

diversas narrativas sobre as Guerras Médicas, adaptadas para o cinema e para a literatura ou incorporadas à nossa

cultura. Por exemplo, uma das mais famosas competições esportivas chamamos de “maratona”, trata-se de uma cor-

rida de 42 Km. O nome é uma homenagem à cidade de Maratona e a extensão refere-se à distância entre Maratona

e Atenas percorrida pelo soldado Filípides, durante a primeira Guerra Médica, em 490 a. C. O soldado foi mandado a

Atenas e depois a outras cidades, para pedir reforços para enfrentar o exército persa.

Outro exemplo de narrativa relacionada às Guerras Médicas foi adaptado para o cinema pelo filme “os 300 de

Esparta” que narra a batalha das Termópilas (nome do desfiladeiro onde ocorreram os confrontos). Nessa batalha, o

pequeno exército do rei espartano Leônidas enfrenta o poderoso exército persa, do rei Xerxes. O filme não é uma re-

constituição da batalha, mas uma criação livre, baseada na história em quadrinhos de Frank Miller. Mesmo assim, ele

narra um acontecimento importante para o destino dos gregos. O exército persa venceu a batalha, mas foi duramente

atingido. Além disso, a resistência do pequeno grupo de trezentos espartanos tornou-se uma lenda e motivou outras

cidades-estado a organizarem seus exércitos e juntarem-se à confederação que derrotou os persas anos depois.

A identidade grega foi, portanto, resultado de um longo processo histórico onde dois elementos foram muito

importantes. Em primeiro lugar, certa unidade cultural preservada por vários séculos, especialmente, a permanência

do mesmo idioma. Em segundo lugar, a presença de conflitos militares de longa duração contra impérios que viam

como “gregos” todos os que habitavam aquela região, e pretendiam submetê-los pela força das armas.

E a identidade brasileira depende de elementos? Como se forma essa noção e o sentimento de “ser brasilei-

ro”? Não se nasce com esse sentimento, mas bastam alguns anos para que se reconheça e se valorize a condição de

“brasileiro”. Seria apenas porque falamos a mesma língua? Mas, os portugueses também falam Português e nem por

isso se sentem brasileiros. Será então que somos assim porque nascemos no mesmo território? Mas os indígenas que

nasceram no território brasileiro nem sempre compartilham conosco a experiência de ser brasileiro.

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Seção 4A construção das memórias coletivas

Na seção anterior, dissemos que a memória precisa de ação individual e coletiva, um trabalho que realizamos

sobre o passado, recordando e recriando significados que nos ajudam a viver e a nos relacionarmos.

A memória coletiva de grandes comunidades (uma religião, uma categoria profissional, um time de futebol)

também é uma produção de ideias e atos que se realiza sobre o passado. Mas, nesse caso, não é apenas um indivíduo

ou grupo de pessoas conhecidas que interpreta o passado, mas instituições sociais que reconstroem a história e pro-

curam dar sentido à experiência do presente.

Tais instituições podem ser as igrejas, os sindicatos, as assembleias ou os clubes, por exemplo. Elas utilizam

várias estratégias para difundir significados sobre o passado e garantir que certa memória seja preservada. Por isso,

dizemos que as instituições produzem a memória e contribuem para que as pessoas participem destas identidades

coletivas.

Há várias formas de construir e difundir a memória coletiva, através de livros, filmes, imagens, depoimentos

pessoais, canções, hinos, símbolos, entre outros. Cada instituição encontra também cerimônias próprias para reforçar

esses vínculos. Por exemplo, um sindicato comemora o aniversário de fundação com uma grande festa, onde se recor-

dam as lutas dos primeiros trabalhadores. Nas igrejas, os rituais são marcados pela memória dos fundadores daquela

religião.

A partir dessa reflexão sobre a formação da identidade grega, reflita sobre a seguin-

te questão:

Por que a unidade cultural e histórica de um povo é tão importante na formação da

identidade?

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Em uma cidade, as praças e ruas principais possuem nomes de personagens conhecidos da sociedade e da po-

lítica local ou nacional. Também se constroem monumentos arquitetônicos que reforçam uma determinada memória.

Esses monumentos podem ser de vários tipos: uma estátua no meio da praça, uma escultura em forma abstrata, uma

pequena placa de metal com inscrições ou até mesmo um edifício público pode ser construído para lembrar uma

determinada personalidade ou um fato histórico.

1. Registre o nome de uma rua ou praça que você conheça e que se refere a um persona-

gem (não precisa ser apenas políticos conhecidos ou personagens históricos quaisquer,

pode ser alguém da comunidade);

2. Escreva abaixo o que você sabe sobre esse personagem.

A partir dessa atividade, você pode ter uma ideia de como a memória coletiva é produzida. Alguns nomes

lembram acontecimentos e personagens conhecidos e glorificados pela História do país, como “15 de novembro”,

“D. Pedro II” etc., outros nomes valorizam os políticos locais, mas há ainda espaço para a memória do homem comum,

um trabalhador falecido de modo trágico, uma professora lembrada com carinho etc.

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Há diferentes memórias, convivendo e sendo produzidas ao mesmo tempo, na nossa sociedade. Tam-

bém convivemos com múltiplas identidades coletivas.

Seção 5A construção da identidade nacional

Com frequência, ouvimos ou dizemos frases do tipo:

“No Brasil, é assim mesmo, político rouba e não vai preso.”

“Brasileiro é assim, amigo de todo mundo, acolhedor, mas quer levar a vida sem esforço e não gosta de trabalho”.

“Este país não vai pra frente porque fomos colonizados pelos portugueses. Se a Inglaterra nos tivesse coloniza-

do, aí seria diferente, como nos Estados Unidos que é um país rico e poderoso”.

Essas afirmações ajudam-nos a explicar a imagem que temos de nós, quem somos e a entender como nos

formamos como povo e como compatriotas. A condição de brasileiro também nos ajuda a interpretar como vivem e

quem são os “não brasileiros”. Com efeito, ouvimos ou repetimos por aí:

“Os japoneses são trabalhadores e sérios”.

“Os argentinos são arrogantes, pretensiosos, especialmente no futebol”.

“Os italianos são muito simpáticos, brincalhões e falam alto”.

Mas será que essas noções podem mesmo explicar nossa condição ou as condições de vida dos outros povos?

Será que só no Brasil os políticos corruptos não vão para a cadeia? Será que não gostamos de trabalho ou não gosta-

mos de salários baixos e exploração? Será que as misérias do país são fruto apenas da colonização portuguesa? Enfim,

será que cada povo ou nação pode ser identificado por características tão reduzidas assim?

Com certeza, os milhões de brasileiros, em meio à vastidão do nosso território e nossa diversidade cultural,

não poderiam ser definidos de forma tão simplificada. A própria ideia de que somos brasileiros e de que devemos nos

sentir unidos e solidários foi construída ao longo de várias décadas e é constantemente reforçada e transformada.

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Na História do Brasil, quem teve maiores condições de definir essa identidade foram os grupos sociais mais

ricos e que tiveram sob seu controle o Estado e os meios de comunicação social. Ao longo da nossa história, os setores

da elite procuraram construir uma memória que parecesse comum a todos os brasileiros.

Há, portanto, uma diferença entre as memórias e identidades coletivas e a memória e identidade na-

cional. As memórias coletivas são múltiplas, diversas e convivem com a diversidade, enquanto a me-

mória nacional tende a ser uma só, unificada.

Isto ocorre porque os grupos e classes sociais que controlam o Estado procuram transformar as suas memórias

na memória do país, por exemplo, por meio da escola e, principalmente, do ensino de História. No entanto, outros

grupos e classes também lutam para garantir sua presença como parte da memória nacional. Assim, há uma tensão,

uma disputa pela memória.

Vejamos como este tema pode ser observado pelos feriados nacionais. Eles são definidos pela legislação, apro-

vados no Congresso Nacional, pelos deputados e senadores. Por que e para que uma determinada data é transfor-

mada em feriado? No Brasil, temos feriados cívicos, isto é, ligados a acontecimentos públicos, de caráter político, e fe-

riados religiosos. Em cada feriado, além de aproveitarmos para descansar, sempre nos lembramos, de alguma forma,

do motivo que deu origem ao feriado. O dia 1º de maio sabemos que é dia do Trabalhador; o Natal, o nascimento de

Cristo; 15 de novembro, a Proclamação da República.

Figura 10: Manifestação operária na cidade do Porto, em Portugal, em 1980. Comemoração do 1º de Maio reúne trabalhadores que lutam por melhores condições de vida e, desta forma, reforçam sua identida-de coletiva.

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A partir dos nomes de personagens históricos, dados a praças ou avenidas, e a partir das datas comemorativas,

podemos fazer uma análise da memória nacional. Assim, pode-se perceber de que modo a memória reflete sobre as

tensões que envolvem a construção dessa memória e os interesses dos vários grupos sociais.

Tiradentes: memória nacional construída

Figura 11: Praça Tiradentes, na cidade do Rio de Janeiro/RJ

A foto anterior é da Praça Tiradentes, localizada na região central da cidade do Rio de Janeiro. A praça tem o

nome de um personagem considerado um dos heróis da História do Brasil, Tiradentes, um dos líderes do fracassado

movimento pela independência do Brasil, a Inconfidência Mineira de 1789.

A praça tem em seu centro uma estátua de D. Pedro I, líder do movimento que levou a nossa independência

em 1822, nosso primeiro imperador. A princípio, associamos os dois personagens ao mesmo interesse pela nação bra-

sileira, afinal, Tiradentes lutou pela independência e D. Pedro I proclamou-a. No entanto, a história é um pouco mais

complicada. No final do século XVIII, Tiradentes foi preso, julgado e condenado à morte pelo crime de traição à Coroa

portuguesa. Junto com outros moradores da região das Minas Gerais, ele arquitetou uma rebelião que separaria o

território brasileiro do domínio português. Portanto, levou à frente a ideia de que havia uma identidade brasileira,

diferente da identidade portuguesa, com interesses próprios e, em certo sentido, opostos aos interesses portugueses.

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Tiradentes foi condenado à forca e ao esquartejamento. A sua morte deveria representar uma memória da ver-

gonha pela traição cometida e deveria também servir de exemplo para que nunca mais outros súditos da Coroa Por-

tuguesa se aventurassem a tamanho disparate. O seu enforcamento foi no Rio de Janeiro, então, capital do vice-reino,

justamente na praça Tiradentes. O enforcamento foi encenado como um ato político, Tiradentes foi conduzido pelas

ruas, em um longo trecho do centro da cidade, pois deveria ser visto pelo maior número possível de pessoas.

Depois, os membros do corpo de Tiradentes foram espalhados pelos poucos caminhos que levavam à região

das Minas. Isso não foi feito por crueldade, nem para provocar repugnância e nojo nas pessoas que passassem pelo

caminho. Foi uma decisão do Estado, pois a Coroa portuguesa percebeu a importância em demonstrar a todos que

qualquer gesto de traição seria punido com vigor. Enquanto permanecessem os restos mortais de Tiradentes, as pes-

soas se lembrariam do crime. Portanto, ele não morreu como herói e não permaneceu na memória dos que viveram

naquela época como um grande líder, mas como um criminoso.

A rainha que condenou Tiradentes chamava-se D. Maria I. Ela era avó de um jovem príncipe, D. Pedro I, que,

praticamente 40 anos depois da morte do inconfidente, proclamou a independência em 1822. Como veremos na uni-

dade seguinte, no início do século XIX, a situação do Brasil e de Portugal havia se transformado bastante. Além disso,

D. Pedro I separou politicamente os dois territórios, mas manteve a coroa na cabeça. Foi o primeiro imperador brasi-

leiro, depois tornou-se imperador em Portugal, entregando o governo do Brasil a seus fieis aliados e a seu pequeno

filho, com apenas cinco anos de idade.

Portanto, Tiradentes e D. Pedro I defenderam posições políticas opostas e foram protagonistas de ações bas-

tante distintas. Mas, quando se decide colocá-los lado a lado, a memória que se pretende produzir sobre eles é uma

memória da conciliação nacional. A Praça Tiradentes com a estátua do imperador ao centro expressa uma ideia de

memória, marca personagens ou acontecimentos que se harmonizam na passagem do tempo, como se ambos tives-

sem contribuído, cada um com um pedaço, para a construção da nação.

Essa fusão entre personagens que lutaram em campos políticos opostos foi fabricada no início da República,

a partir de 1889. Segundo as pesquisas do historiador José Murilo de Carvalho, o mito de Tiradentes foi construído

no início do Estado republicano. O novo regime havia derrubado o imperador, D. Pedro II, e precisava construir sua

própria memória histórica, produzir narrativas, personagens e símbolos que se identificassem com a luta republicana.

Assim, Tiradentes foi “descoberto” e retirado da condição de traidor e passou para o papel de herói e mártir,

cuja vida foi consagrada a lutar pela liberdade e pela República. Pinturas e narrativas da sua vida foram produzidas na

época. Até hoje é comum encontrarmos, em livros didáticos e em documentários de televisão, uma imagem de Tira-

dentes que o assemelha às imagens de Jesus Cristo, com cabelos e barbas longos, a túnica branca como vestimenta,

o corpo magro e alto.

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Essa imagem não representa nenhuma fidelidade aos traços fisionômicos de Tiradentes, pois, durante sua vida

ninguém produziu seu retrato, nem há descrições escritas de suas características físicas. Essa imagem foi, portanto,

um dos elementos construídos para dar sentido e “cara” à memória nacional.

13 de maio versus 20 de novembro

As datas revelam um esforço de preservação e manutenção das memórias coletivas que disputam entre si

para ampliar sua influência sobre a sociedade. O Natal, por exemplo, é uma festividade importante no Brasil, porque

a maioria das pessoas que vivem aqui é de origem cristã. Nos países muçulmanos ou de tradição judaica, não existe

Natal e as datas religiosas importantes são outras.

Podemos pensar ainda em uma situação mais evidente dessas disputas sobre a memória. Tradicionalmente, o

fim da escravidão, no Brasil, é lembrado pelo dia 13 de maio, data na qual a princesa Isabel assinou a famosa Lei Áu-

rea, em 1888, declarando livres todos os escravos. Mas os movimentos sociais de combate ao racismo e afirmação da

população negra defendem que a data fundamental é o dia 20 de novembro, dia em que Zumbi, líder do Quilombo

dos Palmares, foi morto, em 1695.

A disputa em torno das duas datas tem motivos muito sérios. Na primeira data, a memória que fica registrada

é a do ato da princesa que concedeu a liberdade aos escravos; na segunda data, permanece a memória do mais im-

portante e conhecido líder negro que combateu a escravidão. São leituras opostas sobre o passado que revelam as

tensões e diferenças entre os grupos sociais no tempo presente.

Durante a maior parte do século XX, prevaleceu a memória do dia 13 de maio como marco da libertação dos

escravos. Na história ensinada nas escolas, o ato da princesa era narrado como um gesto de sabedoria e benevolência

da família real e, portanto, do Estado brasileiro. As narrativas em torno da abolição falavam que houve “dias de festejo”

e de comemorações em diversas cidades. A princesa foi batizada de “A Redentora” e sua imagem teria sido cultuada

pelos escravos libertos, como se cultuam imagens dos santos católicos.

No entanto, essa memória histórica foi colocada em xeque desde o surgimento do Movimento Negro Unifica-

do (MNU), em 1978, e do fortalecimento do debate em torno do racismo e da discriminação sofrida pela população

negra no Brasil. O MNU e outros movimentos atuaram em várias frentes: denunciaram a desigualdade no tratamento

dado a negros e brancos, fizeram pesquisas sobre a permanência de práticas racistas no Brasil atual e criticaram dura-

mente a ausência de personagens, datas e símbolos da cultura negra na História do Brasil.

A data de 20 de novembro foi transformada no Dia da Consciência Negra e, desde o final da década de 1970,

passou a reunir atividades políticas e culturais em todo o país. Em 2003, uma lei federal incluiu a data no calendário

escolar, incentivando o debate sobre o assunto em sala de aula.

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Assim, foi a atuação do movimento negro e de intelectuais ligados ao tema do racismo que fortaleceram a me-

mória coletiva que havia sido silenciada da memória nacional. Uma data não é capaz de mudar a história de um país,

mas sua presença simbólica transforma nossa reflexão sobre o que pensamos e sabemos da história.

Nesta unidade, refletimos sobre a memória como um permanente trabalho para dar significados às nossas

experiências cotidianas. Com base nessa reflexão, discutimos como a memória de cada um (a memória individual)

relaciona-se com as memórias da comunidade e as memórias da sociedade brasileira, e procuramos entender por que

a memória é um elemento importante da nossa identidade pessoal e coletiva.

Discutimos também como a memória coletiva é fruto de diversas contribuições e vimos como ela constrói

identidades coletivas. Finalmente, começamos a analisar de que modo são produzidas as memórias coletivas e a me-

mória nacional. Na unidade seguinte, vamos entender como a história da formação da sociedade brasileira tem sido

contada e como tem ocultado a memória de diversos grupos sociais e étnicos.

O dia 13 de maio de 1888 marcou oficialmente o fim da escravidão no Brasil, atra-

vés de uma lei assinada pela Princesa Isabel, durante uma viagem de Dom Pedro II ao

exterior. Naquela oportunidade, houve uma série de comemorações, principalmente no

Rio de Janeiro, capital do Império. O movimento negro, então, resolveu abolir essa data e

comemorar a negritude no dia 20 de novembro, denominado Dia da Consciência Negra.

Razão mais que justa, pois, de fato o 13 de maio foi uma data que ocorreu de “cima para

baixo”, sem a participação dos principais interessados no tema, apesar de haver no Brasil

um movimento abolicionista bem forte naquele período, principalmente nas cidades mais

importantes do sudeste do país.

Autor: Ricardo Barros Sayeg

Fonte: http://sinaisdahistoria.blogspot.com/2010/05/abolicao-da-escravatura-13-de--maio.html (acesso em 20 de março de 2011)

a. Tendo em vista a leitura do texto, em sua opinião que data deveria ser comemo-

rada: 13 de maio ou 20 de novembro? Justifique sua resposta.

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ResumoNesta unidade, vimos que:

- A memória, seja individual ou coletiva, tem relação direta com a identidade. Como vimos, um indivíduo que

perdesse toda sua memória, perderia também, por consequência, sua identidade.

- A memória possibilita-nos acumular informações que nos serão úteis, permitindo dar respostas mais satisfa-

tórias às situações presentes.

- Memória coletiva corresponde ao conjunto de significações que atribuem identidade à coletividade.

- A memória coletiva transcende as vivências pessoais. Por exemplo: um cristão identifica-se com a trajetória

realizada por outros cristãos, isto é, com as vivências de outros indivíduos pertencentes a essa coletividade.

- As instituições sociais interpretam o seu passado com o intuito de dar sentido às experiências do presente.

- Nomear ruas e praças com personagens históricos é uma forma de lhes prestar homenagem, além de reforçar

a memória sobre determinados feitos históricos. Os feriados exercem a mesma função.

- Os feriados expressam os interesses de determinados grupos sociais e, em função disso, são muitas vezes

alvos de disputa.

b. Você conhece outras datas históricas que geram disputas entre memórias distin-

tas? Por que você acha que isso ocorre?

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 31

Veja aindaSe você tem interesse em ampliar seus conhecimentos sobre memória e identidade, damos as seguintes su-

gestões:

Filme

� Narradores de Javé

Direção: Eliane Caffé

Brasil, 2003.

A pequena cidade de Javé será inundada pela construção de uma represa. A única chance dos moradores é

provar que a cidade possui um “patrimônio histórico” que impeça a inundação. O carteiro Antonio Biá é o único

que sabe escrever, por isto, é escolhido para recolher os relatos dos moradores e fazer um livro documentando

a importância do local. O filme é uma comédia sobre as dificuldades enfrentadas quando se pretende defender

um patrimônio histórico que tem importância local, mas não é relevante para o Estado.

Livro

� “Infância”, Graciliano Ramos, 1945.

O livro narra a infância do autor, o alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), de um modo ficcional, isto é, mis-

turando aspectos vividos por ele a outros elementos inventados.

Site

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional é um órgão responsável pela definição dos lugares,

objetos e práticas culturais que serão preservados como “patrimônio”. No site, você pode acessar muitas infor-

mações sobre o patrimônio histórico brasileiro. Se você clicar em “coletânea virtual” no alto da página e acessar

“Dossiê do Patrimônio Imaterial” poderá conhecer as várias práticas populares que foram registradas como

parte do nosso patrimônio.

� www.iphan.gov.br

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• http://www.sxc.hu/photo/987763

• http://www.flickr.com/photos/ecpelotas/2968902204/

• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Maracan%C3%A3_024.jpg

• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Feijoada_2008.JPG

• http://www.sxc.hu/photo/1152328

• http://www.sxc.hu/photo/734189

• http://www.dominiopublico.gov.br/download/imagem/jn005231.jpg

• http://www.guiageo-grecia.com/mapas.htm

Referências

Livros

� BOSI, Eclea. Memória e Sociedade. Lembrança de Velhos. São Paulo, T.A.Editor, 1979.

� LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas, SP, Editora da Unicamp, 2003.

� COOK, Michael. Uma breve história do mundo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar editor, 2005.

Imagens

• Acervo pessoal • Andreia Villar

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 33

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:1%C2%BA_Maio_1980_Porto_by_Henrique_Matos.jpg

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:PracaTiradentesRJ.JPG

• http://www.sxc.hu/photo/517386

• http://www.google.com.br/imgres?q=mapa+da+cidades-Estado+grécia+antiga&hl=pt-BR&sa=X&biw=799&bih=946&tbm=isch&prmd=imvns&tbnid=GlzsgwJxjsN7bM:&imgrefurl=http://construindohistoriahoje.blogspot.com/2012/02/o-governo-nas-cidades-estados-gregas.html&docid=CKRiD63hNkjwAM&imgurl=http://3.bp.blogspot.com/-1Y7PB-QOtCU/TzMTMbqUh3I/AAAAAAAAENs/-JPArN8YOgs/s1600/grecia-antiga10.gif&w=342&h=292&ei=0x_6T4ODAoH89QSY4fjxBg&zoom=1

• http://4.bp.blogspot.com/-JMp3QM0bfs4/TXqMtvzhwJI/AAAAAAAAAz8/zqT22wdHmd4/s1600/linha%2Bdo%2Btempo%255B1%255D.JPG http://www.google.com.br/imgres?q=linha+do+tempo+história+nascimento+de+cristo&um=1&hl=pt-BR&tbm=isch&tbnid=yIQ0qwF1UuCuuM:&imgrefurl=http://blig.ig.com.br/portalhistoria/2009/01/19/introducao-a-historia/&docid=2jNhSvDnNyZ9uM&imgurl=http://blig.ig.com.br/portalhistoria/files/2009/02/nascimento-de-cristo.jpg&w=2304&h=1087&ei=yCn6T4DWDYb-8ATsjIHpBg&zoom=1&iact=hc&vpx=71&vpy=465&dur=1012&hovh=154&hovw=327&tx=173&ty=70&sig=113935173938204297203&page=1&tbnh=89&tbnw=188&start=0&ndsp=18&ved=1t:429,r:7,s:0,i:95&biw=799&bih=946

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Atividade 1

Esta atividade de certa forma foi uma “pegadinha”. O poema de Casimiro de Abreu,

de qual reproduzimos apenas uma parte, traz em sua totalidade lembranças positivas so-

bre o passado. Neste caso, qualquer trecho que você tenha escolhido está correto.

Infelizmente, foram muitos os fatos históricos pertencentes à História mundial ou

do Brasil passíveis de nos trazer más recordações. Um exemplo bem emblemático de um

fato histórico nefasto foi o Holocausto, isto é, o assassinato de milhões de pessoas na Se-

gunda Guerra Mundial, dentre as quais judeus, comunistas e deficientes mentais.

Atividade 2

a. No depoimento, o senhor Francisco fala dos seus aprendizados ao lado da famí-

lia, numa pequena fazenda. Lá ele aprendeu a plantar, capinar e manejar os bois

no arejo. Também aprendeu sobre o tempo da natureza, as relações entre o sol,

a duração dos dias e a atividade agrícola.

b. Este item exige uma resposta bem pessoal. O importante é que você se recorde

de uma situação que considera ter adquirido conhecimentos importantes para

sua vida. Você estava sozinho, quando assimilou tais conhecimentos? Caso con-

trário, lembre-se de quem lhe ensinou.

Atividade 3

Já que há incontáveis organizações e como não temos como saber de antemão a

organização que você escolheu, vamos apresentar aqui, como exemplo, a famosa banda

nacional de rock Titãs.

Os integrantes da banda realizam atividades diversas, dentre as quais podemos des-

tacar: os ensaios, os shows e as atividades de divulgação, como a apresentação em progra-

mas de televisão, por exemplo.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 35

Como são muitos integrantes, certamente, há divergências entre uma ideia ou ou-

tra. O importante é que, enquanto uma banda, estão organizados de modo a compor e

apresentar músicas inéditas, tendo o Rock n’ Roll como estilo.

Grande parte dos integrantes da banda conheceu-se ainda nos tempos de colégio.

Começaram fazendo shows em casas noturnas com o nome de “Titãs do lê-lê”. Era uma

banda inovadora. Sua formação inicial incluía nove integrantes, o que é bem peculiar,

tratando-se de uma banda de rock. Os fundadores da banda são Arnaldo Antunes, Branco

Mello, Marcelo Fromer, Nando Reis, Tony Belloto, Ciro Pessoa, André Jung, Paulo Miklos e

Sérgio Britto. Em 1984, eles fecharam um contrato com uma gravadora e lançaram o seu

primeiro disco, já com o nome de “Titãs”.

Atividade 4

A formação da identidade coletiva depende das experiências históricas comparti-

lhadas entre os seus integrantes. Além disso, é preciso que essas experiências possam ser

transmitidas culturalmente, por isso, é necessário certa unidade de idioma e de formas

culturais. A memória coletiva produz uma atmosfera comum de histórias, valores e crenças,

onde cada indivíduo incorpora determinados elementos para formar sua identidade no

grupo ou na nação.

Atividade 5

Como você já deve ter percebido, as cidades são repletas de ruas e praças que ho-

menageiam personalidades e eventos históricos. Não temos como adivinhar o persona-

gem que você escolheu; logo, neste caso, vamos dar um exemplo:

Rua Vinicius de Moraes. Fica no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro.

Vinicius de Moraes foi um poeta muito popular. Sua obra estende-se também à mú-

sica, literatura e teatro. Sua vida afetivo-amorosa foi muita intensa. Só para se ter uma ideia,

ele se casou nove vezes.

Vale notar que não foi por acaso que lhe prestaram homenagem, justamente em

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Ipanema, bairro que ele ajudou a tornar conhecido internacionalmente. Na rua Vinicius

de Moraes, fica o bar no qual ele compôs, juntamente com Tom Jobim, a música Garota

de Ipanema, que é uma das mais conhecidas e tocadas no mundo. Repare como o simples

fato de ter uma rua com o seu nome ajuda a resgatar memórias sobre ele e o seu tempo.

Atividade 6

a. O importante aqui, seja qual for a sua posição, é que você justifique a escolha por

uma data ou outra. Sendo assim, caso tenha optado pelo dia 13 de maio, você pro-

vavelmente alegou que a assinatura da Princesa Isabel foi o fato histórico mais re-

levante na abolição da escravatura. Talvez também tenha mencionado ser o mais

simbólico: afinal, foi a partir dele que a escravatura foi formalmente abolida.

Caso tenha optado pelo dia 20 de novembro, você provavelmente argu-

mentou que o Dia da Consciência Negra deveria ser lembrado muito mais pela

imagem de um dos mais importantes líderes abolicionistas, do que pela assina-

tura de uma princesa branca, que apenas formalizou a abolição.

b. Datas históricas que se convertem em feriado podem gerar disputas políticas e

ideológicas. Como vimos, as comemorações sobre o “descobrimento” do Brasil

suscitam controvérsias, já que o próprio conceito de “descobrimento” é questio-

nável. O Brasil era habitado pelos índios nativos quando os portugueses chega-

ram aqui. Sendo assim, a noção de “descobrimento” é uma perspectiva eurocên-

trica, isto é, do europeu, razão pela qual, segundo esse ponto de vista, essa data

não deveria ser celebrada por nós.

Outros feriados também podem ser alvos de disputa. Por exemplo, o Na-

tal, que é um feriado cristão, pode ser questionado por quem não é religioso ou

por quem adota outra religião, até porque, vale lembrar, o Brasil é um país laico,

ou seja, no qual a religião e o Estado são separados.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 37

O que perguntam por aí?

(Enem 2011, Ciências Humanas e suas tecnologias, questão 26)

É difícil encontrar um texto sobre a Proclamação da República no Brasil que não cite a afirmação de Aristides

Lobo, no Diário Popular de São Paulo, de que “o povo assistiu àquilo bestializado”. Essa versão foi relida pelos enal-

tecedores da Revolução de 1930, que não descuidaram da forma republicana, mas realçaram a exclusão social, o

militarismo e o estrangeirismo da fórmula implantada em 1989. Isto porque o Brasil brasileiro teria nascido em 1930.

Mello M. T. C. A república consentida: cultura democrática e científica no final do Império. Rio de Janeiro: FGV, 2007 (adaptado)

O texto defende que a consolidação de uma determinada memória sobre a Proclamação da República no Brasil

teve, na Revolução de 1930, um dos seus momentos mais importantes. Os defensores da Revolução de 1930 procura-

ram construir uma visão negativa para os eventos de 1889, porque esta era uma maneira de

a. valorizar as propostas políticas democráticas e liberais vitoriosas.

b. resgatar simbolicamente as figuras políticas ligadas à Monarquia.

c. criticar a política educacional adotada durante a República Velha.

d. legitimar a ordem política inaugurada com a chegada desse grupo ao poder.

e. destacar a ampla participação popular obtida no processo de Proclamação.

A alternativa correta é a letra “d”.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias · História 39

Atividade extraFascículo 1 • História • Unidade 1Memória e experiência social

Questão 1

Alguma coisa acontece no meu coração

Que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João

É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi

Da dura poesia concreta de tuas esquinas

Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee

A tua mais completa tradução

Alguma coisa acontece no meu coração

Que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João”

Fonte: http://letras.mus.br/caetano-veloso/41670/ Acessado em 23 de julho de 2013

Observamos na letra da música a citação saudosa de nomes de avenidas importantes da cidade de São Paulo.

Nomes que fazem parte da memória coletiva de seus moradores. Porém, a relação do autor com essas avenidas tem

ligação com as suas próprias memórias. Analise, destacando trechos do texto, a diferença entre a memória do autor

e a memória coletiva.

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Questão 2

Observe a imagem e responda a questão:

A cerimônia de um casamento é um momento

importante para nossa sociedade. Quando folheamos

um álbum de fotografia ativamos lembranças e me-

mórias que envolvem as nossas vidas e as de outras

pessoas com as quais compartilhamos aqueles mo-

mentos. Nesse sentido, e de acordo com o texto e a

imagem, pode-se concluir que a memória é

a. o resultado de diversas experiências que envolvem os indivíduos, um fato influenciado pelo que a so-

ciedade considera importante ser lembrado.

b. uma experiência biológica, o que significa que ela não se relaciona com as identidades individuais e

coletivas, nem é por elas influenciada.

c. uma lembrança, ou seja, ideia de uma coisa ou de determinada pessoa, que é conservada em nosso

cérebro, mas que tem importância individual.

d. uma faculdade psíquica através da qual se consegue reter e (re)lembrar ações que vão ao encontro das

necessidades presentes.

Questão 3

Diferentes civilizações elaboraram ao longo da História formas distintas de organizar o Tempo. Esse processo

de elaboração de tempos cronológicos é acompanhado da formação cultural e histórica de cada uma dessas civili-

zações, envolvendo também os jogos da Memória. No mundo ocidental, o nosso tempo cronológico é demarcado

a. pela Hégira, fuga do profeta Maomé de Meca para Medina, evento fundador do calendário Islâmico.

b. pela data de fundação de Roma, futura capital do Império onde pregaram os apóstolos, como Pedro.

c. pela instituição do Império Romano no Ocidente, marco da ruptura com o Império Romano do Oriente.

d. pela forte presença do Cristianismo, sendo o nascimento de Jesus o marco de nosso calendário, o ano 1.

Fonte: http://casamento.culturamix.com/fotos/album-de- fotos-de-casamento. Acesso em 12/080/2013.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias · História 41

Questão 4

O Holocausto, prática de perseguição po-

lítica, étnica, religiosa e sexual estabelecida du-

rante os anos de governo nazista de Adolf Hitler,

nas décadas de 30 e 40 do século XX, no qual seis

milhões de pessoas foram exterminadas pelos

soldados nazistas, tema central do filme “A lista de

Schindler”, retrata a memória coletiva do povo:

a. judeu.

b. francês.

c. inglês.

d. italiano.

Pesquisa de Campo

Nas cidades, caro aluno, há numerosos espaços de Memória. Seus moradores ou governantes costumam trans-

formar em monumento um evento, uma idéia ou um personagem. A decisão de monumentalizar acontecimentos ou

pessoas serve para tornar presente, sempre e uma vez mais, um símbolo que irá representar a comunidade. As vontades

de memória podem partir de critérios os mais diversos. Veja este, que encontramos na cidade de Porto Seguro, na Bahia.

(Fonte: www.capuchinhosbase.org.br. Acesso em 27/08/2013)

Fonte: http://www.10emtudo.com.br/artigo/steven-spielberg/. Acesso em 15/08/2013.

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Isso mesmo, caro aluno! Você está correto se respondeu que é a réplica da Nau do “Descobrimento”, que apor-

tou em 1500 na localidade que hoje damos o nome de Porto Seguro, sob o comando de ninguém menos do que

Pedro Álvares Cabral.

Perceba, portanto, que Porto Seguro é uma cidade que se apresenta como marco do “Descobrimento” do Bra-

sil. Sua gente decidiu monumentalizar esse evento e ser reconhecida por ele em todo o nosso país.

E a sua cidade, caro aluno: quais monumentos ela exibe como vontades de memória? Faça um passeio por

ruas e praças. Tome nota do que viu e do que observou de suas conversas. A partir dessas informações, escreva um

relato de experiência para entregar ao seu professor!

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Ciências Humanas e suas Tecnologias · História 43

Gabarito

Questão 1

A memória produz significados para nossa história pessoal e nos ajuda na relação com o mundo, com

outras pessoas e com nossas experiências anteriores. Ela forma a nossa identidade pessoal e uma forma

de compreensão de mundo. Observamos isso na relação do autor com o passado, mais especificamen-

te com o momento em que Caetano visita algumas Avenidas de São Paulo, quando diz: “Alguma coisa

acontece no meu coração”. Já a memória coletiva é o conjunto de significações, construído por um grupo

social a partir de vivências comuns, isto é, a partir das experiências compartilhadas. Apesar da distinção

dos conceitos, o aluno deverá observar que a memória individual é fortemente influenciada pelas expe-

riências coletivas. E vice-versa. Ou seja, em uma resposta completa, deverá perceber que somos sujeitos

históricos, que afetam e são afetados pelos diversos movimentos do meio em que vivemos, dentre eles

a memória.

Questão 2

A B C D

Questão 3

A B C D

Questão 4

A B C D

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Pesquisa de Campo

Possibilidade de resposta: Livre. O aluno deverá reconhecer a importância da metodologia de pesquisa de cam-

po para a coleta de informações. Poderá escolher monumentos diversos, como estátuas, prédios, patrimônio

imaterial (danças, festejos locais). É importante que o aluno identifique os interesses políticos e sociais por trás

das “vontades de memória”.