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01 HISTÓRIA Ciências Humanas e Suas Tecnologias Professor Nilton Sousa MULTICULTURALISMO E XENOFOBIA NO CENÁRIO GEOPOLÍTICO EUROPEU A Globalização everythingpossible/123RF/Easypix Não é assunto desconhecido de todos que a Globalização é um conceito atual, entretanto o seu comportamento estrutural é algo que vem se repetindo ao longo da História. A expressão parece ser tão fluida que já foi aplicada ao desenvolvimento de civilizações como a Fenícia e a Cretense, em face do caráter supracomercial desenvolvido pelas mesmas, ultrapassando fronteiras e adequando processos e métodos de interação com outros povos para fins de sustentabilidade das suas respectivas atividades econômicas, mediante a formulação de feitorias, desenvolvimento de uma classe mercantil e a consequente descaracterização cultural entre povos, naquele momento histórico singular. O próprio mundo macedônico, reunindo princípios culturais polarizados do Ocidente e do Oriente, criou uma perspectiva que situava o homem grego como um cosmopolita, equivalente a uma espécie de homem global, sem fortes enraizamentos nacionalistas ou sectaristas. Muitos analistas contemporâneos têm estendido a compreensão do conceito de Globalização para analisar situações semelhantes de consecução da integração de mercados. O mercantilismo, durante a Idade Moderna, teve esse tipo de comportamento, na medida em que exigiu das nações europeias e Estados Modernos, recém-constituídos, a formulação da acumulação primitiva de capital; necessidade que se ajustou à Expansão Marítima Europeia, de modo a buscar esse tal lastro de enriquecimento a partir da definição de produtos atrativos no mercado externo. A integração de matérias-primas e produtos da África, Europa, Ásia e América refletem um fenômeno de globalização, mesmo que, sem fundamentação teórica definida. O século XIX também testemunhou algo similar, na medida em que a Segunda Revolução Industrial desencadeou a necessidade de busca de subsídios primários nos continentes africano e asiático, mediante a também instrumentação de colônias, para fins exploratórios extorsivos, conforme se pode verificar por diversas fontes historiográficas. Em nenhum desses fenômenos geopolíticos e econômicos da História houve o efetivo respeito pelas culturas locais, desenvolvendo verdadeiras alterações culturais, mediante o reforço de sistemas etnocêntricos ou eurocêntricos. De 1970 para os dias atuais, a Globalização “teorizada”, “fundamentada” ou “propriamente dita”, revelou-se por elementos mais complexos e adaptações mais diversificadas, conforme a política neoliberal desenvolvida por diversas nações, com fins de racionalização do Estado e do seu processo de intervenção na economia; surgiu a ideia do Estado com funções essenciais, que permitisse a livre entrada de capitais sem fortes instrumentos de concorrência interna. Em síntese, a base, ou lógica, das chamadas “Aldeias Globais” pode ser definida pela livre circulação de pessoas, mercadorias, capitais e, por que não dizer, ideologias, culturas, modelos políticos e econômicos! O Ataque Terrorista ao WTC Robert/Wikimedia Commons Pode-se afirmar que, de um certo modo, o processo de Globalização foi abalado no “11 de setembro”, tendo em vista que a confiabilidade entre as nações no concernente à segurança nacional das mesmas foi abalada. Não seria exagerado dizer que a Globalização, naquele ano de 2001 passou por um processo de retração, com a criação de mecanismos de controle e fiscalização dos fenômenos migratórios, mercadológicos e de comunicação em geral. A partir daquele momento, e em face de se apontar na al-Qaeda a geratriz do atentado, os meios de comunicação de massa nos Estados Unidos, e por efeito dominó, na Europa e em diversos países latino- -americanos passaram a situar uma atmosfera de suspeita no entorno do homem islâmico a visão estereotipada e preconceituosa de terror. Essa é a base de um fenômeno que irá se estender e se multiplicar, a partir de insinuações diretas ou indiretas, veladas ou não, de modo a ampliar desconfianças e um verdadeiro estado de paranoia, reforçado pelas ameaças de grupos islâmicos fundamentalistas, extremistas ou radicais. Diversas políticas, então, foram criadas em diversos países, de modo a desenvolver sistemas de segurança mais eficazes e preventivos contra novos ataques. Uma avalanche de iniciativas militares, originadas nos Estados Unidos, que contou com o constante apoio da Inglaterra, com ou sem a sansão da ONU, também contribuiu decisivamente para cristalizar, sutilmente, uma mentalidade de suspeição gratuita contra povos e indivíduos de origem islâmica.

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nº01HISTÓRIA

Ciências Humanas e Suas Tecnologias

Professor Nilton Sousa

MULTICULTURALISMO E XENOFOBIANO CENÁRIO GEOPOLÍTICO EUROPEU

A Globalização

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Não é assunto desconhecido de todos que a Globalização é um conceito atual, entretanto o seu comportamento estrutural é algo que vem se repetindo ao longo da História.

A expressão parece ser tão fluida que já foi aplicada ao desenvolvimento de civilizações como a Fenícia e a Cretense, em face do caráter supracomercial desenvolvido pelas mesmas, ultrapassando fronteiras e adequando processos e métodos de interação com outros povos para fins de sustentabilidade das suas respectivas atividades econômicas, mediante a formulação de feitorias, desenvolvimento de uma classe mercantil e a consequente descaracterização cultural entre povos, naquele momento histórico singular.

O próprio mundo macedônico, reunindo princípios culturais polarizados do Ocidente e do Oriente, criou uma perspectiva que situava o homem grego como um cosmopolita, equivalente a uma espécie de homem global, sem fortes enraizamentos nacionalistas ou sectaristas.

Muitos analistas contemporâneos têm estendido a compreensão do conceito de Globalização para analisar situações semelhantes de consecução da integração de mercados.

O mercantilismo, durante a Idade Moderna, teve esse tipo de comportamento, na medida em que exigiu das nações europeias e Estados Modernos, recém-constituídos, a formulação da acumulação primitiva de capital; necessidade que se ajustou à Expansão Marítima Europeia, de modo a buscar esse tal lastro de enriquecimento a partir da definição de produtos atrativos no mercado externo.

A integração de matérias-primas e produtos da África, Europa, Ásia e América refletem um fenômeno de globalização, mesmo que, sem fundamentação teórica definida.

O século XIX também testemunhou algo similar, na medida em que a Segunda Revolução Industrial desencadeou a necessidade de busca de subsídios primários nos continentes africano e asiático, mediante a também instrumentação de colônias, para fins exploratórios extorsivos, conforme se pode verificar por diversas fontes historiográficas.

Em nenhum desses fenômenos geopolíticos e econômicos da História houve o efetivo respeito pelas culturas locais, desenvolvendo verdadeiras alterações culturais, mediante o reforço de sistemas etnocêntricos ou eurocêntricos.

De 1970 para os dias atuais, a Globalização “teorizada”, “fundamentada” ou “propriamente dita”, revelou-se por elementos mais complexos e adaptações mais diversificadas, conforme a política neoliberal desenvolvida por diversas nações, com fins de racionalização do Estado e do seu processo de intervenção na economia; surgiu a ideia do Estado com funções essenciais, que permitisse a livre entrada de capitais sem fortes instrumentos de concorrência interna.

Em síntese, a base, ou lógica, das chamadas “Aldeias Globais” pode ser definida pela livre circulação de pessoas, mercadorias, capitais e, por que não dizer, ideologias, culturas, modelos políticos e econômicos!

O Ataque Terrorista ao WTC

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Pode-se afirmar que, de um certo modo, o processo de Globalização foi abalado no “11 de setembro”, tendo em vista que a confiabilidade entre as nações no concernente à segurança nacional das mesmas foi abalada.

Não seria exagerado dizer que a Globalização, naquele ano de 2001 passou por um processo de retração, com a criação de mecanismos de controle e fiscalização dos fenômenos migratórios, mercadológicos e de comunicação em geral.

A partir daquele momento, e em face de se apontar na al-Qaeda a geratriz do atentado, os meios de comunicação de massa nos Estados Unidos, e por efeito dominó, na Europa e em diversos países latino- -americanos passaram a situar uma atmosfera de suspeita no entorno do homem islâmico a visão estereotipada e preconceituosa de terror.

Essa é a base de um fenômeno que irá se estender e se multiplicar, a partir de insinuações diretas ou indiretas, veladas ou não, de modo a ampliar desconfianças e um verdadeiro estado de paranoia, reforçado pelas ameaças de grupos islâmicos fundamentalistas, extremistas ou radicais.

Diversas políticas, então, foram criadas em diversos países, de modo a desenvolver sistemas de segurança mais eficazes e preventivos contra novos ataques.

Uma avalanche de iniciativas militares, originadas nos Estados Unidos, que contou com o constante apoio da Inglaterra, com ou sem a sansão da ONU, também contribuiu decisivamente para cristalizar, sutilmente, uma mentalidade de suspeição gratuita contra povos e indivíduos de origem islâmica.

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Em paralelo, o Conflito Palestina-Israel, tendo que enfrentar o radicalismo de grupos terroristas como o Hamas, consolidava, pari passu, essa visão generalizante, difusa e, por vezes, distorcida, responsável por algum intervencionismo governamental justificado pela necessidade do estabelecimento da segurança nacional.

Começava, a partir desses eventos, de modo não consciente e pouco evidente, um processo de islamofobia.

A Crise Capitalista de 2008

É de domínio público a compreensão de que o sistema capitalista, frente às experiências socialistas (algumas fracassadas e outras sob significativas alterações), desde o seu nascedouro, tem sofrido fenômenos de adaptação, uniformização, dialética, convenção e mutação em um ou mais princípios constitutivos do seu arcabouço teórico-estrutural.

A crise de escassez de metais preciosos, durante a Idade Moderna, a incompatibilização entre mercado consumidor Europeu e produção industrial, no século XIX, levando ao desenvolvimento do Imperialismo/Neocolonialismo e o clássico colapso da Bolsa de Valores de Nova Iorque são exemplos poderosos que estão na base desses fenômenos supracitados.

Com a Globalização e a aplicação da Política Neoliberal, acreditou-se que a formulação do “Estado Mínimo”, restrito às funções de manutenção da saúde, segurança e educação fosse capaz de perenizar a sustentabilidade do sistema, em uma espécie de ajuste que mesclava elementos do liberalismo e do keynesianismo.

Entretanto, a ampliação da rede de crédito imobiliário em países como os Estados Unidos, França, Inglaterra e Alemanha, só pra citar alguns, dinamizou a economia de imóveis, porém, não contou com o hipertrofiamento de produtos e de capitais nos multimercados dos megablocos, uniões aduaneiras e áreas de livre comércio.

Fenômenos cambiais acompanhados pela desvalorização crescente da moeda, balanças comerciais e PIB’s abaixo do previsto, bem como a ampliação dos juros, foram o início de um processo recessivo que culminou com a inadimplência e o calote propriamente ditos, sobretudo, entre indivíduos de pessoa física.

A crise Prime, como se convencionou chamar, alastrou-se por diversos setores da economia que tinham o seu lastro de investimento no reduto financeiro imobiliário, atingindo, em cheio, principalmente os Estados Unidos e a Europa, convivendo, em paralelo, com uma difusa “blindagem” do Brasil e o crescimento do “Gigante Asiático”, a China.

O Processo Migratório no Mundo Global

Dissemos outrora que o fenômeno da Globalização se desenvolve sob a premissa da quebra de barreiras alfandegárias, com desdobramentos não somente na área econômica, como também política e social e, neste último aspecto, no que se refere ao fluxo e circulação de pessoas entre nações, principalmente de um mesmo bloco ou união aduaneira.

O processo migratório obedecia a um caráter turístico, às vezes atrelado à especificidade das atividades de algumas empresas multinacionais e transnacionais, mas não se limitava apenas a esse caráter de natureza econômica, tendo em vista que as turbulências do mundo oriental também contribuíram para o crescimento do movimento migratório dos países de base muçulmana para o ambiente da União Europeia, principalmente.

A acessibilidade aos conteúdos de rede, instrumentalizados pela Internet, desdobramento tecnológico da própria globalização, permitiu que cidadãos comuns da sociedade civil entrassem em contato com diversos aspectos da democracia e também se articulassem na formação de movimentos reivindicatórios, já que o contexto em que viviam na Tunísia, no Egito, na Líbia e na Síria se achavam caracterizados pela centralização do poder em ditaduras com a idade média de 30 anos.

Os movimentos em prol da democratização desses espaços geográficos produziram comoções e conflitos profundos, levando alguns deles a guerras civis de elevadas proporções, repercutindo na política internacional e organismos dos Direitos Humanos.

Em paralelo, o mundo oriental não tivera ainda uma trégua ou solução definitiva quanto aos ataques terroristas de grupos extremistas, fato preponderante para o desencadeamento de fluxos migratórios na direção do continente europeu.

Acrescente-se a esse conjunto de elementos os efeitos da crise de 2008 que, ao produzirem uma grave recessão, também provocam o movimento de grandes contingentes populacionais, agravando o cenário de depressão econômica de algumas nações, tais como França, Espanha, Alemanha, entre outras.

Esse cenário difuso tem se aprofundado e se ampliado na Europa e, sobretudo, no território francês tem levantado dilemas políticos e sociais, com o desenvolvimento de sentimentos de oposição à presença de imigrantes, principalmente, muçulmana e foi nesse contexto que jornais como Charlie Hebdo passaram a satirizar, de modo sistemático, os terroristas, os muçulmanos e até o profeta Maomé.

Liberdade de Imprensa X Fundamentalismo Religioso

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Desde a Imprensa de Guttemberg, o processo de difusão do conhecimento extrapolou, gradativamente, os limites estreitos e exclusivistas de determinados segmentos sociais, inclusive, pelo enfraquecimento do Latim como língua proeminente das obras publicadas, com a tradução de inúmeras às línguas nacionais, num fenômeno que reforçava o Absolutismo Monárquico em recrudescimento.

Talvez ninguém imaginasse que aquele invento fosse tão útil ao desenvolvimento dos futuros processos revolucionários, sobretudo, quando o Iluminismo foi elaborado por homens geniais como Locke, Voltaire, Rousseau, Montesquieu, Diderot e D’alembert. O fato é que as suas ideias correram a Europa e o mundo...

Palavras como liberté, egalité, fraternité, tornaram-se pilares da utopia revolucionária, encontrando nos movimentos liberais, sobretudo, na Revolução Francesa, o ápice do seu desenvolvimento. A invenção do Dr. Guilhiotin funcionara intensamente para a defesa desses ideais.

A palavra “liberdade” ganhou estatuto, identidade e direito de manifestação, de modo que, para um francês não se trata de um mero dispositivo jurídico, mas um patrimônio, um monumento intelectual, natural de todo ser humano.

O desdobramento do princípio da liberdade no ambiente da imprensa foi levado a limites inimagináveis, quer dizer, à total ausência de limites quanto ao que se possa expressar, dizer, publicar, divulgar, enfim...

Esse é um polo da dicotomia que tomou conta do cenário francês, no início de 2015. Há dois anos, aproximadamente, jornais da França e chargistas satirizavam, de um modo mais intenso e direto, aspectos variados da política, da sociedade e da religião, neste último, em função de todo aquele contexto migratório e dos dilemas da economia francesa, as charges atingiram níveis culminantes que passaram a ser encaradas como ataques diretos ao profeta Maomé, causando protestos públicos em diversos países que seguem os princípios do Corão.

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Linguagens, Códigos e Suas Tecnologias

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O que poderia se radicar apenas como uma manifestação natural da imprensa, acabou se transformando em uma forma de instrumentação da xenofobia econômica e migratória já existente e uma nova palavra, um neologismo, passou a tomar conta dos textos jornalísticos: “islamofobia”.

Segundo o Corão, os seus adeptos devem crer em Aláh por único e supremo Deus e em Maomé como o seu profeta. O misticismo islamita, maometano ou muçulmano acredita que o profeta tenha recebido o livro sagrado das mãos do próprio Deus e, também, segundo o seu texto, o “muslim” (submisso à vontade de Aláh) não deve fazer, produzir ou reproduzir imagens do que há no céu ou na terra; algo similar ao que prega o judaísmo.

Essa breve exposição tem a finalidade de nos fazer entender o que é ser muçulmano, para termos uma dimensão de como as charges do Charlie Hebdo chegaram a repercutir nesse tipo de mentalidade ou cultura religiosa.

Aquele 7 de janeiro de 2015 ficou marcado na imprensa francesa como um ataque ao direito inalienável e inexpugnável da liberdade; uma ameaça aos direitos humanos; uma afronta violenta e radical ao princípio do liberalismo, garantido pela sua Constituição e o resultado de sangrentas lutas no passado.

O jornal satírico francês Charlie Hebdo foi invadido pelos irmãos Saïd e Chérif Kouachi como provável reação extremista à edição “Charia Hebdo”, recebido como um insulto aos muçulmanos. Doze pessoas foram mortas e onze ficaram feridas entre seguranças, integrantes do jornal e agentes de polícia.

Outro ataque ocorreu contra o Montrouge, articulado por Coulibaly, um francês muçulmano, somando dezessete mortes entre 7 e 11 de janeiro. Em um vídeo publicado no Youtube, Coulibaly afirma-se integrante do Estado Islâmico do Iraque e do Lavante.

Em face disso, a frase “Je suis Charlie” converteu-se em uma espécie de manifesto em favor da liberdade de imprensa e de solidariedade com as vítimas do atentado, bem como uma forma de protesto contra a violência do Estado Islâmico e o terrorismo.

Uma Análise

A polêmica convertida em atentado e comoção mundial não é de fácil equalização, tendo em vista os elementos em jogo, quais sejam a crença na liberdade ou a crença no profeta. O fato é que em ambos os polos contemporizadores poderiam levantar a hipótese do extremismo. Extremismo da imprensa francesa que vai além dos limites ao direito de crença, superestimando a liberdade e extremismo do Estado Islâmico que é capaz de assassinar como forma de protesto contra as ofensas feitas ao Profeta.

De um lado e de outro temos crentes... os crentes defensores da liberdade a qualquer custo e os crentes defensores da integridade religiosa a qualquer preço.

Como não podemos dirimir esse dilema com tantos desdobramentos e vinculações variadas com os mais diversos temas da história, encerramos essa exposição com algumas perguntas:

• O direito à liberdade está acima do direito individual à crença?• É a liberdade absoluta ou ela se limita ao nível do que venha a

ser ofensiva para outrem?• A exigência do respeito à crença dos grupos ou povos teria o

direito de matar?• Os protestos pela indignação teriam o direito ao massacre?• Qual a posição do direito à vida nesse contexto?• O que é a liberdade para um francês?• O que é o profeta Maomé para os muçulmanos?• O jornal Charlie Hebdo poder vir a ser considerado islamofóbico?

Exercícios

1. (Uece/2014) Primavera Árabe: assim é chamada a onda revolucionária que, desde dezembro de 2010, tem varrido diversos países do Norte da África e do Oriente Médio e provocado mudanças por meio de resistência civil, greves, manifestações, comícios e até guerra civil. Esse processo corresponde a) à substituição de antigos governos, como o de Hosni Mubarak,

no Egito, e a luta pela deposição de outros, como o de Bashar al-Assad, na Síria.

b) à manutenção das tradicionais alianças entre as elites árabes e os governos dos EUA e de Israel que as apoiam na luta contra o terrorismo.

c) ao retorno de condições mais danosas aos trabalhadores de países, como Oma e Barein.

d) ao retorno de governos autoritários fortes, como o governo de Muamar Kadafi, na Líbia, e o de Ben Ali, na Tunísia.

2. (Mackenzie/2012) “Atacar não significa apenas assaltar cidadesmuradas ou golpear um exército em ordem de batalha, deve também incluir o ato de assaltar o inimigo no seu equilíbrio mental.”

Sun Tzu-Ping-fa, A Arte da Guerra, séc.IV a. C.

Terrorismo: 1.Modo de coagir, ameaçar ou influenciar outraspessoas, ou de impor-lhes a vontade pelo uso sistemático do terror; 2. Forma de ação política que combate o poder estabelecido mediante o emprego da violência.

Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa

A respeito do atentado terrorista, ocorrido em 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, e as consequências desse episódio para as relações geopolíticas internacionais no século XXI, é corretoafirmarquea) foi mais uma ação liderada pelos grupos extremistas Hamas e do

Hezbollah, contra a política norte-americana no Oriente Médio, utilizando, para tais ações suicidas, somente jovens de baixa renda e de pouca instrução, que acreditavam que tais atos lhes garantiriam o direito de ingressar no paraíso celestial.

b) a resposta americana ao ataque de 11 de setembro foi a perseguição sistemática ao milionário saudita Osama bin Laden que, em transmissões realizadas pela mídia na época, assumiu publicamente a autoria do atentado, provocando o aumento do sentimento xenofobista do povo norte-americano aos imigrantes de origem árabe residentes no país.

c) formou-se uma coalização internacional contando, principalmente, com o apoio da Inglaterra junto aos Estados Unidos, a fim de combater os focos terroristas no Oriente Médio, dando início à Guerra do Golfo e a um esforço, perante as agências internacionais de notícia, de combater o islamismo fundamentalista.

d) o ataque sofrido pelos EUA em 2001 tem relação direta com a atuação política norte-americana no Oriente Médio, que sempre visou atender aos interesses econômicos americanos na região, e resultou no aumento da insegurança junto à sociedade americana, jamais atacada anteriormente em seu próprio território.

e) a partir desse episódio, os EUA cortaram relações diplomáticas com o Paquistão, pois houve relutância, por parte da liderança religiosa paquistanesa, em indicar o local exato do esconderijo de bin Laden, o que possibilitaria a sua prisão imediatamente após o atentado de 11 de setembro.

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3. (ESPM/2007) Matéria do diário britânico The Guardian, do dia 19/10/2006, citando: autoridades antiterroristas comentam que o Reino Unido se tornou o maior alvo para a Al Qaeda, que realizaria atentados para promover perdas de vidas e embaraço às autoridades. O jornal afirmaqueasligaçõestradicionaisentreoReinoUnidoeoPaquistãotornam o primeiro um alvo fácil, já que milhares de pessoas viajam entre os dois países anualmente, dificultando omonitoramento desuspeitos pelas autoridades inglesas.

Folha de S.Paulo, 23/10/2006

Sobre as ligações tradicionais entre o Reino Unido e o Paquistão, aqueoenunciadofazreferência,podemosafirmarquea) o Paquistão foi vítima do imperialismo inglês, mas obteve a

independência em meio ao movimento de descolonização ocorrido no século XIX.

b) o Paquistão foi vítima do imperialismo inglês, mas obteve sua independência por decisão da Conferência de Berlim de 1885, reunião comprometida com o movimento de descolonização.

c) o Paquistão foi vítima do imperialismo inglês, mas obteve sua independência por decisão dos tratados firmados após a I Guerra Mundial.

d) o Paquistão foi vítima do imperialismo inglês, mas obteve sua independência após a Conferência de Bandung de 1955, quando surgiram dois estados soberanos: União Indiana e Paquistão.

e) o Paquistão foi vítima do imperialismo inglês, mas obteve sua independência em 1947, quando surgiram dois estados soberanos: a União Indiana (com maioria hinduísta) e o Paquistão (com maioria muçulmana).

4. (Unifesp/2007) “As diferenças sutis, mas cruciais, entre Hamas, Hezbollah e Al Qaeda são ignoradas quando se designa o terrorismo como o inimigo. Israel é vista como a base avançada da civilização ocidental em luta contra a ameaça existencial lançada pelo islã radical.”

Lorde Wallace de Saltaire, em discurso na Câmara dos Lordes em julho de 2006.

Do texto, depreende-se que o autor está, com relação ao Estado de Israel e ao terrorismo, a) apoiando a política independente do governo de Tony Blair. b) elogiando a política intervencionista proposta pela ONU. c) defendendo a política intransigente da Comunidade Europeia. d) alertando para a política cada vez mais beligerante por parte do Irã.e) criticando a política fundamentalista do presidente Bush.

5. (Enem/2002)1 – “(...) O recurso ao terror por parte de quem já detém o poder dentro

do Estado não pode ser arrolado entre as formas de terrorismo político,porqueestesequalifica,aocontrário,comooinstrumentoao qual recorrem determinados grupos para derrubar um governo acusado de manter-se por meio do terror”.

2 – Em outros casos, “os terroristas combatem contra um Estado de que não fazem parte e não contra um governo (o que faz com que sua ação seja conotada como uma forma de guerra), mesmo quando, por sua vez, não representam um outro Estado. Sua ação aparece então como irregular, no sentido de que não podem organizar um exército e não conhecem limites territoriais, já que não provêm de um Estado”.

Dicionário de Política (org.) BOBBIO, N., MATTEUCCI, N. e PASQUINO, G., Brasília: Edunb,1986.

De acordo com as duas afirmações, é possível comparar edistinguir os seguintes eventos históricos:I. Os movimentos guerrilheiros e de libertação nacional realizados

em alguns países da África e do sudeste asiático, entre as décadas de 1950 e 70, são exemplos do primeiro caso;

II. Os ataques ocorridos na década de 1990, como às embaixadas de Israel, em Buenos Aires, e dos EUA, no Quênia e Tanzânia, e ao World Trade Center em 2001, são exemplos do segundo caso;

III. Os movimentos de libertação nacional dos anos 50 a 70 na África e sudeste asiático e o terrorismo dos anos 90 e 2001 foram ações contra um inimigo invasor e opressor, e são exemplos do primeiro caso.

Écorretooqueseafirmaapenasema) I d) I e IIIb) II e) II e IIIc) I e II

6. (PUC-MG/2014) Islamismo e fundamentalismo islâmico têm sido utilizados como expressões sinônimas, com certa frequência, nos meios de comunicação. Entretanto, estão longe de constituir exatamenteamesmacoisa.Dentreasafirmaçõesabaixo,aquelaque não apresenta análise correta da questão islâmica é: a) O islamismo tem sido utilizado como uma resposta às políticas

imperialistas internacionais na região do Oriente Médio. b) O islamismo é uma religião exclusiva de povos árabes do Oriente

Médio e norte da África. c) O fundamentalismo islâmico se relaciona à leitura literal do

Corão, aplicando-a, inclusive, às questões políticas. d) O fundamentalismo islâmico surge como uma resposta à

ausência de possibilidades de negociação para as questões políticas e sociais regionais.

7. (Fuvest/1997) Os movimentos fundamentalistas, que tudo querem subordinar à lei islâmica (Sharia), são, hoje, muito ativos em vários países da África, do Oriente Médio e da Ásia. Eles tiveram a sua origem históricaa) no desenvolvimento do Islamismo, durante a Antiguidade, na

Península Arábica.b) na expansão da civilização árabe, durante a Idade Média, tanto a

Ocidente quanto a Oriente.c) na derrocada do Socialismo, depois do fim da União Soviética,

no início dos anos noventa.d) no estabelecimento do Império Turco-Otomano, com base em

Istambul, durante a Idade Moderna.e) na ocupação do mundo árabe pelos europeus, entre a segunda

metade do século XIX e a primeira do século XX.

8. (UFV-MG/2012 - Adaptado)

O IMPÉRIO DO MEDO Aspotênciasinflamedistorcemaameaçadoterrorparafazer

dela um instrumento de poder. E a mídia dispõe-se a ajudá-las a infantilizar e submeter as massas.

Carta Capital

A INDIFERENÇA Primeiro levaram os comunistas, mas eu não me importei com isso,

eu não sou comunista. Em seguida, levaram alguns operários, mas eu não me importei com isso, eu também não era operário. Depois prenderam os sindicalistas, mas eu não me importei com isso, eu não sou sindicalista. Depois, agarraram os sacerdotes, mas como eu não sou religioso, também não me importei. Agora estão me levando, mas já é tarde.

Bertold Brechet

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Ciências Humanas e Suas Tecnologias

Charge do Anegli . Folha de São Paulo. 11.01.2015

O texto da Carta Capital, o poema e a ilustração sugerem que a) o Estado usa a ideia de um suposto inimigo comum, um outro

sistema econômico ou social e outras etnias ou religiões etc, para implantar um terrorismo de Estado, restringindo as liberdades individuais de sua população.

b) com a ameaça externa, ou mesmo interna, o Estado é obrigado a implantar leis mais rígidas para manter a segurança de seu povo.

c) as populações do mundo todo estão amedrontadas com a ameaça do terrorismo e exigem de seus governos uma atitude severa em relação aos possíveis responsáveis.

d) é com atitude de indiferença que o Estado lida com a possível ameaça do comunismo ou do terrorismo, causando na população a sensação de insegurança.

e) é dever do Estado garantir o bem-estar de sua população e adotar medidas preventivas quanto a qualquer ameaça comunista ou terrorista dentro de suas fronteiras.

9. (Ibmec) As principais Bolsas do mundo tiveram, a partir de julho, sucessivas quedas atribuídas à Crise Imobiliária nos Estados Unidos.Sobreessacrise,écorretoafirmarque:a) O setor imobiliário e a construção civil nos Estados Unidos, que

teve um grande boom nos últimos anos, não foram afetados pela crise. As ações desse segmento continuam a ser as mais indicadas pelos bancos e gestores de investimento.

b) A crise imobiliária foi encerrada com a quebra do Banco francês BNP Paribas que tinha vários fundos de investimento com recursos aplicados em créditos gerados a partir de operações hipotecárias nos Estados Unidos, arrastando outros bancos.

c) A crise encerrou-se em julho quando o Banco Central Europeu, o Federal Reserve (Estados Unidos) e o Banco do Japão anunciaram o investimento de 94,8 bilhões de dólares no mercado imobiliário americano, salvando várias empresas do setor e aumentando a oferta de crédito.

d) O principal temor diz respeito à oferta de crédito disponível, já que foi detectada uma alta inadimplência do segmento imobiliário americano, com um número grande de americanos que estão atrasando ou deixando de pagar a hipoteca da casa própria.

e) O Brasil foi atingido parcialmente pela crise na medida em que grandes corporações americanas e japonesas também investiram no mercado imobiliário brasileiro que vivia uma grande expansão nos últimos anos, com o grande crescimento da construção civil.

10.(UFTM) Observe a fotografia de 31 de outubro de 2010, queregistrou peregrinos no círculo da Caaba na Grande Mesquita, em Meca, Arábia Saudita.

http://especiais.ig.com.br/zonom

No Islamismo, que conta com milhões de adeptos no mundo contemporâneo, a peregrinação a) é sinônimo de guerra santa e deve ser realizada por convocação

de um aiatolá. b) foi instituída depois da morte de Maomé, para homenagear o

fundador do Islã. c) deve ser realizada pelo menos uma vez na vida, pelos fiéis com

condições físicas e financeiras. d) exige grande sacrifício, pois o fiel deve conservar-se em jejum

durante todo o período. e) dificultou a expansão do Islã para além do Oriente Médio, pelas

obrigações que impunha.

Anotações

092205/15 – João G.: 18/03/2015 – Rev.: RR

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