Cinemateca Portuguesa 0406

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004A LUZ FIXA DAS ESTRELAS

    A luz das Estrelas deste mês vem da Europa, à excepção de Nicole Kidman que faz ainda parte da galáxia deMaio, e de quem veremos três dos mais recentes trabalhos, incluindo o que lhe deu o oscar de melhor actriz, THE HOURS, em que interpreta a figura de Virginia Woolf. As restantes estrelas são um ícone do c inema francêse três das mais fortes personalidades do cinema italiano, que Hollywood tentou, em vão, conquistar. Se, entreas últimas, uma delas ainda respondeu ao canto da sereia, Alida Valli, outro, Marcello Mastroianni, recusoupraticamente todos os convites. Quanto à terceira, Monica Vitti, ela era tão “retintamente” antonioniana, quemais ninguém terá conseguido penetrar a camada de gelo que parecia cobri-la nos filmes do autor deL’AVVENTURA. O que pode ser observado graças ao único filme de Vitti, incluído neste Ciclo, que não traz aassinatura de Antonioni,MODESTY BLAISE, uma comédia de aventuras de J oseph Losey. De Mastroianni (quecontinuará em Julho) veremos, para já, uma das comédias mais populares que interpretou, sob a direcção dePietro Germi, sátira negra e mordaz à instituição matrimonial em Itália, DIVORZIO ALL’ITALIANA, e dois dos seustrabalhos dramáticos mais sugestivos: LE NOTTI BIANCHE, o primeiro encontro deste actor felliniano comVisconti, e aquele que é, sem dúvida, um dos seus maiores trabalhos em cinema, CRONACA FAMILIARE, deValerio Zurlini.Se Valli não singrou em Hollywood, deixou, porém, o seu nome ligado a alguns filmes notáveis, a começarpelo da estreia, THE PARADINE CASE, de Hitchcock, e a produção britânica THE THIRD MAN de Carol Reed. Aestes, que aqui veremos, junta-se o filme da despedida, WALK SOFTLY, STRANGER, de Robert Stevenson, umacuriosidade pouco conhecida. O resto é o inesquecível SENSO de Visconti, o seu maior trabalho de sempre, ILGRIDO de Antonioni e LES YEUX SANS VISAGE de Georges Franju.O ícone francês, esse é Brigitte Bardot, ou simplesmente BB, que foi por aqueles tempos escolhida pararepresentar o busto “oficial” da República Francesa. Dela teremos o inevitável ET DIEU CRÉA LA FEMME,certidão de nascimento do mito, a que se segue o filme que quis mostrar que o ícone era também “actriz”: LAVERITÉ, de Clouzot. Entre os restantes, uma obra-prima absoluta, LE MÉPRIS, de Godard, um filme “sobre” o seumito, VIE PRIVÉE realizado por Louis Malle, que assina também o encontro de BB com J eanne Moreau em VIVAMARIA, e o episódio de HISTOIRES EXTRAORDINAIRES em que ela participa .

    NICOLE KIDMANTHE OTHERSOs Outrosde Alejandro Amenabar

    com NICOLE KIDMAN, Fionnula Flanagan, Christopher Eccleston, Alakina MannEstados Unidos/Espanha/ França, 2001 - 104 min / legendado em portuguêsNicole Kidman numa das suas melhores criações no cinema, no papel de uma mulher que vive retirada numamansão sombria e fechada, com dois filhos que sofrem de hiper-sensibilidade à luz. Uns inquietantesempregados dão uma atmosfera de ameaça neste filme que impôs Alejandro Amenabar como uma dasmais singulares personalidades do cinema espanhol.Sala Dr. Félix RibeiroTer. [01] 15:30

    THE HOURSAs Horasde Stephen Daldry

    com NICOLE KIDMAN, J ulianne Moore, Meryl Streep, Stephen Dillane, Miranda RichardsonEstados Unidos, 2002 - 114 min / legendado em portuguêsAdaptação do romance The Hours de Michael Cunningham, que nos conta um dia na vida de três mulheres,em três gerações diferentes, nos anos 20, 50 e na actualidade. As duas últimas reproduzem a situação criadapela primeira, Virginia Woolf, no seu romance Mrs Dallaway. Nicole Kidman, no papel de Virginia Woolf,ganhou o oscar.Sala Dr. Félix RibeiroQua. [02] 15:30

    COLD MOUNTAINCold Mountainde Anthony Minghella

    com NICOLE KIDMAN, J ude Law, Renée Zellweger, Eileen Atkins, Brendan GleesonEstados Unidos, 2003 - 152 min / legendado em portuguêsAdaptação de um romance de Charles Frazier que tem por pano de fundo a guerra civil americana noséculo XIX. Conta a história de um jovem soldado confederado que, ao fim de anos de conflito, deserta pararegressar à sua terra (Cold Mountain) e à mulher que espera por ele. Oscar para Renée Zellweger como“melhor actriz secundária”.

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004Sala Dr. Félix RibeiroQui. [03] 15:30

    ALIDA VALLITHE PARADINE CASEO Caso Paradinede Alfred Hitchcockcom Gregory Peck, ALIDA VALLI, Ann Todd, Charles Laughton, Ethel Barrymore, Louis J ourdan, Joan Tetzel, LeoG. CarrollEstados Unidos, 1947- 119 min / legendado em portuguêsO último filme de Hitchcock para Selznick. Charles Laughton tem uma interpretaç ão soberba na figura do juizinsensível e libidinoso, que tem nas mãos a vida ou a morte de uma mulher acusada de ter envenenado omarido, e o futuro do seu advogado (Gregory Peck no segundo e último trabalho com Hitchcock). Filme sobrea paixão (numa relação senhora-servo com traços de D.H. Lawrence) e sobre a degradação.Sala Dr. Félix RibeiroSex. [04] 15:30

    THE THIRD MANO Terceiro Homemde C arol Reedcom J oseph Cotten, ALIDA VALLI, Trevor Howard, Orson WellesGrã Bretanha, 1949 - 100 min / legendado em portuguêsNo pós-guerra, na Viena ocupada, o mercado negro, o drama das deportações, a rede de enganos em queum ingénuo escritor de livros de cowboys se deixa enlear em busca de um amigo desaparecido. Umaatmosfera expressionista, com um fabuloso jogo de luz e sombras à volta do misterioso “terceiro homem”.Welles, numa cena de antologia nos esgotos da cidade, terá tido um peso significativo na criação dessaatmosfera.Sala Dr. Félix RibeiroSáb. [05] 15:30

    WALK SOFTLY, STRANGERO Forasteiro

    de Robert Stevensoncom J oseph Cotten, ALIDA VALLI, Spring Byington, Paul Stewart, J ohn McIntireEstados Unidos, 1950 - 81 min / sem legendasUm melodrama negro, muito pouco conhecido, que nos mostra J oseph Cotten num papel próximo do Charliede SHADOW OF A DOUBT. Cotten é, neste filme, um jogador e marginal que se refugia numa pequena cidadee tem uma ligação com a filha paralítica (Valli) do mais rico industrial da zona. Mas o passado alcança-o.Sala Dr. Félix RibeiroSeg. [07] 15:30

    SENSOSentimentode Luchino Visconti

    com ALIDA VALLI, Farley Granger, Massimo Girotti, Rina MorelliItália, 1954 - 115 min / legendado em portuguêsUma das obras-primas máximas de Luchino Visconti, e provavelmente o mais operático entre todos os seusfilmes (a famosa cena de abertura tem lugar durante uma récita do Trovador, no La Fenice de Veneza).Durante as lutas políticas na Itália, em meados do século XIX, a louca paixão de uma condessa italianapatriota por um tenente austríaco, paixão que a levará a trair, em vão, a causa do seu país. O filme maiscarnal de Visconti.Sala Dr.Félix RibeiroTer. [08] 15:30

    IL GRIDOO Grito

    de Michelangelo Antonionicom ALIDA VALLI, Steve Cochran, Betsy BlairItália, 1957 - 105 min / legendado em portuguêsA paisagem como reveladora dos sentimentos, no cinema de Antonioni. O que se adivinhava já emCRONACA DI UN AMORE tem aqui o seu momento de transição para a famosa trilogia da alienação aberta

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004com L’AVVENTURA. A paisagem reflecte o estado de alma de Aldo, desde a separação da amante até àverificação da falta de sentido da sua vida, que o leva ao suicídio.Sala Dr. Félix RibeiroQua. [09] 15:30

    LES YEUX SANS VISAGEde Georges Franjucom Pierre Brasseur, ALIDA VALLI, Edith ScobFrança, 1959 - 91 min / legendado em espanholUm dos melhores filmes fantásticos franceses. Franju recupera o espírito dos grandes filmes em episódios deFeuillade e a sombria poesia dos filmes mudos de Fritz Lang, numa história de horror aparentada com o temade Frankenstein. Um médico famoso atrai uma série de raparigas para as matar, de forma a aproveitar a peledos rostos para reconstituir o da filha, desfigurada num acidente. O final é marcado por um onirismosurrealizante, raras vezes visto em cinema.Sala Dr.Félix RibeiroSex. [11] 15:30

    MONICA VITTIL’AVVENTURAA Aventurade Michelangelo Antonionicom Lea Massari, MONICA VITTI, Gabriele FerzettiItália, 1960- 132 min / legendado em inglês“Itinerário sentimental de um par” (nas palavras do realizador), L’AVVENTURA é o primeiro filme da famosatrilogia antonioniana sobre a alienação. Uma mulher desaparece durante um cruzeiro no Mediterrâneo. Onamorado e uma amiga tentam encontrá-la e acabam por tornar-se amantes.Sala Dr. Félix RibeiroSáb. [12] 15:30

    LA NOTTEA Noitede Michelangelo Antonioni

    com J eanne Moreau, MARCELLO MASTROIANNI, MONICA VITTI, Bernhard WickiItália, 1961 - 119 min / legendado em espanholA morte do amor ao longo de uma noite de agonia. É sob o signo da morte que o filme começa, com o casalem crise visitando um amigo moribundo, que fora amante da mulher. Na reunião mundana da noite, odesespero, a náusea, a alienação dos sentimentos, levam ao confronto, à separação e a uma“reconciliação” que mais parece um acto de desespero.Sala Dr. Félix RibeiroSeg. [14] 15:30

    L’ECLISSEO Eclipsede Michelangelo Antonioni

    com MONICA VITTI, Alain Delon, Lilla Brognone, Francisco Rabal, Louis SeignerItália/França, 1962 - 125 min / legendado em inglêsO filme que encerra uma trilogia, ao lado de L’AVVENTURA e LA NOTTE. Monica Vitti é uma mulher que, apósromper com o amante, se encontra só e desamparada, procurando refazer a vida com um corrector daBolsa, obcecado pelo jogo do dinheiro, o que a leva de novo à solidão.Sala Dr. Félix RibeiroTer. [15] 15:30

    IL DESERTO ROSSOO Deserto Vermelhode Michelangelo Antonionicom MONICA VITTI, Richard Harris, Rita Renoir

    Itália, 1964 - 100 min / legendado em portuguêsO primeiro filme a cores de Antonioni marca também a sua passagem dos dramas sociais subjectivos para arepresentação do mundo através dos olhos da protagonista, psicologicamente perturbada. Monica Vittiinterpreta Giuliana, a mulher do director de uma fábrica e mãe de um rapaz que tenta suicidar-se após umquase fatal acidente automobilístico.Sala Dr. Félix Ribeiro

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004Qua. [16] 15:30

    MODESTY BLAISEModesty Blaise, a Mulher Detectivede J oseph Loseycom MONICA VITTI, Dirk Bogarde, Terence Stamp, Harry Andrews, Michael Craig, Alexander KnoxGrã-Bretanha, 1966 - 119 min / legendado em espanholUma insólita digressão pela aventura de um cineasta habitualmente interessante no drama psicológico.MODESTY BLAISE adapta uma banda desenhada popular nos anos 60, variação feminina de J ames Bond.Modesty Blaise, numa curiosa interpretação da actriz antonioniana Monica Vitti, enfrenta, como não podiadeixar de ser, um vilão de peso que quer “conquistar o mundo”, interpretado por Dirk Bogarde, sibarita e “bonvivant” até ao último momento de vida, pedindo champanhe quando está a morrer de sede no deserto.Sala Dr. Félix RibeiroQui. [17] 15:30

    IL MISTERO DE OBERWALDO Mistério de Oberwaldde Michelangelo Antonionicom MONICA VITTI, Franco Branciarolla, Elisabetta PozziItália, 1981 - 123 min / legendado em portuguêsAdaptação de Antonioni da peça L’Aigle à Deux Têtes de J ean Cocteau, que este último já filmara em 1947.A história de uma rainha viúva, que recolhe nos seus aposentos um jovem anarquista perseguido pela guarda,devido à sua prodigiosa semelhança com o defunto rei, e que vão viver três dias de um amor impossível.Sala Dr. Félix RibeiroSex. [18] 15:30

    BRIGITTE BARDOTET DIEU CRÉA LA FEMME…E Deus Criou a Mulherde Roger Vadimcom BRIGITTE BARDOT, Curd J urgens, J ean-Louis TrintignantFrança, 1956 - 90 min / legendado electronicamente em português

    O filme que projectou Brigitte Bardot no estrelato. Mas o filme estabelecia também uma nova imagem de“mulher moderna” e confirmava (ou antecipava) a renovação de costumes que em breve agitaria asociedade francesa. Esta liberdade, assim como o corte com a representação das figuras femininas nocinema francês tradicional, fez de ET DIEU CRÉA LA FEMME, “malgré” Vadim, um dos mais importantesprenúncios da Nouvelle Vague.Sala Dr. Félix RibeiroSeg. [21] 15:30

    LA VERITÉA Verdadede Henri-Georges Clouzotcom BRIGITTE BARDOT, Charles Vanel, Paul Meurisse, Sami Frey, Marie-J osé Nat

    França/ Itália, 1960 - 130 min / legendado electronicamente em portuguêsEste foi o filme em que Brigitte Bardot se consagrou (ou a quiseram consagrar) como actriz, procurando varrera imagem de “boneca” sexual. BB interpreta a figura de uma mulher acusada de ter morto o amante, um jovem e promissor maestro. Clouzot constrói um “puzzle”, que tem por centro a sala de tribunal onde temlugar o julgamento, ramificando-se por uma série de “flash-backs” que, a pouco e pouco, vão revelando ocarácter das personagens. Mas a “verdade” será possível de ser “entrevista”? Uma notável interpretação deCharles Vanel na figura do advogado.Sala Dr. Félix RibeiroTer. [22] 15:30

    VIE PRIVÉEVida Privada

    de Louis Mallecom BRIGITTE BARDOT, MARCELLO MASTROIANNI, Nicolas Bataille, J acqueline DoyenFrança/Itália, 1961 - 104 min / legendado em portuguêsLouis Malle investe, neste seu filme, o mundo do cinema e o “star-system”. Brigitte Bardot é J ill, uma jovem queprocura singrar na carreira de actriz de cinema e acaba por se tornar uma vedeta idolatrada, do que resulta

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004ser constantemente perseguida pela imprensa e admiradores que invadem a cada momento a sua “vidaprivada” e irão provocar uma tragédia.Sala Dr. Félix RibeiroQua. [23] 15:30

    VIVA MARIAViva Mariade Louis Mallecom BRIGITTE BARDOT, Jeanne Moreau, George Hamilton, Gregor von Rezzori, Paulette Dubost, Claudio BrookFrança/ Itália, 1965 - 122 min / legendado electronicamente em portuguêsUma comédia com alguns toques de burlesco, onde BB é Maria II, filha de um revolucionário irlandês, que,após a morte deste, encontra Maria I (J eanne Moreau) uma cantora de circo, e juntas vão levar oespectáculo à revolução (estamos num país da América latina em começos do século XX) e a revolução aoespec táculo com a criação do “strip-tease”!Sala Dr. Félix RibeiroQui. [24] 15:30

    LE MÉPRISO Desprezode J ean-Luc Godardcom BRIGITTE BARDOT, Michel Piccoli, J ack Palance, Fritz LangFrança/Itália, 1963 - 103 min / legendado em portuguêsVagamente inspirado no romance de Moravia, LE MÉPRIS constrói-se em torno de uma reflexão sobre ocinema, onde um “travelling é uma questão de moral”. O filme é também uma homenagem ao cinemaclássico, com a presença de Fritz Lang num artista imperturbavelmente resistente ao comercialismo reinanteno mundo c inematográfico. G odard tem uma aparição discreta como assistente de realização de Lang.Sala Dr. Félix RibeiroSex. [25] 15:30

    HISTOIRES EXTRAORDINNAIRES/TRE PASSI NEL DELIRIOHistórias Extraordináriasde Louis Malle, Federico Fellini, Roger Vadim

    com BRIGITTE BARDOT, Alain Delon, J ane Fonda, Terence StampFrança/Itália, 1968 - 121 min / legendado electronicamente em português Três “histórias fantásticas” de Edgar Allan Poe, adaptadas por Louis Malle (William Wilson), Roger Vadim(Metzengerstein) e Federico Fellini (Toby Dammit). Bardot interpreta, ao lado de Alain Delon, o episódio deMalle. Mas a “jóia” do conjunto é o episódio de Fellini (com Terence Stamp) que transpõe o drama de TobyDammit, o homem que vendeu a a lma ao diabo.Sala Dr. Félix RibeiroSáb. [26] 15:30

    MARCELLO MASTROIANNILE NOTTI BIANCHENoites Brancas

    de Luchino Visconticom Marcello Mastroianni, Maria Schell, Jean MaraisItália, 1957 - 94 min / legendado electronicamente em portuguêsLeão de Prata no Festival de Veneza de 1957, nem por isso LE NOTTI BIANCHE ficou como um dos Visconti maiscélebres. O que é profundamente injusto para esta adaptação da novela de Dostoievsky, banhada numambiente “mágico”, sempre numa serenidade “tensa” e num fatalismo à espera da sua confirmação.Sala Dr. Félix RibeiroSeg. [28] 15:30

    DIVORZIO ALL’ITALIANADivórcio à Italianade Pietro Germi

    com MARCELLO MASTROIANNI, Daniela Rocca, Stefania Sandrelli.Itália, 1961 - 100 min / legendado em portuguêsUma irresistível comédia que provocou acesa polémica em Itália e foi proibida em Portugal durante algunsanos (só se estreou na “primavera marcelista” e mesmo assim com muitos cortes), por causa da questãobásica da história que está no título. Como era então o “divórcio à italiana”? Germi di-lo de forma irresistível,com a aventura de um barão casado c om uma mulher irritante e apaixonado por uma bonita prima. Arranja

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004um amante para a primeira, surpreende-os em “flagrante” e mata-a (o “tal” divórcio à italiana) para casarcom a segunda e acabar por ser…enganado.Sala Dr. Félix RibeiroTer. [29] 15:30

    CRONACA FAMILIAREDois Irmãos Dois Destinosde Valerio Zurlinicom MARCELLO MASTROIANNI, J acques Perrin, Salvo Randone, Sylvie.Itália, 1962 - 111 min / legendado em portuguêsÉ obrigatório ver este Zurlini, uma visão poética e existencialista da Itália do pós-guerra. Diz-se que “nunca seviu Mastroianni até se ver CRONACA FAMILIARE. Seguindo um escritor marxista, em luto pela morte do irmãomais novo, um filme que ronda a morte, o desespero e a possibilidade de redenção. Às sombras queperseguem a personagem de Mastroianni, Zurlini contrapõe as cores de um magnífico technicolor.Sala Dr. Félix RibeiroQua. [30] 15:30

     JUNHO 44 – JUNHO 2004:MEMÓRIAS E MUDANÇAS

    THE LONGEST DAYO Dia Mais Longode Ken Annakin, Andrew Marton, Bernhard Wickicom J ohn Wayne, Rod Steiger, Robert Ryan, Peter Lawford, Henry Fonda, Robert Mitchum, Sean ConneryEstados Unidos, 1962 - 180 min / legendado em portuguêsUm dos melhores épicos sobre a segunda guerra mundial, com um elenco de luxo (numeroso eimpressionante). THE LONGEST DAY reconstitui, em Cinemascope, os acontecimentos da invasão daNormandia a 6 de J unho de 1944. Óscar para melhores efeitos especiais e melhor fotografia. Durante aprojecção do filme passaremos de 5 para 6 de J unho.Sala Dr. Félix RibeiroSáb. [05] 21:30

    D.W. GRIFFITH

    I ni c ia t iva d a Cinematec a Por tuguesa-Museu d o C inema e d a Fi lmo teca Española , com o a po io d o M oMA- Museum of Mod ern Art , Nova

    Iorque e a c ola bo ração d a Libra ry of Co ng ress, NFTVA- Na tiona l Film a nd Telev ision A rchive , Cinémathèqu e Roy ale de Belgique , Cinetec a

    Na zion a le – Rom a e C inéma thèque França ise

    A retrospectiva de D.W. Griffith termina este mês com treze sessões que incluem a repetição de filmes jáexibidos em Maio (SALLY OF THE SAWDUST, AMERICA, THE SORROWS OF SATAN e a última das sessões dos filmesBiograph em que se destaca, em cópia restaurada pelo MoMA, A CORNER IN WHEAT). Por duas vezes, osfilmes, pouco vistos, do período final da sua obra: THE BATTLE OF THE SEXES (1928), LADY OF THE PAVEMENTS(1929) e os dois filmes sonoros, ABRAHAM LINCOLN (1930) e THE STRUGGLE (1931). Apresentaremos ainda, pelaterceira vez, a pedido de muitos espectadores, a sessão de curtas metragens que culmina com o fabuloso THE PAINTED LADY. A biografia de Griffith dá conta, a partir de meados dos anos 20, de dificuldades

    crescentes do cineasta em filmar com a autonomia que defendera desde o princípio, como realizador daBiograph Company, em 1908. Até THE STRUGGLE, no entanto, DWG prosseguiu, e prosseguiu experimentandonovas possibilidades. O trabalho sobre o som nos dois “talkies” que realizou é certamente uma das maissurpreendes descobertas que o termo desta retrospectiva permite. A oportunidade de seguir este Ciclo atéao fim não se pode perder. O catálogo “D.W. Griffith” será publicado este mês.

    SALLY OF THE SAWDUSTde D.W. Griffithcom C arol Dempster, W.C. Fields, Alfred Lunt, Erville Alderson, Effie ShannonEstados Unidos, 1925 - 115 min / legendas electrónicas em portuguêsAdaptado de uma comédia musical de sucesso da Broadway, SALLY OF THE SAWDUST foi um dos dois filmesde Griffith com W.C. Fields, aqui contracenando com Carol Dempster (o outro, THAT ROYALE GIRL, de 1926, éactualmente um filme perdido). Destaque também para a presença de Alfred Lunt, à época considerado omaior actor do teatro americano. O mundo do espectáculo cruza-se com uma intrincada história familiar queac aba por resolver-se em tribunal. CÓPIA RESTAURADA PELO MoMA.Sala Dr. Félix RibeiroTer. [01] 19:00

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004A CORNER IN WHEATde D.W. Griffithcom Frank Powell, Grace Henderson, J ames Kirkwood, Linda Arvidson, W. Chrystie MillerEstados Unidos, 1909 - 17 min / intertítulos em inglêsHER FIRST BISCUITSde D.W. Griffithcom J ohn R. Cumpson, Florence Lawrence, Anita Hendrie, Mack Sennett, Marion Leonard, Owen Moore, MaryPickfordEstados Unidos, 1909 - 6 min / intertítulos em inglêsHIS TRUSTde D.W. Griffithcom Wilfred Lucas, Dell Henderson, C laire McDowell, Edith HaldemanEstados Unidos, 1910 - 17 min / intertítulos em inglêsWHAT SHALL WE DO WITH OUR OLD?de D.W. Griffithcom W. Chrystie Miller, Claire McDowell, Francis J . Grandon, George O. NichollsEstados Unidos, 1910 - 15 min / intertítulos em inglêsTHE MUSKETEERS OF PIG ALLEYde D.W. Griffithcom Elmer Booth, Lillian Gish, Walter Miller, Alfred PagetEstados Unidos, 1912 - 18 min / intertítulos em inglêsO “realismo social e o impulso poético” de A CORNER IN WHEAT, provavelmente o mais famoso dos filmesBiograph de DWG (e o mais popular dos seus filmes de 1909), foram notados logo na época. Entretanto,tornou-se um título obrigatório, objecto de análises inesgotáveis. Do mesmo ano, HER FIRST BISCUITS é um dostítulos da série “J ones” e o primeiro filme de Mary Pickford, ainda num papel muito secundário. HIS TRUST(primeira parte de uma história que prossegue em HIS TRUST FULFILLED) é um dos dramas da Guerra Civilfilmados por DWG antes de THE BIRTH OF A NATION. WHAT SHALL WE DO WITH OUR OLD?, uma história de NovaIorque com alguns pontos de contacto com A CORNER IN WHEAT. THE MUSKETEERS OF PIG ALLEY, outra dasmais lendárias obras de Griffith, retrata os gangsters de Nova Iorque, e foi rodada nos cenários reais das ruasdo Lower East Side. Para alguns, evoca as séries de fotografias de J acob Riis, prenunciando, também, algunsaspectos da sequência moderna de INTOLERANCE. A CÓPIA DE A C ORNER IN WHEAT É UM RESTAURO DO MoMA . Sala Luís de Pina

    Ter. [01] 22:00

    AMERICAAmor Pátriode D.W. Griffithcom Nathan Holden, Erville Alderson, Carol Dempster, Charles Emmett Mack, Lee BeggsEstados Unidos, 1924 - 160 min / com legendas elec trónicas em portuguêsO último épico de DWG reconstitui a luta pela independência dos Estados Unidos. A produção, filmada nosestúdios de Mamaroneck, na Virginia, Massachusetts e Nova Iorque, envolveu uma série de meios naexpectativa de reeditar o fôlego de THE BIRTH OF A NATION. À época, AMERICA foi recebido com reservas,tornando-se c laro, desde a estreia, que o filme não seria o êxito de bilheteira que Griffith ambicionava, sendo,neste sentido, um fracasso que marca o fim do seu estatuto de líder na indústria cinematográfica. Sem a

    dimensão melodramática de THE BIRTH OF A NATION, INTOLERANCE ou HEARTS OF THE WORLD, AMERICAapresenta-se como um fresco histórico de que se retêm planos de uma deslumbrante composição plástica.Sala Dr. Félix RibeiroQua. [02] 19:00

    THE BATTLE OF THE SEXESde D.W. Griffithcom J ean Hersholt, Phyllis Haver, Belle Bennett, Don Alvarado, Sally O’Neill, William BakewellEstados Unidos, 1928 - 91 min / com legendas elec trónicas em portuguêsRemake do filme homónimo realizado por Griffith em 1914, com Donald Crisp, Lillian Gish e Robert Harron(título considerado perdido a esta data), THE BATTLE OF THE SEXES teve uma catastrófica recepção críticaquando estreou em Nova Iorque em Setembro de 1928: “Um drama sexual de terceira categoria”, chamou-

    lhe o Herald Tribune. Será?Sala Dr. Félix Ribeiro Sala Dr. Félix RibeiroQua. [02] 22:00 Seg. [07] 22:00

    THE SORROWS OF SATAN Tristezas de Satanás

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004de D.W. Griffithcom Adolphe Menjou, Ricardo Cortez, Lya de Putti, Carol DempsterEstados Unidos, 1926 - 112 min / com legendas elec trónicas em portuguêsA primeira produção de Griffith para a Paramount Pictures, depois de vender o seu estúdio de Mamaroneck,adaptou a popular novela de Marie Corelli em que Satanás se passeia entre os mortais, tentando-os a vendera alma. Interpretação notável de Adolphe Menjou na personagem do príncipe Lucio de Rimanez (ou oPríncipe das Trevas). Carol Dempster tem aqui o seu último papel. Casou-se com um milionário e retirou-se.CÓPIA RESTAURADA PELO M oMA . Sala Dr. Félix RibeiroQui. [03] 21:30

    LADY OF THE PAVEMENTSA Melodia do Amorde D.W. Griffithcom Lupe Velez, William Boyd, J etta Goudal, Albert Conti, George FawcettEstados Unidos, 1929 - 100 min / com legendas elec trónicas em portuguêsA história de LADY OF THE PAVEMENTS recua a Paris no século XIX, para seguir a vida romântica de umaristocrata prussiano que, na sequência de uma desilusão amorosa, decide casar-se com uma “lady of thepavements”, termo usado em Hollywood para prostituta. Assim surge a personagem da bailarina espanholade cabaret de Lupe Velez, que atraiu todas as atenções quando o filme estreou. Rodado como um filme

    mudo, LADY OF THE PAVEMENTS foi depois parcialmente sonorizado, numa banda que inclui dois númerosmusicais e uma sequência dialogada. Quando estreou em Portugal em 1930, o filme de Griffith alimentou odebate sobre a justeza do cinema sonoro. “Chamem-lhe fonocinema, fonofilme, grafonolofilme, o quequiserem”, lê-se numa crítica publicada no Cinéfilo, que postula como “era de ouro o silêncio [dos filmesmudos]”. A cópia que vamos exibir corresponde à versão muda.Sala Dr. Félix Ribeiro Sala Dr. Félix RibeiroSex. [04] 19:00 Sáb. [05] 19:00

    THE BIRTH OF A NATION: TRAILER DE REPOSIÇÃO EM 1930“Entrevista com Griffith”de D.W. Griffithcom D. W. Griffith, Walter Huston

    Estados Unidos, 1930 - 6 min / legendado em portuguêsABRAHAM LINCOLNde D.W. Griffithcom Walter Huston, Una Merkel, Kay Hammond, E. Alyn Warren, Henry B. WalthallEstados Unidos, 1930 - 97 min / com legendas elec trónicas em portuguêsO primeiro all talkie de Griffith retrata a vida de Abraham Lincoln como um homem só e angustiado,porventura reflectindo a solidão e o pessimismo de DWG nesta fase da sua vida. “Um pesadelo para a razãoe para os nervos” foi como o próprio se referiu às oito semanas de rodagem de ABRAHAM LINCOLN. Pelo seulirismo e dimensão pictórica, o filme tem sido entusiasticamente reavaliado. Verdadeiramente surpreendenteé o uso dramático do trabalho da banda sonora. Abrimos a sessão com um trailer filmado por Griffith notermo da rodagem de ABRAHAM LINCOLN, para uma reposição de THE BIRTH OF A NATION, em que encenauma conversa com “o seu Lincoln” (Walter Huston): no cenário de uma biblioteca, Huston apresenta Griffith

    com uma espada de cavalaria semelhante à utilizada pelo pai deste durante a Guerra.Sala Dr. Félix Ribeiro Sala Luís de PinaTer. [08] 21:30 Sáb. [12] 19:30

    THE STRUGGLEde D.W. Griffithcom Hal Skelly, Zita J ohann, Charlotte Wynters, Evelyn Baldwin, Jackson HallidayEstados Unidos, 1931 - 87 min / com legendas elec trónicas em portuguêsO último filme de DWG foi simultaneamente o maior desastre comercial da sua carreira e o único filme querealizou inteiramente livre de pressões de produção desde meados dos anos 20. O tom sombrio poderáexplicar o desaire à época (“o carácter não hollywoodesco”, “a ausência de gla-mour”, foram das críticasmais benévolas então publicadas). O tema da Proibição e das suas consequências sociais é a base do

    argumento filmado, com actores quase desconhecidos, num pequeno estúdio no Bronx e em exteriores, umanovidade nos primeiros anos do cinema sonoro (é usado um microfone parabólico que permite captar asvozes no meio do som ambiente). O trabalho sobre o espaço (interiores e exteriores), a iluminação e o som,não têm cessado de reivindicar novos olhares nas últimas décadas. Para além disso, no termo da obra deGriffith, THE STRUGGLE configura também uma síntese do seu universo, evocando mesmo alguns dos seusfilmes do período Biograph. CÓPIA RESTAURADA PELO MoMA . 

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004Sala Dr. Félix Ribeiro Sala Dr. Félix RibeiroQua. [09] 21:30 Sáb. [12] 21:30

    THE LONEDALE OPERATORde D.W. Griffithcom Blanche Sweet, George O. Nicholls, Francis J . Grandon, Wilfred Lucas, Joseph GraybillEstados Unidos, 1911 - 17 min / intertítulos em inglêsA COUNTRY CUPIDde D.W. Griffithcom Blanche Sweet, Edwin August, Edna Foster, Joseph Graybill, Robert HarronEstados Unidos, 1911 - 18 min / intertítulos em inglêsAN UNSEEN ENEMYde D.W. Griffithcom Lillian G ish, Dorothy Gish, Grace Henderson, Elmer Booth, Robert HarronEstados Unidos, 1912 - 16 min / intertítulos em inglêsTHE NEW YORK HATde D.W. Griffithcom Mary Pickford, Charles Hill Mailes, Kate Bruce, Lionel Barrymore, Alfred PagetEstado Unidos, 1912 - 18 min / intertítulos em inglêsTHE PAINTED LADYde D.W. Griffithcom Blanche Sweet, Madge Kirby, J oseph Graybill, Kate Bruce, Charles Hill MailesEstados Unidos, 1912 - 18 min / intertítulos em inglêsSeis títulos da produção de 1911 e 1912, protagonizados por quatro actrizes de Griffith durante o período emque trabalhou para a Biograph Company: Blanche Sweet, Mary Pickford, Lillian e Dorothy Gish. THE LONEDALEOPERATOR, uma das suas curtas mais famosas, utiliza a montagem paralela e o “salvamento no últimominuto” muitas vezes retomados por DWG, e estrutura-se numa planificação particularmente complexa: umaenorme quantidade de planos e grande variação de escalas. A COUNTRY CUPID é um exemplo da misturade humor e dramatismo que marcou os filmes realizados por Griffith em 1911 (variedade de tons compersonagens baseadas na comédia e clímaxes narrativos assombrados pela ameaça e pelo perigo). ANUNSEEN ENEMY, o filme de estreia de Lillian e Dorothy Gish no cinema de Griffith, é um melodrama pungente.Igualmente melodramáticos são THE NEW YORK HAT e THE PAINTED LADY. Este último ficou famoso pelo limite a

    que conduz a narrativa, nas margens da loucura e do onirismo. (Cópias restauradas pelo MoMA).Sala Dr. Félix RibeiroSáb. [12] 19:00

    ANTE-ESTREIAS

    Este mês, as duas últimas curta-metragens de Pedro Caldas, de quem a Cinemateca exibiu, também emante-estreia, os filmes anteriores (É SÓ UM MINUTO, 1998; ENTRADA EM PALCO, 1997; O PEDIDO DE EMPREGO,1999; BORIS E JEREMIAS, 2000; QUE TENHAS TUDO O QUE DESEJAS, 2002). E uma primeira vez: O PERCURSO DOOUTRO, de Guenny Pires. Em ante-estreia a inda, ESTÁDIO NOVO de J eremy Thuson (ver entrada no C iclo“Bola ao Centro”).

    O PERCURSO DO OUTROde Guenny PiresPortugal, 2004 - 87 minDocumentário sobre a questão da cabo-verdianidade no mundo, abordada do ponto de vista antropológicopor uma cineasta daquele país. O filme destaca aspectos como modos de vida, rituais, dança, música,literatura, gastronomia, etc.Sala Dr. Félix RibeiroSeg. [07] 21:30

    DA MINHA JANELAde Pedro Caldascom Luís Vieira Caldas

    Portugal, 2004 - 9,45 minFIGURAS OBRIGATÓRIASde Pedro Caldascom Filipe Carneiro, Carmo Laginha, Ana Ribeiro, Dinarte BrancoPortugal, 2004 - 21 min

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004DA MINHA J ANELA e FIGURAS OBRIGATÓRIAS são os dois últimos filmes de Pedro Caldas, duas produções daLuz e Sombra. O primeiro segue a personagem de um homem reformado num passeio entre a janela da suacasa e o Tejo, que dela se vê. O segundo toma de empréstimo o nome a um movimento de dança, detendo-se no embate de um professor de química com as nem sempre compreensíveis leis da atracção. A sessãosegue com LADRI DI BICICLETTE, de Vittorio De Sica (ver nota do filme na entrada do Ciclo “Fellini: dos Temposde Zavattini (Cesare) às Fotografias de Zavattini (Arturo)”.Sala Dr. Félix RibeiroSeg. [21] 21:30

    O QUE QUERO VER

    Os votos para esta rubrica de “filmes pedidos” parecem multiplicar-se. Em J unho fomos “generosos” eprogramámos várias e diferentes escolhas. Destaque para YOUNG MR. LICOLN de Ford, a rimar este mês comABRAHAM LINCOLN de Griffith, na conclusão da retrospectiva que temos vindo a dedicar ao realizador. Etambém, noutras rimas, mas com estrelas do Ciclo das 15h30 (Alida Vali), SIAMO DONNE e AL DI LÀ DELLENUVOLE (Marcello Mastroianni). E Ray Enright, Busby Berkeley, Peter Greenaway, Buñuel, Murnau, Hawks,Ford,Lubitsch e Hou Hsiao-Hsien.

    DAMESde Ray Enright e Busby Berkeleycom J oan Blondell, Dick Powell, Ruby Keeler, ZaSu PittsEstados Unidos, 1934 - 90 min / legendado em portuguêsDAMES, uma das mais famosas produções da Warner, esteve para se chamar GOLD DIGGERS OF 34, nasequência do grande sucesso do ano anterior. Como nos outros filmes da série, o argumento é secundário eresume-se às mesmas linhas de força: a tentativa de um grupo de actores para porem em cena umespectáculo musical. A essência do filme está nos números musicais com, entre outros, as músicas de Al Dubine Harry Warren e os bailados encenados por Berkeley. Destacam-se o que dá o título ao filme e o prodigioso IOnly Have Eyes for You.Sala Luís de PinaTer. [01] 19:30

    THE COOK, THE THIEF, HIS WIFE AND HER LOVERO Cozinheiro, o Ladrão, a sua Mulher e o Amante Dela

    de Peter Greenawaycom Richard Bohringer, Helen Mirren, Tim Roth, Michael GambonFrança/Holanda, 1989 - 120 min / legendado em portuguêsParábola de amor, vingança e crime no estilo americano inconfundível de Greenaway, onde se misturam asmais variadas referências artísticas, neste caso a pintura holandesa de Franz Hals (“reconstruída” pela câmarade Sacha Vierny) com as mais variadas obsessões escatológicas e eróticas. O cenário é um banquete onde o“ladrão” ajusta contas com o “amante” da “mulher” de forma perversa e requintada, como peça degastronomia.Sala Luís de PinaQua. [02] 19:30

    SIAMO DONNE

    Nós Mulheresde Gianni Franciolini, Roberto Rossellini, Luchino Visconti,Luigi Zampa, Alfredo Guarinicom ALIDA VALLI, Ingrid Bergman, Anna Magnani, Isa Miranda, Emma Danieli, Anna AmendolaItália, 1953 - 100 min / Legendado em PortuguêsFilme em cinco sketches em que se apresentam quatro retratos de actrizes: Alida Valli, Ingrid Bergman, AnnaMagnani e Isa Miranda. O primeiro “sketch” (de Alfredo Guarini) é um prólogo, em que se fala de actrizes queesperam, todas, vir a ser vedetas (entre elas, Emma Danieli e Anna Amendola) Os outros quatro sãodedicados a grandes vedetas: Alida Valli (por Gianni Franciolini) Ingrid Bergman (por Roberto Rossellini), IsaMiranda (por Luigi Zampa) e Anna Magnani (por Luchino Visconti). As actrizes aqui reunidas reflectem aessência do cinema italiano no princípio da década de 50, filmadas por realizadores marcantes nasrespectivas carreiras. O argumento é de Cesare Zavattini e parte da ideia de retratar o quotidiano de uma

    actriz consagrada.Sala Luís de PinaSáb. [05] 19:30

    LES FAVORIS DE LA LUNEOs Favoritos da Lua

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004de Otar Iosselianicom Katja Rupé, Alix de Montaigu, François Michel, Pascal Aubier, Hans-Peter CloosFrança, 1984 - 110 min / legendado em portuguêsUma espécie de jogo de acaso e encontros acidentais das pessoas mais dispares: vagabundos que fazemexplodir uma estátua, um ladrão que “educa” o filho, um serralheiro traído pela mulher, um armeiro. “Desdeque vi LE FAVORIS DE LA LUNE, olho com um olhar novo, talvez inquieto, os vinte últimos metros da ruaRaymond Losserand: sei que posso encontrar por aí pessoas estranhas. Foi preciso ter percorrido muito Paris, eter amado muito a cidade, para fazer LES FAVORIS DE LA LUNE” (J ean-Pierre J eancolas, Positif).Sala Luís de PinaSeg. [07] 19:30

     YOUNG MR. LINCOLNA Grande Esperançade J ohn Fordcom Henry Fonda, Alice Brady, Marjorie Weaver, Donald Meek, Ward BondEstados Unidos, 1939 - 100 min / legendado em portuguêsInspirando-se num episódio da vida de Abraham Lincoln no começo da sua carreira de advogado, J ohn Forddirige um dos filmes maiores da sua obra e um dos mais pessoais. Para muitos, é mesmo a sua obra-primaabsoluta. Eisenstein referiu-se a YOUNG MR. LINCOLN como o filme que gostaria de ter feito. Lincoln por Ford,no mesmo dia em que se apresenta Lincoln por Griffith (ABRAHAM LINCOLN, de 1930, é exibido na sessão das21h30 na retrospectiva Griffith).Sala Luís de PinaTer. [08] 19:30

    LE JOURNAL D’UNE FEMME DE CHAMBREDiário de Uma C riada de Quartode Luis Buñuelcom J eanne Moreau, Georges Géret, Daniel Ivernel, Muni, Michel Piccoli, Jean OzenneFrança/Itália, 1964 - 97 min / legendado em portuguêsAdaptação do romance de Octave Mirbeau, anteriormente filmado por J ean Renoir em Hollywood (DIARYOF A CHAMBERMAID, 1946). Buñuel filmou LE J OURNAL D’UNE FEMME DE CHAMBRE em França, transpondo aacção de 1900 para os anos 30 e concentrou os vários episódios do livro numa só casa. Por sua conta,

    inventou as personagens do velho fetichista e da criança assassinada. A perversidade, o bestiário e ofetichismo são as pedras basilares do filme de Buñuel e, no que diz respeito a este último, a atençãoconcentra-se num adereço muito especial: os sapatos.Sala Luís de PinaQua. [09] 19:30

    TAKE ME OUT TO THE BALL GAMEA Linda Ditadorade Busby Berkeleycom Esther Williams, Frank Sinatra, Gene Kelly, Betty Garrett, J ules MunshinEstados Unidos, 1949 - 93 mim / legendado electronicamente em portuguêsA última realização de Busby Berkeley não tem as “loucuras” coreográficas das célebres GOLD DIGGERS ou

    de THE GANG’S ALL HERE. Aliás, nem é dele a coreografia, assinada por Gene Kelly e Stanley Donen, neste“ensaio” para ON THE TOWN, que usará o mesmo trio masculino: Kelly, Sinatra e Munshin. O pano de fundo éuma equipa de basebol no começo do século XX e a história começa com a chegada de um novotreinador: um misterioso K.C. Higgins que se revela ser a esplendorosa Esther Williams, aqui mais em terra doque dentro de água.Sala Luís de PinaSex. [11] 22:00

    SUNRISEAurorade F.W. Murnaucom George O’Brien, J anet Gaynor, J . Farrell McDonald

    Estados Unidos, 1927 - 95 min / legendado em português“O mais belo filme do mundo” é um canto de amor (“a song of two humans”, diz o subtítulo de SUNRISE),decorrendo, visual e narrativamente, entre o campo e a cidade, onde o casal de camponesesmiraculosamente se reconcilia. Oscar para “a melhor produção de qualidade artística” no ano I dos prémiosda Academia (1927-28), melhor filme de todos os tempos para os Cahiers du Cinéma em 1958. Quase oitentaanos depois, só os superlativos não mudaram.

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004Sala Luís de PinaSáb. [12] 22:00

    TODAY WE LIVEA Vida É o Dia de Hojede Howard Hawkscom Gary Cooper, J oan Crawford, Robert Young, Franchot ToneEstados Unidos, 1933 - 115 min / legendado em português TODAY WE LIVE foi a primeira colaboração de Howard Hawks com William Faulkner. O escritor foi o autor dahistória e dos diálogos. É uma história de amor e sacrifício, de uma mulher e três homens, tendo por pano defundo a primeira guerra mundial.Sala Luís de PinaSeg. [14] 19:30

    SEVEN WOMENSete Mulheresde J ohn Fordcom Anne Bancroft, Margaret Leighton, Sue Lyon, Flora Robson, Mildred Dunnock, Anna Lee, Betty Field, EddieAlbert, Mike MazurkyEstados Unidos, 1966 - 85 min / legendado em portuguêsO último filme de J ohn Ford é também uma das suas obras mais importantes, onde se impõe, com inesperadovigor, aquilo que esteve sempre mais ou menos presente na sua obra: uma atmosfera sensual, marcada peloestigma do recalcamento sexual, e que acaba por se manifestar face à intrusão de um elemento estranho. Auma missão religiosa, formada por mulheres, na China sujeita aos horrores da guerra civil, chega uma médicacuja maneira de ser vai provoc ar uma crise.Sala Luís de PinaSeg. [14] 22:00

    AL DI LÀ DELLE NUVOLE / PAR-DELÀ LES NUAGESPara Além das Nuvensde Michelangelo Antonioni (e Wim Wenders)com Sophie Marceau, J ohn Malkovich, Irène J acob

    Itália/França, 1995 - 104 min / legendado em portuguêsFerrara, Portofino, Paris, Aix-en-Provence: quatro paisagens para outras tantas histórias de amor e de ruptura,de sentimentos inconfessos e de frustrações. Treze anos depois de IDENTIFICAZIONE DI UNA DONNA, Antonioniregressou a com um filme que é uma súmula de toda a sua obra, tanto nos temas (o casal, o amor, o vazionum tempo que aliena cada vez mais os sentimentos) como na forma, de que Antonioni parece quererrefazer o percurso. Wim Wenders dirige os episódios de ligação entre as quatro histórias.Sala Dr. Félix RibeiroSex. [18] 19:00

    TONGNIAN WANSHI Tempo Para Viver e Tempo Para Morrerde Hou Hsiao-Hsien

    com You Anshum, Tian Feng, Mei Feng, Tang Ruyun, Xiao Ai Taiwan, 1985 - 137 min / legendado em portuguêsCrónica de uma família chinesa que sai do continente durante a guerra civil em busca de melhor vida em Taiwan e acaba por aí ficar exilada após a vitória comunista e a separação da ilha onde se refugiam osnacionalistas. A acção decorre entre 1947 e 1966 e Hou Hsiao-Hsien, talvez o mais importante cineasta de Taiwan, coloca o ênfase na evolução de uma criança e no seu despertar para a vida, com os primeirosconflitos e desilusões, e sempre com a memória do passado (o continente).Sala Luís de PinaSex. [18] 22:00

    THE LOVE PARADEA Parada do Amor

    de Ernst Lubitschcom Maurice Chevalier, J eanette MacDonald, Lupino Lane, Lillian RothEstados Unidos, 1929 - 104 min / sem legendasO primeiro filme sonoro de Lubitsch foi classificado à época pela Variety como “the first true screen musical”.O modelo de THE LOVE PARADE é o da opereta, com música e canções integradas na narrativa. E,narrativamente, Lubitsch retoma o tema das “comédias de alcova” em que se tinha especializado no

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004período mudo. O estatuto da sexualidade nas relações conjugais é aqui invertido, cabendo a MauriceChevalier o papel de um príncipe consorte insatisfeito com a condição secundária do seu papel. Um filmepródigo nos famosos “Lubitsch touches”.Sala Luís de PinaQua. [30] 19:30

    BOLA AO CENTRO

    Antes do início do Euro 2004, a Cinemateca propõe, com este Ciclo, um percurso sobre as relações entre ocinema e o futebol, misturando ficções, documentos e documentários realizados entre 1938 e 2004. Nasficções, teremos um filme policial inglês (THE ARSENAL STADIUM MISTERY), um c lássico da comédia portuguesa(O LEÃO DA ESTRELA, em cópia restaurada) bem como um melodrama português pouco visto (BOLA AOCENTRO), FINTAR O DESTINO de Fernando Vendrell, o curioso VICTORY, de J ohn Huston e um filme assaz rarode J ean-J acques Annaud (COUP DE TÊTE), em que o futebol é levado muito a sério. Entre os documentários,destacamos a parábola política que é THE FORBIDDEN TEAM, o recente ESTÁDIO NOVO, sobre as relaçõesentre política e futebol e um filme sobre a “misteriosa” equipa da Coreia do Norte, que deu muito o que falarno longínquo ano de 1966. Destacamos ainda uma rara curta-metragem de J acques Tati, FORZA BASTIA. Asclaques não foram esquecidas, como poderemos constatar no recentíssimo ÉS A NOSSA FÉ, de Edgar Pêra. Todas as sessões serão completadas por ac tualidades portuguesas (JORNAL PORTUGUÊS e IMAGENS DEPORTUGAL).

    EUSÉBIO, A PANTERA NEGRAde J uan de Orduñacom Eusébio, Flora da Silva, J osé RochaPortugal/Espanha, 1974 - 86 minIMAGENS DE PORTUGAL Nº 9Portugal, 1953 - 12 minEste Ciclo não podia deixar de prestar homenagem ao nome mais mítico do futebol português: Eusébio.Realizado pelo veterano J uan de Orduña (autor, entre outros, do célebre EL ÚLTIMO CUPLÉ, com SaraMontiel), EUSÉBIO, A PANTERA NEGRA é um “docudrama”, que retraça a vida do grande jogador, desde ainfância em Moçambique, até aos anos da sua maior glória. A abrir a sessão, um exemplar das actualidadescinematográficas IMAGENS DE PORTUGAL, com a abertura do mealheiro gigante do Benfica, destinado à

    construção do Estádio da Luz.Sala Dr. Félix RibeiroTer. [01] 21:30

    O LEÃO DA ESTRELAde Arthur Duartecom António Silva, Milú, Maria Eugénia, Fernando Curado Ribeiro, Erico Braga, Laura AlvesPortugal, 1947 - 120 minIMAGENS DE PORTUGAL Nº 146Portugal, 1958 - 10 minEm cópia restaurada, O LEÃO DA ESTRELA, um dos grandes clássicos da comédia portuguesa, utiliza o futebolcomo elemento narrativo. Uma família, cujo chefe é um sportinguista fanático, vai ao Porto assistir a um jogo

    decisivo e fica em casa de uma família que conhecera nas férias. Mas a família lisboeta faz-se passar por ricae as coisas complicam-se quando a família do Porto anuncia a sua vinda a Lisboa. A abrir a sessão, umexemplar das IMAGENS DE PORTUGAL, com a notícia da despedida de Travassos, grande vedeta do Sporting.Sala Luís de PinaQua. [02] 22.00

    VICTORYde J ohn Hustoncom Sylvester Stallone, Pelé, Max von Sydow, Michael Caine, Bobby MooreEstados Unidos, 1981 - 110 min

     JORNAL PORTUGUÊS Nº 5Portugal, 1938 - 12 min

    VICTORY (também conhecido por ESCAPE TO VICTORY) é uma curiosa incursão do cinema americano nosdomínios do futebol. Curiosa porque, como todos sabem, o futebol é pouco praticado nos EUA. A acção deVICTORY tem lugar durante a II Guerra Mundial. Para fins de propaganda, um grupo de oficiais nazis organizaum jogo entre uma equipa alemã e uma equipa de prisioneiros de guerra dos países aliados. Os prisioneiros(um dos quais é Pelé) ac eitam a proposta, pois querem aproveitar-se do jogo para fugir. A abrir a sessão, um

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004exemplar do J ORNAL PORTUGUÊS, com uma notícia sobre os cinquenta anos do futebol enquanto desportoorganizado.Sala Dr. Félix Ribeiro Sala Luís de PinaQui. [03] 19:00 Sáb. [05] 22:00

    IMAGENS DE PORTUGAL Nº 86-BPortugal, 1956 - 10 minFORZA BASTIAde J acques Tati e Sophie TatischeffFrança, 1979-2000 - 28 minTHE FORBIDDEN TEAMde Arnold Kroigard e Rasmus DinesenDinamarca, 2002 - 54 minQuatro anos depois de PARADE, cujo fracasso de bilheteira pôs fim à sua carreira, Jacques Tati foi convidadopelo presidente do Bastia a filmar a final do Campeonato da Europa. Era a primeira vez que a equipa corsaconseguia a proeza de chegar a uma final. O filme, típico de Tati, ficou inacabado e foi finalizado em 2000pela sua filha. THE FORBIDEN TEAM utiliza um autêntico evento futebolístico como metáfora política, commuito humor. O filme documenta um jogo cuja realização o governo chinês e a FIFA tentaram impedir: um jogo entre a Groenlândia e o Tibete (que a China ocupa há mais de 40 anos e cuja existência enquantoestado nega), organizado na Dinamarca. Segundo os realizadores, neste filme vemos “o futebol como Budateria jogado”. A abrir a sessão, um exemplar das IMAGENS DE PORTUGAL, com a notícia de um jogo entrePortugal e a Hungria, que tinha então uma das mais míticas equipas de toda a história do futebol.Sala Luís de PinaQui. [03] 22:00

    BOLA AO CENTROde J oão Moreiracom J osé Amaro, Raul de Carvalho, Maria Domingas, Barroso LopesPortugal, 1947 - 73 min

     JORNAL PORTUGUÊS Nº 65Portugal, 1947 - 10 minBOLA AO CENTRO é um autêntico melodrama à portuguesa, de que é protagonista um jogador de futebol.

    Munido de um atestado médico falsificado, o rapaz abandona o trabalho, a família e a noiva para se tornarfutebolista. Mas as mulheres de má vida e o álcool darão cabo da sua carreira e ele vai acabar revisor doscaminhos-de-ferro. Naturalmente, só voltará a ser feliz ao voltar para a família e para a pobreza. Entre os jogadores que aparecem no filme, contam-se Passos, Pinga, Feliciano, Rogério, Baptista e J orge Vieira. A abrira sessão, um exemplar do J ORNAL PORTUGUÊS, sobre um mítico Portugal - Espanha. Depois de perder semprecom a Espanha (às vezes empatar), Portugal venceu por 4 a 1 em 1947, num jogo que marcou data e que olocutor do J ORNAL PORTUGUÊS define como uma “batalha de Aljubarrota!”Sala Luís de Pina Sala Luís de PinaSex. [04] 19:30 Ter. [08] 22:00

    ESTÁDIO NOVOde J eremy Thuson

    Grã-Bretanha, 2004 - 50 minA INAUGURAÇÃO DO ESTÁDIO NACIONALde António Lopes RibeiroPortugal, 1944 - 20 minÉ um lugar comum dizer que o futebol foi um dos três “f” do regime salazarista, ao lado de Fátima e do fado.A tese de ESTÁDIO NOVO, documentário feito por ocasião do Euro 2004, é que no Portugal democrático dehoje, o futebol é muito mais utilizado para fins de propaganda política e manipulação do que o foi durante oAntigo Regime. O filme é exibido em ANTE ESTREI absoluta. A abrir a sessão, veremos precisamente umaincursão pelo futebol no Antigo Regime, A INAUGURAÇÃO DO ESTÁDIO NACIONAL, um dos numerosos filmesde propaganda salazarista, assinado por António Lopes Ribeiro.Sala Dr. Félix RibeiroSex. [04] 21:30

    ARSENAL STADIUM MISTERYde Thorold Dickinsoncom Leslie Banks, Anthony Bushell, Greta GyntGrã-Bretanha, 1939 - 85 min

     JORNAL PORTUGUÊS Nº 35

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004Portugal, 1942 - 10 minRealizado por um dos mais ilustres realizadores britânicos da sua geração, THE ARSENAL STADIUM MYSTERY éuma das primeiras longas-metragens de ficção a terem utilizado o futebol como elemento narrativo. Trata-sede um filme policial, em que um inspector da Scotland Yard tem de desvendar um crime: quem matou umavedeta de futebol, em pleno jogo, num estádio de Londres? A abrir a sessão, um exemplar do J ORNALPORTUGUÊS, sobre a final do campeonato de Lisboa de 1939, entre o Sporting e o Benfica. Alguém se lembrado resultado?Sala Dr. Félix RibeiroSeg. [07] 19:00

    COUP DE TÊTEGolpe de Cabeçade J ean-Jacques Annaudcom Patrick Dewaere, Maurice Barrier, France DougnacFrança, 1979 - 89 minIMAGENS DE PORTUGAL Nº 107Portugal, 1957 - 8 minCOUP DE TÊTE, um filme pouco visto e pouco típico do seu realizador, é um dos filmes de ficção que melhorutiliza o futebol. Os actores foram inclusive preparados por um treinador profissional. Numa pequena cidadeindustrial francesa, um jogador da equipa local serve de bode expiatório de um crime cometido pela vedetada equipa. Mas os directores do clube tiram-no da cadeia, por ocasião de um jogo importante. O homemdecide vingar-se. Notável desempenho de Patrick Dewaere no papel principal. A abrir a sessão, um exemplardas IMAG ENS DE PORTUGAL, com a notícia de um jogo Portugal - França, no Estádio Nac ional.Sala Dr. Félix RibeiroTer. [08] 19:00

    THE OTHER FINAL – BUTHAN AND MONSERRATde J ohan KramerHolanda, 2002 - 53 minIMAGENS DE PORTUGAL Nº 267de Mário Fialho LopesPortugal, 1962 - 8 min

     J ohan Kramer, cineasta e fanático por futebol, teve uma ideia original para THE OTHER FINAL. No mesmo diaem que vários milhões de espec tadores viam a final do Campeonato do Mundo no J apão, Kramer organizouum jogo entre as duas últimas equipas do ranking da FIFA, a do Butão e a de Montserrat. O que acontecequando as duas piores equipas nacionais do mundo se defrontam? A abrir a sessão, um exemplar dasIMAGENS DE PORTUGAL, com a notícia da partida da selecção nacional para Madrid em 1962.Sala Dr. Félix RibeiroQua. [09] 19:00

    THE GAME OF THEIR LIVESde Daniel GordonGrã-Bretanha, 2002 - 80 minIMAGENS DE PORTUGAL Nº 361

    Portugal, 1966 - 8 minDurante o Campeonato do Mundo de 1966, em Inglaterra, a Coreia do Norte participou pela primeira e, atéhoje, única vez. Houve então um jogo com Portugal que se tornou mítico, em que os coreanos fizeram trêsgolos de enfiada, antes de perderem por 5 a 3 e serem eliminados. Trinta e muitos anos depois destelongínquo campeonato, Daniel Gordon conta-nos em THE GAME OF THEIR LIVES a história desta equipa,através de entrevistas com os seus antigos membros. A abrir a sessão, um exemplar das IMAGENS DEPORTUGAL, com o desfile triunfal da selecção nacional (que ficara em terceiro lugar, no Campeonato doMundo, em Londres) e a recepção dos jogadores pelo Presidente da República e por Salazar.Sala Luís de PinaQua. [09] 22:00

    FINTAR O DESTINO

    de Fernando Vendrellcom Carlos Germano, Betina Lopes, Paulo MirandaPortugal/Cabo Verde, 1998 - 77 minIMAGENS DE PORTUGAL Nº 248Portugal, 1962 - 7 min

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004FINTAR O DESTINO, co-produção entre Portugal e Cabo Verde, é uma ficção em que o futebol surge comoum elemento central na vida do protagonista, uma antiga vedeta do Mindelense, em São Vicente. O homemrevê-se na figura de um jovem jogador de talento e decide vir a Lisboa, numa viagem contra os impossíveis,atrás do seu clube de sempre, o Benfica, onde poderia ter jogado quando era novo. A abrir a sessão, umnúmero das Imagens de Portugal sobre a final da Taça da Europa, entre o Benfica e o Real Madrid, em 1962.Sala Dr. Félix RibeiroSex. [11] 19:00

    THE FORBIDDEN TEAMde Arnold Kroigard e Rasmus DinesenDinamarca, 2002 - 54 minA CELEBRAÇÃO DE 28 DE MAIO DE 1952de António Lopes RibeiroPortugal, 1952 - 20 minPara THE FORBIDDEN TEAM, ver o programa do dia 3. A abrir esta sessão, mais um filme de propaganda deLopes Ribeiro, desta vez a celebração da “Revolução Nacional”, que em 1952 foi pretexto para ainauguração do Estádio das Antas.Sala Luís de PinaSex. [11] 19:30

    FORZA BASTIAde J acques Tati e Sophie TatischeffFrança, 1979-2000 - 28 minPRO EVOLUTION SOCCER’S ONE MINUTE DANCE AFTER A GOLDEN GOAL IN THE MASTER LEAGUEde Miguel GomesPortugal, 2004 - 1 minÉS A NOSSA FÉde Edgar PêraPortugal, 2003 - 47 minPara FORZA BASTIA, ver o programa do dia 3. O breve PRO EVOLUTION SOCCER’S…mostra a parte final de umgolo, em câmara lenta. ÉS A NOSSA FÉ, um dos trabalhos mais brilhantes de Edgar Pêra, não se concentrasobre o jogo de futebol, mas sobre as claques e sobre a autêntica “possessão” dos adeptos durante um jogo,

    o papel que têm os adeptos na transformação de um jogo de futebol em espectáculo. Com duraçãoequivalente a uma metade de um jogo de futebol, ÉS A NOSSA FÉ mostra os adeptos do Sporting e os doLeixões, na final da Taça de Portugal (“David versus Golias”, nota o realizador). O espectáculo começa nabancada!Sala Dr. Félix RibeiroSex. [11] 21:30

    ABRIR OS COFRES

    Mostramos um título da nossa colecção pouco visto, AFTER MIDNIGHT, um filme dos finais dos anos 20 deMonta Bell, com Norma Shearer como protagonista. E “Abrimos os Cofres” em duas outras sessões, com trêsobras documentais dos anos 20 e 30: MELHORAMENTOS CITADINOS revela imagens da Lisboa entre meados

    da década 20 e o início da década de 30; INDÚSTRIA PORTUGUESA DE ALGODÃO – FÁBRICA DA AREOSA e ACOVILHÃ INDUSTRIAL, PITORESCA E SEUS ARREDORES, de Artur Costa de Macedo, retratam ambos a indústriade fiação e tecelagem. Duas sessões reveladoras de imagens praticamente desconhecidas, de interessehistórico inegável e que prometem surpreender os espectadores.

    AFTER MIDNIGHTDepois da Meia-Noitede Monta Bellcom Norma Shearer, Lawrence Gray, Gwen Lee, Eddie SturgisEstados Unidos, 1927 - 65 min / mudo, intertítulos legendados em portuguêsNova Iorque nos anos 20, o submundo do crime e as noites de jazz. O argumento de AFTER MIDNIGHT assentano contraste dos destinos de duas irmãs (Mary/Norma Shearer e Maizie/ Gwen Lee), tocando o melodrama e

    a comédia sofisticada. Um filme a não perder, nunca antes exibido na Cinemateca, que tem na forja, para2005, uma retrospectiva de Monta Bell, rea lizador genial e injustíssimamente esquec ido.Sala Luís de PinaQui. [03] 19:30

    INDÚSTRIA PORTUGUESA DE ALGODÃO – FÁBRICA DA AREOSA

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004Portugal, 1934 - 20 min / mudo, com intertítulos em portuguêsA COVILHÃ INDUSTRIAL, PITORESCA E SEUS ARREDORESde Artur Costa de MacedoPortugal, 1921 - 42 min / mudo, com intertítulos em portuguêsApresentamos nesta sessão dois filmes sobre as indústrias de fiação e tecelagem. O primeiro, que retrata ofuncionamento da empresa Azevedo, Soares & Cª, Lda. (Areosa, Porto), é um filme com uma fotografianotável cujo realizador é desconhecido. De destacar, a visita dos Landins de Moçambique, visita essa quepermitiu datar o filme. O filme sobre as várias fábricas de lanifícios da Covilhã é uma das muitas produçõesdocumentais da Invicta Film, a mais importante produtora portuguesa do tempo do cinema mudo. Filmadaspor Artur Costa de Macedo, o operador de imagem de OS LOBOS, estas são as imagens mais antigas dointerior de uma fábrica portuguesa. Este filme foi restaurado com a colaboração do Museu dos Lanifícios daCovilhã e dos descendentes do presidente da Câmara da C ovilhã, que encomendou esta obra.Sala Luís de PinaSex. [04] 22:00

    MELHORAMENTOS CITADINOSPortugal, 1930 - 79 min / mudo, com intertítulos em portuguêsUma visita guiada aos projectos de obras públicas empreendidos pela Câmara Municipal de Lisboa entre1926 e 1930. Nesses anos, a capital atingia os 600000 habitantes e expandia-se para novos bairros. Surgiramentão os primeiros exemplos de arquitectura modernista, multiplicam-se os clubs e os cinemas, surgiram osprimeiros anúncios de néons. O filme passa em revista as grandes remodelações urbanísticas das principaisartérias e praças de uma cidade em expansão, do Cais do Sodré a Belém, dos Restauradores ao Rossio, bemcomo a construção do Parque Eduardo VII e da Estufa Fria e ainda dos mercados municipais de Belém, de S.Bento, da Ribeira e do Campo de Santa Clara. Os projectos de construção do Parque Eduardo VII,merecedores de grande destaque no filme, lançaram então um grande debate, que continuou durante boaparte do século XX, mas que naqueles anos gravitou em torno das sugestões de um arquitecto estrangeiro (J .C. Forrestier). Como boa obra de encomenda camarária, o filme resume e resolve essa polémica a favor dosargumentos da edilidade.Sala Luís de PinaQua. [30] 22:00

    A CASA PROGRAMA PARA FORA DE CASA: CARTA BRANCA A RITA AZEVEDO GOMES

    Para abreviar a conversa, ou a escrita neste caso, não vou percorrer os meandros que me levaram atéchegar a esta escolha de sete filmes.Um dos meus filmes do qua l gosto sempre de cada vez mais e mais: LES ANGES DU PÉCHÉ de Robert Bresson.Depois, aproveito para poder rever e dar a ver dois dos filmes que me ficaram “atravessados”. É o caso deL’ANNONCE FAITE À MARIE, filme único de Alain Cuny e do qual só vi parte, já vai para mais de doze anos; é,por outros motivos, também, o caso de THE GANG’S ALL HERE de B. Berkeley, que vi no seio dos famosos Ciclosda Gulbenkian e sobre o qual gostaria de tirar teimas quanto às impressões fortíssimas que me ficaram:abertura do filme com um inesperado movimento a mostrar-nos o estúdio enorme, a canção de Alice Faye, aboca muito encarnada, uma noite muito escura e cheia de brilhos de estrelas, “No love no nothing until mybaby comes home…” enquanto ela passa a ferro sem muito se dar conta disso…E já lá vão três. Só podia escolher mais quatro! Lembram-se da lamparina do génio de O LADRÃO DE

    BAGDAD?Pus o pé na terra e fui aos meus desejos mais presentes antes que se me esgotassem os pedidos. Assim, incluínesta lista GERTRUD, o Dreyer que tão tarde, mas tão no tempo (valeu-me Deus), encontrei pela primeira vezna minha vida numa sessão no Porto (no C iclo Odisseia das Imagens). Que me desculpem se é um filme maisdo que visto e revisto (será?), referido e mais que referido, outros haverá que, como eu, merecerão estadescoberta ou reencontro. Neste impulso de desejos anda comigo, andam comigo, alguns filmes e, desde asua visão no Palácio Foz, não resisti a voltar chamar a esta casa o filme de Mauritz Stiller O TESOURO DE ARNE -razões não me faltam.Escolha para fora e para dentro de casa e tão dentro fui que me dei comigo no silêncio da LILITH E ODESTINO, dos meus 18 anos.Por fim, fiquei com o Nicholas Ray que em pessoa não encontrei e esteve cá na terra, no meu tempo, e dequem guardo a impressão de ter conhecido pelos dois filmes (o seu primeiro e o seu último filme) que se

    abrem e fecham um no outro sem muito mais a dizer.Será porventura a ele que dedico esta escolha?

    GERTRUDde Carl Th. Dreyercom Nina Pens Rode, Bendt Rothe, Ebe Rode, Baard Owe, Axel Strobye

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004Dinamarca, 1964 - 116 min / legendado em espanholGertrud assume a “total solidão em nome do amor”. O último filme de Carl Th. Dreyer em que o ‘cinema’(como essa mulher, Gertrud), de forma única e irrepetível parece paralisar, cristalizar, deixando no seu interior,no interior das suas imagens, todo o movimento e a força e o fogo da palavra. É um filme tão absoluto que,por esta vez, nos vemos, como nunca até ele, tão colocados em face de uma possível Verdade e de umaverdade cinematográfica. Só apetece dizer: este sim, é ‘o mais belo filme de todos os tempos’.Sala Dr. Félix RibeiroSeg. [14] 19:00

    HERR ARNES PENGARO Tesouro de Arnede Mauritz Stillercom Richard Lund, Mary J ohnson, Axel Nilsson, Stina Berg, Erick StoklassaSuécia, 1919 - 108 min / mudo / intertítulos suecos traduzidos em português“Ouve-se o aguçar de facas ao longe” sinal de mau presságio. Conspiraç ão contra o rei João III. O frio; umnavio encalhado no gelo; o medo; a família; a mesa; a luz nos rostos, os olhares em grandes planos, culpa e amaldição da morte nas muitas mortes deste filme. E o amor. Três cavaleiros, entre os quais Sir Archie,assassinam o velho pescador Arne e a família dele para lhe ficarem com o tesouro cheio de ouro… A jovemElsalill sobrevive ao massacre e é levada para casa de parentes longínquos. Por esta história simples, de umaSuécia isolada e lendária (uma legenda inicial situa-nos em 1574) vamos entrando num filme duma beleza tãogrande que nos fica a impressão de que se houve almas com imagem foi Stiller quem as captou com a sualuz - Elsalill aparece (em todo o sentido desta palavra, aparece comoventemente como só no cinemaac ontece), os cabelos fios de ouro. Elsalill e Sir Archie vão-se confundindo um no outro. Mas Archie é o amadoque vai ser denunc iado como vilão, e de Elsalill fica sempre imagem sem corpo possível.Sala Luís de PinaTer. [15] 19:30

    LES ANGES DU PÉCHÉde Robert Bressoncom Renée Faure, Jany Holt, Sylvie, Mila Parély, Marie-Hélène Dasté, Sílvia MonfordFrança, 1944 - 87 min / leg em portuguêsCom este primeiro filme de Bresson, num universo tão concreto como aparentam ser as nossas vidas do dia a

    dia, somos levados a sentirmo-nos "escolhidos" para entrar no mundo da Graça e dos anjos. Anne-Marie e Thérèse, tão ac trizes (como J orge Silva Melo sublinhou num texto seu) modelos do "anjo" e do "pecado".Estranho paradoxo para quem não acreditava em actores como Bresson não acreditava. As grades da prisãoe do convento fecham o quê e de quem? Ou quem de quê?Sair de um filme mais 'só' e mais 'com' não é possível.Sala Dr. Félix RibeiroTer. [15] 21:30

    L’ANNONCE FAITE À MARIEde Alain Cunycom Alain Cuny, Ulrika J onsson, Roberto Benavente, Christelle Challab, J ean des Ligneris,Canadá, 1991 - 90 min / legendado electronicamente em português

    L’ Annonce Faite à Marie, a peça de Paul Claudel, numa adaptação para c inema pela mão de Alain Cuny.Única vez em que o actor se assumiu como realizador aos 83 anos. Uma longa troca de amor violento entrePierre de Craon, construtor de catedrais, atingido pela lepra e Violaine, a quem esse mal também tocará. Troca que abre o drama e lhe dá um sentido de luta contra a podridão da morte. A jovem Violaine diz: “Je(ne) suis (pas) une image”. No momento em que a ouvimos os seus lábios estão fechados. Momentos antes,vimos os seus lábios dizer o mesmo texto mas não ouvimos a sua voz. Dissociação da imagem e da palavra.Quando o cinema trabalha sobre - e contra - a palavra teatral para melhor a servir. Um outro exemplo decinema em que se poderá pedir ao espec tador que oiça/veja este filme de olhos/ouvidos bem abertos.Sala Dr. Félix RibeiroQua. [16] 19:00

    THE GANG’S ALL HERE

    Sinfonia de Estrelasde Busby Berkeleycom Alice Faye, Carmen Miranda, Phil Baker, Benny Goodman, Eugene Pallette, Charlotte Greenwood,Edward Everett HortonEstados Unidos, 1943 - 101 min / legendado em espanhol

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004Deste filme não se poderá dizer “You’ve seen one you’ve seen them all”. Basta o lendário e louco número,com a Carmen Miranda Rosita em The Lady in The Tutti Frutti Hat. Filme que “sob a aparência da mais gratuitadas extravagâncias, é a mais portentosa afirmação onírica do erotismo”. É que Busby Berkeley, no seio doextraordinário mundo que já por si é o do Musical Americano dos anos 40, atira-nos para uma visãoestilhaçada em espirais, dentro do musical, à qual apetece chamar todos os adjectivos - irrepetível,surpreendente, caleidoscópica, rodopiante, exuberante, total…Melhor do que esta busca de adjectivos, quenão chegam lá nem por sombras, evoco Andy Warhol, que um dia lhe chamou “o maior artista americanodeste século”; Gene Kelly que disse -“Ele fez tudo”; “autor do mais consciente imaginário que jamais existiu nocinema” (Bob Fosse). Em 1971, quando o interrogaram sobre os segredos da sua arte, Berkeley respondeu:“Nunca perguntem os porquês, as causas e razões de um número à Berkeley. Eu próprio não sei. I kept youentertained, didn’t I?”Sala Dr. Félix RibeiroQua. [16] 21:30

    LILITHLilith e o Seu Destinode Robert Rossencom Warren Beatty, J ean Seberg, Henry Fonda, Kim Hunter, Anne Meacham, J essica Walter, Gene HackmanEstados Unidos, 1964 - 110 min / legendado electronicamente em portuguêsLugar comum? Lugar único? Pouco importa, dou-lhes razão: Lilith é “o mais belo filme de todos os tempos”.Ou em que lugar colocar esta obra que Robert Rossen nos deixa, três anos antes de morrer? Se houve filmeem que a candura se fechou sobre si própria para assim permanecer sem mácula foi em LILITH. Lilith de J eanSeberg, não pode ser deste mundo em que tudo o que a toca a não entende. Só o c inema lhe deu espaço etempo e a ele veio para aprender que a palavra, ao contrário do que aparenta, pode ser de facto a grandedistância, o sinal que verifica a impossibilidade do amor. E quem tiver em pouca conta Warren Beatty comoactor, que se desengane quando o vir ficar tão só naquele fim tão perdido, tão a preto e branco, tão lá forana rua. É que Lilith fecha-se em si, na sua palavra, no cinema, e Beatty fica aqui na terra, bem dentro de nós.Destino dela ou dele? Ou nosso?Sala Dr. Félix RibeiroQui. [17] 19:00

    THEY LIVE BY NIGHT

    Os Filhos da Noitede Nicholas Raycom Farley Granger, Cathy O’Donnell, Howard da Silva, Helen Craig, Jay C.FlippenEstados Unidos, 1948 - 92 min / legendado em portuguêsWE CAN’T GO HOME AGAINde Nicholas Raycom Nicholas Ray, Leslie Levinson, Denny Fischer, Tom Farrell, J ane WeymannEstados Unidos, 1971-1980 - 93 min / legendado em portuguêsNa mesma sessão juntam-se de seguida o primeiro e o último filme de Nicholas Ray.Antes do genérico do primeiro filme, numa cena inicial, são-nos apresentados os protagonistas, Bowie eKeechie, numa cena de amor. Sobre a imagem deles surge a inscrição: “This boy and this girl were neverproperly introduced in the world they live in. To tell their story…”, deu-nos Nick Ray o mais belo filme de sempre,

     THEY LIVE BY NIGHT. Logo após essa abertura, um momento de fissura, eles são bruscamente interrompidos (éimpossível não evocar as últimas palavras de Nicholas Ray “I was interrupted”no seu filme final: WE CAN’T GOHOME AGAIN, o mais belo filme de sempre). Destas coisas do CINEMA… De 1947 a 1973, Nick, o nickname deRay (Raymond Nicholas Kienzler) foi ele próprio filho da noite e soube que nunca mais podemos voltar paracasa. Ficou em In a Lonely Place, foi Born to Be Bad em Dangerous Ground, amou Rebels Without a Cause eLusty Men, chamou-se Vienna ou Guitar man, disse-nos - Run for Cover; entregou-se a coisas Bigger Than Life,com Bitter Victor(y)ies e ventos…Across the Everglades, selvagem, inocente…always contradicting himself.King of Kings foi tudo isto e muitos mais nomes teve, nisso a que se chama O Cinema.Sala Dr. Félix RibeiroQui. [17] 21:30

    OS MALDITOS DO CINEMA PORTUGUÊS

    Nos anos 80 – provavelmente, a década áurea do cinema português – os detractores de tal cinema, ou daimagem então dominante desse cinema, reagiram, escandalizados contra a euforia, invocando o número defilmes subsidiados que nem sequer chegavam às salas: os “filmes para as gavetas”. O argumento era vicioso.As gavetas estavam todas nas mãos de dois ou três distribuidores/exibidores, que, como não gostavam, não

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004mostravam. Falavam em nome do “gosto do público”, mas o desgosto era deles e o público não era tidonem achado, já que não se podia pronunciar sobre o que não via.Em 1990, contaram-se 29 filmes, concluídos entre 1980 e esse ano de que não rezava a lista das estreias emPortugal. Entre eles, incluía-se o filme que ganhou o Leão de Ouro em Veneza em 1985, LE SOULIER DE SATINde Manoel de Oliveira; a última obra de António Reis e Margarida Cordeiro, ROSA DE AREIA (1989),apresentada no Festival de Berlim; UMA RAPARIGA NO VERÃO (1986) de Victor Gonçalves, escolhido peloFestival de Florença; MÁSCARA DE AÇO CONTRA ABISMO AZUL (1989), de Paulo Rocha, estreado pelo Festivalde Pesaro. J á nos anos 90, as estreias cinematográficas de Manuel Mozos, Luís Alvarães e Rita Azevedo Gomes,seleccionadas por vários festivais europeus, foram ignoradas em Portugal, onde as únicas projecções quasese limitaram à Cinemateca. Houve quem dissesse muito bem. “Oficialmente” não existiram. Piores foram aindaos casos de ATLÂNTIDA – DO OUTRO LADO DO ESPELHO de Daniel Del-Negro ou de LONGE DAQUI de J oãoGuerra, reputados como execráveis por gente que nunca os viu. Já em 1993, COITADO DO J ORGE, de J orgeSilva Melo foi louvadíssimo em Dunquerque, e em Taormina, ignoradíssimo em Portugal. ROSA NEGRA, deMargarida Gil, seleccionado para a competição de Locarno em 92 ou, ainda antes, ONDE BATE O SOL de J oaquim Pinto, com estreia em Berlim, 1989, conheceram a mesma sina. Sina que só mudou a partir de 1995(mesmo assim…) devido ao aparecimento de um distribuidor /exibidor que pôs termo ao bloqueio (PauloBranco) e a uma diferente política do IPC, que aliás foi sol de pouca dura.Enganavam-se os poucos que defenderam esses filmes (aliás diverssíssimos, como é natural, dado osdiversíssimos autores) ou os muitos que apostavam em acabar com tal raça?A vasta delegação portuguesa que esteve em Turim, em 1999, por altura da vastíssima retrospectiva decinema português intitulada AMORI DI PERDIZIONE (STORIE DI CINEMA PORTOGHESE 1970-1999), organizadapor Roberto Turigliatto, com a colaboração de Simona Fina, verificou, surpresa, que alguns dos filmes maisbem recebidos foram os de Victor Gonçalves e Daniel Del-Negro, numa selecção que incluíu quase todos os“malditos” de dez anos antes.Numa altura em que se anuncia uma nova lei de cinema e em que tanto se invoca o “mercado”, pareceu-nos útil revisitar essas obras e dá-las a ver a quem só as conhece por “ouvir dizer”. O critério foi dar a ver filmes“amaldiçoados”, que só se viram em longínquas ante-estreias na Cinemateca, ou em sessões esporádicas.Escolhemos 16 filmes e 15 cineastas. Começamos com o último filme do grande e tão esquecido António Reise acabamos com o exemplo supremo de “maldição”: BRANCA DE NEVE de César Monteiro.Provocação ou revelação? Venha e veja, antes de responder. A ignorância e o preconceito são a mãe e opai de todos os vícios.

    ROSA DE AREIAde António Reis e Margarida Cordeirocom Ana Umbelina, Balbina Ferro, Cristina de J esus, Lia Nascimento, António Reis, Artur Semedo, FernandoLopesPortugal, 1989 - 105 minO último filme de António Reis, concluído cerca de dois anos antes da sua morte, foi, mais uma vez, umtrabalho co-assinado com Margarida Cordeiro. Mais uma vez é uma peregrinação por Portugal, como lugarde mito e como lugar mítico. Peregrinação também entre o “crepúsculo inicial da História” e a “aurora final”,num círculo que é, como a rosa de areia, uma das metáforas mais constantes dele. Peregrinação ainda entrevisões medievais (a mais inesquecível é a do julgamento e da execução de um porco, baseada num factoreal) e as visões do futuro de Carl Sagan. ROSA DE AREIA, filme ainda por descobrir, filme ainda por descerrar,

    é uma figura perfeita, carregando o simbolismo mágico de todas as formas perfeitas. A história de um homemperseguido por um tigre que caiu num poço onde outro tigre o esperava. Ou a história de um pai ressuscitadodos mortos para dar de beber à filha um vinho feito de sol, de poeiras e de chuva. Agora, nunca mais haveráno cinema português um imaginário assim.Sala Dr. Félix Ribeiro Sala Luís de PinaSeg. [14] 21:30 Qua. [16] 22:00

    COITADO DO JORGEde J orge Silva Melocom Jerzy Radwilowicz, Angela Molina, Manuel Wiborg, Joana Bárcia, Graziella Galvani, Glicínia QuartimPortugal, 1993 - 100 minPrémio de melhor realização, em Taormina 93. Prémio de melhor interpretação para Manuel Wiborg, em

    Dunquerque 93. Mas, em Portugal, por coisas e loisas, J orge (Silva Melo) ficou mesmo coitado. Mais coitado sedeve ter sentido em 1998, quando o filme, sempre inédito, foi editado em vídeo e a crítica tomou a nuvempor Juno. Baseado num romance de Paula Fox (Poor George) é possível resumir o filme com o verso de RuyBelo que lhe serve de epígrafe: “Triste é no Outono descobrir que é no Verão a única estação”. Essadescoberta aproxima este filme “dolorosíssimo e salgado” de obras anteriores como NINGUÉM DUAS VEZES eAGOSTO. Todos são filmes do “tarde demais”, do “é sempre muito cedo ou muito tarde / e hei-de morrer sem

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004ter visto a vida toda” (Alberto Vaz da Silva). Mas os verões outonais são as vestes dos fogos. E, se este é umfilme em que tudo arde (da paisagem aos protagonistas) o que mais arde é o fogo que não se vê e de queficam as cinzas e as saudades de Mozart. Quem foi que disse que “o cinema português nunca existiu?” Senão existisse, era preciso inventar outro para lá caber este filme de fagulhas e cinzas, para lá caber vida emtão grande cuidado.Sala Dr. Félix Ribeiro Sala Luís de PinaTer. [15] 19:00 Qua. [23] 19:30

    ONDE BATE O SOLde J oaquim Pintocom Laura Morante, António Pedro Figueiredo, Marcello Urgeghe, Manuel Lobão, Francisco Nascimento, Inêsde MedeirosPortugal, 1989 - 88 minONDE BATE O SOL – não há regra sem excepção – foi o único destes filmes que estreou, mas apenas em 1994,mais de cinco anos depois da sua estreia em Berlim. Segunda obra de J oaquim Pinto, nem a presença no“cast” de Laura Morante lhe valeu. “Filme frágil, essa fragilidade não demora muito a começar a trabalharem favor do filme. Poder-se-ia defender, sem grande esforço de retórica, que se trata mesmo de um filmeque faz da ideia de fragilidade uma das suas linhas principais” (Luís Miguel Oliveira).Sala Luís de Pina Sala Luís de PinaTer. [15] 22:00 Sex. [25] 22:00

    UMA RAPARIGA NO VERÃOde Vítor Gonçalvescom Isabel Galhardo, Diogo Dória, J osé Manuel Mendes, J oão Perry, J oaquim LeitãoPortugal, 1986 - 82 minUMA RAPARIGA NO VERÃO foi uma das melhores surpresas do cinema português dos anos 80 e, até à data, oúnico filme para o cinema de Vítor Gonçalves. Revelou Isabel Galhardo e é também o único filme da actriz.Um filme sobre a vida que passa num dos mais perturbantes e sinceros retratos intimistas do cinema português.Quem o viu não o esquece mais, mas tão poucos o viram!Sala Luís de Pina Sala Luís de PinaQua. [16] 19:30 Qua. [23] 22:00

    UM PASSO, OUTRO PASSO E DEPOIS…de Manuel Mozoscom Henrique Canto e C astro, Pedro Hestnes, Sandra Garcia, Sandra FaleiroPortugal, 1990 - 58 minEm 1990, pareceu que um deus bom se amerceou do nosso cinema. Oliveira fez NON, sem o qual a sua obranunca teria tido o mesmo sentido. Quase ao mesmo tempo, estrearam-se as primeiras obras de uma série de jovens que parec iam, finalmente, formar a “terceira geração”, tão invocada por críticos que pensavam emchinês. Foi o ano de Pedro Costa e de O SANGUE. Foi o ano de Teresa Villaverde e de A IDADE MAIOR. Foi oano de Rita Azevedo Gomes e de O SOM DA TERRA A TREMER. Mas foi também o ano em que a RTP apostouem dois jovens (Manuel Mozos e Luís Alvarães) e, graças a Fernando Lopes, lhes confiou, para a sérieCORAÇÕES PERIFÉRICOS, UM PASSO, OUTRO E DEPOIS… e MALVADEZ. Mas depois de Deus vem o Diabo. Detodos esses, só Pedro Costa e Teresa Villaverde escaparam à maldição, na medida do possível ou do

    impossível. Manuel Mozos demorou doze anos a acabar o seu segundo filme, o belíssimo XAVIER e só fez maisoutro filme. Houve um passo, outro passo, mas o depois é hoje mais incerto que há catorze anos. Revendoeste filme, tão magoado, tão secreto, tão docemente intimista, medimos a extensão da injustiça.Premonitoriamente, em 1990, Manuel Mozos antecedeu a estreia, na Cinemateca, desta obra, pelasseguintes palavras de J aime Gil de Biedusa:”Una c lara consciencia de lo que ha perdido es lo que laconsuela”. Consolará?Sala Luís de Pina Sala Luís de PinaQui. [17] 19:30 Qui. [24] 19:30

    MALVADEZde Luís Alvarãescom Pedro Hestnes, Sónia Guimarães, Victor Norte, Miguel Guilherme, Maria Amélia Mata, Isabel Ruth

    Portugal, 1990 - 55 minVer nota anterior, quanto ao fundo. Quanto ao caso de Luís Alvarães, houve apenas mais outro filme, O OIRODO BANDIDO, que também teve que esperar doze anos para ser visto em sala. Ver os dois filmes assim deseguida, faz-nos também pensar nos actores que se perderam no caminho, sobretudo o Pedro Hestnes deMozos, Alvarães, Pedro Costa. “Nunca choraramos bastante / quando vemos o gesto criador serimpedido”(Sophia).

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004Sala Luís de Pina Sala Luís de PinaQui. [17] 22:00 Qui. [24] 22:00

    LONGE DAQUIde J oão Guerracom Canto e Castro, Filipe Cochofel, António Pedro Figueiredo,Maysa Marta, Glícinia Quartin, Manuela deFreitasPortugal, 1993 - 100 min Também estreou, mas foi como se não tivesse estreado. Ficou LONGE DAQUI, longe de todos nós. E, noentanto, apesar das peripécias da rodagem e da produção, quem saiba ver verá nesta obra incompleta,nesta obra imperfeita, como se diz das capelas da Batalha, um olhar como não houve muitos e umasensibilidade raríssima. O realizador desapareceu depois. “Missing in action”.Sala Luís de Pina Sala Luís de PinaSex. [18] 19:30 Sex. [25] 19:30

    LE SOULIER DE SATINde Manoel de Oliveiracom Luís Miguel Cintra, Patrícia Barzyk, Anne Consigny, J ean Pierre Bernard, Manuela de Freitas, Henri Serre,Anny Romand, Isabelle Weingarten, Marie Christine Barrault, Maria Barroso, J orge Silva MeloPortugal/França, 1985 - 406 min / versão original sem legendasQuase sete horas de duração; planos geralmente longuíssimos, no limite material da duração do “magasin”;câmara normalmente imóvel, impondo um único ponto de vista sobre personagens que, tambémnormalmente, estão estáticas e se falam sem se olhar e sem olhar para a câmara, fixando um alguresindefinido e insituado; uma extensíssima sucessão de “recitativos” ou “árias” em que uma só personagem(tantas vezes) se espraia em falas de intensa e tensa duração; um filme de um cineasta português, quaseintegralmente falado em francês e em que se descortina mal a possibilidade de qualquer artifício (dobragemou legendagem) “traduzir” essa língua; um texto ideológica e esteticamente avesso a qualquer moda ougosto dominante; são estas as aparências exteriores do opus magnum do cinema português, este LE SOULIERDE SATIN que, em 1985, valeu a Manoel de Oliveira o Leão de Ouro em Veneza. Adaptação integral da obrade Claudel sobre a história de D. Rodrigo de Manacor, LE SOULIER DE SATIN é um dos filmes mais ambiciososalguma vez feitos e é, para alguns, a obra máxima de Oliveira e um dos grandes monumentos da história docinema. A exibir em cópia nova.

    Sala Dr. Félix RibeiroSáb. [19]15:30 - 1ª jornada 17:30 - 2ª jornada 19:30 - 3ª jornada 22:00 - 4ª jornada

    O SOM DA TERRA A TREMERde Rita Azevedo Gomescom J osé Mário Branco, Manuela de Freitas, Miguel Gonçalves, Sara Marques, Duarte de Almeida, PauloRochaPortugal, 1990 - 90 minLonginquamente baseado em Gide (Paludes) e em Hawthorne (Wakefield) este filme de belíssimo título, é umfilme sobre “um escritor que nunca escreveu nada” e que “sopra ao luar o hálito à geada”. O poema deCarlos Queiroz não é citado no filme, mas o ambiente é esse, entre cartas escritas e jamais recebidas, livros

    com capas de corvos e acasos que não acontecem por acaso. Ficção dentro da ficção, histórias dentro dehistórias, como essas caixinhas chinesas em que há sempre um fundo e outro fundo. Ou as duas margens domesmo rio, para sempre laterais. Uma das obras mais inclassificáveis do nosso cinema que só podia suscitar –e suscitou – reacções extremas. Genérico de António Palolo. Só onze anos depois Rita Azevedo Gomes voltoua filmar. A exibir em cópia nova.Sala Luís de Pina Sala Luís de PinaSeg. [21] 19:30 Sáb. [26] 19:30

    ATLÂNTIDA - DO OUTRO LADO DO ESPELHOde Daniel Del-Negrocom Luís Lucas, Teresa Madruga, Ruy de Carvalho, Vladimiro FranklinGeralmente saudado como a maior revelação entre os novos directores de fotografia dos anos 80 (filmes de

    Vítor Gonçalves, J oaquim Leitão, Simão dos Reis, etc) Daniel Del-Negro não mereceu os mesmos encómiosquando passou à realização. E, eventualmente descoraçoado, o realizador nunca mais dirigiu outro filme,mas, coerentemente articulado com um universo pessoal, belo e vertiginoso, DO OUTRO LADO DO ESPELHOmerece bem mais do que a atenção distraída que lhe foi dada. DO OUTRO LADO DO ESPELHO - ATLÂNTIDA émesmo, eventualmente, a mais radical aposta no fantástico de que me recordo no cinema português. Assuas quedas – ou quebras – são, como os seus riscos, abissais. Do fundo desses abismos, vale bem a pena

  • 8/17/2019 Cinemateca Portuguesa 0406

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004sustentar o desafio que, insólita mas ri-gorosamente, Daniel Del-Negro nos lançou” (J oão Bénard da Costa). Aexibir em cópia nova.Sala Luís de Pina Sala Luís de PinaSeg. [21] 22:00 Sáb. [26] 22:00

    CONFIDÊNCIAS - JUNQUEIRA - A MULHER DO FILÓSOFOde Cristina Hausercom Luís Vidal Lopes, Cristina Hauser, João Perry, António Caldeira Pires, Mário J acquesPortugal, 1982-1987 - 71 minCristina Hauser revelou-se como actriz, quando fez de Teresa no AMOR DE PERDIÇÃO de Manoel de Oliveira.Nos anos 80, iniciou uma carreira de realizadora, sob o signo de Arthur Schnitzler. O primeiro foi praticamenteum filme amador, mas que lhe permitiu obter apoios para a realização dos dois outros. Cristina Hauser queria irmais além, mas não a deixaram. Ficaram pois estes três breves filmes que, nas palavras da Realizadora, “dotema do segredo à infidelidade feminina, é presença omissa das mulheres, passando pelo traço maispersistente que consiste na versão irónica das diferentes situações (…) que pretendem ilustrar a frase deHofmannstahl que definiu a obra de Schnitzler como comédias da alma”.Sala Luís de Pina Sala Luís de PinaTer. [22] 19:30 Seg. [28] 19:30

    ROSA NEGRAde Margarida Gilcom Fernando Luís, Manuela de Freitas, Catarina Correia, Dinis Neto J orge, Mário Viegas, Zita Duarte, J oãoCésar MonteiroPortugal, 1992 - 108 minSegunda longa-metragem de Margarida Gil, estreou em Locarno em 1992,mas nunca foi exibidacomercialmente em Portugal. Rodada na Covilhã e na Serra da Estrela, sobre um argumento em quecolaborou Maria Velho da Costa, é, sob a aparência de “drama de província”, um eco da tragédia gregaque os protagonistas encenam. Filme em elipse e em “surdina”, contem um grito atravessado que lhe confereum negrume bastante raro no nosso cinema. Última aparição nas telas de Mário Viegas e, num pequenopapel, J oão C ésar Monteiro.Sala Luís de Pina Sala Luís de PinaTer. [22] 22:00 Ter. [29] 19:30

    MÁSCARA DE AÇO CONTRA ABISMO AZULde Paulo Rochacom Victor Norte , Fernando Heitor, Inês de Medeiros, Miguel Guilherme, J osé Viana, Henrique VianaPortugal, 1988 - 61 min.Quase vinte anos depois de POUSADA DAS CHAGAS, Paulo Rocha regressou a uma surpreendente “colagem”sobre o modernismo português, centrado em Amadeo de Sousa Cardoso. Se “Máscara de Aço” e “AbismoAzul” são títulos de quadros de Amadeo, o que o filme propõe é uma oposição entre a afirmação e oapagamento, entre os princípios masculino e feminino. Entre a reconstituição dos anos do Orfeu e domanifesto futurista, a montagem de uma exposição na Gulbenkian e um onirismo jugulado, Paulo Rochapropôs uma das mais singulares e fascinantes visões desse mundo de cores e metais, tão saudosista quantoanarquizante, tão altaneiro quanto inseguro.

    Sala Luís de Pina Sala Luís de PinaSeg. [28] 22:00 Ter. [29] 22:00

    BRANCA DE NEVEde J oão César Monteirocom as vozes de Maria do C armo, Reginaldo da Cruz, Ana Brandão, Luís Miguel Cintra, Diogo Dória, J oãoCésar MonteiroPortugal, 2000 - 72 minO mais “escandaloso” filme de J oão C ésar Monteiro, que, ao adaptar uma peça de Robert Walser, deixou atela quase sempre negra, com raras imagens de outra cor e as imagens sonoras (as vozes dos actores). O

    “escândalo” é tão recente que não vale a pena repetir factos e argumentos. Vale a pena é voltar a verBRANCA DE NEVE, outra vez e outra vez, no escuro da sala, no quarto escuro.Sala Dr. Félix Ribeiro Sala Dr. Félix RibeiroTer. [29] 21:30 Qua. [30] 19:00

    FELLINI: DOS TEMPOS DE ZAVATTINI (CESARE) ÀS FOTOGRAFIAS DE ZAVATTINI (ARTURO)

  • 8/17/2019 Cinemateca Portuguesa 0406

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    CINEMATECA PORTUGUESA MUSEU DO CINEMA  JUNHO 2004

    Por ocasião da exposição, que terá lugar na Cinemateca, dedicada às fotografias de rodagem de LA DOLCEVITA captadas por Arturo Zavattini regressamos à obra de Fellini, num Ciclo balizado entre “o tempo deZavattini” (Cesare, o pai) e “as fotografias de Zavattini” (Arturo, o filho).Arturo, fotógrafo de renome, director de fotografia bastante activo (sobretudo) nos anos 70 do cinemaitaliano, começou a trabalhar no cinema como assistente de câmara do grande operador Otello Martelli justamente num filme de Fellini, IL BIDONE (1955). Mais tarde, foi operador de câmara na rodagem de LADOLCE VITA, tendo aproveitado os intervalos e os longos tempos de espera da rodagem para tirar uma