Circa 1968. Museu Serralves. Por. City, Maio Ou Junho de 1998

download Circa 1968.  Museu Serralves. Por.  City, Maio Ou Junho de 1998

of 7

Transcript of Circa 1968. Museu Serralves. Por. City, Maio Ou Junho de 1998

  • 8/3/2019 Circa 1968. Museu Serralves. Por. City, Maio Ou Junho de 1998

    1/7

    City,

    Maio ou

    Junho

    1998

  • 8/3/2019 Circa 1968. Museu Serralves. Por. City, Maio Ou Junho de 1998

    2/7

    arte muse rrUma visita guiada

    .-.,.

    I. lvaro Lapa, As Profecias deAbdul Varetti, Escritor Falhado, 1972Bordado/lona montada/ferrolvaro Lapa um verdadeiro artista sui generis, cujo percursooriginal comeou nos anos 60com um conjunto de trabalhos,que reflecte frequentementesobre os pontos de contactoe divergncias entre palavrae imagem, tica e esttica.Profundamente inteligente,muitas vezes irnico, se nomesmo mordaz, as suasreflexes sobre as semnticasdas linguagens pictricae verbal desenvolvemestratgias, tanto relacionadascom a Arte Conceptual comoa Arte Povera. Abdul Varetti surge como o alter-ego imaginrio

    do artista e as suas "profecias" brdicas, humoristicamentebordadas na tela (aliando, assim, as conotaes masculinasligadas ao conceito do "manuscrito" com a costura, trabalhomanual conotado com o feminino) enunciam com ironiaos parmetros dos seus valores.

    os OEUSE's. AOC:lf\MEOOOS VoIlECU'ER.... A AItO,M(M t..NRE. Cl.ItfOSJOAO( ( ACRENA 'toAIIlo

    3Mario Merz, Salamino, 1966-7.Cobertor de l e non. 90X245 cmMario Merz mais conhecido pela A Casa Fibonacci, um trabalhoque continua em evoluo e est sujeito a constantes mudanasem relao ao espao no qual se encontra. Uma exposioda Casa Fibonacci esteve patente na Casa de Serralves emFevereiro deste ano. Nascido em Milo, em 1925, Merz contribuiudecisivamente nos anos 60 para o movimento que o crticoitaliano German Celant apelidou de "Arte Povera", pela nfaseposta na utilizao de materiais "pobres" em vez dos tradicionaismateriais chamados "nobres". H certamente algo na Arte Poveraque remete ao humor negro e ao desdenho pelas aluses eruditasdos artistas Dada, mais cedo neste sculo. Com humor e ironia,esta salsichinha caracteristicamente feita com materiais "noartsticos", tornando-se simultaneamente icnica e irreverente.

  • 8/3/2019 Circa 1968. Museu Serralves. Por. City, Maio Ou Junho de 1998

    3/7

    - -m6 obras

    2. ngelo de Sousa, PequenasEsculturas, 1975Mais conhecido pelas suas depuradas pinturas monocromticas,que aliam um vocabulrio plstico minimalista a um apuradosentido cromtico e um deleite com as ambiguidades e paradoxosdo espao pictrico, ngelo de Sousa fez estas pequenasesculturas quase "protticas" durante um perodo experimentalnos anos 70. O ouvido, isolado do seu contexto corpreo,transforma-se numa forma abstracta, simultaneamente flor econcha, sem nunca perder a sua ligao alusiva com o sentido auditivo.

    4. Helena Almeida, PinturaHabitada, 1975Utilizando o prprio corpo como actor principal, o trabalhofotogrfico de Helena Almeida entronca no tanto no gnerodo auto-retrato, mas antes na prtica da Arte Conceptual. Numaextensa srie de trabalhos intitulada Pintura Habitada, ou TelaHabitada, a artista jogacom as convenesmimticas da pinturatradicional e da fotografiae os dispositivosde perspectivao,postos ao servio de taisconvenes. Assim,efectua uma ruptura comas nossas expectativasacerca de superfciee profundidade, da marcade identidade e deautoria, da representaoe auto-representao.

  • 8/3/2019 Circa 1968. Museu Serralves. Por. City, Maio Ou Junho de 1998

    4/7

    ..

    .. .

    .. .....

    .........

    ... ... ..... ... .... .......

    .. ..

    ...

    ...

    ... .. ...

    ....... ..

    ..

    I .. ' ! ....

    ....

    .. . ... . .. .

    ... . ... .. .. .... ........ .. .. ... ........ .. .... .

    ..... ..

    ..... .....

    Aschehaufen I, Relner Ruthen.btck, 1968

    .. ... .........

    o '.

    .

    .

    I... ...

    ..... . ........

    .. .. I ' .. - o.... .. .....

    o

    . .. ... ........... ... ... .... .. ..

    . -.'. ... .. . ....... .. ... ... ... .. ....

    .. ... , ...........

    ..... .. ...... ... ....oo

    . ... .. .. .. ... .

    .. .

    .... ..... .. .. .. ... ..... .. .. .... .

    ..

    . ..

    ... I .......

    .-.... .. , ..o

    ..

    ... .

    ... I'

    o o

    ..... .. ... . .....

    ...... ..........

    ...... ... .. .. .... .. ..... . ...........

    I .................

    o

    . ... . ..

    .. ....... .

    o

    . ..... .......... ....

    .. ... .. ..... .

    lmim'Jmm!Iim.. .... ... ...... .. ......o. ...... .. ...

    .. . ... .. ... .. . ..

    o

    ... I '

    ......... .. .

    '0

    - . ... I I

    ..

    .. ...... .... I" ..

    ...

    -.

    .... .. ... ... ... .

    ... ...

    ..... ..

    ... ....

    ... I " I .. I '. .. ......... .. .. .. .. ...

    . .... .

    . ... .... .. ...j, .. I ..

    .. ...... .. o

    o _

    .. .. ....... ... ...

    ..... ... .. .....rol. ~ ,\TlI:r:!:m:l-llf:.'r..l':.Ih. -

    ..

    City - No dia 6 de Junho vai Inauguraro novo Museu de serralves. o primeiro museu dedicadounicamente arte contempornea (p6s-1968) em Portugal.Pode explicar como que surgiu este projecto?Vicente Todoli - A Fundao de Serralves foi criada, em 1989, paraeventualmente fazer o Museu de Arte Contempornea. Portantoo Museu faz parte da ideia na origem da prpria Fundao.O encargo ao Arq. lvaro Siza um encargo j muito antigo.Apoca 'contempornea'abrangida pelo museu comea em 1968...Sim, Cirea 1968, que alis o nome da exposio que inaugurao Museu. A ideia principal era a de encontrar uma data simblica.Digamos que o ponto de part ida mais ou menos 1968, masaquela poca considerada do ponto de vista de agora. Em primeirolugar, era importante contextualizar este ponto de vista de 'agora'dentro de uma comunidade; em segundo lugar, importante

    sublinhar que esta comunidade no existe isolada, no existe numailha. Existe num contexto internacional. Portanto, tendo em contaesta anlise da comunidade local, em primeiro lugar, e dacomunidade internacional, em segundo lugar, digamos que o pontode partida era: que sentido faz hoje, agora, ter um museu de artecontempornea em Portugal? Tomando em conta as possibilidadeshoje de comear uma coleco neste pas, com um oramentomodesto em termos internacionais, percebemos partida que aindase podia comprar coisas desta poca - dos anos 60 - bastanteem conta. Al is muitas vezes estas obras so mais baratas do queas dos anos 80. E muitas obras desta poca, eirea 68, esto nascoleces dos prprios artistas. importante dizer que esta pocatambm representa um momento de ruptura. H um modelo antigoque deixa de ter relevncia.Qual , no seu ponto de viste, este 'modelo antigo'?O modelo antigo o da Escola de Paris que era to importante para

  • 8/3/2019 Circa 1968. Museu Serralves. Por. City, Maio Ou Junho de 1998

    5/7

    os artistas portugueses durante umas dcadas, mas que naaltura em questo se toma obsoleto. Digamos que a chamadaeasel painting, a 'pintura de cavalete' no problematizada,j em si no d. As obras comeam a sair para fora da tela.Isto acontece J nos finais dos anos 50 nos EstadosUnidos com os Combines de Robert Rauschenberg.Alis a Arte Pop realmente um momento Importantede ruptura.Pois . J havia uma ruptura anterior, com o fenmeno Dada,e com o Constructivismo russo, na segunda dcada destesculo. Nos anos 60, assistimos outra vez a um momentode ruptura, podia-se at dizer de mudana de paradigma.Ento ar que encontrmos o nosso momento, que serviucomo ponto de partida para a coleco, e que o temada exposio Circa 68.Portanto a narrativa contada por esta coleco do Museude Serralves comea no ponto, mais ou menos, ondeum outro o Museu de Chiado em Lisboa acabaExacto. Como fala em 'narrativa', importante dizer aquique a nossa inteno no foi a de contar 'A Histria de Arte',mas uma histria de arte que comea em tomo de 1968.Ao mesmo tempo, querlamos contar esta histria tambmcomo memria do prprio museu. Aqueles artistas que foramexpostos naCasa de Serralves tambm foram os artistasque comemos a coleccionar. Portanto, oomprmos SChOtte,Balka, Franz West... a ideia de 'contemporaneidade' tambminclui a memria desta prpria Fundao.Est nit idamente a fugir do molde do museu enquanto'mostrurio'.Absolutamente. Esta noo enciclopdica pode serencontrada em livros. Ou em outras coleces que focampocas histricas ou tendncias estillsticas, querendo terexemplos de cada um destes perlodos. Eu no queria contaresta histria. Esta histria j mais do que sabida.Aqui surge obviamente a questo de gosto, Isto , de umacoleco enquanto expresso de um gosto particulare pessoal de algum. Os artistas que fazem parte daquiloa que o Vicente chama 'a memria do museu' soos artistas de que gosta pessoalmente?As ideias gerais que geram a seleco de um ou outro artistaso, podramos dizer, alibis! Digamos que todos os museusque valem a pena so 'personalistas'. O MOMA, em NovaIorque, comeou como expresso do gosto de Alfred Barr;o Centro Pompidou, em Paris, de Pontus Hlten; etc... H queassumir isso. Obviamente qualquer coleco tem a ver comum gosto pessoal. S vale a pena por isso. Os critriosde escolha, em ltima instncia, tm a ver com a intuio.A 'Intuio' uma Ideia promovida por ClementGreenberg,* uma Ideia digamos Kantiana...Sim, mais Kantiana do que Greenbergiana, porqueo Greenberg era um purista e puritano, e eu sou antipuritanolAbsolutamente! Sou a favor da contaminao. As escolhasfeitas para o coleccionismo no podem ser feitas segundoum formulrio...

  • 8/3/2019 Circa 1968. Museu Serralves. Por. City, Maio Ou Junho de 1998

    6/7

    Ento podia dizer-se que uma coleco antiprogramtica?Exactamente. Acho importante haver relaes e ligaes entreobras que se percebem porque so invisveis, ou indizveis, maisdo que bvias. Portanto no uma coleco sobre movimentos,mas sobre indivduos, porque so os indivduos que fazem obras. uma coleco em que talvez a excepo possa ser maisimportante do que a regra.Portanto o que importante para si nessa coleco no seriaa ideia de reescrever outra vez a velha histria dosmovimentos da arte moderna (e porventura ps-moderna), mascontar uma histria particular e nova.Sim, porque s temos acesso a esta poca de circa 68 atravsdo ponto de vista de hoje. No me interessa a ideia do time tunnel.Abase da seleco a poca dos 60 vista a partir de hoje. J meperguntaram se isso quer dizer que a exposio Circa 68 umaexposio conceptual... mas no! uma exposio anticonceptualno sentido de estar oposta s frmulas.

    H um bocado, estava a falar de circa68 como um momento de ruptura,e comparava este momento ruptura feita no incio do sculo,nomeadamente pelos artistasDada e pelos constructivistas

    russos. A narrativa ortodoxa que contada do modernismo umahistria genealgica que suprime

    este modelo, 'zigue zague' a favorde um modelo linear, em quea noo do 'progresso' privilegiada.

    Exacto. uma histria que vaide Cezanne a Picasso,e diante... a narrativa contada peloMOMA, em Nova Iorque.Esta histria tem sidoproblematizada ao longodos ltimos anos. Segundoos padres desta 'histriaoficial', o 'modernismo'e o 'ps-modernismo'existem como doismomentos

    cronologicamentee conceptualmente distintos.No deve aderir a esta versoda histria, pois no?

    Para mim, o espiral ou o zigue-zague so mais importantesdo que o movimento linear.A histria do 'antes' e do 'depois',a histria contada como uma narrativalinear, uma historia crist. uma histria enquanto um contnuoprogressivo. Esta histria foi posta emcausa h muitos anos, j.

    Para ns era importante no reformular esta verso, mas antes, p-Ia em causa, e tambm entrar em dilogo com museus com pontosde vista divergentes.Interessa-lhe, ento, a pluralidade de vozes? uma pluralidade dentro de uma empatia. Uma luta seria outracoisa! A nossa responsabilidade perante o pblico a de no criars fs de arte contempornea que vo ao Museu j de boca aberta!Portanto, acha que o Museu tem uma responsabilidadepedaggica?H que encorajar cada indivduo. O pblico feito de indivduos,e o indivduo tem que trabalhar o seu sentido crtico e pr em causaos lugares comuns. a criao de uma posio algo instvel: achoque um museu pode proporcionar vrias maneiras de entendero mundo. Obviamente no toda a gente que vai gostar - nem temque gostar - daquilo que o Museu tem. Ir aos museus no um servio que toda a comunidade tem de prestar! H quemprefira futebol. ..Fala de responsabilidade, de ligaes com outros museus,de funes pedaggicas e de divulgao e questionamento.Como que o Museu de Serralves vai implementar este tipode programao interactivo a com a dita comunidade?Em primeiro lugar, j fazemos muitas visitas de escolas. Isso muito importante, porque essas pessoas constituem o pblicodo futuro. Tambm vamos ter um espao dedicado educao um espao e um programa. Vai haver visitas guiadas, oficinas mas a mais importante 'educao' que os midos possam ter a experincia prpria, do seus prprios corpos e prprios olhos...Uma das crticas frequentemente feitas arte contempornea, precisamente a de que s com o corpo e s com os olhos,uma pessoa no chega l.Pois, h que fornecer muletas, mas eventualmente, em algummomento, as pessoas tm que largar as muletas e comeara andar sozinhas!! um acto de f? melhor do que ter tudo apoiado e explicadinho.Qual ser a ligao entre o novo Museu, e os espaosda chamada Casa de Serralves, e da Capela?Em primeiro lugar, a 'Capela' j no se chama 'ACapela'!Agora 'Casa' tambm; a ideia da Capela era um bocadofolclrica: para os crentes no era muito bom, e para os nocrentes to pouco! Os trs espaos vo ser interligados.A coleco um repositrio, e deste repositrio, as peas vocircular segundo vrias narrativas. preciso renovar o contedo do repositrio para aquilo queest dentro no ficar estanque... tem oramento para mantera actividade de coleccionismo?S durante os primeiros cinco anos. Mas importante, como disse,manter a coleco viva. Um museu no pode deixar de coleccionar,de funcionar. Se no, morre. como um carro de Frmula Umque no corre no circuito!

  • 8/3/2019 Circa 1968. Museu Serralves. Por. City, Maio Ou Junho de 1998

    7/7

    Tem falado aqui vrias vezes da 'comunidade'.A ideia da comunidade pode ser representada porcrculos concntricos - o Porto, o norte do pas,o pas total, o contexto internacional...Interessam-nos todos estes crculos concntricos.Temos feito vrias exposies da Coleco Serralvesem vrios stios - Guimares, Braga... Poisse a montanha no vai a Maom, Maom tem de ir montanha! Gostvamos de forjar ligaes assimcom o resto do pas. Quanto a ligaes internacionais,algumas das nossas exposies vo ser co-produescom outros museus; e outras vo ser exposiesque comprmos na sua totalidade.Por exemplo, a exposio de Andy Warhol e The Factory,que vamos montar em Fevereiro prximo - no temoscapacidade econmica, nem sequer o poderde emprstimo, para organizar exposies destanatureza. Portanto a exposio vem toda importada.Para acabar: Estudou em Valncia, depois em NovaIorque; depois voltou a Valncia onde dirigiu a IVAM- de certa forma, as barreiras ditas nacionais nofazem muito sentido hoje em dia, quando se falade arte. Nos dois/trs anos que tem estado no Porto,qual tem sido a sua ideia da arte portuguesa?Alis, haver uma 'arte portuguesa'?Quando cheguei c, conheci a arte portuguesa sde fora. Pensei sempre que o meio fosse mais pequenodo que na realidade. H artistas muito interessantesaqui, mas realmente no me preocupa de todo qualquernoo nacionalista da produo de arte. No fazsentido falar de arte em termos de nacionalidade.Nos sete anos que estive na IVAM, nunca montei umaexposio 'nacional'. Interessam-me trabalhos, obras,artistas especficos....* Clement Greenberg - crtico de arte americano, importantepelo desenvolvimento da noo formalista do modernismo,