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Cirurgia Plástica Estética - Avaliação dos Resultados Marcus Castro Ferreira I 1] Professor Titular da Disciplina de Cirurgia Plástica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Chefe da Divisão de Cirurgia Plástica do Hospital das Clinicas da FMUSP. Endereço para correspondência: R. Barata Ribeiro, 483 Cj. 161/162 São Paulo - SP 01308-000 Fone: (11) 256-4899 - Fax: (11) 256-9836 e-mail: [email protected] Unitermos: Cirurgia plástica; cirurgia estética; avaliação; rejuvenescimento facial; mastoplastias. RESUMO A cirurgia plástica estética tem tido importante divulgação nos últimos anos. A expectativa dospacientes quanto aos resultados dosprocedimentos éfreqüentemente irreal) demostrando a falta de correta divulgação de seus limites epossibilidades. Opresente trabalho tem comofinalidade discutir a avaliação dosresultados da cirurgia estética) exemplificando com os critérios utilizados para a ritidoplastia e mastoplastia. A cirurgia plástica é hoje uma área de atuação bastan- te ampla, que pode ser definida pelo conjunto de pro- cedimentos clínicos e cirúrgicos utilizados pelo médi- co para reparar e reconstruir partes do revestimento externo do corpo humano. Permite, assim, a correção de eventual desequilíbrio psicológico causado pela deformação. O objetivo final é sempre o de promover melhor qualidade de vida para os pacientes. A eficiência do tratamento proposto deve ser avalia- da, segundo os princípios científicos da medicina, com base em evidências. Os resultados obtidos com o em- prego das técnicas cirúrgicas são submetidos a critéri- os conhecidos. Por exemplo, nos casos de ausência de uma orelha, a outra, "normal", é o padrão que repre- senta a forma que pretendemos atingir, embora rara- mente consigamos. Quando há diferentes procedimen- tos cirúrgicos possíveis, a eficiência deles e seus índi- ces de sucesso devem ser comparados. Na cirurgia plástica determinamos a melhoria obtida em relação à situação inicial e não em relação a um eventual padrão ideal de beleza. Esses conceitos são claros se considerarmos a cirurgia plástica, dita "repa- radora", relacionada às deformidades congênitas ou adquiridas, em geral desvios do "normal" - por exem- plo, em criança que nasce com fissura labiopalatina ou em paciente com o corpo afetado por extensa quei- madura. Entretanto, na parte da cirurgia plástica que tem sido denominada de cirurgia estética, esses critérios não são tão facilmente aplicados. A própria definição do que é cirurgia estética é ainda controversa e há pou- cos trabalhos na literatura médica sobre a avaliação de seus procedimentos baseada em evidências. A Rev. Soe. Bras. CiroPlást. São Paulo v.15 11.1 p. 55-66 janjabr. 2000 61

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Cirurgia Plástica Estética - Avaliação dosResultados

Marcus Castro Ferreira I

1] Professor Titular da Disciplina de Cirurgia Plástica da Faculdade de Medicina da Universidade de SãoPaulo, Chefe da Divisão de Cirurgia Plástica do Hospital das Clinicas da FMUSP.

Endereço para correspondência:

R. Barata Ribeiro, 483 Cj. 161/162São Paulo - SP01308-000

Fone: (11) 256-4899 - Fax: (11) 256-9836e-mail: [email protected]

Unitermos: Cirurgia plástica; cirurgia estética; avaliação; rejuvenescimentofacial; mastoplastias.

RESUMO

A cirurgia plástica estética tem tido importante divulgação nos últimos anos.

A expectativa dospacientes quanto aos resultados dosprocedimentos éfreqüentemente irreal) demostrando afalta de correta divulgação de seus limites epossibilidades.

Opresente trabalho tem comofinalidade discutir a avaliação dosresultados da cirurgia estética) exemplificandocom os critérios utilizados para a ritidoplastia e mastoplastia.

A cirurgia plástica é hoje uma área de atuação bastan-te ampla, que pode ser definida pelo conjunto de pro-cedimentos clínicos e cirúrgicos utilizados pelo médi-co para reparar e reconstruir partes do revestimentoexterno do corpo humano. Permite, assim, a correçãode eventual desequilíbrio psicológico causado peladeformação. O objetivo final é sempre o de promovermelhor qualidade de vida para os pacientes.

A eficiência do tratamento proposto deve ser avalia-da, segundo os princípios científicos da medicina, combase em evidências. Os resultados obtidos com o em-prego das técnicas cirúrgicas são submetidos a critéri-os conhecidos. Por exemplo, nos casos de ausência deuma orelha, a outra, "normal", é o padrão que repre-senta a forma que pretendemos atingir, embora rara-mente consigamos. Quando há diferentes procedimen-tos cirúrgicos possíveis, a eficiência deles e seus índi-

ces de sucesso devem ser comparados.

Na cirurgia plástica determinamos a melhoria obtidaem relação à situação inicial e não em relação a umeventual padrão ideal de beleza. Esses conceitos sãoclaros se considerarmos a cirurgia plástica, dita "repa-radora", relacionada às deformidades congênitas ouadquiridas, em geral desvios do "normal" - por exem-plo, em criança que nasce com fissura labiopalatinaou em paciente com o corpo afetado por extensa quei-madura.

Entretanto, na parte da cirurgia plástica que tem sidodenominada de cirurgia estética, esses critérios nãosão tão facilmente aplicados. A própria definição doque é cirurgia estética é ainda controversa e há pou-cos trabalhos na literatura médica sobre a avaliaçãode seus procedimentos baseada em evidências. A

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remos, neste artigo, o resumo de pesquisas que vimosrealizando na Divisão de Cirurgia Plástica do Hospi-tal das Clínicas da FMUSp' procurando introduzir aavaliação na Cirurgia Plástica Estética. Temos utiliza-do desde 1991 dois critérios principais: a avaliação"estética" e o grau da satisfação dos pacientes.

superexposição do tema na mídia leiga afeta ainda maisa correta percepção do papel dessas cirurgias namelhoria da qualidade de vida das pessoas. Há críti-cas de que seriam modismo ou futilidade.

Para efeito deste trabalho, usaremos as definições decirurgia reparadora e estética dadas pela AmericanSociety of Plastic and Reconstructive Surgeons paraefeito de cobertura de seguro-saúde, aprovadas pelaAmerican Medical Association em 1989(2).

A cirurgia reparadora é aquela realizada em estrutu-ras anormais do corpo causadas por defeitos congêni-tos, anomalias do desenvolvimento, trauma, infeccão,tumor ou doença. É geralmente feita para melh~raruma função, mas pode também ser feita para umaaproximação de aparência normal.

Cirurgia estética é a realizada para dar nova forma aestruturas normais do corpo, com o objetivo de me-lhorar a aparência e a auto-estima. Assim, a cirurgiaplástica estética tem por objetivo melhorar a aparên-cia de pessoas cujo problema não tenha sido causadopor doença ou deformidade. São alterações fisiológi-cas, como o envelhecimento, a gravidez ou desvios daforma externa do corpo, que não configuram patolo-gia, mas causam alterações psicológicas.

Os procedimentos cirúrgicos podem ser agrupados:aqueles para rejuvenescimento facial (ritidoplastias,blefaroplastias, entre outros); para melhorar o con-torno corporal (lipoaspiração, abdominoplastias,torsoplastia, etc.), as cirurgias para alterar o volume eforma da mama (rnastoplastias), as destinadas a me-lhorar a forma do nariz (rinoplastias), da orelha(otoplastias), etc(5).

Não há, na literatura, como já dissemos, muitos rela-tos sobre avaliação mais precisa e objetiva dos resulta-dos dessas intervenções. Os critérios, na maioria dasvezes, são subjetivos, seja por parte do cirurgião, sejapor parte dos pacientes, e estes, muitas vezes, são in-duzidos por expectativas falsas difundidas pela mídialeiga.

Parece fundamental que a avaliação seja mais clarapara que essas intervenções possam ser consideradascomo o são quaisquer outros procedimentos médi-cos. Acreditamos que elas são benéficas para melho-rar a qualidade de vida dos pacientes, mas devem serestudadas com critérios mais científicos baseados emevidências.

Não há dúvida de que é uma tarefa difícil. Apresenta-

A estética do corpo humano não pode ser medida peloscritérios clássicos de avaliação científica, pois o con-ceito do belo é subjetivo e sujeito a variações e gostoindividual; no corpo humano não há belo "normal",e a estética filosófica se preocupa com o belo ideal,artístico, por definição fora da média. É difícil defini-lo, pois é variável segundo os costumes, a época, araça e a população.

Hegel considerava o belo "como o que não se definemas é imediatamente reconhecível quando se vê".Dizia ser importante que contivesse harmonia. Estu-diosos da estética dividem desde o início do século ojulgamento estético em três estágios: a apreensão doobjeto pelos sentidos, comparação com experiênciasanteriores e, segundo a linha de Kant e Schopenhauer,a concretização da sensação do belo pelo prazer cedi-do a quem observa.

Farkas, em trabalho de caráter antropológico, tentoudefinir as medidas físicas faciais consideradas atraen-tes em jovens da Califórnia, mas, embora tenha cole-tado número expressivo de dados sobre ângulos e li-nhas faciais, não conseguiu caracterizar quais delesdefiniriam.rem teoria, uma pessoa como atraente'!'.

Parece-nos evidente que o conceito ideal de beleza nãodeva ser utilizado para definir o resultado da cirurgiae a capacidade do cirurgião plástico. No estágio atualda ciência não há como chegarmos à perfeição estéti-ca para toda a humanidade.

Os procedimentos cirúrgicos devem procurar melho-rar aspectos estéticos daquela parte corpórea, daquelaface ou mama, supondo, é claro, que haja "déficit es-tético". A avaliação dos resultados determinará sehouve melhoria no que se procurou tratar. Em outraspalavras, deve-se tentar estabelecer se houve ganhoestético após a realização do procedimento, em quegrau e em qual proporção, comparativamente com asituação que existia anteriormente.

A comparação entre diferentes técnicas é fundamen-tal para determinar qual seria a mais eficiente paraaquela indicação. A introdução de nova técnica só sejustifica quando vier substituir outra, já realizada, com

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vantagem. Há necessidade de casuísticas maiores, se-guidas com tempo adequado, para que essa compara-ção seja mais conclusiva.

Na discussão sobre resultado cirúrgico, é muito rele-vante o estudo da incidência de complicações e, prin-cipalmente, de fatores que levem a alterações estéticasditas "negativas". Não há dúvida de que o dado geralmais importante refere-se à quantidade e à qualidadede cicatrizes resultantes, inevitáveis em qualquer ope-ração em que se incisa, além da pele, pelo menos ocelular subcutâneo. Do ponto de vista psicológico,reveste-se de caráter ainda mais importante para ospacientes por revelar que passaram por transforma-ção estética - eles não podem esconder que fizeram aCirurgIa.

Trabalhos da década de 70(3) e mais recente'!' procu-raram quantificar o aspecto estético da cicatriz, dan-do notas a aspectos da cicatriz como coloração, for-ma, volume e distinção dos tecidos vizinhos. Propõemcritérios para separar as cicatrizes de evolução nor-mal, esteticamente menos percebidas, daquelas exu-berantes (hipertróficas) ou mesmo patológicas(quelóides) .

A porcentagem de complicações encontrada em po-pulações operadas com diferentes técnicas é impor-tante, deve ser cotejada com a encontrada em médianaquela comunidade e eventualmente comparada comdados internacionais. Esses dados - evidências - de-vem, hoje, fazer parte de qualquer publicação que tratede tema cirúrgico em que o aspecto das cicatrizes sejaimportante. A relevância desses conceitos e suaquantificação no contexto médico-legal parece-nosclara.

o critério, talvez fundamental hoje para a avaliaçãodos resultados de procedimento estético, principal-mente nos EUA, é o da satisfação dos pacientes.

Inicialmente considerado subjetivo, aleatório e, portan-to, pouco científico, passou a ter maior importâncianos "outcome studies", em que se acrescentaram me-didas mais objetivas de comportamento, tais comoquestionários padronizados, que inferem característi-cas de comportamento, e testes psicológicos conheci-dos, que afastam idéias preconcebidas e passam a refle-tir mais adequadamente o ganho na auto-estima obti-do após essas operações.

Sarwer et al., em trabalho recente'?', fazem revisão dosmétodos psicológicos investigativos usados na cirur-

gia estética e propõem critérios baseados na imagemcorporal. Esta é definida como o conceitomultifacetado, compreendendo os pensamentos e ocomportamento a respeito do corpo, influenciados nodesenvolvimento por fatores perceptivos csocioculturais. A imagem corporal já havia sido defi-nida como o conjunto de percepções, pensamentos esentimentos sobre o corpo e experiências corporais.

Eles retomam o tema de que as pessoas procuram acirurgia estética não somente para alterar sua aparên-cia externa (seu esquema corporal), mas também paraa transformação de aspectos psicológicos relaciona-dos ao corpo (ou partes dele), sua imagem corporal.Quatro elementos do conceito de imagem corporalsão importantes aqui: a realidade física da aparênciaem geral, a percepção dela pelo paciente, a importân-cia dada por ele a essa aparência e, o que é talvez omais importante, seu grau de insatisfação com ela.

A investigação dos resultados do tratamento cirúrgi-co deverá ser também feita com base no ganho psico-lógico conseguido após a cirurgia. A questão é com-plexa porque não se conhece o grau de insatisfaçãocom a imagem corporal existente na população emgeral, ou naquela que procura cirurgia estética. Nãosão as alterações patológicas com grau extremo deinsatisfação com a forma do corpo - as dismorfobias("body dysmorphic disorders").

Iniciamos, na década de 90, os estudos sobre o tema,com a colaboração da Dra. Sandra Faragó Ribeiro,psicóloga com atuação na Divisão de Cirurgia Plásti-ca. Ela usou questionários e testes psicológicos bemconhecidos, tais como o do "Desenho da Figura Hu-mana" (DFH)<6l e o "Crown-Crisp ExperimentialIndex" (CCEI), que permitem medir alterações emtraços da personalidade, comparando os dados antese após a modificação da forma externa promovida pelacirurgia. Os trabalhos mais significativos foram feitoscom a cirurgia estética de face e plástica redutora demama.

REJUVENESCIMENTO FACIAL

Como avaliar mais corretamente o tratamento fei-to no envelhecimento facial? O que buscam os ci-rurgiões alcançar com os procedimentos, uma vezque é sabido não poderem alterar esse envelheci-mento, mas somente atenuar os seus aspectos maisvisíveis? A única certeza que temos é que esses pro-cedimentos não devem ser considerados procedi-

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N O pré e pós-operatório (6 meses) as pacientes (to-das foram mulheres) foram solicitadas a responderperguntas, em entrevista semidirigida (questionário),e a realizar testes do desenho da figura humana - pe-dia-se que elas desenhassem, dentro de espaço prede-terminado, a figura de uma pessoa da forma que qui-sessem e que respondessem outro teste, o Crown Crisp- teste com questões criado por dois ingleses paradeterminar a dinâmica de personalidade e eventuaisalterações causadas por agentes externos, no caso, aoperação.

Os resultados mais significativos foramv":

• As pacientes se mostraram, em geral, satis-feitas com o resultado, pois o índice de com-plicação foi baixo - somente em alguns ca-sos as cicatrizes aparentes foram motivo depreocupação.

mentos "embelezadores", pois trariam em si o con-ceito errôneo de que "o que é velho é feio".

Os métodos clínicos e cirúrgicos usados na prática clí-nica para o chamado "rejuvenescimento facial" sãoainda, para muitos, de indicação controversa, e seuestudo tem sido comprometido pela ausência, até re-centemente, de investigações em hospitais universitá-rios, pois são procedimentos cirúrgicos não autoriza-dos pelo SUS.

O que se conhecia provinha principalmente de obser-vações subjetivas feitas em pacientes de clínica priva-da, sem a isenção científica imprescindível para a cor-reta interpretação dos resultados, pois havia, muitasvezes, comprometimento com aspectos comerciais,como a necessidade de angariar novos clientes.

Se observarmos o que vem ocorrendo na divulgaçãodos chamados novos métodos para tratar o envelhe-cimento, principalmente na mídia leiga; fica claro esseestado de coisas, pois há manipulação de dados e muito"marketing" .

Nos últimos dez anos pudemos fazer observações maisacuradas sobre diferentes métodos usados para o re-juvenescimento, incluindo procedimentos cirúrgicos,tratamentos exfoliativos da pele, o laser e outros.

Preocupou-nos principalmente, como cirurgiões,medir o resultado das ritidoplastias ou suspensõesfaciais ("face-lifts"), consideradas como o principalmétodo para o rejuvenescimento facial, e para tal usa-mos o índice de satisfação das pacientes, testes paraavaliação de personalidade e incidência de complica-ções.

A avaliação estética feita pelo cirurgião, observadorese pacientes, em que se comparam fotografias do pré epós-operatório, revelou ser muito subjetiva e incon-sistente para produzir evidências. A incidência de com-plicações é baixa em mãos treinadas e comparável àsporcentagens citadas em literatura internacional.

O índice de satisfação das pacientes e os testes psico-lógicos para avaliação de personalidade foram maisprodutivos.

Há, em geral, três razões principais para a pacientequerer fazer a plástica: 1 - melhorar sua confiança pro-fissional; 2 - ganhar mais confiança em si mesma, emsua vida pessoal; 3 - aliviar o desconforto da face can-sada que não corresponde à sensação interna de ju-ventude.

• Não há dúvida de que o "mito" da cirurgiaplástica influenciou diretamente a impressãodas pacientes - principalmente quando rea-lizadas por cirurgiões renomados -, no casoos cirurgiões do Hospital das Clínicas de SãoPaulo.

• A gratidão e certa admiração que sentiampelos médicos também influenciaram omodo como avaliaram o resultado. Esse fatoreforça nossa compreensão de que a rela-ção médico-paciente é fundamental nessaavaliação. O bom relacionamento com omédico fez, às vezes, a paciente considerarbom o resultado estético até mesmo sofrí-vel, enquanto a perda do relacionamentopode criar frustração e sentimento de re-volta nas pacientes causando litígio, embo-ra o resultado objetivo possa ter sido o queem média se esperasse de cirurgiões naque-la comunidade.

• A operação melhorou a qualidade de vida,pois ocorreu melhora na auto-estima e nasegurança, fez com que essas mulheres sesentissem capazes de alcançar seus objetivosde vida e a ter maior desenvolvimento, in-clusive, em alguns casos, com ganhos pro-fissionais. Ainda nos aspectos psicológicos,foram observados no pós-operatório índicesmenores de ansiedade e depressão.

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MASTOPLASTIAS

A mastoplastia é a cirurgia plástica das mamas. Con-sideram-se duas formas de mastoplastia estética: a deaumento (geralmente com próteses de silicone) e ade redução. A mastoplastia de redução é dos mais fre-qüentes procedimentos realizados em cirurgia plásti-ca no Brasil.

As pacientes procuram a cirurgia para redução do ta-manho das mamas e assim eliminar sintomatologia(dor na coluna ou no ombro, intertrigo, desconforto,entre outros) ou somente para melhorar o aspectoestético ou a combinação dos dois. A avaliação dosresultados pode ter, portanto, critérios objetivos - aeliminação dos sintomas -, mas deve também ter ou-tros - estéticos e pessoais.

Há, hoje, preocupação mais específica com esse tipode operação, porquanto temos que definir, para efei-to de cobertura por planos de saúde, se o procedi-mento é estético (não coberto) ou reparador (cober-to).

tes e apregoada pela mídia.

Para o cirurgião plástico, a cirurgia é indicada sempreque puder ajudar a paciente, independente da querelalegal, mas, com o propósito de estudarmos os resulta-dos, separamos as pacientes em grupos cuja ressecçãode tecido de mama por lado foi menor que 500 g,aquelas entre 500 e 1000 g e acima disso(gigantomastia) .

Desde 1990, estudamos os resultados em pacientescom hipertrofia mamária submetidas a mastoplastiaredutora e mastopexia, usando critérios estéticos e ode satisfação das pacientes.

A avaliação estética é feita pelo cirurgião, pela pacien-te e observadores independentes antes (pré-operató-rio), no pós-operatório de 1 mês (recente), após 6meses (médio), após 1 ano e após 2 anos (tardio). Foiidealizada escala de notas para a estética de elementosda mama, como se verifica no quadro abaixo:

A nota O de cada item era sempre dada para o mauaspecto estético, 1, regular e 2, bom. A comparaçãodo aspecto pós-operatório com o do pré-operatóriofoi naturalmente importante nas notas. Interessanteque, para a cicatriz, a nota 2 refere-se a sua boa quali-dade e a nota O, à cicatriz patológica.

Assim, se em todos os critérios a nota for O, a somaserá O e o resultado estético deve ter sido desastroso,e, por outro lado, a nota 2 em todos itens significan-do bom resultado, a soma seria 10 e, é claro, o resul-tado estético deve ter sido próximo da perfeição, doideal estético para a mama (para aq uele observador).

As somas até 5 significaram para nós resultadosinsatisfatórios, e as menores que 4 indicariam a ne-cessidade de reoperação. As somas maiores que 7 in-dicaram os bons resultados, no geral.

Embora houvesse o fator subjetivo, os critérios usa-dos foram mais facilmente compreensíveis, e o núme-ro de observações permitiu melhor dispersão de even-mais opiniões díspares. A média das somas dadas por5 pessoas (cirurgião, paciente, 3 observadores inde-pendentes) ficou, na maioria dos casos, entre 5 e 7 noprimeiro ano, melhorando no segundo ano, prova-velmente pela evolução natural, com o tempo, em re-lação à visibilidade das cicatrizes.

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Se nos basearmos na experiência de outros países, emespecial dos Estados Unidos e da Alemanha, tería-mos que utilizar critérios quantitativos de volume dasmamas para separar os dois grupos. O mais usual na-queles países é o de considerar "reparador" o procedi-mento no qual o peso que foi retirado da mama ultra-passou 500 g, e o estético, quando inferior a ele.Schnur propôs um método mais sofisticado, em quese cotejava o peso da mama ressecada com a área desuperfície corpórea (BSA=k. hm. wn), em que h é aaltura, w é o peso e k, m e n são as constantes'l'".

No Brasil, até o momento, talvez exatamente por nãohaver definição da própria cirurgia estética, os planosde saúde não autorizam nenhuma forma demastoplastia redutora. O SUS autoriza essas opera-ções em alguns casos, segundo critérios pouco claros- em geral são feitas em Hospitais Universitários -, esomente naquelas grandes hipertrofias em que o fator"sintomatologia" parece ser mais importante para opaciente do que o "estético". Avaliada sob o ponto devista da sintornatologia, a mastoplastia redutora ofe-rece resultados confiáveis, não havendo mais nenhu-ma dúvida a respeito.

O problema principal reside nos aspectos estéticospois, com o aparecimento de técnicas mais criativas,conseguimos resultados estéticos melhores, mas ain-da longe da perfeição estética idealizada pelas pacien-

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o grupo de motivação mais claramente estética eraaquele em que a ressecção era menor do que 500 g ea ptose mamária (seios caidos) era a queixa principal.No grupo intermediário (entre 500 e 1000 g), as duasindicações coexistem e podem ou não ser cobertaspelos planos de saúde, segundo critérios internacio-nais.

As avaliações feitas por mulheres revelaram notas maisbaixas do que as dadas por homens, provavelmentepor serem mais críticas com a estética, seja própria,seja das outras. As médias dadas pelos cirurgiões fo-ram mais baixas do que as das pacientes, estas em ge-ral maiores que 7, refletindo, neles, o maior rigor nojulgamento estético e nas pacientes algum grau deagradecimento inconsciente àqueles que as ajudarama melhorar sua qualidade de vida.

o aspecto estético das cicatrizes constituiu o maisimportante elemento negativo na avaliação. 50% daspacientes referiram desagrado com as cicatrizes quan-do a técnica usada resultava em T invertido. Técnicasmais recentes, com cicatrizes reduzidas ou mesmo in-cisões somente com o braço vertical do T, parecemter melhor aprovação pelas pacientes, desde que nãointerfiram nos outros elementos estéticos da mama:forma e volume.

A satisfação das pacientes foi medida por questioná-rio dirigido e pelos testes de Desenho de Figura Hu-mana e Crown-Crisp, apresentando resultados posi-tivos e significativos'?'.

os casos de grande hipertrofia das mamas, em que aredução do peso da mama e a eliminação de sintomaseram os principais fatores de indicação, as pacientesse declararam satisfeitas, mesmo se o resultado estéti-co não fosse tão satisfatório. Era o grupo em que aressecção ultrapassara 1000 g por mama, caracteri-zando a gigantomastia, pacientes para as quais nãoentendemos por que não há cobertura por planos desaúde.

Em nosso trabalho, as queixas das pacientes no pré-operatório eram predominantemente estéticas em40% dos casos. Nesses, os testes psicológicos realiza-dos no pré e pós-operatório indicaram que as pacien-tes não tinham distúrbios psicológicos, que a cirurgiatrouxe benefício quanto à qualidade de vida e que elasse sentiam mais seguras no relacionamentointerpessoal. Houve diminuição, estatisticamente sig-nificativa, no traço de depressão apresentado por es-sas pacientes, quando comparado com o estado ante-rior à cirurgia, confirmando de maneira indireta oganho obtido em sua auto-estima.

A cirurgia estética, portanto, apresenta dificuldadespara sua avaliação baseada em evidências, mas os da-dos até agora disponíveis confirmam sua condição deato médico perfeitamente justificado e importante parao bem-estar e saúde dos pacientes.

BIBLIOGRAFIA

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