CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

19
CLARICE CLARICE LISPECTOR LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros

Transcript of CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

Page 1: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

CLARICE CLARICE LISPECTORLISPECTORPERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO

Professora Francisca Barros

Page 2: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

Nasci na Ucrânia, terra de meus pais. Nasci numa aldeia chamada Tchechelnik, que não figura no mapa de tão pequena e insignificante. Quando minha mãe estava grávida de mim, meus pais já estavam se encaminhando para os Estados Unidos ou Brasil, ainda não haviam decidido: pararam em Tchechelnik para eu nascer, e prosseguiram viagem. Cheguei ao Brasil com apenas dois meses de idade. "Sou brasileira naturalizada, quando, por uma questão de meses, poderia ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor. Comecei a escrever pequenos contos logo que me alfabetizaram, e escrevi-os em português, é claro. Criei-me em Recife.[...] E nasci para escrever. Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo.

Page 3: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

Clarice Lispector dedicou-se à prosa de sondagem psicológica, à análise das angústias e crises existenciais, ou seja, dedicou-se à análise do mundo interior de suas personagens. Clarice rompeu com a linearidade da estrutura do romance, seus textos baseiam-se no fluxo de consciência (na expressão direta dos estados mentais), na memória. Tempo, espaço, começo, meio e fim deixaram de ser importantes. Segundo a própria autora “o importante é a repercussão do fato no indivíduo” e não o fato em si. Outra característica de Clarice Lispector é o freqüente uso do monólogo interior, técnica em que o narrador conversa consigo mesmo, como se estivesse divagando.

Page 4: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

Fluxo de consciência e

epifaniaO fluxo de consciência quebra os limites espaço-temporais que tornam a obra verossímil. Por meio dele, presente e passado, realidade e desejo se misturam. Como se fosse um painel de imagens captadas por uma câmera instalada no cérebro de uma personagem que deixa o pensamento solto, o fluxo de consciência cruza vários planos narrativos, sem preocupação com a lógica ou com a ordem narrativa.

Page 5: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

O processo epifânico pode ser irrompido a partir de fatos banais do cotidiano: um encontrão, um beijo, um olhar, um susto. A personagem, mergulhada num fluxo de consciência, passa a ver o mundo e a si mesma de outro modo. É como se estivesse tido, de fato, uma revelação, e, a partir dela, passasse a ter uma visão mais aprofundada da vida, das pessoas, das relações humanas.De modo geral, esses momentos epifânicos são dilacerantes e dão origem a ruptura de valores, a questionamentos filosóficos e existenciais, permitindo a aproximação de realidades opostas, tais como nascimento e morte, bem e mal, amor e ódio, matar ou morrer por amor, seduzir e ser seduzido, etc.

Page 6: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

Portanto, o ponto de partida da literatura de Clarice é o da experiência pessoal da mulher e o seu ambiente familiar. Contudo, a escritora extrapola os limites desse universo. Seus temas, no conjunto são essencialmente humanos e universais, como as relações entre o eu e o outro, a falsidade das relações humanas, a condição social da mulher, o esvaziamento das relações familiares e, sobretudo, a própria linguagem – única forma de comunicação com o mundo.

Page 7: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

“Depois que descobri em mim mesma

como é que se pensa, nunca

mais pude acreditar no pensamento dos outros”.

Page 8: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

Características de sua produção literária:

•sondagem dos mecanismos mais profundos da mente humana;

•técnica “impressionista” de apreensão dessa realidade interior (predominância de impressões, de sensações);

•ruptura com a seqüência linear da narrativa;

•predomínio do tempo psicológico e, portanto, subversão do tempo cronológico;

•características físicas das personagens diluem-se: muitas nem nome apresentam;

Page 9: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

•as ações passam a ter importância secundária, servindo principalmente como ilustração de características psicológicas das personagens (introspecção psicológica);

•metalinguagem;

•fusão de prosa e poesia, com emprego de figuras de linguagem: metáforas, antíteses (eu x não-eu, ser x não ser), paradoxos, símbolos e alegorias, aliterações e sinestesias;

Page 10: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

Em carta às irmãs, em janeiro de 47, de Paris, Clarice expõe seu estado de inadaptação:"Tenho visto pessoas demais, falado demais, dito mentiras, tenho sido muito gentil. Quem está se divertindo é uma mulher que eu detesto, uma mulher que não é a irmã de vocês. É qualquer uma." 

Page 11: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

J.C. "— Por que você escreve?

C.L. "— Vou lhe responder com outra pergunta: — Por que você bebe água?"

J.C. "— Por que bebo água? Porque tenho sede."

C.L. "— Quer dizer que você bebe água para não morrer. Pois eu também: escrevo para me manter viva."

Page 12: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

Clarice aprofunda-se num caminho já percorrido por outros autores no início do movimento modernista, a literatura de caráter introspectivo e intimista. Clarice sempre foi muito mística e supersticiosa, tanto que em 1976, representou o Brasil num Congresso de Bruxaria, na Colômbia.

Page 13: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.
Page 14: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender,

viver ultrapassa qualquer entendimento.

Page 15: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.
Page 16: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

“Algumas pessoas cosem para fora; eu coso para dentro”-

Page 17: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.
Page 18: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

"[...] talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever."

Page 19: CLARICE LISPECTOR PERDER-SE TAMBÉM É CAMINHO Professora Francisca Barros.

“também fiquei pensando qual seria o poema dessa manhã ...

Ser mulher já é tão poético!!”