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FRATURAS DO RDIO DISTAL

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FRATURAS DO RDIO DISTAL : AVALIAO DAS CLASSIFICAESOSVALDO M ENDES DE O LIVEIRA F ILHO, WILLIAM DIAS B ELANGERO*, J OO B ATISTA MENDES TELES Trabalho realizado na Faculdade de Cincias Mdicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP, e Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal do Piau, Teresina, Piau, PI.

RESUMO OBJETIVOS. O objetivo deste trabalho foi determinar o grau de reprodutibilidade intra e interobservador em relao s classificaes de Frykman, AO e Universal para as fraturas distais do rdio. MTODOS. Neste estudo foram selecionadas 40 radiografias de fraturas distais do rdio que foram classificadas por ortopedistas de centros e nvel de experincia diferentes, determinando-se o grau de reprodutibilidade intra e interobservador atravs do mtodo estatstico Kappa. RESULTADOS. A concordncia intra-observador mdia observada

foi moderada para as classificaes de Frykman e Universal e leve para o sistema AO. A reprodutibilidade mdia interobservador foi leve nas duas leituras para as classificaes de Frykman e Universal e desprezvel na segunda leitura da classificao AO. CONCLUSO. Todas as classificaes utilizadas apresentaram reprodutibilidade interobservador questionvel, comprometendo o uso dos trs sistemas avaliados UNITERMOS: Classificao. Rdio distal. Fraturas. Reprodutibilidade.

INTRODUOAs fraturas da extremidade distal do rdio so definidas como aquelas que ocorrem a at 3 cm da articulao rdiocrpica 1. So de grande importncia e interesse, pois correspondem a um sexto de todas as fraturas atendidas nas salas de emergncias. Nos Estados Unidos e no Reino Unido uma em cada grupo de 500 pessoas sofre essa fratura por ano, causando um alto custo socioeconmico. A faixa etria mais acometida entre 60 e 69 anos, principalmente em mulheres, mas nota-se uma elevao da prevalncia entre jovens devido aos acidentes de trnsito e traumas esportivos 2 . Para se determinar o perfil radiogrfico das fraturas do rdio distal so necessrias radiografias de boa qualidade nas incidncias ntero-posterior e lateral. Trs medidas relacionadas ao eixo longitudinal do rdio podem ser avaliadas e servem de parmetros para a reduo. A inclinao volar da superfcie articular do rdio varia de 11 a 12, sendo observada na incidncia em perfil. A inclinao radial tem, em mdia, de 22 a 23, e, juntamente*Correspondncia: Rua Emlio Ribas, 800 Apt. 1 Cep: 13025-141 Campinas SP Fone: (19) 3788-7750/3254-0220 E-mail: [email protected] Rev Assoc Med Bras 2004; 50(1): 55-61

com altura radial, que mede de 11 a 12 mm, so avaliadas na incidncia ntero-posterior3. So consideradas instveis aquelas fraturas que apresentam grande desvio e cominuio dorsal, angulao dorsal maior que 20 do fragmento distal, cominuio articular importante e encurtamento do fragmento distal maior que 10 mm. Fraturas com essas caractersticas tendem a perder a reduo4. Certos padres de fraturas como fraturasluxaes rdio-crpicas e fraturas do processo estilide radial muito desviadas tm, obrigatoriamente, leses concomitantes de ligamentos intrnsecos ou extrnsecos do carpo, que devem ser consideradas quando classificamos as fraturas do rdio distal, uma vez que influenciaro no resultado5. Existem inmeras classificaes para fraturas da extremidade distal do rdio. Segundo Mller et al. (1987), qualquer sistema de classificao realmente til deve considerar o tipo e a gravidade da fratura, servir como base para o tratamento e de guia para a avaliao do resultado 6 . Frykman (1967) estabeleceu uma classificao que levava em conta o envolvimento ou no da articulao rdio-crpica e rdio-ulnar e a presena ou ausncia de fratura do processo estilide ulnar. Apesar de ser mundialmente conhecida e muito citada na literatura, falha porque no considera o desvio inicial da fratura, nem o encurtamento do rdio.

A classificao de Frykman tem uma importncia fundamental por ter chamado a ateno ulna distal e articulao rdio-ulnar distal, muitas vezes relegada a um segundo plano durante a reduo7 (Figura 1). A classificao AO foi criada em 1986 e revisada em 1990. Ela considera a gravidade da leso ssea e serve como base para o tratamento e avaliao dos resultados. Existem trs tipos bsicos: extra-articular, articular parcial e articular completa. Os trs grupos so organizados em ordem crescente de gravidade com relao complexidade morfolgica, dificuldade de tratamento e prognstico. , sem dvida, a classificao mais completa, mas sua reprodutibilidade intra e interobservador tem sido um problema quando o grupo e subgrupo esto sendo avaliados8,9. s vezes, no possvel determinar todas as linhas de fraturas atravs de radiografias simples, sendo necessrias incidncias radiogrficas especiais ou tomografia. O grupo A (extra-articular) no envolve a articulao rdio-crpica, o grupo B (fraturas articulares parciais) envolve a articulao rdio-crpica, mas uma poro da superfcie articular permanece em continuidade com a difise e o grupo C (articular completa) apresenta separao completa da articulao com a difise. Estes trs principais tipos so subdivididos em trs grupos, e cada grupo, em trs subgrupos. Dessa forma, existem 27 diferentes padres de fraturas que dependem da55

OLIVEIRA FILHO OM ET AL.

Figura 1 Frykman (1967)

I

II

III

IV

V

VI

VII

VIII22

Modificado de: Green, 1993

Figura 2 AO (1987)

A1

1

2

3

B1Chauffeurs

1

2

3

Die Punch

A2

1

2

3

B2Dorsal Bartons

1

2

3

estabilidade, impacto, cominuio, redutibilidade e localizao dos fragmentos 2,10. Esta classificao a adotada pela Associao de Trauma Ortopdico dos Estados Unidos e uma das mais usadas em todo o mundo 11 (Figura 2). A classificao Universal ou de Rayhack (1990) foi criada em um simpsio sobre fraturas distais do rdio em 1990 e modificada por Cooney em 1993. Diferenciava as fraturas intra e extra-articulares, desviadas ou no, e a redutibilidade e estabilidade das fraturas. As extra-articulares so chamadas tipo I (estvel, sem desvio) e tipo II (instvel, com desvio). E as intraarticulares so tambm, da mesma forma, subdivididas em tipo III (estvel, sem desvio) e tipo IV que apresenta os subtipos: A, estvel e redutvel; B, redutvel e instvel; C, irredutvel e D, complexa 12 (Figura 3). Ainda no temos uma classificao ideal para as fraturas da extremidade distal do rdio, que nos permita uma viso sistmica do punho, de sua complexa anatomia e biomecnica, de sua relao com o carpo e partes moles. A classificao ideal deve permitir escolher um tratamento adequado, determinar o prognstico, comparar modalidades de tratamento, deve ser de fcil memorizao, ser internacionalmente aceita e ter uma reprodutibilidade satisfatria9,10,11. Como afirmou Bernstein13, impossvel satisfazer todas essas informaes em um nico sistema, mas o estudo profundo das classificaes de grande importncia para se obter um melhor tratamento dos pacientes.

OBJETIVOA31 2 3

B3Volar Bartons

1

2

3

A = Fratura Extra-articular

B= Fratura Articular Parcial

C1

1

2

3

O objetivo deste trabalho determinar o grau de reprodutibilidade intra-observador e interobservador em relao s classificaes de Frykman, AO e Universal para as fraturas distais do rdio, analisadas em radiografias nas incidncias ntero-posterior e lateral.

MTODOSC21 2 3

C3

1

2

3

C = Fratura Articular Completa

Modificado de: Kreder et al, 19969

Foram analisadas 40 radiografias de pacientes com fraturas distais do rdio. Os 40 aspectos radiogrficos foram escolhidos em comum acordo com o orientador, procurando cobrir todo o espectro das classificaes de Frykman, AO e Universal das fraturas distais do rdio com pelo menos um exemplar.Rev Assoc Med Bras 2004; 50(1): 55-61

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FRATURAS DO RDIO DISTAL

Figura 3 UniversalType I Nonarticular Nondisplaced Type II Nonarticular Displaced Type III Intraarticular Nondisplaced

A,B, & C

Type IV Intraarticular, Displaced

uma m reprodutibilidade, de zero a 0,20 desprezvel, 0,21 a 0,40 reprodutibilidade leve, 0,41 a 0,60 reprodutibilidade moderada, 0,61 a 0,80 reprodutibilidade grande e acima de 0,80 considera-se uma concordncia quase perfeita. A reprodutibilidade interobservador refere-se ao nvel de concordncia entre diferentes observadores e a reprodutibilidade intra-observador representa o nvel de concordncia de um mesmo observador em ocasies diferentes. Os valores obtidos da estatstica Kappa foram testados em nvel de significncia de 5% e os dados foram elaborados e analisados estatisticamente atravs do Programa StatXact, verso 3.116.

RESULTADOSC A B A= Reducible (Stable) B= Reducible (Unstable) C= Unreducible

Modificado de: Green, 199322

As radiografias foram obtidas antes da reduo, nas incidncias ntero-posterior e lateral, e todas foram fotografadas em cmera digital (Nikon, colpix 995) e copiadas em mdia digital (CD), sendo exibidas em sesses separadas a cada observador. Inicialmente foi feita uma reviso de 30 minutos das classificaes de Frykman, AO e Universal com cada participante, enfatizando os pontos importantes de cada classificao. Alm disso, cada participante recebeu uma ilustrao com todos os tipos das classificaes utilizadas. As radiografias foram examinadas por grupos de ortopedistas com diferentes graus de experincia, sendo a maioria deles familiarizadas com as classificaes empregadas no estudo. Os observadores foram constitudos por dois ortopedistas cirurgies de mo (CMA e CMB); dois ortopedistas gerais, professores universitrios ( OPA e OPB ); dois ortopedistas gerais sem ligao com instituies universitrias (OGA e OGB); dois residentes de ortopedia do terceiro ano (R3A e R3B) e dois residentes do segundo ano (R2A e R2B). As radiografias avaliadas foram exatamenteRev Assoc Med Bras 2004; 50(1): 55-61

as mesmas para todos os participantes e foram classificadas em duas pocas diferentes: momento I e momento II. A ordem das radiografias na segunda sesso de classificao foi mudada e foi criada uma ficha de dados para que os participantes registrassem suas respostas nos dois momentos avaliados. Todos os integrantes classificaram as 40 radiografias segundo as classificaes de Frykman, AO e Universal. Mtodo estatstico O mtodo estatstico Kappa foi utilizado para analisar a reprodutibilidade intra e interobservadores entre os pares de observadores. O coeficiente Kappa (calculado pela frmula: K= p o p e/1-p e ) avalia a concordncia entre os observadores atravs de anlise pareada, comparando a proporo de concordncia entre os observadores (p o) com a percentagem de concordncia devido ao acaso (p e ) 14 . A concordncia real subtrada da aleatria, casual 1- p e . A interpretao dos valores Kappa foi feito de acordo com o proposto por Landis e Koch 15 , segundo os quais, valores Kappa menores que zero representam

Neste estudo foram avaliadas trs das classificaes mais utilizadas para as fraturas da extremidade distal do rdio: Frykman, AO e Universal. Foram testadas a reprodutibilidade intra e interobservador de todas elas e tambm se o grau de experincia dos observadores melhora esses ndices de concordncia. A classificao de Frykman, descrita em 1967, a mais utilizada e, portanto, a que mais foi testada em toda a literatura mundial. A concordncia mdia intra-observador da classificao de Frykman obtida no nosso estudo foi moderada, com o valor Kappa mdio de 0,5484 (Tabela 1). Houve uma tendncia de melhora na concordncia intra-observador medida que se aumentava a experincia dos observadores. A concordncia mdia interobservador, todavia, mostrou-se leve, com o ndice Kappa mdio de 0,3742 no primeiro momento (Exemplo 1). No momento dois, a concordncia obtida tambm foi leve, com Kappa mdio de 0,3424. No houve melhora da reprodutibilidade interobservador nos momentos I e II, relacionada com a experincia dos entrevistados (Tabela 2). Quando avaliamos a concordncia interobservador nas duas leituras, verificamos que no houve melhora da concordncia se os residentes estavam ou no presentes (Tabela 3). A classificao AO, descrita em 1987, tambm uma das mais adotadas e testada em sua reprodutibilidade.57

OLIVEIRA FILHO OM ET AL.

Tabela 1 Concordncia mdia intra-observador nas classificaes Frykman, AO e Universal Classificao Kappa mdio Concordncia Kappa mdio sem residentes 0,6103 0,4418 0,6171 Concordncia Kappa Concordncia mdio apenas residentes 0,4555 Moderada 0,2912 Leve 0,4303 Moderada

Frykman AO Universal

0,5484 0,3815 0,5423

Moderada Leve Moderada

Grande Moderada Grande

Exemplo 1 Baixa reprodutibilidade interobservador da classificao de Frykman

R2A: I; R2B: VIII; R3B: II; OGA: VI; OGB: V; OPA: VI; OPB: VI; CMA: V; CMB: VIII.

Vrios estudos j confirmaram a reprodutibilidade da classificao AO, quando se considera os seus trs tipos bsicos, porm poucos provaram a concordncia ou reprodutibilidade quando todos os grupos e subgrupos so considerados por mltiplos observadores. Dessa forma, nosso trabalho tem como um dos objetivos avaliar o sistema AO e tambm as outras classificaes de forma completa9,10. A concordncia intra-observador da classificao AO foi apenas leve, obtendo-se o ndice Kappa mdio de 0,3815. Foi observada melhora da reprodutibilidade intra-observador quando os residentes foram excludos, passando a uma concordncia mdia moderada (Tabela 1). A reprodutibilidade interobservador do sistema AO foi a que apresentou maior58

nmero de concordncias desprezveis (p>0,05). No primeiro momento, entretanto, alcanou-se uma concordncia leve interobservador com valor Kappa mdio de 0,2153. No segundo momento, a concordncia mdia foi desprezvel, com o valor Kappa mdio de 0,1788 (Tabela 2). Constatamos, como j relatado em outros estudos, que nas duas sesses para avaliao da concordncia interobservador houve uma grande variabilidade nas concordncias, no havendo, nos dois momentos, qualquer indcio de melhora da concordncia com o aumento da experincia dos observadores avaliados 9,11 (Exemplo 2). A classificao Universal, descrita em 1990, caracteriza-se pela simplicidade e funciona como guia de conduta para o

tratamento. Chama-se Universal pelo fato de poder adaptar-se a outras classificaes quando ela no suprir todas as situaes das fraturas. Esta classificao no possui, at o momento, outros estudos da sua acurcia e reprodutibilidade. Nossos observadores, mesmo conhecendo os critrios definidos de instabilidade das fraturas da extremidade distal do rdio, referiram dificuldade para afirmar se algumas fraturas eram ou no redutveis. Isto se deveu, em parte, porque eles analisaram apenas as radiografias iniciais, portanto, antes da reduo. A concordncia intra-observador alcanada na classificao Universal foi moderada, obtendo um ndice Kappa mdio de 0,5423 (Tabela 1). Estes resultados foram equivalentes ao da classificao de Frykman. Houve uma melhora na concordncia medida que passamos aos ortopedistas mais experientes. Ao excluirmos os residentes, a concordncia intra-observador aumentou o seu valor Kappa mdio (K= 0,6171), passando a ter uma grande concordncia (Tabela 2). A reprodutibilidade interobservador da classificao Universal foi leve, com um valor Kappa mdio de 0,3308 no primeiro momento e 0,3275 no segundo momento, portanto, melhor que a classificao AO e semelhante classificao de Frykman (Tabela 2). Nas duas leituras da concordncia interobservador da classificao Universal, exemplo da classificao AO, consta tou-se uma grande variabilidade dos resultados, tambm no havendo influncia da experincia dos observadores neste tipo de reprodutibilidade (Exemplo 3). Comparando-se a concordncia interobservador nos dois momentos, constatamos que o valor Kappa mdio permanece leve nas duas ocasies, independentemente da presena ou ausncia dos residentes (Tabelas 3 e 4). No segundo momento da avaliao da concordncia interobservador no fizemos mais reviso das classificaes, apenas os observadores consultavam as ilus traes com as classificaes. Talvez, por isso, houve piora nos ndices Kappa mdio na segunda leitura de todas os sistemas avaliados.Rev Assoc Med Bras 2004; 50(1): 55-61

FRATURAS DO RDIO DISTAL

Tabela 2 Concordncia mdia interobservador nas classificaes de Frykman, AO e Universal, nos momentos I e II Classificao Frykman AO Universal Momento I Kappa mdio Concordncia 0,3742 Leve 0,2153 Leve 0,3308 Leve Momento II Kappa mdio Concordncia 0,3424 Leve 0,1788 Desprezvel 0,3275 Leve

DISCUSSOQualquer classificao deve ter uma boa reprodutibilidade intra e interobservador para que possa ser largamente aceita e permitir que diferentes sries sejam comparadas9,17. Andersen et al.(1996)18 estudaram quatro classificaes para as fraturas distais do rdio: Frykman, Melone, Mayo e AO. Verificaram que nenhuma delas mostrou grande concordncia interobservador (K= 0,61 a 0,80). Na classificao de Frykman, a concordncia intraobservador variou de 0,40 a 0,60 e a interobservador teve o ndice Kappa mdio de 0,36. Com relao ao sistema AO completo, a concordncia mdia intra-observador variou de 0,22 a 0,37 e, quando reduzida para trs categorias, obteve-se um nvel de concordncia mdio de 0,58 a 0,70. Contudo, reduzindo para trs categorias, o sistema AO passa a ter valor questionvel frente s outras classificaes. A concordncia mdia interobservador da classificao AO completa foi 0,25 e simplificada, 0,63. Avaliando a reprodutibilidade do sistema AO em 30 radiografias de fraturas distais do rdio classificadas por 36 observadores com diferentes nveis de experincia, Kreder et al. (1996)9 mostraram que a concordncia interobservadores foi melhor para o tipo AO (K= 0,68) e decresceu progressivamente ao passar para os grupos (K= 0,48) e subgrupos (K= 0,33) AO. No houve diferena em relao ao grau de experincia dos observadores ao classificarem os grupos e subgrupos. O ndice Kappa mdio variou de 0,25 a 0,42 na concordncia intra-observador com o sistema AO completo e de 0,40 a 0,86 na classificao simplificada. Illarramends et al. (1998) 19 utilizaram 200 radiografias de fraturas distais do rdio, que foram classificadas por seis observadores com nveis diferentes de experincia. Para a classificao de Frykman, obtiveram reprodutibilidade interobservador moderada (Kappa mdio de 0,43) e boa reprodutibilidade intra-observador (Kappa mdio de 0,61). Para a classificao AO, encontraram uma leve reprodutibilidade interobservador (Kappa = 0,37) e moderada intra-observador ( Kappa = 0,57). Para a obteno de tais resultados, entretanto, os autores simplificaram as classificaes de Frykman e AO, melhorando a59

Exemplo 2 Baixa reprodutibilidade interobservador da classificao AO

R2A: C1.2; R2B: A2.3; R3A: C1.1; R3B: A2.3; OGA: A3.2; OGB: A2.2; OPA: A3.1; OPB: C1.1; CMA: A1.1; CMB: A3.2.

Exemplo 3 Baixa reprodutibilidade interobservador da classificao Universal

R2A: IVA; R2B: II; R3A: IVB; R3B: III; OGA: IVA; OGB: II; OPA: II; OPB: IVB; CMA: II; CMB: IVB.Rev Assoc Med Bras 2004; 50(1): 55-61

OLIVEIRA FILHO OM ET AL.

Tabela 3 Concordncia mdia interobservador nas classificaes de Frykman, AO e Universal, no momento I, com e sem a presena dos residentes Classificao Frykman AO Universal Momento I Kappa mdio Concordncia 0,3742 Leve 0,2153 Leve 0,3308 Leve Momento I - Sem residentes Kappa mdio Concordncia 0,3795 Leve 0,2084 Leve 0,3696 Leve

Tabela 4 Concordncia mdia interobservador nas classificaes de Frykman, AO e Universal, no momento II, com e sem a presena dos residentes Classificao Frykman AO Universal Momento II Kappa mdio Concordncia 0,3424 Leve 0,1788 Desprezvel 0,3275 Leve Momento II - Sem residentes Kappa mdio Concordncia 0,3602 Leve 0,1726 Desprezvel ,03576 Leve

Tabela 5 Comparao da reprodutibilidade da classificao AO entre diferentes autores Autor AO Intra-observador Completa Simplificada 0,22 0,58 a a 0,37 0,70 0,25 a 0,42 0,38 0,40 a 0,86 0,61 AO Interobservador Completa Simplificada 0,25 0,63

Andersen et al., 1996

Kreder et al., 1998

0,33 0,21

0,68 0,50

Mendes & Belangero, 2003

Tabela 6 Comparao da reprodutibilidade da classificao de Frykman entre diferentes autores Autor Andersen et al., 1996 Illarramends et al., 1998 Mendes & Belangero, 2003 Frykman Intra-observador 0,40 a 0,60 0,61 0,54 Frykman Interobservador 0,36 0,43 0,37

reprodutibilidade de ambas, o que talvez no ocorreria se estivessem completas. Houve maior reprodutibilidade intra-observador que interobservador e a concordncia no melhorou com o aumento da experincia do observador. Os autores concluram que as classificaes de Frykman e AO no so recomendadas para aplicao clnica devido questionvel reprodutibilidade de ambas as classificaes.60

Flinkkil et al. (1998)20 encontraram reprodutibilidade pobre quando usaram o sistema AO completo para classificar 30 radiografias com fraturas distais do rdio. Contudo, houve melhora quando reduziram a classificao AO para apenas dois tipos (extra e intra-articulares). Ao acrescentarem tomografias computadorizadas s radiografias planas tambm no se observou melhora na reprodutibilidade.

O uso da tomografia pode ser feito quando houver limitaes da radiografia simples para os casos mais graves, entretanto, o custo para isso, no nosso meio, proibitivo. Oskam et al. (2001)11 estudaram a concordncia da classificao AO para as fraturas distais do rdio, utilizando apenas as trs categorias bsicas (A, B e C). Dois observadores experientes classificaram as 124 fraturas. Cada observador classificou isoladamente todas as radiografias obtendo um valor Kappa mdio de 0,65 (boa concordncia). Em seguida, numa reunio de consenso, classificaram as radiografias conjuntamente e obtiveram um valor Kappa de 0,86 (excelente concordncia). Na reunio de consenso os pontos de discordncia foram identificados e discutidos, e aps essa reviso em conjunto o nvel de concordncia aumentou 12%, passando de 80% para 92%. Concluram que o ponto de partida para melhorar a concordncia a discusso das divergncias entre os observadores e no s incluir novas incidncias radiolgicas como rotina na avaliao das fraturas distais do rdio. Alm disso, consideraram importante que antes de passar a utilizar a classificao completa necessrio resolver as divergncias que ocorrem entre as trs classes A, B e C. Comparando-se nossos resultados da concordncia intra e interobservador tanto da classificao de Frykman como da classificao AO, observamos que foram semelhantes aos encontrados por outros autores (Tabelas 5 e 6). Com relao classificao Universal no pudemos fazer comparao, uma vez que no havia, at o momento, outros estudos sobre sua reprodutibilidade. Diante dos resultados apresentados neste estudo, obter um padro ouro para estas classificaes torna-se uma tarefa difcil; dessa maneira, qualquer comparao de diferentes sries por diferentes autores torna-se duvidosa. A classificao de qualquer fratura seria ideal se fornecesse informao suficiente para se escolher um tratamento adequado, determinar o prognstico, comparar diferentes modalidades de tratamentos, ter uma reprodutibilidade satisfatria, ser de fcil memorizao e importante para a educao do ortopedista em formao, ser aceita internacionalmente e levar em considerao o estado geral do paciente e das partes moles que envolvem a fratura6,8,13.Rev Assoc Med Bras 2004; 50(1): 55-61

FRATURAS DO RDIO DISTAL

Do ponto de vista da reprodutibilidade, constatamos que as classificaes avaliadas no foram satisfatrias, mas devemos continuar estudando-as para que tenhamos, cada vez mais, um melhor entendimento das fraturas distais do rdio.

CONCLUSESPara as trs classificaes avaliadas houve melhora da concordncia intra-observador associada com o maior grau de experincia dos observadores, mas na concordncia interobservador a experincia no influenciou na melhora dos resultados. A classificao de Frykman no deve ser utilizada por apresentar muitas limitaes e baixos ndices de reprodutibilidade interobservador. Devido a sua complexidade e baixos ndices de reprodutibilidade, tanto intra como interobservador, a classificao AO tem seu uso comprometido. Apesar de considerar aspectos importantes das fraturas distais do rdio e da sua simplicidade, a classificao Universal tem tambm seu uso comprometido devido aos baixos valores encontrados na sua reprodutibilidade interobservador.

concordance observed was moderate to Frykman and Universal classifications and light to the AO system. The medium interobserver reproducibility was light in the two readings to Frykman and Universal classifications and despicable in the second reading of the AO classification. C ONCLUSION. All the classifications used presented questionable interobserver reproducibility compromising the use of the three evaluated systems. [Rev Assoc Med Bras 2004; 50(1): 55-61] KEY W ORDS: Classifications. Distal radius. Fractures. Reproducibility.

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SUMMARYDISTALRADIUS FRACTURES : CONSIS TENCY OF THE CLASSIFICATIONS

OBJECTIVE. The purpose of this study was to determine the intra-observer and interobserver reproducibility of Frykman, AO and Universal classifications for the fractures of the distal radius. METHODS. In this study, 40 radiographs of fractures of the distal radius were selected and classified by orthopedists of different centers and levels of experience, determining the intraobserver and interobserver reproducibility of the classifications using Kappa statistic method. RESULTS. The medium intra-observer

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Artigo recebido: 18/12/02 Aceito para publicao: 17/09/03

Rev Assoc Med Bras 2004; 50(1): 55-61

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