Cláusulas de Uma Pubescente

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  • 8/10/2019 Clusulas de Uma Pubescente

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    Krishna Montezuma

    clusulas de umapubescente

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    Foto e edio de capa: Krishna MontezumaSuporte e reviso: Leandro Mller

    Esta uma produo independente. odos os direitos

    autorais so reservados a Krishna Montezuma.Rio de Janeiro, 2014.

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    Find what you love and let it kill you.

    Charles Bukowski

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    SUMRIO

    PARTE I

    CAASROFISMOMIOLOGIAARM.GRAIDO

    CHORINHOE PONO FINAL.ANALOGIASONHO.CAN I GO HOME NOW?1/2DESLEIXORESOLUO DO AMOR EM SEE AOS

    PARTE II

    NAVALHAQUE HORAS SO?LOS KINGDOMUM BRINDE51SOLO INFRILFUNERAL

    RELARIO DE SI (A VISO DO EU LRICO)3H47AMERAPIA DE UM SA LEER O A FRIENDMEAMORFOSEPROGRESSO MORNOSOLURACONCLUSOCLUSULA FINAL

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    PARTE I

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    CATASTROFISMO

    o que acontece quando o atentado de 11/09ocorre bem dentro do seu estmago?das runas, o caos se orma cheio de si

    vai entrelaando os meus fios de cabelo e me puxa pra trsme az caira mdia internacional nunca vai noticiar issomas acabaram de explodir duas bombasuma em cada lado do crebrosalve nosso amigo rivotril,que nem de longe pde nos ajudar.

    meus ossos reverberam o hino da tristezae o -crac!- que az quando eles quebramah, enomenal.d at pra sentir os estilhaos se transormandonaquele tal p que disseram que eu voltaria a ser.bem,aqueles bastardos estavam certos,sempre esto.a nica coisa que erraram

    oi a causa da minha decadncia.no se trata de autodestruio quando eu apostei todas as minhasfichas em voc.

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    MITOLOGIA

    o seu blblbl insensato penetra em meus ouvidos numa verdadeira acupuntura orada.a cadncia do meu desespero segue no mesmo ritmo em que asua voz oscila da orma mais irritantemeus dedos esto batucando - tec tec tec - da orma mais aleatria pra ver se de certaormaa tua voz oge da bolha que est em volta da minha cabeaaquela, que bloqueia toda e qualquer inormao que seja desnecessria minha vivncia minha experinciaao batuque incessante nesse bicho moderno que no se desgruda da minha rotina.acho que os lpis desistiram de mim.

    e eu desisti de voc.o meu pior pesadelo se concretizou eito uma olhadela de Medusa.aha vida era to mais cil quando eu no conhecia os meus medos.

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    ARM.

    ando querendo te dizer algumas coisas. nada que voc j no saiba. a primeira delas que quandovejo o meu reflexo no brilho dos teus olhos me sinto como a estrela dalva que mais se aproximada lua que ilumina essa tal noite ria e cheia de saudade. que os teus braos so um aconchegomaior do que aqueles travesseiros que se moldam conorme a tua prpria silhueta e que vocnunca precisou se moldar por mim porque o encaixe desde o teu cordo umbilical no-cortadoera pereito. que aquela cicatriz no teu lbio inerior implora por um beijo toda vez que os meusolhos cruzam com ela. que por alar em beijo no posso deixar passar o seu to terno e delicadoque um misto de ventura e aeto que nem mesmo shakespeare em seu dia de maior inspiraopde descrever um ato to singelo. que aquela pinta na sua costela outra caracterstica tua queeu admiro alm de todas as outras cento e quarenta e nove coisas que eu amo em voc. e com base

    nos meus clculos esse nmero aumenta toda vez que voc abre esse sorriso que desde o primeirosegundo em que o vi pude enxergar o quanto poderia me apoiar em ti e que vocnuncaiame deixarcair.do seu cabelo que eu tanto amo aagar at os fios da tua barba - voc transborda um caminho quenunca ousei desviar assim que pus meus ps nele. tanto quis que eu te tirei pra danar sem saberdar dois passos sem tropeos mas ento eu percebi no meio de toda essa ausncia de vrgulas quenos tropeos a gente encontra as melhores coisas que existem e por fim posso dizer que voc oi o

    tropeo mais lindo que eu j dei na minha vida.

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    GRATIDO

    now i can sayall those words i wrote or someone elsesactually were or youwas always you.in all this miserable timein several times that i got late on bedwhen i was dreaming thoughts that actuallywasnt including me.

    then i ound

    another head-thinkingwhowasdreamingothers thoughtstoo.

    another soulanother bodyanother neck who

    its a perect supportor my cheeks.another lipswhich have the perect tasteeven better than a piece o the sweetest chocolate in the worldand always will.

    and i dont have doubts that youve brought methe exclamation points to replacethe interrogations on my head.

    well, i dont have too much to sayunless thank you.im living, being humancause i have a human being to do this or.

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    CHORINHO

    O seu bloco passou na avenida do meu coraoFez um estardalhaoUm baita dum escarcueve gente que at morreu (de amor)eve gente que at chorou (de dor)Mas por fim a serpentina ficou no cho.

    As passistas, quase nuasDesfilavam pelas ruasAbraavam a emoo

    O moo da cuca ali nem parecia mais estarJ seguia no ritmo da almaDo pulso que seguia um impulsoQue no se sabia explicar

    E a multido gritava, ruaO muro que separavaFulano de ciclanoCiclano de beltrano

    Fazia parte de um planoPra voc reparar em mim.

    E deu muito, muito certoVoc, brilhante ladrozinhoMe puxou pela moPediu perdo pelo inconvenienteE deu o beijo mais descrenteEnquanto tocava o bendito rero.

    E oi aQue eu percebiQue nesse mar de gente descarrilhadaVoc era quem ia me colocar nos trilhosIa me pr na parede como o mais beloLadrilho.

    Mas depois de tudo issoHouve a tal da conusoAlgum transeunteIneliz com o bloco

    Chamou a polciaA tal da iluso.

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    O povo oi emboraJ passou das onze horasO comrcio j echouE no peito onde jazia o sambaPor fimSe calou.

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    E PONTO FINAL.

    essa mania constantede ver dedos apontados pra mimem cada vrgula escrita uma maldio que carregouma doena que contra do mundoegosta e sem escrpuloseu eu eu eu euquem se importa?essa duas letrinhaspermeiam tanto o nosso assunto

    que s consigo pensar em comovoc ainda no ez as malas e me deixou sentada na cama,olhando pra janela entreabertanaquela casinha do interior de so pauloonde o sol mais aconcheganteeu eu eu eu euno se trata s de mim sobre como eu seguiriaessas mesmas linhassem voc

    pra me guiarcom as reticncias...

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    ANALOGIA

    a cidade nunca dormeporque acha a estrada mais bonita com carros e seus respectivos aris transitando naescuridoa cidade nunca dormeporque ama observar a calmaria da madrugadaama a insnia que a permite absorver dias e noites inteiros de completo caos e paza cidade nunca dormeporque sempre procura distraes que a livrem da rotinado despertar no piloto automticodo ca excessivamente adoado

    de uma vida sem sonhos planejadosa cidade nunca dorme porque vela pelo sono de quem nela habita.nesse caso,a cidade sou euo habitante voce a lua que orbita em avor da saudade a mesma

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    SONHO.

    Acabei de acordar de um sonho.Acabei de acordar de um sonho com voc.Nada muito indito,

    todo dia quando acordo com seus olhos negros encarando o meu cortx cerebral porque em algum lugar do meu subconsciente ainda somos a mesma pessoa semescrpulos de amar.

    Essa sensao de ter aquilo o que queria nas mos e depois deixar cair (apesar de nofim saber que ela nunca esteve sob o seu domnio de ato) requentemente me coloca

    num beco com paredes que engolem qualquer algum que demore ali por mais de trsminutos.

    Acordei com um vazio no estmago e pude constatar que era ome.Fome de voc, ome daquela tv desligada refletindo o quarto inteiro, ome do seu per-do, ome daquele txi, ome de um ltimo abrao.

    E como sempre ao toda manh quando levanto e comeo a fingir que me importo,tomei um copo de ca sem total comprometimento com o acar.

    Sabe como ,s pra enganar a ome.

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    CAN I GO HOME NOW?

    de toda a esquina do meu bar preerido at o fim da avenidade todos os sebos dessa cidade que vendem LPs do Chicode todos os convites de esta em apartamentos bem decoradosde todo o quarto andar do prdio que mostra o pr-de-sol escondido pelos pinheirosde toda Paris apinhada de seus turistas romnticosde toda So Paulo apinhada de seus guarda-chuvasde todos os cigarros que visitam minha bocade todos os travesseiros que oram o acrscimo da minha camade todos os planetas que orbitam no meu tetode toda a praa com a escultura de Noel Rosa

    de todo o Sol que cisma em voltarde toda a erra que cisma em girarde toda a poeira csmica que nunca vai acumular na minha estantede todo a magnitude do Universo e sua infinita belezaeu escolhi a extenso do seu corpopra chamar de lar.

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    essa coisa de achar que ningum t olhandoe azer a besteiraoh, que besteirade comprar teu amor com desconto(pois no tenho capitalpra t-lo por inteiro)e os outros me olharem com penapenaah, que dilemade sair por a com teu amor na coleira

    e no me sentirinteira

    ainda ganho uns trocados com as palavras que escrevopasso na loja e compro teu amor por inteiro

    depois vou no conserto e digo:desculpa o transtorno, senhor que esse a eu sempre tive pela metadee o outro lado

    eu preencia com saudade.

    mas o meu medo mesmo ter que devolver pro consertose ele quebrarantes da garantia

    porque dapensa s

    vou ter que levarna autorizadae autorizarpartir meu corao?

    ah meu Deus, no

    issono

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    DESLEIXO

    dvida, malditame entreguei, aflitacalei meu desespero por dois segundoslembrando como voc ficava bonito vestindo o seu melhor sorrisoento sorri tambm.me escorei na parede mais prximatentei colar nossa oto ali e virar a outra esquinamas a esquina na verdade era s uma quinado beco sem sada que atracar num caispor amor demais.

    redijo a vida de orma obsoletapreparo os meus ps pra atravessar a lamamas ainda nem pus meus sapatos.ainda nem levantei da cama.sei los milissegundos respirando saudade

    vo ser os mesmos se eu fingir que nunca uique nunca omos.tenho um compromisso marcado mais tarde com a realidademas sei l

    a lama pode esperar.ainda nem levantei da cama.

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    RESOLUO DO AMOR EM SETE ATOS

    I.o amor um martrio divinoescrito pelo diaboantes de caire pelas suas mosto clidas e maciasantes de partir

    II.o amor no dissolve na primeira resta

    no az as malas na primeira brigano oge no primeiro gritonem no primeiro choro

    III.o amor um vciouma nicotina sentimentalque sem ogotambm no tragano uma

    e no matas eneita

    I V.o amor o que az voc atrasar pro trabalhose distrair na fila no bancocomprar presentes completamente endividadate az pensar em como a vidaantes to cinzapode ser linda

    to lindaquanto o riso deledepois de uma piada ruim

    V.o amor cava sadas num labirinto de elpersegue a loucura de querer o mesmo alguma mesma bocao mesmo cheiroa mesma transasempre

    e sempree achar sempretudo indito

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    VI.o amor supera caprichossupera o egosmote pe de joelhoste arranhate batete tranca num quarto escuroe ainda tem o poderde te querer azer passar por issode novo

    de novoe de novo

    VII.o amor te obriga a ser trouxate ensina a ser solidriote ensina a ser persistentecarentesolitriote ensina e ser paranoico

    te ensina a ser insanoimpulsivote az se sentir vuneravelmente humanoe ainda sim

    voc no viveria um segundo da sua existnciasem amar algum.

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    PARTE II

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    NAVALHA

    esses dias abri uma enda no meu braonada muito proundo, veja bemapenas um talhe pequenopra ver se sangrava qualquer coisaque no sei mais se anda presaou se existe.meus rins j mandaram um recado pra no exagerar no sdiominhas artrias tambm j disseram pra maneirar no acare com essa carcaa me obrigando a mediar a vidaeu no vejo mais graa em olhar na vitrine o vestido que eu queria usar

    na minha ormaturaporque nem ele, que lindoconsegue disarar a eiura que no ter nada pra dizer pra algum queeu amo s quatro da manhmergulhei nesse limbo disarado de descansoe desde ento, vago por aquitentando preencher lacunascom algo que parea no mnimo relevante pro meu peito pulsaras paredes to rasuradas com coisas que se interligam como umaconstelao que se voc se distrai

    perde de vistaou someento, dessa mesma enda que eu abriagora eu vejosaiu um bicho meio zonzoque me encarou os olhose disse:limpa issoque t podre

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    QUE HORAS SO?

    Voc no merece.Eu usei do meu ntimo mais cru e desconhecido pra todos os outros pra te escrever as palavras quenesse momento, por incrvel que parea, no fluem como a chuva que persegue omeu passo nos paraleleppedos. Entrei nessa de te escrever cada detalhe, usei e abusei de cada fibraque interligam a minha derme e epiderme das mos, dos dedos pra te escrever toda a verdade. Oobjetivo? No sei. Isso no se trata de um texto no qual um poeta recita num sarau e todos aplaudem.Eu usei do meu melhor paladar pra adivinhar o gosto da tua boca que se encontra to suspenso quan-to o cu que agora cai uma torrente de gua que no consegue apagar a minha alma em chamas. sico, transcende todas as crises existenciais e bobagens da rotina de algum que nem mesmo sabe oque um Isso seu. Cuide ou no ter de novo.

    Eu usei de todas as erramentas que a imaginao humana pode oerecer pra criar toda uma utopiana qual tenho vivido tanto tempo quanto na realidade. conuso? Desculpa. alvez eu sempre tenhame mostrado um copo dgua transparente e sem mistrios, e agora que eu decidi jogar essa gua numesgoto sujo, talvez voc no reconhea mais. alvez voc esquea. Se que j no esqueceu.Eu sei que voc se procura em cada vrgula, em cada detalhe desse verbo solto que queria dizer muitomais do que pode escrever. A sanidade ainda bloqueia alguns pargraos que por fim, estraguem oque no teve sequer um ponto inicial.E com isso digo que a melhor orma de seguir se atracando a serenidade como me atraquei com otravesseiro durante madrugadas. Calma. disso que preciso. Eu usei da minha melhor desculpa pra te dizer que eu sou um ardo que se jogou nos teus ombros

    calejados que no esperam nada alm de tapinhas de cumprimento.eu eitio excedeu ao tdio e a rotina, o cansao abateu. Sempre abate. Mas a mim no. O que seria correto? A desistncia? Honestamente no sei. Esperava que voc me dissesse. Sabe? Asrespostas. Dessa vez no me preocupo em pisar no seu p enquanto dano. Se eu te machucar muito, que v a vida breve e as paixes dentro dela tambm. udo perecvel. Sempre oi. S que dessa vez, eu no

    vou conservar nossas coisas na geladeira para que no excedam a validade. Que deixem estragar.Voc no merecia as olheiras que carrego enquanto olho encantada pros seus dizeres. Voc no me-recia o meu desassossego. Voc no merecia nenhuma linha ou entrelinha desse texto. Mas ainda sim,

    voc est em todas.

    Me desculpa. Mas que eu preciso que voc diga. Minha ansiedade esqueceu a porra do relgio emcasa. Eu preciso que voc me diga qual a hora certa.Ento diz.

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    LOST KINGDOM

    its 1h45amand im here to say that im sorryim sorry or all the scars i lef on youor all the madness that i throw at your aceor all the time that ive wasted fighting orthose books on the shelor the way you put your jacket.im so sorry.im sorry because i still miss the way you used to smile at methe way you used to put your hands around my neck

    in a comortable waylike a pillow or the eternityi still miss your terrible jokescause in otherwise was the unniest thing in the worldbecause was you.in my hole liei thought that i never could find some other human who would treat me like a princessi mean, a ucking princesswith her perks and alli mean, you gave me roses

    and i practically let them there, to dieand today i was looking or that flowers on my wardrobebecause its 1h51amand i want my crown back.i want my garden alive.

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    UM BRINDE

    nem plato sentiu um oco to pesado numa sexta-eira

    queria mandar um convite pra cada um de vocstodo seriado num papel brilhantepra vocs se vestirem de preto s 11h da manh de um domingo11 horas porque dali vocs iriam direto almoare azer um brinde de coca-cola por mimque na verdade sempre odiei cocadepois vo lembrar do meu eu de 2012 que agradava todos vocse repudiar o de 2014 que retrocedeu tantos passos de um caminho supostamente

    certo.no precisa ser um gnio pra decirar o que eu estou alandoo que eu aleisabe? s olhar no mapatodos os lugares que eu deveria estarem contra ponto com os que eu uino dia errado, na hora erradaas coisas que eu vi, rapazd pra eu te passar um ca

    e contar at o sol se pr de novoe a gente pode ficar nessa, se voc quisereu no tenho nenhum compromisso marcadonoo zumbido que eu carregava na orelha sumiue era ele que me deixava assim, toda eltrica pra mudar a minha vidaa sua vidaa nossa vidaa vida te mata mais do que a prpria morte, sabia?e da, rapaz

    chega a segunda-eiraningum se veste mais de pretoningum se tortura mais de saudadetodo mundo passa maquiagem nas olheirasa anlise crtica de toda a minha biografia na mesa posta com macarro bolonhesase oie atodo mundo vai esconder o corpo debaixo do cobertor a noiteporque a culpa alojada na cabea convence de quea probabilidade de eu puxar os ps de cada um de vocs grande

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    oda manh o gosto intrnseco do cigarro me questiona em como me permiti chegar at aqui.O passado me assombra da maneira mais bonita, e eu nunca tive palavras pra descrever o quofilha da putaeu me sinto.

    Se carma j existe, ele j chegouJunto com os outros 50 cigarros que vocE euFumamos juntos essa semanaNos destrumos na angstia de ser mais daqui a alguns anos

    E prezando pelo uturo,espalhamos os nossos cacos pelo cho da salaSem a mnima vontade de levantarE retomarE esperar.A ansiedade que nos atina s mais uma erramenta pro desespero o vo entre a sua cama e a parede que me equilibraram nesses ltimos mesesE t tudo aqui, rescoMais uma vez passando por uma anlise ria e me perguntandoComo me permiti chegar at aqui?

    Essa misria derrotista de no saber se volto a encarar o vo da sua camaOu se compro um cigarro na padaria da rente e s apareo depois das seisAinda vai me querer azer cerrar os punhos e esolar o seu rostoAbatido, mas completamente ctico

    Cansei de costurar detalhesMe agarrar coisas mnimasMendigar amor sempre oi o meu maior talentoQue s serviu pra matar algumas dores egostas que no fimPesam mais do que qualquer gatilho.

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    FUNERAL

    Last night I saw youYou were so pretty wearing nothingYou were smelling like cigarettes, as usualAnd I looked into your eyes, so deeplyBut they said me nothing, even a eelWas just a ucking oceanWith no wavesSo I looked or your old eyes on the wallsI looked or the old boy who cried at my lapAnd I didnt find, anyway

    Ten I realizedI was not at your bedroomI was at a cemiteryMaking a uneralMaking the uneral oTe boy I used to love.

    (And there was no lap or me to cry)

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    RELATRIO DE SI (A VISO DO EU LRICO)

    O que sobrou oram dois copos em cima da escrivaninha, trs pratos sujos dentro da pia e uma blusaque perdeu o cheiro de quem a pertenceu az tempo.O que sobrou oi o excesso de inormao, a vontade de andar milhas e milhas a p s pra descobrirdurante quanto tempo o seu corpo aguenta uma caminhada.O que sobrou oi a metdica rotina de acordar, pensar no ms retrasado, tentar chorar um pouco, noconseguir, vestir a mesma cala jeans de segunda-eira, comprar uma empada na padaria da esquinapela ausncia do po em cima da mesa e se dar conta de que o leite de soja est vencido.O que sobrou oi um dia vazio que s produz cansao no seu corpo magro, um chuveiro queimadoque te obriga a azer polichinelos antes de entrar no box, uma vontade absurda de matar os prozacsque sobraram da ltima receita.

    O que sobrou oi um mapa velho de 2,5 por 3 de comprimento cheio de tachinhas vermelhas e trsou quatro tachinhas amarelas (que oram os lugares que voc j visitou) na parede do seu quartoabsurdamente bagunado. O que sobrou oi a vontade de jogar todas essas tachinhas pela janela, juntocom o mapa e aquele livro que mostra 1001 lugares para ir antes de morrer.O que sobrou oram uns calos nas mos, umas cicatrizes de tiros no peito, uma vontade mnima de sereerguer e voltar a tomar vitamina E. O que sobrou oi um anel de compromisso, trs otos reveladase um cordo com pingente de tomo que voc ez questo de deixar longe pra evitar a tortura psicol-gica (que na verdade tanto az, j que lembrana uma coisa que no se pe numa caixa de sapatos emanda guardar com outra pessoa).O que sobrou oi a alsa esperana de que dias melhores viro, a expectativa de que o ano termine

    logo, a vontade de tirar otografias de rostos que voc nunca conheceu por completo, calar algumasmentiras que voc contou, a pena que sente de seu eu do uturo que nunca vai se tornar o que vocqueria, a exausto que o seu eu do passado te obriga a carregar nas costas, o percurso que o seu eudo presente est seguindo que vai te levar ao inevitvel lugar nenhum, a vontade de ugir pra outroplaneta em que te sirvam alguma bebida gelada j que voc nunca se deu bem com ca de ato.Mas nenhuma dessas coisas so o suficiente pra que voc pare de perder o seu tempo pensando noque voc oi com ele. Nunca.Foi a melhor poca da sua vida e o que sobrou oi a certeza de que ela no volta.

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    3H47AM

    im the waterwho ooze into your drainwhile youre taking showerswith someone else

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    TERAPIA DE UM S

    O mal do ser humano apoiar os contras da vida na costas de outrem. achar que daqui a cinco anos eu vou esbarrar com voc em um bar a quilmetros daqui e te re-conhecer pela orma que voc segura o copo e pela postura exibicionista. perder horas, inmerashoras - se dedicando ao carma. Dar e receber em troca. Mas receber de quem?Esperar. o que mais gostamos de azer. Sentar a porra da bunda no so, ler alguns clssicos, acharque entendemos Freud, tomar gosto pelo cigarro e esperar. Esperar que algum sente do nosso ladoe num desenrolar de conversa diga: Ei, eu sou igual a voc. Vamos juntar nossas trouxas e viveruma eternidade juntos?Porque isso que sempre esperamos.Companhia.

    Nos dedicamos tanto nossa bagagem cultural, ao nosso crescimento espiritualranscendemos toda semana de uma maneira dierente, buscando dar o melhor de siPra receber o melhor dos outros.Escrevemos perguntas em cartes amarelados e os colocamos em cima da mesa, esperando quealgum tire um deles e nos d respostas.Acontece, rapaz, que as respostas no esto com ningum.As suas dores no vo ficar com ningum.O seu lenol vai continuar apenas com o seu cheiro.O seu travesseiro vai continuar cheio de fios de cabelo, mas s seus.O mal do ser humano apoiar os contras da vida nas costas de outrem sem ao menos perceber que

    no so contrasSo contas, cicatrizes,Itens raros de colecionador,Que te deixam mais orte.So lembranas que expressam claramente quando as enxergam:, eu estive l. Foi um inerno, talvez osse o prprio. Mas eu voltei e me sinto melhor.O mal do ser humano querer escorar o corpo numa casa sem paredes.Faa o melhor por si,ranscenda, mude, compre inmeros maos, leia Dotoivski, compre flores pra voc mesmo e asdeixe morrer

    Mas se um dia tiver vontade de cairCaia em siE entenda que ningum vai azer isso por voc.O mal do ser humano perder o gosto pela solitude quando conhece o amor.

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    A LETTER TO A FRIEND

    meu bem,

    tentei te ligar essa semana pra avisar que j comprei as passagens,j deixei tudo arrumado e as gavetas j esto vazias.mal posso esperar pra chegar e te ensinar o meu grito de guerrapra gente marchar por a e mostrar pra essa massa inconstante que o amor ainda reverbera emtodos os cantos.mal posso esperar pra te descrever os lugares por onde passeie voc rir de tudo, achando inacreditvel a histria do cachorro que mordeu a minha pernae me mostrar otos do seus pais, alar do dia em que quebrou um dente

    e depois de dissecar memrias, ns mesmos construirmos as nossase deixar aogar um passado inteiro de errosnuma piscina suja de um galpo abandonadoonde nunca mais voltaremos

    no esquece daquele seu coletee v se deixa o cabelo crescer mais um pouco, pra eu mostrar um jeito bonito de deixar amarradoou ento corta, se voc quiserno vou exigir nada de vocnem de ningum

    no mais.

    h coisas nessa vida, Lu,em que no podemos esperar que o volume da nossa voz desperte medoou submissoa marginalidade da alma nunca vai permitir que abaixemos nossas cabeas, nem por amore por isso que amo tanto a saudade atemporal que voc deixaantes mesmo de chegaro orgulho morreu na soleira da portaporque eu preeri abrir pra voc

    mais tarde, quando o cu mostrar interminveis constelaespoderemos imaginar o que h alm dos anis de jpitere torcer para que algum cometa caia sobre nsporque a partir desse momentona exploso de nossos corpos reratando a luzseremos o mesmoinfinito

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    METAMORFOSE

    A insatisao uma arma apontada para a prpria testa, e por isso que vejo nela uma oportunidadede externar a minha vontade de acabar com a dor que anda presa e ao mesmo tempo incontida emtodas as junes e articulaes de um mesmo lugar.Quando olho pra trs e vejo todo o tempo que perdi chorando as dores que nunca tive, rio - rio depena pela pessoa inconstante e mimada que ui. Pela imaturidade de no saber o que queria de verda-de, por ter como rem pessoas que no mereciam nada alm da mais pura liberdade.Fazendo uma anlise autobiogrfica de todas as merdas que ui e fingi ser em outras madrugadas, pen-

    so que no mereo nem o cho rachado que piso. Me aundo cada vez mais, me permito socos imagi-nrios na boca do estmago para que me mantenham atenta s consequncias que o meu descaso coma elicidade alheia me trouxeram. No me permito esquecer a vontade que tenho de voltar no tempo.

    muito cil fingir um renascimento depois de trs ou quatro noites sem dormir e muito pensar. muito cil achar que o perdo um curinga sempre disponvel e irrerevel pra todas as eridas que

    voc causou em outro peito. O perdo s bonito na literatura. Na maioria das vezes, ele nada mais que um rosto embrulhado por uma toalha suja de hipocrisia.Aceitao. A alta do que vejo em mim aceitao. Aceitar os erros que cometi no so o suficiente.No quero compactar nenhuma memria ruim, guardar em alguma gaveta e daqui a duas semanas nolembrar onde deixei. Eu quero deixar isso tudo aberto, exposto - como uma erida sendo oerecidacomo casa para as moscas. Quero que puxem as minhas entranhas do esago com mil e um garos eme aam preerir a morte a me manter em p. Quero mergulhar num abismo sem vontade alguma de

    voltar, quero queimar qualquer vestgio remoto de alegria que a rotina me cause e manter sempre em

    mente todo o rastro de catstroe que deixei pelo caminho. Quero a minha sanidade mental pisoteada.Quero me olhar no espelho e sentir nojo. Vontade de vomitar no meu reflexo. Me perguntar quem eusou tantas as vezes at que as palavras percam o significado quando pronunciadas. Quero rasgar tudoo que tem aqui dentro, arrebentar todas as vsceras e no poupar qualquer filete de sangue. Quero metornar nada. Quero me aogar no limbo. Quero me tornar o prprio.E talvez, se algum dia depois de corroer toda e qualquer maniestao de vida que habitava em mim es sobrar um par de olhos ressecados rolando pelo cho, talvez eu queira me acostumar com o ato deque esse meu eu destrudo nunca soube ser algum melhor e que nunca ez esoro de verdade pra ser.E a, da poeira que no tiver sido soprada pra longe, algum, que ainda no sei dizer eio ou senti-mento, vai surgir com um par de olhos da mesma cor que os que ressecaram no cho e uma histria

    pra contar qualquer um que se d ao trabalho de escutar em um bar com a luz raca.Voc j ouviu alar da histria da lagarta que nunca chegou a virar borboleta?

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    PROGRESSO MORNO

    hoje, pela primeira vez em meseseu acordei com o vento aastando a cortinadeixando o sol bolorento das nove entrare no me senti cega pela luz.e nem as duas da tarde, quando estava no mesmo lugareu senti melancolia por aquela janelaou por qualquer resta de vida que geralmente devastam meu peito e deixam um vazio desgraadonem quando Morrissey gritou em meus ouvidos que at o prprio cu sabe o ser miservel que metorneinem isso

    nem a lembrana de voc umando atravs da cortinanem ns de mos dadas em um nibus lotadonem a sua parede azul que me revira o estmagonem Deusnem o Diabonem Goethee nem o outro abissal de mimme fizeram chorare isso insuportavelmentebom.

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    SOLTURA

    e arrancar de mim oi a coisa mais dicil que me acometeu em anos. Rasgar cada fibra do meu cor-po em que continha voc e saber desde o incio do processo que s restariam alguns pedaos de pelemorta pisoteados no asalto consumiu tambm o meu psicolgico. Se esse desastre atmico que me tirao lego enquanto eu mal consigo manter o lpis numa linha retilnea se chama drama, eu noquero nem pensar no que Sheakespeare diria.Incrvel o ato de como as coisas se reconstroem cil e que se voc me dissesse as palavras certas eu j

    estaria nua em plena Rio Branco recolhendo os cacos que eu ainda podia chamar de meus e dando pravoc azer o que quiser com eles. Mas no posso mais me dar ao luxo de ser uma amante da utopia. Eela sempre me procura, como um marido cansado de sua mulher realista. Me bate a porta toda noite.E eu atendo. Me permito. Sei que o perjrio tambm no termina depois que eu trancar a porta. Veja

    bem, alm da tranca, o que me incomoda a trinca que se tornou a minha carcaa. Fatdica. Cansada.Repousei meus olhos tempo demais nos seus e agora no sei mais o que encarar. No encontro abismonem porto. Nem inerno e nem cais.Nem mesmo entendo a cisma que tenho em pedir pra ser pisoteada. At mesmo a minha desculpa rasa:Me desculpe, doutor, mas que a entrega nos livros parecia to bonita...No se preocupe, ainda viro imensos relatos de como oi chegar ao undo do poo e saber que vocoi ainda mais abaixo. Me sinto Oreu em busca de sua amada que nunca voltou. O mal do ser humano,desde os primrdios, olhar pra trs.E eu continuo olhando. E nessa busca incessante de ainda achar que vou at o rtaro comprar a tua

    briga, vou ragmentando os pedaos da minha dignidade at sobrar poeira. E talvez eu me arrependa- eu sempre me arrependo. Mas cacete, quando se constri uma casa com pedaos de voc mesmo ficadicil simplesmente recolher os azulejos e procurar outro abrigo.Me sinto destruda e a ora que encontro nos dedos pra declarar isso tudo ainda vem de voc.O amor um co dos inernos que te pe na coleira.Vai entender.

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    CLUSULA FINAL

    portantoaqui termino o meu contratoestou de total acordo com os termosde ser completamente responsvel pela minha insanidade.me comprometo voltar no tempo quantas vezes or necessriopra resgatar o que no deixei explcito aquiafinalh clusulas que s so lidas nas entrelinhaspor um certo par de olhos em que ainda me afincoe repouso.

    portantote peono deixe que expire o contratosem validar todos os termos em que te inserie por fim, conesso queacima de tudoapesar da eternidade que a escrita me promete

    jamais a trocariapelo infinito de um beijo seu.e essa, meu amor,

    a minha assinatura mais bonita.

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