Clevelândia- Ricardo Burgarelli e Luisa Horta

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“UM HOMEM QUE CONTA HISTÓRIAS É DE MAIOR CONFIANÇA DO QUE UM HOMEM QUE DÁ CONSELHOS” 1 Ricardo M. Burgarelli RESUMO: Este trabalho é constituído de relatos e processos centrados no projeto/instalação inferno verde _ clevelândia do norte realizado pelo autor 2 , que consiste numa pesquisa artística sobre a criação de uma colônia penal no extremo norte do Brasil 3 nos 1 Extraído de peça literária de Gonçalo M. Tavares sobre Nelson Rodrigues, contida na obra Biblioteca. 2 Com co-autoria de Luísa Horta, o projeto recebeu o Prêmio Honra ao Mérito Arte e Patrimônio 2013 pelo Iphan/Paço Imperial (RJ). Uma primeira montagem da instalação foi apresentada na Casa da Baronesa (Ouro preto) em novembro de 2014 e está previsto uma segunda montagem no Paço das Artes (SP) em julho de 2015 através da Temporada de Projetos 2015. 3 Clevelândia do Norte, município de Oiapoque (AP/Brasil).

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textos sobre la colonia penal de Clevelandia no Brasil

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UM HOMEM QUE CONTA HISTRIAS DE MAIOR CONFIANA

DO QUE UM HOMEM QUE D CONSELHOS

Ricardo M. Burgarelli

RESUMO:

Este trabalho constitudo de relatos e processos centrados no projeto/instalao inferno verde _ clevelndia do norte realizado pelo autor, que consiste numa pesquisa artstica sobre a criao de uma colnia penal no extremo norte do Brasil nos anos 1920, no qual, em um cenrio de estado de exceo foram enviados centenas de indesejveis de todas as regies do pas.

Junho de 1925, o operrio Jos Maria Fernandes Varella, detido em So Paulo, se encontra preso no Calabouo da Polcia Central do Rio de Janeiro junto com o tipgrafo cearense Pedro Motta e o grfico gacho Nino Martins, todos militantes anarquistas. Varella escreve uma carta relatando seu delicado estado de sade, o agravamento de uma doena no estmago: As miserias por que tenho passado estes dois ou tres meses, ultrapassou os limites da minha estrutura organica. O meu todo physico demasiado debil para a odyssa antipoda s leis do progresso. No entanto o que permeia o relato do operrio a preocupao com o estado de sade de sua companheira, a incerteza em saber se a companheira ainda se encontra viva, visto que ela havia contrado tifo.

Varella pede que omitem a sua atual condio de debilidade para a companheira, pois, se a companheira vive ainda: no deve alarmar-se por coisa alguma. Ninguem no mundo me conhece melhor do que ella; portanto, s a ella que eu julgo capaz de conhecer de perto a grandeza de meus sentimentos ideaes. Na minha vida no tenho um s acto que no esteja de accordo com a minha dignidade sigo sempre os impulsos e estes em mim emergem do cerebro e do corao. Vivo como penso, eis tudo. verdade que sou demasiado exaggerado, talvez, para com a companheira; no importa, a exaggerao e o principio da sabedoria, pelo menos, sempre o afan de algo superior... Acceita um amplexo do amigo e transmitte tua famlia a minha gratido pelas boas attenes que sempre me dispensou. Recommendaes aos companheiros da officina e seus proprietarios. A todos um aperto fraternal.

Do Varella.

J enviei mais de 10 bilhetes; no sei se chegaram. ( Estou sem camiseta e sem camisa).

Amigo: Devido ao meu estado de saude, hoje resolvi o seguinte: caso a

companheira esteja viva e possa viajar, deve dispor-se a fazer uma

chegada ao Rio.

Varella faleceu sem saber se esse bilhete tambm havia chegado e se sua companheira estava ou no viva. Caso estivesse viva e viajado ao Rio para tentar v-lo, ela no o encontrou pois algumas semanas depois dessa carta ele fora enviado bordo do Cuyab junto com Pedro Motta, Nino Martins, outros detidos no Rio de Janeiro e centenas de soldados de baixa patente oriundos da revolta militar de Catanduvas para a Colnia Penal de Clevelndia do Norte, extremo norte do Amap. Ao todo eram 408 presos, e faziam parte do terceiro contingente enviado para a colnia penal que j contava com mais de 500 presos. No primeiro grupo de desterrados para a regio do Oiapoque constavam cerca de 420 presos de composio diversificada do Rio de Janeiro. J o segundo era composto por aproximadamente 120 praas do Exrcito e Marinha envolvidos em levantes no Par e Amazonas. Cada um dos grupos esteve ligado, de forma direta ou indireta, a diferentes acontecimentos ocorridos nos anos 1920, integrando o mesmo ciclo de instabilidade poltica.

Esse ciclo de instabilidade poltica foi, entre outras coisas, um sintoma do descompasso entre um governo oligrquico e conservador que tinha a produo de caf como principal poltica econmica nacional e o anseio de participao e descentralizao (regional) poltica tanto de agrupamentos militares como do novo proletariado urbano, que ascendia com as significativas projees dos movimentos socialistas europeus e com a Revoluo Russa. No entanto, no menos sintomtico nesse ciclo de instabilidade a emergncia de uma massa urbana marginalizada, oriunda das classes e povos historicamente oprimidas no Brasil, que, dentro de um processo contnuo de estigmatizao, so tratados como ameaadores a ordem e a moral pblica.

Como afirma Lobato Martins, uma constante sociolgica que as sociedades, em toda poca e em qualquer lugar, tm o dom de fabricar seus indesejveis: a vida social comporta grupos e indivduos com diferentes graus de integrao na coletividade, uns mais e outros menos inseridos nos padres que determinam as interaes econmicas, polticas e culturais. Enquanto muitos se conformam s normas, aos comportamentos e s atitudes que so tidos como desejveis e legtimos, alguns destoam das regras e dos costumes. Estes ltimos so os que vivem margem, quando no so considerados simplesmente criminosos. Em relao a eles, convm guardar distncia segura, evitar maior envolvimento, cultivar prudente desconfiana e manter vigilncia sem trgua. Antes de tudo, preciso identific-los e nome-los. Em seguida, preciso control-los, o que requer tanto o uso da fora quanto a imposio de uma moralidade pblica. () Nesses casos, persegui-los e castig-los a condio para restaurar o equilbrio natural ou a ordem social.

Os indesejveis so tambm os inconformistas de cada poca, e ser incorformista no se reduz s praticas de agitao poltica convencionais de seu momento histrico, ou seja, no caso dos primeiros anos do sculo XX: construir movimentos de greves, motins, revoltas, atentados com bombas, grficas subversivas, difundir os ideias da emancipao social e etc; no deixam de ser inconformistas queles designados como vadios, desordeiros, vagabundos e criminosos.

Essa questo central para fugir de um discurso existente na anlise de perodos de exceo da histria brasileira do sculo XX no qual se distingue o preso poltico do preso comum. Essa distino no ser feita no desenvolver da corrente narrativa, e essa massa de infratores que so enquadrados historicamente como presos comuns sero, partindo da perspectiva do abolicionismo penal, designados tambm como presos polticos.

Se para a manuteno da ordem pblica necessrio identificar e nomear os indesejveis de sua poca, para a construo da nossa narrativa imperioso imergir no contedo dessas tipificaes, tantos as que constam nas fichas policiais, como quelas que foram produzidas e ressoadas pelas personalidades polticas, pela imprensa de governo e de oposio, pela aristocracia e pela boca do povo, pelos anarquistas e pelos militares.

De acordo com estudo de Machado de Brito, o debate com a fonte da imprensa possibilitou enxergar de maneira mais explicita quem foram os presidiarios de Clevelandia do Norte: eram revolucionrios, trabalhadores, injustiados, soldados inferiores, beligerantes, indesejveis, ladres, vigaristas, punguistas, salteadores, vadios, marinheiros de baixa patente, mendigos, velhinhos, filhos do povo confundidos entre vagabundos, sindicalistas, anarquistas, operrios, intelectuais, malfeitores, desocupados, dinamiteiros, batedores de carteira, crianas, indigentes e outros sujeitos que a historiografia hegemnica tem silenciado.

Julho de 1924, Pedro Motta diretor e redator e Varella colaborador do auto-intitulado peridico libertrio: A Plebe (na clandestinidade em decorrncia do estado de stio), que publica uma Moo de militantes operrios ao comit das foras revolucionrios da que conhecida como a Revolta Esquecida, promovida por segmentos militares na capital paulista. Anterior a publicao da moo, os anarquistas organizados em So Paulo foram surpreendidos pelo levante e passaram a se reunir diariamente para discutir a participao ou no na revolta militar, como relata o sapateiro anarquista Pedro Catallo.

consenso entre os anarquistas do grupo do jornal A Plebe que os motivos e o significado da insurgncia militar justa; os militares clamam pelo apoio da populao, afirmam que o povo ficou reduzido a uma verdadeira situao de impotencia, asphixiado em sua vontade pela ao compressora dos que deteem as posies politicas e administrativas, e se comprometem com a liberdade de imprensa, a manifestao livre do pensamento e principalmente com a justia.

Os anarquistas se encontram divididos entre o entusiasmo com o incio exitoso da insurgncia e a coerncia com os princpios libertrios que se chocavam com a instituio militar. Como soluo, propem para o General Isidoro Dias, principal articular da revolta, que o mesmo fornea armamento blico aos libertrios. Assim, os anarquistas formariam um batalho de civis para lutar contra o governo central, mas no entanto seriam autnomos e no submeteriam a disciplina e a ingerncia militar.

Com a j esperada recusa de Isidoro a fornecer armas e munies para os libertrios, os mesmos decidem apoiar apenas com a redao da moo de apoio, que enfim publicada em 25 de julho, aps os militares j terem tomado controle da capital e expulsado as foras legalistas. Os anarquistas da Plebe justificam o apoio com uma srie de consideraes respeito da atual condio do proletariado e do povo. A principal exigncia contida na moo a generalizao das oito horas de trabalho diria, no entanto, essa exigncia apenas justificado pelo fato de, com a carga diria elevada de trabalho, os operrios no tem condio de exercitar o intelecto.

A preocupao central encontrada na moo perpassa a questo da educao, pois no ponto de vista educativo o proletariado sente a falta de instruco, no s pelo impedimento que existe aos seus syndicatos de abrir escolas capazes de fazer do trabalhador um homem de conscincia livre e independente dos preconceitos que entorpecem e degeneram a sua mentalidade circumdada na esphera viciosa da educao burguezacapitalista, como pelo dever que tem de reconhecer o seu papel e valor no seio da sociedade em que vive; considerando que um dos meios para facilitar a instruco e educao do trabalhador a reduo das horas de trabalho.

A resistncia dos insurgentes contra-ofensiva das foras legalistas durou 23 dias, no qual os bairros pobres e operrios da capital paulista foram bombardeados massivamente, casas foram invadidas, mulheres e jovens pobres foram abusadas e violentadas pelos soldados legalistas. Tratou-se, talvez, do maior massacre urbano realizado durante os governos republicanos e praticado no maior centro urbano brasileiro. A matana indiscriminada de civis pobres foi praticamente ignorada e quase esquecida em todo o pas.

Por fim o levante militar serviu de pretexto para o governo perseguir e encarcerar os pobres, operrios, anarquistas e soldados revoltosos de baixa patente. De forma que, os signatrios da moo de apio publicada no jornal A Plebe foram logo perseguidos. Nicolau Paradas, Nino Martins, e o Pedro Mota, que ento era o diretor de A Plebe, e mais alguns cujos nomes escapam-me, infelizmente, da memria, foram os militantes libertrios de So Paulo que tiveram a desventura de cair nas mos da polcia.

Pedro, Nino e Varella foram presos em So Paulo, enviados para o Calabouo da polcia do Rio de Janeiro e posteriormente para Clevelndia do Norte no apenas por serem tipificados como anarquistas, mas tambm, ou principalmente por suas atividades como redatores, grficos e tipgrafos. Foram presos por, como redatores e trabalhadores grficos, explicitarem publicamente serem anarquistas e segundo, por terem exigido publicamente determinadas concesses do governo. De certa forma, foram desterrados para a regio da margem do Rio Oiapoque por assinarem uma moo pblica que, em linhas gerais, exigia a reduo da jornada de trabalho para quarenta horas semanais.

As misrias sofridas por Varella na priso do Rio de Janeiro intensificaram ao embarcar com destino Clevelndia do Norte. J a odissia dos insurgentes do Paran que dividiriam os pores do navio Cuyaba com Varella, Motta e Nino Martins foi mais longa. Presos em Catanduvas, caminharam 12 dias at a cidade de Iriti e depois seguiram de trem para Curitiba e logo, para o porto de Paranagu. Seguiram para o Rio de Janeiro, e ento embarcaram para Clevelndia do Norte nos pores do Cuyaba, navio caracterizado por Romani como uma imensa masmorra medieval flutuante

Os mesmos pores eram em nmero de trs: um na proa, outro quase ao centro, e o terceiro na r. O primeiro compreendia duas partes: a superior e a inferior. Naquela ficamos, no s ns, os presos polticos desta capital, e conosco os inferiores do exrcito e da Brigada Policial, embora uns e outros desterrados no naquela qualidade mas como simples indesejveis, mas ainda aqueles oficiais comissionados de Catanduvas. Na parte inferior, ficaram os ladres, vigaristas, punguistas, salteadores e vadios, entre os quais estavam o celebre Baianinho (Sizenando Terncio da Silva) com 101 entradas na Polcia e ainda outros com menor nmero de entradas: Joo Miguel Alves com 57; Moleque Felix (Felix Joo Maurcio) com 50; Alcebades Guimares com 39; Palhao (Mrio Sabino das Neves) com 39; Leonel da Silva com 32; Arnaldo dos Santos com 31; e mais 113. No poro quase ao centro, iam os soldados e inferiores do Paran; e no da r, em que havia armamento e munio, os cinquenta soldados que constituam a escolta. Os camarotes foram reservados aos oficiais e sargentos desta e aos oficiais e sargentos do navio.

Aps 15 dias de viagem aportaram na montanha Largent na Guiana Francesa e seguiram no navio Oyapock at Santo Antnio, vila localizada na margem brasileira do rio Oiapoque. Desembarcaram na vila e seguiram caminhando pela floresta durante uma noite inteira, atravessando igaraps e reas pantanosas. No presdio encontravam de tudo quanto se possa imaginar de hostil e nocivo humanidade.

Para alm da situao de desterro e isolamento do mundo e das coisas, do regime de opresso, trabalho forado e maus-tratos, Varella, Motta e os recm-chegados do terceiro e ltimo contingente foram recebidos, em meados de 1924, por uma colnia penal j com centenas de detentos, cerca de mil colonos e significativo contigente de foras militares legais. A colnia estava assolada por doenas e epidemias que grassavam na regio e se ampliaram com a fundao do campo de concentrao, como disenteria bacilar, impaludismo, tuberculose e diversas molstias. Situao distinta dos anos precedentes nos quais o local era apenas um pequeno ncleo agrcola experimental, denominado de Ncleo Colonial Cleveland, com plantaes de mandioca e diversos colonos que emigraram do nordeste brasileiro na esperana de enfim encontrarem uma terra frtil e generosa, como havia prometido o governo federal.

5 de maio de 1922, dia da inaugurao do Ncleo Colonial Cleveland. Os recm-chegados colonos passaram os ltimos dias enfeitando e preparando a pequena vila, construda a partir de um projeto piloto e constituda de duas pequenas ruas principais. Com a colnia toda embandeirada e enfeitada e os colonos todos bem calados, inclusive as crianas, o foguetrio se fazia ouvir a cada chegada dos barcos que traziam os visitantes de fora, especialmente chamados para a festa de inaugurao.

O anfitrio e administrador da colnia, engenheiro Gentil Norberto, recebia o ilustres convidados que desembarcavam no trapiche de madeira que dava acesso ao boulevard Baro do Rio Branco. Entre outros, chegava o vigrio Olivier Gros da pequena Saint George para abenoar os colonos.

A festa seguiu os moldes das antigas festas coloniais, mantendo-se a separao entre 'casa grande' e 'senzala'. Banquete na sede da Administrao para os convidados especiais, com discursos das autoridades, e, aps as honras de praxe e j de barriga cheia, a casa grande curvou-se senzala para assistir ao baile, com a apresentao das danas folclricas locais feitas pelos colonos: desde o carimb at o casse-corps crole. Na cozinha da festa, ao populacho foi garantido um boi inteiro para alimentar a farra. Festa que acabou se estendendo durante toda a tarde e animou-se ainda mais com o 'arrasta p' embalado pelos sanfoneiros.

s mulheres das famlias de colonos restou o lugar da apresentao ensaiada e um leve aperitivo do baile popular, enquanto os homens de casa ainda estavam presentes. Para as jovens solteiras, era aquele o momento existente para verem e serem vistas. Uma rpida troca de olhares ou a sorte, para as mais atrevidas, de uma dana com o par desejado, e a festa seria comentada pelas semanas seguintes, at o prximo baile a ser organizado. Dona Cezarlina Pennafort tocava viola com um grupo de mulheres nas festas de So Joo, tradicional festa do Nordeste brasileiro, o que nos d indcios da predominncia de famlias de origem nordestina entre os colonos. Segundo ela, os momentos de diverso eram raros. Raros eram tambm as oportunidades para se conhecer um namorado e, portanto, tinham de ser muito bem aproveitadas.

O encanto que essa modernidade trazida at a selva provocava nos novos colonos foi um dos motivos do impulso inicial da vila agrcola. Mesmo aps sua inaugurao oficial, ainda havia muito a ser feito para completar o projeto traado. Mesmo assim, logo a vila piloto transformou-se no centro regional do Oiapoque brasileiro. O discurso otimista e ufanista dos jovens colonos fazia coro e seguia o discurso trazido pelo Estado, que se vangloriava de ter levado o que havia de melhor na civilizao para o confim amaznico.

Setembro de 2014, embarcamos em um boieng 777 da TAM em Belo Horizonte. Passadas algumas horas desembarcamos no Aeroporto Val de Cans em Belm, passamos a noite no aeroporto e ao nascer do sol seguimos em um avio de menor porte da mesma aviao para Macap. Na capital do Amap vamos para a rodoviria e negociamos transporte para o Oiapoque com os piratas. Pirata como so chamados os motoristas de caminhonetes 4x4 que fazem o translado Macap-Oiapoque atravs da BR-156. Essa uma rodovia federal de 596km que, por no estar inteiramente asfaltada, impossibilita o trfego de veculos durante o perodo de chuva (novembro a junho). De acordo com os piratas, na poca de chuva a viagem pode durar at 3 dias e o custo por pessoa chega a at quatrocentos reais.

Nosso pirata Pinduca. Nas dezesseis horas de viagem Pinduca nos conta que nasceu em Clevelndia do Norte, foi militar como seu pai e por muitos anos serviu na prpria base militar de Clevelndia. Saiu do exrcito, pois, segundo ele, muito homem junto no d certo, dividir uma namorada com cinco cabras complicado, e o que reclamar acaba ficando sem a garota. Aps largar a farda ele foi garimpeiro na regio, conhece as matas e os buracos das montanhas do Brasil e da Guiana. Pinduca trabalhou com outras coisas, hoje pirata e passa uma noite em Macap e outra em Oiapoque, durante o dia est na BR-156.

Ficamos sabendo sobre a me de Pinduca, uma ndia da regio que casou com um militar que havia fixado residncia em Clevelndia. Ela foi a primeira pessoa a morrer na recm-inaugurada estrada que liga Macap Oiapoque (atual Br-156). Pinduca era criana, lembra que sua me era aventureira e no gostava de ficar arrumando casa e cuidando de menino. Era uma pessoa querida na regio e lembrada at pelos mais velhos do Oiapoque. Muitas pessoas que conversamos em Oiapoque sabiam e contavam com detalhes de sua histria. Desde ento as mortes passaram a ser cada vez mais frequentes, principalmente nos perodos de chuva.

Maio de 1969. Pinduca tem 4 anos e passa a maior parte do tempo com uma moa preta como uma canela, sua me de criao. Sua me biolgica, uma ndia, faz parte do movimentos das Bandeirantes e passa semanas em jornadas de servios comunitrios nas vilas, aldeias e casebres da regio. Ela fica sabendo de uma promessa feita pelo Governador do Estado, General Ivanho Gonalves Martins, nomeado pelo regime militar. No intento de inaugurar o trmino do servio de terraplanagem da estrada que ligaria Clevelndia do Norte/Oiapoque Macap, o Governador institudo faz um pronunciamento no qual afirma que a primeira pessoa que percorresse o trajeto de veculo automotivo seria premiada com um carro. Ao escutar essa histria, a me biolgica de Pinduca consegue um automvel emprestado e convence uma amiga e um amigo da regio acompanharem na aventura.

Pinduca lembra de sua me chegar em casa e comear a arrumar as coisas para a viagem. Seu pai chorava, avisou que no aceitaria isso, que ela no podia largar marido e filho pra ir arriscar a vida. No adiantou, no dia seguinte quando seu pai saiu para o servio militar, sua me juntou as coisas e foi embora pela estrada. Passadas algumas horas na estrada de terra, ao tentar subir um terreno ngrime o carro deslizou e capotou. Um galho de rvore perfurou o peitoral da me de Pinduca. Sua companheira que estava no automvel correu de volta pra Clevelndia para buscar ajuda, o caminho era longo e inspito, apenas depois de 2 dias ela voltou com enfermeiros. O rapaz que dirigia o veculo estava sentado chorando junto ao corpo, culpava-se pelo acidente; e assim que voltaram para a cidade o corpo foi velado e enterrado. De acordo com Pinduca, o rapaz, hoje um senhor, vivo, mas desde ento passou a viver recluso e no conversa mais sobre o ocorrido.

A histria trgica, porm contida de uma estranha inocncia e afeto, nos traz sentimentos ambguos quanto quele universo e a nica certeza a da ingerncia degradante do poder pblico na vida e na prtica comum das pessoas. Ingerncia que se repete compulsivamente desde os tempos de disputa territorial da regio do rio Oiapoque com a Frana, que no entanto, no impossibilitou o surgimento de relaes heterotpicas a partir das fissuras abertas no emaranhado de sujeies estabelecidas pelo poder dominante.

Durante nossa estadia no Oiapoque, vrias pessoas nos aconselham a ir na casa da Dona Moa, senhora quase centenria que teria sido uma das primeiras moradoras de Clevelndia do Norte e ainda reside na atual vila militar.

Com o advento da colnia penal em 1924, Clevelndia do Norte, at ento ncleo agrcola, passou a ser uma rea militar. No entanto, os colonos que haviam migrado anos antes e se estabelecido no ncleo continuaram residindo no local e passaram a conviver com a nova dinmica imposta na colnia. Com o trmino do perodo de exceo em 1926 e o fim da colnia penal, o destino dos prisioneiros sobreviventes foram diversos. Alguns foram para vilas e aldeias prximas, outros embarcaram nos navios oficiais que os levavam de volta para seus estados de origem, e, no poucos, constituram famlias e fixaram residncia na prpria Clevelndia do Norte ou no novo plo regional que surgia a 20 km da colnia, a Vila Martinica, atual municpio de Oiapoque.

Funciona atualmente em Clevelndia do Norte a Companhia Especial de Fronteira do Comando de Fronteira Amap e o 34 Batalho de Infantaria de Selva. Para ter acesso a localidade por terra necessrio se identificar em uma guarita com alto resguardo, e toda aproximao pelas margens do rio Oiapoque monitorada. Se trata de uma das nicas reas militares brasileiras que coabita com civis. Essa no uma relao harmnica e o descontentamento em compartilharem aquele espao mtuo. A consequncia pesa sobre os civis, quase todos naturais da regio e descendentes de colonos e povos originrios. Os espaos de socializao foram se restringindo cada vez mais com o passar dos anos. H uma srie de linhas imaginrias na pequena vila e ultrapassar qualquer uma delas significa ser abordado por um militar. Nada pode ser registrado com cmeras fotogrficas. De acordo com os militares essa restrio necessria por se tratar de uma rea estratgica importante para garantir o controle sobre as fronteiras. O pequeno posto de sade pblico foi fechado, sobrando para os civis apenas o que se localiza no municpio de Oiapoque. Mesmo a igreja se encontra em desuso, de acordo com os moradores nunca os cultos foram to raros, e quando ocorrem a vigilncia severa j que a igreja est localizada no descampado principal (antiga praa Baro do Rio Branco), ou seja, no seio das instalaes militares.

Chegamos na casa de Dona Moa no entardecer. uma senhora bem pequena e muito magra, com boca e olhos fundos e pupila acinzentada. Sua fala lenta, necessrio fora para que o som propague da garganta. Lembrar do passado tambm aparenta ser cansativo para ela, no que seja a contragosto, ela gosta de contar histrias, no entanto para Dona Mocinha, como chamada pelas pessoas da regio, parece que acessar a memria como a rotina do jangadeiro que percorre diversos canais e pequenas fissuras de igaraps ao longo do rio Oiapoque. Em um de seus vrios momentos de silncio e introspeco, uma de suas familiares a indaga: a senhora t tentando lembrar de mais alguma coisa n...o que mais a senhora tem pra falar, Dona Moa? E ela responde: t tentando lembrar...

Tenho 97 anos. Feliz aquele que chega na minha idade. Eu no caduco, eu no falo besteira, eu no brigo com ningum, eu no tenho raiva de ningum. Todo mundo meu amigochegou na minha casa eu recebo.

O meu pai ele era rio-grandense e minha me cearense. Vieram pra c porque tinham que se mudar de lugar. No sei porque vieram pra c pois eu era muito criana, no me lembro mais de nada.

Eu era muito criana quando vim pra c, fui crescendo assim...Tinha muita brincadeira, muita festa. Ah mas eu danava

Antes dos militares chegarem aqui era muito animado. O primeiro comandante que comandou aqui, sabe quem foi? Foi o capital Januar. Passou uns trs meses com ele aqui, a foi que veio o primeiro soldado, preto que era como um carvo. A o Januar foi viajar, ele foi embora e nessa viagem dele o avio caiu. A ele morreu.

Era muito legal o capito Januar. Ele tinha um salo, ali onde mora o Herminio, tinha um salo l que era de dana. Em um dia de sbado assim ele saia juntando as meninas pra ir danar l.

Eu ainda dancei com ele, com o Januar. Eu danava muito. Ah...eu j brinquei muito. Eu gozei minha mocidade. Me casei com 18 anos.

Meu marido tambm era daqui. Faz 30 anos que ele morreu...A eu no quis saber de arrumar ningum. Fiquei sozinha, no encosto dos meus filhos, da minha famlia.

Meu marido trabalhava na misso francesaquando ele morreu ele tava trabalhando. Trabalhava nessas casa que tem a do lado de l do rioquando morreu ele tava l.

Eu no trabalhava s em casa no, eu trabalhava pra fora. Eu capinava, limpava tudo, cuidava da casa. Eu lavava roupa pra fora, eu acabei de criar meus filho tudo com lavagem.

Ah mas quando eu era nova eu gostava mesmo era de danar um Cassic. L em So Jorge. Ns amos pra So Jorge e brincava era muito. Ns a muito pra So Jorge. Ns passava semana em So Jorge. Mas naquele tempo no tinha esse negcio deagora deus me livrequalquer coisinha to prendendo.

A gente brincava muito...Antes dos militares chegarem. Tinha muita festa, tinha o Cassino aqui. Mas j tem muito tempo que eles derrubaram o Cassino. No me lembro nem onde que Acabaram com tudo a.

Poucas foram as pessoas que conversamos na regio do Oiapoque que, quando questionado sobre a histria da regio, citaram a existncia de uma colnia penal. J havamos sido advertidos que esse era um assunto caro aos descendentes do local. Desde o incio da viagem decidimos no centralizar nossas preocupaes na colnia penal em si; caso o assunto surgisse seria por iniciativa dos moradores locais. Nosso intuito era conhecer de fato a regio, as pessoas que a habitam, a realidade local, os entraves polticos; no apenas o passado mas principalmente o presente. Conhecer as localidades que tinhamos registros de fuga de presos, de cemitrios clandestinos; e captar o mximo possvel de impresses e materiais sonoros, audiovisuais, imagticos, objetos, relatos e experincias; desenvolver afeto com o lugar e com as pessoas e coisas que o habitam.

difcil localizar historicamente de maneira exata as situaes relatadas por Dona Mocinha. O mais claro que seus pais devem ter sido retirantes do nordeste brasileiro que embarcaram na propaganda governamental de auxlio e incentivo para interessados em participar da construo do Nucleo Colonial Cleveland as margens do rio Oiapoque. O rio Oiapoque apenas foi reconhecido como linha divisria entre Brasil e Frana em 1900. At ento os conflitos entre os dois pases na regio eram cclicos pois a Frana exigia quase um tero do atual territrio do Amap, inmeros foram os massacres de vilas e famlias inteiras ora pelos franceses e ora pelos brasileiros. Uma corte internacional julgou o caso e deu ganho ao Brasil, e o nome Clevelndia foi em homenagem ao ex-Presidente dos EUA, Groover Cleveland, que havia dado ganho de causa ao Brasil em disputa territorial com a Argentina no incio do sculo XX.

A me de Dona Moinha era cearense e veio para a regio do Oiapoque acreditando na boa terra prometida para a famlia (observa-se a recorrncia do mito do Eldorado, que, dezenas de anos depois ludibriou Sebastio Maia a tambm ir para o Oiapoque). Cearense tambm era Pedro Motta, que, junto com centenas de presidirios e contigente de forca legais, mudou por completo a rotina da pequena vila, talvez tenha sido quando, para Dona Moa, as festas acabaram.

Como lembra o ex-colono Roque Pennafort, o desembarque dos primeiros presos deportados provocou um alvoroo na pacata Clevelndia, uma vez que, a data precisa da sua chegada no era de conhecimento nem mesmo do diretor da colnia. Com a transformao de ncleo agrcola em colnia penal, todos os funcionrios e populao em geral foram obrigados a se aglutinarem nas dependncias da Administrao e em casas particulares para dar lugar aos presos. A escola, o hospital, uma hospedaria que foi construda imediatamente etc., passaram a servir de alojamentos. E depois, at pela colnia penal foram distribudos elementos. Ns mesmos, em nossa casa no Siparany, alojamos dois elementos dos chegados na terceira turma.(...)

O ex-presidirio anarquista Domingos Passos relata a existncia de uma hierarquia entre os desterrados instituda pela guarnio militar, na qual, determinados presidirios, seja pela origem militar ou pelo potencial de crueldade, recebiam a funo de vigiar e punir determinados grupos de presos. O anarquista narra uma histria de espancamento entre um presidirio autorizado a vigiar os outros presos contra um velho pedreiro, apelidado de construtor: estando em trabalho, o velho pedreiro, para aproveitar a massa que havia preparado, demorou-se um pouco mais a chegar para refeio. Foi o quanto bastou para que o coronel Bahia lhe vibrasse violenta bofetada arrancando-lhe um dente, do que resultou forte hemorragia. Aps o ocorrido, o tambm presidirio, Antnio Salgado, operrio do movimento sindicalista, posto a ferros por protestar contra o espancamento do companheiro.

Setembro de 1925, j a mais de um ano desterrado em uma regio que nem sequer nomeada nas geographias, Domingos Braz, militante anarquista do crculo d`A Plebe envia uma carta para os companheiros de So Paulo relatando as misrias que ele tem passado e a situao dos outros anarquistas, isolados do mundo e das coisas.

O Oyapock, regio menos vasta e de clima diametralmente opposto ao da Siberia, insalubre, inhospito e mortifero - est situado em meio s mattas seculares entre o norte do Brasil e as Guyanas. uma regio que nem sequer nomeada nas geographias. Entretanto, foi a escolhida pelos tyrannos destas basilicas paragens para o sepulcro infame e odioso dos arroubos generosos e altivos do povo brasileiro. Esta, como aquella, tambem caminha para a celebridade, passando nossa historia como um ponto negro, escuro, hediondo, tenebroso, inapagavel...

Jazem, deportados nestas plagas sombrias e tristes, embrenhados nas selvas como feras, na mais intensa angustia, na solido mais horrivel, soffrendo os maiores horrores, passando por incriveis martyrios, curtindo as mais duras necessidades, a mais desbragada miseria economica e moral, sem recursos de especie alguma, isolados do mundo e das coisas, da familia e da sociedade, longe da civilizao, dezenas e dezenas de infelizes soldados e marinheiros expiando o crime de terem obedecido cegamente as ordens dos seus superiores hierrchicos (como ordena a ferrea disciplina militar) que se revoltaram contra o actual governo; desgraados mendigos pela infamia (!) de serem velhinhos, inutilizados, repellidos e escarnecidos pela sociedade, porque aqui no ha asylos que os acolham; innumeros filhos do povo confundidos entre vagabundo - productos hibridos do regimem social contemporaneo - pelo inconcebivel delicto de no terem recursos para comprar a sua liberdade aos agentes que prendeream ; e varios syndicalistas e anarchistas - operarios e intellectuaes - por amarem e propagarem e amarem seu ideal Amor, Paz, Liberdade e Harmonia, crime que todos os governos no perdoam.

De aproximadamente mil deportados resta, mais ou menos, metade. Insignificantissima a percentagem proporcional dos que conseguiram sahir deste inferno, comparada com a dos que morreram. Os fallecimentos diarios variam entre dois, tres, quatro e at oito.

Estando o paiz em regimem de guerrilhas que irrompem ora aqui, ora acol; perpetuando-se o estado de sitio, a censura na imprensa e na correspondencia postal; sem recursos; por assim dizer, incommunicaveis, estando as agremiaes operarias e libertarias guardadas pela policia; no nos sendo concedido o direito da imprensa, da mais simples defeza, em virtude da reaco desencadeada barbaramente contra todos aquelles que, mais ou menos, desassombradamente no vacilam em manifestar publica e francamente suas ansias de independencia, erguendo altiva e heroicamente seu protesto contra os desvios, os desmazelos e desmandos, que venham ferir a Liberdade, a Razo e a Justia, estaremos condenados morte, se uma fora estranha, porm, amiga e irm, no de todos os coraes generosos e libertrios. Se os homens de alma nobre, de bom senso no se decidirem a prestar seu apoio moral e material em prol da nossa liberdade, pereceremos fatalmente. Companheiros do Ideal! Vs que tendes paes, esposas, filhos, irmos, noivas e amigos queridos! Vinde at ns! Volvei vossas vistas para os horrores do Oyapock! Nesta regio mortifera moribundam camaradas que como vs tambem tm paes, esposas, filhos, irmos, noivas e amigos queridos! Trabalhemos pela sua liberdade, pela reintegrao aos seus lares saudosos ao seio dos seus estremosos amigos.

Desempara-los concorrer para o triumpho da prepotencia governamental empenhada em aniquilar os idealistas; auxilia-los concorrer para mais uma victoria da solidariedade internacional!

(...)

So as indefesas victimas dum regimem injusto e prepotente que, beira do tumulo, appellam para os vossos bons sentimentos de humanidade.

Que um protesto unisono faa tremer novamente a burguesia como nos casos Sacco e Vanzetti, Nicolau e Matheu e tantos outros antigos e recentes que constituem as glorias da solidariedade internacional.

Oyapock, Setembro 1925.

Alguns meses aps a redao da carta, Domingos Braz, Pedro Motta e os anarquistas que restavam na colnia fugiram para a Guiana Francesa em dezembro de 1925. Dois dias depois estavam em Saint George, na margem francesa do rio Oiapoque. Dias depois o militante Manuel Ferreira Gomes envia nova carta para os camaradas de So Paulo, na qual lista os anarquistas que haviam tido xito na fuga.

A doze do corrente conseguimos fugir da Clevelandia e aportamos em Sait George, uma povoao franceza, margem do Rio Oyapock.

verdade que daqui tambem difficil sahir e quasi impossivel a vida, por falta de trabalho; porm, livramo-nos das humilhaes e tyrannias de que eramos victimas em Clevelandia. Daqui a unica sahida por Cayenne. Para ir Cayenne preciso passaporte. Est nisto toda a dificuldade.

Os camaradas que aqui se acham so os seguintes: Jos Baptista da Silva, pernambuco, 36 annos, pedreiro; Thomaz Deslitz Borche, Uruguay, 29 annos, empregado do commercio; Pedro Augusto Motta, Cear, 31 annos, typographo; Domingos Braz, Italia, 22 annos, professor; Manuel Ferreira Gomes, portuguez, 39 annos, pedreiro.

Algumas semanas depois Pedro Motta envia notcias sobre as dificuldade que os anarquistas tem passado na Guiana Francesa. Na mesma carta, Motta revela que alguns companheiros, entre eles Varella, haviam falecido na colnia penal.

Os camaradas Varella, Nino Martins, Paradas e Jos Nascimento, como deveis saber, j so fallecidos.

Aqui chegados, tratmos de procurar trabalho; todavia no tem sido facil, a no ser quando chega algum barco com descarregamento e carregamento de mercadoria ou algum navio. Logo aps os primeiros dias que aqui chegmos, apresentou-se-nos opportunidade de nos transportar a Belm. Aconteceu, porm, que nos faltou adquirir uma canoa que nos conduzisse at um ponto alm do porto de Diamantina, onde so revistadas todas as embarcaes brasileiras. Conforme conversao com os proprietarios do barco conseguimos saber que no proximo fim de janeiro elles estaro de volta e se disseram promptos para nos conduzir a Belm, uma vez que facilitemos o transporte ao ponto acima referido.

A partir desta ltima carta o destino dos sobreviventes foi diverso. Domingos Braz conseguiu embarcar para Belm e chegou com sade. O cearense Pedro Motta, militante histrico e diretor do jornal A Plebe, faleceu em Saint George no dia 12 de Janeiro, devido falta de medicamentos e de alimentao, como outros tm fallecido.

A ltima notcia sobre o operrio Antonio Salgado da Cunha, foi que o mesmo baixou ao hospital da Goyanna em misero estado, com os ps quasi podres de bichos, frieiras e outras molestias proprias daqui.

Restaram ento apenas trs camaradas na Guiana Francesa e no houve mais notcias deles: o pedreiro Jos Baptista da Silva, o uruguaio Thomaz Borche e Manoel Ferreira Gomes.

Janeiro de 1927, s oito da manh o Baependy atraca na Baa da Guanabara trazendo os ex-prisioneiros, sobreviventes da Colnia Penal de Clevelndia do Norte. Toda a curiosidade da reportagem carioca est voltada para a carga humana daquele pesado barco.

Os 77 desterrados da Clevelandia que vinham no Baependy viajavam na pra. A impresso daquella pequena multido de infelizes era de chocar, desde o primeiro momento. Quasi todos eram pobres homens, na sua maioria de S. Paulo. Na sua quasi totalidade vinham victimados pelo impaludismo. Apresentavam physionomia triste, alguns ainda de pernas inchadas, em estado de miseria e privaes que resaltavam aos olhos mesmo de desprevenidos. Alguem que conhece aspectos das desgraas do nordeste, no teria duvida em julgar-se deante de uma turma infeliz de retirantes. O amarello, caracteristico dos impalludados, marcava tragicamente a physionomia de todos.

O aspecto que offerecia aquella enervante carga humana de Baependy valia, como nenhum artigo de pamphletario, como uma accusao inesquecvel dos crimes brutaes da administrao que provocou voluptuosamente aquelle infortunio de pobres figuras de cidados brasileiros! No seria preciso falar com os infelizes deportados para julgar no inferno que padeceram, l na Clevelandia, emquanto eram sacrigicados ao odio do homem que simulava encarnar a ordem legal, governando sem leis, fora dellas, portanto, num ambiente de violencias e crimes inconcebiveis.

No seio daquela pequena multido de infelizes estava o velho espanhol Joaquim Maria. Foi ali parar sem saber porque. No anno do Centenrio, deixara a famlia em S. Paulo, e viera trabalhar na Exposio. Depois, empregou-se nas obras do Prado da Gavea. Certo dia, em 1924, lembrou-se de vir cidade. Chegou at a Avenida Passos, e ali uma turma de investigadores o deteve. Dentro em pouco, se via embarcado para a Clevelandia, como preso do sitio. Elle mesmo no atinava com o que se passava.

A sua estadia na Clevelandia foi um inferno. Impuzeram-lhe a misso de coveiro, dirigindo uma turma de 28 homens. Quando ali chegou, havia somente no cemitrio local trinta e poucas sepulturas. E, agora, quando deixou aquele posto de tortura, contava mais de 500 covas. O pobre espanhol dizia que o mais rude era ter de enterrar os proprios companheiros.

Confessava-se, agora, aliviado, como se sentisse, de momento, num pais de fadas, depois de ter convivido, smente, com cadaveres. E declara que jmais pensou ter de assistir a to alucinantes scenas!

Fevereiro de 2003, so cada vez mais rotineiras as ocorrncias de morte na regio do Oiapoque como consequncia dos conflitos e molstias prprios do garimpo. Sebastio Maia secretrio de obras da prefeitura do Oiapoque. Desde 1990 que o maranhense Maia funcionrio da prefeitura, aps viver 24 anos como garimpeiro, motivo pelo qual emigrou para o Amap em 1976. Abandonou a famlia devido a situaes em que o prprio garimpo acarreta no garimpeiro. Muitas pessoas no voltam a suas residncias e no vem mais seus entes queridos. Enquanto a me fica no tero pedindo a nossa senhora que traga seu filho de volta, muitas vezes ele est enterrado. O problema de mortalidade no municpio se encontra em estado crtico e o pessoal comeou a trazer os defuntos, assaltantes, mortos a de qualquer jeito, e a jogar eles ali na frente do cemitrio e deixar o corpo apodrecendo.

Passaram a ficar aqueles corpos ali em estado de putrefao, apodrecendo na porta do cemitrio. O cemitrio no centro da cidade ento toda a populao comeou a ficar incomodada com o mal-cheiro. A eu tomei pra mim essa briga. Comecei a cuidar dessas pessoas, que estavam em estado de decomposio mesmo. Passei a trabalhar com a policia tcnica e comigo mesmo, onde eu juntei muitas pessoas falecidas, muitos documentos. Onde chorei com eles ali, ver aqueles documentos, que na verdade eram todos meus conterrneos, meus patrcios n, pois era a maioria maranhense, nordestino e poucos l do sul, do sudeste. Ento eu convive com todos eles e eu tenho essa experincia dentro dessa situao de cadver e pessoas nesse estado.

O espanhol Joaquim Maria e o maranhense Sebastio Maia no eram coveiros de profisso, o primeiro era sapateiro e o segundo j foi ou continua sendo: artista plstico, garimpeiro, funcionrio pblico, juiz de comarca e pintor de faixas. Foram para o Oiapoque em situaes distintas, Joaquim sabia que o que lhe esperava era o inferno verde, e Maia no sabia o que lhe esperava, mas sonhava com o Eldorado. Tambm por razes diferentes tiveram que assumir a funo de coveiro, mas uma impresso que atravessou os dois relatos foi o sentimento de que o mais doloroso era ter de enterrar os proprios companheiros.

Em uma outra histria, antiga e distante, passada no sculo VI a.c, o poeta grego Simnides de Ceos, tido como o inventor da mnemotcnica protagonista de um episdio no qual evidencia-se, desde a antiguidade, a importncia de se ter piedade com os mortos, e no fundo disso que se trata a maioria desses relatos. Simnides de Ceos viajava por uma estrada em direo a uma cidade litornea, onde embarcaria em um navio para chegar a seu destino. No decorrer da viagem o poeta encontra um defunto na estrada e ento interrompe a caminhada para enterrar o corpo. Terminado os ritos fnebres, ele retoma seu percurso e chega a cidade na qual embarcaria em um navio no dia seguinte. Durante a noite, o poeta sonha com a pessoa que havia enterrado na estrada, e alertado por ele a no embarcar no navio e postergar um pouco sua viagem. Simnides de Ceos acata a recomendao feita pelo morto desconhecido e depois recebe a notcia de que o navio que ele iria embarcar veio a naufragar. O Baependy, navio que Joaquim Maria embarcou de volta da experincia traumtica em Clevelndia do Norte no naugrafou, e o espanhol foi dos poucos a retornar, aliviado, da colnia penal.

No retornou do Inferno Verde o menino Adhemar da Silva Reis, cujo o pai o Sr. Jos Pires de Alcantara e suas filhas Leonor e Aldayr foram para a Baa de Guanabara para acompanhar a chegada do Baependy na esperana de encontrar o filho, que fora deportado para Clevelndia em 1924 com 14 anos. Como relata a reportagem do Correio da Manh, ouviu-se um grito, era um pobre velho acompanhado de duas meninas que perguntava por algum. Um dos deportados informou: - Elle morreu, e na companhia de um amigo! O velhinho baixou os olhos tristes, e as duas meninas choraram.

Outubro de 2014, estamos em uma pequena sala administrativa da Prefeitura Municipal de Oiapoque. Uma sala pequena, entulhada, sem janelas e com um pequeno e trmulo ventilador que atrapalhava a captao de udio. A sala do Maia era ampla, tinha ar condicionado e assessores para auxiliar na procura dos documentos que procurvamos. No entanto, Sebastio Maia, no queria que outros escutassem o que ele tinha pra ns dizer. O Ricardo, sobrinho do Pinduca (nosso pirata) j havia comentado sobre o Maia, que ele tinha coisas para contar, mas que no entanto s possvel encontr-lo quando o mesmo chega na prefeitura, depois ele some. Falou da nossa presena na cidade para ele, que teria ficado interessado em algo. Um dia o Ricardo apareceu s 6 horas da manh na porta do hotel e nos levou at o Maia.

No fim do dia que comeou com o encontro com o Maia, eu enviei o seguinte e-mail:

Ei Nina,

hoje foi mais um dia que nos surpreendemos com as pessoas que conversamos, no vou nem escrever muito pois quero te contar, mostrar as gravaes de udio, fotos e etc...mas bem cedinho fomos na prefeitura conversar com o Maia, o secretario de obras pblicas do Oiapoque, um maranhense com seus 60 pra 70 anos...saiu do Maranho e foi estudar belas artes em alguma faculdade de So Paulo (esqueci de nome)...era 1972...ele fazia pinturas que, segundo ele, eram espcies de colagens de ideias, sentimentos e impresses que sugeriam uma revolta contra a opresso, ditadura, a sociedade de consumo e etc, mas ele disse que no tinha isso como uma inteno clara, que no tinha uma formao poltica e etc que apenas pintava o que ele estava sentindo...e a, chegou a ganhar prmio de jovem artista e tal, mas comeou a ser alertado pelos professores e amigos que se ele continuasse pintando aquelas coisas ia ser preso....da ele percebeu isso, ficou puto e resolveu fazer um trabalho chamado "autofagia", fez uma exposio de 1 dia com todas suas pinturas, levou elas pra casa, rasgou e queimou todas as telas!!

.depois disso voltou pro Maranho e veio pro Oiapoque em 1978 trabalhar no garimpo...depois virou juiz de comarca e hoje secretario de obras publicas...isso s o pano de fundo....cada coisa que esse cara contou...e no final nina...ele pediu pra nos aproximarmos e falou uma coisa bem baixinho, estou te mandando em anexo esse pequeno trechinho da gravao com a ltima coisa que ele nos disse. Foi uma conversa que me emocionou muito....

Fomos na parquia novamente e achamos guardada uma pintura, tipo mural, incrvel! Parece algo ligado a Teologia da Libertao, te envio fotos em anexo...conversamos ainda com o Santana, sargento aposentado que serviu em Clevelndia, ele nos passou umas filmagens dos anos de 1920, do Marechal Rondon visitando a colnia.

Ainda fomos pra Clevelndia de barco novamente, depois fomos pro meio da floresta no lado francs, um lugar chamado Buraco Frio, que parece que foi um esconderijo temporrio de alguns presos fugitivos...hoje em dia, em todos os domingos os jangadeiros e catraqueiros fazem piquenique l...o Joo, que tem levado a gente pros lugares queria que fossemos com ele nesse domingo mas vai ser eleio e no vai ter o piquenique, eles vo ter que trabalhar trazendo os brasileiros que moram do outro lado pra vir votar.

Te envio tambm uma lembrancinha daqui...uma pequena gravao do som da gua do rio Oiapoque...

Muitos beijos!

R.

O criao da colnia penal de Clevelndia do Norte um episdio pouco retratado da histria brasileira e durante todo o processo, seja de pesquisa em arquivos pblicos e em documentos histricos; na busca de relatos, registros, imagens; no deslocamento para a regio; no contato com os moradores e descendentes da regio, experenciamos a impossibilidade de acesso a uma srie de possveis registros e a prpria imaterialidade do que restou do episdio.

Nosso contato com essa histria adveio por acaso, a partir de outras pesquisas realizadas no Arquivo Pblico Mineiro, que, por ser detentor do fundo Arthur Bernardes possua algumas fotografias, quase sem identificao, de Clevelndia do Norte. Entre essas imagens destaca-se uma coroa de flores registrada na ocasio do enterro do ex-Presidente Bernardes j nos anos 1950 com a seguinte mensagem: os sobreviventes da Clevelndia pedem perdo por terem se insurgido contra um governo to honesto e um Presidente to digno.

Uma concluso para o emaranhado de tempos, vivncias e relaes estabelecidos aqui no poderia ser essa coroa de flores, por mais que a existncia da mesma possa ser a maior evidncia dos crimes cometidos pelo Estado brasileiro no episdio de Clevelndia. como a fotografia do suposto suicdio de Vladimir Herzog na ditadura militar de 1964-1986, ou seja, o atestado do crime de Estado.

De outra forma, as ltimas consideraes feitas por Sebastio Maia na conversa que tivemos na prefeitura do Oiapoque me elucidaram para o sentido dos encontros e das relaes que se construram.

Vocs acham que esto levando alguma coisa de mim, no entanto, nesse momento que eu passei com vocs, eu espaireci o tempo. Eu extravasei alguma coisa...brinquei, declamei algumas poesias, falei de coisas que eu tenho na minha vivncia. Mas isso como se fosse um desabafo.

uma forma de dizer assim: ei, eu existo....n?...ei, eu t aqui.

Extrado de pea literria de Gonalo M. Tavares sobre Nelson Rodrigues, contida na obra Biblioteca.

Com co-autoria de Lusa Horta, o projeto recebeu o Prmio Honra ao Mrito Arte e Patrimnio 2013 pelo Iphan/Pao Imperial (RJ). Uma primeira montagem da instalao foi apresentada na Casa da Baronesa (Ouro preto) em novembro de 2014 e est previsto uma segunda montagem no Pao das Artes (SP) em julho de 2015 atravs da Temporada de Projetos 2015.

Clevelndia do Norte, municpio de Oiapoque (AP/Brasil).

Carta publicada no jornal A Plebe, So Paulo/SP, Ano XI, N 245, 12 de fevereiro de 1927.

Idem

Alexandre Samis.

Em recente pesquisa realizada acerca do acervo histrico do jornal Estado de S. Paulo, o jornalista Rodrigo Burgarelli compilou as palavras mais utilizadas pelo perodo desde sua fundao em 1875 at os dias atuais. No referente s primeiras dcadas do sculo XX:, relatou-se o seguinte: com o aumento vertiginoso da produo e exportao de caf, vrios termos relativos ao tema ganharam destaque. Saccas, na poca grafada com duplo c, est entre as dez mais escritas dos anos 1910, assim como Santos, cidade por onde a maior parte da produo era exportada. http://infograficos.estadao.com.br/public/especiais/estadao-140-anos/historico.html#linguagem. Acesso em: 21/01/2015.

Processo contnuo pois oriundo do Brasil escravista, no qual, as desclassificaes sociais produziram continuamente milhares de pessoas marginalizadas, mal vistas pelas elites senhoriais e autoridades governamentais. (MARTINS, 2014.)

MARTINS, 2014

O abolicionismo penal emerge na dcada de 1970 para redimensionar a crtica s prticas penais. Congrega em seu interior pensadores de diferentes vertentes que negam a realidade ontolgica do crime e o consideram como ferramenta criada para atender interesses particulares e sustentar o sistema de justia vigente. (AGUIAR E SALLES, 2011. pg 9-10)

O debate sobre a existncia da Colnia Penal de Clevelndia do Norte s foi realizado pela imprensa apenas aps a extino da colnia e do mandato do ento Presidente Arthur Bernardes (1922-1926) que havia decretado estado de stio e promovido a censura imprensa.

MACHADO DE BRITO, 20XX pg xx

Tambm designada como Revolta Paulista de 1924 ou Revolta do Isidoro, foi o maior conflito blico ocorrido na cidade de so paulo, ocupando a cidade por 23 dias. Os militares levantaram-se em armas insatisfeitos com a situao poltica e social do pas, exigindo a sada do presidente Arthur Bernardes e convocando outros setores do exrcito e da fora pblica a assumir o comando da cidade, apostando no alastramento do levante em outras partes do pas. Para aprofundamento:

Memrias de Pedro Catallo: apud RODRIGUES, Edgar. Os Companheiros 5. Florianpolis: Insular,

1998, pp. 42-3.

Documento escrito pelos militares revoltosos e transcrito em: A Plebe, So Paulo/SP, Ano VII, N 244, 25 de julho

1924..

Uma moo de militantes operarios ao Comit das Foras Revolucionarias. A Plebe, So Paulo/SP, Ano VII, N 244, 25 de julho 1924.

ROMANI, Carlo. A revolta de 1924 em So Paulo: uma histria malcontada.In: ADDOR, Carlos Augusto e DEMINICIS, Rafael Borges (Organizadores).

Segundo relato do sapateiro anarquista Pedro Catallo, contido em:

Varella no havia assinado a moo, no entanto era colaborador corrente d`a Plebe e foi detido no mesmo contexto.

A partir do endurecimento da represso, o destino dos outros camaradas que puseram seus nomes na moo variado. O engomador Pasqual Martinez e o sapateiro Joo Peres, tambm signatrios da moo, foram outros que, como Motta e Martins, no conseguiram escapar. Na tentativa de fuga foram capturados e presos em So Paulo, detidos inicialmente na cadeia da Rua dos Gusmes e depois enviados para o presdio do Paraso, sendo libertados antes do fim de 1924. Um dos militantes, o vidreiro Belmiro Jacinto, conseguiu fugir para o interior de So Paulo e no foi mais localizado pela polcia. O sapateiro Antonio Domingues conseguiu um esconderijo na capital, driblando a vigilncia da polcia por certo tempo. Em fevereiro de 1925, fugiu para o Rio de Janeiro e passou dois meses por l. Retornando a So Paulo, foi detido, tendo que desembolsar a quantia de 700 mil ris de fiana para ser libertado. Saindo da priso, dirigiu-se para Guaratinguet, lugar de onde manteve correspondncia com o diretor dA Plebe, Rodolpho Felippe, que tambm havia fugido de So Paulo. Felippe, por sua vez, refugiou-se em outro estado, na cidade de Cambu, no interior de Minas Gerais. Esses so apenas os militantes de que se tem notcia, por terem sido fichados e registrados em pronturios da polcia. Quanto aos outros, no se tem informaes sobre o paradeiro. (PEREIRA BRAGA, 2013)

ROMANI, 2011.

Jornal carioca A Nao, publicado em 05 de janeiro de 1927.

Numa matria publicada dia 12 de janeiro de 1927, jornal O Combate apresenta o depoimento de 'um distinto moo paulista' ex presidirio de Clevelndia do Norte, que no se identificou, na qual narra a trajetria, desde a priso em Catanduvas at os ltimos dias no presdio. (MACHADO DE BRITO, 2008).

PEREIRA BRAGA, 2013.

ROMANI, 2011 (pg 505).

Os convidados principais eram: Coronel Julio Benito Pontes, intendente municipal da Montenegro; Jos Ferreira Noronha, representante da Amazon River; Augusto de Moura Palha Jr., representante de A Provncia do Par e que era tambm funcionrio da colnia; Feliciano Mendona, de O Estado do Par e chefe da Comisso de Profilaxia Rural do Par; Deocleciano Coelho de Souza, Delegado Fiscal da Fazenda do Par; Federico Schimdt, do Clube de Engenharia do Par; Joo de Palma Muniz, chefe da 3* Seo das Obras Pblicas; Antonio Mazzini, do Instituto Histrico e Geogrfico do Par. (Romani, 2011. pg 506).

Cidade localizada na margem francesa do rio Oiapoque.

ROMANI, 2011. pg 506.

Oiapoque o municpio no qual est localizada a antiga colnia agrcola/penal, atual base militar de Clevelndia do Norte.

https://www.youtube.com/results?search_query=BR+156

Relato colhido por Lusa Horta e Ricardo Burgarelli em outubro de 2014 na BR-156.

Idem

O Movimento Bandeirante se apresentava como uma proposta de educao pioneira, por acreditar na importncia da mulher em assumir um papel mais atuante nas mudanas da sociedade. Mais informaes: http://www.bandeirantes.org.br/index.php/historico/

Segundo Ruy Guarany Neves, autor do livro A histria da BR-156: eu tinha 15 anos e morava na fronteira onde nasci, quando chegou ao Oiapoque, o governador do Territrio do Amap, Cap. Janary Gentil Nunes, para anunciar a criao do Municpio do Oiapoque e participar da cerimnia de posse do primeiro prefeito. Em seu discurso, Janary Nunes, anunciou as providencias que o governo estava tomando, para a construo de uma estrada que ligasse Macap Clevelndia. Muito aplaudido pela populao, que contava apenas com o transporte martimo para se deslocar a Oiapoque, o governador deu conhecimento, do arrojado projeto, j em execuo, com o primeiro trecho, partindo de Macap a Porto Grande, cujos servios de terraplanagem, foram concludos em 1948. Contando com o apoio federal, o governo conseguiu levar a estrada at Ferreira Gomes, o que foi feito em curto espao de tempo. Decidido a levar em frente o projeto, considerado de grande importncia para o Territrio, j que a sonhada rodovia fora projetada para passar pela regio do Loureno e dali prosseguindo rumo ao Oiapoque, aproveitando as terras frteis existentes na regio do Cassipor, onde Janary planejava instalar um mega projeto agrcola, Antes de deixar o governo do Territrio, para assumir a presidncia da Petrobrs, em 1956, o dinmico governador, viu parte do seu sonho realizado, com a rodovia, at ento denominada de BR-15, atingir a vila do Loureno, que, logo recebeu melhoramentos, com a instalao de uma escola, comissariado de polcia e estao radiotelegrfica. Com a sada de Janary, do governo, a rodovia sofreu uma paralisao, permitindo o trfego at a cidade de Caloene, tornando intrafegvel, o trecho at Loureno. Ao assumir o governo do Territrio, em 1964, o governador Luiz Mendes da Silva, deu prosseguimento s obras da rodovia, j com a denominao de BR156, restaurando o trecho at Loureno. Coube ao governador Ivanho Martins, alavancar os servios da BR156, contratando a empreiteira paraense CONTERPA, que realizou o servio de terraplanagem do trecho Caloene Loureno. Paralelamente, prosseguia os servios de desmatamento, a partir de Loureno, a cargo da construtora Carmo Ltda., que, em 1970, completou a ligao at a cidade do Oiapoque. O primeiro carro a chegar cidade do Oiapoque, era dirigido por Amaury Farias, na poca, fiscal do Servio de Estrada, do governo. Muito embora, ainda considerada como caminho de servio, entre Loureno e Oiapoque, o sonho de Janary Nunes, se realizara. Com a nomeao do Comandante Annibal Barcellos para o governo do Amap, a obra comeou a ganhar pavimentao asfltica no trecho Macap/Ferreira Gomes, com 150 quilometros de estrada, em seguida, o governador Joo Alberto Capiberibe, que ficou oito anos no mandato pavimentou apenas 60 quilometros, de Ferreira Gomes at a localidade de Tracajatuba. J o governador Waldez Ges, foi o que mais avanou a pavimentao da BR-156, 200 quilometros at o municpio de Caloene, em compensao foi o que teve mais problemas nas licitaes. Mesmo assim, ainda faltam ser pavimentados 290 quilometros da rodovia. Extrado em fevereiro de 2015 do stio: HYPERLINK "http://www.aquiamapa.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=842:br-156-a-obra-mais-antiga-do-brasil&catid=40:geral&Itemid=60"http://www.aquiamapa.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=842:br-156-a-obra-mais-antiga-do-brasil&catid=40:geral&Itemid=60

Saint Georges. Cidade localizada na margem francesa do rio Oiapoque.

Relato colhido por Lusa Horta e Ricardo Burgarelli na residncia de Dona Moa em outubro de 2014 em Clevelndia do Norte. A transcrio no integral e a ordem do depoimento foi alterada.

nota

ROMANI, heterotopias.

Idem.

Domingos Passos foi um dos ldeires do anarquismo na dcada de 1920. Era carpinteiro, sindicalista e autodidata. Aps fugir de Clevelndia, foi preso novamente na priso do Cambuci em So Paulo. (SAMIS; 2000:218-219).

Coronel Bahia, Za-la-mort, Rio Grande e Pandeirinho eram alguns dos presos autorizados a espancar outros presidirios, segundo relato de Domingos Passos.

MACHADO DE BRITO

A Plebe edio x

Idem

Idem.

A Plebe edio....

A Plebe edio...

Segundo a edio n. 9.808 do jornal Correio da Manh (rj) publicado no dia 8 de janeiro de 1927, os setenta e sete presos que voltaram de Clevelndia do Norte no navio Baependy foram: Francisco Tricolaci, Antonio Gomes, Jos Falco, Matheus Felix de Moura, Eugenio Romeiro, Sebastio Candido da Silva, Andr Murillo Fernandes, Antonio Ephygenio Alves, Joo Brinatti, Severino Jos de Moura, Jos Martins, Raymundo Nonato Pereira da Silva, Belarmino Moreira da Cruz, Alexandre Diniz da Cruz, Raphael Lopes, Elpidio Alves, Jos Grillo, Joo Vicente, Gustavo Monascco, Alvaro Campos Salles, Jos Ribeiro Sant`Anna, Francisco Raul, Jos de Souza, Eurico de Aracy, Joo Rosa Pavo (desembarcou em Mranho), Antonio Rodrigues, Sebastio Barboza Aranha, Orlando Xavier da Silva, Francisco Guedes Bezerra, Anastacio Florencio Pernambuco, Solon Lopes da Silva, Alfredo da Costa Felizardo, Joo da Silva, Joo Oliveira, Arthur Januario, Alberto de Oliveira, Miguel Alberto, Waldomiro Paz, Manoel Rosa, Jos Marques de Souza, Raphael Alves, Antonio Luiz Francisco, Jos Agostinho, Miguel Felippe da Silva, Jos Pires, Ludovico Fernandes, Fernando de Albuquerque Pinheiro, Jos Mario Ribeiro, Benedicto Carvalho da Silva, Sebastio Tavares, Sebastio Benedicto, Joaquim Carolino, Jos Hemeterio, Adriano Augusto, Alceu Abrilino da Costa, Getulio Estevo, Joo Gonalves Filho, Antonio Estacio, Joo Andrade da Silva, Manoel de Souza, Pedro Jos Coutinho, Eduardo Esteves Ferreira, Jos Pedro da Silva, Benedicto Ramos, Joo Antonio de Moura, Roque da Silva Luna, Julio de Paiva Campos, Maximino Gonalves, Benedicto Florindo de Almeida, Joaquim VIctor da Silva, Joo Maria, Rosalino Fogaa, Joo Mandanesi e Bento Toledo Rodrigues.

Edio n. 9.808 do jornal Correio da Manh (rj) publicado no dia 8 de janeiro de 1927

Idem.

Relato de Sebastio Maia colhido por Lusa Horta e Ricardo Burgarelli em outubro de 2014, na prefeitura do municpio do Oiapoque (AP).

Idem.

Idem.

Inferno Verde um dos nomes com o qual a imprensa oposicionista se referia a Colnia Penal de Clevelndia do Norte.

Tcnica de estimulao da memria.

Livro Arte da memria.

Aliviado como afirmou para a reportagem do jornal Correio da Manh.

Edio n. 9.808 do jornal Correio da Manh (rj) publicado no dia 8 de janeiro de 1927.

E-mail enviado pelo autor para Nina Aragn no dia 02/10/2014 no Oiapoque (AP). A gravao do som da gua do rio Oiapoque descrita no e-mail pode ser acessada em https://soundcloud.com/inferno-verde/aguas-do-rio-oiapoque-barco-som-de-flauta-nas-margens-do-rio

ex-Presidente brasileiro ( 1922 - 1926) que criou a colnia penal e decretou estado de stio.

Relato de Sebastio Maia colhido por Lusa Horta e Ricardo Burgarelli em outubro de 2014, na prefeitura do municpio do Oiapoque (AP).