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2 IMPACTOS SOBRE O MEIO FÍSICO CLIMA E MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO A ORLA COSTEIRA DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO: IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE O MEIO ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR E REDEFINIÇÃO DA LINHA DE COSTA NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO

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2 IMPACTOS SOBRE O MEIO FÍSICO 

 

 

 

CLIMA E MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO  

 

A ORLA COSTEIRA DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO: IMPACTOS DAS 

MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE O MEIO  

 

ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR E REDEFINIÇÃO DA LINHA DE COSTA NA REGIÃO 

METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO  

 

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CLIMA E MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO 

Claudine Dereczynski (IGEO/UFRJ) | José Marengo (INPE) | Maria G. A. Justi da Silva (IGEO/UFRJ) |  Isimar de A. Santos 

(IGEO/UFRJ) 

 

O  relevo  acentuado  e  diversificado  da  Região  Metropolitana  do  Rio  de  Janeiro  (RMRJ)  e  a 

proximidade do Oceano Atlântico e das Baías da Guanabara e de Sepetiba, contribuem para a grande 

variabilidade  espacial  dos  elementos  meteorológicos,  tais  como  a  precipitação,  temperatura, 

umidade, ventos, nebulosidade e evaporação.  A cidade do Rio de Janeiro desenvolve‐se ao redor do 

Maciço  da  Tijuca,  que  a  divide  em  “Zona Norte”  e  “Zona  Sul”.   Além  deste maciço,  outros  dois: 

Maciço Gericinó‐Mendanha ao norte, e Maciço da Pedra Branca a oeste,  influenciam a climatologia 

da região que é limitada ao sul pelo Oceano Atlântico, a leste pela Baía da Guanabara e a oeste pela 

Baía de Sepetiba. 

A RMRJ tem sido castigada, principalmente durante a estação chuvosa (de novembro a março), por 

eventos de chuvas intensas que geram grandes transtornos à população. No início de abril de 2010 a 

Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) foi atingida por sistemas convectivos de mesoescala 

associados a uma  frente  fria que  se deslocava pela  região. Os  totais pluviométricos atingiram 323 

mm  em  24 horas, provocando deslizamentos que  fizeram  167 mortes  em Niterói  e  66 no Rio de 

Janeiro, deixando 3262 desabrigados e 11439 desalojados. Neste evento, outros  transtornos como 

enchentes, quedas de árvores, problemas de transmissão de energia elétrica, além de ressacas com 

ondas de  até 5 metros, paralisaram  a RMRJ   nos dias 6  e 7 de  abril de 2010  (Figura 1). Desde  a 

implementação do Sistema Alerta Rio, em  janeiro de 1997, este  foi o caso mais  severo de chuvas 

intensas,  superando o evento de 9 de  janeiro de 1998 quando a precipitação em 24 horas atingiu  

272,8 mm na Tijuca. 

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Figura 1 – Fotos da destruição provocada pelas chuvas intensas no Rio de Janeiro e Niterói nos dias 6 e 7 de abril de 2010. 

 

Recentemente,  na madrugada  de  12  de  janeiro  de  2011,  a  Região  Serrana  do  Rio  de  Janeiro  foi 

devastada por chuvas intensas ocasionadas pela chegada de um sistema frontal na região (Figura 2). 

De acordo com o Banco de Dados Internacional de Desastres (EM‐DAT), com sede na Bélgica, este foi 

o desastre natural mais severo da história do país, com 872 mortes registradas até o momento (421 

em Nova Friburgo, 354 em Teresópolis, 71 em Petrópolis, 21 em Sumidouro, 4 em São José do Vale 

do Rio Preto e 1 em Bom Jardim), além de 427 desaparecidos, mais de 9000 desabrigados e mais de 

11000  desalojados.  As  chuvas  ocorreram  entre  aproximadamente  23  Z  (21  h  local)  do  dia  11  de 

janeiro e 10 Z (8 h local) do dia 12 de janeiro, totalizando‐se em apenas 12 horas em Nova Friburgo 

nas estações do INEA: 222,0 mm na estação Ypu, 193,4 mm na estação Sítio Santa Paula, 184,2 mm 

na  estação  Olaria  e  126,0  mm  em  Pico  Caledônia.  Na  estação  Teresópolis  do  INMET  o  total 

pluviométrico acumulado no mesmo período  (entre 23 Z e 11 Z)  foi de 79,0 mm. As  fortes chuvas 

deflagaram avalanches e enchentes que mobilizaram, solo, rochas e árvores, gerando um cenário de 

destruição nas cidades afetadas. 

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Figura  2  –  Foto  da  região  de Nova  Friburgo  com  incontáveis  clareiras  nas montanhas  e  rios  turvos  de  lama  (Fonte:  Jornal O Globo  – 

30/01/2011). 

 

Este capítulo  foi desenvolvido com o objetivo principal de  investigar se estão ocorrendo mudanças 

climáticas significativas no clima presente e para elaborar projeções climáticas até o final do século 

XXI  para  a  cidade  do  Rio  de  Janeiro.  Para  isso,  inicialmente  no  item  1  é  feita  uma  descrição  da 

climatologia da região.   A seguir, no  item 2 apresenta‐se a   detecção das mudanças climáticas, ou 

seja, analisa‐se a evolução da precipitação e  temperaturas extremas diárias ao  longo das últimas 

quatro décadas. O  item 3 é dedicado às projeções das mudanças climáticas futuras e, finalmente, 

no  item  4  estão  as  conclusões  e    propostas  a médio  e  longo  prazo  das  ações  necessárias  para 

ampliar o conhecimento da comunidade e dos gestores públicos no campo da mudança climática. 

Os conjuntos de dados observacionais utilizados para analisar a climatologia da região e para fazer a 

detecção  da  mudança  climática  nas  últimas  décadas  pertencem  ao  Instituto  Nacional  de 

Meteorologia (INMET). A localização e as informações referentes a cada uma das estações do INMET 

utilizadas são apresentadas no mapa da Figura 3 e na Tabela 1. 

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 Figura 3 – Mapa do Município do Rio de Janeiro com localização das estações do INMET utilizadas neste trabalho: Alto da Boa Vista, Bangu, 

Rio de Janeiro e Santa Cruz. 

 

Tabela 1 – Informações sobre as Estações Meteorológicas do INMET utilizadas no trabalho 

Estação Latitude 

(graus 

S)

Longitude 

(graus W) 

Altitude

(m) 

Período de 

funcionamento da 

ã l l

Dados utilizados/períodos 

Alto da 

Boa 

Vista 

22,95  43,27  347,09 01/06/1966 a 

26/09/2008 

Normais climatológicas 1967 a 1990 e 

dados diários de chuva, temp. máxima e 

mínima do ar de 01/01/1967 a 31/12/2007 

Bangu  22,87  43,45  40,30 01/01/1961 a 

26/09/2008 Normais climatológicas 1961‐1990 

Rio de 

Janeiro 

22,90  43,17  30,55 

Pça XV : 

11/06/1941 a 

01/11/1973 Normais climatológicas 1961‐1990 

 

22,92  43,27  5,32 

Aterro do 

Flamengo: 

01/11/1973 

31/12/1991 

Santa 

Cruz 22,92  43,68  63,0 

Morro da Caixa 

D’água: 

01/01/1964 

31/12/2009 

Valores diários de chuva, temperaturas 

máxima e mínima do ar 

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É  importante  ressaltar que a estação do Alto da Boa Vista  localiza‐se dentro da  floresta da Tijuca, 

onde  a  vegetação  não  sofreu  grandes  pressões  e  a  expansão  da malha  urbana  foi  reduzida  nas 

últimas décadas, enquanto as estações de Santa Cruz e Bangu situam‐se respectivamente nas Zonas 

Oeste  e Norte  do município,  onde  ocorreu  significativa  expansão/adensamento  da malha  urbana 

com eventual redução da cobertura vegetal. A estação denominada Rio de  Janeiro  foi  instalada na 

Praça XV de Novembro, a seguir foi deslocada para o Aterro do Flamengo e nos últimos anos (desde 

30/04/2002) encontra‐se na Praça Mauá. 

 

Caracterização do Clima da Cidade do Rio de Janeiro 

A Organização Meteorológica Mundial  (OMM) preconiza que os Serviços Meteorológicos Nacionais 

produzam  relatórios do clima a cada 30 anos contendo as médias mensais das principais variáveis 

observadas em estações ou postos meteorológicos padronizados. A cidade do Rio de Janeiro possui 

apenas uma Estação Climatológica Principal denominada Rio de Janeiro, mas o INMET tem produzido 

seus relatórios de normais climatológicas para a cidade do Rio de Janeiro usando também algumas 

Estações Climatológicas Ordinárias, tais como Alto da Boa Vista e Bangu que não  incluem o registro 

de todos os parâmetros meteorológicos. 

Os  ciclos  anuais  das  temperaturas  máxima,  mínima  e  média  compensada  do  ar,  precipitação, 

evaporação  e  umidade  relativa,  obtidos  das  normais  climatológicas  do  INMET  (INMET,  2009)  nas 

estações Rio de Janeiro, Alto da Boa Vista e Bangu   são apresentados nas Figuras 4 a 6. Da estação 

Rio  de  Janeiro  (INMET,  2009)  foi  possível  obter  também  as  normais  climatológicas  da  insolação, 

nebulosidade,  velocidade  do  vento  e  pressão  atmosférica  ao  nível  da  estação,  apresentados  na 

Figura 7. Para a pressão atmosférica ao nível da estação, nebulosidade e intensidade dos ventos, os 

valores diários são obtidos através de uma média aritmética simples nos 3 horários de observação 

(12,  18  e  24  Z).    Para  a  chuva,  evaporação  e  insolação  são  fornecidos  totais  diários.  A  umidade 

relativa média diária compensada (URc) é dada pela Equação 1:  

42 241812 ZZZ

cURURURUR ++

=       (Eq. 1) 

A temperatura média compensada (TMc) , é calculada a partir da Equação 2: 

52 2412minmax ZZ

cTTTTTM +++

=       (Eq. 2) 

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Na  Figura 4 estão  representadas as  temperaturas máxima, mínima e a média  compensada. Como 

esperado, no  verão  (inverno) ocorrem  as maiores  (menores)  temperaturas  do  ar.   Na  estação de 

Bangu, localizada ao norte do Maciço da Tijuca, longe do litoral e em meio a área urbana extensa e 

consolidada, ocorrem as maiores  temperaturas máximas.   No entanto, em  termos de  temperatura 

média  compensada, os  valores em Bangu  são aproximadamente  iguais aos  valores observados na 

estação Rio de Janeiro. A estação do Alto da Boa Vista,  localizada a 347 m de altitude e próxima à 

Floresta da Tijuca (maior floresta urbana do mundo), apresenta os menores valores de temperaturas 

máxima, média e mínima.   As amplitudes  térmicas anuais, representadas pelas diferenças entre as 

temperaturas do mês mais quente e do mês mais frio, são maiores em Bangu e no Alto da Boa Vista 

localizadas em pontos mais afastados do mar. Nota‐se portanto,  a forte influência da topografia, que 

age bloqueando a brisa marítima e os sistemas transientes que penetram pelo litoral em direção ao 

interior da cidade. 

 

 

Figura 4 – Ciclo anual das temperaturas máximas,   mínimas e médias compensadas nas estações do Rio de  Janeiro, Alto da Boa Vista e 

Bangu (Fonte: INMET). 

 

Os mesmos  efeitos  fisiográficos  de  regionalização  afetam  o  comportamento  da  precipitação  e  da 

evaporação mostradas na Figura 5. Nota‐se maiores valores da precipitação na estação do Alto da 

Boa Vista decorrente da convergência de umidade promovida pela encosta que faceia o mar. Como é 

característico na região Sudeste do Brasil, o verão é bastante chuvoso e o  inverno tem precipitação 

bastante reduzida. Vê‐se também que a evaporação é elevada no verão quando as temperaturas são 

maiores  e  reduzida no  inverno, quando predominam baixas  temperaturas. Contudo, no outono  e 

principalmente na primavera ocorre uma  ligeira elevação da evaporação, provavelmente devido à 

interação não linear entre os vários fatores controladores como a temperatura do ar, a velocidade do 

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vento e a cobertura de nuvens. A diferença de comportamento das  três estações está associada à 

disponibilidade de água no solo e às temperaturas (as regiões mais elevadas tem temperaturas mais 

baixas). Nota‐se, exceto para o Alto da Boa Vista, que no período do final do outono até o início da 

primavera a evaporação ultrapassa a precipitação.  

 

 

Figura 5 – Ciclo anual dos  totais mensais de precipitação  (mm) e evaporação  (mm) nas estações do Rio de  Janeiro, Alto da Boa Vista e 

Bangu (Fonte: INMET). 

 

A Figura 6 apresenta as normais da umidade relativa do ar. Ao  longo do ano no meio do  inverno a 

umidade relativa nas três localidades é um pouco mais baixa. Como a umidade relativa não depende 

apenas do teor de umidade do ar, mas varia inversamente com a temperatura, nos meses de julho e 

agosto a umidade absoluta do ar deve  ser bastante baixa. A umidade  relativa mostra‐se maior no 

Alto da Boa Vista por causa das baixas  temperaturas  registradas naquela  localidade.  Já no caso de 

Bangu além das elevadas  temperaturas, a distância do mar  reduz significativamente a umidade na 

região. 

 

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Figura 6 – Ciclo anual da umidade relativa (%) nas estações do Rio de Janeiro, Alto da Boa Vista e Bangu (Fonte: INMET). 

 

Na  Figura  7  são  apresentados os  ciclos  anuais da  insolação, nebulosidade,  velocidade do  vento  e 

pressão  atmosférica  apenas  para  a  estação  Rio  de  Janeiro.  A  insolação  (Fig.  7  a)  é  a medida  do 

número de horas de brilho  solar, ou  seja, número de horas  sem que  a  radiação  solar direta  seja 

interceptada  por  nuvens.  Destacam‐se  os  meses  de  setembro  e  outubro  onde  os  mínimos  de 

insolação se devem ao aumento da nebulosidade estratiforme no Rio de Janeiro nesta época do ano. 

Na Figura 7 b a fração em décimos de céu coberto por nuvens no Rio de Janeiro é mostrada através 

do  índice denominado nebulosidade. Destaca‐se o período que vai de setembro a  janeiro quando a 

nebulosidade média mensal supera os cinqüenta por cento. Nos meses de  julho e agosto o Rio de 

Janeiro  se  caracteriza  por  céu  mais  claro  devido  à  atuação  de  massas  de  ar  polar  seco  que 

predominam nesta  época do  ano  e que  tem  como  característica os movimentos  subsidentes que 

inibem a formação de nuvens. A Figura 7 c representa a intensidade média do vento ao longo do ano 

no Rio de  Janeiro. A  velocidade do  vento  é  afetada  tanto pelos  gradientes de pressão  em  escala 

sinótica  (anticiclones  e  frentes  frias)  como os de  escala  local  (brisas  e  tempestades). No  verão, o 

maior  aquecimento  do  continente  produz  uma  intensificação  da  brisa marítima,    gerando  ventos 

mais  intensos que no  restante do  ano. A  Figura 7 d  referente  às normais da pressão  atmosférica 

mostram que esta se eleva significativamente no período do inverno quando predominam massas de 

ar migratórias de origem polar e o anticiclone subtropical do Atlântico Sul adentra o continente, com 

valores maiores do que nos períodos de verão. 

 

 

 

 

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(a)                                                                                     (b)           

   

(c)                                                                                            (d)           

   

Figura 7 – Ciclo anual de: (a) insolação (h), (b) nebulosidade (décimos), (c) velocidade do vento (m/s) e (d) pressão atmosférica ao nível da 

estação (hPa) na estação do Rio de Janeiro (Fonte: INMET). 

 

Existem poucos trabalhos que tratam da distribuição espacial das variáveis apresentadas acima. Em 

Dereczynski  et  al.  (2009)  é  elaborada  uma  climatologia  da  precipitação  no município  do  Rio  de 

Janeiro  utilizando‐se  10  anos  (1997  a  2006)  de  dados  observados  na  rede  de  30  postos 

pluviométricos  da  Fundação Geo‐Rio. De  acordo  com  os  autores,  os  totais  pluviométricos  anuais 

médios  (Figura  8)  exibem máximos  concentrados  junto  aos  três maciços  existentes  na  cidade: na 

Serra da Carioca (2200 mm) na Serra do Mendanha (1400 mm) e na Serra Geral de Guaratiba (1200 

mm). Tais valores reduzem‐se em direção às planícies, sendo um mínimo de 900 mm observado na 

Zona Norte da  cidade. Este padrão de distribuição espacial das  chuvas é explicado pelos  sistemas 

meteorológicos  em  deslocamento,  preferencialmente  de  sul  para  norte,  produzindo  máximos 

(mínimos) de precipitação à barlavento (sotavento) das serras. Tal processo é ainda amplificado pelo 

levantamento  de  ar  úmido  trazido  pela  brisa  marítima  que  predomina  no  município.  Os  totais 

pluviométricos máximos  registrados  na  cidade  foram:  54,0 mm  em  15 minutos;  69,7 mm  em  30 

minutos; 116,2 mm em 1 hora e 272,8 mm em 1 dia.   

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Figura  8  –  Distribuição  da  precipitação  total  anual  média  no  período  de  1997  a  2006,  elaborado  a  partir  dos  dados  de  30  postos 

pluviométricos da Fundação Geo‐Rio (Fonte: Adaptado de Dereczynski, et al., 2009). 

 

Ainda em Dereczynski et al. (2009) a análise dos eventos de chuvas intensas (maior que 30,0 mm/dia) 

indicou que 77% dos 160 casos selecionados, foram provocados por sistemas frontais que ocorrem 

durante  todo  o  ano,  com  menor  freqüência  no  inverno.  Eventos  associados  com  a  Zona  de 

Convergência  do Atlântico  Sul  (13%)  e  sistemas  convectivos  de mesoescala  (8%)  predominam  no 

verão. Chuvas intensas geradas por efeito de circulação marítima são raras, ocorrendo em apenas 2% 

dos casos. 

Em  Jourdan  et  al.  (2010)  é  elaborada  uma  caracterização  dos  ventos  à  superfície  na  Região 

Metropolitana do Rio de Janeiro, incluindo sete estações no município do Rio de Janeiro. Apesar das 

séries de dados horários serem relativamente curtas, com no máximo 6 anos de dados entre 2000 e 

2006,  importantes  resultados  foram  obtidos.  Em  geral,  no  município  predominam  ventos  de 

quadrante  norte,  que  ocorrem  na  madrugada  e  manhã  e  de  quadrante  sul,  que  ocorrem  nos 

períodos da tarde e noite, estes em geral mais intensos do que os ventos nas demais direções. Este 

aspecto  sugere uma modulação através do mecanismo de brisa  terrestre/marítima. Tal padrão  se 

mantém  ao  longo  do  ano.  Na  primavera  e  verão,  época  em  que  o  aquecimento  da  superfície 

continental é mais intenso, a intensidade e a freqüência dos ventos de quadrante sul aumentam em 

relação ao padrão anual. De acordo com os autores, um dos fatores que contribui para este fato seria 

a  intensificação  do  gradiente  horizontal  de  temperatura  resultante  do  aumento  do  aquecimento 

diferenciado  entre  continente  e  oceano,  induzindo  uma  intensificação  da  circulação  da  brisa 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  52 

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marítima, enquanto no outono e inverno diminui a freqüência dos registros da direção sul e aumenta 

a freqüência dos ventos de norte.  

 

Detecção de Mudanças Climáticas na Cidade do Rio de Janeiro 

Para investigação da mudança climática em uma certa região é ideal que se tenha séries longas com 

valores diários das principais variáveis meteorológicas que caracterizam o clima da região, tais como 

a  temperatura  do  ar  e  a  precipitação.  Infelizmente,  para  este  trabalho  tais  séries  foram  obtidas 

apenas para as  estações do Alto da Boa Vista do período de janeiro de 1967 a dezembro de 2007 e 

de Santa Cruz de  janeiro de 1964 a dezembro de 2009 do  INMET  (ver Tabela 1). Contudo, apesar 

dessa  limitação,  as  estações  selecionadas  não  foram  deslocadas  durante  o  período  de  dados 

analisado,  e  por  outro  lado  estão  localizadas  em  ambientes  distintos,  permitindo  comparar  duas 

condições urbanas extremas: (i) o Alto da Boa Vista, um ambiente florestado e com menor expansão 

e  adensamento  urbano  e  (ii)    Santa  Cruz,  na  Zona  Oeste  da  cidade,  que  é  uma  área  de  alto 

crescimento da malha urbana. Assim, a partir de dados observacionais diários, alguns indicadores de 

extremos  climáticos  associados  com  a  precipitação  (Tabela  2)  e  com  as  temperaturas máxima  e 

mínima  do  ar  (Tabela  3)  foram  calculados  utilizando‐se  o  programa  RClimDex,  desenvolvido  pelo 

Serviço Meteorológico Canadense, a partir dos  índices recomendados pelo Expert Team on Climate 

Change  Detection  Monitoring  and  Indices  (ETCCDMI)  disponível  no  sítio 

http://cccma.seos.uvic.ca/ETCCDMI/index.shtml. Os  resultados para a estação do Alto da Boa Vista 

estão publicados em Silva e Dereczynski (2010). 

Tabela 2 ‐ Indicadores de extremos climáticos relacionados à precipitação. 

Sigla 

Nome do Índice 

Definição 

Unidad

CDD Dias secos 

consecutivos 

Número máximo de dias consecutivos no ano com 

PREC<1 mm dias 

CWD Dias úmidos 

consecutivos 

Número máximo de dias consecutivos no ano com 

PREC>=1 mm dias 

PRCPTOT Precipitação total 

anual  dos dias úmidos Precipitação total anual nos dias úmidos (PREC>=1mm)  mm 

RX1day Precipitação máxima 

em 1 dia Maior total pluviométrico acumulado em 1 dia  mm 

RX5day Precipitação máxima 

em 5 dias 

Maior total pluviométrico acumulado em 5 dias 

consecutivos mm 

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R30mm Número de dias com 

precipitação >=30 mm Número de dias no ano com PREC >=30mm  dias 

R50mm Número de dias com 

precipitação >=50 mm Número de dias no ano com PREC >=50mm  dias 

R95p Dias muito úmidos  Soma da precipitação (a cada ano) nos dias em que a  

PREC> percentil 95 dos dias úmidos mm 

R99p Dias extremamente 

úmidos 

Soma da precipitação (a cada ano) nos dias em que a  

PREC> percentil 99 dos dias úmidos mm 

SDII Intensidade de 

precipitação 

Precipitação total anual dividida pelo número de dias 

úmidos (definido como PREC>=1,0mm) no ano mm/dia 

 

Tabela 3 – Indicadores de extremos climáticos relacionados às temperaturas máxima e mínima do ar. 

Sigla  Nome do Índice  Definição  Unidade 

SU25 Dias de verão  Número  de  dias  no  ano  quando  a  Temperatura 

Máxima diária é superior a 25ºC (TX>25ºC)   dias 

TN10p Noites frias  Média  anual da porcentagem de dias no mês  com 

Temperatura Mínima Diária  inferior ao percentil 10 % de dias 

TN90p Noites quentes  Média  anual da porcentagem de dias no mês  com 

Temperatura Mínima Diária superior ao percentil 90 % de dias 

TR20 Noites tropicais  Número  de  dias  no  ano  quando  a  Temperatura 

Mínima diária é superior a 20ºC (TN >20ºC) dias 

TX10p Dias frios  Média  anual da porcentagem de dias no mês  com 

Temperatura Máxima Diária  inferior ao percentil 10 % de dias 

TX90p 

Dias quentes  Média  anual da porcentagem de dias no mês  com 

Temperatura Máxima Diária    superior  ao  percentil 

90 

% de dias 

TXx 

Maior 

temperatura 

maxima diária 

Maior valor da temperatura máxima diária  ºC 

WSDI Duração de 

onda  de calor  

Número  de  dias  no  ano  com  pelo  menos  6  dias 

consecutivos de TX>percentil90 dias 

A Curvatura de Sen    (Sen, 1968) que é um  teste não paramétrico para determinar a magnitude de 

uma determinada tendência, foi calculada para cada série de dados. Além disso, o teste estatístico de 

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Mann‐Kendall  (Sneyers, 1975)  foi  aplicado  às  séries  com objetivo de determinar  se  as  tendências 

observadas são significativas ao nível de confiança de 95%. 

 Para descrever o comportamento da precipitação no Rio de Janeiro foram analisados os indicadores 

PRCPTOT, R30mm, R50mm, R95p, R99p,  SDII, CWD e CDD  (ver Tabela 2).   O  índice PRCPTOT que 

mostra o total pluviométrico anual dos dias úmidos (dias com total pluviométrico maior ou igual a 1 

mm) está se elevando a cada ano, a uma taxa de 7,8 mm/ano no Alto da Boa Vista e de 2,5 mm/ano 

em Santa Cruz   (Figura 9), porém tais tendências não são estatisticamente significativas ao nível de 

confiança de 95%. 

 

 

Figura 9 – Indicador PRCPTOT para o Alto da Boa Vista (em azul) e Santa Cruz (em preto). As tendências estimadas a partir da curvatura de 

Sen são: 7,8 mm/ano para o Alto da Boa Vista e 2,5 mm para Santa Cruz. Tais tendências não são estatisticamente significativas ao nível de 

confiança de 95%. 

 

O  índice R95p (Figura 10), que apresenta o total pluviométrico a cada ano nos dias muito chuvosos 

(nos quais o total pluviométrico diário é maior do que o percentil 95),  indica significativo aumento 

para o Alto da Boa Vista, a uma  taxa de 11,8 mm/ano, contudo sem  tendência para Santa Cruz. O 

mesmo comportamento é observado para o índice R99p, com uma taxa de 3,4 mm/ano para o Alto 

da Boa Vista e sem tendência em Santa Cruz. 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  55 

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Figura 10 – Indicador R95p para o Alto da Boa Vista (em azul) e Santa Cruz (em preto). As tendências estimadas a partir da curvatura de Sen 

são: 11,8 mm/ano para o Alto da Boa Vista e 0 mm/ano para Santa Cruz. Para Alto da Boa Vista a tendência é estatisticamente significativa 

ao nível de 95%. 

 

A intensidade de precipitação (SDII) também se encontra em elevação, a uma taxa de 0,07 mm/dia a 

cada ano no Alto da Boa Vista e 0,01 mm/dia a  cada ano em Santa Cruz. O número de dias  com 

precipitação maior ou igual a 30 e 50 mm (R30mm e R50mm) em ambas as estações também estão 

se elevando. Contudo, tais aumentos não são estatisticamente significativos ao nível de confiança de 

95%. Apenas para o Alto da Boa Vista os  indicadores RX1day e RX5day que mostram a precipitação 

máxima acumulada em 1 dia e em 5 dias, respectivamente, estão se elevando. Em Santa Cruz, ambos 

os índices (RX1day e RX5day) estão em ligeiro declínio. 

O  índice CDD, apresentado na Figura 11, que mostra o número máximo de dias secos consecutivos 

(total pluviométrico diário menor do que 1 mm) está com tendência nula, tanto no Alto da Boa Vista 

quanto em Santa Cruz. O mesmo comportamento é observado em relação ao índice CWD. 

 

Figura 11 – Indicador CDD para o Alto da Boa Vista (em azul) e Santa Cruz (em preto). As tendências estimadas a partir da curvatura de Sen 

são de 0 dia/ano e não são estatisticamente significativas ao nível de confiança de 95% para ambas as estações. 

 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  56 

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Diante  das  análises  anteriores  percebe‐se  que  o  clima  no  município  do  Rio  de  Janeiro  está  se 

tornando mais úmido. Os totais pluviométricos anuais estão em elevação (PRCPTOT em elevação nas 

2 estações consideradas: Alto da Boa Vista e Santa Cruz). Eventos de chuvas  intensas tem ocorrido 

com maior freqüência  (R30mm e R50mm em elevação nas duas estações). No Alto da Boa Vista os 

eventos  de  chuvas  intensas  quando  ocorrem  produzem  maior  quantidade  de  chuvas  (RX1day, 

RX5day, R95p e R99p em elevação). As  tendências na precipitação  são mais marcantes no Alto da 

Boa Vista do que em Santa Cruz. Esta diferença pode estar associada  tanto com uma mudança na 

circulação em escala sinótica, quanto com a circulação local devido ao efeito de ilha de calor urbana. 

O aquecimento extra gerado pela  ilha de calor no Rio de  Janeiro possivelmente altera a direção e 

intensidade das brisas marítima e terrestre, que por sua vez podem alterar os padrões de advecção 

de umidade no município.  

Com  relação  aos  extremos  de  temperatura  do  ar  foram  avaliados  os  índices  associados  com  a 

temperatura máxima  (SU25, TX90p, TX10p, TXx, TXn e WSDI) e com a  temperatura mínima  (TR20, 

TN10p e TN90p). 

O índice dias de verão (SU25) que indica o número de dias no ano quando a temperatura máxima é 

superior a 25ºC exibe  forte elevação no Alto da Boa Vista,  com aumento de 1,5 dia/ano e  ligeira 

elevação em Santa Cruz, com uma taxa de aproximadamente 0,4 dia/ano (Figura 12).   

 

Figura 12 – Indicador SU25 para Alto da Boa Vista (em azul) e Santa Cruz (em preto). As tendências estimadas a partir da curvatura de Sen 

são:  1,4 dia/ano para Alto da Boa Vista e 0,4 dia/ano para Santa Cruz. As tendências são estatisticamente significativas ao nível de 95% 

para o Alto da Boa Vista. 

 

Da mesma forma o índice TX90p, que mostra a porcentagem de dias no ano em que a temperatura 

máxima é superior ao percentil 90, indica que os “dias quentes” estão ficando mais freqüentes, tanto 

na estação do Alto da Boa Vista, quanto na estação de Santa Cruz Figura 13),  com a mesma  taxa 

(0,15%dia/ano).  

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Figura 13 – Indicador TX90p para Alto da Boa Vista (em azul) e Santa Cruz (em preto). As tendências estimadas a partir da curvatura de Sen 

para as duas localidades,  de  0,15%dia/ano, são estatisticamente significativas ao nível de 95%. 

 

Além  disso,  o  índice  “dias  frios”  (TX10p),  que mostra  a  porcentagem  de  dias  no  ano  em  que  a 

temperatura máxima é menor que o percentil 10, está em declínio com uma taxa de ‐0,2%dia/ano no 

Alto da Boa Vista e de ‐0,1%dia/ano em Santa Cruz, como indica a Figura 14. 

 

Figura 14 – Indicador TX10p para Alto da Boa Vista (em azul) e Santa Cruz (em preto). A tendência estimada a partir da curvatura de Sen é 

de  ‐0,2%dia/ano para Alto da Boa Vista e de ‐0,1%dia/ano para Santa Cruz. As tendências são estatisticamente significativas ao nível de 

95%. 

 

O índice TXx (Figura 15) que apresenta o maior valor da temperatura máxima diária encontra‐se em 

ligeira  elevação  a  uma  taxa  de  0,01ºC/ano  em  ambas  as  estações.  Contudo  o  índice  TXn  que 

apresenta  o  menor  valor  da  temperatura  máxima  diária  está  sem  tendência  para  ambas  as 

localidades. 

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Figura 15 – Indicador TXx para Alto da Boa Vista (em azul) e Santa Cruz (em preto). As tendências estimadas a partir da curvatura de sem 

para as duas localidades, de 0,01ºC/ano não são estatisticamente significativas ao nível de 95%. 

 

O indicador WSDI, que é um indicador de onda de calor, definido como o número de dias no ano com 

pelo menos seis dias consecutivos com temperatura máxima maior do que o percentil 90, apresenta‐

se em elevação no Alto da Boa Vista e em Santa Cruz (Figura 16). Isso significa que está aumentando 

o número de dias consecutivos com temperaturas elevadas, principalmente no Alto da Boa Vista. 

 

Figura 16 –  Indicador WSDI para Alto da Boa Vista  (em azul) e Santa Cruz  (em preto). O ajuste  linear  fornece as seguintes equações de 

regressão e coeficientes de determinação (R2) para as retas:  y=0,19x‐383,0 e R2=0,17 para Alto da Boa Vista e y=0,04x‐83,6 e R2=0,02 para 

Santa Cruz. 

 

Com  base  no  índice WSDI  foi  criado  um  novo  índice,  onde  se  exige  que  ambas  as  temperaturas 

(máxima e mínima), permaneçam elevadas, em pelo menos 6 dias consecutivos. Este índice batizado 

de “períodos com dias e noites quentes consecutivos”, apresentado na Figura 17 para a estação de 

Santa  Cruz,  foi  elaborado  computando‐se  o  número  máximo  de  dias  consecutivos  no  ano  com 

TX>32ºC e ao mesmo  tempo TN>24ºC por no mínimo 6 dias consecutivos. Os  resultados mostram 

que tal índice encontra‐se em ligeira elevação ao longo do período analisado.  

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  59 

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Figura 17 – Indicador “dias e noites quentes consecutivos” para Santa Cruz. O ajuste linear fornece a equação de regressão y=0,02x‐34 e o 

coeficiente de determinação (R2) = 0,005. 

 

Com  relação  aos  indicadores  associados  com  a  temperatura mínima do  ar, nota‐se  tendências de 

elevação mais marcadas para Santa Cruz do que para o Alto da Boa Vista. O índice “noites tropicais” 

(TR20), que mostra o número de dias no ano quando a temperatura mínima é superior a 20ºC, exibe 

tendência de elevação estatisticamente significativa ao nível de 95% para a estação de Santa Cruz, 

com elevação de 0,9 dia/ano, mas não para a estação do Alto da Boa Vista  (Figura 18). O mesmo 

comportamento  se  observa  para  o  indicador  noites  quentes  (TN90p),  com  forte  tendência  de 

elevação  em  Santa  Cruz  (0,17%dia/ano)  e  leve  tendência  positiva  no  Alto  da  Boa  Vista 

(0,03%dia/ano). As noites frias (TN10p) estão em ligeiro declínio tanto no Alto da Boa Vista como em 

Santa Cruz, com taxas de respectivamente  ‐0,03 e  ‐0,06 %dia/ano, porém não são estatisticamente 

significativas.  Uma  explicação  para  as  alterações mais  pronunciadas  na  temperatura mínima  em 

Santa Cruz do que no Alto da Boa Vista poderia ser pelo fato da região de Santa Cruz, além de estar 

afetada  pelo  aquecimento  global,  ser mais  fortemente  influenciada  pelo  efeito  da  ilha  de  calor 

urbano. 

 

Figura 18 – Indicador TR20 para Alto da Boa Vista (em azul) e Santa Cruz (em preto). As tendências estimadas a partir da curvatura de Sen 

são:  0,3dia/ano para Alto da Boa Vista e 0,9 dia/ano para Santa Cruz. A tendência é signficativa ao nível de 95% para a Santa Cruz.  

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Tais análises mostram que o clima está se tornando mais quente no município do Rio de Janeiro. Os 

dias quentes estão mais  freqüentes  (SU25 e TX90p em elevação) e os dias  frios menos  frequentes 

(TX10p em declínio). A maior temperatura máxima a cada ano está se elevando (TXx aumentando). 

As ondas de calor, ou seja, os períodos com temperatura máxima elevada, estão se tornando mais 

longos  (WSDI em elevação). Essas  tendências associadas à  temperatura máxima são aparentes nas 

duas  localidades,  com  tendências  levemente  mais  acentuadas  no  Alto  da  Boa  Vista.  As  noites 

quentes  estão  também mais  freqüentes  (TR20  e  TN90p    em  elevação)  e  as noites  frias  estão  em 

declínio (TN10p em declínio). As tendências associadas à temperatura mínima são mais pronunciadas 

em Santa Cruz do que no Alto da Boa Vista.  

A  Tabela  4  apresenta  um  sumário  das  tendências  observadas  para  os  indicadores  de  extremos 

climáticos  relacionados  a  chuva,  temperatura  máxima  e  temperatura  mínima  analisados 

anteriormente. Nota‐se de forma geral que no município do Rio de Janeiro as chuvas intensas estão 

mais  freqüentes e os  totais pluviométricos anuais estão em elevação. Os dias e as noites quentes 

(frios) estão mais (menos) freqüentes, consistentes com um cenário de aquecimento global.  

 

Tabela 4 – Tendências observadas dos extremos climáticos relacionados a precipitação (sombreado 

em  verde),  temperatura  máxima  (sombreado  em  amarelo)  e  temperatura  mínima  do  ar 

(sombreado em azul) no Alto da Boa Vista e em Santa Cruz 

  Indicador  Alto da Boa Vista  Santa Cruz 

  PRCPTOT  + 7,8 mm/ano  + 2,5 mm/ano 

  R95p   + 11,8 mm/ano  Sem tendência 

  R99p   + 3,4 mm/ano  Sem tendência 

  SDII  +0,07 (mm/dia)/ano  +0,01 (mm/dia)/ano 

  R30mm  +0,07 dia/ano   +0,03 dia/ano 

  +0,1 dia/ano  Sem tendência 

  RX1day   +1,0 mm/ano   ‐0,9 mm/ano 

  RX5day    + 1,5 mm/ano    ‐0,5 mm/ano 

  CDD  Sem tendência  Sem tendência 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  61 

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  CDW  Sem tendência  Sem tendência 

  SU25   +1,5 dia/ano   +0,4 dia/ano 

  TX90p   +1,5% dia/ano   +1,5% dia/ano 

  TX10p   ‐0,2% dia/ano   ‐0,1% dia/ano 

  TXx  +0,01°C/ano  +0,01°C/ano 

  TXn  Sem tendência  Sem tendência 

  WSDI   +0,19 dia/ano   +0,04 dia/ano 

  TR20  +0,9 dia/ano  +0,3 dia/ano 

  TN90p  +0,03% dia/ano  +0,17% dia/ano 

  TN10p   ‐0,03% dia/ano   ‐0,06% dia/ano 

 

Os  resultados aqui apresentados para a  temperatura do ar estão de acordo  com outros  trabalhos 

para o Brasil, indicando aquecimento nas últimas décadas.  

Em Vicente  et  al.  (2005) os mesmos  indicadores de  extremos  climáticos utilizados neste  trabalho 

foram aplicados para 19 localidades no Brasil e para 49 localidades em outros países da América do 

Sul.  Seus  resultados  não  indicam  mudanças  consistentes  nos  índices  baseados  na  temperatura 

máxima  do  ar,  contudo  tendências  significativas  foram  observadas  nos  índices  baseados  na 

temperatura  mínima.  Os  autores  mostram  significantes  tendências  de  aumento  (redução)  na 

frequência de noites quentes (frias).  

Obregon e Marengo (2007), utilizando dados de temperaturas máxima, média e mínima em diversas 

estações meteorológicas no Brasil, mostraram que a temperatura mínima média anual se elevou em 

todas as localidades estudadas no período de 1961‐2000, com tendência máxima de +1,4ºC/década 

sobre o Estado do Tocantins. No Estado do Rio de Janeiro, as estações de Resende e Nova Friburgo 

apresentaram  aumento  de  aproximadamente  0,2ºC/década.  Os  pesquisadores  não  encontraram 

contudo,    padrão  similar  de  aumento  nas  temperaturas  média  e  máxima  do  ar  para  todas  as 

localidades. 

Maia (2008) analisa as tendências na temperatura média mensal compensada em Bangu, de janeiro 

de  1960  a  dezembro  de  1977  e  na  estação  denominada  Rio  de  Janeiro,  de  janeiro  de  1960  a 

dezembro  de  1989  e  evidencia  suaves  tendências  de  aumento  das  temperaturas  em  ambas  as 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  62 

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localidades.  Sansigolo et  al.  (1992)  analisaram por  sua  vez,  séries de  temperaturas médias  anuais 

para  9  cidades  brasileiras  e  em  todas  ocorre  aquecimento,  principalmente  em  São  Paulo 

(+0,03ºC/ano) e no Rio de Janerio (0,02ºC/ano). 

Com  relação  à  precipitação,  os  resultados  são  bastante  variáveis.  Obregon  e  Marengo  (2007) 

mostram tendências positivas nos totais pluviométricos anuais para a maior parte do país no período 

de 1951 a 2000, contudo verificaram tendências negativas em postos isolados, como por exemplo no 

Estado do Rio de Janeiro (Estação Piller no Município de Nova Friburgo) com valores entre  ‐140 e  ‐

160  mm/década.  Figueiró  e  Coelho  Netto  (2003)  analisaram  os  totais  pluviométricos  anuais  da 

Estação Capela Mayrink, no Alto da Boa Vista localizada no Maciço da Tijuca (Rio de Janeiro) para o 

período  de  1976  a  2002  encontrando  também  tendências  negativas.  Figueiró  (2005)    mostra 

tendência de redução dos  totais pluviométricos anuais em Resende  (Rio de  Janeiro) no período de 

1932 e 2000. Contudo, de acordo  com Coelho Netto et al.  (2008), os  totais pluviométricos anuais 

seriam  fortemente controlados pela  frequência de chuvas diárias extremas  (>100 mm/dia) e que a 

freqüência de tais eventos se elevou no período de 1977 a 2002 na Estação Capela Mayrink (Alto da 

Boa Vista) e também na Estação de Resende no Vale do Rio Paraíba do Sul (Rio de Janeiro) onde a 

série é mais longa (1937‐2000). 

 

Projeções das Mudanças Climáticas Futuras 

As projeções das mudanças climáticas futuras para o Rio de Janeiro foram analisadas utilizando‐se as 

saídas do Modelo Regional Eta  ‐ versão  climática  (Chou et al., 2010 e Marengo et al., 2010),  com 

resolução horizontal de 40 km e 38 níveis na vertical. Tal modelo tem sido usado no INPE (Chou et al., 

2005)  para  realizar  previsões  de  tempo  e  previsões  climáticas  sazonais  desde  1996.  A  versão 

climática  foi  adaptada  para  realizar  integrações  em  escalas  decadais,  com  foco  nos  cenários  de 

mudanças  climáticas  relacionadas  com diferentes níveis de  concentração de CO2. As  condições de 

contorno  usadas  para  integrar  o  modelo  regional  Eta  foram  fornecidas  pelo  modelo  climático 

acoplado do Met Office Hadley Center HadCM3 (Gordon et al. 2000; Collins et al. 2001). Para estudos 

do clima presente (1961‐1990) considerou‐se a concentração do CO2 igual a 330 ppm e  para o clima 

futuro  (2011‐2099)  foi utilizado o cenário A1B de emissões de CO2 do Special Report on Emissions 

Scenarios (SRES) ‐  Intergovernamental Panel on Climate Change ‐ IPCC (Nakicenovic et al. 2000).  

Inicialmente, a partir dos  totais pluviométricos e  temperaturas máximas e mínimas diárias para o 

ponto  de  grade  de  lat:  23,0°S,  lon:43,4ºW  e  altitude  62,9 m  produzidos  pelo modelo  Eta,  foram 

gerados os índices de extremos climáticos. Como as saídas do modelo Eta são a cada 6 horas (0, 6, 12 

e 18 Z), considerou‐se como temperatura máxima  (mínima) diária o maior  (menor) valor dentre as 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  63 

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quatro saídas. Para a chuva diária considerou‐se o total pluviométrico acumulado entre 18 Z do dia 

anterior  até  12  Z  do  dia  em  questão,  assim  como  é  feito  no  INMET.  Esta  etapa  de  avaliação  do 

modelo  foi  realizada para  verificar  se o mesmo é  capaz de  simular  adequadamente os  índices de 

temperatura  e  precipitação  no  clima  presente,  aumentando  assim  a  confiança  na  utilização  das 

projeções  climáticas  futuras.  Infelizmente,  a maior  parte  dos  indicadores  climáticos  associados  à 

precipitação,  não  são  representados  adequadamente  pelo  modelo  Eta  no  clima  presente,  com 

exceção  dos  índices  CDD  e  CWD  para os  quais  o modelo  exibe  tendência  nula,  acompanhando  a 

tendência dos dados observacionais. Por outro lado, os extremos que utilizam a temperatura do ar, 

principalmente  aqueles  calculados  em  percentis,  são  muito  bem  descritos,  com  tendências  de 

mesmo  sinal  e  com  magnitudes  semelhantes.  Desta  forma,  apenas  as  tendências  futuras 

relacionadas com a temperatura do ar (máxima e mínima) serão apresentadas. 

Apenas dois  campos de  extremos  climáticos, um  relacionado  com  a  temperatura máxima  (TXx)  e 

outro  com  a  temperatura  mínima  (TR20)  para  os  períodos  de  1961‐1990  e  2071‐2099  são 

apresentados (ver Figuras 19 e 20). O número no centro de cada quadrado equivale ao valor médio 

da  variável  no  período  analisado  e  no  ponto  de  grade  do modelo  e  é  representativo  de  todo  o 

quadrado desenhado. Por exemplo, para o município do Rio de Janeiro, o valor que aparece centrado 

em 23ºS/43,4ºW representa o valor médio da variável no período analisado na caixa de grade que se 

estende de 22,8‐23,2ºS/43,2‐43,6ºW. 

Na  Figura  19,    analisando‐se  o  quadro  referente  ao município  do  Rio  de  Janeiro,  o  índice  TXx 

iniciando‐se com 33,8ºC no período de 1961‐1990 (Figura 19 a), passa para 35,5ºC no período 2011‐

2040, a seguir para 37,0 ºC em 2041‐2070 e chegando a 38,6ºC em 2071‐2099  (Figura 19 b).    Isso 

significa  um  aumento  em  TXx  de  4,8ºC  em  relação  ao  clima  presente  (1961‐1990)  até  o  final  do 

século XXI. Os mapas mostram também um padrão diferenciado para a área continental e marítima, 

com maiores valores de TXx nas áreas continentais, contudo se elevando até  o final do século para 

toda a região apresentada. 

 

 

 

 

 

 

 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  64 

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                       (a)   1961‐1990                                               (b) 2071‐2099 

 

Figura 19 – Índice TXx para os períodos: (a) 1961‐1990 e  (b) 2071‐2099. 

 

Os  campos  de  TR20  (número  de  dias  no  ano  com  temperatura  mínima  superior  a  20ºC)  são 

mostrados na Figura 20. Nota‐se que para o município do Rio de Janeiro no clima presente o modelo 

configura 166,9 dias ao ano com TR20 (Figura 20 a), subindo para 237,6 dias em 2011‐2040, a seguir 

276,7 dias em 2041‐2070 e  finalmente 311,6 dias em 2071‐2099  (Figura 20 b).  Isto  representa um 

aumento de quase 87% em  relação  ao  clima presente do modelo. Como esperado, os  valores de 

TR20 são maiores sobre o oceano do que sobre o continente, e por outro lado, o aquecimento até o 

final do século é menor sobre os oceanos devido à sua maior capacidade térmica. 

 

                  

 

 

 

 

 

 

 

 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  65 

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      (a)   1961‐1990                                               (b) 2071‐2099 

 

Figura 20 – Índice TR20 para os períodos: (a) 1961‐1990 e (b) 2071‐2099. 

 

A evolução temporal dos indicadores de extremos climáticos associados com a temperatura máxima 

do ar (SU25, TX90p, TX10p, TXx e WSDI) e com a temperatura mínima do ar (TR20, TN90p e TN10p) 

são apresentados na Figura 21 para o clima presente (1961‐1990) e para o clima futuro (2011 a 2099) 

para o ponto de grade do modelo Eta centrado em 23ºS/43,4º W. Equações de regressão lineares e 

coeficientes de determinação  (R2)  são  exibidas  em  cada  gráfico para o modelo  Eta.   Apenas para 

efeito de comparação visual, são apresentados  também os dados observacionais de Santa Cruz no 

clima presente.  

As projeções indicam que o número de dias no ano com temperatura máxima superior a 25ºC (SU25) 

poderá se elevar a uma taxa de 1,00 dia/ano até o final do século. Nota‐se já no clima 

presente  uma  grande  defasagem  entre  os  valores  observados  em  Santa  Cruz  e  simulados  pelo 

modelo Eta. A porcentagem de dias quentes no ano (TX90p) apresenta tendência de aumento, com 

taxa de 0,19%dia/ano. A porcentagem de dias frios (TX10p)  apresenta‐se em declínio a uma taxa de ‐

0,08%dia/ano. A maior  temperatura máxima anual  (TXx)  também poderá aumentar até o  final do 

século a uma taxa de 0,04ºC/ano, ressaltando‐se também, assim como em SU25 as diferenças entre 

os dados observacionais e aqueles simulados pelo modelo Eta. As ondas de calor (WSDI), ou seja, o 

número de dias  consecutivos no  ano  com  temperaturas máximas  acima do percentil 90,  também 

exibem  forte  tendência  de  elevação,  em  torno  de  0,24  dias/ano. Os  índices  relacionados  com  a 

temperatura  mínima  indicam:  provável  aumento  das  noites  tropicais  (TR20)  com  temperatura 

mínima  superior  a  20ºC,  a  uma  taxa  de  1,33%dia/ano;  aumento  da  frequência  de  ocorrência  de 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  66 

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noites quentes (TN90p) a uma taxa de 0,28%dia/ano e redução na freqüência de ocorrência de noites 

frias (TN10p) a uma taxa de ‐0,09%dia/ano.  

                                        (a) SU25                                                 (b) TX90p 

   

Figura 21 – Evolução temporal dos  índices: (a) SU25, (b) TX90p, (c) TX10p, (d) TXx, (e) WSDI, (f) TR20, (g) TN90p, e (h) TN10p calculados 

para o ponto de grade do modelo Eta localizado em 23ºS/43,4º W e altitude 62,9 m (em verde) e para os dados observacionais de Santa 

Cruz (em preto). Equações de regressão lineares e coeficientes de determinação (R2) são apresentados para o modelo Eta. 

 

    (c)  TX10p                                                 (d) TXx 

   

                               (e)  WSDI                                                (f) TR20 

   

(g)  TN90p                                                (h) TN10p 

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Figura 21 – Final. 

 

Conclui‐se, utilizando‐se as projeções do modelo Eta climático, cenário A1B do IPCC, que o clima no 

Rio de  Janeiro deverá  ficar mais quente  até o  final do  século XXI,  seguindo o padrão que  já está 

sendo  observado  no município  no  clima  presente.  Projeta‐se  um  aumento  da maior  temperatura 

máxima  anual,  aumento  (redução) na  freqüência de ocorrência de dias  e noites quentes  (frios)  e 

aumento da duração das ondas de calor. 

 

 Conclusões e Propostas de Ação para Trabalhos Futuros 

Neste capítulo  foram elaboradas análises para detecção da mudança climática no Rio de Janeiro, a 

partir de dados meteorológicos coletados diariamente numa área urbana (Santa Cruz), localizada na 

Zona Oeste da cidade e numa área  florestada  (Alto da Boa Vista). Os  resultados mostraram que o 

clima está se tornando mais úmido, principalmente na região florestada, com totais pluviométricos 

anuais  em  elevação,  eventos  de  chuvas  intensas  ocorrendo  com maior  freqüência  e  produzindo 

maior  quantidade  de  chuvas  (apenas  na  área  de  floresta).  Com  relação  à  temperatura  do  ar,  as 

análises mostram  que  o  clima  está  se  tornando mais  quente  no município  do  Rio  de  Janeiro  e 

provavelmente  também na RMRJ. Os dias quentes  (frios) estão mais  (menos)  freqüentes  . A maior 

temperatura máxima  a  cada  ano  está  se  elevando.   As ondas de  calor, ou  seja, os períodos  com 

temperatura máxima elevada, estão se tornando mais longos.  As noites quentes estão também mais 

freqüentes e as noites frias estão em declínio. As tendências associadas à temperatura mínima são 

mais pronunciadas em Santa Cruz do que no Alto da Boa Vista. As diferenças encontradas nas duas 

regiões  (urbana  e  florestada)  podem  estar  associadas  com  mudanças  na  circulação  em  escala 

sinótica, e também em escala local devido ao efeito de ilha de calor urbana.  

Conforme já assinalamos, as projeções do modelo Eta climático, cenário A1B do IPCC, indicam que o 

clima no Rio de Janeiro poderá ficar mais quente até o final do século XXI, seguindo a tendência  já 

observada no município no clima presente. Projeta‐se um aumento da maior  temperatura máxima 

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anual, aumento (redução) na freqüência de ocorrência de dias e noites quentes (frios) e aumento da 

duração das ondas de calor. 

As  análises  climatológicas  e  estudos  de  detecção  e  projeções  de  mudanças  climáticas  aqui 

apresentados ficaram limitados aos dados meteorológicos oferecidos pela base de dados do INMET. 

Além disso, os dados observados se limitam às últimas quatro décadas e contam com diversas falhas 

em suas séries respectivas históricas. Esses fatos evidenciam a grande necessidade de serem gerados 

dados  atmosféricos  contínuos  de  boa  qualidade,  em  outros  pontos  da  cidade  que,  sabidamente, 

possuem microclimas diferenciados.  

O Rio de  Janeiro precisa  capitalizar mais  e melhor o  fato de  abrigar  várias  instituições  federais  e 

estaduais que podem gerar dados e  informações ambientais que permitam aprimorar as descrições 

climatológicas e assim subsidiar os planos de adaptação da cidade ao clima do futuro. 

A prefeitura da cidade do Rio de  Janeiro através do seu Sistema Alerta Rio vem produzindo dados 

preciosos  de  precipitação,  possui  uma  equipe  dedicada  de  meteorologistas  e  deu  início 

recentemente  à  operação  de  um  radar  meteorológico  (inaugurado  em  31.12.2010).  É  preciso 

expandir essas iniciativas para abarcar dados climatológicos mais diversificados, conhecer as regiões 

microclimáticas  da  cidade  e  concatenar  as  informações  observacionais  e  de  modelos  a  fim  de 

preparar a cidade para os desafios ambientais que ela enfrentará nas próximas décadas. 

Nenhuma  tecnologia de estudos climáticos prescinde de  informações ambientais apropriadas. Essa 

carência  se  acentua  quando  nos  damos  conta  do  fato  de  que  as  soluções  para  as megacidades 

resultarão do conhecimento das respostas do clima na escala local. A cidade do Rio de Janeiro figura 

entre  as  maiores  megalópoles  do  mundo  e  desponta  como  uma  metrópole  de  elevado 

desenvolvimento  social  e  econômico.  Isso  atribui  a  esta  cidade  responsabilidades  que  tem  se 

avolumado  nos  últimos  anos.  É  necessário  entender  as  diversas  dimensões  e  desdobramentos 

decorrentes das variabilidades e mudanças climáticas. Esta preparação se faz em duas vertentes: (i) 

reunir e  concatenar  todos os dados  climáticos  relevantes e  (ii)  viabilizar a geração de mais dados 

meteorológicos,  hidrológicos  e  oceanográficos  (OBS:  garantir  acesso  não  seria  uma  terceira 

vertente?). Isso significa, por exemplo, a criação e manutenção de bancos de dados atmosféricos, do 

nível  e  vazão  dos  rios,  do  nível  do mar  e  das  ondas  oceânicas.  Estes  bancos  de  dados  também 

permitirão a percepção das carências em termos de localização e tipos de novos dados ambientais a 

serem gerados. 

Os desencontros do passado nos  têm  ensinado que  a  aplicação do  conhecimento do  clima  e  sua 

variabilidade  em  benefício  das  grandes  cidades  só  terá  sucesso  se  for  resultado  de  trabalho  em 

equipes multidisciplinares.  A  cidade  do  Rio  de  Janeiro  tem muitos  problemas, mas  tem  também 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  69 

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profissionais  competentes  interessados  em  encontrar  as  melhores  soluções  interagindo  o  seu 

conhecimento. Nesta discussão não devem estar apenas os cientistas do clima, os engenheiros e os 

economistas, mas deve incluir tomadores de decisão, tanto a nível executivo como legislativo. 

Os projetos de engenharia, sejam eles de pequeno ou grande porte, e aqui se devem incluir também 

as obras públicas, precisam estar articulados e ser respaldados pelas perspectivas climáticas futuras, 

pois se espera que tais obras tenham uma durabilidade de décadas. Como uma cidade costeira, o Rio 

de Janeiro é extremamente dependente dos processos oceânicos. A esperada elevação do nível do 

mar em decorrência do aquecimento global é uma preocupação generalizada. Contudo a cidade do 

Rio  de  Janeiro,  já  há  alguns  anos,  tem  percebido  uma  maior  vulnerabilidade  decorrente  das 

chamadas marés meteorológicas,  que  provocam  o  aumento  do  nível  do mar,  a  aproximação  de 

grandes ondas e de ressacas, produzidas remotamente por ciclones no Atlântico Sul.  

Chuvas intensas e eventualmente continuadas, tem produzido enchentes em rios e lagoas na cidade 

do Rio de  Janeiro e em seu entorno. Dadas as características  topográficas da cidade e a ocupação 

desordenada  do  espaço  urbano,  essas  chuvas  freqüentemente  provocam  deslizamentos  com 

transtornos e  riscos  inaceitáveis. Diante da perspectiva consensual de que o clima do  futuro  trará  

tempestades mais freqüentes, os problemas que já existem tendem a se agravar.  

Como  acontece em  todas  as  grandes  cidades, o Rio de  Janeiro  tem  sérios problemas de poluição 

atmosférica. Cabe registrar que nos últimos anos várias ações governamentais trouxeram melhoria 

visível ao ambiente urbano. Sendo a questão ambiental essencialmente multidisciplinar, tomadores 

de  decisão,  tanto  gestores  quanto  legisladores,  devem  avançar  no  sentido  de  tornar  o  ambiente 

desta cidade o mais saudável possível, sem restringir em demasia o desenvolvimento econômico.  

As  medidas  de  adaptação  pressupõem  uma  conexão  com  a  escala  temporal  dos  fenômenos 

meteorológicos e oceânicos. Assim, ações de curto prazo podem ser desencadeadas a partir de boas 

previsões do tempo, enquanto que as medidas de engenharia de mais  longo prazo devem estar em 

sintonia com as projeções climáticas e seus desdobramentos locais sobre a cidade. 

Em resumo, propõem‐se as seguintes medidas concretas a médio e longo prazo: 

• Implementação  de  um  banco  de  informações  atmosféricas,  hidrológicas  e  oceanográficas 

visando  o  uso  amplo  dessas  informações  tanto  por  pesquisadores,  quanto  por  engenheiros  e 

administradores,  preparando  a  cidade  para  as  variações  climáticas  futuras.  (acessibilidade  dessas 

bases é também uma questão a ser explicitada) 

• A partir de diagnósticos abrangentes,  implementar redes de monitoramento ambiental que 

supram as carências e viabilizem ações de adaptação mais precisas. (essa me parece ser a primeira 

proposta) 

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• A partir dos modelos  climáticos globais que  se mostrem mais  representativos da  condição 

climática presente, utilizar as previsões do  clima  futuro e  implementar downscaling apropriados à 

cidade através de modelos de mesoescala com física e resolução espacial adequadas. 

• Incentivar  o  estabelecimento  de  equipes  e  processos  de  avaliação  interinstitucionais  e 

multidisciplinares  que  identifiquem  as  vulnerabilidades  da  cidade  e  proponham  soluções  de 

adaptação viáveis de serem implementadas. 

 

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