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A Psiquiatria e seu olharNosologia
Caso, classificação e orientaçãoProfessor: Marcus André Vieira
Professor Marcus André Vieira. 2
No século XVIII, a clínica era
uma forma de organização e
transmissão de um saber;
Nas palavras de Foucault
naquele momento “a clínica
não é um instrumento para
descobrir uma verdade ainda
desconhecida;é uma
determinada maneira de
dispor a verdade já adquirida
e de apresentá-la para que
ela se desvele
sistematicamente” Op. Cit.
(p.65). .
Taxonomia
Foucault, M., História da Loucura
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<zoology> The theories and techniques of naming, describing, and classifying organisms,the study of the relationships of taxa, including positional changes which do not involvechanges in the names of taxa. The taxonomic hierarchy is, from top to bottom: kingdom,phylum (for animals) or division (for plants and fungi), class, order, family, genus,species.
http://cancerweb.ncl.ac.uk/cgi-bin/omd?query=taxonomy&action=Search+OMD
The Science of Taxonomy
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O projeto racional cria a possibilidade do Manicômio (que Foucault denomina “A grande exclusão”).
Em um primeiro tempo permite que ele seja organizado taxonômicamente (cf. O louco no jardim das espécies)
Somente em um segundo tempo surge a possibilidade de tratamento.
O papel público e político do médico ganha ainda mais força e a atividade médica passa a defender valores que vão muito além de suas atribuições até então.
O Novo Papel da Medicina
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“Em vez de continuar o que era a seca e triste análise de milhões de enfermidades, [a medicina] recebe a bela tarefa de instaurar na vida dos homens as figuras positivas da saúde, da virtude, da felicidade”.
“A ela cabe expandir o trabalho com festas, exaltar as paixões calmas, vigiar as leituras e a honestidade dos espetáculos, controlar os casamentos para que se façam apenas por puro interesse ou por capricho passageiro e sejam bem fundados na única condição durável de felicidade, que está a serviço do Estado”. (Foucault, Op. Cit. p. 37)
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As diferentes repartições taxonômicas estabelecidas na massa de excluídos
pela organização racional serão a partir daí atribuídas diferentes
enfermidades. Surgem as enfermarias.
Das Enfermidades às Enfermarias
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O caminho fundamental para
a psiquiatria foi, assim, do
sinal à síndrome e desta à
doença.
Uma reunião de sinais
constitui uma síndrome.
Uma síndrome associada a
um agente etiológico
constitui uma doença
(também denominada
entidade clínica ou entidade
nosológica).
Taxa de Perda de Massa Cerebral
Fonte: UCLA http://www.loni.ucla.edu/~thompson/MEDIA/PNAS/ch_online.html
Do Signo à Doença
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A lesão que se observa no corpo doente é a
própria doença ou somente sua sede?
Quando se detectam as causas de uma lesão,
são elas a doença?
É possível ver a doença no corpo, ou nota-se
apenas as manifestações de um processo que
permanece oculto e inacessível?
Existem doenças sem lesão correspondente?
Tratam-se de perguntas que não encontraram
respostas consensuais e contribuíram para testar
os limites entre uma teoria e outras, provocar
incoerências internas e movimentar a história das
idéias médicas.
Causa ou Sede?
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A partir da descrição semiológica das funções mentais, categorias nosológicas são criadas.
A própria constituição de categorias foi, em um primeiro tempo, a constituição de doenças, pois para cada categoria isolada supunha-se um agente etiológico especifico.
Durante muitas décadas, supõe-se uma causa para cada categoria taxonômica descrita.
Agente Etiológico
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Hideyo Noguchi - Bacteriologista Japonês - (1876-1928)
Treponema Pallidum
A noção de localização causal teve vários perfis ao longo da história. Em um primeiro tempo a causa era inexistente.
Bastava descrever a população do Hospital Geral segundo suas características.
A seguir, quando começa o tratamento moral, passa-se a supor um agente causal, ou agente etiológico.
No apogeu deste modelo, o treponema pallidum, descoberto por Hideyo Noguchi em 1913, era o agente etiológico da paralisia geral sifilítica.
Causalidade
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Fonte: UNICAMP http://www.fcm.unicamp.br/departamentos/anatomia/pecasneuro42.html
Paralisia Geral
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A Paralisia Geral, caracterizada por uma evolução demencial progressiva, era uma das principais causas da loucura.
Com a descoberta de seu agente causal, a concepção biológica da loucura ganha força, mas não obtém qualquer outro avanço.
A euforia inicial de encontrar e combater o agente causal responsável por cada doença mental é substituída por um luto inevitável deste modelo, que encontrava nos cadáveres sua principal fonte de pesquisa.
Etiologia
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Boa parte da psiquiatria clássica foi construída a partir da suposição de um agente etiológico, o que permitia unificar e colocar em uma mesma categoria sinais bastante distintos.
O grande nome da psiquiatria no que concerne este tipo de organização foi Kraepelin.
Deixou-nos a distinção Paranóia x PMD (Psicose Maníaco-Depressiva) de um lado e a partição fundamental entre os campos clínicos que vieram a se chamar psicoses e neuroses.
Emil Kraepelin
Psiquiatra Alemão(1856-1926)
Emil Kraepelin
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1- Loucura das feridas cerebrais; 11- Loucura maníacos depressiva;
2- Loucura das doenças
cerebrais;
12- Doenças psicogênicas;
3- Intoxicações; 13- Histeria;
4- Loucuras infecciosas; 14- Paranóia;
5- Debilitações sifilíticas; 15- Estados patológicos
constitucionais;
6- Dementia paralytica; 16- Personalidades psicopáticas;
7- Loucuras senis e pré-senis; 17- Interrupções do
desenvolvimento (oligofrenias).
8- Loucuras tireogênicas; 10- Epilepsia;
9- Demências endógenas;
(Fonte: 8ª edição)
Organização Nosológica de Kraepelin
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As sete primeiras categorias (1-7) são consideradas exógenas.
As sete últimas categorias (11-17) endógeno-constitucionais.
As categorias intermediárias (8-10) constituem um grupo heterogêneo para o
qual supõe-se causas exógenas somadas a características constitucionais pré-
disponentes.
É importante notar que os distúrbios psicogênicos são tratados dentro do
grande grupo das doenças endógenas/constitucionais.
A aparente contradição tende a resolver-se pela seguinte teorização: a
constituição – endógena - cria uma pré-disposição para o desenvolvimento de
um distúrbio cujas características particulares de início e desenvolvimento só
serão determinadas pelos eventos psicológicos envolvidos no processo de
adoecimento.
Nesse sentido, a classificação de organiza, da classe 12 à classe 16, a partir
de uma importância decrescente do fator externo – psicológico, por ser reativo
– e um valor crescente dado à constituição da personalidade. (cf. Bercherie, p.
254)
As Categorias de Kraepelin
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Psicoses Neuroses
Paranóia
PMD Obsessão
Perversão Somáticas
Histeria
As 4 Enfermarias
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Em meados do século passado, o surgimento dos neurolépticos foi uma revolução por ser a primeira substância de ação eficaz sobre as manifestações da loucura. Atuam sobre os sintomas da loucura, não sobre o agente causal.
Junte-se a isso os golpes sofridos na hegemonia do sujeito cartesiano a partir de Freud, mas sobretudo do relativismo pragmático modernos (cf. p. ex Investigações filosóficas de Wittgenstein),
Resulta um sério abalo do edifício da psiquiatria clássica que agora se reordenará a partir de ações pragmáticas em lugar de concepções globais do homem.
Revolução Pragmática
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Os Neurolépticos
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Chega-se ao modelo de causa plurifatorial. Hoje, aceita-se uma localização causal em modelos de laboratório ou de imagens cerebrais, tais como a hipótese serotoninérgica da depressão ou dos TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) para passar da síndrome para a doença.
Acrescente-se a isso o fato de que o DSM-IV, devido à dificuldade em definir doenças no campo psi, exatamente pela pluralidade de fatores causais, desiste da idéia de entidade clínica “patológica” -disease - e fica com a aquela de transtorno – trouble -, ficando disease apenas no título.
Causa Plurifatorial
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De modo análogo à constituição da Definição consensual de saúde pela OMS, surgem classificações mundiais de doenças.
CID-10 e DSM-IV
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Tradicionalmente, a psiquiatria se dedicava a definir e
descrever as grandes doenças, como a paranóia, a
psicose maníaco-depressiva e a histeria, por exemplo.
Atualmente elas foram pulverizadas em diversas
síndromes.
Isso ocorreu porque a definição de uma doença exige
que se aponte o agente etiológico, a descrição do curso
da doença, um prognóstico dos resultados do
desenvolvimento da doença e possibilidades de
tratamento, além de um estudo epidemiológico.
Como no campo psicopatológico todos esse elementos são variáveis e imprecisos, as
grandes categorias nosológicas se dividiram, no DSM e na CID, em dezenas de síndromes,
que se constituem, simplesmente, a partir do entrecruzamento de sinais ou sintomas e, em
alguns casos, de uma suposição de um agente etiológico provável.
Da Doença à Síndrome
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Recorrer à média estatística tampouco
soluciona o problema. Os exemplos
são fáceis e abundantes: o número
médio de dentes cariados em uma
população certamente não indica
saúde, assim como um quoficiente de
inteligência muito acima da média não
indica patologia.
Normalidade Mediana
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Carl Friedrich GaussMatemático Alemão
(1777-1855)
A média é burra
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A OMS (Organização Mundial de
Saúde) define saúde como como
bem-estar físico, mental e social.
Mas, bem-estar é sentimento
fugaz e de difícil conceitualização.
Por outro lado, é possível notar em
fases maníacas de doenças
mentais um forte sentimento de
bem-estar. No transtorno bipolar,
por exemplo, em que o indivíduo
oscila entre o bem-estar e a
tristeza, seria necessário dizer que
ele varia entre a saúde e a
doença, quando esse, claramente,
não é o caso.
Consenso
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Na Linha do Tempo
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Relacionando...
Taxonomia Ciência que lida com a
descrição,
identificação e
classificação dos
organismos,
individualmente ou em
grupo, quer englobando
todos os grupos
(biotaxonomia), quer se
especializando em
algum deles.
SemiologiaMeio e modo de se
examinar um doente,
especificamente de
se verificarem os
sinais e sintomas;
propedêutica,
semiótica,
sintomatologia.
Nosologia
Ramo da medicina
que estuda e
classifica as
doençasEtiologia
Ramo do
conhecimento cujo
objeto é a pesquisa e
a determinação das
causas e origens de
um determinado
fenômeno, na
medicina.
estudo das causas
das doenças
A partir da descrição semiológica das funções mentais, categorias nosológicas são criadas.
A própria constituição de categorias foi, em um primeiro tempo, a constituição de doenças, pois para cada categoria isolada supunha-se um agente etiológicoespecifico.
Durante muitas décadas, supôs-se uma causa para cada categoria taxonômica descrita.
Fonte : http://houaiss.uol.com.br