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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO FACULDADES DE ENGENHARIA, FÍSICA E QUÍMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E TECNOLOGIA DE MATERIAIS
OTIMIZAÇÃO DO MÓDULO FOTOVOLTAICO CONCENTRADOR
ESTÁTICO PLANO MODIFICADO
HESTON SILVEIRA
(LICENCIADO EM FÍSICA)
PORTO ALEGRE, ABRIL DE 2003
PPUUCCRRSS
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PPRROOGGRRAAMMAA DDEE PPÓÓSS--GGRRAADDUUAAÇÇÃÃOO EEMM EENNGGEENNHHAARRIIAA EE TTEECCNNOOLLOOGGIIAA DDEE MMAATTEERRIIAAIISS
Faculdade de Engenharia Faculdade de Física Faculdade de Química
PPGGEETTEEMMAA
OTIMIZAÇÃO DO MÓDULO FOTOVOLTAICO CONCENTRADOR ESTÁTICO PLANO MODIFICADO
HESTON SILVEIRA
(LICENCIADO EM FÍSICA)
DISSERTAÇÃO PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ENGENHARIA E TECNOLOGIA DE MATERIAIS.
Porto Alegre, abril de 2003
PPUUCCRRSS
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PPRROOGGRRAAMMAA DDEE PPÓÓSS--GGRRAADDUUAAÇÇÃÃOO EEMM EENNGGEENNHHAARRIIAA EE TTEECCNNOOLLOOGGIIAA DDEE MMAATTEERRIIAAIISS
Faculdade de Engenharia Faculdade de Física Faculdade de Química
PPGGEETTEEMMAA
OTIMIZAÇÃO DO MÓDULO FOTOVOLTAICO CONCENTRADOR ESTÁTICO PLANO MODIFICADO
HESTON SILVEIRA
(LICENCIADO EM FÍSICA)
Orientadores: Profa. Dra. Izete Zanesco Prof. Dr. Adriano Moehlecke
Trabalho realizado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia dos Materiais-PGETEMA, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Engenharia e Tecnologia de Materiais.
Porto ALEGRE, ABRIL De 2003
II
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Izete Zanesco Orientadora – Faculdade de Física - PUCRS
Prof. Dr. Adriano Moehlecke Orientador – Faculdade de Física - PUCRS
Profa. Dra. Mara Regina Rizzatti Faculdade de Engenharia - PUCRS
Prof. Dr. Arno Krenzinger Faculdade de Engenharia- UFRGS
III
Existem dois dias em qualquer semana com os quais não devemos nos preocupar.
Dois dias em que devemos estar livres do medo e da apreensão.
Um deles é ONTEM, com seus erros e cuidados, seus pecados e tropeços, seus obstáculos e dores. Ontem passou para sempre. Está fora do nosso controle. Todo o dinheiro do mundo não trará de volta o dia de ontem. Não podemos desfazer certos
atos ou retirar uma palavra que dissemos. Ontem já se foi.
O outro dia com que não devemos nos preocupar é AMANHÃ, com seus adversários impossíveis, suas responsabilidades, suas promessas esperançosas e realização pequena. Amanhã o sol nascerá em esplendor ou por trás da máscara de nuvens, mas nascerá. E até que ele faça isto não ancoraremos no amanhã porque ele é
ainda desconhecido.
Isto nos deixa apenas um dia - HOJE. Qualquer pessoa pode lutar numa batalha apenas por um dia. É só quando aumentamos as responsabilidades de ontem e de
amanhã que nós caímos. A tristeza não vem da experiência de hoje, mas do remorso e da amargura por algo que aconteceu ontem e pelo receio do que o
amanhã possa trazer...
Não crie expectativas, viva o HOJE, sem lamentar pelo ONTEM, que certamente o seu AMANHÃ será melhor!
IV
Eis um teste para saberes se terminaste a tua missão na Terra: se estás vivo, não a terminaste.
(Richard Bach)
Este trabalho é dedicado a minha mãe, minha irmã, que souberam me entender nos momentos, mais difíceis. Aos meus dois grandes amigos, e irmãos Gaspa e Ito, sem vocês não conseguiria chegar onde estou. Obrigado.
V
AGRADECIMENTOS
A minha brilhante orientadora, Izete Zanesco, que além de me motivar e
incentivar a realização deste trabalho, compartilha comigo um bom gosto, pois gosta
de charge, fanta e guaraná.
Ao orgulho do nosso estado e também meu orientador Adriano Moehlecke, pois
com sua amizade, simplicidade e competência me ajudou a concluir este trabalho.
Ao Prof. e amigo Cláudio Galli, que gentilmente cedeu a sua sala, seu
computador, e sua amizade para que pudesse realizar este trabalho.
A prof. e amiga Maria Emília Baltar Bernasiuk, por ser mediadora entre o meu
trabalho e o suporte técnico para alcançar o objetivo desta dissertação.
Ao prof. e irmão Airton Cabral de Andrade, obrigado por existir.
Ao prof. e amigo João Bernardes da Rocha Filho, por gentilmente me dar acesso
ao Lab. de Instrumentação, para utilizar os computadores e nunca me dizer não.
A todos os meus amigos do Grupo de Energia Solar da PUCRS. Em ordem
alfabética Ana, Aline, Cauê, Dario, Eduardo, Gabriel, Geisa, Marcia, Silvio, Tati,
Tiago. Obrigado por me ajudar, seja fazendo alguma coisa, ou simplesmente
perguntando, como o estava o trabalho.
VI
A todos os meus amigos do Centro de Eventos da PUCRS, pois vocês de uma
forma ou de outra também colaboraram, para que o meu objetivo fosse atingido.
Ao Colégio Farroupilha, por entender e facilitar o meu trabalho durante todo o
processo de realização desta dissertação.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior, CAPES, pela
bolsa concedida, pois sem ela este trabalho não poderia ser realizado.
E por final, não poderia de deixar de agradecer a Aninha, o Gaspa, o Zinho, o
Cel. Feijó e D. Odila, que em quase todos os domingos destes dois anos me
receberam em sua casa como se eu pertencesse a esta família e assim renovando
as minhas energias para o início da semana.
Obrigado a todos!
VII
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS .................................................................................... V
LISTA DE FIGURAS ................................................................................... IX
LISTA DE TABELAS.................................................................................. XII
RESUMO ............................................................................................... XIII
ABSTRACT ............................................................................................XVI
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 1
2 MÓDULOS FOTOVOLTAICOS CONVENCIONAIS E CONCENTRADORES
ESTÁTICOS............................................................................................ 7
2.1 A CÉLULA SOLAR .................................................................................................7
2.2 O MÓDULO FOTOVOLTAICO CONVENCIONAL .........................................................10
2.2.1 Características Elétricas .........................................................................10
2.2.2 Descrição e Características ....................................................................12
2.3 MÓDULOS FOTOVOLTAICOS CONCENTRADORES ESTÁTICOS ..................................13
2.3.1 Módulos Concentradores Tipo CPC........................................................14
2.3.2 Módulo com Sistema Óptico em Forma de V..........................................16
2.3.3 Módulo Micro-Concentrador Estático. .....................................................16
2.3.4 Módulo Concentrador Triangular Composto ...........................................17
2.3.5 Módulo Fotovoltaico Concentrador Estático Plano..................................17
2.3.6 Módulo Fotovoltaico Concentrador Estático Plano com Refletores Difusos Coloridos ....................................................................................18
VIII
3 DESENVOLVIMENTO E DETERMINAÇÃO DO MODELO MATEMÁTICO .............. 20
3.1 INTRODUÇÃO......................................................................................................20
3.2 FATOR DE VISÃO ................................................................................................20
3.3 RELAÇÕES ENTRE OS FATORES DE VISÃO ............................................................26
3.4 DETERMINAÇÃO DA MELHOR CONFIGURAÇÃO PARA O CÁLCULO DO FATOR DE VISÃO...............................................................................................................27
3.5 CARACTERÍSTICAS DO MÓDULO CONCENTRADOR ESTÁTICO PLANO MODIFICADO....29
3.6 DESENVOLVIMENTO DO MODELO MATEMÁTICO PARA O CÁLCULO DO FATOR DE VISÃO...............................................................................................................31
4 OTIMIZAÇÃO E ANÁLISE DO MÓDULO MEC-P MODIFICADO ...................... 39
4.1 INTRODUÇÃO......................................................................................................39
4.2 OTIMIZAÇÃO DO MÓDULO MEC-P........................................................................39
4.2.1 Determinação dos Parâmetros Ótimos ...................................................39
4.2.2 Comportamento do Fator de Visão em Função do Ângulo de Incidência ................................................................................................44
4.3 VALIDAÇÃO EXPERIMENTAL DO MODELO MATEMÁTICO ..........................................47
4.3.1 Construção de um Protótipo e Medidas ..................................................47
4.3.1 Resultados Experimentais ......................................................................50
4.4 ANÁLISE DA RESPOSTA AO LONGO DO ANO ..........................................................55
4.4.1 Irradiação Solar Sobre Superfícies Inclinadas ........................................55
4.4.1.1 Relação entre o Movimento do Sol e a Terra .............................55
4.4.2 Simulação do Comportamento do Módulo ..............................................58
5 CONCLUSÕES E CONTINUIDADE ............................................................. 60
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 62
IX
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 – Mapa da distribuição da irradiação solar média diária incidente numa superfície com o ângulo de inclinação ótimo, para o mês com a menor quantidade de radiação solar. As regiões mais intensas representam maiores valores e a unidade da irradiação solar é kWh/m2 por dia. .....................................................................................3
Figura 2.1 – Esquema de funcionamento de uma célula solar. Os círculos vazios representam as lacunas e os cheios representam os elétrons. .............8
Figura 2.2 – Curva característica I-V de uma célula solar sob condições de medida padrão. A densidade de corrente é a razão entre a corrente do dispositivo e área do mesmo. ...........................................................9
Figura 2.3 – Circuito esquemático que representa uma célula solar...........................9
Figura 2.4 – Esquema elétrico de um módulo fotovoltaico........................................11
Figura 2.5 – Distribuição dos materiais que compõem um módulo fotovoltaico. .......13
Figura 2.6 – Seção transversal do módulo concentrador PEC-44D. .........................14
Figura 2.7 – Esquema do módulo concentrador, cuja seção transversal do sistema óptico é uma semicircunferência. ...........................................15
Figura 2.8 – Secção transversal do módulo com sistema óptico linear em forma de V. ....................................................................................................16
Figura 2.9 – Esquema do módulo micro-concentrador estático. ...............................16
Figura 2.10 – Concentrador triangular composto. .....................................................17
Figura 2.11 – Esquema da seção transversal do módulo concentrador estático MEC-P, mostrando a trajetória dos raios solares.................................18
X
Figura 2.12 – Primeiro protótipo do módulo concentrador estático plano (MEC-P)...18
Figura 2.13 – Protótipo do módulo MEC-P construído a fim de analisar experimentalmente a influência na concentração ótica dos refletores difusos coloridos. .................................................................................19
Figura 3.1 – Diagrama mostrando as superfícies, os elementos de área, e os ângulos φ1 e φ2, utilizados para a obtenção do fator de visão entre as duas superfícies. .............................................................................21
Figura 3.2 – Reflexão especular (a) e reflexão difusa (b)..........................................21
Figura 3.3 – Vista bidimensional da projeção do elemento de área dA1 ...................23
Figura 3.4 – Configurações selecionadas para a determinação do fator de visão entre duas superfícies..........................................................................25
Figura 3.5 – Esquema mostrando superfícies combinadas.......................................26
Figura 3.6 – Comparação entre os três métodos para calcular o fator de visão em função da altura. ..................................................................................28
Figura 3.7 – Comparação entre os três métodos apresentados para calcular o fator de visão em função da variação da aresta da superfície refletora difusa. ....................................................................................29
Figura 3.8 – Esquema do módulo MEC-P modificado e parâmetros geométricos a serem otimizados: distância entre as tiras de células (dcc) e espessura do módulo (h). ....................................................................30
Figura 3.9 – Vista lateral do módulo concentrador estático plano e projeção dos raios solares sobre o meridiano local...................................................31
Figura 3.10 – Esquema representando as áreas envolvidas no processo de determinação do fator de visão entre o refletor difuso e a face posterior das células bifaciais. .............................................................31
Figura 3.11 – Comparação entre o fator de visão correspondente à tira de células central e da borda, em função da espessura do módulo MEC-P.........38
Figura 4.1 – Refração da luz ao passar de um meio 1 para um meio 2. ..................41
Figura 4.2 – Concentração óptica em função da variação da área do módulo e da distância entre o refletor difuso e a face posterior da tira de células. ..42
Figura 4.3 – Custo de um módulo com o aumento da área e da espessura. ............43
Figura 4.4 – Razão entre custo e concentração óptica em função da espessura e da área do módulo. ..............................................................................44
Figura 4.5 – Esquema da movimentação da sombra sobre o refletor difuso e as áreas associadas para a solução do problema....................................45
XI
Figura 4.6 – Comportamento do fator de visão em relação à variação do ângulo de incidência dos raios solares projetados sobre o meridiano local. ...46
Figura 4.7 – Protótipo confeccionado para validar o modelo matemático desenvolvido. .......................................................................................47
Figura 4.8 – Demonstração da forma como foram realizadas as medidas com o protótipo construído. ............................................................................48
Figura 4.9 – Dispositivo utilizado para medir o ângulo de incidência da radiação solar. ....................................................................................................48
Figura 4.10 – Célula calibrada utilizada para medir a irradiância difusa. ..................49
Figura 4.11 – Dispositivo utilizado para medir a irradiância difusa............................49
Figura 4.12 – Esquema representativo da posição da sombra no protótipo, com a variação do ângulo de incidência.........................................................52
Figura 4.13 – Ajuste do polinômio aos valores da razão entre as irradiâncias difusa. ..................................................................................................53
Figura 4.15 – Trajetória aparente do sol e declinação solar representadas na esfera celeste.......................................................................................56
Figura 4.16 – Trajetória do Sol no céu e definição do zênite solar (θZS), elevação solar (γS), azimute da superfície inclinada (α), ângulo de incidência dos raios solares (θS) e ângulo de azimute solar sobre uma superfície horizontal (ΨS). ....................................................................57
Figura 4.17 – Comparação entre a irradiação diária média mensal relativa a um módulo convencional e ao módulo MEC-P otimizado..........................59
XII
LISTA DE TABELAS
Tabela 4.1 – Valores da irradiância incidente na face frontal e posterior das células bifaciais, medidas com o auxílio do protótipo construído.........50
Tabela 4.2 – Concentração óptica calculada a partir dos valores medidos de irradiância para vários ângulos de incidência (θi) dos raios solares.....51
Tabela 4.3 – Valores medidos para irradiação frontal (IF) e difusa (ID) e os seus respectivos percentuais de difusa em relação a irradiância total. ........52
Tabela 4.4 – Ângulos de incidência (θi), irradiância difusa medida (ID), irradiância na região de sombra produzida pelas tiras de células (IDS) e a razão entre elas. ............................................................................................53
Tabela 4.5 – Valores de irradiação medida na face frontal (IF), da irradiância calculada na face posterior IP e concentração óptica determinada a partir do modelo matemático desenvolvido..........................................54
Tabela 4.6 – Eficiência da face frontal (ηF) e posterior (ηP) e relação percentual entre a eficiência posterior e frontal. ....................................................58
XIII
RESUMO
Sabe-se que a sociedade atual é altamente dependente de energia. De certa
forma, a sua evolução está relacionada com o desenvolvimento de tecnologias de
conversão de energia, com o objetivo de aumentar a qualidade de vida. Atualmente,
a produção de energia elétrica não é suficiente e os países industrializados estão
preocupados com as fontes não renováveis, que se esgotarão e também com os
problemas ambientais que este tipo de conversão energética pode gerar. Em virtude
deste problema surge o interesse pelas fontes renováveis e limpas para produção de
energia e, consequentemente, as pesquisas nesta área estão crescendo
intensamente. Estas fontes de energia caracterizam-se por serem inesgotáveis, não
poluentes e descentralizadas. Uma destas é a energia solar fotovoltaica, isto é, a
conversão direta da energia solar em elétrica através dos módulos fotovoltaicos. Um
módulo fotovoltaico convencional é constituído de 36 células solares monofaciais,
soldadas e encapsuladas.
Os módulos fotovoltaicos concentradores estáticos, direcionam os raios solares
sobre as células, através de um sistema óptico, sem a necessidade de um
mecanismo para seguir o movimento do Sol. Portanto, estes módulos podem ser
instalados como os convencionais, isto é, fixos sobre estruturas. Se estes
dispositivos forem construídos com células solares bifaciais, ativas nas duas faces, é
possível uma redução no custo da energia elétrica produzida de até 30%. O módulo
fotovoltaico concentrador estático plano, MEC-P, foi concebido por pesquisadores da
PUCRS e da UFRGS e se baseia na reflexão difusa. O sistema óptico é composto
XIV
de uma caixa sem tampa com uma superfície interna refletora difusa de cor branca.
O conjunto de células solares bifaciais são instaladas na parte superior do sistema
óptico com um determinado espaço entre elas. A radiação solar que passa entre as
células incide na superfície branca, é refletida por esta e parte dela pode alcançar
face posterior das células bifaciais.
O objetivo deste trabalho centra-se na otimização e análise do módulo
fotovoltaico concentrador estático plano, MEC-P, modificado de forma a facilitar a
sua fabricação industrial. A otimização do novo modelo do concentrador, passa pela
substituição das células circulares bifaciais, por células quadradas bifaciais. O
tamanho de cada célula é de 10 cm de lado e o módulo é composto por 3 tiras
contendo cada uma 12 células solares. As tiras estão separadas de uma
determinada distância, a qual foi otimizada juntamente com a distância entre o plano
das células e o refletor difuso do sistema óptico. No novo módulo, as tiras de células
quadradas são colocadas na direção leste-oeste e a análise foi realizada para uma
inclinação do módulo de 48º em Porto Alegre.
A distribuição das tiras de células sobre o plano frontal do sistema óptico e a
distância entre as mesmas e o refletor afetam a performance do módulo. Por isto,
tais parâmetros geométricos devem ser otimizados considerando a radiação
incidente na face posterior das células bifaciais e o custo do módulo. Para realizar
esta otimização, é necessário determinar a quantidade de radiação que incide na
face posterior das células bifaciais e para isto é usado o fator de visão ou fator de
forma entre duas superfícies, isto é, a fração de energia refletida (ou emitida) que
deixa uma superfície e chega na outra superfície diretamente.
Para obter os parâmetros ótimos, primeiramente determinou-se o comportamento
do fator de visão para uma situação onde a sombra está sob a tira de células e
alinhada a esta. Tal análise foi realizada com as três tiras e considerando as
respectivas sombras. Nesta situação, variou-se a área e a espessura do módulo.
Com estes dados calculou-se a concentração óptica do concentrador. Foi realizada
uma avaliação dos custos do material e da mão-de-obra para a construção do
dispositivo e relacionou-se a concentração óptica e estes valores, para determinar a
melhor configuração do módulo. Com os parâmetros de dimensionamento do
dispositivo otimizados, calculou-se o fator de visão entre a superfície refletora difusa
XV
e as tiras de células, considerando a movimentação das sombras embaixo das
mesmas durante o dia a fim de analisar o comportamento do módulo ao longo do
ano.
Conclui-se que a resposta do módulo será limitada pelas tiras de células das
bordas, pois como estão associadas em série, a corrente será dada pela de pior
desempenho. A melhor profundidade do sistema óptico e a melhor distância entre as
tiras de células, considerando a melhor relação entre a concentração óptica e o
melhor custo, foi de 6 cm e 10 cm, respectivamente. O concentrador terá uma área
total de 60 cm x 120 cm. O custo do módulo MEC-P foi de US$ 2,3 por watt,
enquanto que o menor valor encontrado no mercado para um módulo convencional,
de silício monocristalino, foi de US$ 3,3 por watt, resultando em uma redução no
custo da ordem de 30%. Ao comparar a resposta do módulo concentrador com um
convencional ao longo do ano, conclui-se que ambos comportamentos são similares,
porém o módulo MEC-P produz em média 35% a mais de energia elétrica.
XVI
ABSTRACT
It’s well known that contemporary society depends on energy. In a certain way, its
evolution is related to technological development to convert energy, aiming to
improve quality of life. Nowadays, electric energy is not sufficient and developed
countries are worried about non-renewable sources, which are going to run out and
also with environmental problems that this kind of conversion can generate. In face of
this problem, there is a growing interest for renewable and clean sources to generate
energy and, as a result, research in this field is constantly increasing. These sources
are inexhaustible, non-pollutant and decentralised. One of that is photovoltaic solar
energy, i.e., direct conversion from solar energy into electric energy through
photovoltaic modules. One standard photovoltaic module consists of 36 welded and
encapsulated monofacial solar cells.
Static concentrator photovoltaic modules concentrate solar rays, to the cells
through an optical system, without the need of a mechanism to follow the sun’s
movement. Therefore these modules can be installed as conventional ones, i.e., on
fixed structures. If these devices were to be built with bifacial solar cells, active on
both faces, it would be possible to obtain a cost reduction of nearly 30%. The plain
static concentrator module, MEC-P, was conceived by researches from PUCRS and
UFRGS and it’s based on diffuse reflection. The optical system is composed by a box
with no lid and an internal diffusive reflective white surface. The set of bifacial solar
cells assembled over the optical system. The solar radiation that passes among the
cells incides on the white surface, and it is reflected back in order to reach the rear
XVII
face of the cell
The aim of this work is centred on optimisation and analysis of the plain static
concentrator photovoltaic module, MEC-P, which was modified in order to make its
industrial manufacturing easier. The optimisation of the new concentrator module
begins with the replacement of the circular bifacial cells by squared bifacial cells. The
side of each cell is 10 cm and the module is composed by three strips with twelve
solar cells each. The strips are separated for a given distance, which was optimised
as well is the distance between the cells plan and the diffuse reflector of the optical
system. In the new module, strips are placed in a west-east orientation and the
analysis was done for a module with a slope of 48 degrees in Porto Alegre.
The strip distribution along the frontal plan of the optical system and the distance
between them and the reflector affect the module performance. Such geometric
parameters must be optimised considering the incident radiation on the rear face
bifacial cells, as well as the module cost. To do that optimisation, it is necessary to
determine the radiation amount that incides on rear face of the bifacial cells and, for
that, it is used the view factor or form factor between two surfaces, i.e., the fraction of
reflected (or emitted) energy that leaves one surface and arrives on the other.
In order to obtain optimal parameters, it was firstly determined the view factor for
a situation in which the shadow is under the cell strip and aligned to it. Such analysis
was performed with the three stripes and considering their respective shadows. In
this situation, the module area and thickness were varied. Having these data, the
optical concentration of the concentrator was calculated. A cost evaluation labour
costs to build the device was done. Those costs were related with the optical
concentration in order to determine the best module configuration. Having the
parameters of the optimised device, the view factor between the diffuse reflective
surface and the cells strips were calculated, considering the shadow moving under
them during a day to analyse the module during a year.
In conclusion, the module response will be limited by cell strips on the edges,
because they are series connected and the electrical current will be given by that of
worst performance. The best thickness of the optical system and the best distance
between the cell strips, considering the relation between optical concentration and
XVIII
the cost, was 6 cm and 10 cm, respectively. The concentrator will have a total area of
60 cm x 120 cm. The MEC-P module cost was US$ 2,3 per watt, while the cheapest
standard module found in the market was US$ 3,3 per watt, resulting in a cost
reduction of approximately 30%. Comparing the responses of a concentrator module
and a standard one during a year, it can be noticed that both worked similarly,
although MEC-P module generates, on average, 35% more electrical energy.
1
1 INTRODUÇÃO
Sabe-se que a sociedade é altamente dependente de energia. De certa forma a
sua evolução está relacionada com o desenvolvimento de tecnologias de conversão
de energia, com o objetivo de qualificar o modo de vida. No contexto atual, em que
os problemas ambientais se agravam e os combustíveis fósseis se esgotam, a
produção de energia elétrica não é suficiente e os países industrializados estão
preocupados com as fontes não renováveis. Em virtude deste problema, surge o
interesse pelas fontes renováveis e limpas para produção de energia, onde a
energia solar se destaca. A comprovação deste fato está ligada às pesquisas e
aplicações desta tecnologia que estão crescendo continuamente [1]-[5]. Por
exemplo, estima-se que em 2025, o número de empregos gerados pela indústria de
módulos fotovoltaicos seja similar ao de industrias automobilísticas atuais [5].
É definida como fonte de energia um depósito, onde encontra-se o material para
obtenção do tipo de energia desejado. O Sol é responsável pela origem da maioria
dos nossos recursos energéticos, renováveis e não renováveis. As fontes de energia
não renováveis têm por característica sua fácil obtenção, pela sociedade atual, como
o carvão, o petróleo, o gás natural, o urânio, etc., mas ao serem utilizadas podem
produzir danos ambientais irreversíveis. Por outro lado as fontes renováveis, como a
energia solar, o potencial hidráulico de rios e das represas, a energia eólica e a
biomassa, destacam-se pelo fato de provocarem poucas alterações ambientais.
2
No Brasil, a crise energética do ano de 2001 provocou um racionamento nas
regiões sudeste, centro-oeste e nordeste e uma racionalização na região sul,
transformando-se em um problema diário para os brasileiros. Uma das
características do sistema elétrico brasileiro é a concentração de mais de 90% de
sua matriz energética em centrais hidrelétricas. Neste caso, a fonte de energia é
renovável, porém possui um ponto negativo que é a inundação de grandes áreas,
alterando o sistema ecológico e climático da região. Parte da fauna e flora pode ser
extinta e se houver algum povoado nesta região, o mesmo teria que se transladar
para outro local e sua população habituar-se às novas condições sociais. Além
disso, nos lagos artificiais produz-se metano, que contribui para o efeito estufa.
Entre as fontes renováveis, encontra-se a energia solar. É possível obter,
energia elétrica a partir da conversão direta da energia solar, cuja tecnologia é
denominada de energia solar fotovoltaica. Esta tecnologia se caracteriza por sua
modularidade, simplicidade e rapidez de instalação bem como por ser silenciosa e
necessitar pouquíssima manutenção, estar disponível na maior parte do planeta e
principalmente, por não contaminar o meio ambiente [1]. A conversão direta da luz
solar em energia elétrica é conseguida por meio de dispositivos semicondutores
denominados células solares. As células solares usadas para este fim, são
fabricadas num substrato de material semicondutor, usualmente o silício que é
abundante na superfície da Terra. Estes dispositivos também são usados em
satélites e veículos espaciais. Deve-se salientar, entretanto, que este processo de
conversão de energia não depende do calor; pelo contrário, a eficiência da célula
solar diminui com o aumento de temperatura.
Em nível mundial, esta tecnologia de conversão de energia está avançada e em
pleno crescimento, principalmente nos países desenvolvidos. Para exemplificar, um
estudo da Associação das Indústrias de Módulos Fotovoltaicos da Europa estima
que para o ano 2010 haja uma produção anual de módulos fotovoltaicos da ordem
de 630 MWp, onde 23% do mercado estará destinado a sistemas fotovoltaicos
autônomos e 17% a sistemas conectados à rede [3]. No ano passado, o mercado de
módulos fotovoltaicos cresceu 36% [4].
A célula solar é constituída basicamente por uma junção p-n, similarmente que os
diodos semicondutores e o seu funcionamento é baseado no efeito fotovoltaico. Ao
3
incidirmos fótons nestes dispositivos obtém-se corrente elétrica e diferença de
potencial. Para viabilizar o uso desta tecnologia, estes dispositivos semicondutores
são associados, geralmente, em série, para formar um módulo fotovoltaico. Por fim,
associando módulos implementa-se um sistema fotovoltaico com a potência
desejada. No que se refere ao Brasil [6] e em especial ao Rio Grande do Sul [7], as
aplicações desta tecnologia estão crescendo e se destacando no campo das
energias renováveis. Considerando que o País possui elevados índices de radiação
solar de norte a sul, conforme mostra a Fig. 1.1 e que aproximadamente 15% da
população não dispõe de energia elétrica em suas residências, os sistemas
fotovoltaicos autônomos tornam-se uma opção inteligente. Cabe destacar que a
população menos favorecida encontra-se normalmente em locais isolados e
afastados, e portanto, esta tecnologia pode suprir esta demanda.
Figura 1.1 – Mapa da distribuição da irradiação solar média diária incidente numa superfície com o ângulo de inclinação ótimo, para o mês com a menor quantidade de radiação solar. As regiões mais intensas representam maiores valores e a unidade da irradiação solar é kWh/m2 por dia.
4
Por outro lado, ao contrário do que se possa pensar, a radiação solar na região
sul, incidente em uma superfície com o ângulo de inclinação ótimo, é elevada e
similar a de certos locais do norte ou nordeste, como mostra a Fig. 1.1. Como
exemplo, podemos comparar a irradiação horizontal média diária em Porto Alegre
(4,1 kWh/m2 dia) com aquela em Manaus (3,7 kWh/m2 dia) e Belém (4,2 kWh/m2
dia). Estes dados, somados a baixa densidade populacional em algumas regiões,
tornam a aplicação da energia solar fotovoltaica bastante competitiva em todo o
País.
O principal motivo que impede a expansão da energia solar fotovoltaica no
mercado é econômico, pois todo o seu investimento é inicial e seu custo ainda é
superior ao da energia elétrica obtida pelos meios convencionais no Brasil. Uma das
linhas seguidas para reduzir o custo desta tecnologia é concentrar a radiação solar
sobre as células solares, através de um sistema óptico [8],[9]. Desta forma, a área
ocupada por células é reduzida e, consequentemente, o custo do Wh (watt-hora)
produzido.
Com o uso da radiação solar, inicialmente para se obter temperaturas elevadas
em dispositivos térmicos, e com a evolução tecnológica da energia solar fotovoltaica,
a concentração de radiação solar sobre células solares desempenha um papel
importante na redução de custos. Ao associar as células solares a um sistema
óptico, pode-se diminuir a área de células solares sem afetar a potência elétrica
produzida.
Os concentradores convencionais, como lentes, geralmente utilizam sistemas de
orientação, aumentando o custo de manutenção. Além disto, estes sistemas não
coletam a radiação difusa. No entanto, os módulos fotovoltaicos concentradores
estáticos, direcionam os raios solares sobre as células sem a necessidade de um
mecanismo para seguir o movimento do Sol e concentram também parte da radiação
solar difusa. Se estes dispositivos forem construídos com células solares bifaciais,
ativas nas duas faces, é possível uma redução no custo da energia elétrica
produzida de até 30% [10]-[12]. Outra vantagem destes módulos é que podem ser
instalados como os convencionais, isto é, fixos sobre estruturas, telhados, fachadas
de edifícios, etc.
5
Um tipo de módulo fotovoltaico concentrador estático é o que se baseia na
reflexão difusa. O módulo fotovoltaico concentrador estático plano, MEC-P foi
concebido por pesquisadores da PUCRS e da UFRGS [13],[14]. Neste dispositivo,
as células bifaciais são colocadas com um determinado espaço entre elas de tal
forma que a radiação solar possa incidir em um plano pintado de branco posicionado
sob as células, e que por reflexão, pode atingir a face posterior das células bifaciais.
Embora o módulo MEC-P apresente vantagens em relação aos módulos
convencionais, como produzir maior potência para uma área de células solares fixa,
o seu desenho original, com todas as células igualmente espaçadas, dificulta o
processo de encapsulamento e necessita de fita de prata de maior comprimento,
dificultando sua industrialização.
O objetivo desta dissertação centra-se na otimização do módulo fotovoltaico
concentrador estático, MEC-P, modificado de forma a facilitar a sua fabricação em
linha de produção. A otimização do novo modelo do concentrador, passou pela
substituição das células circulares bifaciais, por três tiras contento um total de trinta e
seis células solares bifaciais pseudo-quadradas (quadrados cortados a partir de
lâminas circulares de diâmetro igual a 13,5cm).
A distância entre o refletor difuso e as células bem como a distância entre as as
tiras de células foram otimizadas a partir do conceito do fator de visão. O módulo
MEC-P foi otimizado a partir da melhor inclinação para módulos convencionais em
Porto Alegre.
Esta dissertação inicia no capítulo dois com um breve relato sobre as
características de módulos convencionais e de alguns módulos concentradores
estáticos, analisando o tipo de sistema óptico bem como se utiliza ou não algum
material de preenchimento.
No capítulo três é abordado o conceito de fator de visão é apresentada a álgebra
associada a este parâmetro. É analisada a álgebra dos fatores de visão com o
objetivo de desenvolver o modelo matemático para o módulo MEC-P proposto.
Tendo em vista que um dos objetivos desta dissertação é obter a otimização do
módulo MEC-P para diminuir o custo da energia produzida, no capítulo quatro foi
6
realizada a análise de custos da fabricação do concentrador, considerando o
material utilizado para a sua confecção e a mão de obra. A determinação dos
parâmetros ótimos para o novo módulo visa encontrar a melhor relação entre custo e
potência produzida. É apresentado o desenvolvimento do modelo matemático para o
cálculo do fator de visão em função do ângulo de incidência dos raios solares, bem
como sua validação experimental. Neste capítulo também é realizada uma
simulação do comportamento anual do concentrador, comparando-o com um
concentrador convencional.
No capítulo cinco resume-se a análise dos resultados obtidos, bem como são
apresentadas as sugestões para continuação deste trabalho.
7
2 MÓDULOS FOTOVOLTAICOS CONVENCIONAIS E CONCENTRADORES
ESTÁTICOS
2.1 A Célula Solar
Sabe-se que existem diversas fontes de obtenção energia elétrica. Estas podem
ser classificadas em renováveis e não renováveis. Dentre as fontes de energia
renovável, a energia solar fotovoltaica vem se destacando por ser uma forma limpa
de produção de energia elétrica a qual esta baseada no efeito fotovoltaico, que foi
descoberto por Becquerel em 1839. Este observou que surgia uma diferença de
potencial entre os elêtrodos imersos em um eletrólito quando incidia luz e que o valor
desta dependia da intensidade da luz incidente. O dispositivo que possibilita a
conversão da energia solar em elétrica é a célula solar. Com este fim as células
solares tem sido amplamente utilizadas e estudadas para aplicações terrestres e
espaciais. Os principais objetivos das pesquisas em células solares visam diminuir o
seu custo de fabricação ou obter dispositivos mais eficientes para poder competir
economicamente com as outras formas de produção de energia elétrica.
Quando se ilumina uma célula solar, é produzida na mesma uma diferença de
potencial (V) e uma corrente elétrica (I), tornando assim a célula um dispositivo de
produção de energia elétrica, conforme ilustra a Fig. 2.1
8
Figura 2.1 – Esquema de funcionamento de uma célula solar. Os círculos vazios representam as lacunas e os cheios representam os elétrons.
Uma forma de caracterizar uma célula solar é determinando a curva da corrente
elétrica em função da tensão aplicada (I-V) sob certas condições padrão. Sabe-se
que a corrente elétrica produzida por uma célula solar é dada pela diferença entre a
corrente gerada IL e a corrente de recombinação, ou de diodo ID. Simplificando a
situação, a corrente pode ser expressa a partir de um modelo exponencial e a
equação do dispositivo é [15], [16]:
1mkT
eVexp .III 0L −
−= (2.1)
onde I é a corrente elétrica do dispositivo, IL é a corrente fotogerada, I0 é a
corrente de saturação, e é a carga do elétron, V é a tensão, k é a constante de
Boltzmann, m é o fator de idealidade (geralmente de 1 a 2) e T a temperatura em
kelvin. A curva característica de uma célula solar de silício típica é representada na
Fig. 2.2.
Uma célula solar pode ser representada por um gerador de corrente de valor IL,
um diodo de junção p-n de corrente de saturação I0, fator de idealidade m, uma
resistência série e uma resistência em paralelo, como mostra a Fig. 2.3
9
Figura 2.2 – Curva característica I-V de uma célula solar sob condições de medida padrão. A densidade de corrente é a razão entre a corrente do dispositivo e área do mesmo.
Figura 2.3 – Circuito esquemático que representa uma célula solar.
A resistência paralelo tem sua maior influência na região de baixas tensões, onde
a corrente gerada pela célula é muito pequena. A origem desta resistência deve-se a
correntes de fuga pelas bordas da célula solar, por deslocações ou fronteiras de
grãos, quando existirem, e por perfurações da junção.
A resistência em série tem sua origem nos contatos metálicos com o
semicondutor, no próprio material semicondutor (resistência lateral do emissor e
resistência da base) e a resistência dos dedos metálicos que constituem a malha de
metalização. Portanto, se for considerada a resistência em série e em paralelo a Eq.
2.1, torna-se:
P
SS0L R
IRV 1
mkT
)IRe(Vexp . III
+−
−
+−= (2.2)
10
Onde Rs é a resistência em série e Rp é a resistência em paralelo.
O principal efeito da resistência em paralelo, é de reduzir a tensão de circuito
aberto e o fator de forma. A resistência em série, também reduz o fator de forma,
mas ao contrário da paralelo, diminui principalmente a corrente de curto-circuito.
A corrente gerada por uma célula solar está relacionada com a intensidade da
radiação solar que incide sobre ela. A corrente elétrica varia linearmente e a tensão
logaritmicamente. Assim, a concentração de energia solar sobre uma célula tem por
objetivo aumentar a energia elétrica produzida por área de célula. Uma forma de
alcançar este objetivo é o uso de células solares bifaciais associadas a sistemas
ópticos para concentração de radiação solar.
As células solares convencionais são projetadas para receber energia solar
somente por uma das faces, na qual existe uma fina malha metálica. Com pequenas
modificações no projeto da célula solar e incluindo uma malha metálica otimizada na
face posterior, pode-se obter um dispositivo que produz energia elétrica nas duas
faces. Convém salientar que a eficiência não é a mesma nas duas faces, mas as
fabricadas nos dias de hoje possuem uma eficiência na face posterior, em média de
90% [17]-[22] da frontal. O custo de fabricação de uma célula solar bifacial pode ser
igual ou ligeiramente maior do que o das células monofaciais.
2.2 O Módulo Fotovoltaico Convencional
2.2.1 Características Elétricas
Ao associar células solares em diferentes combinações, para obter os valores de
corrente e tensão necessários para uma determinada aplicação, cria-se o módulo
fotovoltaico. O módulo fotovoltaico não é constituído somente por células solares,
mas também, pelos materiais usados para encapsular e proteger as células, bem
como as conexões e suportes necessários. A parte mais importante de um módulo
são as células solares e, portanto, o comportamento elétrico do módulo é similar ao
deste dispositivos. A Eq. 2.2, descreve o funcionamento de uma célula, no entanto, o
comportamento do módulo é o resultado das características elétricas de todas
células solares que, em geral, não são idênticas portanto, determinar a curva do
módulo pode tornar-se algo muito complexo. Para simplificar o problema, assumem-
11
se algumas condições que acarretam erros muito pequenos nos resultados [16].
Estas simplificações são:
os efeitos da resistência em paralelo são desprezíveis;
a corrente gerada, IL, e a corrente de curto-circuito ISC, são iguais;
exp((V+IRS) / Vt) > 1 em qualquer condição de trabalho;
todas as células de um mesmo módulo são idênticas e trabalham igualmente
iluminadas e na mesma temperatura.
as diferenças de potencial nas conexões entre as células são desprezíveis.
Com estas condições, a curva característica I-V de um módulo fotovoltaico é
obtida diretamente a partir da Eq. 2.2, porém considerando que:
PM N II = (2.3)
SM NV V = (2.4)
Onde IM e VM são a corrente elétrica e a diferença de potencial do módulo
fotovoltaico, respectivamente NS e NP, o número de células associadas em série e
paralelo, como ilustra a Fig. 2.4.
Figura 2.4 – Esquema elétrico de um módulo fotovoltaico.
12
Combinando as Eq. 2.2, 2.3 e 2.4 obtém-se se a seguinte expressão:
PP
PSMSM
t
PSMSM0LM N
R
/NRI/NV1
V
/NRI/NVexp . I II
+−
−
+−= (2.5)
Onde emkTVt = . Para m = 1 e T = 300K, Vt ≈ 25mV.
Uma equação bastante utilizada para determinar a curva I-V de módulos
fotovoltaicos é descrita em função da corrente de curto circuito (ISCM) e da tensão de
circuito aberto do módulo (VOCM):
+−=
tS
SMMOCMMSCMM VN
RIV-Vexp 1II (2.6)
Onde RSM é a resistência série do módulo fotovoltaico.
2.2.2 Descrição e Características
Quando as células são encapsuladas e associadas eletricamente entre si em um
único bloco, obtém-se o módulo fotovoltaico. O encapsulamento é necessário para
proteger as células contra as agressões ambientais e para dar estrutura mecânica. O
tempo de vida dos módulos, em condições normais de operação, é superior a 25
anos, limitado pela degradação dos materiais de encapsulamento. Em resumo, o
módulo deve ser resistente às agressões do tempo, ser impermeável à água, resistir
à fadiga térmica e à abrasão. Outras características interessantes em um módulo
fotovoltaico é a sua facilidade de instalação e limpeza bem como a dissipação de
calor das células.
No mercado existem vários tipos de módulos, mas os mais típicos são os que
apresentam uma combinação de 30 a 36 células de silício cristalino, todas de
mesmo tamanho, associadas em série e encapsuladas em um sanduíche de vidro,
E.V.A (acetato de etil venila), células, E.V.A. e tedlar. A Fig. 2.5 ilustra os materiais e
a disposição dos mesmos na formação de um módulo fotovoltaico.
13
Figura 2.5 – Distribuição dos materiais que compõem um módulo fotovoltaico.
Existem módulos fabricados com células bifaciais. Nestes dispositivos as células
são encapsuladas e recobertas com placas de vidro na face frontal e posterior,
possibilitando a incidência de luz em ambos os lados. Inicialmente, estes módulos
foram colocados sobre superfície com alto albedo (alta refletância), como superfícies
brancas, a fim de aumentar a corrente elétrica [23].
2.3 Módulos Fotovoltaicos Concentradores Estáticos
Os módulos concentradores estáticos são uma alternativa para reduzir o custo da
produção de energia elétrica a partir da energia solar [9]-[14], [24]-[30]. Este tipo de
módulo tem a característica de direcionar os raios solares sobre as células, através
de um sistema óptico, sem a necessidade de um mecanismo para seguir o Sol.
Estes módulos são formados por um sistema óptico e um receptor. Os sistemas
ópticos são desenhados a partir da óptica formadora de imagens ou da óptica não
formadora de imagens, também chamada de óptica anidólica. No caso dos módulos
concentradores estáticos, os sistemas ópticos podem ser bi ou tridimensionais e são
projetados a partir da óptica anidólica. Os receptores são as células solares, que
podem ser monofaciais ou bifaciais. Em alguns destes dispositivos, o sistema óptico
está preenchido com um material diferente do ar, a fim de aumentar o fator de
concentração. Porém, neste caso, ocorre um aumento da temperatura das células
solares, diminuindo a sua eficiência. Além disso, ocorre um aumento no peso do
dispositivo, necessitando estruturas mais caras. O uso do próprio material encarece
o módulo, sendo necessária uma análise de todos este fatores.
14
Existem dois parâmetros importantes relacionados com os módulos
concentradores estáticos. A concentração óptica (Cop) e a concentração geométrica
(Cg) [31], [32]. A última é definida como o quociente entre a área da abertura de
entrada pela área do receptor. A concentração óptica é a razão entre a irradiância
incidente nas células solares quando associadas a um sistema óptico e a irradiância
que receberiam as células sem o sistema óptico [31], [16].
2.3.1 Módulos Concentradores Tipo CPC
Os primeiros CPCs (compound parabolic concentrator) foram propostos na
década de 60, quase ao mesmo tempo por Hinterberger e Winston, nos Estados
Unidos, Baranov e Melnikov na antiga União Soviética e Ploke na Alemanha. Hoje
em dia, em várias universidades desenvolvem-se e estudam-se estes
concentradores [10]-[12], [26], [27], sendo as principais: a Universidade Politécnica
de Madrid (Espanha), Tokio A&T University (Japão), University of New South Wales
(Austrália) e Fraunhofer lnstitute for Solar Energy Systems (Alemanha).
O primeiro módulo PEC-44D é um exemplo deste tipo de concentrador [10], [26],
[33]. Possui um sistema óptico linear e as células bifaciais estão instaladas no plano
da abertura de entrada, como mostra a Fig. 2.6.
Figura 2.6 – Seção transversal do módulo concentrador PEC-44D.
Seu perfil é assimétrico, composto por um ramo de parábola, uma parte de uma
circunferência e uma de elipse, definidas pelos ângulos de aceitação superior (ξ) e
inferior (θp). Sua principal característica é de concentrar a radiação solar somente na
15
face posterior das células bifaciais de forma variável ao longo do ano. No inverno
ocorre o máximo fator de concentração e no verão o mínimo. Este comportamento
compensa, em parte, a variada distribuição da radiação solar durante o ano, sendo
máxima no verão e mínima no inverno. Consequentemente, a energia fornecida por
este concentrador é aproximadamente constante ao longo do ano.
O módulo apresentado na Fig. 2.7, foi proposto por Mayregger, Auer, Niemann,
Aberle e Hezel [25] e apresenta uma significante redução no custo ao utilizar células
solares bifaciais. Este dispositivo é composto por duas tiras de nove células solares
bifaciais de 10 cm x 10 cm dispostas lado a lado e acopladas a um sistema óptico
linear, como mostra a Fig.2.7.
Figura 2.7 – Esquema do módulo concentrador, cuja seção transversal do sistema óptico é uma semicircunferência.
O sistema óptico do concentrador é composto por dois refletores em forma de
semi-cilindro, com a superfície interna espelhada, proporcionando uma reflexão
especular da irradiância solar direta. O material utilizado para construção do refletor
é uma folha de alumínio tratada. Como utiliza células solares bifaciais, apresenta
teoricamente uma concentração óptica da ordem de 2. Porém este valor é menor
devido as perdas no sistema óptico. A potência obtida deste módulo é de 55% a
60% maior comparada com aquela produzida por um módulo convencional. Não é
utilizado nenhum material para preencher o espaço entre as células e o refletor em
forma de semi-cilindro.
16
2.3.2 Módulo com Sistema Óptico em Forma de V
Este concentrador foi apresentado por Fraidenraich e Silva Fraga [30], e utiliza
células solares monofaciais, conforme mostra a Fig. 2.8. Para um valor do ângulo do
semi-vértice ψ=30º, a concentração geométrica é de 2,13. Estes dispositivos
necessitam de um sistema de rastreamento do Sol, com eixo orientado na direção
norte-sul. Foi desenhado para que a radiação incidente nas células solares seja
uniformemente distribuída. Este dispositivo não utiliza nenhum material de
preenchimento.
Figura 2.8 – Secção transversal do módulo com sistema óptico linear em forma de V.
2.3.3 Módulo Micro-Concentrador Estático.
O micro-concentrador estático ilustrado na Fig. 2.9 foi desenvolvido por Uematsu,
Warabisako, Yazawa, Muramatsu, Ohtsuka, Tsutsui, Minemura e Miyamura [34] e foi
projetado com um sistema óptico tri-dimensional, com a superfície frontal plana, a
fim de obter um alto fator de concentração.
Figura 2.9 – Esquema do módulo micro-concentrador estático.
17
A eficiência óptica deste dispositivo é de cerca de 90%, considerando os valores
da irradiação anual. A concentração geométrica é de 5,3 para células bifaciais
planas e 8,2 para células esféricas e está preenchido com um material com índice de
refração maior que um, que pode ser vidro ou plástico. Para facilitar a construção, o
sistema óptico foi simplificado e passou a ter a forma de hemisfério. Para acoplar
várias unidades, a fim de formar um módulo, a seção superior do sistema óptico foi
substituída por hexágonos.
2.3.4 Módulo Concentrador Triangular Composto
Projetado por Miñano, Badía e Salas [35], este módulo possui um sistema óptico
bidimensional e células solares bifaciais, conforme mostra a Fig. 2.10. O ângulo de
aceitação é de 30º e o material de preenchimento do sistema óptico possui um
índice de refração de 1,47. Para este tipo de módulo concentrador o limite teórico da
concentração óptica é de 5.
Figura 2.10 – Concentrador triangular composto.
2.3.5 Módulo Fotovoltaico Concentrador Estático Plano
O primeiro módulo fotovoltaico concentrador estático plano, denominado MEC-P
foi proposto por Moehlecke e Krenzinger [13], [14]. Este dispositivo consiste em um
sistema óptico com reflexão difusa e células solares bifaciais. O sistema óptico tem a
forma de uma caixa de vidro com a face superior aberta e a face posterior interna
pintada de branco a fim de formar o refletor difuso. Na face superior do sistema
óptico são instaladas as células solares bifaciais encapsuladas e distribuídas de tal
18
forma que permitem a incidência de radiação solar no refletor. A radiação solar
refletida pelo sistema óptico incide na face posterior das células bifaciais, como
ilustra a Fig. 2.11.
Figura 2.11 – Esquema da seção transversal do módulo concentrador estático MEC-P, mostrando a trajetória dos raios solares.
Na Fig. 2.12 mostra-se o primeiro protótipo deste módulo. Com este tipo de
módulos é possível produzir 25% a mais de energia elétrica para a mesma área de
células [14], se for considerado que: 1) a eficiência das células monofaciais e da face
frontal das bifaciais são similares e 2) a eficiência da face posterior é 25% menor.
Figura 2.12 – Primeiro protótipo do módulo concentrador estático plano (MEC-P).
2.3.6 Módulo Fotovoltaico Concentrador Estático Plano com Refletores Difusos Coloridos
Para este módulo foram analisados refletores difusos com diferentes cores [36]. A
análise realizada foi experimental, a partir da construção de um protótipo do módulo
MEC-P, que possibilita acoplar os diferentes refletores difusos. Na Fig. 2.13 ilustra-
se o protótipo. Foram analisados refletores nas cores, amarela, laranja, vermelho,
verde, azul, marrom, lilás, cinza, azul escuro, verde escuro, cujas refletâncias
19
médias, no intervalo em que a célula solar de silício é sensível, variou de 0,75
(branco) a 0,32 (verde escuro).
Figura 2.13 – Protótipo do módulo MEC-P construído a fim de analisar experimentalmente a influência na concentração ótica dos refletores difusos coloridos.
Como era esperado, o melhor refletor é o branco, com uma concentração óptica
de 1,56. No entanto, para os refletores com as cores amarela e laranja, o valor da
concentração óptica encontrada é próxima daquela do refletor branco. A redução
percentual na performance do módulo é de 5% e 7%, para o refletor amarelo e
laranja, respectivamente. Este resultado significa que o módulo MEC-P com estas
cores é viável, pois as perdas na performance do mesmo são pequenas. A pior
resposta do módulo concentrador ocorre quando o refletor verde escuro é utilizado,
com uma concentração óptica de 1,17 e uma redução percentual na performance de
25%.
20
3 DESENVOLVIMENTO E DETERMINAÇÃO DO MODELO MATEMÁTICO
3.1 Introdução
O objetivo deste trabalho é otimizar o módulo MEC-P modificado, pois a
distribuição uniforme das células dificulta a sua industrialização. Portanto, a fim de
viabilizar a construção do módulo, é proposto que as células sejam encapsuladas
em tiras. O sistema óptico do módulo MEC-P está baseado na reflexão difusa e
portanto, para desenvolver o modelo matemático para a otimização do módulo
concentrador é necessário o conceito de fator de visão e da álgebra associada.
Neste capítulo são definidas as equações utilizadas para determinar o fator de visão.
3.2 Fator de Visão
A Fig. 3.1 mostra duas superfícies cujas áreas são A1 e A2, e que estão
separadas por um meio, como por exemplo, o ar. Deseja-se obter uma expressão
geral para a transferência de energia entre estas duas superfícies quando mantidas
a diferentes temperaturas. Para realizar esta análise, é necessário calcular a
quantidade de energia que deixa uma superfície e atinge a outra, isto é, a troca de
radiação entre as superfícies. Para isto, é necessário determinar o fator de visão. O
fator de visão ou fator de forma entre duas superfícies é por definição, a fração de
energia refletida (ou emitida) que deixa uma superfície e chega na outra.
21
Figura 3.1 – Diagrama mostrando as superfícies, os elementos de área, e os ângulos φ1 e φ2, utilizados para a obtenção do fator de visão entre as duas superfícies.
Quando um fluxo de radiação solar atinge uma superfície, podem ser observados
dois tipos de reflexão. Se o ângulo de incidência for igual ao ângulo de reflexão, a
reflexão é dita especular. Por outro lado, quando o raio incidente é refletido
uniformemente em todas as direções, a reflexão é dita difusa. Estes dois tipos de
reflexão são ilustrados na Fig. 3.2. O conceito de fator de visão pode ser aplicado
somente para superfície de reflexão difusa.
(a) (b)
Figura 3.2 – Reflexão especular (a) e reflexão difusa (b)
Por definição, a energia por unidade de tempo que deixa a superfície 1 e atinge a
superfície 2 é [37]:
121112 FABE = (3.1)
22
Onde B1 é a energia por unidade de tempo e de área, também denominada de
radiosidade, A1 é a área da superfície 1 e F12 é a fração de energia que deixa a
superfície 1 e chega a superfície 2.
Da mesma forma, a energia que deixa a superfície 2 e atinge a superfície 1 é
dada por:
212221 FABE = (3.2)
Onde B2 é a energia por unidade de tempo e de área, A2 é a área da superfície 2
e F21 é a fração de energia que deixa a superfície 2 e chega à superfície 1.
Supondo que toda a radiação que chega nas superfícies seja absorvida, a troca
de energia entre as mesmas é:
2122121112 FABFABQ −= (3.3)
Se ambas as superfícies se encontram à mesma temperatura, não existe
transferência de calor, isto é, 0Q12 = . Além disso,
21 BB = (3.4)
e, portanto,
212121 FAFA = (3.5)
A Eq. 3.5 é conhecida como relação de reciprocidade, e pode ser escrita para
duas superfícies genéricas m e n como:
nmnmnm FAFA = (3.6)
Esta relação é válida para qualquer troca de radiação entre duas superfícies.
Para obter uma relação geral para F12 (ou F21), consideram-se os elementos de área
dA1 e dA2 mostrados na Fig. 3.1. Os ângulos φ1 e φ2 são medidos entre a normal às
superfícies e a linha r, que representa a distância entre os elementos de área.
A projeção de dA1 sobre a linha r, que une os centros dos elementos de área é:
23
11 cosdA φ (3.7)
Na Fig. 3.3 apresenta-se a projeção dos parâmetros sobre um plano a fim de
mostrar com maior clareza o problema.
Figura 3.3 – Vista bidimensional da projeção do elemento de área dA1
Sabendo que B1 representa a energia por unidade de tempo e área que deixa a
superfície infinitesimal dA1, a intensidade correspondente é dada por [37], [38]:
BI 11
π= (3.8)
A potência irradiada dϕ1 que deixa o elemento de superfície dA1 em direção a
superfície infinitesimal dA2 é definida por:
dω cos dAIdφ 1111 φ= (3.9)
Onde dω é o ângulo sólido, que por definição é [38]:
222
r
cos dAdω
φ= (3.10)
Substituindo a Eq. 3.10 na Eq. 3.9 e escrevendo I1 em função de B1, obtém-se:
221211
r
dA dA cos cos Bd
π
φφϕ = (3.11)
A potência irradiada que deixa dA1 em todas as direções é dada por:
24
11dAB (3.12)
A razão entre as expressões (3.11) e (3.12) representa a fração de energia que
deixa dA1 e que incide em dA2, ou seja:
2221
dAdAr
dA coscosdF
21 π
φφ=− (3.13)
A expressão 3.13 é a definição do fator de visão, também denominada de fator
de forma. Desta equação nota-se que o fator de visão é proporcional ao elemento de
área dA2. Da mesma forma, a fração de energia que sai da superfície infinitesimal
dA2 e chega a dA1 é representada por:
2112
dAdAr
dA coscosdF
12 π
φφ=− (3.14)
Fazendo a razão entre as eq. 3.13 e 3.14, obtém-se a seguinte relação:
1221 dAdA 2dAdA1 dFdAdF dA −− = (3.15)
Esta relação é denominada de relação de reciprocidade, e é de grande utilidade
para a álgebra do fator de visão e para a determinação do mesmo para o
concentrador a ser otimizado.
Quando tratamos com superfícies finitas, a Eq. 3.13 deve ser integrada na área
A1, A2 ou ambas. Deste modo, chega-se nas seguintes expressões:
2
A2
21AdA dA
r
cos cosF
2
21 ∫=−π
φφ (3.16)
e
∫ ∫=−
1 2
21
A A2
21211
1AA
r
dA dA cos cos B
A
1F
π
φφ (3.17)
Repetindo o procedimento anterior, obtém-se a mesma relação de reciprocidade.
Assim temos:
25
1221 dAA2AdA1 dFAFdA −− = (3.18)
e
1221 AA2AA1 F AF A −− = (3.19)
Para simplificar, o fator de visão da superfície 1 para a superfície 2 (FA1-A2) será
representado por F12. A resolução da integral da Eq. 3.17 geralmente torna-se difícil,
mas existem tabeladas as soluções para várias configurações típicas entre duas
superfícies. A seguir, apresentam-se três soluções desta integração para
configurações que poderiam ser utilizadas para calcular o fator de visão entre o
refletor difuso do MEC-P modificado e a face posterior das células bifaciais. O
resultados destas três configurações foram comparados.
(a) (b) (c)
Figura 3.4 – Configurações selecionadas para a determinação do fator de visão entre duas superfícies.
A solução analítica para o caso mostrado da Fig. 3.4 (a) é dada por [40]:
HH1FF 21221 −+== −− (3.20)
onde W
hH =
Relativo a configuração da Fig. 3.4 (b), tem-se [40]:
( ) ( )
+−−++=− 4BC4CB
2B
1F 22
21 (3.21)
26
onde a
bB = e a
cC =
Para a configuração representada na Fig. 3.4 (c), a solução é [38]-[40]:
( )( )
−−+
++
+++
++
++
=−
YarctanYXarctanXX1
YarctanX1Y
Y1
XarctanY1X
YX1
Y1X1ln
πXY
2F
2
2
2
2
21
22
22
21 (3.22)
onde c
aX = e c
bY =
3.3 Relações Entre os Fatores de Visão
Existem algumas relações úteis entre fatores de visão que facilitam a
determinação da energia que deixa uma superfície e chega na outra. Algumas
destas relações podem ser obtidas, considerando o sistema mostrado na Fig. 3.1.
A álgebra do fator de visão é baseada no princípio da conservação da energia.
Se se deseja determinar o fator de visão da superfície A3 para a superfície
combinada A12, apresentados na Fig. 3.5, pode-se usar a seguinte relação:
3231123 FFF +=− (3.23)
Figura 3.5 – Esquema mostrando superfícies combinadas.
27
Ou seja, para determinar o fator de visão de uma forma total, deve-se somar as
suas partes. Esta relação também pode ser escrita da seguinte forma:
2-331-331,233 FAFAFA +=− (3.24)
Ao utilizarmos as seguintes relações de reciprocidades:
312121233 FAFA −− = (3.25)
131313 FAFA = (3.26)
232323 FAFA = (3.27)
a Eq. (3.25) pode ser reescrita como
32-23-1131212 FAFAFA +=− (3.28)
Esta relação expressa que, a radiação total que atinge a superfície 3 é a soma
das radiações provenientes das superfícies 1 e 2.
3.4 Determinação da Melhor Configuração para o Cálculo do Fator de Visão
Com base na álgebra entre os fatores de visão e nas três configurações
apresentadas anteriormente, foi determinada a melhor equação, para calcular a
fração da radiação difusa refletida pelo sistema óptico que chega na face posterior
das células.
Primeiramente, comparou-se o cálculo do fator de visão para as Eq. 3.4 (a),
3.4 (b) e 3.4 (c) considerando que as superfícies estão frente a frente e as duas
áreas iguais. Nesta análise, variou-se a distância entre as superfícies para verificar o
comportamento do fator de visão. A área foi fixada em função do tamanho das
células bifaciais que serão utilizadas, ou seja, de 10 cm x 120 cm. Os resultados são
apresentados na Fig. 3.6. Nota-se que o comportamento do fator de visão para as
três equações é similar, sendo que os valores encontrados para a configuração
representada na Fig. 3.4 (a) e 3.4 (b) obviamente são iguais. Nos três casos,
28
conforme esperado, o fator de visão diminui com o aumento da distância entre as
superfícies.
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,90
1,00
0 10 20 30 40 50
Distância entre Superfícies (cm)
Fa
tor
de
Vis
ão
Eq. 3.4 (a) Eq. 3.4 (b) Eq. 3.4 (c)
Figura 3.6 – Comparação entre os três métodos para calcular o fator de visão em função da altura.
Outra comparação realizada em relação aos resultados das equações foi a
variação da área inferior, que representa a superfície refletora de radiação difusa.
Fixou-se a área superior, que é correspondente a célula bifacial, e a distância que
separa as duas superfícies. Com base em estudos anteriores [14], o valor da altura
foi selecionado em função da concentração óptica e da relação que existe entre os
tamanhos das superfícies. Portanto, a altura utilizada para a comparação dos
resultados foi de 8 cm.
Para as configurações representadas nas Fig. 3.4 (a) e (c), foi necessário aplicar
a álgebra relativa ao fator de visão [37]-[38], para possibilitar a variação da área
inferior mantendo-se fixa a área superior. Conforme mostra a Fig. 3.7, verifica-se
que, novamente os fatores de visão apresentaram um comportamento similar e que
as configurações representadas nas Fig. 3.4 (a) e 3.4 (b) apresentaram os mesmos
valores.
Lembrando que a superfície inferior é totalmente iluminada e analisando a Fig.
3.7, nota-se que o fator de visão aumenta com o acréscimo da superfície inferior.
29
Ao comparar as figuras 3.7 e 3.6, verifica-se que as equações relativas às três
configurações resultam em valores do fator de visão similares e que os resultados
para duas das configurações são iguais.
O módulo proposto é constituído de três tiras de células bifaciais com uma
determinada separação entre elas e uma certa distância da superfície refletora
difusa. Portanto, estas tiras produzirão sombras, cuja posição em relação às células
é variável em função do ângulo de incidência da radiação solar direta.
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20Aresta da superfície (cm)
Fa
tor
de
Vis
ão
Eq. 3.4(a) Eq. 3.4(b) Eq. 3.4(c)
Figura 3.7 – Comparação entre os três métodos apresentados para calcular o fator de visão em função da variação da aresta da superfície refletora difusa.
Comparando as três configurações representadas na Fig. 3.4, verifica-se que os
valores obtidos para o fator de visão são similares. Optou-se pela configuração
mostrada na Fig. 3.4 (a), por sua simplicidade e facilidade de tratamento. Portanto
será utilizada para determinar o comportamento do fator de visão entre a superfície
refletora e a face posterior das células bifaciais durante o dia, a fim de conhecer a
energia refletida pela superfície difusa que chega nas células.
3.5 Características do Módulo Concentrador Estático Plano Modificado
O módulo concentrador estático plano, como foi mencionado no capítulo dois, é
formado por um sistema óptico e por células solares bifaciais. O sistema óptico
possui a forma de uma caixa de vidro com a face superior aberta, e a parte interna
da face posterior pintada de branco, a fim de formar o refletor difuso. Na face
superior do sistema óptico são instaladas as células solares bifaciais encapsuladas e
30
distribuídas de tal forma que permitem a incidência da radiação solar no refletor
difuso. No novo módulo concentrador estático plano proposto, o sistema óptico
continua tendo a mesma forma, porém as laterais são de vidro e o fundo é
constituído de fibra de vidro e resina, com a parte interna pintada de branco. As
células bifaciais circulares são substituídas por tiras de células bifaciais quadradas
com aresta de 10 cm, como mostra a Fig. 3.8. As bordas laterais são transparentes
para não produzirem sombra nas primeiras horas da manhã e da tarde.
Figura 3.8 – Esquema do módulo MEC-P modificado e parâmetros geométricos a serem otimizados: distância entre as tiras de células (dcc) e espessura do módulo (h).
As dimensões deste dispositivo estão relacionadas com a otimização de dois
parâmetros que são a profundidade do refletor difuso em relação a face posterior
das células, que denominamos de h, e a distância entre as tiras de células, medida
a partir do centro de cada uma (dcc), conforme ilustra Fig. 3.8. Estes parâmetros,
além de determinar o tamanho do concentrador, estão intimamente ligados ao seu
custo de fabricação e à energia elétrica produzida.
A opção de colocar as tiras de células na direção leste-oeste, deve-se ao
comportamento da movimentação da sombra. Nesta situação, ao meio-dia solar,
quando ocorrem os maiores valores de irradiância, a sombra está alinhada com as
tiras de células somente duas vezes no ano. Se as tiras forem dispostas na direção
norte-sul, todos os dias do ano, ao meio-dia solar, ocorre esta situação. Cabe
lembrar que quando a sombra está alinhada com as tiras de células o fator de visão
entre a face posterior dos cálculos bifaciais e a parte iluminada do refletor é menor,
como será demonstrado posteriormente.
31
3.6 Desenvolvimento do Modelo Matemático para o Cálculo do Fator de Visão
Um melhor entendimento do comportamento do módulo MEC-P pode ser feito a
partir da análise da trajetória dos raios solares. Na Fig. 3.9, apresenta-se a vista
lateral do mesmo e o esquema dos raios que chegam até o refletor difuso e são
refletidos para a parte posterior das células bifaciais.
Figura 3.9 – Vista lateral do módulo concentrador estático plano e projeção dos raios solares sobre o meridiano local.
Para determinar os melhores parâmetros de dimensionamento é necessário,
primeiramente, obter o fator de visão entre o refletor difuso e a face posterior das
células bifaciais. O fator de visão entre estas duas superfícies é determinado a partir
da álgebra dos fatores de visão que afirma que o fator de visão entre duas
superfícies combinadas é igual a soma dos fatores de visão das mesmas, conforme
especificado anteriormente. Portanto ao analisarmos as superfícies envolvidas,
verifica-se que é necessário separar o refletor difuso em várias áreas, com base na
área das tiras de células, pois a mesma é fixa. Na Fig. 3.10 apresenta-se a
distribuição das áreas considerando que os raios solares incidem
perpendicularmente na superfície do módulo.
Figura 3.10 – Esquema representando as áreas envolvidas no processo de determinação do fator de visão entre o refletor difuso e a face posterior das células bifaciais.
32
Aplicando então a álgebra dos fatores de visão para o esquema representado na
Fig. 3.10, e lembrando da reciprocidade entre as áreas e o fator de visão, conforme
descrito na Eq. 3.19, obtém-se as seguintes relações.
Para a tira de células da borda esquerda, representada na Fig. 3.10, tem-se.
2I22H22G22F2
2E22D22C22B22A22ABCDEFGHI2
F AF AF AF A
F AF AF AF AF AFA
++++
+++++=
(3.29)
Da mesma forma, para a tira de células central encontra-se:
5I55H55G55F5
5E55D55C55B55A55ABCDEFGHI5
F AF AF AF A
F AF AF AF AF AFA
++++
+++++=
(3.30)
E a relação para a tira de células da borda da direita, é:
8I88H88G88F8
8E88D88C88B88A88ABCDEFGHI8
F AF AF AF A
F AF AF AF AF AFA
++++
+++++=
(3.31)
A determinação do fator de visão foi separada em duas etapas. Uma determina o
fator de visão da área iluminada e a outra parte o fator de visão correspondente a
área com sombra, sempre em relação às tiras de células, representadas pelas áreas
A2, A5 e A8. Desta forma, pode-se, então, determinar o fator de visão entre
superfícies relacionando-as com a situação do concentrador a ser otimizado.
Constatou-se anteriormente, que a configuração representada na Fig. 3.4 (a) é a
que melhor se adequou para a situação atual. Com base na Eq. 3.20 e aplicando-se
a relação algébrica dos fatores de visão, obtém-se as relações necessárias para o
cálculo do mesmo, nas condições de funcionamento do módulo concentrador
estático.
Primeiramente, necessita-se calcular o fator de visão de cada uma das três tiras
em relação ao refletor difuso. Para isso utilizaram as equações 3.29, 3.30 e 3.31, a
fim de determinar o comportamento do fator de visão para cada tira. Para especificar
o procedimento adotado, como exemplo apresenta-se a equação do fator de visão
para a tira de células da borda esquerda. Neste caso não se considerou a influência
da quantidade de irradiância solar difusa na área com sombra. Este valor é da ordem
33
de 12% do total da irradiância incidente no refletor, ocasionando um aumento na
mesma proporção para todos os valores do fator de visão.
Com base no esquema da Fig. 3.10 o fator de visão entre as áreas A2 e A pode
ser determinado da seguinte forma:
A12F12AB = A1F1A + A1F1B + A2F2A + A2F2B (3.32)
Como pela reciprocidade,
A1F1B = A2F2A (3.33)
Então, obtém-se:
A12F12AB = A1F1A + A2F2A + A2F2A + A2F2B (3.34)
Isolando o termo A2F2A, chega-se na seguinte relação:
A2F2A =½ (A12F12AB - A1F1A - A2F2B) (3.35)
Da mesma forma, repetiu-se o procedimento anterior para determinar a relação
entres as áreas A2 e C, então:
A23F23BC = A2F2B + A2F2C + A3F3B + A3F3C (3.36)
Como pela reciprocidade,
A2F2C = A3F3B (3.37)
Então, obtém-se:
A23F23BC = A2F2B + A2F2C + A2F2C + A3F3C (3.38)
Isolando o termo A2F2C, chega-se na seguinte relação:
A2F2C =½ (A23F23BC - A2F2B – A3F3C) (3.39)
Repetiu-se o procedimento para às áreas A34, A45, A56, A67, A78 e A89, obtendo-se
as seguintes equações como resultado:
A3F3D= ½ (A34F34CD - A3F3C - A4F4D) (3.40)
34
A4F4E= ½ (A45F45DE - A4F4D - A5F5E) (3.41)
A5F5F= ½ (A56F56EF - A5F5E - A6F6F) (3.42)
A6F6G= ½ (A67F67FG - A6F6F - A7F7G) (3.43)
A7F7H= ½ (A78F78GH - A7F7G - A8F8H) (3.44)
A8F8I= ½ (A89F89HI - A8F8H - A9F9I) (3.45)
Repete-se o mesmo procedimento para determinar o fator de visão entre as
áreas A789 e GHI. Sabe-se que o fator de visão entre as áreas é dado:
A789F789GHI=A7F7G + A7F7H + A7F7I + A8F8G + A8F8H + A8F8I + A9F9I+ (3.46)
+A9F9G+ A9F9H+ A9F9I
Como pela reciprocidade:
A7F7H = A8F8G (3.47)
A7F7I = A9F9G (3.48)
A8F8I= A9F9H (3.49)
Então, obtém-se
A789F789GHI=A7F7G + 2A7F7H + 2A7F7I +A8F8H + 2A8F8I + A9F9I+ (3.50)
Como os valores de 2A7F7H e 2A8F8I, são conhecidos, das Eq. 3.44 e 3.45,
respectivamente, a equação final será:
A789F789GHI= A78F78GH-A8F8H+A7F7I+A89F89HI (3.51)
Isolando A7F7I, obtém-se:
A7F7I=A789F789GHI-A78F78GH+A8F8H-A89F89HI (3.52)
Repetiu-se o procedimento para às áreas A678, A567, A456, A345, A234 e A123,
obtendo-se as seguintes equações como resultado:
A6F6H= ½ (A678F678FGH - A67F67FG + A7F7G - A78F78GH) (3.53)
35
A5F5G= ½ (A567F567EFG - A56F56EF + A6F6F - A67F67FG) (3.54)
A4F4F= ½ (A456F456DEF - A45F45DE + A5F5E - A56F56EF) (3.55)
A3F3E= ½ (A345F345CDE - A34F34CD + A4F4D - A45F45DE) (3.56)
A2F2D= ½ (A234F234BCD - A23F23BC + A3F3C - A34F34CD) (3.57)
A1F1C= ½ (A123F123ABC - A12F12AB + A2F2B - A23F23BC) (3.58)
Repete-se novamente o mesmo procedimento para determinar o fator de visão,
agora entre as áreas A6789 e FGHI. Sabe-se que o fator de visão entre as áreas é
dado:
A6789F6789FGHI= A6F6F + A6F6G + A6F6H + A6F6I + A7F7F + A7F7G + +A7F7H + A7F7I + A8F8F + A8F8G + A8F8H + A8F8I + (3.59) + A9F9F + A9F9I + A9F9G+ A9F9H+ A9F9I
Como pela reciprocidade:
A6F6G = A7F7F (3.60)
A6F6H = A8F8F (3.61)
A6F6I = A9F9F (3.62)
A7F7H = A8F8G (3.63)
A7F7I = A9F9G (3.64)
A8F8I= A9F9H (3.65)
Substituindo as equações de reciprocidade e isolando A6F6I, chega-se a seguinte
equação:
A6F6I= ½ (A6789F6789FGHI - A678F678FGH + A78F78GH - A789F789GHI) (3.66)
Repetiu-se o procedimento para às áreas A5678, A4567, A3456, A2345, e A1234,
obtendo-se as seguintes equações como resultado:
A5F5H = ½ (A5678F5678EFGH - A567F567EFG + A67F67FG - A678F678FGH) (3.67)
A4F4G= ½ (A4567F4567DEFG - A456F456DEF + A56F56EF - A567F567EFG) (3.68)
36
A3F3F= ½ (A3456F3456CDEF - A345F345CDE + A45F45DE - A456F456DEF) (3.69)
A2F2E= ½ (A2345F2345BCDE - A234F234BCD + A34F34CD - A345F345CDE) (3.70)
Utilizando o álgebra dos fatores de visão e aplicando os mesmos procedimento
anteriores o fator de visão entre as áreas A56789 e EFGHI, é igual a:
A56789F56789EFGHI=A5F5E+A5F5F+A5F5G+A5F5H+A5F5I+ A6F6E+A6F6F + +A6F6G + A6F6H + A6F6I + A7F7E+A7F7F + A7F7G + +A7F7H + A7F7I + A8F8E+ A8F8F + A8F8G + A8F8H + +A8F8I + A9F9E+ A9F9F + A9F9I +A9F9G+ A9F9H+ A9F9I (3.71)
Como pela reciprocidade:
A5F5F = A6F6E (3.72)
A5F5G = A7F7E (3.73)
A5F5H = A8F8E (3.74)
A5F5I = A9F9E (3.75)
A6F6G = A7F7F (3.76)
A6F6H = A8F8F (3.77)
A6F6I = A9F9F (3.78)
A7F7H = A8F8G (3.79)
A7F7I = A9F9G; (3.80)
A8F8I= A9F9H; (3.81)
Substituindo todas as reciprocidades e isolando o termo A5F5I, obtém-se
A5F5I= ½ (A56789F56789EFGHI - A5678F5678EFGH + A678F678FGH - A6789F6789FGHI) (3.82)
O mesmo procedimento, foi realizado com as áreas A45678, A34567, A23456 e obteve-
se as seguintes equações:
A4F4H= ½ (A45678F45678DEFGH - A4567F4567DEFG - A5678F5678EFGH + A567F567EFG) (3.83)
A3F3G= ½ (A34567F34567CDEFG - A4567F4567DEFG - A3456F3456CDEF + A456F456DEF) (3.84)
37
A2F2F= ½ (A23456F23456BCDEF - A3456F3456CDEF - A2345F2345BCDE + A345F345CDE) (3.85)
Foi aplicado a reciprocidade do fator de visão e o procedimento demonstrado
acima, para determinar-se o fator de visão entre as áreas restantes, até encontrar
todos os termos da equação 3.27. O resultado obtido foi:
A2F2G= ½ (A234567F234567BCDEFG + A3456F3456CDEF - A23456F23456BCDEF - - A34567F34567CDEFG) (3.86) A3F3H= ½ (A345678F345678CDEFGH + A4567F4567DEFG - A34567F34567CDEFG - -A45678F45678DEFGH) (3.87) A2F2H= ½ (A2345678F2345678BCDEFGH - A234567F234567BCDEFG + +A34567F34567CDEFG-A345678F345678CDEFGH) (3.88) A4F4I= ½ ( A456789F456789DEFGHI + A5F5E + A5678F5678EFGH - A45F45DE - -A56F56EF + A456F456DEF - A45678F45678DEFGH - A56789F56789EFGHI) (3.89) A3F3I= ½ (A3456789F3456789CDEFGHI - A456789F456789DEFGHI + + A45678F45678DEFGH - A345678F345678CDEFGH) (3.90) A2F2I= ½ (A23456789F23456789BCDEFGHI + A345678F345678CDEFGH - - A2345678F2345678BCDEFGH - A3456789F3456789CDEFGHI) (3.91)
Substituindo as Eq 3.35, 3.39, 3.57, 3.85, 3.86 e 3.91, relativos as áreas
iluminadas na Eq. 3.27, obtém-se a seguinte relação:
A2F2ACDFGI =½ (A12F12AB - A1F1A - 2 A2F2B + A234F234BCD - A34F34CD - - A2345F2345BCDE + A345F345CDE + A234567F234567BCDEFG - - A34567F34567CDEFG + A23456789F23456789BCDEFGHI - (3.92) - A3456789F3456789CDEFGHI - A2345678F2345678BCDEFGH - + A345678F345678CDEFGH)
e, portanto, esta equação determina o fator de visão entre a área A2 e as regiões
iluminadas do plano refletor. Um procedimento similar foi realizado para a região do
refletor com sombra. Neste caso obteve-se:
A2F2BEH = ½ (2A2F2B + A2345F2345BCDE - A234F234BCD + A34F34CD - A345F345CDE + + A2345678F2345678BCDEFGH + A34567F34567CDEFG
- A234567F234567BCDEFG - A345678F345678CDEFGH) (3.93)
38
Realizando o mesmo procedimento acima para a tira de células central, obtém-se
a equação final para o fator de visão da mesma e o refletor difuso.
Fixou-se uma distância entre os centros das tiras de células de 30 cm e variou-se
a distância entre a face posterior das tiras de células e o refletor difuso, isto é, a
espessura do módulo. Os resultados obtidos são apresentado na Fig. 3.11.
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0 10 20 30 40 50
Espessura (cm)
Fa
tor
de
Vis
ão
Célula da Borda Célula Central
Figura 3.11 – Comparação entre o fator de visão correspondente à tira de células central e da borda, em função da espessura do módulo MEC-P.
Analisando a Fig. 3.11 conclui-se que o fator de visão relativo às tiras de células
das bordas é menor que o correspondente à tira central. Isto ocorre porque a
quantidade de áreas iluminadas perto da tira de células central é maior, chegando
assim mais irradiância na mesma. Como a corrente elétrica é diretamente
proporcional ao valor da irradiância, e considerando que as tiras estarão associadas
em série o comportamento do dispositivo será limitado pela tira de células da borda.
Devido a este fato, a otimização do módulo MEC-P será feita em função das tiras
das bordas.
39
4 OTIMIZAÇÃO E ANÁLISE DO MÓDULO MEC-P MODIFICADO
4.1 Introdução
Neste capítulo serão abordadas a otimização e análise do módulo fotovoltaico
concentrador estático plano, MEC-P, bem como a comprovação experimental do
modelo matemático. A otimização centra-se na aplicação da equação que determina
o fator de visão e na determinação dos parâmetros ótimos que são a distância entre
o refletor difuso e as células solares e a distância entre as tiras de células. A partir
da construção de um protótipo foram realizadas medidas experimentais para
comprovar o modelo matemático desenvolvido. Neste capítulo será realizado
também, a análise do comportamento do módulo concentrador otimizado, ao longo
do ano, através da irradiação média mensal incidente em ambas faces das células
bifaciais
4.2 Otimização do Módulo MEC-P
4.2.1 Determinação dos Parâmetros Ótimos
Para determinar qual a melhor distância entre a face posterior das células e a
superfície refletora, denominada de espessura do concentrador, e a melhor distância
entre as tiras de células, é necessário analisar a influência destes parâmetros no
custo e na resposta do módulo. Esta última pode ser avaliada através da
concentração óptica, pois esta possui uma relação direta com a corrente elétrica
40
produzida pelo módulo. Cabe ressaltar que, neste caso, quanto maior a
concentração óptica, maior será o custo e, portanto, as dimensões ótimas do módulo
estão diretamente relacionadas com ambos parâmetros.
A concentração óptica, Cop, para o módulo MEC-P é definida como a razão
entre a irradiância total incidente nas células bifaciais e a irradiância que incidiria
sem o sistema óptico acoplado. Especificamente é dada por:
F
PFop I
IIC
+= (4.4)
onde IF é a irradiância incidente na face frontal das células e IP é a irradiância
incidente na face posterior das mesmas. A irradiância é a energia solar incidente por
unidade de área e tempo.
Uma superfície pode ser considerada um refletor difuso quando a intensidade da
luz refletida é uniforme em todas as direções. Neste caso, a refletância de uma
superfície ρ é definida como a razão entre a energia incidente e a energia refletida
em todas as direções.
Para superfícies polidas e considerando que a radiação solar passa de um meio
cujo índice de refração é n1 para outro meio com índice de refração é n2, a
refletância é dada por:
( )( )
( )( )
θ+θ
θ−θ+
θ+θ
θ−θ=
ir2
ir2
ir2
ir2
tg
tg
sen
sen
2
1ρ (4.5)
onde θi é o ângulo de incidência dos raios solares e θr é o ângulo de refração. A
refração é caracterizada pelo desvio na direção de propagação de um feixe quando
este passa de um meio para outro diferente. Isto ocorre devido a mudança de
velocidade de propagação da luz em diferentes meios, conforme ilustra a Fig. 4.1.
Se o ângulo de incidência θi tender a zero, isto é, os raios da luz incidirem
perpendicularmente à superfície, a Eq. 4.5, torna-se:
2
12
12
nn
nnρ
+
−= (4.6)
41
Figura 4.1 – Refração da luz ao passar de um meio 1 para um meio 2.
Após a radiação solar atravessar uma interface, parte dela será refletida e deste
modo a quantidade de luz disponível será menor. Assim, define-se transmitância por
reflexão como:
ρ1−=τ (4.7)
Para avaliar a irradiância direta incidente na face frontal das células bifaciais
considerou-se a reflexão no vidro obtida a partir da Eq. 4.5 e para a componente
difusa foi considerada uma reflexão de 8% [41]
A irradiância incidente na face posterior da célula é determinada considerando as
perdas por reflexão no vidro e na face posterior das células, a refletância da
superfície branca e o fator de visão entre a superfície refletora.
A concentração óptica é dada por:
( ) ( )( )( )
BPF
EPosrDPDSDS-CBPBSFI-CBPFOP I
.ρ...IF...IFIC
τ
τττ+ττ+τ= (4.8)
onde ID é a irradiância difusa, IF é a irradiância total, ambas incidentes na superfície
frontal do módulo. τBP é a transmitância da irradiação direta na primeira interface
(ar/vidro), FC-I é o fator de visão entre a tira de células e a área iluminada
diretamente, τBS é a transmitância da irradiação direta na segunda interface
(vidro/ar), τDP é a transmitância da irradiação difusa na primeira interface (ar/vidro),
42
τDS é a transmitância da irradiância difusa na segunda interface (vidro/ar), ρr é a
refletância do refletor, FC-S é o fator de visão entre a tira de células e a região de
sombra e τEpos é a transmitância do encapsulamento na parte posterior da célula.
Para otimizar o módulo MEC-P proposto, considerou-se que os raios solares
incidem perpendicularmente à superfície, a irradiância incidente foi de 1000 W/m² e
que 20% deste valor é difusa. . O valor de 1000W/m² foi utilizado por ser uma das
condições padrão para a caracterização de módulos fotovoltaicos e facilita a
comparação com módulos convencionais. A refletância da superfície branca foi
considerada igual a 0,85 [14]. Além disso, na região com a sombra produzida pelas
tiras de células solares somente incide irradiância difusa. O valor de 20% de
radiação difusa em relação a total foi obtido a partir do cálculo da irradiação solar
diária [26] incidente na superfície do módulo com o melhor ângulo de inclinação
(β=48º) em Porto Alegre. Este procedimento será descrito com mais detalhes
posteriormente. Foram considerados valores de irradiação horária superior a
600 Wh/m², pois neste casos a potência elétrica produzida pelo módulo é mais
significativa.
Determinou-se a COP considerando que as tiras de células das bordas limitam a
resposta do módulo. Primeiramente, analisa-se a COP em função da área e da
espessura do módulo. Os resultados são apresentados na Fig. 4.2. Cabe lembrar
que o comprimento do módulo é fixo e igual a 120 cm, isto é, 12 células quadradas
de 10 cm de lado. Portanto, a área varia em função da distância entre os centros das
tiras de células.
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
1,6
1,8
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Espessura (cm)
Co
nc
en
tra
çã
o Ó
pti
ca
dcc=16cm dcc=20cm dcc=26cm dcc=30cm
dcc=34cm dcc=38cm dcc=50cm dcc=90cm
Figura 4.2 – Concentração óptica em função da variação da área do módulo e da distância entre o refletor difuso e a face posterior da tira de células.
43
A Fig. 4.2 demonstra que, quanto maior a área do módulo maior a sua
concentração óptica para a maioria dos casos. Porém neste caso, o custo também
aumenta, sendo necessária uma análise deste parâmetro. Para a maioria dos casos,
nota-se que existe um valor ótimo para cada dcc, isto é, para cada área de módulo e
que a concentração óptica aumenta até uma espessura de em torno 10 cm.
O módulo proposto terá vidro temperado de alta transparência e resina, fibra de
vidro e tinta para fabricação do refletor difuso. Também considerou-se o valor da
mão-de-obra da confecção de R$ 30,00 e que as quatro laterais do sistema óptico
são de vidro temperado de alta transparência, sendo a parte inferior constituída de
fibra de vidro e resina, com a superfície interna pintada de branco. Em relação a
superfície frontal do módulo, considerou-se o valor correspondente a 36 células
solares bifaciais encapsuladas com E.V.A. (acetato de etil venila), isto é, o custo de
um módulo convencional, e que o restante de área é constituída por vidro temperado
de alta transparência. A Fig. 4.3, mostra a relação do custo do concentrador com
aumento da espessura, para várias áreas de refletor difuso.
Como era esperado, da Fig. 4.3 nota-se que o custo do módulo aumenta quase
linearmente com o seu tamanho. Para determinar qual combinação apresentará o
melhor custo/benefício fez-se necessária uma análise do custo em função da
concentração óptica.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
0 10 20 30 40 50
Espessura (cm)
Cu
sto
(R
$)
dcc=16cm dcc=20cm dcc=26cmdcc=30cm dcc=34cm dcc=38cmdcc=50cm dcc=90cm
Figura 4.3 – Custo de um módulo com o aumento da área e da espessura.
Assim na Fig. 4.4 analisa-se a razão entre o custo e a concentração óptica em
função dos parâmetros de dimensionamento do módulo concentrador. Verifica-se
que as altas concentrações correspondem a altos custos.
44
Observa-se que a melhor configuração, em função do custo e da concentração
óptica, corresponde a distância entre os centros das células de 20 cm e a espessura
de 6 cm. Portanto, a área do módulo MEC-P é de 60 cm x 120 cm e a concentração
óptica é de 1,35.
Comparando este dispositivo com um módulo convencional constata-se que a
potência produzida, sob condições padrão de medida é de 65 W, enquanto que a
potência para um módulo convencional é de 50W. Continuando esta análise, obtém-
se que o custo do módulo MEC-P otimizado é de aproximadamente US$ 2,20 por
watt. Comparando este resultado com o menor valor encontrado no mercado para
módulos convencionais, que é US$ 3,25 por watt, conclui-se que a redução no custo
é da ordem de 30%.
0
50
100
150
200
250
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Espessura (cm)
Cu
sto
(U
S$)
/Co
nce
ntr
ação
Óp
tica
dcc=16cm dcc=20cm dcc=26cm dcc=30cm
dcc=34cm dcc=38cm dcc=50cm dcc=90cm
Figura 4.4 – Razão entre custo e concentração óptica em função da espessura e da área do módulo.
4.2.2 Comportamento do Fator de Visão em Função do Ângulo de Incidência
Com os dois parâmetros do concentrador otimizados foi determinado o
comportamento do fator de visão em função do ângulo de incidência a fim de
analisar o comportamento do módulo concentrador ao longo do ano. A fig. 4.5 ilustra
o movimento da sombra produzida pelas tiras de células sobre o refletor difuso e as
áreas que surgem em função desta movimentação.
A determinação do fator de visão a partir do modelo matemático selecionado para
o módulo MEC-P é válido somente para áreas frontais. Nesta situação, onde a
45
maioria das áreas não são frontais, foi necessário utilizar o princípio da reciprocidade
e a álgebra dos fatores de visão.
Figura 4.5 – Esquema da movimentação da sombra sobre o refletor difuso e as áreas associadas para a solução do problema.
Portanto, a Eq. 3.27, foi modificada de forma a obter-se o fator de visão entre
superfícies não frontais a partir das frontais. Baseando-se no esquema representado
na Fig. 4.5, e utilizando como exemplo, o fator de visão entre as áreas A2 e A
obtém-se:
B22A22B11A1 112AB12 FAFAFAFAFA +++= (4.9)
E pela reciprocidade:
A22B11 FAFA = (4.10)
Então
( )2B21A 112AB122A2 FAFAFA2
1FA −−= (4.11)
Da mesma forma, determinaram-se os fatores de visão entre todas as áreas
envolvidas no processo de troca de radiação e a equação final para o cálculo do
fator de visão entre a tira de células da borda esquerda e a área iluminada é:
A23F23ABEFGJKLO = ½ (A123F123ABC - A4567F4567DEFG - A234F234BCD - A1F1A+A2F2B - - A3F3C + A4F4D + A456789F456789DEFGHI - - A456789101112131415F456789101112131415DEFGHIJKLMNO + + A4567891011121314F4567891011121314DEFGHIJKLMN - - A456789101112F456789101112DEFGHIJKL + A234567F234567BCDEFG - - A23456789F23456789BCDEFGHI + + A23456789101112F23456789101112BCDEFGHIJKL -
- A234567891011121314F234567891011121314BCDEFGHIJKLMN + + A23456789101112131415F23456789101112131415BCDEFGHIJKLMNO) (4.12)
Para o fator de visão entre a tira de células e as regiões com sombra obteve-se o
46
seguinte resultado:
A23F23CDHIMN = A4567F4567DEFG + A23F23BC + A234F234BCD - 2A2F2B - 2A3F3C - A4F4D - - A456789F456789DEFGHI + A456789101112F456789101112DEFGHIJKL - - A234567F234567BCDEFG +A23456789F23456789BCDEFGHI - - A4567891011121314F4567891011121314DEFGHIJKLMN + -A23456789101112F23456789101112BCDEFGHIJKL + +A234567891011121314F234567891011121314BCDEFGHIJKLMN (4.13)
Como a variação da sombra depende do ângulo de incidência projetado sobre o
meridiano local (θip) dos raios solares e estes variam durante o dia de 0º a 90º, foi
necessário estabelecer a relação anterior para o cálculo do fator de visão para
outras cinco configurações da posição da sombra em relação às tiras de células. Os
valores do fator de visão encontrados para este método são apresentados na Fig.
4.6.
Analisando o comportamento do fator de visão durante o dia, verifica-se que
quanto mais a sombra desloca-se, deixando a parte do refletor sob as tiras de
células mais iluminada maior é o fator de visão e, portanto um maior percentual da
irradiância chega na face posterior das células. Cabe lembrar que os maiores
valores do fator de visão ocorrem para os maiores ângulos de incidência, que
correspondem as primeiras horas da manhã e as últimas da tarde, onde os valores
da irradiação são baixos.
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,90
1,00
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ângulo de Incidência projetado (graus)
Fa
tor
de
Vis
ão
Figura 4.6 – Comportamento do fator de visão em relação à variação do ângulo de incidência dos raios solares projetados sobre o meridiano local.
É importante comentar que nesta análise não considerou-se as múltiplas
47
reflexões entre o vidro e o refletor difuso e que a reflexão nas laterais do sistema
óptico é diferente da reflexão na superfície do concentrador. Também
desconsiderou-se que quando associa-se o módulo com outros nas primeiras e nas
últimas horas do dia, aparece uma região menos iluminada. Porém, a influência
destes fatores na resposta do módulo é muito pequena.
4.3 Validação Experimental do Modelo Matemático
4.3.1 Construção de um Protótipo e Medidas
Foi confeccionado um protótipo para avaliar o modelo matemático
desenvolvido, baseado na Eq. 4.12. A Fig. 4.7 ilustra o protótipo montado. O
protótipo foi projetado para simular o funcionamento da tira de células central, a fim
de facilitar as medidas e evitar a influência de reflexões externas. O refletor difuso foi
confeccionado a partir de uma superfície de madeira com comprimento de 50 cm e
largura de 30 cm. Foram aplicadas sete camadas de tinta branca fosca comercial
para formar o refletor. A fim de simular a tira de células, foi confeccionado, também
em madeira, uma tira de 10 cm de largura e 30 cm de comprimento. Nesta tira foi
acoplada uma célula solar de silício monocristalino, de 10 cm por 5 cm, previamente
calibrada, que serve para medir a irradiância solar. A superfície restante da tira foi
recoberta com papel camurça azul escuro de cor similar a da célula. A tira de
madeira foi fixada no refletor sobre suportes de 10 cm de altura e 5 cm de largura e
ambos foram recobertos com papel camurça azul escuro.
Figura 4.7 – Protótipo confeccionado para validar o modelo matemático desenvolvido.
48
As medidas foram realizadas posicionando a célula conforme ilustra a Fig. 4.8,
isto é, para medir a irradiância incidente frontalmente e em seguida a tira de madeira
era virada para medir a irradiância que provinha do refletor difuso. Nas duas
situações mencionadas inclinou-se o protótipo variando o ângulo de incidência dos
raios solares de 0º a 65º, de 5º em 5º.
Figura 4.8 – Demonstração da forma como foram realizadas as medidas com o protótipo construído.
As medidas foram realizadas durante um dia com céu sem nuvens e o protótipo
foi colocado sobre o dispositivo que permite medir o ângulo de incidência, como
mostra a Fig. 4.9. Nota-se que a superfície deste dispositivo foi recoberta com um
tecido preto, a fim de evitar a influência da refletância do mesmo. Este equipamento
resume-se em um disco com superfície branca, onde no seu plano existem diversas
circunferências, cada uma correspondendo a um determinado ângulo de incidência.
No seu centro existe um pequena ponteira metálica, cuja sombra permite determinar
o ângulo de incidência, conforme ilustra a Fig. 4.9.
Figura 4.9 – Dispositivo utilizado para medir o ângulo de incidência da radiação solar.
49
Também foram realizadas medidas para comparar a irradiância difusa com a
irradiância na região da sombra produzida pelas tiras de células. Para estas medidas
utilizou-se uma célula encapsulada e calibrada, mostrada na Fig. 4.10.
Figura 4.10 – Célula calibrada utilizada para medir a irradiância difusa.
Para medir a irradiância difusa, montou-se um sistema constituído de uma tira de
3 cm de largura que, quando encurvada, produziu uma semi-circunferência de
63,5 cm de diâmetro. Esta tira foi acoplada a um superfície de madeira pintada com
tinta preta fosca e com largura de 63,5 cm. A parte interna da tira também foi pintada
de preto para evitar reflexões. Desta forma, foi possível obter um dispositivo similar
aos comerciais usados para medir a componente difusa da radiação solar. Então,
posicionando a célula exatamente sob a sombra, é possível evitar que receba a
irradiância direta, medindo-se a irradiância difusa. A Fig. 4.11 mostra o sistema
montado e a célula calibrada na posição de medida.
Figura 4.11 – Dispositivo utilizado para medir a irradiância difusa.
50
Na Fig 4.10 ilustra-se um detalhe da posição da célula em relação a sombra
durante as medidas. Para os ângulos de incidência mencionados anteriormente, a
célula calibrada foi colocada sob a sombra produzida pela tira de madeira que simula
as tiras de células solares, Fig. 4.7 e em seguida foi posicionada na sombra
produzida pelo arco. Fig. 411.
Cabe ressaltar que tanto a célula associada ao protótipo, Fig. 4.7, quanto a outra
célula encapsulada, Fig. 4.11, foram associadas a resistores para facilitar a medida
da irradiância solar. Desta forma a corrente elétrica gerada pela célula solar é
medida através da diferença de potencial sobre o resistor, que é diretamente
proporcional à irradiância solar incidente.
4.3.1 Resultados Experimentais
As medidas foram realizadas seqüencialmente e que as mesma foram feitas
de tal forma que o ângulo dos raios incidente(θi) foram iguais ao ângulo dos raios
incidentes projetados sobre o meridiano local(θip). Primeiramente foi medida a
irradiância incidente na face frontal do módulo e depois virou-se a célula para baixo,
para medir a irradiância provinda do refletor. Para a realização destas medidas foi
utilizado um multímetro de 4½ digitos. Conhecendo a constante de calibração desta
célula, foram calculadas as respectivas irradiâncias e os resultados são
apresentados na Tabela 4.1.
Tabela 4.1 – Valores da irradiância incidente na face frontal e posterior das células bifaciais, medidas com o auxílio do protótipo construído.
θi IF(W/m²) IP(W/m²) 0 915,6 627,4 5 903,7 632,1 10 925,1 625,0 15 907,3 660,6 20 887,1 665,3 25 898,9 662,9 30 861,0 662,9 35 853,9 661,8 40 812,4 661,8 45 785,1 608,4 50 745,9 590,6 55 711,6 572,8 60 673,6 572,8
51
Para se determinar a concentração óptica do protótipo, foi utilizada a Eq. 4.4. e
os valores obtidos são apresentados na Tabela 4.2. Neste cálculo a refletividade do
refletor difuso, foi de 0,85 determinada a partir de medidas realizadas com o auxílio
de um fotodiodo no protótipo. Ao analisar estes resultados verifica-se que os valores
aumentam com o ângulo de inclinação. Cabe lembrar que o aumento do ângulo de
incidência representa o afastamento da sombra em relação à face posterior das
células e para estas medidas, θi foi considerado igual a θip.
Tabela 4.2 – Concentração óptica calculada a partir dos valores medidos de irradiância para vários ângulos de incidência (θi) dos raios solares.
θi COP 0º 1,69 5º 1,70 10º 1,68 15º 1,73 20º 1,75 25º 1,74 30º 1,77 35º 1,78 40º 1,81 45º 1,77 50º 1,79 55º 1,81 60º 1,85
A 0º a sombra está exatamente embaixo da célula, significando que uma menor
quantidade de irradiância chega na parte posterior das células. Quando o ângulo
aumenta, a sombra se desloca, possibilitando que a parte posterior das células
receba uma maior irradiância. A partir dos dados experimentais da componente
difusa de irradiância solar e da irradiância total incidente na face frontal da célula,
calculou-se o percentual de difusa em relação a irradiância total.
O valor médio encontrado foi aproximadamente 11% e não foi constatada uma
relação com o ângulo de incidência. Salienta-se que esse valor será utilizado para o
cálculo da COP a partir do modelo matemático desenvolvido.
Lembrando que o cálculo da concentração óptica é feito a partir da Eq. 4.4,
podemos, então, determiná-la a partir do modelo matemático para o cálculo do fator
de visão.
52
Tabela 4.3 – Valores medidos para irradiação frontal (IF) e difusa (ID) e os seus respectivos percentuais de difusa em relação a irradiância total.
θi IF(W/m²) ID(W/m²) % 0º 1035,0 109,7 10,6% 5º 1028,0 107,1 10,4% 10º 1019,7 103,7 10,2% 15º 1002,0 101,2 10,1% 20º 973,9 95,4 9,8% 25º 934,3 97,4 10,4% 30º 891,6 91,1 10,2% 35º 843,2 96,8 11,5% 40º 778,5 87,7 11,3% 45º 720,8 80,9 11,2% 50º 650,4 74,9 11,5% 55º 580,4 67,7 11,7% 60º 495,3 60,4 12,2%
O protótipo construído simula a célula central, cujo equacionamento é
representado pela Eq. 3.28, porém devem ser realizadas algumas alterações, pois
no protótipo, não existem todas as áreas envolvidas. No esquema ilustrado na Fig.
4.12 são mostradas as áreas envolvidas na aplicação do modelo.
Figura 4.12 – Esquema representativo da posição da sombra no protótipo, com a variação do ângulo de incidência.
O modelo matemático para esta distribuição de áreas, está baseado no modelo
da célula central, e fazendo as alterações necessárias a Eq. 3.28 toma a seguinte
forma:
A67F67DEFIJ = +2A6F6F - A8910F8910HIJ + A8F8H - A45F45DE - - A67F67FG - A678F678FGH + A7F7F + +A678910F678910FGHIJ + A4567F4567DEFG (4.13)
O esquema mostrado na Fig. 4.12 corresponde à primeira configuração do
movimento da sombra. Além desta, existem outras duas, onde na terceira, a sombra
vai saindo para fora do protótipo. Para a região do refletor com sombra, o fator de
visão é calculado separadamente, pois somente incide irradiância difusa. A equação
53
que determina o fator de visão entre a célula e a região com sombra para a primeira
configuração é:
A67F67GH = A7F7G - A6F6F + A678F678FGH - A8F8H (4.14)
Ao comparar os valores da irradiância difusa medida sob a sombra do arco do
equipamento montado e a irradiância difusa na região com a sombra do protótipo
constatou-se que esta última depende do ângulo de incidência e é maior que a
primeira, conforme pode-se comparar na Tabela 4.4.
Tabela 4.4 – Ângulos de incidência (θi), irradiância difusa medida (ID), irradiância na região de sombra produzida pelas tiras de células (IDS) e a razão entre elas.
θi (graus) IDS (W/m²) ID (W/m²) IDS/ID 0 141,4 109,7 1,309 5º 133,4 107,1 1,244 10º 136,4 103,7 1,282 15º 126,4 101,2 1,209 20º 122,1 95,4 1,201 25º 107,1 97,4 1,098 30º 100,1 91,1 1,075 35º 95,4 96,9 1,084 40º 85,0 87,7 1,047 45º 68,7 81,0 0,913 50º 62,0 75,0 0,914 55º 59,7 67,7 0,986 60º 55,0 60,4 1,065 65º 51,7 51,5 1,204
Na Fig. 4.13, apresenta-se o ajuste do polinômio aos valores da razão entre as
irradiâncias difusas.
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
1,40
0 10 20 30 40 50 60 70
IDs/ID Polinômio (IDs/ID)
Figura 4.13 – Ajuste do polinômio aos valores da razão entre as irradiâncias difusa.
54
A partir da razão entre os dois valores da irradiância difusa, ajustou-se um
polinômio, a fim de considerar esta correção na quantidade de irradiância difusa na
sombra das células. O polinômio encontrado foi:
1,275 5,328.10 ²6,5599.10 - ³8,4896.10I
I 3-i
4-i
6-
D
DS +θ+θθ= (4.15)
A partir da irradiância medida na face frontal das células bifaciais, foram
calculados os valores da concentração óptica, considerando que 11% da irradiância
incidente é difusa, a correção proposta para a irradiância na região de sombra e o
modelo para o cálculo do fator de visão. Os valores obtidos são apresentados na
tabela 4.5.
Tabela 4.5 – Valores de irradiação medida na face frontal (IF), da irradiância calculada na face posterior IP e concentração óptica determinada a partir do modelo matemático desenvolvido.
θi IF(W/m²) IP (W/m²) COP 0º 915,5785 456,1004 1,50 5º 903,7186 452,0721 1,50 10º 925,0663 465,3922 1,50 15º 907,2766 460,6529 1,51 20º 887,1149 457,0857 1,52 25º 898,9747 473,5081 1,53 30º 861,0233 467,5697 1,54 35º 853,9074 482,2629 1,56 40º 812,398 480,913 1,59 45º 785,1204 489,8534 1,62 50º 745,983 491,5322 1,66 55º 711,5895 493,8878 1,69 60º 673,638 488,9772 1,73
0,00
0,20
0,40
0,60
0,801,00
1,20
1,40
1,60
1,80
2,00
0 10 20 30 40 50 60
Ângulo Projetado de Incidência (graus)
Co
nce
ntr
ação
Óp
tica
Cop (calculada) Cop (medida)
Figura 4.14 – Comparação entre os valores da concentração óptica estimada e
experimental em função do ângulo de incidência projetado sobre o meridiano local.
55
As diferenças encontradas entre os valores da COP calculados e medidos, são,
em média de 10%. Cabe destacar que os valores estimados são inferiores aos
experimentais, como mostra a Fig. 4.14.
4.4 Análise da Resposta ao Longo do Ano
4.4.1 Irradiação Solar Sobre Superfícies Inclinadas
Considerou-se o modelo MEC-P otimizado e instalado sobre uma superfície
voltada ao norte, com uma inclinação de 48º [26] em Porto Alegre. O método
adotado para estimar a irradiação diária sobre uma superfície inclinada a partir da
irradiação diária média mensal incidente em uma superfície horizontal está descrito
na referência [26]. A seguir apresenta-se um resumo do procedimento.
4.4.1.1 Relação entre o Movimento do Sol e a Terra
Para estimar a irradiação solar sobre uma superfície inclinada é necessário
definir alguns parâmetros relativos a posição do Sol em relação à superfícies
terrestres. Sabe-se que a trajetória realizada pela Terra é um elipse e o Sol está em
um dos focos. A Terra também realiza um movimento em torno de seu eixo que
chamamos de rotação e este eixo está inclinado com um ângulo de
aproximadamente 23,5º em relação à normal do plano que forma com a trajetória
elíptica. Se utilizarmos como referência o plano do equador, a declinação solar δ é o
ângulo entre o plano do equador é uma linha reta imaginária que passa pelo centro
da Terra e do Sol. A declinação solar em radianos, pode ser obtida através da
seguinte equação [42]:
Γ3sen0,00148 + Γ3cos0,002697 - Γ2sen0,000907+
Γ2cos0,006758 - senΓ0,070257 + cosΓ0,399912 - 0,006918 = δ + (4.16)
Onde Γ é denominado de ângulo diário e pode ser determinado por :
( )365
1D 2Γ n−
=π
(4.17)
56
sendo Dn o dia do ano que varia de 1 a 365. Ao meio dia solar, a declinação
possui os valores de ±23,5º nos solstícios e 0º nos equinócios, como mostra a
Fig. 4.15.
O ângulo de zênite do Sol é o ângulo entre a reta que determina a posição do Sol
e a reta que passa pelo o observador e o zênite local, conforme Fig. 4.17, e pode ser
calculado por [41]:
cosω cos cosδsen senδcosθ LLZS φφ += (4.18)
onde ω é o ângulo horário solar que varia seu valor de 15º para cada hora, sendo
negativo pela manhã, zero ao meio-dia e positivo a tarde. φL é latitude local, positiva
para o hemisfério norte e negativa para o hemisfério sul. A elevação solar γs é igual a
90º - θzs.
Figura 4.15 – Trajetória aparente do sol e declinação solar representadas na esfera celeste.
A Fig 4.16 apresenta-se um plano inclinado de um ângulo β e orientado
arbitrariamente. A partir desta figura define-se θS como o ângulo de incidência, ou
seja o ângulo, entre a normal da superfície e a reta que determina a posição do Sol.
Este ângulo de incidência determina-se através da equação:
( )( )
senω senα senβ cosδ
cosω cosδcosα senβ sencosβcos
senδcosα senβ coscosβ senθ cos S
+
++
−=
φφ
φφ
(4.19)
57
onde α é o ângulo de azimute da superfície inclinada. Este ângulo é formado
entre a projeção da normal da superfície no plano horizontal e o meridiano do local.
Portanto, para uma superfície voltada para o Equador, no hemisfério norte o ângulo
α assume valor igual a 0º e no hemisfério sul igual a 180º.
Figura 4.16 – Trajetória do Sol no céu e definição do zênite solar (θZS), elevação solar (γS), azimute da superfície inclinada (α), ângulo de incidência dos raios solares (θS) e ângulo de azimute solar sobre uma superfície horizontal (ΨS).
4.4.1.2 Determinação da Irradiação Horária
Por tratar-se de um módulo concentrador estático, em que sua resposta varia ao
longo do dia, fez-se necessário trabalhar com os dados de irradiação horários. A
metodologia adotada para estimar os valores horários da irradiação solar sobre uma
superfície inclinada a partir da irradiação diária média mensal sobre uma superfície
inclinada foi desenvolvida em um trabalho anterior [26].
Inicialmente, a partir da irradiação diária média mensal sobre um plano horizontal,
catalogada na base de dados “International H-World” [43] e do cálculo da irradiação
extraterrestre horizontal diária média mensal [41], [42], determinaram-se os índices
de claridade KT diários médios mensais. Com estes valores e através do método de
Aguiar [44], foi possível gerar uma série de índices de transparência da atmosfera
diários para dez anos e, então, determinar a irradiação diária global. Os valores
58
diários são separados em suas componentes direta e difusa, através do método
proposto por Collares – Pereira e Rabl [41]. Então, a irradiação total e difusa horária
foi estimada a partir das expressões propostas por Liu e Jordan e Collares – Pereira
e Rabl [41]. A componente horária difusa sobre uma superfície foi calculada a partir
do método proposto por Perez [45]
4.4.2 Simulação do Comportamento do Módulo
Para analisar o comportamento do módulo ao longo do ano é necessário
determinar a irradiação diária incidente em ambas faces das células solares
acopladas ao sistema óptico do módulo MEC-P otimizado. Os valores foram
estimados a partir da irradiância horária direta e difusa incidente na superfície do
módulo, da correção para a irradiação difusa na região da sombra sobre o refletor
difuso (Eq. 4.15) e do modelo desenvolvido para o cálculo do fator de visão em
função do ângulo de incidência.
Considerou-se que a reflexão devido ao E.V.A. é similar àquela que ocorre no
vidro e que a eficiência da face posterior das células é 90% da eficiência da face
frontal [11], [21]. Na Tabela 4.6 apresentam-se os valores da eficiência das células
solares bifaciais encontradas na bibliografia [17]-[21].
Para este trabalho considerou-se o valor médio entre a eficiência na face
posterior e frontal. A partir dos valores horários foram obtidos os dados diários e
calculado a irradiação diária média-mensal para facilitar a análise.
Tabela 4.6 – Eficiência da face frontal (ηF) e posterior (ηP) e relação percentual entre a eficiência posterior e frontal.
Célula ηF ηP Percentual
1 19,1 18,1 94,8%
2 17,7 15,2 85,9%
3 20,1 17,2 85,6%
4 20,6 20,2 98,1%
5 21,3 19,8 93,0%
Considerou-se que o módulo está voltado para o Equador e inclinado em relação
a horizontal com um ângulo de 48º [26].
59
Na Fig.4.17, comparam-se estes resultados com os valores da irradiação
relativos a um módulo convencional com a mesma área de células solares. Observa-
se que a resposta dos dois módulos é similar ao longo do ano. No entanto, a energia
elétrica produzida pelo módulo concentrador é, em média, 35% superior.
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12Mês
Irra
dia
çã
o D
iári
a M
éd
ia M
en
sa
l (W
h/m
²)
Módulo Convencional MEC-P Otimizado
Figura 4.17 – Comparação entre a irradiação diária média mensal relativa a um módulo convencional e ao módulo MEC-P otimizado.
60
5 CONCLUSÕES E CONTINUIDADE
O objetivo desta dissertação foi otimizar e analisar o módulo concentrador
estático plano MEC-P, modificado de tal forma que facilite sua fabricação industrial.
O primeiro módulo MEC-P é constituído por um sistema óptico em forma de caixa
com a parte interna inferior pintada de branco. As células solares bifaciais circulares
estão igualmente distribuídas sobre a face frontal da caixa para que a radiação solar
possa atingir o refletor branco. Foi proposta uma modificação no módulo,
substituindo as células circulares por três tiras de 12 células pseudo-quadradas.
Para otimizar os parâmetros de dimensionamento, isto é, a área e a espessura do
módulo, bem como para analisar o seu comportamento ao longo do ano,
desenvolveu-se um modelo matemático com base na álgebra dos fatores de visão.
O modelo matemático desenvolvido foi comprovado experimentalmente, sendo os
resultados experimentais aproximadamente 10% superiores aos teóricos.
Como resultado da otimização foi encontrada que a espessura é de 6 cm e a
distância entre as tiras de células de 10 cm. Portanto, a área total do mesmo será de
0,72 m². A concentração óptica para o MEC-P modificado e otimizado considerando
a relação entre o custo e a concentração óptica é de 1,35. O valor encontrado para
sua potência final foi de 65 W, a um custo de aproximadamente US$ 142,00, ou
seja, US$ 2,20 por watt. Quando compararmos o custo com o de um módulo
convencional encontrado no mercado, que é de US$ 3,30 por watt, constata-se uma
redução da ordem de 30%.
61
A partir do módulo MEC-P otimizado seu comportamento ao longo do ano foi
estimado através de uma simulação numérica. Ao comparar a resposta do módulo
concentrador com um convencional ao longo do ano, ambas com a mesma área de
células conclui-se que os comportamentos são similares, porém o módulo MEC-P
produz em média 35% a mais de energia elétrica.
Como continuidade deste trabalho sugere-se o desenvolvimento de um processo
de construção e análise experimental do comportamento ao longo do ano bem como
o desenvolvimento de uma linha de produção industrial. Por último, faz-se
necessário verificar o seu desempenho em sistemas fotovoltaicos autônomos ou
conectados a rede elétrica.
62
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