Cloud computing

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ARMAZENAMENTO "VIRTUALIZADO" N as últimas décadas temos assistido a um galopar das capacidades ao nível do processamento de dados. Desde o aparecimento do transístor, que se transfor- mou na célula dos actuais circuitos proces- sadores e demais circuitos do core dos vários tipos de equipamentos, que se tem gerado uma forte pressão no sentido de aumentar a capacidade de integração, garantido uma maior velocidade de processamento. Um dos fundadores da Intel – Gordon Moore – publicou na Electronics Magazine, a 14 de Abril de 1965, um artigo onde vaticinava que a complexidade dos circuitos integrados iria duplicar, anualmente, com uma corres- pondente redução de custos. Posteriormente em 2003, ao IDGNews, aquando do 35º aniversário da Intel, este afirmou que a lei iria eventualmente acabar quando a velo- O conceito de Cloud Computing significa uma mudança no paradigma computacional actual. Em termos conceptuais, o utilizador deixa de necessitar de dispor de elevados recursos em termos de capacidade computacional e de armazenamento, pois o software, os serviços e a tecnologia deixam de ser locais para passarem a estar integradas na nuvem do servidor. Trata-se de um novo modelo para o fornecimento de serviços IT apoiado na Internet, que envolve a distribuição dinâmica e escalável (e por vezes virtualizada) dos vários recursos. Justino Lourenço* Imagens: Júpiter O novo paradigma do Cloud Computing e os seus impactos nas redes móveis. 16 CONNECT 02/2010 TEMA DE CAPA ACTUALIDADE > Cloud Computing

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Introdução e descrição da tecnologia de "Cloud Computing"

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ArmAzenAmento "virtuAlizAdo"

Nas últimas décadas temos assistido a um galopar das capacidades ao nível do processamento de dados. Desde o

aparecimento do transístor, que se transfor-mou na célula dos actuais circuitos proces-sadores e demais circuitos do core dos vários tipos de equipamentos, que se tem gerado uma forte pressão no sentido de aumentar a capacidade de integração, garantido uma maior velocidade de processamento. Um dos fundadores da Intel – Gordon Moore – publicou na Electronics Magazine, a 14 de Abril de 1965, um artigo onde vaticinava que a complexidade dos circuitos integrados iria duplicar, anualmente, com uma corres-pondente redução de custos. Posteriormente em 2003, ao IDGNews, aquando do 35º aniversário da Intel, este afirmou que a lei iria eventualmente acabar quando a velo-

O conceito de Cloud Computing significa uma mudança no paradigma computacional actual. Em termos conceptuais, o utilizador deixa de necessitar de dispor de elevados recursos em termos de capacidade computacional e de armazenamento, pois o software, os serviços e a tecnologia deixam de ser locais para passarem a estar integradas na nuvem do servidor. Trata-se de um novo modelo para o fornecimento de serviços IT apoiado na Internet, que envolve a distribuição dinâmica e escalável (e por vezes virtualizada) dos vários recursos.

Justino Lourenço* Imagens: Júpiter

O novo paradigma do Cloud Computing e os seus impactos nas redes móveis.

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cidade de funcionamento dos circuitos se aproximasse perigosamente dos limites do silício. Antes de isso acontecer, já se tem sentido um “shift” no caminho seguido pelos fabricantes. A procura de autonomia dos equipamentos informáticos portáteis, associado à necessidade de desenvolvimento de sistemas de baixo custo, levou ao apareci-mento de soluções com hardware mais limi-tado, mas que garantem as funcionalidades mínimas para um utilizador menos exigen-te. Por último, será de referir que a tentativa de implementar cada vez mais serviços nos equipamentos móveis com hardware mais limitado, como por exemplo os smartpho-nes, parece funcionar como uma alavanca para este novo paradigma. Resumindo, es-ta nova solução liberta o utilizador do ónus de ter hardware e software (mais complexo)

que satisfaçam os requisitos para o seu tra-balho, deslocando esta necessidade para o lado da rede, permitindo assim que qualquer dispositivo com um mínimo de hardware e com capacidade de multi-conectividade (WLAN, 3.5 G, etc.) possa desempenhar com sucesso uma panóplia de aplicações, que por imperativos actuais estão residentes no dispositivo móvel. Segundo estudos pu-blicados pela ABI Research, esta mudança no ponto de processamento de informação terá impactos extraordinários na área dos equipamentos móveis. Em especial na área da telefonia móvel, onde os constrangimentos ao nível do hardware, miniaturização e autonomia vão sempre sen-tir-se de forma mais intensa, a abordagem das soluções Cloud Computing é interessan-te. Cria-se a possibilidade de um utilizador

móvel poder aceder a recursos cada vez mais vastos, que podem ir desde o acesso a ferra-mentas de trabalho colaborativo, mCRM ou até mesmo na área do entretenimento, sem grandes recursos locais. Certamente irá in-tensificar, em inúmeros cenários a utilização do telemóvel como ferramenta de trabalho e entretenimento, gerando um incremento no "user revenue" para os operadores. Actu-almente, já se vulgarizam aplicações como o mobile Gmail, Google Maps e aplicações de navegação.

Soluções de Cloud Computing Actualmente, existem várias soluções (In-foWorkd, Cloud Computing por David Linthicum) no mundo do Cloud Compu-ting que procuram satisfazer as necessidades empresariais e de utilizadores particulares

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de forma adequada. Estão divididas entre as que procuram satisfazer um determinado requisito, tais como “Security-as-a-Service” ou “Testing-as-a-Service”, e as que, no outro extremo, propôem soluções integradas, tais como “Platform-as-a-Service ” ou “Infras-tructure-as-a-Service”. Em termos das categorias funcionais, po-dem dividir-se em: armazenamento, bases de dados, processamento, aplicação, plata-forma, integração, segurança, gestão, teste e infraestrutura. Quando se pensa numa solução do tipo “Platform-as-a-Service” (PaaS), uma das primeiras empresas que potenciou este mo-delo terá sido provavelmente a Salesforce, com a sua solução Force.com, que permite que as aplicações empresariais sejam desen-volvidas e executadas numa nuvem compu-tacional. Mas podemos acrescentar mais exemplos de PaaS Players: Amazon Web Services (AWS) e Google App Engine são dois outros exemplos de plataformas que têm vindo a popularizar-se. A título de re-ferência, estima-se que a AWS seja utiliza-da por mais de 1,5 milhões de utilizadores, enquanto que a Google App Engine faz o hosting de mais de 50.000 aplicações. Vantagens e Desvantagens A massificação da utilização dos serviços fornecidos por uma solução deste tipo irá criar uma redução drástica ao nível de cus-tos (hardware, software e serviços). Em si-multâneo, a partilha de uma solução de um mesmo fornecedor de serviço irá eliminar os constrangimentos das compatibilidades en-tre formatos de armazenamento. A segurança será um factor primordial para garantir a confiança empresarial necessária para a migração de serviços estratégicos de uma empresa para uma solução apoiada nu-ma nuvem. A redução de custos e a flexibilidade que é obtida obriga a uma cuidada análise do “trade-off” das vantagens e desvantagens do ponto de vista da segurança. A concentração de recursos computacionais e dados numa nuvem, transforma a solução em algo mais atractivo para ataques maliciosos, mas em si-multâneo a chamada “cloud-based defense” pode ser concebida de forma a ser mais ro-busta, escalável e claramente mais eficiente

em termos de custos de desenvolvimento. A solução apresenta claramente benefícios em termos de segurança e escalabilidade, visto que todas as medidas implementadas em larga escala acabam por apresentar custos mais reduzidos, ou dito de outra forma, com o mesmo investimento em segurança, con-seguimos com escalabilidade garantir uma protecção mais efectiva, incluindo as várias medidas de segurança possiveis (filtering, patch management or hardening of virtual machine instances). A segurança garantida será igualmente encarada pelos clientes em-presariais como uma forma de diferenciação ao nível do serviço; as empresar vão ter que fazer uma aposta na reputação da garantia de confidencialidade, integridade e redundân-cia oferecidas pelo fornecedor do serviço. A confidencialidade e a protecção de dados

traz igualmente novos desafios, dividos em duas fases: transporte e armazenamento. A garantia de segurança dos dados é primor-dial e pode ser dividida nestas duas etapas. Ao nível do transporte, os dados estão expostos aos actuais riscos do trânsito na rede wireless e numa rede pública como a Internet. O problema agora é potenciado, já que uma série de dados empresariais que viajavam apenas na rede interna da empre-sa, vão passar a estar expostos na viagem até ao fornecedor de serviço, com todos os riscos que isso acarreta. No outro extremo, o fornecedor de serviços tem que garantir que os dados vitais da empresa estão ar-mazenados com os parâmetros máximos de segurança. A definição de um interface web padro-nizado irá igualmente significar uma van-tagem acrescida em termos de utilização. A familiarização dos utilizadores em lidar com interfaces web irá permitir agilizar a utilização e desenvolvimento das aplica-ções de uma forma rápida e eficiente. O updating dos vários módulos pode ser efectuado de uma forma transparente e efi-

ciente com o mínimo de impacto na sua uti-lização, ao contrário das soluções locais que envolvem muitas vezes reajustes customiza-dos para cada dispositivo. Ao nivel da concentração de recursos (ex-ceptuando o já mencionado trade-off ao nível da segurança), permite uma economia de custos para o utilizador final, já que o custo da actualização ao nível do hardware e software do fornecedor de serviço é dilu-ído pelos vários utilizadores finais, fazendo com que o “pay-per-use” seja minimizado. Uma das questões igualmente pertinentes, terá a ver com a capacidade das redes mó-veis actuais de garantirem o incremento de tráfego de dados inerente a esta abordagem, além das questões relacionadas com cober-tura deficiente nalguns pontos geográficos. Neste ponto o aparecimento do HTML5, que é expectável estar numa versão final em 2012, permite uma evolução considerável na linguagem padrão da web. Um dos pontos fortes do HTML5 tem a ver com a possibi-lidade de eliminar a necessidade de plugins para aplicações multimédia nos browsers. Assim, será de esperar que, com a evolução da linguagem, os actuais browsers ultrapas-sem a sua actual capacidade de permitir a vi-sualização de páginas web, para uma forma de renderizador de Web Software. Com o HTML5, que irá permitir o “local caching”, o problema apontado do fluxo do tráfego e deficiências de cobertura poderá mais facilmente ser ultrapassado.

Conclusões e avanços futuros O crescimento sustentado do número de uti-lizadores de dispositivos móveis irá poten-ciar o aparecimento de web developers que desenvolverão aplicações que poderão correr em qualquer plataforma móvel. Estas aplica-ções poderão ficar alojadas num fornecedor de serviço de Cloud Computing, que o po-derá disponibilizar a milhões de utilizadores pelo mundo fora. Este facto, combinado com o avanço tecnológico constante, que permite o aparecimento de cada vez mais web bro-wsers de maior potencialidade, terá certa-mente um forte impacto no crescimento da chamada “Mobile Cloud Computing”. São apontadas duas razões principais, se-gundo a ABI Research, para que o Cloud Computing se transforme numa forma dis-

ActuAlmente, já se vulgArizArAm AplicAções como o mobile gmAil, o google mAps e vários progrA-mAs de nAvegAção.

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Em qualquer lugar

MobilidadeComo resumo de tudo o que foi já explicado, sobre os benefícios e questões de segurança sobre esta nova forma de armazenar conteúdos, há sempre um factor de que não nos podemos esque-cer, a mobilidade. As constantes necessidades de armazenamen-to de dados com que muitos se debatem diariamente, seja nos computadores pessoais de se-cretária, nos seus portáteis, e até nos seus dispositivos móveis, se-jam eles de que fabricante forem, serão, à partida, resolvidas com a implementação e massificação deste tipo de soluções. Do ponto de vista empresarial as vantagens são, como já abordámos, bastante óbvias, permitindo que todos os colaboradores de uma empresa possam aceder de uma forma muito prática e rápida a ficheiros guardados na nuvem. Isto, sem nunca esquecer as medidas de segurança que devem estar adja-centes, principalmente, a este tipo de mercado. Contudo, o acesso a conteúdos mais lúdicos, des-tinados a uma grande franja do negócio do entretenimento, são também um público-alvo a ter em conta, sobretudo se estivermos a falar de utilizadores que, dia-a-dia, actualizem vários tipos de dados como fotografias, vídeos, música, etc. Não podendo, para já, ser uma tecnologia massifica-da, a verdade é que são cada vez mais as empresas a apostar neste sector, nomeadamente a Microsoft e a HP, que acabam de estabele-cer uma parceria nesta área.

ruptiva do modelo actual do mundo da tele-fonia móvel. A primeira, tem inevitavelmen-te a ver com o potencial de utilizadores que a solução irá permitir atingir (não se limitando apenas aos smartphones mais elaborados, o requisito passa a ser o de ter um browser e alguma capacidade de processamento local). A segunda razão apontada, tem a ver com o actual modelo de distribuição de aplicações e conteúdos. Actualmente, a distribuição de aplicações está sempre relacionada com o fornecedor de telefonia móvel, e inevitavel-mente ao seu modelo de negócio de vender minutos de voz e volume de dados. Na apro-ximação do Cloud Computing essa relação deixa de existir, pois basta o acesso à web, para garantir o acesso a um conjunto vasto de aplicações (não dependentes do operador móvel), sendo de esperar que se massifiquem as aplicações do tipo freeware desenvolvidas pelos próprios utilizadores, que de seguida as partilham com a comunidade. As primeiras soluções a surgir apoiadas neste paradigma possivelmente estarão relaciona-das com aplicações colaborativas empresa-riais focadas no aumento da produtividade dos utilizadores. Na área do consumo, cer-tamente que as aplicações de entretenimento e navegação assumirão de igual forma um papel importante. Por último, têm surgido alguns estudos acer-ca do modelo de evolução do browser que, segundo a ABI Research, poderá evoluir para uma solução - OMA's Smarcard Web Server (http://www.oma-works.org/Techni-cal/release_program/scws_archive.aspx) ou na direcção de soluções como a TokTok, que permite o acesso a aplicações como o Gmail e Google Calendar através de comandos de voz (http://www.mytoktok.com/). A forma dos futuros browsers poderá alavancar a uti-lização desta solução num futuro próximo.

*Professor e investigador do Instituto Superior Politécnico Gaya.

Consultor na área das Telecomunicações.

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