Câmbio, indústria e crescimento

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Página 1 Boletim 608/14 – Ano VI – 17/09/2014 Câmbio, indústria e crescimento Por José Luis Oreiro e Nelson Marconi Durante o VII Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira, realizado recentemente em São Paulo, tivemos a oportunidade de debater com dois importantes expoentes do pensamento ortodoxo brasileiro o papel da indústria de transformação no crescimento econômico de longo-prazo. Nossa posição, baseada na teoria keynesiano- estruturalista e apoiada em ampla evidência empírica, é que um crescimento robusto da produção industrial é condição fundamental para o crescimento da economia como um todo a taxas significativas. Isso porque a indústria de transformação é o setor onde predominam os retornos crescentes de escala, materializados na chamada lei de Kaldor-Verdoorn, a qual estabelece a existência de uma relação estrutural entre a taxa de crescimento da produtividade do trabalho (dentro e fora da indústria de transformação) e a taxa de crescimento da produção industrial. Nesse contexto, uma expansão robusta da produção industrial gera os ganhos de produtividade que permitem um crescimento acelerado da economia como um todo, ao mesmo tempo em que mantem a inflação em patamares baixos e estáveis. No caso brasileiro observamos que a produção industrial, após uma rápida recuperação dos efeitos da crise financeira internacional de 2008, encontra-se estagnada desde o primeiro semestre de 2011. Essa estagnação eliminou a fonte dos retornos crescentes de escala na economia brasileira, razão pela qual os demais setores de atividade econômica, notadamente os serviços, passaram a ter um ritmo cada vez menor de crescimento, a ponto de, no primeiro semestre de 2014, apresentarem sinais nítidos de estagnação. “Uma expansão robusta da produção industrial gera os ganhos de produtividade para um crescimento acelerado” Qual a razão da estagnação da produção industrial? Ao contrário da equipe econômica do governo, não acreditamos que a razão dessa estagnação seja a insuficiência de demanda efetiva. Com efeito, desde 2011 o governo brasileiro vem dando rodadas sucessivas de estímulo fiscal e de crédito para a economia brasileira, com resultado praticamente nulo sobre o desempenho da produção física da indústria de transformação. Enquanto a produção industrial e o nível de utilização da capacidade reduziram-se 1% entre 2011 e 2013, o faturamento real do comércio ampliou-se em 19%, o volume das importações de produtos industriais em 32% e o próprio faturamento real da indústria em 9%. Os dados demonstram que parcela significativa dos estímulos à demanda doméstica vazou pelo exterior, isto é, beneficiou os produtores em outros países, devido à sobrevalorização de

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Boletim 608/14 – Ano VI – 17/09/2014

Câmbio, indústria e crescimento Por José Luis Oreiro e Nelson Marconi Durante o VII Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira, realizado recentemente em São Paulo, tivemos a oportunidade de debater com dois importantes expoentes do pensamento ortodoxo brasileiro o papel da indústria de transformação no crescimento econômico de longo-prazo. Nossa posição, baseada na teoria keynesiano-estruturalista e apoiada em ampla evidência empírica, é que um crescimento robusto da produção industrial é condição fundamental para o crescimento da economia como um todo a taxas significativas. Isso porque a indústria de transformação é o setor onde predominam os retornos crescentes de escala, materializados na chamada lei de Kaldor-Verdoorn, a qual estabelece a existência de uma relação estrutural entre a taxa de crescimento da produtividade do trabalho (dentro e fora da indústria de transformação) e a taxa de crescimento da produção industrial. Nesse contexto, uma expansão robusta da produção industrial gera os ganhos de produtividade que permitem um crescimento acelerado da economia como um todo, ao mesmo tempo em que mantem a inflação em patamares baixos e estáveis.

No caso brasileiro observamos que a produção industrial, após uma rápida recuperação dos efeitos da crise financeira internacional de 2008, encontra-se estagnada desde o primeiro semestre de 2011. Essa estagnação eliminou a fonte dos retornos crescentes de escala na economia brasileira, razão pela qual os demais setores de atividade econômica, notadamente os serviços, passaram a ter um ritmo cada vez menor de crescimento, a ponto de, no primeiro semestre de 2014, apresentarem sinais nítidos de estagnação.

“Uma expansão robusta da produção industrial gera o s ganhos de produtividade para um crescimento acelerado”

Qual a razão da estagnação da produção industrial? Ao contrário da equipe econômica do governo, não acreditamos que a razão dessa estagnação seja a insuficiência de demanda efetiva. Com efeito, desde 2011 o governo brasileiro vem dando rodadas sucessivas de estímulo fiscal e de crédito para a economia brasileira, com resultado praticamente nulo sobre o desempenho da produção física da indústria de transformação. Enquanto a produção industrial e o nível de utilização da capacidade reduziram-se 1% entre 2011 e 2013, o faturamento real do comércio ampliou-se em 19%, o volume das importações de produtos industriais em 32% e o próprio faturamento real da indústria em 9%. Os dados demonstram que parcela significativa dos estímulos à demanda doméstica vazou pelo exterior, isto é, beneficiou os produtores em outros países, devido à sobrevalorização de

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nossa moeda. Está claro que o novo ciclo de elevação da taxa Selic, iniciado em meados do ano passado, atuou como um mecanismo potente no sentido de frear a expansão da demanda agregada. Contudo, a produção industrial já patinava mesmo durante a fase em que a taxa Selic estava ao nível de um dígito; ao reduzir a demanda agregada, a política monetária mais apertada conseguiu apenas estancar a contínua elevação das importações.

O problema da indústria brasileira é que a política econômica dos últimos anos implicou uma lenta, gradual e segura perda de competitividade externa, motivada pela combinação mortal entre apreciação cambial, elevação dos salários acima da produtividade do trabalho e deterioração dos elementos "sistêmicos" da competitividade em função do baixo investimento em infraestrutura e da persistência do baixo nível de treinamento e qualificação da força de trabalho. Por consequência, o investimento privado permaneceu reduzido e, consequentemente, também a poupança.

A restauração da competitividade da indústria brasileira requer, portanto, um ataque simultâneo aos elementos "espúrios" e "sistêmicos" da competitividade, ou seja, é necessário reduzir o custo de produção por intermédio de um realinhamento da taxa real de câmbio e da vinculação dos ganhos salariais ao crescimento da produtividade do trabalho, ao mesmo tempo em que se investe na melhoria do ambiente no qual as empresas industriais realizam suas atividades. Essas medidas têm, contudo, timing diferente no que se refere à obtenção de resultados. A competitividade sistêmica é algo que se obtém no médio e longo prazo com pesados investimentos, públicos e privados, em obras de infraestrutura, na educação, treinamento e qualificação da força de trabalho e na inovação tecnológica. Essas medidas são fundamentais, mas só darão resultado num horizonte de 5 a 10 anos. No curto prazo, ou seja, no horizonte de um mandato presidencial, o que se pode fazer é ajustar a taxa de câmbio e adotar uma política negociada com os sindicatos de moderação salarial.

O ajuste da taxa real de câmbio vai exigir uma mudança profunda na condução da política fiscal. Para viabilizar a queda da taxa de juros, a desvalorização cambial e minimizar o impacto inflacionário desta última, a política fiscal terá que ser voltada para a geração de poupança pública positiva, em vez de se preocupar com o conceito enganoso (e cada vez mais desacreditado por conta das pedaladas fiscais) de superávit primário. Nesse contexto, defendemos a adoção de um regime de metas de poupança pública, no qual o Tesouro Nacional seria obrigado por lei a obter uma meta para a variável poupança pública/PIB. Como atualmente a poupança pública/PIB é próxima de zero, o ideal é que as metas sejam levemente crescentes ao longo do tempo de forma a atenuar o impacto da mudança do regime fiscal sobre o nível de atividade econômica e de emprego.

José Luis Oreiro e Nelson Marconi são, respectivame nte, presidente e vice-presidente da Associação Keynesiana Brasileira. O a rtigo expressa a opinião pessoal dos autores.

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Contribuintes vencem no STJ disputa sobre aumento d o SAT Por Bárbara Mengardo | De Brasília A 1ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que a União não poderia ter aumentado a contribuição ao Seguro de Acidente do Trabalho (SAT) - que passou a se chamar Riscos Ambientais do Trabalho (RAT) - sem apresentar os motivos. A decisão foi tomada ontem após a análise de um processo proposto por uma companhia do grupo Fiat, que teve a alíquota do tributo alterada com a edição do Decreto nº 6.957, de 2009. A ação foi ajuizada pela empresa FPT - Powertrain Technologies, que fabrica autopeças. Com a decisão favorável, a companhia deixará de pagar uma alíquota de 3% sobre a folha de salários, conforme previa o decreto, e passará a recolher 2%.

De acordo com o advogado da empresa, Marco Tulio Ibraim, do escritório Botelho Spagnol Advogados, o entendimento possibilitará pedido de restituição dos valores recolhidos indevidamente e poderá motivar outras companhias a propor ações semelhantes. Editado em 2009, o Decreto nº 6.957 reenquadrou 1.301 atividades econômicas nas alíquotas da contribuição - que variam entre 1% e 3%, de acordo com o risco de cada setor -, elevando o recolhimento para muitos contribuintes. Na ação, a FPT argumenta que os motivos para a elevação do tributo não foram apresentados. A companhia alega ainda que pouco antes da edição do decreto um anuário estatístico divulgado no site do Ministério da Previdência Social apontava que os acidentes de trabalho no setor haviam diminuído. Ao analisar o caso, o relator, ministro Napoleão Nunes Maia Filho, acolheu os argumentos trazidos pela companhia. Ele apontou que, desde a primeira instância, a União não apresentou as estatísticas que justificariam o aumento da alíquota. O magistrado destacou em seu voto que, caso o entendimento fosse vencedor, o precedente poderia embasar o pedido de outras companhias, já que o Decreto nº 6.957 alterou o SAT de diversos setores.

O ministro Arnaldo Esteves Lima, que também votou de forma favorável à empresa, declarou durante o julgamento que "mudança [na alíquota] deve ser motivada, caso contrário é uma verdadeira carta branca para a administração".

Último a votar, o ministro Sérgio Kukina foi o único a se posicionar de forma contrária à empresa. Para ele, analisar os elementos que levaram a uma elevação na alíquota significaria revisar as provas do caso, o que é vedado aos tribunais superiores. Apesar do entendimento favorável aos contribuintes, o procurador João Batista de Figueiredo, coordenador-geral da representação judicial da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), não vê um poder multiplicador na demanda. Isso porque, segundo ele, nesse caso específico não foi anexada a tempo a documentação que provaria os motivos para a elevação da alíquota. Figueiredo defendeu, entretanto, que essas informações não precisam estar expressas nos decretos que alteram alíquotas de tributo. "A motivação [para a alteração] precisa existir, mas não precisa estar anexa ao ato", afirmou. Essa não é a primeira vez que processos relacionados ao SAT chegam ao Judiciário. Em 2003, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a União poderia estabelecer por decreto os

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critérios para enquadramento dos setores econômicos previstos na legislação nas alíquotas do SAT. "Por mais que a Justiça tenha reconhecido isso, esse decreto não pode ser editado sem fundamento", disse o advogado Caio Taniguchi Marques, do escritório Aidar SDZ Advogados. Está ainda na pauta do Supremo um processo que discute a constitucionalidade do Fator Acidentário de Prevenção (FAP), mecanismo adotado para aumentar ou reduzir as alíquotas do SAT.

Destaques Danos morais

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) condenou a Transilva Transportes e Logística a indenizar em R$ 5 mil um motorista que alegou ter trabalhado pelo menos 16 horas por dia, seis dias por semana, incluindo feriados. Na reclamação trabalhista, ele informou que trabalhou por três anos para a empresa, das 6h às 22h, no mínimo, havendo ocasiões em que pernoitava no Porto de Vitória, aguardando carregamento. E houve meses, segundo ele, em que trabalhou sem nenhum tipo de folga e que a empresa tinha ciência da carga elevada de trabalho, pois os caminhões eram rastreados via satélite. Dessa forma, pediu indenização por danos morais pela afronta ao direito fundamental ao lazer, previsto no artigo 6º da Constituição. Em sua defesa, a empresa argumentou que, como a jornada do motorista era externa, não se aplicaria a ele a fixação de horários prevista na CLT. Afirmou também que não tinha como controlar a jornada porque o motorista fazia viagens interestaduais, e até mesmo os intervalos para refeição e descanso eram usufruídos "como ele desejasse". Defendeu ainda que o trabalhador não provou o horário excessivo nem a ocorrência de dano. O juiz de origem julgou improcedente o pedido de danos morais. O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Espírito Santo manteve a sentença.

Cumprimento de metas

A AEC Centro de Contatos foi condenada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) a pagar R$ 10 mil de indenização por dano moral a uma empregada, pela prática de adjetivar como "ofensores" quem não conseguisse cumprir as metas estabelecidas, retirando-os de seus postos de trabalho e colocando-os em ilha de "recuperação ou treinamento". A decisão foi da 7ª Turma, que proveu recurso da empregada para determinar o pagamento da indenização. Na ação, ela afirma que havia uma lista em cada célula/ilha que classificava os atendentes conforme o ranking de produtividade. Quem não atingisse as metas ou superasse indicadores era classificado como "ofensor" do grupo, e permanecia nessa condição até o próximo resultado. Segundo ela, os "ofensores" eram vistos como a parte "podre" do grupo. A empresa, em sua defesa, alegou que o vocábulo "ofensor" era apenas um "termo técnico", utilizado para identificar aqueles que não atingissem as metas e submetê-los a treinamento para que as alcançassem. O pedido foi julgado improcedente pelas instâncias inferiores, levando a trabalhadora a recorrer ao TST. (Fonte: Valor Econômico dia 17-09-2014).

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Encomendas vão melhorar, mas são insuficientes para salvar ano Mesmo com a expectativa de aquecimento da atividade nos últimos meses do ano, o pessimismo é elevado Jéssica Kruckenfellner SÃO PAULO - Os empresários estão pouco confiantes com relação ao desempenho da indústria em 2014. Mesmo com a expectativa de aquecimento da atividade nos últimos meses do ano, tradicionalmente marcados pelo aumento das encomendas, o pessimismo é elevado. "A demanda deve aumentar nessa época do ano, mas a confiança dos empresários continua baixa", afirma o economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Azevedo. Ele pondera que essa melhora será baseada em números registrados nos meses anteriores, que foram muito baixos - afetados pela Copa do Mundo - e não representam uma recuperação efetiva do setor. Apesar de alguns setores sinalizarem uma perspectiva de melhora para as encomendas de final de ano, o pessimismo é generalizado. "A perspectiva não é boa e nós devemos ter um resultado bem mais modesto que o ano passado", conta o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein. Para ele, existe a possibilidade de a indústria calçadista ter uma recuperação nas encomendas dos próximos meses, mas esse movimento deve ser observado com maior clareza apenas a partir de outubro.

Ciclo negativo

No segmento têxtil, a previsão é encerrar o ano com queda de 4% a 5% na produção têxtil e de até 2% na produção de vestuário, contabilizando três anos seguidos de queda. "A indústria [têxtil] não vem bem. Nós até começamos o ano melhor que a expectativa, mas a partir de abril começamos a enfraquecer e o ápice do resultado negativo se deu nos meses de junho e julho, com a Copa do Mundo", comenta o diretor superintendente da Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel. Ele destaca os reflexos da queda nas vendas do varejo, que afetam diretamente a indústria. Com o agravante do aumento nas importações, principalmente de vestuário, responsáveis pela redução da demanda nas fábricas. Segundo o diretor da Abit, a importação desses itens cresceu 5% nesse ano e detém hoje 13,1% de participação do mercado. Pimentel observa ainda que a redução cada vez maior no horizonte de tempo das carteiras de pedidos do setor têxtil tem afetado o setor. Se antes, os pedidos eram feitos com até 12 meses de antecedência, agora os pedidos chegam a ser registrados com apenas quatro meses. "O cenário ruim na economia tem encurtado esse horizonte de pedidos e com isso o empresário não sabe, por exemplo, quanto vai vender no próximo ano", afirma. Segundo Pimentel, a falta de previsibilidade tem impedido projetos de ampliação da produção, estratégias de negócios e empregos.

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Exceção O segmento de eletroeletrônicos está entre os poucos cuja perspectiva para o final do ano não é negativa. "Os empresários estão confiantes com o volume de encomendas, mas financeiramente está mais apertado que no ano passado", afirma o presidente executivo da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula. A realização da Copa do Mundo no País, que prejudicou muitos setores, ajudou a alavancar as vendas de televisores, o que garantiu um resultado melhor no primeiro semestre. Para os últimos meses do ano, Kiçula prevê uma aceleração no ritmo da produção, baseado no aumento das vendas do varejo, para atender a demanda do Natal. "Mesmo com o recuo de 5% nas vendas de eletrodomésticos da linha branca no primeiro semestre, vamos fechar o ano com resultado positivo", estima. Uma sondagem da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), realizada com cerca de 500 empresas do segmento, mostra que 46% esperam crescimento das vendas no segundo semestre deste ano ante igual período de 2013, enquanto 33% preveem queda e 21% estabilidade. A Abinee ressalta que a avaliação é, em parte, influenciada pela expectativa de mercado que o mercado todos os anos é mais aquecido no segundo semestre.

Pequenas e médias A tendência para os próximos meses, segundo o economista da CNI, Marcelo Azevedo, é que as indústrias de pequeno e médio porte acompanhem o desempenho das grandes empresas. "Isso acontece porque as fábricas menores, muitas vezes, fornecem para as gigantes do mesmo setor", explica. Ele pondera, entretanto, que esse desempenho pode variar em determinados segmentos e não descarta a possibilidade de alguns nichos apresentarem resultados positivos, na contramão do que se espera no setor. "Mas, em relação a confiança dos empresários, a perspectiva continua negativa e sem previsão de melhora", conclui.

Socorro Em geral, os representantes das indústrias dizem que as reivindicadas setoriais são as mesmas há anos, mas reconhecem que algumas delas foram atendidas pelo governo federal. A volta do programa Reintegra - que concede crédito sobre o faturamento das exportações, como medida para aumentar a competitividade - foi citada por Heitor Klein, da Abicalçados e Fernando Pimentel, da Abit, como uma possibilidade de benefício para indústria no ano que vem. Desta vez, diferente do período anterior, o programa não tem data para terminar e a alíquota será de 3% em 2015. "O problema é que, em contrapartida, a inflação e os juros continuam em um patamar elevado e o câmbio está sendo administrado em um patamar que não favorece a indústria", acredita Heitor Klein. "O cenário é aterrador e certamente nós podemos esperar mais perdas de emprego na indústria", completa o diretor de economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini.

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Indústria paulista demite 31,5 mil empregados no an o até agosto De janeiro a agosto deste ano, a indústria paulista demitiu 31,5 mil funcionários, segundo pesquisa da Federação e do Centro das Indús trias do Estado de São Paulo (Fiesp e Ciesp), divulgada ontem. A previsão é de que 2014 termine com o fechamento de mais de 100 mil vagas de trabalho no setor manufatureiro de São Paulo, segundo Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) das duas entidades.

Ele classifica este ano como "melancólico" para a indústria paulista, a qual, somente em agosto, demitiu 15 mil funcionários, sendo 12.275 vagas fechadas pelo setor manufatureiro e 2.725 pelo segmento de açúcar e álcool. "Faltam três meses para completarmos o ano e nós não vemos sinais de que tenhamos alguma recuperação", afirma.

Desempenho

O diretor compara o fraco desempenho de 2014 com a baixa performance da indústria em 2009. A diferença, segundo Francini, está em uma ligeira recuperação que a indústria demonstrou no segundo semestre daquele ano, "coisa que não se verifica em 2014".

Somente em agosto, 17 dos 22 setores avaliados pela pesquisa do Depecon anotaram baixa em seu quadro de funcionários, e cinco aumentaram seu pessoal. Já no mesmo mês em 2009, apenas nove setores registraram demissões, enquanto 11 contrataram.

O emprego industrial em São Paulo caiu o equivalente a 0,58% em agosto, sem ajuste sazonal, ou seja, a pior taxa para o mês desde o primeiro levantamento feito pelo departamento em 2005. Na leitura com ajuste sazonal, as 15 mil demissões equivalem a uma queda de 0,37%.

No acumulado de 12 meses, agosto deste ano versus agosto de 2013, a indústria demitiu 108 mil trabalhadores.

Influências

Segundo Francini, um conjunto de influências forma uma "constelação negativa" para o desempenho do setor produtivo de São Paulo. "Nessa constelação certamente existe a queda expressiva da formação bruta de capital fixo. Existe também uma queda do setor automotivo motivado por questões internas e externas, leia-se a Argentina", afirma Francini. /Estadão Conteúdo

(Fonte: DCI dia 17-09-2014).

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Salário e produtividade em descompasso Escrito por Rejane Tamoto A economia em marcha lenta e a indústria em crise contrastam com o crescimento da renda nos últimos anos. Mas o que preocupa economistas é que a elevação do salário não tem acompanhado o desempenho da produtividade, e o tema foi discutido ontem, durante o 11º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "A produtividade está estagnada desde 2009 e o vilão disso não foi o salário, mas a falta de investimento das empresas", disse Nelson Marconi, professor e pesquisador da FGV e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para ele, a taxa de câmbio abaixo do que seria o ideal para indústria, em torno de R$ 3 de acordo com seus cálculos, também interfere nesta postura das empresas. Já José Pastore, professor titular da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), atribui o problema às negociações salariais e à dinâmica demográfica. "Existe uma boca de jacaré quando olhamos o crescimento da produtividade e do custo total do trabalho (que inclui não só os salários, mas também abonos, prêmios, benefícios e encargos sociais). A questão é que a produtividade não é tão importante nas negociações salariais no Brasil quanto é nos países avançados, como Japão e Estados Unidos", afirmou o professor. Pastore citou uma pesquisa do também professor da FEA-USP Helio Zylberstajn, que mostra que no Brasil os fatores de maior peso nas negociações salariais são a taxa de inflação, com pontuação 4, e os aumentos conseguidos por outras categorias (pontuação 3,7). A produtividade tem importância menor, com 2,9 pontos, na comparação com esses dois fatores e com os desempenhos das empresas (3,9) e do mercado de trabalho (3,7). O professor disse que o desequilíbrio entre os salários e os ganhos de produtividade também têm sido afetados pela dinâmica demográfica. "Hoje, nossa população jovem é menor. O número de filhos por mulher caiu de quatro em 1982 para 1,7 em 2012. A expectativa de vida subiu de 63,4 anos para 73,9 anos no mesmo intervalo de tempo. Isso interfere na decisão dos recrutadores nas empresas, que são obrigados a diminuir as exigências pela falta de disponibilidade de pessoas para contratar. Como a produtividade não aumenta, há essa defasagem", afirmou Pastore. O aumento da produtividade não pode ser feito de forma espúria, de acordo com Clemente Ganz Lucio, diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese). Durante o debate, ele criticou o aumento da produtividade por meio do corte de postos de trabalho. "O aumento médio real do salário na indústria tem sido de 1,5% ao ano, mesmo em meio à crise. Não acho que as negociações salariais estejam fora de proporção, mas observamos que os salários de contratação tendem a ser menores", afirmou. Lucio disse que no setor de bens de capital, o salário de admissão já representa 88% do que recebia uma pessoa demitida. "A rotatividade está alta. Numa série de 2000 a 2012, descontando as aposentadorias e demissões por iniciativa do trabalhador, ela chega a ser de 37% na

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indústria", afirmou. O diretor disse, também, que não houve uma mudança estrutural nos salários, mas que o nível de emprego com carteira assinada está alto. Ao avaliar a produtividade da indústria, Lucio afirmou que há um gap entre a produtividade das grandes empresas, que é maior, e das micro, pequenas e médias. "É preciso diminuir a diferença do aumento da produtividade em diferentes setores e portes de empresas. A produtividade depende também de um pacto social, no qual a sociedade aceite fazer uma série de correções na economia", completou.

Confiança da indústria ainda está baixa Escrito por Estadão Conteúdo A confiança dos empresários brasileiros continua no menor nível desde 1999, segundo dados divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) ficou em 46,5 pontos em setembro, o mesmo nível de agosto. Esse é o menor patamar da série histórica, que teve início em 1999. Em relação a setembro do ano passado – quando os empresários ainda mostravam confiança –, houve queda de 7,7 pontos. A pesquisa mostra, segundo a CNI, que a falta de confiança já dura seis meses consecutivos e se mostra disseminada em todos os portes de empresas. É o sexto mês seguido que o índice fica abaixo da linha dos 50 pontos, o que indica falta de confiança. Os indicadores variam de 0 a 100. Os números acima de 50 indicam confiança. Os empresários de todos os portes estão desanimados. O índice de confiança das pequenas empresas está em 46,7 pontos, enquanto o das médias está em 45,4 pontos e o das grandes, 47 pontos. Segmentos Na comparação por segmento industrial, apenas a indústria extrativa mostra confiança, com 50,6 pontos. A indústria da construção tem 47,1 pontos e a de transformação, 45,8 pontos. Centro-Oeste (46,3 pontos), Sul (43,8 pontos) e Sudeste (42,8 pontos) são as regiões em que os empresários mostraram falta de confiança – e aquelas que concentram a maior parte da indústria do País. As regiões Norte (54,7 pontos) e Nordeste (51,4 pontos) apresentaram confiança. A Confederação aponta que a queda na confiança é resultado de percepção de piora nas condições da economia e da empresa, o que compromete a atividade industrial e prejudica os investimentos. A entidade informou que a pesquisa foi feita entre 1º e 10 de setembro com 2.844 empresas de todo o País, das quais 1.059 são de pequeno porte, 1.074 são médias e 711 são de grande porte. (Fonte: Diário do Comércio dia 17-09-2014).

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USP aprova abono salarial de 28,6%, mas greve conti nua

Medida gerará custo extra de R$ 85,8 milhões; defic it da universidade no final do ano deverá ser de R$ 1 bi. Funcionários dizem que paral isação prossegue enquanto reitoria exigir reposição de horas; docentes decide m na 5ª THAIS BILENKYDE SÃO PAULO O Conselho Universitário da USP aprovou nesta terça-feira (16) abono salarial de 28,6% para docentes e servidores, mas a greve, que chega ao 114º dia, foi mantida. O Sintusp (sindicato dos funcionários) comemorou a decisão, mas afirmou que não voltará ao trabalho enquanto a reitoria exigir reposição das horas paradas. O sindicato quer que o trabalho acumulado durante a greve seja reposto dentro da jornada normal de trabalho, em organização autônoma de cada unidade. A Adusp (associação de docentes) definirá se mantém a greve na quinta-feira (18). O reitor, Marco Antonio Zago, nomeou uma comissão para negociar a questão das horas extras com os funcionários em greve. As duas partes se reunirão nesta quarta-feira (17) de manhã. Na ocasião, também será debatido o pleito de reajuste de benefícios como auxílio-alimentação. À tarde, a Justiça do Trabalho fará nova audiência de reconciliação. De acordo com o reitor, o abono representará, ao final do ano, um custo extra de R$ 85,8 milhões à universidade. O reajuste salarial de 5,2% representará R$ 38,7 milhões. Somadas, as medidas representarão uma despesa adicional de R$ 124,5 milhões. Com isso, a USP não conseguirá reduzir o comprometimento do orçamento com a folha de pagamento --atualmente em 105%. O percentual depende da arrecadação de ICMS pelo Estado de São Paulo. O imposto é a principal fonte de recursos da universidade. A receita mensal da USP é de cerca de R$ 360 milhões. Os gastos chegam a R$ 450 milhões --R$ 375 milhões apenas com recursos humanos. O deficit ao final do ano será de R$ 1 bilhão, a ser bancado pela reserva da USP.

VOTOS

A reunião no Conselho Universitário teve 64 votos favoráveis à concessão do abono, 2 abstenções e 33 votos contrários. A Comissão de Orçamento e Patrimônio votou contra. Zago não revelou seu voto, mas considerou "um modelo acabado de democracia" submeter a decisão, relativa à política salarial, ao conselho, conforme determina o regimento da USP. Sobre eventuais transferências ao governo do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, já aprovada, e do Hospital Universitário, ambas recusadas pelo governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição pelo PSDB, o reitor citou soneto do poeta português Luís Vaz de Camões (1524-1580), em referência indireta à eleição: "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser". (Fonte: Folha de SP dia 17-09-2014).

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(Fonte: Estado de SP dia 17-09-2014).

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(Fonte: Brasil Econômico dia 17-09-2014).

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