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Subsdios Doutrinais - 03

Coleo Subsdios Doutrinais1 - Aparies e Revelaes Particulares. 2 - A Teologia Moral em meio a Evolues Histricas. 3 - Igreja Particular, Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades.

CONFERNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

Igreja Particular, Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades

C748i

Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil / Igreja Particular, Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades. Braslia, Edies CNBB. 2009. Igreja Particular, Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades. CNBB. 48 p. : 14 x 21 cm ISBN: 978-85-60263-68-4 1. Movimentos Cristos Modernos. CDU - 279.12

1 Edio - 2009

COORDENAO: Comisso Episcopal Pastoral para a Doutrina da F COORDENAO EDITORIAL: Pe. Valdeir dos Santos Goulart PROJETO GRFICO E CAPA: Fbio Ney Koch dos Santos DIAGRAMAO: Henrique Billygran da Silva Santos

Nenhuma parte desta obra poder ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ ou quaisquer meios (eletrnico ou mecnico, incluindo fotocpia e gravao) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permisso escrita do autor - CNBB.

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SUMRIOLISTA DE SIGLAS ....................................................................................... 7 APRESENTAO ......................................................................................... 9 INTRODUO .............................................................................................. 11 CAPTULO I

O ATUAL CONTEXTO SOCIOCULTURAL ..................................... 13Pluralismo cultural e religioso ..................................................................... 13 Crise tica ............................................................................................................ 14 CAPTULO II

NOVOS MOVIMENTOS ECLESIAIS E NOVAS COMUNIDADES ..................................................................... 17O fenmeno dos novos movimentos e das novas comunidades ...... O que so os novos movimentos e as novas comunidades? .............. Tipos de associaes de is ........................................................................ Finalidade das associaes eclesiais .......................................................... Novos movimentos eclesiais ........................................................................ Contribuio dos novos movimentos ....................................................... Novas comunidades, uma nova realidade .............................................. Principais caractersticas das novas comunidades ............................... Contribuies e desaos das novas comunidades ................................ CAPTULO III 17 20 21 21 22 23 24 25 27

O ESPRITO SANTO E A IGREJA .......................................................... 29Uma Igreja pneumtica .................................................................................. 29 Uma Igreja-comunho .................................................................................... 32 CAPTULO IV

A IGREJA PARTICULAR ........................................................................... 37Teologia da Igreja particular ........................................................................ 37 Igreja particular e Igreja universal .............................................................. 40 A comunho na Igreja particular ............................................................... 42 CAPTULO V

ASPECTOS PASTORAIS E JURDICOS ............................................... 45A comunho com o bispo na Igreja particular ........................................ 46 CONCLUSO ................................................................................................. 48

SIGLASAAAG CD Chl DV GS LG PDV PG PO RH UR VC

Apostolicam actuositatemAd gentes Christus dominus Christideles laici Dei verbum Gaudium et spes Lumen gentium Pastores dabo vobis Pastores gregis Presbyterorum ordinis Redemptoris missio Unitatis redintegratio Vita consecrata

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A P R E S E N TA OH quinze anos, em 28 de fevereiro de 1991, a ento Comisso Episcopal de Doutrina publicou o seu segundo e ltimo estudo teolgico na coleo Subsdios Doutrinais da CNBB. O primeiro estudo tratou da temtica das Aparies e revelaes particulares e o segundo sobre A teologia moral em meio a evolues histricas. Com a redenio da natureza da Comisso Episcopal Pastoral para a Doutrina da F, tendo por nalidade promover projetos visando a delidade Doutrina da Igreja e a integridade na sua transmisso, favorecendo a inteligncia da f e velando pela identidade crist do seu testemunho ante os desaos atuais, pem-se novas razes para dar continuidade a estes estudos como servio eclesial. Este terceiro estudo aborda a temtica Igreja particular, movimentos eclesiais e novas comunidades. A oportunidade deste estudo o fenmeno dos movimentos eclesiais e novas comunidades na vida da Igreja. Este fenmeno eclesial deve ser bem compreendido e acompanhado para que sejam fecundados os frutos que tm suas razes na eclesiologia de comunho que o Conclio Vaticano II desenhou como horizonte para a vida missionria e ao evangelizadora da Igreja.

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O servio eclesial deste subsdio doutrinal pretende ser um importante suporte para as reexes necessrias, alimentando adequados juzos e discernimentos, para que oresam a vida e a misso da Igreja, em obedincia ao mandato do Senhor Jesus: Ide e fazei discpulos meus... (Mt 28,20).

Braslia, DF, 10 de novembro de 2005 Comisso Episcopal Pastoral para a Doutrina da F + Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente + Dom Dadeus Grings + Dom Filippo Santoro + Dom Benedito Beni dos Santos + Dom Srgio da Rocha

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INTRODUO1. O objetivo deste subsdio doutrinal oferecer uma melhor compreenso do fenmeno dos movimentos eclesiais e novas comunidades luz da teologia dos carismas e da eclesiologia de comunho, como critrios para o seu discernimento, retomando as linhas principais do Conclio Vaticano II a respeito da Igreja particular e abrindo perspectivas para novas orientaes pastorais. Esses desaos postos misso evangelizadora da Igreja exigem atitudes de profunda f, serenidade e dilogo. O tempo presente caracterizado pelo cenrio de uma sociedade pluralista, secularizada e globalizada, trazendo srios desaos para uma Igreja que deve se constituir sempre mais como Igreja-comunidade. A Igreja Catlica recebeu do Senhor Jesus a promessa de estar com ela at o nal dos tempos (cf. Mt 28,20). Ela, Corpo de Cristo e Templo do Esprito, uma realidade inserida na histria e na sociedade. o Esprito Santo que a conduz nesse caminho e sua ao se faz sentir sempre e sobremaneira em pocas de gran- des crises e transformaes que repercutem dentro do seu corpo eclesial. Para manter viva a Igreja, o Esprito

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a enriquece com dons e carismas que esto na origem e no dinamismo de seus ministrios e servios, como tambm dos movimentos eclesiais e das novas comunidades.

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CAPTULO IO ATU AL CONTEXTO SO CIOCULTURAL

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importante situar a realidade dos movimentos eclesiais, novas comunidades e Igreja particular no contexto sociocultural atual. Isso possibilitar uma melhor compreenso de seu signicado histrico-eclesial e denio de orientaes pastorais que sejam ecazes diante dos desaos que brotam da realidade. A sociedade pluralista, do ponto de vista cultural e religioso, comporta grandes e novos desaos que repercutem inevitavelmente na vida da Igreja.

Pluralismo cultural e religioso5. O mapa da liao religiosa do Brasil tem sofrido mudanas muito signicativas. A populao catlica continua alta, mas com diminuio percentual crescente, variando conforme a regio do pas. Tende a crescer o pluralismo religioso, vericando-se um quadro complexo de diversidade nas prticas religiosas. De um lado, continua forte a presena do catolicismo popular, em algumas regies do pas, simbolizada, especialmente, pelos centros de romarias e prticas devocionais tradicionais. De outro lado, tm crescido novas denominaes religiosas, especialmente de carter neopentecostal. Essa tendncia pluralista vai, aos poucos, atingindo as pequenas localidades, seja por inuncia da mdia, seja pela atividade missionria desses novos grupos religiosos.

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Ocorrem, tambm, novas formas de experincia religiosa, centradas na escolha da pessoa, privilegiando a experincia emocional e a satisfao pessoal, muitas vezes sem relao com instituio religiosa alguma. Essa tendncia tem sido contemplada tambm por novos grupos religiosos, principalmente em ambientes onde se arma a teologia da prosperidade. Na Igreja Catlica, embora se verique um crescimento qualitativo da participao de muitos na vida da Igreja, no compromisso comunitrio e no engajamento pastoral, constata-se ainda grande nmero de catlicos no-praticantes. Para muitos, a religio no norteia a prpria vida, deixando de ser para eles referencial tico. J no h uma unidade monoltica como existia nas sociedades tradicionais, normalmente unidas a partir da religio; na sociedade atual convivem diferentes grupos com comportamentos diversicados. A pessoa escolhe ritos e normas que estejam de acordo com sua prpria necessidade. Em meio a esse pluralismo e efervescncia de novas denominaes religiosas, cresce tambm o nmero dos que se declaram sem religio no Brasil. Esses desaos pastorais postos ao evangelizadora revelam que a estrutura paroquial nem sempre tem conseguido responder ecazmente aos novos desaos.

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Crise tica8. Outro grande desao ao evangelizadora da Igreja, emergente da realidade atual, a crise tica, sinal de uma crise ainda mais profunda, a crise de sentido, que para muitos se d como crise de f na dimenso transcendente

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da vida. Ela se manifesta claramente na cultura materialista e hedonista de hoje, no af desmesurado por ganhar dinheiro, na indiferena com relao aos valores que no sejam do setor econmico, no agravamento dos problemas sociais, como a misria e a fome, as injustias e as desigualdades, as variadas formas de excluso social. 9. Sinal profundo dessa crise a perda de critrios ticos e a desorientao no campo moral, assim como a perda de razes e valores cristos. No mundo globalizado, especialmente nas grandes cidades, a tendncia massicao se intensica, arrastando consigo a necessidade de armao da individualidade e da identidade da pessoa. Nessa busca frentica contam a novidade e o afeto, as relaes humanas baseadas na anidade pessoal e na livre escolha. Tudo isso corresponde s necessidades humanas aguadas pela cultura atual, mas pode dicultar em muito a exigente convivncia com o outro, provocando fechamentos e absolutizao. O desenraizamento sofrido por muitos, como os que so obrigados a migrar em busca de melhores condies de vida, encontrando-se sem voz e sem vez, principalmente nas periferias das grandes cidades, agrava a necessidade de busca de identidade e segurana, de ser acolhido e valorizado em grupos sociais como os religiosos. O anncio do Evangelho est permanentemente desaado pela ambiciosa pretenso de tudo compreender e dominar todas as coisas, tendo como conseqncias: drama moral, crise de sentido e falta de esperana. O Conclio Vaticano II, na Gaudium et spes, faz uma indicao direta e simples, mas preciosa, no nal do

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nmero 31: Podemos pensar com razo em depositar o futuro da humanidade nas mos daqueles que so capazes de transmitir s geraes de amanh razes de viver e de esperar.

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CAPTULO IINOVOS MOVIMENTOS ECLESIAIS E NOVAS COMUN IDADESO fenmeno dos novos movimentos e das novas comunidades11. O fenmeno dos movimentos tem suas razes j na poca anterior ao Conclio Vaticano II. Os textos conciliares favoreceram o crescimento dessas experincias e abriram as portas para novas. Isso est explcito na Constituio Dogmtica Lumen gentium (cap. IV), na Gaudium et spes (n. 43) ou na Presbyterorum ordinis (n. 8) e, sobretudo, no decreto sobre o apostolado dos leigos, Apostolicam actuositatem. No ponticado do Papa Paulo VI (1963-1978) surgem novos movimentos que, paulatinamente, vo sendo acolhidos pela autoridade eclesistica. Grande incentivo recebero os movimentos no ponticado do Papa Joo Paulo II, j manifestado em sua primeira Carta Encclica Redemptor hominis quando assinala que um idntico esprito de colaborao e de co-responsabilidade [...] se difundiu tambm entre os leigos, no apenas conrmando as organizaes de apostolado laical j existentes, mas criando outras novas, que no raro se apresentam com um aspecto diferente e uma dinmica especial (RH, n. 5). De fato, nos primeiros anos de ponticado o Papa Joo Paulo II promove encontros dos movimentos e os reconhece como um dos frutos mais belos da vasta e profunda renovao,

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espiritual promovida pelo ltimo Conclio (Encontro com os Movimentos, em Rocca di Papa, 1987). J anteriormente, num Encontro da Igreja italiana, em Loreto, realizado em abril de 1985, o Papa denira os movimentos como canal privilegiado para a formao e promoo de um laicato ativo e consciente do prprio papel na Igreja e no mundo. 13. A Exortao Apostlica Ps-Sinodal Christideles laici (1989) reconhece o fenmeno como uma nova era agregativa dos is leigos, agregaes estas bastante diferentes umas das outras, mas com profunda convergncia na nalidade que as anima: a de participar responsavelmente da misso da Igreja (ChL, n. 29). De um lado, ressalta o direito que os leigos tm de se associarem na Igreja, que provm do batismo e, de outro, apresenta cinco critrios de eclesialidade: o primado dado vocao de cada cristo santidade, de modo a ser cada vez mais instrumento de santidade na Igreja, favorecendo e encorajando uma unidade ntima entre a vida prtica dos membros e a prpria f (AA, n. 19); a responsabilidade em professar a f catlica, no seu contedo integral, acolhendo e professando a verdade sobre Cristo, sobre a Igreja e sobre a pessoa humana, em obedincia ao Magistrio da Igreja, na disponibilidade para aceitar seus ensinamentos doutrinais e orientaes pastorais e a recproca colaborao com outras associaes de is; o testemunho de uma comunho slida e convicta com o papa e com o bispo, e na estima recproca de todas as formas de apostolado da Igreja (AA, n. 23);

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a conformidade e a participao na nalidade apostlica da Igreja, que a evangelizao, a santicao e a formao crist dos homens, de modo a permear de esprito evanglico as vrias comunidades e os vrios ambientes (cf. AA, n. 20); o empenho de uma presena na sociedade humana, a servio da dignidade integral da pessoa humana, mediante a participao e a solidariedade, para construir condies mais justas e fraternas na sociedade (cf. ChL, n. 30).

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A Exortao Apostlica Ps-Sinodal Pastores dabo vobis (1992) aborda o tema da relao entre os seminaristas e sacerdotes diocesanos e os movimentos de onde vieram, considerando-a positiva, mas mencionando tambm a importncia da relao com o bispo e a referncia aos educadores (cf. PDV, n. 68). No ms de maio de 1998 tem lugar em Roma o IV Congresso Mundial dos movimentos e das novas comunidades que reuniu, aproximadamente, 300 mil participantes de 60 movimentos e novas comunidades. Os movimentos foram saudados pelo Papa como a resposta, suscitada pelo Esprito Santo, a este dramtico desao de nal do milnio. Vs sois esta resposta providencial. Os movimentos tambm so convidados a se submeterem autoridade eclesistica competente, inserindo suas experincias nas Igrejas locais e nas parquias, sempre em comunho com os pastores e atentos s suas indicaes (Discurso de 30/05/1998).

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O que so os novos movimentos e as novas comunidades?16. O orescimento dos movimentos eclesiais en- contra sua principal razo de ser na natureza da prpria Igreja-comunho, marcada pela comum dignidade dos membros do Povo de Deus e pela diversidade de dons e carismas provenientes do Esprito. No horizonte da comunho trinitria, encontrase a liberdade associativa dos is leigos na Igreja, a ser reconhecida como verdadeiro e prprio direito que no deriva de uma espcie de concesso da autoridade, mas que procede do Batismo, como sacramento que chama os is leigos para participarem ativamente na comunho e na misso da Igreja (ChL, n. 29), conforme explicita o Conclio Vaticano II: Respeitada a devida relao com a autoridade eclesistica, os leigos tm o direito de fundar associaes, dirigi-las e se inscreverem nas existentes (AA, n. 19). Tratase de uma liberdade reconhecida e garantida pelo prprio direito, mas que deve ser exercida sempre e somente na comunho da Igreja, em benefcio do Povo de Deus. Por livre iniciativa, os is leigos devem procurar no s a prpria santicao e a vivncia de sua vocao batismal, mas tambm a ajuda mtua nessa tarefa, unindo-se em comunidades, associaes e movimentos, que colaborem para a sua formao e participao na misso apostlica da Igreja. O Esprito Santo distribui continuamente seus dons, suscitando a fundao de novas associaes e comunidades, revitalizando as antigas e dando incremento s existentes. A Igreja procura valorizar e acolher, com gratido,

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as agregaes leigas que vo surgindo, numa atitude de discernimento atento de sua eclesialidade e da autenticidade dos carismas a presentes.

Tipos de associaes de is19. O Cdigo de Direito Cannico distingue trs tipos de associaes de is: 1) associaes pblicas, erigidas pela autoridade eclesistica; 2) associaes privadas, erigidas pelos is e aprovadas pela autoridade eclesistica; 3) condomnios, que so associaes privadas que no foram elevadas personalidade jurdica na Igreja (cf. cn. 310).

Finalidade das associaes eclesiais20. A nalidade das associaes eclesiais , mediante uma ao comum, incrementar uma vida mais perfeita ou promover o culto pblico, a doutrina crist, ou outras obras de apostolado como a evangelizao, exerccio de piedade e de caridade, ou animar a ordem temporal com o esprito de Cristo. So todos setores em que a colaborao mtua e solidria no apenas til mas tambm necessria. Os is unem-se em associaes, para se ajudarem a crescer e a edicar o mundo cristmente. Devem tambm procurar sua prpria formao, no s individualmente mas tambm em grupos, com um compromisso estvel de ajuda mtua, para bem exercer o apostolado (cf. cn. 298).

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Novos movimentos eclesiais21. Os movimentos so formas associativas de participao na vida da Igreja e na sua misso. So denominados novos movimentos os que surgiram nas ltimas dcadas, com um novo perl em relao s antigas associaes leigas. Na atualidade, milhes de catlicos vivem sua pertena Igreja segundo as novas formas associativas, diferentes daquelas tradicionais, acenadas na Exortao Apostlica Ps-Sinodal Christideles laici, e garantidas pelo Cdigo de Direito Cannico de 1983. Encontramos, por exemplo, Focolares, Comunho e Libertao, Caminho Neo-Catecumenal e Renovao Carismtica Catlica. Os novos movimentos agregam grande nmero de cristos leigos, bem como consagrados e ministros ordenados. Respondem generosamente necessidade de uma nova evangelizao, com novos mtodos e expresses, visando aos diversos ambientes da sociedade e os catlicos no-praticantes. Acentuam a converso e a vivncia radical da f, demonstrada com gestos concretos de mudana de vida e de participao no movimento. Apresentam-se com identidade catlica, pois nasceram, desenvolveram-se e atuam dentro da Igreja, sentindose, de modo especial, vinculados ao papa e aos bispos. Inspirados tambm pela f, diversos movimentos se engajam na promoo da justia, da paz, da solidariedade com os pobres. Alguns novos movimentos se apresentam e se estruturam mais como formas particulares de vida comunitria do que como associaes, recusando o prprio nome de movimento e optando por comunidade. Comunidades de vida so encontradas em diversos novos movimentos.

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Contribuio dos novos movimentos22. Assim se expressou o Papa Joo Paulo II, referindo-se contribuio dos movimentos eclesiais para a vida e a misso evangelizadora da Igreja: No interior da Igreja apresentam-se vrios tipos de servios, funes, ministrios e formas de animao da vida crist. Recordo, como novidade que emergiu em muitas Igrejas em tempos recentes, o grande desenvolvimento dos movimentos eclesiais, dotados de forte dinamismo missionrio. Quando se inserem com humildade na vida das Igrejas locais e so acolhidos cordialmente por bispos e sacerdotes nas estruturas diocesanas e paroquiais, os movimentos representam um verdadeiro dom de Deus para a nova evangelizao e para a atividade missionria, propriamente dita. Recomendo, portanto, difundi-los e valoriz-los para restituir vigor, principalmente entre os jovens, vida crist e evangelizao, numa viso pluralista de modos de associar-se e de expressar-se (RMi, n. 72). Os movimentos eclesiais tm se tornado, pela dinmica de seus carismas, canais para vivncia de novas formas de religiosidade diante dos desaos da cultura moderna. Eles respondem tambm necessidade de experincia pessoal de Deus e de busca de sentido e orientao para a vida, como uma considervel contribuio para a vivncia da f, a participao de tantos na vida da Igreja e para a evangelizao no mundo de hoje. No entanto, h diculdades no mbito do relacionamento entre movimentos eclesiais, novas comunidades e estruturas da Igreja particular. Essas circunstncias mostram a necessidade de permanente retomada dos

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critrios j apresentados. Esses critrios so importantes como parmetros para compreender a eclesialidade dos movimentos e das novas comunidades, bem como necessrios para a denio de orientaes pastorais que proporcionem sua insero na Igreja particular, a serem abordadas mais adiante no presente subsdio.

Novas comunidades, uma nova realidade25. A expresso novas comunidades, embora recente, tem se difundido largamente, para referir-se a uma forma associativa, em grande parte nova na Igreja, diferenciando-se das comunidades paroquiais, das comunidades eclesiais de base e das comunidades religiosas, bem como dos demais movimentos eclesiais. Elas podem derivar de novos movimentos ou neles se integrar, mas tm a sua especicidade em relao a eles. A Exortao Ps-Sinodal Vita consecrata refere-se a novas expresses de vida consagrada (n. 12) e novas formas de vida evanglica (n. 62), utilizando tambm a denominao novas comunidades. As novas comunidades no guram como tal no atual Cdigo de Direito Cannico, embora tenham seus direitos e deveres nele fundamentados. As novas comunidades surgem como agregao de is, por iniciativa prpria dos leigos ou, em alguns casos, por iniciativa de algum sacerdote dirigida aos leigos. Algumas, com o passar do tempo, recebem aprovao diocesana, na condio de associao de is, atravs de decreto do bispo da diocese onde se deu a fundao.

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Principais caractersticas das novas comunidades26. Muitas novas comunidades presentes no Brasil so de matriz carismtica. Surgem, geralmente, a partir dos grupos de orao da Renovao Carismtica Catlica. A tendncia que se verica a dos grupos de orao se unirem em pequenas comunidades com sede prpria, estatutos ou regra de vida, carisma prprio, registro civil da entidade, com coordenao independente da Renovao Carismtica Catlica e da parquia, com a assistncia de algum padre, que geralmente no o proco. Essas comunidades desenvolvem trabalho intenso de evangelizao, enfatizando o anncio, atividades pastorais abertas ao povo (reunies para orao, evangelizao, catequese, missas), bem como de assistncia social (obras caritativas, cursos). A espiritualidade de grande parte das novas comunidades se baseia principalmente na espiritualidade da Renovao Carismtica Catlica, enfatizando a experincia pessoal de Deus, a orao, o dom das lnguas, a cura e a libertao pessoal, o uso da Bblia. A venerao a alguns santos, como so Francisco e santa Teresinha, est geralmente ligada ao carisma da comunidade. A gura de Maria recebe especial ateno. Esta espiritualidade, aliada ao carisma, d forte identidade aos seus membros, estando na base do mtodo de evangelizao e na vivncia dos ministrios no interior da comunidade. A identidade composta tambm por smbolos de uso comum, como cruz, guras de Jesus Cristo, vestimentas e logomarca da comunidade. Uma das principais caractersticas das novas comunidades a chamada consagrao por parte de seus membros.

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O modo como se entende e se pratica a consagrao variado, na forma de votos ou compromissos de diversos tipos, conforme o carisma reivindicado pela comunidade, envolvendo pessoas de diferentes idades e estados de vida, com grande nmero de jovens. Parte dos consagrados assume a vida celibatria. As comunidades maiores possuem a chamada comunidade de vida, formada por consagrados que residem juntos e se dedicam inteiramente ao servio da comunidade. A consagrao sempre precedida de intensa formao, com fases semelhantes da vida religiosa, especialmente o noviciado. A consagrao no , ordinariamente, uma opo de vida anterior entrada na comunidade; acontece como conseqncia do engajamento na prpria comunidade. 29. Algumas das novas comunidades contam com vocacionados para o sacerdcio, proporcionando-lhes formao prpria, que uma vez ordenados continuam estreitamente a elas ligados. Geralmente, so aquelas que tm maior tempo de existncia e maior nmero de membros, e j obtiveram aprovao diocesana. A formao desses presbteros tem sua autonomia, enquanto realizada na casa de formao da prpria comunidade, mas acompanhada pela autoridade diocesana. Em alguns casos, os candidatos participam dos estudos ou atividades realizadas pelos outros seminaristas diocesanos. Esses presbteros membros de novas comunidades cam, geralmente, incardinados na diocese onde se deu a sua fundao e onde est a casa-me, mas permanecem a servio das suas respectivas comunidades. Quando esto em outras dioceses, em sua ao pastoral devem obedincia ao bispo local e podem participar de atividades do presbitrio local.

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Contribuies e desaos das novas comunidades30. O crescimento das novas comunidades tem suscitado, na Igreja, diversas questes, como as seguin tes, que atingem especialmente a estrutura paroquial e a vida religiosa, exigindo discernimento atento, dilogo e aprofundamento. a) Enquanto a estrutura paroquial tradicional denida por territrio e se encontra centralizada na igreja matriz, as novas comunidades no se denem por territrio, pois geralmente se encontram desligadas da matriz paroquial ou esto distantes dela. A grande parquia, centralizada na matriz, no organizada em comunidades, no tem favorecido o conhecimento e o relacionamento entre as pessoas. As pessoas anseiam encontrar acolhida e relacionamento fraterno na Igreja e nas casas religiosas. Armam encontrar isso nas novas comunidades. b) As novas comunidades tm, em geral, fundadores e dirigentes leigos e leigas, independentes do proco, bem como, no caso de comunidades de origem carismtica, independentes dos prprios dirigentes diocesanos da Renovao Carismtica Catlica. Convertem-se num espao de participao efetiva dos leigos, que nela exercem os diversos ministrios e assumem o seu governo de modo autnomo ou relativamente autnomo. c) A relao das novas comunidades com a Igreja particular um grande desao na denio de sua eclesialidade. Os ministrios ou outras atividades evangelizadoras, na comunidade, ocorrem geralmente,

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de modo autnomo, sem relao com as pastorais ou movimentos da parquia ou diocese. H novas comunidades que, embora querendo, no alcanam a devida insero nas parquias por falta de abertura e apoio. Nos casos de recusa de assistncia do proco, o recurso assistncia de outros sacerdotes pode agravar as diculdades, seja pelas tenses que pode provocar, seja pelo fato de esses sacerdotes nem sempre terem as condies para o devido acompanhamento e orientao da comunidade. Alm disso, a sustentao econmica, especialmente atravs do dzimo e de doaes, bem como a administrao dos bens, tambm costuma restringir-se ao mbito interno da comunidade, sem prestao de contas, contribuio ou ligao com a Igreja particular. d) As novas comunidades tm assumido, com especial ateno, a evangelizao, enfatizando o anncio, a converso, a experincia pessoal de f, valorizando a subjetividade e os sentimentos, conseguindo atingir ambientes nos quais a pastoral paroquial no tem conseguido se fazer presente. grande o mpeto missionrio aberto s necessidades de regies mesmo distantes, acompanhado do entusiasmo pela pertena comunidade. A grande contribuio das novas comunidades a uma nova evangelizao no est, contudo, isenta de riscos de espiritualismo e sentimentalismo. e) A compreenso de vida consagrada e a formao dos membros consagrados ou ordenados das novas comunidades nem sempre se encontram conforme as orientaes da Igreja, exigindo melhor denio cannica e orientao da Igreja local.

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CAPTULO IIIO ESPRITO SANTO E A IGREJA

Uma Igreja pneumtica31. No se trata aqui de oferecer um tratado, seja sobre a Igreja, seja sobre o Esprito Santo. Interessa-nos examinar como se relacionam entre si. Para Paulo, o Pai nos envia o Esprito, o Esprito de seu Filho, que nos torna tambm filhos de Deus (cf. Gl 4,4-6; Rm 8,14). Somos filhos no Filho, constituindo o Corpo de Cristo. o nico Esprito, que todos recebemos, que constitui a unidade do corpo: Pois todos ns fomos batizados em um s Esprito, para formarmos um s corpo, judeus ou gregos, escravos ou homens livres, e todos ns bebemos de um s Esprito (1Cor 12,13). O Esprito gera, portanto, comunho (cf. 2Cor 12,13; Fl 2,1). 32. Entramos para a comunidade eclesial quando aderimos pela f Palavra de Deus que nos proclamada. Nenhuma razo humana suciente para justicar nossa adeso, a no ser uma experincia mais profunda provocada e dinamizada pelo Esprito Santo. Ningum pode dizer Jesus o Senhor, a no ser pelo Esprito Santo (1Cor 12,3). Essa armao vale tambm para aquele que anuncia a Palavra salvca. No deve, pois, nos espantar que Paulo enumere entre os carismas a prpria f (cf. 1Cor 12,9). Enquanto comu-

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nidade dos que crem, a Igreja fundamentalmente carismtica. A presena do Esprito nos is leva Paulo a armar tanto dos cristos quanto da comunidade serem templo do Esprito Santo (cf. 1Cor 3,16s; 2Cor 6,16; Rm 8,9; Ef 2,22). 33. Esta eclesiologia pneumatolgica pressupe e se fundamenta numa cristologia tambm pneumatolgica, que ressalta o sentido da presena e da atuao do Esprito Santo na vida da Jesus Cristo. Os primeiros cristos viam nessa uno do Esprito Santo o que desvelava sua pessoa como Messias e Salvador (cf. At 10,38). Toda a existncia de Jesus foi acompanhada pela ao do Esprito de Deus e a sua misso salvca como MessiasServo em cumprimento da vontade do Pai. A entrega ao Pai e a ns, que caracteriza toda a sua vida, e que teve seu ponto culminante com a entrega na cruz, se realizou pela ao do Esprito eterno (Hb 9,14). Tambm sua ressurreio implica interveno do Esprito (cf. Rm 1,4), situando-o na esfera divina, dotando-o de poder, tornando sua humanidade de tal modo penetrada pelo Esprito que possa comunicar o Esprito e mesmo agir como Esprito (cf. 1Cor 15,45; 2Cor 3,17). J no se pode separar cristologia de pneumatologia, ao salvca de Cristo da ao salvca do Esprito. Pois o Esprito enviado por Cristo ressuscitado (cf. Jo 7,39; 20,22s; At 2,33), que por meio dele atua (cf. Rm 15,18s), podendo ser chamado Esprito de Cristo (cf. Rm 8,9; Fl 1,19; Gl 4,6). Toda a ao do Esprito nos cristos lev-los a viver para Cristo (cf. Rm 14,7), possibilitar a adeso na f a Cristo (cf. 1Cor 12,3), comunicar-lhes a atitude lial de Cristo (cf. Rm 8,14-16;

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Gl 4,6). Desse modo, a f em Jesus Cristo como carisma fundamental est toda penetrada pelo dinamismo do Esprito que move os is a assumirem em suas vidas a prpria existncia de Cristo. Etapa nal da vida crist ser ento a ressurreio, porque ela habitao do mesmo Esprito daquele que ressuscitou Cristo dentre os mortos (cf. Rm 8,11). 35. Desse modo, toda a obra salvca de Deus se realiza pela dupla misso do Verbo-Filho e do Sopro-Esprito. Ou, como expressa santo Irineu, atravs de suas duas mos Deus criou o ser humano (Adv. Haer. IV, 38, 3). Ou ainda santo Toms de Aquino: A salvao do gnero humano que se realiza pela encarnao do Filho e pelo dom do Esprito Santo (S.Th. I, q. 32, 1 ad 3). Dupla misso para a mesma obra. Esse princpio vale tambm para a Igreja. Jesus Cristo o fundador histrico-visvel da Igreja; o Esprito Santo a vida que a anima (cf. LG, n. 7). Assim, a Igreja est vinculada tanto encarnao do Verbo, como ao Pentecostes do Esprito. Em Pentecostes ela se constitui como comunidade missionria e de testemunhas. Nesse sentido pode-se dizer que o Esprito Santo co-instituinte da comunho e da misso da Igreja. Atravs de sua ao os apstolos iniciam a atividade missionria, escolhem Matias para o grupo dos doze e determinam aspectos institucionais exigidos pela situao presente. Assim, arma-se que o Esprito Santo no vem animar uma instituio j totalmente determinada em suas estruturas, mas sua presena atuante a leva a se estruturar e a se reno var para melhor responder aos desaos da misso. Tambm os carismas provindos do Esprito de Cristo pertencem constituio da Igreja. So dons recebidos em vista

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da construo da comunidade, como to bem salienta so Paulo (cf. 1Cor 12). O Esprito age pelos profetas (cf. 1Pd 1,1s), que tiveram papel importante na Igreja nascente, na revelao do mistrio de Cristo (cf. Ef 3,5) e na fundao da prpria Igreja (cf. Ef 2,20).

Uma Igreja-comunho36. Embora ausente do Novo Testamento para caracterizar a Igreja, o termo comunho se justica na eclesiologia com base nos prprios textos neotestamentrios. Pois a base da comunho est na participao de to- dos da comunidade nos mesmos bens: no Evangelho (cf. Fl 1,5), na mesma f (cf. Fl 1,29), em Deus (cf. 1Jo 1,6), no Cristo (cf. 1Cor 1,9; Fl 3,10), no Esprito (cf. 2Cor 13,13; Fl 2,1) e na comunho hierrquica. O Esprito aparece no Novo Testamento intimamente relacionado com a comunho. Temos mesmo a expresso comunho do Esprito Santo (cf. 2Cor 13,13), comunho eclesial produzida pela participao comum no mesmo Esprito. Da esse termo caracterizar uma relao com Deus e com os demais is, prpria da comunidade crist, realizada atravs da ao do nico e mesmo Esprito, presente e atuante em Cristo, na comunidade e em cada el. Essa eclesiologia de comunho, especialmente desenvolvida a partir do Snodo dos Bispos de 1985, reconhece em todos os membros da Igreja a qualidade de sujeitos. Animados pelo Esprito que neles age, so conscientes e responsveis em sua f e em seu proceder, vivem uma histria que lhes prpria, so dotados de carismas e dons pessoais, no so meramente membros passivos da comunidade. Tambm tm uma contribuio

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prpria a dar na construo e na congurao concreta da Igreja. Pois o Esprito respeita a diversidade das pessoas e, ao gerar comunho (unidade), gera igualmente a catolicidade (universalidade que abarca a diversidade) e no a uniformidade. Toda a comunidade sujeito da construo eclesial ao proclamar o Evangelho de Jesus Cristo movida por seu Esprito, ao transmitir para outras geraes o que ela , o que ela cr (cf. DV, n. 8). Numa eclesiologia de comunho oresce, pois, a valorizao dos vrios carismas da Igreja. 38. Desse modo, guardar o depsito com a ajuda do Esprito Santo (2Tm 1,14) signica conservar no somente um corpo de doutrinas mas tambm uma realidade viva, a saber, Jesus Cristo como salvador da humanidade, entendido e vivido por cada gerao na histria, desvelando assim sua verdade plena (cf. Jo 16,13). Esse fato j se deu na primeira gerao de cristos ao se debruarem sobre a pessoa de Jesus Cristo e oferecerem s geraes seguintes dimenses novas do Verbo de Deus encarnado, como nos atestam as epstolas neotestamentrias. A autenticidade dos carismas pode ser discernida e provada na medida em que estes constroem a comunho, enriquecem a Igreja, geram uma unidade inclusiva e no excludente, enviam misso. Essa perspectiva evita o risco de um movimento permanecer voltado para dentro de si mesmo, preocupado em aumentar seus quadros, em desateno e alienao s urgncias que so de toda a Igreja. Os carismas no justicam obsesses identitrias nem um funcionamento to ad intra de modo a inviabilizar a

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realizao e fortalecimento de notas fundamentalmente importantes para a Igreja particular e para a vida de f. Supem, por isso, uma dinmica e estrutura dialogal, abertura diferena do outro, comunicao com aquele que no sou eu e busca da riqueza que edica a comunidade. Nessa mesma linha, considera-se a superao de uma experincia de Deus puramente emocional, embora levando em conta a dinmica afetiva da subjetividade moderna to sacricada por contextos e manipulaes de carter ideolgico-racional em muitos percursos e em conguraes institucionais, na sociedade contempornea. 41. A espiritualidade de comunho se expressa como espiritualidade trinitria, radicada na experincia de Deus uno e trino. A acolhida de tal espiritualidade traz conseqncias muito concretas para a insero dos movimentos e novas comunidades na vida da Igreja. Nenhum deles pode pretender ser a totalidade das expresses e prticas da f, julgando-se uma realidade eclesial perfeita e completa. Embora signicativos e pertinentes para determinados grupos de pessoas, devem estar abertos possibilidade de que essas pessoas possam receber de outras fontes eclesiais o que necessitam em sua caminhada de f. necessrio que cada movimento ou nova comunidade possa reconhecer e respeitar os valores e dons presentes nos outros, bem como nas diversas pastorais e demais comunidades paroquiais. Cada um expressa, em funo do carisma, determinados aspectos do mistrio inefvel de Cristo e da Igreja, sem pretender esgotar sua riqueza ou a totalidade dos dons do Esprito. A absolutizao de um movimento ou comunidade nova, bem como de uma

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determinada pastoral, coloca-se em contradio com a natureza mesma da f crist e da comunho eclesial. Nenhum movimento eclesial pode pretender ser a via exclusiva de santicao, desvalorizando outros grupos diferentes, movimentos ou pastorais, mas deve procurar valorizar e respeitar os demais, promovendo a mtua colaborao e a unidade na Igreja.

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CAPTULO IVA IGREJA PARTICULAR

Teologia da Igreja particular42. Assim dene a Igreja particular o Decreto Conciliar Christus dominus (n. 11): Diocese a poro do Povo de Deus conada a um bispo para que a pastoreie em cooperao com o presbitrio. Assim essa poro, aderindo ao seu pastor e por ele congregada no Esprito Santo mediante o Evangelho e a Eucaristia, constitui uma Igreja particular. Nela verdadeiramente reside e opera a Una, Santa, Catlica e Apostlica Igreja de Cristo. Portanto, os elementos que constituem a Igreja local so os seguintes: 1) poro do Povo de Deus, 2) congregada pelo Pai, 3) mediante a proclamao do Evangelho, 4) e a celebrao eucarstica, 5) ser pastoreada pelo bispo, 6) em comunho com a Igreja universal (cf. cn. 368 e 369). A Igreja particular congregada pelo Pai atravs de Jesus Cristo no Esprito Santo. Toda a iniciativa compete ao Pai, que nos chama vida atravs da doao de seu Filho. A existncia, as palavras e as aes de Jesus de Nazar manifestam o gesto salvco de Deus, interpelam homens e mulheres, levando-os a assumirem essa vida para os demais. Desse modo constituem-se como seguidores de Cristo, como cristos, como lhos de Deus podendo invoc-lo como Pai. Para tal so

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animados, inspirados, capacitados e fortalecidos pelo Esprito, tambm enviado pelo Pai, que esteve atuante durante a existncia terrena de Jesus Cristo e que continua agindo em todos os que o acolhem como caminho, verdade e vida (cf. Jo 14,6). 44. A ao do Esprito em todos os membros da Igreja faz dela uma comunho do Esprito Santo (cf. 2Cor 13,13), j que todos confessam Cristo como Senhor na fora do mesmo Esprito (cf. 1Cor 12,3), todos so ungidos pelo Santo (cf. 1Jo 2,20) que lhes proporciona um autntico sentido da f (cf. LG, n. 12), todos so agraciados com carismas diversos em vista da edicao comum (cf. 1Cor 14,26). Da serem todos os membros da Igreja chamados a testemunharem Jesus Cristo, a participarem ativamente de sua ao missionria, a realizarem a vocao universal santidade (cf. LG, n. 40), a constiturem um sacerdcio co- mum (cf. LG, n. 10). Toda essa ao salvca da Santssima Trindade chega sua realizao plena quando livremente acolhida pelo ser humano, como sucedeu em Pentecostes. Os que acolhem Jesus como Salvador pela f e pelos sacramentos entram em comunho com o Pai e o Filho na fora do Esprito. Essa comunho uma nova existncia, vivida no dinamismo do Esprito. A participao de todos na comunho trinitria os leva a uma comunho entre si (comunho eclesial), que tem na eucaristia sua expresso sacramental (cf. 1Cor 10,16s). A Igreja particular se constitui pela proclamao do Evangelho. Ningum poderia chegar pessoa de Jesus Cristo, sua vida e sua mensagem, sem que, primeiramente, lhe fosse anunciado o Evangelho. A f vem da pre-

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gao, e a pregao o anncio da Palavra de Cristo (Rm 10,17). A Igreja se constitui pela adeso dos que ouvem a Palavra e a acolhem na f. Como dizia santo Agostinho: Pregaram a palavra de verdade e geraram as Igrejas (PL, nn. 36,508). A comunidade dos is que proclama a Palavra representa, por outro lado, os que j a acolheram pela f, ou seja, os que vivem essa existncia peculiar aberta por Jesus Cristo. Desse modo a proclamao do Evangelho por parte da Igreja consiste mais propriamente em transmitir doutrina, vida e culto, ou mais concisamente tudo o que ela , tudo o que cr (cf. DV, n. 8). Transmite no palavras mas a prpria realidade salvca, Deus que se autocomunicou e foi acolhido pelos is. 46. A Igreja particular, apostlica, ministerial e missionria presidida pelo bispo. Ela presidida pelo bispo, tendo como cooperador o seu presbitrio, em comunho com as demais Igrejas. O bispo assim o responsvel primeiro pela santicao, governo e ensino na Igreja particular. Seu carisma o de supervisionar os demais carismas da comunidade. Ao ser sagrado, entra para o colgio episcopal, que o recebe como membro. Da a presena de outras Igrejas em sua sagrao. Desse modo ele quem inscreve de modo visvel sua Igreja particular na comunho das Igrejas. A Igreja particular a Igreja que celebra a eucaristia situada num determinado territrio ou contexto sociocultural. A Igreja constituda por aqueles que responderam na f proclamao do Evangelho, o que implica que a entenderam e praticaram. A vida humana se desenvolve sempre em situaes existenciais determinadas,

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em mundos bem concretos, em contextos sociais bem caractersticos e em culturas prprias. A linguagem utilizada pela pregao e as prticas que dela decorrem devem penetrar a existncia concreta dos cristos, transformando suas vidas, trazendo-lhes realmente salvao. Desse modo, cada Igreja particular dever ser um exemplo de f inculturada, de um cristianismo vivido dentro de um contexto sociocultural, que acabar por lhe proporcionar certa diversidade. Essa diversidade juntamente com a peculiaridade das demais Igrejas constitui a riqueza da catolicidade da Igreja universal (cf. LG, n. 13). 48. Para que esse encontro salvco acontea, a Igreja particular deve aproveitar e valorizar tudo o que seja verdade e bem em seu contexto sociocultural (cf. LG, n. 13), desvelando assim a anidade profunda entre a mensagem evanglica e aspiraes humanas (cf. AG, n. 8). Desse modo, a Igreja particular uma comunidade crist adornada pelas riquezas culturais da prpria nao e com profundas razes no povo. Essa Igreja particular viver para Deus e para Cristo conforme os sadios hbitos de vida de sua nao (AG, n. 15), fazendo uso de seus costumes e tradies, saber e doutrina, artes e sistemas para viver e expressar a f crist (cf. AG, n. 22).

Igreja particular e Igreja universal49. A Igreja particular est em comunho com as demais Igrejas. Fundamento dessa comunho a comunho de todas na Trindade, pelo mesmo querigma salvco, pela mesma f, pelos mesmos sacramentos e pela comunho hierrquica. O conceito de comunho central no

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Conclio Vaticano II. Communio signica primordialmente a unio de todos os cristos com a Trindade. Chamados pelo Pai a participarmos da vida divina (cf. LG, n. 2) mediante a ao salvca de Jesus Cristo (cf. AG, n. 3) e na fora do Esprito Santo que habita nos is e na Igreja, estamos em comunho com a Trindade e com os demais cristos (cf. LG, n. 4). A comunidade eclesial tem aqui o seu fundamento. Signica a realidade nascida da comunho com Deus, bem comum de todos os seus membros. A comunidade torna visvel a comunho de onde nasce, seu sacramento. Desse modo o batismo no signica apenas um incorporar-se a uma comunidade humana, mas participao real na existncia de Jesus Cristo, em sua morte e em sua ressurreio (cf. Rm 6,35). Igualmente a eucaristia visibiliza e atua nossa unio com Cristo e entre ns, levando-nos a constituir um s Corpo de Cristo por participarmos no mesmo po (cf. 1Cor 10,16s). Ela se mostra assim como o cume da vida crist e da unidade eclesial (cf. LG, n. 11). 50. Assim, podemos e devemos conceber a Igreja universal como a comunho das Igrejas particulares. A essa concluso nos leva a armao do Conclio Vaticano II de que a Igreja de Jesus Cristo est verdadeiramente presente em todas as legtimas comunidades locais de is , mesmo que sejam pequenas e pobres, ou vivendo na disperso (cf. LG, n. 26), pois so formadas imagem da Igreja universal, nas quais e pelas quais subsiste a Igreja Catlica una e nica (LG , n.23). O Conclio arma assim que na Igreja particular est verdadeiramente presente e ativa a Una, Santa, Catlica e Apostlica Igreja de Cristo (CD, n. 11). Elas no so distintas da Igreja universal, mas esta ltima

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somente existe nelas e por elas. Por conseguinte, a Igreja universal no consiste na soma ou na confederao de Igrejas particulares, que pudessem ser consideradas meras reparties administrativas da nica Igreja universal. E a Igreja particular s Igreja em comunho com as demais Igrejas (cf. AG, n. 38), sincrnica e diacronicamente considerada. 51. A unio colegial aparece tambm nas mtuas relaes de cada bispo com as Igrejas particulares e com a Igreja universal. O Romano Pontce, como sucessor de Pedro, o perptuo e visvel princpio e fundamento da unidade quer dos bispos quer da multido dos is. E os bispos individualmente so o visvel princpio e fundamento da unidade em suas Igrejas particulares, formadas imagem da Igreja universal, nas quais e pelas quais existe a Igreja Catlica una e nica. Por esse motivo cada bispo representa a sua Igreja, e todos juntamente com o papa representam a Igreja inteira no vnculo da paz, do amor e da unidade (LG 23).

A comunho na Igreja particular52. Para Paulo, a unio de todos os cristos tem sua fonte no Esprito Santo, que os torna lhos de Deus (cf. Rm 8,4) e os constitui num nico corpo. Pois todos ns fomos batizados em um s Esprito, para formarmos um s corpo, judeus ou gregos, escravos ou homens livres, e to- dos ns bebemos de um nico Esprito (1Cor 12,13). Desse modo, o Esprito Santo princpio de comunho (cf. 2Cor 13,13; Fl 2,1). No s nos une com Deus, mas nos une mutuamente. Essa verdade de f ser retomada e enfatizada no Conclio Vaticano II, que arma: Todos

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os is dispersos pela terra esto em comunho com os demais no Esprito Santo (LG, n. 13). Ou ainda: O Esprito Santo que habita nos que crem, que enche e governa toda a Igreja, quem realiza aquela maravilhosa comunho dos is (UR, n. 2). 53. A opo consciente da Constituio Dogmtica Lumen gentium de tratar de todos os cristos, antes de abordar o tema da hierarquia, acentua a igualdade bsica de todos na Igreja, fundamentada no batismo e fruto da ao salvca de toda a Trindade (cf. LG, nn. 19). Desse modo, arma a participao de todos no sacerdcio de Cristo (cf. LG, n. 10) e na recepo ativa dos sacramentos (cf. LG, n. 11). Mas a ao do Esprito em vista da construo, conduo e santicao da Igreja acontece tambm atravs dos cristos a quem o Esprito reparte seus dons e seus carismas para o bem de todos (cf. LG, n. 12). Pela mesma presena atuante do Esprito gozam todos os is de um sentido da f, desde os bispos at os ltimos is leigos, que se manifesta num consenso universal sobre questes de f e de costumes (cf. LG, n. 12). A f da Igreja no pode assim prescindir da f de todo o Povo de Deus. Para uma adequada compreenso da comunho que vigora no s entre os is mas ainda entre estes e os ministrios hierrquicos na Igreja, de modo especial o ministrio episcopal, deve-se ter presente que a ao do Esprito Santo constitutiva da Igreja, sua estrutura carismtica no sentido que no pode prescindir do Esprito e de seus dons. Assim Paulo chama a comunidade local de templo de Deus por estar habitada pelo Esprito (cf. 1Cor 3,16s). E repete para os efsios que em Cristo que tambm vs sois, todos juntos,

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Igreja Particular, Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades.

integrados na construo para vos tornardes morada de Deus pelo Esprito (Ef 2,22). 55. No h oposio entre carisma a ministrio ordenado, j que os mltiplos dons do Esprito so concedidos em vista dos servios ou de ministrios comunidade (cf. 1Pd 4,10), entre os quais o ministrio ordenado (cf. 1Cor 12,28), sendo que a imposio das mos confere um dom do Esprito (2Tm 1,6). O ministrio ordenado se situa assim no s diante da Igreja mas tambm na Igreja. Da o Conclio Vaticano II considerar toda a Igreja ministerial e armar que todo leigo, em virtude dos prprios dons que lhe foram conferidos, ao mesmo tempo testemunha e instrumento vivo da prpria misso da Igreja (LG, n. 33). Da, tambm, reconhecer serem tais ministrios necessrios construo da comunidade eclesial. Para a fundao da Igreja e incremento da comunidade crist fazem-se necessrios vrios ministrios, por vocao divina suscitados dentre a prpria assemblia dos is. Devem ser por todos diligentemente fomentados e cultivados (AG, n. 15), em mbito paroquial, diocesano, interdiocesano, nacional ou internacional (cf. AA, n. 10). Do ponto de vista institucional o Conclio concretiza essa comunho ministerial pela instaurao de conselhos pastorais (cf., n. CD 27) e conselhos de leigos (cf. AA, n. 26).

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CAPTULO VASPECTOS PASTORAIS E JURDICOS

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O fenmeno dos movimentos eclesiais e novas comunidades ainda no recebeu uma formulao cannica completa, tratando-se de um conjunto de experincias eclesiais novas. No se deve ceder tentao de enquadrar totalmente o que novo em legislaes vigentes. O fator tempo desempenha aqui um importante papel, pois s gradativamente, atravs da experincia e da reexo, iro surgindo, de fato, as respostas para as questes atuais. No de admirar, portanto, que exista um dcit cannico em torno desse tema, dcit esse que no signica um vazio, pois os princpios eclesiolgicos apresentados, os ensinamentos do Magistrio, bem como o Cdigo de Direito Cannico, j propiciam uma compreenso segura desse novo fenmeno na Igreja. A legislao eclesistica com relao aos leigos ou aos movimentos leigos no pode ser aplicada simplesmente aos novos movimentos, porque neles se encontram tambm religiosos(as) e presbteros. Mas compete ao bispo diocesano examinar e ajudar as novas formas de vida consagrada, que no momento oportuno podero ser aprovadas pela S Apostlica (cf. cn. 605). A semelhana maior dos novos movimentos com a vida religiosa. Pois vrios componentes desta ltima podem ser encontrados tambm nos movimentos, como

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Igreja Particular, Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades.

o esprito de pobreza, de castidade, de obedincia, a vida de orao e convivncia fraterna, conforme j previsto no cnon 298 e formulado pelo Conclio Vaticano II (cf. LG, n. 39). Porm, existem diferenas que impedem aos membros dos novos movimentos serem considerados como religiosos, mesmo porque eles se consideram cristos leigos. 58. Mais complexa a questo da formao de candidatos ao sacerdcio por parte de movimentos eclesiais ou novas comunidades, bem como de sua ordenao e incardinao. A alternativa de o prprio movimento formar seu clero, j concedida em alguns casos, deve se conciliar com a orientao pastoral da Igreja particular. Quanto incardinao, o Cdigo de Direito Cannico no a permite num movimento, devendo ser feita na diocese, em acordo com o bispo. Mesmo reconhecendo ser benca a formao anterior num determinado movimento ou o cultivo de uma espiritualidade oriunda de um movimento, deve-se estar atento para que o seminarista diocesano respeite outras vias espirituais e siga as orientaes dos responsveis pelo seminrio (cf. PDV, n. 68).

A comunho com o bispo na Igreja particular59. A Igreja uma comunho estruturada, que se realiza na coordenao dos diversos carismas, ministrios e servios, e est ordenada obteno do objetivo comum que a salvao. O bispo o responsvel pela realizao dessa unidade na diversidade (PG, n. 44). Da a necessidade de abertura recproca entre o bispo e os movimentos, ou novas comunidades, para o

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dilogo e o discernimento atento, no esprito de orao e de grande amor Igreja. 60. O carisma autntico trar sempre uma dose genuna de novidade na vida espiritual da Igreja, com operosidade peculiar e reveladora de delidade ao Senhor e de docilidade ao Esprito Santo. Essa autenticidade e essa eclesialidade se vericam medida que a vivncia do carisma se torna fora e fecundidade para a ao evangelizadora na Igreja particular em que o movimento eclesial e a nova comunidade se inserem. Todas essas realidades associativas enriquecem a Igreja, mas necessitam sempre do servio de discernimento que prprio do bispo, cuja misso pastoral favorecer a complementaridade entre os movimentos de inspiraes diversas, vigiando sobre o seu desenvolvimento, sobre a formao teolgica e espiritual dos animadores, sobre a insero das novas realidades na comunidade diocesana e nas parquias, das quais no devem se separar (PG, n. 51). Exigncia indispensvel para a insero dos movimentos e novas comunidades na Igreja particular, e, portanto, de sua eclesialidade, a atitude de abertura, respeito e obedincia ao respectivo bispo, traduzida concretamente pela acolhida de suas orientaes e eventuais correes.

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CONCLUSO63. Retomando sinteticamente o que se viu at aqui, podese armar ser a realidade da comunho a que melhor deixa transparecer o que seja a Igreja Catlica. Comunho com a Trindade, base da comunho recproca de seus membros, fundamento da comunho colegial dos bispos entre si e com o bispo de Roma, razo ltima da solicitude dos is e dos responsveis pela Igreja universal. Essa comunho que se fundamenta no amor do Pai e tem em Jesus Cristo o seu centro uma realidade viva graas ao contnua do Esprito Santo na Igreja. este o mesmo Esprito de Cristo que inspira, ilumina, fortalece, acompanha e vivica a Igreja, orientando-a na delidade tradio recebida e na abertura ao novo. Os bispos e os responsveis pelos novos movimentos podero entrar num dilogo verdadeiramente cristo, em vista de um respeito e colaborao mtua que favorea a unidade e a ao missionria da Igreja, somente na delidade ao primeira do Esprito, princpio de comunho na Trindade e na Igreja, fonte dos ministrios ordenados e dos demais carismas.

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