cNi 70 ANos - | Sistema de Sumissão de Teses e...

46
Ano 8 nº 90A agosto 2008 EDIÇÃO ESPECIAL EDIÇÃO ESPECIAL CNI 70 ANOS A CONSTRUÇÃO DO FUTURO CNI 70 ANOS A CONSTRUÇÃO DO FUTURO

Transcript of cNi 70 ANos - | Sistema de Sumissão de Teses e...

Ano 8nº 90Aagosto2008

Edição EspEciAlEdição EspEciAl

cNi 70 ANosA coNstrução do futurocNi 70 ANosA coNstrução do futuro

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 3

ArmAndo monteiro neto

Editorial

Mig

ue

l Â

ng

elo

Armando Monteiro Neto, presidente da CNI – Confederação Nacional da Indústria

Na vaNguarda da sociedadeO Brasil de hoje é resultado dos esforços da industrialização. Na permanente construção do País, buscamos novos paradigmas

a iNdústria sempre atuou Na vaNguarda da sociedade. desde os primeiros anos após a inde-pendência, o brasil já contava com industriais que apostavam no desenvolvimento econômico e so-cial. Há 181 anos, foi criada a sociedade auxilia-dora da indústria nacional, que defendia a aboli-ção da escravatura seis décadas antes da lei Áurea. desde então, a luta pela industrialização expressa a construção de nossa independência, uma forma de afirmação da própria nacionalidade.

da visão de euvaldo lodi e roberto simonsen resultou a criação da cni, em 1938. a expansão da indústria modernizou as relações do trabalho, fomentou a urbanização e permitiu a dissemina-ção de novos hábitos de consumo.

ao comemorar 70 anos, a cni reafirma o com-promisso dos industriais de fazer o brasil conquistar a sustentabilidade de seu desenvolvimento – nosso maior desafio. nos últimos anos, houve grande avanço da sociedade na percepção e identificação dos problemas que restringem o potencial de cres-cimento do País. ressaltamos ser, no entanto, lenta a velocidade das mudanças institucionais necessá-rias para atingirmos o desenvolvimento pleno.

nossa economia deve crescer em ritmo mais forte e duradouro para que a nação colha seus fru-tos de forma socialmente mais justa e mais equi-librada em seu território. com esse objetivo, foi criado em 2005 o Mapa Estratégico 2007-2015, resultado da contribuição de dezenas de entidades e de mais de 300 empresários. o Mapa define como focos a liderança empresarial, o ambiente institucional e regulatório, a educação, a saúde, a

infra-estrutura, a expansão da base industrial, a inserção internacional, a gestão empresarial, a pro-dutividade, a inovação e a responsabilidade social e ambiental. Uma agenda de modernidade.

os empresários são agentes do desenvolvimen-to e das mudanças. não apenas em suas empresas, mas também como parte integrante do corpo so-cial, ao participar da construção e da implemen-tação de políticas públicas. os resultados da ação empresarial dependem da capacidade de comuni-car-se e agir em parceria com outros segmentos da sociedade. as agendas da indústria, do agronegó-cio, do comércio ou dos serviços não começam e terminam no seu próprio setor.

com esse espírito, a cni idealizou o Fórum Nacional da Indústria, espaço de debate de en-tidades setoriais e federativas. seu objetivo é gerar uma agenda comum e propiciar condições para uma maior coordenação das ações da indústria.

É fundamental ganharmos a luta das idéias e dos conceitos. todo empresário tem um papel na construção desse discurso. Para isso é indispensá-vel convergência quanto aos princípios fundamen-tais de uma economia de mercado.

o esforço na direção da sustentabilidade do cres-cimento depende de construir processos que viabi-lizem o futuro. num cenário global cada vez mais competitivo, a indústria deve estar aberta a questões que levem a novos paradigmas – como foi, no pas-sado, a defesa de homens livres e a definição de re-lações de produção modernas. refletir sobre novos temas é o exercício que nos reserva a edição especial e comemorativa da revista Indústria Brasileira.

www.cni.org.br

DIRETORIA DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - QUADRIÊNIO 2006/2010

Presidente: Armando de Queiroz Monteiro Neto (PE);Vice-Presidentes: Paulo Antonio Skaf (SP), Robson Braga de Andrade (MG), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira (RJ), Paulo Gilberto Fernandes Tigre (RS), José de Freitas Mascarenhas (BA), Rodrigo Costa da Rocha Loures (PR), Alcantaro Corrêa (SC), José Nasser (AM), Jorge Parente Frota Júnior (CE), Francisco de Assis Benevides Gadelha (PB), Flavio José Cavalcanti de Azevedo (RN), Antonio José de Moraes Souza (PI);1º Secretário: Paulo Afonso Ferreira (GO);2º Secretário: José Carlos Lyra de Andrade (AL);1º Tesoureiro: Alexandre Herculano Coelho de Souza Furlan (MT); 2º Tesoureiro: Alfredo Fernandes (MS); Diretores: Lucas Izoton Vieira (ES), Fernando de Souza Flexa Ribeiro (PA), Jorge Lins Freire (BA), Jorge Machado Mendes (MA), Jorge Wicks Côrte Real (PE), Eduardo Prado de Oliveira (SE), Eduardo Machado Silva (TO), João Francisco Salomão (AC), Antonio Rocha da Silva (DF), José Conrado Azevedo Santos (PA), Euzebio André Guareschi (RO), Rivaldo Fernandes Neves (RR), Francisco Renan Oronoz Proença (RS), José Fernando Xavier Faraco (SC), Olavo Machado Júnior (MG), Carlos Antonio de Borges Garcia (MT), Manuel Cesario Filho (CE).

CONSELHO FISCALTitulares: Sergio Rogerio de Castro (ES), Julio Augusto Miranda Filho (RO), João Oliveira de Albuquerque (AC);Suplentes: Carlos Salustiano de Sousa Coelho (RR), Telma Lucia de Azevedo Gurgel (AP),Charles Alberto Elias (TO).

UNICOM - Unidade de Comunicação Social CNI/SESI/SENAI/IELGerente executivo - Marcus Barros PintoTel.: (61) 3317.9544 - Fax: (61) 3317.9550e-mail: [email protected]

ISSN 1519-7913Revista mensal do Sistema Indústria

Coordenação editorial IW Comunicações - Iris Walquiria Campos

ProduçãoFSB ComunicaçõesSHS Quadra 6 - cj. A - Bloco E - sala 713CEP 70322-915 - Brasília - DF Tel.: (61) 3323.1072 - Fax: (61) 3323.2404

RedaçãoEditor: Paulo Silva PintoEditor-assistente: Sérgio de SáEditora de arte: Ludmila AraujoRevisão: Shirlei NatalineColaboraram nesta edição: Bruno Santa Maria, Carlos Haag, Fernanda Paraguassu, Gilse Guedes, Luiza Pastor e Vicente Nunes

PublicidadeMoisés Gomes - [email protected].: (61) 3323-1072

Impressão - Gráfica Coronário

Capa -Masahiro Sano/CORBIS

As opiniões contidas em artigos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, o pensamento da CNI.

8 Desafios ao longo de 70 anos, a cni colaborou para transformar o País. agora,

é preciso pensar em novos paradigmas e avançar nas conquistas

13 Educação o País conseguiu universalizar a educação Fundamental, mas ainda

precisa garantir que a qualidade chegue à sala de aula

16 Entrevista a secretária de educação de são Paulo, Maria Helena guimarães de castro,

explica quais incentivos fazem diferença para profissionais da área

18 Consumo a facilidade no acesso a informações e o ingresso de novas camadas

sociais no mercado trazem riscos e oportunidades às empresas

22 Marca o consumidor não está disposto a pagar mais apenas pelo glamour, mas

será fiel a quem lhe entregar produtos realmente diferenciados

26 Meio ambiente Preocupação crescente na sociedade, o tema ganha espaço cada vez

maior no planejamento da produção das empresas

30 Liderança e gestão agilidade, flexibilidade e capacidade de implementar mudanças são cada

vez mais valorizadas por empresas internamente e na busca por profissionais

34 Inovação criar novos produtos e processos depende da interação entre empresas e

centros de pesquisa, algo que ocorre de modo ainda insuficiente no País

38 Associativismo a indústria busca maior capilaridade na relação com os sindicatos de

empresas, estabelecendo nova relação que fortaleça a representatividade

42 Financiamento especialistas prevêem tempos de maior dificuldade de crédito, mas

dizem que não faltarão recursos para os setores mais dinâmicos

46 História em sete décadas, o brasil viveu sob o autoritarismo e a democracia

e mudou de um país agrícola e rural para um país industrial e urbano

Div

ulg

ão

/Cn

i

8 indústr i a br asileir a agosto 2008

QuaNdo os empresários euvaldo lodi e roberto simonsen lideraram a criação da cni, há 70 anos, tinham à sua volta um país predominantemente agrícola. desde então, a indústria assumiu progressivamente o papel de protagonista do desenvolvimento brasilei-ro. É uma história relatada em detalhes no texto na página 46 desta edição, que marca o aniversário da principal entidade de represen-tação dos industriais.

de lá para cá, o brasil se transformou e é hoje a maior economia industrial da américa latina e do hemisfério sul. Há mais de uma década, a sociedade viu-se livre das elevadas taxas de inflação. cidadãos e empresas con-quistaram espaço com a privatização de esta-tais e o fortalecimento do mercado de capitais, atualmente um dos mais relevantes do mun-do. Foram estabelecidos novos parâmetros de responsabilidade para a atuação do estado e

novo ciclo detransformações

Ao longo de sete décadas, o Brasil consolidou sua indústria e conquistou novo espaço na cena global. Mas é preciso avançar nas conquistas

ag

ên

Cia

Pe

tro

br

as

De

no

tíC

ias

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 9

desAfios

das empresas, o que levou o País a conquistar o grau de investimento de agências de classifi-cação de risco. Mais importante: demos gran-des passos para a construção de uma sociedade mais justa, ainda que muito reste a ser feito nesse campo.

a indústria não repousa sobre essas con-quistas. Há obstáculos a enfrentar para manter e ampliar o crescimento: burocracia, insegu-rança jurídica, gastos excessivos para o custeio da máquina pública e um sistema tributário ineficaz. essas questões têm merecido cons-tante atenção da cni e estão contempladas no Mapa Estratégico da Indústria 2007-2015, conjunto de objetivos, metas e programas para levar o País a um ciclo de crescimento susten-tável. a taxa de crescimento do Produto in-terno bruto (Pib) registrada no ano passado é alentadora, mas para ir além, devemos con-cluir o ciclo de reformas estruturais.

o brasil integra o grupo de nações emergen-tes que hoje dão o tom no cenário internacio-nal e respondem por mais da metade do cresci-mento econômico global. Um dos primeiros a ressaltar esse movimento foi o economista Jim o’neill, chefe do departamento de análises do banco norte-americano goldman sachs, que – em entrevista a Indústria Brasileira (veja página 11) – referenda a validade concei-tual dos brics no atual quadro da globaliza-ção e aposta que brasil, rússia, Índia e china estarão. até meados deste século, entre as prin-cipais potências.

democracia consolidada e uma sociedade urbana e industrial são duas características que identificam o brasil entre os brics. o País também detém tecnologia própria para energias renováveis, fator de competitividade importante no mundo da energia cara e da es-cassez de petróleo – como avalia o’neill. a sociedade de massa também cresce – com a inclusão de contingente de novos consumido-res que ascendem na pirâmide social, fermen-to da ampliação da classe média nos brics, uma das grandes forças de transformação do mundo neste momento, acredita o economista

norte-americano. são pessoas com novos va-lores, gostos, exigências e modos de agir, que impactarão o modo de produção. tal processo é discutido por publicitários, acadêmicos e ou-tros especialistas nesta edição especial.

o crescimento do poder econômico da classe média é uma grande oportunidade na visão dos empresários. “a entrada de novos consumidores pelo aumento da renda é o que de melhor poderia acontecer ao País, pois pro-picia uma oportunidade de desenvolvimento e geração de empregos. no setor siderúrgico, especificamente, onde há excedentes de pro-dução, há uma grande disponibilidade de atender ao crescimento”, pontua o presiden-te do conselho de administração do grupo gerdau, Jorge gerdau Johannpeter.

o presidente da associação brasileira da indústria elétrica e eletrônica (abinee), Humberto barbato, explica que o objetivo do setor eletroeletrônico é ampliar cada vez mais o acesso aos produtos. “Já temos mais de 30

Loja de departamentos na Índia: países emergentes são motor de crescimento global

Da

viD

H.

We

lls

/Co

rb

is

10 indústr i a br asileir a agosto 2008

fábricas fazendo computadores no brasil. além da redução dos impostos, os preços caem por-que há urgência de consumo.”

Indústria Brasileira desenha igualmente neste número o perfil da nova economia, que desponta, abrindo espaço para empresas ino-vadoras, preocupadas com o meio ambiente e socialmente responsáveis. a ação da indústria não se dá mais intramuros, mas na sociedade, fortalecendo o papel dos empresários como lí-deres e agentes de transformação. a indústria é motor de geração de riqueza.

na avaliação de barbato, da abinee, a inovação tecnológica “deve ser o ponto forte dentro da fábrica, estimulando o empregado a se atualizar”. o presidente da associação bra-sileira da infra-estrutura e indústria de base (abdib), Paulo godoy, também é enfático ao falar do tema: “se há uma tarefa que está na ordem do dia é a inovação, o investimento em pesquisa. o brasil ainda concentra baixos índi-ces de desenvolvimento de novas tecnologias, em comparação a outras nações. nossos índices de patentes mostram isso”. de acordo com go-doy, a transformação será demorada: “talvez

seja necessária uma geração inteira e políticas públicas que incentivem e promovam forte-mente o ensino em áreas e matérias de ciências exatas e no ensino técnico e universitário”.

a preocupação com a formação de recursos humanos capazes de sustentar o progresso le-vou a indústria a investir de forma maciça na formação de capital humano. essa necessidade foi sentida nos anos 1940 pelos empresários da época, então liderados por simonsen e lodi, que, em 1942, criaram o senai para formar os talentos que a indústria necessitava. Quatro anos depois, verificou-se que, sem uma boa educação fundamental, pouco poderia ser fei-to, razão pela qual surgiu o sesi.

a necessidade de reciclagem e adaptação constante levou a cni a lançar o programa Educação para a Nova Indústria, em agosto de 2007, iniciativa que hoje integra os planos de competitividade setorial da Política de de-senvolvimento Produtivo (PdP), do governo federal. em ambiente de elevada concorrên-cia, em que a demanda volátil se faz acompa-nhar pelo advento de inovações e mudanças na arena competitiva, o caminho para o suces-

IndústrIa de eLetrônIcos

em manaus: maior produção

com corte de impostos e demanda

crescente alb

er

to C

ésa

r a

ra

újo

/Fo

lHa

iMa

ge

M

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 11

desAfios

Indústria Brasileira – O aumento global da inflação é um risco para as perspectivas de cres-cimento projetadas para os BRICs?Jim O’Neill – na verdade, não. as nossas projeções de longo prazo para os brics, que serão as maiores economias do mundo em 2050, baseiam-se em parâmetros muito conservadores. e fizemos isso porque entre esta década e a de 2050 esses países passarão por muitos ciclos. certamente o crescimen-to no conjunto dos brics diminuirá em relação aos últimos seis anos. nossa expec-tativa é de uma taxa média anual em torno de 4% para o brasil, 3,2% para a rússia, 5,8% para a Índia e 5,5% para a china nos próximos anos.

IB – Como a economia mundial será daqui a 40 anos?JO – eu não tenho segurança sobre isso, mas o ritmo da globalização indica que a economia da china estará muito próxima

em tamanho dos estados Unidos, se não for maior, e a Índia virá logo depois dos estados Unidos. o brasil e a rússia poderão ser a quarta e a quinta economia do mundo. isso poderá acontecer na verdade em 2040.

IB – O Bank of International Settlements (BIS) atribui a novos produtos financeiros par-te da responsabilidade pela atual crise de cré-dito global. A avaliação é correta?JO – o que o bis argumenta de fato é que a política monetária da europa e dos estados Unidos foi muito leniente, e por muito tem-po. realmente os bancos centrais deveriam introduzir em sua avaliação índices de condi-ções financeiras da economia de seus países, como um suplemento às metas de inflação.

IB – Que novas forças de transformação po-dem ser percebidas no mundo hoje?JO – a globalização e o crescimento da clas-se média nos brics.

A força dos BRICs

o economista Jim o’neill, chefe da área de pesquisa do banco norte-americano goldman sachs, criou em 2001 a sigla brics, agrupando brasil, rússia, Índia e china. segundo ele e sua equipe, esse conjunto de países ocupará uma posição cada vez mais relevante até meados deste século. ele explica por que as previsões continuam válidas sete anos depois:

so passa pela combinação de educação geral com formação profissional, aprendizagem no local de trabalho e aprendizagem ao longo da vida. a busca de mecanismos para aprimorar a educação básica é outro dos temas explora-dos nesta edição, algo fundamental, segundo empresários ouvidos por Indústria Brasileira, devido à interdependência com os demais as-pectos do desenvolvimento.

Para o ex-ministro do desenvolvimento, indústria e comércio exterior luiz Fernando Furlan, membro do conselho de administra-ção do grupo sadia, o grande desafio é fazer com que exista “competitividade sistêmica,

para criar certo grau de isonomia com nossos principais competidores internacionais”.

o vice-presidente de novos negócios da samsung, benjamin sicsú, vai na mesma linha: “educação limitada significa produ-tividade limitada. e a indústria não conse-gue resolver esse problema da formação de mão-de-obra sozinha. o País deve pensar a questão como um projeto de sobrevivência dentro da globalização”. gerdau afirma que a educação é essencial para que as tecnolo-gias industriais possam ser permanentemente atualizadas. “É preciso investir na formação dos recursos humanos.”

12 indústr i a br asileir a agosto 2008

MiC

Ha

el

Pr

inC

e/C

or

bis

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 13

educAção

Ferramenta insubstituívelO País já conseguiu universalizar o acesso das crianças à escola. Agora, é preciso garantir que todas aprendam de verdade

PoR GIlse Guedes

o produto iNterNo Bruto (piB) Brasileiro cresceu no ano passado 5,4%, proporcionando índices também muito positivos de emprego e renda. estudos demonstram que é hora de apro-veitar o atual estágio favorável da economia para pavimentar o caminho rumo ao desenvolvimen-to sustentável. e não há como alcançá-lo sem um ensino de qualidade.

“não há uma só exceção: nas últimas décadas, todos os países que crescem de forma consistente são os que têm educação de boa qualidade e em permanente evolução”, diz o consultor cláudio de Moura castro, que integra o conselho temático de educação da cni. segundo ele, o grande im-pulso para melhorar o sistema educacional vem das transformações econômicas e tecnológicas que

14 indústr i a br asileir a agosto 2008

fazem crescer a demanda das empresas por profis-sionais cada vez mais bem formados. no ambiente global de elevada concorrência, o caminho para o sucesso passa pela combinação de educação geral e formação profissional, aprendizagem no local de trabalho e ao longo da vida. É um processo contí-nuo, que exige adaptação constante.

na história do ensino brasileiro, a abertura e a modernização da economia foram grandes motores de mudanças. o estudo do instituto de Pesquisa econômica aplicada (ipea) Brasil: o estado de uma nação, publicado em 2006, mostra a evolução das matrículas no ensino Fundamental, revelando que é a partir da segunda metade da década de 1970, e num novo impulso na década de 1990, que há um quadro educacional mais favorável. o número de alunos no ensino Funda-mental em 30 anos duplicou, saltando de 15.895 matrículas em 1970, passando para 29.204 em 1991 e chegando ao pata-mar de 34.012 ma-trículas em 2004.

se no passado o desafio foi abrir va-gas no sistema de ensino, o que está posto agora, na opinião de especialistas e educadores, é um plano casado de ações: continuar perseguindo a meta para elevar o número de matrículas em todas as fases do ensino, combater a evasão escolar, mas sempre ten-do como prioridade a qualidade na educação, em es-pecial da educação básica (que reúne educação in-fantil, Fundamental e Média). “o brasil precisa ter isso como meta”, declara a secretária de educação do governo de são Paulo e integrante do conselho temático de educação da cni, Maria Helena gui-marães de castro (veja entrevista na página 16).

segundo Moura castro, o atual nível de ensi-no é um grande obstáculo ao crescimento. “com as

mudanças na economia mundial, não é mais possí-vel crescer sem educação. Mas a sociedade custa a aprender essa lição”, diz o consultor. as mudanças a que ele se refere são na área da tecnologia e nas formas de organização do trabalho. “isso exige mais competência cognitiva e maior poder decisório de pessoas que estão cada vez mais baixo na hierarquia das organizações. É algo que se traduz na necessi-dade de mais educação para todos e não para um grupelho no topo da pirâmide”, explica castro, um dos autores do estudo do ipea.

no Mapa Estratégico da Indústria 2007-2015, a cni demonstra que as políticas de univer-

salização do acesso ao ensino Funda-mental (1ª a 9ª série) levaram o País a ter a taxa de escolarização líquida da população de 6 a 14 anos supe-rando 95%, mas isso não garantiu uma formação de quali-dade. sem uma base sólida, a continui-dade da educação e mesmo a atuação profissional ficam comprometidas. “o ensino Fundamen-tal é a raiz de um dos principais problemas

enfrentados pelos estudantes: a capacidade de com-preender o que lêem, o enunciado de um problema matemático, por exemplo”, diz Maria Helena.

segundo o professor Mário aquino alves, da escola de administração de empresas da Fundação getúlio Vargas de são Paulo (FgV-sP), a falta de um bom aprendizado na fase inicial do ensino é a chave das deficiências de aprendizagem detectadas num exame internacional de estudantes de 15 anos promovido pela organização para cooperação e desenvolvimento econômico (ocde), o Programa internacional de avaliação de estudantes (Pisa).

no Pisa de 2000, o brasil ficou em último lugar, atrás da tunísia e da indonésia. o resul-

moUra castro: só cresceu quem investiu

em escola de qualidade

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 15

educAção

tado das provas mostraram que a capacidade de compreensão de leitura dos alunos da elite brasileira é inferior ao nível alcançado por es-tudantes de classes baixas da europa. no Pisa de 2003, os jovens brasileiros obtiveram uma pontuação um pouco melhor em ciências e ma-temática, saltando de 375 para 390 (ciências), 300 para 350 (espaço e forma – matemática) e 263 para 333 (mudança e relação – matemá-tica). Mas em leitura o quadro não melhorou. tanto em 2000 quanto em 2003 os alunos atin-giram 403 pontos.

MetA PARA o PIsA

o Mapa Estratégico da Indústria estabelece que o País precisará perseguir até 2015 a nota média de 486 pontos, mesma pontuação que a espanha obteve no Pisa de 2001. o Ministé-rio da educação também definiu como meta do Plano de desenvolvimento da educação uma melhor pontuação tendo como parâme-tro o Índice de desenvolvimento da educação básica (ideb).

nos anos iniciais do ensino Fundamental, a nota apurada em 2005 foi de 3,8 e o objetivo é chegar em 2021 com 6 pontos. “essa nota é muito ousada. atingi-la significa chegar onde os países da ocde estão”, reconhece o pesquisador do ipea Paulo roberto corbucci. segundo ele, a questão é saber como chegar lá. e num menor tempo pos-sível. ele vê uma perspectiva otimista. “É possível alcançar essa etapa se o País fizer o óbvio, com mais investimento e melhor gestão na educação. acredito que os países da ocde já chegaram num nível de uma certa estabilidade”, aposta. Para corbucci, melhorar a gestão na educação será um grande passo a ser dado pelo País. o pesquisador avalia que sempre serão necessários mais recursos, mas o País tem de aplicar melhor os seus gastos na educação pública. segundo dados do ipea, 4,2% do Produto interno bruto (Pib) é o percentual de recursos para a educação pública, número próxi-mo da média da ocde e superior aos gastos de países com melhores sistemas de educação, como Uruguai, chile e argentina.

na avaliação de Maria Helena, o brasil tem potencial para alcançar países da ocde, mas não há “mágica” nesse processo. Para ela, são necessários mais recursos, mas reconhece que é difícil estipular um montante ideal. Maria Helena afirma que é preciso avançar no sentido de cobrar resultados, responsabilizando a esco-la quanto ao resultado dos alunos. “isso requer necessariamente a participação efetiva dos pais na vida escolar de seus filhos e políticas de valo-rização dos professores.”

a secretária conta que foram adotadas em são Paulo várias medidas que podem servir de parâmetro por ser o estado a maior rede de ensi-no com cinco milhões de alunos. “É um grande laboratório de experiências”. entre as ações, es-tão uma nova proposta curricular para o ensino Fundamental e Médio, programa especial de al-fabetização, reformulação do sistema de avalia-ção e diversificação curricular do ensino Médio com alternativas de profissionalização. segundo Maria Helena, o ensino Profissionalizante é um importante caminho para melhorar a qualidade do ensino no País e ajustar a formação dos jovens para o mercado de trabalho.

o diretor-geral do serviço nacional de aprendizagem industrial (senai), José Manuel de aguiar Martins, também avalia que os cursos profissionalizantes sempre serão um bom cami-nho para preencher lacunas do ensino.

“o senai teve papel decisivo na conso-lidação do processo educativo do trabalhador brasileiro”, diz. ele declara que a instituição continuará respondendo às demandas dos diversos segmentos produtivos, mas conside-ra que a indústria precisará contar com a boa formação na base do ensino. “a indústria mo-derna que se estabeleceu no brasil demanda trabalhadores com qualificação de alto nível, em novas áreas do conhecimento, em novas fronteiras da tecnologia. somente conseguire-mos formar um trabalhador com esse perfil se ele possuir uma sólida base educativa, com co-nhecimentos das ciências, da matemática e da física”. e é no ensino básico que está a chave do sucesso, avalia.

16 indústr i a br asileir a agosto 2008

Indústria Brasileira – No passado, o problema crô-nico da educação era quantidade de vagas. Agora é qualidade?Maria Helena Guimarães de Castro – sim. o brasil precisa ter como meta a qualidade da apren-dizagem, com prioridade à educação básica. o go-verno de são Paulo passou a buscar incessantemen-te a melhoria de qualidade e maior eqüidade do sistema com uma série de medidas. recentemente, foi criado o Índice de desenvolvimento da educa-ção de são Paulo, o idesp, definindo metas a serem alcançadas, ano a ano, pelas 5.500 escolas da rede.

IB – No estudo o brasil: o estado de uma nação, o Ipea mostra que o País padece de um atraso secu-lar, pois a Europa atingiu a universalização da escola ainda no século 19 ou início do século 20. Concorda com essa avaliação?MHGC – o brasil sai realmente atrasado em relação a outros países. completamos a universa-lização do acesso à educação Fundamental obri-gatória praticamente em 2002, desde então 95% das crianças estão na escola e 68% completam a 8ª

mAriA HelenA GuimArães de cAstro

série. a matrícula do ensino Médio triplicou entre 1995 e 2006. Hoje, 47% dos jovens de 15 a 17 anos cursam séries de acordo com sua idade. Para ter uma idéia do tamanho de nosso atraso, basta lem-brar que países como o chile ou coréia completa-ram a universalização do ensino Médio nos anos 1970. a irlanda naquela época tinha indicadores educacionais semelhantes aos nossos, mas conse-guiu rapidamente superar os déficits educacionais implantando, com sucesso, uma reforma radical do sistema. no brasil, o desafio ainda é imenso. teo-ricamente há vagas para todos e a prioridade zero é melhorar a qualidade do sistema.

IB – O que é possível transpor da Irlanda, Japão, Coréia e Finlândia para cá? MHGC – decisivas nesses países foram as polí-ticas de seleção e incentivos aos professores, por meio de mecanismos que selecionam os melhores alunos das faculdades para o ingresso no magisté-rio. esses países tornaram o acesso à carreira muito competitivo, com salários atraentes no ingresso e incentivos por desempenho.

sem bons professores não há ensino de qualidade Para a secretária de Educação do governo paulista, é preciso implantar no Brasil as políticas de incentivo que levam às salas de aula os melhores profissionais

PoR GIlse Guedes

Na década de 1970, irlaNda e Brasil tiNham iNdicadores educacioNais semelhaNtes. graças a uma reforma radical no sistema de ensino, baseada na premiação de gestores em educação e a seleção dos melhores alunos das faculdades para o ingresso no magistério, o país europeu transformou-se em novo paradigma. Para a secretária de educação do governo de são Paulo, Maria Helena guima-rães de castro, o brasil pode e deve adotar medidas como essas na tentativa de resolver o problema crônico do sistema educacional: a qualidade. responsável pela criação e implantação do exame na-cional de cursos, o Provão, do exame nacional do ensino Médio (enem) e do sistema nacional de avaliação da educação básica (saeb), no governo Fernando Henrique cardoso, a secretária integra o conselho temático de educação da cni.

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 17

IB – A premiação dos gestores é também um cami-nho para melhorar a educação?MHGC – a idéia de premiar gestores por desem-penho já vem sendo utilizada em nova York, na irlanda e em israel. sempre é bom examinar o que dá certo em outros lugares, mas é preciso criar nos-so próprio paradigma. no caso de são Paulo, os critérios para a distribuição do bônus ainda estão sendo estudados por algumas pastas do governo. não se trata simplesmente de aumentar a remu-neração dos docentes, mas de uma medida que pretende estimular toda a equipe escolar, obten-do assim melhoria na qualidade do ensino. as metas por escola serão a principal referência do bônus por desempenho, além de critérios como assiduidade e gestão. Qualquer esforço de me-lhoria da escola, em rela-ção ao seu ponto de par-tida, será valorizado. a secretaria pretende que a rede estadual atinja alto nível de educação, com-patível com a dos países membros da organiza-ção para a cooperação e o desenvolvimento eco-nômico (ocde).

IB – Isso passa pelo Ensino Profissional? MHGC – com certeza. a secretaria assinou parceria com o centro Paula souza e a Funda-ção roberto Marinho para já a partir de agosto oferecer 50 mil vagas de curso técnico aos es-tudantes de ensino Médio da rede estadual de ensino. todas são para a grande são Paulo, em 697 escolas de regiões com maior vulnerabili-dade social. Quem não cursar o técnico terá a mesma carga horária para receber um reforço escolar. acreditamos que o ensino técnico tem um grande potencial de dar futuro aos jovens.

IB – Como fazer para que a educação resulte em desenvolvimento sustentável?MHGC – a indústria brasileira há muito percebeu que se quiser ser competitiva, to-mando por base parâmetros internacionais, não poderá apenas contar com as vantagens trazidas pelas constantes inovações tecnológi-cas. cada vez mais precisará de pessoas capa-zes de pensar em novas soluções e caminhos sobre como aplicar a tecnologia e desenvol-

ver outras. o ensino Fundamental é a raiz de um dos principais problemas enfrenta-dos pelos estudantes: a capacidade de com-preender o que lêem, o enunciado de um problema matemático, por exemplo. o estado de são Paulo, que tem a maior rede do bra-sil com cinco milhões de alunos, identificou nos últimos exames de avaliação esse déficit de compreensão e ins-tituiu mecanismos de recuperação dirigidos a fortalecer as compe-tências educacionais de matemática e lín-gua portuguesa.

IB – E o que fazer para corrigi-lo?MHGC – em termos práticos, o remédio da boa educação precisa chegar na hora certa, ou seja, antes que os estudantes se encontrem dis-putando o mercado de trabalho e, frente a uma indústria cada vez mais competitiva e exigente, acabem tolhidos da condição de lutar em posi-ção de igualdade pelas oportunidades do mer-cado. infelizmente, alguns estudantes só se dão conta tardiamente do quão importante teria sido estudar mais, isto é, quando são rejeitados pelo mercado de trabalho.

EntrEvista

18 indústr i a br asileir a agosto 2008

Mat

tHia

s K

ulK

a/z

eFa

/Co

rb

is

18 indústr i a br asileir a agosto 2008

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 19

sofisticado e popularA facilidade de informação torna as pessoas mais exigentes, ao mesmo tempo em que novos segmentos sociais ganham acesso ao mercado

PoR luIzA PAstoR

w w w.cni.org.br

consumo

plaNejar de olho Nos próximos dez a viNte anos, algo que não se fazia há poucas décadas, vem se tornando essencial à administração das empresas. não que a tarefa tenha se tornado fácil. ao contrário: com a disseminação da in-formação em tempo real, ao alcance de todo cidadão, conquistar e manter a confiança é um enorme desafio.

entender os caminhos do consumo no mundo moderno requer um acompanhamento atento de tendências que mudam a cada mo-mento. nesse ambiente de altíssima volatili-dade, adivinhar o humor do público-alvo no instante seguinte é uma ciência que, se ainda não é exata, deve ser a mais precisa possível. Qualquer erro será fatal para a sobrevivência dos negócios. ninguém mais consegue empur-rar o produto com uma bela embalagem e um discurso original. o consumidor sabe o que quer, é rapidamente informado do que sequer imaginou desejar e conhece os seus direitos. Quem souber fidelizar esse ser inconstante, di-zem os especialistas em consumo, terá assegu-rado o paraíso do mercado. Mas o caminho até lá será árduo.

novas linguagens não podem ser ignora-das. o gerente de planejamento da agência de propaganda talent, thiago lopes, aponta a popularização das mensagens por celular. na itália, o governo criou o “sMs consumatory”, que permite a qualquer pessoa obter informa-ções sobre preços e qualidade de produtos que pretende consumir. lopes destaca a despedida de bill gates da Microsoft, quando anunciou para breve o lançamento de um aparelho celu-lar que permitirá ao usuário obter no instante que quiser cardápios de restaurantes, preços de

roupas expostas, reservas para lazer etc. “com a rapidez do aperfeiçoamento tecnológico, os planejadores têm de estar muito atentos para não perderem oportunidades valiosas na con-quista de novos consumidores”, explica.

entre os novos elementos ressaltados de modo unânime pelos especialistas destaca-se o crescimento das classes c e d como consu-midoras ativas e conscientes, principalmente nos países emergentes como china, Índia – e brasil. aqui, com a estabilização econômica, o crescimento do valor real do salário mínimo e das aposentadorias, somado a políticas públicas de distribuição de renda, como o bolsa Família, todo um imenso contingente de pessoas aporta ao mercado com demandas que não mais se li-mitam ao consumo básico de subsistência. ini-ciado esse processo de introdução das classes historicamente menos favorecidas ao consumo, este só tende a aumentar, modificando o perfil da procura e, conseqüentemente, o da oferta.

MoMento esPeCIAl

“o mercado brasileiro vive um momento es-pecial e privilegiado do ponto de vista econô-mico”, avalia Pedro albuquerque, diretor da global Market inteligência de Mercado e Pla-nejamento empresarial. “a classe c representa um potencial de 86 milhões de novos consu-midores e as mulheres, cada vez mais presentes no mercado de trabalho, somam 90 milhões, o que significa que mais pessoas estarão cada vez mais tempo fora de suas casas, demandan-do produtos acessíveis que facilitem suas vidas, hoje disponíveis quase exclusivamente para as classes a e b”, complementa.

20 indústr i a br asileir a agosto 2008

a priorização de consumo de produtos fa-cilitadores de uma vida cada vez mais corrida também é destacada como tendência irreversível para as próximas décadas por nelson Marango-ni, ceo da ibope inteligência. “as pessoas re-clamam de que têm cada vez menos tempo e isso vai continuar assim, logo quem oferecer produ-tos que facilitem o trabalho desses consumidores só terá a ganhar, junto com os produtos éticos e com melhor relação custo/benefício”.

se a demanda tende a aumentar com a en-trada dessa nova massa de compradores, isso não significa que a qualidade possa ser ignora-da. “Vai ser impossível tapear esse consumidor e não haverá lugar para propaganda enganosa”,

alerta Flávio rezende, diretor nacional de mí-dia da agência dPZ. Para garantir espaço nesse novo ambiente onde a informação não será mais privilégio de poucos, será preciso agregar valores como inserção social do produto na sustentabili-dade ambiental, informação e embalagem, mas, principalmente, qualidade.

“armado de uma multiplicidade de informa-ções, o consumidor exigirá das marcas tradicio-nais ou novas um esforço muito grande de ade-quação”, diz lopes, da talent (veja texto sobre marcas na página 22). Para ele, essa adequação inclui “a formulação de novas linguagens, dentro de um padrão de transparência e ética, que per-mitam ao consumidor fazer sua escolha estando absolutamente seguro quanto ao que está adqui-rindo”. Mas ele ressalva que o excesso de infor-mações disponíveis ao alcance de todos pode ge-rar um efeito adverso, paralisante: “nesse caso, as marcas desempenharão um papel de verdadei-ras ‘curadoras’ da informação, auxiliando o con-sumidor a discernir para melhor consumir”.

a necessidade de “curadoria” também é apontada por sumara osório, diretora-geral de planejamento e pesquisa da lew’lara\tbwa, dentro de uma ótica na qual a classe média, paralelamente à ascensão das classes c e d, vi-verá um processo “de resgate de valores tradi-cionais como honestidade, integridade, famí-lia, comunidade e verdade”. Para atingir esse consumidor, em sua opinião, será importante “olhar para o lado, para outras marcas, para seus concorrentes não-tradicionais, de outros mercados, que dará o parâmetro do mínimo esperado e poderá inspirar grandes inovações”. a prática de branding brands, onde marcas no-vas recebem o aval de marcas que já desfru-tam de prestígio, será importante para ajudar o público mais seletivo a escolher em meio ao enorme fluxo de informação.

a introdução de um discurso politicamente correto na produção também tende a fazer com que o perfil da demanda, nas próximas décadas, caminhe no sentido de caracterizar essa qualida-de como diferencial de recomendação do con-sumo. “Produtos que conseguirem entregar uma tu

Ca

vie

ira

/Fo

lHa

iMa

ge

M

shoppIng em são paULo:

a classe c representa

potencial de 86 milhões de consumidores

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 21

consumo

proposta de valor alinhada às atitudes e compor-tamentos que surgem como tendências globais terão mais chances de sucesso no futuro”, afirma Karina Milaré, diretora da tns interscience. nesse perfil, ela aponta produtos que ajudem as pessoas a economizar tempo, tragam autentici-dade, originalidade, estejam em linha com as de-mandas de responsabilidade social e ambiental e transparência. “Já produtos que não entreguem a sua proposta de valor e que não pratiquem aquilo que divulgam em suas mensagens publicitárias estarão vulneráveis à disseminação quase em tempo real de experiências ruins”, alerta.

a questão da comunicação no que diz res-peito aos novos produtos, segundo Pedro ca-pelletti, vice-presidente de criação da agência Fischer/américa, também deverá ser alvo de especial cuidado. “o consumidor, com condi-ções de se informar sobre o que quer consumir, não vai mais aceitar propaganda impositiva do tipo me-olhe-me-compre-me-coma”, explica. a busca de status, que em sua opinião é uma característica inerente ao ser humano que não deve desaparecer, “pois está aí há mais de 10 mil

anos”, será modificada, incorporando questões que hoje começam a emergir, como a da res-ponsabilidade social e ambiental. “Um exemplo claro disso são os carros de combustíveis híbri-dos, que vão cada vez mais mudar o nosso olhar sobre o que queremos de um carro em termos de status”, cita o criativo.

assim como os produtos, os serviços tam-bém precisarão se adequar a esse novo perfil de demanda. de acordo com alexandre andrade, economista da consultoria tendências, “ao mes-mo tempo em que o consumidor da classe c passará a exigir produtos cada vez mais sofisti-cados e com maior valor agregado, como papel higiênico de folha dupla, que já registra essa movimentação, o aumento da busca de produtos duráveis como carros, móveis e eletrodomésticos levará a um incremento da procura por serviços bancários, o crédito principalmente, para uma classe que hoje ainda é muito pouco bancariza-da”. oferecer boas condições de comercialização ao alcance desse consumidor, acredita andrade, será um diferencial significativo para incremen-tar as vendas.

ale

ss

an

Dr

o D

ell

a v

all

e/K

ey

sto

ne

/ePa

/Co

rb

is

BILL gates anunciou planos para um aparelho que fornecerá informações sobre lojas e restaurantes

22 indústr i a br asileir a agosto 2008

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 23

mArcA

É possível sobreviver na multidãoO consumidor não está disposto a pagar só pelo glamour, mas será fiel a quem lhe entregar garantias reais de qualidade e responsabilidade corporativa

PoR CARlos HAAG

“o Que há Num Nome? o Que chamamos rosa, com outro nome, não seria igualmente doce?”, pergunta Julieta a seu amado na tra-gédia de shakespeare. se romeu fosse um publicitário, teria respondido: “não, querida. está tudo no nome”. Um dos sócios da agência dPZ, Francesc Petit lembra que a marca é mui-tas vezes mais valiosa que ativos tangíveis das empresas. “É ela que chega aos olhos e ouvidos do consumidor.”

Mais poderosas do que nunca, as marcas en-frentam um paradoxo. encarnam a quintessência do círculo virtuoso em que o consumo alimenta o crescimento e permite às pessoas consumir ain-da mais. “ao mesmo tempo, o poder e arrogân-cia que as marcas ganharam começam a satu-rar o espaço social”, nota o pesquisador italiano andrea semprini, professor da Universidade de Paris iV, a sorbonne, e autor de A marca pós-moderna (estação das letras, 335 páginas, r$ 39,00). “diante dessa poluição midiática, a mar-ca precisa de um poder de fogo sempre maior. apesar de sua potência, ou talvez por causa dela, o sistema marca nunca foi tão criticado. sua co-tação nunca esteve tão baixa”, avisa o pesquisa-dor em entrevista a Indústria Brasileira.

riC

Ha

rD

Cu

MM

ins

/Co

rb

is

24 indústr i a br asileir a agosto 2008

nada leva semprini a ver sinais do ocaso das marcas, mas ele prevê muita discussão sobre o lu-gar delas na sociedade: “Haverá uma reflexão re-novada sobre sua utilidade, seu lugar privilegiado no consumo”, analisa. na opinião de publicitários, esse debate, longe de ser uma ameaça, será a salva-ção da lavoura. “o que está acontecendo é uma mudança na relação entre consumidores e marcas que será fundamental para o futuro delas. antes, essa relação era quase de mão única. as empresas se comunicavam com os clientes de forma unila-teral, hoje, e amanhã, não mais”, acredita Paulo césar Queiroz, sócio e vice-presidente da agência dM9ddb. “o consumidor quer opinar, ser ou-vido, quer que a empresa reaja a sua necessidade. então, no futuro, as marcas deverão propor cada vez mais um diálogo interativo”, avalia.

FAlAR CoM voz BAIxA

Humildade é uma palavra-chave da nova relação, não só na disposição para ouvir, mas também no tom usado para falar. “Uma marca de prestígio deverá tomar a via da discrição, poderá comuni-car apenas o que seu público requisitar, deverá falar com a voz baixa, usar um discurso e instru-mentos de comunicação não invasivos, empregar temas e argumentos pertinentes e moderados”, observa semprini em seu livro. “apenas as marcas que compreenderem e praticarem essa moderação de comunicação lucrarão em termos de prestígio e de legitimidade.”

a situação ficou ainda mais complexa com a vi-rada que as marcas deram há pouco mais de uma década, quando produtos deixaram de ser apenas produtos para se tornarem uma “dose de imaginá-rio” entregue ao consumidor. não se compra uma calça apenas para se vestir, mas para ganhar identi-dade, sonhos, aventuras. “a marca fornece sentido a um imaginário que por si só tenderia a ser mui-to abstrato. e os indivíduos se sentem no direito de pedir mais, de exigir que marcas e produtos se esforcem para interpretar, de forma mais sutil e personalizada, os seus projetos de vida”, afirma o pesquisador italiano. a preguiça de muitas marcas em reagir a esse novo contexto desapontou as ex-

pectativas. afinal, os consumidores esperavam um papel de racionalidade e regulamentação, de cla-rificação, de um mercado cada vez mais invasivo, abundante, opaco e confuso.

Há quem aposte nas marcas entregando paco-tes de consumo cada vez mais complexos, afirma a professora isleide arruda Fontenelle, da área de psicologia social da PUc-sP, autora de O nome da marca (boitempo, 363 páginas, r$ 47,00). “alguns pesquisadores de tendências acreditam que chegará o momento das super marcas, batizadas de Yoda. ao escolher uma delas você está escolhendo a sua realidade: o que irá ler, o que irá comprar, o que irá fazer, com quem irá se relacionar. será a ‘era do acesso’, com os ‘novos porteiros’, capazes de filtrar o que entra e sai do mundo virtual. nesse contexto, temos o ‘valor ao longo da vida’, ou seja, mais im-portante do que vender é estabelecer um relaciona-mento com o cliente por todo o tempo”, explica.

Prova da preocupação do consumidor com a escolha, segundo semprini, está “no imenso su-cesso na internet de comunidades em que os con-sumidores avaliam marcas. Mas o trabalho está longe de ser algo simples. “no futuro, haverá, de forma ainda mais evidente do que hoje, boas mar-cas, acrescentando valor, criatividade e respeito ao consumidor; e também marcas ruins, apenas tentando tirar vantagem de uma habilidade mer-cadológica ou de alguma atitude de imitação para enganar o consumidor. ele terá de aprender nova-mente a diferenciá-las”, avalia o italiano.

olhar para a frente não significa esquecer o que ficou para trás. “a primeira fonte de legiti-midade para um projeto de marca é seu passado. Uma marca de prestígio é, antes de mais nada, uma marca que soube perenizar seu projeto e perdurar no tempo”, diz semprini. dentre os seg-mentos que conseguiram fazer isso com maior eficiência estão os de luxo, como dior, chanel e armani, e de alta tecnologia, como apple e sam-sung. o aspecto da legitimação confunde-se com o conceito de percepção de riscos, apontado pelo professor Francisco antonio serralvo, coordena-dor do grupo de estudos da Marca (gema), da PUc-sP, autor de Gestão de marcas no contexto brasileiro (saraiva, 301 páginas, r$ 63). “a marca

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 25

mArcA

é o primeiro fator de redução do risco financeiro, emocional ou social no momento da compra. es-ses risco persistem, por mais que os produtos se tornem homogêneos”, explica.

ao cobrar características e compromissos de suas marcas, os consumidores estão cada vez mais atentos a elementos como a sustentabilidade. “Quem quiser sobreviver terá de atender a esses requisitos econômicos, sociais e ambientais”, avisa Queiroz, da agência dM9ddb. semprini con-corda. “as questões sociais e ambientais serão cada vez mais importantes e pode-se mesmo dizer que serão, em si, rotas para a criação e o desenvolvi-mento de novas marcas. a danone, por exemplo, criou uma nova marca de leite e de iogurte baseada numa identidade ecológica. grandes empresas po-deriam comprar outras com essa preocupação. a l’oréal, por exemplo, poderia comprar the body shop, a Unilever, os sorvetes bem & Jerry.”

adquirir novas características, porém, é tão im-portante para os consumidores quanto manter as antigas. “eles querem mudanças, mas apenas aque-las percebidas como relevantes. a verdadeira inova-ção num mercado pós-moderno será fornecer novos equipamentos que serão fáceis de usar e que façam sentido para o consumidor”, diz semprini. Queiroz percebe o mesmo futuro no brasil. “empresas que forem muito herméticas tendem a perder identifica-ção com os consumidores. as que forem abertas e conseguirem ouvir, responder e estabelecer um diá-logo constante com o consumidor vão ser as prefe-ridas. creio que as empresas devem se preparar para ter cada vez mais canais de comunicação.”

BRAsIl: MeRCAdo únICo

empresas brasileiras devem olhar, porém, não só para os desafios globais, mas para as especificida-des do mercado doméstico, avisa semprini. “Vejo o brasil com grande potencial de marcas locais, por causa do tamanho do País e de uma certa ten-dência brasileira de se sentir auto-suficiente. com-parado com outros grandes países da américa latina, o brasil parece-me o menos influenciado, seja pelo estilo norte-americano (consumo cons-pícuo, quantidade, status), seja pelo europeu (refi-

namento, velhos valores). Há realmente um estilo brasileiro que não pode ser reduzido a nenhum outro”, afirma. “o brasil não é um país pobre, mas um país com muita gente pobre. as classes mais abastadas estão crescendo e, com isso, haverá um crescimento do consumo de luxo, ainda que de ‘básicos’ como armani, godiva, lancel.”

em mercados emergentes, como o brasileiro, falsificações dessas etiquetas de prestígio se alas-tram rapidamente. Para semprini, longe de ser um problema, isso é um atestado de prestígio das marcas copiadas. ele nota até mesmo um jeito pós-moderno de misturar o verdadeiro e a imi-tação: estilistas como o alemão Karl lagerfeld ou o italiano roberto cavalli desenharam coleções de roupas para a rede de lojas Zara. “está desapa-recendo e vai sumir no futuro a aura sagrada do produto de luxo, que os consumidores não mais respeitam. eles podem usar ao mesmo tempo um item ‘real’ de marca e uma imitação, se essa servir ao look geral”. a rosa pode ter qualquer perfume e ainda assim manter o seu nome.

VestIdo de caVaLLI, que desenhou também produtos populares: fim da aura sagrada do luxoM

atte

o b

az

zi/e

Pa/C

or

bis

26 indústr i a br asileir a agosto 2008

a reuNião da cúpula aNual do g-8, Que iNclui os sete países mais industrializados do mundo mais a rússia, realizada no início de julho no Ja-pão, apontou uma tendência para o debate inter-nacional. os países do grupo concordaram em reduzir a emissão de gases poluentes ao menos em 50% até 2050 para combater os efeitos das mudanças climáticas e o aquecimento global. Pela primeira vez, os estados Unidos aceitaram uma meta de redução de gases que comprome-tem a atmosfera, uma vez que o país não aderiu ao Protocolo de Kyoto, válido até 2012.

se o compromisso de cada país ficará somen-te no discurso, isso é uma outra história. o que se pode concluir é que o meio ambiente conti-nuará no centro das discussões durante muito tempo e, conseqüentemente, das decisões de ne-gócios. “não há como estabelecer qualquer tipo de política que não leve em conta o componente ambiental. os líderes mundiais foram impulsio-nados a comprar o tema”, diz o especialista em direito ambiental Mamede said.

segundo a gerente de Meio ambiente da cni, grace dalla Pria Pereira, a questão ambiental não é mais periférica. “o tema está em qualquer mesa de negociação e a indústria precisa perceber isso”, diz. atualmente, segundo grace, pratica-mente 95% dos processos produtivos passam por algum nível de preocupação relacionada ao meio

agosto 2008

Foco naproduçãosustentávelO cuidado na conservação de recursos naturais é essencial para a conquista e a manutenção de consumidores

PoR FeRnAndA PARAGuAssu

ambiente, seja por conta de licenciamentos ou de pagamento de compensação ambiental.

“nos anos 1960 e 1970, o paradigma de de-senvolvimento era ‘indústria instalada, estrada construída’. tudo era voltado para a questão econômica”, lembra a gerente. com o passar dos anos, passou a surgir a consciência de que os re-cursos naturais são esgotáveis e que sua conserva-ção está diretamente relacionada à sobrevivência da própria indústria.

Mais recentemente, a preocupação ambien-tal também passou a ser relacionada à percepção da sociedade em relação à indústria, ou seja, ao processo no qual o produto é feito. ainda mais num momento em que as plantas industriais encontram-se, na sua maioria, em grandes cen-tros urbanos. Passaram a ser desenvolvidas ações sociais em conjunto com ações ambientais, sem deixar de lado o viés econômico. a antecipação a esse cenário está no Mapa Estratégico da

Pau

lo F

riD

Ma

n/C

or

bis

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 27

meio Ambiente

Para grace, da cni, o setor produtivo tem de amadurecer para realizar ações de conserva-ção ambiental de forma voluntária. “as regras de comando e controle não são suficientes para uma boa gestão ambiental”, afirma. na avaliação de said, especialista em direito ambiental, o brasil tem uma excelente legislação ambiental, moder-na e avançada. no entanto, diz, os órgãos que operacionalizam as leis deveriam ter melhores condições de trabalho. “o número de analistas e de fiscais do ibama [instituto brasileiro do Meio ambiente e dos recursos naturais renováveis] é insuficiente para o tamanho do território brasi-leiro”. ele diz ainda que a política ambiental do brasil, que concilia desenvolvimento com pre-servação do meio ambiente, é tímida. “não dá para se repetir o modelo dos anos 1960 e 1970. o mundo olha para o brasil com atenção por causa da amazônia e também por ser um importante celeiro”, afirma.

MAIs que A oBRIGAção

a gerente da cni diz que o compromisso da indústria deve ir além de uma regra obrigatória, levando em conta a percepção de que é lucrativo investir em ações socioambientais. Prova disso é a criação do Índice de sustentabilidade empresa-rial (ise) na bolsa de Valores de são Paulo (bo-vespa) em 2005, seguindo uma tendência mun-dial de procura por investimentos em empresas preparadas para enfrentar riscos econômicos, sociais e ambientais. a arcelorMittal tubarão, do setor siderúrgico, é uma das empresas que in-tegra o ise. a siderúrgica desenvolve uma série de ações na área ambiental e é auto-suficiente em energia elétrica, ou seja, gera 100% da energia necessária à sua produção a partir do aproveita-mento de gases do processo produtivo. “a em-presa foi a primeira siderúrgica a obter o registro para a comercialização de créditos de carbono em 2006, junto à organização das nações Uni-das (onU)”, diz o gerente de Meio ambiente da arcelorMittal tubarão, luiz antonio rossi.

o setor siderúrgico brasileiro, altamente com-petitivo do ponto de vista internacional, recebeu

w w w.cni.org.br

Indústria 2007-2015, lançado em 2005, que tem por objetivo a competitividade do País e o desenvolvimento sustentável.

sob a concepção da sustentabilidade, surgiu uma nova geração de empresas, especialmente na área de cosméticos, que entendem o uso do recurso natural como impactante no seu core business. É o caso da natura que usa, de forma sustentável, recursos florestais como breu bran-co, priprioca e andiroba, em xampus e óleos para o corpo. a empresa também desenvolve uma série de outras iniciativas socioambien-tais, como a fabricação de produtos com refil, que consomem 30% menos recursos naturais do que a embalagem regular, e frascos de óleos corporais com plástico reciclado. em dez meses, a natura reduziu 7% das emissões de gases de efeito estufa, como resultado de medidas adota-das no âmbito do Programa carbono neutro, implantado no ano passado.

mIna da VaLe no pará:

respeito à floresta

28 indústr i a br asileir a agosto 2008

visitas de investidores da Índia e da china em busca de informações sobre a eficiência energéti-ca e o uso de recursos naturais. segundo a supe-rintendente do instituto brasileiro de siderurgia (ibs), Maria cristina Yuan, 30% da energia elé-trica consumida pelo setor são de autogeração.

“o setor produtivo tem que se apropriar da noção de que a indústria é protagonista do bem-estar comum ao mesmo tempo em que é capaz de conservar o meio ambiente. a indústria é a grande concretizadora do desenvolvimento sustentável”, afirma grace, da cni. o estado também deve enxergar isso, na avaliação da ge-rente, e encarar a indústria como um parceiro, contribuindo para o setor desempenhar esse papel por meio de incentivos para a adoção de novas tecnologias que impactam menos o meio ambiente.

nesse sentido, said destaca que empresas de ponta devem estar engajadas no debate, porque respondem pelo processo de desenvolvimento, pela geração de emprego e renda. “o governo não pode nortear política ambiental nenhuma sem ouvir o segmento empresarial. É preciso também criar uma agenda comum que busque, entre as esferas de governo, o caminho do meio entre aqueles que querem o desenvolvimento a qualquer preço e aqueles que vêem a floresta como um santuário”, diz. segundo o gerente da arcelorMittal tubarão, a participação do setor industrial no debate sobre questões ambientais é muito importante. rossi diz que a indústria so-fre hoje conseqüências por ter ficado aquém do processo de formulação de novas legislações em décadas passadas.

atenta a isso, a cni vem se articulando no sentido de disseminar informações sobre o as-sunto para indústrias de diferentes portes e de todas as regiões do País. o diretor de assuntos ambientais do instituto brasileiro de Mineração (ibram), rinaldo Mancin, afirma que o setor é comprometido com a sustentabilidade. Pequenos produtores de minerais metálicos e não-metáli-cos que não conseguem se alinhar a padrões de eficiência ambiental tendem a ser absorvidos por empresas maiores ou a sumir do mercado.

28 indústr i a br asileir a

Pau

l s

ou

De

rs

/Co

rb

is

aqUecImento gLoBaL: Finalmente os estados Unidos

se comprometeram a reduzir emissões de gás carbônico

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 29

meio Ambiente

no momento, entre outras ações na área am-biental, a cni coordena o alinhamento do setor produtivo em torno da formulação do Plano na-cional de enfrentamento das Mudanças climá-ticas. a cni pretende ampliar o diálogo com o governo e contribuir para o debate sobre o aque-cimento global em fóruns no País e no exterior. no brasil, o desmatamento é o principal respon-sável pelas emissões de dióxido de carbono. nos países desenvolvidos, a geração de energia para a indústria é o vilão do aquecimento global. a cni pretende estabelecer uma espécie de conta-bilidade do dióxido de carbono emitido na cadeia de fabricação de diversos produtos, para que cada empresa tenha idéia do impacto de sua atividade para o ambiente. com isso, será possível planejar a redução das emissões.

no ano passado, a cni coordenou a 1ª conferência da indústria brasileira para o Meio ambiente (cibma), considerada um marco his-tórico pelas lideranças industriais. Pela primeira vez, mais de 400 empresários e representantes de associações, federações e sindicatos da indústria reuniram-se para debater questões ambientais de interesse nacional. no evento, foram discutidas propostas recomendando maior rapidez nos trâ-mites burocráticos e soluções para impulsionar parcerias entre os setores público, privado, acadê-mico e a sociedade civil organizada.

ReGRAs MAIs CoMPlexAs

as regras ambientais estão cada vez mais comple-xas, alerta a gerente de meio ambiente da cni, o que exigirá maior esforço das empresas. Um dos setores brasileiros que discute como lidar com uma nova legislação da europa é o de produtos quími-cos. a indústria química desenvolve desde 1992 o Programa atuação responsável para promover o aperfeiçoamento da gestão das empresas do setor e de sua cadeia de valor.

ainda assim, segundo o diretor de assuntos industriais da associação brasileira da indústria Química (abiquim), Marcelo Kós, o regulamento reach (sigla em inglês para registro, avaliação e autorização para substâncias Químicas), apro-

vado recentemente pela União européia, deverá afetar as exportações do brasil. o regulamento, que entrou em vigor em junho de 2007, estabele-ce prazos para o registro de substâncias químicas fabricadas ou exportadas para a região. estima-se que cerca de 30 mil substâncias precisarão aten-der aos requisitos estabelecidos pelo reach. só poderão ser comercializadas na União européia as substâncias químicas registradas em uma nova agência reguladora até 1º de dezembro deste ano.

Kós explica que, inicialmente, a preocupação ambiental era focada nas operações industriais e, agora, a tendência é controlar os produtos. segun-do os formuladores da nova política européia, fo-ram levados em conta os princípios da precaução e prevenção de prejuízos ambientais, a redução de testes em animais e a transparência da informa-ção. a indústria também deve demonstrar que os produtos e seus usos são seguros antes de colocá-los no mercado e deve haver uma substituição de produtos perigosos por outros mais seguros.

o gerente da abiquim destaca que, cada vez mais, a discussão ambiental estará integrada à discussão sobre questões na área de saúde, uma das conseqüências da proximidade da indústria com as cidades. o assunto já está na pauta da entidade há alguns anos. nos próximos 15 anos, segundo Kós, deverá haver mudanças na organi-zação socioeconômica e a imposição de limites individuais de consumo não será uma discussão política nem ideológica. “será pragmática do tipo: não tem para todos”, afirma.

coLeta da castanha-do-pará, usada em produtos da natura

Div

ulg

ão

/nat

ur

a

30 indústr i a br asileir a agosto 200830 indústr i a br asileir a agosto 2008

Co

ns

tru

Cti

on

PH

oto

gr

aP

Hy/

Co

rb

is

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 31

liderAnçA e Gestão

a escassez do talento O profissional empreendedor, inovador, capaz de implementar e suportar mudanças ganha importância – e é cada vez mais difícil de encontrar

PoR FeRnAndA PARAGuAssu

ter os produtos Que os coNsumidores Querem, a um preço competitivo, exige das empresas a capaci-dade de desenvolver um novo perfil de profissional, tarefa que tem se mostrado das mais complicadas. no mundo corporativo, a expressão “apagão de ta-lentos” virou jargão e os executivos buscam novas formas de gestão para atrair e reter competências em suas equipes.

segundo o superintendente do iel nacional, carlos cavalcante, os executivos brasileiros sentem a necessidade de se preparar para serem mais com-petitivos, terem maior produtividade, melhores es-tratégias para tomadas de decisão e uma boa relação com funcionários e fornecedores. “É uma tendên-cia que se intensificará nos próximos anos”, diz. ca-valcante destaca que a situação mais segura e estável do ambiente macroeconômico, tanto doméstico quanto internacional, dá condições para o empresá-rio se concentrar no planejamento de médio e longo prazo. “Mas é necessário se capacitar.”

a preocupação do gestor de hoje deve ir além dos processos produtivos, porque isso não é mais suficiente para garantir bons resultados. especialis-tas afirmam que, além de máquinas modernas, as empresas dependem de funcionários qualificados. Há casos de indústrias em que o trabalho tornou-se tão sofisticado que são encontrados apenas enge-nheiros no chão de fábrica. a nova realidade sem fronteiras, com a economia aberta, faz com que a competição possa estar em qualquer lugar do mun-do. Portanto, alertam esses especialistas, além do preparo acadêmico, são necessárias outras habilida-des, como uma visão global de seu negócio para permitir um posicionamento seguro em relação ao acesso a novos mercados e ao desenvolvimento de novos produtos.

características co mo liderança, criatividade, espírito empreendedor, capacidade de adaptação e um nível de qualificação cada vez mais elevado para gerar produtos de qualidade são as mais procuradas em um profissional. “Produtos iguais viram commo-dities. Por isso, a inovação, seja de produtos ou pro-cessos, é fundamental para agregar valor”, afirma o coordenador do núcleo Vale de desenvolvimento de liderança da Fundação dom cabral, anderson de souza sant’anna. nos setores de telecomunica-ções, tecnologia, design e alta costura, por exemplo, que são considerados dinâmicos, a inovação tornou-se praticamente um fator de sobrevivência.

segundo a professora da brazilian business school neusa Hirota, como um modelo de negó-cios, projeto ou novo produto pode ser divulgado literalmente à velocidade da luz (pelas fibras ópticas das infovias), sua vantagem competitiva pode se per-der rapidamente. assim, outros diferenciais menos “copiáveis” passam a ser os grandes ativos de uma empresa. “diferenciais como empreendedorismo e agilidade de aprendizagem, ou seja, gente”, afirma.

no entanto, esses ativos, no perfil que o mer-cado exige, parecem estar em falta. Pesquisa feita pela Fundação dom cabral com executivos seniores do brasil e do exterior mostrou que há carência de pessoas capazes de conduzir processos de mudan-ças e de suportá-las. as três principais preocupações apontadas por esses executivos foram: desenvolvi-mento de lideranças; gestão de competência; e atra-ção e retenção de competência.

sant’anna diz que há empresas com dificulda-des para se internacionalizar por falta de líderes. “É preciso criar um contexto organizacional para faci-litar a gestão”. enquanto o gestor é definido como aquele que gera e processa dados, o líder tem de ser

32 indústr i a br asileir a agosto 2008

um desbravador. empresas que vão para a china, por exemplo, onde o contexto cultural e de nego-ciação é totalmente diferente, precisam desenvolver processos adequados para aquele país.

o diretor-presidente da eletro aço altona, ca-cídio girardi, que participou de um curso organi-zado pelo iel no insead de cingapura, com visitas a empresas na china, concorda que é importante conhecer o país, o povo e sua cultura antes de ini-ciar um negócio. “não adianta querermos atuar lá como fazemos no brasil”, diz. a gerente de desen-volvimento de liderança da Votorantim industrial, neusa Hirota, diz que cabe às empresas buscar pes-soas que entendam o “ser líder” não como um car-go, mas um estilo pessoal e natural que alavanque resultados e incremente competitividade. devem ser líderes de fato e não por imposição organizacional, manter foco nos objetivos sem deixar de valorizar as pessoas. o líder do futuro equilibra aprendiza-gem permanente e mantém uma rede de relaciona-mentos com capilaridade, diversidade e densidade. “são esses quatro elementos (objetivos, pessoas, aprendizagem e relacionamentos) que permitem a um especialista migrar da competência técnica para posições cada vez mais estratégicas para geração de resultados”, afirma a executiva da Votorantim, quinto maior grupo privado brasileiro, com mais de 60 mil funcionários.

a gestão de competência significa a gestão des-ses novos perfis profissionais. Há uma necessidade de criar sistemas de reconhecimento e de recom-pensas diferenciados e um clima de engajamento maior entre os funcionários. Foi-se a época em que o chefe dava ordens e os empregados simplesmen-te as cumpriam. a nova geração de trabalhadores, destaca sant’anna, tem valores diferentes. são pes-soas que buscam maior equilíbrio entre vida pesso-al e profissional e querem uma vida com sentido. antigamente, trabalhava-se duro por uma remu-neração financeira para consumir. Hoje os profis-sionais querem fazer parte do processo e esperam novos tipos de incentivos, vinculados aos resultados empresariais. “o mercado precisa de pessoas que lideram processos e competências e que ajudam or-ganizações a se ajustarem melhor à construção de um novo paradigma de competitividade baseado

na flexibilidade”, diz o coordenador da Fundação dom cabral.

É um movimento com origem semelhante ao ob-servado em meados dos anos 1970, em que o mundo vivia a crise do petróleo e enfrentava a entrada de no-vos atores no mercado, sobretudo o Japão, reconstru-ído depois da guerra e competindo como grande po-tência. o aumento da inflação e, conseqüentemente, dos custos de produção, levaram a uma retração do consumo e as empresas tiveram que buscar novos processos produtivos e novas relações de trabalho. desde então, lembra sant’anna, vive-se um processo contínuo de rearranjos organizacionais.

ao longo dos anos, saiu de cena o paradigma da rigidez, de trabalhos repetitivos, estrutura verticali-zada e altamente hierarquizada e entraram organi-zações mais enxutas para responder de forma mais efetiva às transformações do ambiente. o lema passou a ser capacidade de adaptação e produtos diferenciados.

CAPItAl InteleCtuAl

a partir dos anos 2000, o capital intelectual ga-nhou muita importância. o movimento de flexi-bilização passou a demandar não apenas novas for-mas de organização, mas também de competências individuais. no entanto, a falta de profissionais com perfil inovador tornou-se um problema de ní-vel mundial. ao participar de um congresso sobre recursos humanos nos estados Unidos, sant’anna, da Fundação dom cabral, ouviu de um dos pa-lestrantes que foi decretada a morte da lealdade. o argumento tomou como base uma pesquisa feita em 2003, nos estados Unidos, em que 83% dos trabalhadores tinham extrema ou alguma proba-bilidade de mudar de emprego. no mesmo evento, sant’anna também ouviu dos participantes a preo-cupação em relação à aposentadoria dos atuais exe-cutivos e líderes, que precisarão ser substituídos.

segundo neusa Hirota, países como austrália e canadá têm campanhas de imigração para es-trangeiros calcadas na formação e na perspectiva da contribuição que possam dar. “Forçosamente, no futuro, o estímulo dessas nações grandes à imigra-ção deverá aumentar”, diz neusa. e isso terá reflexos

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 33

liderAnçA e Gestão

A evolução dos modelos

Área aNTIGa CONCePÇÃO NOVa CONCePÇÃO

esTruTura OrGaNIzaCIONal

Arcabouço estrutural Hierarquizado, separação entre pensar e fazer Menor número de níveis, junção entre pensar e fazer

Produção Em massa, linha de montagem Flexível

Organização do trabalho Especializado, gerando frustrações Enriquecido, gerando desafios

Realização do trabalho Individual Em grupo

Sistema de controle Ênfase em controles explícitos do trabalho Ênfase no controle implícito, pelo grupo

relaÇões de TrabalhO

Nível de educação e formação Baixo, trabalho automatizado e especializado Alto, trabalho enriquecido e intensivo em tecnologia

Relações empregador–empregado Independência Interdependência, confiança mútua

Relações com sindicatos Confronto, divergência de interesses Diálogo, busca de convergências

Participação nas decisões Baixa, decisões tomadas de cima para baixo Alta, decisões tomadas em grupo, de baixo para cima

POlíTICas de reCursOs humaNOs

Emprego Focado no cargo, emprego a curto prazo Carreiras flexíveis

Contratação Para um cargo Para a empresa, não para um cargo específico

Treinamento Focado no aumento de desempenho Permeabilidade entre diferentes áreas

Carreiras Rígidas e especializadas, de pequeno horizonte Focada no desempenho, baixa diferenciação de níveis

Remuneração Focada nos cargos, com grande diferenciação salarial Incentivos grupais vinculados a resultados

FONTE: FuNDAçãO DOM CABRAl

no brasil porque, além de encarar o desafio de me-lhorar o ensino, ainda há o risco de perder para os outros países aqueles profissionais que conseguem uma boa educação. “É um problema sério”, afirma.

segundo o professor do insead James teboul, as escolas e universidades também devem se adap-tar à demanda por pessoas criativas. teboul diz que o sistema tradicional preparava os estudantes para um mundo estável em que ficariam no mesmo em-prego por anos. agora os estudantes devem estar preparados para um mundo mais turbulento e de-senvolver um enfoque mais artístico e emocional. segundo o professor, o insead entende a globali-zação como uma forma de preparar estudantes e gestores para lidarem e se adaptarem a diferentes contextos econômicos, culturais e sociais, conside-rando a diversidade como uma fonte de aprendiza-gem, enriquecimento e de aproximação da comu-nidade internacional de negócios.

o insead oferece cursos para executivos brasilei-ros em parceria com o iel nacional, que também organiza cursos na wharton school, nos estados

Unidos. cavalcante, superintendente do iel, cujos núcleos regionais também oferecem serviços em ges-tão, afirma que o grau de fidelização em relação aos cursos de educação executiva da entidade é elevado. alguns executivos retornam em outros programas de outras escolas ou indicam o curso para outros diri-gentes de sua empresa. “esses cursos despertam os empresários para novas questões”, diz cavalcante.

teboul, do insead, destaca que as tendências na área de gestão no setor industrial são praticamente as mesmas das de outros setores. significa que o em-presário deve ter uma visão global e também local, para oferecer um serviço melhor. aliás, o serviço é, na visão de teboul, a grande sacada para a diferen-ciação dos negócios, uma vez que todos os setores têm, de alguma forma, uma relação com o serviço. a tese está no livro Serviços em cena (campus, 200 páginas, r$ 47), lançado recentemente no brasil. Para teboul, internet e novas tecnologias continu-arão a ter um papel-chave. “o líder sagaz deve se encarregar de implementar novas tecnologias e ser o seu próprio gestor”, afirma.

34 indústr i a br asileir a agosto 2008

somando para se diferenciarComo centros de pesquisa, empresas e universidades podem construir um novo patamar tecnológico

iMa

ges

.Co

M/C

or

bis

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 35

inovAção

Na competição gloBal, agir isoladameNte reduz as chances de vencer. especialistas apon-tam para a necessidade de unir esforços de empresas, governo, centros de pesquisa e uni-versidades para criar novos serviços, produtos e processos, ou aprimorar os que já existem. Fora desse caminho, a simples sobrevivência de uma empresa tende a ficar comprometida.

experiências no brasil e no exterior mos-tram o sucesso dessa estratégia de inovação, baseada em parcerias. nos estados Unidos, a Universidade de berkeley, na califórnia, é o berço acadêmico de dezenas de profissionais que trabalham no vizinho Vale do silício, região conhecida como um dos principais pólos mundiais de tecnologia. ali estão ins-taladas gigantes como google, apple, Yahoo e HP. “cada negócio define a própria rede: quem pode agregar valor a quem, quem pode colaborar com quem”, diz o professor de em-preendedorismo e inovação da Universidade de berkeley John danner. ele reconhece que há risco de informações sigilosas vazarem. “Mas isso é muito menor do que os benefí-cios da colaboração.”

o presidente da associação nacional de entidades Promotoras de empreendimen-tos inovadores (anprotec), guilherme ary Plonski, coordenador do núcleo de Política e gestão tecnológica da Universidade de são Paulo (UsP), destaca a importância da união de esforços. “inovação é jogo de equipe. Um sistema nacional ou regional depende não apenas da excelência de seus centros, mas da capacidade de articulação de todos os agen-tes envolvidos”, aponta. Um passo necessário para construir esse sistema é que os gestores compreendam a inovação como estratégia de negócios e geração de valor segundo o supe-rintendente nacional do iel, carlos caval-cante. “o conceito de inovação no País ainda está ligado à área acadêmica. Mas sem resul-tados que cheguem ao mercado. o que se tem são no máximo novas idéias.”

apesar de ainda serem pontuais, há, po-rém, experiências significativas de redes que

viabilizaram novas parcerias e processos de transferência de conhecimento. em santa catarina, a embraco, uma das grandes fabri-cantes mundiais de equipamentos para refri-geração, tem uma sólida parceria de 25 anos com a Universidade Federal de santa catari-na (UFsc). no recife, está o Porto digital, um dos principais pólos de tecnologia do País, instalado na antiga região portuária da capi-tal pernambucana. o projeto é resultado da adoção de políticas públicas em parceria com a iniciativa privada, universidades e órgãos de fomento. administrado por uma organização social, o Porto emprega mais de 3.600 pessoas nas mais de 100 instituições instaladas, entre empresas de tecnologia, institutos de pesquisa e serviços especializados. representa cerca de 3,5% do Produto interno bruto (Pib) do es-tado – a meta é chegar a 10% em 2015.

InFRA-estRutuRA

Multiplicar essas experiências exige um esfor-ço concentrado de todos os atores envolvidos no processo. de acordo com o Mapa Estraté-gico 2007-2015, da cni, é indispensável que o País disponha de ambiente favorável à ino-vação, incluindo uma adequada infra-estru-tura tecnológica e centros de conhecimento com capacidade de transformar pesquisas em resultados para o mercado. ampliar a intera-ção entre empresas e instituições de pesquisa são as principais estratégias para alcançar es-ses objetivos no período.

Para o engenheiro mecânico leone an-drade, gerente do centro integrado de Ma-nufatura e tecnologia (cimatec) do senai na bahia, é fundamental redirecionar o co-nhecimento acadêmico produzido no País para ajudar o setor produtivo brasileiro no processo de inovação. “a embraer se benefi-cia bastante da sua proximidade com o ins-tituto tecnológico de aeronáutica (ita)”, exemplifica, ao lembrar o êxito das empre-sas que têm um centro próprio de pesqui-sas, como a Petrobras. andrade ressalta que

36 indústr i a br asileir a agosto 2008

o senai está aparelhado para desempenhar papel extremamente relevante nesse desafio, pois é um dos mais importantes pólos na-cionais de geração e difusão de conhecimen-to aplicado ao desenvolvimento industrial e tem uma ampla rede espalhada por todo o brasil.

andrade defende também a descentraliza-ção das atividades de inovação no País, fun-damentais para dinamizar a economia e ge-rar riqueza onde estão instaladas. “dispor de tecnologia é um fator diferencial para atrair empresas em qualquer lugar”, assegura. de acordo com a Pesquisa de inovação tecnoló-gica (Pintec) 2005, somente o estado de são Paulo concentra 35,3% das empresas indus-triais inovadoras.

cientistas atentos às tendências interna-cionais e atores importantes na definição dos rumos da inovação no País dão a receita para os que não querem ficar para trás. além da necessidade de conferir status de prioridade à inovação e buscar parcerias para aperfeiçoar

processos e produtos, há outras estratégias a serem adotadas.

o diretor-geral da sociedade brasileira Pró-inovação tecnológica (Protec), rober-to nicolsky, alerta para os riscos de buscar revolução em vez de uma evolução. “inovar é dar uma nova aplicação a algo existente, e não é sinônimo de descoberta. Há uma con-fusão muito grande no brasil entre esses dois conceitos”, pondera o físico, para quem o ide-al é ter foco e buscar aperfeiçoar produtos e processos gradativamente. “tentar dar gran-des saltos em um pequeno espaço de tempo pode colocar tudo a perder”, avisa. andrade, do senai, concorda: “o primeiro passo é investir em tecnologia já dominada, ou seja, se atualizar. numa segunda etapa, deve-se investir pesado em novas tecnologias, mas sempre focado na área de atuação daquele negócio”, recomenda.

Plonski, da UsP, afirma que o investimen-to exige foco. “É preciso aplicar de forma competente recursos não só financeiros, mas de tempo, energia criativa, relacionamentos e esforço gerencial”, destaca. doutor em enge-nharia de Produção, ele afirma que é funda-mental alinhar esses investimentos à estratégia empresarial e adequada gestão do processo de inovação, integrando as mudanças tecnológi-cas, mercadológicas e organizacionais.

não há um único setor que será a estrela da inovação nacional nas próximas décadas. Mas as atividades relacionadas à eletrônica, ao de-senvolvimento de softwares, à nanotecnologia e à tecnologia da informação terão espaço privilegiado, porque são essenciais em diver-sos setores econômicos e em diferentes etapas do processo produtivo. Para o cientista-chefe do centro de estudos e serviços avançados do recife (cesar), sílvio Meira, membro do conselho administrativo do Porto digital, há desafios mais amplos que exigirão alto grau em inovação para serem solucionados, como a mobilidade urbana e a universalização dos sistemas de tratamento de água e esgoto. “existe algo mais improdutivo do que passar

leo

Ca

lDa

s/a

nC

ia t

itu

la

r

meIra,do cesar:

“É preciso ter responsabilidade

com o longo prazo”

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 37

inovAção

diariamente quatro horas no trânsito? Qual seria o ganho se diminuíssemos em 30% ou 40% o tempo de as pessoas se deslocarem de casa ao trabalho?”, questiona. “Precisamos investir em novas formas de viver, morar e trabalhar e nos conscientizar que o futuro é agora. devemos ter responsabilidade com o longo prazo”, alerta. no Mapa Estratégico, a meta é que o País chegue em 2015 com 70% de seus domicílios atendidos por rede coletora de esgoto. em 2006, esse índice era de 52%.

a discussão sobre o papel da inovação vem ganhando espaço em vários fóruns, seja no governo, na academia ou nas entidades repre-sentativas. Para os cientistas, o estado deve incorporar o incentivo a essa estratégia como um dos eixos de suas políticas públicas.

no último dia 12 de maio, o governo fe-deral lançou a Política de desenvolvimento Produtivo (PdP), que tem entre seus desa-fios elevar a capacidade de inovação nacional. Uma das ações consiste na abertura de novas linhas de financiamento pelo banco nacio-

nal de desenvolvimento econômico e social (bndes), para as quais se prevê, até 2010, r$ 6 bilhões em apoio a esforços das empre-sas e a projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Fundações estaduais e outros ór-gãos do governo federal, como a Finep, tam-bém são exemplos de fontes de financiamento para pesquisas. a PdP estabelece uma meta para o dispêndio privado em pesquisa e de-senvolvimento, que em 2006 foi de r$ 11,9 bilhões, ou 0,51% do Pib. a meta é elevar este percentual para 0,65% – ou r$ 18,2 bi-lhões – em 2010.

“cresceremos mais se as políticas públi-cas ajudarem a indústria. inovação gera mais produtividade e eficiência”, aponta nicolsky, que elogia a postura de incentivo adotada há décadas em países como coréia do sul e Ja-pão. “o investimento privado em inovação é de longo prazo. Quem tem dinheiro para esse fim aplica olhando para o mapa-múndi e escolhe onde haverá mais retorno”, explica silvio Meira.

o sUcesso da emBraer deve-se em parte à proximidade do Instituto tecnológico da aeronáutica

Divulgação/eMbraer

38 indústr i a br asileir a agosto 2008

crescimento pela uniãoA defesa de interesses da indústria exige empresas mais próximas de seus sindicatos, o que está sendo atingido com o aprimoramento e a sofisticação dos serviços

PoR BRuno sAntA MARIA

a ação associativa é um tema Que gaNha relevância na estrutura de representação da in-dústria. na defesa dos interesses do setor, é pre-ciso contar com sindicatos cada vez mais fortes e representativos. Para o presidente da cni, armando Monteiro neto, atingir esse objetivo trará resultados não só para o setor. “o asso-ciativismo é a forma pela qual a própria socie-dade se expressa, ao manifestar seus interesses. Quanto mais expressivo o associativismo, mais avançada a sociedade”, afirma.

os benefícios da união de forças, porém, não eram suficientemente claros até o passado recente, segundo Monteiro neto. “o brasil vi-veu um período de muita instabilidade, em que

os empresários estiveram voltados à sobrevivên-cia. só agora, num quadro de previsibilidade, é que podem efetivamente se dedicar a agendas permanentes”, afirma.

Para atrair as empresas, a cni aposta na eficiência e na qualidade de novos serviços que estão sendo ofertados. “nosso desafio é forta-lecer o sistema de representação empresarial. Quanto maior o número de associados, mais organizado e estruturado será o desenvolvi-mento desse setor”, explica o diretor de opera-ções da cni, rafael lucchesi. “o brasil só tem a ganhar com o fortalecimento da indústria já que seus interesses convergem necessariamente para o crescimento do País”, observa o gerente-

iMa

ges

.Co

M/C

or

bis

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 39

AssociAtivismo

executivo de relações do trabalho da entidade, emerson casali.

a mais recente pesquisa sobre associativis-mo foi divulgada pelo instituto brasileiro de geografia e estatística (ibge) em 2001. de acordo com o levantamento, 19% das indús-trias brasileiras estão associadas a sindicatos. em números absolutos, isso significa que, de um total de 400 mil indústrias, menos de 100 mil fazem parte do sistema.

o estudo também revela que o total de in-dústrias em dia com o pagamento da contribui-ção associativa é de 11% e que apenas 6% das indústrias votaram nas eleições para sindicato. a estimativa é que existam hoje mais de mil sindicatos patronais. “Para dar mais sustentabi-lidade ao sistema sindical, estamos apostando nos projetos tocados em parceria com as Fe-derações de indústrias, iel, sesi e senai”, explica casali.

no trabalho de estruturação dessas parce-rias, foi realizado, em junho deste ano, o 1º encontro de gestores do Programa de desen-volvimento associativo. durante a reunião, 46

representantes das 27 federações fizeram uma avaliação preliminar dos projetos contidos na segunda versão do Programa de desenvolvi-mento associativo (Pda) referente a 2008. entre as propostas que obtiveram grande índi-ce de aceitação, está o sistema de gestão siga, que visa aperfeiçoar o processo de arrecadação das contribuições sindicais e de captação de novos associados.

a cni prepara o lançamento de um novo pacote de projetos e serviços a serem oferecidos a indústrias de todo o País. orçada em r$ 3,5 milhões, a segunda edição do Pda, ainda em fase de elaboração, prevê ações inovadoras, como a criação de uma rede nacional de aten-dimento para assessorar companhias ou sindi-catos que apresentarem dúvidas em relação a temas diversos como meio ambiente e seguran-ça no trabalho. outra idéia é o lançamento de uma rede de parcerias permitindo a aquisição de uma série de produtos e serviços com des-contos ou benefícios.

“o empresário poderá, por exemplo, ter acesso a informações relativas às áreas jurídica

40 indústr i a br asileir a agosto 2008

e trabalhista por meio da internet ou até pelo telefone celular. estamos criando múltiplas for-mas de atender empresas, sindicatos e federa-ções”, diz lucchesi ao explicar o funcionamento da rede nacional de assessorias.

o pacote para os associados também traz, na área de modernização sindical, cursos de ca-pacitação, páginas eletrônicas para sindicatos e a produção de portfólios (folhetos informativos) sobre cada entidade do sistema indústria: sindi-cato, cni, Federação, sesi, senai e iel.

a busca por uma atuação integrada das enti-dades envolvidas no sistema indústria teve iní-cio em 2006 com o lançamento do 1º Programa de desenvolvimento associativo. a partir des-se modelo, Federações de diversos estados e do distrito Federal adotaram com sucesso projetos que hoje servem de referência e fonte para em-presários brasileiros.

CuRsos e PAlestRAs

Uma das parcerias desenvolvidas pela cni é o projeto re-significação sindical, mantido com recursos também da Fiergs. Por meio de cursos, consultorias e palestras, o projeto visa à capacitação dos sindicatos para a promoção do associativismo. o programa ainda está em an-damento, mas já conseguiu mobilizar 81% dos sindicatos patronais do estado em um universo de 108. “essa iniciativa é de extrema relevância para ampliar o número de associados. ela está fortalecendo a defesa de interesses da comuni-dade industrial”, avalia o presidente da Fiergs, Paulo tigre.

no distrito Federal, o programa credindús-tria contempla os empresários da capital ao ofe-recer crédito a juros mais baixos. o sistema fun-ciona por meio de uma cooperativa de crédito, lançado pela Fibra, capaz de oferecer recursos a um custo de 2% a 2,5% ao mês. “o programa é um sucesso. a adesão dos empresários asso-ciados aos 11 sindicatos brasilienses foi maciça e eles estão ganhando com o menor custo fi-nanceiro”, destaca o diretor-secretário da Fibra, Vornes simões.

Funcionando a pleno vapor, o programa balcão de serviços do centro de apoio aos sin-dicatos, uma iniciativa da Findes, disponibili-za às indústrias capixabas uma estrutura com consultores especializados na área ambiental, de vigilância sanitária, de inovação em gestão, marcas e patentes e assessoria jurídica. o ob-jetivo é transferir tecnologia e conhecimento especialmente à micro e pequena empresa asso-ciada a sindicatos patronais. “os associados fi-cam muito satisfeitos com as nossas orientações e soluções encontradas. agora, vamos dar total prioridade a quatro novas propostas elaboradas a partir do edital da cni para 2008”, observa o secretário-executivo do centro de apoio aos sindicatos, eugênio bueri.

no rio de Janeiro, o projeto Movimento sindical já rendeu bons frutos às empresas e à Firjan. criado em novembro de 2003, o progra-ma envolve diferentes linhas de atuação. ofe-rece desde atendimento personalizado a cada sindicato filiado (105 no total) até condições diferenciadas de acesso a produtos e serviços. “Quando iniciamos essas ações em 2003, ha-via 3.900 empresas conosco. Hoje são 5.600, o que mostra um aumento expressivo de 40% em aproximadamente quatro anos”, informa a assessora-chefe do Movimento sindical, Ân-gela cunha. “estamos sempre buscando tra-zer informações qualificadas por meio de sites, portfólios e informativos dentro da Carta da In-dústria, uma publicação semanal com tiragem de 10 mil exemplares entregues a associados da Firjan e de outras Federações”, acrescenta.

o presidente do sindicato de Panificação e confeitaria de Petrópolis (rJ), roberto badro, atribui ao Movimento sindical o aumento de mais de 300% no número de associados no seu segmento. “o programa teve fundamental im-portância para alcançarmos esse crescimento expressivo”, conta. a opinião é compartilhada pelo presidente do sindicato da indústria de reparação de Veículos e acessórios do estado do rio de Janeiro (sindirepa), tompson Ân-gelo. “graças ao Movimento sindical, estamos agregando valor na busca de novas associadas.

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 41

AssociAtivismo

o associativismo tem se mostrado a grande so-lução para o meu sindicato”, avalia.

em Minas gerais, também não faltam exem-plos de projetos bem-sucedidos. Um deles, o Mba empresarial, oferece por meio da internet um curso para o desenvolvimento da gestão em-presarial nas micro e pequenas empresas. “nos-sa idéia é expandir o número de cursos. Vamos iniciar agora um curso para gestão estratégica de inovação e outros relacionados às áreas de meio ambiente, comércio internacional e para a construção civil”, informa antônio Marum, as-sessor de relações sindicais da Fiemg. “o retor-no tem sido fantástico. os próprios empresários solicitam mais cursos”, complementa. Marum destaca também o êxito do Projeto dirigente, que oferece workshop anual com o objetivo de reunir lideranças sindicais representativas dos principais setores industriais de Minas. “além de organizarmos palestras e encontros setoriais, a Fiemg promove um fórum de líderes sindicais com a participação de seis consultores. cada um abordando um tema diferente para todas as regiões de Minas”, explica.

a Fiec aposta no fortalecimento e moderni-zação sindical por meio do uso dos recursos de tecnologia de informação. são disponibilizados portais para as empresas associadas, fóruns de debate, cursos sobre associativismo e um siste-ma de acompanhamento de gestão. Para melhor atender seus associados, a Federação cearense contratou também uma empresa de consultoria em recursos humanos, que realiza treinamento com o intuito de desenvolver a capacidade de trabalho em grupo e a tomada de decisões.

em são Paulo, 12 iniciativas foram lança-das para fornecer um atendimento completo aos associados. a Fiesp oferece desde homepa-ges institucionais aos sindicatos, com constan-te atualização de conteúdo, até a confecção de material promocional para divulgar os sindica-tos, incentivando o associativismo. a criação de postos de atendimento, em parceria com órgãos públicos e instituições privadas, facilita a vida dos sindicatos e indústrias que buscam informações na receita Federal, dados sobre a emissão de certificado digital e dicas sobre ma-nutenção de computadores.

a cnI Irá oFerecer informações jurídicas e trabalhistas a empresários por internet e celularv

irg

o P

ro

Du

Cti

on

s/z

eFa

/Co

rb

is

42 indústr i a br asileir a agosto 2008

Horizonte de dificuldadesOs efeitos da crise de crédito vão ser sentidos ainda por muitos anos. Mas isso não significa um obstáculo intransponível para investimentos produtivos

PoR vICente nunes

NiNguém espere Que a exuBerâNcia irracioNal ressuscite em breve. as duas palavras foram agru-padas em 1996 por alan greenspan, então pre-sidente do Fed, o banco central norte-americano,

referindo-se aos exageros do mercado de capitais. no final da década, a bolha da internet estourou, mas pouco depois o crescimento econômico inten-sificou-se mais ainda, até tropeçar de novo no ano

nat

ion

al

ga

lle

ry

Co

lle

Cti

on

; b

y K

inD

Pe

rM

iss

ion

oF

tHe

tru

ste

es o

F tH

e n

atio

na

l g

all

er

y, l

on

Do

n/C

or

bis

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 43

finAnciAmento

passado, e desta vez num tombo bem pior. aca-bou a exuberância, mas também, em boa parte, a irracionalidade que marcou a atuação do sistema financeiro internacional no passado recente, com a concessão de crédito muito além do que os bancos poderiam arriscar, segundo especialistas. investi-mentos produtivos, inclusive no brasil, enfrentarão obstáculos, longe, porém, de ser intransponíveis, pelo menos para os negócios mais dinâmicos.

nos próximos três anos, os financiamentos para a construção e a ampliação de fábricas ten-dem a ficar escassos e caros. Mesmo no mercado de capitais, que nos últimos anos funcionou como alavanca para centenas de empreendimentos, as perspectivas não animam. a aversão ao risco que se alastrou pelo mundo tende a conter os preços dos valores mobiliários e, por tabela, limitar as ofertas iniciais de ações (iPos, na sigla em inglês), de onde as empresas vinham tirando recursos ini-magináveis até bem pouco tempo atrás para re-forçar o caixa e executar projetos guardados nas gavetas por anos a fio.

“não há nada que nos permita prever um qua-dro diferente desse nos próximos três anos”, diz a economista sandra Utsumi, diretora, em Portu-gal, de renda Fixa do banco bes investimento. “será uma travessia tortuosa, pois se dará em um momento de desaceleração da economia mundial e de aumento conjunto das taxas de juros pelos bancos centrais”, acrescenta. e o brasil não ficará de fora. “Por melhores que sejam as condições da economia brasileira, o medo do contágio da cri-se detonada nos estados Unidos está presente na cabeça dos investidores. tanto que, mesmo com a obtenção do grau de investimento, a bolsa brasi-leira, que vinha de consecutivos recordes, despen-cou diante dos novos sinais de recrudescimento da crise do crédito”, destaca.

a visão pessimista que domina governos e mer-cados decorre de um fato incontestável: ninguém sabe ao certo qual é o fundo do poço provocado pela onda de calotes no mercado imobiliário de alto risco dos estados Unidos, o subprime. a cada momento de calmaria, especialistas dizem que o pior já passou. Mas sempre são surpreendidos por um novo rombo, resultado de anos de euforia que

permitiram ao sistema financeiro encher os cofres com sofisticadíssimas operações, inflando uma bo-lha que, na hipótese mais conservadora, já resultou em prejuízos de quase Us$ 1 trilhão, manchando de vermelho os balanços de bancos norte-america-nos, ingleses e suíços.

“até que todo o prejuízo seja absorvido pelo sistema financeiro, o que levará anos, não dá para imaginar um mercado de crédito ativo. Muito pelo contrário, as concessões serão rigorosas, caras e di-recionadas. acabou o tempo de bonança, princi-palmente para as pequenas e médias empresas, as maiores vítimas da mudança de postura do sistema financeiro”, ressalta o economista-chefe do banco abc brasil, luís otávio de souza leal. esse con-servadorismo tende a ser estimulado pelas agências reguladoras. os bancos centrais, que antes fecha-vam os olhos para operações sem garantias e sem contrapartidas de capital por parte das instituições financeiras, tenderão a ser mais rigorosos na fisca-lização dos empréstimos concedidos como forma de garantir a normalidade no fluxo de recursos. na europa e nos estados Unidos, empresas de porte gigantesco, mas cuja credibilidade está no chão, es-tão enfrentando inéditas negativas nos bancos.

ARGuMentos otIMIstAs

os otimistas, porém, também têm bons argu-mentos para relativizar os efeitos da turbulência global. o economista-chefe da slw asset Ma-nagement, carlos thadeu Filho, diz não ver es-cassez significativa no mercado financeiro. “ao contrário das crises anteriores, a liquidez do sis-tema não secou. a oferta de dinheiro continua abundante. tanto que está sustentando os pre-ços recordes do petróleo e de muitas commodities agrícolas e metálicas”, afirma. Mas admite que a situação não é a mesma que se via há alguns anos. “tão cedo, nenhum banco se arriscará a fazer fi-nanciamentos em volumes até 15 vezes maior que seu patrimônio”, explica.

na avaliação de thadeu Filho, cicatrizar as feridas abertas pela onda de calote exigirá con-servadorismo. Ficará de lado a criatividade que se aproveitou do maior ciclo de crescimento global

44 indústr i a br asileir a agosto 2008

dos últimos 30 anos para estimular a bolha que ainda dará tanta dor de cabeça. “Mas, depois de passado o pior da crise, o sistema financeiro volta-rá com tudo, oferecendo linhas de financiamento inovadoras que vão render bons ganhos e, mais à frente, resultarão em novos problemas para gover-nos e órgãos reguladores”, frisa thadeu.

no brasil, aposta newton rosa, economista-chefe da sul américa investimentos, o ritmo de crescimento do crédito cairá à metade do que se viu nos últimos três anos, quando a expansão mé-dia ficou em 30% anuais. “e é até desejável que isso aconteça, pois ajudará no combate à inflação”, afirma. ele acredita, porém, que, em alguns seg-mentos, como o da construção civil, com forte participação no Produto interno bruto (Pib), as linhas de financiamentos serão abundantes, pois a economia do País manterá o fôlego. crescerá entre 4% e 4,5% ao ano, estimulando o emprego e a massa salarial; que tende a garantir ganhos reais à medida que a inflação voltar para o centro da meta, de 4,5%, perseguido pelo bc. isso é espe-rado para 2010.

Quanto ao mercado de capitais brasileiro, res-salta Vitória saddi, analista para a américa latina

da consultoria rge Monitor, com sede em nova York, o boom já passou. os estrangeiros, que vi-nham garantindo a compra de cerca de 70% de todos os papéis lançados por empresas brasilei-ras, agora estão retirando dinheiro do brasil para cobrir as perdas em seus países de origem. “Por isso há tantos cancelamentos de iPos. daqui por diante, para se aventurarem no mercado de capi-tais, as empresas terão de estar convencidas de que haverá demanda por seus papéis a um preço razo-ável. se houver qualquer indício de fracasso, não haverá negócio, pois uma operação malsucedida arranhará a imagem”, assinala.

como resultado da restrição de crédito no siste-ma financeiro, avalia Fernando barroso, diretor do banco banif investimentos, aumentará a depen-dência do setor produtivo pelo banco nacional de desenvolvimento econômico e social (bndes). “com os bancos mais seletivos e o mercado de ca-pitais restrito, a grande fonte de recursos de longo prazo será o banco oficial, uma inversão do que se viu nos últimos anos”, diz. desde que o mercado de capitais retomou o fôlego, em 2003, o lança-mento de ações, debêntures e fundos de direitos creditórios (Fidcs) avançou a ponto de superar os volumes de desembolsos anuais do bndes. “da-qui por diante, e até que o mercado mundial se rearrume e a aversão a risco diminua, o bndes será a base central para que os investimentos pro-dutivos se mantenham ativos”, avisa.

não se espere, porém, uma enxurrada de di-nheiro por parte do banco estatal. antevendo a es-cassez e o encarecimento do crédito nos próximos anos, o presidente da instituição, luciano couti-nho, determinou que as linhas de financiamento sejam disponibilizadas para setores que contribu-am para o aumento da capacidade produtiva do País, fundamental para que o bc vença a batalha contra a inflação. ao direcionar seus recursos, o bndes quer ampliar a chamada Formação bruta de capital Fixo, que, em 2006 e 2007, avançou a taxas de dois dígitos, mas tende a desacelerar nos próximos anos por causa do crédito mais restrito.

É possível ter uma idéia da importância que o bndes ganhará no financiamento do setor pro-dutivo ao observar o que ocorreu no ano passado,

sandra UtsUmI, do Bes:

“o mercado financeiro

mundial continuará aberto aos

brasileiros”

br

un

o F

er

na

nD

es/F

olH

a iM

ag

eM

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 45

finAnciAmento

quando explodiu a bolha de crédito nos estados Unidos, em agosto do ano passado. Historicamen-te, os empréstimos liberados pelo banco estatal representavam entre 6% e 6,8% do total dos in-vestimentos realizados pelas empresas brasileiras. em 2007, a participação saltou para 8,3% do to-tal, pulou para 10% nos primeiros seis meses de 2008 e pode avançar até 15% nos próximos dois anos, prevêem os especialistas. “o bndes está capitalizado e vai subsidiar os investimentos pro-dutivos até quando for possível”, destaca luís leal, do banco abc brasil.

a relevância do bndes será ainda maior nos próximos anos se realmente o governo tirar do pa-pel sua política industrial, lançada no dia 12 de maio deste ano. o programa prevê financiamentos de r$ 210 bilhões até 2010, com redução do spread (que inclui as taxas de riscos das operações), alon-gamento dos prazos e redução dos custos, sobretu-do nas liberações do Finame, braço do banco que financia a produção de máquinas e equipamentos industriais. a expectativa do ministro da Fazenda, guido Mantega, é de que o caixa do bndes seja ampliado, nos próximos anos, com o Fundo sobe-rano do brasil. o projeto de lei que o institui já foi enviado ao congresso.

se aprovado, o Fundo soberano poderá com-prar debêntures emitidas pelo bndes para fi-nanciar projetos de empresas no exterior. “não creio, porém, que essas operações ocorram nos próximos dois ou três anos. a tendência é de que o dinheiro que irá para fundo fique guarda-do para ampliar o superávit primário e auxiliar o bc no controle da inflação”, afirma barroso, do banif. “o ideal seria que, neste momento de crise mundial do crédito e de inflação em alta, o governo brasileiro cortasse os seus gastos, pois aumentaria a taxa de poupança do País, inferior a 18% do Pib, patamar insuficiente para garantir crescimento anual acima de 5% sem gerar pres-sões sobre os preços”, emenda.

no entender de sandra, do bes investimento, mesmo com toda a seletividade na concessão de crédito e a aversão a riscos, as portas do merca-do internacional continuarão abertas às empresas brasileiras para a emissão de bônus e de commer-

cial papers (notas promissórias), especialmente às produtoras de commodities e às que integram a cadeia produtiva. afinal, independentemente da desaceleração econômica global, a demanda por tais mercadorias continuará intensa, pois china e Índia continuarão se expandindo a taxas robustas, garantindo os altos preços que fazem a festa dos produtores. outro aviso: a possibilidade de os ju-ros reais no brasil chegarem a 4,5% e 5%, mais próximos da média mundial, até 2010 foi poster-gada por dois anos, pelo menos. a tendência é de o brasil continuar ostentando juros reais entre 7% e 8% ao ano, uma pancada para o setor produtivo e para o crescimento.

Pau

lo F

riD

Ma

n/C

or

bis

BoVespa: o mercado de capitais está menos receptivo a Ipos

46 indústr i a br asileir a agosto 2008

Parceria para o desenvolvimentoAo longo de sete décadas, a CNI ajudou a transformar um país essencialmente agrícola na principal economia industrial da América Latina

PoR séRGIo de sá

a história começa No dia 12 de agosto de 1938. getúlio Vargas estava no poder. a segunda guer-ra Mundial, prestes a eclodir. anunciavam-se tem-pos difíceis. nesse clima, há 70 anos, com euvaldo lodi e roberto simonsen à frente, os empresários brasileiros mudaram os rumos da confederação in-dustrial brasileira (cib), que reunia as represen-tações regionais desde 1933. transformaram a entidade em confedera-ção nacional da indús-tria (cni). de lá para cá, entre a democracia e a exceção, o brasil mudou. a cni construiu sua identidade numa relação direta com os rumos do desenvolvimento do País.

a primeira organiza-ção empresarial nasceu em 19 de outubro de 1827, no rio de Janeiro, com o brasil já indepen-dente de Portugal. sob a noção de que “nenhum país floresce e se felicita sem indústria por ser ela o móvel principal da pros-peridade e da riqueza de uma nação”, a sociedade auxiliadora da indústria nacional (sain) é conside-rada o embrião das associações industriais que cul-minaram na criação da cni. a sain não resistiu ao regime republicano, instaurado em 1889. em 1904, foi incorporada ao centro industrial de Fiação e

tecelagem de algodão. tinha início o centro in-dustrial do brasil e, em seu estatuto, a preocupação com o bem-estar dos trabalhadores.

Para a maior parte dos estudiosos, o crescimento industrial tem impulso decisivo durante o encilha-mento, período entre 1890 e 1891 em que uma po-

lítica monetária e fiscal heterodoxa, determinada por rui barbosa, então ministro da Fazenda, favorece o consumo in-terno. a formação do ca-pital industrial se acelera. Um dos maiores especia-listas em industrialização brasileira, wilson su-zigan, da Universidade estadual de campinas (Unicamp), conta no li-vro Indústria Brasileira – Origem e desenvolvimento (Hucitec/Unicamp, 421 páginas, r$ 35,00) que uma reforma bancária aumentou o estoque de moeda e facilitou o aces-so ao crédito, tendo havi-

do ainda “a introdução de normas mais liberais para a formação de sociedades anônimas”. a indústria têxtil algodoeira é uma das maiores beneficiadas.

a Primeira guerra Mundial (1914-1918) é posi-tiva para a indústria de transformação no brasil, não necessariamente em termos econômicos. de forma geral, houve redução dos investimentos. a produção

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 47

HistóriA

oscilou entre, no início, a necessidade de suprir a demanda interna e, ao final, a escassez de matérias-primas, insumos, máquinas e equipamentos impor-tados. industriais e governo viram de maneira clara a necessidade de diversificar e completar o desenvol-vimento industrial. a história toma o conflito tam-bém como o primeiro movimento substantivo em prol da substituição de importações. não era mais possível ficar tão dependente dos ventos externos.

em termos de organização, os industriais deci-dem pela união nacional em 1931. cria-se a Fede-ração industrial do rio de Janeiro, cidade que era a capital do País. dois anos depois, em 25 de janeiro de 1933, é substituída pela cib, com a participa-ção da Federação das indústrias do estado de são Paulo (Fiesp), o centro da indústria Fabril do rio grande do sul, o centro industrial de Juiz de Fora e a Federação industrial do rio de Janeiro. “a cib tem por objetivo congregar as federações, sindicatos e associações industriais de estados onde não houver federação, estabelecendo íntima e perfeita solidarie-dade entre essas instituições”, diziam as primeiras linhas do estatuto.

a cib enfrenta a crise do café e a grande depres-são dos anos 1930. de provisório a ditatorial, o go-verno getúlio Vargas toma a dianteira do processo de construção e proteção da indústria nacional. sob o comando do empresário e parlamentar paulista roberto simonsen, presidente da Fiesp, a confede-ração tem de se adaptar às normas do estado novo. nessa adequação à necessidade de representação sin-dical para as entidades de classe, surge a cni. eu-valdo lodi é o primeiro presidente. simonsen, vice.

de 1938 em diante, a cni torna-se parte indis-sociável do processo que leva o País a construir, no século 20, um dos maiores parques industriais do mundo. a companhia siderúrgica nacional (csn) foi criada em 1941. em 1942, surge a companhia Vale do rio doce. o estado assume de vez papel relevante na industrialização, em áreas em que a ini-ciativa privada ainda não tinha fôlego para atuar.

Um dos resultados dessa inserção é que, na dé-cada de 1940, o Pib industrial ultrapassa o da agri-cultura. a criação da siderúrgica belgo Mineira na cidade de João Monlevade, no ano de 1939, simbo-liza essa passagem. Para suprir a demanda de carvão

vegetal para a usina, houve necessidade de florestas plantadas de eucalipto.

a segunda guerra Mundial instaura situação bastante atípica. não é pouca a preocupação inter-na. ainda no poder, getúlio Vargas cria o conselho consultivo da coordenação de Mobilização econô-mica, com a participação de euvaldo lodi. a cni entra de forma integral na organização econômica para que o País ultrapasse os anos do conflito sem muitos arranhões. a entidade recebe a incumbência de expedir certificados de controle da exportação de matérias-primas e manufaturas e também cumpre a missão de controlar a distribuição de combustíveis.

o progresso vem acompanhado da necessidade de preparar a força de trabalho. em 22 de janei-ro de 1942, um decreto de Vargas cria o serviço

san et ver se tatem zzril ex ea conumsan vel dolore er sequis nit alit, quisis at. raestisim incil iurer sed dipis nibh ea cor sis euissis molorem

Div

ulg

ão

/Cn

i

com a crIação da csn, em 1941, o estado assume papel relevante na industrialização

48 indústr i a br asileir a agosto 2008

nacional de aprendizagem industrial (senai). Quatro anos mais tarde, em 1946, já no governo do presidente eurico gaspar dutra, é a vez do ser-viço social da indústria (sesi) sair do papel para prestar assistência médica e social aos trabalhado-res. na coordenação do senai e do sesi, a cni vai ampliando seu campo de ação. organiza e atua em prol do setor industrial.

duPlA lIdeRAnçA

lodi e simonsen são a cara da entidade, seja na li-derança do 1º congresso brasileiro de economia (1943), seja na chefia da delegação brasileira enviada à conferência de bretton woods (1944), nos es-tados Unidos, que começou a estabelecer a nova ordem financeira mundial assim que a segunda guerra chegou ao fim. o 1º congresso brasileiro da indústria, em dezembro de 1944, marca o início de um novo tempo. Fim definitivo do estado novo, fim iminente da segunda guerra. o brasil precisa planificar as atividades produtivas, defender o tra-balho nacional e estruturar o parque industrial.

a cni mostra força institucional em 1945. o governo federal institui o decreto-lei nº 7.666, que ficou conhecido como lei Malaia. Vargas se dava o poder de expropriar qualquer empresa nacional ou estrangeira. era uma ameaça ao “livre exercício do trabalho recíproco dos cidadãos e ao uso da pro-priedade privada”, conforme denunciou a cni por meio da mídia. não durou cinco meses. a 1ª con-ferência nacional das classes Produtoras (conclap) selou as linhas de conduta da cni em nome da liberdade de empreender.

no cenário do pós-guerra, com o mundo lite-ralmente dividido, o brasil consolida seu modelo de organização corporativa da indústria. “com a cria-ção do sesi e do senai, a renda advinda destas instituições, acrescida do imposto sindical, permitiu

à Fiesp, à Firj e à cni organizarem serviços aos seus associados e estruturarem sua assessoria econômi-ca”, relata Maria antonieta leopoldi, autora de Po-lítica e interesses na industrialização brasileira (Paz e terra, 351 páginas, r$ 64,00). “o final da década de 1940 registrou, ao mesmo tempo, a intensa cola-boração entre a liderança industrial e o governo e o desaparecimento dessa geração de industriais que se identificou tão profundamente com o getulismo.”

getúlio Vargas, agora eleito pelo voto do povo, volta na década de 1950. o brasil avança, mas ainda sente falta de uma política mais segura para o setor. em julho de 1951, o governo institui a comissão de desenvolvimento industrial (cdi), que conta com a participação do presidente da cni, euvaldo lodi. também está nela edmundo Macedo soares, que ocuparia a presidência da entidade entre 1964 e 1968. a cdi gera o Plano geral de industrialização. clas-sifica as atividades industriais e setores prioritários como energia, metalurgia, transformação mineral, química, têxtil, borracha e material de construção. estado e iniciativa privada estão unidos.

Para financiar a diversificação industrial, apare-ce, em 1952, o banco nacional do desenvolvimento econômico, atual banco nacional do desenvolvi-mento econômico e social (bndes). e, no emba-lo da campanha pela nacionalização do petróleo, o presidente Vargas cria a Petróleo brasileiro s.a., a Petrobras, em 1953. Um dos integrantes da equi-pe responsável pelo projeto da empresa estatal foi o economista da cni ignácio rangel, que também se envolveria no planejamento das centrais elétricas brasileiras (eletrobrás), no início dos anos 1960.

no governo Juscelino Kubitschek, a cdi vira conselho do desenvolvimento. a cni se destaca como interlocutora privilegiada da política econô-mica, com as colaborações de rômulo de almeida, Mário Henrique simonsen, Julian chacel, entre outros economistas. o departamento econômico

Decreto-lei 1.402, que estabelece nova organização sindical

Criação do SENAI, em 22 de janeiro

1º Congresso Brasileiro da Indústria

Criação do SESI, em 1º de julho

1938 1939 1941 1942 1943 1944 1945 1946 1949

Criação da CNI Criação da Companhia

Siderúrgica Nacional (CSN) 1º Congresso Brasileiro

de Economia 1ª Conferência Nacional

das Classes Produtoras 2ª Conferência Nacional

das Classes Produtoras

w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 49

HistóriA

passa a analisar todas as medidas governamentais para determinar os posicionamentos da indústria. a partir de 1956, para se fazer presente no con-gresso nacional, o grupo de assuntos legislativos (gal) prepara e divulga a versão industrial sobre as legislações social, trabalhista, tributária e fiscal, remessa de lucros, acordos comerciais, participação do estado na economia e a ação das multinacionais. Hoje, o gal é a Unidade de assuntos legislativos (coal), que atua junto com o conselho temático de assuntos legislativos (cal).

o presidente JK ficou conhecido por impulsio-nar, com especial atenção, a indústria automotiva, instalada no País desde os anos 1920. a cni parti-cipa do grupo executivo da indústria automotiva

Criação da Comissão de Desenvolvimento Industrial

Criação da Petrobras Criação da Eletrobrás Programa de Ação Econômica do governo Castelo Branco

3ª Conferência Nacional das Classes Produtoras

1951 1952 1953 1956 1962 1963 1965 1969 1972

Criação do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico, origem do BNDES

Criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística

Carta aberta da CNI ao presidente João Goulart sobre Política Industrial

Criação do Instituto Euvaldo Lodi (IEL)

(geia) e vê com bons olhos a fabricação do primeiro automóvel com alto índice de nacionalização, a pe-rua dKw Vemag. a segunda metade da década de 1950 é a da produção de bens de consumo duráveis, que dinamiza a economia brasileira. “a implanta-ção da indústria automotiva representou o passo mais importante dessa fase, seguida da indústria de eletrodomésticos e eletroeletrônica”, atesta arge-miro brum, autor de O desenvolvimento econômico brasileiro (Vozes, 576 páginas, r$ 55,00). É o pe-ríodo que marca também a abertura da economia brasileira ao capital estrangeiro.

a década de 1960 não é tranqüila. Há desequi-líbrio monetário e inflação. a cni sofre interven-ção em duas ocasiões, sendo dirigida por uma junta

IndústrIa de caLçados na década de 1970 em que o país viveu intenso crescimento econômicoD

ivu

lga

çã

o/C

ni

50 indústr i a br asileir a agosto 2008

HistóriA

governativa, durante parte do governo do presiden-te João goulart e após o golpe militar de 1964. o departamento econômico da entidade estreita re-lações com o governo ao apoiar com o Programa de ação econômica do presidente castelo branco. e, para promover a interação entre universidade e indústria, nasce em 1969 o instituto euvaldo lodi (iel), que incorpora posteriormente a atividade de capacitação de micro e pequenos empresários.

a indústria química se fortalece em 1967 com a criação da Petroquisa, uma subsidiária da Petrobras. o setor cresce consideravelmente, fortalecendo pó-los industriais como os de camaçari (ba), cubatão e Paulínia, ambos em são Paulo. os anos 1970 são de intenso desenvolvimento econômico, mas o País vive o cerceamento às liberdades políticas, eleitorais e de opinião. seria assim até o final da década. o capitalismo de estado privilegia obras como a tran-samazônica, a Ponte rio-niterói e a Hidrelétrica de itaipu. a cni se opõe à excessiva dependência ex-terna, defendendo, no Programa de desenvolvimen-to integrado das entidades da indústria (Prodin), o aprimoramento tecnológico nacional e defende a de-mocratização do País, no Documento dos Oito.

a década de 1980 começa recessiva e transcor-re com problemas – superinflação, por exemplo – oriundos do chamado “Milagre econômico” pro-movido pelo governo militar. “Uma década perdida, sem dúvida, se pensarmos na indústria e no seu com-plemento lógico, o emprego”, escreve o professor da Universidade Federal do rio grande do sul renato de oliveira no livro Cronologia do Desenvolvimento Científico, Tecnológico e Industrial Brasileiro – 1938-2003 (fora de catálogo). “Mas não há dúvidas de que a década foi uma transição na história da economia industrial brasileira. ela significou um choque de re-alidade, desconstituindo definitivamente o mito do estado todo-poderoso em matéria econômica.”

o País avança, entretanto, rumo à democracia.

em 1985, ocorre a eleição indireta do presidente tancredo neves. Pouco depois, já com José sarney no Palácio do Planalto, convoca-se a sociedade para a elaboração da nova constituição. a cni reage com veemência à tentativa de estatização do senai e do sesi e à estabilidade no emprego, propostas fi-nalmente derrotadas na redação final. curiosamen-te, as mesmas idéias foram retomadas este ano, com semelhante reprovação da classe industrial.

os anos 1990 são de retomada. outro é o cená-rio, outras são as perspectivas. o empresário olavo setúbal resume as mudanças em texto sobre a polí-tica industrial brasileira na última década do século 20: “com a cobertura comercial, promoveu-se um choque de competitividade na economia. com as privatizações, foram conquistados os investimen-tos diretos em infra-estrutura que o estado não conseguia atender. com o controle da inflação e a estabilidade monetária, disseminou-se o princípio da responsabilidade fiscal. e, com as agências regu-ladoras, buscou-se uma forma de gestão estatal da economia menos intervencionista e mais eficiente, com base no fomento à concorrência”. são várias as ações da cni. dá atenção especial às micro, pequenas e médias empresas, define um programa para reformas de longo alcance, luta para diminuir o custo brasil, pede um novo sistema tributário.

em maio de 2003, cria o Fórum nacional da in-dústria, que se reuniu mais de 40 vezes desde então para elaborar o projeto de um novo País. o resul-tado foi o Mapa Estratégico da Indústria 2007-2015, que define objetivos, metas e programas para que haja crescimento do emprego e da renda, e, ao mesmo tempo, a redução das desigualdades sociais e regionais. o documento afirma que o futuro da indústria brasileira e o do País estão intimamente atrelados à educação e ao conhecimento. aposta, portanto, na certeza de que o desenvolvimento sus-tentável e a indústria são interdependentes.

Encontro Nacional da Indústria

Seminário e Cartilha Custo Brasil

Criação do Fórum Nacional da Indústria

1977 1984 1989 1995 1998 2003 2005

Lançamento do Programa de Desenvolvimento Integrado das Entidades da Indústria Fórum dos Presidenciáveis

Lançamento da Cartilha da Reforma Tributária

Lançamento do Mapa Estratégico da Indústria 2007-2015