CO...são objetos que se afastam do tradicional texto explicativo, permitindo ao visitante um...

11
CO NST ELA ÇÕES PT uma coreografia de gestos mínimos CURADORIA DE Ana Rito Hugo Barata III

Transcript of CO...são objetos que se afastam do tradicional texto explicativo, permitindo ao visitante um...

Page 1: CO...são objetos que se afastam do tradicional texto explicativo, permitindo ao visitante um conjunto de referências abertas, pistas e múltiplas possibilidades de leitura. São

CONSTELA

ÇÕES

PT

uma coreografia de gestos mínimos

CURADORIA DE

Ana Rito Hugo Barata

III

Page 2: CO...são objetos que se afastam do tradicional texto explicativo, permitindo ao visitante um conjunto de referências abertas, pistas e múltiplas possibilidades de leitura. São

PTO curatorial acontece sempre no meio, entre a promessa (uma reflexão, contemplação ou ação vindoura) e a redenção (proeza intelectual, emoção estética ou resolução política). Assim, acontece numa localização que não se conhece a si própria: não o museu, a galeria, o espaço expositivo, o espaço alternativo, o salão do colecionador, a sala de aula do teórico, o campo de batalha do ativista ou o ambiente virtual, mas algo completamente diferente. Acontece num horizonte indefinido, mas finito.1 Jean-Paul Martinon

Contextos

Em 2011, o Museu Coleção Berardo apresentou a exposição Observadores_Revelações, Trânsitos e Distâncias, que procurou trabalhar a coleção permanente e que incitou o tema da constelação no trabalho curatorial de Ana Rito e Hugo Barata. Esta exposição partiu de uma obra do artista português Pedro Cabrita Reis: Os Observadores/Atlas Coelestis VI, de 1994.

A par de propostas como Atlas. ¿Cómo llevar el mundo a cuestas? (Museo Reina Sofia, Madrid, 2010, comissariada por Georges Didi-Huberman), Constellations: Highlights from the Nation’s Collection of Modern Art (Tate Liverpool, 2013) e Constellation Malta (2018, comissariada por Rosa Martinez), a exposição Constelações III: uma coreografia de gestos mínimos pretende criar diferentes constelações-relações representando conexões existentes que dão autonomia às ideias individuais de cada autor e de cada período histórico. Não as mergulham num estado de anomia isolada; antes, rechaçam qualquer possibilidade de uma leitura fechada da Coleção Berardo.

Jean-Paul Martinon entende o gesto curatorial como algo que ocorre num lugar em devir, entre a contemplação e a ação, a produção de conhecimento e o elogio da emoção. Este lugar, indiscernível e incomensurável, apresenta-se-nos como um possível intervalo, um fenómeno paradoxal de convergência que parece eclodir da simultaneidade de uma praxis e de um pensamento crítico. A curadoria que emprega o modelo constelar tem como foco a criação de zonas

1 Jean-Paul Martinon in The Curatorial: A Philosophy of Curating, ed. Jean-Paul Martinon (Londres: Bloomsbury, 2013), 29.

ENThe dynamics between the concept of constellation

and transposition which brought about this project are the same ones cited by Beatrice von Bismarck when she notes that:

This dynamic marks the way those involved interact as an open-ended and ongoing relational process within which positions change and, with them, the possibilities and forms of participation in the production of meaning. Translating and placing outside, the modes of transposition are responsible for the specific shaping of the relations that determinate the constellation.6

Interrupting, adding, annotating, suspending pausing, transposing and moving are processes which generate reformulation, reclassification, reterritorialisation—conditions that, both in the curatorial and the eminently investigative plane, constitute productive forces of knowledge/meaning.

6 Beatrice von Bismarck, in The Curatorial in Parallax (What Museums Do 1), ed. Kim Seong Eun (Seoul: National Museum of Modern and Contemporary Art, 2018), 140.

Artists:Unknown artists, Francisco Tropa, Emilio Pettoruti, Claire de Santa Coloma, Hans Richter, Ella Bergmann-Michel, Marcel Breuer, Mário Cesariny, Tony Oursler, Max Ernst, Luís Noronha da Costa, José Barrias, João Penalva, Arpad Szenes, Nadir Afonso, Dziga Vertov, Ângela Ferreira, Marcel Duchamp, Fernand Léger, Kurt Schwitters, Batia Suter, László Moholy-Nagy, Oskar Schlemmer, João Ferro Martins, Man Ray, Raúl Perez, Mário Botas, Louise Bourgeois, Cabrita, Luís Paulo Costa, Pierre Coulibeuf, Klaus Mosettig, João Louro, Rita Gaspar Vieira, Yves Klein, Helena Almeida, José Maçãs de Carvalho, Douglas Gordon, Louise Lawler, Ann Veronica Janssens

Page 3: CO...são objetos que se afastam do tradicional texto explicativo, permitindo ao visitante um conjunto de referências abertas, pistas e múltiplas possibilidades de leitura. São

de contacto, a implementação de estruturas transsemânticas e transdiscursivas de conexão, numa dinâmica espaciotemporal que se sabe efémera e que nisso se se determina — no fluxo constante das coisas.

O projeto Constelações: uma coreografia de gestos mínimos2 distingue-se pela metodologia de intervenção, que passa pela criação destas zonas de contacto dentro da própria linha temporal permanente do Museu, convidando a artistas fora (e da própria) da coleção para que ocorram espaços de intermitência operativos de um verdadeiro diálogo entre obras, lugares e tempos.

O objetivo da exposição Constelações III: uma coreografia de gestos mínimos é trabalhar a Coleção Berardo como um território horizontal para a curadoria investigativa — investigação esta na qual surgem «cortes» verticais, incisões na sua estabilização permanente, encetando relações mais ou menos aproximadas no tempo e no espaço. Adotando uma postura anacrónica que mergulha subtilmente nos diferentes núcleos, tenta-se olhar e ativar os distintos tempos históricos através da sua influência nas produções artísticas contemporâneas. Sobre esta ideia de linha de tempo, Georges Didi-Huberman refere a relação de Benjamin com a obra de Aby Warburg, considerando que «se compreende a necessidade de alargar, de abrir a história a novos modelos de temporalidade: modelos capazes de fazer justiça aos anacronismos da própria memória».3

Os textos de sala que acompanham cada constelação são objetos que se afastam do tradicional texto explicativo, permitindo ao visitante um conjunto de referências abertas, pistas e múltiplas possibilidades de leitura. São pedaços de um caleidoscópio de imagéticas, como uma tradução ou nota de rodapé, propondo uma certa lentidão de leitura e de pensamento, abrindo caminho à interpretação de cada um.

2 O projeto Constelações: uma coreografia de gestos mínimos, com curadoria de Ana Rito e Hugo Barata, inaugurou em abril de 2019 no Museu Coleção Berardo. Sendo um projeto ongoing (2019–2022) de curadoria investigativa, encontra-se na sua terceira exposição. 3 Georges Didi-Huberman, Diante do Tempo, trad. Luís Lima (Lisboa: Orfeu Negro, 2017), 119.

PTEN

to be the empirical model of the constellation. The introduction of new concepts, things, linguistic realities, objects, interpretations, theories, and so on requires a political transgression that consequently affects the values of meaning and truth, appearing in this exhibition as industrious and dynamic constellatory moments. Reaching us in a wide variety of forms and descriptions over the course of millennia, constellations have retained two main interpretations: astrological influence and the notion of navigation/orientation around the world. As such, in the space between the constellation and the human gaze, we discursively encounter the possibility of a theory of representation or interpretation. The constellation is a mode of interminable dialectical mediation between the subject and the object, which is simply the set of forces that collide with our notion of the Real.

The exhibition develops into a plethora of interventions spanning the various sections of the Berardo Collection along a loose (and conceptual) narrative thread centred on the philosophical concept of the constellation. A formal structure of thought and potential fragmentation is displayed, producing new links and assemblages between the works in the Berardo Collection and the invited works, and developing new possibilities of interpretation.

The Museum’s space is thus transformed into a place of experimentation, the result of a “choreography” of thought processes. The aim is to provide a conceptual representation of a research model for the Collection, which is constantly evolving, that opens out onto a speculative, poetic horizon.

The Berardo Collection is acknowledged as a work in progress—a territory of infinite possibilities, always ready to be deconstructed and modified, with a powerful tool for the mnemotechnic system lying in its interspaces. Georges Didi-Hubeman states, “The tableau would therefore be the inscription of a work (the grandissima opera del pittore, as Alberti wrote) that seeks to be definitive in the eyes of history. The table itself is only the prop for a work that must always be taken up again, modified, or even started over.”5

5 Georges Didi-Huberman, Atlas, or the Anxious Gay Science, trans. Shane Lillis (Chicago, London: The University of Chicago Press, 2018), 9.

Page 4: CO...são objetos que se afastam do tradicional texto explicativo, permitindo ao visitante um conjunto de referências abertas, pistas e múltiplas possibilidades de leitura. São

Constelações: um conceito inevitavelmente operativo

Walter Benjamin propôs de forma notória no prólogo epistemológico-crítico de Origem do Drama Trágico Alemão (1928) que as ideias estão para os objetos como as constelações estão para as estrelas. Ou seja, as ideias não se encontram realmente presentes no mundo mais do que as constelações realmente existem nos céus. De certo modo, a obra de arte é uma poderosa metáfora da constelação. Dirá o autor acerca desta possibilidade, e dentro da teoria da constelação como método de construção, que ela está «incansavelmente a transformar, interpretar e aprofundar as relações entre imagens».4

As denominações que hoje utilizamos para os diferentes conjuntos de constelações conhecidas estão imbuídas de história, tradição e mito. Desde tempos remotos definidas e observadas como desenhos pregados nos céus, as constelações sempre atraíram o ser humano com o seu brilho e a sua presença mágica, presença esta que levou o Homem a tentar interpretar e compreender as suas origens e os seus propósitos. As cosmogonias oriundas desta demanda construíram um espaço mítico, ilimitado, acomodado também pelas vontades divinas. A Terra como acontecimento lançou o Homem na demanda a partir da qual o seu olhar se construía sob a forma de desenhos, mapas, cartografias, signos e narrativas de diversa ordem nos quais as estrelas e as constelações traçaram a sua história. Este é o espaço iniciático de pesquisa no qual o conceito de constelação emerge, agora sob a sua potência enquanto gesto investigatório, deixando a magia de outrora à espera de novas bifurcações. Tanto a dádiva da imortalidade como a recordação permanente do nosso destino individual e coletivo parecem ter-se iniciado num conjunto de pontos fixados no céu.

4 Walter Benjamin, Origin of the German Trauerspiel, trad. Howard Eiland (Cambridge, Londres: Harvard University Press, 2019), 11.

PTC

abri

ta,

Sui

te M

oran

di #

7,

2017

Tint

a de

óle

o so

bre

ferr

o /

Oil

pain

t on

iron

Col

eção

do

artis

ta /

A

rtis

t’s c

olle

ctio

nFo

togr

afia

/ P

hoto

grap

h:

João

Fer

rand

Page 5: CO...são objetos que se afastam do tradicional texto explicativo, permitindo ao visitante um conjunto de referências abertas, pistas e múltiplas possibilidades de leitura. São

Con

stan

tin B

rânc

usi,

Dan

aïde

, c. 1

921

Foto

graf

ia a

pre

to e

bra

nco

(b

rom

eto

da p

rata

) /

Vin

tage

bl

ack-

and-

whi

te g

elat

in s

ilver

prin

t

Col

eção

Ber

ardo

/ B

erar

do C

olle

ctio

n

Loui

se B

ourg

eois

, Cel

l XXV

(T

he V

iew

of t

he W

orld

of

the

Jeal

ous

Wife

), 20

01

Aço

, mad

eira

, már

mor

e,

vidr

o, te

cido

/ S

teel

, woo

d,

mar

ble,

gla

ss, f

abric

Elli

pse

/ H

olm

a

Page 6: CO...são objetos que se afastam do tradicional texto explicativo, permitindo ao visitante um conjunto de referências abertas, pistas e múltiplas possibilidades de leitura. São

17

Pie

rre

Klo

ssow

ski,

R

ober

te e

t les

Bar

res

Par

allè

les

n.º

8, 1

984

Pi

erre

Cou

libeu

f, D

elec

tatio

m

oros

a (T

ribut

e to

Pie

rre

Klo

ssow

ski),

198

8–20

06

18

Fra

ncis

Bac

on, O

edip

us

and

the

Sph

inx

afte

r Ing

res,

19

83

Jo

ão P

enal

va,

The

Priz

e S

ong,

200

1

19

Pie

rre

Soul

ages

, Pei

ntur

e,

10 N

ovem

ber 1

963,

196

3

Jo

ão L

ouro

, B

lind

Imag

e #

200,

201

5

20

Mar

ia H

elen

a Vi

eira

da

Silv

a, C

ompo

sitio

n, 1

948

A

rpad

Sze

nes,

R

etra

to d

e M

aria

Hel

ena

Viei

ra d

a S

ilva

sent

ada

ao

cav

alet

e a

pint

ar, 1

942

21

Núc

leo

Art

e ci

nétic

a

e op

art

/ K

inet

ic A

rt

and

Op

Art

Sec

tion

N

adir

Afo

nso,

M

arco

ule,

196

2

Je

sús-

Raf

ael S

oto,

C

aciq

ue, 1

983

22

Pie

ro M

anzo

ni,

Ach

rom

e, 1

958;

A

chro

me,

196

2

R

ita G

aspa

r Vie

ira,

Des

vio,

201

9

Yv

es K

lein

, Réa

lisan

t de

s P

eint

ures

de

Feu,

196

1

23

Luc

io F

onta

na,

Con

cetto

Spa

zial

e, 1

958;

C

once

tto S

pazi

ale,

A

ttesa

, 196

0

H

elen

a A

lmei

da, E

stud

o

para

Doi

s E

spaç

os, 1

977

24

And

y W

arho

l,

Judy

Gar

land

, 197

9

Jo

sé M

açãs

de

Car

valh

o,

Vide

o ki

lled

the

pain

ting

star

s #

5 (m

orim

ura)

, 200

7

D

ougl

as G

ordo

n, B

lind

Liz

(de

/ fro

m th

e H

olly

woo

d B

lind

Sta

rs S

erie

s), 2

004;

B

lind

Mar

lon

(de

/ fro

m

the

Hol

lyw

ood

Blin

d S

tars

S

erie

s), 2

002

Lo

uise

Law

ler,

S

igne

d on

bac

k, 1

994

01

Pab

lo P

icas

so,

Tête

de

fem

me,

190

9

Fr

anci

sco

Trop

a,

Más

cara

, 200

7

Em

ilio

Petto

ruti,

Tr

azo

de L

uz, 1

964

A

rtis

tas

desc

onhe

cido

s /

Unk

now

n ar

tists

, Más

cara

s e

Esc

ultu

ras

Afri

cana

s (B

urki

na F

aso,

Cam

arõe

s,

Cos

ta d

o M

arfim

, Gab

ão,

Gui

né E

quat

oria

l, M

ali,

Ser

ra

Leoa

) /

Afri

can

Mas

ks a

nd

Scu

lptu

res

(Bur

kina

Fas

o,

Cam

eroo

n, Iv

ory

Coa

st,

Gab

on, E

quat

oria

l Gui

nea,

M

ali,

Sie

rra

Leoa

)

02

Con

stan

tin B

ranc

usi,

M

iracl

e, 1

936;

Chi

ef, 1

925;

D

anaï

de, 1

921;

Le

da, 1

933–

1934

; Le

Fils

Pro

digu

e, 1

920/

1921

; M

me

Pog

any

II, 1

920–

1921

; M

me

Pog

any

II, 1

920-

1921

C

laire

de

Sant

a C

olom

a,

Sem

títu

lo /

Unt

itled

, 202

0;

Sem

títu

lo /

Unt

itled

, 201

9;

Sem

títu

lo /

Unt

itled

, 201

7;

Sem

títu

lo /

Unt

itled

, 202

0;

Sem

títu

lo /

Unt

itled

, 202

0

03

Kaz

imir

Mal

evic

h,

Sup

rem

atis

m:

34 D

raw

ings

, 192

0

H

ans

Ric

hter

, R

hyth

mus

21,

192

6

04

Núc

leo

Con

stru

tivis

mos

/

Con

stru

ctiv

ism

s Se

ctio

n

D

ziga

Ver

tov,

Man

with

a

Mov

ie C

amer

a, 1

929

(exc

erto

/ e

xcer

pt)

05

El L

issi

tzky

, Pro

un S

tudy

1A

(Pro

un S

.K).

The

Brid

ge,

1919

; Stu

dy fo

r Pro

un 4

B,

1920

; Kes

tner

map

pe P

roun

, R

ob. L

evni

s an

d C

hapm

an

Gm

bH H

anno

ver,

1923

El

la B

ergm

ann-

Mic

hel,

Unt

itled

(OB

194)

, 192

5;

Unt

itled

(OB

196)

, 192

6

Â

ngel

a Fe

rrei

ra,

Fetic

he F

ilosó

fico,

201

8

06

Mar

cel D

ucha

mp,

Le

Por

te-

bout

eille

s, 1

914–

1964

; B

oîte

Sér

ie C

, 195

8;

Pla

n du

Por

te-b

oute

illes

, 19

64; A

ném

ic C

iném

a, 1

926

(exc

erto

/ e

xcer

pt)

Ku

rt S

chw

itter

s,

Rud

ol 3

33, 1

939;

Ein

leitu

ng

und

erst

er T

eil:

Ron

do

(de

/ fro

m U

rson

ate)

, 192

6

Fe

rnan

d Lé

ger,

B

alle

t Méc

aniq

ue, 1

924

(exc

erto

/ e

xcer

pt)

Fr

anci

s Pi

cabi

a,

Bal

ance

, 191

9–19

20

07

Mar

cel B

reue

r,

Was

sily

Cha

ir, c

. 192

5

B

atia

Sut

er, S

eat,

2014

08

Jos

ef A

lber

s, S

tudy

for

Hom

age

to th

e S

quar

e:

Blo

nd A

utum

n, 1

964

O

skar

Sch

lem

mer

, Tr

iadi

sche

s B

alle

tt, 1

922

09

Lás

zló

Moh

oly-

Nag

y,

CH

XIV

, 193

9; L

ight

play

: B

lack

-Whi

te-G

ray,

193

0 (e

xcer

to /

exc

erpt

)

10

Rob

ert D

elau

nay,

R

elie

f/Rhy

thm

s, 1

932

Jo

ão F

erro

Mar

tins,

Dis

ques

co

loré

s (o

cre)

, 201

7; P

eint

ure

volu

met

rique

3, 2

016

11

Núc

leo

Surr

ealis

mo

/ Su

rrea

lism

Sec

tion

M

an R

ay, E

mak

-Bak

ia, 1

926

(exc

erto

/ e

xcer

pt)

M

ário

Bot

as, O

bar

ão e

stav

a es

tend

ido

de c

osta

s, 1

974;

Le

Poè

te s

’am

use

ou le

poè

te

et s

a m

use,

197

8;

Sem

títu

lo / U

ntitl

ed, s

. d. /

n. d

.

R

aúl P

érez

, S

em tí

tulo

/ U

ntitl

ed, 1

978;

S

em tí

tulo

/ U

ntitl

ed, 1

978

M

ário

Bot

as &

Raú

l Pér

ez,

Cad

avre

-exq

uis,

197

3

Már

io C

esar

iny,

Je

sui

s M

ax E

rnst

, 197

6

M

ax E

rnst

, P

aysa

ge N

oir,

1923

13

Lou

ise

Bou

rgeo

is, C

ell X

XV

(The

Vie

w o

f the

Wor

ld o

f the

Je

alou

s W

ife),

2001

Pa

blo

Pica

sso,

Fe

mm

e da

ns u

n fa

uteu

il (m

étam

orph

ose)

, 192

9

14

Núc

leo

Gru

po C

oBrA

/

CoB

rA G

roup

Sec

tion

En

rico

Baj

, Pro

filo,

196

0

15

Núc

leo

Info

rmal

ism

o /

Info

rmal

ism

Sec

tion

K

laus

Mos

ettig

, In

form

el 1

6, 2

015

12

Ren

é M

agrit

te,

Le G

ouffr

e A

rgen

té, 1

926

H

ans

Ric

hter

, Film

stud

ie,

1926

(exc

erto

/ e

xcer

pt)

M

ax E

rnst

, C

oqui

lles

Fleu

rs, 1

929

To

ny O

ursl

er,

Judy

(Hor

rorE

rotic

ele

men

t fro

m th

e in

stal

latio

n), 1

994

16

Gio

rgio

Mor

andi

, N

atur

a M

orta

, 194

3

Lu

ís N

oron

ha d

a C

osta

, Sem

tít

ulo

/ U

ntitl

ed, 1

967–

1973

Jo

sé B

arria

s,

Cic

lo: V

estíg

ios.

A C

iênc

ia

do E

xces

so, 1

988–

1989

C

abrit

a, S

uite

Mor

andi

#7,

20

17; P

aint

ings

#26

(Cas

a Q

ueim

ada)

, 201

7

Lu

ís P

aulo

Cos

ta,

Est

udo

de c

or p

ara

nada

(M

oran

di),

2019

611

12

14/15

13

18

19

24

20

10

8/9

7

22

21

17

16

23

5 1

4

2

3

Page 7: CO...são objetos que se afastam do tradicional texto explicativo, permitindo ao visitante um conjunto de referências abertas, pistas e múltiplas possibilidades de leitura. São

Vis

itas

orie

ntad

as p

elos

cur

ador

es26

de

sete

mbr

o, 2

1 de

nov

embr

o

e 30

de

jane

iro d

e 20

21, s

ábad

os, à

s 16

h00

Out

ras

visi

tas

em d

atas

a a

nunc

iar

Ser

viço

Edu

cativ

o V

isita

s or

ient

adas

e a

tivid

ades

pa

ra e

scol

as e

fam

ílias

Edu

catio

n D

epar

tmen

t G

uide

d vi

sits

and

act

iviti

es

for s

choo

ls a

nd fa

mili

es

213

612

800

serv

ico.

educ

ativ

o@m

useu

bera

rdo.

pt

ww

w.m

useu

bera

rdo.

pt/e

duca

cao

Pra

ça d

o Im

pério

· 14

49-0

03 L

isbo

a · T

. 213

612

878

/ 2

13 6

12 9

13 ·

F. 2

13 6

12 5

70 ·

mus

eube

rard

o@m

useu

bera

rdo.

pt ·

ww

w.m

useu

bera

rdo.

pt

Par

tilhe

a s

ua v

isita

/

Sha

re y

our

visi

t

@m

useu

bera

rdo

#m

useu

bera

rdo

Mus

eu C

oleç

ão B

erar

do

Sig

a-no

s /

Follo

w u

s

/mus

eube

rard

o

Apo

io à

exp

osiç

ão /

E

xhib

ition

sup

port

:M

ecen

as /

S

pons

orsh

ip:

Fran

cisc

o Tr

opa,

Más

cara

, 200

7

Bro

nze

Cor

tesi

a G

aler

ia Q

uadr

ado

Azu

lFo

togr

afia

/ P

hoto

grap

h: F

ilipe

Bra

ga

Cla

ire

de S

anta

Col

oma,

Sem

títu

lo /

Unt

itled

, 201

7

Mad

eira

de

buxo

, aço

/

Box

woo

d, s

teel

3+1

Art

e C

onte

mpo

râne

aFo

togr

afia

/ P

hoto

grap

h: B

runo

Lop

es

Page 8: CO...são objetos que se afastam do tradicional texto explicativo, permitindo ao visitante um conjunto de referências abertas, pistas e múltiplas possibilidades de leitura. São

ENConstellations: an inescapably operative concept

In his critical epistemological prologue to Origin of the German Trauerspiel (1928), Walter Benjamin famously suggested that ideas are to objects as constellations are to stars. That is, ideas are no more truly present in the world than constellations are in the skies. In a sense, a work of art is a powerful metaphor for the constellation. With regard to this possibility, informed by the theory of the constellation as a construction method, the author goes on to say it is “untiringly transforming, interpreting, and strengthening the relationships between images.”4

The names used to refer to the different constellations are imbued with history, tradition, and myths. Defined and observed since ancient times like drawings pinned in the sky, constellations have always fascinated human beings with their brightness and magical presence, a presence which has led Man to try to interpret and understand their origins and purpose. The cosmogonies derived from this search constructed a mythical, limitless place, also accommodated by divine will. The Earth as an event sent Man on this quest, constructing his gaze in the form of drawings, maps, cartographies, signs, and narratives of various kinds in which the stars and constellations traced his history. This is the initiatory space of research where the concept of constellation emerges, now with the power of a research gesture, leaving ancient magic waiting for new bifurcations. Both the gift of immortality and the constant reminder of our individual and collective destiny appear to have originated in a collection of points fixed in the sky.

Benjamin, and later Theodor W. Adorno, under the former’s influence, was one of the first authors to outline an epistemology of the constellation in the early twentieth century. To some extent, the author considers the work of art

4 Walter Benjamin, Origin of the German Trauerspiel, trans. Howard Eiland (Cambridge, London: Harvard University Press, 2019), 11.

Pie

rre

Cou

libeu

f, D

elec

tatio

mor

osa

(Trib

ute

to

Pie

rre

Klo

ssow

ski),

198

8–20

06

Pel

ícul

a de

16

mm

tran

sfer

ida

para

fich

eiro

dig

ital,

cor,

sem

som

, em

loop

/ 1

6 m

m fi

lm tr

ansf

erre

d to

dig

ital f

ile, c

olou

r, si

lent

, loo

ped

Cor

tesi

a do

art

ista

/

Cou

rtes

y of

the

artis

t

Page 9: CO...são objetos que se afastam do tradicional texto explicativo, permitindo ao visitante um conjunto de referências abertas, pistas e múltiplas possibilidades de leitura. São

ENon the creation of zones of contact, the implementation of transsemantic and transdiscursive structures of connection, in a spatiotemporal dynamic which is known to be ephemeral and which is determined in this—the constant flow of things.

The project Constellations: a choreography of minimal gestures2 stands out for its intervention methodology, which involves creating areas for contact within the timeline of the permanent exhibition in the Museum, inviting artists not included in the collection to participate in the formation of temporary spaces of true dialogue between artworks, places, and times.

The goal of the exhibition Constellations II: a choreography of minimal gestures is to regard the Berardo Collection as a horizontal territory for curatorial research: a research that gives rise to vertical “cuts”—incisions on the permanent stability of the collection—thus initiating relationships more or less close in both time and space. Adopting an anachronistic stance which subtly explores the different sections, an attempt is made to examine and bring to life the various historical periods through their influence on contemporary artistic productions. On the idea of the timeline, Georges Didi-Huberman alludes to Walter Benjamin’s relationship to the work of Aby Warburg, stating that “there is a clear need to expand, to open history up to new models of temporality: models able to do justice to the anachronisms of memory itself.”3

The texts accompanying each constellation are objects that deviate from the traditional explanatory excerpt, providing visitors with a series of open references, clues, and possible interpretations. They are fragments of a kaleidoscope of imageries, just as a translation or a footnote—adding deliberateness to reading and thought, and paving the way for individual interpretation.

2 The project Constellations: a choreography of minimal gestures, curated by Ana Rito and Hugo Barata, opened in April 2019 at Museu Coleção Berardo. An ongoing project (2019–2022) of curatorial research, this is its third iteration. 3 Georges Didi-Huberman, Diante do Tempo, trans. Luís Lima (Lisbon: Orfeu Negro, 2017), 119.

PTBenjamin, e depois, sob sua influência, Theodor

W. Adorno, foi um dos primeiros autores a esboçar uma epistemologia da constelação no início do século XX. De certo modo, a obra de arte, para o autor, é o modelo empírico da constelação. A introdução de novos conceitos, coisas, realidades linguísticas, objetos, interpretações, teorias e assim por diante exige uma transgressão política que afeta consequentemente valores de significado e verdade, sendo aqui constituídos como diligentes e dinâmicos momentos constelares. Nos milénios através dos quais nos foram chegando sob as mais variadas configurações e designações, as constelações mantiveram duas leituras fundamentais: a influência astrológica e a noção de navegação/orientação no mundo. Desta forma, no espaço entre a constelação e o olhar do ser humano, encontramos discursivamente a possibilidade de uma teoria da representação. É um modo de interminável mediação dialética do sujeito e do objeto, que é simplesmente o conjunto de forças que embatem com a noção que temos de «Real».

A exposição desenvolve-se segundo um conjunto de intervenções que atravessa os vários núcleos da Coleção Berardo, numa linha narrativa desprendida (e conceptual) em torno do conceito filosófico de constelação. Expõe-se uma estrutura formal de pensamento e de poder de fragmentação que opera novas ligações e montagens entre as obras da coleção permanente e as obras convidadas, aprofundando novas possibilidades interpretativas.

Assim, o espaço do Museu torna-se um espaço de experimentação, resultado de uma «coreografia» de processos de pensamento. O intuito é fornecer uma representação conceptual de um modelo de investigação para a Coleção, em constante evolução, que se abra a um horizonte especulativo e poético.

A Coleção Berardo é assumida enquanto mesa de trabalho — uma superfície para possibilidades infinitas, sempre pronta a ser desconstruída, modificada, em cujos espaços intervalares reside um poderoso instrumento para o sistema mnemotécnico. Afirma Georges Didi-Huberman: «O quadro consistiria, por conseguinte, na inscrição de uma obra (a grandíssima opera del pittore, escrevia Alberti) que

Page 10: CO...são objetos que se afastam do tradicional texto explicativo, permitindo ao visitante um conjunto de referências abertas, pistas e múltiplas possibilidades de leitura. São

ENPT

Artistas:Autores desconhecidos, Francisco Tropa, Emilio Pettoruti, Claire de Santa Coloma, Hans Richter, Ella Bergmann-Michel, Marcel Breuer, Mário Cesariny, Tony Oursler, Max Ernst, Luís Noronha da Costa, José Barrias, João Penalva, Arpad Szenes, Nadir Afonso, Dziga Vertov, Ângela Ferreira, Marcel Duchamp, Fernand Léger, Kurt Schwitters, Batia Suter, László Moholy-Nagy, Oskar Schlemmer, João Ferro Martins, Man Ray, Raúl Perez, Mário Botas, Louise Bourgeois, Cabrita, Luís Paulo Costa, Pierre Coulibeuf, Klaus Mosettig, João Louro, Rita Gaspar Vieira, Yves Klein, Helena Almeida, José Maçãs de Carvalho, Douglas Gordon, Louise Lawler, Ann Veronica Janssens

pretende ser definitiva diante da história. A mesa é apenas suporte de um trabalho que sempre pode ser corrigido, modificado, quando não começado de novo.»5

As dinâmicas entre o conceito de constelação e transposição que estão na génese deste projeto são as mesmas citadas por Beatrice von Bismarck quando assinala que:

Esta dinâmica marca a forma como os envolvidos interagem num processo relacional em aberto e em curso no qual as posições — e, com elas, as possibilidades e formas de participação na produção de significado — mudam. Traduzindo e deslocando para o exterior, os modos de transposição são responsáveis pela formação específica das relações que determinam a constelação.6

Interromper, adicionar, anotar, suspender, pausar, transpor, movimentar, são processos que geram reformulação, reconfiguração, reclassificação, reterritoralização — condições que, quer no plano curatorial quer no plano eminentemente investigativo, constituem forças produtivas de conhecimento/significado.

5 Georges Didi-Huberman, Atlas. ¿Cómo llevar el mundo a cuestas? (Madrid: TF Editores, Museo Reina Sofia, 2010), 18.6 Beatrice von Bismarck, in The Curatorial in Parallax (What Museums Do 1), ed. Kim Seong Eun (Seul: National Museum of Modern and Contemporary Art, 2018), 140.

The curatorial always takes place in the middle, between promise (a coming reflection, contemplation, or action) and redemption (intellectual achievement, aesthetic emotion or political resolution). As such, it takes place in a locality that does not know itself: not the museum, the gallery, the exhibition space, the alternative venue, the collector’s parlor, the theorist’s classroom, the activist battleground, or the virtual environment, but something entirely different. It takes place on an indefinite, but finite horizon.1

Jean-Paul Martinon

Contexts

In 2011, Museu Coleção Berardo presented the exhibition Observadores — Revelações, Trânsitos e Distâncias, which drew on the permanent collection and introduced the theme of the constellation in the curatorial work of Ana Rito and Hugo Barata. It took as starting point a 1994 piece by Portuguese artist Pedro Cabrita Reis: Os Observadores / Atlas Coelestis VI.

Alongside projects such as Atlas. ¿Cómo llevar el mundo a cuestas? (Museo Reina Sofia, Madrid, 2010, curated by Georges Didi-Huberman), Constellations: Highlights from the Nation’s Collection of Modern Art (Tate Liverpool, 2013), and Constellation Malta (2018, curated by Rosa Martinez), the exhibition Constellations III: a choreography of minimal gestures, covering the period ranging from the 1960s to the present day in this phase, seeks to create different constellations-relations that grant autonomy to the individual ideas of each artist and historical period. While avoiding plunging them into a state of isolated anomie, they reject any possibility of a closed reading of the Berardo Collection.

Jean-Paul Martinon understands the curatorial gesture as something which occurs in a place in a becoming, between contemplation and action, the production of knowledge and the praise of emotion. This place, indiscernible and incommensurable, presents itself to us as a possible interval, a paradoxical phenomenon of convergence that seems to emerge from the simultaneity of a praxis and a critical thought. Curatorship which employs the constellatory model focusses

1 Jean-Paul Martinon in The Curatorial: A Philosophy of Curating, ed. Jean-Paul Martinon (Londres: Bloomsbury, 2013), 29.

Page 11: CO...são objetos que se afastam do tradicional texto explicativo, permitindo ao visitante um conjunto de referências abertas, pistas e múltiplas possibilidades de leitura. São

CONSTELLAT

IONS

EN

a choreography of minimal gestures

CURATED BY

Ana Rito Hugo Barata

III