Cobras Cegas #03

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CAPA CECÍL IA ABS

Mor.te

1 Ato ou fato de morrer. 2 Fim da vida

animal ou vegetal; termo da existência. 3

Pena capital. 4 Destruição, perdição. 5

Pesar profundo. 6 Fim, termo. 7 Mit

Divindade representada por um esqueleto

humano armado de uma foice e que a

crendice popular supõe ceifeira de vidas.

M. agônica: a que é precedida de

agonia. M. civil: perda de todos os

direitos e regalias civis. M. da alma: estado da alma perdida pelo pecado.

M.-do-diabo: planta dipsácea

(Scabiosa succisa). M. eterna, Teol: a do pecador condenado

por toda a eternidade. M.-luz: o mesmo

que morte-cor. M. macaca: morte

desastrosa e inglória. M. moral: perda

de todos os sentimentos de honra. M. natural: a) perda da vida por sentença

judicial; b) morte por doença ou velhice. M.

súbita: morte rápida e imprevista. M. violenta: a que é causada por desastre,

homicídio ou suicídio. De má morte: de

má índole; mau. De morte: a) mortal:

Ódio de morte; b) danado, terrível,

insuportável. Entre a vida e a morte: em perigo de vida. Para a vida e para a morte: para sempre.

Pensar na morte da bezerra: ficar apreensivo; meditar tristemente. Ter visto a morte: haver escapado de

grande perigo de vida.

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O Assasino Do Relógio

O corpo da sua bela noiva partiria para a

Rússia na manhã seguinte. Seria sepultada

na sua terra natal, onde dois anos antes ele a

conhecera durante uma investigação que

para lá o encaminhara. Agora, sentia a

desolação, acompanhada pelo melancólico

voo dos morcegos que ao sabor da brisa

outonal o acompanhavam nessa noite. Um

solitário que contemplava o vazio da sua

existência.

Decidiu que deixaria a polícia quando

deslindasse o famoso caso do “assassino do

relógio”, ao qual dedicara toda a sua

carreira. Procurou conforto nos seus estudos

e pesquisas, percorreu todos os cantos do

mundo e todas as teorias, mas por mais que

procurasse, o vil assassino continuava na

impunidade das suas acções.

Por vezes, acordava em sobressalto com o

tique-taquear de um relógio a picar-lhe no

cérebro ou a imagem da sua noiva a dançar

no interior de uma ampulheta. Nada a traria

de volta. Anos mais tarde, no seu leito de

morte, com o caso ainda por resolver,

proferiu estas últimas palavras:

- Ninguém apanhará alguma vez o

“assassino do relógio”, pois o “Tempo” é

impossível de controlar e não há escapatória

para a sua sentença: a “Morte”.

Emanuel R. Marques

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Poderíamos nos perguntar por que tantas

pessoas se interessam e se arriscam em

diversos afazeres e distrações, desde os

mais fúteis ate os mais nobres, os mais

seguros até os maisperigosos como,

viagens, praias, praças, culinárias, conver-

sas e convenções, televisão, internet, jogos

olímpicos, copa do mundo ou praticas de

esportes, trabalhos, religiões, políticas,

filosofias, ciências, namoros, casamentos,

casas, carros, empregos, artes, estudos,

drogas, status, guerras, morte, etc. Qual o

motivo das diversas ações e movimentações

humanas, as diversões (diversão significa

desvio). Os filósofos Montaigne e Pascal

pensaram sobre isso e concluíram que

fazemos o que fazemos para não pensarmos

na morte, nas suas ameaças, em seus

pesares, pois não somos capazes de

suporta-la, não somos capazes de suportar

nossa condição miserável de mortal, preferi-

mos até mesmo a própria morte do que

pensar nela.

Para Pascal, o homem é um paradoxo de

miséria e de grandeza, a mais excelente

criatura e ao mesmo tempo a mais

miserável, devido a sua capacidade de

pensar (a razão), isso o faz esta acima de

tudo que existe na natureza, pois as coisas

que existem não são capazes de pensamen-

tos, olhemos para um animal qualquer, uma

planária ou um leão, não são nem grandio-

sos, nem miseráveis, por que não sabem

disso. Conhecer nossa condição racional nos

faz ao mesmo tempo sermos grandiosos e

miseráveis, se não há conhecêssemos, não

seriamos nem grande nem miserável. Essa

capacidade que temos nos faz miseráveis,

por nos fazer saber da nossa condição de

mortal. O ato de pensar então, tanto atrai o

homem como repeli. Há uma grandeza que o

faz pensar em si, mas há também uma

A diversão

miséria que o faz não querer pensar em si a

qualquer custo, pois o pensar em si, o pensar

na sua condição de miséria é uma dor

constante que não suportamos. Portanto o

ato de pensar nos faz grande e miserável ao

mesmo tempo.

Toda nossa movimentação consiste na

infelicidade natural de nossa condição fraca

e mortal, e tão miserável que nada nos pode

consolar quando a consideramos de perto,

ficaríamos pensando nos males quepoderi-

am nos afetar, nas doenças, nos ataques, nos

maus-tratos, nos incômodos, nas revoltas,

nas opressões, nos danos e prejuízos, nas

ofensas, nas mágoas, nos enfados, nos

desgostos, nas ameaças em gerais que a

vida nos impunha, podendo chegar à morte, e

nada nos consolaria. Diante disso, buscamos

qualquer outra coisa que não seja pensar em

nós mesmos, ate nos expomos em castigos,

perigos e ate mesmo a morte, para não

pensarmos na morte.

Já Montaigne nos diz que raramente

atacamos de frente os males, não a fazemos

suportar nem abater sua investida, fazemos

que se afaste e se esquive, devido à nitidez

da nossa fraqueza diante da morte e de seus

males, de seus ataques, ela é mais forte, não

podemos lutar contra ela porque não somos

capazes de vencê-la, a única arma que temos

é desenvolver habilidades para evita-la,

distanciando, desviando, divertindo. Essa é a

receita que Montaigne no dá, quando um

pensamento penoso nos domina, é mais

simples, em vez de domá-lo, muda-lo; substi-

tuo-o, se não puder por um contrário, ao

menos por um outro. Sempre a variação

alivia, dissolve e dissipa. Se não podemos

combate-lo, escapa-lhe e, fugindo dele,

desviar, despistar, mudando de lugar, de

ocupação, de companhia, escapa em meio à

multidão de outras ocupações e pensamen-

tos, onde ele perde nosso rastro e

perde-nos. Quando diante de experiências

fortes, angustiantes, a qual não conseguimos

parar de pensar e de sofrer, o melhor á fazer

é, dar uma resposta que domine o problema,

mas quando isso não é possível, o melhor é

tentar pensar em quaisquer outras coisas ou

nos ocuparmos com qualquer ocupação que

não nos faça lembrar do problema, e quanto

mais coisas diversas conseguirmos pensar e

fazer, melhor; vamos de pensamento em

pensamento, de afazeres em afazeres para

não pensar no que nos aflige, assim nos

distanciamos dele e nunca encaramos, é

como um drible, pois é o único jeito que

temos de lidar com a morte e seus males,

distrair, desviar, divertir.

Jhonatas de Castro

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Colaboradores

Cristiano Sousa [1] [9]

b e ha n c e . n e t / c r i s b a u d e l a i r e

Cecília Abs [2]

c e c i l i a a b s @ u o l . c o m . b r

Thiago Noise [3]

f a c e b o o k . c o m / t h i a g o . n o i s e

Fábio Pimenta [4]

f l i c k r. c o m / f s p b u e n o

Lucas Franzotti [5]

b e ha n c e . n e t / l f r a n z a

Rafael Gonçalo [6]

i n s t a g r a m . c o m / c a r i m b o m a i a

Emanuel R. Marques [7]

f a c e b o o k . c o m / e m a n u e l . r. m a r q u e s

Jonas Risovas Aka Rsvs [8]

b e ha n c e . n e t / r s v s

Jhonatas de Castro [10]

p s i k o j h o w @ h o t m a i l . c o m

JAN/2015 R $ 5 , 0 0

COBRASCEGAS@GMAIL .COM

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