Coerências e ambivalências no ensino religioso escolar Cristovao... · O objetivo principal da...
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Sidney Cristóvão Eleutério
Coerências e ambivalências no ensino
religioso escolar
Um estudo do lugar do ensino religioso no projeto pedagógico de duas
escolas distintas:
Colégio Municipal Ana Elisa Lisboa Gregori e
Colégio Franciscano São Miguel Arcanjo
MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
São Paulo – SP
2012
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Sidney Cristóvão Eleutério
Coerências e ambivalências no ensino
religioso escolar
Um estudo do lugar do ensino religioso no projeto pedagógico de duas
escolas distintas:
Colégio Municipal Ana Elisa Lisboa Gregori e
Colégio Franciscano São Miguel Arcanjo
MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial
para a obtenção do título de Mestre em Ciências da
Religião, sob a orientação do Prof. Dr. Afonso Maria Ligorio
Soares.
São Paulo – SP
2012
Banca Examinadora:
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____________________________
Daí que seja a educação um quefazer
permanente. Permanente, na razão da
inconclusão dos homens e do devenir
da realidade.
Paulo Freire
Dedicatória
Dedico este trabalho
aos meus queridos pais: José Eleutério (in memoriam) e Rufina Alves
Eleutério;
a todos os meus familiares e amigos;
a Maria Aparecida Brandão;
a Daiana Aparecida;
à Ordem da Santa Cruz.
Agradecimentos
Em primeiro lugar, agradeço a Deus pela minha existência, que me permite
experimentar a alegria de viver.
Agradeço aos meus queridos pais, que me deram a vida e me ensinaram a
nunca desistir dela.
Agradeço à Dra. Maria Aparecida Brandão, que no momento mais íngreme
da minha vida me ajudou a encontrar o melhor caminho da maturidade.
Agradeço à minha grande e sempre amiga Daiana, que sempre me apoiou
neste trabalho, mostrando paciência diante dos meus pedidos de ajuda,
principalmente na classificação dos dados da pesquisa.
Agradeço a todos os professores do Programa Ciências da Religião, de
modo particular ao Prof. Dr. Afonso Maria Ligorio Soares, meu orientador, que
com muita paciência, sabedoria e prontidão me guiou nesta dissertação.
Agradeço à Ordem da Santa Cruz por toda a formação espiritual e material
que me deu durante o tempo que nela vivi.
Agradeço a todos os meus familiares por todo apoio e compreensão que
recebi no meu momento de transição que a vida exigiu.
Agradeço à minha irmã Ângela pela a ajuda preciosa na pesquisa realizada
no Colégio Ana Elisa.
Agradeço, por fim, à CAPES, por ter me auxiliado com a bolsa, sem a qual
seria difícil tal empresa.
Resumo: Esta dissertação tenciona expor as coerências e ambivalências
no Ensino Religioso escolar (ER) a partir de um estudo do lugar do ensino
religioso no projeto pedagógico de duas escolas distintas: o Colégio Municipal
Ana Elisa Lisboa Gregori e o Colégio Franciscano São Miguel Arcanjo. A pesquisa
partiu da convicção de que, em seu percurso pelo território brasileiro, este
componente curricular encontra-se relacionado ao espaço das tensões políticas,
que envolvem negociações entre Estado e religiões. Para além das questões
pedagógicas, estão em jogo elementos de ordem legal, religiosa e epistêmica.
O objetivo principal da pesquisa foi analisar modelos e práticas do Ensino
Religioso nessas duas escolas, considerando nelas a presença de um público
religioso plural. Levaram-se em conta seus dilemas e complexidade a partir de
uma classificação tríplice dos modelos de ER (catequético, teológico e das
Ciências da Religião) presentes na teoria e na prática.
O trabalho foi dividido em três passos. Inicialmente, mostrou-se de que
maneira o ER se faz presente nas Constituições brasileiras e na legislação
educacional dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, para depois explicitar os
modelos presentes no decorrer da prática do ER na educação brasileira. Em
seguida, a pesquisa de campo feita nas escolas procurou identificar os conflitos
gerados entre os alunos e os professores nas aulas do ER, e tentou apurar de
que forma o modelo das Ciências da Religião poderia se configurar como
importante opção na formação docente para o ER, além de poder ser aquela que
supera com mais ganhos os desafios da pluralidade religiosa entre os alunos.
Finalmente, foram apresentados os principais resultados obtidos pela
pesquisa, os quais apontam para a necessidade de se ter maior clareza quanto à
definição do objeto do ER e da contribuição das Ciências da Religião para esta
área de conhecimento, uma vez que será preciso contar sempre mais, nos planos
pedagógicos escolares, com uma multiplicidade religiosa entre os alunos.
Palavras chave: Ensino religioso. Pluralidade religiosa. Modelo e pratica.
Conflitos.
Abstract: This dissertation intends to explain the coherences and
ambivalences on school Religious Education (RE) from a study of the place of
religious education in the educational project of two distinct schools: the Municipal
School Ana Elisa Lisbon Gregori and the Franciscan School St. Michael the
Archangel. The research started from the conviction that, in its course through
Brazilian territory, this curricular component is related to the space of political
tensions, which involves negotiations between state and religions. In addition to
the pedagogical questions, there are elements of legal, religious and epistemic
order at stake.
The main objective of the research was to analyze models and practices of
religious education in these two schools, considering the presence in them of a
plural religious public. It was considered their dilemmas and complexity from a
threefold classification of Religious Educational models (Catechetical, Theological
and Religious Sciences) present in theory and practice.
The work was divided into three steps. Initially, it was shown how the
Religious Education is present in the Brazilian Constitutions and on the
educational legislation of the States of Sao Paulo and Rio de Janeiro, for later
explaining of the present models at course in the Religious Education practice in
Brazilian education. After, the field research made in the schools sought to identify
the conflicts generated between students and teachers in the Religious Education
classes, and tried to determine how the model of Sciences of Religion could set an
important option in teacher training for the Religious Education, also being the one
that can surpass with more gains the challenges of religious diversity among
students.
Finally, the main results of the survey were presented, which pointed to the
need to have a greater clarity regarding the definition of the object of Religious
Education and the contribution of Religious Science for this area of knowledge,
since it will be necessary to rely always more, in the pedagogical plans of schools,
with a religious multiplicity between students.
Keywords: Religious Education. Religious plurality. Models and practice.
Conflicts.
Siglas
AEC Associação de Educação Católica
CEE Conselho Estadual de Educação
CENP Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
ENERS Encontros Nacionais de Ensino Religioso
ER Ensino Religioso
FONAPER Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso
LDB Lei de Diretrizes e Bases
LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
PPP Projetos Político-Pedagógico
RCE Rede Católica de Educação
SME Secretaria Municipal de Educação
SMEC Secretaria Municipal de Educação e Cultura
SOE Serviço de Orientação Educacional
Sumário
Dedicatória ........................................................................................................ 5
Agradecimentos ............................................................................................... 6
Siglas ................................................................................................................. 9
Sumário ........................................................................................................... 10
Introdução ....................................................................................................... 13
Capítulo I O Ensino Religioso no Brasil ....................................................... 14
1.1. O Ensino Religioso de 1931 a 1988 .......................................................... 15
1.2. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) e o Ensino
Religioso ........................................................................................................... 21
1.3. O Ensino Religioso no Estado do Rio de Janeiro ...................................... 25
1.4. O Ensino Religioso no Estado de São Paulo ............................................. 30
1.5. Uma possível tipologia do Ensino Religioso .............................................. 34
1.5.1. O modelo catequético ......................................................................... 35
1.5.2. O modelo teológico ............................................................................. 36
1.5.3. O modelo das Ciências da Religião .................................................... 38
1.5.4. Breve noção sobre secularização, laicidade e laicismo ...................... 42
1.6. O Ensino Religioso e a diversidade religiosa ............................................. 44
1.6.1. O pluralismo religioso .......................................................................... 44
1.6.2. Os quatro modelos do pluralismo religioso segundo Knitter ............... 46
1.6.2.1. Modelo da substituição .............................................................. 46
1.6.2.2. Modelo de complementação ...................................................... 46
1.6.2.3. Modelo de mutualidade .............................................................. 47
1.6.2.4. Modelo de aceitação .................................................................. 48
Capítulo II O perfil do Colégio Municipal Ana Elisa Gregori (RJ) e da Escola
Franciscana São Miguel Arcanjo (SP) .......................................................... 50
2.1. Escola Ana Elisa Gregori ........................................................................... 50
2.1.1. Dados de identificação da Escola Ana Elisa Gregori .......................... 50
2.1.2. Apresentação e caracterização da Escola .......................................... 50
2.1.3. Justificativa ......................................................................................... 51
2.1.4. Diagnóstico da realidade ..................................................................... 51
2.1.5. Visão de educação, escola e sociedade ............................................. 52
2.1.6. Tendências pedagógicas .................................................................... 52
2.1.7. Objetivo geral (e específicos) .............................................................. 53
2.1.8. Proposta metodológica ....................................................................... 53
2.1.9. Perfil do educando que pretende formar ............................................. 54
2.1.10. Proposta Curricular para o Ensino Religioso da Rede Municipal de
Itatiaia ........................................................................................................... 54
2.2. Colégio São Miguel ................................................................................... 57
2.2.1. Dados de identificação do Colégio São Miguel ................................... 59
2.2.2. Apresentação e característica do colégio ........................................... 59
2.2.3. Diagnóstico da realidade ..................................................................... 61
2.2.4. Visão de educação, escola e sociedade ............................................. 61
2.2.5. Objetivos gerais e específicos da proposta curricular do Ensino Religioso
...................................................................................................................... 62
Objetivos gerais ............................................................................................ 62
2.2.7. Proposta Curricular para o Ensino Religioso do Colégio São Miguel . 64
2.2.8. Proposta metodológica ....................................................................... 64
2.3. Conclusão .................................................................................................. 65
Capítulo III Dados da pesquisa ...................................................................... 67
3.1. Metodologia ............................................................................................... 67
3.2. Um público plural religioso nas duas escolas ............................................ 69
3.2.1. A presença deste público plural religioso na Escola Ana Elisa ........... 69
3.2.2. A presença deste público plural religioso na Escola São Miguel ........ 72
3.3. Verificando os conflitos principalmente no Ensino Religioso ..................... 76
3.3.1. Parecer dos professores ..................................................................... 77
3.3.2. Parecer dos alunos ............................................................................. 80
3.3.3. A presença de conflito(s) no Ensino Religioso da Escola São Miguel . 80
3.3.4. Coerência entre modelo e prática ....................................................... 83
3.3.5. A presença de conflito(s) no ER da Escola Ana Elisa ......................... 85
3.3.6. Coerência entre o modelo e a prática do ER na Escola Ana Elisa ..... 87
3.4. Qual modelo? ............................................................................................ 89
3.4.1. Qual o modelo da Escola São Miguel? ............................................... 89
3.4.2. Qual o modelo da Escola Ana Elisa? .................................................. 92
Considerações finais ..................................................................................... 95
Índice de gráficos e quadros ......................................................................... 98
Referências bibliográficas ............................................................................. 99
Impressas ......................................................................................................... 99
Eletrônicas ........................................................................................................ 100
Anexos........................................................................................................... 103
13
Introdução
O tema sobre o ensino religioso nas escolas, com certeza, não é um dos
mais fáceis de ser abordado, uma vez que, ao longo da história da educação no
Brasil, ele passou por várias transformações desde o tempo da República até os
dias de hoje, principalmente a partir da década de noventa, assumindo muitas
vezes uma postura catequética, já que contava com o predomínio da religião
católica.
Nos dias de hoje, diante do fenômeno da globalização, o ER está diante de
um grande desafio, que é o do pluralismo religioso, cuja exigência é apresentar
uma proposta pedagógica que leve em consideração a presença no ambiente
escolar das várias confissões religiosas. Por isso, o trabalho atual escolheu duas
escolas objetivando entender: Qual é o modelo e a prática existentes? Existe
algum conflito produzido entre professores e alunos dentro do ambiente dessa
disciplina? O que há de proposta na literatura dentro da disciplina do ER, hoje,
que poderia ajudar numa melhor compreensão desta matéria?
Para isso, a investigação atual está dividida em três capítulos. O primeiro
capítulo (O Ensino Religioso no Brasil) buscou percorrer, de um modo sucinto, o
caminho legal do ER na história da educação no Brasil. O segundo capítulo
deteve-se no perfil das duas escolas em questão quanto à sua pedagogia em
relação ao ER. O terceiro capítulo analisou os dados das pesquisas feitas nas
duas escolas, que tiveram como alvo verificar a presença de conflitos gerados nas
aulas de ER e quais são os modelos que se fazem presentes nessa disciplina,
tentando entender se o modelo proposto pelas escolas corresponde às práticas.
14
Capítulo I
O Ensino Religioso no Brasil
O percurso que este primeiro capítulo fará tem o intuito de perceber a
questão da confessionalidade e como é entendido esse conceito nas diversas
transformações que ocorreram nas Leis criadas, ao longo desse trajeto, a respeito
do Ensino Religioso.
O tema sobre o Ensino Religioso (ER) nas escolas parece nunca ter
perdido o seu lugar no palco das discussões. De modo que, para compreender o
problema do ER Confessional quanto ao seu entendimento e prática em duas
escolas, uma pública, no Estado do Rio de Janeiro, e outra particular, no Estado
de São Paulo, essa pesquisa se propôs, ainda que de forma sucinta, procurar
entender um pouco a dinâmica dessas duas escolas. Mas antes é preciso fazer
um pequeno recuo histórico.
Em 1889, ano do início da República, o Brasil começa a ter uma nova
concepção de educação. Na Constituição do Regime Republicano brasileiro, o
ensino assume uma linha laica. Tal entendimento era fruto da interpretação
francesa naquele momento, que tomou como princípio de liberdade religiosa a
“neutralidade escolar”, ou seja, a escola não poderia ter nenhuma influência
religiosa. A secularização do Estado brasileiro refletiu-se na esfera da educação,
que também se secularizou. O ensino religioso foi banido das escolas públicas em
nome da laicidade do ensino.
Segundo Junqueira, a expressão “ensino leigo”, encontrada na
Constituição, foi entendida como um ensino ateu por alguns legisladores, o que
gerou críticas, principalmente vindas da Igreja Católica:
Portanto, a expressão de que seria o “ensino religioso”, presente na Constituição,
foi assumida por muitos legisladores do regime republicano no Brasil como ensino
irreligioso, ateu, laicista, sem a presença de elementos oriundos das crenças dos
cidadãos que frequentavam as escolas mantidas pelo Estado.
A escola pública, na perspectiva do ensino laico, desprovida do seu caráter sacral,
foi condenada explicitamente pelos membros da hierarquia eclesiástica católica
(JUNQUEIRA, 2007, p. 18).
15
A Igreja Católica foi a instituição que nessa época mais se esforçou para
reintroduzir o ER nas escolas públicas. Um dos grandes expoentes católicos
neste embate contra o ensino laico do Regime Republicano foi o filósofo e teólogo
Pe. Leonel Franca (1893-1948), também professor brasileiro.
1.1. O Ensino Religioso de 1931 a 1988
O ER nas escolas públicas é uma constante na história brasileira. Com
exceção do período que vai do Decreto 119-A, de 7 de janeiro de 1890, de autoria
de Rui Barbosa, que oficializa a separação entre Igreja e Estado, até o Decreto nº
19.941, de 30 de abril de 1931, que reintroduz o ER nas escolas públicas, ele
sempre esteve presente nas Constituições Federais e na prática escolar.
Com o intuito de mobilizar a sociedade brasileira e as autoridades civis a
respeito da importância do ER nas escolas, Pe. Franca, na sua obra Polêmicas
(1953), no início, mostra a consequência de o governo francês ter suprimido o
tema “religião” das escolas públicas, motivado pela Revolução Francesa (1789-
1799), que deu mais importância à visão de mundo da ciência do que da religião.
Segundo Franca, a educação conduzida pelo prisma só da razão não responderia
às mais profundas questões existenciais do homem, o que leva ele escrever:
Mas resolver o problema do homem, das suas origens e dos seus destinos; dar
um ideal à vida, à beleza de sua perfeição e à grandeza de suas
responsabilidades, que outra coisa é se não entrar em cheio na solução religiosa
da existência humana? […] A religião e, sobretudo, o amor de Deus e do próximo,
eis o que dá sentido à vida: a ciência é disto incapaz (FRANCA, 1953, p. 12).
E, para justificar a necessidade do ER na escola pública do Brasil, Franca
apresenta uma estatística que correlaciona o aumento da criminalidade na
sociedade francesa com a decisão daquele país de excluir a religião das escolas.
O Brasil, inspirado nessa atitude dos franceses, também estabelecia, na
Constituição de 1891 (§ 6, art. 72), que o ensino público seria leigo, tirando de
cena o ER. Assim escreve Franca:
Dos países da Europa, que, quase na sua totalidade, conservam o ensino religioso
nas escolas públicas, a França é uma das poucas exceções, que se tem obstinado
a fazer a dolorosa experiência do laicismo escolar. Com que resultado? Aí estão
16
as estatísticas na sua mudez eloquente. A criminalidade de adultos e sobretudo de
menores vai de ano para ano avultando num crescendo assustador (FRANCA,
1953, p. 29).
Ele entende que a religião faz parte da formação do jovem como um
desenvolvimento comum do ser humano, e que, se isso lhe for subtraído na
educação, acarretará um vazio na sua mente:
A influência que nestes desenlaces exerce a ausência do sentimento religioso ou
a perturbação do seu desenvolvimento normal, notou-a, como bom psicólogo, num
ponto de vista puramente utilitário, Ed. Claparéde: “Destruir bruscamente as
crenças religiosas de um adolescente é arriscar-se a abrir um vazio no seu
sistema mental. Na instabilidade que caracteriza esse período poderá seguir-se
uma desorganização completa. Se este acidente sobrevém no momento preciso
em que o jovem tomará essas crenças religiosas como suporte de todas as suas
ideias, como ponto de apoio de seu procedimento, esta demolição brusca vai
acarretar uma catástrofe: crise de melancolia, pessimismo ou suicídio” (FRANCA,
1953, p. 38).
São com esses e outros argumentos que ele procurará justificar, o erro de
banir da educação o ER, tendo consequências funestas para a formação dos
educandos, já que o ocorrido na França poderia também se verificar na sociedade
brasileira.
O ER no Brasil ganhará mais força a partir do Decreto N. 19.941 – de 30
de abril de 1931, considerado por Franca um instrumento que trouxe um final feliz
à questão do ER, após algum tempo de sua ausência no âmbito da educação.
Assim ele comenta:
A esta situação deplorável em que se menosprezavam tantos direitos
imprescritíveis e se sacrificavam tantos interesses vitais da nação, veio por termo
feliz o decreto de 30 de abril de 1931, que faculta o ensino religioso nos
estabelecimentos oficiais de ensino primário, secundário e normal (FRANCA,
1953, p. 96).
Diz o decreto 19.941 de 1931 em seu artigo 1°, por exemplo, que o ensino
de religião será facultativo. O decreto determina nos demais artigos que os pais
ou tutores podem requerer no ato da matrícula a dispensa dos alunos e que a
organização do conteúdo e escolha dos livros fica sob a responsabilidade dos
17
ministros do respectivo culto, sendo os professores de ensino religioso
designados pelas autoridades do culto a que se referir o ensino ministrado.1
Ha quem afirme que essa disposição legal sobre o ER recebeu o apoio do
então Presidente Getúlio Vargas, porque este esperava o suporte político da
1 Eis a íntegra do decreto:
DECRETO N. 19.941 - DE 30 DE ABRIL DE 1931
Dispõe sobre a instrução religiosa nos cursos primário, secundário e normal
O Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil
decreta:
Art. 1º Fica facultado, nos estabelecimentos de instrução primária, secundária e normal, o
ensino da religião.
Art. 2º Da assistência às aulas de religião haverá dispensa para os alunos cujos pais ou
tutores, no ato da matrícula, a requererem.
Art. 3º Para que o ensino religioso seja ministrado nos estabelecimentos oficiais de ensino
é necessário que um grupo de, pelo menos, vinte alunos se proponha a recebê-lo.
Art. 4º A organização dos programas do ensino religioso e a escolha dos livros de texto
ficam a cargo dos ministros do respectivo culto, cujas comunicações, a este
respeito, serão transmitidas às autoridades escolares interessadas.
Art. 5º A inspeção e vigilância do ensino religioso pertencem ao Estado, no que respeita a
disciplina escolar, e às autoridades religiosas, no que se refere à doutrina e à
moral dos professores.
Art. 6º Os professores de instrução religiosa serão designados pelas autoridades do culto
a que se referir o ensino ministrado.
Art. 7º Os horários escolares deverão ser organizados de modo que permitam os alunos o
cumprimento exato de seus deveres religiosos.
Art. 8º A instrução religiosa deverá ser ministrada de maneira a não prejudicar o horário
das aulas das demais matérias do curso.
Art. 9º Não é permitido aos professores de outras disciplinas impugnar os ensinamentos
religiosos ou, de qualquer outro modo, ofender os direitos de consciência dos
alunos que lhes são confiados.
Art. 10. Qualquer dúvida que possa surgir a respeito da interpretação deste decreto deverá
ser resolvida de comum acordo entre as autoridades civis e religiosas, a fim de dar
à consciência da família todas as garantias de autenticidade e segurança do
ensino religioso ministrado nas escolas oficiais.
Art. 11. O Governo poderá, por simples aviso do Ministério da Educação e Saúde Pública,
suspender o ensino religioso nos estabelecimentos oficiais de instrução quando
assim o exigirem os interesses da ordem pública e a disciplina escolar.
18
Igreja Católica, resultando numa imensa vantagem para governar o país. Essa
afirmação é comungada por Junqueira, que escreve:
Essas modificações foram respaldadas pelo Presidente Getúlio Vargas em vista
de um possível apoio da Igreja. Seria uma preciosa vantagem para poder governar
este imenso país, na medida em que teria apoio político de grande parte dos
católicos (JUNQUEIRA, 2007, p. 23).
Com isso, a força católica, que era temida por causa da sua militância em
prol do ER, parece ter tido uma grande influência na Constituição de 1934, que,
segundo Junqueira, teve o texto de Leonel Franca sobre o ER incorporado no da
Constituição. Assim se lê no artigo 153:
O Ensino Religioso será de frequência facultativa e ministrado de acordo com os
princípios da confissão religiosa do aluno, manifestada pelos pais ou
responsáveis, e constituirá matéria dos horários nas escolas públicas primárias,
secundárias, profissionais e normais (REPÚBLICA FEDERATIVA DO ESTADOS
UNIDOS BRASIL, 18 de julho de 1934).
Na Constituição de 1937, artigo 133, porém, o ER passa a ser facultativo
tanto para os professores quanto para os alunos:
O Ensino Religioso poderá ser contemplado como matéria do curso ordinário das
escolas primárias, normais e secundárias. Não poderá, porém, constituir objeto de
obrigação dos mestres ou professores nem de frequência compulsória por parte
dos alunos (REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, Constituição dos Estados
Unidos do Brasil, 10 de novembro 1937).
Nove anos mais tarde, a questão sobre o ER volta à tona, quando o ex-
ministro da educação do governo Getúlio Vargas, Gustavo Capanema,
responsável praticamente pela elaboração do capítulo sobre a educação da
Constituição de 1946, fará uma proposta de mudança na redação da legislação
de 1934, na qual ficaria a critério das famílias dos estudantes escolher no ato da
matrícula a participação nas aulas do ER. Assim se lê no artigo 168, parágrafo
VIII:
O ER constitui disciplina dos horários das escolas oficiais, e de matrícula
facultativa, e será ministrado de acordo com a confissão religiosa do aluno,
manifestada por ele, se for capaz, ou pelo representante legal ou responsável
19
(REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, Constituição dos Estados Unidos do
Brasil, 18 de setembro 1946).
O ER, bem como toda a educação, vai caminhando entre duas correntes: a
da Escola Nova, que defendia a educação obrigatória, pública, gratuita e leiga,
como dever do Estado; e a corrente católica, que entendia, junto com Franca, que
a educação não é só um meio de formação do indivíduo para essa vida, mas
também para outra vida. A esses dois tipos de perspectivas alude Junqueira:
Na concepção católica, a educação integral assumia papel relevante para
assegurar a preparação do ser humano para a vida, terrestre e celeste. Na visão
liberal, ao contrário, sob os princípios da “Escola Nova”, a educação era
essencialmente processo de reconstrução da experiência em que liberdade,
interesse e diálogo indicavam princípios básicos de relações democrático-liberais
no interior da escola e da sala de aula (JUNQUEIRA, 2007, p. 23).
A essas duas Constituições seguirão mais duas, que acentuarão a
separação entre Igreja e Estado, porém sem esquecer a liberdade religiosa. Isso
parece apontar, ao menos, para aquilo que estava ganhando corpo na sociedade
brasileira, principalmente no campo da educação, que é o respeito pelas escolhas
que o indivíduo faz. Mais uma vez, recorre-se a Junqueira para entender essa
crescente da dinâmica do ER nas Constituições:
A problemática do ER, comprovada por meio das Constituições da “Segunda
República” (1946), do “Regime Militar” (1967) e da “Constituição Cidadã” (1988)
explicitam a separação entre Estado e Igrejas, mas validam a possibilidade de
liberdade religiosa, mesmo que concretamente sofram restrições (JUNQUEIRA,
2007, p. 26-27).
Acompanhando os textos das Constituições, percebe-se que eles mostram
a clareza do ideal das leis em relação ao ER nas escolas. Essa clareza está na
separação entre Estado e Igrejas e na liberdade religiosa. Eis os textos:
Constituição de 1946:
Art. 31 - À união, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios é vedado:
II - estabelecer ou subvencionar cultos religiosos, ou embaraçar-lhes o exercício.
Art. 141.
20
§ 7º - É inviolável a liberdade de consciência e de crença e assegurado o livre
exercício dos cultos religiosos, salvo o do que contrarie a ordem pública ou os
bons costumes. As associações religiosas adquirirão personalidade jurídica na
forma da Lei Civil.
§ 8º - Por motivo de convicção religiosa, filosófica ou política, ninguém será
privado de nenhum dos seus direitos, salvo se a invocar para se eximir de
obrigação, encargo ou serviço impostos pela Lei aos brasileiros em geral, ou
recusar os que ela estabelecer em substituição daqueles deveres, a fim de
atender escusa de consciência (REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO
BRASIL, Constituição dos Estados Unidos do Brasil, 18 de setembro de 1946.
apud JUNQUEIRA, 2007, p. 27).
Constituição de 1967:
Art. 19 - É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou Igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o
exercício ou manter com ele ou com os seus representantes relações de
dependência ou aliança, ressalvada a colaboração de interesse público, e na
forma e nos limites da Lei Federal, notadamente no setor educacional, no
assistencial e no hospitalar.
Art. 153.
§ 5º - É plena a liberdade de consciência e fica assegurado aos crentes o
exercício dos cultos religiosos que não contrariem a ordem pública e os bons
costumes.
§ 6º - Por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,
ninguém será privado de qualquer de seus direitos, salvo se o invocar para eximir-
se de obrigação legal a todos imposta, caso em que a Lei poderá determinar a
perda dos direitos incompatíveis com a escusa de consciência.
§ 7º - Sem caráter de obrigatoriedade, será prestada por brasileiros, nos termos da
Lei, assistência religiosa às forças armadas e auxiliares, e, nos estabelecimentos
de internação coletiva, aos interessados que a solicitarem, diretamente ou por
intermédio de seus representantes legais (REPÚBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL, Constituição da República federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal,
1967).
E, enfim, a Constituição de 1988, reafirmando a igualdade de todos perante
a Lei, a liberdade de consciência e de crença, a assistência religiosa a entidades
civis e religiosas, e o respeito pelos direitos do cidadão brasileiro, assim
estabelece:
21
Art. 5º - Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais
de culto e a suas liturgias;
VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas
entidades civis e militares de internação coletiva;
VIII – ninguém será privado de direitos por motivos de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se invocar para eximir-se de obrigação legal
a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei
(REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988).
Como foi visto, os trechos das três Constituições mostram um Brasil numa
crescente em direção à consciência da forte presença de um mundo plural
religioso no país, pautando-se pela liberdade religiosa e pelo respeito aos direitos
do cidadão.
1.2. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) e
o Ensino Religioso
O modelo de ER aprovado na primeira LDBEN, no ano de 1961 (Lei 4.024)
foi aquele mais usado em todo o Brasil: o ER confessional.
Ruedell, comentando sobre a realidade histórico-legal do ensino religioso,
entende que houve influência da Igreja Católica na definição do ER já neste ano,
por isso escreve: “Um evento de excepcional importância nas áreas de influência
da Igreja Católica foi a realização do Concílio Vaticano, de 1961-1966” (HUDELL,
2007, p. 22).2
2 O Concílio Vaticano II (1962-1966) foi uma assembleia de todos os bispos católicos das
cinco partes do mundo que propôs e procurou levar a efeito a renovação interior dessa
instituição, principalmente o seu papel no campo da educação cristã, a ponto de criar um
documento ao qual é dado o nome Gravissimum Educationis, dedicado à educação. Num
parágrafo do texto desse documento, número 7, a Igreja manifesta a sua preocupação
com a educação em todas as escolas, também com as não católicas, tendo em vista o
auxílio espiritual, que deve ser transmitido pelos seus ministros:
22
Tudo o que caracterizava o ER – o fato de ser uma disciplina facultativa,
sem ônus para os cofres públicos, e o fato de o próprio registro dos docentes
ficarem sob a autoridade religiosa e não ao sistema de educação – será visto
como um “corpo estranho”. Outro desafio operacional para o sistema escolar era
a divisão das turmas segundo o credo:
Art. 97 - O ER constitui disciplina dos horários normais das escolas oficiais, é de
matrícula facultativa e será ministrado sem ônus para os cofres públicos, de
acordo com a confissão religiosa do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou
pelo seu representante legal ou responsável.
§ 1º - A formação de classe para o ER independe de número mínimo de alunos.
§ 2º - O registro dos professores de ER será realizado perante a autoridade
religiosa respectiva (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA, Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional – 4.024/61).
A partir disso, Junqueira escreve que
a perspectiva confessional orienta o ER nos Estados segundo a catequese na
escola. A partir dessa compreensão, os Estados da Federação, por meio de suas
Constituições Estaduais e a legislação para a Educação, assumiram a mesma
proposição, tendo como característica a inexistência de um programa específico.
Os professores o faziam por doação, pois não eram remunerados por esse
trabalho. A exceção foi Minas Gerais (JUNQUEIRA, 2007, p. 32-33).
Aos poucos a escola vai perdendo a sua característica catequética e se
descobre capaz de ser ela mesma, sendo regida pelos seus próprios princípios e
objetivos, dentro da cultura, do saber e da educação:
Por volta de 1965, já se vislumbrava uma crise, da qual se tomava conhecimento
aos poucos e que podia ser expressa assim: o Ensino Religioso perdeu a sua
“Sentindo de modo intenso o dever gravíssimo que além disso lhe incumbe de empenhar-se a
fundo pela educação moral e religiosa de todos os seus filhos, necessita a Igreja de estar com seu
afeto e amparo especial junto àquele grande número de alunos que se formam em escolas não
católicas; tanto pelo testemunho de vida daqueles que os ensinam e dirigem, quanto pela ação
apostólica dos colegas, mas sobretudo pelo ministério de sacerdotes e leigos, que lhes transmitem
a doutrina da salvação num modo adaptado à idade e às condições, e lhes prestam auxílio
espiritual através de iniciativas oportunas, conforme as condições dos meios e dos tempos”
(CONCÍLIO VATICANO II, Declaração Gravissimum Educationis, n. 7).
23
função catequética, pois a escola descobre-se como instituição autônoma que se
rege por seus próprios princípios e objetivos, na área da cultura, do saber e da
educação. A manifestação do pluralismo religioso é explicitada de forma
significativa; não é mais compatível compreender um corpo no currículo que
doutrine, que não conduza a uma visão ampla do ser humano (JUNQUEIRA,
2007, p. 40).
A partir de então, por sua vez, o ER buscará um novo significado como
elemento integrante do processo educativo. É oportuno lembrar algumas ações
de relevância concernentes ao ER, praticadas por entidades ligadas à educação,
entre as quais se salientam os “Encontros Nacionais de Ensino Religioso”
(ENERS), desde 1974, promovidos pela Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB) e, mais tarde, pelas assembleias e seminários do Fórum Nacional
Permanente do Ensino Religioso (FONAPER), fundado em 26 de setembro de
1995.
Na Constituinte de 1987 foi apresentada uma emenda popular pró-Ensino
Religioso, com 78 mil assinaturas. Essa emenda constitucional para o ER foi a
segunda emenda popular que deu entrada na assembleia constitucional.
Essa proposta resultará numa nova característica do ER, levando em conta
o brotar de inúmeras ideias pedagógicas. Uma visão mais democrática seria
muito mais bem-vinda para atender a atual realidade da educação, não
esquecendo, portanto, de uma visão mais ampla daquilo que é o aluno como ser
humano, como comenta Junqueira:
A busca dessa proposta pode encontrar em elementos do substitutivo do deputado
Jorge Hage, para a emenda da Lei de Diretrizes e Bases, que considera que a
educação hoje, caracterizada por um pluralismo de ideias pedagógicas, é fator
essencial que garante ao Estado democrático de direito a construção de uma
sociedade justa, livre e democrática. Ela revela e, ao mesmo tempo, sustenta e
propaga uma filosofia de vida, uma concepção de ser humano e de sociedade,
supondo que a educação propõe um processo de humanização, personalização e
aquisição de meios para a atuação transformadora da sociedade (JUNQUEIRA,
2007, p. 40-41).
Em decorrência desta nova situação, muitas confissões religiosas se
mobilizaram e conseguiram que a presidência autorizasse a produção de novas
propostas.
24
Foram apresentadas três proposições de mudança. O primeiro projeto, de
autoria do Deputado Nelson Marchezan (PSDB-RS), propôs a retirada da
expressão “sem ônus para os cofres públicos”. O ER como um componente
curricular da educação básica e a sua importância para a formação do cidadão e
o seu pleno desenvolvimento como ser humano são os argumentos para essa
mudança. Consequentemente, é parte do dever constitucional do Estado em
matéria educacional.
Um segundo projeto, da autoria do Deputado Maurício Requião (PMDB-
PR), irá propor alterações significativas na redação do artigo 33 da LDB. Defendia
que o ER fosse parte integrante da formação básica do cidadão, vedando,
contudo, qualquer tipo de doutrinação ou proselitismo.
Depois de todos esses esforços, escreve Junqueira:
Finalmente, o projeto, de autoria do Poder Executivo, entrou na Câmara dos
Deputados em regime de urgência constitucional, nos termos do artigo 64, § 1º da
Constituição Federal. Propôs ser mantida intacta a LDB, que não se aplique no
artigo 33 quando o Ensino Religioso adotar modalidade de caráter ecumênico, de
acesso a conhecimentos que promovam a educação do senso religioso,
respeitada as diferentes culturas e vedadas quaisquer formas de proselitismo
(JUNQUEIRA, 2011, p. 42).
Graças à mobilização nacional e, sobretudo, graças ao aproveitamento da
reflexão em andamento nos ENERS e no FONAPER, foi possível ao Deputado
Roque Zirmmemann (PT-PR), membro da Comissão de Educação, Cultura e
Desporto, apresentar um substitutivo que fizesse uma síntese de tudo quanto já
se havia discutido, sendo aprovado no Plenário da Câmara dos Deputados, em
sessão realizada no dia 17 de junho de 1997, com quase unanimidade.
No dia 9 de julho, o novo texto legislativo sobre o ER foi aprovado, e, no
dia 22 de julho, sancionado pelo Presidente da República Fernando Henrique
Cardoso.
A incorporação de três textos de lei a esse documento procura ser uma
forma de contribuição para demonstrar como as diversas instâncias de onde se
originam as orientações para a questão apontam para uma direção comum no
que se refere ao entendimento da necessidade de formação específica para o
exercício de magistério do ER:
25
Art. 33 - O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da
formação básica do cidadão, constitui disciplina dos horários normais das escolas
públicas de ensino fundamental, assegurando o respeito à diversidade cultural
religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
§ 1º - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição
dos conteúdos do Ensino Religioso e estabelecerão as normas para a habilitação
e admissão dos professores.
§ 2º - Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes
denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do Ensino Religioso.
É importante notar que estes dispositivos dão, mais uma vez, nova
conceituação ao Ensino Religioso. Ele passa do domínio das confissões religiosas
para a área administrativa dos sistemas de ensino e, consequentemente, deixa de
ser presença das denominações religiosas na escola. Na explicação de Sena, é
possível entender que
o que sai do texto original do artigo 33 é o caráter de confessionalidade do Ensino
Religioso, a expressão “sem ônus para os cofres públicos” e ainda a expressão
“de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou seus responsáveis”.
No sentido de “denominacionalidade” religiosa; o que passa a fazer parte da nova
redação do artigo […] é: o reconhecimento do Ensino Religioso como “parte
integrante da formação básica do cidadão”, o “respeito à diversidade cultural
religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo”, e a sinalização de
que os sistemas de ensino devem regulamentar os procedimentos sobre os
conteúdos e, inclusive, as normas para habilitação e admissão dos professores
(SENA, 2006, p. 139).
Após esses esclarecimentos sobre as inúmeras transformações pelas
quais a Lei da LDBEN sobre o ER passou, o próximo passo será entender o
processo e a situação real das Leis do ER no Estado do Rio de Janeiro e no
Estado de São Paulo, já que as duas escolas que foram pesquisadas estão
situadas no Estado do Rio de Janeiro (Escola Ana Elisa) e no Estado de São
Paulo (Escola Franciscana de São Miguel Arcanjo).
1.3. O Ensino Religioso no Estado do Rio de Janeiro
A problemática do ER é encontrada no Estado do Rio de Janeiro de uma
forma muito peculiar. Há muito tempo ali se trava um grande debate, resultado de
26
uma Lei proposta pelo Deputado Carlos Dias e vigente no Estado, com explícito
teor confessional. Contra ela, há uma proposta de Lei do Deputado Carlos Minc,
que a questiona em virtude de seu presumido caráter anticonstitucional.
Na tentativa de entender um pouco melhor esta tensão, vamos nos servir
da pesquisa de Emerson Giumbelli e Sandra de Sá Carneiro, que a abordaram
detidamente.
O início da polêmica sobre o ER nas escolas públicas do Rio de Janeiro se
dá com a Lei 3.459, promulgada em 14 de setembro de 2000 pelo então
Governador Antony Garotinho. Ela estabelecerá regras que nortearão a grade
curricular das escolas públicas do Rio de Janeiro. Assim consta no artigo primeiro:
Art. 1º - O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da
formação básica do cidadão e constitui disciplina obrigatória dos horários normais
das escolas públicas, na Educação Básica, sendo disponível na forma
confessional de acordo com as preferências manifestadas pelos responsáveis ou
pelos próprios alunos a partir de 16 anos, inclusive assegurado o respeito à
diversidade cultural e religiosa do Rio de Janeiro, vedadas quaisquer formas de
proselitismo.
Giumbelli informa que esta lei gerou uma série de debates após a sua
promulgação, que remontam à instauração da República, principalmente no que
diz respeito aos diferentes sentidos atribuídos à noção da laicidade do Estado e
sobre o direito garantido pela constituição brasileira da liberdade religiosa.
Mais uma vez, faz-se necessário, na busca de uma maior clareza,
apresentar o texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.475,
assinada pelo então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso:
Art. 33 - O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da
formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das
escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade
cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
§ 1º - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição
dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e
a admissão dos professores.
§ 2º - Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes
denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso.
27
A Lei 3459 em parte está baseada na Lei 9.475, com ambiguidade,
trazendo, porém, uma particularidade, ou seja, ela é confessional, gerando um
dos pontos de discussão, sendo acusada de inconstitucional. Ela foi assinada
pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro, na época Anthony Garotinho. Eis o
texto:
Art. 1º - O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da
formação básica do cidadão e constitui disciplina obrigatória dos horários normais
das escolas públicas, na Educação básica, sendo disponível na forma
confessional de acordo com as preferências manifestadas pelos responsáveis ou
pelos próprios alunos a partir de 16 anos, inclusive, assegurado o respeito à
diversidade cultural e religiosa do Rio de Janeiro, vedadas quaisquer formas de
proselitismo.
Os candidatos, para serem professores do ER, devem reunir as seguintes
condições:
I – Que tenham registro no MEC, e de preferência que pertençam aos quadros do
magistério público estadual,
II – Que tenham sido credenciados pela autoridade religiosa competente, que
devera exigir do professor formação religiosa obtida em instituição por ela mantida
ou reconhecida (Assembleia Legislativa Estadual, Lei 3.459/00, art. 2º).
No inciso II, o credenciamento de professores só pode ser admitido pela
autoridade religiosa. De igual modo acontece com os conteúdos:
Fica estabelecido que o conteúdo do ER é atribuição das diversas autoridades
religiosas, cabendo ao Estado o dever de apoiá-lo integralmente (art. 3º).
A Lei assim aprovada gerou grandes discussões e foi acusada de
inconstitucional. O grande mentor do movimento contra essa Lei foi o então
Deputado do Rio de Janeiro Carlos Minc. Na Representação feita ao tribunal no
dia 17 de outubro de 2000, ele argumenta que a dita Lei viola a Constituição do
Estado do Rio de Janeiro e que o ER como consta na Lei 3.459 é de caráter
“confessional”, possibilidade que não encontra suporte tanto na Lei do Estado
quanto na Constituição Federal:
REPRESENTAÇÃO POR INCONSTITUCIONALIDADE da Lei nº 3.459/2000, 14
de setembro de 2000, publicada no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro de
28
15 de setembro de 2000, por violar disposições da Constituição do Estado do Rio
de Janeiro, mais especificamente o que consta em seus artigos 112 e 113, por
violar a prerrogativa da iniciativa legislativa do Governador do Estado em matéria
que disponha sobre a “criação de cargos, funções ou empregos públicos na
administração direita e autárquica”, além de desnaturar a previsão constitucional
de ensino religioso ao estabelecer o ensino “confessional”, possibilidade que não
encontra amparo tanto na Lei Maior do Estado quanto na Constituição Federal,
cujo artigo 210, § 1º, prevê, tão somente, o “ensino religioso”, portanto não
confessional.
Na sua observação, Carlos Minc ao explicar o porquê da
inconstitucionalidade da Lei 3.459/00, parte da expressão “confessional”
encontrada no texto, dizendo que ela “violenta” as duas Leis, tanto a Estadual
como a Federal, destacando em seu texto que a legislação federal só menciona o
ER, sem apontar qual seria seu tipo:
A inconstitucionalidade da lei em tela é flagrante, pois, ao introduzir a expressão
“confessional”, tanto em sua ementa como no caput de seu artigo 1º, a norma
violenta a orientação do art. 313 da Constituição Estadual que, ao reproduzir o
teor do § 1º do art. 210 da Constituição Federal, previu tão somente que “o ensino
religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das
escolas públicas de ensino fundamental” (ISER, 2008, p. 33).
Na interpretação de Carlos Minc, o legislador constituinte, tanto federal
quanto estadual, não teve a intenção de admitir a prática de “ensino religioso
confessional” nas escolas públicas, em respeito ao princípio republicano da
separação entre o Estado e as religiões. Para isso, ele lembrará que o legislador
federal deixou claro na Lei que a incumbência da definição dos conteúdos do ER
estariam a cargo dos sistemas de ensino:
Não à toa, o legislador federal, ao regulamentar tal previsão constitucional, deixou
expresso que a definição “dos conteúdos do ensino religioso” seriam
regulamentados pelos “sistemas de ensino” (art. 33, § 1º, da Lei nº 9.475/97) que
tão somente “ouvirão entidade civil constituída pelas diferentes denominações
religiosas” (§ 2º da mesma norma) (ISER, 2008, p. 33).
Continua Minc argumentando sobre a inconstitucionalidade da Lei,
principalmente pelo seu espírito ecumênico, que permite delegar a definição de
29
conteúdo curricular às diferentes instituições religiosas, gerando uma submissão
do Estado às instancias religiosas:
Assim, o ensino religioso previsto na Constituição é flagrantemente ecumênico,
uma vez que a definição de seu conteúdo será sempre determinado pelos
“sistemas de ensino” e com a oitiva das diferentes denominações religiosas, o que
significa o exato oposto do ensino “confessional” determinado por qualquer
confissão ou denominação (ISER, 2008, p. 33).
Em um artigo de Carlos Minc publicado no jornal o Globo em 09/10/2000,
ele explica por que entende que a Lei 3459/2000 é inconstitucional, ajudando a
compreender o texto apresentado acima:
A Lei 3.459 do deputado Carlos Dias (PPB-RJ) estende a obrigatoriedade da
oferta ao segundo grau, estabelece que as autoridades religiosas (e não o sistema
de ensino) definirão os currículos, obriga o Estado a custear essas cadeiras com o
dinheiro publico (da arrecadação de impostos) e impõem que estes professores,
ainda que concursados, apenas exercerão a disciplina se tiverem a aprovação
explícita da respectiva autoridade religiosa (art. 2º, inciso II) (ISER, 2008, p. 104).
Para Carlos Minc, não é a teologia ou a filosofia de cada religião, que pode
ser apresentadas como conhecimento, como o centro da questão, mas a relação
constitucional entre a Igreja e o Estado. Assim ele escreve:
O âmago da questão é a relação constitucional entre Igreja e Estado. Ou bem a
educação religiosa é fornecida em igrejas, templos, sinagogas, mesquitas, casas
de culto, com determinação total de conteúdos e professores por suas
autoridades, custeadas pelos fiéis de cada confissão, ou é oferecida pelo Estado
que, segundo a LDB, definirá o conteúdo (ouvindo o conjunto das comunidades
religiosas), preferencialmente de caráter ecumênico e contratará professores
concursados sem o veto de cada instituição, já que se trata de dinheiro público
(ISER, 2008, p. 105).
Diferente do Estado do Rio de Janeiro, a Lei Estadual de São Paulo
entende que o ER nas escolas públicas deve ser uma disciplina na qual as
religiões devem ser abordadas mais do ponto de vista histórico.
30
1.4. O Ensino Religioso no Estado de São Paulo
A presente pesquisa, nesse passo seguinte, se servirá da dissertação de
mestrado de Janayna de Alencar Lui, procurando entender quais os dispositivos
escolhidos pela Legislação Estadual de São Paulo que respondem ao novo artigo
33 da LDBEN.
O ER, em São Paulo, na década de 1970, era, segundo a Lei (vigente
dessa época) do Decreto nº 12.323 de 25 de setembro de 1978, de matrícula
facultativa, mantendo a confissão religiosa do aluno. Quem o lecionava eram as
autoridades eclesiásticas credenciadas, e o programa das atividades curriculares
ficava sob responsabilidade delas, sendo o planejamento, a execução e a
fiscalização do ER sob a responsabilidade das escolas. Mais tarde,
a Constituição manteve em seu artigo 244 a mesma redação do artigo 210 da
Constituição Federal. Tudo isso, sem ônus para o erário público. Assim manteve
até a reformulação do artigo 33 da Lei de Diretrizes e Bases, em 1997 (LUI, 2006,
p. 35).
O ER foi regulamentado e implantado em 2001, através da lei no
10.783/2001, após longo processo de aprovação do projeto de lei na Assembleia
Legislativa, que teve início no primeiro mandato de Mario Covas (1994) e se
estendeu até o governo de seu sucessor, Geraldo Alckmin. O processo de
implantação culminou com a aprovação, em 27 de julho de 2001, da deliberação
nº 16, do Conselho Estadual de Educação (CEE), que determina:
Art. 1º - O Ensino Religioso, parte integrante da proposta pedagógica da escola
pública de ensino fundamental, será ministrado nas escolas estaduais de acordo
com o disposto no presente decreto.
Em parte, parece que segue a mesma linha de raciocínio das outras
legislações, porque
não há diferença em relação a outras legislações quanto a questão de o ER ser
ministrado, nas séries iniciais do ensino fundamental, pelo próprio professor de
classe, e que os conteúdos sejam abordados de modo transversal (JUNQUEIRA,
2007, p. 32).
31
O segundo artigo caracteriza os que são habilitados para o ER nas
primeiras séries com o seguinte texto:
Art. 2º - Consideram-se habilitados para o exercício do magistério de ensino
religioso, nas quatro primeiras séries do ensino fundamental:
a) os portadores de diploma de magistério em normal médio;
b) os portadores de licenciatura em Pedagogia, com habilitação no magistério de
1ª a 4ª séries do ensino fundamental.
E, nas séries finais do ensino fundamental, os licenciados em história,
ciências sociais e filosofia:
Art. 3º - Consideram-se habilitados para o exercício do magistério de ensino
religioso nas séries finais – de 5ª a 8ª – do ensino fundamental, os licenciados em
História, Ciências Sociais ou Filosofia (DELIBERAÇÃO CEE Nº 16/2001).
Segundo a Deliberação 16/01 do CEE, no artigo 6º, “os conteúdos do
ensino religioso obedecem aos definidos na Indicação CEE nº 07/2001, ouvindo-
se as entidades civis”. Ela segue o que está prescrito no § 2º da LDBEN 9.475/97:
“Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes
denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso”, e a
disciplina do ER com seus conteúdos deverá constar da proposta pedagógica da
escola, acrescentando uma carga horária mínima anual exigida. O artigo, no
parágrafo único, ainda define que anualmente, em setembro, o CEE promoverá
encontro que serão realizadas no decorrer do ano letivo seguinte, cuja finalidade
é nortear o trabalho dos professores:
Parágrafo único - Para fins do disposto no caput, o Conselho Estadual de
Educação organizará encontro anual no mês de setembro que proporá
orientações a serem implementadas no ano letivo subsequente (DELIBERAÇÃO
CEE Nº 16/2001).
Para Junqueira é interessante observar o fato de que o Estado, quanto ao
ER, não se subordinou a entidades externas religiosas no que diz respeito à
formação e à atuação do professor do ER, uma vez que “a Lei 9.475/97 não diz
que conteúdos, formação e avaliação docente deverão ser definidos por
entidades representantes de confissões religiosas” (JUNQUEIRA, 2007, p. 97).
32
Na tentativa de evitar o proselitismo, que no artigo 33 da LDBEN é
proibido, o Conselho Estadual da Educação e a Secretaria da Educação
decidiram pela escolha do tema da “História das Religiões”. Pode-se dizer que o
Estado, pela implantação dessa configuração do ER, retirou a legitimidade das
autoridades religiosas para ministrar o ER. E, em consequência disso, elas
deveriam se submeter ao crivo da Secretaria de Educação e principalmente ao
interesse da escola. É o que escreve Lui:
Para o Conselho Estadual de Educação e Secretaria de Educação, a escolha pelo
tema “História das Religiões” cumpre perfeitamente o papel de ensinar sobre
religião sem que nenhuma religião fique de fora e principalmente sem que haja
qualquer tipo de proselitismo nas aulas. Como se o termo História servisse de
avalista para o não proselitismo (LUI, 2006, p. 40).
O ER seguirá, segundo a perspectiva do Estado de São Paulo, a linha
antropológica, sociológica e histórica, entendendo que, dessa forma, pode
promover o respeito e a valorização da identidade cultural. A Coordenadoria de
Estudos e Normas Pedagógicas (CENP) sugere como eixos temáticos o
antropológico, o sociológico e o ético, que devem ser tratados nas séries iniciais:
Antropológico: cujos projetos interdisciplinares centrados na vida familiar dos
alunos e no desenrolar de sua vida social deverão enfatizar aspectos voltados
para a descoberta do eu no contexto do outro, o homem como pessoa, sua
relação com o mundo, com os outros e com o transcendente.
Sociológico: em que as temáticas do mundo, da história e da sociedade como o
contexto de construção do homem, seu passado, presente e futuro e a
solidariedade como resposta aos desafios do mundo, da sociedade e da história,
devam se construir na vertente definidora das atividades a serem desenvolvidas.
Ético: em que a programação prevista terá como vertente norteadora o
desenvolvimento dos princípios que celebram a vida, tais como respeito, a
solidariedade, a tolerância e a verdade. As atividades devem possibilitar aos
alunos a vivência de atitudes promotoras de alegria, de amizade e de convívio
prazeroso. É a oportunidade em que as atividades fundamentadas no cotidiano
possam levar o aluno a reconhecer, também na dimensão religiosa, os modos
pelos quais o homem procura dar respostas às suas interrogações existenciais
(LUI, 2006, p. 40).
33
Quanto às séries finais, a proposta da CENP foi que o ER pudesse ser
tratado de modo interdisciplinar, cujos eixos são os seguintes:
Histórico: em que os projetos deverão assegurar oportunidades de reflexão sobre
valores e princípios éticos e conhecimento da história das grandes religiões, seus
corpos doutrinais, os milenarismos e as religiões do Brasil.
Sociológico: em que os princípios da diversidade, da pluralidade, da ética, do
direito à cidadania e da tolerância como expressão do respeito à pessoa humana,
devam ser destacados ao se tratar de comunidade e sociedade; religião e
instituições estabelecidas (igrejas e seitas), e das relações entre religião e política;
Antropológico: em que o eixo condutor das atividades programadas deverá
enfocar a relação religião/subjetividade com ênfase no sentido antropológico –
cultural da morte.
Cultural: em que as atividades programadas, estimulando reflexões coletivas,
deverão privilegiar os ritos, mitos e símbolos e dar conta de enfoques que
abordem as relações entre a religião e a natureza/ecologia, a religião e a arte e a
religião e a memória (LUI, 2006, p. 41).
Como se percebe, existe uma diferença entre o ER no Rio de Janeiro e em
São Paulo. No Rio, a controvérsia girou em torno do fato de o ER lá implantado
ser confessional – com aulas separadas por credo. Promoveu-se concurso
público para a contratação de novos professores para a rede pública de ensino,
causando polêmicas, porque com isso o Estado estaria “patrocinando” a “religião”
na escola pública. O problema maior foi o fato de que, além do ER ser
confessional, a Lei reserva às autoridades religiosas a responsabilidade pelos
conteúdos da matéria, sendo que em São Paulo o Conselho de Educação
manteve-se alheio.
Tendo percorrido parte do trajeto do ER no Brasil, principalmente nos
Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, o passo seguinte será tentar
compreender os tipos de ER que existem.
Depois de tantas idas e vindas na Legislação brasileira em relação ao ER,
e por causa dessa dinâmica, na tentativa de encontrar o melhor modelo que
responda à necessidade de pôr em prática essa disciplina (como no Rio e em São
Paulo), então obrigada por Lei para as escolas e facultativa para o aluno,
surgiram alguns tipos de ER. Por isso, em seguida, serão apresentados possíveis
modelos encontrados na prática do ER.
34
1.5. Uma possível tipologia do Ensino Religioso
Como desbastar essa questão, eivada de interesses políticos e religiosos
conflitantes? Talvez o primeiro esclarecimento a ser feito é constatar que há mais
de uma compreensão de ER disponível. A partir desse estímulo legal que o ER
recebeu ao longo da sua debatida história no cenário brasileiro, pela prática,
vieram a lume alguns modelos de ER na tentativa de atender a necessidade de
lecionar tal disciplina. A presente pesquisa se valerá da obra de Passos, que
aponta três modelos de ER: o catequético (o mais antigo), o teológico e o das
Ciências da Religião. Mas o autor está consciente de que os três modelos por ele
apontados não são os únicos:
Vale ressaltar que além dos três modelos sugeridos – o catequético, o teológico e
o das Ciências da Religião – pode haver outros e, muitas vezes, uma composição
dos três. São possíveis de construção de modelos pedagógicos, modelos que
tomem como critério a participação das confissões religiosas na gestão do ER, ou,
ainda, modelos retirados de periodizações históricas (PASSOS, 2007, p. 53).
A escolha desses três modelos pela atual pesquisa se dá pelo fato de
permitirem observar a presença da confessionalidade e do pluralismo do ER.
Além disso, esses modelos serão aplicados na análise da pesquisa realizada, na
tentativa de detectar qual deles ainda está presente nas duas escolas
pesquisadas.
Cada modelo foi se construindo ao longo da história. O modelo catequético
é o primeiro na ordem cronológica; surgiu em um tempo no qual a religião gozava
de certa homogeneidade na sociedade. A seguir, surgiu o teológico, que vai além
da confessionalidade, na tentativa de romper os limites do ER catequético. Por
fim, o modelo das Ciências da Religião, aquele que rompe com os dois modelos
anteriores, buscando uma autonomia epistemológica e uma pedagogia do ER.
Passos optou por esses três modelos para dar uma visão das mudanças
sucessivas do ER no Brasil. Quis abarcar o longo período histórico que começa
quando ensinar religião significava introduzir o aluno nos mistérios cristãos (de
modo particular, na tradição católica) e vai até a situação contemporânea, que
une desconfiança contra as instituições e atração por novas espiritualidades.
35
Esses modelos, por sua vez, trazem consigo elementos que são comuns
aos outros, uma vez que eles surgem em diálogo ou conflito com o modelo
anterior. É o que explica Passos:
Nesse sentido, parece ser verdade que o modelo teológico mantenha elementos
do catequético em sua estrutura e dinâmica, e que os modelos existentes,
firmados nas Ciências da Religião, ainda conservem aspectos teológicos ao
afirmar, por exemplo, que o ER deve educar a religiosidade dos estudantes
(PASSOS, 2007, p. 55).
1.5.1. O modelo catequético
O que é muito comum na maioria das religiões é formar os fiéis na sua
doutrina, fé e “verdades” que ninguém pode duvidar, porque, no entendimento da
cada religião, teria sido revelada por seu Deus. E isso é uma prática catequética.
A sociedade na Idade Média era construída pelos princípios da cristandade, de
modo que a prática catequética não constituía um problema. Essa prática
catequética foi levada para o interior das escolas, de modo particular no ER:
Essa concepção catequética será levada para dentro das escolas confessionais e
públicas, servindo como motivação espiritual, como base teórica e como estratégia
metodológica para o ER. Num passado não muito remoto, foi a principal base
desse ensino (PASSOS, 2007, p. 57).
Ainda que hoje se procure fazer distinção entre catequese e ER, dizendo
que catequese é a fé posta em prática pela comunidade, a intenção proselitista,
segundo Passos, está travestida de princípios humanistas:
As orientações catequéticas católicas atuais fazem a distinção entre catequese e
ensino religioso, vinculando à primeira a vivência comunitária da fé. Mesmo assim,
a visão catequética, ainda hoje, sustenta, implícita e explicitamente, muitas
práticas patrocinadas pelas diversas Igrejas e pela própria Igreja Católica. A
intencionalidade proselitista, ainda que disfarçada sob princípios humanistas, é
que de fato efetiva essas práticas, o que torna inevitável a promiscuidade político-
eclesial, ferindo ao mesmo tempo os princípios do ensino laico (PASSOS, 2007, p.
57).
O cristianismo, na sua longa história, começando com os católicos, e
depois com as Igrejas Reformadas, esteve sempre presente com uma tática
36
proselitista, que era o esforço de fazer com que a sua religião ultrapassasse os
limites da sua própria comunidade, dando origem à catequese.
A ligação implícita do modelo catequético com o confessional se manifesta
na persistência em matéria legislativa do caráter facultativo do ER, e na
continuidade entre as comunidades religiosas e escolas através da produção no
interior dessas últimas de espaços para a formação religiosa (PASSOS, 2007, p.
57). Essa modalidade de ER, devido às suas características de reproduzir
métodos e ação pedagógica de confissões religiosas, só poderia continuar
existindo no meio escolar em contexto de separação entre Igreja e Estado por
meio de acordos entre esses poderes. Nesse sentido, convém ressaltar o Acordo
Brasil-Santa Sé e a recorrência da confessionalidade para o ER, encontrada na
redação do artigo 11 da concordata do Brasil com a Santa Sé:
Art. 11
A República Federativa do Brasil, em observância ao direito de liberdade religiosa,
da diversidade cultural e da pluralidade confessional do País, respeita a
importância do ensino religioso em vista da formação integral da pessoa.
§ 1º - O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula
facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de
ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do
Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem
qualquer forma de discriminação.
1.5.2. O modelo teológico
O segundo modelo, o teológico, utilizado por Passos (2007) pode ser
entendido como uma concepção de Ensino Religioso que busca fundamentação
para além da confessionalidade estrita. Ele supera o modelo catequético, pois
procura uma fundamentação mais universal de religião, a partir do princípio que
entende haver uma dimensão antropológica religiosa do ser humano a ser
educada. O modelo teológico procura oferecer um discurso religioso e pedagógico
em diálogo com as diversas confissões religiosas. “Esse modelo moderno esteve
presente nas escolas a partir do Concílio Vaticano II e recebe dele suas
orientações principais, assim como das chamadas teologias modernas”
(PASSOS, 2007, p. 61).
37
Por considerar a religiosidade como algo próprio do ser humano, Passos
afirma que essa dimensão deve ser educada, como base e fim do ER. E por
causa dessa visão transcendental do ser humano é que
a teologia não configura, necessariamente, conteúdos confessionais nas
programações de ER, mas age, sobretudo, como um pressuposto que sustenta a
convicção dos agentes e a própria motivação da ação; a missão de educar é
afirmada como um valor sustentado por uma visão transcendente do ser humano
(PASSOS, 2007, p. 61).
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na sua postura em
relação à educação, e de modo particular, ao ER, traz afirmações mais fiéis que
expressam a sua posição teológica, como é próprio da entidade, dada a sua
característica religiosa:
Toda ação educativa se situa num contexto filosófico e de valores […]. Toda
proposta de educação é também uma proposta de valores, de um tipo de homem
e de um tipo de sociedade […] um processo de humanização, expressão de um
projeto utópico, o homem novo e a nova sociedade, que impulsiona para a
transformação do mundo de opressão (CNBB, n. 41, p. 19, apud PASSOS, 2007,
p. 62).
Com a finalidade de explicar melhor as características que o ER assume
na visão da CNBB, Passos, comentando o documento Educação, Igreja e
Sociedade, 47, n. 66, escreve:
O ER fica também situado numa perspectiva nitidamente eclesial – como
“exigência evangélica” de uma sociedade justa que supere modelos educacionais
redutivos em função de uma educação libertadora –, ao afirmar como uma tarefa
da Igreja a formação de professores e ao indicar que deve encaminhar a pessoa
para a comunidade de fé. A educação assenta-se sobre pressupostos e valores
que incluem a dimensão religiosa do ser humano, enquanto ER fica posto como
meio de educação da religiosidade em si mesma, finalidade que permite chegar a
uma visão integral do ser humano e a fundamentar sua situação ética na história
(PASSOS, 2007, p. 63).
E conclui que o sujeito religioso é condição sem a qual a ética não pode
ser construída:
38
Em suma, o sujeito ético pressupõe o sujeito religioso. Esse modelo parece
concretizar perfeitamente a ideia de educação religiosa ou da religiosidade dos
sujeitos como uma necessidade para a formação geral escolar (PASSOS, 2007, p.
63).
Depois de apontar alguns méritos deste modelo, como a superação de
uma visão unirreligiosa e de primar pela busca de diálogo entre as diversas
confissões religiosas, Passos aponta para o perigo de uma catequese disfarçada:
Mesmo embasado nessa antropologia e na convicção do respeito às diversidades,
o risco desse modelo afigura ser o de catequização disfarçada, não tanto pelos
seus conteúdos, mas pela responsabilidade ainda delegada às confissões
religiosas. Salvo as diversidades sempre inerentes às práticas concretas de ER,
esse parece ter sido o modelo predominante em grande parte do território nacional
até nossos dias, contando com a participação direta de setores avançados das
Igrejas históricas e, de modo particular, da Igreja Católica (PASSOS, 2007, p. 64).
1.5.3. O modelo das Ciências da Religião
O terceiro modelo leva em conta uma sociedade secularizada,
multirreligiosa. Tem como meta principal a formação do cidadão a partir de uma
epistemologia embasada no campo das Ciências da Religião. Nesse modelo, a
responsabilidade pela disciplina não é de competência das tradições religiosas,
mas passa a ser da comunidade científica e do Estado. Seu principal risco é cair
em uma possível neutralidade científica.
Neste modelo, à diferença dos outros dois, não se afirma o direito do
cidadão em receber, com o apoio do Estado, uma educação religiosa,
principalmente se ele confessa uma fé. Tão pouco há o pressuposto de que a
religiosidade é inerente ao ser humano e precisa ser aperfeiçoada na educação;
ou ainda que o fundamento último dos valores que fundamentam a educação seja
a dimensão religiosa. Mas, como escreve Passos, ele tem suas próprias
características:
Trata-se de reconhecer, sim, a religiosidade e a religião como dados
antropológicos e socioculturais que devem ser abordados no conjunto das demais
disciplinas escolares por razões cognitivas e pedagógicas. O conhecimento da
religião faz parte da educação geral e contribui com a formação completa do
cidadão, devendo, assim, estar sob responsabilidade dos sistemas de ensino e
39
submetido às mesmas exigências das demais áreas do saber que compõem os
currículos escolares. As Ciências da Religião podem oferecer base teórica e
metodológica para a abordagem da dimensão religiosa em seus diversos aspectos
e manifestações, articulando-a de forma integrada com a discussão sobre a
educação (PASSOS, 2007, p. 65).
Apesar dessa afirmação feita por Passos sobre o teor científico do modelo
das Ciências da Religião, Soares chama a atenção para o fato de ele ser ainda
novo. Apesar das forças contra esse modelo, existe a possibilidade de esse
modelo ser, na sua visão, a saída para responder a necessidade do ER nas
escolas:
O processo que culmina com a adoção da Ciência da Religião como base
epistemológica do Ensino Religioso apenas engatinha. Jogam contra ele as velhas
práticas de Ensino Religioso já consolidadas, os interesses políticos das Igrejas e
o despreparo dos próprios gestores públicos. Por isso é fundamental engajar
nossas comunidades acadêmicas nesta nova proposta, pois elas estão (ao
menos, deveriam estar) equipadas para contribuir mais com as necessárias
fundamentações teóricas e metodológicas para o Ensino Religioso, além de
constituírem o ambiente ideal para iniciativas concretas de formação docente
(SOARES, 2010, p. 122).
O terceiro modelo irá romper com os dois anteriores buscando uma
autonomia epistemológica do ER (PASSOS, 2007). Uma das suas grandes
características será a manutenção da autonomia no ambiente da comunidade
científica, dos sistemas de ensino e da própria escola. O modelo das Ciências da
Religião tem como objetivo o reconhecimento da religiosidade e da religião como
dados antropológicos e socioculturais que, por razões cognitivas e pedagógicas,
deve ser abordado no conjunto das demais áreas de conhecimento. Esse modo
de compreensão de Ensino Religioso também se coloca de maneira diferenciada
dos demais modelos, o catequético e teológico, no entendimento de Passos
(2007).
Soares chama a atenção para o fato de que a escolha por este modelo
não significa afirmar que a opção pela Ciência da Religião garantiria uma abstrata
neutralidade dos agentes responsáveis pelo Ensino Religioso e de seus subsídios
didáticos. Educar alguém é transmitir conhecimento e valores, algo muito distante
da atitude de quem vive em cima do muro (SOARES, 2010, p. 125).
40
A polêmica sobre a epistemologia do ER se refere ao âmbito da sua área
de conhecimento. Contudo, é preciso entender que
as áreas de conhecimento para serem reconhecidas como tais devem possuir
consistência própria, ou seja, terem objetos, metodologias e teorias que
acumuladas componham um conjunto coerente e consistente que normalmente
adquire o status de ciência. É próprio da ciência elucidar algum âmbito da
realidade e ser capaz de comunicar o caminho dessa elucidação e seus
resultados. As escolas, desde os seus primórdios, têm a tarefa de introduzir os
sujeitos nesse caminho, mostrando-lhes os resultados do conhecimento e
ensinando-lhes a trilhar o mesmo caminho na direção da autonomia intelectual
sempre maior (SENA, 2007, p. 24-25).
E, ainda que seja novo no cenário da educação em relação ao ER, Soares
escreve que,
embora ainda seja o que menos saiu do papel, tem fôlego para dar um passo à
frente dos dois anteriores na medida em que garante ao Ensino Religioso
autonomia epistemológica e pedagógica (SOARES, 2010, p. 124).
Uma diferença prática que o ER, fundamentado no modelo Ciências da
Religião, pode oferecer se dá na medida em que pode dar ao educando
comparações contrastantes entre sistemas de referência. Dizendo de outro modo,
permitiria ao educando a percepção de que, independente da diferença cultural e
religiosa, o ser humano não pode viver sem sistemas de referência, ao mesmo
tempo em que permite compreender que nenhum desses sistemas possui
legitimidade para reivindicar validade absoluta sobre os demais (SENA, 2007, p.
58-59).
No tocante aos modelos catequético e teológico, pode-se dizer, partindo do
princípio de liberdade religiosa, que eles trabalham com a ideia de que o Estado
deveria apoiar o direito de o cidadão obter uma formação religiosa que se
conciliasse com a fé que professa (SOARES, 2010, p. 125). Já modelo das
Ciências da Religião, portanto, sem negar que religiosidade e religião sejam
dados antropológicos e socioculturais, passíveis de serem educados, parte do
princípio de que o conhecimento da religião colabora com a formação completa
do cidadão ao mesmo tempo em que faz parte da educação geral, mas desde de
que esteja sob a responsabilidade não das autoridades religiosas mas sim dos
41
sistemas de ensino e submetendo-se às mesmas exigências das demais áreas de
conhecimento que compõem os currículos escolares (PASSOS, 2007, p. 65). Em
outras palavras, pode-se dizer que
a educação geral, fundada em conhecimentos científicos e em valores, assume o
dado religioso como um elemento comum às demais áreas que compõem os
currículos e como um dado histórico-cultural fundamental para as finalidades
éticas inerentes à ação educacional. Portanto, esse modelo não afirma o ensino
da religião como uma atividade cientificamente neutra, mas, com clara
intencionalidade educativa, postula a importância do conhecimento da religião
para a vida ética e social dos educandos. As religiões particulares são
transcendidas, na procura por uma visão ampla capaz de abarcar as diversidades
e, ao mesmo tempo, captar a singularidade que caracteriza o fenômeno enquanto
tal (PASSOS, 2007, p. 65-66).
Segue abaixo um quadro, proposto por Soares, que traz um resumo dos
três modelos de ER (SOARES, 2010, p. 123).
MODELO CATEQUÉTICO TEOLÓGICO CIENCIAS DA RELIGIÃO
Cosmovisão Unirreligiosa Plurirreligiosa Transreligiosa
Contexto Político Aliança Igreja-
Estado
Sociedade
secularizada
Sociedade secularizada
Fonte Conteúdos
doutrinais
Antropologia e
Teologia
pluralismo
Ciência da Religião
Método Doutrinação Indução Indução
Afinidade Escola tradicional Escola nova Epistemologia atual
Objetivo Expansão das
Igrejas
Formação
Religiosa dos
cidadãos
Educação do cidadão
Responsabilidade Confissões
religiosas
Confissões
religiosas
Comunidade científica do
Estado
Riscos Proselitismo e
intolerância
Catequese
disfarçada
Neutralidade científica
Esses três modelos que Passos apresenta foram escolhidos, ainda que se
possam encontrar outros, exatamente com a finalidade de tentar detectar, mais
adiante nessa pesquisa, qual a compreensão e a prática de ER que as duas
escolas em questão possuem, principalmente qual é a percepção de
42
confessionalidade e a postura pedagógica diante da pluralidade religiosa ao
ministrar o ER.
1.5.4. Breve noção sobre secularização, laicidade e laicismo
Algumas vezes, neste capítulo, apareceu a afirmação de que o Estado é
laico. Para ter mais clareza diante dessa realidade Legal, é necessário aqui
recorrer a um artigo de Cesar Alberto Ranquetat Júnior que ajuda a entender a
ideia de secularização, laicidade e laicismo, conceitos muitas vezes mal definidos.
A intenção da pesquisa, neste momento, não é exaurir esses conceitos, mas,
usando a colaboração de Ranquetat, usá-los na análise dos dados colhidos na
pesquisa feita entre os alunos e professores das escolas estudadas.
A secularização seria a exclusão da religião do âmbito da sociedade; ela já
não se deixa guiar pela sua ótica, resultando na dessacralização. A sociedade
cria as suas próprias regras, sem mais uma referência à religião. A secularização
se dá exatamente por causa da perda da influência dos valores, práticas e
instituições religiosas. Ranquetat, usando Pierucci e Berger, formula a seguinte
explicação:
A secularização se caracteriza fundamentalmente pelo declínio da religião, pela
perda de sua posição axial e pela autonomização das diversas esferas da vida
social da tutela, do controle da hierocracia. A religião no mundo moderno perde
força e autoridade sobre a vida privada e cotidiana (PIERUCCI, 1997). Para Peter
Berger (2003, p. 119), a secularização é um processo “pelo qual setores da
sociedade e da cultura são subtraídos à dominação das instituições e símbolos
religiosos” (RANQUETAT, 2008, p. 61).
Ao tratar do termo laicidade, o autor fala primeiramente da etimologia, que
pode ajudar no entendimento do conceito:
A expressão “laicidade” deriva do termo “laico”, “leigo”. Etimologicamente “laico”
se origina do grego primitivo laós, que significa “povo” ou “gente do povo”. De laós
deriva a palavra grega laikós, de onde surgiu o termo latino laicus. Os termos
“laico” e “leigo” exprimem uma oposição ao religioso, àquilo que é clerical
(RANQUETAT, 2006, apud CATROGA, 2008, p. 63).
O autor explica que laicidade é um fenômeno político e que não é um
problema religioso; em outras palavras, é do Estado que ela vem e não da
43
religião. Acontecendo em alguns casos uma imposição do Estado. Isso fará com
que a religião seja excluída da vida pública, consequentemente causando a sua
ausência. Uma das características da laicidade seria a neutralidade do Estado, o
que lhe daria a “tranquilidade” de não tomar posição ou juízo de valor diante das
religiões, tratando cada uma de igual modo:
A laicidade implica a neutralidade do Estado em matéria religiosa. Esta
neutralidade apresenta dois sentidos diferentes, o primeiro já destacado acima:
exclusão da religião do Estado e da esfera pública. Pode-se falar, então, de
neutralidade-exclusão. O segundo refere-se à imparcialidade do Estado com
respeito às religiões, o que resulta na necessidade do Estado em tratar com
igualdade as religiões (RANQUETAT, 2008, p. 63-64).
Assim, secularização e laicidade têm significados diferentes. A
secularização é a perda da influência e o declínio da religião na sociedade
moderna, não exercendo mais um papel central e determinante como outrora; é o
enfraquecimento das práticas religiosas e do comportamento religioso. A
laicidade, por sua vez, como disse Ranquetat, é um fenômeno político, porque há
uma separação entre o poder político e religioso, permanecendo o Estado numa
neutralidade que lhe dá liberdade diante das religiões no tocante a um juízo de
valor em relação a elas.
E o laicismo parece ser o extremo da laicidade. É uma atitude anticlerical;
uma aversão ao clero. É o que deixa claro Ranquetat:
O laicismo é uma forma agressiva, combativa de laicidade que procura eliminar,
extirpar a religião da vida social. O laicismo se mostrou na história política de
diversos países ocidentais como fortemente anticlerical e antirreligioso
(RANQUETAT, 2008, p. 70).
Com esses conceitos esclarecidos, agora é possível entender que o
Estado é laico, mas não ateu, e que a legalização do ER nas escolas torna-se
também uma preocupação sua; por sua vez, como foi visto, a pluralidade religiosa
é um fenômeno forte e presente na sociedade. No item seguinte, Knitter
44
apresenta alguns modelos de compreensão das religiões que podem ajudar
diante do pluralismo religioso.3
1.6. O Ensino Religioso e a diversidade religiosa
A diversidade é um fenômeno global e está presente em todos os reinos da
natureza. A espécie humana não só se encontra mergulhada num mundo repleto
de diversidade, como ela mesma, embora sendo única, é profundamente
diferente, física e culturalmente falando.
Sendo assim, um fenômeno que se produz na cultura é o pluralismo
religioso. A diversidade religiosa é uma realidade que desafia todas as instituições
no mundo contemporâneo. Como se comportar diante dessa realidade humana,
que pode estar presente nas escolas?
1.6.1. O pluralismo religioso
Um desafio que as escolas têm diante de si, principalmente quanto ao
Ensino Religioso, é a perspectiva da diversidade cultural e religiosa verificada na
sociedade brasileira atual: o pluralismo religioso.4 O Brasil é um país de um povo
de muitos povos, línguas, etnias e religiões. A multiplicidade cultural e religiosa
nem sempre foi vivida sem conflitos; as manifestações culturais e religiosas dos
setores populares foram, não poucas vezes, desvalorizadas socialmente (SILVA,
2008).
A questão do pluralismo religioso na escola é algo de que a Lei de
Diretrizes e Bases tem consciência ao determinar as novas bases do ER na
escola pública no Brasil, lançando um desafio à comunidade educativa brasileira.
Comentando a Lei5 9.475, artigo 33, da nova redação, Silva escreve que seu
objetivo é
3 O que tem que ver esses quatro modelos com o ER? As ideias desse autor seriam uma
boa proposta a ser incluída na formação dos docentes em ER.
4 Para mais informações, Sanchez (2005).
5 Lei nº 9.475, de 22 de julho de 1997, art.33: “Assegurado o respeito à diversidade cultural
religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo”.
45
discutir e implementar, com as comunidades religiosas – em todos os seus limites
e possibilidades –, um projeto de Ensino Religioso que possa educar a partir da
dimensão religiosa, respeitando a pluralidade cultural e religiosa presente na
escola pública que se caracteriza pela laicidade, assim como o Estado Brasileiro
(SILVA, 2008, p. 82).
Qual a postura, então, que se deve ter diante do pluralismo religioso,
principalmente na escola? Em item anterior, foram analisados alguns modelos de
ER existentes no meio educacional, o que demonstrou a tentativa de responder
às variadas exigências do publico escolar. Mas permanece a dúvida sobre que
postura tomar diante do pluralismo religioso, principalmente nas escolas:
A diferença deve suscitar não o temor, mas a alegria, pois desvela caminhos e
horizontes inusitados para a afirmação e o crescimento da identidade (DIÁLOGO,
2003, p. 20-21).
Vale observar, aqui, que no pluralismo religioso estão presentes a
multiplicidade e a variedade de teologias das religiões. Por isso, a seguir serão
apresentadas as ideias de Knitter, cuja preocupação é responder à pergunta
sobre “por que a realidade de muitas outras religiões tornou-se para os cristãos
não só um grande problema mas também uma ainda maior promessa” (KNITTER,
2008, p. 15), apresentando também quatro modelos (teológicos) existentes na
postura diante do pluralismo religioso.
Paul F. Knitter é professor de Teologia, Religiões do Mundo e Cultura no
Union Theological Seminary in the City of New York. Considerado um dos
principais teólogos do pluralismo religioso, o enfoque de suas pesquisas é o
levantamento crítico de aproximações cristãs a outras religiões. Ele faz isso
apresentando quatro modelos. É essa a intenção da pesquisa, que traz neste
momento esses modelos de Knitter, tentando encontrar uma postura melhor,
pacífica e respeitosa diante das variadas ramificações cristãs e de outras
religiões, que são experimentadas no ambiente escolar.
Knitter apresenta os modelos que nasceram no interior do ambiente cristão
como postura diante do pluralismo religioso, que por sua vez são modelos do
pluralismo de teologias cristãs.
46
1.6.2. Os quatro modelos do pluralismo religioso segundo Knitter6
1.6.2.1. Modelo da substituição
Este modelo destaca a substituição total e a substituição parcial. A
substituição total coloca a primeira das posturas cristãs em relação às demais
crenças, que predominou durante a maior parte da história cristã: o destino do
cristianismo seria o de substituir todas as demais religiões. Segundo os
missionários cristãos, Deus queria que houvesse apenas uma religião, a religião
de Deus: o cristianismo. O amor de Deus é oferecido a todos, porém esse amor
só alcança o seu objetivo mediante a conformidade, a comunhão particular e
singular com Jesus Cristo. Ligados a esse modelo, segundo Knitter, estão os
fundamentalistas evangélicos.7
No tocante à substituição parcial, a diferença esta em que os evangélicos
menos radicais reconhecem e afirmam a revelação genuína de Deus nas demais
religiões e por meio delas. Para essa visão cristã das religiões está estabelecido
que Deus fala a outras pessoas de fé mediante a religião de cada um. Essa
revelação pode tornar as demais pessoas de fé conscientes não só da existência
do Divino, mas igualmente de que esse Divino é um tu/você pessoal, amoroso,
convocador.
1.6.2.2. Modelo de complementação
Tal modelo representa o deslocamento de uma visão do cristianismo como
substituto das demais religiões, para um posicionamento de completude e de
compreensão ponderada das demais tradições religiosas. Ele oferece uma
teologia que atribui pesos iguais a duas convicções cristãs das quais já ouvimos
falar: que o amor de Deus é universal, estende-se a todos os povos; mas alerta
6 Para maior aprofundamento sobre os quatro modelos aqui apresentados, ler a obra de
Knitter (2008) Introdução às teologias das religiões.
7 Knitter se refere aos fundamentalistas, explicando que eles tiveram início e ganharam o
nome de batismo quando três milhões de cópias de um livrinho, cujo título é Os
fundamentos foram distribuídas gratuitamente “a pastores, evangelizadores e supervisores
de escola dominical, entre 1910 e 1915” (KNITTER, 2008, p. 41).
47
para o fato de o amor de Deus, particular, ter-se tornado real, concreto, em Jesus
Cristo.
Knitter afirma que, como o modelo de substituição teve o domínio das
Igrejas fundamentalistas, o modelo de complementação caracteriza o
ensinamento das Igrejas “das correntes dominantes” (KNITTER, 2008), que
seriam as Igrejas Luterana, Reformada, Metodista, Anglicana, Grega Ortodoxa e
Católica Romana. Nas palavras de Knitter, eis como se caracteriza o modelo de
complementação, segundo o que pensam essas Igrejas:
Creem eles que as demais religiões têm seu valor, que nelas se deve encontrar
Deus, que os cristãos necessitam dialogar com elas, e não apenas lhe fazer
pregação. Novas atitudes que estão baseadas em novas vivências e modos de
sentir, e que exigem uma nova teologia das religiões. Eis o que representa o
modelo de complementação (KNITTER, 2008, p. 108).
1.6.2.3. Modelo de mutualidade
Aqui o autor enfatiza as pontes filosóficas e as pontes mística e profética.
Neste modelo, o que se destaca é o amor universal e a presença de Deus em
outras religiões, e procurando responder a três questões cuja preocupação é
impulsionar o puro diálogo com outras religiões, que parece ser parte essencial do
imperativo de amar ao próximo, amor que passa pela escuta e pelo respeito:
Se o modelo de complementação assentava-se mais pesadamente no lado da
particularidade de Jesus, neste modelo de mutualidade o maior peso recairá no
lado do amor universal e na presença de Deus em outras religiões. Ambos os
modelos buscam o equilíbrio. Qual deles é melhor é uma discussão permanente
entre cristãos (KNITTER, 2008, p. 176).
Neste modelo, diante de outras tradições religiosas, os cristãos não só
percebem a diversidade, mas também que elas são parceiras potenciais ao
diálogo, à convivência e ao debate coletivo. Todas as religiões têm direitos iguais
de falar e serem ouvidas, com base no valor congênito de cada uma. Knitter ainda
chama a atenção para não confundir esse modelo com o modelo pluralista:
É por isso que chamamos de modelo de mutualidade em vez de modelo pluralista,
nome (enganoso) que mais frequentemente lhe é atribuído. Para esse modelo o
relacionamento é mais importante do que a pluralidade. E tem de ser um
48
relacionamento de mutualidade – isto é, um relacionamento, uma convivência
dialogal que de fato se dê em ambas as direções, no qual ambos os lados de fato
falem e ouçam, no qual ambos os lados realmente se abram para aprender e
mudar. Para esse modelo tudo o que ameaça a reciprocidade do diálogo e
altamente suspeito, para dizer o menos (KNITTER, 2008, p. 177).
Este modelo busca evitar que alguma religião tenha superioridade pré-
concedida em relação a todas as demais, o que a tornaria absoluta sobre todas
as outras. Para que isso seja evitado, ele chama a atenção para um reexame
interior e destaca a necessidade de uma releitura da Bíblia à luz das novas
experiências com outras religiões a fim de serem encontradas novas maneiras de
compreender Jesus que capacitem o fiel estar tão mais aberto às demais religiões
quanto maior for o compromisso do fiel com ele.
1.6.2.4. Modelo de aceitação
Este modelo, o mais novo, se desenvolveu durante as duas últimas
décadas do século XX e pode ser considerado como fruto do seu tempo em
reação às inadequações dos demais modelos referentes a uma teologia cristã das
religiões. Ele não defende a superioridade de uma dada religião nem procura o
que é comum, o que torna todas elas válidas. Ao contrário, aceita o pluralismo
religioso.8 As tradições religiosas que o mundo apresenta são mesmo diferentes,
e temos de aceitar essas diferenças.
Fazendo uma comparação com os outros modelos, o autor faz uma clara
distinção entre esse e os outros modelos, mostrando o que é característico de
cada um:
Como observamos no final do capítulo precedente, os modelos referentes a uma
teologia das religiões que perscrutamos até agora parecem ou dar tanta ênfase à
particularidade de uma religião, de modo que a validade de todas as demais fica
ameaçada (modelo de substituição e modelo de complementação), ou dar ênfase
8 A Revista Diálogo, no número 31, de agosto de 2003, trata do Pluralismo e diversidade
humana: A diversidade de religiões não deve ser reconhecida como expressão da
limitação humana ou fruto de uma realidade conjuntural passageira, mas como traço de
riqueza e de valor (destaque nosso). A diferença deve suscitar não o temor, mas a alegria,
pois desvela caminhos e horizontes inusitados para a afirmação e o crescimento da
identidade (DIÁLOGO, 2003, p. 20-21).
49
à validade de todas elas, de maneira a obscurecer-lhes as efetivas diferenças
específicas (modelo de mutualidade). O que chamamos de modelo de aceitação
julga conseguir desempenhar melhor essa tarefa de alcançar um equilíbrio […]
pela aceitação favorável da real diversidade de todas as crenças (KNITTER, 2008,
p. 271-272).
O modelo de aceitação difere dos outros na maneira pela qual considera as
diferenças. Para os outros modelos, as diferenças constituem algo que eles
querem ultrapassar, porém, para o modelo de aceitação, as diferenças são não
apenas algo com o qual seja possível conviver temporariamente, mas algo com o
qual se deseja viver permanentemente.
Como se pode observar, o teólogo classifica esse quarto modelo teológico
como aquele que melhor consegue o equilíbrio no trato com a diversidade das
teologias religiosas cristãs e também no trato com outras religiões.
O próximo capítulo trará dados obtidos da pesquisa feita em duas escolas,
que suscitam certas questões em relação à pluralidade religiosa entre os alunos e
qual o modelo que, na prática, pode amenizar os conflitos e responder ao desafio
da multiplicidade religiosa.
Por isso, os três modelos apresentados por Passos – catequético,
teológico e das Ciências da Religião – foram escolhidos como chave de leitura,
que poderá ajudar na hermenêutica das respostas dadas pelos alunos e
professores das duas escolas em questão, que será trabalhado no terceiro
capítulo.
50
Capítulo II
O perfil do Colégio Municipal Ana Elisa Gregori (RJ) e
da Escola Franciscana São Miguel Arcanjo (SP)
Este capítulo tem como objetivo fazer uma descrição aproximada das
duas escolas que foram pesquisadas quanto a seus Projetos Político-
Pedagógico (PPP) e a Proposta Curricular, principalmente em relação ao
Ensino Religioso.
Na intenção de fornecer uma “fotografia” mais aproximada das duas
escolas, a pesquisa optou por usar uma estrutura aplicando-a às duas escolas
para auxiliar na melhor compreensão da identidade das mesmas. O mesmo
esquema usado para a Escola Ana Gregori é usado para o Colégio São Miguel.
2.1. Escola Ana Elisa Gregori
O material usado para a pesquisa do PPP dessa escola deriva das
anotações não oficiais, algo que pode ser chamado de projeto provisório da
pesquisa. Não está datado pelo ano. No fim do ano 2011, a escola estava sob
intervenção da secretaria de Educação do Município, com a Intenção de rever
todo o Projeto Político-Pedagógico.
2.1.1. Dados de identificação da Escola Ana Elisa Gregori
Escola: Municipal de Ensino Fundamental Ana Elisa Gregori
Entidade mantenedora: Secretaria Municipal de Educação
Grau de ensino: Fundamental I e II
Endereço: Rua Roberto Cotrim, S/Nº - Bairro Campo Alegre, Itatiaia-RJ
2.1.2. Apresentação e caracterização da Escola
Foi inaugurada em 5 de Março de 1993 e criada pelo Decreto nº 083 em
26 de Agosto de 1992.
A proposta curricular para o Ensino Religioso adotada pela Secretaria
Municipal de Educação foi elaborada tendo como objetivo atender ao Ciclo
Básico de Alfabetização (CBA). Leva-se em consideração que a Rede
51
Municipal de Ensino de Itatiaia atende estudantes das séries iniciais e finais do
ensino fundamental. Os estudantes que frequentam o Ensino Médio são
atendidos pelas Redes Estadual e Particular.
2.1.3. Justificativa
Na primeira (1) página do Projeto da Escola Ana Elisa afirma-se o
seguinte:
A promoção da qualidade do “fazer” educacional tornar-se-á realidade na
medida em que seja dada a atenção especial às dimensões formal, material,
política e espiritual que esta qualidade comporta e na razão direta em que a
promoção da avaliação institucional seja sistemática, a partir da definição de
indicadores estabelecidos pela própria comunidade escolar e pela SMEC
(PROJETO, p. 1).
Entende-se que a educação deve ser responsabilidade de toda a
sociedade, mantendo uma abertura para novos participantes na missão de
educar. É o que se lê na continuação do texto acima citado:
A promoção da comunicação permanente da Instituição com a sociedade deve
ser canal de mão dupla, democraticamente estabelecido, fundamentado na
preocupação de adicionar novos atores na discussão dos temas educacionais,
significando uma constante abertura democrática para a integração
interinstitucional, governamental e não governamental, posto que os
conhecimentos construídos devem ser compartilhados, pois a informação
significante é base para a comunicação efetiva (PROJETO, p. 1).
2.1.4. Diagnóstico da realidade
A Escola AELG traz as seguintes informações sobre a clientela que
frequenta o seu ambiente:
Trata-se de um grupo bastante heterogêneo do ponto de vista econômico,
social, cultural e familiar, o que fez com que o Colégio AELG assumisse, nos
últimos anos, praticamente sozinho um papel que, em princípio, não deveria
ser só seu: educar seus alunos para a cidadania. Essa carga é decorrente de
uma série de motivos, mas o principal nesse grupo é que os pais se sentem
inseguros em relação à formação dos seus filhos. São pais que trabalham fora
de casa e passam menos tempo com os filhos. A mãe, que antes ficava em
casa e transmitia valores, agora trabalha fora, e, em muitos casos, é arrimo de
52
família. Quando chegam do trabalho, ambos estão cheios de culpa pela
ausência e, para minimizar esse sentimento, tornam-se permissivos, deixam de
estabelecer limites, de ensinar o que é certo e errado (PROJETO, p. 4).
Preocupada com essa realidade da família, a escola resolveu montar um
projeto que “revitalize a confiança da família no seu papel de formadora,
trazendo-a cada vez mais para dentro da instituição de ensino, buscando o
lema: Escola e Família Construindo a Cidadania” (PROJETO, p. 4).
2.1.5. Visão de educação, escola e sociedade
Quanto a esses itens, o texto escreve:
As exigências que a sociedade impõe à escola têm provocado um constante
repensar sobre a prática educativa. A escola para cumprir sua função
socioeducativa deve resgatar compromissos com a qualidade de ensino, ao
mesmo tempo em que prepara um cidadão consciente de seus direitos,
deveres e capacidade de participação integral na sociedade.
Pensando neste aspecto, elaboramos nosso Projeto Político-Pedagógico,
centrado na realidade de seus alunos, na articulação da escola com a
comunidade, na educação continuada de professores, pais e funcionários.
Através desse projeto, procurar-se-á articular também os aspectos
administrativos e educativos, dentro do estabelecimento de ensino, uma vez
que estão intimamente ligados quando se pensa em uma escola de qualidade –
por escola de qualidade entende-se aquela escola capaz de cumprir
adequadamente suas tarefas propriamente escolares, além de formar
educandos de desenvolver autonomia e envolvidos na construção de seu
próprio conhecimento.
Esse projeto une o real e o utópico irrealizável, mas o nosso ideal que pode vir
a ser real (PROJETO, p. 3).
2.1.6. Tendências pedagógicas
A escola insiste que a construção do conhecimento do aluno leva em
consideração aqueles conhecimentos que o aluno já traz consigo e a interação
como motor do Projeto Político-Pedagógico:
O colégio adotou a pedagogia de projetos, seguindo assim a linha
construtivista, pois dá prioridade à forma como a criança aprende, enfatizando
a construção do conhecimento a partir das relações com a realidade, tendo
como ponto de partida a criança e os conhecimentos que ela traz consigo,
53
buscando fazer com que esses saberes sejam aprofundados, reconstruídos em
diferentes momentos e de diversas formas.
A aplicação dessa “forma” de trabalhar tem possibilitado a formação de
crianças que vão além do mero conteúdo assimilado. São mais críticas,
opinativas e investigativas.
Uma vez que segue a linha construtivista, seus professores e corpo técnico-
administrativo têm por função diagnosticar e estimular o avanço do
conhecimento. Seus resultados devem servir para orientação da aprendizagem
e ela não deve ser vista como objetivo do processo de ensino. Portanto, a
palavra-chave do PPP é “interação” (PROJETO, p. 15).
2.1.7. Objetivo geral (e específicos)
Os objetivos gerais dessa escola podem ser encontrados na página 4,
item VIII:
• Formar e integrar o aluno-cidadão a partir de uma relação de troca,
respeito, solidariedade e confiança com a escola e a comunidade.
• Levar todos a aprenderem novas formas de verificação da realidade,
encarando o igual e o diferente como algo a ser compartilhado e
discutido.
• Mobilizar o grupo para um fazer transformador e não apenas reprodutor.
• Formar cidadãos que exponham suas ideias com clareza, apresentando
opiniões e argumentos pertinentes.
• Criar um canal aberto às sugestões e críticas dos familiares.
2.1.8. Proposta metodológica
A respeito da metodologia da Escola, o projeto diz o seguinte:
Como forma de organizar o trabalho didático, optou-se pela metodologia de
projetos, que poderão ser utilizados, em momentos específicos do
desenvolvimento curricular, de modo a envolver mais de um professor e uma
turma, articular o trabalho de várias áreas ou realizar-se no interior de uma
única área (PROJETO, p. 3).
54
2.1.9. Perfil do educando que pretende formar
Nas anotações encontradas, há um elencou-se 40 itens que são
chamados de “Objetivos Conceituais de acordo com PCNS”.9 Aqui, serão
listados alguns desses itens que dão a noção de qual é o perfil de aluno que a
escola quer formar.
• Formar indivíduos capazes de conhecer, conviver, experimentar e,
sobretudo “ser” pessoas íntegras e comprometidas em tornar o mundo
melhor através da Arte e da Educação.
• Estimular a participação dos alunos em projetos interdisciplinares.
• Caracterizar e distinguir as relações sociais (vida em sociedade).
• Desenvolver trabalhos individuais e em grupo.
• Compreender a natureza como um todo dinâmico e o ser humano, em
sociedade, como agente de transformações do mundo em que vive, em
relação essencial com os demais seres vivos e outros componentes do
ambiente.
• Compreender a ciência como um processo de produção de
conhecimento e uma atividade humana, histórica, associada a aspectos
de ordem social, econômica, política e cultural (PROJETO, item IX, p. 6-
7).
2.1.10. Proposta Curricular para o Ensino Religioso da Rede Municipal de Itatiaia
A escola não possui uma ementa para a disciplina do ER. A única fonte
escrita encontrada, que foi usada para colher dados para a pesquisa deste
trabalho, não faz nenhuma referência à disciplina do ER, apesar de ela ser
ministrada uma vez por semana em sala de aula. Segundo o relato de uma
coordenadora pedagógica e de um professor10 de ER, fica sob sua
responsabilidade a elaboração do material didático e pedagógico.
9 Analisando os itens, nota-se uma repetição de sentido de alguns deles, mostrando que
o objetivo é sempre o mesmo.
10 O perfil formativo dos professores de ER das duas escolas será analisado no próximo
capítulo.
55
Na primeira página do Projeto da Escola, há uma brevíssima alusão à
dimensão espiritual do aluno no seguinte texto:
A promoção da qualidade do “fazer” educacional tornar-se-á realidade à
medida que seja dada a atenção especial às dimensões formal, material,
política e espiritual que esta qualidade comporta e na razão direta em que a
promoção da avaliação institucional seja sistemática, a partir da definição de
indicadores estabelecidos pela própria comunidade escolar e pela SMEC
(PROJETO, p. 1).
Só bem recentemente11 é que foi publicado no site da Imprensa Oficial
do Município de Itatiaia, dois de março de 2012, edição nº 43, um comunicado
da Secretaria Municipal de Educação sobre a Resolução nº04/2010 de 1o de
dezembro de 2010. E, no tocante ao ER, na página 4 há a seguinte informação:
Art. 12 - O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da
formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das
unidades escolares de Ensino Fundamental, assegurado o respeito à
diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de
proselitismo.
§ 1º - O Ensino Religioso possibilita uma reflexão diretamente ligada à vida e
que vai se refletir no comportamento, no sentido que orienta a vida e ética.
Trata-se de uma educação para a cidadania e a socialização de valores
humanos fundamentais no âmbito da escola, da família e da sociedade.
§ 2º - O Ensino Religioso não implica a retenção do aluno no período letivo
cursado, embora seja obrigatória a apuração da frequência dos alunos.
Na introdução da publicação do documento, a SME acentua a sua base,
que é a Lei Federal nº 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Isso se observa no Caput do artigo 12 acima citado. E, igualmente, as diretrizes
estabelecidas pelo Conselho Municipal de Educação.12
11
Como se pode observar, a publicação desse edital, no qual está posta a política de
ensino do município, é bem recente. Até então, os professores e os coordenadores não
sabiam informar direito qual era a política legal de ensino do Município, principalmente
a respeito do ER.
12 “A SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE ITATIAIA, no uso de suas
atribuições legais e, CONSIDERANDO a Lei Federal nº 9394/96 de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, que em seu Artigo 11, Inciso II, incumbe aos Municípios baixar
normas complementares para seu Sistema de Ensino, em consonância com as
56
Na mesma redação dessa Resolução da SME / nº 04/2010 de 1o de
dezembro de 2010, publicada em dois de março de 2012, quanto ao conteúdo
temático a ser tratado no ER, encontramos o seguinte:
5) Os conteúdos do Ensino Religioso da Rede Municipal de Ensino de Itatiaia
apresentará os seguintes aspectos:
a) Desenvolver atitudes de convivência solidária, baseada nos princípios do
respeito às diferenças e no compromisso moral e ético, com o outro e com a
sociedade.
b) Identificar o fenômeno religioso como cultura e identidade de um grupo
social.
c) Proporcionar aos alunos o comprometimento com ações de solidariedade,
bem-estar e paz, com valorização da convivência harmoniosa no espaço
escolar e comunidade, no entendimento de valores como a honestidade,
justiça, amor ao próximo, bondade, solidariedade etc.
d) As temáticas, que serão desenvolvidas na disciplina do Ensino Religiosa,
devem ser discutidas e elencadas pela escola no início do Ano Letivo, em
consonância com a necessidade da escola e/ou das turmas (Imprensa Oficial
do Município de Itatiaia, 2012, p. 8-9).
No segundo parágrafo do artigo 12 da nova redação, a resolução prevê
que o ER não reprovará o aluno: “O Ensino Religioso não implica a retenção do
aluno no período letivo cursado, embora seja obrigatória a apuração da
frequência dos alunos” (Imprensa Oficial do Município de Itatiaia, 2012, p. 4). A
avaliação do aluno depende da sua frequência.
Já quanto aos professores, requer-se uma formação específica na área
ou que tenha uma formação mais próxima que o capacite a lecionar tal
disciplina. É o que está escrito no Anexo VII: Diretrizes do Ensino Religioso,
item terceiro:
Diretrizes Curriculares Nacionais, CONSIDERANDO as modificações impostas à Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional que determinam a adequação de
componentes curriculares às Matrizes Curriculares das Unidades Escolares desta
Secretaria Municipal de Educação, CONSIDERANDO a necessidade de adequação do
Sistema Municipal de Ensino à Lei Federal nº 9394/96 de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional e as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Municipal de
Educação” (Imprensa Oficial do Município de Itatiaia, 2012, p. 4).
57
3) Nos Anos Finais do Ensino Fundamental e EJA, o Ensino Religioso será
ministrado por um professor regente concursado para essa área de
conhecimento ou por um professor regente de licenciatura plena em outra área
de conhecimento afim, que apresente qualificação e perfil para o
desenvolvimento das diretrizes da disciplina, de acordo com a Proposta
Pedagógica do Sistema Municipal de Ensino (Imprensa Oficial do Município de
Itatiaia, 2012, p. 8).
Tudo isso dá a esse trabalho, até o momento, uma identidade mais clara
da Escola Ana Elisa, visando entender o seu Projeto-Político Pedagógico.
2.2. Colégio São Miguel13
O Colégio São Miguel Arcanjo pertence à Congregação das Irmãs
Franciscanas da Providência de Deus. A título de esclarecimento sobre as
origens e o que estimulou a criação dessa escola, mostrou-se necessário fazer
um breve recuo histórico.
Nos primeiros anos após a Primeira Guerra Mundial, muitos europeus
imigraram de seus países de origem para se fixarem nas Américas. Nos
Estados Unidos da América era cada vez maior o número de imigrantes
lituanos.
Com o crescimento considerável do movimento migratório, houve
necessidade não só de criar núcleos comunitários que ajudassem a manter as
tradições e a fé cristã, mas também de trabalhar para a preservação da
herança cultural daquele povo. Criaram-se nessa época paróquias e escolas
paroquiais, o que aumentou a demanda por mais religiosas para dirigir escolas,
para catequizar e para evangelizar esse povo que estava recomeçando a vida
no novo continente.
Algumas irmãs de origem lituana, segundo Bonilha, residentes nos
Estados Unidos lançaram o olhar sobre seus compatriotas lituanos e,
percebendo as suas necessidades, sentiram um forte desejo para trabalhar
com eles (BONILHA, 2009).
13
Os dados históricos sobre a Congregação e a Escola São Miguel foram coletados do
livro Bonilha (2009).
58
Para realizar tal missão, tomaram a decisão de deixar a Congregação da
Sagrada Família de Nazaré, para se dedicarem ao apostolado junto às famílias
daqueles imigrantes. Portanto, a Congregação foi fundada no dia 12 de março
de 1922, na Diocese de Pittsburg, Pensilvânia, nos Estados Unidos. Sobre seu
carisma, assim se expressam:
Inspiradas em Francisco de Assis a seguir Jesus Cristo, na total disponibilidade
a Providência de Deus: abraçamos a vida evangélica em comunidade;
buscando viver a pobreza de Jesus Cristo e anunciar a paz, na alegria do
Espírito (BONILHA, 2009, p. 46).
As primeiras irmãs, em solo americano, ao deixarem sua Congregação
de origem, foram acolhidas pelas irmãs Franciscanas de Millvale, Pittsburgh,
Pensilvânia, com quem permaneceram por um período de seis anos, quando
continuaram a sua formação e missão, até se tornarem uma Congregação
autônoma.
As fundadoras, apoiadas e auxiliadas pelo Bispo de Pittsburgh, Dom
Hugh C. Boyle, por Monsenhor M. L. Krussas e pelos padres A. J. Sutkaites e
M. Kazenas, conseguiram vencer os enormes desafios existentes nos primeiros
anos de fundação quanto ao estabelecimento da nova missão: a falta de
recursos materiais e a outras tantas dificuldades.
Depois de dezesseis anos de fundação, surge um novo desafio. Cinco
irmãs atravessaram os mares e chegaram ao Brasil no dia 27 de agosto de
1938, em resposta à solicitação da Igreja local, para atenderem às
necessidades das famílias lituanas em Vila Zelina, São Paulo.
Nos primeiros anos, o trabalho missionário foi direcionado para
beneficiar o povo lituano. Porém, com o decorrer do tempo e com as mudanças
profundas na sociedade, a missão foi sendo redimensionada através das áreas
de educação nos colégios, nas obras promocionais, na saúde, na formação,
nas paróquias em comunidade inseridas nos meios populares e na
administração de outros serviços da Congregação.
Atualmente, a Congregação possui duas províncias: a Província em
Pittsburgh, Pensilvânia, USA, e a Província Nossa Senhora da Providência,
com sua sede em São Paulo, Brasil, fundada em 11 de janeiro de 1997, à qual
pertence o colégio.
59
2.2.1. Dados de identificação do Colégio São Miguel
O Colégio São Miguel, Filosofia Educacional é baseado em valores
católicos e franciscanos que priorizam as dimensões humanas, culturais,
sociopolíticas e éticas, bem como o desenvolvimento integral do educando.
Oferece cursos que abrangem a formação básica do aluno. Desenvolve um
processo educativo pautado nos princípios e valores cristãos e franciscanos
que privilegia excelência acadêmica, diálogo entre fé e ciência, formação da
consciência cósmica, acolhimento, afetividade, fraternidade, respeito e
solidariedade, processo de evangelização que proponha respostas às dúvidas
fundamentais do ser humano a partir de Jesus Cristo:
Escola: Particular católica
Entidade mantenedora: Congregação das Irmãs Franciscanas
Grau de ensino: Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II, Médio e
Período Integral
Endereço: Rua Campos Novos, 153, Vila Zelina, São Paulo-SP
2.2.2. Apresentação e característica do colégio
As primeiras irmãs chegaram ao Brasil, em agosto de 1938, na Vila
Zelina, Vila “Zabroika” como era conhecida pela comunidade lituana. Fazia
parte do projeto da missão o trabalho na área da educação junto à
comunidade, fortalecendo os elos cristãos.
Em 1939, sob a direção de Irmã Maria Júlia, foi fundada a Escola São
José de Vila Zelina, em um galpão antigo e alugado, onde os filhos de
imigrantes passaram a fazer seus primeiros estudos.
Em 1941, a escola foi transferida para um prédio novo, junto à Igreja
São José de Vila Zelina e, diante da procura crescente das famílias que
desejavam educação diferenciada para seus filhos, surge a necessidade de
buscar um novo espaço para abrigar tantos alunos.
Sendo assim, em 1952 é fundado o Colégio São Miguel Arcanjo. O
nome da entidade, além de fazer referência ao Arcanjo Miguel, muito venerado
na Igreja Católica, é também uma homenagem ao Monsenhor Michael Krusas,
sacerdote que acompanhou, ajudou e contribuiu com a Congregação desde
60
sua fundação nos Estados Unidos. Foi ele inclusive um grande incentivador do
envio das primeiras irmãs ao Brasil.
No começo de 1992, Irmã Maria da Glória pôs em prática um ideal que
vinha fazendo parte de seu cotidiano: buscar a identidade das escolas
franciscanas.
Com o intuito de realizar essa ideia, promoveu uma reunião no Colégio
Pio XII (também escola franciscana fundada em 1954), na qual participaram
diretores e representantes de diferentes escolas franciscanas do Estado de
São Paulo.
Dessa iniciativa surgiu uma equipe coordenadora formada por freiras e
leigos, que juntos compartilharam o ideal de transmitir a mensagem atemporal
de Francisco e Clara de Assis no ambiente escolar. Com isso surgem os
seguintes desafios: definir o perfil da escola franciscana, aproximar os leigos do
carisma franciscano, delinear o perfil do educador e do educando franciscano
etc.
Essas iniciativas permitiram o conhecimento do franciscanismo através
de cursos, palestras, retiros, visitas intercolegiais, jogos esportivos, realização
do Encontro Anual dos Educadores Franciscanos (sediado em diferentes
escolas), inclusão do adjetivo “franciscano” no nome de cada colégio, criação
de agendas comuns entre as escolas franciscanas, uso do cumprimento “paz e
bem!” entre as pessoas da comunidade educativa como forma de identificação,
inclusão das escolas na entidade Família Franciscana do Brasil-SP, agregando
representatividade ao movimento.
De uma escola que no começo tinha um sistema tradicional, passou a
ser uma instituição que procurava acompanhar as transformações sociais e
educacionais. Assim, hoje, totalmente atualizada, conta com métodos
modernos e recursos tecnológicos, sem excluir os valores historicamente
construídos:
Inicialmente era uma escola de sistema tradicional, mas procurou acompanhar
as mudanças sociais e educacionais, assim, hoje conta com métodos
modernos e recursos tecnológicos, sem deixar de lado os valores
historicamente construídos, especialmente, o ambiente que é acolhedor,
fraterno e amigo, favorecendo aos alunos um aprendizado dinâmico e eficaz (Ir.
Selma, apud BONILHA, 2009, p. 75).
61
2.2.3. Diagnóstico da realidade
A escola atende a um público de classe média alta, em que tanto o pai
quanto a mãe passam o dia no trabalho.
O número de alunos durante a pesquisa na escola era de mil e
duzentos.
2.2.4. Visão de educação, escola e sociedade
A visão de educação está ligada à missão das irmãs franciscanas:
A ação educativa é uma possibilidade de concretização da missão das irmãs
franciscanas da providência de Deus, tendo em vista o seu carisma. Seu
desenvolvimento torna realidade um projeto de vida e de trabalho, revitaliza as
fontes que o originaram e mantém preservada e viva uma herança construída
ao longo da história (PPP, p. 15).14
Por ser um projeto educacional evangelizador, ele está dividido em três
dimensões complementares em suas especificidades:
Um currículo evangelizador, que articule ciência, fé e vida no qual os
conhecimentos construídos/reconstruídos, as habilidades e competências
desenvolvidas, as metodologias e instrumentos utilizados sejam permeados
pelo Evangelho e o tenham como ponto de partida e de chegada.
Uma abordagem evangelizadora que explicite o anúncio de Jesus Cristo e de
seu Evangelho no componente curricular especialmente apropriado para tal: as
aulas de Ensino Religioso.
Uma escola na qual a organização, a estrutura, o funcionamento, as relações e
ações sejam focos e possibilidades de evangelização, ou seja, uma escola
pastoral. Neste âmbito deve se constituir num espaço educativo
permanentemente evangelizador e também oferecer oportunidades específicas
de aprofundamento na experiência de fé e na opção religiosa para todos
aqueles que o desejarem (PPP, p. 15).
14
Apesar de um ano e sete meses de contato com o Colégio São Miguel, o colégio só
forneceu algumas páginas avulsas para que fosse efetuada a pesquisa em relação ao
PPP, sem fornecer a data, o ano e o nome do documento do qual foram tiradas.
62
2.2.5. Objetivos gerais e específicos da proposta curricular do Ensino Religioso
No ano de 2003, a arquidiocese de São Paulo enviou uma carta à
provincial franciscana para recordar qual deveria ser o teor do ER.15
No projeto educativo Franciscano da Providência de Deus, o ER é
concebido como um instrumento de formação contínua da pessoa para que ela
seja capaz de responder aos novos desafios da sociedade:
A educação tem a grande missão de colocar a pessoa em estado de formação
permanente e continuada. Assim também deve ser concebido o ensino
religioso. Ele é a fase inicial de uma formação permanente e não etapa fechada
do tempo escolar.
Um ensino religioso insosso, light, que não é capaz de apresentar uma visão
de mundo sempre em construção, em desafios de escolher valores com os
quais comprometer-se para sempre, também não é capaz de responder aos
novos desafios e muito menos entusiasmar as mesmas novas gerações
(PEFPD, 2005, p. 6).16
Objetivos gerais
Segundo o PPP do colégio São Miguel, os objetivos gerais são esses:
1. Opção pelos fundamentos franciscanos como raiz e finalidade de todas as
ações desenvolvidas.
2. Atenção a todas as dimensões constitutivas do ser humano, à diversidade de
possibilidades de relação com o conhecimento e de aprendizagem – incluindo
as diferenças na maneira de aprender – que devem ser concretizadas na
prática educativa – pedagógica e pastoral.
3. Consciência da necessidade crucial, por parte dos educadores, de
conhecimento profundo e consistente dos fundamentos da realidade, o
15
Em 12 de setembro de 2003, o Bispo da Região Belém, Arquidiocese de São Paulo,
Dom Pedro Luiz Stringhini, enviou uma carta à Ministra Provincial das Irmãs
Franciscanas da Providência de Deus, solicitando: “Colégios Religiosos. O ensino
religioso deve ser confessional, apresentando aos alunos a doutrina católica, e não
noções vagas de sociologia das religiões. O espaço do colégio tem que ser um lugar de
evangelização acontece só na paróquia ou na comunidade. O colégio católico deve
preparar alunos para primeira eucaristia e crisma” (PROJETO educativo Franciscano
da Providência de Deus, 2005, p. 10).
16 PEFPD: Projeto Educativo Franciscano da Providência de Deus, 2005.
63
processo de desenvolvimento nos diversos âmbitos – orgânicos, cognitivo,
psicoafetivo, ético religioso, social – e de aprendizagem dos educandos,
especialmente as demandas e possibilidades de cada faixa etária.
4. Postura de abertura com ênfase em diálogo, acolhida, respeito e inclusão, da
parte de educadores e educandos.
5. Reconhecimento de que o processo de aprendizagem se efetiva na
interação entre aquele que conhece o objeto a ser conhecido e a realidade na
qual se encontra(m) inserido(s), ressaltando o papel da intervenção pedagógica
adequada.
6. Foco no educando, na aprendizagem e no processo, valorizando
equitativamente e na mesma dimensão o rigor conceitual, a excelência
acadêmica, o conhecimento e a compreensão, a criatividade, a superação da
fragmentação das disciplinas e da centralidade em informações e
memorização, a articulação teoria/prática, a integração entre conhecimentos, o
desenvolvimento de competências e habilidades e a formação da consciência e
do compromisso ético-social.
7. Articulação intencional e permanente entre fé e ciência.
8. Direcionamento da proposta educativa no sentido do “aprender a conhecer,
a fazer, a ser e a conviver”, como resposta aos grandes desafios da realidade
contemporânea.
9. Conhecimento do educando em sua individualidade e enquanto ser coletivo-
social.
10. Reconhecimento do protagonismo do educando como sujeito ativo nos
processos de desenvolvimento e aprendizagem e do consequente
redimensionamento da ação do professor como educando/formador.
11. Desenvolvimento da cultura do cuidado na perspectiva cósmica franciscana
(PPP, p. 16-17).
Em 21 de fevereiro de 2005, houve uma segunda solicitação (a de 2003
está mencionada em nota rodapé) da Igreja local, assinada por várias
autoridades eclesiásticas, entre elas o então Arcebispo da Arquidiocese de São
Paulo, Cardeal Dom Cláudio Humes, e o atual Arcebispo Dom Odilo Pedro
Scherer, enviada aos Diretores das Mantenedoras e dos Colégios Católicos,
aos Padres e à Associação de Educação Católica – AEC, solicitando que,
de acordo com o 9º Plano Pastoral da Arquidiocese de São Paulo (2004-2007)
– “Ser Igreja Missionária na Cidade de São Paulo”, concebemos diversos
ambientes sociais como verdadeiros espaços de evangelização. […] a Igreja
tem ciência de ter sido fundada por Jesus Cristo para dar continuidade à sua
64
missão, de ser a mensageira encarregada de anunciar e testemunhar a Boa-
Nova a todos os homens e mulheres que têm fome e sede da Palavra de Deus.
Dentre os nossos tantos ambientes reconhecidos como sujeitos e destinatários
de evangelização, destacamos a instituição escolar em nível de ensino
fundamental e médio, sobre tudo a de confissão católica […].
A partir do acima exposto, a Arquidiocese de São Paulo exorta todas as
escolas católicas a considerarem o seu ambiente não só uma comunidade
escolar, mas também eclesial, e a partir daí promoverem um trabalho de
evangelização integral segundo as orientações do nosso 9º Plano de Pastoral e
das diretrizes da Pastoral Educacional. Cada escola de orientação católica,
através de sua equipe competente, deve elaborar um projeto que envolva a
direção, o corpo docente, discente, funcionários e a família do educando. Que
o ensino religioso confessional seja incorporado no programa curricular.
Também sejam oferecidas a preparação catequética em vista da primeira
Eucaristia e da Crisma, celebração periódica da Santa Missa e formação cristã
para a comunidade eclesial atuante na referida instituição escolar (PROJETO
Educativo da Providência de Deus, 2005, p. 10).
2.2.7. Proposta Curricular para o Ensino Religioso do Colégio São Miguel
Eis o que o Colégio entende por ER:
Ensino Religioso: Trata-se de um ensino e, como tal, rege-se pelo estatuto de
todas as matérias e disciplinas ministradas na escola. Está condicionado pelo
projeto Político-Pedagógico da escola, pelas grandes opções de base que se
fazem no sentido da transinterdisciplinariedade. Uma escola que educa as
novas gerações em todas as suas dimensões: física, psíquica, social, política,
econômica, cultural, certamente incluirá também a dimensão religiosa […].
Todos os indicadores estatísticos revelam que as pessoas têm grande
consideração à dimensão religiosa em suas vidas. Até para entender nosso
país do ponto de vista histórico, há que ter uma visão das instituições religiosas
que estiveram e estão presentes na História do Brasil e do mundo (Impressos
de Planejamento 2007-2010, p. 5).
2.2.8. Proposta metodológica
Considerando os princípios e a proposta da educação franciscana da
Providência de Deus, podem-se indicar algumas diretrizes e orientações
didático-metodológicas. Essas diretrizes agregam contribuições de diferentes
autores e propostas educacionais, selecionados pela coerência que
65
apresentam com a proposta educacional franciscana e sua adequação à
realidade contemporânea.
• Ênfase no processo e na aprendizagem;
• Oportunidades diversificadas de situações de aprendizagem;
• Abordagem via problematização e contextualização dos conteúdos;
• Desenvolvimento da ação pedagógica focada nos objetivos conceituais,
procedimentais e atitudinais;
• Investimento na observação, na metodologia científica e na pesquisa;
• Utilização de diferentes linguagens […] e representações diversas;
• Atenção à diversidade de realidade, possibilidades e necessidades dos
educandos;
• Prioridade na qualidade da aprendizagem e do conhecimento;
• Incentivo á participação, à cooperação e ao trabalho coletivo orientado e
organizado;
• Intervenção adequada, fundamentada, qualificada, eficaz e profissional do
educador;
• Permanente acompanhamento da aprendizagem e desenvolvimento de
atividades de atendimento ás dificuldades, revisão e recuperação;
• Abordagem do erro como parte do processo de aprender, contribuindo
para sua utilização no crescimento pessoal, na superação das hipóteses e
na evolução do conhecimento;
• Orientação e estímulo ao crescimento do aluno em responsabilidade,
competência, habilidade e compromisso com sua trajetória pessoal de
aprendizagem, formação e autonomia;
• Preferência por práticas que inter-relacionam as disciplinas e enfatizem o
estreito diálogo existente entre os diferentes campos de conhecimento;
• Ênfase especial em atividades e projetos solidários e ambientais, voltados
para a intervenção social com vistas à justiça e ao bem comum.
• Afetividade, objetividade e equilíbrio nas relações;
• Abertura ao diálogo (PROJETO, p. 20-21).
2.3. Conclusão
As duas escolas que pertencem a estados diferentes e redes diferentes,
uma municipal e a outra à Rede Católica de Educação (RCE), além destas
características, trazem como foi visto, uma grande diferença quanto à sua
organização.
66
O objetivo deste capítulo, ainda que esquemático, foi o de apresentar
uma distinção, quanto possível, clara de cada uma das escolas e, assim,
compreender melhor o que tanto os professores, quanto os alunos, disseram
ao responder ao questionário a eles apresentados. Por isso, no próximo
capítulo, será apresentada a análise feita das respostas dadas por professores
e alunos, cujo objetivo era tentar perceber a possível existência da pluralidade
religiosa, a confessionalidade e a tensão entre o modelo proposto pela escola e
a prática.
Capítulo III
Dados da pesquisa
No início da pesquisa foram escolhidas duas escolas particulares de
cunho confessional religioso. Foram elas a Escola São Miguel e a Escola de
Ensino Fundamental e Médio Mackenzie. Esta última acabou sendo substituída
pela Escola Municipal de Itatiaia Ana Elisa Gregori, Estado do Rio de Janeiro.17
As escolas citadas foram escolhidas para participarem da pesquisa,
utilizando como critério a existência da prática do Ensino Religioso enquanto
disciplina integrante da grade curricular, e não como tema transversal.
3.1. Metodologia
Foram pesquisados alunos e professores do ER das duas escolas,
através da aplicação de questionários de modo estruturado e qualitativo. A
análise dos dados é quanti-qualitativa.
Os alunos que participaram da pesquisa foram os do Primeiro ano A, B e
C (72 alunos) e os do Terceiro ano A e B do ensino médio (51 alunos) da
Escola São Miguel. Na Escola Ana Elisa foram pesquisados os alunos do
oitavo ano A e B (31 alunos) e do nono ano A e B (39 alunos). A investigação
ocorreu entre 5 de setembro e 4 de outubro de 2011.
Foi aplicado também um questionário aos professores destas duas
escolas, sendo três da escola São Miguel e três da escola Ana Elisa.18 As
questões tiveram que ser modificadas.19 As questões elaboradas objetivaram
17
Depois de várias visitas à Escola Mackenzie e obtida a autorização para a pesquisa,
dada oralmente, no ato da entrega do projeto e o do documento da Comissão de Ética,
a permissão não foi oficializada, nem permitida. Esse episódio obrigou, de última hora,
a escolha de outra escola. Como não havia mais tempo hábil, recorreu-se àquela que
convidou o pesquisador para fazer a pesquisa, a Escola Municipal de Itatiaia do Estado
do Rio de Janeiro.
18 A Escola São Miguel tem três professores que atuam na área do Ensino Religioso.
Apesar de todos terem recebido o questionário, o terceiro respondeu, mas não
entregou. Já na Escola Ana Elisa, são três, que responderam e entregaram.
19 A primeira vez que se solicitou a permissão para a pesquisa na Escola São Miguel, na
qual o pesquisador trabalhava como educador, aquela não foi permitida. Somente após
proporcionar que os professores envolvidos na pesquisa apresentassem,
primeiramente, a área de formação em nível de graduação e pós-graduação,
bem como procuraram verificar se o modelo proposto (a escola Municipal não
tinha uma proposta oficial) pela escola correspondia à prática, e a reação dos
alunos diante dos temas apresentados pelos professores.
A formação dos professores da escola Ana Elisa, em nível de
graduação, é a seguinte: o professor da escola municipal não especificou a sua
formação, respondendo apenas que possui pós-graduação. As outras duas
professoras escreveram ter curso superior em Pedagogia, Orientação
Educacional e Supervisão Escolar, e somente uma declarou ter feito pós-
graduação em Ciências da Religião. A outra, além do acima citado, possui
curso em Pedagogia: Orientação Educacional.
Dos professores da Escola São Miguel, um possui Graduação em
Filosofia e História e Pós-Graduação em Ensino Religioso, e o outro tem
Licenciatura em Pedagogia e história e pós em Ensino Religioso. Os
professores pesquisados atuam com Ensino Religioso.
Já em relação aos alunos, a pesquisa nas escolas constou de um
questionário de quatro perguntas, com o objetivo de tentar detectar uma
possível pluralidade religiosa presente nessas escolas. Buscava-se responder
às seguintes perguntas: qual seria o modelo e a prática do ER quanto ao
conceito de Confessionalidade, segundo o entendimento das duas escolas,
expressa nas suas ementas20 da Disciplina do ER? A prática corresponde ao
modelo? Quais dos modelos citados por Passos estão presentes nessas
escolas, segundo as respostas dos alunos? Existe algum tipo de tensão ou
conflito nos alunos nesta disciplina?
terem sido reduzidas e modificadas as questões é que houve a permissão. Sendo
assim, as perguntas não puderam ser tão diretas. O mesmo questionário usado no
Colégio São Miguel foi usado também na Escola Ana Elisa. As questões foram abertas.
20 Não foi encontrada, na Escola Municipal Ana Elisa, a ementa sobre o ER nos
documentos pesquisados.
3.2. Um público plural religioso nas duas escolas21
Para poder ter presente qual o tipo de público religioso que as duas
escolas têm diante de si, percebeu-se a necessidade de verificar quais eram as
denominações religiosas presentes, a fim de verificar a multiplicidade religiosa
nessas duas escolas. Por isso, neste segundo item, serão apresentados os
resultados colhidos nas pesquisas de campo feitas nas duas escolas.
3.2.1. A presença deste público plural religioso na Escola Ana Elisa
A multiplicidade religiosa nas duas escolas foi comprovada pela
pesquisa, apontando que, na escola municipal Ana Elisa, nas turmas
pesquisadas, a maioria é protestante, com várias ramificações.
Abaixo, são apresentados alguns gráficos dos resultados das pesquisas
obtidos nas duas escolas, começando com os alunos do 8º A e B e 9º A e B do
Colégio Municipal Ana Elisa.
QUADRO 1 – Total de alunos pesquisados na Escola Ana Elisa (RJ)
Total Alunos 8º RJ 39
Total Alunos 9º RJ 31
Total Alunos RJ 70
As denominações religiosas no quadro e nos gráficos correspondem às
respostas dadas pelos alunos. Como não é o objetivo deste trabalho estudar as
diferentes denominações religiosas presentes nesta escola e para não correr o
risco de falsas classificações, para a investigação bastou o que os alunos
responderam. Ver o quadro e o gráfico da 8º A e do 8º B:
21
Quanto à questão do pluralismo religioso, para aprofundar veja Panasiewicz (2007) e
Sanchez (2005).
QUADRO 2 – As religiões presentes na 8ª série
8ª série
Religião Porcentagem
Crente 2,78%
Cristã 4,76%
Sim 4,76%
Não 16,27%
Católico 35,32%
Protestante 36,11%
GRÁFICO 1 – Porcentagem das religiões nas 8ª série
Nas séries do 9º A e do 9º B se verificou, com base nos questionários, a
presença maior do grupo protestante. Veja o quadro e o gráfico:
2,78% 4,76%4,76%
16,27%
35,32%
36,11%
8º série Porcentagem
Crente
Cristã
sim
Não
Católico
Protestante
QUADRO 3 – Religiões presente na 9ª série
9º ano
Religião Porcentagem
Sim 2,78%
Não 11,11%
Católico 22,65%
Protestante 63,46%
GRÁFICO 2 – Porcentagem das religiões nas 9ª séries
GRÁFICO 3 – Distribuição geral por religião
2,78%
11,11%
22,65%
63,46%
9º série Porcentagem
Sim
Não
Catolico
Protestante
1,39%2,38% 3,77%
13,69%
28,98%
49,79%
Geral Porcentagem
Crente
Cristã
sim
Não
Católico
Protestante
QUADRO 4 – Porcentagem geral por religião
A denominação “Protestante” não foi uma interpretação da pesquisa,
mas sim o que os alunos responderam sem especificar o nome de sua religião.
É digna de nota a presença maior do grupo protestante, já que a pesquisa
partia do princípio de que os católicos poderiam ser a maioria. Como não é o
objetivo da pesquisa buscar a razão dessa forte presença, entende-se que o
feito até agora responde a um dos objetivos, que é perceber a multiplicidade
religiosa na Escola Ana Elisa.
O SIM significa os que não especificaram a qual religião pertencem, e o
NÃO são aqueles que responderam não ter nenhuma religião.
3.2.2. A presença deste público plural religioso na Escola São Miguel
Em seguida, serão analisados os dados quanto às religiões presentes
na Escola São Miguel. A pesquisa foi feita em duas séries, os primeiros anos A,
B e C, e os terceiros anos A e B do ensino médio.
Geral
Religião Porcentagem
Crente 1,39%
Cristã 2,38%
Sim 3,77%
Não 13,69%
Católico 28,98%
Protestante 49,79%
QUADRO 5 – Total de alunos pesquisados na Escola São Miguel
Total de alunos 1º ano SP 72
Total de alunos 3º ano SP 51
Total de alunos SP 123
QUADRO 6 – Religiões presentes no 1º ano
1º anos
Religião Porcentagem
Deísta 1,23%
Muçulmano 1,23%
Cristianismo 2,62%
Católico e Espírita 4,56%
Não 6,88%
Protestante 9,81%
Espírita 12,99%
Católico 60,67%
Verificando o quadro acima, nota-se que a multiplicidade nesta série,
apesar de ser uma escola confessional católica, é bem maior do que a
pesquisada na escola municipal. Ainda sim, a presença católica é maior.
GRÁFICO 4 – Porcentagem das religiões nos 1º anos
A presença católica é confirmada também no terceiro ano, mas a soma
de outras confissões presentes e daqueles que se declararam não possuir
nenhuma religião é maior do que a presença católica. Chama a atenção o
número bem expressivo, em uma sala apenas, daqueles que não possuem
religião. Veja o quadro e o gráfico abaixo.
QUADRO 7 – Religiões presentes nos 3º anos
3º Anos
Religião Porcentagem
Islamismo 1,85%
Espírita 8,10%
Católico e Espírita 8,33%
Protestante 13,66%
Não 19,91%
Católico 47,69%
1,23%1,23% 2,62%
4,56%
6,88%
9,81%
12,99%
60,67%
1º Anos Porcentagem
Deísta
Muçulmano
Cristianismo
Católico e Espírita
Não
Protestante
Espírita
Católico
GRÁFICO 5 – Porcentagem das religiões nos 3º anos
QUADRO 8 – Porcentagem geral das religiões
Geral
Religião Porcentagem
Deísta 0,62%
Muçulmano 0,62%
Islamismo 0,93%
Cristianismo 1,31%
Católico e Espírita 6,45%
Espírita 10,54%
Protestante 11,73%
Não 13,39%
Católico 54,18%
Chamou a atenção também na pesquisa, como mostram os resultados
acima, um número considerável, em duas salas de aulas, de alunos que
afirmaram não possuir religião. Essa constatação levantou a dúvida: como
apresentar o ER, como área de conhecimento, cuja finalidade, segundo o
1,85%
8,10%8,33%
13,66%
19,91%
47,69%
3º Anos Porcentagem
Islamismo
Espírita
Católico e Espírita
Protestante
Não
Católico
projeto da escola, é evangelizadora, “tornar Jesus Cristo conhecido, amado e
seguido” (PPFPD, p. 15) a um grupo tão diversificado? Essa observação pode
ajudar a entender a razão dos conflitos mais adiante.
GRÁFICO 6 – Porcentagem da distribuição geral das religiões
A presença diversificada das religiões no Colégio São Miguel, que é uma
instituição religiosa católica, confirmou o dado objetivado pela pesquisa, que é
a realidade da pluralidade religiosa do público também numa escola
confessional.
A pesquisa feita entre os alunos e professores, além de buscar a
presença da multiplicidade religiosa, tinha como meta, ainda, tentar responder
às perguntas sobre a coerência entre o modelo de ER proposto pela escola e a
sua prática, bem como verificar as possíveis tensões entre professores e
alunos no ER.
3.3. Verificando os conflitos principalmente no Ensino
Religioso
Na tentativa de encontrar possíveis conflitos ou tensões por parte dos
professores que lecionam o ER nas duas escolas, depois de tomada a devida
cautela já explicada, dentro das perguntas do questionário, duas delas
ajudaram neste objetivo: qual era a participação dos professores de outras
matérias na abordagem dos temas transversais e quais foram os problemas
que eles encontram (se encontraram) lecionando a matéria do ER.
0,62% 0,62% 0,93% 1,31%
6,45%
10,54%
11,73%
13,39%
54,18%
Geral Porcentagem
Deísta
Muçulmano
Islamismo
Cristianismo
Católico e Espírita
Espírita
Protestante
Não
Católico
3.3.1. Parecer dos professores
As perguntas22 feitas aos professores para detectar uma possível tensão
sobre as dificuldades encontradas no ER foram: “Já se deparou com alguma
dificuldade nas aulas de Ensino Religioso?” e “O que os alunos mais gostam de
falar nas aulas?”.
Os professores da Escola Ana Elisa responderam o seguinte.
O professor Y, quanto à dificuldade, respondeu:
Sim, falta ao aluno refletir sobre a importância de redescobrir valores
autênticos.
A professora A aponta para a falta de apoio:
Sim. Falta de apoio, material, rejeição e descrédito.
A resposta da professora B corrobora a resposta da professora A,
trazendo a falta de cooperação da equipe pedagógica:
Sim. Falta de apoio e envolvimento da equipe pedagógica.
A falta de um Projeto Político-Pedagógico (PPP) e a falta de apoio da
parte da equipe pedagógica, por exemplo, apontada pelas professoras, talvez,
sejam as causas dos conflitos e até da falta de desinteresse por parte dos
alunos, o que será visto mais adiante pelas respostas que estes deram no
questionário.
A professora A ainda acrescenta uma falta de colaboração por parte dos
professores de outras matérias no trabalho conjunto com os alunos, quando lhe
é pedido para trabalhar com eles a questão da importância da formação de
valores. Perguntada sobre qual é a colaboração dos outros professores, ela
assim respondeu:
Muito pouco. Quase não se interessam. Quando o fazem, sempre com
cobranças e/ou reclamações. Acham que é serviço de Orientação Educacional
e ou da Professora de Ensino Religioso.
22
O questionário dos professores passou pelo mesmo processo do questionário feito aos
alunos.
O mesmo percebe a professora B, que acrescenta haver nos
professores apenas a preocupação em cumprir o seu plano de aulas e aprovar
os alunos:
Infelizmente, a maioria se vê envolvida em uma vida corrida, e sua
preocupação maior é conseguir passar o conteúdo programático e se esforçar
para que os educandos tenham rendimentos satisfatórios, deixando para que o
SOE ou o professor de ER se preocupem com este tema.
Trazer para a discussão a questão dos valores no ER é um dos
objetivos do ER no entender da Secretaria Municipal de Educação de Itatiaia. É
o que se lê no Anexo VII das Diretrizes do Ensino Religioso, item quatro:
4) O Ensino Religioso possibilita uma reflexão diretamente ligada à vida e que
vai refletir no comportamento, no sentido que orienta a vida e a ética dos
estudantes. Trata-se de uma educação para a cidadania e socialização de
valores humanos fundamentais de convivência no âmbito da escola, da família
e da sociedade.
No artigo 7º do capítulo primeiro das Disposições Gerais publicada pela
Secretaria de Educação de Itatiaia, a ideia da transversalidade esta
contemplada como um modo de trabalhar os componentes curriculares da
escola:
Art. 7º - A transversalidade constitui uma das maneiras de trabalhar os
componentes curriculares, as áreas de conhecimento e os temas sociais em
uma perspectiva integrada, conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais
Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resoluções
CNE/CEB nº 4/2010 e CNE/ CEB nº 7/2010).
A falta de interesse em trabalhar alguns temas transversais, reclamados
pelos professores de ER, pode ser uma das causas do enfraquecimento da
disciplina diante da avaliação dos alunos. Em outras palavras, se os alunos
percebem a não colaboração dos outros professores com esta disciplina, isto
pode causar desinteresse e conflito. Esta afirmação poderá ser vista mais
adiante, quando forem analisadas as respostas dos alunos.
Quanto aos professores da Escola São Miguel, perguntados se já
haviam encontrado algum problema na aula de ER, o professor A, que tem 19
aulas semanais, respondeu: “Sim, a escola não tem claro o caminho que
deseja para essa área de conhecimento”. À mesma pergunta, o professor B,
responsável por oito aulas semanais, respondeu:
Sim.
– A falta de valorização da própria instituição.
– O desinteresse por parte de alguns alunos.
– A confusão sobre qual seria o papel deste componente curricular na grade.
A resposta do professor A encontra eco com o terceiro item do professor
B, isto é, a falta de clareza por parte da escola sobre qual é a finalidade dessa
disciplina. E estes dados revelam a necessidade de os professores, por si
mesmos, buscarem uma identidade do ER para nortear o seu trabalho.
O fato de os dois professores terem uma especialização em Ciências da
Religião permite que tenham uma linha mais próxima das Ciências da
Religião,23 quando, na prática, lecionam a matéria.
E, assim, tendo como base as afirmações dos professores vistas acima
e mais ainda uma das observações do professor B, que escreveu haver “falta
de valorização da própria instituição”, conclui-se que a proposta da escola
quanto ao ER, vista no segundo capítulo, como um instrumento mantenedor da
formação permanente dos alunos difere da prática. Em outras palavras,
embora a escola apresente uma proposta de ER, na prática, segundo os
professores, não a valoriza e, como afirma o professor B dessa escola, a
mesma tem uma “confusão de qual seria o papel deste componente curricular
na grade”.
Os professores do ER, por possuírem uma formação acadêmica mais
próxima das Ciências da Religião, e que na prática diferem do modelo proposto
pela escola, que é confessional católico e cuja meta é um ensino
evangelizador, utilizam mais o que aprenderam na sua especialização do que
aquilo que a escola propõe: um é o modelo, que se assemelha ao catequético,
e outro é a prática, pelos professores, que se assemelha ao modelo das
Ciências da Religião.
Apesar do que se escreveu sobre uma possível prática por parte desses
professores mais próxima do ER segundo o modelo das Ciências da Religião,
23
Essa conclusão só foi possível porque o pesquisador conviveu e conheceu o trabalho
desses professores durante um ano e sete meses, tempo em que lá trabalhou.
por causa da formação que eles têm, em algumas respostas dos alunos se
notou a presença de possíveis temas que ora revelam um ER mais
catequético, ora um ER segundo o modelo das Ciências da Religião. Por
exemplo, ao serem questionados sobre qual foi o tema que mais lhes agradou
nas aulas, alguns responderam o seguinte:
O tema que mais me agradou foi Santa Clara de Assis; conhecemos tudo sobre
ela (aluno 1º ano A)
O tema sobre a semana santa (aluno 1º ano B)
Quanto ao modelo das Ciências da Religião, um aluno do terceiro ano B
escreve o seguinte:
O que me agrada é a diversificação de uma para outra. Mesmo eu não
acreditando, acho no mínimo curioso. Isso me chama a atenção nas aulas.
No próximo item serão analisadas as respostas dos alunos, que
ajudarão a entender um pouco mais a situação do ER nas duas escolas em
questão.
3.3.2. Parecer dos alunos
Como já foi explicado acima em relação à mudança do teor das
perguntas dirigidas aos alunos no questionário, as questões com as quais se
entendeu alcançar o objetivo da pesquisa foram sobre a religião de cada um, o
papel do ER na diminuição da violência e os temas que mais lhes agradaram
nas aulas. Desta última, a pesquisa esperou também detectar a presença ou
não dos modelos de ER apresentados por Passos no primeiro capítulo.
A seguir, no intuito de precisar melhor os dados, serão postos também
alguns quadros e gráficos que sistematizam o trabalho empreendido na
pesquisa e os seus resultados sobre algumas tensões detectadas.
3.3.3. A presença de conflito(s) no Ensino Religioso da Escola São Miguel
Uma das questões postas na problemática desta pesquisa é sobre os
conflitos que possam existir nas aulas do ER nessas duas escolas. Na escola
São Miguel, por exemplo, os alunos, perguntados se o ER poderia ajudar a
diminuir a violência na sociedade, responderam:
Não, porque os alunos não levam a sério as aulas do Ensino Religioso (aluno
A)
Sinceramente, não. Porque nos dias atuais, principalmente os jovens, não
ligam para essas aulas e simplesmente a veem como uma “aula vaga”, mesmo
que seu propósito seja fazer com que as pessoas pensem em seus atos e não
pratiquem violência (aluno B).
Parece que a resposta dada pelo professor B acima, de que não há
apoio da escola no tocante ao ER, é sentida pelos alunos, corroborada na
seguinte resposta dada por um aluno do primeiro ano do ensino médio:
Não, porque não é ensinado o necessário; as aulas não têm nada a ver com
religião e nem a própria escola dá importância ao ER.
Alunos do terceiro ano A e B apontam o fato de os estudantes não
darem valor ao ER como causa de sua ineficácia. Ao serem perguntados sobre
se o ensino religioso desempenha algum papel no combate à violência,
responderam:
Não totalmente, porque muitas pessoas menosprezam o Ensino religioso e não
prestam atenção ao sentido dessa aula. E também depende do psicológico
dessa pessoa (Terceiro A).
Acho que não, porque infelizmente poucas pessoas levam a sério essa aula
(Terceiro B).
A desvalorização das aulas por parte dos alunos como apontada acima
pelo aluno e pelo professor B, e também pela escola, parece demonstrar uma
tensão pela sobrevivência do ER nessa escola. Comparando os dados, como
está indicado no gráfico abaixo, nota-se que o conflito escondido atrás de
respostas como essas totaliza 36,95%. É um número considerável, visto que
foram pesquisados alunos que estão já há algum tempo nesta escola, e que
em sua maioria já tinha na sua grade curricular a disciplina de ER desde o
Ensino Fundamental I e II e agora no Ensino Médio.
47,40%
23,50%
29,10%
1º Anos_Problemática
1-Coerência Ementa
2-Conflito
Vazias
41,90%
13,31%
44,79%
3º Anos_Problemática
1-Coerência Ementa
2-Conflito
Vazias
Geral
Problemática Porcentagem
1. Coerência Ementa 44,65%
2. Conflito 18,41%
Vazias 36,95%
3.3.4. Coerência entre modelo e prática
Detectar se havia coerência entre o modelo proposto pela escola e a
prática do ER foi também um dos objetivos do questionário feito aos alunos. O
quadro e o gráfico referentes à relação entre o modelo e a prática são os
mesmos citados acima.
Na página quinze de um documento24 enviado pela Escola São Miguel
com o título: A Pastoral e o Ensino Religioso na Educação Franciscana da
Providência de Deus, o ER é apontado como meio para alcançar o objetivo
evangelizador da escola: “Uma abordagem evangelizadora que explicite o
anúncio de Jesus Cristo e de Seu Evangelho no componente curricular
especialmente apropriado para tal: as aulas de ensino religioso”. Essa
afirmação parece ser mais próxima do modelo catequético, que mais uma vez
aparece esclarecido quando o documento ressalta o objetivo do trabalho
educativo da escola: tornar Jesus mais conhecido:
A importância e a abrangência das ações no âmbito pastoral – geral, específico
e curricular, com a profundidade e a especificidade que demandam – passam a
24
Além de alguns documentos pesquisados como o projeto da Pastoral da Educação da
Instituição de 2007-2010, foi solicitada da Escola uma cópia do PPP. A Escola só
enviou seis páginas, que tratam do ER na Instituição, mas sem referir a origem e o ano
do documento do qual foram tiradas essas páginas. A pergunta sobre a origem e o ano
dessas páginas não obteve nenhuma resposta.
44,65%
18,41%
36,95%
Geral SP_Problemática
1-Coerência Ementa
2-Conflito
Vazias
compor este Projeto num documento próprio: o Projeto Pastoral Franciscano da
Providência de Deus. Nele, a Pastoral e o Ensino Religioso são
detalhadamente apresentados direcionando e complementando toda uma ação
educativa, única e integrada, voltada para a sua razão maior: tornar Jesus
Cristo conhecido, amado e seguido (PPFPD, p. 15).
Apesar das afirmações dadas pelos professores e alunos, nas quais
afirmam por parte dos professores a “confusão” que a escola tem em relação
ao ER e a falta de interesse dos alunos, o gráfico abaixo revelou a coerência
com o modelo. Isso aparece nas respostas dadas pelos alunos, quando
perguntados sobre qual o tema que mais lhes havia agradado:
O tema que mais me agradou foi o trabalho sobre Santa Clara, pois eu já
conhecia a história e fazer um trabalho me ajudou a conhecê-la melhor (Aluno
primeiro A).
O tema sobre a semana Santa (Aluno primeiro B).
Outro critério usado para analisar a coerência com o Modelo ou Ementa
foi a presença de afirmações que trazem a importância do respeito para com as
diferenças, que pode ser lida no item número quatro, página dezesseis, sobre
os pressupostos e os eixos norteadores da educação franciscana, de que o
educador dever ter “postura de abertura com ênfase em diálogo, acolhida,
respeito e inclusão, da parte de educadores e educando”, o que justifica
algumas respostas dadas pelos alunos quando perguntados se o ER pode
colaborar para o alcance da paz na sociedade:
Sim, porque o ensino religioso nos ensina a lidar com as diferenças e nos
mostra que todos são diferentes, porém, podemos conviver em paz (Aluno
Primeiro A).
Sim, pois ajuda na interação entre as pessoas e a igualdade (Aluno Primeiro
C).
Sim, pois o contato com diversas religiões mostra que, mesmo de formas
diferentes, o objetivo da humanidade, ou pelo menos da maioria, é a paz, a
verdade interior (Aluno Terceiro B).
De modo que, os conflitos percebidos por respostas semelhantes
citadas acima não é de responsabilidade da não coerência com a ementa, já
que esta aparece bem positiva, comparando os dados do gráfico acima.
A pergunta nova que surge, mas que não será respondida aqui, é: se,
segundo o depoimento dos professores de ER dessa escola, ela não tem claro
o que é o ER e não dá apoio, como é que se mostrou, na pesquisa, uma
coerência com a ementa?
3.3.5. A presença de conflito(s) no ER da Escola Ana Elisa
A seguir serão analisados os mesmos tópicos na escola Ana Elisa, quais
sejam: possíveis conflitos e coerência entre o modelo e a prática do ER.
Na ocasião em que foi realizada a pesquisa na escola Ana Elisa, não
estava disponível nenhum documento oficial nem da escola e nem da
Secretaria Municipal da Educação no qual se pudesse nortear a investigação
com mais precisão. Só bem recentemente, a partir de 2 de março 2012, é que
foi possível ter acesso a uma publicação do edital da Secretaria de Educação
do Município de Itatiaia. Por isso, como pode ser visto no gráfico abaixo, não foi
possível obter um resultado em relação à coerência com a ementa.
À pergunta sobre a importância do ER na implantação da paz na
sociedade, os alunos da escola Ana Elisa, oitavo ano A e B e nono A e B,
responderam:
Não, porque ninguém presta atenção nas aulas (oitavo A).
Não, porque tem pessoas que nem ligam para a aula dela (oitavo B).
Não. Porque pra mim não muda nada, porque muitos não estudam mais ou não
assistem às aulas de Ensino Religioso e os que assistem continuam fazendo
as mesmas coisas (oitavo B).
Não. Porque não serve para nada (nono B).
O conceito negativo a respeito do ensino religioso que alguns alunos
expressam nas suas respostas parece ser um demonstrativo de que há uma
tensão na aceitação dessa disciplina.
Os gráficos abaixo, apesar do número de alunos pesquisados,
demonstram, na parte denominada vazia, que muitos não quiseram ou não
souberam responder. E foi um grande número.
0,00%
13,49%
86,51%
8ª Série_Problemática
1-Coerência Ementa
2-Conflito
Vazias
0,00%
24,04%
75,96%
9ª Série_Problemática
1-Coerência Ementa
2-Conflito
Vazias
Geral
Problemática Porcentagem
1. Coerência Ementa 0,00%
2. Conflito 18,77%
Vazias 81,23%
3.3.6. Coerência entre o modelo e a prática do ER na Escola Ana Elisa
No tocante à Escola Ana Elisa, não foi possível observar a coerência
entre o modelo e a prática do ER, porque a escola, no ato da pesquisa, não
possuía nenhum documento do qual se pudessem extrair dados para a
investigação e com isso fazer a comparação. Só mais tarde, tendo já realizado
a pesquisa de campo, no dia 2 de março de 2012, é que foi publicado um
edital, na Imprensa Oficial do Município de Itatiaia, da Secretaria da Educação
do Município, o qual traz o texto da nova redação na Resolução SME / nº
04/2010 de 1o de dezembro de 2010, em que o ER é contemplado. Até o
momento a escola não tem o PPP.
Essa realidade observada acima pode ser a causa de algumas
declarações bem negativas por parte dos professores e principalmente por
parte dos alunos, já apontadas, por exemplo, no item sobre os conflitos.
O que ajuda a entender por quais caminhos andava o ER na Escola Ana
Elisa são as respostas dos professores dadas no questionário.
O professor de Ensino Religioso, respondendo se é importante ensinar
valores, aponta o seguinte:
Sim, os alunos deverão reconhecer que a dignidade do ser humano, capaz de
amar o semelhante e a Deus só é preservada quando em sua vida prevalece
um saudável equilíbrio entre os diversos tipos de valores.
Já a professora A usa a expressão indicando que os alunos chegam à
sala de aula “sedentos de parâmetros sociais”. A sua resposta, na integra, é
essa:
É de suma importância, pois a educação é ampla e nossos alunos têm
chegado à sala de aula sedentos de parâmetros sociais que possam lhes servir
como base para a convivência com o outro, mesmo aqueles que possuem
comportamentos inadequados ao ambiente escolar. Valerá sempre! Pois, se
não for por este caminho, o que nos restará para o futuro?
Para a professora B, “formar seres humanos melhores” parece ser o
objetivo do ER. Eis que ela escreveu:
Está ficando cada vez mais difícil falar sobre valores, mas ainda acredito que é
preciso, e se faz cada vez mais necessário, vale a pena sim; aliás, creio que só
através deste caminho conseguiremos atingir nossos objetivos (formar seres
humanos melhores).
As respostas dadas pelos professores da escola Ana Elisa revelam uma
preocupação em formar bons cidadãos, o que também pode ser considerado
como uma das metas do ER, entendido pela Secretaria Municipal da Educação
de Itatiaia, segundo as Disposições Gerais de dois de março de 2012 do artigo
12:
§ 1º O Ensino Religioso possibilita uma reflexão diretamente ligada à vida e
que vai se refletir no comportamento, no sentido que orienta a vida e a ética.
Trata-se de uma educação para a cidadania e a socialização de valores
humanos fundamentais no âmbito da escola, da família e da sociedade.
Como foi mencionado acima, as respostas dos professores dão uma
ideia de como era (ou é) entendido o ER nessa escola. Porém, não permitiram
alcançar o objetivo da pesquisa, que é a comparação do modelo proposto,
segundo o PPP, e a prática do ER.
O próximo passo procurou observar de qual dos modelos apresentados
por Passos, tratados no capítulo I, o modelo das escolas mais se aproximam.
3.4. Qual modelo?
Os modelos usados como chave de leitura na análise das respostas dos
alunos das duas escolas foram aqueles apresentados no capítulo I deste
trabalho, seguindo Passos: o modelo catequético, o modelo teológico e o
modelo das Ciências da Religião. Por isso, será posto um quadro que resume
as principais características destes modelos, para trazer a lume a identificação
de cada um (PASSOS, 2007, p. 59, 63 e 66).
MODELO CATEQUÉTICO TEOLÓGICO DAS CIÊNCIAS DA
RELIGIÃO
Cosmovisão unirreligiosa plurirreligiosa transreligiosa
Contexto Político Aliança Igreja-
Estado
Sociedade
secularizada
Sociedade secularizada
Fonte Conteúdos
doutrinários
Antropologia, teologia
do pluralismo
Ciências da Religião
Método doutrinação indução indução
Afinidade Escola tradicional Escola nova Epistemologia atual
Objetivo Expansão das
Igrejas
Formação religiosa dos
cidadãos
Educação do cidadão
Responsabilidade Confissões
religiosas
Confissões religiosas Comunidade científica e
do Estado
Riscos Proselitismo e
intolerância
Catequese disfarçada Neutralidade cientifica
3.4.1. Qual o modelo da Escola São Miguel?
Como é possível observar, a grande maioria não respondeu às
perguntas que tratam da importância do ER como meio para ajudar na
diminuição da violência e qual foi o tema que mais lhe agradou nas aulas de
ER. Ainda sim, dentro das respostas obtidas, prevaleceram temas que, no
entender da pesquisa, correspondem ao modelo das Ciências da Religião nas
séries da Escola São Miguel. Vejam-se, por exemplo, as respostas dadas
quanto à importância do ER na diminuição da violência e os temas mais
apreciados pelos alunos nas aulas de ER:
Sinceramente não. Porque nos dias atuais, principalmente os jovens não ligam
para essas aulas e simplesmente as veem como uma “aula vaga”, mesmo que
seu propósito seja fazer com que as pessoas pensem em seus atos e não
pratiquem violência (aluno primeiro A).
Muçulmano, saber a tradição (aluno primeiro A).
Sim, porque com isso os adolescentes são encaminhados para o caminho do
bem (aluno primeiro B).
O tema que mais me agradou foi a aula que tivemos de teatro de outra escola
que falava sobre discriminação e preconceito (aluno primeiro B).
Sim, pois esta aula ajuda muito as pessoas em vários sentidos positivos, o
homem na questão da cidadania (aluno primeiro C).
Sim, ajuda a conscientizar as pessoas, mostra as consequências da violência e
mostra outros caminhos (aluno terceiro A).
Debates sobre conflitos entre as religiões e aprender a aceitar todas ela (aluno
terceiro B).25
Os alunos parecem ter consciência, segundo as suas respostas, de que
o ER ajuda na formação do cidadão, na conscientização pela paz, no respeito
pela diversidade. Enfim, qualidades que formam para a cidadania, que é o
objetivo (vide quadro acima dos modelos) do modelo das Ciências da Religião,
e a Transreligiosidade, revelando uma visão além de uma só religião.
25
Para maiores informações, ver as planilhas com as respostas em anexo.
22,10%
5,96%
13,00%58,94%
1º Anos_Modelos
Ciência Religião
Teológico
Catequético
Vazias
27,43%
1,04%
1,04%70,49%
3º Anos_Modelos
Ciências Religião
Teológico
Catequético
Vazias
24,77%
3,50%7,02%64,71%
Geral SP_Modelos
Ciências Religião
Teológico
Catequético
Vazias
3.4.2. Qual o modelo da Escola Ana Elisa?
Pelos problemas já explicados acima a respeito do PPP dessa escola, a
falta de apoio da escola e de outros professores, nos gráficos e no quadro
abaixo, é possível perceber uma escassez de respostas e uma variação,
segundo os números, da presença dos modelos. Por exemplo, no oitavo ano, a
diferença entre o modelo das Ciências da Religião e o modelo teológico é de
apenas 0,79%, o que mostra uma oscilação entre os temas, por exemplo,
vistos nas respostas do oitavo ano B:
Consequências da fé em nossa vida (aluno I)
Sobre a fé (aluno II)
Tema: fé, amor e compreensão (aluno III).
Segundo o quadro esquemático dos modelos citado acima, essas
respostas remetem para o objetivo do modelo teológico, que preza pela
formação religiosa dos cidadãos e corre o risco de uma catequese disfarçada.
Essa última afirmação encontra eco nas respostas dos alunos do oitavo B, que
apontaram o tema Natal como o que mais lhes agradou. Porém, os dados são
muito precários para fazer uma afirmação mais contundente.
Modelos Porcentagens
Ciências da Religião 24,77%
Teológico 3,50%
Catequético 7,02%
Vazias 64,71%
Para classificar a presença do modelo das Ciências da Religião nas
aulas de ER na escola Ana Elisa, foram levadas em conta respostas como, por
exemplo, a respeito da influência do ER na diminuição da violência:
Sim, pois cada dia de ensino religioso a gente aprende uma moral da vida, e
assim, respeitamos mais as pessoas (aluno oitavo B).
E quanto ao tema:
O que falava sobre respeitar as religiões de outras pessoas (aluno nono A).
Sobre as religiões católicas, cristãs e protestantes (aluno nono A).
Os diferentes costumes e rituais do mundo (aluno nono B).
8,73%7,94%
2,78%
80,56%
8ª Anos_Modelos
Ciências Religião
Teológico
Catequético
Vazias
22,33%1,39%
1,39%
74,89%
9ª Série_Modelos
Ciências Religião
Teológico
Catequético
Vazias
Modelos Porcentagem
Ciências da Religião 15,53%
Teológico 4,66%
Catequético 2,08%
Vazias 77,72%
Esses dados colhidos revelam o resultado da falta de estrutura
encontrada a respeito do ER nesta escola, porque, se não há clareza por parte
da direção, se não há um Projeto Político Pedagógico em relação a essa
disciplina e uma formação dos professores para essa disciplina, a soma parece
ser o que se verificou na pesquisa: professores se esforçando para cumprir a
sua função e alunos sem saber qual é o significado dessa matéria.
Apesar disso, como se verificou na pesquisa, os temas tratados se
aproximaram de algum modelo, neste caso, o teológico e o das Ciências da
Religião.
95
Considerações finais
A presente dissertação teve como objetivo, segundo as suas três
hipóteses, verificar se:
a) A aplicação do ERC das duas escolas é incoerente com o modelo que
propõem. Isso não pode ser verificado na escola municipal Ana Elisa, ou seja,
comparar modelo e prática, já que não havia um modelo proposto pela escola,
mas somente uma prática realizada pelos professores, que não tinham um
modelo a seguir. O modelo do Colégio São Miguel, por ser uma instituição
confessional, como foi demonstrado na sua ementa do ER, era de caráter
evangelizador. Quanto à prática, ela teve alguns dados que revelavam uma
presença, ainda que pequena, desse caráter. Mas, como visto acima nos gráficos,
a prática demonstrou uma incoerência, já que o modelo das Ciências da Religião
foi o detectado.
b) Existem possíveis tensões e contradições provocadas pela incoerência
entre o modelo e a prática do ERC das duas escolas. As tensões detectadas na
escola Ana Elisa se deram nem tanto pela incoerência entre modelo e prática,
porque não havia modelo proposto, mas mais por não ter modelo a seguir. No
Colégio São Miguel se observou que as tensões foram provocadas não só pela
incoerência entre o modelo proposto e a prática, mas, como atestou o testemunho
dos professores, pela falta de clareza de qual é o papel dessa matéria, percebida
pelos alunos e pela falta de apoio, apontado pelos professores.
c) Há teorias que podem ajudar numa melhor abordagem do ERC diante
do pluralismo religioso. A pesquisa mostrou que nas duas escolas há uma grande
pluralidade religiosa. Essa realidade deve ser levada em consideração dentro de
uma “pluralidade cultural da sociedade” (SENA, 2006) sobre a qual o ER se
movimenta. Sena defende a necessidade de uma formação específica para o
profissional dessa disciplina que o habilite e o torne qualificado para lecionar essa
matéria:
Tendo presentes essas questões, verifica-se na atualidade que os cursos de
licenciatura em Ensino Religioso e Ciências da Religião têm uma grande
contribuição a dar no sentido de formar profissionais para essa área de
conhecimento, uma vez que analisam e pesquisam o campo religioso dentro de
96
sua complexidade a partir de um olhar e abordagens de cunho inter e
transdisciplinar (SENA, 2006, p. 91-92).
Por que insistir que as Ciências da Religião pode ser uma resposta para
um ER à altura da situação atual do público escolar em pleno século XXI?
A pesquisa, para responder a essa pergunta, que também surgiu da
investigação feita nas duas escolas, São Miguel e Ana Elisa, concorda com o que
escreve Soares:
Propor a Ciência da Religião como base epistemológica e, portanto, como área de
conhecimento pertinente ao Ensino Religioso, é a melhor maneira de corresponder
ao “valor teórico, social, político e pedagógico do estudo da religião para a
formação do cidadão” (PASSOS, Ensino Religioso, p. 76). Só assim se consegue
desembaralhar, na teoria e na sala de aula, a confusão entre educação da
religiosidade e educação do cidadão. A essa última cabe, graças a uma adequada
formação docente em Ciência da Religião, não a tarefa de aperfeiçoar a
religiosidade, mas antes de aprimorar a cidadania e a humanização do estudante,
também por meio do conhecimento da religiosidade e dos valores preservados
pelas tradições religiosas (SOARES, 2010, p. 126).
O livro Ensino Religioso, aspectos legal curricular (JUNQUEIRA; CORRÊA;
HOLANDA) traz uma pesquisa que mostra a compreensão jurídica sobre o ER no
contexto das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, na
qual se verificam os diferentes modos de entendimento a respeito do ER. Como
chegar a um conceito inequívoco sobre o ER, de modo que o que se aplica no
Norte se aplique no Sul, e o que se aplica no Centro-Oeste se aplique também no
Sudeste?
A atual pesquisa trouxe um dado que não foi objetivado, mas que mostrou
uma possível causa do fracasso do ER nas duas escolas: a falta de uma definição
do que é o ER, seu objetivo, sua estrutura.
A quem cabe definir qual é a identidade do ER para o século XXI? O que
impede que a proposta de um ER que procura se fundamentar
epistemologicamente, segundo a característica das Ciências da Religião, seja
aceito no âmbito nacional da educação?
A esta última pergunta, pode ser que caiba aqui uma possível hipótese,
cuja formulação seria esta: existem guardiães da “verdade” em prontidão, que
97
procuram usar o ER como oportunidade de falar sobre Deus, esquecendo que a
palavra Deus é um discurso polissêmico que não pode sequer ser analógico,
como escreve o filósofo e teólogo Raimon Panikkar:
O discurso sobre Deus tem, constitutivamente, muitos sentidos e não pode existir
um primum analogatum, posto que não pode haver uma metacultura a partir da
qual se faça o discurso. Há muitos conceitos de Deus, mas nenhum deles o
“concebe”. Um superconceito ou um denominador comum conceitual não
resolveria o problema, porque eliminaria da cena precisamente as divergências
mais ricas e fecundas e converteria Deus em uma abstração. Deus não é uma
formalidade (PANIKKAR, 2007, p. 43).
O acordo1 entre o Vaticano e o Brasil sobre a questão do ER, cujo texto a
Religião Católica aparece por primeiro, suscitou muitas polêmicas. Portanto, de
qual Deus se deve falar nas aulas do Ensino Religioso?
1 (VIGORANDO DESDE O DECRETO Nº 7.107 DE 2010, DO PRESIDENTE DA
REPÚBLICA, SR. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, RELATIVO AO ESTATUTO JURÍDICO
DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL PUBLICADO NO DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, EM
12-02-2010)
Art. 11 - A República Federativa do Brasil, em observância ao direito de liberdade
religiosa, da diversidade cultural e da pluralidade confessional do País, respeita a
importância do ensino religioso em vista da formação integral da pessoa.
§ 1º - O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula
facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, assegurando o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em
conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de
discriminação (http://www.cnbb.org.br/ensinoreligioso/acordossbrasil.php).
98
Índice de gráficos e quadros
QUADRO 1 – Total de alunos pesquisados na Escola Ana Elisa (RJ) ....... 69
QUADRO 2 – As religiões presentes na 8ª série .......................................... 70
GRÁFICO 1 – Porcentagem das religiões nas 8ª série ................................ 70
QUADRO 3 – Religiões presente na 9ª série ................................................ 71
GRÁFICO 2 – Porcentagem das religiões nas 9ª séries .............................. 71
GRÁFICO 3 – Distribuição geral por religião ............................................... 71
QUADRO 4 – Porcentagem geral por religião .............................................. 72
QUADRO 5 – Total de alunos pesquisados na Escola São Miguel ............ 73
QUADRO 6 – Religiões presentes no 1º ano ................................................ 73
GRÁFICO 4 – Porcentagem das religiões nos 1º anos ................................ 74
QUADRO 7 – Religiões presentes nos 3º anos ............................................ 74
GRÁFICO 5 – Porcentagem das religiões nos 3º anos ................................ 75
QUADRO 8 – Porcentagem geral das religiões ............................................ 75
GRÁFICO 6 – Porcentagem da distribuição geral das religiões ................. 76
99
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100
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http://ciberteologia.paulinas.org.br/ciberteologia/index.php/artigos/dialogo-e-ensino-religioso/
http://ciberteologia.paulinas.org.br/ciberteologia/index.php/artigos/o-ensino-religioso-em-face-do-projeto-politico-pedagogico
http://ciberteologia.paulinas.org.br/ciberteologia/index.php/notas/personagens-negras-e-brancas-em-livros-didaticos-de-ensino-religioso/
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http://www.presidencia.gov.br/legislacao/ - Projeto "O caráter educativo da laicidade do Estado para a esfera pública" (UMESP/USP/MPD/FAPESP)
http://www.revistacontemporanea.fe.ufrj.br/index.php/contemporanea/article/view/18 Autonomização do campo educacional: efeitos do e no ensino religioso: Luiz Antônio Cunha
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Quando o Estado pede socorro à religião: Ana Maria Cavaliere.
http://www.revistacontemporanea.fe.ufrj.br/index.php/contemporanea/article/view/21 [O Ensino Religioso na educação Infantil de duas Escolas Públicas do Município do Rio de Janeiro: o que as práticas revelam? Jordanna Castelo Branco, Patrícia Corsino
http://www.revistacontemporanea.fe.ufrj.br/index.php/contemporanea/article/view/22 Ensino Religioso no desenvolvimento integral da pessoa Judith Sucupira da Costa Lins.
http://www.revistacontemporanea.fe.ufrj.br/index.php/contemporanea/article/view/23: Ainda o Ensino Religioso em Escolas Públicas: subsídios para a elaboração de memória sobre o tema: Roseli Fischmann,
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782004000300012&lang=pt O dilema epistemológico do ensino religioso
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102
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SOARES, Afonso Maria Ligorio: O poder teológico da literatura: http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=10093&cod_canal=41 http://www.fplf.org.br/fplf_franca.asp (LEONEL FRANCA)
103
Anexos
Colégio Franciscano São Miguel Arcanjo
1º Ano A
Sexo Idade
Você tem
alguma
religião? Se
sim, cite-a,
por favor?
Como você pratica sua
religião?
O ER pode ajudar a
diminuir a violência?
Qual foi o tema que
mais agradou você
nas aulas de ER?
F 15 Católica
Vou à missa, porém não
com tanta frequência
Não, porque os alunos
não levam a sério as aulas
de ER
O trabalho sobre Santa
Clara de Assis
M 15 Católica
Não pratico com
frequência
Sim, pois mostra como as
pessoas devem se
relacionar em cada lugar Santa Clara de Assis
F 15 Católica
Frequento a igreja e
pratico minha religião em
casa com meus familiares
Não, pois religião e
violência não se misturam Simbologia
F 15 Católica
Eu pratico aplicando os
ensinamentos de paz e
amor no dia a dia. Vou à
missa todos os domingos
Sinceramente, não.
Porque, nos dias atuais,
principalmente os jovens,
não ligam para essas
aulas e simplesmente as
veem como uma "aula
vaga", mesmo que seu
propósito seja fazer com
que as pessoas pensem
em seus atos e não
pratiquem a violência
O tema que mais me
agradou foi o trabalho
sobre Santa Clara, pois
eu já conhecia a história
e fazer um trabalho só
me ajudou a conhecê-la
melhor
F 15 Católica
Eu não frequento
nenhuma igreja, mas
sempre procuro fazer
algum trabalho
comunitário
Depende do que for
ensinado em sala de aula,
se apenas a questão da
religião for levantada, não
sei, mas se todo o tipo de
assunto for abordado,
levantando o respeito pela
opinião alheia
O que mais me agradou
foi quando crianças de
uma creche vieram em
nome do trabalho de
Santa Clara
F 15 Católica
Vou à igreja nos domingos
e rezo todas as noites
antes de dormir
Sim, porque o ER nos
ensina a lidar com as
diferenças e nos mostra
que todos somos
diferentes, porém
podemos conviver em paz
O tema que mais me
agradou foi conhecer
mais Santa Clara, onde
fizemos um trabalho
104
F 16 Católica
Indo à igreja, fazendo
Crisma, catequese etc.
Sim, pois mostra como
lidar com as pessoas, e
ver um mundo melhor
São Francisco - Santa
Clara de Assis
M 15 Católica Não frequento nada
Não, pois há muitas
religiões que matam e
roubam
O tema que mais me
agradou foi o tema de
vitrais
F 14 Católica
Rezo todo dia, mas não
vou muito à igreja
Acho que não, pois
mesmo tendo ER acho
que não mudaria a mente
de quem é ruim
Foi o tema dos símbolos
religiosos
M 15 Católica
Vou à missa todo domingo
e tento viver o que meu
Deus pede
Não, pois o ensino, na
minha opinião, vem de
dentro da família; se há
violência na família, o filho
também será violento
O estudo sobre a vida
de Santa Clara
F 16 Católica
Aos domingos eu vou à
igreja
Acho que sim, com o que
você aprende na escola,
você passa para o mundo
de fora Não lembro
M 15 Católica
Eu não frequento
constantemente; apenas
de vez em quando
Sim, pois o ER faz com
que as pessoas reflitam
mais antes de praticar
qualquer violência
O tema que mais me
agradou foi a
construção do poste da
paz em nossa escola
M 16 Católica
Não pratico muito,
somente rezo
Em alguns casos, sim; em
outros não, pois cada um
tem um pensamento
Curiosidade sobre
outras religiões, práticas
M 14 Católica
Apenas tenho fé, mas não
pratico
Sim, para conscientizar as
pessoas
Não lembro do que eu
mais gostei
M 15 Católica Não pratico
Não, porque a violência
depende das pessoas e
de suas atitudes, não da
religião A paz
M 15 Católica Não pratico
Talvez, porque nós somos
predestinados a pregar a
violência Nenhum
M 17 Católica
Quando estava fazendo
crisma, eu frequentava;
agora não vou muito
Eu acho que não, porque
isso vai muito da pessoa;
as coisas só vão mudar se
ela querer Não lembro de nenhum
105
F 15 Cristianismo Faço orações, vou à igreja
Sim, porque conscientiza
os alunos e mostra que
violência não leva a
nenhum lugar
Muçulmano, saber a
tradição
M 15 Deísta Não pratico
Não, porque há muitos
religiosos que são ladrões
e pessoas não religiosas
que são honestas São Francisco
M 15 Espírita
Eu pratico minha religião
indo ao centro espírita e
aos domingos leio o
evangelho com minha
família
Sim, pois as pessoas
entenderiam melhor o
mundo e saberiam que
cada coisa que acontece
na vida teve um motivo
divino
A aula que mais me
agradou foi a do poste
da paz
F 15 Espírita
Eu frequento um centro
espírita chamado
Perseverança, onde eu
rezo e aprendo sobre
Deus e Jesus
Sim, eu acho, porque
aprendendo sobre Jesus
nas escolas as pessoas
refletem, tendo um
pensamentos melhor,
fazendo assim a violência
diminuir
O tema que mais me
agradou foi a
construção de um vitral
F 15 Muçulmana
Bom, eu rezo toda noite,
frequento apenas festas
na mesquita (mas não
cumpro o que a religião
pede)
Depende, porque depende
da pessoa, pois às vezes
a pessoa tem algo contra
uma religião, e a aula
pode ou não ajudar a essa
pessoa
Foi quando o professor
falou de fazermos vitrais
M 15 Não
Não, pois religião não se
mistura com violência Simbologia
F 15 Não
Não frequento nenhuma
religião
Não, porque não é
ensinado o necessário; as
aulas não tem nada a ver
com religião e nem a
própria escola dá
importância ao ER
O tema que mais me
agradou foi Santa Clara
de Assis, pois
conhecemos tudo sobre
ela
M 15 Não Não pratico
Acho que não, pois às
vezes tem brigas por
causa das religiões Nenhuma aula
106
F 15 Protestante Indo a igreja
Sim, pois ensina a
respeitar o próximo e
diminuir a intolerância O tema do poste da Paz
M 15 Protestante Não frequento, mas creio
Pode ajudar, porque o ER
na escola fala sobre Deus,
paz, tudo o que é contra a
violência
O tema em que o
professor disse sobre
abrigos, onde ficam as
crianças carentes
107
Colégio Franciscano São Miguel Arcanjo
1º ano B
Sexo Idade
Você tem
alguma
religião?
Se sim,
cite-a, por
favor?
Como você pratica sua
religião?
O ER ajuda a diminuir
violência?
Qual foi o tema que
mais agradou você
nas aulas de ER?
F 14 Católica
Quase todos os domingos
vou à Igreja, procuro rezar
e agradecer a Deus todas
as noites
Sim, porque os alunos
podem ver que Deus está
presente neles, que a
violência não leva a nada
A aula em que falamos
do Tsuru
M 15 Católica
Eu geralmente procuro
frequentar a igreja da
minha religião e dizer a
frase: “o Senhor é meu
Pastor e nada me faltará”,
todo dia antes de sair de
casa
Sim, porque tudo o que a
religião nos ensina está
relacionado à paz e ao
bem da humanidade
Os temas da campanha
da fraternidade
M 16 Católica
Não, raramente vou à
igreja
Sim, pois transmite uma
mensagem de paz
O tema que mais me
agradou foi a aula que
tivemos de teatro de
outra escola que falava
sobre discriminação e
preconceito
Hem. 15 Católica Apenas rezo à noite
Não, pois a mentalidade
de um aluno não vem
apenas da escola; é em
casa que ele constrói o
seu caráter Nenhum
M 14 Católica
Em casa rezo antes de
dormir
Sim, porque com isso os
adolescentes são
encaminhados para o
caminho do bem Tsuru
M 15 Católica Pratico em casa
Sim, porque a religião diz
que não se deve praticar a
violência, e as aulas sobre
isso podem clarear a
mente do aluno e fazer
com que ele não mais
pratique a violência Tsuru
F 16 Católica Não pratico
Talvez, nem todo mundo é
de chegar em casa e ficar
pensando nisso. Na hora
da briga, ninguém pensa
Acho que todos. Não
tive problemas com
nenhum
108
nas consequências
F 15 Católica Frequento algumas vezes
Por um lado ajuda; por
outro lado, não. Apesar de
estar influenciando as
pessoas do que é certo,
ninguém tem como fazer
alguém não cometer
violência
O tema que mais me
agradou foi sobre a
natureza
F 15 Católica
Frequento a Igreja, mas
não sempre, muito pouco
Sim, porque as aulas de
ER podem conscientizar
as pessoas
O que mais me agradou
foi a ideia do Poste da
Paz
M 15 Católica
Sim, frequento a igreja
todos os domingos
Sim, acho, pois as aulas
retratam uma igualdade e
ideias que restringem a
violência O poste da Paz
F 15 Católica
Não vou à igreja, mas
tenho fé, faço orações e
pratico o bem sempre
Acho que em primeiro
lugar a pessoa que pratica
violência tem que ter
consciência do que faz,
para depois querer ajuda.
Mas acho que o ER pode
orientar, e ajudar a
combater isso
Eu gosto de quando
envolvem problemas do
dia a dia em aulas,
quando falamos sobre o
bem ao próximo
F 15
Católica e
espírita
Vou à igreja, porém não
todos os domingos; ajudo
ao próximo, visito centros
espíritas
Sim, porque talvez os
adolescentes possam
encontrar um caminho em
Deus. Uma opção sem ser
a violência
O estudo de Francisco e
Clara de Assis
F 15
Católica e
espírita
Eu pratico minha religião
indo à igreja, frequentando
a missa e indo ao centro
espírita
Sim, pois sabendo sobre a
religião muitas vezes as
pessoas podem se tornar
melhores Santa Clara de Assis
F 14 Espírita
Às terças ocorrem
reuniões em minha casa
para familiares e
convidados, onde falamos
um pouco sobre o
evangelho segundo o
espiritismo
Não, porque a violência
vai da cabeça de cada
um, isso vai de pessoa
para pessoa
Sobre o espiritismo e
sobre a diversidade das
religiões
F 15 Espírita
Sim, vou pelo menos uma
vez por semana ao centro
espírita
Sim, pois o ER mostra a
sociedade em que
vivemos
O tema que mais me
agrada é quando
falamos sobre creches e
109
crianças carentes
M 14 Espírita
Eu pratico todos os
domingos em casa
Não, porque o mundo hoje
é mais perigoso,
independente de ajuda ou
não [em branco]
M 15 Espírita
Frequento um centro
espírita
Não, já que mesmo com
as aulas de ER há
violência nas escolas Não lembro
M 14 Não Não pratico
Não, pois ninguém dá
valor à aula de ER
Não me interesso por
essa aula
M 16 Não
Acredito numa força,
porém não tenho uma
religião definida. Já
frequentei Igreja Católica,
evangélica e centro
espírita
Creio que não, pois a
violência está presente em
várias formas, durante o
dia todo, e apenas uma
aula por semana não
basta
Já houve mais de um
tema
M 15 Protestante
Frequento todos os
domingos
Sim, mas o aluno tem que
incentivar a paz
O tema que mais me
agradou foi quando os
alunos de uma
congregação vieram
para nosso colégio fazer
uma palestra
F 14 Protestante
Aos domingos eu vou à
igreja de manhã aprender
sobre a Bíblia e a noite eu
vou ao culto
Sim, porque saber sobre
Deus, e principalmente
sobre Jesus, já nos dá
uma paz interna. É
sempre bom saber como
nos comportar. ER é
preciso na nossa vida
O tema sobre a semana
Santa
110
Colégio Franciscano São Miguel Arcanjo
1º ano C
Sexo Idade
Você tem
alguma
religião? Se
sim, cite-a, por
favor?
Como você pratica sua
religião?
O ER pode ajudar a
diminuir violência?
Qual foi o tema que
mais agradou você
nas aulas de ER?
M 15 Católica
Vou à igreja, às vezes,
uma vez por mês, mas
vou frequentemente à
Igreja de Nossa Senhora
Aparecida lá na cidade
deles
Sim, porque explica sobre
a paz, o que pode
amenizar a violência A igualdade
M 15 Católica
Eu na verdade não pratico
muito, mas a minha
família inteira é católica
Acho que sim, mas do
mesmo jeito vai continuar
a violência, porque
depende se a pessoa
realmente acredita ou não As religiões dos alunos
F 15 Católica
Frequento a igreja uma
vez por semana e oro
todos os dias
Sim, porque aprendemos
a respeitar a diferença
entre nossos semelhantes
Os diferentes modos
que as religiões veem
um determinado
assunto
M 15 Católica
Sim, eu frequento a igreja
aos domingos, participo
do grupo de jovens Anjos
de Deus
Sim, porque nem todas as
escolas apresentam essa
matéria. O ER escolar traz
temas às vezes não
encontrados dentro de
casa ou até mesmo por
não frequentar a igreja Nada
F 15 Católica
Vou à igreja sempre que
possível, participo do
grupo de jovens
Certamente, o ER pode
modificar algumas coisas
e pessoas, mas não
consegue atingir todos,
afinal há pessoas que não
praticam nenhuma religião
Quando o professor
discutiu com a sala
sobre as religiões
diferentes
M 14 Católica
Eu pratico a minha religião
rezando todos os dias
antes de dormir e indo à
igreja aos domingos
Em partes, pois as
pessoas que praticam a
violência dificilmente
mudam de opinião
O tema que mais me
agradou foi a
diversidade religiosa
F 15 Católica
Vou à igreja toda semana
e rezo\oro
Apenas alguma pessoa ou
outra, porque a maioria
das pessoas hoje são
idiotas e influenciáveis por
coisas bestas [em branco]
111
F 16 Católica Vou para igreja, rezo
Isso vai depender de cada
pessoa, pois na aula de
religião não falamos só de
violência e com isso às
vezes não mudamos a
opinião de ninguém
O tema da Campanha
da fraternidade
M 16 Católica
Não tenho o costume de
praticar
Sim, pois esta aula ajuda
muito as pessoas em
vários sentidos positivos,
o homem na questão de
cidadania O poste da paz
F 14 Católica
Em casa e às vezes vou à
igreja Acredito que sim
Gostei de conhecer
mais sobre a vida de
São Francisco
F 15 Católica Não pratico
Não, porque eu acho que
a aula de ER nas escolas
é inútil, pois muitas
pessoas não concordam e
são obrigadas a assistir às
aulas, e elas não ajudam
nada na questão da
violência Nenhum
F 15 Católica
Apenas rezando, porém
sem frequentar igrejas
Não, porque a consciência
é de cada pessoa, nada
que alguém falar vai
interferir, se a pessoa não
quiser
O tema da Campanha
da fraternidade
F 15 Católica Sim, vou à igreja
Sim, se a pessoa que está
estudando pratica o que
se aprende O tema sobre a Paz
M 15 Católica
Eu pratico a minha religião
indo à igreja e também
rezando
Sim, porque com a religião
as pessoas sabem o que
é certo e o que é errado
para Deus, e, se ela
acredita em Deus, ela não
vai ir contra ele
Como as pessoas
creem em Deus, os
modos de crer
F 15 Católica
Não frequento, mas creio
em imagens
Não, nem todos os alunos
praticam a mesma religião
O debate sobre outras
religiões
112
F 16 Católica
Fiz catequese e crisma,
mas frequento muito
pouco a igreja
Pode ajudar, mas não vai
ser a solução, pois não é
todo mundo que tem
acesso ou vontade de
aprender, ou receba a
educação em casa
O tema que mais me
agradou foi quando
falamos sobre diferentes
religiões e que devemos
respeitá-las, mesmo
tendo diferentes
costumes e diferentes
jeitos de crer em algo
M 14 Cristã
Obedeço a algumas
"regras" apenas
Não, porque ninguém
presta atenção às aulas Não me recordo
F 15 Espírita
Não pratico regularmente
a minha religião Não
Não lembro, não prestei
atenção
M 15 Espírita Eu não a pratico muito
Não. Porque mesmo que
sejam passadas
informações na aula, as
pessoas geralmente as
ignoram Filosofia sobre o homem
M 15 Espírita Não sou muito praticante
Sim, pois ajuda na
interação entre as
pessoas e a igualdade Igualdade
F 14
Espírita e
católica
Eu frequento uma casa
espírita toda quarta-feira e
vou algumas vezes
(poucas) à igreja
Sim, pois a aula de
religião ajuda a
respeitarmos uns aos
outros
O tema que mais me
agradou foi fazer um
trabalho de Clara de
Assis
M 15 Protestante Indo às reuniões
Não, porque não há um
interesse dos alunos na
matéria. Acho que a
educação é uma coisa
que a família tem que dar
Não existe um tema que
me agrada mais, pois
tudo se liga na matéria e
na vida
F 15 Protestante
Com orações, lendo a
Bíblia, frequentando a
Congregação Cristã do
Brasil
Não, porque a maioria dos
alunos não leva essa
questão a sério
A generalização
independente de religião
ao abordar o tema sobre
quem é Deus
M 14 Protestante Vou todos os domingos à
igreja
Sim, pode ajudar, pois nas
aulas de religião você
aprende que a violência
só gera violência, aprende
a ser uma pessoa melhor
e quer ajudar o próximo
O tema sobre a Paz
113
Colégio Franciscano São Miguel Arcanjo
3ºB
Sexo Idade
Você tem
alguma
religião? Se
sim, cite-a, por
favor?
Como você pratica sua
religião?
O ER pode ajudar a
diminuir a violência?
Qual foi o tema que
mais agradou você
nas aulas de ER?
F 17 Católica
Frequento a Igreja
Católica
Sim, pode ajudar a
diminuir a violência,
tratando de temas que
levem o aluno a
pensamentos bons e de
paz O tema "paz"
F 16 Católica
Agora, para ser sincera,
não frequento muito a
Igreja Católica
Não totalmente, porque
muitas pessoas
menosprezam o ER e não
prestam atenção ao
sentido dessa aula. E
também depende do
psicológico dessa pessoa
O tema que mais me
agradou foi quando
falamos do ataque às
torres gêmeas do dia 11
de setembro
M 18 Católica
Não frequento a igreja,
mas costumo orar
Talvez. Mas uma matéria
melhor poderia ser
psicologia, por averiguar
problemas mentais e
tendências criminais Origem da vida
F 17 Católica
Indo à igreja aos
domingos, fazendo
orações, tentando propor
a paz, ajudando
Sim, as pessoas devem
ser alertadas da violência,
e eu acho que de uma
certa forma o ER exerce
esse papel
O tema abordado em
aula que mais me
agradou foi
solidariedade
M 17 Católica
Somente indo à missa
raramente
Não, isso varia de pessoa
para pessoa
A diversidade das
religiões
M 16 Católica Vou à missa raramente
Não, depende muito da
pessoa e da situação que
ela vai encontrar no
mundo fora da escola
O desenvolvimento do
homem
F 16
Católica e
espírita
Católico, não muito, mas
frequento o centro espírita
uma vez por semana
Acho que sim, pois é uma
forma de os adolescentes
estarem por dentro do que
acontece e saber
diferenciar o certo do
errado
O documentário do
WTC e o tema agora
abordado: a paz!
114
F 17
Católica e
espírita
Frequento algumas vezes
a igreja e outras vezes o
centro espírita
Não, pois muitas pessoas
que são violentas
possuem uma religião e
mesmo assim não deixam
a violência de lado
Os debates sobre os
conflitos entre as
religiões
M 17
Católica e
espírita
Com orações
frequentemente, mas não
frequento a igreja e nem o
centro espírita
Não, pois não é o ER que
vai mudar isto e sim o
interesse nas outras
matérias O tema sobre a Paz
M 17
Católica e
espírita
Fazendo o evangelho
(espiritismo)
Na minha opinião cada
pessoa sabe o que faz,
apesar de que isso ajuda,
mas vai de cada pessoa Tema da paz
M 17 Espírita Ocasionalmente
Sim, pois dá exemplos
para isso acontecer,
através de educadores O trabalho das religiões
F 16 Espírita
Indo ao centro espírita de
tempos em tempos
Sim, dependendo da
maturidade e da religião,
pois algumas religiões são
contra a violência
Debates sobre conflitos
entre as religiões e
aprender a aceitar todas
elas
M 17 Espírita
Frequento centro espírita
duas vezes por mês
Sim, pois abre a cabeça
dos jovens, mostrando o
que é errado e o que é
certo
O tema da paz é muito
importante para a
sociedade
M 18 Não Não pratico
Sim. Seguindo uma
determinada doutrina,
verdadeira ou não, a
ideologia da mesma pode
influenciar contra a
violência e influenciar em
outros quesitos também
positivos e negativos
Religiões do Oriente
Médio (principalmente
hierarquia)
M 19 Não
Não pratico, porque não
tenho
Pode ajudar pelo fato de a
religião causar certo temor
nas pessoas. O medo de
as pessoas contradizerem
a Deus é tamanho ao
ponto de serem alienadas
O que me agrada é a
diversificação de uma
para outra. Mesmo eu
não acreditando, acho
no mínimo curioso. Isso
me chama a atenção
nas aulas
M 17 Não Não pratico
Sim, com os
ensinamentos do
professor, adolescentes e
crianças podem mudar
seu pensamento quanto à
violência Paz mundial
115
M 17 Não
Não tenho ou pratico
qualquer religião, embora
procure conhecê-las como
elemento cultural de uma
sociedade
Sim, à medida que não se
tenha somente um ensino
doutrinário de uma
determinada religião, mas,
sim, traga aos alunos os
conceitos favoráveis à
convivência e ao bem-
estar social e individual,
próprios de cada religião
Apresentação de uma
doutrina religiosa a ser
escolhida pelos grupos
de alunos
F 16 Não
Sim, mas depende da
maturidade de quem
assiste à aula e do modo
como cada professor
prega os assuntos
O debate entre as
religiões para o
conhecimento e
aceitação de todas
F 16 Não
Eu pesquiso teorias e
tenho minha verdade
própria, não considerando
a religião por trás das
afirmações
Sim, pois o contato com
as diversas religiões
mostra que, mesmo de
formas diferentes, o
objetivo da humanidade,
ou pelo menos da maioria,
é a paz, a verdade interior
A paz sempre me
acrescenta mais
F 17 Protestante
Indo à igreja, fazendo
orações em casa e
reunindo com amigos no
grupo de oração
Depende de como as
aulas de ER abordam
esse assunto; se abordar
de uma forma que prende
a atenção do aluno, com
certeza diminuirá
O tema da ciência
versus religião
F 17 Protestante
Vou aos cultos de
domingo e frequento
cultos específicos para
adolescentes dois
sábados por mês na igreja
Comunidade da Graça;
além disso, sou auxiliar de
um grupo chamado
GCEM, onde nos
reunimos aos sábados
para aprender mais sobre
a palavra de uma maneira
mais dinâmica. Também
leio a Bíblia, oro e faço
jejum algumas vezes
Pode ajudar a partir do
momento em que o aluno
se conscientiza disso.
Acho que a violência é
algo que vem da família. A
melhor maneira de
diminuir a violência é
conscientizar não só os
alunos, mas também seus
parentes
A paz e quando falamos
sobre as diferentes
religiões
M 17 Protestante
Sim, frequento todos os
domingos, vou à igreja e
às vezes também vou no
meio da semana
Eu acredito que sim. Se
não tivermos quem inicie
uma conscientização nas
escolas, não
melhoraremos as
pessoas/alunos nunca.
Em geral as outras
religiões, pois assim
conhecemos outras
culturas e crenças
116
Acho necessárias as aulas
de ER
M 17 Protestante
Vou a cultos, mas
principalmente procuro
ficar mais próximo de
Deus
Sim, porque pode trazer
uma compreensão melhor
da visão dos outros
As religiões orientais,
seu modo de vida,
cultura etc.
M 17 Protestante Uma vez por semana na
escola bíblica
Sim, mas depende das
circunstâncias por que
cada pessoa passa
Temas sobre a origem
do homem
117
Colégio Municipal Ana Elisa Lisboa Gregori
8ª A
Sexo Idade
Você tem
alguma
religião? Se
sim, cite-a, por
favor?
Como você pratica sua
religião?
O ER pode ajudar a
diminuir a violência?
Qual foi o tema que
mais agradou você
nas aulas de ER?
M 16 Não Mais ou menos
Sim, para quem presta
atenção Não sei
M 14 Católica Frequentemente
Não, porque ninguém
presta atenção às aulas Sexualidade
M 13 Católica
De vez em quando vou à
igreja. Faço minhas
orações de vez em
quando; vejo a missa pela
televisão
Um pouco. Às vezes não
ajuda, porque as pessoas
são muito más. Às vezes
as pessoas têm salvação
As diversas fés no
mundo
M 18 Católica
Frequento e canto no
coral
Porque tem muitas
violências aí nesta cidade
A professora explicando
coisa de Deus
F 15 Católica Indo à igreja
Sim, mas pode ensinar a
não haver violência
Quando ela nos ensina
os valores da religião
M 16 Católica Indo à igreja e rezando
Sim, porque a professora
ensina a gente a obedecer
e respeitar as pessoas e
tirar as pessoas da
violência
As diversas fés no
mundo
F 15 Católica Não frequento
Sim, porque ela conversa
com a gente sobre a
violência no mundo de
hoje
Consequências da fé
em nossa vida
F 15 Católica
Frequentando a igreja
todos os domingos
Sim, para as pessoas se
conscientizarem sobre os
atos errados que praticam O bullying
F 17 Católica
Só de vez em quando que
eu vou à igreja
Sim, ajudam muitas
pessoas a caracterizarem
e serem ajudadas O bullying
M 14 Católica De vez em quando
Nós aprendemos muitas
coisas contra violência Todas
118
M 16 Cristã Com bastante frequência
Sim, porque o ER
passaria mais
tranquilidade para os
alunos
O respeito pelas outras
religiões
F 13 Cristã
Pratico frequentando
sempre a igreja; cantar
Sim, porque ele explica
que a violência gera
violência e com violência
não se vai a lugar nenhum Bullying
F 13 Protestante
Eu vou aos cultos todos
os dias (quarta, sexta e
domingo) e participo de
grupos de jovens
Sim, porque ela ensina
que às vezes pode-se sim
diminuir a violência
As várias fé do mundo
(diversas religiões)
F 14 Protestante
Eu vou aos cultos todos
os dias (terça, sexta e
domingo)
Sim. Porque ela ensina e
às vezes pode diminuir a
falta de respeito e a
violência
Quando ela nos ensina
os valores das igrejas
F 15 Protestante
Sim vou à igreja sempre
que posso
Sim, porque tem várias
pessoas que escutam os
conselhos dados na aula
de ER. Nem todos
escutam, mas a maioria
sim
Sempre ajudar e amar o
próximo
F 13 Protestante
Eu vou à igreja uma vez
por semana
Sim, porque o ER ensina
o que é certo Bullying
M 14 Protestante Indo à igreja
Não, porque os jovens
estão muito safados O parque de Itatiaia
M 13 Protestante Praticando
Não, o ER diminui um
pouco, mas a escola
aumenta Parque Nacional
F 18 Protestante
Dias de 3ª, 4ª, 6 e
domingo. Cantar, orar,
louvar e dançar
Mais ou menos, porque a
fé é individual
Todos; não tem um que
não deixou de me
agradar
M 14 Sim Frequentemente
Não, porque muitas
pessoas não prestam
muita atenção Sexo e sobre a violência
119
M 17 Sim
Não pratico, pois já faz
anos que eu não
frequento
Sim, porque explica o que
se pode ou não fazer Todas as aulas
120
[aqui
Colégio Ana Elisa Lisboa Gregori
8ª B
Sexo Idade
Você tem
alguma
religião? Se
sim, cite-a, por
favor?
Como você pratica sua
religião?
O ER pode ajudar a
diminuir violência?
Qual foi o tema que
mais agradou você
nas aulas de ER?
F 13 Católica Nem sempre eu participo
Não ajuda muito, na
minha opinião, porque
muitos adolescentes
param de estudar
Consequência da fé em
nossa vida
M 13 Católica Às vezes
Não, porque tem pessoas
que nem ligam para a aula
dela Sobre a fé
F 17 Católica Eu vou à missa
Sim, porque as escolas
também podem ajudar,
mas tem pessoa que é
violenta na escola, em
casa, na rua ou em
qualquer outro lugar;
então podemos ser
ajudados em casa e
também na escola
Tema: fé, amor e
compreensão
F 15 Católica
Não frequento muito. Vou
mais aos sábados à
missa. Comecei a ir em
julho de 2011
Sim, porque ouvimos
muitas coisas boas.
Aprendemos, mas
algumas pessoas não
querem saber o que a
violência faz com nós
mesmas. Praticando
violência não ganhamos
nada
Bullying. Aprender a
amar o próximo. O
quanto nossa família é
importante
F 14 Católica Só às vezes
Sim, as professoras falam
muitas coisas sobre o
bullying, para não praticar
isso O alfabeto do estudante
M 14 Crente em Deus Não
Sim, porque o ER tem
muitas coisas que ajudam
as pessoas a diminuírem
a violência
Nenhuma, porque eu
não pratico as aulas
121
F 14 Não
Eu não vou à igreja, mas
tenho fé em Deus, sinto
ele dentro de mim
Sim, porque quando nós
sabemos que temos Deus
muda totalmente o modo
de pensar e de agir Tema: fé
M 13 Não Eu não pratico
Ninguém presta atenção
na aula dela Não lembro
M 16 Não Não pratico
Não, porque ninguém liga
para aula Não lembro
M 15 Não Não participo
Sim, porque nós não
vamos ganhar nada com
isso Natal
M 15 Não Não participo
Não, porque ninguém
participa das aulas Notas
F 13 Protestante
Eu vou ao culto; às vezes,
participo de eventos. Eu
fazia parte do ministério
de dança da minha igreja
Não. Porque para mim
não muda nada, porque
muitos não estudam mais
ou não assistem à aula de
ER e os que assistem
continuam fazendo as
mesmas coisas Respeito ao próximo
F 14 Protestante
Indo à igreja sempre (sou
professora das crianças).
Levo um pouco da palavra
de Deus para os outros
Sim, porque ensinar os
alunos me ajuda a pensar
mais e aí as pessoas não
praticam a violência
“Violência gera
violência” foi o que mais
me agradou
F 15 Protestante Não, só batizada
Não, porque, se
melhorasse, esta escola
não teria muitas brigas
entre os alunos O tema foi a gratidão
M 13 Protestante Às vezes
Não, porque tem pessoas
que não prestam atenção
à aula
Nenhum, porque não
gosto de ER
F 13 Protestante
Frequento a igreja e
participo
Sim, pois cada dia de ER
a gente aprende uma
moral da vida, e assim,
respeitamos mais as
pessoas
O tema "Alfabeto do
estudante"
M 14 Protestante
Eu vou aos cultos e estou
aprendendo a tocar na
igreja
Sim, porque o ER tem
muitas coisas que ajudam
as pessoas a diminuírem
a violência
Eu ainda não participei
das aulas
122
F 15 Protestante
Vou todo domingo de
manhã ao culto de jovem
das 9:30h até as 11:00h e
de vez em quando vou
durante a semana
Sim, porque na escola tem
ajuda do professor(a) com
uma conversa, com um
filme e até mesmo uma
história de alguém nas
ruas; um conselho bom é
muito difícil de achar
O amor com a nossa
família e com os amigos
que nos querem bem
123
Colégio Ana Elisa Lisboa Gregori
9ºA
Sexo Idade
Você tem
alguma
religião? Se
sim, cite-a, por
favor?
Como você pratica sua
religião?
O ER pode ajudar a
diminuir violência?
Qual foi o tema que
mais agradou você
nas aulas de ER?
F 15 Católica
Sim, aos domingos de
manhã
Sim, porque assim vão
pensar duas vezes antes
de agredir alguém As aulas orais
F 14 Católica Não com muita frequência
Eu acho que não, porque
são 3 ou 4 alunos que
prestam atenção à aula de
religião e o resto não quer
nada
Eu gosto das aulas de
ER, mas eu gosto de
temas que envolvem fé
M 15 Católica
Indo à missa todas as
terças-feiras e aos
domingos
Sim, porque as palavras,
os textos e a ajuda da
professora tocam nas
pessoas
Sobre como nós
participamos na Igreja
F 14 Católica
Indo à igreja
semanalmente ou
mensalmente
Sim, porque falar sobre
todos os tipos de assuntos
faz com que melhoremos
mais no que a gente acha
o que é certo ou o que é
errado
Dos dias em que foi
falado que o remédio
pode ser uma droga e
no dia do meio ambiente
M 15 Não [em branco]
Acho que sim. O ER nas
escolas nos mostra o
mundo por um olhar
religioso, isso nos ajuda a
entender melhor outras
pessoas
O que falava sobre
respeitar a religião das
outras pessoas
M 14 Não
De vez em quando vou à
igreja evangélica aos
domingos
Sim, aliás, se todos
seguissem o caminho
certo, aí a violência
acabaria; para certas
pessoas, as coisas que
entram em um ouvido e
saem no outro
Sobre as religiões,
cristãs, católica e
protestantes
F 14 Não [em branco]
Não, porque ninguém leva
a aula a sério
Que as pessoas não
creem em tudo do
mesmo jeito
124
M 18 Não Não tenho
Não, porque é uma
palhaçada; isso (o ER)
não adianta nada
Nenhum, não gostei de
nada do que ela passou
M 15 Protestante Sim, todos os trabalhos
Sim, porque primeiro
educação vem de casa; o
ER faz com que as
pessoas meditem na falta
de educação dos alunos
na escola Sobre a família
M 14 Protestante
Indo aos cultos, batismos,
ensaios, reunião de jovens
etc.
Sim, porque o ER vai
ensinar as pessoas a se
comportarem nas
comunidades, nas casas
Como se relacionam a
fé e a política em
nossas vidas
M 15 Protestante
Sim, quase todos os
domingos e de vez em
quando nas quartas-feiras
Não, porque a professora
é chata, a matéria é um
tédio e a educação vem
de casa e não do colégio;
não quero mais ter essas
aulas
Nenhum, pois é um
tédio, e ela é ridícula e
não quero ter que
estudar essa matéria
chata e nem ver essa
professora
F 15 Protestante Indo à igreja
Sim. Porque ele orienta
muito os alunos
A redação sobre a
ecologia
F 15 Protestante
Sim, todos os sábados.
Domingos de 15 em 15
dias
Sim, mas eu acho que os
alunos deveriam respeitar
mais essa aula, porque
ela ensina valores
O tema que fala de
todas as religiões
explica cada uma, pois
aprendemos a respeitar
as ideias dos outros
F 15 Protestante
Eu vou à Igreja toda
quarta-feira, sexta-feira e
aos domingos
Sim, porque na escola
incentivamos os alunos a
melhorarem e não
fazerem coisas erradas Parque nacional
F 16 Protestante Eu vou à igreja
Não ajuda em nada,
porque o mundo continua
a mesma coisa
A redação do Parque
Nacional
M 17 Protestante
Eu vou quarta, quinta,
sexta, sábado e domingo
Não, porque ninguém leva
a sério, só alguns
O tema do Parque
Nacional
F 15 Protestante Sim, vou sempre à igreja
Sim, pois com ele
aprendemos a importância
de viver sem briga etc. Nenhum
M 15 Sim Com frequência
Não, porque tem tanta
igreja Parque
125
Colégio Ana Elisa Lisboa Gregori
9º B
Sexo Idade
Voce tem
alguma
religião? Se
sim, cite-a, por
favor?
Como você pratica sua
religião?
O ER pode ajudar a
diminuir violência?
Qual foi o tema que
mais agradou você
nas aulas de ER?
F 14 Católica
Indo aos domingos e
participando do grupo de
jovens
Talvez. Depende do tipo
de educação que essas
pessoas receberam dentro
de casa
Os diferentes tipos de
religião no mundo
M 19 Católica Eu vou aos domingos
Não, porque não serve
para nada Nenhum
M 14 Católica
Não frequento muito a
igreja, mas às vezes eu
vou à missa Não Foi sobre a natureza
F 14 Protestante
Às vezes, às sextas e
domingos
Não. Porque nem todas as
pessoas frequentam as
escolas, e as que
frequentam não prestam
atenção à aula
Os diferentes costumes
e rituais do mundo
M 17 Protestante
Indo à igreja aos
domingos Sim O parque Nacional
M 14 Protestante
Eu vou à igreja uma vez
por mês
Sim. Porque nas aulas de
ER aprendemos como
conviver de forma
harmoniosa com os outros
respeitando as diferenças Fraternidade e Gratidão
M 15 Protestante
Participo de um grupo de
adolescentes
Não, porque eles não
ligam para isso Nenhum
M 16 Protestante
Uma ou duas vezes na
semana eu vou
Sim, porque eles falam
muito da violência,
incentivando o aluno a
não praticá-la
Saber a diferença entre
elas
F 14 Protestante Às vezes e quando dá
Não. Porque nem todos
acreditam que essa aula
possa ajudar Fraternidade
F 15 Protestante
Eu vou aos cultos e
participo do grupo de
jovens
Pode diminuir a violência,
porque faz os alunos
enxergarem que a
violência não leva a nada
Aprender a respeitar as
culturas dos outros
126
e ensina a respeitar uns
aos outros
F 16 Protestante
Frequentando; canto com
o grupo de jovens, sou fiel
com os dízimos etc.
Sim, porque com o ER
eles poderão entender
que ninguém está acima
de ninguém. Todos somos
iguais
Aprender a respeitar a
cultura das outras
pessoas
F 15 Protestante
Não frequento minha
religião
Sim, porque vai falar
sobre violências, drogas,
incentivando os alunos
O tema que me agradou
foi aprender a respeitar
as culturas de outras
pessoas
M 16 Protestante
Aos domingos e aos
encontros
Não. Porque os alunos já
vem de casa mal
educados e algumas
professoras não sabem
explicar direito a
religiosidade
Foi o vídeo sobre o
parque nacional de
Itatiaia, que relata sobre
a natureza