COESAÕ REFERENCIAL

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Texto e Produção de Sentido.

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  • Texto e Produo de Sentido.

  • Enunciao: ato de produzir um enunciado, numa dada situao de interao verbal demarcada no tempo e no espao, ocorrendo sempre determinada pelos gneros do discurso. uma seqncia obediente s regras da lngua e ao acontecimento histrico que permite a emergncia do enunciado. Ela, assim, no deriva do arranjo dos elementos lingsticas em si, mas da combinao destes com o contexto de sua produo no processo de interao verbal.

  • Para interpretar um texto, no basta recorrer compreenso do que foi dito ou escrito. necessrio pr em jogo tambm um conjunto de conhecimentos prvios que nos permite compreender, para alm das unidades lingsticas, a finalidade da enunciao presente no ato enunciativo.

  • a enunciao, portanto, que produz o texto, podendo este conter ou no marcas enunciativas que facilitam o trabalho de sua compreenso.Por ser produto da enunciao e no processo, o texto acaba tendo um carter mais estvel e permanente. O discurso conhecido por sua historicidade e mobilidade.

  • Textualidade: essa propriedade chamada coesoUm texto no se reduz a um amontoado de sentenas desconexas. O que caracterizaria, ento, a textualidade? Diferentes estudiosos a tm considerado, de modo abrangente, como qualquer manifestao da competncia textual humana. Nesse caso, podemos considerar como textos um desenho de Caryb, uma escultura de Michelngelo, uma msica de Bach, um poema de Bandeira e at, entre outras possibilidades, um grafite num muro qualquer da cidade.

  • As palavras texto e discurso, assim como as demais terminologias de toda rea do conhecimento, so polissmicas, isto , podem ter mais de um significado. Num sentido mais abrangente, o texto pode ser entendido como qualquer expresso da capacidade simblica do ser humano, desde uma poesia ou conto at um desenho a nanquim ou uma escultura. O texto inclui, deste modo, os variados eventos comunicativos realizados atravs de um sistema de signos.

  • J o discurso diz respeito a um tipo de atividade verbal, oral ou escrita, que acontece em determinadas condies, abrangendo tanto os enunciados produzidos por locutor(es) e interlocutor(es) quanto o acontecimento histrico de sua enunciao. Os textos, assim, num sentido mais restrito, acabam se transformando em materializao lingstica do discurso e constituem uma unidade significativa que assume sentido completo na interao verbal.

  • A textualidade que nos interessa nesse tpico aquela que consiste na materializao do discurso oral ou escrito e que se caracteriza por ter, como propriedade bsica, uma unidade significativa. Tal unidade pode ser chamada de vrios modos diferentes: "encadeamento semntico", "teia significativa", "tessitura semntica" etc.No importa tanto o modo como o texto seja chamado, o que importa que se saiba diferenci-Io de um no-texto. Uma combinao de palavras tem de conter algumas marcas para que seja reconhecida como um texto.

  • Poderamos citar algumas delas relacionadas pela autora Fvero: contextualizao, coeso, coerncia, intencionalidade, informatividade, aceitabilidade, situacionalidade e intertextualidade. Dedicar-nos-emos, a seguir, primeiro coeso e depois coerncia.

  • A coeso textual, portanto, diz respeito ao fato de os diversos constituintes do texto estarem associados, unidos, formando um todo entendido como um texto, em relao a um no-texto. A coeso, assim definida, um dos fatores indispensveis noo de textualidade.Embora a coeso no ocorra somente entre sentenas, tecnicamente, podemos defini-Ia como "uma maneira de recuperar, em uma sentena B, um termo presente em uma sentena A".

  • Considere o trecho inicial da reportagem:Fazendo-se passar por gari, o psiclogo Fernando Braga Costa varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado sobre a lnvisibilidade pblica, Braga sentiu na pele o que ser tratado como um objeto e no como um ser humano.

  • Nenhum usurio da lngua portuguesa diria que se trata de um no-texto. Isso se deve a um elemento presente na sentena B, que faz uma ligao semntica com um termo j mencionado na sentena A - a palavra Braga, que repete parte do nome prprio do psiclogo Fernando Braga Costa.

  • Caso a palavra Braga, no entando, fosse substituda pela expresso Essa invisibilidade, o resultado seria considerado um no-texto. Porque, apesar de recuperar gramaticalmente um termo presente na sentena A, a expresso introduzida no estabelece com o restante da sentena B um nexo semntico ou lgico. Decorre da o mal-estar de um texto incoerente.

  • Fazendo-se passar por gari, o psiclogo Fernando Braga Costa varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado sobre a "invisibilidade pblica.Essa invisibilidade sentiu na pele o que ser tratado como um objeto e no como um ser humano.

  • Coeso referencialA coeso referencial realizada por certos elementos lingsticos cujo papel na lngua indicar, assinalar a referncia, ou seja, so dependentes da referncia para serem interpretados. Veja, a seguir, os elementos lingsticos que realizam a coeso referencial.

  • Os pronomes pessoais (ele, ela, ns, o, a, lhe e flexes)a) Em 1996, o psiclogo iniciara o trabalho de campo. Durante cinco anos, ele trabalhou como gari, de um a trs dias por semana no Campus da Cidade Universitria da Capital Paulista.b) Um exemplo: Enquanto pessoas da classe mdia no cumprimentam o gari por entenderem que no se trata de uma pessoa e sim de uma funo, ele tenta se proteger da violncia da invisibilidade, no respondendo a um eventual cumprimento.

  • Sem os elementos de coesoa) Em 1996, iniciara o trabalho de campo. Durante cinco anos, ele trabalhou como gari, de um a trs dias por semana no Campus da Cidade Universitria da Capital Paulista.b) Um exemplo: enquanto pessoas da classe mdia no o cumprimentam por entenderem que no se trata de uma pessoa e sim de uma funo, ele tenta se proteger da violncia da invisibilidade, no respondendo a um eventual cumprimento.

  • Os advrbios (aqui, ali, l, a)Eu vesti um uniforme que era todo vermelho, bon, camisa e tal. Chegando l eu tinha a expectativa de me apresentar como novo funcionrio, recm-contratado pela USP pra varrer rua com eles. Mas, os garis sacaram logo, entretanto nada me disseram. Existe uma coisa tpica dos garis: so pessoas vindas do Nordeste, negros ou mulatos em geral. Eu sou branqueio, mas isso talvez no seja o diferencial, porque muitos garis ali so brancos tambm.

  • Os artigos definidos o, a, os, as e suas contraes (no, na, nos, nas)Ns estvamos varrendo e, em determinado momento, comecei a papear com um dos garis. De repente, ele viu um sujeito de 35 ou 40 anos de idade, subindo a rua a p, muito bem arrumado com uma pastinha de couro na mo. O sujeito passou pela gente e no nos cumprimentou, o que comum nessas situaes. O gari, sem se referir claramente ao homem que acabara de passar, virou-se pra mim e comeou a falar...

  • Os pronomes possessivos (meu, teu, seu e flexes)a) Fazendo-se passar por gari, o psiclogo Fernando Braga Costa varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado sobre a "invisibilidade pblica .b) Braga trabalhava apenas meio perodo como gari, no recebia o salrio de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lio de sua vida: "Descobri que um simples 'bom dia; que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da prpria existncia'; explica o pesquisador.

  • Os pronomes demonstrativos (este, esse, aquele e suas flexes)a) Fernando cursava o segundo ano da faculdade e tinha uma disciplina voltada ao propsito de psiclogos desenvolverem estudos engajando-se na atividade escolhida. Esse mtodo conhecido como etnogrfico.b) Acredito que essa experincia me deixou curado da minha doena burguesa. Esses homens hoje so meus amigos.

  • d) Os garis e o psiclogo Fernando Braga Costa trabalharam juntos, varrendo as ruas da USP. Este ganhou notoriedade por sua esclarecedora pesquisa; aqueles, entretanto, continuam no anonimato.

    c) O uniforme simboliza a invisibilidade; temos de mudar isso, pois tambm se trata de uma violncia.

  • Os numerais (primeiro, segundo, ambos etc.)

    a) Com o mestrado, a pesquisa se desenvolveu em dois nveis. Primeiro, conhecer e avaliar as condies de trabalho dos garis, bem como as condies morais e psicolgicas nas quais esto inseridos na cena pblica. O segundo, analisar as aberturas e barreiras psicossociais que operam nos encontros entre o psiclogo social e os garis, ou seja, se havia aproximao e de que forma.

    b) Fernando e um gari resolveram almoar no Bandejo Central da USP. Ambos se tornaram "invisveis pelo simples fato de estarem vestidos como garis..

  • Outros recursos de coesoEsto os demais recursos de coeso, de algum modo, ligados ao que se conhece nos domnios dos estudos do texto como coeso lexical. Esse mecanismo pode aparecer no texto sob a forma de palavras ou expresses repetidas, sinnimas ou pertencentes ao mesmo campo semntico ou expresses qualificativas. bastante comum o emprego desse ltimo para acrescentar novas informaes ao texto.

  • Expresses qualificativas ou eptetos

    Uma das sadas a esta situao, destaca o pesquisador, seria num primeiro momento ter conscincia sobre a invisibilidade pblica.Se o autor da matria quisesse assumir um ponto de vista mais favorvel ao psiclogo, poderia construir uma sentena assim:Uma das sadas a esta situao, destaca o dedicado pesquisador, seria num primeiro momento ter conscincia sobre a invisibilidade pblica.

  • Repetio de uma palavra ou de expressesUm deles foi at o lato de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as Iatinhas pela metade e serviu o caf ali, na latinha suja e grudenta. (...) Eu nunca apreciei o sabor do caf. Mas, intuitivamente, senti que deveria tom-Io, e claro, no livre de sensaes ruins. Afinal, o cara tirou as Iatinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo.

  • Repetio do nome prprio ou parte deleFazendo-se passar por gari, o psiclogo Fernando Braga Costa varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado sobre a "invisibilidade pblica, Braga sentiu na pele o que ser tratado como um objeto e no como um ser humano.

  • Nominalizaes ou emprego de substantivos abstratos

    (...) enquanto pessoas da classe mdia no cumprimentam o gari por entenderem que no se trata de uma pessoa e sim de uma funo, ele tenta se proteger da violncia da invisibilidade, no respondendo a um eventual cumprimento.

  • Palavras ou expresses sinnimas ou quase sinnimasO estudioso comenta que a distino de classe social determina a ao social. (...) enquanto pessoas da classe mdia no cumprimentam o gari (...) ele tenta se proteger da violncia da invisibilidade no respondendo a um eventual cumprimento.Uma das sadas a esta situao, destaca o pesquisador, seria num primeiro momento ter conscincia sobre a invisibilidade pblica.

  • Coeso por metonmia

    Para o FMI, o governo brasileiro ser tentado a gastar mais do que o previsto para este ano, mas Braslia deve resistir s presses por gastos.

  • Coeso pela relao entre hipernimos e hipnimos aquela realizada pela relao entre palavras ou expresses de sentido mais genrico e amplo e as de sentido mais especfico e restrito.Um deles foi at o lato de lixo, pegou duas latinhas de refrigerante, cortou as latinhas pela metade e serviu o caf ali...

  • Coeso por elipse ou ausnciaTrata-se de um mecanismo de retomada por supresso de um elemento j mencionado anteriormente.Os garis so carregados na caamba da caminhonete junto com as ferramentas. como se eles fossem ferramentas tambm. Eles no deixaram eu viajar na caamba, quiseram que eu fosse na cabine. Tive de : insistir muito para poder viajar com eles na caamba. Chegando no lugar de trabalho, continuaram me tratando diferente.