Coleção Primeiro Amor 16 - Presente Do Amor - Diane Schwemm-

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1COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

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2COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

O Presente Do Amor (Don't Say Goodbye) -

Diane Schwemm

Protagonistas: Charlotte Kennedy e Jared

Colburn

Charlotte Kennedy e Jared Colburn formam um

par perfeito. Combinam em tudo e namoram há

séculos. E, no ano de formatura, tem tudo para

serem eleitos o casal mais popular da escola.

Só que não é isso que Charlotte sente. Na

verdade, ela está quase terminando o namoro

com Jared. Porém, quando cria coragem para

expor seus sentimentos, ele sofre um acidente

e fica gravemente ferido. É claro que Charlotte

não pode abandonar o namorado agora. E talvez

não o abandone nunca: depois do acidente,Jared ficou muito mais compreensivo,

carinhoso e sensível. Será que ele está

realmente mudado? Ou melhor: será que

Charlotte está se apaixonando de novo por seu

próprio namorado quando considerava tudo

perdido?

"Será que, mesmo depois de ter certeza de queseu namoro chegou ao fim, você ainda pode se

apaixonar de novo? E por seu próprio

namorado?" - Charlotte Kennedy.

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3COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

PRÓLOGOCharlotte Kennedy, de quinze anos, não estava se importando muito em ir à festada praia, mas sua melhor amiga, Madeline Howe, não conseguia pensar em outracoisa.- É a última festa das férias de verão – lembrou Maddie, enquanto as duas jogavamvôlei no quintal de Charlotte. Maddie lançou a bola sobre a rede com um saqueforte mas impreciso.Charlotte pulou para rebater a bola, fazendo voar seus cabelos loiros, que batiamna cintura.- Você não prefere ir ao cinema? – perguntou Charlotte. – Vão acontecer outras

festas depois que a escola começar. Não estamos indo para a prisão. Só vamosentrar no Ensino Médio.- Mas não vai ser mais verão – Maddie falou, estendendo a mão para tocar afolhagem espessa de uma árvore. – Logo as folhas vão começar a cair. Vãoacontecer geadas. E estaremos nos arrastando com neve até os joelhos.Charlotte soltou uma gargalhada. O ar abafado e quente do verão tocava sua pele –naquele momento, o inverno parecia algo muito distante. Mas Maddie tinha umaponta de razão.- Bem, já que você coloca as coisas dessa maneira – ela cedeu com um sorriso.- Tinha certeza de que viria comigo – falou Maddie com satisfação. – Eu sabia quevocê não perderia a última chance de ver todo o time de futebol americano da

escola Parker de sunga.Charlotte se esticou na direção da bola, mas deixou-a escapar.- Quem disse que eu estou interessada no time de futebol americano da Parker,com ou sem sunga?- Dá um tempo – debochou Maddie, puxando um cacho de seu cabelo castanhoavermelhado que pendia sobre a testa. – Todo mundo viu você secando JaredColburn na festa da piscina da Bev no fim de semana passado.- Eu não estava secando ninguém – Charlotte se defendeu, enquanto abaixava parapegar a bola no gramado. – Eu só estava... inspecionando. Além do mais, todas asgarotas ficam olhando pro Jared.

- Tudo bem, mas ele também estava lançando olhares pra você – retrucou Maddie.– Com certeza estava acontecendo uma inspeção dos dois lados.- Não estava – protestou Charlotte, com as bochechas queimando.- Estava – insistiu Maddie.

No fim da tarde, elas ainda discutiam o mesmo assunto no banco traseiro do carroda mãe de Maddie, enquanto iam de carona para a praia.- Porque Jared estaria olhando pra mim? – Charlotte perguntou para Maddie.- Ah, por favor – Maddie revirou os olhos. – Não me faça dizer isso. Você é a garotamais bonita da turma. Os caras estão sempre paquerando você. Só que você émuito tímida pra perceber.

Charlotte não respondeu. Seria mesmo possível que Jared Colburn tivesse alguminteresse nela? E se ele tivesse... e aí? Ela lançou o olhar pela janela em direção ao

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4COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

mar enquanto a senhora Howe parava o carro no estacionamento da praia. Logoalém das dunas, o Oceano Atlântico recebia a última luz do dia, lançando umreflexo prateado sob aquele céu cortado por nuvens. Havia, agora, uma brisa quecarregava o cheiro da maresia.Respirando profundamente aquele ar vindo da praia, Charlotte percebeu que seu

coração acelerava por antecipação. Ao longe, um grupo de jovens se reunia emtorno de uma churrasqueira portátil. “Será que Jared já está aqui?”, ela seperguntou.Maddie combinou com a mãe um horário para que ela viesse buscá-las, e as duasgarotas pularam para fora do carro. À medida que elas atravessavam as dunas,Charlotte retardou os passos.- Espere um pouco – disse ela.- Qual é o problema? – perguntou a amiga.- Estou nervosa – confessou Charlotte, com seu rosto bronzeado ficando rosa. – Ese... quer dizer, o que eu devo fazer se, bem, se... você sabe – ela gaguejou.Maddie abriu um sorriso, seus olhos faiscavam.

- Se Jared Colburn vier falar com você? Relaxe. E seja você mesma – aconselhou,dando um apertão de encorajamento no braço de Charlotte. – Eu tenho a sensaçãode que esta vai ser sua grande noite, Charlotte Kennedy – previu Maddie.

 “Relaxar. Ser eu mesma”, Charlotte pensou, conforme seguia Maddie em direção àpraia. Maddie fazia tudo parecer fácil demais. “Além disso”, concluiu Charlotte,

 “talvez ele nem tente conversar comigo. Quer dizer que ele sorriu umas duas vezespra mim, e daí? Ele é só um cara simpático, só isso”. Charlotte levou apenas dezsegundos para se convencer de que havia imaginado a coisa toda e de que nãoexistia a menor chance de ele estar interessado por ela. Desde a sétima série,quando Jared se mudou para Parker Point, um bairro abastado no litoral norte de

Boston, onde Charlotte morara a vida inteira, havia diversas garotas caindo por ele.Jared poderia ficar com quem quisesse. Porque escolheria justamente ela?A festa na praia já estava super animada. Dois garotos tomavam conta dachurrasqueira, havia uma tina enorme de plástico abarrotada de gelo e latinhas derefrigerante, frisbees voavam e a música alta não parava de sair das caixas de umaparelho de som. Charlotte conhecia quase todos ali. Era a galera “popular” daescola, e ela se encaixava bem entre eles, ainda que tivesse uma tendência a ficar

 junto dos mais tímidos nesse tipo de festa.Talvez isso acontecesse porque, em vez de ser uma das meninas que faziam parteda torcida organizada da escola, tinha aulas de balé cinco vezes por semana e

gostava mais de música clássica do que de rock. Poderia ser por causa de suaaparência. Alta e magra, com pernas longuíssimas, Charlotte tinha traços delicados.Tinha também uma maneira elegante de andar, típica de uma bailarina, costassempre retas, e um hábito inconsciente adquirido no balé de erguer seu queixo noar – o que fazia algumas pessoas a acharem esnobe. Poderia ser porque, aocontrário da maioria das outras meninas, incluindo Maddie, ela ainda não tinhacomeçado a namorar de verdade.- Vou pegar um hambúrguer – anunciou Maddie.

Charlotte seguiu a direção do olhar de Maddie, que estava fixo em Jeff Swanson, oalto, magro e loiro co-capitão do time de futebol americano da escola Parker. Jeff 

estava ao lado da churrasqueira, com uma lata de soda em uma das mãos e aespátula na outra.

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- Quer dizer, você vai pegar o cara que está assando os hambúrgueres – debochouCharlotte.Maddie sacudiu seus cabelos para trás, sorrindo.- Com alguma sorte, eu vou pegar o hambúrguer e o cara.Charlotte viu Maddie caminhar em direção a Jeff, invejando a confiança da amiga.

Então, avistou sua vizinha, Christine O’Hearn, ajoelhando-se perto do som evasculhando um punhado de fitas cassetes. Ela se precipitou na direção de Chrissy,mas seu caminho foi bloqueado. Um rapaz alto e atlético, com cabelos escurosondulados e olhos verdes brilhantes, havia parado exatamente à sua frente, eparecia não ter a menor intenção de sair dali. Jared Colburn.Assim que Charlotte levantou seu olhar, ele abriu um lento sorriso. Ela tentoudisfarçar, mas teve a sensação de que Jared havia percebido seus joelhos sedobrarem de nervosismo.- Charlotte Kennedy – disse Jared.Agora, Charlotte desejava que, naquele cair da noite, ele também não pudesseperceber que a temperatura do corpo dela havia aumentado uns dez graus só de

ouvi-lo pronunciar seu nome.- Exatamente a garota que eu estava procurando – continuou Jared.- Eu? – ela falou numa voz esganiçada.- É, você. Venha – ele colocou a mão no braço dela e a conduziu para outradireção. – Vamos pegar um pouco de comida e achar um lugar calmo para sentar.Charlotte não entendeu como conseguiu encher um prato de plástico sem derrubarsalada na roupa. Seu rosto ainda formigava dos pés à cabeça por causa do rápidotoque de Jared em seu braço.Antes que tivesse tempo de entender como realmente estava se sentindo, Jared alevou para longe da multidão. Eles se sentaram um ao lado do outro em umapedra, com os pratos equilibrados sobre os joelhos.- Agora podemos nos escutar enquanto conversamos- disse Jared.

- É, concordou Charlotte, constrangida.Ele soltou uma gargalhada.- Eu sou um pouco abusado, né?Ela balançou a cabeça, seus longos cabelos loiros batiam contra suas costas.- Não necessariamente – ele falou com cautela.- Você não precisa me fazer companhia se não quiser – ele garantiu. E lançou maisum daqueles sorrisos de dobrar os joelhos. – Eu só vinha pensando que, ah, euquero conhecer aquela garota melhor, então decidi aproveitar a oportunidade,

entende?Nesse momento, o rosto de Charlotte ficou tão vermelho que ele não tinha comonão perceber. Ela mal pôde resistir à idéia de encostar a latinha gelada derefrigerante em suas bochechas ultra coradas.- Bem... – falou envergonhada.Jared deu uma risada.- Desculpe. Eu não queria deixar você sem graça.Ele deu uma mordida no hambúrguer. Charlotte fez o mesmo, ainda que estivessecom tanto pânico que nem sequer conseguia mastigar e engolir.

 “Diz alguma coisa”, ela ordenava a si mesma, “antes que ele fique entediado eperca a vontade de conhecer você”.

Sua língua, porém, parecia estar amarrada. Felizmente, Jared quebrou o silêncio.- Eu ouvi que você dança – ele disse. - Balé, não é?

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- É – respondeu ela, surpresa de que ele soubesse. – Tenho aula no ConservatórioNew England, em Boston. Comecei quando tinha cinco anos.Ele assoviou.- Uau! Você deve ser muito boa.Ela balançou os braços.

- Ah, danço bem. Você joga futebol, certo?Ele concordou com a cabeça, terminando o hambúrguer e limpando seus dedosnum guardanapo.- E beisebol na primavera.- Eu amo beisebol – Charlotte soltou espontaneamente.- Mesmo? Um monte de garotas acha chato.

- Não eu – disse ela. – Meu pai me leva para os jogos dos Red Sox desde que fiqueigrande o suficiente para segurar um lápis e ajudá-lo a acompanhar o placar.- Que legal – disse Jared. – E aquele jogo semana passada contra os Yankees,hein?

Eles embarcaram numa animada conversa sobre as possibilidades de o Red Sox irbem no campeonato, o que depois se transformou numa conversa sobre música.Conforme Jared contava a Charlotte sobre suas bandas locais favoritas, ele soltavafrases como “mal posso esperar para lhe mostrar esse CD” e “tenho que levar vocêpra assistir a um show deles”. O pulso de Charlotte se acelerava, ouvindo-o falar.

 “Estou a sós com Jared Colburn”, pensou ela, sentindo uma certa vertigem, “eposso estar errada, mas acho que ele vai me convidar pra sair!” A noite havia caído. Ao longe, na praia, as brasas da churrasqueira brilhavam comoolhos vermelhos na escuridão. Alguns garotos estavam recolhendo pequenospedaços de madeira para fazer uma fogueira.- Como é que ficou tão tarde de repente? – perguntou Jared. Ele escorregou para

mais perto dela sobre a pedra. Os braços dos dois estavam se tocando agora.As horas tinham voado como minutos.- Não sei – Charlotte falou suavemente.- Eu não devia ter monopolizado você assim – Jared virou-se para poder vê-la defrente. – Seus amigos devem estar se perguntando o que aconteceu com você.Ela baixou os olhos timidamente.- Acho que eles não devem estar tão preocupados.- Charlotte.- O quê? – falou, levantando o rosto.- Você tem olhos lindos.

As bochechas dela ruborizaram.- Ah... obrigada.- E um cabelo muito bonito – falou, levantando a mão para retirar um fio queestava caído no ombro dela. – Você acha que...

Charlotte prendeu sua respiração. “Ele vai perguntar se pode me beijar!”, elaimaginou. Na verdade, ela nunca havia beijado um garoto antes, pelo menos nãona boca. O que ela deveria falar? O que ela deveria fazer?Antes que Jared pudesse terminar sua frase, a magia do momento foi quebrada.- Desculpem por estar interrompendo vocês – Maddie falou de uma certa distância -, mas minha mãe chegou, Char.

Charlotte olhou para Maddie e concordou com a cabeça.- Eu preciso ir – ela disse desapontada.

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Eles se levantaram. Jared recolheu os pratos de plástico e as latas vazias derefrigerante.- Vou ligar para você – prometeu ele.- O.k.- Eu vou, você sabe.

Ela riu.- Eu acredito em você!Jared abaixou sua cabeça para perto da dela. Seus lábios encostaram no canto daboca de Charlotte, num toque leve como uma borboleta.- Não, eu quero dizer, de verdade. Eu vou mesmo – ele piscou para ela antes de sevirar para ir embora. – Até logo, Charlotte.- Até – respondeu ela.Assim que Jared se afastou um pouco, Maddie correu para perto de Charlotteexigindo detalhes.- Charlotte, ele não conversou com mais ninguém durante a noite toda! – Maddiesoltava risadas estridentes enquanto elas atravessavam as dunas em direção ao

estacionamento. – Jared Colburn está apaixonado por você!- Ele não está apaixonado por mim – protestou Charlotte. Mas seu rosto aindacontinuava brilhando.Maddie suspirou extasiada.- Você e Jared Colburn. Ele é o cara mais bonito do colégio! Ele convidou você prasair?- Ele disse que vai me ligar.- Amanhã?- Eu não sei!- Você tem que me ligar logo depois que ele ligar – insistiu Maddie.- Está certo.- Uau, Char – Maddie agarrou os braços de Charlotte e deu-lhe uma sacudidela. –Jared Colburn!

Elas correram para o carro da senhora Howe, dando risadinhas como se fossemduas malucas. A adrenalina fervia nas veias de Charlotte, ela sentia como sepudesse ir para casa flutuando.Até aquele momento, ela não tinha gasto muito tempo pensando no que aqueleprimeiro ano do Ensino Médio iria trazer. Imaginava que seria bem parecido com osoutros anos, apenas com matérias mais difíceis. Mas agora, repentinamente, elaestava aguardando o inicio das aulas de uma maneira inteiramente diferente, por

uma razão inteiramente diferente. Ela tinha a sensação de que sua vida estavaprestes a mudar.“Jared Colburn, Jared Colburn.” Ela cantava o nome dele em sua cabeça, seus pés

dançando pela calçada. Maddie estava certa. Aquela tinha se transformado em suagrande noite.

Capítulo UMA madeira queimada na fogueira produzia estalos, lançando faíscas dentro da escuridão

daquela noite de verão. Charlotte observava Jared colocar mais lenha no fogo. Logo depoisde voltar a sentar na areia fresca, apoiando as costas em um tronco, Jared envolveu-a comseus braços, puxando seu corpo para mais perto.

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Aconchegando-se junto ao namorado, Charlotte não podia deixar de lembrar daquela noite,dois verões atrás, quando ela e Jared haviam de encontrado pela primeira vez. Apesar desua falta de experiência em relacionamentos naquela época, Charlotte teve a certeza de quealgo estava para acontecer entre eles. Mas nunca poderia imaginar que manteriam umnamoro firme por dois anos. Em breve, começariam o último ano do Ensino Médio e aindaestavam juntos. Eram praticamente uma instituição na escola Parker, certamente seriam

escolhidos para o “casal da classe” no livro anual dos alunos.-Este verão foi incrível – comentou Jeff Swanson, entornando uma lata de refrigerantegarganta abaixo e depois esmagando o alumínio com seu punho.- Festas excelentes – concordou o ruivo Matt McClellan.

- Vocês se lembram da noite em que pegamos a lancha dos pais da Paige no cais e Jaredcaiu no mar? – Perguntou a namorada de Jeff, BEV Constable. Ela era uma garota loira,baixinha, com covinhas e olhos azul-escuros.Todos gargalharam. Jared abriu um sorriso de deboche.-Ei, eu não caí. McClellan me empurrou – disse ele.- E aí ele zarpou coma lancha e deixou você nadar de volta até o cais – lembrou PaigeBristol, balançando seus cabelos castanhos. – Gente, se meus pais soubessem disso!

- E aquele dia no estádio? – perguntou o namorado de Paige, Bob Kowalski, goleiro do timede hóquei da escola Parker.- E quando ficamos na arquibancada, “assando” no sol e comemos três cachorros-quentescada um? – resmungou Jared.-Eu não diria que esse foi um ponto alto do verão.-E aquele fim de semana em que os pais de Charlotte viajaram e nós praticamente nosapossamos da casa dela e fizemos uma festa de quarenta e oito horas? – disse Bob.Jared ajeitou os longos cabelos loiros de Charlotte para o lado, de modo a poder passar onariz por sua nuca.- Agora sim, esse foi um ponto alto – murmurou ele.Enquanto seus amigos continuaram trocando histórias sobre o verão e começaram a falarsobre o último ano na escola, Charlotte estudava os rostos que circulavam a fogueira. Paige,Bob, Jeff, Matt, BEV, Maddie, Walker, Samantha. Todos eram bonitos, bronzeados,relaxados, adolescentes que haviam levado uma vida favorável e não esperavam nada dofuturo alem de continuar tendo felicidade e sucesso.

Novamente, Charlotte se lembrou da festa na praia dois anos atrás. Ela ainda continuavasendo um pouco tímida quando estava entre o pessoal mais popular da Parker. Mas agora,graças, principalmente, ao fato de namorar Jared, ela era vista como uma das “sócias” daquele clube. “Mas às vezes eu sinto como se não fizesse parte disso”, refletiu.Enquanto Samantha Steiner terminava uma historia engraçada sobre seu mais recentepasseio por uma faculdade, Charlotte puxou os braços de Jared para mais perto, saboreandoa segurança que a proximidade dele lhe dava.Neste momento, Maddie lançou um sorriso para Charlotte de relance.

- Falando em faculdade, vocês sabem – anunciou Maddie – que a professora de balé de Characha que ela deve tentar uma vaga em alguma faculdade com programa de dança ou atémesmo fazer um teste para o Balé de Boston?- Não brinca? – disse Bev. – Isso é o Maximo, Charlotte!-Uau! – exclamou Paige.- O balé de Boston? – repetiu o atual namorado de Maddie, Walker Smith. – E nem fazerfaculdade?- Não brinca? – disse Bev. – Isso é o Maximo, Charlotte!-Uau! – exclamou Paige.- O balé de Boston? – repetiu o atual namorado de Maddie, Walker Smith. – E n em fazerfaculdade?Charlotte sentiu os braços de Jared apertarem seu corpo.- Ei, você não me contou isso – disse ele, com um tom acusador em sua voz.Charlotte mordeu os lábios, desejando que Maddie não tivesse tocado no assunto do balé.

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9COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Eu acho que não disse nada porque ainda não sei se devo levar isso a sério – respondeu ela.– Você conhece a senhora Laurent. Uma vez na vida ela me elogia, mas a maior parte dotempo é tão hipercrítica! Tenho certeza que de que, na próxima aula, ela vai me lembrar oquanto sou completamente atrapalhada.

- Não seja modesta Char – repreendeu Maddie afetuosamente. – Você poderia facilmente ser

aceita por aquela escola em Nova York, a Suny Purchase.- Talvez, mas... – começou Charlotte.- Mas ela não quer ir para uma escola como essa – interrompeu Jared. – Ela não vai para aFaculdade Wellesley, como sua mãe, sua avó e sua irmã. Não é, Char?A coluna de Charlotte endureceu.- Não sei – afirmou baixinho. – Quer dizer, eu acho que se eu passasse para Wellesley euiria...- É claro que você vai passar – assegurou Jared. – Você é uma excelente aluna, tem o lanceda dança que conta a seu favor e, além do mais, tem um histórico que ajuda. Todas asmulheres de sua família estudaram lá. Você vai passar.A afirmação definitiva de Jared terminou a discussão. A conversa seguiu em outras direções.Por um tempo, o grupo conversou sobre que atividades extracurriculares da universidade

pareciam mais interessantes.Então, os meninos começaram a fazer previsões sobre a próxima temporada do time defutebol americano da Parker.Charlotte começou a se sentir inquieta. “Sempre volta para o futebol”, pensou ela,disfarçando um bocejo. Jared e Jeff seriam os dois capitães do time principal, e desde que ostreinos pré-temporada haviam começado, futebol americano era o único assunto para Jared. “Mas é natural”, Charlotte aceitou. “Ele é o astro.” Bem no fundo de seu coração, porem, ela sabia que, naquele momento, não era aonipresença do futebol que a estava chateando. Ela ainda estava irritada com os comentáriosde Jared sobre Wellesley, pelo modo como ele a tinha interrompido, concluído a frase por elae suposto que sabia exatamente o que ela pretendia dizer e como se sentia.

Assim que reconheceu seu ressentimento, Charlotte imediatamente se sentiu culpada edesleal. É claro que Jared só tinha boas intenções. Ela havia conversado varias vezes sobre apossibilidade de seguir a tradição da família e estudar em Wellesley, uma faculdade deprestígio freqüentada só por mulheres que ficava ao lado de Boston. E uma vez que Jaredsonhava em conseguir uma bolsa de estudos para esportistas em Harvard, naturalmente elequeria que ela continuasse na área de Boston também. A atitude dele fazia sentido. Mesmoassim...Charlotte se afastara alguns centímetros de Jared enquanto seus pensamentos começaram avagar. Ela, então, aproveitou a oportunidade de observá-lo enquanto ele conversava. Seulindo rosto brilhava conforme ele descrevia sua estratégia para levar o time de futebol para ocampeonato estadual. Divertido contador de histórias, ele mantinha sua audiênciagargalhando. Era uma visão familiar. Jared era o centro das atenções em seu círculo social, e

sempre havia sido.Charlotte abraçou as pernas e enfiou os dedos dos pés na areia fria. Repousando seu queixosobre os joelhos, fitou melancolicamente a fogueira que soltava faíscas. Não conseguiadeixar de sentir alguma coisa naquela noite, naquele momento, não estava totalmente certa.Dois anos depois que começara a namorar Jared, a situação era a mesma. Ele era o mesmo,a praia era a mesma, os amigos deles eram os mesmos. “Mas eu estou diferente”, pensouCharlotte repentinamente. “Ou pelo menos quero estar.” Ela sentiu uma mão deslizando por suas costas. Jared começou a massagear seus ombros.Charlotte fechou os olhos e seu corpo relaxou automaticamente. Ela se lembrou se como seucoração acelerara na primeira vez em que ele havia lhe tocado, lembrou-se da magia deouvir pela primeira vez uma outra pessoa falar que os dois formavam um lindo casal, damaneira como as outras garotas da escola a invejaram” Ela havia conquistado Jared Colburn,o cara mais quente da escola Parker. E se lembrou de quando passeou com Jared numatarde de outono, pelo parque da cidade. Ele havia entalhado as iniciais deles em um banco

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de madeira do parque, com vista para o litoral. ” J. C. + C. K. , para sempre”, dentro de umgrande coração.As mãos de Jared seguraram sua nuca, afetuosamente possessivo. “Para sempre”, pensouCharlotte. O que ela podia entender por “para sempre” quando tinha apenas quinze anos? Emesmo agora, como entendia isso?Ela suspirou, uma estranha agitação atormentando-a novamente. Jared e Charlotte,

Charlotte e Jared. A união deles era algo que todo mundo, especialmente Jared, parecia darcomo certa e inalterável. Um novo e inoportuno pensamento tomou conta de Charlotte. “seráque sou a única pessoa”, perguntou a si mesma, “ que não tem certeza de que somos umcasal perfeito?” 

Jared entrou com seu carro conversível usado na garagem dos Kennedy, puxou o freio demão e desligou o motor.- Foi uma noite divertida – ele disse em voz baixa, deslizando um braço ao redor da cinturafina de Charlotte e puxando-a para perto dele.- Já estou atrasada para o toque de recolher – falou ela.Ele sorriu para ela na escuridão.- Ainda temos cinco minutos. Vamos aproveitar.

Eles se abraçaram. Beijar Charlotte era uma das atividades extracurriculares preferidas deJared – ele havia esperado por esse momento toda a noite. Como sempre, a sensação debeijar a namorada, tendo os braços ao redor do seu corpo delgado, era deliciosa. Afinal decontas, a prática levava à perfeição, e não apenas no futebol americano.No entanto, quando Jared estava se entregando, Charlotte o afastou.- Eu tenho mesmo que ir – falou, esticando a camisa de algodão e passando os dedos peloslongos cabelos sedosos.Jared percorreu o braço dela com o dedo indicador, do ombro até o pulso.

- Ainda falta um minuto e trinta segundos no relógio.

- Acho que estou cansada – desculpou-se Charlotte. – Fiz uma aula extra de pontadepois da minha aula normal de balé hoje - explicou, mas sem sair do carro. Depoisde um momento de silêncio, ela acrescentou hesitantemente. – Jared...- Humm? – murmurou ele, inclinando-se para beijá-la novamente.Ela encostou as costas na porta do carro, escapando do toque dele.- Sobre aquilo que nós conversamos na festa hoje à noite. O lance do balé.Irritado, Jared desistiu da tentativa de beijá-la.- O que é que tem?- Ah, bem, eu só queria que você soubesse que não é nada definitivo – ela virou orosto e lançou o olhar para frente, em direção ao pára-brisa preto. – Quer dizer,nem sei se vou ou não me inscrever na Suny Purchase ou alguma outra escoladessas, e muito menos se vou fazer um teste para o Balé de Boston. Quer dizer,

talvez sim... e talvez não.Jared não conseguia entender por que, repentinamente, Charlotte sentira queprecisava retomar esse assunto naquele momento. Eles já não haviam falado tudoo que precisava ser dito? No entanto, ela parecia estar precisando de maissegurança para tomar sua decisão.- Ei, se você quiser tentar a Purchase, eu não vejo motivo para que você não tente– Jared lhe falou. – Seria uma grande massagem no seu ego se você passasse. Masvocê não pode abrir Mao de Wellesley, Chat. Uma boa faculdade de artes humanaspode ser um trampolim para qualquer lugar que você queira ir. Um curso deadministração, de direito, o que for.- Acho que sim – murmurou Charlotte.

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11COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

- E vai ser muito legal – continuou Jared. – Estarei em Cambridge, e você vai estarnuma cidade alguns quilômetros a oeste; nos veremos o tempo todo – ele puxou-apara seus braços, esfregando a ponta do nariz contra o dela. – E, além disso,estaremos morando em dormitórios. Sem parentes, sem toques de recolher. Nãoparece o máximo? Não é o que você quer?

Charlotte não respondeu de imediato. Jared começou a ficar irritado de novo.Normalmente, era sempre tão fácil conviver com ela! Charlotte não era o tipo degarota que fazia o gênero “descubra-o-que-estou-pensando”. O que estavaacontecendo essa noite?- Não é o que você quer? – repetiu ele.- Eu quero... – começou Charlotte.Jared esperou que ela se explicasse, cumprimentando a si mesmo por estar sendotão paciente. Ele decidiu que daria a ela uma chance de deixar as coisas mais clarasem sua cabeça, mas, se continuasse tão indecisa, ele não hesitaria em seintrometer e dizer-lhe o que ele achava que ela precisava.Charlotte, porém, mudou de humor bem na hora certa, segundo a opinião de Jared.

- È – disse ela com um suspiro quase imperceptível, descansando seu rosto sobre opeito dele. – É isso o que eu quero.

Às oito horas da noite do dia seguinte, Charlotte se ajoelhou sobre a cadeira pertoda janela de seu quarto. Depois de abrir a persiana o máximo possível, pressionouo nariz contra o vidro para olhar melhor do lado de fora. Uma lua crescente estavapendurada no céu escuro, e a brisa agitava as folhas dos carvalhos quecircundavam o campo ao lado de sua casa vitoriana. Aquele cheiro de terra no arfresco noturno lhe dava um sinal de que era outono.

Charlotte se reclinou um pouco para trás e abraçou suas pernas, seus olhos fixos

no desenho da lua. Vozes distantes vindas do lado de fora chegavam pela janela.Eve e Alan, seus pais, estavam no gramado pouco iluminado bem abaixo. Charlottepôde ver sua mãe se curvar sob um arbusto do jardim. A taça de vinho na mão deseu pai cintilou, refletindo um raio de luz vindo de uma das janelas do primeiroandar.Por algum motivo, ver e ouvir seus pais no jardim fez com que Charlotte sesentisse só. “ Gostaria que Amélia estivesse em casa”, pensou. Sua irmã maisvelha, ema caloura de faculdade, havia partido para Wellesley na semana anterior.Não que Amélia pudesse dizer a Charlotte o que pensar e sentir sobre orelacionamento com Jared. “Ela provavelmente só daria uma palestra de como ascoisas são muito mais complicadas para adultos como ela e TIM, agora que eleestava longe na Johns Hopkins, estudando medicina”, imaginou Charlotte.

 “Ela diria que estou pensando demais e que deveria apenas relaxar.” E talvez Amélia estivesse certa. Charlotte suspirou. Era possível. Ela teve muitacerteza do que sentia quando, pela primeira vez, disse a Jared que o amava. Seráque valia a pena escutar as coisas confusas que seu coração estava lhe sussurrandoultimamente? Por que ela deixara de saber, tanto quanto já soubera uma vez,como era realmente amar alguém e ser amada?Charlotte abaixou as persianas da janela, escondendo a lua crescente. Amanhãseria o primeiro dia de um novo ano escolar. Ela e Jared estariam no último ano doensino médio. “Vamos só ver o que vai acontecer”, decidiu. “por que fazer

tempestade num copo d’água?” Capítulo DOIS

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12COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Realmente existiam algumas vantagens em ser um aluno do último ano, Jaredconcluiu na quarta-feira, o primeiro dia de aula na escola Parker. Logo de carapercebeu que ascoisas estavam diferentes... e melhores. Colocara o carro no setor doestacionamento reservado aos alunos do último ano, ou seja, as vagas mais

próximas do prédio da escola.Os antigos alunos do último ano haviam desaparecido dos corredores, substituídospor uma multidão de calouros idiotas, que trombavam pelos cantos com seusnarizes enfiados em mapas da escola e mochilas novinhas caindo de seus ombros.Como alunos do último ano, Jared e seus colegas tinham recebido o direito deutilizar o território principal da cafeteria: um conjunto de mesas ao lado das

 janelas. Conforme Jared começou a andar naquela direção, percebeu, comsatisfação, que todos os olhares estavam voltados para ele. Nem estava vestindo a

 jaqueta da equipe de futebol, mas sabia que, mesmo assim, a maioria dos alunos oreconhecia. Pelo menos os alunos que contavam: os mais legais.Jared desacelerou o passo assim que se aproximou de uma mesa cheia de garotas

populares do segundo ano. No ano anterior, Charlotte as havia apelidado de “asfãs”, porque compareciam a todos os jogos do time de futebol americano, na escolaou em qualquer outro lugar, levantando cartazes e pompons, dedicando umaenergia sem limites para idolatrar os jogadores, Jared em especial. E isso era algobem tranqüilo para ele – na verdade, Jared achava que este era um dos maioresatrativos de ser um “Cara Famoso” da escola.-Ei, Jared – Chamou Deidre Hess, balançando seus cabelos pretos sedosos. – Teveboas férias?

Todas “as fãs” eram bonitas, mas Deirdre era absolutamente linda. Jared não seimportava em perder alguns minutos flertando com ela. Puxou a cadeira vazia ao

lado de Deirdre e sentou-se com o encosto de madeira voltado para a frente,encarando-a.- Foi razoável – falou lentamente. – E você? Fez alguma coisa além de pegar essebronzeado?Deirdre sorriu. Era impossível não notar o quanto seus cílios eram pretos eexuberantes – e ela os agitava numa velocidade tremenda.- Não muito.A conversa não era exatamente brilhante, mas Jared não se importava. Eradivertido apenas olhar Deirdre e saber que ela e suas amigas dariam risadinhas epraticamente desmaiariam assim que ele desse as costas.

Quando avistou Charlotte vindo em sua direção com a bandeja do almoço, Jaredlevanto-se.-Vejo você nas arquibancadas – falou ele, abrindo seu sorriso mais amável paraDeirdre.Sem titubear, deslizou um braço ao redor da cintura de Charlotte e conduziu-a parauma mesa vazia no território dos alunos do ultimo ano. Antes que se sentassem,retirou a bandeja das mãos de Charlotte, colocando-a sobre a mesa. Então,abraçou-a e beijou seus lábios.Charlotte se desvencilhou do abraço.-Estou chateada com você - disse.Jared levantou uma sobrancelha.

-O que foi que eu fiz?-Bev me contou que você tem ingressos para um show na sexta-feira à noite – ela

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13COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

disse com uma voz irritada -, e que nos todos iremos jantar fora antes. Vocêdeveria ter me dito isso antes.Jared atirou-se numa cadeira e despejou sobre a mesa o conteúdo da sacola comseu almoço: dois sanduíches, uma maçã, um saco de batatas fritas, meia dúzia debolachas e uma garrafa de uma bebida energética verde fluorescente.

- Por que, você tem outros planos? – ele debochou.- Não, mas...- sua frase ficou inacabada.Charlotte andava fazendo muito aquilo ultimamente, não terminando seuspensamentos, o que aborrecia Jared um pouco. Era um trabalho extra tentaradivinhar o que se passava pela cabeça dela.

- Mas o quê? – ele estimulou. – Você não quer ver o show? Eu aposto como consigoencontrar outra pessoa que queira ir. Deirdre Hess, talvez.Ele estava apenas provocando. Charlotte devia saber que Deirdre não representavarealmente uma ameaça. Jared nunca iria além das piscadas de olho e sorrisinhos;era somente um jogo.

Charlotte, porém, ficou ruborizada, como se seus sentimentos tivessem sidorealmente feridos.- Se você prefere levar Deirdre, então leve – disse num tom de voz baixo.- Pare com isso, Char – ele falou e lhe deu um abraço suave, beijando-a atrás daorelha. – O show vai ser o máximo. Você vai me agradecer depois, tenho certeza.Ela nem respondeu.Jared ia insistir no assunto, mas antes que pudesse perceber a mesa foi tomadapor seus amigos. Todos começaram a comentar como tinha sido legal Jaredconseguir aqueles ingressos tão disputados para o show.Enquanto Jared comia seu segundo sanduíche, lançou um olhar para Charlotte.

 “Está vendo?”, diziam seus olhos. “Todo mundo está louco pra ir. Por que você está

reclamando?” Charlotte desviou o olhar e se manteve em silêncio pelo resto do almoço; assim,Jared não pensou mais sobre o incidente. Não que ele tivesse chegado a chamaraquilo de “incidente”. Ele e Charlotte estavam namorando há muito tempo esempre haviam se dado super bem. Ela só estava com um humor estranho. Nasexta-feira à noite, eles se divertiriam muito no show. Juntos. Ele estava contandocom isso.

- Quanto tempo será que o judy’s vai durar, agora que abriu aquele novo café noquarteirão? – Maddie perguntou a si mesma em voz alta, enquanto enfiava umcanudo de biscoito em seu milk-shake de baunilha.Charlotte, Maddie e Samantha haviam se reunido, após o primeiro dia de aula, noponto de encontro predileto delas, uma lanchonete chamada Judy’s, freqüentadapelos alunos da Parker desde os anos 1940. Era mobilhada com tradicionaispoltronas de vinil vermelho, um balcão cromado e uma jukebox antiga. Asingularidade da decoração do Judy’s, porém, era de um mau gosto surpreendente:pinturas melodramáticas de ondas estourando na praia e baleias esguichando águaestavam espremidas entre estantes entulhadas de conchas, miniaturas de âncorase pequenos navios dentro de garrafas.Samantha tinha sugerido que fossem ao Coffee Club em vez do Judy´s, mas amaioria foi contrária a idéia.

- Parece que eles têm uns sanduíches fantásticos e uns cookies de morrer – disseSamantha, numa voz cheia de vontade.

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14COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Charlotte franziu o nariz.- Eles servem picolé em vez de sorvete – salientou, como se isso já dissesse tudo,e deu uma mordida no picles que vinha acompanhando seu sanduíche de atum. –Felizmente ainda existem pessoas que gostam mais de café de coador ehambúrguer do que de expresso e queijo de cabra.

Maddie apoiou um cotovelo sobre a mesa e virou-se para Samantha com uminteresse exagerado.- Cookies de morrer? Mesmo?Charlotte deu um chute de brincadeira na canela da amiga. Maddie deu um pulo,fingindo sentir dor. Então, de repente, deu um pulo de verdade.- Eu contei pra vocês o que o senhor Schalkmeyer fez? – perguntou ela, referindo-se ao professor de Historia Americana. – No primeiro dia de aula, ele deu umapesquisa de dez paginas sobre a Suprema Corte. E a turma vai ter só duassemanas pra entregar.- Argh! – exclamou Samantha.- Pelo menos eu “tive uma luz” e me inscrevi numa aulinha fácil de inglês – refletiu

Maddie. – Você foi maluca de ter escolhido Shakespeare, Char.- Vai ser difícil – reconheceu Charlotte - , mas que se importa quando você tem queficar uma hora sentada olhando pro professor Irving?- Verdade – Maddie concordou com uma risadinha.Samantha acabou de separar os croutons de sua salada, colocando-os num cantodo prato, e retirou o excesso de molho. Antes de dar uma mordida, virou-se paraCharlotte.- Ouvi sobre a armação que você e Jared fizeram pra conseguir duas janelas nagrade de horário.- Não foi uma fraude. Simplesmente aconteceu – disse Charlotte.

- E como é que ele está? – perguntou Maddie.- Bem – respondeu Charlotte, sem querer se aprofundar muito naquele papo.- Só bem? – instigou Samantha.- É, só bem – repetiu Charlotte.Maddie bebeu o resto de seu milk-shake, levantando as sobrancelhas.- Por acaso vocês dois brigaram?- Bem... – Charlotte se recostou no assento por um momento e pensou sobre o quehavia lhe aborrecido naquele dia. Foram apenas coisinhas bobas, mas que tinhamrealmente lhe tirado do sério: andar na direção dele enquanto ele flertavadescaradamente com Deirdre, jogando todo seu charme. Se alguma vez ela

flertasse daquele jeito, ele pularia em cima do cara... como ele tinha duas medidaspara tudo! E aqueles ingressos estúpidos para o show! Jared sempre supunha queela estava disponível, não importava quando. Isso a deixava louca!De repente, Charlotte sentiu um impulso irresistível de contar tudo o que passavapor sua cabeça a suas amigas. Talvez elas pudessem ajudá-la a colocar em ordemos sentimentos confusos que estava tendo em relação a Jared.- Bem, não, na verdade nós não brigamos – começou ela.- Que bom – exclamou Samantha – porque seria o fim do mundo se a gentesoubesse que você e Jared tinham terminado o namoro. Quer dizer, vocês são ocasal mais perfeito da escola Parker.- Desde o inicio eles já eram perfeitos um pro outro – concordou Maddie. – E, como

vocês devem lembrar, eu tive um papel fundamental no começo dessa história –ela acrescentou, cheia de si.

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15COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

- Parem com essa coisa de “perfeitos um pro outro”, “casal perfeito” – interrompeuCharlotte, totalmente frustrada – É um peso isso. E, além do mais, nem é verdade.- Mas vocês dois têm tudo – protestou Samantha, enquanto examinava suas unhaspintadas – Jared é um gato e você é linda.Os dois são inteligentes. Ele é um grande atleta; você, uma grande bailarina. Ele

tem carisma; você tem classe. E, além disso, vocês ficam bem juntos!Charlotte fechou a cara.- Então é só isso que importa num relacionamento? Como as pessoas ficam bem

 juntas?

- Não dói nada ser bonito – contribuiu Maddie.- E sobre ter coisas em comum? – persistiu Charlotte. – E... sobre ser capaz deconversar com o outro?- você e Jared conversam – falou Maddie.- É claro que nós conversamos, só que...

 “ Nós não conversamos sobre as coisas que realmente importam. Ele está muito

voltado pro próprio umbigo pra poder me escutar”, pensou Charlotte pensou.- Ás vezes, acho que Jared me escolheu apenas porque faço com que ele fiquebem, sem tirar o refletor de sua direção – resmungou.- Isso não é verdade, Char. E você sabe – declarou Maddie. – Jared adora você.- Sim, mas será que ele quer ficar comigo pelo o que eu sou? Ou apenas gosta demim porque... - Charlotte interrompeu a frase com um suspiro. Maddie e Samanthaa olhavam como se não conseguissem entender o que ela estava dizendo. Se pelomenos fosse possível dar algum exemplo concreto para elas, como uma brigaviolenta ou algo parecido, sabia que suas amigas seriam supercompreensivas. Mas,do jeito que estava, suas reclamações eram tão vagas que as meninassimplesmente não entenderiam.

- Deixem pra lá – Charlotte finalmente disse. – eu acho que estou meio perturbadahoje.- Nós perdoamos você – debochou Maddie.- Só não faça nenhuma bobagem – recomendou Samantha. – Você tem sorte de terum namorado como o Jared. Ele é um em um milhão.- Eu sei – disse Charlotte com a voz apertada.

 “ Elas acham que eu estou maluca”, refletiu. “Como posso estar insatisfeita seestou namorando o cara mais desejado da escola Parker?” 

Enquanto o professor Shirtavani assessorava os alunos que iam até sua mesamostrar alguns exercícios de matemática, Charlotte batia suas unhas na carteira demadeira, olhando preguiçosamente para o cabelo ruivo de Margie Kendall, queestava sentada à sua frente. Margie folheava uma revista de moda. Os outrosalunos estavam em suas carteiras, em diversas poses de tédio e distração. Quandoo vice-diretor, o senhor Cobb, começou a anunciar as notícias da manhã pelos alto-falantes que ficavam suspensos no teto da sala, meia dúzia de alunos aproveitou aoportunidade para abaixar a cabeça e tirar um cochilo na carteira.O senhor Cobb estava divagando sobre estimular assembléias estudantis, encontrosda sociedade nacional de educação e mudanças nos horários das práticasesportivas do período vespertino.Após um bocejo, Charlotte resolveu revisar os cálculos de seu dever de casa mais

uma vez. Ela não tinha a menor idéia de como havia feito aquilo corretamente. Suaprofessora de matemática a senhora Hansen, havia jogado sua auto-estima no

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16COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

fundo do poço. Matemática sempre tinha sido uma das melhores matérias paraCharlotte; mas era apenas o segundo dia na escola e ela já se sentiacompletamente perdida nessa disciplina.Foi então que alguma coisa que o senhor Cobb disse chamou sua atenção.- Estaremos lançando uma série de workshops sobre consciência da diversidade

para as turmas do ensino médio – o vice-diretor anunciava com sua voz monótona.– No futuro, esse treinamento para diversidade deverá ser uma parte obrigatória denosso currículo. Este ano, no entanto, estamos oferecendo um curso experimentale, sendo assim, a participação é voluntária. Alunos interessados devem se inscrevercom seus professores hoje pela manhã. O primeiro workshop será amanhã ás seis,no ginásio, com pizza e refrigerante fornecidos pela escola.Charlotte ajeitou-se na cadeira. “treinamento para diversidade? O que era isso?” Ela lançou um olhar pela sala, curiosa para saber se mais alguém estava intrigadocom a última notícia. Mas a maioria das pálpebras ainda estava caindo. Eraimpossível dizer se os poucos alunos que pareciam não estar em estado de comatinham realmente escutado o senhor Cobb.

Dar uma olhada em seus colegas de classe, contudo, foi instrutivo de outro modo.Ela percebera a diversidade doa alunos: Raj, Jagannathan, Shizue Kawamura,Dolores Ramirez...

Quando Charlotte era criança, Parker Point era uma comunidade onde viviamapenas brancos norte-americanos descendentes de europeus. Metade das famíliasna cidade podia seguir o rastro de suas raízes até o Mayflower, o navio quetrouxera os primeiros colonos para os Estados Unidos. seus ancestrais vieram daIrlanda durante a grande onda de imigração que se seguiu à escassez de batata.Nos últimos anos, porém, a cidade mudara. Como todo o restante do país,imaginava Charlotte. A maioria dos estudantes da escola Parker ainda era formada

por caucasianos, mas também havia muitos alunos de outras etnias.O sinal tocou. Por toda a sala, corpos sem energia voltaram à vida. Charlotte se

 juntou à multidão que se arrastava em direção à porta. Conforme foi seaproximando da mesa do professor Shirtavani, ficou atrás de Bob Kowalski e PeteJarrett. Pete estava murmurando para Bob:- Você consegue acreditar nessa porcaria de consciência da diversidade? – Pete,com a voz baixa mas com um tom inconfundivelmente desdenhoso, continuou: -Quanta...Charlotte não escutou o resto do pronunciamento claramente “ sensível earticulado” de Pete. Parou e deu um passo para o lado, a fim de sair do caminho

dos outros. Num impulso, aproximou-se da mesa do professor.Shizue Kawamura, mais conhecida como Susie, tinha ficado para trás e estavainclinada sobre a mesa do professor Shirtavani, escrevendo algo numa prancheta.- Esta é a lista de inscrição pro workshop de diversidade? – Charlotte perguntou aoprofessor, apontando para a prancheta.Ele fez que sim com a cabeça.- Com certeza. Você vai experimentar?Mesmo com o incentivo extra da pizza, não tinha acontecido exatamente umaalgazarra em direção à mesa do senhor Shirtavani após o sinal. Charlotte aindapodia ouvir os comentários preconceituosos de Pete em sua cabeça. Ela sabia queele não era o único a pensar daquela maneira. Na verdade, ela conseguia imaginar

aquelas mesmas palavras saindo da boca de uma dúzia de outras pessoas.Como de Jared, por exemplo.

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17COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Susie virou-se para Charlotte com um sorriso tímido, pronta para lhe entregar acaneta. “ algumas pessoas podem não se incomodar em aprender a pensar de umamaneira diferente”, refletiu Charlotte. “ Eu teria coragem de me esforçar umpouco?” A resposta brilhava bem a sua frente. Charlotte retribuiu o sorriso de Susie com

uma cordialidade verdadeira.- Vou – disse ao professor Shirtavani. – Eu acho que vou experimentar.

Capítulo TRÊS

- Por que é que você não pode ir ao jantar hoje à noite? – Jared perguntou aCharlotte na sexta-feira à tarde, com uma voz aguda, não acreditando no queacabara de ouvir.Os dois haviam se encontrado depois que ele terminara o treino de futebolamericano. Estavam caminhando pelo gramado na frente da escola, em direção aocarro dele. Jared não conseguia aceitar que Charlotte estivesse acabando com osplanos dos dois para aquela sexta.- É aquele workshop sobre diversidade – repetiu, apertando uma pilha de livros dabiblioteca contra o peito. – Você não ouviu o senhor Cobb ontem?- Ouvi, mas... – Jared deu uma gargalhada. – Vamos lá, Char. Você está brincando,certo? Você vai dispensar um jantar na cidade e um show só pra ir num workshopidiota sobre consciência da diversidade?- Não deve ser tão idiota – ela respondeu se defendendo. – quer dizes, pode seresclarecedor.Jared balançou a cabeça, com o cabelo preto ainda úmido do chuveiro.

- É uma perda de tempo – declarou – Além disso, temos outros planos.- Mas já me inscrevi.- E daí? Não vá. Você acha que alguém vai se importar? Charlotte mordeu o lábio.- Eu vou – disse ela após um momento de silêncio. – Eu quero ir ao workshop,Jared.- Por quê? – perguntou ele, enquanto abria a porta do carro. – Você já é tãoocupada com o balé... pra que você precisa disso agora?Charlotte largou sua mochila no banco traseiro e depois se sentou na frente, aolado de Jared.- O mundo está mudando, você sabia? – disse ela, apertando o cinto de segurança.– As pessoas não são todas iguais.

- Imagino que sim – respondeu ele, colocando a chave na ignição. – Hoje em dia, agente encontra mais coreanos e paquistaneses em Parker Point do que antes. Edaí? Pra mim, tudo bem se eles querem morar aqui, mas têm que aprender inglês ese misturar. É assim que a América deve funcionar.- Mas as coisas não são tão simples assim – argumentou Charlotte. – Por ummotivo, a maioria das pessoas que não é branca não consegue uma chance nessepaís. Algumas delas estão aqui há mais tempo que a sua família ou a minha. Nãotodos precisamos nos esforçar para nos conhecer.Jared lançou um olhar sobre Charlotte. Ela pegou os óculos de sol do bolso de sua

 jaqueta e os colocou. Desde quando ela tinha se transformado na rainha-do-

politicamente-correto?- Deixe-me adivinhar. Você está concorrendo para representante estudantil e quer

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18COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

conquistar os votos das minorias – ele brincou. – Ou você realmente quer que euleve Deirdre pro concerto em vez de você. É isso?.- É claro que não – Charlotte disse irritada. – Eu quero entender mais sobre adiversidade, só isso.- Workshops comoventes não irão fazer com que grupos diferentes se dêem bem –

ele afirmou, com aborrecimento. – Todo mundo quer conviver com pessoassemelhantes – disse Jared. Ele olhou para ela, mas os olhos de Charlotte estavamocultos atrás das lentes escuras.- Mas você não acha que fica chato, às vezes, fazer parte de uma panelinha quenunca muda? Não tem vontade de conhecer pessoas diferentesJared pensou sobre isso por meio segundo.- Não necessariamente – concluiu. “ o que é que está acontecendo com elaultimamente?” , pensou.Por alguns minutos eles permaneceram sem conversar, apenas escutando o rádio.Jared segurou o volante com a mão esquerda e esticou o braço direito por trás dobanco de Charlotte, de modo que conseguisse passar os dedos pelo cabelo dela.

Tomou o silêncio da namorada como um reconhecimento de que estava certo. Issofez com que se sentisse carinhoso e afetuoso em relação a ela, tanto que chegouaté a repensar a idéia do workshop sobre diversidade. “Eu deveria dar algumcrédito a ela”, pensou. “Talvez exista uma outra perspectiva.” Então,repentinamente, viu que ângulo era esse.Jared desligou o rádio.- Talvez não seja mesmo tão estúpido – anunciou ele.Charlotte arqueou suas sobrancelhas.- O quê?- O workshop sobre diversidade – ele respondeu, balançando a cabeça. Sim, agora

ele estava bem certo sobre os objetivos dela... ou quais deveriam ser seusobjetivos. – Você está certa; isso pode ser bom para quando tentar uma vaga nafaculdade.- Não é por isso que eu estou fazendo! – protestou Charlotte.- Ah, vai... as faculdades gostam desse lance de consciência social – persistiu. –Servir sopa em abrigos e tal. Eu mudei de idéia, Char. É uma pena que tenha queperder o show, mas você tem mesmo que ir pra esse workshop.Charlotte não respondeu. Jared ligou o rádio novamente então deslizou a mão pelacoxa dela para dar um apertão em seu joelho. Ela tinha andado um pouco irritadiçaultimamente, mas agora eles estavam em sintonia de novo. O que era bom,

porque, com o primeiro jogo da temporada de futebol americano se aproximando,tudo o que Jared não precisava era ter que se preocupar com uma namorada mal-humorada. “É, fico feliz que entramos num acordo”, pensou.

- Vai, Jared! – gritou Maddie. Ela começou a pular para cima e pra baixo, tãofortemente que a arquibancada sacudia. – Vamos lá, Patriots!Sentada ao lado de Maddie, Charlotte pulava também, batendo as mãos comobediência.- Vamos lá, Patriots! – repetiu ela.Era um lindo sábado de setembro, o céu perfeito estava tão azul que parecia quasevioleta. Uma multidão havia aparecido para ver o primeiro jogo da temporada com

os Patriots, o principal time de futebol americano da escola Parker.

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19COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Charlotte estava rodeada pela turma de sempre: Maddie, Walker, Paige, Bob, Bev,Samantha e Matt. Eles estavam muito empolgados. Apesar de o jogo ter começadohá pouco tempo, os Patriots já ganhavam do time da escola West Salem por umalarga vantagem. Tanto Jeff quanto Jared tinham marcado vários pontos.- Esse jogo está incrível – declarou Maddie, quase sem fôlego, despencando o corpo

cansado no assento. – Não está incrível?- É um grande jogo – concordou Charlotte.Matt, que trouxera uma caixa de isopor de casa, começou a distribuir refrigerantespara todos. Enquanto isso, Bev abriu uma vasilha cheia de seus famosos cookies deaveia e passas.Charlotte mastigou um cookie enquanto olhava fixamente aquele campo de futebolamericano verde-esmeralda. Ele estava se esforçando ao máximo para ficarenvolvida com o jogo, mas simplesmente não conseguia. Sentia-se estranhamentedesligada, como se sua mente estivesse em algum outro lugar, enquanto seu corpopermanecia sentado nas arquibancadas, movendo-se num piloto automático.Algumas fileiras à frente, Deirdre e todas as outras “fãs” faziam um tremendo

barulho, como sempre. Todas estavam vestidas de vermelho, branco e azul, ascores da escola Parker. A cada cinco minutos, uma delas lançava um punhado deconfetes no ar. Sempre que os Patriots faziam uma boa jogada, elas berravam e seabraçavam; e quando o time se atrapalhava durante uma partida, gemiam numdesespero coletivo.À medida que observava aquelas meninas mais novas, um pequeno e melancólicosorriso apareceu nos lábios de Charlotte. Seu segundo ano parecia ter sido há umséculo. “Será que, alguma vez, já fui assim tão agitada e histérica?” , ela seperguntou.Lembrou-se de quando viu Jared jogando numa partida no outono de seu segundoano. Ela tinha quinze anos e estava completamente apaixonada. Sim, haviacomparecido a todos os jogos daquela temporada, sacudindo um pompomvermelho, branco e azul e levando um broche colocado na jaqueta, no qual se lia:

 “Força, Patriots!” Ela havia explodido de orgulho quando Jared fez o ponto finaldecisivo de uma partida, e tinha se afogado em lágrimas quando o time perdera.Jared sempre podia contar com ela para ser sua fã número um.

 “ mas essa não sou mais eu”, Charlotte se deu conta. Ela enfiou o cookies comidopela metade no bolso de seu casaco, e então fechou os punhos. Estava assistindoàquele jogo porque se sentira obrigada. Todo mundo, especialmente Jared,esperava isso dela. Afinal de contas, era a namorada do capitão do time. Mas, naverdade, não queria estar lá. Nem se importava se os Patriots ganhariam ou não.

Já fazia muito tempo que a magia daquilo havia acabado. “Eu preferiria estar no museu com Susie, Meera e Bill qual o sobrenome delemesmo, enfim, aquele garoto descendente de indianos”, pensou Charlotte.Na tarde anterior, ela fora ao workshop sobre consciência da diversidade na escola.Havia ficado um pouco nervosa, sem conseguir imaginar como seria, mas acabouse divertindo bastante.Toda a experiência tinha sido transformadora. Eles tinham começado comexercícios, em grupo, em que trabalhavam a autoconfiança. Logo depois, sedeitaram de costas sobre colchonetes, formando um grande círculo, com ascabeças voltadas para o centro. Um por um, tinham que responder a perguntasfeitas pelo coordenador do workshop: “O que é preconceito?”, “O que é ser norte-

americano?”, “Como você reage ao ouvir alguém falando com sotaque?”, “Comovocê descreveria as relações entre estudantes de diferentes raças e etnias na

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20COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

escola Parker?” Como estavam dispostos em círculo, os participantes não conseguiam ver os rostosuns dos outros, apenas ouviam suas vozes. Charlotte sentiu como se, duranteaquelas rápidas duas horas, tivesse aprendido mais sobre si mesma e sobre suaescola e comunidade do que durante os três anos em que estudava na escola

Parker.

A maior surpresa, no entanto, fora o som de sua própria voz. Primeiro, se sentirainibida em dividir seus pensamentos. Queria ser honesta, mas também não queriaofender ninguém. Mas, ao final da sessão, estava se sentindo completamente àvontade. Por muito tempo, Jared e o balé tinham sido as únicas coisas em sua vida.Agora, uma porta para um novo mundo estava se abrindo e Charlotte sentiraimediatamente que nos workshops sobre diversidade poderia crescer.Logo depois,ela saíra com Susie Kawamura e alguns outros participantes para comer doces etomar café. Susie mostrou ser muito divertida e, como Charlotte, interessada emmúsica clássica, dança e arte. Quando Susie sugeriu um passeio para ver a nova

exposição no Museu de Artes de Boston na tarde do dia seguinte, todos na mesaconcordaram com entusiasmo. Apenas Charlotte, ficando ligeiramente ruborizada,admitiu ter outros planos: um jogo de futebol americano.O devaneio de Charlotte foi repentinamente interrompido pela voz de Maddie.- Intervalo – disse ela. – Você vem, Charlotte?Charlotte fez que sim com a cabeça, seguindo Maddie por entre os quiosques. Nosintervalos das partidas, as duas sempre seguiam uma rotina rigorosa: primeiro,compravam um saco gigante de pipoca amanteigada e suco gelado de maçã;depois, paravam perto do banco de reserva do campo e, se o técnico Baldwin nãoestivesse berrando com o time, Charlotte conseguia às vezes trocar uma palavrarápida com Jared.

Hoje, Charlotte inventou uma desculpa para sair da rotina.- Vou dar um pulo no ginásio para usar o banheiro – falou para Maddie. – Encontrovocê na arquibancada, O.K.?Maddie franziu rapidamente a testa, estranhando essa quebra no programa dasduas, mas concordou.- Lógico. Eu vou tentar não comer toda a pipoca, mas não posso prometer nada.

Charlotte se virou antes que Maddie pudesse adivinhar que ela estava mentindo. Naverdade, ela não precisava ir ao banheiro. Apenas não queria ver Jared. “Mas, cedoou tarde, terei que encará-lo”, pensou. “Cedo ou tarde vou precisar decidir o quefazer.” 

Enquanto Charlotte discava o número de Jared às seis horas da tarde do mesmodia, seu coração batia como um martelo. O telefone tocou três vezes, então aquarta. Ela estava quase desligando, aliviada por não ter ninguém em casa, quandoJared atendeu.- Alô?- Sou eu – disse ela, com a voz esganiçada.- Ei. E aí?

 “Ainda não é tarde para você sair dessa, Charlotte. Diga apenas: “Só liguei paradizer novamente que você jogou super bem!” ‘ Hum, eu estava pensando...’ ” Charlotte bateu com o dedo gota de suor nos seu lábio superior.- Você vai me pegar às oito para a festa, não é?- Certo.- Bem, você acha que, ah, você poderia vir às...

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 “Quanto tempo isso vai demorar?”, imaginou ela, entrando em pânico. “Serpa queiremos discutir por muito tempo? Vamos chorar? Ou ele vai apenas desaparecer?”.Ela não tinha nenhuma experiência nisso. Jared tinha sido seu primeiro e úniconamorado!- Você poderia vir meia hora antes? – ela finalmente conseguiu perguntar. – Quero

conversar com você sobre uma coisa.- Claro – respondeu Jared. – Sem problema. Até lá.- O.K. Tchau.Charlotte colocou o fone rapidamente no gancho.- Isso não foi tão difícil – sussurrou para si mesma. Então, quase soltou umagargalhada. Não, é claro que não tinha sido. A parte mais difícil viria depois, às setee meia. Pelo telefone, Jared parecia despreocupado e alegre porque aindacontinuava excitado pela vitória do time de futebol... e porque ele não tinha a meraidéia de que sua namorada estava prestes a terminar com ele.

Ela desceu as escadas arrastando os pés. Na cozinha, encontrou sua mãe num

roupão de banho de flanela, empoleirada num banco alto perto do balcão, comrolos no cabelo loiro acinzentado. Ela bebia chá quente e fazia as palavras cruzadasdo Boston Globe, o jornal que assinavam.- Você e papai vão sair hoje à noite? – perguntou Charlotte. Ela abriu a geladeira eolhou desanimada para tudo que tinha lá dentro.- Vamos a um concerto – respondeu Eve Kennedy, escrevendo uma palavra nascruzadas e apagando em seguida. – E você e Jared?- Tem uma festa na casa do Jeff – Charlotte fechou a porta da geladeira sem tirarnada. – Sabe, pra comemorar a vitória na partida de hoje.- Parece que vai ser divertido – comentou a senhora Kennedy.- É, muito – Charlotte falou secamente.

A senhora Kennedy largou a caneta e levantou o olhar.- Você não está entusiasmada – observou ela.- Ah, é só...

 “ É só que eu provavelmente não vou à festa, mãe, porque eu estou pretendendoterminar com Jared antes.” Ela e a mãe tinham um ótimo relacionamento, mas por algum motivo Charlotte nãoconseguia se abrir para revelar suas intenções em relação a Jared. Se fizesse isso,não teria outra escolha quando Jared chegasse. Assim, sem falar nada, aindapoderia mudar de idéia até encontrá-lo.- É só que é sempre a mesma coisa – explicou, procurando melhorar a voz – Então,

fica difícil ficar muito animada por isso.A senhora Kennedy balançou a cabeça, concordando.

- Às vezes, me sinto assim nas festas a que seu pai e eu vamos. Coquetéis na casados Carmichaels de novo, não! Mitch Carmichael sempre conta as piores piadas, eClaire sempre fala pra ele se calar e parar de chatear as pessoas, mas é claro queisso nunca acontece. E, então, Brad McGinnis sempre traz um álbum cheio de fotosde seu iate idiota, e espera que todos nós fiquemos elogiando – continuou. – Ele étão obcecado por aquele barco que nem percebe quando Penny toma vários uísquese começa a flertar com Peter Bristol. Preciso dizer mais alguma coisa?Charlotte soltou uma gargalhada.

- Não, é isso parece pior do que uma festinha de comemoração do jogo de futebolna casa do Jeff Swanson – comentou Charlotte. Ela foi em direção de sua mãe e lhe

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22COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

deu um beijo. – Até mais tarde, mãe.- Tenha uma boa noite, querida – a senhora Kennedy disse, voltando-se para aspalavras cruzadas.Charlotte saiu da casa e começou a perambular pelo quintal. Caiu sobre aespreguiçadeira acolchoada e jogou a cabeça para trás, fitando o céu. Os dias

estavam se tornando mais curtos. O gramado já estava totalmente nas sombras.Repentinamente, Charlotte sentiu sua garganta se apertar. Seus olhos se encheramde lágrimas que, em seguida, escorreram pelo seu rosto. Ela havia chegado a umponto em que não conseguia imaginar um futuro com Jared, mas também nãoconseguia imaginar um futuro sem Jared. Estavam juntos há muito, muito tempo, etinham compartilhado alguns momentos realmente felizes. “ Isso vai doer”,imaginou ela, “mais do que qualquer outra coisa em minha vida”.Imaginava que poderia adiar isso, mas terminar com Jared seria doloroso, nãoimportando quando acontecesse. E precisava fazer isso. Não o amava do mesmo

 jeito que antes – e todas as lembranças felizes dos dias em que eram mais jovensnão poderiam alterar esse fato. Charlotte estava amadurecendo, mas a relação não

amadurecia com ela.

Jared simplesmente não mudaria nunca. Jogaria futebol americano e conseguiriaboas notas em Harvard, então estudaria numa escola de administração ou direito.Teria o emprego certo e os amigos certos, dirigiria o carro certo e seria sócio doclube certo. Nunca se incomodaria em explorar o mundo além da porta da frente desua casa.Ainda assim, sentiria falta dele. As lágrimas de Charlotte começaram a correr maisrapidamente. Jared nunca mais iria beijá-la. Nunca mais passaria os dedos pelosseus cabelos ou massagearia seus pés após uma aula dura de balé. Sem passeiosno carro conversível dele para a costa de Maine durante o verão, sem caminhadas

na neve durante o inverno. Sem encontros para estudar ou sessões de cinema oufestas de escola. Nunca mais seriam votados para “ o casal do ano” da escolaParker.

 “É a coisa certa a fazer”, Charlotte se lembrou. Mas ela seria realmente capazdisso? Ela e Jared tinham sido inseparáveis por muito tempo. Ela realmente queriaficar sem ele?Às sete e meia em ponto, Charlotte estava sentada no sofá da sala de estar,vestida para a festa, ainda que realmente não esperasse ir. Apesar de seus olhosestarem secos e sua expressão aparentemente normal, ela não conseguia parar depassar os dedos pelo anel prateado e azul-turquesa que Jared lhe havia dado no

primeiro aniversário de namoro.Ela olhou para o relógio. Sete e quarenta. Jared estava atrasado. “ É melhor elechegar aqui logo”, pensou, abraçando uma almofada de brocado contra o peito parase confortar. “ Quero acabar com isso de uma vez.” Às oito horas, Charlotte estava confusa. Às oito e quinze, já estava preocupada.Após correr para a cozinha, ligou para a casa de Jared. Ninguém atendia. “ Ele deveestar a caminho” , supôs.

Voltou para a sala de estar. Mais alguns minutos tensos se passaram. E quando elaia ligar novamente para Jared. Ou tentar telefonar para algum amigo deles, faróisbrilharam através. A Toyota branca da mãe de Jared estava subindo a pequena

rampa da entrada de carros. “ deve ter alguma coisa errada com o carro dele... épor isso que ele se atrasou”, pensou Charlotte. “Mas por que ele está dirigindo

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23COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

como um louco?” Derrapando ligeiramente a Toyota parou subitamente, lançando alguns gravetossobre o gramado. A porta do motorista se abriu e um garoto alto de cabelo escurosaiu do carro. Sob a luz fraca do poste, Charlotte levou alguns segundos paraperceber que aquele não era Jared. Havia uma nítida semelhança familiar, mas

aquele garoto era mais magro e mais jovem.- Jimmy? – chamou Charlotte – É você?Jimmy Colburn, o irmão de dezesseis anos de Jared, correu em direção a Charlotte.Ele estava sem fôlego, com os olhos arregalados. Assustado.Charlotte sentiu sua respiração parar e um terror sufocante tomar conta de seuspulmões.- Jimmy, o que aconteceu? – ela falou com a voz embargada.- É o Jared – Jimmy respondeu ofegante, confirmando o temor dela – um acidentede carro. Foi pro hospital.- Um... um acidente de carro? – gaguejou Charlotte – pro... pro hospital?- Algum idiota avançou o sinal vermelho e bateu na lateral dele. É grave, Char.

A cor desapareceu do rosto de Charlotte. Ela fitava Jimmy sem conseguir acreditar.Ele também a fitava, com o maxilar tenso e os olhos castanhos arregalados.- Minha família foi direto para o hospital, mas eu achei que você gostaria de irtambém. Vamos – ele apressou, puxando-a pelo braço.

Saindo aos tropeços, Charlotte seguiu Jimmy até a Toyota. Imagens de pesadelopassavam diante de seus olhos: um cruzamento à noite, um semáforo mudando doamarelo para o vermelho, o barulho agudo dos pneus freando no asfalto. Metalamassado, vidro estilhaçado.

 “ E sangue”, ela pensou, aturdida. O sangue de Jared.

Capítulo QUATRO

Enquanto esperavam por noticias sobre o estado de Jared, os Colburn e Charlottetinham a sala de espera da UTI do hospital só para eles. Os minutos se arrastavamcomo se fossem horas. As horas passavam como anos.Charlotte tentou ler algumas revistas. Atravessou o corredor rapidamente emdireção a uma máquina de vender doces e comprou uma barra de chocolate, que

 jogou no lixo após dar apenas uma mordida. Ela observou os quadros nas paredesda sala, memorizando cada detalhe daquelas paisagens suaves e suas molduras.Mas nada fazia o tempo passar mais rápido.- Que horas são? – a senhora Colburn perguntou novamente ao marido, ainda que

houvesse um relógio na parede bem à sua frente.- Cinco para a meia-noite- replicou Don Colburn. Ele parou um pouco de andar deum lado para o outro e fez o carinho no ombro da esposa. – Vamos saber algo embreve, tenho certeza – acrescentou ele, com voz suave.Jimmy permanecia jogado numa cadeira, as sobrancelhas despencadas e a bocaligeiramente entreaberta. Um minuto depois, um ronco abafado quebrou o silênciotenso que havia tomado conta da sala.- Como é que ele consegue dormir? – comentou Charlotte, segurando o impulso dechutar a canela de Jimmy. Seus nervos estavam uma bagunça; ela sentia como seestivesse prestes a explodir- quando o irmão está... pode estar... – ela engoliu emseco, incapaz de pronunciar a palavra “morrendo”.

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24COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

- Vai ficar tudo bem, Charlotte – prometeu o senhor Colburn, apesar de um tiqueem sua bochecha esquerda desmentir a calma que tentava transmitir. – Jared é

 jovem e forte. Ele vai superar isso tranquilamente.Como se soubesse o momento certo de aparecer, uma jovem médica entrou nasala de espera.

- Senhor e senhora Colburn? Eu sou a doutora Higgins.Bárbara Colburn levantou-se num sobressalto. Sua bolsa, que estava sobre o colo,caiu no chão com a abertura para baixo, espalhando tudo o que havia dentro, masa senhora Colburn nem sequer atentou-se para os batons moedas que saíramrolando.- Sim? – disse ela – Você pode nos dizer como Jared está?- Jared ainda está na UTI, e permanece inconsciente – relatou a Dra. Higgins. –Mas os sinais vitais dele já estão estabilizados. Apesar de ter sofrido uma fraturacraniana, não parece ter acontecido nenhuma hemorragia interna que resulte emdano cerebral. Ainda não sabemos a extensão dos ferimentos e provavelmente seráuma incógnita por mais alguns dias. Vocês podem entrar para vê-lo, se quiserem.

A senhora Colburn apressou-se em direção à porta, seguida pelo marido, Jimmyhavia acordado, levantando-se rapidamente. Charlotte seguiu por último.À medida que atravessavam o corredor estéril e deserto, Charlotte ouviu pedaçosda conversa entre a doutora e os pais de Jared.- Eletro encefalograma... – murmurou a Dra. Higgins. Mais alguns termosameaçadores apareceram. – Sistema nervoso central... fluído cérebro-espinhal...Hematoma subdural...Charlotte quis tapar os ouvidos com as mãos. “Eles não podem estar falando sobreo Jared”, pensou. Isso devia ser um pesadelo, uma punição por ela ter pensado emterminar o namoro.

Mas não era um sonho, era bem real. Um minuto depois, ela estava em p[e ao ladoda cama onde Jared permanecia imóvel sob um lençol branco liso. Seu rosto estavamachucado, seus olhos fechados como se estivesse desmaiado, a cabeça envoltapor gaze. Havia tubos em seu nariz e na garganta, e uma agulha com soro em seubraço direito.Charlotte se viu fitando aquele braço. Era tão moreno, tão forte. Exatamentenaquela tarde ele havia feito passes para os Patriots da escola Parker! Como issopodia ter acontecido?A doutora Higgins trocou mais algumas palavras com os pais de Jared. Então, aenfermeira noturna vestindo calças brancas e um guarda-pó rosa conduziu

gentilmente a família para fora do quarto.- Vocês todos devem descansar um poço e voltar amanhã de manhã – a enfermeiradisse com um sorriso.- Descansar um pouco... hã! – a senhora Colburn bufou. Então, virou-se para osenhor Colburn, pressionou seu rosto contra o ombro dele e desfez-se em lágrimas.Charlotte tentou não ficar olhando para a mãe de Jared. Sua própria angústia já eratão grande que ela mal podia suportar... ver Jared daquele jeito, tão machucado efrágil... e se ele nunca mais acordasse? Ela não conseguia livrar-se do sentimentode que, de algum modo, aquilo tudo era culpa dela. “Se não tivesse pedido a eleque viesse um pouco mais cedo, isso nunca teria acontecido”, Charlotte pensouarrependida.

Ela sabia que também não conseguiria dormir. “Pelo menos não nessa noite e nanoite seguinte também. Não antes de saber se Jared vai ficar bem.” 

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25COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

O dia seguinte amanheceu claro e azul, mas Charlotte não conseguia prestar muitaatenção na beleza daquele céu de outono.

Enquanto ia de carro para o hospital, esfregava os olhos secos e cansados. Na noiteanterior, não tinha conseguido dormir mais do que vinte ou trinta minutos

seguidos. Seus pais tentaram confortá-la, mas ela realmente não sentira nenhumavontade de conversar.Antes de Charlotte sair de casa, o telefone não parara de tocar – na maioriaamigos, ligando para saber de Jared. Charlotte escapou sem atender nenhuma daschamadas. Ela não estava pronta para conversar com ninguém. Não sabia se Jaredficaria bem. Não sabia nada.No caminho para o quarto de Jared, Charlotte deu uma espiada na sala devisitantes do hospital. Ainda vestindo as mesmas roupas da noite anterior, o senhore a senhora Colburn estavam sentados, apoiados um no outro, ambos dormindo.Eles não tinham voltado para casa.Charlotte andou nas pontas dos pés pelo corredor. A porta do quarto de Jared

estava entreaberta. Uma enfermeira mais velha tinha acabado de sair.- Bom dia – ela cumprimentou Charlotte. – Eu estava conferindo o soro dele. Eleestá dormindo profundamente. Entre.Charlotte deu um sobressalto.- Dormindo? Dormindo de verdade? Você quer dizer que ele não está maisinconsciente, ele...A enfermeira deu um sorriso sem graça.- Desculpe-me, querida. Eu deveria ter escolhido as palavras com mais cuidado.Não, ele ainda não acordou. Mas não perca as esperanças.A enfermeira virou-se e Charlotte entrou no quarto. Aproximou-se da cama deJared, puxando uma cadeira para se sentar.

Eles estavam a sós, mas por algum motivo aquele quarto não dava uma sensaçãode privacidade. Havia muitos aparelhos. Charlotte nem tinha certeza se poderiatocar nele. E se acidentalmente derrubasse o soro ou desconectasse o tuborespiratório?Cuidadosamente, esticou um braço e acariciou suavemente a testa dele com aponta dos dedos.- Jared – sussurrou. Não houve resposta. Sua respiração continuava, com certadificuldade mas constante. Cautelosamente, Charlotte colocou a mão dele na dela,apertando seus dedos imóveis. Ela repetiu o nome dele:

- Jared.A única resposta foi o zumbido do monitor cardíaco. Charlotte engoliu seudesapontamento, tentando rir de si mesma. ”O que você esperava, Kennedy? Queao ouvir sua voz ele se sentaria e lhe daria um abraço? Isso não é um filme detevê.” Mas milagres acontecem. Mesmo sendo realista do jeito que era, Charlotteacreditava nisso. Além disso, não tinha lido em algum lugar que, às vezes, pessoasem coma respondiam às vozes das pessoas queridas? Valia a pena tentar.- Ah, Jared... oi – Charlotte deu uma pausa para limpar a garganta, acanhada. –Sou eu, Charlotte – ela dizia, apertando gentilmente a mão dele. – Seus pais estãoaqui também, e aposto como o Jimmy está lá embaixo na lanchonete, devorando

algum sanduíche. Estamos todos aqui, e ficaremos aqui até... até... - ela engoliuem seco. – até quando for preciso.

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Ela observava-o de perto, na esperança de detectar algum movimento de suaspálpebras, talvez uma contração dos lábios ou até mesmo uma alteração do ritmoda respiração. Mas nada acontecia.- O jogo ontem foi o máximo – Charlotte mentiu, sabendo que aquilo era por umaboa causa. – Eu nunca tinha visto você jogar tão bem. Foi incrível!

Jared continuava sem responder. Nesse momento, Charlotte virou o rosto, seusolhos encheram-se de lágrimas.- Se existem dois assuntos que você sempre adorou, Jared Colburn, são futebolamericano e você – sussurrou ela, fungando. – Acorda, vai.Ainda assim não houve resposta.Por alguns minutos, Charlotte apenas permaneceu sentada silenciosamente,segurando a mão de Jared e olhando a janela com a cortina meio aberta do outrolado do quarto. Sua cabeça estava cheia de pensamentos melancólicos. Ela esteveprestes a terminar com Jared, a tirá-lo de sua vida. Agora parecia que ela iriaperdê-lo de um modo diferente, mais definitivo e horrível.

Charlotte voltou os olhos para o rosto de Jared. Dando um último aperto em suamão, ela começou a empurrar a cadeira para trás. Então, congelou. O que aquelecorpo desmaiado havia feito? Ele tinha se mexido na cama?E aquele barulho. Sem sombra de dúvidas, ele fizera um barulho. Um suspiropequeno, quase inaudível, mas ela escutara.- Jared! – gritou Charlotte, agarrando novamente a mão dele e apertando-a comforça.Não tinha sido imaginação dela. As pálpebras de Jared tremeram e então, lenta edolorosamente, se abriram. Ele olhou diretamente para Charlotte, mas seu rostoestava sem expressão, vago. Charlotte segurou sua respiração.- Jared – sussurrou. – Você pode me ver? Pode me escutar?

Por um longo momento, os olhos verdes de Jared permaneceram perplexos. Elenem mesmo piscou. “Ainda está fora de si”, Charlotte pensou desanimada.Então a boca de Jared se moveu lentamente. Existia um lampejo de consciência emseus olhos, que agora fitavam os dela com uma intensidade desesperada. Ela podiavê-lo se esforçando para focar, para formar palavras.Ela esperou pelo que parecia ser uma eternidade, sabendo que, para Jared, deviaestar sendo pior. Finalmente, ele conseguiu falar algo.- Charlotte – ele suspirou.- Estou aqui- respondeu ela, prendendo as mãos dele nas suas.Ele demorou algum tempo recuperando a respiração antes de repetir o nome dela.

- Charlotte.- Como você se sente? – ela procurou o botão que ficava ao lado da cama parachamar as enfermeiras. – Eu vou chamar os médicos e as enfermeiras. E seus pais!Eles vão ficar tão emocionados!A expressão de Jared não refletia a felicidade de Charlotte. Seus olhos estavamobscurecidos por uma sombra, que não era de dor, mas de alguma outra coisa.Algo pior.Desespero.- Charlotte – disse ele novamente. – Char, eu não consigo mover as pernas.

Para Charlotte, os dias seguintes se passaram como um borrão de visitas ao

hospital, conversas tensas com os amigos e a família de Jared e agitadas noites maldormidas. Os pais dela escreveram uma carta para escola, assim ela pôde faltar na

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27COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

segunda e na terça. Pra que ir se estava tão cansada e perturbada que nãoconseguiria aprender nada?Na quarta-feira. Charlotte acordou com o mesmo sentimento de dor e pânico quevinha sentindo desde sábado à noite, quando Jimmy Colburn aparecera na frentede sua casa.

- Mais um dia, mãe – ela implorou na mesa do café da manhã, assim que sua mãenegara a autorização para que faltasse à aula mais uma vez. – por favor. Eu nãoconsigo encarar isso ainda.- Tudo bem, querida – a senhora Kennedy acabou cedendo com um suspiro. – Masamanhã você realmente precisa tentar voltar a sua vida normal. Eu sei que é difícil,mas você não pode se dar ao luxo de atrasar mais seu curso. E o balé, então?Escola, balé. Charlotte não sabia como explicar para sua mãe que essas coisaspareciam triviais quando Jared estava deitado numa cama de hospital, com suaspernas paralisadas.- Eu vou à escola amanhã – prometeu ela.Charlotte passou as horas de visita da manhã junto a Jared, lendo o jornal Boston

Globe para ele. Quando ele cochilou – ainda estava meio tonto por causa dosanalgésicos – ela tentou fazer alguns dos deveres de casa atrasados que Maddiehavia lhe passado. Depois de sair rapidamente para almoçar um sanduíche defrango na lanchonete do hospital, retornou ao quarto.Jared estava dormindo. Sua mãe sentava-se na cadeira próxima à janela, bordandouma toalha.- Mais uma hora antes que os amigos comecem a aparecer – a senhora Colburnobservou.Jeff, Matt, Bev, Paige e Bob tinham aparecido todos os dias após a escola. Sempretraziam alguma coisa: flores, balões, revistas, um ursinho de pelúcia vestindo umacamiseta dos Patriots, alguns dos cookies feitos por Bev.- Acho que vou dar uma saída antes de todo mundo chegar e voltar antes do jantar– disse Charlotte. – Eu simplesmente não consigo... – ela terminou a fraseencolhendo os ombros. Os amigos dela e de Jared eram outra coisa com a qual elanão conseguia lidar.

- Eu vou ficar – a senhora Colburn ofereceu-se. – Eu preciso falar com eles mesmo.Colocá-los a par das últimas.- Os médicos falaram mais alguma coisa sobre as pernas de Jared?Sem responder de imediato, a senhora Colburn colocou o bordado no colo elevantou a cabeça para Charlotte. Seus olhos, repentinamente, ficaram embaçados.

- Senhora Colburn? – instigou Charlotte, com a voz trêmula.- Hoje de manhã o doutor Belsky me contou... – a senhora Colburn parou,pressionando um punhado de lenços de papel contra o rosto. – Os últimos examesmostraram que as terminações nervosas da lombar estão... – ela fez uma novapausa. Depois de assoar o nariz, continuou. – Jared tem alguma sensação naspernas, isso quer dizer que a medula espinhal não está gravemente afetada. Estassão boas noticias.- Então, são boas noticias – Charlotte falou baixinho. – Nós já sabemos que eleprecisa ficar mais um tempo na cama. Mas ele vai voltar ao normal, certo?- Talvez sim, talvez não. Não há nenhuma garantia. O médico diz que... ele diz queJared não deve... – a voz da senhora Colburn transformou-se num sussurro de um

coração partido. – Ele não deve voltar a andar.Aquelas palavras atingiram Charlotte com a força de um soco.

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28COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

- Ele não deve voltar a andar? – repetiu ela. – Mas e o futebol e o beisebol? A bolsade estudos para atletas da universidade? Jared é tão forte! Com certeza ele...- Não há nenhuma garantia – a senhora Colburn repetiu. – É isso o que os médicosestão nos dizendo agora. Sem garantias.Charlotte olhou Jared dormindo na cama do hospital. O curativo que envolvia sua

cabeça fora removido, e seus cabelos escuros estavam amassados e encaracolados.Vestindo uma roupa fina de hospital, seu braço ainda preso ao soro, ele pareciamuito mais novo do que seus dezessete anos... e incrivelmente vulnerável.O prognóstico foi devastador, um golpe duro para todos que gostavam de Jared.Mas havia, é claro, uma pessoa que teria ainda mais dificuldades para aceitar anoticia: o próprio Jared. “Quando, e como, iremos contar a ele?”, Charlotteimaginou.

Capítulo CINCO

Numa manhã chuvosa de quinta-feira, Charlotte pegou o ônibus para a escolaParker. Era a primeira vez que ela pegava aquele Ônibus, já que desde a metadedo ano passado, quando Jared havia tirado sua carteira de motorista, ia para aescola com ele todos os dias. “Ele nunca ficou doente, nem uma vez sequer”, elapensou. Jared sempre fora tão malditamente saudável! E agora ele, o superatleta,estaria usando uma cadeira de rodas... Possivelmente para o resto da vida.Enquanto esperava no ponto, sob o guarda-chuva, Charlotte desejou que o ônibusse atrasasse, imaginando que, com sorte, chegaria na escola bem na hora de entrarna sala de aula.Não foi isso, porém, que aconteceu. Apesar da chuva, o ônibus chegou no horário,

o que significava que estaria na frente da escola quinze minutos antes de as aulascomeçarem. “Quinze minutos para ficar escondida no banheiro”, decidiu Charlotte,fugindo das gotas de chuva durante seu caminho para o prédio.Não havia passado nem dois metros da entrada principal quando dói abordada.- Charlotte, estou tão triste por Jared – disse Kelly O’Connor, a chefe da torcidaorganizada da escola. Kelly segurou o braço de Charlotte firmemente, como seesperasse que uma das duas ou ambas desmaiassem diante daquela tragédia toda.– Eu ouvi dizer que ele está... – a voz de Kelly transformara-se num sussurrofúnebre – paralítico.- Ele não está paralítico – replicou Charlotte rispidamente, soltando o braço. – Masobrigada por sua preocupação, Kelly.

- Dê um beijo nele pela torcida, ta bem? – disse Kelly.- Dou sim.Charlotte avançou rapidamente. Nolan Fitch e Juan Suarez, dois jogadores do timede futebol americano, a interceptaram.- Charlotte, como está o Jared? – perguntou Nolan.- Ele está melhorando – respondeu ela, com falsa alegria – Ele vai voltar logo praescola.

- Mas não pro time, certo? – disse Juan. – Quer dizer, eu ouvi dizer que ele vaificar, tipo, tetraplégico.- Paraplégico – corrigiu Nolan. – Só as pernas. Os braços não, certo, Charlotte?

- As pernas dele estão bem – ela disse rapidamente. – Quer dizer, elas não estãobem, mas também não estão mal assim. Obviamente que ele não voltará a jogar

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29COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

futebol imediatamente, mas talvez em um mês ou dois... – “Por que eu estoumentindo?” ela se perguntou. “Por que eu estou falando com essas pessoas?” –Com licença, meninos, eu preciso...Ela os abandonou abruptamente, correndo para a escada central. “A biblioteca”,pensou. Aquele seria um lugar seguro para ficar até o sinal tocar.

Após subir metade da escada, ouviu um barulho de saltos atrás de si. Uma mãoagarrou seu ombro.- Aí está você! – exclamou Maddie.Charlotte se virou para ver não apenas Maddie, mas Samantha, Bev e Paigetambém.- Vamos – disse Maddie, puxando Charlotte pelo braço. – Vamos sentar em algumlugar tranqüilo até a aula começar. Bev trouxe um bolo, não é, Bev?Bev concordou com a cabeça.- E uma garrafa térmica com aquele cappuccino que você adora, Char.Charlotte parou de resistir e se deixou ser levada para o corredor do segundoandar.

- A sala dos professores? – perguntou, ao ver para onde Maddie a estava levando.- Tudo bem – assegurou Paige. – Temos permissão do senhor Cobb. E, pela manhã,a maioria dos professores usa a sala do primeiro andar mesmo. Ninguém vai nosincomodar aqui.A sala estava silenciosa. Charlotte não protestou quando Maddie lhe forçou gentilmas firmemente a se sentar num medonho sofá acolchoado, ou quando Bevcolocou um pedaço de bolo de nozes em sua mão. As amigas se aproximaram dela,sentando duas no sofá e duas nas cadeiras.- Isso é terrível pra você – disse Samantha, esticando-se para afagar a mão deCharlotte.- Muito terrível – repetiu Paige.- Eu só posso dizer que você não está nem comendo nem dormindo – falou Bev,derramando um pouco de café na tampa da garrafa térmica.

- Coitadinha! – declarou Maddie, enchendo os olhos de lágrimas.Todas elas falavam num tom baixo, respeitoso. “Da mesma maneira como aspessoas falaram com tia Chloe no velório do tio Patrick”, pensou Charlotte.- Meninas, eu não sou viúva – ela lembrou.- É claro que não – disse Samantha, olhando chocada. – Mas o que você deve estarsofrendo! Com seu namorado no hospital, tão gravemente ferido...Maddie continuou o lamento.

- Ver alguém que você ama passando por tanta dor... Você deve estar arrasada,Char. E toda a historia do nervo afetado ou seja lá o que for. Pobre Jared. Como eleestá lidando com isso?- Eu não tenho certeza se ele já compreendeu qual é a situação – Charlotte deu umgolinho no café. – Ele ainda está por fora.- Jared vai superar – declarou Paige com confiança. – Sabe por quê? Porque eletem o amor e o apoio de Charlotte. Isso faz toda a diferença.- Certo – concordou Bev, balançando a cabeça enfaticamente. – Jared ficará bem.Vocês dois ficarão bem.- E você sabe que se tiver alguma coisa que nós possamos fazer, qualquer coisa,estaremos aqui para ajudar – Paige falou para Charlotte. – Por vocês dois.

- Obrigada – Charlotte disse com a voz fraca.As amigas não poderiam ter sido mais carinhosas, mas mesmo assim Charlotte se

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sentiu ridiculamente aliviada quando o sinal tocou. “É assim que vai ser durante todo o dia? Durante toda a semana? E depois e depoise depois?” Ela já sabia que seria difícil lidar com as perguntas e curiosidades das pessoas. Oque ela não imaginava era que a simpatia das amigas faria com que se sentisse um

milhão de vezes pior. “Todos supõem que eu estou arrasada por causa doacidente”, pensou Charlotte, enquanto se sentava numa carteira no fundo da salade aula. E ela estava, naturalmente, mas não da maneira que estaria se aindaestivesse apaixonada por Jared.Aos olhos do mundo, Charlotte ainda era uma namorada devotada. Enquanto todosna sala viravam o pescoço para observá-la, ela mantinha o olhar fixo no caderno,sentindo-se uma fraude completa. Se o acidente tivesse acontecido um único diadepois, ela e Jared não seriam mais um casal. Mas do jeito que tudo haviaacontecido, ela, e somente ela, sabia que o que sentia por Jared era bem diferentedo que as pessoas imaginavam.Afogada em sentimentos de culpa e confusão, Charlotte relembrou as coisas que

suas amigas tinham acabado de lhe dizer na sala dos professores. “Você deve estararrasada... Ver alguém que você ama passando por tanta dor... Jared vai superarporque ele tem Charlotte...” Pela primeira vez, Charlotte começou a pensar emcomo o acidente de Jared afetaria sua vida. Ela quase terminara o namoro parapoder seguir seu próprio caminho. E agora?Não, os sentimentos dela eram bem diferentes do que as pessoas imaginavam. Eleseram um milhão de vezes mais complicados.

Jared estava sozinho em seu quarto particular do hospital. O pai estava noescritório, a mãe fora convencida por uma amiga a sair para almoçar e tomar umpouco de ar, Jimmy e Charlotte ainda estavam na escola. A enfermeira da tardetinha fechado a fina cortina da janela a fim de suavizar a luz forte do sol. Jaredpermanecia imóvel na cama, observando o jogo de sombras e luz nas paredesbrancas do quarto. Em algum lugar do lado de fora havia movimento. “Umaárvore”, ele pensou. “Galhos. Vento.” Fechou os olhos, cansado até mesmo daquela rápida observação de reflexos. “Pelomenos meu cérebro está funcionando”, pensou amargamente, “ainda que por umminuto de cada vez”.Com os olhos ainda fechados, moveu a mão direita sobre olençol branco até que repousasse sobre sua perna. Cuidadosamente, apertou acarne musculosa da coxa. A experiência foi chocante, como se estivesse apertandoo membro de um manequim. Apesar do lençol fino, seus dedos podiam sentir o

calor de sua própria pele, mas não havia nenhuma sensação de resposta.

Jared apertou os dentes, lutando contra as lágrimas que escorriam de seus olhos.Ele não sentiria pena de si mesmo. Ele sabia que se alimentasse sentimentos deauto-piedade, cairia num buraco tão fundo e escuro que talvez nunca maisconseguisse sair.Não que isso não fosse tentador. “Meu último ano escolar, eu ou o co-capitão dotime vou perder toda a temporada de futebol americano”, pensou mal-humorado.

 “Droga, nunca mais vou fazer esportes, pelo menos não esportes de verdade.Talvez possa participar daqueles campeonatos de pingue-pongue na cadeira derodas.” 

Irritado, ele beliscou a perna com força. Teve a impressão de ter sentido algo, bemlonge e lá no fundo. Em algum lugar, embaixo da inércia absoluta, uma parte dele

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continuava viva. Um lampejo de otimismo retornou. “Meu pescoço não estáquebrado... eu posso ficar satisfeito por isso”, lembrou. “Minhas pernas não ficarãocompletamente paralisadas... os médicos dizem que eu ainda tenho alguns reflexossatisfatórios. Pare de se lamentar, Colburn.” Naquele momento, alguém bateu suavemente à porta entreaberta.

- Ei, entre – disse Jared.Charlotte deu uma espiada pela fresta da porta.- Estou sozinha.- Eu também – ele respondeu, mostrando um sorriso.Ela andou até o lado da cama.- Você está com uma aparência ótima hoje – disse ela. – Muito mais acordado.- Eles cortaram os analgésicos – explicou ele.- Você vai voltar logo para casa, né?- Já vou tarde.Ela puxou uma cadeira para perto da cama e sentou-se, cruzando as pernas. Jaredvirou a cabeça sobre o travesseiro de modo a poder enxergá-la.

Era engraçado. Ele conhecia Charlotte há tanto tempo que às vezes,paradoxalmente, ele quase se esquecia de sua aparência. Ele não conseguiria dizercom precisão qual era a cor dos olhos dela, ou se ela normalmente usava o cabelosolto ou preso, ou se tinha unhas longas ou curtas. Agora ele se deleitava com suaaparência: os brincos prateados brilhando contra o cabelo sedoso, a pele macia, apostura elegante de bailarina, o suéter branco felpudo e a saia curta plissada, asmeias verde-escuras que cobriam suas pernas bem torneadas. Até mesmo ossapatos pretos comuns estavam parecendo mais interessantes hoje.Abruptamente, Jared virou o rosto para o outro lado. Charlotte acompanhou-o como olhar. Para onde ele...O rosto dele ficou quente de vergonha. Desejou poder se sentar na cama desejouestar vestindo uma calça de moletom, pelo menos, no lugar daquele roupão fino dehospital e daquela coberta inadequada.- Você tem vindo aqui todos os dias, não é? – disse Jared, fitando a tela escura datelevisão que ficava no alto da parede oposta.- É claro.- Obrigado.- Ei, afinal, pra que são os amigos?- É sério, Char – as lágrimas ameaçaram cair novamente, mas ele conseguiusegura-las. – Eu sei que fiquei fora do ar esses dias, mas me lembro de que emalguns momentos em que tudo parecia estar meio enevoado pude ouvir sua voz. E

isso me ajudou a ter força. Eu não sei o que faria sem...Jared parou, não se permitindo continuar. Ele nunca havia chorado na frente deCharlotte, e não pretendia começar a fazer isso agora.Ela se inclinou para tocar o braço dele.- Não precisa agradecer – ela falou suavemente.- Por alguns minutos, os dois permaneceram em silêncio. Então Charlotte se curvoupara pegar alguma coisa de sua bolsa.- Eu trouxe um punhado de cartões do pessoal da escola, desejando melhoras – eladisse, com uma voz alegre novamente. – Você sabia que é um cara bem popular,Jared Colburn? Absolutamente todo mundo me perguntou sobre você. Até penseiem dar uma entrevista coletiva!

Jared pegou o maço de cartões mas nem chegou a olhar.- Então sou o assunto na cidade.

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- As pessoas estão sentindo falta de você, é só isso. Querem saber quando você vaivoltar.Jared não pretendia ficar pensando em quando voltaria para a escola Parker.

 “Mamãe vai ter que me dar carona, porque o meu carro está totalmente destruído.” Ele quase soltou uma gargalhada. Não faria diferença se tivesse um carro novo...

ele não seria capaz de dirigi-lo mesmo!- Sabe, você não precisa ficar todas as tardes aqui comigo – ele disse a Charlotte. –Deve ser deprimente.- Não é. Mas, se você quiser descansar, eu posso...- Eu não quero descansar – ele falou de rompante. – Tudo o que eu tenho feitoultimamente é... – Jared fechou os olhos. O esforço para levantar a voz fez suacabeça latejar. – Desculpe, Char – falou baixinho. – Eu não deveria reclamar comvocê. Você tem sido a melhor. É só que... eu não sei como vou lidar com isso. Eurealmente não sei.- Você vai ficar bem – prometeu ela, acariciando a mão dela.Ele sabia que as intenções dela eram as melhores, mas o jeito como ela acariciava

sua mão fazia com que ele se sentisse um homem velho e frágil. Como se ele fosseficar numa cadeira de rodas para o resto da vida, dependendo de outras pessoaspara ajuda-lo com as coisas mais simples e idiotas, como se vestir e ir ao banheiro.Por um segundo, odiou Charlotte porque, quando as horas de visita terminassem,ela simplesmente poderia sair andando do hospital sem olhar para trás, sem nemestar consciente do quanto tinha sorte por ser forte e saudável. E ele a odiavaporque a amava. Os dois sempre formaram um casal perfeito. E agora, que tipo denamorado ele seria para uma garota como Charlotte?- Desculpe, estraguei todos os nossos planos para o futuro – ele mal reconhecia aprópria voz, era ta cheia de amargura e pena de si mesmo. – É uma pena pelabolsa de estudos, né? Mas talvez eu ainda tenha alguma chance em Harvard... seeles quiserem um aleijado no time, como mascote ou algo parecido.Charlotte franziu a testa.- Não fale assim – ela o repreendeu. Você está se sabotando. Além disso, nem éverdade. Você vai melhorar.Jared a fitou. Repentinamente, ter Charlotte ao lado dele parecia ser maisimportante que qualquer coisa.

- Você realmente acredita nisso? – perguntou ele, tomado por uma mistura demedo e esperança.- Eu realmente acredito. Você vai melhorar – repetiu ela.

Subitamente, Jared sentiu que a pouca força que lhe restava tinha se escoadocompletamente. No momento em que fechou os olhos, começou a sentir a mentese embaralhar. Seu último pensamento antes de cair num sono profundo foi: “SeCharlotte acredita nisso, então deve ser verdade”.

Capítulo SEIS

Uma semana depois, Charlotte sentou ao lado de Jared no banco traseiro da Toyotaa caminho de casa. Toda vez que o carro dava um solavanco, estremecia,imaginando a dor que aquilo devia causar a ele. Mas o rosto de Jared permanecia

inexpressivo. Charlotte tinha certeza de que ele estava sentindo um milhão decoisas diferentes, físicas e emocionais, mas as guardava para si.

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33COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Quando o carro virou a alameda Bayberry, porém, e Jared pôde ver todos os carrosestacionados ao longo do meio-fio perto da garagem de sua casa, seus ombrosficaram tensos.- Isso é que vai ser difícil – murmurou ele.Charlotte apertou a mão do namorado.

- Você vai se sair bem.Ele olhou para ela, ensaiando um sorriso sem graça.- É, devo olhar por lado bom da coisa. Eu vou estar numa cadeira de rodas, entãonunca vou cair com a cara no chão.Esse era o tipo de piada que Jared fizera durante toda a semana., mas Charlottesabia que era necessário um grande esforço para que ele mantivesse o bom humornum momento como aquele. “Tudo o que ele tem de fazer é ir do carro para casa,mas este vai ser um dos maiores desafios de sua vida”, ela se deu conta. “Ele vaiprecisar de muito mais força e coragem do que já teve que demonstrar emqualquer partida de futebol ou beisebol.” Impulsivamente, Charlotte inclinou-se e abraçou Jared.

- Vamos lá – sussurrou em seu ouvido.O senhor Colburn estacionou o carro e abriu o porta-malas. A senhora Colburnandou até a parte de trás do carro, e Charlotte se prontificou a ajudá-la.

Juntas, retiraram a pesada cadeira de rodas do porta-malas. Durante os doisminutos que levaram para armar a cadeira, várias pessoas começaram a sair dacasa, se reunindo no jardim e mantendo uma certa distância do carro.Charlotte conduziu a cadeira até o lado do carro em que Jared estava, com osenhor Colburn pronto para ajudar o filho. O rapaz colocou um braço ao redor dopescoçodo pai e sentou na cadeira de rodas.- Confortável? – perguntou a mãe, inclinando o corpo para colocar um travesseiro

de suporte da lombar atrás das costas do filho.- Não sei se algum dia vou me sentir confortável nessa coisa – replicou Jaredbaixinho.Charlotte caminhou ao lado de Jared enquanto ele conduzia a cadeira lentamenteao longo do piso de tijolos em direção à porta. Da frente, sobre a qual havi umafaixa onde se lia: “Bem-vindo, Jared”. Depois de alguns metros, ele parou pararecuperar o fôlego e segurar a mão de Charlotte.Seus amigos não conseguiam mais se conter. Correram para dar-lhe tapinhas nascostas, beijar suas bochechas, cumprimentá-lo.- Você está ótimo, Colburn!

- A gente sentiu muito sua falta, Jared.- Que bom que você está de volta, cara!Jared segurava firmemente a mão de Charlotte. Ela podia sentir as emoções quetomnavam conta dele; passavam para ela pelos dedos dele como se fossem umadescarga elétrica.- Obrigado pelo comitê de boas-vindas – Jared disse, assim que os cumprimentosterminaram. Ele tirou o cabelo da testa, abrindo seu sorriso típico, e então soltouuma piadinha. – O que você acharam da minha nova máquina?- Você trocou seu carro por isso? – Matt seguiu com a brincadeira.- Ei, é mais fácil para estacionar – protestou Jared.-Mas não tem muito espaço pro carona – acrescentou Paige.

Surgiram mais algumas piadinhas. Então Jeff falou:

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34COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

- O time não é o mesmo sem você, Colburn. Precisamos de você de volta aocampo, cara.- Não se preocupe, Swanson – respondeu Jared calmamente. – Estarei novamenteem forma no final da temporada. Só leve o time até as finais, que eu estarei lá.Mas eu ouvi um boato de que existe um bolo com meu nome em algum lugar.

Vamos, me levem até ele!A turma começou a entrar na casa mantendo o clima otimista que Jared estavatransmitindo. Apenas Charlotte sabia o tremendo esforço dele para manter umsorriso no rosto.- Pronto para entrar? – ela perguntou suavemente.- Mais um minuto – disse ele, ainda segurando a mão dela como se nunca maisfosse soltar.Por várias semanas antes do acidente de Jared, Charlotte vinha imaginando o quefazer com a relação deles. Agora percebia com clareza que não conseguiriaterminar o namoro. A batida de carro havia mudado o mundo de Jared de ponta-cabeça, e o dela também. Tudo tinha mudado. Não importava quais eram seus

sentimentos mais secretos, ela não podia abandonar Jared agora. Ela tinha o deverde permanecer ao lado dele durante sua recuperação.Charlotte ajoelhou-se no chão ao lado da cadeira de rodas. Levantando a mão deJared, ela pressionou-a contra sua bochecha. Antes do acidente, tinha pensado quetodos os sentimentos por ele haviam desaparecido, mas talvez ainda existisse umpouco de amor. Ela só precisava agarrar-se a ele e ter a esperança de que seriasuficiente.

De algum modo, Charlotte atravessou o resto do mês de setembro retomando umarotina quase normal: escola, balé e visitas a Jared, que estava com um professorparticular enquanto permanecia em casa se recuperando.

Numa tarde de sexta-feira, Charlotte saiu correndo da escola Parker sem nem pararem seu armário. Era a única maneira de evitar mais uma sessão de simpatiaasfixiante de suas bem-intencionadas, mas ignorantes, amigas. Acontecia umworkshop sobre diversidade na escola naquela tarde, mas primeiro ela precisaria irà cidade para uma aula de balé.A escola estava silenciosa quando Charlotte retornou, algumas horas depois. Ogrupo estava menor do que no primeiro encontro do qual Charlotte participara. Areunião dessa noite seria feita por estudantes interessados em coordenar odesenvolvimento de um programa educativo sobre diversidade na escola Parker.- Vamos tirar proveito do fato de que existem apenas dez alunos aqui hoje -

sugeriu a senhora Lundgren, professora de biologia e uma das facilitadoras dosworkshops – e realmente conhecer uns aos outros. Assim, seremos um grupo bemunido para trabalhar nesse projeto. Vamos ver... – tocou o dedo indicador nabochecha. – Acho que vamos começar com um exercício bem conhecido deintegração. Vamos nos dividir em duplas para entrevistas informais, depoisapresentamos nossos parceiros para o grupo. Entenderam?- O.k. então esses são pares: Shizue e Andréa, Minh e Craig, Charlotte e Bill,Eduardo e Zoe, Vince e Meera. Achem um canto pra conversar e voltem em vinteminutos. E sem escrever nada, certo? Escutem o outro com atenção. Olhem para ooutro com atenção.Charlotte foi se juntar a Bill Banerjee, que estava em pé próximo à porta da sala.

Bill, um aluno do primeiro ano, era alto e magro, com cabelos pretos, olhos comcílios grossos e pele morena. Haviam se conhecido no primeiro workshop, e Bill

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35COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

tinha participado do grupo que fora tomar café após o encontro, mas nunca tiverama chance de conversar a sós.- Onde você quer sentar? – perguntou Bill.- Que tal aquele banco perto da janela no fundo do corredor? – sugeriu Charlotte.Sentaram-se no banco, com um espaço entre eles. Houve um momento inicial de

silêncio constrangedor.- Eu faço a primeira entrevista – Charlotte finalmente se ofereceu.- Tudo bem – Bill fechou as mãos sobre o colo e sorriu timidamente – podecomeçar.

- O.k. – por um momento, Charlotte desejou que a senhora Lundgren não tivesseproibido o uso de anotações. Ela gostaria de ter uma caneta ou um lápis paraocupar as mãos.

 “Como é que alguém faz perguntas pessoais sem parecer intrometido?”, ela seperguntou. – Hum, acho que vou começar com... Onde você nasceu?- Nasci em Boston – Bill contou – Alguns anos que meus pais vieram de Bombay.

- Porque eles vieram para os estados unidos? – perguntou Charlotte.- Meu pai tinha um amigo que morava aqui e que o convidou para participar de umnegocio. Ramesh estava fazendo muito dinheiro, então meu pai escolheu umaesposa e pegou um avião.Charlotte balançou a cabeça para o lado.- O que você quer dizer com “ escolheu uma esposa”?Bill sorriu novamente.- Prepare-se para um choque cultural. Meus pais se encontraram apenas uma vezantes de casar, numa “exibição de casamento”. Meu pai conheceu um punhado deesposas em potencial. Ele escolheu a minha mãe porque ela vinha de uma boafamília e teve boa educação escolar; acima de tudo, ela era a garota mais bonita

que ele já havia visto.Charlotte lançou um olhar dúbio para Bill.- Você está brincando, não é?- É verdade – assegurou ele .- Você quer dizer que sua mãe não teve nenhuma participação nessa decisão?- Bem, os pais dela não teriam deixado meu pai colocar os pés na casa deles paraconhecer minha mãe se ele não tivesse passado anteriormente pela inspeção. Mas,basicamente, não.- Isso é terrível! – exclamou Charlotte. – Eu nunca tinha ouvido algo tão machista!.Bill soltou uma gargalhada.

- Mas deu tudo certo. O negócio do meu pai fez sucesso, e minha mãe ama vivernos Estados Unidos. Ela ainda veste sáris, mas obteve um diploma de Harvard. Épsicóloga. Isso nunca teria acontecido se ela estivesse continuado na Índia.Charlotte não estava convencida.- Mas esse lance de casar com um completo estranho?

- Eles não foram estranhos por muito tempo – acrescentou Bill – e, acredite ou não,eles têm um excelente casamento. Meu pai respeita muito a minha mãe. Eu sei queisso parece maluquice, comparado À América, mas é assim que as coisasacontecem por lá.- Eles não fazem isso ainda, fazem?

- Claro que fazem. Às vezes, mesmo os indianos que moram nos Estados Unidosentram em casamentos arranjados. É bem comum – Bill gargalhou novamente. –

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você devia ver a sua cara, Charlotte.Ela balançou a cabeça.- É que eu não consigo imaginar. Você não vai se casar assim, vai?Ele franziu as sobrancelhas escuras.- Por que não? – brincou. – Se eu não conseguir encontrar uma garota legal, posso

ligar pra minha tia em Calcutá e pedir pra ela me arranjar alguém.Os dois deram uma gargalhada.No inicio, Charlotte não tinha certeza de como começar a entrevista, mas agora asperguntas jorravam. Ela descobriu que a comida favorita de Bill era cachorro-quente com chilli e batatas fritas, assim como especialidades indianas, comosamosas e rogan Josh. As duas irmãs mais velhas dele estavam na faculdade, umaestudando engenharia e a outra, inglês. Ele tocava saxofone e colecionava revistasem quadrinhos. Gostava de assistir a filmes antigos, especialmente westerns, eouvir jazz. E era um grande fã do time de hóquei de Boston.- Mas eu preferia dançar como Fred Astaire a ser um bom jogados de hóquei nogelo – concluiu Bill. – Meu pai e eu temos ingressos para toda temporada de

hóquei, mas quase sempre prefiro ir ao balé com minha mãe.- Você gosta de balé? – perguntou Charlotte, mal acreditando.- Isso é estranho?Ela balançou a cabeça.- Ah, não. Eu faço aula de balé.- Eu devia ter imaginado – disse ele, olhando Charlotte como se estivesseanalisando o corpo dela.Charlotte relaxou sua postura esticada de bailarina, ficando com o rosto levementecorado.

- É só que... balé... a maioria dos garotos que eu conheço... – “Pelo menos um

chamado Jared Colburn”, pensou. – Eles não... quer dizer, não é...- Coisa de macho? – completou Bill, sacudindo os ombros. – não me importo. Euacho legal. Cara, queria ver um desses jogadores de futebol americano da escolafazer um Rond de jambe em l’air!Os dois soltaram uma gargalhada novamente. Charlotte não tinha certeza se Billsabia que ela namorava um desses jogadores, mas decidiu não contar nada a ele.

 “A não ser que ele me pergunte sobre isso na entrevista”, ela pensou, desejandoque isso não acontecesse.Ele não perguntou. Perguntou sobre a família de Charlotte e sua criação, sobreviagens que ela havia feito e livros que tinha lido. Ela se viu contando para ele

várias coisas de sua vida que mesmo suas amigas mais intimas não sabiam: queela havia sido a primeira garota de sua família a optar por escola publica em vez deuma escola católica só para garotas; que seus pais haviam se separado quando elaestava no primeiro ano do ensino médio, mas depois reataram; que ela desejavaque seu nome não fosse Kenney porque todo mundo perguntava se ela tinha algumparentesco com aqueles Kennedys.Vinte minutos voaram.- Vinte e cinco, na verdade – Charlotte disse para Bill, ao olhar o relógio.- É melhor a gente voltar – disse ele.Eles correram de volta para a sala.- Isso foi divertido – comentou Charlotte.

Bill concordou com a cabeça.- Foi um prazer conhecer você, Charlotte – disse ele, estendendo a mão.

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37COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Charlotte apertou a mão de Bill, sorrindo.- o prazer foi meu – falou ela. E tinha sido mesmo.

Capítulo SETE

Jared deu uma olhada no relógio da parede da cozinha que ficava acima da tábuade carne. Com um suspiro de desapontamento, viu que eram apenas duas e meia.As horas estavam passando mais lentamente do que de costume. “A escola terminaàs três”, pensou, “mas Jeff e os rapazes todos têm alguma prática esportiva, eCharlotte tem balé. Ela disse que tentaria dar uma passada aqui no caminho pracasa...” Jared largou seu lápis sobre o tampo da mesa e descansou a cabeça sobre asmãos, seus ombros largos cedendo de desânimo. “Qual a finalidade de tudo isso?”,

ele se perguntou. Passara a maior parte da manhã fazendo fisioterapia,desgastando-se para nada... não havia feito nenhum progresso perceptível. Depois,teve aulas particulares por duas horas, o que o deixou ainda mais deprimido.Estava muito atrasado em suas aulas, provavelmente nunca conseguiria pôr amatéria em dia. Estava tentado a colocar seu dever de casa na mochila e ir para asala tirar uma soneca no sofá, ou talvez assistir a pilha de vídeos dos três patetasque sua mãe havia alugado para ele.Estava afastando sua cadeira de rodas da mesa da cozinha quando o telefonetocou. Em vez de seguir para o corredor, Jared aproximou-se do telefone que ficavana parede.- Alô? – respondeu.- Jared, sou eu.O rosto dele se acendeu com o som inesperado da voz de Charlotte, ainda quefosse difícil ouvi-la por causa dos barulhos ao fundo.- E aí? – perguntou ele. – Onde você está?

- Estou num orelhão perto da estação de trem – respondeu ela. – Indo pro balé. Eusó queria dar um “oi”.- Bem, oi.- Como foi a fisioterapia hoje de manhã?- Boa – ele mentiu. – Você sabe, devagar. Vai demorar.- Você vai conseguir – ela assegurou.- É.- Então, Jared, ontem, quando nós conversamos, esqueci completamente que eutenho um encontro sobre a diversidade hoje à noite. Depois da aula de balé eu voudireto pra escola. Mas a gente se vê amanhã, O.K.?Um desapontamento subiu pela garganta de Jared, azedo como limão, mas seesforçou ao máximo para não deixar sua voz denunciar o que ele sentia. Não queriase queixar.- Te bem, Char – disse. – divirta-se.- Eu vou.Ele a manteve no telefone por mais alguns segundo, adiando o momento em que

voltaria a ficar sozinho, com a longa tarde monótona se esticando diante dele.- Estou com saudade – ele disse.

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38COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Ela respondeu alguma coisa que ele não ouviu direito por causa do barulho vindoda estação.- O quê? – perguntou ele.- Tenho que ir. Meu trem chegou – gritou ela. – Tchau!Jared levou a cadeira de rodas até a geladeira e considerou se deveria fazer um

lanche. Mas acabou não querendo nada. Por causa dos esportes, estavaacostumado a se exercitar tanto que podia fazer cinco grandes refeições ao dia.Mas esse não era o caso agora. Ele precisava se controlar se não quisesse ficarbarrigudo.Voltou para a mesa, decidido a permanecer ali até terminar seus exercícios dematemática. Se conseguisse avançar mais dois capítulos do livro, teria ao menosum assunto inteiramente estudado. Antes de começar a ler, no entanto,permaneceu por alguns minutos pensando em Charlotte.Engraçado, antigamente ele nunca ficaria pensando tanto sobre o que ela faziaquando não estava com ele. Sabia do comprometimento dela com o balé, é claro,mas isso nunca o afetara de fato porque sempre estivera ocupado com seus

treinos. Agora, além do balé, ela tinha entrado nesse programa sobre consciênciada diversidade na escola. Sobre o que era tudo isso, afinal? Ele se lembrou doscomentários sarcásticos que fizera quando Charlotte lhe havia falado pela primeiravez de seu interesse por aquele assunto. Mas mesmo assim ela mantivera suaopinião, inscrevendo-se no workshop.Enquanto ele apontava o lápis, preparando-se para mergulhar nos exercícios dematemática, uma imagem surgiu em sua mente: Charlotte, sentada nasarquibancadas algumas semanas atrás torcendo por ele no primeiro jogo datemporada. “E o último para mim”, pensou.Agora ele estava na reserva.

- Levante mais a perna. Mais! – madame Laurent insistia com Charlotte ao chegarperto dela no estúdio de dança a fim de criticar sua performance nos exercícios debarra. – Isso é o melhor que você consegue fazer, e você ainda diz que é umabailarina?Sem virar o rosto para professora, Charlotte manteve o olhar voltado para a frente,o pescoço alongado ao máximo e o queixo inclinado. Madame Laurent andou maisum pouco para observar a garota seguinte na barra, sem esperar que Charlotte lhedesse uma resposta.Como as outras dez meninas na sala. Charlotte sabia por longa experiência que nãodeveria levar os comentários depreciativos de sua professora tão a sério. Era o

estilo da madame Laurent: ela era severa porque esperava muito de suas pupilasmais avançadas, as quais, depois de dez anos ou mais de aulas, ela amava como sefossem suas próprias filhas. “E madame Laurent está certa... eu posso levantarmais minha perna”, Charlotte pensou enquanto continuava seus grandsbatterments, a série de chutes no ar que concluía seus movimentos deaquecimento feitos na barra.Desde que começara a tratar o balé com mais seriedade, Charlotte vinha tendoaulas no conservatório de dança de New England todos os dias da semana após aescola. Apesar das longas horas dedicadas a dança, que a impediam de fazermuitas outras atividades extracurriculares, sem falar no pés cronicamente cheios debolhas, Charlotte nunca se cansara do balé. Ela amava toda aquela tradição: todas

as meninas em malhas pretas idênticas, meias eSapatilhas rosa, seus cabelos presos em coque; a pianista, a senhora Rosenberg,

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39COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

tocando Tchaikovsky e Copland; os exercícios da barra sempre realizadosprecisamente na mesma ordem. E, depois de completar a rotina da barra, era omomento de colocar as sapatilhas de ponta e ir para o centro trabalhar en pointe,sobre os próprios pés, sem barra para se apoiar – a parte mais difícil da aula.Hoje, Charlotte estava apreciando mais do que o normal o aspecto rígido e ainda

assim libertador da aula de dança. Depois de todas as coisas traumáticas quehaviam acontecido em sua vida ultimamente, era bom mergulhar na disciplina purado balé, para esvaziar a cabeça de tudo, exceto da música e dos movimentos.Enquanto praticava seus passos, porém, Charlotte sentia uma grande angústia.Tinha perfeito controle de seu corpo. E, assim, não podia evitar uma comparaçãocom Jared, cujo corpo não respondia mais aos comandos dele.

 “Mas quando eu telefonei ainda há pouco, ele não tentou fazer com que eu mesentisse culpada por não poder visitá-lo hoje à noite”, Charlotte lembrou, ao pisarna caixa de breu para colocar mais pó nas solas das suas sapatilhas de ponta, a fimde não escorregar. “Porquê? Ele costumava odiar isso, quando era minha maiorprioridade.” 

Madame Laurent juntou-se a ela antes que pudesse voltar para o centro da sala.- Charlotte, ma chérie – disse madame Laurent - , o diretor do conservatório mepediu para recomendar uma ou mais das minhas alunas para estagiar com acompanhia durante a produção de férias do quebra-nozes! – exclamou ela. – Mas...

 “Mas, há um ano, eu estagiei em uma das produções do conservatório e Jaredreclamou que os ensaios extras me afastaram dele. E agora, com os workshopssobre diversidade, eu estou mais ocupada do que nunca”, pensou Charlotte.- Mas não sei se terei tempo – disse, com o coração partido.

– talvez uma outra produção na primavera. Você diria ao diretor para ele selembrar de mim?

Madame Laurent fitou-a com um olhar duro.- Eu posso fazer isso. Mas dizer não para o quebra nozes! É claro que é você quemtem que decidir. Mas lembre-se do queeu lhe disse no outro dia. Você não terá um número infinito de oportunidades. Parauma bailarina, elas aparecem apenas quando se é jovem.Charlotte pensou sobre as palavras da madame Laurent assim que terminou a aulade uma hora e meia. Como sempre, ao final da aula, ela e as outras alunas fizeramreverência para a professora e para a senhora Rosenberg, inclinando o corpo para afrente. Logo em seguida, Charlotte saiu correndo em direção ao vestiário paratrocar de roupa. Enquanto colocava as meias em seus pés machucados, sentiu o

mundo real pressionando-a novamente. Escolhas... por que precisavam existirtantas?***Charlotte não tinha idéia de quantas vezes na vida havia passado pela portaprincipal da escola Parker e subido pelas escadas até o segundo andar, onde ficavaseu armário. Afinal de contas, já estava no terceiro ano e, portanto, tinha entradonaquele prédio todos os dias por mais de dois anos. Mas nesta manhã de segunda-feira, conforme ajudava Jared a seguir pelos corredores em sua cadeira de rodas,pela primeira vez prestou atenção em uma porção de coisas.O prédio, construído nos anos 1950, fora renovado para dar acesso de cadeiras derodas, mas as rampas eram muito mal localizadas e as portas, difíceis de serem

manuseadas. E também havia a escadaria. Charlotte parou no saguão,momentaneamente confusa.

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40COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

- E agora, o que é que a gente faz? – murmurou ela.- Tem um elevador ao lado da sala da direção – Jared lembrou.- É mesmo – disse ela. – Eu sabia disso! É que eu nunca tive de usar antes.

 “Não brinca”, ela pensou, imediatamente desejando ter mantido sua boca fechada.Mas Jared não fez nenhum comentário. Ele estava sentado na cadeira com a coluna

esticada, sua mochila sobre o colo, os olhos fixos no lado oposto do saguão.

Ela andou na frente dele em direção ao elevador, abrindo caminho entre a multidãoque circulava ali pela manhã. Conforme Jared seguia conduzindo sua cadeira, muitagente se virava para espiá-lo, e de dois em dois metros alguém parava para dizer

 “oi” ou dar-lhe um tapinha nas costas. Jared abria um largo sorriso para todos, masassim que a porta do elevador de fechou e os dois ficaram a sós, ele abaixou acabeça, seus ombros desmoronaram;- Cara, isso é um saco – ele falou baixinho.- Eu sei – disse Charlotte, passando a mão pelo cabelo dele. – Mas não vai demorarmuito tempo pras pessoas se acostumarem com a cadeira de rodas, aí elas vão

parar de ficar olhando.- Eu não quero que elas se acostumem com isso – ele disse bruscamente. – Esperosair disso o mais rápido possível!A porta para o segundo andar se abriu e Jared partiu rapidamente com sua cadeirade rodas. Charlotte seguiu-o pelo corredor, sem querer parecer uma babá ou umguarda-costas. Quando chegaram ao armário dele, no entanto, num gestoautomático ela esticou a mão – ela sabia a combinação. Então, virou-se para olharJared.Charlotte largou seu braço ao lado do corpo. Jared não havia falado nada, mas elapodia ler o pensamento dele: “Obrigado, mas eu posso fazer isso sozinho.” Ela baixou a cabeça, reconhecendo silenciosamente seu orgulho e independência.

Charlotte sabia que estas eram as qualidades que fariam com que ele atravessasseaquele dia difícil.Jared parou a cadeira de rodas diante de seu armário. Inclinando-se para a frente,tentou alcançá-lo. Era um verdadeiro alongamento e, depois de digitar os doisprimeiros números, seus dedos escorregaram.- Saco – murmurou ele, recomeçando.

Charlotte mantinha-se a uma certa distância, mordendo o lábio. Era doloroso verJared se atrapalhando com o armário, mas ela sabia que era importante para elefazer essas coisas sozinho. Depois de mais uma tentativa frustrada, ele deslizou acadeira de rodas para trás num movimento abrupto e fez manobras para o lado.Estava prestes a tentar a combinação de novo quando uma garota se aproximou.Era Deirdre, a linda menina do segundo ano e diretora não oficial do fã-clube deJared, mais bonita do que nunca, com seus longos cabelos pretos caídos sobre osuéter vermelho.- Oi, Jared – Deirdre disse com um sorriso. O tom da voz de Deirdre era alegre,mas Charlotte podia perceber uma ponta de pena em seu olhar. – Precisa dealguma ajuda aí?Um arrepio subiu pelo pescoço de Jared- Eu me viro – murmurou ele. – Mas obrigado mesmo assim.- Tudo bem – disse Deirdre baixando seus olhos. – Até mais.

Deirdre acenou para Jared e saiu impetuosamente pelo corredor, balançando seuscabelos brilhantes. Jared a observou indo embora. Suas mãos agarravam

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41COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

firmemente os braços da cadeira de rodas. Obviamente, havia sido humilhante paraele ser visto como um impotente, especialmente por Deirdre, uma garota maisnova que costumava endeusá-lo.Charlotte permaneceu silenciosamente por perto, sem querer se intrometer na dorde Jared. Mas ela o conhecia tão bem que podia ler os sentimentos dele apenas por

sua linguagem corporal: a postura rígida, o ângulo em que mantinha o queixo, osulco profundo entre as sobrancelhas. Estava tudo lá: desconforto, frustração,orgulho ferido, tristeza.Então, Charlotte percebeu que suas próprias emoções estavam igualmente misturase contraditórias. Seu coração doía por Jared, mas, ao mesmo tempo, ela nãoconseguia deixar de sentir quase satisfeita por, finalmente, vê-lo cair do pedestalde arrogância em que sempre se mantivera.

Ela sentia um impulso de lançar os braços ao redor dele, protegendo-o; mas aomesmo tempo era como se quisesse sair andando, deixando que ele descobrissesozinho seu novo espaço na escola Parker. Parte dela queria ajudá-lo a se curar,

enquanto outra parte continuava com a mesma sensação de antes do acidente decarro: queria se sentir livre. Como conseguiria suportar essa relação, uma vez quenão tinha a menor idéia de como se sentir em relação a ele?Jared voltou-se para seu armário. Agora, quando digitou a combinação de números,a porta se abriu facilmente. Olhando Charlotte de relance, Jared deu um sorrisosem graça.- Depois de dez tentativas – brincou ele.O tom de sua voz era leve, mas havia algo de sombrio nas profundezas de seusolhos verdes. Jared resolveu colocar aquele olhar em palavras.- Obrigado, Char – disse ele com extrema sinceridade. – Obrigado por estar aqui.Um calor tomou conta do coração de Charlotte, apesar das duvidas que sentia. Ela

sorriu.- Sempre que precisar.

Capítulo OITO

- Então quer que eu vá com você ao jogo contra a escola Walden amanhã – Jaredrepetiu para Charlotte no fim daquela semana.Era sexta-feira à tarde, e ele e Charlotte haviam parado no Judy’s, no caminho daescola para casa, para tomar um sundae, o clima entre os dois ia bem até Charlottemencionar casualmente o jogo de futebol.- Certo. É isso mesmo que eu disse – falou. E enfiou a colher no chantilly compedaços de castanhas que cobria seu sundae de creme. – Acho que o dia vai estarlindo, e o jogo vai acontecer aqui, então todo mundo vai estar lá. Eu só penseique... eu não sei... – ela balançou os ombros, com um sorriso sem graça. – Acheique seria divertido pra você. Bem, talvez não divertido, mas...- Esquece – Jared lhe falou, colocando sua colher ao lado da taça do sundae elimpando a boca com um guardanapo de papel.Charlotte levantou suas sobrancelhas.

- É isso? Apenas esquece?- É. É isso – o tom de voz de Jared era mais frio do que um sorvete.

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42COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

- Mas Jeff e os outros garotos eram... são... seus colegas de time – insistiuCharlotte. – Tenho certeza de que significaria muito para eles se soubessem quevocê estava lá, torcendo pelo time.- Não sou da torcida organizada – cortou Jared. – Isso é trabalho para KellyO’Connor.

Charlotte mordeu o lábio, ferida pela negatividade de Jared.- Eu não estava tentando esfregar na sua cara que você está machucado e nãopode jogar. Eu só pensei que...

- O quê? – ele perguntou sarcasticamente. – O que é que você pensou?Agora Charlotte estava ficando irritada também.- Eu pensei que ir a um jogo faria você se sentir melhor – ela disse nervosa. –Pensei que isso podia animar, dar algum estímulo. Mas estava enganada. Vocêprefere ficar sentado em casa sentindo pena de si mesmo.Empurrando sua cadeira para trás, ela agarrou a bolsa e disparou em direção asaída. Segurou as lágrimas enquanto empurrava a porta do restaurante. “Jared

Colburn não merece que chore por ele”, ela disse a si mesma. Talvez ele não possaandar, mas nada mais mudou. Ele ainda é o cara mais teimoso, vaidoso,egocêntrico e insensível da terra!” Do lado de fora, na calçada, Charlotte parou.-Conte até dez, Charlotte – ela falou baixinho. – Não seja tão dura... ele está muitomagoado.Mas isso era difícil. Todos aqueles sentimentos que ela guardara para si, antes doacidente de carro, quando estava à beira de terminar com ele, tinham se tornadoinvoluntários.

Se ela não conseguia mais estar loucamente apaixonada por Jared, queria pelo

menos gostar dele, mas Jared tornava isso tão difícil! “Porque sempre sou euaquela que dá, que apóia, que se adapta, que chega a um meio-termo?”, elapensou com ressentimento. “Quando é que ele também vai começar a ceder?” Tentando se acalmar, respirou tão profundamente que suas costelas doeram. Jaredhavia sido grosso com ela, mas ele andava compreensivamente sensível naquelesdias, ferido de diversas maneiras. E ela não podia simplesmente se livrar dele. Oque é que ele iria fazer, pular num ônibus?Charlotte voltou para o restaurante. Olhando através da vidraça, ela observouJared abrindo a carteira e colocando algumas notas sobre a mesa. Então, eleconduziu sua cadeira de rodas na direção dela.Os dois não conversaram enquanto ela o ajudava a se sentar no banco do caronado carro da mãe dela, que estava estacionado no fim do quarteirão.Depois de dobrar a cadeira de rodas e guardá-la no porta-malas, Charlotte pulou noassento do motorista e enfiou a chave na ignição. Mas não ligou o motor deimediato. Ela se recusava a ficar mantendo aquele joguinho de silencio. Haviasuportado muito isso, antigamente. Os humores e opiniões de Jared sempredeterminaram tudo. Não podia mais ser daquele jeito. É claro que ele merecia umaconsideração especial por causa de seu estado, mas os sentimentos dela tambémprecisavam ser levados em conta. “Se não podemos chegar a um acordo”, elapensou, “então é melhor terminarmos agora mesmo”.

- Jared, eu... – começou ela.Ele começou a falar na mesma hora.- Charlotte, eu...

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43COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Ambos pararam. Charlotte olhou para Jared.- Continue – falou ela.-Char, eu sinto muito – a rouquidão da voz de Jared mostrava o quanto era difícilpara ele formar aquelas palavras. – Eu agi como um bebê lá dentro.- Eu também – admitiu ela – , saindo daquele jeito.

- Você estava certa em me deixar sozinho – ele disse. – Mesmo que as dores decabeça dessa síndrome pós-traumática me deixem sem paciência, isso não podeser uma desculpa. Talvez eu não queira ir ao jogo, mas estava totalmente erradoem atacá-la daquele jeito. Suas intenções são boas. Elas sempre são.Charlotte baixou os olhos. Suas intenções não eram sempre boas. Não fazia muitotempo, ela pretendera terminar o namoro com ele.- Eu não sou uma santa – ela afirmou com a voz baixa.- Então somos dois – Disse Jared.Eles se olharam, ambos pegos pela sinceridade daquele momento.Lentamente, um sorriso apareceu nos lábios de Charlotte.-Quer dizer que você esta realmente admitindo que não é perfeito, hã, senhor

Gostosão-com-um-Futuro-Brilhante-pela-Frente? – ela debochou.Jared sorriu de volta para ela.- Só não fale isso pro editor do livro anual dos alunos, OK? – disse, relaxando ocorpo no banco. – Então, o que você ia mesmo dizer?Ela mal podia se lembrar.- Seja lá o que for, eu não preciso mais falar.Uma semana depois, numa tarde de sexta-feira, o telefone tocou na casa dosKennedy um pouco antes do jantar. Charlotte, que estava arrumando a mesa,agarrou o telefone sem fio do balcão.- Alô?- Char, é o Jared.- Oi. – ela falou, continuando a colocar guardanapos e talheres sobre a mesa, otelefone preso entre a orelha e o ombro. – E ai?- Eu estava pensando, se você não for fazer nada amanha, se estiver interessada...– Jared tossiu umas duas vezes, mas para Charlotte não parecia uma tosseverdadeira. – Ah, por acaso – continuou ele – você estava planejando ir ao jogo defutebol contra Newbury? Ou não?

Charlotte parou com um garfo na mão.- O jogo de futebol?- Eu sei que vai ser um pouco longe daqui – disse Jared. – Mas eu estive pensando

que talvez eu... eu devesse... você sabe.Aquela não era uma frase muito conclusiva, mas já tinha sido um grande passopara Jared.- Você gostaria de ir ao jogo comigo? – perguntou ela.Houve uma pausa. Charlotte teve a sensação de que Jared estava pensando emdesligar o telefone e fingir que aquela conversa nunca havia acontecido. Então,finalmente, o silencio foi interrompido.- Você estava certa na semana passada, Char. Eu não estava preparado antes, masagora estou. Eu acho.Essa tinha sido a coisa mais corajosa que Charlotte ouvira Jared dizer. E ir ao jogono dia seguinte como espectador seria a coisa mais corajosa que ele faria na vida.

- Vamos – declarou ela. – Vamos ver os Patriots acabarem com Newbury!Jared chegou a mudar de idéia durante o caminho para o jogo no dia seguinte –

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44COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

uma, duas, três vezes. Num dado momento, quase pediu para Charlotte voltar como carro. Mas sabia que não podia desistir. Charlotte estava certa na semanapassada. Ele escolhera ficar sozinho em casa, se escondendo, desistindo. Não podiafazer isso. Precisava mostrar ao mundo, e a ele mesmo, que ainda tinha uma vidaque valia a pena.

Uma coisa, porém, era ter coragem dentro do carro de Charlotte, outracompletamente diferente era manter o sorriso enquanto conduzia sua cadeira derodas pelo chão de cimento do lado dos visitantes do campo de futebol americanoda escola Newbury.Quando se aproximara das arquibancadas, já quase cheia de fãs da escola Parkerque tinham ido assistir ao jogo, o coração de Jared foi pra sola dos pés. Daqueleângulo, as arquibancadas pareciam extremamente altas e inacessíveis.- Eu nem havia pensado nisso – ele disse para Charlotte, tentando esconder seupânico. – Como é que eu vou chegar até lá, dando um salto com vara?- Nos podemos ficar ao lado das arquibancadas, na passagem – sugeriu ela. – Delá, dá pra ver bem o campo todo.

Jared assentiu com a cabeça, aliviado.- Certo.Eles escolheram um lugar e, alguns minutos depois, Charlotte saiu para compraruns refrigerantes na lanchonete. Jared insistiu que ela fosse, ainda que ele achasseestranho ficar sozinho na cadeira de rodas, olhando apenas os troncos das pessoasque se espremiam para chegar nas arquibancadas. Ele não queria forçar Charlotte aficar ao lado dele, segurando sua mão, durante todo o dia. E também não queriaficar tão acostumado à presença constante dela. Não podia e não ia se permitirficar dependente de ninguém, especialmente de Charlotte. “Ainda tenho o controledo meu destino”, lembrou. “Estou aqui porque quero estar aqui.” 

Enquanto esperava Charlotte retornar, ele folheou sem muita atenção o programado jogo, olhando o perfil do time rival e dando uma espiada nos anúncios. Então,virou a página e ficou estupefato.Abaixo da foto do time de Newbury havia uma foto, em preto-e-branco, do timeprincipal da escola Parker. Como co-capitao, o próprio Jared, sentado no centro e àfrente, com um grande número 15 na camisa, o capacete apoiado sobre um dos

 joelhos e um sorriso confiante no rosto.Jared fitou a fotografia com uma sensação de náusea. O número 15 ainda existia?Se este sou eu”, Jared pensou, “então quem é esse cara na cadeira de rodas?” - Jared.

De repente, ouviu Charlotte chamar seu nome, dando uma gargalhada.-Jared! Você não devia cair no sono. Sou eu que acho os jogos de futebolamericano um tédio.Jared saiu do seu devaneio.- Desculpe. O quê?- Eu perguntei: diet ou normal?Ele pegou o copo de refrigerante diet.Dez minutos mais tarde, depois que vários amigos pararam para cumprimentá-loantes de subirem para as arquibancadas, Jared virou a cabeça para o lado e lançouum olhar cínico para Charlotte.- Você fica entediada em jogos de futebol?

Ela franziu nariz.- Eu disse isso?

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45COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

- A-hã.- As vezes, fico um pouco cansada – ela tentou corrigir, enfiando as mãos nosbolsos do casaco. Ele continuava olhando para ela. Ela mantinha um sorrisoretorcido no rosto. – O.K., é mentira. Eu fico sempre entendida. Nada pessoal –acrescentou.

- Eu pensei que você gostava de vir a meus jogos – falou ele.- Eu gosto... gostava...o que for. Quer dizer, no inicio eu gostava, mas... anovidade desaparece com o tempo, eu acho.Jared não tinha certeza se devia se sentir ofendido por essa confissão, que fez comque pensasse que Charlotte havia passado dois anos inteiros fingidos estarentusiasmada. Mas ele havia dado outra alternativa a ela? Tinha apenas admitindoque, se ela o amava, também amava o futebol americano.Ele decidiu que admirava a honestidade dela. Além do mais, isso podia ser umadesculpa para ir embora.-Nós não precisamos assistir ao jogo todo – ele disse. Nesse momento, os timesestavam justamente entrando em campo, sob os gritos das torcedoras, que

levantavam seus pompons, e os aplausos da multidão nas arquibancadas. –Podemos até ir embora agora.

- Eu nunca disse que não queria estar nos jogos, antes ou agora – replicou ela. –Só falei que achava o futebol maçante. São duas coisas diferentes.As palavras de Charlotte permaneceram com Jared enquanto ele observava Jeff eos outros Patriots se reunirem com o técnico Baldwin para uma palavra de coragemantes do jogo. É engraçado pensar que ele nunca tivera uma pista dos reaissentimentos dela pelo futebol. O que mais ele havia perdido?Os times se posicionaram nos dois lados do campo para o início. Jared tentou nãose importar quando um dos jogadores dos Patriots. Ryan Murphy, correu para a

frente e elegantemente tirou a bola do time adversário, depois avançou por unsvinte metros antes de ser atacado por um jogador do Newbury. Mas ele seimportou. Uma dor cortou seu estômago ao mesmo tempo que as arquibancadasexplodiam em gritos. Era como se uma parte dele estivesse sendo arrancada deseu corpo, uma parte essencial dele. Ele agarrou os braços da cadeira de rodas tãofortemente que seus dedos ficaram brancos. “ deveria ser eu ali”, ele pensou.Ele assistiu ao jogo atentamente, quase sem respirar. Os Patriots se atrapalharame o Newbury recuperou a bola. A ofensiva da escola Parker recuou, com a defesa seposicionando. Jared relaxou seus punhos nos braços da cadeira e esticou os dedos.Cuidadosamente, colocou a mão sobre a perna. Será que suas pernas ainda

pareciam estar mais finas dentro de sua calça jeans? Ele rangeu os dentes, tentoumover a perna direita e foi premiado com um espasmo do pé. Era isso.Ele queria chorar, gritar ou sair empurrando a cadeira de rodas e sumir dali. Antesque pudesse dar vazão a sua frustração, sentiu uma mão sobre o seu braço.Charlotte se arqueou para perto da cadeira, o ombro dela contra o dele. Eladeslizou o braço para a frente, pegando a mão dele e entrelaçando os dedos.- Sabe – ela disse calmamente - , você não é uma pessoa menor só porque estáaqui e não lá.Jared não conseguia falar nada. Olhou para ela, e rapidamente desviou a cabeça.

Ela havia falado sinceramente, e ele queria acreditar, realmente queria. Só não

tinha certeza se conseguiria.

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46COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Capítulo NOVE

- Acho que Jared foi realmente muito corajoso indo ao jogo de ontem – Maddiedisse para Charlotte na manhã de domingo.

As garotas haviam saído da casa de Charlotte com bicicletas e mochilas. Agora,estavam fazendo um piquenique no gramado do parque da cidade, aproveitando osol suave de outubro.- Foi mesmo – concordou Charlotte, usando uma faca de plástico para passarrequeijão numa fatia de pão. – Foi duro pra ele, especialmente ter de ir falar comos garotos do time depois da partida. Mas honestamente acho que, no final detudo, ele se sentiu satisfeito por ter ido. Fiquei orgulhosa dele – acrescentou.- Meu coração fica partido por vocês, fica mesmo – comentou Maddie, girando atampa de plástico de uma garrafa de suco de laranja. – Vocês estavam vivendo umgrande romance, e aí... isso. É uma tragédia. Como, sei lá, “Dr. Jivago” ou algo

parecido.Charlotte deu uma gargalhada.- Não é nada parecido com “Dr. Jivago”!- O que eu quero dizer é que deve ter sido realmente muito duro pra você. Ascoisas costumavam ser tão perfeitas, e agora não existe nenhuma certeza do quevai acontecer no futuro. Quer dizer, será que isso vai deixar seu amor ainda maisforte, vai destruir o relacionamento de vocês ou o quê? – perguntou Maddie.Maddie não parecia estar esperando uma resposta para o que fora basicamenteuma especulação. Havia tirado seu suéter e estava deitada de costas no chão, como rosto voltado para o sol. Mas Charlotte, colocando de lado o sanduíche comidopela metade, decidiu aprofundar aquele assunto.

- Maddie, tenho que contar uma coisa – disse ela de supetão.- O que? – Maddie sentou-se novamente.- É sobre o Jared – Charlotte fez uma pausa, suas bochechas ficaram rosa.Maddie examinou o rosto da amiga, intrigada.- É sobre... sua vida sexual? – ela arriscou, delicadamente.Charlotte resmungou.- Ah, Maddie! Você devia apresentar um daqueles programas de entrevista quepassam à tarde na TV! É sobre todo o nosso relacionamento. Eu ia... – ela decidiuse arriscar. – Eu ia desmanchar com o Jared, Maddie. Bem antes do acidente decarro.

Imediatamente, Maddie pediu mais detalhes, e Charlotte contou tudo que podia.Depois do espanto inicial, Maddie foi compreensiva e tentou se desculpar.- Tenho sido tão estúpida, Char! – ela gemeu. – Agora que você me contou tudoisso, parece tão óbvio. Eu devia ser sua melhor amiga. Porque não percebi quevocê estava infeliz com Jared?- Foi culpa minha – Charlotte assegurou a ela. – Eu poderia ter confiado mais emvocê.- Desculpe, Char. Mesmo. E como você está levando as coisas agora?- Pra dizer a verdade, estou indo bem, melhor do que antes – Charlotte inclinou acabeça para dar uma olhada no céu exatamente quando uma rajada de ventosacudiu uma chuva de folhas amarelas de uma das arvores próximas a elas. –Quando as aulas começaram, eu estava me sentindo tão presa...- E você não está mais se sentindo presa agora?

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47COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Charlotte pensou por um momento e então balançou a cabeça.- Não. Você imaginaria que sim. Mas por alguma razão...Maddie esperou impacientemente enquanto Charlotte procurava as palavras certas.

- É estranho – continuou Charlotte. – Oficialmente, ainda sou a namorada de Jared

Colburn, e esta é uma pessoa que eu imaginei que não gostaria mais de ser. Mas écomo se a definição tivesse mudado. Talvez seja apenas eu, dentro de mim. Omodo como eu enxergo as coisas. Quer dizer, tome isto, aqui e agora, eu e vocêdiscutindo esse assunto. Desde que percebi que minha relação com Jared não eratudo o que eu queria ser, comecei a me sentir mais no controle de minha vida. Issofaz sentido?Maddie concordou com a cabeça.- Uau! – ela suspirou admirada. – Char, você é tão esclarecida!Charlotte desatou a rir.- Até parece...- Mas você está segura de que fez a coisa certa, não terminando com Jared?

Charlotte pensou na garganta emocional que experimentara nas últimas semanas.Num minuto, Jared estava lhe deixando louca e ela não queria vê-lo nunca mais; noseguinte, como no jogo de futebol do dia anterior, ela se sentia mais conectadacom ele do que nunca.- Não estou segura se é a coisa certa pra mim ou pro Jared – disse a Maddie.Deveria ter acrescentado que não sabia se conseguiria ter alguma certeza, sobreisso ou sobre qualquer outra coisa. Essa era a única coisa que ela parecia teraprendido ultimamente sobre relacionamentos e vida.

O encontro seguinte sobre consciência da diversidade aconteceu numa tarde dequinta-feira de outubro. A senhora Lundgren e dez alunos sentaram-se em círculos,

pensando sobre possíveis pesquisas de campo para o workshop, enquanto umatempestade de outono lançava chuva e folhas caídas contra as janelas da sala deaula.- Acho que seria legal visitar diferentes bairros étnicos dentro e fora de Boston –sugeriu Bill. – Pegar o espírito do lugar. Andar pelas ruas, ver as casa, lojas erestaurantes.- Mas isso não fica parecendo turismo? – Zoe perguntou. – Se a questão daconsciência sobre a diversidade é justamente conhecer pessoas de diferentesorigens de um modo menos superficial?

Charlotte parou de fingir para si mesma que estava prestando atenção à discussão

que acontecia a seu redor. A possibilidade de que ela estivesse desenvolvendo uminteresse por Bill Barnejee era muito surpreendente. Era mesmo? Como ela poderianão gostar dele? Ele adorava musica e dança, assim como ela. Tinha um grandesenso de humor e era a pessoa com as idéias mais esclarecedoras e inteligentesdaquele grupo. Mas, mesmo assim, nunca era mandão. Era diplomático, generoso esensível. E atraente, também... Ela não podia negar isso. Definitivamente atraente.

 “Mas existe uma profusão de garotos atraentes no mundo, e garotas que já têmnamorado não deviam prestar atenção neles”, Charlotte se lembrou.Ela ainda estava revirando essas coisas em sua cabeça quando a reunião acabou.Para evitar que alguém percebesse que ela havia “viajado” durante a maior parteda discussão, Charlotte escapou rapidamente para a porta em vez de demorar-se,como sempre fazia.Bill foi mais rápido e segurou a porta aberta para ela.

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48COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

- Posso acompanhar você até o carro? – ele se ofereceu. – Ainda está chuviscando,e eu tenho um guarda-chuva enorme.Enquanto atravessavam o corredor, ele levantou o guarda-chuva para que elamesma pudesse conferir. Era um daqueles modelos antigos, listrados, com um cabode mogno e mais de um metro de comprimento. Charlotte não conseguiu prender o

riso.- Isso é grande o suficiente para abrigar todo o grupo!- É perfeito pra duas pessoas – disse ele. – Espere, me deixe sair primeiro e abri-lo.O vento levava a chuva para todos os lados, mas com aquele guarda-chuva enormeeles conseguiram se manter secos enquanto atravessavam o estacionamento. Dos

 joelhos para cima, pelo menos.- Eu teria ficado completamente encharcada. Obrigada – Charlotte disse a ele,assim que chegaram ao carro de sua mãe, que ela pegara emprestado para vir atéa reunião.

- Disponha – replicou ele.

Ela começou a abrir a porta do carro.- Charlotte, antes que você vá embora... – Bill disse repentinamente.- Sim? – ela virou-se para ele.- Posso te fazer uma pergunta pessoal?Charlotte sentiu seu rosto esquentar, como havia acontecido durante o workshopquando ela e Bill ficaram se olhando.- Lógico. Quer dizer, depende... Se não for muito pessoal, entende?- Não se preocupe, não é nada escandaloso – garantiu ele. – Provavelmente deveser algo de domínio público aqui na escola... Eu poderia descobrir perguntando praspessoas, mas não gosto de bisbilhotice. Acho que, uma vez que isso diz respeito avocê, então você seria a melhor fonte.

- Do que você está falando?- Eu gostaria de saber, se você não se importar em me contar...Bill fez uma pausa, limpando timidamente a garganta com um pigarro. De repente,Charlotte teve um claro pressentimento do que viria em seguida. E ela estavacerta.- Você e Jared Colburn, o capitão do time de futebol americano, o cara que sofreu oacidente de carro – continuou Bill. – Sei que vocês ficaram juntos por bastantetempo. Posso indagar sobre a situação atual do relacionamento de vocês?A formalidade dele fez com que ambos dessem uma gargalhada.- Jared e eu... – começou Charlotte, antes de hesitar. “A situação atual do nosso

relacionamento... mas o que é isso?”, ela pensou. – Nós...nós estávamos...estamos... pra ser franca, as coisas estavam esfriando entre a gente antes doacidente – disse ela. – Pelo menos do meu lado.Os olhos de Bill brilharam de esperança.- Nós somos grandes amigos – continuou Charlotte. – Estamos passando muitotempo juntos esses dias porque ele precisa do meu apoio moral e tudo mais.- É claro.

- Mas nosso relacionamento... não é mais como antes – ela concluiu, vagamente.- Pode parecer egoísta, mas fico feliz de ouvir isso – disse Bill -, porque talvezsignifique que você possa considerar a hipótese de sair comigo neste fim de

semana. O que você prefere, jantar ou cinema?- Este fim de semana? Hum... – Charlotte sabia que a conversa chegaria nesse

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ponto. Ela havia dado especo para que isso acontecesse, fazendo Bill acreditar queela e Jared tinham mesmo se separado. No entanto, ela não se sentia preparada.Ela nunca tinha enganado Jared. Sair com Bill seria uma traição?- Se você estiver ocupada... – Bill disse, ao ver a hesitação dela.

 “Não é um encontro romântico de fato”, Charlotte decidiu. “Eu só gostaria de

conhecê-lo melhor porque ele é um cara interessante, só isso.” - Não, eu não to ocupada – respondeu ela. – Sim, vamos sair.O rosto de Bill se encheu de felicidade.- Ótimo. Que tal no sábado?- Claro.- Eu te pego às seis.

 “Não posso acreditar que estou fazendo isso”, pensou Charlotte. Mesmo assim, nãovoltou atrás. Não queria voltar atrás.- Seis está bem – concordou. – Vejo você no sábado!Na sexta-feira, na hora do almoço, Jared e Charlotte foram juntos para alanchonete.

- Estou vendo a Paige e o Bob – Charlotte disse. – Quer se juntar a eles enquantoeu pego alguma comida ora gente?- Eu consigo pegar o meu almoço, você sabe – Jared respondeu.- Sei disso, senhor Colburn – ela implicou. – Estou dando a tarefa mais penosa pravocê. Aposto como é pior conduzir sozinho a cadeira de rodas por esse lugar cheiode obstáculos!- Você está certa. Vamos ver quem chega lá primeiro.

Enquanto Charlotte caminhou em direção à fila do almoço, Jared girou a cadeira derodas e examinou a lanchonete, traçando o melhor caminho até a mesa de Paige eBob. Sorria a cada vez que desviava de uma cadeira, uma mochila ou uma pilastra.

 “Estou ficando bom nisso.” - Pronto – proclamou assim que chegou ao outro lado da lanchonete sem trombarem ninguém.- Ei, cara – Bocó cumprimentou-ºCom um movimento suave, Jared parou a cadeira de rodas bem ao lado de umadas cadeiras da mesa. Colocando as mãos sobre a mesa, ergueu o tronco. Poralguns segundos, antes de escorregar seu corpo para a cadeira da lanchonete, elese manteve cuidadosamente equilibrado, suportando um certo peso sobre os pés.- Fico louco toda vez que tento fazer isso sem cair com a cara no chão – ele disseaos outros.

- É incrível – Paige comentou com entusiasmo. – Não dá pra acreditar o quantovocê progrediu, Jared!Para Jared, o ritmo de sua recuperação continuava insuportavelmente lento. Masera verdade que, graças a muitas horas de suor, havia conseguido uns avanços nafisioterapia, como ser capaz de ficar de pé rapidamente, com ajuda. Suas pernasainda continuavam quase totalmente insensíveis e seus pés pareciam dois bicos demadeira, mas pelo menos não estava completamente imobilizado. Sentar-se numacadeira normal fazia com que sentisse que um dia conseguiria voltar a ficar sobreos próprios pés.

Começou a se preocupar com a demora de Charlotte à medida que a mesa ia

enchendo com a chegada de mais amigos. Finalmente, avistou-a vindo com abadeja do almoço. Mas, no meio do caminho, Charlotte parou para conversar. Jared

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esticou o pescoço, curioso. Era um grupo de garotas que ele não conhecia, duasorientais e uma negra com longas trancinhas. “Amigas do workshop sobrediversidade”, imaginou.Charlotte terminou a conversa com as meninas e seguiu para mesa.Jared ficouhipnotizado pela expressão no rosto dela. Um sorriso se estendia pelos lábios, seu

queixo estava levemente levantado, seus cabelos, lançados para trás. Ela pareciarelaxada e feliz, e estava com um olhar atraente. Um olhar, Jared percebeu, quenão tinha nada a ver com ele. Charlotte deslizou a bandeja sobre a mesa e seacomodou na cadeira vazia ao lado de Jared.- Peru e batatas fritas – disse. – Espero que goste.- Parece estar uma delicia – disse ele. – Mas porque essa comida de passarinho?Charlotte deu uma olhada em seu próprio almoço, uma salada com um punhado dequeijo cottage.- Eu estava combinando com a Andy e a Susie de tomar um sorvete mais tarde –explicou. – Tenho uma apresentação de bale daqui a uma semana e, se não mecontrolar, não vou caber na malha.

- Sabe que, na verdade, eu nunca vi você dançar? – comentou Paige. – Você deveser incrível. Ela é incrível, Jared?Jared estava terminando de abrir o saco de batatas fritas com os dentes.- Já faz muito tempo que não vou às apresentações dela – admitiu ele. –Provavelmente desde o início do ano passado.- Eu já melhorei desde então – observou Charlotte.

O tom de voz dela foi neutro, mas Jared sentiu-se culpado mesmo assim. “Porquenão vou aos recitais dela?”, ele se perguntou, pensando pela primeira vez sobreisso. Presumiu que estivera sempre muito ocupado. Mas Charlotte também erabastante ocupada, e mesmo assim conseguia ir a todos os seus jogos de futebol.

O futebol americano, porém, era a vida dele. Balé era apenas um hobby para ela.Era mesmo? Ele se lembrou da festa de fim de verão na praia, há uns dois meses, ea discussão sobre tentar uma universidade voltada para a dança. Ele havia apagadoaquilo da cabeça... Tivera outras coisas em que pensar desde então. Mas,aparentemente, Charlotte era talentosa de verdade. Agora ele olhava para ela,enxergando-a sob uma nova perspectiva. “Ela tem muitas qualidades”, pensou. “Éuma garota incrível.” Paige estava convidando Charlotte para um passeio no shopping na cidade.- Eu adoraria ir – Charlotte se lamentou -, mas não consigo imaginar quando vouconseguir fazer isso no fim de semana. Tenho uma tonelada de deveres de casa,

uma aula extra de ponta e prometi a meu pai que vou varrer as folhas do jardim. E,Jared – acrescentou ela, cirando-se para ele -, nos vemos hoje à noite, certo?Ele fez que sim com a cabeça;- Se você tiver tempo, sim.Ela apertou a mão dele, mas o gesto pareceu mecânico.- É claro que tenho.A conversa na mesa passou a ser sobre as atividades da semana do Homecoming,a tradicional festa que celebrava a temporada de futebol americano das escolas eacontecia no início de novembro. Cada escola organiza sua semana deHomecoming, ao longo da qual são realizados o desfile com os jogadores do timeda escola, a eleição da rainha do Homecoming e o tradicional baile. Durante o

papo, Jared se manteve calado Comendo seu sanduíche de peru. Ele nãoparticiparia dos jogos daquela semana, obviamente, e por algum motivo também

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não conseguia se imaginar num desfile com seus colegas de classe. Ele imaginouque pelo menos poderia levar Charlotte ao baile que a escola promovia, assimcomo fizera nos dois anos anteriores. Franziu a testa. “E me sentar perto da janelacom meu terno alugado observando Charlotte dançar com outros caras?” Jared colocou o pedaço que sobrou de seu sanduíche dentro da embalagem de

papel-aluminio. Ainda restava metade do sanduíche, mas ele havia perdido oapetite. Desde o acidente de carro e sua longa estada no hospital, era como setivesse desenvolvido uma dupla personalidade. Em alguns dias, se sentia animadoe confiante de suas chances de recuperação; em outros, estava tão cansado daescola e da fisioterapia que não conseguia pensar em Nada. E de vez em quandosurgia um dia em que tinha tempo demais para pensar e acabava ficandodeprimido. Estava com a sensação de que aquele se transformaria em um dessesdias.Ele enfiou a mão no bolso e arrancou um pedaço de papel dobrado. Era um bilheteda senhora Parsons, coordenadora pedagógica da escola, informando-o de que oprazo para enviar propostas de projetos de estudo independentes ainda não havia

terminado. Ela aproveitou o bilhete e escreveu para Jared alguns detalhes doconcurso de ensaios sobre a história norte-americana que ela imaginara quepoderia interessá-lo.Antes do acidente, Jared nunca teria tempo para esse tipo de coisa. Sempreobtivera boas notas, mas sua vida escolar era bem restrita, sem participações ematividades extracurriculares. Era nos esportes que se sobressaía, que se tornavaum astro. Mas ele não tinha mais isso. Quando tentasse uma vaga nas faculdades,todos veriam que ele costumava se destacar no futebol americano e no beisebol,mas que seu histórico escolar era um tanto vazio. Assim como eram suasperspectivas futuras...

 “Vazios”, Jared pensou. “Mais vazios.” Esses vazios, porém, não existiam apenas em sua participação escolar.Repentinamente, sua vida toda parecia cheia deles. Conforme Jared escutavaCharlotte contar a Paige sobre os últimos workshops de diversidade, uma angústiaestranha, indefinível, tomou conta dele. Estava tendo a sensação de que não faziatanto parte da vida de Charlotte quanto pensava ou quanto queria? Ousimplesmente não gostava que ela tivesse interesses que o excluíssem? Sabia umacoisa: os vazios de sua vida pertenciam apenas a ele – eram uma parte dele, comosuas pernas machucadas. Charlotte não poderia preencher esses vazios para ele.Jared tinha que se curar sozinho.- É isso? – disse Jared ao final de Razão e sensibilidade, o filme que ele e Charlotte

alugaram na sexta-feira à noite. – Duas horas inteiras, e tudo que aquelas garotasterminam fazendo são dois casamentos para chatear os rapazes? Quer dizer, pegao... qual o nome dele, coronel Brandon? Ele deve ter três vezes a idade daMarianne.Eles estavam na casa de Jared, sentados no sofá da sala. O modo como Jaredresumira o filme, que era baseado em um dos romances de Jane Austen prediletosde Charlotte, fez com que ela soltasse um suspiro de irritação.

- O coronel Brandon é devotado a Marianne. E ele é um homem com dignidade.- Ele é velho e chato – afirmou Jared. – Agora, o Willoughby... é legal.- Willoughby é péssimo! – reclamou Charlotte. – Como você pode...

Então, ela viu o sorriso de deboche de Jared.- Desculpe Char – falou ele. – Eu tinha que implicar com você. Não dava pra

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resistir. Quando escutei você chorando no final...- Você é tão ruim quanto o Willoughby – Charlotte disse, balançando a cabeça.- Mas pelo menos eu não fico citando poesias piegas – observou Jared.- É verdade – admitiu ela.Jared desligou a TV. Então, esticou o braço esquerdo para desligar o abajur da

mesa ao lado do sofá.- Estava muito iluminado aqui – explicou ele.- É – concordou Charlotte.Por um minuto, permaneceram sentados sem se mover ou falar. Então Jareddeslizou um braço ao redor dos ombros de Charlotte. O corpo dela ficou tensoquase imperceptivelmente.Quando começaram a namorar, ela e Jared mal podiam esperar para diminuir a luzapós assistir a um vídeo. Às vezes, nem se preocupavam com o filme. Desde oacidente, no entanto, a intimidade entre eles estava meio atravancada... o que nãochateava Charlotte, já que não tinha certeza de seus sentimentos por Jared. Ela sóvinha dando beijinhos rápidos ocasionais e abraços carinhosos. Mas, naquela noite,

ela sentiu que Jared queria algo mais dela.Ela fingiu um bocejo.- Você não está cansado? – ela perguntou a Jared. – Eu sei que eu estou. Talvezfosse melhor você ir se deitar. Não quero deixar você cansado.- Você não me deixa cansado – retrucou ele. – Ou, se deixa, é um tipo bom decansaço.Ele apertou o braço ao redor de Charlotte e aproximou seu rosto do dela. Charlottefechou os olhos, tomando coragem para dar um beijo que não sentia em seucoração.Cinco minutos depois, reabriu os olhos. Jared tinha se afastado e estava com umaexpressão séria, observando o rosto dela.

- Você não está aqui realmente, está? – perguntou ele.Ela piscou os olhos.- O que você quer dizer?- quero dizer que você está sentada a meu lado, mas não queria estar.Charlotte balançou a cabeça, mas não conseguiu evitar o rubor.- Isso não é verdade, de jeito nenhum. Eu estou feliz por estar aqui com você. Enão gostaria de estar em nenhum outro lugar.Conforme as palavras escapavam da sua boca, ela desejava poder pegá-las devolta. Sentiu que estava se justificando muito.

Jared fechou a cara, seu olhar escureceu. Ele retirou o braço, dobrando-o contra opeito.- Não me faça nenhum favor, Charlotte.- Não estou fazendo nenhum favor, Jared – declarou ela, mas a culpa fazia comque quisesse contar toda a verdade. “ De certa maneira estou. Você está certo,quem está sentada aqui não sou eu. E não sei quem é.” O rapaz fechou os olhos e respirou profundamente. Quando olhou novamente paraela, seu olhar estava firme.- Desculpe – falou suavemente. – Eu só... Eu teria que ser de pedra pra nãoperceber que você tem andado um pouco... distante ultimamente. Você tem sidoótima... você tem me ajudado demais, mas... falando de sentimentos... é como se

num minuto eu me sentisse próximo de você, mas no outro você tivesse seafastado completamente.

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Charlotte apertou os lábios, controlando-se para não falar nada. Ela não queriamentir, mas também não estava certa se conseguiria falar alguma verdade.O rosto de Jared ficou vermelho.- Você não se sente atraída por mim porque eu não posso...- Não – ela cortou enfaticamente. – Não tem nada a ver com seu acidente.

Ele parecia acreditar nela, mas ainda parecia estar aflito.- Então, isso começou antes, não é?A intuição dele estava surpreendendo Charlotte. Assim como aquelecomportamento. O estado emocional dela não era algo com que Jared costumavase preocupar antigamente. Ele não continuaria investigando para tentar descobrir oque se passava com ela.

Jared estava esperando que ela respondesse. Finalmente, Charlotte fez que simcom a cabeça. Ela não poderia negar isso por muito mais tempo, não depois queJared descobrira um modo de olhar diretamente em sua alma.- É – admitiu ela. – Antes do acidente de carro, meus sentimentos estavam...

mudando. Um pouco.Ele digeriu aquilo em silêncio, seus dentes cerrados. Ela esperava que ele aatacasse violentamente, extravasando toda dor e raiva. Em vez disso, depois deum longo minuto, um fiapo de sorriso surgiu em seu rosto.- Acho que não deveria ficar tão surpreso – disse ele. – Eu era um idiota, né?Ela mordeu o lábio, embaraçada. Ela deveria falar sim ou não? As duas rerspostaseram inteiramente verdadeiras?A expressão de Jared ficou séria novamente.- Entramos numa rotina... eu achava que você nunca deixaria de gostar de mim.Você não tem que falar nada, Char. Não pude ver isso antes,mas posso ver agora.Um silêncio tomou conta da sala novamente. Charlotte lutava com suas emoções,

uma mistura confusa de surpresa, alivio, culpa e tristeza.Estava quase tentada a dar uma gargalhada,mas sabia que, se fizesse isso,terminaria soluçando. A ironia daquele momento era muito óbvia para ela. “Noinicio das aulas, eu queria ter uma conversa como essa com o Jared, mas penseique seria eu quem tomaria a iniciativa.” - Eu realmente sentia que você não se importava muito comigo naquela época –confirmou ela. – Mas não sinto assim agora.- Ainda que eu esteja pressionando tanto você pra fazer coisas pra mim?- Talvez, mas é diferente. E, de qualquer modo, você não está pressionando tantoassim. Você é muito teimoso para receber muita ajuda de mim ou de qualquer

outra pessoa.A tensão entre os dois estava aumentando. Charlotte suspeitava que tudo aquilochegaria num lugar que nenhum dos dois esperava chegar.- Eu ia convidar você pro baile do homecoming – Jared disse com a voz rouca. –Mas talvez seja melhor a gente não ir este ano. Não quero que você fique comigopor pena.

O rosto de Charlotte empalideceu.- Você está dizendo que quer terminar?Jared balançou a cabeça negativamente.- Mas não quero segurar você se está pronta pra seguir adiante. Sei que você tem

feito vários sacrifícios por mim ultimamente. Não vai ser bom pra nenhum de nósdois se você não estiver nessa relação por sua vontade.

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Esse desfecho inesperado deixou Charlotte atordoada. Jared estava lhe oferecendouma saída. Parte dela queria aceitar esse convite. Ela vinha se sentindo muitoculpada por fazer planos com Bill, mas se ela e Jared terminassem, ela poderia verBill na noite seguinte sem nenhum conflito interno. “É isso o que eu quero, não é?” – ela pensou. – “Ser livre?” 

Os pés de Charlotte estavam cruzados firmemente debaixo do sofá, seus joelhosmal encostavam as pernas machucadas de Jared. Conforme dava mais atenção àproximidade física entre eles, Charlotte sentia uma dor profunda no coração. Orompimento era inevitável: se não acontecesse agora, aconteceria mais tarde,depois que Jared melhorasse. “Então, por que simplesmente não faço isso?”, ela seperguntou.Teve um ímpeto de começar a falar, mas algo a deteve. O quê? Parecia cruelmentedesleal abandonar Jared quando ele ainda tinha um longo caminho pela frenteantes de ficar forte e capaz novamente? Ou era porque ela achava fácil estar aolado dele, mesmo quando a situação era tão esquisita? Ela conhecia muito bemquem estava à sua frente – aquela camisa de flanela e a calça bege amarrotada, os

contornos de seu rosto lindo - , mais só que conhecia a si mesma. Depois de maisde dois anos juntos, o hábito tinha se tornado muito forte para ser quebrado? “Oueu estou com medo de ir atrás do que realmente quero?” - Não – Charlotte disse em voz alta.- Não o quê?- Não, eu não quero “seguir adiante” – ela disse a Jared. – A questão não é essa. Éque... – ela parou. Jared havia lhe dado uma chance de sair tranquilamentedaquele relacionamento, e ela acabara de recusar. Estaria cometendo um grandeerro? – Não sei qual é a questão – confessou Charlotte - , mas estou presa nela,Jared. E estou presa a você.

Na noite seguinte, enquanto Charlotte se vestia para seu encontro “que não eraencontro de verdade”, com Bill Banerjee, não conseguia parar de pensar em Jared.

 “ Eu me sinto mesmo culpada por estar fazendo tudo isso para um outro cara”,Charlotte reconheceu, escolhendo um suéter e uma saia de pregas. “ E por levarJared a acreditar que estou saindo com um bando de pessoas em vez de comapenas uma. Mas isso não é tudo o que está me incomodando.” Ela ainda estava tomada pelas emoções que haviam sido reviradas pela intensaconversa que tivera com Jared na noite anterior. Os dois nunca haviam tido umpapo tão sério. Sempre tinham deixado o relacionamento ser levado pela maré.Agora, mesmo que o fato mais fundamental não tivesse mudado – eles ainda eram

um casal - , Charlotte tinha a impressão de que tudo entre eles seria diferente.Como, porém, as coisas ficariam exatamente? Ela não sabia. E estava de fatoarrependida por não ter terminado com Jared? Essa era a questão que mais apreocupava. Ela não estava arrependida. Por quê?Bill a pegou pontualmente, em seu carro azul usado. No caminho para a cidade,escutaram Louis Armstrong e discutiram se o jazz era ou não a grande criaçãoartística norte-americana.À medida que o carro de Bill atravessava rapidamente a ponte sobre o rio Charlesem direção a Boston, Charlotte sentia-se alegre. “Não vou pensar em Jared hoje anoite”, decidiu, “ou na prova de matemática da semana que vem, nas inscriçõespara as faculdades ou balé. Vou relaxar e me divertir”.

Bill estacionou com seu carro no meio-fio.

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- Então, pra onde vamos? – perguntou Charlotte ao pisar na calçada.- Você escolhe – replicou Bill. – Se formos para aquele lado – ele apontou para aesquerda -, tem uma rua muito legal, tipo uma pequena Índia, com um punhado derestaurantes indianos incríveis. E, se formos pra esse lado – ele agora apontavapara direita -, tem uma lanchonete excelente. Cheeseburgers clássicos, batatas

fritas e milk-shakes.- Vamos tentar os restaurantes – falou Charlotte. – Mas acho que é bom avisar quenunca experimentei comida indiana. – ela sorriu envergonhada.Ele cambaleou alguns passos para frente, pressionando a mão sobre seu coração,como se tivessem atirado nele. – Nunca experimentou comida indiana? Então, vocêtem perdido muito tempo de sua vida, Charlotte Kennedy.Quinze minutos depois, estavam em uma mesa aconchegante de dois lugarespróxima à janela, num pequeno restaurante que tinha uma loja na frente. Bill haviapedido a comida, falando em sua língua nativa.Um depois do outro, os pratos exóticos, altamente temperados, chegaram à mesa,e Charlotte adorou todos eles: dal, uma sopa de lentilhas; rogan Josh, o prato

favorito de Bill, feito com carne de carneiro temperada com curry; biriyani, arrozcom passas e temperos; bharta, um prato com berinjela assada bemcondimentada; e deliciosos pães indianos, nan e chapati.No meio daquela comida, da música de cítara tocando ao fundo e com Bill sentadoà sua frente do outro lado da mesa, Charlotte se sentiu como uma pessoacompletamente diferente.- Eu estou feliz que a gente não tenha escolhido a lanchonete- disse Bill, tomandoum gole de chá. – Existem mais coisas em Boston do que a gente imagina, não é?É divertido descobrir isso.- Vamos andar um pouco depois do jantar – prometeu Bill. – Voe vai poder medizer se acha que devemos voltar aqui com o grupo dos workshops sobre adiversidade.O garçom recolheu os pratos. Charlotte começou a estudar o cardápio desobremesas.

- O que você acha? – ela perguntou a Bill, se arriscando naquelas palavras depronúncia difícil. – Gulabjamun ou patisapta?

Bill inclinou-se para frente, os cotovelos sobre a mesa- Acho que ainda prefiro um sorvete – ele sussurrou, em tom conspiratório.Eles ainda estavam rindo quando deixaram o restaurante. O sorriso não saiu dorosto de Charlotte durante todo o tempo em que andaram pela cidadebrilhantemente iluminada, conversando e brincando sem parar. Quando olhou orelógio no painel do carro de Bill, assim que ele chegou diante da casa dela,Charlotte ficou assustada de ver que já passava da meia-noite.- Realmente me diverti muito hoje à noite – Bill falou, enquanto estacionava ocarro. – obrigado por sair comigo.- eu me diverti muito também – Charlotte disse sinceramente.O motor parou. Eles se olharam no escuro, seus sorrisos ficaram repentinamentetímidos. “E agora?”, Charlotte se perguntou. Esse era o momento em que, se oprimeiro encontro tivesse sido divertido e as faíscas estivessem no ar, duas pessoasdeveriam experimentar o primeiro beijo. E o encontro tinha sido divertido.

Na verdade, há um mês, se Charlotte tivesse tentando descrever o tipo de garotoque ela preferia estar namorando, estaria falando de Bill. Ele era bonito,

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inteligente, atencioso, engraçado, aventureiro, culto – o tipo de cara com o qual elapoderia explorar novos horizontes. Ele representava uma parte da vida dela que eranova e excitante. E no outro dia, na reunião sobre a diversidade, ela tinha sentidoum nítido arrepio quando ele lhe fitou com seus olhos escuros. “Mas existiamfaíscas?”, Charlotte se perguntou.

Se houvesse faíscas, ela provavelmente estaria nos braços de Bill agora, percebeuCharlotte, sentindo a atração dele por ela e percebendo que ele se segurava,esperando que ela fizesse o primeiro movimento.Só havia um meio de descobrir. Bill inclinou-se em direção a ela e Charlotteinclinou-se para ele. Ele segurou levemente os ombros dela e ela levantou o rosto.Os lábios deles se tocaram suavemente.

Charlotte sentiu algo, mas não eram faíscas. Era mais como um... pânico.Ela se afastou rapidamente, sorrindo com vergonha para Bill.- Obrigada de novo – disse sem ar, enquanto abria a porta do carro comnervosismo.

- Vejo você na escola, na segunda-feira!Se Bill estava desapontado, era muito educado para demonstrar.

- Obrigado. Espero que a gente possa fazer isso novamente em breve.- Claro – ela disse.Charlotte se precipitou para fora do carro e correu até sua casa.- Você jogou essa oportunidade fora – murmurou para si mesma. Uma noitemaravilhosa, um cara maravilhoso... Provavelmente teria sido um beijomaravilhoso também. Ah, bem. Pelo menos, parecia que ele queria vê-la de novo.Enquanto Charlotte subia silenciosamente as escadas para seu quarto, porém, deu-se conta de que, no final da noite, estava de volta ao ponto de partida: estava

pensando em Jared.Na quinta-feira depois da escola, Jared estava enfurnado na sala de estudo dabiblioteca. A mesa estava completamente tomada por várias pilhas de livros, algunsdeles abertos em passagens importantes, outros com dúzias de pedaços de papelmarcando suas páginas. O caderno novo de espiral que comprara para a pesquisapara o concurso de ensaios sobre a história norte-americana já estava cheio deanotações.O tema do concurso era o governo de Abraham Lincoln na época da guerra ci vil.Jared estava imerso em discursos de Lincoln há mais de uma hora. Assim queterminou de reler o segundo discurso inaugural pela décima vez, fechou o livro eexclamou:- Uau!Foi então que Charlotte se materializou ao seu lado da mesa.- Obrigada – ela sussurrou, com um sorriso malicioso.Os olhos de Jared brilharam.- Ei, como você soube que eu estava aqui?- Adivinhei – ela sentou em uma cadeira. Largando sua bolsa de livros no chão soba mesa e cruzando as longas pernas. – Desde que você se apaixonou por Lincoln,você está sempre na biblioteca.- Irônico, né? – Jared balançou a cabeça, sorrindo. – Por todo esse tempo, eu deviater um super “cdf” escondido dentro de mim. Talvez seja o que acontece quando

você tira o “atleta” do “atleta-escolar”; você fica apenas com o “escolar”.- O atleta não se foi para sempre – Charlotte o fitou seriamente.

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- É, bem, talvez não – concordou ele. – Vamos ver.Ela bateu a mão sobre a capa de um livro empoeirado .

- Encontrou alguma coisa nova para falar do assunto?- Na verdade, acho que sim – Jared inclinou o tronco para frente, com um lampejo

de entusiasmo em seus olhos verdes. – Estou escrevendo sobre a relação deLincoln com seus generais. Você sabe, McClellan, Grant e os outros. E estoupensando que... – Fez uma pausa, rompendo com uma risada. – Não vou chatearvocê agora, mas pode ler o rascunho geral quando estiver pronto, se isso não forcontra as regras do concurso?- Claro.Jared tampou a caneta e começou a recolher seus papéis seguindo certa ordem.Estava realmente tão surpreso quanto Charlotte por se ver tão envolvido pelapesquisa sobre Lincoln. Não somente porque o assunto era interessante. “ É mededicar a alguma coisa”, Jared pensou. “Usando todo o meu cérebro, indoprofundamente.” Ele não costumava fazer aquilo com as coisas da escola. Sempre

fizera apenas o que era necessário para tirar boas notas, nem mais nem menos.Estava se dedicando ao concurso de ensaios do mesmo modo como costumava sededicar ao futebol: com energia, paixão e concentração.Obviamente, continuava sentido falta do futebol. Sentia falta de todos os tipos deatividade física, e toda vez que pensava em sua situação uma esmagadora onda defrustração se lançava sobre ele novamente. A dor emocional, às vezes, pareciamuito grande para suportar.O trabalho escolar, porém, havia dado a Jared um meio de canalizar sua energia. E,nas duas últimas semanas, havia desenvolvido uma reflexão completamente novaacerca da vida acadêmica. Recentemente, fizera provas excelentes na escola, e asenhora Parsons se impressionou com sua proposta de fazer um projeto de estudo

independente sobre o impacto da legislação dos direitos civis na vida das pessoascom incapacidades.

Ele estava até mesmo gostando de escrever seus textos de solicitação de ingressopara as faculdades. Talvez porque tivesse começado a ansiar pela universidade demodo diferente. Agora, estava excitado com as mudanças intelectuais e pessoaisque a faculdade traria, e não com a oportunidade de participar de jogosuniversitários.Enquanto Charlotte carregava alguns livros para o carrinho de retorno da biblioteca,Jared colocava outros em sua mochila, Que em seguida ele prendeu no encosto dacadeira de rodas. Depois de vestir a jaqueta, colocou-se sobre a cadeira comfacilidade. Havia chegado a um ponto em que, se tivesse algo sólido para se apoiar,conseguia se levantar e dar alguns passos lentos. Patrick, seu fisioterapeuta,dissera no dia anterior que ele estava quase pronto para trocar a cadeira de rodaspor um andador ou muletas especialmente projetadas.Charlotte segurou a grande porta de vidro aberta para Jared, e saíram juntos dabiblioteca. Do lado de fora, ele estendeu o braço, apontando para o largo gramadoverde, salpicado pela luz do sol de outono e pelas folhas caídas.- Que tal jogar um pouco de frisbee?Surpresa, Charlotte arqueou suas sobrancelhas loiras.- Frisbee?

- Claro – ele se esticou para pegar um disco laranja fluorescente na mochila. – Sónão me faça correr para pegá-lo, O.K.?

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58COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Rindo Charlotte largou a bolsa na calçada e correu pela grama. Quando se viroupara encará-lo, Jared lançou o frisbee.Jogaram frisbee por cerca de vinte minutos, conversando sobre tudo que passavapela cabeça deles: o texto de Charlotte sobre Shakespeare, o projeto de estudoindependente de Jared, a fisioterapia dele, a festa que Paige estava planejando

para depois do Homecoming. Jared sentia o calor do sol em seu rosto e o ar frescodaquela tarde entrando em seus pulmões. Não conseguia se lembrar de alguma vezem que tivesse estado como humor tão bom. “Não desde o início de setembro”,pensou. “Antes.” 

Era engraçada a maneira instantânea e definitiva como sua vida havia sido divididaem duas partes: antes e depois do acidente. De primeiro, diria que não havia umaúnica coisa de sua vida “depois” que fosse melhor do que de sua vida “antes”. Èbem difícil encontrar um ponto positivo quando se está confinado a uma cadeira derodas, sem saber se um dia você voltará andar.Exatamente naquela semana, porém, Jared começara a se sentir diferente em

relação a si e a sua vida. Estava se sentindo melhor fisicamente, experimentandomenos sintomas pós-traumáticos – as dores de cabeça, os enjôos, a irritabilidade ea insônia que vinham lhe incomodando desde o acidente. Estava progredindo nafisioterapia e se sentia inspirado pelos novos objetivos da vida escolar. Outra coisa,contudo, também tinha ajudado talvez mais do que tudo.

Sua conversa na noite passada com Charlotte realmente havia lhe dado umasacudida. Assustou-se com o modo como os dois estiveram perto de terminar, algoque ele nunca imaginara que pudesse acontecer. Antes do acidente não perdiatempo analisando o relacionamento deles. Era maluco por Charlotte, mas aconsiderava algo certo em sua vida, assim como o futebol americano. Por que falar

em sentimentos o tempo todo? ele imaginava que a conhecia. Nunca havia pensadoque conhecer outra pessoa era um processo contínuo.Agora que tinha exposto suas inseguranças e admitido que não havia dado a devidaatenção a Charlotte, sentia como se os dois tivessem em um novo território. Jaredestava ansioso pra ficar com Charlotte de um modo que nunca imaginara desde quehaviam se conhecido. Deu-se conta que, por muito tempo, havia gostado deCharlotte superficialmente. Gostava de olha-la e de estar ao lado dela, de abraçá-laem público, de beijá-la quando ficavam a sós; adorava o fato de ela ser linda e detodo mundo também achar isso. Ele não esquecera que existia algo mais emCharlotte que sua aparência mas...Ele esticou o braço no ar e jogou o frisbee para ela, um lançamento longo que fezCharlotte correr- Já cansou? -brincou ele, enquanto ela tirava p cabelo do rosto antes de jogar ofrisbee de voltaEla abriu um grande sorriso- Não de você.Continuaram jogando sob o sol de outono. Seria impossível para Jared ignorar ofato de que sua namorada era possivelmente a pessoa mais bonita da face daTerra, mas o calor que preenchia sua alma não irradiava nenhum tipo de orgulhode posso. Era o calor de um novo tipo de carinho e apreço. "é como se eu estivesseaprendendo a andar novamente no amor também"pensou.

Jared concluiu que devia ser o cara mais sortudo da escola. Tinha o incrívelprivilégio de sair com Charlotte, de conhecê-la completamente mais uma vez.

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-Jared, o que você esta fazendo aqui? - perguntou Charlotte no dia seguinte após aescola.ele a havia interceptado do lado de fora do ginásio onde o workshop sobreconsciência da diversidade estava acontecendoJared desviou o olhar dela empurrando sua cadeira de rodas alguns centímetros pra

frente, então pra trás de novo.-esse lance de diversidade -ele começou, sua voz hesitante"Lá vem" Charlotte pensou, segurando a porta do ginásio. Ele vinha agindo de umaforma tão madura e compreensiva ultimamente, mas ela deveria saber que cedo outarde a verdadeira personalidade dele iria se reflorarEla esperava que ele fizesse um comentário depreciativo sobre o workshop, ou aomenos tentasse persuadi-la de sair dali com ele pra comer uma pizza. Em vezdisso, ele falou suavemente:-Só pensei que eu podia ver como é que é - disse ele, mal conseguindo olhar praCharlotte - Talvez eu aprenda alguma coisa, ahn?A voz de Jared não tinha o menor tom de sarcasmo, ele estava mesmo falando a

verdade. Charlotte ficou momentaneamente chocada-Talvez sim - ela concordou finalmente - É, com certeza.Venha. Estou ajudando acoordenar as coisas hoje. Deve ter um monte de gente. vai ser divertido

- Sabe, me esqueci de perguntar se você se divertiu no sabado a noite - observou jared, enquanto eles entravam no ginasio.- Sábado a noite?- Você saiu com o pessoal do workshop sobre diversidade- Ah, um - Charlotte pensou rápido. Não queria mentir pra Jared.Não era certo,especialmente depois do que aconteceu entre eles na noite de sexta- feira - Hum é,eu fui.Fui pra Boston com, bem, várias pessoas tiveram de desmarcar de última

hora, então acabou que, no final das contas só fomos eu e esse garoto, Bill. Vocêvai conhecê-lo hoje. Fomos a um restaurante indiano. Nada demaisCharlotte ficou se questionando se estava falando rápido demais. Será que Jaredpodia pensar que a havia colocado em pânico ao aparecer inesperadamente noworkshop?- Comida indiana- Jared sorriu sem nenhum traço de suspeita - você acha que umcara "carne-com-batata" como eu gostaria de algo assim?- você nunca vai saber se não experimentar - respondeu elaDe qualquer modo, Charlotte ficaria nervosa com o workshop naquele dia já queseria a "coordenadora" pela primeira vez. Com Jared ali, porém ela estava

definitivamente a beira de um colapso.Depois de alguns minutos, contudo, à medida que ela, Bill, Eduardo e Minhconversaram com o grupo sobre as atividades queriam fazer, sentiu-se maisrelaxada. O programa sobre consciência da diversidade era quase como a aula debalé: havia se tornado um lugar confortável pra ela, um meio natural de seexpressar. E Jared não a estava observando como um namorado possessivo. Elerealmente parecia estar lá pra experimentar o workshop, não para vigiá-la Ela, noentanto, o vigiou. Ele participou de todos os exercícios, até mesmo dos que erammais físicos e podiam ser inconvenientes para uma pessoa numa cadeira de rodas.Quando se dividiram em grupos menores para discussão, ela assegurou q eletivesse com um líder diferente, percebendo muito tardiamente que Jared havia

caído no grupo de BillO pânico voltou a tomar conta do seu coração. "relaxe". Charlotte pensou, ao se

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sentar no chão junto com seu próprio grupo. "eles não vão conversar sobre você,pelo amor de Deus!"Ela se sentiu aliviada quando o workshop terminou, no entanto avistou Jaredparando para conversar com um garoto que conhecia do beisebol, enquanto Billpapeava com Minh

Então, tanto Jared quanto Bill começaram a vir em sua direção, um sem notar ooutro. Com coração apertado, ela percebeu que uma colisão seria inevitável.- olá garotos - disse ela, fingindo que aquele triangulo não era terrivelmenteestranho - Bill, você conheceu Jared?- É, acabamos de nos apresentar - respondeu Bill - Legal que você veio - disse elepra Jared - Gostei muito de seus comentário durante a discussão- Foi interessante- falou JaredCharlotte começou a transferir o peso de seu corpo de um pé para o outro, tomadapor uma ansiedade inimaginável- Então- Então Char - Jared falou indicando a porta- o que você acha de uma pizza?

- Pizza, ahn? - ela repetiu. Naquele exato momento, Charlotte recordou que ela eBill tinham planos pra depois da reunião - Na verdade, hum, eu e Bill estávamoscombinando de dar uma passada num sebo em Cambridge, hoje.- Ah - disse Jared. Ele olhou pra Bill, que olhou pra Charlotte.Charlotte olhou para ochão.

Bill quebrou o silêncio incômodo.- Por que você não vem com a gente? - ele convidou Jared de modo amigável ecasual.Jared voltou os olhos para Charlotte. Ela abriu um enorme sorriso artificial, aindaque não pudesse pensar em nada pior que uma ida até Cambridge com Jared e Bill.

- É, por que não vem? - perguntou elaJared hesitou por apenas um segundo- Muito obrigado, gente, mas acho que vou até a biblioteca tentar acabar minhapesquisa sobre Lincoln. Vejo você amanhã, Char-Claro - ela se inclinou para dar um beijo rápido em sua bochecha - TchauDepois que Jared foi embora. Charlotte e boll andaram até o estacionamento dosalunos- Vocês ainda se dão muito bem - observou Bill- É, nos damos- Sabe, ele é bem diferente do que imaginei

- Mesmo?Ele foi legal na discussão- Como assim? - perguntou Charlotte curiosa- Ele permaneceu calado a maior parte do tempo, atento ao que as outras pessoasfalavam - explicou Bill - Mas quando começou a falar tinha umas coisas muitoimportantes para dividir com os outros. Sobre como suas idéias mudaram desdeque ficou temporariamente deficiente, esse tipo de coisa- Humm- murmurou CharlotteBill riu, se lamentando- Talvez eu devesse entregar meu crachá de liderança da consciência sobrediversidade. Isto é, eu tenho que admitir... eu tinha uma idéia completamente

estereotipada e predeterminada de como Jared seria: Mister América, o arrogante,superatleta de cabeça pequena. Estava totalmente enganada "e eu costumava me

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sentir presa nessa relação porque eu estava mudando e ele não" Charlotte refletiuenquanto entrava no carro de Bill e apertava seu cinto de segurançaBill tinha acertado na mosca "estava completamente enganada"

O penúltimo jogo da temporada para o time de futebol americano da Parker foi

num sábado, na escola Riverside. Charlotte, Jared, Maddie, Walker, Bev,Samantha, Bob, Paige e Matt se dividiram em vários carros. Era o dia da festa deHomecoming na escola Riverside, e haveria uma parada no intervalo do jogo, combalões, banda e o desfile da rainha do homecoming e de sua corte- Vai ser como um aquecimento para o nosso homecoming no próximo fim desemana - anunciava Bev - Vou trazer a caminhonete da minha mãe e um monte decomida. Vai ser muito divertido!Em um dos carros iam apenas Charlotte e Jared. Durante toda a manhã ela ficoupensando se o rapaz faria algum comentário sobre sua participação no workshop.Será que ele havia percebido seu interesse pelo garoto? será que ele iria brigar porela ter ido a Cambridge com Bill??

Jared terminou com aquele suspense rapidamente.- Comprou algum livro interessante ontem? – ele perguntou casualmente depois desintonizar a estação de rádio.- Achei uma edição de capa dura daquele livro sobre a história do balé que euestava procurando. Pensei em você, porque tinham várias coisas sobre a guerracivil e Lincoln,mas eu não tinha certeza se... – a voz dela desapareceu. Não queriafalar demais e parecer ansiosa.- Estou quase terminando o meu texto – disse Jared.Charlotte sentiu que ele estudava seu perfil e torceu para não ficar vermelha.- Ah, Char – continuou ele. – Você me contaria, não é? Quer dizer, se existisse

alguma coisa que eu devesse saber...Charlotte sabia que Jared estava falando de Bill e pedindo para que fosse honesta.Charlotte e Bill ainda eram apenas amigos, embora na tarde anterior ele a tivesseconvidado para o baile do Homecoming. Ela dissera que iria com Jared, emconsideração aos velhos tempos.- Sim – respondeu a Jared. – Eu contaria a você.

As arquibancadas estavam lotadas, apesar do frio e da chuva. Durante a primeirametade do jogo, Charlotte e Jared permaneceram na primeira fileira dasarquibancadas, abraçados debaixo de um cobertor de lã, que levaramespecialmente para protegê-los do frio. Durante o intervalo, bateram em retirada,

 junto com os outros, para a caminhonete de Bev.- Ótimo jogo, ahn? – disse Maddie, que, mesmo vestindo luvas, esfregava as mãospara se esquentar.O jogo estava empatado, catorze a catorze.- É, mas está muito frio – disse Walker, levantando os ombros para manter suasorelhas aquecidas pela gola da jaqueta.O pessoal se reuniu ao redor da parte traseira da caminhonete, que estavaabaixada para acomodar um prato de sanduíches, potes de cookies, uma grandegarrafa térmica de chocolate quente e sacos de fritas. Charlotte e Jared estavamsentados ao lado do carro. A cadeira dobrável dela colada à cadeira de rodas dele,e um cobertor gigante cobria as pernas dos dois.

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- Devíamos ficar felizes por não sermos aquelas meninas da torcida organizada,que precisam ficar ali no frio com aquelas roupas minúscula – comentou Charlotte.- Pelo menos elas não param de pular – observou Matt. – O sangue circula.- Com certeza – brincou Bob, com um sorriso malicioso.Todos os garotos, incluindo Jared, esticaram o pescoço para o campo, a fim de

checar a performance das torcedoras durante o intervalo.Paige fez uma cara de reprovação para Bob.- Posso segurar seus olhos para você, querido? – ela ofereceu com sarcasmo. –eles estão prestes a saltar do seu rosto.

Bob Deu uma gargalhada.-Ah, vai Paige. Eu só estou dando uma olhada- existem olhadas e olhadas - disse Paige - Você acha que eu posso dizer adiferença?- está bem, então eu estava olhando OLHANDO - admitiu Bob - Mas é para isso queessas meninas participam de torcida organizada não é? - perguntou ele, virando-se

para outros garotos - Dêem uma força caras!- É - concordou MattJared balançou a cabeça afirmativamente- Eu sempre olhei olhei - confessou ele- Você só pode estar brincando - exclamou Charlotte indignada - Você acha que ésó por isso que aquelas meninas ficam lá, pros caras poderem ficar babando porelas?- Por que mais elas vestiriam aquelas sainhas curtas e malhas justas? -argumentou Walker escolhendo um sanduíche- Admita isso, senhorita Kennedy, astorcedoras são simplesmente objetos sexuais. Você não vai conseguir meconvencer de que defende esse papo furado de que torcidas organizadas também

são um esporte.- O Walker está certo Char - disse Maddie - Eu e você sempre comentamos sobrecomo essas meninas de torcida são resquícios(tava difícil ler essa palavra, masacho q é ela mesmo) da Idade da pedra.- Eu sei mas... - Charlotte franziu o rosto enquanto procurava um caminho paraalgum argumento coerente. - Kelly e as outras garotas trabalham duro deverdade.Elas levam a sério aquilo q fazem. Reduzi-las a objetos sexuais é uminsulto. um insulto para todas as garotas - concluiu- Se é tão insultante como você explica o fato de que a cada ano uma centena demeninas faz teste para torcida? desafiou Jared, com um brilho nos olhos. - você

esta dizendo que são todas umas cabeça-de-vento que não sabem como terrespeito próprio??

- Não estou dizendo isso - Charlotte retrucou- Só acho q as torcidas reforçamestereótipos da mulher como objeto, e talvez seja por isso que , ainda que diversasgarotas as procurem por causa do "glamour" e da popularidade, elas devem serabolidasCharlotte não pretendia chegar tão longe com a discussão, mas foi para esse rumoque sua lógica levaraJared franziu a sobrancelha- uma proposta interessante - afirmou - O.K., vamos votar. Quem acha que as

torcidas organizadas devem ser abolidas da escola Parker?O pessoal gastou o resto do intervalo discutindo aquele assunto e rindo, sem

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chegar a nenhuma conclusão. Charlotte e Jared permaneceram em lados opostosdo debate, mas, por alguma razão, aquilo só havia tornado tudo mais divertido."Não costumava ser assim. Charlotte pensou em algum momento da discussão,maravilhada. Antigamente, Jared teria insistido que ela concordasse com ele : nãodesistiria do assunto enquanto ela não enxergasse a partir do ponto de vista dele.

Por causa disso, freqüentemente ela preferia não expor suas próprias opiniões.Agora, entretanto, quando ela falou o que realmente pensava, Jared escutou. Nãoconcordou com ela, mas conseguiram brincar com suas diferenças. Havia umaverdadeira comunicação entre eles, equilibrada e relaxada.E não era apenas a comunicação. Existia algo um pouco mais físico.O intervalo estava quase acabando e Bev e os outros começaram a guardar olanche. Charlotte e Jared colocaram o cobertor sobre suas cabeças para seprotegerem contra o vento, e permaneceram bem juntinhos- Eu só sou a favor das torcidas organizadas porque sempre tive uma fantasiasecreta de ver você numa daquelas saias - sussurrou JaredEla soltou uma gargalhada

- eu gostaria de ver VOCE em uma daquelas saias .

- Você sabe q eu só estou brincando- ele virou a cabeça dando um beijo nabochecha dela - fico feliz que você não seja torcedoraos lábios dele desceram ate aquele ponto sensível logo abaixo da orelha,permanecendo ali por um breve mas delicioso momento. totalmente entregue,Charlotte tremeuEla permaneceu silenciosa enquanto voltavam para as arquibancadas. Se havia algoque, por um longo tempo, vinha faltando em seu relacionamento com Jared erauma certa "química". Eles estavam realmente se dando melhor,e ela se percebeugostando dele de um modo completamente novo. Até passara a desejar que eles

firmassem uma amizade forte o suficiente pra sobreviver ao rompimento que elaainda dava como certoMas atração??? Isso era uma coisa do passado.Por parte dela pelo menos. Será?

Na noite seguinte, Charlotte sentou-se perto da janela em seu quarto admirando ogrande circulo branco da lua cheia. O próximo dia seria outra segunda feira eaparentemente não existia nada de especial na semana que estava por vir. Elaseguiria sua rotina normal de escola, balé, saídas com amigos e encontrosextracurriculares ocasionaisseria a mesma coisa de sempre... mas como poderia ser igual, depois daquele fim

de semana?O recital daquela tarde no Conservatório de Dança New England havia transcorridobem, Charlotte tinha dançado perfeitamente. Ela sentia como se tivesse alcançadoum novos estágios, na sutileza e intuição de sua interpretação. Sua mente e seucorpo tinham se conectado com a música de um modo que ela nuncaexperimentara antes.Depois da apresentação , madame Laurent, que normalmentenão era muito de elogios, ficara verdadeiramente exaltada. E outra pessoa tambémse impressionara: JaredEla nem esperava que ele aparecesse no recital. Assim, quando o avistara naplatéia, sentado perto dos pais dela, quase caíra do palco. Sucumbira

instantaneamente a um ataque de nervos, seus movimentos ficaram tensos etímidos. Então, apagou Jared de sua mente, forçando-se a focar na dança. Daquele

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ponto em diante, dançou, saltou e deu piruetas em perfeito controleLogo depois, Jared estavam explodindo de orgulho e admiração.= Eu não tinha idéia de como você era boa, Char - ele disse no jantar junto dospais dela- você é mais que boa. Você é incrível!Quando haviam começado a conversar sobre audição de Charlotte para a Suny

Purchase, que aconteceria em breve, Jared se ofereceu para ir de carro para NovaYork com ela- Para das apoio moral - dissera ele, apoiando a mão sobre a mesaA noite estava fria e clara enquanto Charlotte olhava pela janela de seu quarto,fragmentos de nuvens sopradas pelo vento passavam diante da lua. Jaredcompareceu ao recital, ela dançou super bem (por causa dele?), eles estavam serelacionando de um modo completamente diferente, como no jogo de futebolanteriorNo início do ano escolar ela estivera disposta terminar com Jared porque, depois denamorar por dois anos ele ainda não conhecia a verdadeira Charlotte Kennedy. Eimaginava que ele nunca viria a conhecer

Agora, Charlotte percebia que também não conhecia o verdadeira Jared Colburn. OJared que estava se aproximando dela de uma modo completamente novo eexcitante - se aproximava de seus sentimentos e seus sonhos.

- Eu pensava que, a essa altura, já estaria fora da cadeira de rodas – falou Jared,esforçando-se para não gaguejar. – Você disse que em novembro eu estaria prontopara usar o andador.- Definimos objetivos – replicou Patrick, o fisioterapeuta, com uma voz tranqüila. –Então trabalhamos voltados para isso. Você está muito bem, Jared; seu progressoestá sendo fenomenal. Mas objetivos são apenas objetivos. Cada dia é um novocomeço. Você tem que trabalhar a partir de onde está agora – ele apertou com

força o ombro de Jared, sorrindo. – E lembre-se de que estamos apenas naprimeira semana de novembro. Você ainda tem três semanas.Jared, que estava de pé numa espécie de esteira com ferros para sustentar suaspernas e quadris, afastou a mão de Patrick com um movimento brusco. Ele nãoestava com humor para ouvir aquela conversa sem sentido, muito menos aquelediscurso de “dar um passo pra frente e dois pra trás”. Ele estava querendo andar.- Só quero dar alguns passos – murmurou por entre os dentes cerrados, tentandobalançar sua perna sem os ferros de suporte, - Apenas um ou dois malditos passos.- Você vai chegar lá – prometeu Patrick. – Respire fundo, agora vamos mudar deequipamento e trabalhar um pouco os músculos das costas.

Jared fechou os olhos e respirou profundamente. Apesar do esforço para seacalmar, por trás de suas pálpebras ele ainda estava tomado pela raiva. Imagensdesconexas começaram a passar por sua mente, imagens que perfuravam seucorpo como agulhas. Jogadores de futebol americano correndo por um campo;meninas de uma torcida organizada fazendo acrobacias; Charlotte dando piruetas,com seu corpo exalando graça e força. Todos se moviam com tanta facilidade,enquanto ele era uma estátua congelada que precisava reaprender tudo, como sefosse um recém-nascido. Precisava reaprender como dobrar os joelhos e mexer osdedos dos pés.Ele abriu os olhos. As imagens desapareceram, mas pontos vermelhos continuavama atravessar seu campo de visão, enfurecendo-o.

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 “Charlotte, futebol, balé, o baile de Homecoming desta semana”, Jared pensou comtristeza. Quando tentou imaginar como seria o baile. Viu Charlotte dançandonovamente. Mas não com ele... com Bill Banerjee.- Eu só quero dar alguns passos – Jared disse novamente, desesperado.Os momentos seguintes se passaram rapidamente, como um borrão. De algum

modo ele havia se livrado dos suportes da esteira. Patrick tentou ajudá-lo, masJared arremessou seu corpo para longe do fisioterapeuta. Por um instante,permaneceu sem nenhum apoio... não foi? Deu um passo sem ajuda alguma... nãodeu?Mas então se desequilibrou, sendo tragado por dor e escuridão.

- Ele não apareceu não apareceu na escola à semana inteira – Charlotte disse aMaddie na sexta à tarde, enquanto elas dividiam uma porção de anéis de cebolafrita no Judy’s. – A senhora Colburn me contou que ele não foi à fisioterapiatambém.- Ele está doente? – perguntou Maddie.

- Jared disse que não está se sentindo bem, mas, de acordo com a mãe, ele estábem – replicou Charlotte. – É alguma outra coisa.- Depressão? – arriscou Maddie.- Talvez. Não sei – Charlotte franziu a testa, assumindo uma expressão depreocupação. – Ele está me evitando. Quando ligo, só fala comigo por um ou doisminutos, e não deixa que eu vá visitá-lo.Depois que terminaram os anéis de cebola e pagaram a conta, desceram a rua emdireção a uma loja para que Maddie comprasse um par de meias finas quecombinassem com seu vestido para o Homecoming.- E o que é que vai acontecer amanhã? – perguntou Maddie. – Você dois estavamplanejando ir juntos ao jogo e ao baile, não é?

- Estávamos, quer dizer, estamos- disse Charlotte. De algum modo, ela se alegrou,lembrando como ela e Jared estavam ligados no jogo do último fim de semana. –Talvez ele só esteja precisando de um descanso – concluiu. – Quando sair de casaamanhã, vai e animar. E, além do mais, é Homecoming!

Meia hora depois, ela entrava em casa no exato momento em que o telefonecomeçava a tocar.- Oi! – Charlotte falou empolgada. – Maddie e eu estávamos justamente falando devocê.- Ah, é? – disse ele, a voz sem nenhuma expressão.- É, estávamos ficando super ansiosas para o Homecoming. Walker alugou umalimusine; eu e você podemos ir com eles para a festa. Não vai ser divertido?Houve uma longa pausa.- Jared?- indagou Charlotte.- eu ainda estou aqui – ele fez outra pausa. – É por isso que estou ligando.Homecoming. Eu não posso... Eu não vou ao baile, Charlotte. Sei que está em cimada hora, mas... Desculpe-me.Um nó apertou o estômago de Charlotte.- Você ainda está mal?Mais uma longa pausa.- É – ele finalmente murmurou.

- Jared, qual o problema? – perguntou Charlotte.- Eu só não estou me sentindo muito bem – ele respondeu bruscamente. – De

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qualquer maneira, você vai se divertir mais sem mim;- Isso não é verdade e você sabe disso – disse ela. – Jared, se você acha que nãoquero ir ao baile com você porque...- Olha, eu tenho que desligar – ele a cortou. – vejo você na semana que vem.- Você vai à escola?

- talvez.

- Jared, gostaria que pelo menos você me dissesse o que está...De repente, o barulho do telefone desligado começou a zunir em seu ouvido.Charlotte desligou e caminhou para a pia, a boca franzida de preocupação.Ela ficou tentada a ligar para Jared e exigir que ele explicasse porque estava seescondendo em casa. Mas as chances eram de que ele fosse novamente evasivocom ela, ou talvez nem mesmo atendesse.

 “O que aconteceu?”, ela se perguntou, lágrimas escorrendo em seu rosto.

Naquela tarde de sábado, enquanto Jared permanecia afundado no sofá da sala

assistindo desanimado a um filme dos Três Patetas na TV a cabo, concluiu queaquele seria o dia mais longo de sua vida. Os ponteiros do relógio se moviam comuma lentidão além do normal e, por mais que aumentasse o volume da televisão,ainda conseguia escutar o tique-taque. Ou talvez aquele fosse o som de um outrorelógio, dentro de sua cabeça. P relógio do jogo de futebol do Homecoming.

 “Provavelmente ainda está na metade do segundo tempo”, Jared especulou mal-humorado, a uma e meia da tarde. Depois, às duas e quinze, intervalo. Às cincohoras, conforma o fim da tarde escurecia a casa silenciosa, uma sensação de vaziotomou conta de seu corpo apático. A essa altura, o jogo já havia terminado.Naquele exato momento, enquanto Jared permanecia imóvel no sofá, centenas deestudantes desordeiros da escola Parker estariam provavelmente atravessando o

campo para comemorar a vitória sobre a escola Hawthorne. “E eu perdi isso”, Jaredpensou. “Terceiro ano, e eu perdi toda a maldita temporada.” O fim da tarde passou ainda mais devagar. Jimmy retornara do jogo, mas Jareddissera a ele que queria ficar sozinho. E ele sabia que seus pais só chegariam emcasa bem tarde – estavam visitando uns amigos numa cidade vizinha. Mas eramelhor assim. Jared não queria conversar com ninguém mesmo.

Enquanto esquentava uma pizza congelada no microondas, Jared não podia deixarde imaginar seus amigos se preparando para o baile, os garotos em smokingsalugados, tocando as campainhas das casas de seus pares, carregando pequenosbuquês de flores para as meninas. Charlotte iria ao baile sozinha? Ou será que elahavia encontrado um par reserva, talvez aquele tal de Bill, que claramente tinhainteresse nela?Seis horas, sete, oito. Jared se cansava da TV e tentou ler, então se cansou disso etentou o videogame. Pensou em ir para cama, mas sabia que não conseguiriadormir.

 “Está acabado”, pensou entediado enquanto permanecia sentado na mesa dacozinha, observando o queijo da pizza – que não comera – endurecer. “Acabado,acabado.” O Homecoming havia acabado, a temporada de futebol americano estava acabada,sua vida estava acabada. Ela nunca andaria de novo, nunca seria a pessoa que

queria ser. Porque se preocupar em voltar à escola na segunda ou retornar Àfisioterapia? Por mais que ele se esforçasse, nunca sairia da cadeira de rodas. Para

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que enviar inscrições para universidades, e entrar em concursos de ensaios dehistória? Quem se importava se ele se formaria ou não?E por que importunar Charlotte, ligando para ela? Jared decidiu, ignorando a dor doseu coração: “Por que não deixar isso morrer também?”.

É realmente uma pena que Jared não esteja aqui – Bev gritou no ouvido deCharlotte durante o baile. – Nosso último Homecoming. Não é a mesma coisa semele.

Charlotte assentiu com a cabeça, sem falar nada. Sua garganta estava irritada deficar periodicamente engolindo bocados de lágrimas não derramadas.Ela tinha ficado tentada a não ir ao baile também, mas Maddie e o resto da turmanão deixariam que fizesse isso. Jantar antes do Park Point Inn tinha sido bemdivertido e, de certa maneira, ela estava feliz de ter usado o vestido curto develudo que havia comprado numa loja da moda em Boston. E também não havia

 “sobrado” no baile: dançara com Jeff, Bob, Matt e Walker e rira muito com as

meninas. Até tinha dançado duas vezes com Bill. Ele foi acompanhado, mas disse aCharlotte, muito discretamente que Minh era apenas uma amiga e que preferiaestar com Charlotte. E a convidara – e ela aceitara! – para um brunch no diaseguinte.

Nada disso, porém, importava: a música excelente, a animação dos amigos, seulindo vestido, a atenção de Bill. Uma pedra fria levava Charlotte para baixo,fazendo com que seus braços, pernas e coração se sentissem inacreditavelmentepesados.Às onze horas, sem saber como aquilo acontecera, viu-se indo para a festa deVince D’ Agostino com Bill e Minh. Ela queria se divertir na festa, queria mesmo.

Mas depois de apenas quarenta e cinco minutos, entrou na biblioteca do pai deVince para chamar um táxi. Simplesmente não podia ficar fingindo. Não estava emclima de festa.Despediu-se rapidamente de Bill, murmurando algo sobre uma dor de cabeça, esaiu para esperar o táxi. Enquanto permaneceu tremendo de frio, com sua jaquetafina que não aquecia nada, Charlotte começou a se arrepender de sua saídaapressada. “Talvez eu devesse voltar”, pensou, apertando a boca para não bater osdentes de frio. “Eu realmente quero ficar sozinha hoje à noite?” Naquele momento, deu-se conta de algo. Não queria ficar sozinha, mas tambémnão queria ficar com Bill, Minh, Vince e nenhum dos outros.Queria ficar com Jared.

Quando o táxi chegou, Charlotte pulou no banco traseiro. Antes que tivesse tempode mudar de idéia, falou o endereço de Jared.- 1210, Alameda Bayberry – indicou ao motorista.Seu coração estava disparado quando o taxi parou diante da casa dos Colburn.Agora que estava quase na frente de Jared, começou a entra em pânico. “O quevou falar a ele?”, pensou, enquanto pagava ao motorista. Esperava que os pais deJared não estivessem em casa. Eles não apreciariam aquela visita à meia-noite. Ese Jared nem quisesse vê-la?Charlotte tocou a companhia e esperou, os braços fortemente cruzados na frentedo peito em uma inútil tentativa de controlar o tremor. Um minuto se passou. Elatocou novamente a companhia, escutando o eco ao longe. Ninguém apareceu.

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68COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Ela se virou, observando a vaga de carros vazia. Então olhou novamente a porta.- Eu sei que você está aí, Jared Colburn – murmurou ela, colocando a mão namaçaneta da porta.Para a sua surpresa, a maçaneta virou. Cuidadosamente, Charlotte abriu a porta.- Jared? – ela chamou no corredor, que estava escuro e silencioso.

Apenas silêncio.Então, um som veio da sala.- Char, é você?Charlotte atravessou o corredor, seus sapatos de salto alto batendo contra o pisoduro, fazendo estardalhaço.Jared estava deitado no sofá. Ele sentou-se quando ela chegou, e um livroescorregou de seu colo para o chão.- O que você está fazendo aqui? – ele perguntou. – Por que não está no baile?- Eu precisava ver você – ela respondeu, colocando a jaqueta sobre uma cadeira.Jared esticou as mãos.- Bem, aqui estou eu, em toda minha glória – disse secamente.

Repentinamente. Charlotte adivinhou o que vinha acontecendo com Jared duranteaquela semana. Podia dizer pelo olhar de desamparo em seu rosto e pelo tom desua voz.O coração dela se encheu de compaixão, misturada com um sentimento de raiva.Deixando a compaixão um pouco de lado extravasou a raiva, sabendo que era oúnico modo de atingi-lo, o único modo de ajudá-lo.- Sentindo pena de si mesmo, ahn? – perguntou.Os olhos de Jared se apertaram.- E se estiver?- Alguma coisa deu errado na fisioterapia da segunda à tarde, né?- Vamos dizer que eu percebi que já perdi tempo demais. Porcaria de fisioterapia. Ésó pra manter as pessoas em cadeira de rodas tão ocupadas que elas nãoconseguem pensar o quanto são inúteis.O tom da voz de Jared era amargo, mas Charlotte escutava uma outra voz,gritando por socorro.- Jared, você precisa voltar pra escola – ela falou. – Tem que dar outra chance paraa fisioterapia.- Por que você se importa? – disparou ele. – Não é sua vida. Não são suas pernasque não funcionam.

- Não estou falando de suas pernas – gritou Charlotte. – Não é com seu corpo que

você está acabando, Jared Colburn, porque, ainda que você tenha sido um grandeatleta, você é muito mais do que apenas um corpo. É seu espírito – nessemomento, os olhos dele se encheram de lágrimas. – É com ele que me preocupo.A paixão com que ela falara tudo aquilo desarmou a ambos. Jared a fitava,aterrorizado. A máscara do cara durão havia caído.- Às vezes fico tão assustado, Char – confessou. – Nunca tive que me esforçartanto por uma coisa assim antes. E se não conseguir? E se ficar paralítico pro restoda vida?- É exatamente isso. É isso que estou falando – ela se ajoelhou ao lado do sofá eagarrou as mãos dele. – Aconteça o que acontecer, Jared, mesmo que você nãorecupere todos os movimentos das pernas, você não tem que se enxergar como um

doente.Você não precisa abandonar seus sonhos!

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69COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Charlotte sentou-se no sofá ao lado de Jared, e subitamente o abraçou. Os doischoravam.- Quero acreditar nisso – Jared sussurrou com a voz rouca.- Então acredite – falou Charlotte. Segurando-o com força. – É a única maneira detornar realidade.

- É muito cedo pra já está acordado – declarou Bill, depois que a hostess os fezsentar a uma mesa do The Cove, um restaurante, perto do mar, famoso por seubrunch de domingo.- É meio-dia – observou Charlotte com um sorriso. – Acho que você ficou até tardena festa.- Ficou muito divertido na casa do Vince. Você realmente deveria ter ficado maisum pouco.Em vez de fazer algum comentário, Charlotte abriu o cardápio.- Hum, esses waffles devem ser uma delicia.Bill inclinou-se para frente, os braços cruzados sobre seu cardápio, que ainda

permanecia fechado.- Jared devia estar se sentindo muito mal para não ir ao baile – comentou.- É – disse Charlotte, mantendo os olhos grudados no cardápio. – Ou será queestou com vontade de comer ovos mexidos?

Com o canto do olho, pôde ver Bill pegando o próprio cardápio, abrindo-o efechando-o em seguida. Então, levantou o copo de água e agitou-o levemente parachacoalhar as pedras de gelo.- Sabe, Minh e eu saímos juntos agora, mas é totalmente platônico.Charlotte assentiu com a cabeça.- Foi a impressão que eu tive.

- Charlotte, eu gostaria... eu queria... – Bill começou a falar e surpreendeuCharlotte ao esticar o braço abruptamente ao longo da mesa para segurar a mãodela. – Eu queria que você tivesse ficado na festa ontem à noite. Minh foi cedo pracasa, e já que Jared também não estava por perto, talvez... – ele não terminou afrase, mas era óbvio para onde o pensamento dele seguia: “Talvez algo tivesseacontecido entra a gente”.- bem, ahn... – murmurou Charlotte, suas bochechas ficando levemente rosadas.- O que você acha de, no sábado que vem, irmos pra cidade fazer alguma coisa? –sugeriu Bill.Ele ainda estava segurando as mãos dela. Quando Charlotte baixou a cabeça paraolhar os dedos deles cruzados, percebeu que havia algo de errado naquela imagem.Por várias semanas, seus velhos sentimentos por Jared e seus novos sentimentospor Bill haviam sido completamente confusos. Naquela manhã, no entanto, asituação tinha repentinamente se tornado mais clara. Ela gostava muito de Bill. Eleera interessante e engraçado, e extremamente atraente. “Mas não é ele que euquero”, percebeu.Ela apertou a mão dele, então se desvencilhou.- Bill, acho melhor não. Quer dizer, sair no sábado.Ele não entendeu muito bem, os olhos escuros ainda estavam cheios de esperança.- Que tal na sexta, então?Charlotte balançou a cabeça.

- O que eu quero dizer e... – ela abaixou novamente os olhos, sem querer ver odesapontamento no rosto dele. – não acho que a gente deva sair juntos de novo.

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71COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

que uma onda molhou areia com sua espuma. O vento soprava o cabelo deCharlotte e ela sorriu. Esta era a praia onde encontrara Jared pela primeira vez- Eu não quero sair com mais ninguém, nem mesmo com Bill - declarou para o mare para o sol - Já tenho um namorado, e o nome dele é Jared Colburn

Durante as semanas seguintes, Charlotte viu Jared todos os dias e a maioria dasnoites também. Nas quartas e sextas, eles aproveitaram o privilégio de ter uma janela na grade horária e saíram para almoçar e passear pela orla.Jared havia se lançado na fisioterapia com uma nova dedicação e, quando não tinhaaulas de balé, Charlotte lhe dava uma carona para as sessões. Tinham retomado ohábito de ter “encontro de estudo” durante a semana e encontros de verdade nofim de semana.Numa tarde de sexta-feira no final de novembro, Charlotte chegou correndo nacasa dos Colburn depois do balé. Jared estava na cozinha fazendo uma vitamina defrutas no liquidificador. Agora, Jared era capaz de fazer quase tudo sozinho, já queseus pais haviam reformado a casa para se tornar totalmente acessível para a

cadeira de rodas.- Morango, banana e gérmen de trigo – disse ele, servindo um copo para Charlotte.Ela deu um golinho.- Sem sorvete?- Ei, isso é saudável!Só então Charlotte percebeu que Jared estava apoiado sobre o balcão da cozinha esua cadeira de rodas não estava à vista.- Espera. Como você chegou até aí? – ela perguntou.Jared deu um sorriso.- Andei. Com apoio, é claro.- Jared, isso é fantástico! – Charlotte deu um abraço nele. – Eu não estou

acreditando!

- Ei, cuidado. Eu ainda fico um pouquinho bambo - brincou ele, mas ela sabia queele tinha ficado feliz com a reação dela.Charlotte deu-lhe um beijo na bochecha- Estou orgulhosa de você- É?Ela pensou em todas as vezes no passado, um passado bem distante agoa, em queJared se gabara por alguma conquista esportiva- um ponto marcado no futebolamericano ou um arremesso no beisebol. Naquela época, a admiração dela serviapara tornar o triunfo dele mais completo, e ela obediente mente falava o que elequeria ouvir, Charlotte sempre pensara que ser uma namorada dedicada era isso.Dessa vez, no entanto, o entusiasmo dela foi extremamente sincero. Ela não seimportava com esse tipo de bajulação, porque agora não se tratava de inflar o egode Jared. pela primeira vez na vida, ele tinha obtido sucesso da maneira difícil.Jared parecia estar lendo a mente dela.- É um jogo inteiramente novo - ele falou baixinho - apenas contra mim mesmoCharlotte acariciou o pescoço dele- Você é capaz - ela disse com convicção - Você é um vencedor

- Nem consigo dizer o quanto isso é bom - Jared disse cheio de si, na tarde do

sábado seguinte - É como sair da prisão.Ele e Charlotte tinham ido de carro até Boston para dar uma volta no Quincy

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72COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Market, um mercado ao ar livro, e no porto. Era um dia frio de novembro, o solpálido aparecia de vez em quando por entre nuvens baixas que prometiam neveantes do anoitecer. Mas Charlotte nem se preocupava com a temperatura. Sóenxergava a felicidade de Jared em voltar a andas, por mais trêmulas e insegurasque suas pernas estivessem.

- Desculpe, mas preciso ir devagar - falou Jared quando pararam perto de umcarrinho de cachorro - quente para que ele retomasse o fôlego.

Uma vez que Jared precisava se apoiar fortemente sobre as muletas, os doisavançavam lentamente pelos caminhos do mercado. Mas Charlotte também não seimportava com aquilo.- Você está indo superbem - assegurou eleContinuaram, parando para assistir a um malabarista. Mais adiante, depois decomprar um pacote de biscoitos de chocolate ainda quentes do forno, sentaram-senum banco verde de madeira- É engraçado, já vim um milhão de vezes ao Quincy Market - observou Jared - mas

sinto como se estivesse vendo isso pela primeira vez- É porque você mudou - disse Charlotte trivialmente- É?- É.- De que modo?- De todos. Você não acha?- Acho que sim - ele concordou com a cabeça - É claro - sorrindo, alongou osbraços e envolveu os ombros dela. - Então, como é estar com um completoestranho?Ela retribuiu o sorriso- Eu gosto

- Você é uma garota danada, Charlotte Kennedy.- Quem, eu?Eles ficaram em silêncio por um minuto, mastigando os biscoites. Então Jaredsurpreendeu Charlotte- Sabe, Você é uma das coisas que parecem novas pra mim.- Eu? - disse, levantando a sobrancelha.- Não preciso dizer que costumava dar meu namoro com você como algo certo. Queeu não dava atenção que você merecia. Hoje eu me considero incrivelmentesortudo por você continuar comigo.Charlotte fitou os olhos de Jared. Eles nunca pareceram tão verdes, tão profundos

- Eu me sinto com muita sorte também - ela disse suavementeO olhar de Jared retomou um ar malicioso.- Agora só falta aquela trilha sonora piegas tocando ao fundo"começar de novo, baby, yeah, yeah."Charlotte deu uma risada.Talvez estejamos começando de novo, mas você continua completamentedesafinado.

- É, se eu conseguisse cantar, aí sim seria um milagre.Eles permaneceram em silêncio por um momento, terminando os biscoitos- Então, estranha - disse Jared enquanto retirava os farelos de biscoitos das mãos -

Mesmo depois de todos esses anos, eu aposto que existem várias coisas que nãosei sobre você

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- E eu aposto como existem várias coisas que não sei sobre você - ela corrigiu.Nesse momento, Charlotte se lembrou de quando entrevistara Bill num dosworkshops sobre consciência da diversidade - Vamos fazer perguntas um pro outro.Vamos nos entrevistar - sugeriu ela- Sério?

- Por que não?- O.K., Eu começo - disse ele- Charlotte, o que voce mais gosta em si mesma?Ela balançou os ombros- Não sei- Vamos - ele respondeu - Voce tem que responder.Charlotte franziu a testa- Eu acho... que tenho a cabeça aberta. Ou pelo menos tento terEle concordou- Você tem. Também gosto disso em você- Certo, minha vez. O que você mais gosta em você?- Alguns meses atrás, eu provavelmente diria que era ser forte e ágil - respondeu

Jared - Agora tenho que dizer que sou grato por ser teimoso como uma mula.Minha vez. Se você pudesse ter nascido em outro lugar e outra época, o queescolheria?- Uau. Eu acho ... humm. Talvez a América colonial , um pouco antes da Revolução,na declaração da Independência, todas essas coisas. Deve ter sido muito excitante.E você?-Na Grécia Antiga - declarou Jared - Imagine competir nos primeiros jogosolímpicos?Trocaram perguntas por cerca de vinte minutos. Charlotte confessou que sempredesejara andar a cavalo e jogar bem basquete, que não planejava se casar antesdos vinte e poucos anos e que, ainda que Jared adorasse os 3 patetas, ela osachava estúpidos. Jared revelou que queria ter cinco filhos, que estava pensandoem se tornar um professor de história ou talvez entrar para a política, e que sefosse o governador de Massachusetts declararia feriado estadual toda vez que osRed Sox jogassem em sua cidade natal.

Estavam rindo de alguns itens do plano político do governador Colburn quandoCharlotte percebeu flocos brancos salpicarem a manga cinza de sua Jaqueta. Aneve caia silenciosamente, a primeira do ano- Não é lindo? - Charlotte comentou, apertando o braço de Jared e aconchegando-se ao lado dele.

Ele concordou com a cabeça.-Vamos. Vamos pra casa nos aquecer.Eles foram para casa de Jared, porque os pais dele planejavam ficar fora durante atarde. Enquanto Charlotte acendia a lareira, Jared estudava o menu do restaurantechinês que fazia entregas. Após um jantar a luz de velas, os dois se enroscaram nosofá para ouvir música e observar a madeira queimandoCharlotte se acomodou no braço de Jared, com a cabeça sobre o ombro dele. Comsua mão livre, ele retirou o cabelo que pendia sobre a testa dela- Humm - murmurou ela, fechando os olhos - Não pare.- Eu deveria fazer uma massagem de verdade em você - disse ele - recebo umacomo parte da fisioterapia e sempre fico pensando que gostaria de tentar em você

- Você é massageado? - ela levantou uma sobrancelha- Não por uma mulher linda,espero

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74COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Jared deu uma risada- Não, por uma cara de meia idade chamado Ralph. Desculpe-me por desapontá-laAbraçaram-se por alguns minutos, sem conversar. Então, Jared rompeu o silêncio.Faz séculos que não escuto esse CD. Você se lembra dessa banda?É claro - replicou Charlotte - Fomos ao show deles quando estávamos no segundo

ano. Foi nosso aniversário de dois meses de namoro.

- Dois meses - ele repetiu. Charlotte não conseguia ver o rosto de Jared, mas podiaescutar o sorriso na voz dele - Era como se estiv=essemos saindo juntos por muitotempo, se lembra?- Bem, nós nos envolvemos muito rapidamente - falou ela - Tínhamos muitaatração um pelo outroEle a apertou instintivamente, Charlotte virou seu corpo em direção ao dele.Quando ela levantou o rosto, a boca dele estava pronta para encontrar a delaEla não havia pensado em beijar Jared. Só estava aproveitando a sensação boa deestar próxima a ele. Mas quando os lábios deles se encontraram, meses de desejo

contido vieram a tona e o corpo de Charlotte se esquentou. De algum modo, elavinha esperando por esse momento... querendo...Jared a envolveu com seus braços, suas mãos quentes repousaram sobre as costasnuas dela por baixo da camiseta. O beijo foi longo e apaixonado. Charlotte desligouseus pensamentos conscientes, se entregando àquela sensação.Depois de um minuto, Jared mudou de posição e os dois se afastaram um pouco,ambos vermelhos e sem fôlego- Uau - sussurrou Charlotte - Eu me esqueci como era- Eu também - Jared também sussurrouRepentinamente, ela se sentiu imprudente.por um instante de felicidade, ela havia se esquecido completamente das pernas

machucadas de Jared- Jared, isso... quer dizer, eu, agora... eu não queria... - gaguejou ela.- Se você está preocupada porque pode me machucar ou algo parecido, não fique.Não vou quebrar.- Você tem certeza de que está em condições?Ele sorriu.- Estou em condições. Acredite em mim.Eles se ajeitaram no sofá, numa posição em que Charlotte não esmagasse aspernas de Jared, e depois voltaram a se beijarCharlotte não conseguia se lembrar de quando havia sido tão bom beijar Jared.

Esse era o primeiro encontro romântico deles desde o acidente de carro. Mas,mesmo antes do acidente , os sentimentos dela nunca tinham estado tão fortes e,naturalmente,a parte física também não costumava ser tão arrebatadora.Agora, "calor parecia ser uma pavra muito suave para descrever o que o toque deJared causava nela. Tinham passado um dia maravilhoso juntos, e agora a noiteestava se tornando inesquecível também.- Eu amo você, Char- murmurou Jared, os lábios dele no cabelo delaCharlotte mal conseguiu acreditar que aquilo estava acontecendo. O sentimentohavia crescido tão gradualmente que ela nem percebera. "é amor", ela se deuconta, deslumbrada e feliz. "Sincero e verdadeiro. Eu me apaixonei novamente pelomeu próprio namorado"

- Eu também amo você, Jared - disse, do fundo do seu coração.

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76COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

desarrumando o cabelo dela - Ouviu?- Ouvi - disse ela sorrindo- É sério, Char - ele falou, olhando diretamente em seus olhos - Talvez você decidaque não quer se tornar uma bailarina profissional, mas se você não se inscreverpara Suny Purchase, nem vai ter essa opção. Você tem a chance de ser a melhor

em algo, corra atrás disso.

Charlotte fitou Jared, os olhos dela inesperadamente embaraçados. A intensidadedo carinho dele era inconfundível. Não fazia muito tempo ele não tinha dadoimportância para as ambições dela porque estava completamente afundado nassuas próprias. Agora, ainda que tivesse que lidar com o modo como seu acidenteestava mudando seu futuro, não estava sendo egoísta. Estava dando apoio a ela deum jeito que nunca fizera antes.Durante o fim do almoço, Charlotte e Jared continuaram de mãos dadas, ainda queisso fizesse com que parecessem esquisitos, sem mencionar que comer se tornouuma tarefa impossível. Charlotte não se preocupava. Ela e Jared estavam

apaixonados de novo, e amor era sempre melhor que comida.

- Não consigo acreditar em vocês dois - exclamou Maddie durante a conversa comCharlotte naquela tarde - Parecem recém casados!- É assim que estou me sentindo - confessou Charlotte, corando.Charlotte convidara duas de suas novas amigas, Susie Kawamura e Andy Klincaida,para se juntarem aos encontros regulares delas no Judy's, para tomar milk-shake ecomer anéis fritos de cebola. De antemão, ela havia se preocupado um pouco emmisturar os dois grupos, mas Maddie, Paige e Bev tinham sido muito receptivas, etodas se deram bem logo no início.- Eu nunca nem soube que vocês estavam tendo problemas - Bev disse, se

lamentando - Vocês foram muito discretos- Era difícil conversar sobre isso - reconheceu Charlotte - mas o importante é queresolvemos tudo. Nossa relação está melhor do que nunca- Então o que você vai fazer no ano que vem se Jared for para Harvard ou Williamsou algum outro lugar e você for pra Nova York? - perguntou Andy, pegando umanel de cebola do prato no centro da mesa.Charlotte misturou seu Milk-shake de chocolate com o canudo- Não sei.

Ela ainda estava pensando na pergunta de Andy, quando Jared apareceu na suacasa, como havia prometido, para motivá-la a trabalhar em sua inscrição para a

Suny- Ainda não consegui escrever muito - apontou ela, enquanto os dois permaneciamdeitados em sua cama com os braços entrelaçados- Esse é o aquecimento - brincou Jared, beijando a ponta do nariz delaCharlotte repousou sua cabeça sobre o peito de Jared e escutou a batida docoração dele atraves do tecido da camisa de flanela.- Acho que vou envia a inscrição - ela disse depois de um instante - Você esta certosobre deixar minhas opções abertas. Se eu realmente entrar, no entanto, como voudecidir? quero mesmo me concentrar no balé ou seria mais divertido ir para umafaculdade tradicional como todo o mundo?

- Deixe pra se preocupar com isso em abril, quando as cartas de aceitaçãocomeçarem a aparecer - aconselhou ele

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77COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

Charlotte sentou-se na cama, retirando uma mecha longa de cabelo do rosto- Você não está se inscrevendo para nenhuma faculdade em Nova York- comentouela- Isso significa que, se eu for para a Suny Purchase, ficaremos separados pelospróximos 4 anos. Você já pensou nisso?Ele se apoiou nos cotovelos

- É claro. Mas vou dar um jeito. Nós nos gostamos muito para deixar algumascentenas de quilômetros se tornarem um problema.Charlotte pensou na última conversa com sua irmã, pelo telefone. A longa distanciahavia atrapalhado o relacionamento de Amélia com o namorado, Tim, um estudantede medicina, e eles tinham terminado recentemente.

- Eu também amo você, Char - disse Jared, levantando uma mão para tocar o rostodela - E é isso que estou falando. Se formos para faculdades próximas, ótimo.Senão, vai dar mais trabalho mas continuaremos bem.- Você não pode afirmar isso - falou Charlotte - Pode ser que não continuemosbem. Pode ser muito difícil. Você não sabe o quanto já ficamos perto de...

Ela parou abruptamente. As sobrancelhas de Jared se arquearam.- De quê? - perguntou eleCharlotte balançou a cabeça- Nada- Não, o que você ia dizer? - pressionou ele- O quanto já ficamos perto de que?Ela colocou as mãos sobre o rosto, que estava coberto de lágrimas- De terminar- ela sussurrou- Você quer dizer no mês passado, na noite em que alugamos "Razão esensibilidade" e tivemos aquela conversa?- Não - ela hesitou. Agora, Jared já sabia que ela estivera insatisfeita com a relaçãodeles no passado mas ela nunca confessara o quanto - Lá... lá no começo de

setembro. Na noite do acidente- Você queria conversar comigo sobre alguma coisa - ele se lembrou- é. Eu ia... terminar com vocêEle piscou os olhos, sem conseguir acreditar- Você esta brincando - ele falou- Já conversamos sobre isso - ela disse imediatamente- sobre como as coisas nãoeram exatamente ideais entre nós antigamente. Está muito melhor agora, Jared. Euestou muito felizEle ergueu o tronco para sentar-se com as costas apoiadas contra os travesseirasda cama, então cruzou os braços na frente do peito. A frieza do gesto encheu o

coração de Charlotte com um pressentimento ruim- Nós não conversamos sobre isso - ele a contradisse - você nunca disse que iriaterminar comigo.

- Porque não importava mais- insistiu ela, colocando uma mão sobre o braço dele -eu amo você agora.- Mas não amava naquela época?Charlotte se contorceu de Embaraço. Ela sentiu que havia entrado num beco semsaída, mas não podia mentir. Jared estava fitando-a com um olhar implacável - Eunão amava tanto naquela época - admitiu - quer dizer, havia parado de me sentirda maneira que sentia quando nos conhecemos

Jared levantou uma mão

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78COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

- Chega - ele afirmou com a voz rouca- Jared, não fique assim- Charlotte se inclinou para abraça-o o que passou, passou.

Ele a empurrou para longe, não muito gentilmente- Não tenho muita certeza. Como você pode agir como se não fosse muito importante o fatode que estava a beira de terminar comigo na noite do acidente? E o dia seguinte, e o

seguinte?Não diga que você se apaixonou novamente por mim assim que me deitei naquela cama dehospital. Você ficou comigo por pena?A pergunta havia sido tão certeira que era impossível para Charlotte mascarar seusverdadeiros sentimentos. Ela se encolheu.- Foi pena - disse Jared, dor e raiva transformaram seus olhos- Eu devia estar parecendobem patético para você ficar sentindo pena de mim, para fazer um sacrifício tão grande. oufoi mesmo um sacrifício? - a expressão dele ficou ainda mais escura e irritada- Você ficou seencontrando com aquele Bill, escondida de mim? Foi assim que você pôde suportar ficar comum namorado que não amava mais?- Jared! - gritou Charlotte - Bill e eu éramos apenas amigos. Eu não iria...Ele se virou, desajeitado, esticando suas pernas para a lateral da cama a fim de conseguiralcançar as muletas.Quando Charlotte tentou ajudá-lo, ele lhe deu um empurrão.- Preciso ir - murmurou ele.- Jared, acho que a gente devia conversar sobre isso - declarou Charlotte - Sei que você estácom o orgulho ferido mas não está sendo sensato. Pelo menos me deixe...- Meu orgulho está ferido? - ele deu uma gargalhada áspera- Você tem toda razão, meuorgulho está ferido. E talvez meu orgulho não seja importante para você, mas tem algumvalor para mim.

Ele foi, sem energia em direção a porta, apoiando-se sobre as muletas.-Jared, espere - implorou CharlotteJared não olhou para ela- Até mais, Charlotte.

Depois que Jared saiu, Charlotte chorou em seu travesseiro por meia hora. Foi ao banheirolavar o rosto, então retornou ao quarto e pegou o telefonePrimeiro, ligou para Maddie. Quando ouviu a gravação da secretária eletrônica, desligou. Emseguida, tentou Bev. A senhora Constable disse a ela que Bev havia saído com Jeff. Susietambém não estava em casa, nem Andy.

- Droga- resmungou Charlotte - onde está todo mundo?Ela precisava conversar com alguém sobre seu terrível desentedimento com Jared. Os paisdela ainda não haviam retornado do trabalho, mas de qualquer modo não tinha certeza seconseguiria confiar neles. "Amélia?" ela pensou. Não, ultimamente Amélia já estava comproblemas suficientes, tentando superar o fim do namoro com Tim."Talvez eu precise de uma perspectiva masculina", decidiu Charlotte. Fez outra ligação, paraum número que ela não usava há cerca de 2 semanas.Bill atendeu- Charlotte!- exclamou, soando agradavelmente surpreso - E aí?- Precisa de uns conselhos - ela foi sincera - Podemos nos encontrar para uma pizza?

Jared caiu na poltrona da pizzaria Brick Oven , ignorando as dores que irradiavam de suacoluna. Não se importava se sua postura desleixada estava colocando por água abaixosemanas de fisioterapia. O desconforto externo combinava com seu humor.Matt, Bob e Jeff mataram o tempo enquanto esperavam pelas suas pizzas discutindo sobreque faculdades tinham os melhores times de futebol americano. Jared se desligoucompletamente deles. Não conseguia se interessar por uma conversa sobre esportes quandoseu relacionamento de dois anos e meio estava em processa de autocombustão."Talvez isso tenha sido inevitável", ele refletiu, enquanto mordia sem ânimo um pedaço de

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pão de alho. Charlotte havia arrasado com ele admitindo que estivera planejando terminarantes do acidente, em setembro, mas ele não merecia aquilo? Era tão cheio de si naquelaépoca... Nunca levava os sentimentos dela em consideração. "Teria sido bem feito pra mimse ela tivesse me dado o fora" pensou. E aquele Bill bem que gostaria...Jared franziu a testa olhando o copo de cerveja. Talvez não tivesse sido Justo com Charlottesobre o assunto - ele absolutamente não tinha nenhuma evidência de que ela o houvesse

traído. Se disse que Bill era apenas um amigo, então era apenas um amigo. Charlotte não oenganaria, de jeito nenhum. Ela não era esse tipo de garota.

Sentindo-se um pouco melhor, endireitou-se na cadeira. Ligaria para Charlotte assim quechegasse em casa. Era isso que faria. Ela estava certa: tinha deixado o orgulho ficar nocaminho. Eles precisavam conversarA garçonete chegou com as pizzas e assim que sentiu o cheiro delicioso de calabresa e dealho torrado o apetite de Jared voltou. Então, quando a garçonete estava servindo a pizza,Jared olhou para frente imediatamente seu apetite desapareceu.Duas pessoas tinham acabado de entrar na pizzaria. Matt, Jeff e Bob não notaram - estavamocupados cortando as pizzas - mas Jared pôde ver claramente o casa: Charlotte e BillA hostess conduziu os dois para uma mesa no fundo do restaurante, Jared abaixou a cabeça,

mas nem Charlotte nem Bill olharam em direção a mesa deles. Estavam absortos naconversa, sem perceber o que acontecia ao redor. Quando Bill colocou sua mão nas costasde Charlotte a fim de conduzi-la para a cadeira, Jared virou o rosto.A dor nos olhos de Jared era tanto de tristeza quanto de raiva. parecia que as coisas tinhamdefinitivamente terminado - Charlotte esteve todo o tempo envolvida com outro cara. Comoele havia sido idiota! Depois do acidente de carro, tinha desenvolvido mais respeito pelaindependência e individualidade de Charlotte. Havia deixado que ela ganhasse mais espaço,que fizesse as coisas que queria e conhecesse novos amigos e o que havia acontecido?Jared sentiu dor na coluna, nas pernas, no coração, como se tivesse sido atingido por umcarro novamente. "Isso porque ela disse que está me amando mais do que nunca" pensou.

Quando Charlotte voltou para casa, estava mais otimista. Tinha contado toda a história paraBill, que havia lhe dado todo apoio e atenção- O ego de Jared está ferido, mas se ele realmente mudou, como você disso, vai superar isso- Bill previu - Dê um tempo pra ele esfriar a cabeça, então voltem a conversar.

"Amanhã, depois da aula de balé, vou até a casa dele", Charlotte decidiu, enquanto se serviade um copo grande de suco de laranja.O telefone tocou. Ainda feliz, ela atendeu- Alô?- Charlotte, é o Jared.- Jared - exclamou ela - Você leu minha mente. Estava justamente pensando em você.- Mesmo? Estive pensando em você também- Que bom- disse Charlotte. Como ele permaneceu em silêncio, ela ainda fez mais umcomentário. - Bem, é bom, não é?- Charlotte, acho que a gente não deve voltar a se ver.Os joelhos de Charlotte vacilaram - ela mal conseguia se manter equilibrada- O quê?- Acho que a gent não deve mais ficar junto.A cor desapareceu do rosto de Charlotte.- Jared, só porque eu falei daquilo em setembro, eu...- O problema não é só setembro - ele cortou - É agora.- Sei que você ficou louco comigo por causa disso hoje à tarde, mas não vê que eu fuihonesta com você porque pensei que nosso relacionamento era forte o suficiente parasuportar?- Você não sabe do que eu estou falando?-Então me ajuda a entender - ela pediu- Não acho que tenha mais alguma coisa para gente discutir

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- Jared, você não está sendo junto" - gritou Charlotte - Você esta deixando que seu velhoego estúpido fique no caminho novamente. Poderíamos resolver as coisas se você aomenos...Ela percebeu imediatamente que havia falado a coisa errada. Jared interrompeu, sua vozainda mais fria do que antes.- Sei que você esta farta disso, mas esse velho ego estúpido sou eu. Eu sou assim - disse ele

- e preciso desse ego pra sobreviver. Adeus , CharlotteA ligação caiu antes que ela pudesse responder, mas isso não importava . Estava claro quenão existia nada que ela pudesse dizer para convencer Jared de que ele estava cometendoum erro. Pensou que ele havia mudado, que o relacionamento deles estava diferente, masobviamente estava errada. Eles não tinham um futuro juntos, afinal de contasAinda tremendo do choque, Charlotte desligou o telefone.-Adeus, Jared – sussurrou.

- Você acha que vai se sentir melhor amanhã para ir à escola? - a senhora Colburncasualmente perguntou a Jared na tarde de domingo.Jared estava sentado na cosinha, folheando sem ânimo as páginas da seção de esportes doBoston Globe. Ele havia faltada as aulas por mais de uma semana, fingindo que não estava

se sentindo bem- Provavelmente- resmungou - Acho que já melhorei dessa gripe- Que bom - sua mãe disseFoi então que a campainha tocou. Ela saiu para atender, voltando um minuto depois.- É para você - ela disse a Jared.A expressão dela era neutra, mas o coração de Jared pulou. Poderia ser Charlotte? Eleesperava que sim... e esperava que não. Ela havia deixado um monte de recados, mas elenão retornara as ligações. Estava emocionalmente dividido, morrendo de vontade deconversar com ela, ao mesmo tempo que tinha certeza que não queria falar novamente comelaUsando suas muletas, foi lentamente para a parte da frente da casa. Um garoto vestindouma jaqueta vermelha e preta estava no corredor, mudando o peso de um pé para outro.Jared parou, surpreso- Bill - disse eleBill sorriu timidamente- Desculpe por aparecer sem ligar antes. podemos conversar por um minuto?

- Ah, claro - Jared apontou para a entrada da sala - Sente-seBill sentou-se no sofá, Jared puxou uma cadeira no lado oposto da sala e esperou que Billexplicasse a razão de sua visita. Ele não olhava nos olhos de Bill - nao conseguia. o cara erao novo namorado de Charlotte. Que diabos estava fazendo ali?- Você provavelmente vai pensar que estou maluco - Bill finalmente começou a fala -Primeiro de tudo, Charlotte não sabe que estou aqui. Isso foi idéia minha.- O que foi idéia sua? - perguntou Jared

Os dentes brancos de Bill se mostraram rapidamente em outro sorriso acanhado- Agir como intermediário. Para fazer as pazes entre vocêsJared olhou atônito.- Do que é que você esta falando?- Veja, vocês dois terminaram certo? E tive a impressão, quando Charlotte me contou o quefavia acontecido, que tinha alguma coisa a ver comigo.- Alguma coisa - Jared admitiu friamente.- Eu só queria esclarecer tudo. De homem para homem. Assim vocês podem ficar juntos.- perai - disse Jared - Como Charlotte e eu podemos voltar se ela esta saindo com voce?Agora era a vez de Bill ficar de boca aberta.- Na semana passada, na pizzaria - falou Jared- É. o que é que tem?- Vocês estavam lá juntos - acusou Jared- Estávamos- admitiu Bill - Ela chorou o tempo todo. A pizza ficou ensopada.

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- Quer dizer que não foi um encontro?Bill balançou a cabeça enfaticamente.- Quer dizer... que vocês não estão juntos?- Vou ser honesto - disse Bill - Gostaria que estivéssemos. Mas Charlotte está muitoenvolvida com você. Ela deixou isso claro para mim há muito tempoDemorou alguns minutos para que Jared entendesse isso, mas finalmente Bill o convenceu

de que sua relação com Charlotte era platônica.

- Não quero me meter na sua vida- Bill falou enquanto Jared o acompanhava até a porta -provavelmente você já deve me achar superintrometido. É só que Charlotte é uma grandeamiga, e me preocupo com a felicidade dela. Então não destrua nada, O.K.Bill estendeu a mãoJared soltou a muleta para apertar a mão de Bill- O.K.Depois que Bill saiu, Jared permaneceu por muito tempo olhando a rua gelada através da janela da sala. Ficou imaginando o que Charlotte estaria fazendo, se estava pensando nele,se estava triste porque eles haviam desmanchado o namoro, com raiva ou talvez atéaliviada. " ela provavelmente está cheia de sentimentos diferentes sobre tudo isso " decidiu

Jared. "Assim como eu"Jared não sabia o que fazer em seguida. Parecia que devia desculpas para Charlotte. BillBanerjee não estava no meio do caminho deles, afinal de contas. "Mas isso não significanecessariamente que ela queira continuar de onde paramos", concluiu Jared. Não era essalição mais importante que ele havia aprendido durante aquele longo e duro período, que avida é imprevisível, que você não pode ter nada - nem ninguém - como garantido?Parte de Jared queria telefonar para Charlotte imediatamente e implorar que o aceitasse devolta, mas outra parte o segurava."Por quê?" Jared se perguntou. Então, seu pensamento ficou claro repentinamente. Aquestão não era que não confiasse em Charlotte, mas precisava aprender a confiar mais emsi mesmoQuando se afastou da janela, Jared já havia tomado sua decisão. Se ele e Charlotte iriamreatar, ele precisava voltar para a relação como uma pessoa completa. Isso não significavaque seu corpo tinha que estar perfeitamente curado. Estar completo não significava apenasrecuperar totalmente o movimento total das pernas. Era algo interno também. E, embora oapoio de Charlotte nos últimos meses tivesse sido inestimável - ela o ajudara a ficarnovamente sobre os próprios pés de mais de uma maneira - Jared sabia que precisava daros últimos passos sozinho.

Dezembro havia chegado, e Amélia viera de Wellesley para casa a fim de passar o feriado doNatal com a família. As duas irmãs passaram a tarde decorando o pinheiro que seu paitrouxera para casa naquele sábado.Era um ritual feito com muito carinho e , como sempre, cada detalhe estava perfeito.Canções de Natal vinham do aparelho de com. o vinho quente era aquecido no fogão, e a

senhora Kennedy fazia os cookies de Natal prediletos de CharlottePor mais que tentasse, porém, Charlotte não conseguia entrar no espírito da festa, e sabia oporquê, Jared havia voltado para a escola há uma semana, mas deixara claro que não estavapreparado para conversar. Ela não tinha outra escolha seão dar um tempo para que elecolocasse a cabeça no lugar. Nesse meio tempo, era inacreditavelmente doloroso vê-lo todosos dias e ainda sentir que estavam separados por uma enorme distância. Eles voltariam aficar juntos?Amélia se parecia com Charlotte, ainda que não fosse tão alta e usasse o cabelo curto. Emtermos de personalidade era perceptiva, prática e direta. Não perdeu tempo para quebrar osilêncio depressivo da irmã.- Você me falou que você e Jared terminaram, mas mão me deu os detalhes. Quer falarsobre isso?- Não há muito o que falar - disse Charlotte, enfiando a mão na caixa de papelão para pegarum enfeite - Nós meio que... terminamos

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Quando ela disse isso, no entanto, não pôde deixar de dar uma fungada. Amélia lançou-lheum olhar aguçado- Vamos, Charlie - falou Amélia, usando o apelido que havia colocado em Charlotte quandoeram crianças - Você sabe a regra. Não pode sofrer em silêncio.Charlotte despejou a história completa, pelo menos o que ela sabia.- Só não consigo entender por que ele não fala comigo - concluiu Charlotte

- Talvez ele só precise de um pouco de tempo - arriscou Amélia.

 Charlotte balançou a cabeça- Acho que o recado está bem claro. E fico tentando repetir pra mim mesma que é paramelhor. Não faz muito tempo que eu queria terminar com ele , sabe? Mas agora não é o queeu quero,definitivamente - ela recomeçou a fungar - É terrível Amélia. Sinto muita falta dele.Amélia colocou um braço em torno de Charlotte e lhe deu um forte abraço- Sei o quanto é duro. Acredite em mim.- Por que você e o tim terminaram? - perguntou Charlotte, - Foi mesmo só por causa dadistância?- isso foi só uma parte- replicou Amélia - Mas foi principalmente porque estamos em fasesdiferentes das nossas vidas, mudando de um modo que acabou nos afastando, ao invés de

nos tornar mais próximos.- Era assim que eu me sentia em relação a Jared no verão passado! - exclamou Charlotte -Então, depois do acidente, como se Jared tivesse se transformado em outra pessoa - osolhos dela se escureceram - Mas acho que ele realmente não mudou nada. O tempo todo, elefoi sempre o mesmo velho Jared.Amélia pregou uma fita de lantejoulas em um galho da árvore.- Humm - ela murmurou pensativa- O quê?- Esse negócio de mudança. Você alguma vez pensou que pode estar esperando muito deJared? Talvez você não esteja dando um crédito a ele, para que seja o que deve ser- O que você quer dizer?- Acho que não acredito que as pessoas mudem dessa maneira - explicou Amélia - ou nãocompletamente, pelo menos, para se tornar uma pessoa completamente diferente.Naturalmente, Jared ainda é Jared. Mas ele descobriu novas forças dentro dele, qualidadesque provavelmente sempre estiveram lá, sem se desenvolver. Todos temos isso. Nãopodemos esperar que elas desapareçam, apenas temos que reconhecer quais são e aprendera lidar com elas Charlotte observou o pinheiro, decidindo onde pendurar um enfeite, etentando digerir a análise de Amélia. 

-Deixe-me explicar de outra maneira- sugeriu a irmã- Jared costumava dar seu interessepor ele como algo certo. Era por isso que, antes, você queria terminar com ele. É possívelque, ultimamente, desde o acidente, você tenha agido da mesma maneira?Amélia não parecia esperar uma resposta para sua pergunta, o que era bom porqueCharlotte não tinha a menor idéia de como separar e articular o complicado emaranhado deseus sentimentos.Havia, porém, uma verdade nas palavras de Amélia. Charlotte percebera isso imediatamente- Sei que tenho pelo menos metade da culpa - admitiu ela. - Fiquei interessada em Bill porum tempo, mesmo que nunca tenha rolado nada. Mas como posso fazer as pazes com Jaredse ele não quer nem conversar comigo?Amélia voltou para a primeira sugestão.- Dê um pouco mais de tempo a ele.Terminaram de colocar os enfeites. Enquanto Amélia pregava uma guirlanda prateada aoredor do pinheiro. Charlotte observava, através da janela, a neve caindo. Um pequenocachorro branco estava atravessando o gramado, cheirando uma monte de arbustos.- Você sabe que cachorro é esse? - Charlotte perguntou à irmã

Amélia deu uma olhada pela janela, então balançou a cabeça- Mas não estou muito atualizada sobre nossa vizinhança canina.O cachorro branco parou de andar e olhou para a casa, com o que Charlotte imaginou ser

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uma expressão de sofrimento- Acho que ele não está usando coleira - notou Charlotte, sentindo uma pena daquelapequena criatura perdida - Vou ver se consigo descobrir a quem ele pertence.Charlotte colocou um casaco pesado de inverno e saiu de casa. o cachorro havia chegadoperto da porta, mas, quando ela apareceu, levou um susto e se afastou.- Você está perdido? - perguntou Charlotte gentilmente.

O cachorro manteve uma certa distancia, mas seus olhos permaneceram em Charlotte. Elasentou-se no degrau- Venha aqui - ela chamou - Não vou machucar vocêO cachorrinho cheirou a grama morta . Quando levantou a cabeça, seu nariz preto estavasujo de neve. Ele espirrou- Que palhaço- disse Charlotte, rindoGradualmente, o cachorro chegou mais perto de Charlotte, para matar a curiosidade.Levantando-se lentamente, Charlotte deu alguns passos em sua direção. O cachorro estavausando uma coleira, afinal; ela se inclinou e o agarrou. Dessa vez, o cachorro não tentoufugir.- Sem coleira – Charlotte passou a mão atrás da orelha do cachorro. – Você é um órfão, não

é?O cachorrinho olhou para ela, seus olhos escuros silenciosamente expressivos. O choroapertou a garganta de Charlotte. “Ele é tão sozinho quanto eu”, pensou.- Venha – Chamou o cachorro, virando-se para abrir a porta – Você não deve ficar aí fora nofrio durante o Natal. Pode ter um lar comigo.Quando o telefone tocou uma semana depois, na tarde do domingo antes do Natal, Amélia eCharlotte estavam assistindo a TV comendo pipoca de microondas. O pequeno cachorrobranco, que Charlotte tinha batizado de Harpo por causa de sua expressão engraçada ecomo um tributo triste a Jared, fã dos Três Patetas, estava muito contente, enrolado nocarpete aos pés dela.Amélia atendeu ao telefone.- É pra você – ela disse a Charlotte. Cobrindo o fone com a mão, acrescentou num sussurroexcitado: - Acho que é ele!Com a mão tremendo, Charlotte tomou o telefone.- A-alô? – Gaguejou.- Charlotte, é Jared – ele falou, com a voz levemente vacilante .- Jared, ah, oi – ela continuou.- Hum, sei que faz tempo desde que... e eu não a culparei se você não quiser... mas, bem,estava pensando se...- ele tossiu levemente e, então, recomeçou. – Tenho uma espécie depresente de Natal para você – falou ele. – Você não gostaria de vir aqui?-Ah, claro, eu acho. Quando?- Que tal agora? “Será que ele está escutando meu coração disparando?”, ela se perguntou.-O.K. – ela concordou, quase sem ar.

 Quinze minutos depois, Charlotte estava dirigindo para à casa de Jared. Harpo estavasentado no banco traseiro, com um laço vermelho amarrado ao redor do pescoço e a línguapendurada alegremente. Enquanto isso, Charlotte estava tão nervosa que suas mãos suadasescorregavam no volante.Jared havia terminado com ela, depois ficaram sem falar porsemanas. Agora queria vê-la...ele tinha um presente para ela! O que estava acontecendo?Quando ela tocou a campainha dos Colburn, o irmão mais novo de Jared veio até a porta.- Ei, Charlotte – Jimmy falou casualmente, como se não se tivessem passado anos desde aúltima vez em que ela aparecera ali. – Cachorro bonitinho. Entre Jared está na sala.Carregando Harpo, Charlotte atravessou o corredor até a sala de estar. Jared estava sentadono sofá, lendo uma revista.

- Oi - disse ele, levantando a cabeça assim que ela entrou na sala. – Ei, quem é esse seuamigo peludo?Charlotte deu alguns passos hesitantes, ainda segurando Harpo em seus braços como um

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escudo. Queria entender qual era o humor de Jared, suas intenções, mas sua voz eexpressão estavam neutras, sem revelar nada.- Este é o ...hum...Aqui – Charlotte – Charlotte esticou seus braços abrutamente, oferecendoHarpo, mas você pode mudar o nome dele, ou nem precisa ficar com ele, mas Feliz Natal-concluiu.Ela colocou Harpo no chão, e ele parecia saber o que fazer. Depois de um olhar de Charlotte,

caminhou em direção a Jared e cheirou o sapato dele.Jared olhou para aquele cachorrinho, seu rosto ainda permanecia branco.- Obrigado – ele disse baixinho, depois de uma longa pausa.Houve mais uma pausa estranha. Impaciente com a tensão e o suspense, Charlotte cruzou edescruzou os braços, esperando que o rapaz lhe contasse por que a convidara para ir até lá.Ela havia dado um presente de paz, agora era a vez dele.Finalmente, Jared olhou para ela.- Como disse no telefone, tenho um presente pra você também – ele disse, um poucoáspero. – Mas não está embrulhado. É algo que tenho que mostrar.

Jared colocou suas mãos sobre as almofadas do sofá, dos dois lados, então se levantou. Pelaprimeira vez, Charlotte percebeu que as muletas dele não estavam por perto. Por um bom

tempo, Jared permaneceu em pé como uma estátua. Depois, lenta e cuidadosamente,dobrou seu joelho direito e escorregou o pé para a frente. Quando seu peso estavanovamente equilibrado, ele levou a perna esquerda para a frente da mesma maneirametódica. Um passo, dois passos, três.Charlotte olhava, espantada.- Jared – gritou ela. – Você está andando!Jared sorriu para ela, um orgulho tímido em seus olhos vermelhos de lágrimas. Os olhos deCharlotte estavam vermelhos também. As lágrimas corriam pelo seu rosto.- É – ele falou simplesmente. – Este é o meu presente pra você, Char. Eu não poderia terfeito isso sem você. De verdade.Os pés de Charlotte estavam fincados no chão. Agora ela corria para Jared, que a envolveuem seus braços.- Desculpe – ele sussurrou, o rosto dele contra o dela, as lágrimas de ambos se misturando.– Tirei umas conclusões precipitadas sobre Bill. Fui injusto com você.- Tive tanta culpa quanto você.Jared a beijou suavemente.- Podemos resolver isso? Ou é tarde demais?Eles se sentaram juntos no sofá, de mãos dadas.- Eu amo você, Char, e quero que a gente fique junto de novo – começou Jared.Charlotte concordou com a cabeça, os olhos dela brilhando.- Eu também quero.- Mas quero ter certeza de que vamos nos entender – disse ele. – Quero que saiba por queeu amo você – ele sorriu timidamente. – Isso parece idiota?Ela balançou a cabeça.- Não.- Eu amo você porque você é uma pessoa forte e confiante – Jared disse. – Porque écomplexa e porque, as vezes, é difícil decifrar o que se passa com você.Ela levantou as sobrancelhas.- Isso é uma coisa boa?Jared deu uma gargalhada.

- É. E, você sabe, antigamente, eu não gostava disso em você. Ou talvez eu devesse dizerque nem percebia isso.- Eu não era tão confiante naquela época, quando começamos a namorar – respondeuCharlotte.- Isso é outra coisa que eu admiro também em você – disse Jared. – Você busca melhorar,você se arrisca.- E?

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- É. Você não fica sentada, satisfeita com quem você é agora, ainda que você seja umapessoa maravilhosa.- Bem, você também se esforça muito para melhorar – ela disse.- Agora sim – concordou Jared.- O.K. , minha vez de dizer por que eu amo você – disse Charlotte.Jared sorriu.

- Sou todo ouvidos.- Existe realmente uma razão – ela escorregou um braço ao redor da cintura dele edescansou a cabeça sobre seu ombro. – Eu amo você porque deixou o mundo ver quantopotencial você tem.Por alguns minutos, eles se abraçaram fortemente, os lábios juntos, num beijo. Ainda haviaum monte de coisas que Charlotte gostaria de falar, perguntas que ela precisava fazer, masnão estava preocupada. Sabia eu aquela era a primeira de muitas conversas sinceras que osdois teriam. De agora em diante, não haveria mais problema de comunicação.Os dois ainda estavam envolvidos num beijo apaixonado quando Charlotte sentiu umapequena pata em seu joelho. Harpo estava em pé sobre as patas traseiras, olhando para elescom a cabeça erguida e uma expressão cômica nos olhos escuros.- Você se importa? – Jared perguntou ao cachorro. – Estamos um pouco ocupados agora.- Ele deve estar precisando sair – falou Charlotte.- Bem, então... – Jared deu um tapinha na cabeça de Harpo e abriu um sorriso paraCharlotte, o sorriso mais feliz que ela já havia visto no rosto de alguém em toda sua vida. –O que você acha de darmos uma volta com ele?

 

Epílogo

A primavera finalmente chegara a Massachusetts. As chuvas de abril haviam derretido osúltimos montes de neve suja. Um arco-íris de plantas surgia da terra descongelada, floresamarelas se abriam ao longo das cercas, os galhos de várias árvores estavam envolvidos poruma névoa de minúsculos brotos verdes. O sol estava alto e o ar era fresco e suave.- Você não ama a primavera? – perguntou Charlotte. – ela não faz você se sentir umapessoa completamente nova?Ela e Jared tinham se encontrado no parque da cidade para dar uma volta com Harpo depoisda aula de balé.- Sempre – concordou Jared. – Este ano mais do que os outros – eles estavam de mãosdadas; Charlotte apertava os dedos dele firmemente. – Em setembro, deitado naquela camade hospital, nunca imaginei que estaria andando novamente em abril. Sou o cara maissortudo do mundo.

Quatro meses haviam se passado desde que Charlotte e Jared tinham reatado, e duranteaquele tempo ele havia continuado sua fisioterapia com uma disciplina e uma dedicaçãoinacreditáveis. O esforço foi recompensado. Seus passos ainda eram lentos e cuidadosos,mas ele estava andando melhor do que nunca e não precisava mais de ajuda nem mesmo deuma bengala. O doutor Belsky havia lhe dito para esperar uma recuperação completa nofinal do verão ou outono, ainda que muito provavelmente ele continuasse sempre tendo umaleve dificuldade para andar.O mundo parecia novo e brilhante e cheio de potencial para Charlotte também. Ela estavaestagiando na produção do lago dos cisnes do conservatório de dança de New England e,recentemente Havia sido nomeada a representante da escola Parker para um comitê regionalconsultivo que trabalhava no desenvolvimento de programas sobre a consciência dadiversidade em escolas locais. Seu relacionamento com Jared era uma fonte de felicidade e

satisfação, e ela havia sido aceita tanto na faculdade de Wellesley quanto na Suny Purchase.Jared parou para arrancar a flor de uma árvore perto da trilha que percorriam. Enfiou a flor

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atrás da orelha de Charlotte, então a beijou suavemente nos lábios.- Então, você já enviou seu formulário de aceitação para Suny?Charlotte assentiu com a cabeça, excitada.- Ainda tenho a sensação de que estou sonhando, como se isto estivesse acontecendo comoutra pessoa. Não consigo acreditar que estou indo pra lá!- Também não consigo acreditar que entrei na Williams – disse Jared.

Ela envolveu o braço no dele e retomaram a caminhada.- Você está triste porque não estamos indo para Harvard e Wellesley, como planejamosantigamente?Jared balançou a cabeça.- Provavelmente pode parecer maluquice, mas, mesmo que pudesse, não voltaria no tempo.Não estou falando daquele ultimo outono, logo depois do acidente de carro, é claro. Mas decomo estou agora... Eu quero esta vida. É praticamente perfeita!Charlotte concordava plenamente.- Mas vou sentir falta de você no ano que vem – admitiu ela. – Sei que iremos nos ver namaioria dos fins de semanas, mas de segunda à sexta vai ser bem solitário.- Ainda temos mais alguns meses. A festa de graduação, e depois todo o verão. A praia – elesorriu. – Os jogos do Red Sox.- É verdade – ela deu uma gargalhada.Alguns metros à frente, eles se sentaram num banco com vista para um estuário que seguiapara o mar. A água brilhava intensamente sob o sol; uma garça branca procurava peixes aolongo do curso daquela foz.- Ei, olhe isso – exclamou Charlotte. Com o dedo indicador, ela traçou um coração entalhadono encosto do banco. – Algum outro casalzinho apaixonado já esteve aqui antes de você.

- “J.C. + C.K.. , para sempre” – Jared leu em voz alta. – Estou feliz que tenha durado, vocênão está?Charlotte concordou com a cabeça. Num dado momento, aquele símbolo entalhado, aquele “para sempre”, tinha parecido uma armadilha. Agora ela não se via mais como a metade deum casal: ela e Jared se gostavam e se respeitavam como indivíduos.Jared esticou a mão para enrolar uma mecha do cabelo loiro de Charlotte ao redor de seudedo.- Preciso fazer uma confissão – ele falou repentinamente.- O que é?- Você se lembra de dezembro passado, quando tivemos aquela conversa séria? O dia emque voltamos a namorar?Ela revirou os olhos.- Não, eu esqueci. Dããã... É claro que me lembro!Jared deu uma gargalhada.- Bem, se lembra de como eu disse tudo aquilo sobre amar você porque você era inteligentee intrigante e cheia de talentos e tudo o mais?- Lembro. E daí?- Eu quero que você saiba que acredito em cada uma daquelas palavras. Não estava apenastentando amolecer você para me desculpar pelo fato de que eu costumava ser um idiota quea amava principalmente por causa de seus cabelos loiros e grandes olhos azuis e pernasmaravilhosas.- Espero que não, Jared Colburn! – exclamou Charlotte, gargalhando. – então, qual é agrande confissão?Os olhos de Jared estavam brilhando.- A confissão é que, embora eu ame você por sua cabeça e por sua ambição e por todas asmaneiras como me desafia e me surpreende, ainda sou maluco por seus cabelos loiros, seusgrandes olhos azuis e suas pernas maravilhosas.Ele envolveu-a com os braços e ela o abraçou.

- Espero que sim, Jared Colburn – disse Charlotte, um pouco antes dos lábios deles seencontrarem num longo e doce beijo.

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87COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR

FIM