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Título: O preço de um erro Autor: Karen Rose Smith Título original: Shane's Bride Dados da Edição: Editora Nova Cultural 1998 Publicação original: 1996 Gênero: Romance histórico contemporâneo Digitalização e correção: Nina Estado da Obra: Corrigida Richard Walker não queria ter filhos... E Hope Franklin o amava muito para prendê-lo a uma família que ele não desejava ter. Então, rompeu o noivado e partiu, levando consigo um segredo. Quatro anos mais tarde, Hope retornou para fazer a Richard uma pergunta crucial: estaria ele preparado para ser pai? Até encontrar seu filho, Richard não perdoara Hope por abandoná-lo. Agora, ela retornara, mais bonita do que nunca, justificando que partira porque o

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Título: O preço de um erroAutor: Karen Rose SmithTítulo original: Shane's BrideDados da Edição: Editora Nova Cultural 1998Publicação original: 1996Gênero: Romance histórico contemporâneoDigitalização e correção: NinaEstado da Obra: Corrigida

Richard Walker não queria ter filhos...E Hope Franklin o amava muito para prendê-lo a uma família que ele não desejava ter. Então, rompeu o noivado e partiu, levando consigo um segredo. Quatro anos mais tarde, Hope retornou para fazer a Richard uma pergunta crucial: estaria ele preparado para ser pai?Até encontrar seu filho, Richard não perdoara Hope por abandoná-lo. Agora, ela retornara, mais bonita do que nunca, justificando que partira porque o amava demais. Richard não estava certo das intenções dela, mas precisava fazer algo para proteger seu filho. Até se casar com a mulher na qual não poderia confiar novamente!

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PRÓLOGO

Hope, enfim, chegara em casa. .Não sabia como agir diante da nova descoberta. Seu coração batia descompassado e o medo crescia a cada degrau que percorria lentamente, como se quisesse adiar o confronto com o homem que tanto amava.

Durante vinte anos habitara aquela casa e nunca sentira receio de entrar nela. Mas naquele dia seria diferente.

A reação de Richard diante da notícia de que seria pai novamente era imprevisível.Aquele filho era o fruto de uma única noite de amor, a noite em que Richard contara a Hope sobre seu

passado, sobre seus medos e os problemas enfrentados com a perda da mulher e do filho. Ele jurara que tal ato não se repetiria até que estivessem unidos perante os olhos de Deus.

Apesar de adorar crianças, ela concordara em não tê-las, pois amava Richard e faria de tudo para estar a seu lado.

Richard fora uma pessoa muito infeliz, mas em vez de se tornar arrogante tornou-se forte e fechado.Durante os quatro meses que estavam juntos, Hope tentou lhe mostrar que poderia confiar nela para

tudo. Ela sabia que era amada por ele, mas sua dúvida era saber se esse amor seria suficiente para que aceitasse a criança.

Ela esperava que algum dia ele mudasse de ideia, e então poderiam ter filhos; afinal, Hope presenciara seu trabalho com adolescentes no Centro Comunitário e sabia que ele seria um pai excelente.

Toda sexta-feira Richard lhe trazia uma rosa significando mais uma semana de união. Ela as guardava dentro do seu livro preterido. Já se acumulavam quatorze rosas. Eram pequenas atitudes que considerava demasiadamente importantes para o relacionamento. A mais nova das rosas ainda estava em um vaso no seu quarto.

Enfrentando seu medo, abriu a porta. Ouviu vozes que vinham da cozinha, e as identificou como sendo de Richard e de sua mãe. Rapidamente retirou sua jaqueta e guardou-a no armário. Imaginou uma maneira de conversar em particular com Richard sem despertar a curiosidade de sua mãe. Talvez pudesse utilizar a desculpa de que queria mostrar a ele o lindo pôr-de-sol naquela bela tarde de novembro. Ou então poderia esperar para contar a novidade depois do jantar. Quem sabe até poderiam ir a Malibu...

— Sra. Franklin, sua carne assada poderia ganhar um prémio!— Pelo tom de voz de Richard percebia-se que ele estava brincando, mas ao mesmo tempo elogiando a mulher com quem conversava.

Jennie Franklin riu.— Você pode afirmar só sentindo o aroma? Acho que só diz isso porque não comeu direito durante o

dia. E a propósito, me chame de Jennie, afinal serei sua sogra a partir deste fim de semana.Houve uma pausa.— Gostei da ideia — respondeu o futuro genro de Jennie.

Hope entendeu a maneira com que Richard falara com sua mãe. Como ele perdera a sua, valorizava a mãe de sua noiva.

— Richard, preciso conversar com você antes que Hope chegue.— Há algo de errado?— Hope me disse que você não quer filhos. — O tom de voz de Jennie era suave e tranquilo.— Exato — respondeu Richard após alguns segundos de silêncio.

.— Você sabe que Hope adora crianças. Por três anos trabalhou em um berçário. Eu disse a ela que preferia que ela cursasse a faculdade em período integral em vez de fazê-lo por meio período, mas ela insiste que não, afirma que o berçário lhe dará mais experiência para trabalhar com os pequenos. Prefere isso a ter o diploma em menos tempo. Ela gosta de trabalhar com crianças. Ela faz por amor, e não por dinheiro.

A casa ficou em silêncio enquanto Jennie esperava por uma resposta de Richard.— Acreditamos que nosso amor seja suficiente, Jennie.— O amor de ambos precisa ser maior que os dois, Richard.— A senr ser vulnerável para ninguém. Tudo consequência de ter trabalhado como investigador na

perda de seu filho.— Cresci em meios de projetos.— Hope me contou. Pensei que tinha algo a ver com sua vontade de se tornar um policial. Mas ela não me

disse a razão de você haver desistido da profissão e se tornado um detetive particular.— Tornei-me um policial porque pensei que poderia fazer justiça, mudar algo no mundo em que vivo.

Mas era impossível, Jennie. Trabalhei como louco durante oito anos e não consegui mudar coisa alguma. Não

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acreditaria na miséria que presenciei. Um dia essa miséria me tocou.— O que aconteceu? — indagou a sra. Franklin.— Eu era casado. Minha mulher e eu tínhamos um filho de seis anos, Davie. Trabalhava de noite para

poder passar o dia em casa. Certa vez os dois resolveram alugar um filme, e como meu carro estava atrás do dela resolveu ir com ele. O pequeno correu para entrar no carro. E, quando entrou, o veículo explodiu. Não podíamos fazer nada. Alguém pusera uma bomba... que matou a pessoa errada... e a culpa era minha. Minha mulher me culpava também, e nosso casamento acabou.

— Richard, sinto muito.— Não colocarei outra criança no mundo sabendo que não poderei protegê-la. Nunca irei superar o que

aconteceu com Davie.Entende por que não posso passar por tudo aquilo de novo?

Hope encostou-se no armário. Ela sabia que o sofrimento de Richard era enorme, mas tinha esperança que o casamento pudesse curá-lo. Mas também tinha consciência de que, se ele não estivesse preparado para superar sua dor, iria lutar contra ela. Hope fora ingénua ao pensar que a notícia da gravidez pudesse ser bem-vinda. Richard fora honesto com relação a seus sentimentos. Agora, Hope vinha lhe dar a única notícia que Richard não estava preparado para receber. O que seria do relacionamento deles dali em diante?

Se contasse a Richard sobre o bebé, sabia que ele casaria com ela porque era um homem de palavra. Mas que tipo de casamento seria o deles?

Seus olhos encheram-se de lágrimas. Seria um casamento que traria de volta memórias do passado. Richard não poderia amá-la, nem à criança, com o passado atormentando sua mente.

Seu amor por ele não era suficiente para suportar tal situação. Mesmo assim Hope tinha que tentar. Limpou seu rosto e entrou na cozinha.

— Olá — cumprimentou Richard e abraçou-a. — Estava preocupado. Ficou presa no trabalho?— Não, mas preciso conversar com você. Vamos para a sala.— Mas sua mãe já preparou o jantar.Jennie Franklin olhou para ambos e viu que se tratava de um assunto importante.— Tudo bem — disse. — Posso manter a comida quente.

Richard pegou a mão de Hope e a acompanhou até o sofá. Uma vez sentados, tomou-a em seus braços e a beijou.

— Richard, preciso perguntar algo a você. — Inconscientemente pôs sua mão sob sua barriga. — Acha que algum dia mudará de ideia sobre ter filhos?

— Hope... — O brilho em seu olhos desapareceu.— Eu quero filhos seus. E preciso... ter um filho. Para ter certeza de que nosso amor será completo. Para

me realizar como mulher.— Uma pequena esperança surgiu em seu coração.

— Mas nós tínhamos um acordo.— Eu sei, mas não posso cumpri-lo.Naquele momento percebeu que não daria para seguir em frente. Percebeu a extensão do sofrimento de

Richard, a dor que sentia pela perda de seu filho.Richard afastou-se. Quando olhou para Hope novamente, ela não pôde ver mais nada a não ser seus olhos

castanhos. Ele criara uma barreira entre eles.— O que está tentando me dizer?Hope sentiu que seu coração se partia, que nunca mais voltaria a ser o mesmo. Ela amava Richard

demais para prendê-lo.— Que preciso de um filho seu, e se realmente não pode me dar um, então não posso casar com você.— Hope... — ele pronunciou seu nome com tanto sofrimento! Toda emoção foi embora. — Está

terminando nosso noivado?— Richard, tenho de fazer isso. Tenho que pensar no futuro.— Não consigo imaginá-la grávida. Não quero nem mesmo pensar na preocupação diária que teria em

saber se você e a criançaestariam bem... Pior o meu sentimento de impotência de não poder protegê-los. Se quer filhos, então está certa em desmarcar nosso casamento. Diga à sua mãe que não ficarei para jantar. Diga-lhe tudo o que precisar.

— Richard, não pode sair assim, podemos conversar.Richard Walker não mais olhou-a, e nem ao menos se despediu. Simplesmente saiu pela porta.

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CAPITULO I

Quatro anos depois...

A neblina fora companhia inseparável enquanto lope Franklin caminhava ao redor da casa.Sentada na cadeira de balanço, tinha nas mãos um par de agulhas de tricô. Fitava-as sem saber o que

fazer com elas. A seu lado, o pequeno baú guardava uma blusa inacabada. Era o presente de Natal que Jennie Franklin daria a seu querido neto.

Natal... O que era para ser uma ocasião de festas e reencontros agora não passava de uma triste data.Durante o primeiro ano de vida de Christopher, Hope tivera a certeza de ter tomado a decisão correta.

Ocultar de Richard a gravidez inesperada parecia ser a solução para todos os seus problemas. Tinha plena convicção de que o tempo se encarregaria de apagar o amor e as lembranças do passado. Só não contava que o filho seria o reflexo de Richard: o sorriso e os mesmos olhos castanhos faziam-na pensar nele com frequência. E no segundo ano, Chris começara a ter consciência do mundo, questionar sobre a vida, sobre a família, e sua angústia aumentava a cada dia.

Nas visitas que fazia à mãe, Hope pensava em ligar para o pai de seu filho, mas uma força oculta a impedia de fazê-lo.

Havia um mês, o berçário onde trabalhava enviara-lhe um comunicado informando seu fechamento em breve, o que significava que estava desempregada. Era o que bastava para que ela tomasse a decisão de voltar a morar com a mãe.

Sem perder tempo, começou a procurar emprego em Los Angeles, mas a sorte a abandonara novamente. Um telefonema de sua tia informando a morte de Jennie fora o suficiente para arruinar sua vida.

O fato a fez repensar na existência do próprio filho. Uma simples ligação daria o direito a ambos de se conhecerem. E ela não poderia impedir que o filho conhecesse o pai. Mesmo por que, mais cedo ou mais tarde, o pequeno perguntaria por ele.

O barulho da campainha sobressaltou-a. Talvez fosse sua tia Eloise, pois ela se oferecera para cuidar de Christopher enquanto Hope guardasse os pertences da mãe. Em pouco tempo deveria deixar a casa onde fora criada e passara sua feliz infância.

Ao abrir a porta, deparou com um rapaz de uniforme verde.— Eloise Murray me disse que poderia encontrar Hope Franklin neste endereço — ele começou. — Tenho

uma encomenda para ela.— Eu sou Hope Franklin.

— Assine aqui, por favor. — Ele apontou para uma linha pontilhada.Hopep fechou a porta sem antes agradecer a presteza do rapaz. Conferiu o remetente e descobriu tratar-se

do advogado de sua mãe. Conhecera-o quando o pai falecera.Abrindo o envelope, encontrou uma carta fechada e um pequeno bilhete.

Querida srta. Franklin:Sua mãe instruiu-me para lhe entregar esta carta quando morresse. Logo marcarei a data para lermos seu

testamento. Minhas sinceras condolências.George Gunthry

Com as mãos trémulas, mal conseguiu abrir o envelope menor.

Querida Hope,A vida não será fácil para você, assim como não foi para mim. Mas certamente terá forças para reagir e

suportar a dor da pei-da. Como último desejo, gostaria que entregasse o relógio de ouro de seu pai a Richard. Está guardado em meu porta-jóias, ninguém sabe disso. Gostaria que fosse um assunto tratado apenas entre vocês dois. Pense em seus desejos e nos de nosso pequeno Christopher.

Hope, mamãe te ama muito. Tudo o que sempre quis foi a sua felicidade.Um beijo carinhoso.Jennie

Talvez fosse o momento da verdade, pensou. Seria a hora de Richard decidir se queria participar da vida do filho ou não.

Naquela tarde de quarta-feira, o sol escaldante de setembro ardia sobre os ombros de Hope, que estava em frente à casa de Richard. Esperava que lá ainda estivesse aberto o escritório onde ele trabalhava. Seu nervosismo crescia a cada segundo que passava. Pensamentos diversos vieram-lhe à mente. Estaria casado?

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Teria mais filhos?Quando finalmente teve coragem e apertou a campainha, uma jovem loira, de cabelos curtos, abriu a porta

com um sorriso simpático. Sem palavras, ficou paralisada por intermináveis segundos.— Posso ajudá-la? — perguntou a moça, enquanto observava o olhar espantado de Hope.— Estou procurando por Richard Walker. Por acaso seria... a sra. Walker?— Não — respondeu, estendendo a mão. — Apenas trabalho com ele. Sou Jane Parker, muito prazer.Hope cumprimentou-a visivelmente aliviada. E a seguiu assim que o caminho foi indicado.Jane pediu que entrasse no escritório. Seu coração começou a bater mais forte no peito.Richard estava de costas, com uma criança no colo, perto da janela.— Acho que está nascendo mais um dente na boca de Matheus — ele falou, pensando que sua assistente

estivesse perto da porta.Mas, ao se virar, a surpresa fora recíproca.

Hope cortara os cabelos logo após o nascimento do filho, evidenciando seu rosto delicado, e a vida agitada ajudou-a a manter o corpo em forma. Mas Richard também mudara muito. Os cabelos agora tinham um tamanho incomum, beirando os ombros. O corpo atlético continuava o mesmo, mas as feições acentuadas por pequenas rugas ao redor dos olhos não a encorajavam a se aproximar.

De repente, o bebé o abraçou, e ele instintivamente começou a acariciar as pequeninas costas, desviando sua atenção de Hope.

— Acho que sua mãe tem planos para você — Richard comentou.— É hora de ir para casa, meu bebé. — Jane tomou o filho nos braços e voltou-se para Richard: —

Ligue-me se tiver alguma dúvida a respeito do relatório qúe fiz. Até amanhã.A sós, os olhares se cruzaram diversas vezes.

Ele ofereceu uma cadeira para Hope se sentar. Nada conseguia diminuir o constrangimento de ambos, até que ela se dispôs a quebrar o gelo:

— Jane trabalha com você?— Sim.— Ela sempre traz o nené para o trabalho?— Às vezes.— Quantos anos tem... Matheus?— Quinze meses. — Surpreendentemente, um leve sorriso curvou os lábios dele, deixando o ambiente

menos tenso.— É seu filho? — ela perguntou, arrependendo-se logo em seguida.— Jane é casada com um amigo meu. O filho é deles.— Não me julgue mal, mas fiquei surpresa ao vê-lo segurar um bebé no colo — Hope se apressou em

dizer.— Nunca disse que não gostava de crianças.O silêncio tomou conta da sala. O comentário trouxera à tona um dos motivos da separação. Era uma ferida

que nunca cicatrizaria.— O que está fazendo aqui, Hope?Havia muito tempo, ele erguera uma barreira entre ambos que, aparentemente, não seria derrubada tão

cedo. Hope concluiu que se quisesse manter um diálogo pacífico com Richard teria de ter muita paciência.— Minha mãe faleceu há duas semanas — ela começou a explicar, tentando conter as lágrimas que

ameaçavam rolar pelas faces.— Sinto muito. Sei o quanto ela significava para você. — Ao menos agora o ex-noivo demonstrava um

pouco de sensibilidade.E ele tinha razão, pois Hope mantivera com ele um relacionamento franco, sem segredos. Pelos menos

até engravidar.— Estou na casa de minha tia Eloisa — continuou Hope.— Como sua tia está aceitando a situação?— Está sendo muito difícil para ela — ela respondeu. — Como também sabe, as duas eram muito

unidas.— Sinto muito por você, mas não seria mais fácil se tivesse me mandado uma carta ou telefonado?

— A presença de Hope ainda era uma incógnita para ele. — Por que veio pessoalmente?— Porque minha mãe me fez um último pedido antes de partir. Jeannie gostaria que ficasse com um

antigo relógio de papai.Alguns segundos se passaram antes que Richard pudesse entender o derradeiro desejo.

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— Bem, não há uma explicação... — Hope também não sabia como justificar tal pedido. — O fato é que ela gostava muito de você, e eu apreciaria se pudesse atendê-la.

Havia muitos erros do passado, Hope sabia, mas nada poderia fazer para consertá-los. O tempo não voltaria, e o melhor que tinha a fazer era deixá-lo a par da existência do filho.

— Gostaria que passasse em casa para buscar o que lhe pertence — pediu, enfim.Richard parecia surpreso, mas não declinou do convite.— Está bem.Hope suspirou, aliviada, pois temia que ele se recusasse a vê-la novamente.A despedida não passou de breves palavras, o que para ela não foi surpresa. Nenhum dos dois estava

preparado para aquele encontro.Quando ela se aproximou do portão que dava para a rua, Richard não se conteve.— Hope!

Ela virou-se.— Bem... — Ele tinha a voz trémula. — Não se preocupe em preparar algo, pois não poderei ficar

muito tempo lá. Tenho outro compromisso à tarde.— Oh, sim...Ao ver o desapontamento em seus olhos, Richard se arrependeu de suas palavras. Fora um tolo, teria sido

melhor se tivesse ficado calado.Mas estava muito nervoso para não se manifestar. Não esperava encontrá-la novamente. Hope

definitivamente fazia parte de seu passado, que ele não queria recordar. Mas não podia negar que a saudade o atormentava de tempos em tempos, nunca a esquecera. Mesmo não admitindo, queria ter notícias dela, saber se estava casada ou algo assim.

Porém, nunca a perdoara pelo sofrimento por que o fizera passar. Richard fora perdidamente apaixonado por ela, e sem explicações, Hope partira de sua vida, deixando-o só com suas lembranças. Era verdade que muito discutiram sobre família, casamento e filhos, mas ele ainda não estava preparado para assumir algo que considerava tão importante na vida de um homem. Achava que o amor que nutria por ela era o suficiente, mas estava enganado. Hope parecia querer mais, o que ele não podia dar.

E agora, ao reencontrá-la após quatro anos, as dúvidas pairavam no ar novamente. Hope estava mais bela do que antes. Apenas os belos olhos azuis, que antes transmitiam alegria de viver, pareciam um pouco apagados. Bem, mas por que se preocuparia com os sentimentos dela? Após o encontro do dia seguinte, cada um seguiria seu rumo, como acontecera naqueles últimos anos.

Subir os degraus lentamente da casa de Jennie Franklin fez com que Richard se lembrasse da última vez que estivera lá, a noite em que Hope rompera com tudo.

A noite insone que passara foi a prova que tivera para saber que a ex-noiva ainda morava em.seu coração. Bastava sentir a fragrância de seu perfume para que a memória conspirasse contra sua razão.

Ao soar da campainha, a porta fora imediatamente aberta. Hope não escondia a ansiedade em seu olhar. Apesar de vestir um mo-létom azul-marinho, que a deixava bem à vontade, o corpo esbelto podia ser identificado por baixo do tecido. Richard adorava os antigos cabelos longos dela, mas não podia negar que agora, curtos, davam-lhe um ar brejeiro e ao mesmo tempo sensual.

— Entre — ela convidou.A voz suave de Hope era inconfundível, ele pensou.— Não posso demorar.Dirigiram-se mudos até a sala, onde ela lhe entregou uma caixa.— Isto é o que mamãe queria lhe dar — disse, enquanto ele olhava para a embalagem.Em uma fração de segundo, os quatro anos que os separaram pareciam não ter existido. Pelo corpo de Richard

percorreu uma energia que o transportou para a inesquecível noite em que fizeram amor.Ao abrir a caixa, os olhos dele se arregalaram diante do belíssimo relógio de ouro, que pertencera ao pai

de Hope.— Hope, não sei o que dizer, apenas não posso aceitá-lo.— Por favor, não diga nada. Simplesmente aceite-o. Mamãe provavelmente tinha uma boa razão

para lhe oferecer algo tão valioso.Quando poderia supor que Hope entraria novamente em sua vida de forma tão trágica?A voz súplice da ex-noiva deixava-o constrangido, pois sabia que naquele momento não poderia fazer

muito por ela.— Estava morando em Wasco quando ela faleceu. Um ataque cardíaco fulminante foi a causa de sua

morte. Então, não tive oportunidade de falar com ela uma última vez, o que me deixa muito mais triste.

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— Hope?Ela uniu forças para continuar a falar:— Quando soube de sua morte, o fato me fez repensar em minha própria vida, nas decisões que

tomei no passado e que têm muito a ver com você.Ele a fitou sem saber o que esperar das próximas palavras, e seu olhar não se desviou dela por um

segundo sequer.— Continue — pediu Richard.— Na época pensei que seria a melhor coisa a fazer, mas com a morte de minha mae percebi que

estava errada e que tinha de lhe contar.— Contar o quê?— Richard... você... — Como lhe contar a verdade sem chocá-lo? Tal notícia teria um forte impacto sobre

ele, fossem quais fossem as palavras que usasse. — Você tem um filho. Soube disso quando rompi o noivado.Um abismo parecia ter-se formado ente eles. O baque fora maior que o esperado.Hope esfregava as mãos em um gesto de puro nervosismo. Como ele não esboçara reação, ela se adiantou

em explicar:— Fiquei com medo de contar, pois você não queria se casar comigo, muito menos ter filhos.— Hope, nem sei o que dizer. Se pelo menos eu tivesse tido a vantagem da opção...— Desculpe-me, mas não queria que sua decisão fosse baseada em culpa. Decerto sua responsabilidade

falaria mais alto que seus sentimentos e isso não seria bom para nós três.Como Hope podia ser tão racional com um fato tão importante?, pensou. Confiara seus sentimentos mais

profundos àquela que havia sido a mulher mais importante de sua vida, e ela o traíra amargamente. Fúria corria-lhe pelas veias.

— Hope, o que fez foi imperdoável! — Colérico, Richard não conseguia achar as palavras apropriadas para expressar sua raiva.— Não tinha o direito de mentir e tomar a decisão de forma unilateral.

— Mas não menti para você! Sempre quis ter filhos, o que não acontecia com você. Assim que soube da gravidez, não hesitei em levá-la até o fim. Não poderia sequer pensar em dá-lo para adoção ou...

— Por favor, não ouse falar o que está pensando! Não posso acreditar que tal pensamento houvesse passado por sua cabeça depois de tudo o que vivemos juntos.

— Mas, Richard, você sempre afirmou que não desejava ter filhos, que eles atrapalhariam sua vida se viessem em momento errado. E aquele era um momento errado — argumentou Hope.

Richard tentou ordenar suas ideias; afinal, não poderia se deixar levar pela emoção em um assunto tão complexo.

— Temos ideais, projetos a serem realizados, mas nem sempre o destino nos permite concretizar nossos sonhos como desejamos. E você me tirou o direito de saber que sou pai, perdi a oportunidade de participar de uma fase muito importante da vida dessa criança!

— Richard falou, com a voz carregada de emoção. — Posso pelo menos saber o nome dele?—Christopher.—E onde ele está agora?—Na casa de tia Eloise.—Quero vê-lo agora!— Eu o teria trazido comigo se soubesse que sua atitude seria essa.— Bem, agora não há mais dúvida. Vamos, lembro-me vagamente onde sua tia mora. Vou

segui-la em meu carro.Sem palavras, Hope deixou a casa seguida pelo ex-noivo, que trancou a porta em poucos

segundos.Em seu carro, pensava em algo que pudesse amenizar a raiva de Richard, mas logo concluiu

que aquele sentimento somente teria fim quando ele parasse para pensar sozinho. E ela seria obrigada a ser paciente até que isso acontecesse. Afinal, nunca deixara de amá-lo.

Desceu do automóvel assim que estacionou em frente à casa da tia. Nem sequer esperou o outro carro chegar.

— Pessoal, estou de volta! — gritou, como se quisesse preveni-los de algo.— Aqui na cozinha! — avisou a tia. — Estamos preparando biscoitos e tomando chá.Logo em seguida, Richard chegou. Desceu do carro e esperou na varanda.— Chris está na cozinha com minha tia — ela informou, tímida.

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— Ele sabe de algo? — Richard estava hesitante.— Como assim?— Sabe que sou seu pai?— Não. Não pude conversar com ele sem saber qual seria sua reação.— Bem, agora não temos muito tempo para discutir sobre isso. Mas acho que o melhor a fazer

é contar a verdade.— Gostaria de ter um momento a sós com Christopher antes de apresentá-lo, se não se

incomoda — ela pediu.Apesar do ressentimento, Richard sabia que aquela atitude era a mais sensata.— Está bem, aguardarei aqui até que me chame — disse, meio a contragosto.Hope suspirou, aliviada, e entrou na cozinha. Sua tia estava de costas, lavando algumas

xícaras.— Vi Richard chegando em seu carro — a tia observou, aproveitando um momento de

distração do garoto.— Sim, ele está na varanda. Fez questão de vir assim que soube da notícia.— Otimo! — Eloise abriu um largo sorriso.Christopher estava comendo um biscoito quando Hope atravessou a cozinha para se sentar a

seu lado.— Olá, meu amor — cumprimentou-o com um beijo. — Como foi sua manhã?— Brinquei bastante, mamãe! — exclamou o pequeno, ainda de boca cheia.— Chris, precisamos ter uma conversa. Tenho uma boa notícia para lhe dar. Lembra quando

me perguntou sobre seu pai?— Lembro.— Que bom! O que acha de conhecê-lo?Os olhos do pequeno brilharam como nunca.— Um pai como o de Patty?Hope sabia que para seu filho o maior sonho seria ser igual aos amigos, ou seja, ter um pai

que o levasse a passeios e que o buscasse na escola.— Sim, meu amor — ela respondeu, carinhosa. — Seria um papai somente seu.O menino não escondia a alegria que seu coração estava sentindo. A excitação tomou conta

dele, a ponto de não conseguir se manter sentado na cadeira.Hope retornou à varanda e convidou Richard para entrar.— Ele está ansioso para conhecê-lo — ela disse.Aquela não seria a maneira como Hope gostaria que o encontro se desse, pois parecia muito

formal, mas não poderia postergar sua decisão.— Olá, Richard — saudou Eloise ao vê-lo. Sempre gostara muito dele, o que tornava a surpresa

agradável.— Olá, Eloise. Diga-me, sabia de tudo?— Sim, mas é melhor não discutirmos isso agora, não acha?— Tem razão — respondeu, cabisbaixo. Em seguida, pousou o olhar sobre Hope para

depois desviá-lo para o pequeno Christopher.Rapidamente, ela se colocou ao lado do menino, sabendo que este precisava ser amparado.

Respirando fundo e com as mãos envolvendo os pequenos ombros, Hope disse em tom amigável:— Meu amor, esse é seu pai, Richard.Os olhares se cruzaram, mas nada pôde ser dito. Ambos pareciam paralisados pela admiração

mútua. A semelhança física entre pai e filho era impressionante.Olhando para as migalhas espalhadas na mesa. Richard tentou diminuir a tensão do momento.— Parece que gosta muito dos biscoitos de tia Eloise.— Sim — o pequeno respondeu. — Mamãe também faz doces deliciosos.— Oh, é mesmo?! Quantas bolachas já comeu?Tímido, Christopher levantou três dedos. Pegando outra na mão, ofereceu-a ao pai.— Quer experimentar?Não querendo desapontar o menino, ele aceitou, com um sorriso nos lábios.— Que tal irmos para o quintal? — sugeriu Richard.— Posso, mamãe?Hope vacilou por segundos, pois não sabia se estava preparada para deixar o menino a sós com o pai.

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Mas também sabia que seria uma boa oportunidade de aproximação entre os dois.— Claro, meu amor.Mesmo com o consentimento, Christopher hesitou alguns instantes, o que não passou despercebido a

Richard. O pai ainda era um estranho para ele. Aquilo fez crescer um sentimento de culpa em Hope e nele. Os olhares se cruzaram, refletindo muito remorso.

— Por que não mostra as pedras de sua coleção? — indagou a mãe, encorajando-o.— Quer ver? — o menino perguntou ao pai.— Adoraria!E seguiram porta afora, em direção ao quintal.Mais à vontade, Chris explicava, enquanto caminhavam, como conseguira cada uma das pedras. As vozes

iam sumindo à medida que se afastavam.Eloise abraçou a sobrinha, como se adivinhasse sua necessidade de apoio.— Vai dar tudo certo, querida.— Richard está muito magoado comigo, tia Eloise. — Hope tinha a voz embargada.— É muito normal, meu bem. Coloque-se no lugar dele e verá que Richard não está errado.— Mas, titia, não desejava forçá-lo a ficar comigo por causa de uma gravidez não planejada.— Não lhe tiro a razão por pensar assim, mas deveria ao menos ter dado a chance de ele escolher, já que

para você era mais importante ter o filho, e não casar com Richard.— Você está certa novamente, tia — ela disse, resignada.E foi obrigada a ratificar sua conclusão ao ver pai e filho conversando animadamente sob a sombra de uma

frondosa árvore. Como poderia resgatar e devolver a eles o tempo perdido?— Não posso fazer nada quanto ao passado — ela continuou —, mas tentarei não cometer erros no

futuro. E, para começar, voltaremos a morar aqui na cidade. Assim Richard poderá ficar com Christopher o tempo que quiser.

— E como sabe que ele vai assumir a paternidade?— Eu sinto — respondeu, com convicção. — Veja como se divertem. — Hope apontou para os dois.Realmente, era impossível negar que havia uma sintonia inesperada para um primeiro encontro.—Talvez Richard esteja querendo compensar sua ausência, minha querida — a tia argumentou. —

Temo que essa atenção desapareça com o tempo.—Não acredito nisso! Richard não conseguiria simular seus sentimentos.Depois de se divertirem observando pedras e flores, pai e filho retornaram à cozinha, onde Hope os

aguardava.—Fica para o jantar, Richard?—Não posso — Richard respondeu, notando o olhar de desapontamento tanto de Hope quanto de

Christopher. — Deixei um trabalho por fazer e devo entregá-lo ainda hoje. Mas não se preocupe — ele se antecipou em avisar, passando a mão nos cabelos negros do menino —, voltarei em breve, assim poderemos comer mais biscoitos e tomar bastante leite.

E Richard sorriu como nunca Hope tinha visto.— Isso mesmo! — confirmou o pequeno, entusiasmado.— Querido — Hope disse, abaixando-se diante de Chris. — Vou acompanhar seu pai até a varanda.

Tia Eloise está no quarto. Se quiser, pode ficar com ela, desde que me prometa que vai obedecê-la.— Sim, mamãe. Adeus, Richard. — E saiu correndo à procura da tia.Partir e deixar o filho, mesmo que por pouco tempo, fazia-o sofrer. Agora não suportava a dor da

separação, por mínima que fosse. Richard só saiu quando a figura do filho não era mais visível.Ele e Hope caminharam para a varanda em silêncio.— Vai voltar Para Wasco? - ele perguntou, enfim.— Não sei estou indecisa- Gostaria de sua opinião.— Não acha que é tarde demais para me perguntar, Hope?— Sempre me peocupei com o que pensa.Ela estava mentindo novamente, pensou, caso contrário não o teria afastado do filho como fez.— Bem não me importo com o que faça de sua vida - disse, ressentido--- Apenas não gostaria

que levasse o menino embora.— Pode ficar tranquilo não vou atrapahar o relacionamento de vocês.Richard precisava confiar nela de novo, senão seria impossível dormir uma noite sequer, pensando que

Hope poderia afastá-los para sempre.— Ligarei para você depois.

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E com aquelas palavras, partiu dali com o coração em prantos.

CAPITULO II

Richard dirigiu-se ao escritório com o intuito de ficar sozinho durante algum tempo, mas ao en trar encontrou Jane sentada separando a correspondência.

— Você perdeu seu compromisso com a sra. Johnson. Anotei as informações necessárias e disse a ela que ligaria.

— Droga! Eu esqueci!— Você nunca esquece seus compromissos, Richard, o que está acontecendo?Ele andou até o quadrado onde o filho de Jane dormia calmamente. Não estava em condições de encarar seus

sentimentos, muito menos de contá-los para Jane. Em sua mente, via Christopher enquanto sentavam na grama. A dor o atingiu mais uma vez.

— Richard? O que está acontecendo? — A voz de Jane parecia preocupada.Jane tinha a intuição muito forte, por isso logo sabia quando havia algo errado com ele. Talvez também

por isso a parceria deles no trabalho já durasse tanto tempo. Ambos se completavam, ela com seu lado intuitivo, ele, com a visão objetiva e racional.

— Hope e eu... temos um passado em comum — respondeu Richard.— Isso ficou claro ontem quando vocês se encontraram aqui.

Richard foi até a janela observar a paisagem e lhe contou sua história.— O que vai fazer agora, Richard?

— Essa é a pergunta muito difícil. Acabei de conhecê-lo. Chris é maravilhoso, inteligente e carinhoso.— A mãe dele teve muito a ver com isso.

— Talvez, mas quando olho para ele... Era por isso que não queria mais filhos. Como poderei protegê-lo, dar a ele tudo o que precisa?

— Como Hope se sente sobre você passar um tempo com o menino?Richard tentava afastar o ódio e a dor de seu coração toda vez que se lembrava da mulher que um

dia conseguira romper a barreira que protegia seu coração. Sentou-se na cadeira e encarou Jane.— Suas perguntas me colocam contra a parede.— Simplesmente porque me preocupo com você.

Richard estava ciente de que poderia desabafar com Jane e seu marido.— Ainda não tive tempo para refletir. Como se sentiria se alguém lhe dissesse que tem um filho e que

perdeu seus primeiros anos de vida? — indagou Richard.— Angustiada, brava e confusa, para não dizer mais.

— Pois bem, é o que sinto também. São sentimentos conflitantes: a alegria e o ódio, a esperança e o medo. Ao menos uma coisa eu sei: não o perderei como aconteceu com Davie.

— E a mãe dele? - :— O que tem ela?— O que sente por Hope?Richard se levantou e começou a andar em círculos pelo escritório.

— Estou chateado e magoado com ela. Hope me deixou, mentiu para mim. Mas mesmo assim quando olho para ela... — Ele parou de andar e murmurou: — Ainda a admiro.

— Talvez conversar seja uma boa saída para achar as respostas às suas perguntas. E sabe que pode contar conosco.

— Você sabe também que para mim é muito difícil falar sobre meus sentimentos.— Quem sabe não é o momento de mudar de atitude?

A mente de Richard estava confusa, imagens do passado se misturavam com as do presente. E todas o machucavam interiormente. Falar sobre sua vida lhe custava muito. E Hope... ele não poderia se entregar de novo. Não, não estava disposto a sofrer mais uma vez.

Hope cortava os sanduíches pela metade e colocava-os de maneira simétrica em uma bandeja. Quando viu as horas, seu coração acelerou. Richard chegaria a qualquer momento. Normalmente, Christopher já teria lanchado, mas como Hope passara a manhã na casa da mãe guardando os pertences dela, estavam atrasados.

Todos os dias, durante a semana, Richard visitara o filho e se divertiram muito juntos. Tentava esconder seus sentimentos, mas Hope sabia que ele sofria por causa de Davie. E o que era pior, Richard não se abria, guardando para si todos os maus sentimentos. Ele simplesmente não aceitava a ajuda de quem quer que

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fosse. O fato ficava mais evidente nas conversas superficiais que tinham sempre que se encontravam. Sem falar no fato de ele não dar mostras de que um dia iria perdoá-la pelo seu erro.

Hope deixara a porta aberta e, quando Richard tocou a campainha, ela exclamou da cozinha:—Entre!

Em poucos minutos, lá estava ele, vestindo uma camisa branca, com os primeiros botões abertos, deixando à mostra parte do tórax bronzeado. A calça preta, ajustada nos quadris, deixava-o ainda mais sedutor.

— Você não deveria deixar a porta aberta.— Sabia que era você.— Não estamos em Wasco.

— Sei disso. Cresci aqui, esqueceu-se? — Uma observação mais atenta e ela percebera que Richard se lembrara de outras coisas também. — Desculpe-me pelo atraso, mas estávamos na casa de minha mãe, guardando algumas coisas.

— Deve ter sido muito doloroso — ele comentou, em tom solícito.— Digamos que é muito difícil lidar com essa situação. Enfim, é a vida.

— Eu poderia ter passado aqui à noite.— Oh, não, este horário está bom. Não conseguiria ficar lá por mais tempo.

— Posso ajudar em alguma coisa?— Muito obrigada, mas estou terminando. Na realidade, gostaria de pedir-lhe para ficar com Chris

amanhã.Suas mãos começaram a tremer quando Richard começou a se aproximar dela.

— Você e Eloise gostariam de passar a tarde na casa de sua mãe?— Não, teremos de comparecer à leitura do testamento. Sei que será uma reunião breve e até poderia

levar o pequeno comigo, mas achei que seria mais uma oportunidade para ficar com ele, se não for incomodá-los, é claro.

Richard observava cada gesto, cada movimento dela.— Gostaria que fôssemos com você?— Faria isso por mim?— Sem dúvida, afinal, sou o pai do garoto e tenho de ajudá-la.

Hope devia saber que ele não estava fazendo aquilo por ela.— Oh, sim — comentou, um tanto desanimada. — Bem, podemos levar um caderno e alguns

lápis, o que o manterá entretido por um bom tempo. Devemos chegar às duas horas da tarde.— Está bem. Jane se encarregará dos compromissos no escritório.

Hope aproveitou a oportunidade para contar-lhe as novidades:— Mandei meu currículo para todos os berçários da região. Pretendo me mudar para Los Angeles.

— E sua vida em Wasco? Pode deixá-la tão facilmente?— Bem, não tenho muito a deixar para trás em Wasco. Perdi meu emprego, pois a escola teve de

fechar as portas, e com a morte de minha mãe, decidi mudar de vida.Richard encostou-se na pia e seu braço roçou levemente no seio de Hope.

— Então poderei ver meu filho quando quiser?Mais parecia um desafio do que propriamente uma pergunta.— E claro... desde que sinta vontade.

Richard estava tão próximo dela que era impossível não sentir seu perfume másculo e admirar os músculos bem trabalhados de seu braço. Por um momento, Hope pensou ter visto desejo nos olhos dele e o sentiu cada vez mais próximo.

De repente, como um furacão, Christopher atravessou a porta da cozinha.— Estou com fome! O lanche está pronto? — perguntou, aflito.

Richard se afastou, assustado. Não estava acostumado a cenas tão repentinas. Hope sentiu-se frustrada e um vazio tomou conta de seu coração novamente.

Após ler o testamento de Jennie Franklin, George Gunthry mostrou o documento a Hope.— Em resumo, os objetos pessoais e as terras no Arizona foram herdados por Hope. Alguém tem

alguma pergunta a fazer?— O que sugere que façamos em primeiro lugar? — Eloise questionou. — E quanto tempo minha

sobrinha tem para deixar a casa onde sua mãe morava?— Bem, terão tempo suficiente para guardar os pertences de Jennie, pois o sr. Hale deu um prazo até

outubro para liberarem o imóvel. E depois vendam a propriedade, se não pretendem morar lá.— Será muito difícil abrir mão da casa onde minha mãe viveu seus anos mais felizes.

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— Prefere mantê-la em seu poder?— Gostaria muito, mas necessito de dinheiro, afinal, estou sem emprego e pretendo morar em Los

Angeles, onde há campo em minha área e poderei concluir meu curso para o magistério. Temo apenas não poder finalizar os negócios em apenas um mês.

— E se ela alugasse a casa onde sua mãe morava? — perguntou Eloise ao advogado.Hope não esperou pela resposta, antecipando-se:

— Tia, a casa é muito grande. Christopher e eu não precisamos de tanto espaço. Além do mais, não tenho como pagar o aluguel, pelo menos, não por enquanto.

Richard acomodou-se na cadeira. Até então, permanecera calado.— Quanto tempo ela terá para vender a propriedade no Arizona?— Depende dela — respondeu Gunthry.— Precisarei de uma semana ou duas para decidir.

— Sinto lhe dizer, mas duas semanas é o máximo de tempo que tem, a não ser que queira guardar os móveis e outros objetos em um galpão. Avise-me até o início do próximo mês, assim terei tempo hábil para organizar a venda de seus bens.

— Decidirei rápido. Cuidará da minha propriedade no Arizona, sr. Gunthry?— Farei o que estiver ao meu alcance. Talvez demore um pouco para vendê-la, pois o mercado está em

baixa, principalmente naquela região, que, pelo que sei, é um pouco afastada. Mais alguma pergunta?— Por enquanto, não — respondeu Hope. — Pretendo poupar o dinheiro da venda do imóvel para os

estudos de Chris.— Podemos discutir o assunto quando vendermos a propriedade — sugeriu o advogado.Enquanto Eloise dirimia mais algumas dúvidas, Richard curvou-se para se aproximar de Hope, seu braço

encostando no dela.— Que propriedade é essa no Arizona?

— Pelo que sei é um pequeno lote que meu pai comprou quando ele se aposentou. Richard, poderia cuidar de Chris amanhã à noite? Gostaria de ficar um pouco mais na casa de minha mãe.

— Sem dúvida.Não havia empecilhos quando o assunto era o pequeno Christopher, o que não era o mesmo quando se

tratava de Hope, pois algo lhe dizia que seu relacionamento não era tão bom quanto esperava que fosse.

Na tarde seguinte, Hope estava no antigo quarto de Jennie, guardando as últimas peças do vestuário. Na cozinha, Eloise se incumbia de guardar as louças e panelas e de distrair o sobrinho.

Hope dobrava um blazer quando ouviu passos vindos da escada.Reconheceu-os como sendo de Richard. O que estaria fazendo ali? Após a leitura do testamento, ele

simplesmente se despedira do filho, com um beijo e nada mais.Richard entrou no quarto, vestindo um short azul-marinho e uma camiseta pólo vermelha. Mais parecia

um veranista do que propriamente um detetive.— Como está, Hope?— Bem, na medida do possível.

— Christopher parece tão ocupado quanto sua tia, ajudando a guardar as coisas da cozinha.Hope ainda podia ver sua mãe cozinhando naquela cozinha e sentir o aroma de sua comida.— Duvido muito que esteja ajudando. — A voz embargada indicava que as lembranças a

atormentavam bastante.Hope pôs um dos vestidos em uma mala.— Talvez devesse trazê-lo aqui para dar sossego a Eloise.

— Melhor seria se pudesse descansar um pouco. Sua tia me disse que está aqui desde as primeiras horas da manhã.

— Oh, ela sempre exagera! E, além do mais, descansei para almoçar.Richard atravessou o quarto.— Hope, não precisa fazer tudo isso em um dia.

— Não pretendo vir aqui muitas vezes, por isso pretendo acabar a tarefa o mais breve possível. Esse trabalho me angustia demais. Aliás, o que faz aqui tão cedo? Pensei que viesse somente à noite.

— Achei que seria uma boa ideia levar Christopher para um pas seio no parque, assim você e sua tia podem trabalhar tranquilas.

Aquela era uma grata surpresa, e Hope sorriu com a gentileza.— Você acha que Christopher irá comigo para o parque?

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Hope não respondeu.— Hope?— Tenho certeza de que...

A mão pesada em seu ombro fez com que parasse de falar. Richard virou-a e viu as lágrimas em seu rosto.

—O que aconteceu? — perguntou, com uma voz acolhedora.— Sinto muito a falta de minha mãe. E de meu pai também. Não posso acreditar que ambos não estão

mais a meu lado.Sentiu que os braços de Richard a enlaçavam e uma das mãos acariciava seus cabelos. Não havia nada a

dizer, e Hope estava grata por se sentir amparada. Ficaram unidos durante um longo tempo, o que a fez se lembrar da noite que passaram juntos.

De repente, Richard se afastou.— Mandarei Christopher subir para que possa convencê-lo a ir comigo. — Através daquelas palavras

era fácil perceber que Richard mantinha-se controlado, como se o passado entre ambos nunca tivesse existido.

O que poderia fazer para amenizar a tensão que havia entre eles?

Três semanas haviam se passado. Hope encontrava-se lendo a relação dos bens de sua mãe que seriam vendidos. Na semana anterior, comparecera a duas entrevistas para emprego, mas nenhuma delas fora bem-sucedida. Suas reservas estavam se esgotando, o que a compelia a vender o que tinha como herança. E sem emprego, estava impossibilitada de alugar um imóvel. Sua tia insistira para que mãe e filho morassem com ela pelo tempo que fosse necessário, mas, para Hope, aquela situação era insustentável. Precisaria de um espaço somente seu, onde pudesse cuidar de seu filho e ter uma vida digna.

Durante aquele período, Christopher ficara em companhia do pai, o que as ajudava sobremaneira. Diversas vezes agradecera pelo gesto de Richard, mas ele não parecia muito preocupado em retribuir os agradecimentos, deixando bem claro que seu empenho era em favor apenas do filho.

Um dia antes da venda dos móveis, Richard surgiu para ajudá-la, porém, mal lhe dirigiu a palavra.Desanimada, Hope subiu a escada até o andar superior. Precisava apanhar uma caixa guardada em um

dos armários. Como estava na parte de cima, pegou uma banqueta no quarto ao lado e subiu. Lá estava a grande caixa de sapatos. Quando esticou o braço para alcançá-la, perdeu o equilíbrio e a única coisa que se lembrava era de que a caixa estava aberta, os objetos espalhados no chão, e ela, amparada nos braços de Richard.

Seu coração disparou e a garganta ficou seca.— Deveria ter mais cuidado, Hope.— Sim...Ele franziu as sobrancelhas e riu.

— Está cansada, essa é a verdade — murmurou ao colocá-la de pé.— Tenho de limpar tudo.— Então me chame se precisar de ajuda.— Não quero abusar de sua boa vontade.— Não seja tola!

Hope sabia que Richard não estava mentindo. Talvez ela estivesse com medo de sua rejeição, por isso sentia-se acanhada para pedir sua ajuda.

Richard recolheu os objetos espalhados no chão e os entregou a ela. Chamou-lhe a atenção uma fotografia, que reconheceu de imediato. Era uma foto dela e Richard tirada no dia em que ficaram noivos. Teria deixado aquela caixa por último inconscientemente? Outro envelope chamou a atenção de ambos: era o convite do casamento. O clima era de tensão. Hope colocou a fotografia sob o convite.

— Na noite em que desmanchei o noivado...— Hope, isso não ajudará em nada.

— Por favor, deixe-me falar. Talvez você entenda melhor minha decisão. Naquela noite, ouvi a conversa entre você e minha mãe. O médico acabara de falar que eu estava grávida. Suas colocações foram tão sinceras e honestas que eu não tinha o direito de interferir em seu futuro, dando-lhe um filho que não estava em seus planos.

— Você não me disse que estava carregando nosso filho.— Mas, Richard...

— Como já disse, Hope, isso não ajudará em nada. — Ele olhou para a estante. — Não há mais nada lá em cima. Se precisar de mais ajuda, pode me chamar. — E ele desceu a escada sem olhar para trás.

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Alguns minutos depois, o telefone tocou.—Hope, é para você!

Ela não sabia quem estaria ligando, mas achou que pudesse ser o advogado. Desceu a escada correndo e, antes de atender, Richard informou:

—É Mark.Hope sorriu. Mark era um velho amigo de Wasco. Sentou-se no chão e começou a conversar.— Olá, Mark! — ela o cumprimentou, um pouco tímida sob o olhar de Richard. — Não, não tenho

planos para o dia de Ação de Graças, mas pretendo voltar a Wasco antes, para pegar minhas coisas que estão no apartamento. — Olhou para Richard, na esperança de que ele fosse embora, o que não aconteceu.

Ele ouvia cada uma de suas palavras. Quem era o rapaz com quem ela falava com tanta desenvoltura? Ninguém nunca mencionara aquele nome em sua presença.

Pelo que tudo indicava, o rapaz estava se oferecendo para despachar o restante de seus pertences, pelo que ela agradeceu efusivamente.

— Oh, Mark, não saberia como agradecer-lhe, você é muito gentil! Anote o endereço de minha tia, por favor.

Mais uma pausa e Hope tornou a falar:— Cristopher está bem, obrigada. Ele não me disse ainda o que quer ganhar no Natal. Quer falar com

ele? Hope gesticulou para chamar o menino. — Mark quer falar com você, meu bem.Richard notou a pressa com que o garoto correu em direção ao telefone, ansioso para falar com o homem

do outro lado da linha.Hope observou o filho contando sobre seu dia-a-dia, até que se surpreendeu com a última afirmação.— Tenho um pai agora — disse, com um sorriso nos lábios. — Adeus, Mark. — Ele estendeu o telefone

em direção à mãe, que parecia um tanto encabulada.— Sim, eu contei. Mas não queria falar sobre isso agora. Escreverei ou ligarei assim que puder. —

Após mais alguns minutos de conversa ela desligou o telefone.Quando o menino deixou a sala, Richard perguntou: — Quem é Mark?— Nosso vizinho... e um bom amigo.— Apenas amigo?

— Ele vai me mandar o restante das caixas para me poupar uma viagem.— Você o conhece há muito tempo?— Desde que me mudei para Wasco.— Presumo que não seja casado.— É divorciado.

— Vocês eram namorados? — Richard supôs que, se fosse direto ao assunto, Hope falaria a verdade.Ela suspirou, admirada com a pergunta. Depois, veio a irritação. A maior parte do tempo ele agia como se

a ignorasse, e agora queria detalhes sobre sua vida íntima.— Por que se interessa em saber se estava envolvida com Mark?

Um brilho fuzilante surgiu nos olhos de Richard.— Então estava.— Não disse isso. Quero saber o porquê do interesse.

— Porque tudo o que você faz ou fez afeta nosso filho. Quero saber se esse homem frequentava sua casa, digamos, a qualquer hora do dia.

— Tudo bem. Mark e eu nunca fomos amantes. Depois que Christopher nasceu ele me ajudou muito. Quase chegamos a namorar,mas concluímos que o melhor seria sermos apenas bons amigos.

— Somente amigos?Ela disse uma vez e não repetiria. Mas Richard persistia.

— Ele sabe sobre nós?— Sim, Mark sabe que Christopher é seu filho. Ainda não conversamos a respeito pessoalmente,

então ele desconhece os detalhes do que aconteceu depois que voltei para Los Angeles.— Por que ele ligou?

Hope sabia que aquelas perguntas tinham como objetivo obter mais informações sobre sua vida em Wasco.

—Apenas para saber o que Chris gostaria de ganhar no Natal.

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Como um lampejo de consciência, Richard se perguntou por que estaria tão interessado em saber sobre o passado dela. Mas o que não aceitava era saber que alguém, que não ele, se interessava por seu filho, e a ideia de que Hope e Christopher tivessem a atenção de outro homem o incomodava, afinal, ele era o pai. Sem perceber, mudara seu comportamento, e agora estava preocupado em tornar aquele Natal o mais feliz da vida do pequeno. Richard nunca pudera imaginar que sua vida seria completamente alterada com a chegada de um filho. Ele tentou mudar de assunto.

— Já comprou o presente para Christopher?— Não pude pensar nisso ainda.

— Talvez possamos fazer compras juntos, depois que vender os móveis.Hope lhe dirigiu um enorme sorriso de alegria.—Oh, eu adoraria!

Quando a viu tão contente, Richard relembrou todos os bons momentos que passaram juntos. Havia muito tempo que não se interessava tanto pelo Natal. Uma criança sempre tornava a festa especial. Uma criança... uma família. Ele gostaria que seu filho sentisse a segurança de um lar. Richard deu alguns passos em direção a ela.

— Queria proporcionar a Christopher um Natal especial.— Eu também desejaria muito...

A pulsação de Hope estava acelerada, e Richard era capaz de contar cada batida de seu coração. A pele rosada o fez se lembrar da noite que passaram juntos, do amor que sentiam um pelo outro.

— Melhor eu arrumar as coisas lá em cima — ela murmurou.Em um impulso, Richard pôs sua mão sobre o ombro dela.— Venha comigo até a garagem para ver se tudo está do jeito que deseja.— Está bem. — Hope olhou para a sala que agora estava vazia. — Tudo isso é tão triste!— Pode cancelar a venda, se quiser.— Não tenho outra opção, e, além disso, guardar os pertences de minha mãe só me trariam recordações

dolorosas. Estão comigo algumas de suas pequenas coleções e poucos objetos que ela guardava por estimação. Isso já me basta.

Richard não tinha tanta certeza disso. Hope não queria admitir, mas desfazer-se das coisas de sua mãe a machucava. Ele gostaria de fazer algo para amenizar seu sofrimento.

Na garagem, Hope examinava todos os móveis.—Vou dar a mesa que estava na sala de jantar para minha tia. Enquanto Hope falava, aproximou-se

da penteadeira.— Lembro-me muito bem das vezes em que ficávamos diante do espelho a nos pentear. Ela passava seu

perfume preferido como se fosse um ritual.Richard viu as lágrimas brotarem nos olhos de Hope.— Por que não fica com ela?— Onde a colocaria?

— Posso colocá-la em minha casa até que tenha um lugar para morar.O lábio inferior de Hope tremia. Richard sabia que ela estava lutando contra as lágrimas. Finalmente,

conseguiu dizer:—Gostaria muito de ficar com o móvel.

—Está bem. Providenciaremos o transporte dele esta noite.Hope aproximou-se, o que o fez pensar em qual seria sua próxima atitude.

Na ponta dos pés, alcançou-lhe o rosto e beijou-o.—Obrigada, Richard. Sabe o quanto isso significa para mim.

A vontade de tomá-la nos braços e beijá-la teve de ser controlada. Hope voltou à posição e deixou-o na garagem para dirigir-se ao quarto.

Ao vê-la desaparecer pela porta, seu coração dizia-lhe para detê-la e pedi-la em casamento, mas a razão conteve seus impulsos. Não poderia se deixar envolver por aquela magia destruidora. Da próxima vez, manteria uma distância segura.

CAPITULO III

Já era final de tarde quando Eloise se levantou para abrir a porta.— Richard, que surpresa! Hope não está. Tinham um encontro?— Não, só pensei em levá-los para passear.

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— Se quiser, pode esperar. Hope teve de resolver alguns problemas na cidade e voltará em breve.— Christopher está com ela?

— Aqueles dois são inseparáveis. Deve ser por causa... bem, não importa. Entre por favor — ela ofereceu.

— Se não se incomoda, esperarei, pois tenho alguns assuntos a tratar com sua sobrinha.— Claro que não, assim me fará companhia. Aliás, sentirei falta deles quando se mudarem. Conheço

muito bem Hope, assim que achar um emprego, alugará uma casa e se mudará.O medo voltou ao coração de Richard. Apesar de morar na mesma cidade que seu filho e poder visitá-lo

quando quisesse, Richard se sentia impotente ao pensar que poderia não estar presente em um momento em que Chris precisasse dele. Queria poder estar a seu lado vinte e quatro horas por dia, a fim de protegê-lo, e não falhar como da primeira vez em que fora pai.

— Estou assistindo a um filme antigo. —A voz de Eloise trouxe Richard de volta à realidade. — Gostaria de se juntar a mim, ou prefere um jogo de cartas?

— Acha que pode ganhar de mim?— Qualquer dia, a qualquer hora. — Eloise caminhou em direção à cozinha. — Sente-se e aceite meu

desafio.Até o final da segunda partida, tudo corria bem, mas em seguida Richard começou a ficar impaciente.

—Para onde Hope ia mesmo?—Disse algo como comprar os primeiros presentes de Natal, não tenho bem certeza.

Não haviam concordado em fazê-lo juntos? Por que teria se antecipado? Não, talvez estivesse apenas comprando enfeites ou algo parecido, afinal, com Christopher, pouco poderia fazer.

Já passava das nove e meia quando Richard caminhou até o terraço, na esperança de surpreendê-los na chegada.

Eloise se aproximou.— Ela costuma ficar fora até tão tarde? — perguntou Richard.

— Não, também estou estranhando sua demora. Hope é muito disciplinada em relação aos horários do pequeno.

— Na reunião de ontem, tudo pareceu correr bem. Tem certeza de que ela não manifestou qualquer recaída?

— Nada que não fosse o esperado, chorou por alguns momentos, mas logo se recompôs.— Quem sabe não foi até Wasco?— Creio que não iria sem me avisar.

Richard não tinha tanta certeza assim. Hope precisava de um ombro amigo, e Mark estava lá...— Tem o telefone de Mark?

— Não, apenas Hope tem o número anotado em sua agenda. O que tem em mente?— Nada em particular. Vou sair para procurá-la.

— Não me parece uma boa ideia, afinal, não tem nem uma indicação.— Mas meu filho está com ela.— Acha mesmo que Hope colocaria a segurança dele em perigo?

— Não há proteção nas ruas, ainda mais a essa hora da noite. Não posso ficar aqui à espera deles, de braços cruzados.

Richard decidiu ligar para Jane, mas não encontrou o casal em casa. Tentou manter a calma.Mais uma hora se passou até que o ronco do motor de um carro se ouviu ao longe. Mais que depressa,

ele saiu em disparada para a varanda. Lá estavam eles, o olhar assustado de Hope a examiná-lo.— Por Deus, onde estiveram? — ele gritou, descendo os degraus da varanda e vendo seu filho dormindo

no assento traseiro. — Fiquei preocupado!Hope ainda estava perplexa com a recepção.

— Oh, precisa de ajuda? — ele perguntou, tentando manter a calma depois de tanto nervosismo.— Obrigada. Poderia levá-lo ao quarto enquanto apanho os pacotes.

Como Hope podia se manter tão calma diante de sua preocupação?— Você está bem? — Richard perguntou, esperando por alguma explicação. Fitou-a da cabeça aos pés

para certificar-se de que não havia sofrido nenhum tipo de violência.— Claro que sim! Tivemos um pequeno contratempo: o pneu furou. Achei que seria tarefa fácil, mas

enganei-me. Fomos obrigados a esperar a ajuda da polícia.— Poderia ao menos ter telefonado!— Desculpe-me, mas não queria perturbar ninguém.

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Perturbar! Se soubesse o estado de nervos em que se encontrava, teria ligado do primeiro telefone que achasse!Como se já não bastasse a tensão que o assunto que queria conversar causava, ainda teve de suportar a

ausência do filho.Bem, depois de vê-lo são e salvo, só lhe restava se recompor e tentar explicar a Hope o motivo de sua

visita. Aguardou-a na sala, enquanto ela ajeitava a cama do menino.Se pensasse friamente, nunca pensara em ter um segundo filho, mas o destino batera à sua porta e ele não

poderia negar a Chris-topher um futuro com segurança e amor. Para isso teria de dar-lhe uma família, que só poderia ser constituída se os três morassem juntos. Sim, um casamento por conveniência seria a solução para seu problema. Hope não precisaria trabalhar e teria todo o tempo para dedicar ao filho.

Ouviu passos em sua direção.— Minha tia me disse que você ficou muito preocupado. Desculpe-me, mas não tive como me comunicar

com vocês — ela disse, aproximando-se.Estavam a sós na varanda.—Entendo. Hope, case-se comigo.

Como assim?, ela se questionou. Estaria falando, a sério? Sentiu o coração palpitar dentro do peito, mal podia respirar. A pergunta em nada se parecia ao pedido de casamento de quatro anos antes, romântico e sensível, mas mesmo assim ficou emocionada.

Uma esperança surgiu em seu coração, talvez a chama da paixão não estivesse extinta e então o amor intenso poderia ressurgir e transformar em realidade o sonho de tanto tempo.

— Por que quer se casar, Richard?— Para dar a Christopher uma vida com um lar onde ele possa encontrar a segurança e o amor de seus

pais.— E nós? — Ela prendeu a respiração.— Nós? — Ele olhou para as estrelas e, frustrado, continuou:

— Ainda não pensei a respeito. Estou preocupado com Chris.Estavam tão próximos que Hope podia sentir a fragrância de seu perfume. A realidade seria muito dura se

admitisse que Richard estava lhe propondo casamento apenas pelo bem-estar do pequeno. Será que nada restara do amor que sentiam quatro anos atrás?

— Você pretende... quero dizer... — Hope encontrava dificuldade em perguntar sobre questões mais íntimas.

E ele pareceu perceber seu constrangimento.— O fato de estarmos morando juntos não significa que precisaremos dormir juntos, Hope.

— O que espera dessa união?— Já lhe disse, quero formar um lar para Christopher. E para isso espero sua fidelidade e discrição.

— Mas se não estivermos dormindo juntos...— Não posso negar que tive um caso aqui e outro lá, mas mantive-me afastado de tudo o que se

relaciona a problemas. Gostaria que fosse assim com você também.— Não tem por que se preocupar, pois em minha estada em Wasco não mantive nenhum

relacionamento.Richard se voltou para poder encará-la.

— Quer dizer que fui o primeiro e único homem com quem esteve?— Sim.— Gostaria de poder confiar em sua palavra.—Não tenho por que mentir.

Ele tornou a admirar o céu.— Mas já mentiu. Você não confiou em mim. Fugiu e levou consigo um segredo que não poderia ter

escondido, ao menos não de mim. Não sei se poderei confiar em você depois do que aconteceu.Hope baixou a cabeça. Aquilo a atingiu como uma facada no peito. Estava se sentindo incompreendida.

—Você não me entende.Encarando-a novamente, ele admitiu:— Não, mesmo. Mas sei que ninguém irá me separar de meu filho e, para ter certeza, quero ter todos

os direitos legais. Casando-me com você conseguirei o que quero.Hope sempre respeitara a maneira como Richard pensava e encarava o mundo, sabia pelo que ele já

passara. Durante sua vida, Richard se tornara o tipo de pessoa que não expressava seus sentimentos e nem os confidenciava a quem quer que fosse. Mas nem por isso era uma pessoa amarga e rude. Quando se

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tratava de alguém que ele amava, fazia de tudo para que essa pessoa fosse feliz, o que ficou bem claro no caso de Christopher.

Ela ainda o amava. Casar-se com ele talvez fosse uma forma de reconquistá-lo e de cicatrizar as feridas de seu coração.

Mas o que a pertubava era a possibilidade de não ser correspondida. Seria ele capaz de enfrentar um casamento sem amá-la? E quanto a ela? Suportaria ter a seu lado alguém que não a achava digna de confiança? Concluiu que sim, pois viver sem Richard seria muito pior, para Christopher e ela.

— Está bem, eu me caso com você, desde que possamos decidir de comum acordo sobre o futuro de Christopher.

— Sem dúvida, Hope.Diante do espelho, Hope era ajudada por Eloise a fazer os últimos arranjos no vestido de noiva.

Passara-se uma semana desde o pedido. Porém, em seu reflexo, Hope não via nenhuma demonstração de felicidade.—Como posso ter certeza de que estou fazendo o que é certo, tia?

— Minha querida, você sempre amou Richard.—Mas não posso dizer o mesmo dele. Não tenho dúvidas de que Chris passou a ser a pessoa mais

importante para ele. Mas não posso afirmar que sente o mesmo por mim. Tenho a impressão que não conseguiu me perdoar, e, justificar esse casamento apenas pelo bem-estar de Chris talvez não seja a melhor solução.

— Bem, se pensa assim, ainda há tempo de voltar atrás.— Não! Tentarei fazê-los felizes.

— Então, erga a cabeça e desça a escada, orgulhosa como a menina que conheço.Hope abraçou a tia.

— Não sei o que seria de mim sem você, Eloise.Sim, Eloise era a força de que dispunha desde a morte da mãe.— Meu bem, sempre estaremos a seu lado.Hope sabia que ela estava se referindo também a Jennie.— Sim, tia.Ao pé da escada, o pequeno a aguardava com uma almofada de cetim nas mãos. Eram as alianças.Ao lado de Richard, Adam tentava clarear-lhe as ideias.

— Sabe que não é obrigado a se casar apenas para ter o direito à paternidade.— Sim — respondeu, lacónico.— Quero apenas ter certeza de que está agindo de forma consciente — ele explicou. Como

amigo, queria seu bem, mas como advogado pretendia esclarecer-lhe que um casamento não era a única solução para ter o filho a seu lado.

— Sei o que estou fazendo, Adam.—Não se esqueça de que poderá ser tão infeliz quanto os dois, se levar adiante uma decisão errada.—Meu trabalho voluntário me dá mais certeza de minhas atitudes. Convivo com crianças órfãs ou de

pais separados e sei o quanto dói para elas o fato de não ter um lar. Fariam de tudo para poderem ter uma família de verdade. E é isso o que quero dar a Christopher. Não gostaria que ele se tornasse uma criança carente e insegura como tantas que conheço.

— Mas veja meu caso, tenho duas lindas filhas do meu primeiro casamento e optei por me separar de minha esposa a viver com ela sem amor.

— Não tive a intenção de criticá-lo, Adam. Você é um caso à parte. Mas prefiro que me dê apenas seu apoio, se não se incomoda.

A mensagem fora captada, e Adam não se pronunciou mais a respeito.Richard sabia que o amigo tinha a melhor das intenções, mas não estava disposto a voltar atrás, mesmo

sabendo que não agradaria a todos.Ao perceber que o órgão emitia as primeira notas musicais, olhou para o topo da escada. Eloise surgia

em primeiro plano. Logo atrás, Hope aparecia, deslumbrante em seu vestido.Ao vê-la, Richard ficou paralisado. "Como está linda", pensou. O coração palpitava. Uma confusão de

pensamentos se instalou em sua mente. Já não sabia mais definir o que sentia por aquela mulher que em pouco tempo se transformaria em sua esposa. Aquele era seu sonho havia quatro anos, desde quando a pedira em casamento pela primeira vez. Naquela época sabia que ela era a mulher de sua vida, por isso não hesitou em amá-la até as últimas consequências. Descobrira que fora sua primeira experiência sexual, o que o

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deixara mais orgulhoso. Não tinha dívida de que o filho era seu, mas nunca poderia esperar que Hope o traísse de forma tão inescrupulosa. Durante os quatro anos que se seguiram após a separação, sofrera amargamente. Por ela e por tudo o que havia acontecido em sua vida.

Ao vê-la aproximar-se com o filho ao lado, Richard se emocionou. Virou-se para o sacerdote, de quem ouviria as palavras que mudariam o rumo de sua vida.

— Já pode beijar a noiva — disse o padre, indicando que a cerimónia chegara ao fim.Richard fitou os olhos azuis que o encaravam. Pareciam implorar pelo beijo.Richard enlaçou Hope pela cintura, aproximando-a de seu corpo. Inclinou a cabeça, e os lábios se tocaram

pela primeira vez depois de quatro anos.Por pouco ele não se entregara ao prazer do contato. Afastou-se para não correr o risco de ser traído

pelo coração.Foi então que a voz de Eloise interrompeu seus pensamentos:—Vamos brindar na sala ao lado!

—Podemos deixar as formalidades de lado, se preferir — murmurou Hope, não querendo forçá-lo.—Não quero desapontar sua tia.

Aquelas palavras atravessaram seu coração ferido como um punhal. Ele fora muito duro em sua colocação.

Em pouco tempo, a pequena festa chegava ao fim e os convidados, um a um, deixavam a residência.—Onde estão sua malas? — Richard perguntou.

— Lá em cima — Hope respondeu. E ajoelhando-se ao lado do filho, falou: — Meu amor, vamos colocar uma roupa mais confortável?

—Já vou colocar o pijama?— Oh, não! Lembra-se de quando lhe disse que moraríamos com seu pai? Então, este é o momento.

Vamos nos aprontar para partir.— Quer dizer que moraremos juntos e visitaremos tia Eloise sempre que eu quiser?

— Sim, meu bem.— E posso levar meu urso?

— E claro! — dessa vez Richard respondeu. — Há um grande quarto à sua espera. E também uma surpresa...

— O que é?— Só saberá quando chegarmos lá. Portanto, apronte-se!

— Vamos, mamãe, quero me trocar! — ele exclamou, afoito, pegando na mão dela.— Espere. Antes preciso arrumar as coisas aqui.

— Deixe que dou um jeito em tudo. — Eloise não queria que ela perdesse um minuto sequer para começar sua nova vida. — Apresse-se ou Christopher não suportará tamanha ansiedade.

No caminho da nova casa, passaram em uma loja de brinquedos, onde o menino escolheu diversos deles.— Vá com calma, Richard... — pediu Hope.

Franzindo o cenho, ele se virou.— Comprarei para meu filho tudo o que quiser.

— O que não o tornará mais feliz, se não tiver um verdadeiro lar.Hope não pretendia feri-lo, mas também não poderia permitir que o filho tivesse a própria vida

transformada em uma fantasia que poderia se desfazer a qualquer momento.— Não pode me impedir de dar a ele o que você mesma não pôde dar.— Combinamos que decidiríamos de comum acordo tudo relacionado a Chris.— E estou cumprindo minha parte, afinal, está a meu lado, ciente de tudo.— Christopher não precisa ter tudo o que pedir, isso o tornará uma criança insuportável. Basta dar

muito amor e carinho para que responda à altura.— Não precisa me ensinar a amar. Deveria saber o que era esse sentimento quando me deixou. E

não me culpe por tentar fazê-lo feliz.De repente, Hope se viu em uma situação constrangedora. Na realidade, começava a entender a atitude

dele. Richard estava tentando compensar os anos que estivera afastado do filho e não poderia culpá-lo por aquilo. O arrependimento tomou conta de seu coração. Como fora capaz de afastá-lo do próprio filho, tirando-lhe o direito de ser pai?

Diante da casa, descarregavam a última mala. Richard levava os pertences de Hope para o quarto do fim do corredor, sendo seguido pelo filho.

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— Vamos lá, garoto, venha ver sua surpresa!Os gritos de alegria de Christopher quebraram o silêncio da casa.— Mamãe, corra até aqui!

Tão curiosa quanto o filho, Hope se apressou. O quarto, originalmente de hóspedes, havia sido reformado e decorado para receber Christopher. Era um verdadeiro sonho realizado.

— Oh, que lindo! — Hope exclamou, admirada.Richard não se esquecera de um detalhe sequer. Desde a cama, um carro de corrida estilizado, até o baú de

brinquedos, tudo estava em perfeita harmonia. Qualquer criança sonharia ter um quarto daqueles.Christopher não conseguia conter sua alegria, e os olhos brilhavam de contentamento. No rosto de

Richard, via-se a expressão de satisfação pela felicidade do filho. O olhar dele encontrou o de Hope. Ela caminhou até a cama.— Gostará de dormir aqui? — perguntou-lhe, tendo a certeza da resposta.— Você estará lá? — Christopher apontou para o quarto onde Richard depositara as malas dela.

— Sim, e seu pai ficará do outro lado do corredor.Christopher subiu na cama e começou a pular, feliz com seu novo quarto.Hope sorriu e notou que Richard também sorria. Enfim, sentia-se mais aliviada. Vê-lo com um semblante

ameno tornava as coisas menos difíceis.— Então, onde deseja jantar? — A pergunta de Richard pegou-a de surpresa. — Há um ótimo restaurante

de comida italiana bem perto daqui.— É uma boa ideia.A caminho de casa depois do jantar, Christopher não resistira ao dia agitado e adormecera.

Ao chegarem, Hope pegou-o no colo e o colocou na cama. O menino resmungou um pouco, mas logo caiu em sono profundo.

Richard permanecera na sala. Ao descer a escada, ela se sentiu um tanto tímida. Enfrentaria seu primeiro desafio.

— Parece que ele adorou o novo quarto.— Espero não ter exagerado.

Obviamente o comentário tinha tudo a ver com o episódio na loja de brinquedos.— Richard, desculpe-me sobre o que disse...Apoiando a mão na parede ao lado dela, ele a interrompeu.

— Pensei sobre aquilo e sou obrigado a concordar. Comprar presentes para Christopher não me transformará em um verdadeiro pai. Tenho o pressentimento de que errarei muito até conquistá-lo da forma correta.

Hope sorriu, sentindo o coração bater acelerado com a proximidade dele.— Vamos deixar que o tempo se encarregue disso.

— Sim. — Ele se afastou, deixando-a completamente perdida.— Estarei no escritório se precisar de algo.

A frustração dela não tinha como ser ocultada.— Mas... achei que pudéssemos conversar...

Bem, creio que não temos muito a falar.— Poderíamos ao menos brindar a um futuro promissor.

— Hope... — Ele suspirou. — Estou cumprindo meu papel, não me force a aceitá-la como se tivesse esquecido o passado.

Em um ímpeto, ela pegou seu braço.— Você não queria filhos, como pretendia que eu agisse? Tentei fazer o que era melhor para nós.— Mas decidiu sozinha. Então, por que voltar atrás depois de tanto tempo? Talvez porque não

tivesse mais como viver à própria custa.— Não! — Os olhos estavam marejados. — Está sendo cruel comigo. Sabe que eu não seria

mesquinha a esse ponto. Além do mais, tenho capacidade suficiente para dar todas as condições para meu filho. Depois de perder meu pai... bem, compreendi como é importante a relação familiar e a figura paterna.

— E achou que eu não estava disposto a manter essa relação com meu próprio filho?— Eu não sabia.— Ora, então não me conhecia direito.— Talvez não.

— O mesmo posso dizer a seu respeito. Nunca pensei que pudesse esconder algo tão importante de

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mim.— Desculpe-me.— Desculpas não me farão recuperar os anos que se passaram.— O que posso fazer?— Essa é a questão: não há nada que possa fazer.

Hope teve de se esforçar para não demonstrar seus sentimentos. Estava mais do que claro que Richard não a queria como mulher.

— E você acha que podemos continuar casados?— É a única maneira de darmos uma família para Christopher.— E nossos sentimentos não valem nada?— Apenas o que sinto por ele.

Lutando contra as lágrimas, ela tentou pela última vez uma aproximação.— Ao menos deixe-me ser sua amiga.— Confio em meus amigos, Hope.Mais uma dura constatação: Richard não confiava nela.

— Tomo o café da manhã às oito. Esse horário está bom para você?— Sim, Richard.

— Fiz compras no supermercado, mas, se acha que precisa de algo, basta me falar para que seja providenciado.

Como ele conseguia ser tão frio e calculista em uma situação tão delicada?Faíscas se cruzavam nos olhares.

E inesperadamente, ele afastou, com a ponta dos dedos, uma mecha de cabelos que insistia em cair sobre a testa de Hope.

— Esqueci-me de dizer que seu vestido era maravilhoso.A atitude a surpreendera e sua vontade era se afastar depois de tanta humilhação. Mas implorava no

fundo de seu coração para que ele a tomasse nos braços e a beijasse. Porém, o encanto se quebrou com a voz masculina anunciando:

— Vejo-a pela manhã.Hope ficou imóvel e o observou se afastar. Teria cometido um erro voltando a fazer parte da vida de

Richard?

CAPITULO IV

— Mamãe! Mamãe!. Hope se levantou e correu até o quarto do filho.

— O que aconteceu, meu amor?A luz do corredor foi acesa, e Richard surgiu na porta. Ele encostou no batente e apenas observou a

cena. Christopher abraçou sua mãe fortemente.— Quero dormir com você.— Tudo bem, mas pode me dizer por quê? Teve um pesadelo?— Não... apenas quero dormir com você.

— Tem certeza de que está bem? — ela insistiu. — Está com medo de dormir sozinho?— Sim.— Mas seu urso está aqui.— Quero você, mamãe, por favor.Hope afastou os cabelos dos olhos de Christopher.— Que tal se eu dormisse aqui com você?

Christopher pôs o dedo na boca e respondeu:— Tudo bem, mas posso dormir com o Dino também?

Richard atravessou o quarto, pegou o boneco e o pôs ao lado do filho. Foi então que Hope percebeu a situação delicada em que se encontravam. Lá estavam eles no quarto de Christopher, em trajes íntimos, na noite de núpcias. Ela falou com' dificuldade:

— Estamos bem. Se quiser, pode voltar para seu quarto.Richard se aproximou do filho.

— Christopher, quer que o papai vá embora?— Pode ir, papai.

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Richard sorriu.Está bem, vejo-os pela manhã.Assim ele deixou o quarto. Hope se acomodou ao lado do pequeno.

—Boa noite, mamãe — ele murmurou.Hope o beijou, e ambos acabaram adormecendo.

Quando abriu os olhos novamente, já eram quatro horas da manhã. Com gestos delicados para não acordar Christopher, Hope levantou-se e caminhou em direção a seu quarto. Foi então que percebeu uma figura esguia atrás de si.

— Não queria assustá-la — Richard disse.— Não esperava que ainda estivesse acordado.— Ouvi você sair do quarto de Christopher.— Mas não fiz barulho.

— Meu sono é muito leve. Você sempre dá a Christopher o direito de escolha?— Como assim?

— Pensei que ele iria querer dormir em seu quarto, mas você lhe deu outra opção.— Chris está ficando mais independente. Se fizer suas escolhas, ficará satisfeito com elas. Foi uma

maneira que encontrei para evitar pequenos conflitos.— Não o imagino desacatando suas decisões.

— Você terá muitas surpresas ainda. Crianças que não são atendidas tornam-se verdadeiros monstrinhos.

— Acho que tenho sido mais um colega para brincar do que um pai. Tentarei prestar mais atenção. Ainda me lembro da época em que Davie tinha... — Ele parou a tempo de mudar de assunto. — Observo como conversa com Christopher e a maneira como o trata. Você é uma mãe perfeita.

— Meu melhor exemplo é minha própria mãe.— Sente muito a sua falta, não é?

— Sim. — Era o máximo que tinha condições de responder.Richard fitou-a mais uma vez.

— Acho melhor voltar a dormir.Hope não deu um passo sequer enquanto ele se dirigia para o quarto.— Devo deixar a luz do corredor acesa? — perguntou, parado diante da porta.

— Seria bom.Richard sentia-se inseguro. Hope o estava fazendo perder a cabeça e isso não poderia acontecer.

Dessa vez, não permitiria que Hope reconquistasse seu coração. Depois de tantas experiên-cias frustradas, aprendera a lidar com seus sentimentos e manter afastados todos que, de uma forma ou

de outra, o ameaçavam.Perdera os pais quando ainda era criança e sofrera muito com isso. Sim, ele amaria e protegeria seu filho,

mas não criaria uma relação íntima com Hope. Seria tratada como uma simples hóspede em sua casa. Pelo menos, tentaria manter a devida distância.

Eram oito horas da manhã quando Richard entrou na cozinha e deparou com Hope fazendo o café.— Bom dia — falou, ao notar sua presença.Ele pegou uma xícara e retribuiu o cumprimento.

— Christopher ainda estava dormindo quando eu desci — Hope informou, não sabendo o que mais poderia falar.

— Quando o vi, pareceu-me que estava em sono profundo.Hope não sabia se continuava com aquela conversa que parecia não chegar a lugar algum ou se mudava o assunto. Após alguns segundos, ficou pela segunda opção.

— Quer ovos mexidos?O silêncio era pior do que se ele simplesmente tivesse negado sua oferta.

— Não, obrigado — respondeu, enfim.— Tem algum compromisso para hoje à noite? — Hope reuniu todas as forças que tinha para manter a

calma e a conversa em um tom cordial.— Não. Por quê?

— Tenho de ir para a casa de minha mãe, para uma última vistoria. Não devo demorar, e posso levar Christopher comigo ou posso deixá-lo aqui com você.

Richard olhou para a xícara e depois levantou a cabeça.

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— Gostaria que eu fosse junto?. — Faria isso?

Richard tomou um gole de café antes de responder.— Estamos casados, Hope. Se quiser que eu vá, irei.— Gostaria muito. Depois do almoço está bom?

— Está ótimo. — Levando sua xícara consigo, Richard foi para o escritório. — Avise-me quando quiser sair.

Hope estava boquiaberta. Ela não sabia o que fazer ou qual atitude deveria tomar diante de cada situação. Mas Richard, ao contrário, demonstrava segurança em cada palavra que dizia, como se o casamento deles tivesse regras que só ele conhecesse.

Hope estava com o filho na tarde do dia seguinte, quando ouviu vozes no andar inferior. Reconheceu-a como sendo de Jane e, como queria conversar com ela, desceu a escada. Mas parou diante da porta, sem coragem de avançar um passo mais.

Os dois amigos conversavam e riam como Hope nunca tinha visto antes. Em um gesto de camaradagem, Richard colocou uma das mãos sobre o ombro feminino. Mesmo sabendo que Jane e Adam se amavam, Hope não pôde evitar uma ponta de ciúme. Desde que voltara, Richard jamais lhe dedicara um gesto de ca-rinho. O rosto enrubesceu de imediato, o que teve de disfarçar quando Jane notou sua presença.

— Olá — cumprimentou, amigável. — Passei para pegar alguns trabalhos que posso terminar em casa.O sorriso de Jane era simpático, o tom de voz, acolhedor e sem nenhum sinal de maldade. O olhar de Hope

dirigia-se para a mão de Richard, que ainda se encontrava sobre o ombro de Jane. Percebendo, ele logo se colocou atrás da mesa.

— Hope, que tal sairmos um dia desses para fazermos compras juntas? Ou então podemos jantar fora — o convite parecia sincero.

— Adoraria, seria uma boa ideia.— Verei quando Adam poderá cuidar de Matheus. Ele não gosta de chamar uma babá a não ser que seja

mesmo necessário.— Onde está Matheus?

— Com o pai. Ele tirou o dia para cuidar dos filhos. — Jane arrumou suas coisas, preparando-se para partir. — Tenho de ir agora. Vamos fazer um churrasco hoje e prometi a Adam que compraria alguns doces para sobremesa. — Ela pegou a bolsa e dirigiu-se à porta. — Aguarde uma ligação minha.

Assim que a porta se fechou, Hope fez um comentário:— Ela me parece muito, gentil.— Posso lhe garantir que Jane é muito mais do que isso.

O que ele queria dizer com tanta segurança?— Adam e ela são casados há muito tempo?— Faz três anos.— Você a conhecia antes se casarem?— Por que tantas perguntas, Hope?— Apenas curiosidade.

— Conheci Adam primeiro — ele respondeu, não acreditando no motivo apresentado. — Em que está pensando?

— Nada em especial. E que vocês, Jane e você... parecem tão... íntimos.— Trabalhamos juntos e somos grandes amigos, essa é a verdade.— Entendo.— Gostaria que fosse mais clara em suas observações. — Richard parecia um pouco

irritado.Hope se comprometera a nunca mais ocultar seus sentimentos de Richard, se quisesse ter com ele um

relacionamento sincero. Mas admitir que o sentira quando chegou ao escritório seria muito difícil.— Parece-me que Jane é a mulher perfeita a seus olhos. Dá a impressão de que se sente muito bem ao

lado dela.—Digamos que ela faz as pessoas se sentirem bem.

Richard não estava sendo claro em suas palavras, o que a obrigava a ser mais incisiva:— Por acaso, incomodou-se quando eles se casaram?— Adam é meu melhor amigo.— Não respondeu minha pergunta — ela insistiu.

— Não. — Adam e Jane foram feitos um para o outro. Ninguém poderia interferir no relacionamento

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deles.Hope ainda não se dera por satisfeita.—Sente-se atraído por ela?

Sua voz mudou de tom.— Droga, Hope! Por que o interrogatório? Não há nada entre mim e Jane. Além do mais, estou casado

com você.— O que nada significa para você. — Suas palavras não poderiam ter sido mais duras.Mesmo ofendido com o que acabara de ouvir, Richard tentara manter a calma; afinal, até então ele

realmente não dera nenhuma demonstração de que estava satisfeito com aquela situação.— Como já lhe disse, Jane é minha colega de trabalho e amiga. Gosto dela, pois é uma pessoa fácil de se

relacionar, sincera, honesta e consegue entender muito bem as pessoas. Mas é só. Não a quero em minha cama. Não desejo que ela e Adam se separem. Satisfeita?

— Richard, fiquei com ciúme. — Depois da confissão, ela saiu do escritório para dirigir-se à cozinha, deixando-o perplexo e sem saber o que fazer.

O jantar transcorreu em ambiente tranquilo. Pareciam dividir uma cumplicidade depois dos acontecimentos da tarde. Juntos, compartilharam da agradável tarefa de pôr Christopher para dormir.

Hope sentou-se no sofá e tomou nas mãos um livro que começara a ler na noite anterior. Richard acomodou-se em uma poltrona. Surpresa por ele não ter ido ao escritório como de costume, Hope perguntou:

— Não vai trabalhar esta noite?— Sim, mas antes preciso lhe dizer que vou viajar.— A trabalho?— Sim, parto domingo à noite.— E vai acompanhado?

Richard sorriu. Sabia, no fundo, qual a intenção daquela pergunta.— Oh, não. Jane normalmente não vai comigo. Preciso lhe dizer... Em nosso serviço, ela tem um dom muito

especial: Jane é sensitiva, então tem mais facilidade em localizar as pessoas. Nossos clientes confiam muito nela. Sei que é difícil de acreditar, mas...

— Ora, Richard, por que duvidaria de você?— Não sei, mas a maioria das pessoas não acredita em para-normalidade. Mas ela me convenceu de

imediato quando as filhas de Adam haviam desaparecido e Jane conseguiu localizá-las sem uma pista sequer. Jane é mesmo impressionante!

O entusiasmo na voz dele fez com que o brilho nos olhos azuis se apagasse.— Hope, não há motivo para sentir ciúme. Prometi que lhe seria fiel, e assim agirei.

— Está arrependido? — ela perguntou, temendo a resposta.— Estamos casados há pouco tempo para existir arrependimento.— Sinto que a única coisa que nos une é Christopher.— Infelizmente, não posso fazer mais que já faço.

Richard queria dizer que ainda não estava preparado para confiar nela, Hope sabia.Richard, agora de pé, deu alguns passos até o sofá. Seus olhares se cruzaram. Ele sentou-se a seu lado sem

pronunciar uma palavra sequer. O momento parecia propício para um contato mais íntimo. O beijo era inevitável. Os corpos se juntaram e o desejo aumentou. As mãos de Richard começaram a deslizar pelo corpo de Hope, explorando cada centímetro da pele macia. Atingiram os seios, e então ele percebeu que Hope estava extremamente excitada. Seus mamilos estavam enrijecidos. Richard continuou com as carícias. Queria redescobrir cada segredo do corpo dela.

Hope tentava desesperadamente raciocinar. O beijo fora inesperado e ao primeiro toque de Richard suas dúvidas desapareceram e suas esperanças renasceram. Talvez ele pudesse perdoá-la. Talvez tivesse entendido o porquê de ela tê-lo deixado. Mas naquele exato momento aquilo não tinha a menor importância. Hope en-tregou-se aos carinhos de Richard desejando que ele a levasse até o paraíso, onde os beijos e as carícias faziam dos corpo uma única alma. Hope não se conteve. Sussurrava o nome do homem que ainda amava, suplicando por mais.

Mas então tudo pareceu desmoronar. Richard se afastou bruscamente.—Isso é suficiente, Hope.Ela estava confusa. Até um segundo atrás tudo estava bem.

— O que há de errado? Estamos casados Richard, entendo se quer...— O que quero não tem nada a ver com isso. E, por favor, não tente usar seu corpo para derrubar as

barreiras que nos separam.

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— E como tem tanta certeza de que estou fazendo isso?— É o que estou tentando descobrir. Casando-se comigo, conseguiu segurança e um pai para seu filho.

Acha que poderá me recompensar com seu corpo?O coração de Hope se apertou. Não imaginava que a desconfiança de Richard pudesse torná-lo um homem

sem sensibilidade.— Nada que eu lhe diga mudará a maneira como se sente ou como pensa. Então, terá de descobrir

sozinho. Mas lembre-se: não fui eu quem começou tudo isso. O beijo que trocamos nada tinha de falso.Ela se levantou e subiu a escada sem olhar para trás.Ao ouvir o barulho de chave na porta, Hope deixou o tricô sobre a mesa lateral. Seis dias haviam se

passado desde a cena do beijo. Quando Richard partira, Hope começara a tricotar uma blusa para ele. Seria seu presente de Natal. Era sua forma de acreditar no futuro que poderiam compartilhar juntos. Mas, para que isso acontecesse, Hope teria de tomar algumas decisões.A primeira delas seria não tentar outra aproximação com Richard. Se ele quisesse uma relação mais

profunda, então teria de dar o primeiro passo.A segunda decisão seria procurar um emprego o mais breve possível.Richard entrou na sala e pôs sua mala ao lado do sofá.—Fez boa viagem? — perguntou Hope.

— Sim, mas o sucesso dependerá de alguns telefonemas. — Ele olhou em direção à escada. — Tudo bem por aqui?

— Sim. Christopher acabou de dormir.—Senti muito a falta dele — Richard admitiu, emocionado.

Hope decidiu falar sobre a ideia de arranjar um emprego.— Tenho um compromisso amanhã à tarde. Se quiser, pode ficar com ele.

— Aonde você vai?— Vou fazer uma entrevista em um berçário.— Entendo.

Richard teria entendido realmente que ela pretendia acabar, aos poucos, com a dependência que criara desde que voltara para Los Angeles?

— E talvez tenha de conhecer as dependências da escola, portanto, posso chegar um pouco mais tarde.— Não há problemas. Ficarei com Christopher. E não se preocupe com o jantar, providenciarei tudo.

— Mas, se tem outro compromisso, posso falar com tia Eloise.— Já disse que pode ficar tranquila — ele respondeu, com um sorriso nos lábios.

— Já jantou? Posso preparar algo bem rápido.— Obrigado. — Mas parecia nem ter prestado atenção à pergunta. Seus olhos percorriam cada palmo das

pernas bem torneadas.Hope sabia que exercia sobre ele um fascínio, e a mesma coisa acontecia com ela/Mas lembrou-se de suas

decisões e não estava disposta a abrir mão de sua dignidade.— Como o pequeno tem dormido? — ele perguntou em um murmúrio, como se estivesse tentando

desviar a atenção.— Muito bem. Sentimos muito sua falta, Richard.

Ele a fitou como se buscasse permissão para dar vazão a seus instintos.Mas Hope permaneceu impassível, sustentando o olhar firme. Ele a provocava mais e mais, com a boca,

com os gestos das mãos. Porém, não tomava nenhuma iniciativa.Não, ela deveria se retirar se não quisesse sucumbir aos desejos mútuos. Em um ímpeto, levantou-se.— Boa noite. — Saiu da sala, com passos apressados, sem olhar para trás.A tarde transcorria agradável na companhia de Christopher. Ao vê-lo brincar no balanço, Richard

refletia sobre a viagem que acabara de fazer. Em outras épocas, aquilo não passaria de uma rotina que não o incomodava. No entanto, depois de conhecer o filho, tudo mudara, e ficar ausente de casa tornara-se uma tortura.

— Papai, olhe! — O pequeno chamou sua atenção.Richard olhou para cima e sentiu o corpo gelar. Seu filho estava de pé aí. Instintivamente correu na direção dele e o segurou pela cintura.

— Não fique de pé no escorregador. Sente-se e escorregue.Os olhos de Christopher demonstraram surpresa, para, logo após, desafiá-lo.

— Não quero me sentar!— Sente-se, Christopher.

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— Não!A porta da cozinha bateu, e Hope surgiu no jardim. Ela usava um vestido da mesma cor de seus olhos e

sapatos de saltos altos, que alongavam mais suas pernas. Caminhou em direção a eles.Richard suspirou.

O comportamento do menino mudara ao ver a mãe, o que foi notado pelo pai. Foi então que ele percebeu que estava sendo testado.

— Tenho de ir, senão me atrasarei.— Pode ir — Richard disse, lançando um olhar para o filho. — Ficaremos bem.Hope sentiu algo no ar, mas preferiu acreditar nas palavras de Richard. Após um aceno, deixou-os

brincando. Os saltos faziam com que seu andar ficasse sensual, despertando nele um sentimento que queria negar a qualquer custo. Enganara-se ao pensar que a viagem servira para diminuir a atração que sentia por ela.

A duras penas, Richard conseguiu controlar os ânimos do filho, e se divertiram bastante.A noite já avançava quando Richard se viu em maus lençóis. A cozinha estava uma verdadeira

bagunça, e o pequeno gritava de fome. Onde estava com a cabeça quando afirmara que daria conta de tudo sozinho?

Mesmo quando fora casado com Mary Beth, nunca passara por tais apuros, pois sempre tinha sido o tipo de pai que se fazia presente apenas nas horas das brincadeiras. Os deveres eram deixados para a ex-esposa.

Em pouco tempo, pôde perceber que Christopher herdara dele o génio teimoso e obstinado. A criança parecia ignorar qualquer atitude sua de conciliação e de boa vontade.

Respirou aliviado quando ouviu a porta da frente se abrir, mas ao mesmo tempo temeu pela reação de Hope. O que pensaria dele diante de tamanha desorganização? Mas surpreendeu-se quando viu que a primeira reação dela foi de abraçar o filho fortemente, como se não o visse havia anos.

—Como passou o dia? — perguntou ao garoto, que estava molhado e com a boca suja de chocolate.— Tudo bem — Christopher respondeu, com ar maroto.

— Ainda não jantamos — Richard interveio. — Estou tentando preparar algo.— Vamos fazer o seguinte, meu amor: tomaremos um banho rápido, assim poderemos ajudar seu pai,

está bem?O menino concordou com um gesto de cabeça. Hope tomou-o nos braços e sorriu para o marido. Como

conseguia manter o autocontrole com tanta facilidade? Em seu lugar, teria explodido, ele admitiu.Em poucos minutos, mãe e filho estavam de volta.

— E agora, ao jantar! — ela exclamou. — Você vai para a sala brincar um pouco, e logo mais o chamarei, está bem?

Christopher parecia outra criança. Obedeceu-a sem pestanejar. Richard estava boquiaberto.— Você é incrível!

Ela riu.— Oh, nada que três anos de experiência não resolvam.

— Bem, eu poderia começar desde já, e nem em cem anos seria capaz de superá-la.— Não exagere. Aos poucos perceberá a força e as fraquezas de um garotinho.Discorreram sobre métodos de educação e riram muito ao descobrir como uma criança tem a capacidade

de dominar os adultos desde pequeninas.— Hoje descobri como cada uma é diferente da outra — ele comentou.

— Christopher o faz lembrar de Davie, não é? — Hope perguntou delicadamente, para não feri-lo.— Sim, mas, apesar da semelhança física, são crianças completamente diferentes.

O silêncio pairou no ar.Richard tomou consciência de que Hope poderia tê-lo bombardeado com críticas a respeito de suas

opiniões, mas ela preferiu se calar.— Não conseguiria nunca igualar-me a você. — Ele mudou de assunto.— Bobagem! As vezes, Chris também me tira do sério. — Hope estava sendo gentil, ele sabia. — Pelo

menos, a casa ainda estava de pé quando cheguei.Ambos riram da observação. Richard se sentiu à vontade para aproximar-se dela e sentir o perfume

feminino. Estava surpreso com a leveza de seus movimentos e com a desenvoltura que tinha adquirido na cozinha. Em pouco tempo, tudo estava em ordem, e ela, impecável.

Hope, por sua vez, sentia-se contente por estar desfrutando de momentos tão agradáveis. Enfim, estavam conversando como um casal de verdade.

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A proximidade dos corpos fez com que tremesse da cabeça aos pés. Richard não se intimidou, e seus lábios quase encostaram nos dela.

— Este é mais um teste? — ela perguntou, em um murmúrio.Ele levantou a cabeça.— Ponto para você. — Afastando-se, frustrado, Richard tentou se recompor. — Colocarei os bifes na

frigideira.Mesmo arrependida de suas palavras, Hope estava consciente de que agira de forma correta. Deveria

reconquistar a confiança e o respeito dele, e só conseguiria aquilo à custa de muito sacrifício, nem que para isso tivesse de amargar a frustração do desejo não satisfeito.

Horas mais tarde, Christopher se deitava na cama. Richard estava a seu lado, contando uma história. Hope ficara na varanda, descansando.

Em pouco tempo, ele estava a seu lado, recostado na grade. Hope não esperava por sua companhia.— Como foi a entrevista?— Agradável. A vaga já é minha.— Gostaria que não aceitasse o emprego.

— Não sei se seria correto. Quero contribuir no pagamento das despesas.— Posso fazê-lo sem problemas — ele afirmou. — A não ser que tenha outros planos.

— Como por exemplo...— ...poupar para quando quiser partir — Richard completou.

— Isso não passou pela minha cabeça. Ou quer me dizer que prefere me ver longe daqui?— E claro que não! Assumi uma família e a responsabilidade de cuidar dela.

— Sim, mas tenho minha parcela nessa relação.— Sua responsabilidade maior é educar nosso filho. — Richard estava sendo categórico.Ela não queria se ver dependente financeiramente dele ao mesmo tempo que sabia que ele ficaria ofendido

se aceitasse o emprego.—Dê-me um tempo para pensar — ela pediu.

Não se esqueça de que Christopher vem em primeiro lugar. — Richard se afastou da grade e aproximou-se dela. Em vez de irritada, sua voz soou suave. — Quando decidir, tente pensar em seu filho e não no que está acontecendo entre nós.

Mas se nem ela sabia definir o que havia entre eles, como poderia levar aquela união em consideração? E Christopher estava acima de tudo, desde o dia em que soubera que estava grávida.

CAPITULO V

Era sábado e, como de costume, Richard jogava I basquete com Adam no Centro Comunitário.— Jogando sério hoje? — perguntou Adam.

Richard estava atento, esperando pela melhor oportunidade para roubar a bola de seu adversário.— Sempre jogo para ganhar.Adam tentou o arremesso, mas foi impedido pelo adversário.

— Proponho o seguinte: você ganha e vamos descansar. — Adam repousou as mãos sobre as coxas, pois estava exausto.

— O que há? Está velho demais para uma boa partida?Adam roubou a bola de Richard e comentou:

— Você jogou com Oscar, Lorenzo e Joe antes de eu chegar aqui.Era hábito de Richard frequentar o Centro Comunitário, o lugar que o tinha salvo das ruas quando jovem e imprudente.— São adolescentes que não têm técnica alguma. Com você preciso usar a cabeça, além do esforço

físico.— Então, como vai o casamento? — O amigo mudou drasticamente de assunto.

— Bem... Estamos cuidando de Christopher com muito carinho.— Vinte e quatro horas por dia? Inclusive depois que ó garoto dorme?Richard encolheu os ombros, mas não ousou admitir que não era capaz de ficar em seu escritório sem

pensar em Hope.— Tenho me dedicado muito a ele. Conviver com uma criança exige muita dedicação. — Richard

lembrou-se do dia em que quase perdeu o controle da situação. — E Christopher também está aprendendo a conviver comigo.

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Adam sorriu.— Se você quer dizer que está tentando ignorar o fato de estar casado com uma mulher bonita e

inteligente, esqueça!Richard devolveu a bola para o amigo e se afastou. Olhou para o prédio, que precisava de uma reforma,

depois desviou o olhar para os adolescentes nas outras quadras.— Não há muitos jovens aqui hoje.

Adam não aceitou a mudança de assunto.— Você não pode fugir de seu casamento.

Richard sabia que seu amigo não desistiria.— Fugir? Estou tentando torná-lo o melhor possível — Richard retrucou.Adam persistia para tentar ajudá-lo, mas o efeito estava sendo justamente o contrário.— Já considerou como a morte de Davie tem afetado você? — Adam indagou, com olhar sério.

O silêncio tomou conta dos dois amigos durante um tempo.— Claro que sim. Sua morte foi o motivo pelo qual desisti de ser policial e também a razão do fracasso de

meu primeiro casamento.— Mais do que isso, tornou-se uma pessoa incapaz de confiar em alguém. Na época em que era

policial, fazia tudo guiado por sua coragem, sabedoria e experiência, mas, quando o assunto era Davie, parecia que perdia o controle da situação.

— Então aonde quer chegar?— Tem medo de se envolver sentimentalmente. Cria barreiras entre você e as pessoas que mais ama.— Eu me entreguei uma vez a Hope — Richard murmurou, lembrando-se da noite em que ela o

chamara com volúpia.— Está dando a ela uma chance agora?

Richard esqueceu as recordações.— Outra chance para me destruir de novo? Acho que não. Não sou tão inocente.— Sei disso. Está bravo, pois teve de amadurcer muito rápido. A morte de sua mãe, a morte de Davie, o

fim de seu casamento, Hope o abandonando às vésperas da cerimónia. Aonde esse ódio vai levá-lo?— Não é ódio, apenas estou me protegendo. Não se preocupe comigo, pois conheço as regras, e Hope

também. Estamos tentando chegar a uma convivência pacífica, e futuramente conseguiremos.Adam o driblou.—O Natal está chegando — lembrou o amigo.O comentário parecia totalmente fora do contexto.— E daí?

— Talvez lhe traga a paz que tanto procura. Talvez lhe traga até mais.Richard não teve tempo de responder, seu amigo se adiantara e marcara um ponto.A campainha tocou naquela tarde de domingo. Como Richard estava no quarto com o filho, Hope achou

melhor atender à porta.Diante de seus olhos estava um homem alto, por volta de seus sessenta anos.

— Olá, senhorita. Deve ser a jovem que me deixou a mensagem.— Não, eu...Ele pareceu não se importar, pois sorriu e continuou a falar:

— Estava viajando a negócios e cheguei hoje de manhã. Desculpe-me incomodá-la, mas não pude esperar até amanhã para conversar com Richard.

— Por que não entra?— Meu nome é Harv. — Ele tomou a mão de Hope entre as suas e a cumprimentou. — O recado dizia

que Richard conseguiu uma pista sobre o paradeiro de Bernardette. Não acredito que, após tantos anos, irei revê-la. Imagine, não sei se Richard lhe contou, mas nós éramos namorados na faculdade.

Não parecia importante que Hope não fosse a pessoa que deixara a mensagem para Harv. Ele a estava confundindo com Jane. O senhor parecia tão ansioso sobre o que Richard havia descoberto que nada mais parecia ter valor.

— Estudávamos em Houston — ele continuou. — Quem poderia imaginar que Richard iria achá-la em Santa Mônica?

— Há muito tempo está à procura dela?— Na realidade, não. Mas a culpa é toda minha. Enquanto estive na Marinha, recebi várias cartas, mas não

respondi uma sequer. Era um jovem tolo. Depois, a vida foi tomando um rumo completamente diferente, e então me dei conta de que sentia a falta dela.

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— Estou contente que tenha progredido em sua busca.— Sou viúvo há sete anos e espero que ela também esteja livre.— Espero que a encontre.— Se isso acontecer... Ela é tudo de que preciso.

— Sei que Richard é bom no que faz. Deve ter uma boa notícia a lhe dar.— Boa tarde, Harv. — Richard viera por trás de Hope sem que ela notasse sua aproximação. —

Vamos para meu escritório.Seu tom de voz demonstrava que queria ficar a sós com o homem, no que foi prontamente atendido.— Foi um prazer conhecê-lo, sr. Harv. Espero que tenha sucesso em sua busca. — Após os

cumprimentos, ela saiu para a cozinha.Pelo olhar que Richard lhe lançara, algo estava por vir.Escutou a porta se fechar depois que o marido se despediu do senhor.— Não deveria ter falado daquela forma com Harv.

—Desculpe-me? — As sobrancelhas franzidas demonstravam assombro.Richard manteve a distância, com as mãos no bolso.— Harv é meu cliente.— Sei disso.— Dou a meus clientes fatos, e não esperanças.

— Não estou entendendo. Ele disse que você tinha uma pista e que sabia que Bernardette estava em Santa Mônica...

— Sim, tenho uma pista, mas é só. Você o deixou esperançoso, e agora ele acha que ficarão juntos. Mesmo que eu a encontre, e se ela não quiser nada com ele?

— Harv não mudou de comportamento desde o momento em que abri a porta. Tudo o que fiz...— Foi lhe dar mais esperanças. Tenho meu negócio e obedeço certas regras, portanto, não se intrometa

em meu serviço.Aquilo era demais, não poderia permanecer calada.

— Como pode dizer isso para mim, se se acha no direito de se meter em minha vida e sugerir para eu não aceitar um trabalho? Isso parece sensato para você?

Richard manteve sua posição.— Não misture as coisas. A educação de Christopher depende de sua permanência em casa.

Hope teve vontade gritar, mas se conteve.— Talvez seja melhor que faça uma lista com os assuntos sobre os quais me permita dar opiniões.

— Não seja tola!— Pare para pensar antes de me recriminar.

— Tenho um negócio e preciso zelar por ele, apenas isso. Meu futuro depende de meus clientes e, se eu os enganar, tudo estará perdido.

— Tudo o que fiz foi conversar.— Tudo o que fez foi interferir, isso sim! Tive de trazer Harv de volta à realidade.

Ela voltou a preparar o jantar.— Tudo bem, ficarei longe de seus clientes. E quando a campainha tocar, só a atenderei com sua permissão,

estamos combinados?— Hope...

Ela não desviou mais a atenção de seus afazeres. O telefone tocou, e Richard hesitou em atender. Mas a insistência fez com que se retirasse dali.

Mais uma vez, a conversa havia acabado em discussão. Que tormento! Mas ela não desistiria. Iria até o fim no sonho de vê-lo amando-a novamente.

Em seu escritório, Richard analisava os papéis referentes ao caso Harv e concluiu que parecia um pouco mais complexo do que pensara.

Ele tentava se concentrar no assunto, mas qualquer barulho desviava sua atenção. Agora era a campanhia do forno e os passos de Hope a subir a escada, indo acordar o filho.

Não queria admitir, mas ela o tirava do sério. Tentou em vão convencer-se de que seu mundo deveria girar em volta do escritório e de Christopher. Ela o perturbava a ponto de mexer com seus hormônios havia muito adormecidos.

De repente, desligou o computador e foi até o quarto de Christopher.O menino acabara de acordar. Hope estava sentada na beirada da cama recolhendo os livros espalhados.

Antes de Christopher dormir à tarde ela o deixava olhar seus livros favoritos. Richard se admirava da

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maneira como Hope ensinava e preparava seu filho para o futuro, a maneira como o fazia adquirir bons hábitos e despertar sua curiosidade para tarefas educativas, sem que a própria criança percebesse.

Finalmente Christopher bocejou e foi para o colo da mãe.— Mamãe, e seu sorriso?

A pergunta do garoto fez um sentimento de culpa se alastrar pelo peito de Richard. Era da natureza dela ser alegre, especialmente com Chris. Mas, naquele exato momento, parecia triste, e Richard desconfiou que tinha algo a ver com a conversa deles.

Ele entrou no quarto e não esperou Hope responder. Sentou-se ao lado de Christopher e murmurou em seu ouvido:

— Acho que ela o esqueceu lá embaixo na cozinha ao lado da comida. Quer que eu vá buscar?— Sim.— Tudo bem, volto logo, então.

Richard correu para a cozinha e pegou uma panela. Depois subiu a escada correndo, entrou no quarto e pôs a panela na frente de Hope.

—Aqui está, senhora, seu sorriso. — E abriu a tampa.Havia muito ele não parecia tão divertido. Na realidade, esquecera-se de como era bom agir

descontraidamente.Hope não pôde fazer nada, a não ser rir da brincadeira.

— Olhe que sorriso bonito! — disse para Christopher. Colocando a panela no chão, Richard se curvou diante dela. — Desculpe-me. Também senti falta de seu sorriso.

Ele se dera conta de como suas palavras a atingiram.Três dias depois, estavam sentados no sofá da casa de Jane. Christopher mantinha-se inerte ao lado

mãe.— Estou fazendo um chá de ervas — disse Jane, amigável.— Obrigada por ter nos convidado para jantar.

Adam e Richard estavam em uma reunião no Centro Comunitário. Jane os convidara para a refeição em sua casa, assim poderiam conversar à vontade, e as crianças brincariam um pouco. Logo após o jantar os menores dormiram, cansados.

Hope necessitava mesmo de uma amiga, e Jane demonstrava ser a pessoa ideal, mas poderia confiar nela sendo tão amiga de Richard? Resolveu tentar.

— Richard lhe disse algo sobre nosso casamento?— Não muito. Aliás, ele pouco fala sobre o assunto. Sei apenas que você o abandonou tempos atrás e

que agora voltou com um filho.— Estou surpresa de você ser gentil comigo. Afinal, é amiga de Richard.

Jane sentou-se na frente dela.— Não costumo julgar as pessoas. Todos cometemos erros, normalmente acidentais.

— Adam não concorda com nosso casamento, não é?— Adam queria que Richard tivesse certeza do que estava fazendo.— Ele sempre sabe o que faz — murmurou Hope.

Jane sorriu.— Acredita naquela postura de super-homem que ele adota?

Hope suspirou.— Bem... às vezes, sou obrigada a isso. Na verdade, Jane, gostaria que me ajudasse.

— E como fazer isso?— Richard contou-me sobre... seus dons sobrenaturais.— E então...— Consegue ver algum futuro em nosso relacionamento?

— Deixe-me explicar, Hope — ela disse, de forma gentil. — Minha percepção é quanto ao presente, vibrações que me são transmitidas no momento. E entre vocês sinto uma força muito grande que os mantém unidos.

— Christopher...— Além dele, algo mais profundo.

— Talvez seja o motivo que ao mesmo tempo nos afasta. Não consigo fazê-lo entender por que me afastei no passado.

— Hope, dê-lhe um tempo. E muito amor. E se, mesmo assim, Richard não entender, então, sim, deverá ser radical em relação a vocês.

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— Como pode ter tanta certeza disso?— Isso não tem nada a ver com sensitividade. Adam e eu também tivemos problemas em nosso

casamento, que apenas supera mos com muito amor e confiança.— Pois falou a palavra-chave: confiança. — Hope sentia-se à vontade para falar.Conversaram durante muito tempo até que o telefone tocou. Depois de alguns minutos, Jane colocou o

fone no gancho e foi atender à porta. Adam e Richard haviam retornado.— Ainda bem que voltaram. — Jane suspirou aliviada diante dos olhares preocupados.

— O que houve? — perguntou Adam.— Estava conversando com Hope quando o telefone tocou. Era um advogado de Phoenix, que está à

procura da filha. Ele soube que ela está muito doente, à beira da morte. Quer saber se podemos atendê-lo, antes que seja tarde demais.

— Vai aceitar? — perguntou Adam.Jane olhou para Richard e respondeu:

— Sim.— Quando quer partir? — indagou Richard.— O que acha, Adam? — a esposa lhe perguntou, aflita.

— Bem, posso trabalhar em casa para tomar conta de Matheus. Se tiver alguma emergência no escritório, ligarei para a sra. Haynes.

— Tem certeza?Adam abraçou a esposa.

— É claro!Hope olhou para Richard.— E melhor voltarmos para casa, assim poderá arrumar as malas.— Christopher está dormindo?— No sofá.— Vou pegá-lo.Entraram no carro após as despedidas.Richard não desviava sua atenção da estrada.

— Não sei quando voltarei — disse, com as mãos fortes ao volante.— Não se preocupe, estaremos bem.

— Não me sinto confortável por ter de deixá-los novamente. — Ele hesitou. — Assim que chegarmos ao nosso destino, ligarei dando-lhe um número para contato.

— Christopher e eu estamos acostumados a ficar sozinhos. — Havia um tom de tristeza naquelas palavras.

— Mas vocês não estão mais sozinhos.Será que ela ouvira bem e seu marido parecia preocupado com eles?Enquanto Richard arrumava as malas, ela levava o filho para a cama.Lembrou-se de algumas roupas que estavam na lavanderia. Talvez Richard precisasse delas.

Voltou ao quarto dele com as roupas empilhadas nos braços.— Escrevi o número do telefone do hotel onde vou ficar — ele avisou. — Caso eu não esteja lá, deixe

recado. Se possível, a recepcionista terá um número de contato.Estaria ele tão preocupado em mantê-la informada sobre seu paradeiro? O que esperava? Que

desaparecesse de novo? Com cuidado, dobrou algumas peças de roupas e as entregou a Richard. Ao fazê-lo, suas mãos se tocaram, criando um clima de intimidade. Seus olhares se cruzaram, mas Richard não fora capaz de sustentar. Desviou sua atenção e tornou a arrumar a mala.

— Esperarei por você para fazermos as compras de Natal —Hope disse, tentando amenizar o mal-estar. Ao observá-lo manipular as roupas, não pôde deixar de se lembrar das vezes em que aquelas mesmas mãos a acariciaram no passado. — Sentirei sua falta.

Richard sorriu, mas não queria alimentar falsas esperanças.— Não se esqueça de ligar o sistema de segurança à noite ou quando sair.

— Sim.— E se se esquecer do código...

Ela não se recordava de tanta preocupação quando ele viajara na semana anterior.—Não se preocupe, Richard, minha tia poderá me ajudar.

Obviamente, cometera um erro confessando-lhe que sentiria sua falta, mas sentiu necessidade de fazê-lo.Tempo. Era do que precisavam.

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— Tome o café da manhã conosco, assim Chris poderá se despedir de você. — E para evitar que seus sentimentos a traíssem, Hope preferiu se retirar para seu quarto.

Lá, sentou-se diante da penteadeira. Observou o móvel demoradamente e lembrou-se dos cuidados de Richard.

— Ele se preocupa conosco — ela murmurou, com um leve sorriso nos lábios."Sentirei sua falta". As palavras doces de Hope ecoavam em sua mente, fazendo o corpo estremecer.

Cada dia era uma nova batalha para manter-se afastado dela, para impedir que o desejo tomasse conta dele.Richard refle tia enquanto olhava pela janela do avião. Seu coração palpitava sempre que se lembrava

dela, e deixá-los em Los Angeles tornava-o mais amargurado. Era como se Hope significasse para ele um porto seguro, a tranquilidade com a qual poderia contar sempre que estivesse a seu lado. Mas não, não suportaria sofrer novamente. Deveria pensar em Christopher como o único motivo para sustentar o casamento. Não havia outra razão para manter aquela união...

Olhou para o lado e admirou-se com o semblante despreocupado de Jane, adormecida. Havia quanto tempo não dormia adequadamente? Não era para menos que se sentia tão cansado.

Hope tricotava sem parar a fim de que a blusa de Richard ficasse pronta até o Natal. Para sua sorte, achara uma camisa que combinava perfeitamente com o presente.

Quando o telefone tocou, ela se apressou a atender.— Olá — disse a voz do outro lado da linha. Havia dois dias que Richard partira, e em nenhum instante

deixara de pensar nele.— Olá. Como vão as coisas?

— Estamos no caminho certo, pelo menos é o que Jane diz. Tenho aqui o telefone do hotel onde estamos.

— Então não tem ideia de quando vai voltar?— Minha previsão é de que tudo estará solucionado em dois dias, mas são apenas hipóteses. Teria

ligado ontem se não tivéssemos chegado tão tarde. .Bem, ele poderia ligar a qualquer hora, pois não a incomodaria. Mas ela não teve coragem de falar aquilo.— Você está bem? — Hope não se conteve em perguntar, mesmo sabendo que Richard se tornava distante

sempre que demonstrava interesse por ele.— Sim. — Richard não queria falar sobre si, estava preocupado com Hope e seu filho. — Como está

Christopher?— Oh, não poderia estar melhor! Fomos ao médico, e ele se assustou com o desenvolvimento de

Chris.— Mas tudo está bem? Quero dizer, foi uma visita de rotina?

— Sim, sim — ela se apressou em confirmar. — Richard, não sei se este é o melhor momento, mas queria lhe dizer que cheguei a uma conclusão a respeito do emprego.

— E então? — ele parecia ansioso.— Pensei bem e resolvi abrir mão dele. Ficar cetn Christopher é minha prioridade. Gostaria apenas de

poder concluir meu curso. Assim, poderei lecionar quando ele não exigir mais tanta atenção. Tia Eloise poderá cuidar dele no período do dia em que eu estiver ausente.

— E muito importante para você, não é?— Você sabe que sim.

— Está bem, poderemos discutir os detalhes assim que chegar em casa.Conversaram mais um pouco, até que se despediram. Após desligar, Hope imaginou se ele não sentira

sua falta ao menos um pouco.Um barulho de chave a girar na fechadura chamou-lhe a atenção, e logo Hope estava de pé.Ao abrir a porta, os olhares se cruzaram, e Richard pôde perceber como a esposa estava deslumbrante.

Uma blusa cor-de-rosa de tricô moldava seu corpo de forma delicada, e a curva dos seios estava deliciosamente aparente.

Pensara nela a todo instante, e encontrá-la à sua espera era uma grata satisfação.— Seja bem-vindo — ela o saudou.

Richard deixou a mala cair ao lado da escada.— Presumo que Christopher esteja dormindo.

— Há mais ou menos uma hora. Se soubesse de sua chegada, estaria acordado. — E era verdade. O menino perguntava todos os dias pelo pai. — Foi bem-sucedido em sua missão?

— Oh, sim, graças a Jane!Ele teria ligado antes para avisar de sua chegada, mas mal tivera tempo, pois estivera preocupado em tomar o

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primeiro avião de volta ao lar. Lar... Agora aquela palavra tinha um significado para Richard.Hope se aproximou.

—Richard... — Sua voz estava mais sensual.Ele preferiu se afastar, para não fazer algo do qual se arrependeria mais tarde. Subiu a escada com

pressa.— Vou tomar um banho, estou cansado — ele disse. — Não espere por mim para o jantar.Não havia dúvida de que Richard estava fugindo, o que a deixou bastante transtornada. Se ele desejasse,

prepararia seu banho e um jantar especial, mas preferiu recuar. Manteria sua postura, nem que aquilo lhe custasse frustração após frustração.

Decidiu fazer a refeição sozinha quando um barulho chamou-lhe a atenção. Correu a seu encontro e assustou-se com o que estava diante de seus olhos.

—Richard, o que aconteceu?!

CAPITULO VI

Curvado, as mãos nos joelhos, Richard estava pálido e com a respiração ofegante. Quando Hope pousou a mão sobre o ombro dele, sentiu os dedos queimarem. Assustada, envolveu-o pela cintura.

— Richard! Você está pálido, deixe-me ajudá-lo.— Tudo bem — respondeu com dificuldade.

A passos lentos, chegaram ao sofá, onde ele logo se deitou. Ajoelhada a seu lado, Hope tocou a testa quente, como sempre fazia com Chris. Ele ardia em febre.

— O que está fazendo? — perguntou Richard, enquanto ela tirava seu pulso.— Tive treinamento de primeiros socorros. Por favor, fique quieto. — Os batimentos cardíacos estavam

acelerados. — O que está acontecendo, Richard?Ele deu de ombros, parecendo arrependido por tê-la a seu lado.—Sinto-me um pouco cansado, é só isso.— Sua garganta está doendo?

Fitou-a, abismado.— Como sabe?

— Sua voz está rouca — respondeu, com firmeza. — Um momento, vou pegar o termómetro.— Não é necessário!— Não seja teimoso, precisamos saber o que você tem.

Richard não discutiu. Não sabia se porque não tinha forçasou porque de nada adiantaria detê-la. Na realidade, se sentia debilitado.Sem mais demora, Hope foi até o armário onde guardava seus remédios. Delicadamente, introduziu o

termómetro na boca de Richard, e seus dedos tocaram de leve os lábios masculinos, o que a fez recuar.— Vou fazer um pouco de chá enquanto medimos sua temperatura — disse, um pouco tímida. — Se a

febre estiver alta como suspeito, terá de ingerir muito líquido.— Mas eu odeio chá — ele resmungou como uma criança.

— Sinto muito, mas não há nada melhor para deixá-lo hidratado, sobretudo se for um chá de ervas. Assim, seu estômago agradecerá.

— Como sabe que meu estômago está ruim?— Porque não suporta nem ao menos olhar para a comida, o que é incomum em se tratando de você —

respondeu com um leve sorriso nos lábios. — Agora, fique quieto até eu voltar.Hope sabia que lidar com um adulto doente era pior do que com uma criança, que poderia ser

comandada sem grandes problemas, como Christopher.Com uma xícara na mão, retornou da cozinha em poucos minutos. Colocou a bebida sobre a mesa lateral

e foi logo pegando o termómetro. Seus olhos se arregalaram ao ver a temperatura: quarenta graus.Temendo pelo pior, Richard tomou o objeto das mãos dela.— Não pode ser! — admirou-se.

— E por que não? Deve ter contraído algum vírus. Se a febre não ceder até amanhã, chamaremos um médico.

— Não preciso de um médico!— Bem, então terá de colaborar.— O que quer dizer com isso?— Quero dizer que deve fazer o que eu mandar.

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— Ora, não exagere! — ele ponderou. — Uma boa noite de sono resolverá meu problema.Para provar o que dizia, sentou-se no sofá. Mas a dor no corpo era muito forte, e ele não resistiu por muito

tempo: voltou a se deitar, colocando as mãos na cabeça.— Agora entende o que quero dizer, Richard? Sem dúvida, dormir lhe fará muito bem, mas terá de beber

muito líquido, e talvez até um banho frio o deixe mais relaxado.Ele a fitou de soslaio, como se desaprovasse a sugestão.

— Bem, deixe-me ajudá-lo a subir a escada — ela se prontificou, solícita.— Tudo bem — respondeu, sem replicar.

Hope observou um pequeno progresso naquele gesto. Mas Richard não tinha mesmo como recusar a ajuda, pois, ao se levantar, tudo pareceu girar a seu redor. Notando sua dificuldade, Hope não hesitou em envolvê-lo pela cintura, suportando todo o peso daquele corpo.

Em outras circunstâncias, aquela proximidade poderia causar certo constrangimento, mas naquele momento sua atenção estava concentrada em aliviar sua dor.

—Podemos subir? — ela perguntou.—Sim.

Degrau após degrau, chegaram ao piso superior, quando ele se apoiou na parede para descansar.—Você está bem? — indagou Hope.

Recuperando o fôlego, Richard respondeu afirmativamente com um gesto de cabeça.A pausa também havia sido providencial para ela, pois seu corpo frágil sofria um pouco por ampará-

lo.Ao chegarem ao quarto, Richard nada fez além de se jogar na cama, o que de certa forma a deixou

aliviada.— Você tem algum pijama? — Hope perguntou ao notar que ele tremia e transpirava muito.

— Não...Revirando os armários, Hope achou uma camiseta e um short.— Estou bem — ele insistiu.

— Não pode dormir com essa roupa molhada, caso contrário poderá pegar uma pneumonia.— Hope, não sou uma criança — protestou, enquanto se despia. — Dê-me as roupas.— Vou buscar o chá. — Entregou-lhe as peças e saiu do quarto, a fim de deixá-lo mais à vontade.Em poucos instantes ela trazia a xícara com o chá e um copo de suco equilibrados em uma bandeja.Deitado sob os cobertores, Richard descansava com os olhos cerrados.Ao observá-lo em posição tão confortável, Hope ,sentm pena por ter de incomodá-lo, mas o remédio e os

líquidos eram necessários para sua reabilitação.— Richard, acorde. — Tocou-o no ombro.

— Hope... — resmungou sonolento, com os olhos parcialmente abertos.— Vamos, tome o medicamento— Mas eu mal consigo falar...— Não seja teimoso, faça um pequeno esforço.— Oh, Hope!

— Se gastasse menos tempo discutindo comigo, já estaria dormindo agora.—Nunca imaginei que pudesse ser.tão autoritária.

Hope levantou a sobrancelha, indignada.— O que vai tomar primeiro: suco ou chá? — perguntou, que rendo dar por encerrada a discussão.

Com as mãos trémulas, Richard alcançou o copo de suco.— Ainda está com frio? — ela perguntou.— Sim, os cobertores não estão ajudando.— Então, o melhor será um banho.— Oh, não! Vamos esperar o efeito da aspirina.

Hope balançou a cabeça em um gesto de reprovação, mas não tentou forçá-lo.Depois de beber todo o líquido, ele voltou a se deitar, demonstrando sua fraqueza.

Olhando ao redor, Hope viu uma enorme lareira."Isso é bom, assim manterá o quarto aquecido", pensou.

Ela sabia que no dormitório ao lado havia grande quantidade de lenha, e foi buscá-la. Faria qualquer sacrifício para manter o conforto do marido. Na realidade, sua vontade era aquecê-lo com o próprio corpo, mas com certeza sua ideia seria rejeitada.

Ao voltar ao quarto com a madeira nos braços, foi observada por Richard, que acabara de abrir os

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olhos.— Isto deverá mantê-lo aquecido por um bom tempo — disse, colocando a lenha sobre o assoalho. — Se

mesmo assim não adiantar, pegarei mais cobertas.— Não havia necessidade de tanto esforço — retrucou o doente.

— Não faço nada além de minha obrigação, Richard, afinal somos casados — ela disse, amigável. — Agora, tome o chá antes que esfrie. — Apontou para a xícara antes de deixar o quarto.

Desceu a escada à procura do livro que começara a ler em uma noite de insónia. Foi até a cama de Christopher para se certificar de que ele dormia tranquilamente. Ao chegar ao quarto de Richard, este dormia, envolvido pelo calor que vinha do fogo.

Acomodada na cadeira de balanço que estava perto da lareira, preparou-se para começar sua longa vigília noturna.

Cansada, chegou a cochilar por instantes, mas logo despertou quando Richard tossiu. Em uma reação instintiva, foi a seu encontro e colocou as costas da mão na testa dele. Ainda estava febril, mas, pela sua experiência, sabia que a temperatura agora era mais baixa. Retornou a seu lugar, aliviada a ponto de dormir e ter sonhos.

Algumas horas se passaram até que Hope abriu os olhos novamente. Aproveitou o repouso do marido para se ausentar do quarto e buscar mais suco e outra aspirina. De volta, foi até o armário e pegou nova muda de roupa.

Como se notasse movimentos no quarto, Richard despertou vagarosamente e da mesma forma ingeriu o remédio com um pouco do líquido, sem pronunciar uma palavra sequer. Era um bom sinal; afinal, não havia resistência em seus gestos, mas outra barreira deveria ser rompida.

— Obrigado — ele agradeceu, devolvendo o copo.— Sua roupa está molhada de suor, Richard. Deve se trocar outra vez.— Não é preciso, já estou muito melhor — protestou em um fio de voz.A luz fraca que emanava do fogo da lareira permitia-lhe observar o olhar cansado de Richard, o que

contradizia suas palavras. Tentou apoiar-se nos cotovelos a fim de erguer o tronco e se sentar na cama. Apesar de bem-sucedido, o esforço era indiscutível.

Hope não esperou seu consentimento e tomou a iniciativa de tirar com delicadeza a camiseta dele.Os movimentos lentos propiciaram a seus dedos roçar de leve a pele quente e macia do corpo másculo.

Sua vontade era recostar a cabeça naquele tórax musculoso, que sempre a atraíra, mas teve de ceder à tentação e colocar a roupa limpa.

— Obrigado, novamente. — Ele assentiu com a cabeça. — Eu troco o short. — Richard se adiantou, antes que ela pudesse refutar.

Mas suas forças se esgotaram quando, ao tirar a peça de roupa, os braços caíram ao lado do corpo, demonstrando cansaço.

— Deixe-me ajudá-lo. Pode ficar tranquilo porque há pouca luz, e mal posso vê-lo.Apesar da fraqueza, ele ainda pôde lançar um olhar de reprovação em direção a ela.— Só queria poupá-la do trabalho, mas, se não se incomoda, vá em frente.Tirar a peça de roupa sob as cobertas até que foi tarefa fácil, mas colocar o short limpo era outra

história. Sem se preocupar com supostos constrangimentos, Hope afastou os cobertores e começou a vesti-lo.Dissimulada, Hope tentou não demonstrar a admiração que sentia sempre que via aquele corpo nu. As

pernas rijas como aço sempre a atraíram e acendiam a chama do prazer quando as tocava. Respirando profundamente, balançou a cabeça como se quisesse afastar tais pensamentos.

Em um gesto inesperado, Richard segurou a mão dela.— É melhor voltar para seu quarto — ele disse. — Não quero que minha temperatura suba sempre

que sentir sua respiração perto de mim.Hope sorriu, sem poder ignorar a sensual observação.

— Deite onde o lençol está seco e volte a descansar — sugeriu ela. — Medirei sua temperatura de novo e, assim que estiver bem, voltarei para meu quarto. — Levantou-se da cama e ajeitou os cobertores. — A não ser que não queira minha companhia...

Mas ambos sabiam que não era esse o caso.— Vai acabar com torcicolo, dormindo naquela cadeira, Hope.— Ora, não se preocupe. Quem precisa de cuidados agora é você.— Hope...

— Quietinho. — Colocou o dedo sobre os lábios dele. — Nem mais uma palavra. Tome o restante da água e durma.

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Sem argumentar, Richard obedeceu e em pouco tempo seus olhos se fecharam.Ao retornar com mais bebida, Hope notou que o fogo da lareira se esvaía. Colocou o copo sobre a mesa de

canto e pegou lenha para reavivar a chama. Foi quando percebeu que Richard gemia baixinho e emitia sons inaudíveis. Mas sua preocupação aumentou quando a voz se tornou mais forte e palavras eram pronunciadas em bom som. Parecia delirar.

— Não, Davie, não! — ele clamava. — Meu Deus, não... — Richard revirava-se na cama.Sem saber como agir, ela deixou a acha de lenha e se dirigiu até a cama. Segurou-o pelos ombros, no

que foi imediatamente repelida. Nervosa, tentou massagear as costas dele, e com grata surpresa percebeu que Richard se acalmava. Aos poucos, os movimentos foram se tornando mais lentos até cessarem. Os cabelos molhados caíam sobre as faces. Carinhosa, Hope afastou os cabelos dos olhos de Richard e beijou-lhe o rosto. Ao notar que o semblante se tornava mais sereno, ela se sentiu segura para retornar à cadeira de balanço.

Os primeiros raios de sol atravessavam a fina cortina da janela quando Hope abriu os olhos e deparou com Richard sentado na cama.

— Vai a algum lugar? — ela perguntou, ainda sonolenta.— Quero ir ao banheiro. Parece que a febre cedeu. Pelo menos, o quarto não está mais girando

— brincou, com um leve sorriso nos lábios.Aproximando-se, Hope colocou a mão sobre a testa do doente.

— Acho que tem razão — concluiu. — Mas vou medir sua temperatura mesmo assim.— Antes, me ajude a ficar de pé, pois preciso mesmo ir ao banheiro.Pela primeira vez, Richard pedira sua ajuda sem pudor. Solícita, ela levou-o e o trouxe de volta para a

cama.Com boa vontade e dedicação, repetiu os mesmos cuidados mais uma vez: mediu a temperatura e entregou-

lhe uma aspirina e um copo de água.— Agora pode voltar para seu quarto, Hope — ele pediu, depois de ingerir o remédio.— Se prometer me chamar sempre que precisar, ficarei mais tranquila.Ele assentiu com um gesto de cabeça. Hope preferiu concordar, pois compreendeu que só assim Richard

poderia descansar direito.Esticando os lençóis e as cobertas sobre a cama, deixou o quarto e a porta entreaberta, para o caso de

ouvir qualquer chamado.Ao se deitar, Hope imaginou como ele se sentia, pois era a primeira vez que se mostrava tão vulnerável e

frágil. Mas nada a impediria de ajudá-lo. Amava-o e faria qualquer coisa para vê-lo bem.

Ao acordar, Richard ainda sentia dor de cabeça, mas já não era tão intensa quanto na noite anterior. Lembrou-se do olhar de preocupação de Hope ao vê-lo com uma febre tão alta. Ele mesmo se surpreendera com seu estado debilitado.

Aos poucos, as lembranças tomavam conta de sua mente. O pesadelo, o carinho com que Hope o tratou ao massageá-lo e beijá-lo no rosto. Teria sido um sonho? Não, não poderia ter sido, pois a sensação de alívio que ela lhe transmitira não podia ser comparado a nada, e era muito real. Mesmo enfermo, seus olhos a observavam sensualmente sentada na cadeira de balanço. Seus instintos masculinos foram despertados pela presença da esposa, mas seu coração questionava o motivo de tamanha dedicação. Teria feito tudo guiada pelo coração ou apenas por conveniência? Sua volta estaria associada à vontade de facilitar a própria vida? E por que não se dedicara a Richard quatro anos antes, quando estava grávida do pequeno Chris? Se o amasse realmente, não hesitaria em dividir com ele a alegria de se educar uma criança.

Não poderia se deixar envolver por aquela ajuda que lhe parecia interesseira. Deveria erguer novamente as barreiras que por pouco ela não derrubara. Odiava sentir-se fraco e indefeso, nem a febre poderia deixá-lo tão exposto!

Seus pensamentos foram interrompidos quando a porta se abriu e foi atravessada por Chris e Hope, que trazia uma bandeja nas mãos.

— Ele queria ver com os próprios olhos que seu pai está bem — disse, com um sorriso nos lábios.Richard não pôde conter a alegria de ver o filho.

— Já estou bem melhor, Chris — ele afirmou. — Mas é bom que não se aproxime muito, caso contrário poderá ficar gripado.

Os olhos castanhos do pequeno se arregalaram.— Mamãe disse que o dia de Ação de Graças está chegando. Ficará bem até lá?— Assim espero, meu amor — Richard respondeu, querendo transmitir tranquilidade.— Agora, vá para seu quarto brincar um pouco, enquanto cuido de seu pai — Hope pediu ao filho.

— Sim, mamãe. — E saiu sem replicar.

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— Ele é um bom menino — observou Richard.— Digamos que é um paciente mais obediente que você. — Hope estendeu-lhe o termómetro. —

Trouxe ovos mexidos e café, se quiser comer mais tarde.Sim, seu apetite era voraz, o que demonstrava sua visível melhora.

— Obrigado, estou mesmo esfomeado — admitiu. — E, como a febre já cedeu, vou ao escritório fazer algumas ligações.

— Richard Walker, não se atreva a sair deste quarto. E, se não me obedecer, serei forçada a chamar Adam.

Richard não se conteve e riu.— E o que ele vai fazer?

— Amarrá-lo à cama, se for preciso. Richard, não pode comprometer sua saúde por causa da teimosia. Além disso, Jane virá para tomar conta do escritório.

— Você não tinha o direito de...— ...de pedir ajuda porque está doente? Ora, não preciso de permissão para fazer isso. Uma secretária

teria feito a mesma coisa.E ele não poderia tirar-lhe a razão, não havia motivo aparente para implicar com sua iniciativa. A não ser

o fato de sentir-se invadido por aquela ajuda que o fazia se sentir impotente.—Está bem, você venceu.

Ela sorriu, vitoriosa.— Isso quer dizer que não preciso ligar para Adam?

— Quer dizer que sou grato por tudo o que fez por mim na noite passada.Mesmo vestindo um jeans e uma simples camiseta branca, Hope estava muito atraente, e aproximar-se

dele tornou-se um risco muito grande.—Lembra-se de que teve um pesadelo?

A pergunta afastou os pensamentos que tomavam conta de sua mente.— Sim, e devo dizer que ele é recorrente — ele respondeu. — Sempre me vem à memória o carro

pegando fogo, Mary Beth gritando...— Talvez conversar sobre o assunto o ajude — ela sugeriu, mesmo sabendo que seria muito difícil

aquilo acontecer. Richard nunca se abrira com Adam ou Jane, por que se abriria com ela?— Não há nada para falar — afirmou, decidido. — Davie morreu, e a culpa foi minha.

— Richard, não pode continuar acreditando nisso.— O explosivo estava em meu carro, era para mim. Foi minha culpa. Se fosse com Christopher você

também me culparia.Ela se sentou na cama e segurou as mãos dele.

— Como pode assumir toda a culpa? Decerto sofreu e sofre tanto quanto Mary Beth — ela ponderou. — Afinal de contas, amaram seu filho na mesma intensidade. Tem de se conscientizar de que não pode se responsabilizar inteiramente pelo mal que os acometeu, caso contrário nunca alcançará a paz.

As palavras de Hope faziam sentido, mas encarar aquilo como verdadeiro era muito difícil. As mãos que seguravam as suas lhe traziam conforto, o que, de certa forma, o incomodava. Não queria se sentir dependente do carinho dela. E se Hope resolvesse abandoná-lo outra vez?

A proximidade fez com que ele sentisse um forte desejo de abraçá-la e beijar os lábios delicados, mas a cabeça latejava de dor, fazendo-o desistir de qualquer coisa.

Richard achou por bem pegar a bandeja e se servir.— Se tiver algo para fazer, pode me deixar aqui. Não me esquecerei de tomar a outra aspirina. — Ele

nem ao menos ergueu a cabeça para encará-la e sabia que com isso estava sendo grosseiro.Tanto melhor, aquela era sua intenção.

Hope se levantou, aborrecida.—Se precisar de algo, é só me chamar.A vontade dele era chamá-la e tomá-la nos braços, mas não sabia se aquela seria a atitude correta,

então, decidiu por ficar em silêncio e deixá-la se retirar.O dia seguinte transcorreu tranquilo. Richard sentiu-se um pouco cansado por trabalhar sem interrupção

em seu escritório, mas estava visivelmente recuperado.Após o jantar, ficaram os dois ocupados em entreter o filho com um novo brinquedo. Richard a

observava, sorrateiro, enquanto divertia o filho. Parecia haver algum problema incomodando Hope. Quando o brinquedo caiu ao chão por descuido, o pequeno deu uma sonora gargalhada.

— Pai, monte de novo — ele pediu.

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— Não senhor, mocinho — interferiu Hope, olhando para o relógio. — Já é hora de ir para a cama.— Está bem, mãe. Mas pode antes ler uma história para mim, papai? — ele perguntou, olhando para

Richard e depois para Hope.O pedido era uma clara demonstração de que o menino sentira sua ausência durante aqueles dias.— É claro — respondeu o pai, solícito. — Mas antes vamos guardar os brinquedos, certo?Aquele era o momento do dia mais esperado por Hope, pois era quando se sentia mais próxima do

filho.Caminharam os três para o quarto. A visão de Richard aconchegando o filho nos braços chegou a

comovê-la.Quando Christopher adormeceu, o pai o colocou na cama, e ambos desceram a escada calados.Hope se sentou no sofá, enquanto Richard se colocou perto da lareira, a observar o crepitar da madeira.

Em seguida, virou-se para ela, com um olhar tão ardente quanto o fogo que queimava atrás dele.— Pensei na hipótese de seu retorno aos estudos — ele começou. — Como pretende custeá-los?— Bem, ainda não tive tempo para refletir, mas não gostaria de dispor do que conseguirei com a venda

do terreno, pois pretendia guardá-lo para Chris, apesar de não ser muito.— Quanto a isso, não há por que se preocupar. Afinal, estarei aqui para ajudá-lo no que precisar.

— Eu sei, mas a responsabilidade é minha também.— Hope, casamos em comunhão de bens, esqueceu?

— Não entendo aonde quer chegar — disse, lançando-lhe um olhar de dúvida.— Quero dizer que tudo o que é meu é seu, e vice-versa.—Não quero que se arrependa no futuro, Richard — ela disse, amigável. — Se ficar muito oneroso

custear meus estudos, posso voltar a trabalhar no berçário. Apenas deixei de fazê-lo porque você achou mais conveniente que eu ficasse em casa para cuidar de Christopher.

Richard balançou a cabeça.— Não me arrependerei se tiver a certeza de que lutamos pelo mesmo ideal.Passava pela cabeça dele que seus objetivos poderiam ser diferentes? Hope não pôde deixar de se sentir

ofendida.—Ainda acha que me casei por puro comodismo?

Ele deu alguns passos em sua direção, o que lhe permitiu sentir o perfume másculo com mais intensidade e a tensão que dominava o corpo viril.

— Só acho que se cansou de trabalhar e ter de cuidar de Christopher sozinha. Casar-se comigo seria uma forma de solucionar seus problemas, digamos assim.

Hope sentiu o calar subir às faces. Estava cansada daquelas suspeitas infundadas.— Como se atreve a afirmar uma coisa dessas? — perguntou, desiludida. — Posso lhe assegurar que

meus problemas não me causam mais desgosto do que saber que não confia em mim. Talvez nesse Natal não fosse o caso de pedir um coração para substituir a pedra que se alojou em seu peito?

Ela não podia imaginar que aquelas palavras o tocariam tão profundamente. Já próximos, bastou um simples gesto com o braço para tê-la junto ao peito.

— Meu coração não é de pedra, se é isso o que quer dizer — falou, com os lábios quase se encostando. — Aliás, nada no meu corpo é de pedra ou insensível. — E provou suas palavras ao beijá-la com avidez e abraçá-la como se quisesse fazer dos dois corpos apenas um.

O que Hope sentiu em seguida foi a chama do desejo tomar conta de seu corpo de imediato, como o fogo que queima a folha seca de outono. O beijo ardente era um convite para que correspondesse à altura. Mas e se se arrependesse depois?

CAPITULO VII

Sem esperar por qualquer resposta, Richard invadia de forma insaciável a boca de Hope, explorando com a língua sua intimidade. Já fazia muito tempo que ela esperava por aquele momento, para sentir o calor do desejo e a volúpia incontroláveis dele. Sem poder raciocinar, seus instintos lhe diziam para beijá-lo na mesma intensidade.

Em um abraço apertado, a respiração ofegante era sentida por ambos, e os seios intumescidos roçando junto ao peito rijo deixavam-no ainda mais excitado.

Pouco depois, Richard se afastou alguns centímetros, o que de certa forma a desapontou, pois não queria interromper aquele momento mágico. Mas para seu deleite aquela também não era a intenção dele. Muito pelo contrário, Richard queria observá-la por instantes e deslizar sua mão máscula por sob a blusa de seda,

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a fim de livrá-la do sutiã. Com agilidade, mas delicadamente, em poucos segundos não havia nada entre seus dedos e os mamilos róseos, que tanto o enlouqueciam.

Com as pernas trémulas, Hope não conseguia mais resistir aos apelos dele, e se deitaram no chão.Sem dar trégua às carícias, Richard cobria a pele dela de beijos, e as mãos hábeis deixavam-na louco de

desejo.Agora era a vez de ela ceder às vontades do destino e desabotoar a camisa de algodão. Ao chegar ao último

botão, Hope sentiu o zíper da calça jeans e não se intimidou, abrindo-o com vagar. O tórax rijo como aço era o estímulo que lhe faltava para dar vazão a seus instintos.

— Richard, te quero tanto! — murmurou, entre os dentes. — Não sabe o quanto esperei por este momento...

Como um selvagem, ele se atirou sobre Hope, querendo arrancar-lhe a calça para tê?la inteira diante de si, sem nada que lhe cobrisse o corpo.Mas um raio de luz caiu sobre sua cabeça, fazendo-o recuar. Fitou-a profundamente.

— O que aconteceu? — ela perguntou, ansiosa.— Não estamos agindo direito — respondeu, sério.— Mas, meu amor, somos casados!Afastando-se, Richard pôde demonstrar sua preocupação.

— Não, Hope, isso não é o suficiente — afirmou. — Se formos adiante nesta loucura, poderemos nos arrepender amargamente.

— Parece ter tanta convicção em suas palavras... — ela deixou escapar.— Escute... quero ter certeza do que sente por mim — Richard admitiu. — Não podemos nos entregar

quando ainda penso que me contou sobre Christopher apenas para ter alguém com quem dividir as responsabilidades. Não quero que simule um sentimento por mim que não sente.

Na verdade, Richard sentia-se tão vulnerável quanto ela, sua confiança estava abalada e precisaria mais do que sua entrega para reconquistá-lo. Mas Hope também estava insegura.

— E você, Richard? — ela interveio, em tom rancoroso —, como saberei o que sente por mim, se não deixa o coração aberto?

— Bem, estou falando agora.— Pois não estou entendendo...

Por um momento, ela pensou que não obteria resposta. Mas a reação de Richard deixou-a pasmada.— Desejo você, Hope, inteira — disse, passando os dedos pelos cabelos revoltos. — Meu corpo e minha

mente não conseguem se esquecer de tudo o que vivemos juntos, dos momentos maravilhosos que compartilhamos. — Seu olhar agora era sério. — Mas não quero me desiludir novamente, não serei ingénuo dessa vez. Quero que nossa entrega seja mútua e por completo, assim não haverá falhas. — Havia um quê de rancor naquelas palavras.

— Não sei como consegue ser tão racional em um momento como este. Eu te amo, como sempre amei. — Hope não acreditava que depois de anos fosse obrigada a provar seus sentimentos.

— Se me amasse, não teria me deixado. Da mesma forma como você fez, meus pais também me abandonaram, mesmo afirmando que me amavam.

Então, seu rancor vinha de outras experiências frustradas que ele vivenciara, ela concluiu.— Talvez tenha de me mostrar que tipo de amor é esse que diz sentir por mim, que me fez

sofrer tanto no passado. Amor para mim, Hope, é ficar junto, aconteça o que acontecer.— Prometi ficar a seu lado quando nos casamos.

Ele fez um gesto negativo com a cabeça.— Promessas podem ser quebradas, sabe muito bem — respondeu. — Atitudes valem muito mais do

que palavras. E só o tempo poderá me fazer confiar em você de novo..Os olhos de Hope se encheram de lágrimas, pois seu amor era verdadeiro, como sempre havia sido. Mas ao

mesmo tempo sentiu uma ponta de esperança naquelas amargas palavras. Ele estava sendo honesto abrindo seu coração como nunca fizera antes. Uma chama de alento surgiu e, quem sabe, ainda poderiam ter um casamento feliz. Faria de tudo para provar a veracidade de seus sentimentos.

Sem mais palavras, ambos se recompuseram. Um clima funesto se interpôs entre os dois.— Richard... — Ela queria a todo custo romper o silêncio ensurdecedor que os envolvia. — Pretende

fazer algo no dia de Ação de Graças?Compreendendo a situação, ele não se opôs em .responder de forma solícita:— Não pensei no assunto ainda. Tem algo em mente?

— Gostaria de convidar minha tia para jantar conosco — Hope disse. — Que tal se convidasse Adam e

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Jane também?— A mãe virá passar as férias com ele.

— Bem, então poderíamos receber todos aqui! — exclamou, animada.— Tem certeza de que quer cozinhar para tantas pessoas?

— A data é importante. E será uma ótima oportunidade de reunir os amigos.— Por mim, tudo bem — ele concordou. — Quer que ligue para eles?— Oh, posso me incumbir da tarefa! — disse, entusiasmada. — E quem sabe, na próxima semana,

poderemos comprar os presentes Natal para Christopher.— Sim, é uma boa ideia.

Ótimo, ele não a estava ignorando, como temia que fosse acontecer, o que a deixou mais confiante.— Richard... — Os olhos dela brilhavam. — Não darei motivos para que desconfie de mim. Nunca mais.

Para sua surpresa, os olhos dele também reluziam, transmitindo carinho e desejo.— Teremos um grande jantar no dia de Ação de Graças e iremos às compras de Natal juntos, se é

assim que deseja. — Um leve sorriso deixou-o menos sério. — Mas não vamos nos precipitar, ambos sabemos que nada muda da noite para o dia.Hope não era ingénua, mas a simples ideia de compartilhar com ele momentos tão importantes enchia-

a de esperanças.— Não se preocupe, Richard, acredito na magia do Natal — respondeu, sorrindo também.Andando entre as prateleiras da loja de brinquedos, Hope era a pura visão da alegria. E Richard estava

contente por isso. Haviam tido um jantar de Ação de Graças inesquecível. Hope tornara a noite um evento sem igual, contagiando a todos com sua simpatia e servindo pratos deliciosos.

Richard estava grato por poder compartilhar daquela felicidade. Principalmente agora que sabia ser pai de Christopher. No início, fora difícil o relacionamento, mas a afinidade foi tamanha que tudo se passava como se nunca tivessem se separado. Sim, havia muito não experimentava tal sensação de júbilo. Como poderia retribuir-lhe tal contentamento?

Em conversa paralela com Eloise durante o jantar, ambos reconheceram que seria muito difícil para Hope superar a falta da mãe naquelas datas festivas, uma vez que se amavam muito mais do que mãe e filha. Foi então que lhe veio uma ideia: oferecer uma festa surpresa para a esposa. E tinha certeza de que Christopher aprovaria a sugestão.

A voz de Hope a chamá-lo fez com que voltasse à realidade.— O que acha deste carro com controle remoto? — perguntou com um exemplar na mão.

— É bonito e parece interessante, Hope. Deixe-me vê-lo melhor.E colocando-o no chão, pôs-se a testá-lo, sem tomar o cuidado de desviá-lo dos pés dela.— Que acha de comprarmos dois? — Hope riu da pouca habilidade dele. — Assim, poderão os dois

brincar juntos.— É uma boa ideia! — E soltou um riso cativante que a fez suspirar.

Ao final das compras, pareciam ter comprado a loja inteira.— Espero não ter exagerado — ele observou.— Oh, Richard, Chris vai adorar!

— Gostaria de fazer um pedido para o Papai Noel também. — Seus olhares se encontraram diante das palavras dele.

— Não vai me dizer que também quer um carro?— Oh, não! — exclamou, sorridente. — Pensei em algo mais simples, assim como um Natal à moda

antiga.— Sabe que estive pensando nisso também?

Mas Richard não parecia ouvir o que ela dizia, pois se aproximava de forma ameaçadora, fazendo uma onda de calor tomar conta dela.

— Você fez de ontem uma noite muito especial — ele murmurou, a centímetros de distância. — Gostaria de agradecer-lhe por isso.

— Agradecimentos são desnecessários — ela argumentou, sentindo-se sufocar dentro da própria jaqueta de couro.

— Foi elogiada por todos merecidamente, devo acrescentar. Inclusive pela mãe de Adam, que não a conhece.

— Ora, ela quis ser apenas gentil. — Hope sentia o hálito dele penetrar em suas narinas.— Não seja modesta! — falou sorrindo com os olhos.

Hope não suportava mais aquela proximidade. Precisava fazer qualquer coisa para afastá-lo, caso

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contrário, não saberia mais como agir.— Fico feliz que pense assim. — Afastou-se alguns passos, a fim de poder respirar. — Tia Eloise e a

mãe de Adam se deram muito bem, e já até marcaram outro encontro para a próxima semana. Percebeu como Christopher se divertiu com Matheus?

Os olhos de Richard se estreitaram e ele se afastou.— Quis dizer que ele gosta de ficar na companhia de outras crianças.

Richard andou mais um pouco com as compras na mão.— Quando estavam em Wasco, ele ficava sempre a seu lado?

— Sim — ela respondeu. — Trabalhar em um berçário tem essa vantagem. Chris ficava com as assistentes que tomavam conta dele, enquanto eu trabalhava, tranquila.

— E agora acha que ele sente a falta de ter com quem brincar? — Havia preocupação em seu tom de voz. — Não se esqueça de que algumas crianças são maldosas por natureza.

Hope lançou-lhe um sorriso amigável. Vê-lo assumindo as dores do filho a deixava extasiada.— Ora, Richard, Chris tem apenas três anos. E nessa idade a companhia de outras crianças é

fundamental para sua sociabilidade. Compartilhar, perder e ganhar fazem parte de seu crescimento.Richard relaxou; afinal, ela não deixava de ter razão.— Você sempre pensa no que é melhor para ele, não é?— Digamos que tento preservá-lo.Hope falou com tanta segurança e propriedade que não havia como argumentar.Caminhavam pelos corredores da loja, quando Richard observou:

— Esqueci-me de falar, mas encontramos o amor de adolescência de Harv.— Que ótimo! — exclamou, exultante. — Como conseguiu?

— Os arquivos do Estado nos guiaram até ela. Tivemos a informação de que Bernardette comprou uma pequena casa no interior, assim que o marido morreu. Permaneceu lá sem manter contato com quem quer que fosse. Harv foi a seu encontro ontem, e hoje pela manhã ligou-me dizendo que já estavam retornando.

— O que acha que acontecerá?— E muito difícil afirmar qualquer coisa. Os anos podem tê-los feito mudar muito, inclusive o

sentimento mútuo.— Ou não... — ela conjecturou.

Richard sabia que com aquela observação Hope estava querendo se referir ao caso deles. Queria convencê-lo de que nada havia mudado entre eles com o passar dos anos.

A manhã de domingo começou animada, com Christopher decorando a árvore de Natal.— Posso colocar esse enfeite, mamãe? — perguntou, apontando para o pequeno cavalo de madeira

guardado na caixa de papelão.— Parece que esses enfeites são bem antigos — Richard observou, aproximando-se de Hope, a ponto

de ela poder sentir o odor de seu perfume.— S-sim... — gaguejou. — Eram de minha mãe — explicou entregando o objeto para o filho. — Tome,

Chris, coloque onde quiser.Revirando a caixa, Richard descobriu um delicado anjo de vidro e o entregou à esposa.— Sua mãe tinha coisas belíssimas — disse, tendo os movimentos detalhadamente observados por

ela.— Ela sempre gostou do Natal, por isso comprava tantos enfeites e adornos. — Lembrar-se da mãe

dilacerava seu coração.— Desculpe-me. — Richard notou a tristeza dela. — Não tive a intenção de magoá-la.— Oh, não, não se preocupe. Preciso mesmo superar a ausência dela. — Virando-se para o filho, falou:

— Olhe, meu amor, o que seu pai achou no meio das coisas: nosso anjinho de Natal!— Oba! — exclamou, entusiasmado. — Posso pendurá-lo na porta de entrada?

— Por quê? — indagou o pai, franzindo o cenho.— Assim os sinos tocarão quando o Papai Noel aparecer na porta de casa.

— Então pegarei o martelo e um prego. — Ele riu com a ingenuidade e fantasia do menino.Em poucos minutos o enfeite adornava a entrada principal.

— Pronto! Podemos aguardar o Papai Noel mais tranquilos — Richard comentou, orgulhoso com sua contribuição.

— Mamãe, você me chama quando ele aparecer em casa?— Mas, meu amor — Hope abaixou-se na frente do filho. — Basta ouvir os sinos e acreditar que ele

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nos visitou.Ao terminar de falar, a campainha do forno soou.— Oh, os biscoitos! — Saiu correndo em direção da cozinha.

— Vamos terminar nosso trabalho na sala, enquanto sua mãe se encarrega dos quitutes. — Richard pegou a mão do filho e o encaminhou para dentro de casa.

Depois de verificar que os biscoitos estavam prontos, Hope foi até a porta da sala e lá permaneceu a observar, deliciada, a cena que envolvia o filho e o marido. Gostaria mesmo que ambos acreditassem na magia do Natal. Afinal, tinham o direito de sonhar e serem felizes. Tê-los juntos naquele momento lhe dava mais esperanças no futuro, quando Richard acreditaria em seus sentimentos. E então, teriam um casamento de verdade.

Finalmente, o dia do aniversário chegara. A geladeira repleta de refrigerantes, doces e salgados deixava claro que a festa seria inesquecível.

— Papai, vamos pendurar os balões? — Era a décima vez que Richard ouvia a mesma pergunta desde que contara a Chris que seria sua a responsabilidade da decoração.

— Está bem — respondeu, vencido.Enquanto se ocupavam da tarefa a campainha da porta tocou. Era estranho, uma vez que Hope fora

convencida a passear no shopping e o bolo só seria trazido mais tarde por Eloise.Deixando as bolas de lado, foi verificar quem estava à porta. No caminho pôde reparar como sua casa

mudara desde a chegada de Hope, que transformara com sua alegria contagiante e seu filho maravilhoso aquela simples construção em um verdadeiro lar.

Ao abrir a porta deparou com um entregador que trazia nas mãos um belo ramalhete de flores do campo.— Encomenda para sra. Hope Walker.

Pegando o arranjo nas mãos, não resistiu em ler o bilhete que o acompanhava.

Querida Hope, feliz aniversário.Com muito amor,Mark.

Aquele nome não lhe era estranho. Lembrou-se de que era um antigo caso de Hope, mas não sabia que ainda mantinham contato. Como ele se atrevia a mandar flores para a casa dele? Não sabia que estavam casados? E por que a tratava com tanta intimidade?

Quem sabe não tivera a oportunidade de lhe contar as novidades. Bem, se Eloise não lhe tivesse recordado sobre a data de aniversário, ele não se lembraria, o que o tornaria um perfeito idiota diante dela, uma vez que um antigo namorado não havia se esquecido de data tão importante. Leu mais uma vez o cartão e desviou o olhar para o arranjo em suas mãos. Hope merecia muito mais do que aquilo, era verdade. Rosas, orquídeas e tudo mais o que fosse possível para alegrar sua vida. Richard foi até a sala e disse, entusiasmado:

— Venha, Chris, vamos dar uma saída.— Para onde? Não vamos terminar de pendurar os balões?

— Mais tarde. Vamos à floricultura comprar muitas flores para sua mãe. O que acha?— Precisamos ir agora?

— Sim, caso contrário, ela chegará e não terá a surpresa. Vamos dar a ela uma festa que jamais esquecerá! — E tomou o filho nocolo para não demorar.

Após estacionar o carro na garagem, Hope saiu com alguns pacotes nos braços.— Há muito tempo não saio para fazer compras — comentou. — Acho que por isso exagerei!— Ora — adiantou-se Jane —, um vestido e alguns acessórios não chega a ser um exagero. Além do

mais, o vestido parecia feito sob medida para você, ficou deslumbrante!Realmente, a bela peça de seda branca caíra como uma luva no corpo escultural de Hope. Ela se

lembrava, desde o vestido de casamento, não comprara nada tão especial e bonito. Era bem verdade que não resistira à tentação de comprá-lo por ser aquela uma data especial. Aliás, apenas sua tia sabia de seu aniversário. Nada contara a Richard, pois não queria que ele se sentisse na obrigação de comemorar a data com ela.

— Jane, o que acha de jantar conosco? — perguntou, como se quisesse inconscientemente que seu aniversário fosse compartilhado com mais pessoas. — Ou Adam está à sua espera?— Bem, Adam sempre está à minha espera, mas eu gostaria muito de jantar com vocês. Posso ligar

para ele e avisar que chegarei mais tarde.— Otimo! — exclamou, exultante. — Não tenho nada de especial, mas posso preparar algo em pouco

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tempo.— Eu não gostaria de perder a estreia do seu vestido novo — comentou a amiga.— Oh, não! Não vou usá-lo hoje. Vou guardá-lo para uma ocasião especial, para o Natal.Alguns passos as levaram até a varanda e, ao girar a maçaneta, Hope quase desmaiou. Vozes gritaram

em uníssono:— Surpresa!Christopher correu para seu encontro.— Surpresa, mamãe! Feliz aniversário!

Atónita, deixou cair os pacotes e abraçou seu filho. A seu redor, Adam e Eloise seguravam buques que combinavam com as flores que adornavam o ambiente. Seus olhos brilhavam de felicidade, e não tardou para que lágrimas brotassem deles. Uma pesada mão pousou sobre seu ombro, enquanto ainda era abraçada por Christopher. Ao virar a cabeça, seu olhar cruzou o de Richard.

— Feliz aniversário, Hope.As palavras se recusavam a sair da garganta, que estava obstruída pela emoção.

Suavemente, Richard enxugou suas lágrimas.— Diga algo, senão Christopher pensará que fizemos um péssimo trabalho.

— Vocês fizeram tudo?— Digamos que recebemos um pouco de ajuda — ele confessou. — Espere até ver o bolo que sua tia fez.

— Oh, Richard, está tudo maravilhoso! As rosas são lindas!Ele a tomou nos braços.— Fico feliz por você ter gostado da surpresa. '— O abraço demonstrava todo o carinho que sentia

por ela. — Vamos para a sala, há muitos presentes para abrir!Hope ainda não podia acreditar no que estava acontecendo. Ao acordar naquela manhã, sua primeira

reação fora se lembrar da ausência de sua mãe no primeiro aniversário depois de sua morte, o que a entristeceu sobremaneira. Na realidade, estranhara quando fora convidada por Jane para passear justo naquele dia, mas encarou o fato como simples coincidência. E agora, estava nos braços de Richard, o melhor presente que poderia ganhar.

Guiada por ele, Hope sentou-se no chão, sendo rodeada pelos demais convidados.— Este é o meu presente, mamãe! — Christopher lhe entregou um belo embrulho.

Ao abri-lo, um largo sorriso iluminou seu rosto.— Oh, meu amor, que lindo! — Era uma das pedras da coleção dele. — Colocarei sobre a

penteadeira da vovó, assim poderei vê-la sempre.— Tem um papel também — ele avisou, apontando para uma folha dobrada.

Era o desenho de uma paisagem, colorido em cores bem vivas.— É muito bonito! Vamos pendurá-lo na parede, certo? — E o abraçou, emocionada.A cada presente aberto, Hope sorria de alegria. Ao receber da tia uma caixa cor-de-rosa, não

pôde conter as lágrimas.— Obrigada, titia — disse, +e a abraçou.

— Feliz aniversário, minha querida — sussurrou Eloise em seu ouvido. — Espero que goste.Era um conjunto de moletom, daqueles que ela adorava vestir nas horas de lazer.— Pode ter certeza de que amei o seu presente, acertou em cheio. — E aproveitou para lhe

dar mais um beijo.— Ainda bem, pois prometi a sua mãe cuidar de você muito bem. — E retribuiu o gesto de

carinho. — Você é a filha que não pude ter.Hope voltou a se sentar no sofá, no que foi acompanhada por Richard.

— E esta é minha pequena lembrança.As mãos tremiam e os olhos logo ficaram marejados ao ver o lindo porta-retrato com uma

fotografia de Christopher brincando no jardim. Desviou o olhar para Richard e não se conteve ao beijar-lhe a face. Era um beijo carregado de amor, mas sobretudo de felicidade, que aumentou ainda mais quando ele correspondeu ao gesto beijando-a na frente de todos.

Os convidados aplaudiram a cena, deixando-os muito envergonhados. Richard estava visivelmente constrangido e sentiu o rosto enrubescer.

— Obrigada — Hope disse, enfim. — Adorei o que fizeram por mim.— Foi papai que tirou minha foto — Christopher informou.

— Bem, pessoal, vamos nos servir, pois ninguém é de ferro! — chamou Eloise, querendo que a sobrinha se recompusesse do momento tão emotivo.

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Às gargalhadas, os convidados se dirigiram à mesa, onde puderam se fartar de salgados e doces.Solícito, Richard ofereceu o braço a Hope para guiá-la. Com um sorriso tímido nos lábios, ela

não teve como resistir à gentileza. Logo atrás, estavam Christopher e o pequeno Matheus, que se divertiam com a companhia mútua.

A noite já chegava ao fim quando os últimos convidados se retiraram. Apenas Eloise permaneceu na casa a fim de ajudar a sobrinha.

— Foi uma grande festa, não foi, tia? — comentou Hope, en quanto lavava os últimos pratos.— Sim, e a dedicação de Richard foi exemplar.— E verdade — ela concordou. — Ele fez tudo sozinho?

— Bem, depois que soube da data, não quis aceitar ajuda alguma. Eu bem que me ofereci, mas ele apenas me delegou a responsabilidade de fazer o bolo.

Então, ele não se lembrara de seu aniversário. "Não faz mal", ela pensou. Afinal, depois de todo o trabalho, só poderia acreditar que fizera tudo com a maior boa vontade.

Passos no corredor fizeram-na recuar nos pensamentos. Era Christopher, que corria, a boca suja de chocolate.

— Desculpe-me, Hope — disse Richard, logo atrás do menino.— Mas permiti que ele se servisse de uma última fatia de bolo antes de se deitar.

— Ora, não há nada de mal nisso — Hope comentou, rindo da preocupação paterna.Os olhares se encontraram e ela percebeu que o marido estava sério.— Tenho algo para lhe mostrar. — E a pegou pela mão em direção ao escritório.

O ramalhete de flores do campo jazia sobre a mesa.— Richard, você já comprou muitas flores para mim — ela comentou, ingenuamente.

— Mas essas não fui eu que comprei.Hope franziu as sobrancelhas em um gesto de perplexidade.— Não? — E pegou o cartão.Richard acompanhava seus gestos sem perder, inclusive, o movimento dos olhos sobre o cartão.Fechando o envelope, ela desviou o olhar para Richard.— Não sei o que dizer.— Sempre recebe flores em seu aniversário?

— Sim... e às vezes em outras ocasiões — respondeu, a voz quase inaudível.— Ele não sabe que estamos casados?

— Claro que sim! — exclamou, tentando se justificar. — Mandei-lhe uma carta. Afinal de contas, somos amigos, assim como você e Jane. — Colocando o cartão sobre a mesa, fitou-o profundamente. — Isso nada significa para mim, Richard.

Seus olhares se cruzaram, e qualquer palavra era dispensável naquele momento.A passos lentos, ele se aproximou e tocou os lábios delicados com a ponta do dedo. O gesto fez com que

um tremor percorresse sua espinha e o coração palpitasse de desejo.— Feliz aniversário,-Hope. — Foram as últimas palavras antes que os lábios se encontrassem em um

beijo apaixonado. Enfim, poderia realizar seu sonho tão esperado, ela pensou. Seu casamento seria, então, a união de duas pessoas que se amavam. Aquele beijo representava muito mais do que o desejo de se entregar a Richard. Estariam selando para sempre o futuro deles.

Pela porta entreaberta, Eloise observava a cena, extasiada. Estava à procura da sobrinha para lhe perguntar sobre o que fazer com o que restara da comida, mas desistira ao vê-los envolvidos naquele clima. Ao deixar o lugar, um leve rangido da porta se fez ouvir, assustando Hope. O beijo interrompido deu lugar a um sorriso maroto.

— Temos de colocar Christopher na cama — ele comentou. — Antes que nos veja deitados.— Sim... — Ela enrubesceu, não podendo ignorar suas intenções com aquelas palavras. — Richard, muito

obrigada pelo dia de hoje.— Queria que fosse o dia mais feliz de sua vida.— Pode acreditar que foi — afirmou, com os olhos brilhando.

Mas Richard sabia que a falta da mãe não poderia ser substituída com uma grande festa, por mais deslumbrante que ela fosse. Porém, sabia também que ele se esforçaria ao máximo para tentar fazê-la feliz.

Hope saiu do escritório, seguida por Richard, à procura do pequeno Christopher.

CAPITULO VIII

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Quinze, dezesseis, dezessete... — Hope contava devagar para dar tempo ao filho de se esconder. Era mia diversão predileta, principalmente quando brincavam no andar superior e ele podia se esconder sob as camas ou atrás das portas.

Corriam de cómodo em cómodo, até que ela entrou no quarto de Richard. A cama bem arrumada e o quarto discreto faziam-na sonhar com a promissora noite que teriam em um futuro não muito distante, quando então poderiam dar o casamento como consumado.

Ao final da festa de aniversário, Hope pensou que Richard a convidaria para dividir a cama com ele, mas sua frustração foi grande quando viu em seus olhos uma ponta de dúvida. Não poderiam, então, dar continuidade ao beijo interrompido, pensou amargurada. Mas, mesmo assim, suas esperanças não se desfize-ram, haviam progredido, e ela não desistiria. Seria paciente.

Uma voz desafinada tirou-a de seus pensamentos solitários.— Mamãe, venha me procurar! — gritou o menino, de seu esconderijo.Hope já sabia onde achá-lo, mas prolongou a brincadeira o mais que pôde.— Aqui está você! — E afastou as roupas penduradas no armário que lhe servia de esconderijo.

— Oh, mãe, você sempre me acha! — resmungou o pequeno.— Bem, a casa não é tão grande, afinal. E, além disso, é hora de dormir.Ao acompanhá-lo até o banheiro, ela ouviu a campainha tocar e os passos de Richard se encaminhando

até a porta.Hope pôde distinguir a voz de um homem e de uma mulher. Poderia ser Jane, que se esquecera de algum

material de trabalho, talvez. Após colocar o menino sob as cobertas e se certificar de que ele adormecera depois da história contada, ela fechou a porta do quarto ao mesmo tempo que Richard a chamava.

— Hope, pode vir aqui um instante?Ao descer a escada, deparou com Richard recebendo Harv e uma bela senhora.— Boa noite, Hope — cumprimentou o senhor. — Quero apresentar-lhe Bernardette.

Ao lado de Richard, ela estendeu a mão.— Muito prazer — respondeu, solícita, a mulher a sua frente.

Ela era alta, ruiva, com penetrantes olhos verdes. — Harv me disse que você lhe assegurou que Richard me encontraria e como suas palavras o fizeram persistir. — Ela deu a Harv um sorriso.

Hope olhou para Richard. Ele franziu a testa e percebeu que ambos lembravam o sermão que Hope recebera de seu marido da última vez que Harv esteve lá.

— Desculpe-me por tê-la confundido com a parceira de Richard, é que nunca a conheci. Mas é melhor que seja esposa de Richard, tornará minha ideia rrfais brilhante.

Richard apontou para o sofá.— Que ideia é essa? — ele indagou, encaminhando-os para a sala de estar.— Benie e eu vamos nos casar. Já perdemos muito tempo e queremos realizar a cerimónia o mais rápido

possível. Pensamos que poderiam nos acompanhar a Los Angeles amanhã pela manhã.Os olhares perplexos de Richard e Hope buscavam maiores explicações.— Sei que estamos perto do Natal — continuou Harv. — Mas gostaríamos que fossem nossas

testemunhas. Seria algo simples, apenas um jantar após a cerimónia. Passariam a noite no hotel e retornariam na manhã seguinte. O que me dizem?

Hope achou que a primeira reação de Richard seria rejeitar a ideia, mas ficou admirada quando ele voltou-se e a encarou.

— Tem algo de inadiável para fazer nas próximas quarenta e oito horas?— Não, mas...

— Então, poderíamos considerar a ideia de Harv, afinal, não tivemos lua-de-mel, e esta seria uma boa oportunidade para realizá-la — sugeriu. — Acha que Christopher pode passar uma noite com sua tia Eloise?

— Claro, eles se adoram — ela respondeu de imediato.— Então, está combinado! Harv, ficamos honrados com seu convite. Posso ligar mais tarde para

acertarmos os detalhes?— Sem dúvida! — respondeu o amigo.Em poucos minutos estavam a sós novamente.

— Hope — ele começou —, talvez tivesse me precipitado... Quero dizer, quer mesmo viajar? Harv quase nos forçou a aceitar...

— E claro que quero! — ela respondeu com os olhos brilhando.— Será uma ótima oportunidade para eu dedicar mais tempo a você. Christopher me acompanha a

todos os lugares a que vou desde que nasceu. Deixá-lo com Eloise foi uma ideia fantástica.— Também gostaria de compartilhar de um tempo só nosso. — Richard tomou as mãos

delicadas entre as suas.O coração dela parecia saltar pela boca, tal era a intensidade como palpitava. O momento em que Richard

voltaria a acreditar nela estava chegando!O empregado do hotel não sabia como agradecer a gorjeta que Richard colocara em sua mão.

— Obrigado, senhor... Se precisar de algo, basta me chamar.— Muito agradecido, rapaz — ele retribuiu. — Estamos bem. E agora, com licença.Richard quase batera a porta diante do garoto por distração. Estava interessado em ficar a sós com

Hope.— Deixe-me ajudá-la — interveio, ao ver que ela se esforçava para colocar uma das malas no armário.Ao se aproximar por trás, seus corpos se encostaram, causando uma inquietação passageira. As pernas

dela mal sustentavam o corpo ao simples roçar de sua pele. Aquela não era a primeira vez que sentia uma proximidade maior dele, e em nenhum momento recuou. Em casa, durante o vôo e agora no hotel, as agra-dáveis coincidências estavam se tornando frequentes.

— Estamos adiantados — ela comentou.— E verdade. Ainda temos duas horas antes do início da cerimónia. Gostaria de fazer algo?

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Por que Richard insistia em transferir para Hope aquelas difíceis decisões.Seus olhares se encontraram, e Hope sentiu os olhos castanhos em brasa. Sabia que o desejo era mútuo,

que internamente o fogo da paixão ardia e incomodava, mas ela não poderia tomar a iniciativa; afinal, Richard deveria dar o primeiro passo.

— Podemos dar uma volta — ela sugeriu. — Nunca estive em Las Vegas.Richard não fez questão de esconder uma ponta de frustração em seu semblante, mas conseguiu contornar

muito bem a situação.—É uma boa ideia — respondeu. — Não há conhecimento de noite mais iluminada no mundo. São

tantos luminosos e propagandas! Podemos sair agora, no cair da tarde, e, quando voltarmos, poderá confirmar a minha impressão.

Bastaram poucos metros para que Hope se sentisse maravilhada com o brilho e a agitação da cidade. Caminharam por ruas e avenidas repletas de lojas e restaurantes. Foram momentos de puro deslumbramento.

Ao chegarem ao quarto do hotel, Hope não resistiu e se jogou na imensa cama de casal. Estava exausta, mas feliz.

— Esta cidade é maravilhosa!— Sabia que ia gostar. — Ele sorriu. — Mas creio que não seja o melhor lugar para se viver.

— Talvez tenha razão. Não sei se suportaria tanto movimento. — Hope esticou os braços. — Gostaria de tomar um banho.

— Fique à vontade. Vou beber algo, enquanto está no banho. — E saiu à procura de gelo para seu drinque.Sem saber por quê, ela deixou escapar um suspiro de alívio. Estaria nervosa diante do próprio marido? Hope

sentia a formalidade pairando no ar, e aquilo a amedrontava. Pareciam desconhecidos um para o outro, como se aquele fosse seu primeiro encontro. Balançou a cabeça como se quisesse afastar aqueles tolos pensamentos. Não podia negar que aquela era a primeira vez que estavam realmente a sós desde que ela fora a seu encontro logo após a morte da mãe.

Abriu a mala para pegar seus pertences. Trouxera pouca coisa: apenas um jeans, camisetas, o vestido que comprara e uma camisola de seda.

Pegando o xampu e a escova de cabelos, dirigiu-se ao banheiro. Despiu-se e se colocou sob o chuveiro, deixando a água morna aliviar a tensão. Uma sensação de alívio percorreu seu corpo. Ensaboou-se, fazendo bastante espuma, e mais uma vez deixou a água escorrer livremente pela cabeça, pelo tronco, pelas pernas.

Ao terminar, vestiu o roupão e secou os cabelos.Ao atravessar a porta que dava para o quarto, viu Richard sentado diante da janela, com um copo de

refrigerante na mão.— Trouxe um suco para você — ofereceu ele, virando-se.

Ficou admirado com a imagem que tinha à sua frente.Hope sentiu-se completamente nua diante daquele olhar perscrutador.— Obrigada... Não vai tomar seu banho? — perguntou, como se quisesse desviar a atenção dele.

Sem responder, ele se levantou, deixando o copo sobre a mesa.Cada passo, lento, parecia a proximidade do perigo iminente. Sem perceber, estavam a poucos

centímetros de distância. A respiração arfante foi ficando cada vez mais insuportável.— Gostaria de beijá-la — sussurrou. — Mas temo pelo que aconteceria se assim eu agisse. Não

podemos faltar à cerimónia.— Tem razão — ela concordou, com o coração palpitando forte no peito. — Não podemos decepcionar

nossos amigos.— Infelizmente, isso é verdade. — Pegando o próprio roupão, ele passou por Hope, sem deixar de

encostar em seu braço. — Seria bom se já estivesse vestida quando terminar o meu banho.Seria aquilo uma ameaça? Hope pressentia que aquela seria uma longa noite.Vestida e maquiada, tentou manter a calma ao ver o reflexo dele no espelho. Os cabelos molhados

estavam mais escuros, e o roupão entreaberto deixava à mostra parte do tórax musculoso. Quando Richard andou em direção ao armário, Hope não pôde deixar de reparar em suas pernas, que o roupão não conseguia esconder. Eram uma verdadeira tentação. Com medo de suas próprias reações, correu até o banheiro e lá ficou até a respiração voltar ao normal. Parecia uma tola colegial agindo daquela maneira, pensou. O mais sensato seria sair de lá o mais breve possível.

Richard terminava de atar o nó da gravata. Estava magnífico. Ao colocar o batom dentro da bolsa, Hope sentiu o toque da mão dele sobre seu ombro.

— Você está linda. — Virou-a delicadamente. — Como um anjo de Natal.— Obrigada — disse, ruborizada. — Você também está muito elegante. — E com a ponta dos dedos, ela

afastou uma mecha dos cabelos escuros que insistia em cair sobre sua testa.Com movimentos lentos, Richard pegou a mão delicada e levou-a até a boca. Um beijo sensual queimou sua

pele.— Vamos, temos um dever a cumprir — ele a lembrou.

Era uma pena. Teriam de deixar para satisfazer os desejos mais tarde.A mesma limusine que os apanhara no aeroporto agora os aguardava na entrada do hotel. A espera deles,

o casal de noivos trocava beijos apaixonados.— Olá — Harv os saudou. — Estou guardando este champanhe para depois da cerimónia! — E apontou

para uma garrafa, cuja safra Hope sabia ser especial.Colocando a mão sobre o joelho da noiva, ele informou:— Eles se casaram há pouco mais de um mês, meu amor. E então, querida Hope, tem algum

conselho para nos dar?— Ora, Harv, quem sou eu para dar conselhos?

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— O que mais temo é levá-lo à loucura com minhas manias — Bernardette brincou, virando-se para ela.

— Tudo pode ser superado se houver muito amor. — Hope falava como se quisesse expor seu coração.

— Concordo plenamente — admitiu Harv. — Então, teremos um belo futuro à nossa espera.Richard apenas se limitava a sorrir. O que estaria pensando?

A capela onde a cerimónia seria realizada era menor do que Hope imaginara, mas não menos aconchegante. Com a nave pintada de um branco maculado e as laterais adornadas por lindas pombas pintadas, o ambiente era de pura magia. Cinco fileiras de bancos de madeira de lei que ladeavam o corredor principal e o púlpito discretamente decorado completavam o clima romântico.

Na entrada, o juiz -de paz os aguardava. Fora apresentado à noiva e às testemunhas. O simpático chofer da limusine entregara um lindo buque a Bernardette e outro a Hope.

As mulheres se puseram de um lado, enquanto os homens se colocaram no lado oposto. Às palavras do juiz seguiu-se a música, cantada de forma discreta pelo coral. Quando os noivos trocaram as alianças, o olhar de Hope cruzou com o de Richard, e ela pôde notar um ar de tristeza nele. Por quê, se aquele era um momento de alegria?

Um beijo apaixonado selou a união dos noivos.— Vamos comemorar! — Bernardette exclamou. — Um grande jantar nos aguarda.De volta ao hotel, o garçom levou-os até uma mesa, próxima da orquestra. Sentaram-se, com a garrafa

de champanhe ao lado.— Espero que apreciem o cardápio que escolhi — a noiva comentou.

Conversaram bastante durante a refeição, principalmente sobre as viagens a negócios de Harv, que nunca saía desacompanhado de seu laptop.Hope divertia-se e ria à vontade quando desviou o olhar para Richard. Ele observava detalhadamente cada

movimento seu, a ponto de intimidá-la. Trocaram um sorriso cúmplice.Ao cruzar a perna sob a mesa, Hope sentiu roçar na dele. Ficou encabulada.— Com licença, amigos, mas gostaria de tirar minha esposa para dançar — Richard disse,

surpreendendo-a. — Aceita? — perguntou, virando-se em sua direção.— Oh, sim, gostaria muito!O caminho para a pista de dança tornara-se mais excitante, pois Richard encostava a palma quente da

mão nas costas desnudas, a fim de conduzi-la.Aquela era a primeira vez que dançavam juntos. Quando namoraram, o tempo era gasto em longas

conversas e acampamentos em reservas ecológicas. Mas, naquela noite, parecia que haviam nascido de mãos dadas, tal a harmonia com que deslizavam na pista.

O coração de Hope palpitava ao sentir o abraço dele em sua delicada cintura, e os rostos colados permitiam que a respiração arfante fosse notada sem dificuldade.

— Não pude deixar de reparar como degustava sua lagosta — ele falou, de repente.— Como assim? — perguntou, ao ter seus pensamentos interrompidos com tal comentário.

— Bem, percebi como se deliciava ao comer cada pedacinho dela.— E verdade — admitiu, com um leve sorriso nos lábios. — Não posso negar que adoro lagosta.

— Se que saber, fiquei com inveja...— O que quer dizer com isso? — As sobrancelhas estavam franzidas.— Gostaria de despertar em você o mesmo desejo, é isto o que quero dizer.

Hope sentiu o rosto enrubescer.— Por favor, não me deixe mais encabulada.— Ora, como posso ignorar seu jeito de usar as mãos e a boca?

Após aquelas palavras, Richard iniciou um ritual de sedução que a fazia suspirar de desejo. Com os dedos, desenhava pequenos círculos imaginários nas costas lisas. De repente, Hope sentiu a mão deslizar pela extensão da espinha, deixando a pele arrepiada. Uma leve mordida foi sentida no lóbulo direito, e a boca de Richard foi descendo pelo pescoço delicado até chegar aos lábios. Um beijo discreto fez os fez se encontrarem.— Gostaria de tê-la a meu lado a noite inteira — ele sussurrou. — O que acha da ideia?

Hope sentia-se nas nuvens diante de tal declaração.— Diria que é, no mínimo, tentadora.— Otimo, então poderemos comer a sobremesa e partir em seguida.

E mais uma vez, Richard a provocou com mordiscadas em seu pescoço, deixando-a ainda mais excitada.O que poderia esperar daquela noite que tanto prometia? Teria, por fim, o sonho de um casamento perfeito

realizado? Ela sabia que seus problemas não seriam solucionados em apenas uma noite, mas estava sem condições de raciocinar. Seu único desejo era ser amada por Richard, nem que isso lhe custasse um futuro cheio de dúvidas.

— Parece que o garçom está servindo a sobremesa — ela observou, após desviar a atenção por um segundo.

— Ora, já havia me esquecido do sorvete. — Richard riu.Durante a refeição, os casais conversaram sobre diversos assuntos, mas era evidente a inquietação de

Richard, o que deixava Hope mais ansiosa.No hall do hotel, Harv combinava um horário para se encontrarem na manhã seguinte. Depois das despedidas,

Richard e Hope se dirigiram ao elevador sem trocar olhares ou palavras. Pareciam perturbados como um jovem casal prestes a cometer um pequeno delito. Apenas alguns centímetros os separavam e qualquer leve movimento bastava para roçarem ora as pernas ora os braços.

Richard parecia muito seguro de si ao girar a maçaneta, o que não acontecia com ela, apesar de o marido ter sido bem claro em suas intenções.

Com movimentos lentos, tirou o paletó e afrouxou a gravata. O primeiro botão da camisa foi aberto, e um olhar foi lançado a ela. Ainda continha o desejo de momentos atrás, mas Hope percebeu que algo havia se perdido no caminho. Ele se aproximou, a tensão era clara.

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— Quero você, Hope — Richard murmurou. — Tive de me conter até agora para não assustá-la.— Não tenho medo de você — ela respondeu, colocando os dedos sobre seus lábios, como se quisesse que

ele não falasse mais.Poucos passos foram suficientes para aproximá-los. Trazendo-a junto ao peito, Richard não esperou nem

mais um segundo para beijá-la com ardor. Explorando com a língua a boca delicada, usava uma das mãos para abrir o zíper do vestido. Em resposta, Hope desabotoava cada um dos botões lentamente. Os olhares se en-contraram e, de repente, estavam nus. O calor percorria os corpos como o fogo que devasta campos secos.

— Você está mais bonita do que nunca... — ele falou, enquanto percorria com os olhos o corpo bem delineado. — Fico nervoso só de pensar que posso ter perdido você para outro homem.

Não, Richard não podia pensar aquilo, Hope queria gritar. Não se relacionara com outra pessoa depois da separação. Não poderia, pois o amava.

— Você foi o primeiro e o único — ela sussurrou.Mais um beijo, e uma noite idílica estava por começar. Os abraços tornavam-se mais fortes, e as carícias,

mais íntimas. Seguindo seus instintos, Hope massageava os músculos viris de maneira carinhosa e ao mesmo tempo sensual. Quando se deram conta, estavam deitados lado a lado na cama. Richard não se cansava de admirar as formas tentadoras. Com a ponta dos dedos, percorreu cada centímetro da pele alva e macia. Os movimentos lentos reagiram de forma instantânea no corpo másculo, o que não passou despercebido aos olhos dela. Como se quisesse se entregar de corpo e alma, Hope abriu os braços chamando-o para explorá-la.Aceitando o convite, Richard deitou-se sobre ela delicadamente. Com a boca ávida, beijou um dos seios,

sugando o mamilo, levando-a ao delírio. Com a mão acariciava o outro seio, não lhe dando trégua. O desejo crescia a cada segundo que passava. Mas, para seu desespero, Richard interrompeu de repente as carícias. Foi quando Hope notou que ele se dirigia ao criado-mudo. Ele voltou com uma embalagem aberta, e então Hope percebeu qual era sua intenção. Aceitou a atitude com resignação, pois sempre soube que Richard não pretendia ter filhos, pelo menos voluntariamente. Ia dizer que tomava pílula desde que se casaram, mas e se ele insistisse no preservativo? Seria mais uma demonstração de desconfiança que ela não pretendia confirmar, por isso preferiu se calar.

Em segundos, seu corpo estava novamente envolvido pelo dele, a excitação de Richard pressionando suas pernas, pedindo permissão para penetrar no mais íntimo dos mundos. Hope não tinha como pensar em outra coisa além do prazer que estava sentindo e que também proporcionava a ele. Abrira seu corpo e sua alma para o homem que sempre amara. O delicioso vaivém cadenciado, como em uma dança primitiva, levou-a ao auge do prazer, atingindo o clímax tão almejado. Um gemido de felicidade emitido em uníssono foi o sinal para se descobrir que ambos estavam plenamente satisfeitos.

Cobertos de suor, os corpos se separaram com dificuldade. A sensação de plenitude era tudo o que Hope buscava em sua vida, mas teria conseguido provar ao homem que amava que seus sentimentos eram sinceros? Teria conquistado o marido por completo? Não sabia, mas qualquer palavra seria dispensável naquele instante.

CAPITULO IX

No escritório, Richar-d separava a correspondência quando se deparou com uma carta endereçada a Hope.— Volto já — informou a Jane. — Entregarei esta carta a Hope.Ao chegar à cozinha', conseguiu identificar o agradável aroma de biscoitos de chocolate. Eram para

Christopher oferecer a Papai Noel como agradecimento, quando viesse trazer os presentes. Hope desejava que a véspera do Natal fosse tão marcante quanto a própria data.

Como estava ocupada colocando os quitutes em um pote de vidro, não percebeu a aproximação do marido. Três dias antes, dividiram a mesma cama no hotel e desde então ele se sentia e agia diferente. As lembranças daquela noite eram tão vivas em sua memória que chegavam a excitá-lo. Richard aproveitou para lhe dar um beijo no pescoço quando ela distraidamente afastou os cabelos com as mãos.

— Olá — ele murmurou, sobressaltando-a. — Tenho direito a pelo menos um de seus deliciosos biscoitos?

Hope se virou em sua direção.— Terá quantos quiser — respondeu, alegre. — Sei que aprecia muito chocolate.— Digamos que aprecio tudo o que faz e tudo em você — falou, em tom suspeito.Mesmo sabendo da presença de Jane na sala contígua, Richard não se conteve e beijou-a com avidez, no

que foi correspondido com paixão.A contragosto, ergueu a cabeça e a fitou.— Preciso voltar ao trabalho. Jane já vai embora, e tenho muito a fazer. — Richard falava como se

quisesse justificar sua ausência.— Vim aqui para lhe trazer isto. — Entregou-lhe a coirespondência.

Hope abriu ansiosa o envelope timbrado. Sabia que era algo relacionado a seu curso.— Oh, esta é a autorização que esperava para concluir meu curso! — exclamou, entusiasmada. —

Assim poderei dar aulas e ajudá-lo nas despesas da casa.Richard não tinha dúvida de que Hope seria a melhor professora do mundo, e se sentia orgulhoso em poder

partilhar com ela aquela felicidade. Mas ficaria com ele depois de conquistar o tão desejado diploma?— Até logo — ele disse, lacónico, afastando-se abruptamente.

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— O que houve? — Hope perguntou, intrigada. — Disse algo que não devia?— Não. — E saiu, deixando-a cismada.

A preocupação estampada em seu rosto não passou despercebida para Jane.— O que houve, Richard?— Nada.

— Notei que, de uns tempos para cá, suas atitudes mudaram. Está mais alegre, mais expansivo — ela comentou. — Com certeza essa mudança está relacionada a seu envolvimento com Hope. Mas agora, deixa o escritório contente e volta triste! Não estou entendendo nada.

— Estou tentando organizar minha vida com Hope, e todos os casamentos têm seus bons e maus momentos, só isso.

— Sei que não é apenas isso, Richard — Jane afirmou, com convicção. — Conheço-o há muito tempo para saber que algo não vai bem. Sinto que luta interiormente com um inimigo invisível. Por que não fala a respeito?

— Ninguém pode ajudar.— Nem sua própria esposa?— Hope é a causa de minha luta diária — disse, desconsolado. — Nossa aproximação me

causa pânico.— Como assim?

— Meus sentimentos são contraditórios, e isso me incomoda demais. Quero tê-la a meu lado, mas nego seu amor com medo de perdê-la. Assim como aconteceu com meu pai, que me abandonou, e com minha mãe, que morreu inesperadamente.

— Entendo... — ela disse, amigável. — E a lembrança de Davie deve atormentá-lo ainda mais.— Sim... Christopher me faz lembrar dele, apesar de ter todas as características de Hope. E seu

entusiasmo por tudo é desconcertante.— Parece que isso não o agrada, quando na verdade deveria ser fonte de alegria.

— Este é o meu dilema! — desabafou. — Sinto uma dor muito grande quando deveria sentir muito prazer em tê-los a meu lado.

O diálogo foi interrompido pelo som do telefone, prontamente atendido por Jane. Pelo tom da conversa, Richard já sabia quem estava do outro lado da linha.

— É Adam — ela informou, ao recolocar o fone no gancho. — Perguntou-me a que horas volto para casa.

— Já deveria estar lá, Jane! — ele exclamou, categórico. — É véspera de Natal, e não há nada a fazer que não possa ser deixado para depois. Pode ir, eu mesmo verificarei as outras correspondências.

— Então, se não se incomoda, vou para casa. Ainda temos alguns arranjos para fazer, e Matheus precisa estar bem arrumado quando os avós chegarem. — Jane apanhou a bolsa. — Até mais e obrigada. Quanto ao outro assunto, ainda conversaremos sobre ele. Por enquanto, acho melhor refletir muito e não agir precipitadamente.

— Obrigado, Jane, e feliz Natal.De cabeça baixa, concentrado em seus afazeres, ele não notou quando Hope atravessou a porta com uma

travessa de biscoitos.— Olá — ela disse. — Trouxe-lhe estes biscoitos. Para você experimentar. — Hope estava um tanto

tímida.— Obrigado — respondeu, levantando a cabeça. Ao pegar um dos quitutes, continuou a falar: — Jane

acabou de sair e nos convidou para irmos à sua casa amanhã à noite, caso não tenha outra coisa para fazer.— É uma ótima ideia. Chris poderá levar seus brinquedos novos, e eu levarei um bolo.— Então está combinado, sairemos perto das seis horas da tarde, Ah, já ia me esquecendo: se quiser,

pode convidar Eloise.— Sim. Afina], Eloise se deu muito bem com a mãe de Jane.

A noite prometia ser maravilhosa, pensou Hope. Tudo estava preparado: a ceia, as meias de Christopher. E depois do jantar passaria algumas horas ao lado do filho, contando-lhe histórias até que ele adormecesse. E, então, quem sabe, ela não terminaria a noite nos braços de seu amado marido?

— Bem, vou preparar a mesa — ela finalizou.— Está bem, vou recolher minhas coisas e já vou ajudá-la.

Enquanto finalizava um trabalho no computador, o sinal do fax se fez ouvir, indicando que uma mensagem estava sendo recebida. Richard esperou a finalização da operação para pegar o papel.Não fossem as primeira palavras que lera, teria levado de imediato o fax para Hope, pois a mensagem

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era endereçada a ela. Mas o apelo de seu advogado chamou-lhe a atenção. Era uma oferta exorbitante para seu terreno no Arizona. E o advogado insistia que ela deveria aceitá-la, e inclusive encaminhara cópia do contrato.

Mas aquele valor não condizia com a conversa que tivera com Hope sobre o assunto. Teria mentido mais uma vez? Richard sentiu o chão sumir sob os pés. Logo agora que tentava resgatar a confiança nela!

Decidido, tomou os papéis nas mãos e se dirigiu para onde a esposa estava. Teria de encarar a verdade de uma vez por todas. De súbito, parou. Não seria melhor aguardar até depois do Natal? Pelo menos assim, Christopher não sofreria. Não, ele não suportaria manter a farsa por um segundo que fosse, mesmo por que, o advogado fora muito claro, Hope deveria responder à proposta em vinte e quatro horas.

Seu coração apertado temia pelo que Hope responderia, apesar de ele saber o motivo de sua omissão.Hope estava sentada na cama de Richard, com pacotes e papéis de presente à sua volta. Levantou a cabeça e

abriu um largo sorriso ao perceber a presença do marido. Mas logo os lábios se retesaram ao notar a expressão nos olhos de Richard.

— Algo rrrado? — perguntou, aflita.— Não há nada errado — respondeu, em tom sarcástico. — É apenas uma mensagem de seu advogado,

fazendo uma proposta para seu pequeno terreno no Arizona. — E jogou as folhas em sua direção.Ela pegou os papéis a fim de poder lê-los e levou a mão à boca. Meu Deus, ele não deve estar se

referindo a meu terreno!E muito dinheiro. — Hope estava admirada.— Não se faça de boba! — Richard lançava fogo pelos olhos. — Chega de tanta falsidade, Hope!

Ela ergueu a cabeça.— Como assim?

— Por que mentiu sobre sua propriedade? — As palavras ásperas saíam de sua boca com dificuldade. — Foi muito ingénuaem dar o meu número de fax para seu advogado, se não queria que eu soubesse da verdade.

— Do que está me acusando? — Infelizmente Hope não pôde se conter, e o tom de voz estava se igualando ao dele.

— Você mentiu de novo para mim, é isso o que quero dizer!— Isso não faz sentido! — Hope parecia desesperada. — Não sabia do tamanho das terras. Tinha em

mente que meus pais compraram um pequeno terreno para morarem em sua aposentadoria, é isso!— Dez acres, Hope! Sabe o que é isso? Seria impossível alguém ter uma propriedade desse tamanho e

não saber!— Oh, Richard, nunca me interessei por essas terras! — exclamou, em tom súplice.

— Espera que eu acredite em você?— E por que não?

— Esqueceu-se de que já mentiu para mim uma vez? — A face dele estava ruborizada de raiva. Lembrou-se dos anos em que estivera ausente da vida de Christopher.

— Richard, achei que tivesse me perdoado pelo erro — Hope tentava explicar. — Não há motivos para esconder a verdade sobre o terreno. Pouco me importa seu tamanho, seu valor.

A tristeza nos olhos dela parecia verdadeira, mas...—Você me procurou sem emprego e precisando de ajuda, Hope.

Aquelas palavras atingiram seu coração como um punhal. Erguer a cabeça era como se erguesse o orgulho ferido.

— Ouça bem, Richard. Não o procurei para pedir ajuda. Quis apenas que conhecesse seu filho, pois achei que fosse seu direito.— Hope não sabia de onde vinha a força em sua voz. — E porque ainda te amo.

Quisera ele acreditar em tudo o que Hope dizia, mas a experiência do passado e suas dúvidas não lhe permitiam tal complacência.

— Ora, Hope, você sabia que, se aproximando de mim como fez, não permitiria que nem você nem Christopher passassem por qualquer dificuldade.

— O que quer dizer? Que teve piedade de nós? É isso? — Ela estava chocada. — Foi por isso que se casou comigo?

Richard agora pouco se importava se suas palavras a machucariam ou não. Afinal, ele também estava sofrendo.

— Digamos que eu queria ficar ao lado de meu filho...Hope não estava acreditando no que ouvia. Respirou fundo e tentou se controlar.

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— Pensa que eu estava desesperada à procura de um pai para meu filho?— Não sei o que pensar, só sei que você faria tudo para ver Christopher feliz.— Está enganado, Richard! — Como ele ousava falar uma coisa daquelas? — Nunca dividiria minha vida

com um homem que só sente pena de mim.— Como pode falar em orgulho se estava pronta para se entregar para mim a um estalar de meus dedos?

Hope empalideceu.— Richard, está sendo cruel comigo. — Seu tom de voz era quase inaudível. — Pensa que planejei

tudo nos mínimos detalhes, como uma perfeita vigarista? Como poderia fazer isso? Mais cedo ou mais tarde, sendo meu marido, você saberia dos detalhes da venda do terreno.

A resposta estava na ponta da língua, parecia óbvia demais.— Ora, Hope, a venda poderia durar anos para ser concretizada. As terras têm um valor potencial muito

grande, como disse seu próprio advogado. Até lá, seus estudos estariam concluídos e, com o dinheiro em mãos não precisaria mais de mim para sustentá-los.

— Não posso acreditar que pense isso de mim!Nem ele queria acreditar, mas agora suas suspeitas se confirmavam.— Por que demorou quatro anos para me dizer que eu sou pai? Somente quando perdeu seu emprego e

sua mãe, quando se viu desamparada, veio a meu encontro, em busca de apoio. E o pior: usou uma criança inocente como escudo para suas dificuldades, sua insegurança.

Em um ímpeto, ela se levantou da cama, deixando várias coisas caírem a seus pés.— Richard, você está confuso. Essa é a única conclusão a que posso chegar ao ouvi-lo dizer tantas

sandices a.meu respeito. Mas não pense que vou tentar convencê-lo do contrário. Você é muito teimoso para acreditar em mim, e eu sou muito orgulhosa para me rebaixar a tal ponto.

Passou sem olhar para ele em direção ao corredor. Desceu a escada o mais rápido que pôde.Com o orgulho ferido, Richard a alcançou e a pegou pelo braço.— Aonde pensa que vai?

— Não sei, mas aqui não posso ficar. Vou dar uma volta e espairecer. Assim, também, poderá refletir em todas as injustiças que disse sobre mim.

E, livrando-se da mão pesada, saiu, batendo a porta de entrada.

Richard refugiou-se em seu escritório sentindo-se entorpecido. Não conseguia raciocinar, apenas sentia uma dor profunda no peito.

O pôr-do-sol anunciava uma noite gelada.Olhando para o relógio, notou que era o horário costumeiro de o filho acordar do decanso vespertino e

procurar pela mãe. Preocupado, subiu a escada e abriu a porta do quarto.Para sua surpresa, Christopher não estava deitado, muito menos brincando no quarto. Richard, então,

correu até o aposento de Hope, na esperança de encontrá-lo. Mas a procura foi em vão, inclusive pelos dois banheiros da casa. Aflito, começou a gritar por seu nome e descer a escada de dois em dois degraus, até alcançar o pavimento inferior. Percorreu todos os cómodos, mas não havia sinal algum de seu filho.

A porta da cozinha estava aberta. Teria ele ido para o quintal? Richard correu para a varanda e gritou o nome de seu filho.

— Christopher! Onde está você?Quando se deu conta, Hope estava sem fôlego. Correra desenfreadamente desde a casa de Richard, como

se quisesse fugir de alguém ou de algo. Resolveu diminuir o passo e refletir. Talvez ainda houvesse uma chance de o relacionamento entre eles dar certo. Mas, enquanto Richard duvidasse de sua palavra e não retirasse os absurdos que dissera sobre ela, nada poderia fazer.De súbito, estacou. Passou a mão pelo rosto e respirou fundo. Precisaria encarar a realidade e enfrentá-la.

Decidida, virou-se e iniciou o caminho de volta.Exausta, parou na varanda. Chamou por Richard, mas não teve resposta. Abriu a porta e deparou com o

marido, pálido.— Christopher... — Ele pronunciou o nome lentamente.

— O que há com Chris? Onde está ele? — Sua voz tornou-se aguda quando percebeu a preocupação nos olhos de Richard.

— Ele... não está em casa! — Cobriu os olhos com as mãos. — Não posso pedir-lhe calma se nem eu estou conseguindo me conter.Estou a ponto de ligar para a polícia ou algo parecido.

Richard já fora investigador e sabia dos perigos que uma criança da idade dele corria.Nos três anos de sua existência, Hope tentara lhe mostrar os limites aos quais tinha de obedecer, mas

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agora não estava tão segura da educação que dera a Chris.— Diga-me o que aconteceu.Richard andava de um lado para o outro da sala.— Subi a escada até o quarto, mas ele não estava lá.

— Talvez tenha escutado nossa discussão. Chris nao dorme todas as tardes.Richard passou as mãos pelos cabelos, a preocupação em seus olhos transformou-se em pânico.

— Mas eu o procurei por toda a casa.— Olhou em todos os lugares onde costuma se esconder?— Como assim?

— Ele costuma brincar de esconde-esconde no quarto dos fundos ou embaixo do escorregador. As vezes sob as camas ou dentro dos armários.

Mal ela acabara de falar e Richard já estava no terceiro degrau.— Ei, o menino já deve estar bastante assustado. Por favor, não piore as coisas — Hope alertou.

Richard parou, percebendo que Hope tinha razão.— Está bem. — Engoliu em seco. — Vamos juntos.

Hope se aproximou e tocou seu braço. Um calor percorreu sua espinha. Mas deveria se conter. Seu filho estava em primeiro lugar.

— Vamos até meu quarto — ela se apressou em sugerir.Olharam debaixo da cama, mas nada encontraram. Richard deu um profundo suspiro.Hope lembrou-se da última vez que brincaram e se dirigiu ao armário. O alívio tomou conta dela quando

viu um pequeno par de meias atrás de suas roupas. Avisou Richard de sua descoberta apontando para os pezinhos. Ele teve os lábios abertos em um largo sorriso.

Com vagar, Hope afastou os vestidos e se ajoelhou no chão.— O que está fazendo aqui? — ela indagou.— Nada.

— Não conseguíamos encontrá-lo. Ficamos muito preocupados — disse Richard. — Não deveria se esconder de nós assim.

— Mas você gritou com minha mãe — o menino respondeu, com os olhos marejados, indefeso.— Meu bem — interveio Hope —, papai e eu tivemos uma pequena discussão, foi só. Não queríamos

assustá-lo.— Mas assustaram — ele disse, com a voz embargada.

Hope nada pôde fazer, além de abraçar seu filho.— Desculpe-nos, querido. — Passou as mãos em seus cabelos para acalmá-lo.

— Ainda está brava com papai?Como poderia responder tal pergunta? Não poderia mentir para ele.— Temos muito o que conversar, meu bem — falou, em tom conciliador. — Mas prometo-lhe que

chegaremos a um acordo e não vamos mais assustá-lo, está bem? Agora pensaremos apenas no lindo Natal que teremos!

— Com muitos presentes? — o pequeno perguntou.— Sim, com muitos presentes — concordou Richard, estendendo os braços para o filho. — E então?

Vamos jogar um pouco de bola enquanto sua mãe termina de preparar o jantar?— Está bem — ele respondeu, correndo em sua direção.

O olhar de Richard encontrou-se com o de Hope. Nada estava acertado, e a tensão ainda dominava o ar, mas ambos fariam o que fosse preciso para que o filho se sentisse amado e protegido.

Assim que os dois saíram para o quintal, ela foi até o telefone. Precisava falar com seu advogado.Ficou feliz ao perceber que, ao terceiro toque, alguém atendeu.— Alô — disse a voz do outro lado.— Oh, ainda bem que o encontrei!

— Hope, como vai? — perguntou o advogado. — Teve sorte, eu estava de saída.— Não vou me demorar. Na realidade gostaria de mais informações sobre a proposta do terreno. Não

sabia que eram dez acrese que valiam tanto.

— Sua mãe e eu também não sabíamos. Alguns meses atrás, você talvez teria recebido um quarto do que estão oferecendo. Mas teve sorte, pois uma estrada irá passar por aquela área, valorizando a região. A companhia que fez a oferta quer construir um shopping center. Por isso aconselhei-a a aceitá-la, uma vez que ninguém mais pagará tanto pelas terras.

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— Ainda não posso acreditar.— Pois acredite. Uma benfeitoria como uma estrada pode triplicar o valor de terrenos à sua volta.

Mandei um fax para que pudesse verificar os documentos e agilizar o processo. Pense bem e tente vir a meu escritório depois de amanhã. Qualquer dúvida, anote-a e converse comigo. Por enquanto é só, minha querida, preciso desligar. Feliz Natal.

— Feliz Natal — ela respondeu, desligando o aparelho em seguida.Pouco se importava com o dinheiro envolvido, estava mais preocupada com a reação de Richard.

Da janela da cozinha, podia ver os dois brincado no quintal. Tudo seria tão perfeito se Richard lhe desse um voto de confiança!

Em pouco tempo a comida estava na mesa, e pai e filho entravam na cozinha.Richard conversava alegremente com Chris, mas mal dirigia a palavra a Hope. Sabia que teriam muito

a conversar após a refeição.Depois de se deliciarem com o peru, deixaram a mesa e foram até a lareira, pendurar as meias.— Pronto, meu amor — ela disse. — Agora Papai Noel pode vir e deixar seus presentes.— Está lindo, mamãe! — Os pequenos olhos brilhavam de emoção. — Você me conta uma história?

— É claro!E se sentaram no sofá, com o filho entre eles.

— ...e então, um anjo levou a mensagem do menino para Papai Noel, que satisfez seu desejo — finalizou Hope, minutos depois.

O pequeno bocejava de sono quando ela fechou o livro.— Vamos deixar os biscoitos e o leite para o bom velhinho. Assim ele terá forças para ir para a

próxima casa, certo?— Certo, mamãe — ele respondeu.

Logo depois de ser colocado na cama, Christopher caiu em um sono profundo, abraçado a seu urso de pelúcia.

Vê-lo dormindo com ar sereno era tudo o que Hope pedia a Deus. Agora, teria de enfrentar outra batalha. Não sabia como iniciar a conversa, por isso deixou o quarto do menino a passos lentos, e assim continuou degrau após degrau.

Antes de encarar Richard, pegou o saco com brinquedos e distribuiu-os nas meias. De costas, percebeu que ele se aproximava. Virou-se devagar.

— Quer beber algo? Um conhaque, quem sabe? — ele ofereceu.— Não, obrigada.Dirigindo-se até a estante, Richard se serviu da bebida.

— Foi minha culpa o que aconteceu, eu o assustei — ele disse, segurando o copo entre as mãos. — Não posso imaginar o que aconteceria se Chris saísse pela porta.

Hope tinha absoluta certeza de que Richard se sentiria como o único responsável pelo ocorrido.— Christopher conhece seus limites, Richard, sabe que não pode sair sozinho.

Com o dedo, ele misturou o líquido.— Pode ser, mas, quando se está assustado, tudo pode mudar. Não quero que ele corra perigo a meu

lado, Hope.Sua voz era de súplica, o que a emocionou sobremaneira. Estava sendo difícil manter-se afastada dele,

Hope queria a todo custo acabar com a angústia em seu olhar.—Tenho de confiar na educação que dei para Chris. Só assim ele se sentirá seguro e confiante, protegido

de todos os riscos. Pelo menos, da maioria deles.Richard tomou o conhaque em dois goles, pôs o copo sobre a estante e depois a segurou pelo braço.

— Devemos mantê-lo sob vigília constante, a nosso lado sempre.— Pelo amor de Deus, não, Richard. Ele precisa viver a vida dele.— Droga, Hope, você não entende! É muito fácil perdê-lo, e eu não quero isso. Veja o que aconteceu

hoje.Ela sabia que aquela preocupação era proveniente do passado, do que havia acontecido com Davie.

— Não se torture, Richard.— Diz isso agora, mas não me perdoaria se algo tivesse acontecido com nosso filho.Hope fechou os olhos, mas nem em pensamento poderia imaginar algo de ruim acontecendo com Chris,

era muito doloroso. Foi então que se colocou no lugar do marido.Com a palma da mão, acariciou seu rosto.

— Sei o que está pensando, mas não pode querer que o passado se repita. Está sendo muito cruel

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consigo mesmo.Sem palavras, Richard a beijou com sofreguidão. Talvez quisesse apagar da memória as péssimas

lembranças do passado. Havia paixão e desespero naquela atitude. Era um beijo que buscava ajuda, ela sentia. Seu coração ficou apertado dentro do peito e lágrimas brotaram de seus olhos.

O primeiro beijo deu sequência a outro e mais outro. Sem perceber, estavam abraçados, as carícias foram se tornando mais íntimas e a paixão explodia com toda intensidade. O cheiro do conhaque ainda era marcante, e em pouco tempo Richard a livrara de sua blusa. Com a mesma agilidade, Hope tirara a camiseta dele e desabotoara seujeans. Uma a uma, as roupas eram jogadas ao canto, enquanto se beijavam e se tocavam mais e mais.

Com avidez, a boca dele encontrou os seios túrgidos. Louca de paixão, Hope arranhava as costas másculas, ansiando por mais prazer. Em pouco tempo, estavam deitados sobre o carpete. Com as pernas, Hope envolveu a cintura dele, sentíndo-o penetrar suas entranhas. Um gemido de prazer tomou conta do ambiente. Ambos chegaram ao clímax simultaneamente. Sem saber por quê, lágrimas rolaram pelas faces delicadas. Seria de alegria? Ou porque sabia que aquele não passava de mais um momento de êxtase? Como saber que o que sentiam era amor? Richard não tinha condições de raciocinar, apenas entregava-se sem reservas, nem exigências. Restava-lhe a esperança de que algum dia ele confiasse nela. Mas naquele momento queria apenas satisfazer o desejo de ficar a seu lado, como um único ser, que nunca mais se separariam.

Mas, então, Richard a afastou com um dos braços.— Céus, não nos protegemos! — exclamou, preocupado.

CAPITULO X

A preocupação inesperada era um sinal de que Richard ainda não recuperara a confiança na esposa. Fazerem amor naquele instante fora mais um ato de desejo incontido do que uma manifestação de sentimento e crédito nela.

—Richard, estou tomando pílula — informou em tom amigável.O silêncio foi a pior resposta que poderia ter tido.Durante o período em que estiveram casados, Hope aprendera a ser paciente, em uma tentativa de realizar seu tão perseguido sonho de ser feliz. Era verdade que não agira corretamente ao omitir do então namorado a gravidez inesperada, portanto, era consciente de que tinha uma parcela de culpa na desconfiança de Richard. Mas será que não dera para perceber ainda que ela já pagara caro por seu erro? Não pôde conter a raiva que crescia dentro dela.— Quando acreditará que te amo, Richard? — perguntou, em tom quase inaudível.

A voz cortante era pior que um punhal.— Há quatro anos jurou que me amava, mas me abandonou sem maiores explicações.

Aquele assunto voltava novamente à discussão.— Meu amor por você era tão grande a ponto de abrir mão dele em favor de sua liberdade.Franzindo as sobrancelhas, Richard dava clara demonstração de indignação.— Como pode afirmar que ter um filho seria uma prisão para mim?— Pelo menos era o que falava em relação a casar e ter filhos.

Eles não faziam parte de seus planos, de sua vida profissional que estava começando. Eu não queria comprometer seu futuro, fazendo-o casar-se com alguém por remorso ou obrigação, não seria justo. E foi pensando nisso que fiz o que fiz. Mas reconheço que cometi um grande erro, por isso trouxe Christopher a seu encontro.

— Hope respirou fundo para continuar em seguida: — Mas parece que não acredita em meu amor, e pensa que voltei por causa de seu dinheiro! Acha que não tenho respeito, pelo menos, pelos sentimentos de nosso filho?

— Não venha me dizer que não sabia a respeito do terreno...— Oh, pelo amor de Deus, Richard! Meus pais compraram as terras há anos, era a única propriedade

que minha mãe tinha. — Hope juntou as palmas das mãos, como se suplicasse compreensão.— O advogado, sr. Gunthry, me disse que a inesperada valorização se deve à estrada que cortará a

região!—E também sobre isso não sabia, certo?

Ela respondeu negativamente com um gesto de cabeça, mas não pôde evitar que lágrimas brotassem de seus olhos.

— Depois de tantos anos, pensei que fosse encontrar o mesmo Richard bondoso e gentil que me amava.

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— Ela abaixou a cabeça, em sinal de cansaço. — O mesmo homem que sofreu bastante na vida, mas sempre conseguia enxergar uma esperança no fim do túnel. Mas a mim não dá uma única chance. Abre as portas de sua casa para todos, mas eu não tenho um mínimo de espaço em seu coração. Aproxima-se apenas quando quer fazer amor, e, mesmo assim, não se entrega por inteiro. Pensa que não percebo, que isso não me machuca?

— Não sabe o quanto dói não poder confiar em você...— Richard, nada mais posso fazer para provar meus sentimentos. Cabe apenas a você decidir nosso

futuro. Estou cansada de lutar para ser merecedora de sua confiança e de seu amor. De nada adiantarão os meus esforços. E é uma pena, pois Christopher sente tudo o que se passa entre nós.

— Pode ficar tranquila, o que aconteceu esta tarde não se repetirá.— Nada é previsível em nossas vidas, Richard, principalmente quando há uma criança envolvida.

Qualquer um pode notar a tensão que existe quando estamos juntos. — Aquele estava sendo um diálogo franco e talvez definitivo. — A verdade é que não consigo mais viver a seu lado dessa forma, tendo que provar a cada dia o quanto gosto de você, e não ser correspondida.

Richard a fitava angustiado, pois dentro dele também duelavam sentimentos conflitantes.— Ficaremos aqui esta noite -— ela continuou. — Mas amanhã pela manhã, partiremos para a casa de

minha tia, pelo menos até encontrar um lugar para morar. Poderá ver Christopher quando quiser; afinal, é o pai dele.

Richard virou-se para ela, sério.— Se sair desta casa, entrarei com um pedido de custódia para ficar com Christopher.Aquelas palavras eram como uma punhalada em suas costas. Não havia sofrido o bastante ainda?— O que pretende com essa atitude? Manter-nos presos a alguém que não nos ama? Pensa que

sobreviveremos a uma situação dessas?Novamente ele se mantivera em silêncio perturbador, aquela frieza a aniquilava. Richard insistia em

manter erguidas as barreiras para separá-los. Mas as forças estavam se esgotando, e Hope não se sentia capaz de transpor qualquer tipo de obstáculo. Em um ímpeto, levantou-se e foi para seu quarto, pois não queria mais sofrer humilhações.

O frio do quarto não era pior do que o frio gélido que tomava conta do coração de Richard. A porta do cómodo, checou se a chave do carro estava no bolso da calça. Atravessou o corredor escuro a passos lentos. Não queria que soubessem que estava saindo para um lugar a que nunca mais fora desde que Hope se mudara para sua casa.

Parecia ser a única pessoa a circular pelas ruas na véspera de Natal. Sim, pois todos estavam com suas famílias, aguardando a data festiva.

Em pouco tempo, estava à porta do cemitério. Desceu do carro e se dirigiu ao túmulo do filho. Parecia aliviado.

— Davie — falou, como se estivesse rezando. — Como gostaria de poder ouvi-lo, sentir sua presença. Preciso de alguém para conversar, meu filho.

Mas o silêncio foi inevitável.Richard deveria saber que o diálogo deveria ser interior, sem a interferência de qualquer pessoa.

Somente sua própria consciência responderia a seus questionamentos.— Por que partiu, Davie? Por que todos que amei em minha vida partiram? Não mereço ser feliz, é

isso?A força da dor era imensa. Richard ajoelhou-se no chão pedindo que ela fosse embora junto com a

solidão que dilacerava seu peito. O frio e o silêncio da noite o rodeavam, e então aslágrimas rolaram por suas faces como um rio caudaloso. Ele não pôde conter a forte emoção.— Hope está partindo... — ele murmurou entre soluços. — E nada posso fazer para impedi-la.

Ela não quer mais ficar a meu lado. Não me ama, pois, se amasse, não desistiria tão facilmente.Mas o que ele estava dizendo? Desde que se casaram, Hope não fazia outra coisa senão tentar provar a

cada dia seu amor. E ele estava deixando escapar mais uma chance de ser feliz. Sim, havia sido por amor que ela o abandonara, queria dar-lhe a liberdade. E estava prestes a fazê-lo de novo. Um relacionamento não sobreviveria a tanto desgaste, cada dia era uma batalha sem chance de vitória ou pelo menos de uma trégua. Sim, qualquer um se cansaria de uma vida assim, tão infeliz. E ele estava sendo o causador de tal sentimento.

Será que não conseguia enxergar que não poderia mais interferir no passado, mas o presente e o futuro apenas dele dependiam? Não poderia abrir mão dela, do filho. Eles representavam a sua felicidade.

Olhando para o céu, Richard não tinha mais os olhos turvos pelas lágrimas, algo clareava sua visão e

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ele não sabia explicar o quê. Precisaria aprender a confiar novamente, teria de dizer-lhe que a amava, que os amava.

Olhou ao redor e não encontrou ninguém. Teria apenas conversado consigo mesmo? Teria sido a voz da consciência que o deixara tão lúcido?

De repente, o mundo ficara aberto para novos horizontes, e uma luz surgira para iluminá-lo. Ele se levantou e olhou novamente para o céu. Uma estrela parecia brilhar com mais intensidade e piscava sem parar. Esfregou os olhos uma, duas vezes, mas o brilho insistente permanecia a chamar-lhe a atenção. Sorriu e a estrela parecia corresponder. Sim, sem dúvida, aquela era uma resposta positiva para suas perguntas.

Mesmo depois de tanto tempo, as lágrimas ainda escorriam pelas faces de Hope, como forma de amenizar a dor. O diálogo daquela noite a atingira profundamente, e partir era uma atitude que não desejaria tomar, mas não houvera meios de evitar tal decisão, seria melhor para todos.

O barulho do portão indicava que Richard partira. Para onde poderia estar indo a uma hora daquelas?, questionou-se.

Levantou-se e foi ao quarto de seu filho, que dormia, desconhecendo os problemas que o cercavam. Da porta, lembrou-se de que não colocara os presentes sob a árvore. Por três vezes fez o mesmo percurso até terminar a tarefa. Insone, resolveu fazer um chá. Da janela da cozinha avistou uma estrela que parecia brilhar muito mais que as outras. Intrigada, foi até varanda. Com as mãos apoiadas na balaustrada, ficou a admirar o céu estrelado por um longo tempo. E não poderia ter chegado a outra conclusão: amaria Richard para sempre, estando longe ou perto dele.

"Então por que o está abandonando?", a voz vinha de seu interior.— Estou enfraquecida — murmurou. — Não posso viver lutando contra alguém que não confia em mim."Detenha-se apenas em amá-lo, e o tempo se encarregará de mostrar a verdade."A simplicidade da afirmação a confundiu. Seria aquela a solução de seu problema? Não estaria ela também

criando barreiras para entregar seu coração? Conforme as últimas palavras dele, Hope desaparecera sem maiores explicações, rompendo um relacionamento que tinha tudo para ser eterno. Estava claro que Richard não superara a traição, sentindo-se amargurado com mais um abandono, após ser dolorosamente desamparado pelos pais. Como poderia acreditar nela se já falhara em um momento tão importante em sua vida? Era natural que ele quisesse de proteger de mais uma decepção.

Hope estivera tão preocupada em fazer dar certo o casamento que não se preocupara com os sentimentos de Richard.

E se partisse novamente, estaria provando que não era merecedora da confiança dele, Richard se sentiria rejeitado mais uma vez.

— Mas ele não me ama! — exclamou em um sussurro aflito.Estaria sendo justa com Richard, após aquela afirmação? Pensarna festa de aniversário por ele organizada, sua preocupação em deixá-la sempre à vontade para agir como

quisesse e a forma como faziam amor, com paixão e volúpia, fez surgir nela uma dúvida que havia muito a atormentava: o desprezo de Richard. Existiria mesmo esse sentimento da parte dele? Afinal, ele nunca fingira ou simulara suas atitudes.

"Então, o que vai fazer?", perguntava a voz interior, que guiava Hope em seus pensamentos.Voltar atrás em sua decisão de partir seria o mais sensato, se não quisesse pôr a perder o que tinha de

mais precioso: seu amor por Richard. A conversa de horas atrás fora muito tensa, talvez uma boa noite de reflexão fosse suficiente para retomarem o diálogo e chegarem a um consenso. Sim, Hope não poderia per-der aquela oportunidade.

O portão estava sendo aberto. Richard retornara de seu passeio. Foi quando o coração disparou.Ao entrar, a primeira atitude de Richard foi correr até o quarto de Hope. Sabia que estaria lá e

certamente ela não tentaria uma reaproximação depois da discussão. Mas ele poderia mudar aquele quadro tão negro.

Ao encontrar o quarto vazio, entrou em pânico. Foi ao quarto de Christopher e, ao vê-lo deitado na cama, sentiu alívio.

Retornou à sala e percebeu luzes na cozinha e na varanda. A porta dos fundos aberta indicava que ela estava lá e para lá ele se dirigiu. Encontrou-a de costas, a admirar o brilho das estrelas.

— Hope?Ela se virou, com o rosto na penumbra. Alguns passos os aproximaram e, mesmo sem saber se seria

correspondido, ele pegou em suas mãos. Estavam geladas. Talvez como seu coração. Precisaria implorar-lhe para não fechar as portas de seu ser, eomo ele mesmo fizera e se arrependera. Para isso, seria necessário

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demonstrar todo seu afeto e carinho.— Como posso convencê-la de que partir não é a decisão mais certa que poderia tomar? — perguntou,

em um ímpeto, não querendo perder um minuto sequer de sua atenção. As mãos delicadas ameaçavam escapar das suas. — O que aconteceria comigo se aceitasse seu amor e fosse novamente abandonado?

— Oh, Richard, eu não o deixaria por nada neste mundo!— Mas estou muito inseguro, Hope, entenda — ele implorou. — Só agora percebi o erro que estava

cometendo. O que posso fazer para fazê-la mudar de ideia?Ela sorriu.

— Não vou mais partir. — Os olhos brilhavam de contentamento. — Não vou abrir mão de conquistá-lo. Eu te amo e vou lutar por este amor, nem que ele me custe a vida, pois é ela que quero entregar a você.

Uma ponta de receio ficou perceptível em sua voz. Temia que ele a rejeitasse de novo. Mas como isso poderia acontecer, depois de tal declaração?

— Quero apenas seu amor, Hope. Ensine-me a viver e estaremos sempre um ao lado do outro.— Você... me aceita, então? — Ela parecia sem fôlego, como se não acreditasse naquelas palavras.— Sempre a aceitei, e a Christopher também. Somente não queria admitir, para não sofrer. —

Encarou-a como se quisesse lhe transmitir sua confiança pelos olhos. — Fui cego por não perceber o sacrifício que fez por mim há quatro anos. Mas agora quero estar com os olhos e o coração bem abertos para ver e sentir tudo, em sua plenitude. :

Hope sorriu por entre as lágrimas.— Pode me perdoar, Hope? Podemos começar de novo? — perguntava, súplice.

Lágrimas transbordavam pelos olhos dela.— Oh, Richard, como te amo! — afirmou, efusiva. — Mas não podemos nos esquecer do que passou.

Será sempre uma lembrança da lição que aprendemos.— Lembrar-me de que a machuquei é uma tortura, mas tentarei encarar os fatos da mesma forma

que você: como umalição de vida.

— Vamos nos esquecer dos danos e nos concentrar em nossos sentimentos, está bem?Ele abraçou a mulher que amava.

— Eu sempre a amarei, Hope. Até o fim de minha vida, e vou lhe mostrar que isso é verdade.— Não há o que provar, apenas me ame.

As juras de amor continuaram, até que os lábios se encontraram em um beijo ardente.De repente, sons foram ouvidos. Seriam os sinos de Natal? Mas nenhum dos dois queria acabar com a

magia do momento e o beijo se prolongou por mais alguns segundos.Saciados, ambos olharam para o céu, com um sorriso nos lábios.— Está vendo aquela estrela? — ele perguntou.— Sim — ela respondeu, balançando a cabeça.

— Parece estranho, mas ela me fez descobrir em tempo o erro que cometeria se a deixasse partir, como se fosse uma luz a iluminar meu caminho. Refleti muito sobre nós, sobre o que aconteceu comigo... com Davie. E concluí que não posso culpá-la pelo passado, muito menos pelo futuro que eu mesmo estava enterrando. Quero uma família unida. — Ele virou-se e a fitou.— E quem sabe, maior.

— Richard, tem certeza? — A pergunta mostrou sua surpresa.Ele compreendia seu espanto; afinal, anos atrás, a ideia também o assustara. Mas agora, a situação era completamente diferente.— Sim. Além de uma companhia para Christopher, será também a realização de mais um sonho.

Quero ser um pai mais participativo, desde o início.— Você sempre esteve presente em meu pensamento em todos os momentos, mesmo estando longe.Richard transbordou de alegria ao ouvir tal declaração. Nada mais restava a fazer a não ser tomá-la nos

braços. Hope correspondeu ao gesto, encostando a cabeça no peito dele.— Esta é realmente uma noite de milagres... — ele disse, olhando novamente para aquela estrela. Richard

estava agradecido por ter nos braços seu anjo protetor.

EPÍLOGO

Um ano depois...

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Uma garrafa de champanhe repousava dentro de um balde com gelo no criado-mudo. Richard trouxera uma bandeja com petiscos enquanto Hope tomava banho. Deitado na cama, aguardava por ela com o presente que comprara de Natal.

Quando a porta do banheiro se abriu, Richard mal conseguiu respirar. Hope surgira vestindo uma bela camisola de cetim branco. A fluidez e a transparência do tecido deixavam à mostra os contornos que tanto o excitavam. Ele ficou com medo de que seu coração fosse saltar do peito, tal era sua emoção.

Hope enrubesceu diante dos olhares insistentes do marido. Caminhando em sua direção, apontou para a bebida.

— O que significa isso? — perguntou, como se quisesse desviar a atenção dele.— Achei que seria uma ótima oportunidade para comemorarmos — respondeu com um sorriso. — Esta é

a nossa data especial.De repente, Richard mudou o tom de voz.

— Não sei se deveria, mas... — Respirou fundo, talvez para reunir forças. — Estamos tão felizes que não sei se este é o momento apropriado de lhe contar tudo o que aconteceu naquela noite, véspera de Natal.

Agora, deitada ao lado dele, pousou uma das mãos no peito másculo.— Já é hora de saber que pode confiar em mim, querido. Pode me falar o que o atormenta.

E Hope tinha razão, pois, no decorrer daquele ano, muito conversaram e Richard reencontrara nela a amiga de antes, em quem podia confiar seus mais cândidos sonhos e maiores temores.— Sim, é verdade — ele concordou. — Talvez por isso tenha pensado tanto no assunto esta noite.

Encostando sua cabeça no ombro dele, Hope pediu:— Então, me conte.

Tê-la em seus braços dava-lhe forças para abrir seu coração e acabar com a ansiedade que o consumia.— Contei-lhe que fui ao cemitério naquela noite e a estrela mais brilhante me deu esperanças e me

guiou de volta para você. O que não contei foi que ouvi uma voz que guiou meus pensamentos para o caminho certo.

Hope levantou-se e olhou seu marido nos olhos.— Eu também, quando estava olhando para a estrela. — Ela pensou por um momento. — Acha que

era Davie, e para mim, minha mãe?— Talvez. Ou o mesmo anjo que tocou o sino. Não sei. Mas sei que quero me lembrar daquela noite

para sempre. Percebi que tinha que me desfazer do passado para me deixar ser amado por você no futuro. — Ele tirou uma pequena caixa do meio dos travesseiros e pôs sobre o colo dela. — Feliz Natal!

Os olhos dela encheram-se de lágrimas.— Não chore ainda. Abra o presente antes — brincou Richard.

Ela desfez o laço. Quando abriu a caixa ficou admirada. Um anel de brilhante reluzia diante de seus olhos.

— A estrela — ela adivinhou sem que ele precisasse lhe falar.— yocê gostou?— E maravilhoso! — respondeu, estendendo a mão.

Richard tirou o anel da caixa e colocou-o no mesmo dedo em que estava a aliança.— Sempre que olhar a aliança, verá o brilho da estrela que nos uniu.Hope debruçou-se sobre o peito másculo e lhe deu um beijo. Richard entendeu o gesto como uma

confirmação de suas palavras, mas surpreendeu-se quando, ao trazê-la para deitá-la sobre seu corpo, ela recuou.

— O que houve?Hope sorriu e acariciou o rosto de Richard.

— Oh, nada, apenas gostaria de lhe dar um presente também. Mas é uma pena que não possa vê-lo. Ainda...

— Como assim?— Bem, e se lhe disser que não poderei beber o champanhe por, no mínimo, nove meses?A resposta era óbvia, principalmente ao vislumbrar aquele sorriso maroto e o brilho em seu olhar.

— Você está grávida!— Sim! O médico confirmou esta manhã. Está... feliz?

Desde o Natal anterior, conversaram muito sobre o assunto e decidiram deixar a vida tomar seu curso natural.— É claro! — respondeu, enfático. — Mas e seu curso? Sei como é importante para você.

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— Não se preocupe, o curso estará praticamente concluído antes de o bebé nascer. E quanto a lecionar... começarei pelos nossos próprios filhos.

— Pelo que Christopher tem aprendido e as lições diárias que tem me dado, posso assegurar que será a melhor professora do mundo. — E com um beijo mostrou ainda mais sua alegria.

Dessa vez, Hope não resistiu quando ele a trouxe para junto de si.— Feliz Natal, sra. Walker — foram suas palavras ao fim do beijo.

Passando a ponta dos dedos sobre os lábios dele, Hope retribuiu.— Feliz Natal, sr.. Walker.

Apesar de o abajur ser desligado, um brilho intenso iluminava o quarto. Os beijos ardentes eram complementados com carícias mais íntimas, e juras de amor sussurradas eram trocadas entre eles. A estrela brilhava incessante no céu e novamente o som de sinos a tocar se fez ouvir, mesmo naquela noite sem vento.

Era véspera de Natal, uma noite de amor, mágica e milagres.

FIM