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COLÉGIO GIORDANO BRUNO PARALISIA CEREBRAL E ENERGIA AFETIVA: UMA ANÁLISE ATRAVÉS DA MUSICOTERAPIA FERNANDA MINGIONE DA FONSECA MARIA GABRIELA DE CARVALHO LEAL RENATA FREDERICO DE MESQUITA SARA LEAL SILVÉRIO ORIENTADORA: LAURA BATTAGLIA SÃO PAULO 2015

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COLÉGIO GIORDANO BRUNO

PARALISIA CEREBRAL E ENERGIA AFETIVA: UMA ANÁLISE ATRAVÉS DA

MUSICOTERAPIA

FERNANDA MINGIONE DA FONSECA

MARIA GABRIELA DE CARVALHO LEAL

RENATA FREDERICO DE MESQUITA

SARA LEAL SILVÉRIO

ORIENTADORA: LAURA BATTAGLIA

SÃO PAULO

2015

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COLÉGIO GIORDANO BRUNO

PARALISIA CEREBRAL E ENERGIA AFETIVA: UMA ANÁLISE ATRAVÉS DA

MUSICOTERAPIA

30ª MOSTRATEC – Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia

FERNANDA MINGIONE DA FONSECA

MARIA GABRIELA DE CARVALHO LEAL

RENATA FREDERICO DE MESQUITA

SARA LEAL SILVÉRIO

ORIENTADORA: LAURA BATTAGLIA

SÃO PAULO

2015

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a nossa orientadora e coordenadora Laura Battaglia

Cavalcanti, pois sem sua orientação, dedicação e paciência, o trabalho não tomaria o rumo

certo que tomou.

Agradecemos à musicoterapeuta Luciana Ribeiro Leal Silvério, à Sônia Cristina

Esplendor dos Santos, diretora da instituição independente com interesse público, à Maria

Cecília Morbi Amaral, diretora da instituição particular (as duas instituições de ensino citadas

no trabalho), por terem possibilitado as nossas visitas e entrevistas fundamentais para o

desenvolvimento da pesquisa.

Agradecemos à Viviane Louro, à Eliana Brandão, à Julia de Oliveira Thomazini, à

Maria Luzinete Leal da Rocha, à Maria Helena Esposito pelas entrevistas enriquecedoras e de

grande efeito para os resultados do trabalho.

Agradecemos à professora de Metodologia do Trabalho Científico, Mariana Giorgion,

ao diretor Nivaldo Canova e a todo o corpo estudantil do Colégio Giordano Bruno, que

contribuíram e possibilitaram a realização deste trabalho.

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“(...) a música pode, ao penetrar no homem, romper barreiras de

todo o tipo, abrir canais de expressão e comunicação e induzir

modificações significativas na mente e corpo.” (GAINZA, 1988).

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RESUMO

Este trabalho consiste em analisar os efeitos da musicoterapia em pessoas com encefalopatia

crônica não evolutiva, mais conhecida como paralisia cerebral, caracterizada por uma lesão

permanente no sistema nervoso central, sem características progressivas e de fundação no

período do nascimento. Trata-se de uma investigação qualitativa, realizada através da

observação de sessões de musicoterapia, entrevistas com profissionais da área de

musicoterapia, educação musical e neurologia, da aplicação de questionários a pais de

pacientes de musicoterapia, e da análise de textos relacionados aos assuntos. A hipótese

inicial do grupo foi de que os efeitos da musicoterapia em pessoas com paralisia cerebral

dependem da influência afetiva, seja ela negativa ou positiva, tanto da parte dos familiares,

como da parte dos profissionais que atuam nesta área. Embora esse tipo de tratamento se

apresente como uma forma recente de terapia, disponível a todas as pessoas, observamos que

ela é um complemento bastante importante para o desenvolvimento de pessoas com paralisia

cerebral, no que diz respeito à estimulação auditiva, motora e oral, e também no que se refere

às relações afetivas. Naquilo que diz à nossa hipótese, a musicoterapia em pacientes com

paralisia cerebral tem sim efeitos, e o investimento afetivo, tanto por parte de instituições e

profissionais, quanto de familiares, é decisivo para os efeitos benéficos da terapia.

Palavras-chave: Musicoterapia. Paralisia cerebral. Afeto.

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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................................................................pág. 7

2. Metodologia................................................................................................................pág. 10

3. Fundamentação teórica.............................................................................................pág. 11

3.1. O desenvolvimento cerebral.......................................................................pág. 11

3.2. Paralisia cerebral.........................................................................................pág. 12

3.3. Música...........................................................................................................pág. 15

3.3.1. Definindo música.................................................................................pág. 15

3.3.2. Música e cérebro.................................................................................pág. 17

3.3.3. Educação musical................................................................................pág. 21

3.4. Musicoterapia......................................................................................,,,.....pág. 24

4. Discussão......................................................................................................................pág. 31

5. Conclusão.....................................................................................................................pág. 39

6. Referências bibliográficas..........................................................................................pág. 40

7. Anexos..........................................................................................................................pág. 48

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho de pesquisa integra o programa da XX Feira de Ciências do Colégio

Giordano Bruno, cujo tema norteador para o ano de 2015 é Energia.

Durante a elaboração deste trabalho o problema central inicialmente encontrado foi:

“Como a música ajuda a melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiência?”. Nossa

hipótese era de que a música contribui sim para a qualidade de vida de pessoas com qualquer

deficiência, considerando que ela desperta nos seres humanos sensações diversas dependendo

da melodia tocada e de como pode sensibilizá-lo. Tomamos esta afirmação devido a nossa

relação pessoal com a música.

Ao nos aprofundarmos acerca da música, nos deparamos com a terapia que pode

empregar a música e seus elementos, instrumentos musicais, canto, som e até mesmo

composições que o próprio paciente realiza, em diferentes situações, sendo a principal delas,

na reabilitação física, motora, cognitiva, mental e social de indivíduos e grupos de pessoas.

Qualquer pessoa pode se beneficiar do tratamento, entre elas indivíduos que apresentam

distúrbios na fala e na audição, estudantes com dificuldade de aprendizado, idosos, pacientes

de doenças crônicas, dependentes químicos, menores infratores e pessoas com deficiência. A

musicoterapia também pode atuar na prevenção de problemas emocionais de pessoas de todas

as idades e uma prática menos comum é a sua atuação na sonorização de ambientes, onde se

promove o beneficiamento dos que convivem em lugares, como indústrias, escritórios,

estabelecimentos industriais, entre outros, cujo índice de ruído é alto e podendo causar

estresse e prejuízos à audição.

Entretanto, para realizar o trabalho de Feira de Ciências, era necessário delimitar mais

o problema central. Desta forma, definimos que pesquisaríamos se há e quais seriam os

efeitos da musicoterapia em pessoas com paralisia cerebral. Essa foi a deficiência escolhida

por termos integrantes no grupo que se relacionam com pessoas que têm essa deficiência, com

profissionais das área de música e musicoterapia. Também nos instigou o fato de ser uma área

pouco explorada e divulgada aqui no Brasil, considerado um estudo relativamente novo.

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Percebemos que as pessoas, por meio da música, recordam memórias nas quais certa

música estava presente ou que a letra e até mesmo a melodia lembram um momento do

passado. Ao ouvir uma música semelhante à que tocava em um dia marcante, como o

casamento de um familiar querido, são despertados sentimentos de felicidade, nostalgia e

afeto; ou até mesmo quando a letra da música descreve ou remete a momentos já vividos.

Também notamos que a música é utilizada no cotidiano com o intuito de facilitar a

memorização, como as utilizadas no meio estudantil. Um exemplo é a música da

‘trigonometria’ que os professores de matemática utilizam para facilitar a memorização de

seus alunos, cantada no ritmo da música natalina Jingle Bells (Um, dois, três..., três, dois,

um..., tudo sobre dois… A raiz vai no três e também no do-ois! A tangente é diferente, veja só

você: raiz de três, sobre três, um, raiz de três, hey!. Existem também as fórmulas de escolha

que ajudam a memorizar a separação silábica (“Lá em cima do piano tem um copo de

veneno…”), brincos que ajudam a nomear partes do corpo (“Cabeça, ombro, joelho e pé...),

ou cantigas de pular corda que auxiliam na memorização da ordem numérica (“Quantos anos

você tem?”) ou alfabética (“Suco gelado, cabelo arrepiado, qual é a letra do seu

namorado?).

Portanto, inicialmente criamos a hipótese de que a música também poderia ser útil no

tratamento da doença de Alzheimer, já que essa doença causa danos significativos à memória

e investigamos se seria pertinente alterar o tema para: a influência da musicoterapia na

qualidade de vida de pessoas com paralisia cerebral e Alzheimer, visando analisar e comparar

os efeitos que ela surte em pessoas em ambos os casos. Queríamos também comparar os

efeitos da musicoterapia em uma patologia que ocorre no início da vida (paralisia cerebral) e

outra que surge no final, na fase idosa do indivíduo (Alzheimer).

Entretanto, ao nos aprofundarmos sobre a paralisia cerebral e a doença de Alzheimer,

tivemos uma noção da amplitude dos temas, o que requereu um recorte do assunto para

tratarmos de apenas uma questão norteadora, que no caso, foi a paralisia cerebral. Além disso,

não foi de acordo do grupo comparar os efeitos que a musicoterapia surte em uma doença não

evolutiva (paralisia cerebral) com outra, cujos sintomas evoluem (Alzheimer).

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Discutindo sobre a questão de energia, encontramos a questão norteadora da pesquisa: “O

investimento afetivo, tanto dos profissionais, como dos familiares, influencia nos efeitos da

musicoterapia em pessoas com paralisia cerebral? ”. A hipótese inicial do grupo é que esse

investimento é decisivo para os efeitos positivos ou negativos nesses pacientes. O objetivo

geral do trabalho é investigar como o investimento afetivo dos profissionais e dos familiares

interfere nos efeitos da musicoterapia.

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2. METODOLOGIA

Fez parte da metodologia do trabalho a leitura de textos sobre: musicoterapia, paralisia

cerebral, música, vínculos afetivos familiares, desenvolvimento neurológico humano,

linguagem, educação musical para crianças e educação musical especial (para pessoas com

deficiência), a fim de adquirir um embasamento teórico das questões consideradas

importantes para o desenvolvimento do trabalho.

Foram realizadas entrevistas com profissionais da área de neurologia, musicoterapia,

educação musical e membros da instituição independente com interesse público, com o intuito

de analisar o ponto de vista desses profissionais em relação a cada tema específico, com foco

na musicoterapia. Para obter material de campo e analisar como terapeuta desenvolve seu

trabalho e como os pacientes reagem às estratégias propostas, foi acompanhada uma sessão de

musicoterapia em grupo na instituição instituição independente com interesse público e uma

sessão individual em uma instituição particular.

Pretendia-se inicialmente entrevistar a maioria das famílias da classe do Projeto

Interdisciplinar de Estimulação e Habilitação (PIEH) da instituição independente com

interesse público, onde foi acompanhada uma sessão de musicoterapia. Contudo para isso

seria necessário que houvesse uma introdução aos pais, feita pela instituição, sobre o trabalho

que seria realizado. Isso demandaria um tempo que a realização desta pesquisa não permitia.

Duas mães que têm seus filhos inseridos nessas instituições, sendo uma frequentadora

da instituição independente com interesse público e a outra da instituição particular, foram

entrevistadas por meio de um questionário objetivo de vinte e sete questões (Anexo 1) que

visou coletar informações sobre o investimento afetivo que a família faz para ser possível o

tratamento do seu filho, incluindo os diferentes tipos de terapia que o paciente frequenta e

com que regularidade; a estrutura de sua família e a possível visão que ele tem sobre a música

e a musicoterapia, sendo essa interpretada pela família do paciente e os profissionais que com

ele lidam.

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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1. O desenvolvimento cerebral

O cérebro humano é dividido em dois hemisférios: o esquerdo, que é responsável pela

linguagem e pelo pensamento lógico, e o direito, que é responsável pelas funções viso-

espaciais. Existem diferentes áreas específicas, como visão, audição e fala, e cada uma delas

possui seu próprio armazenamento de memória para cada uma de suas funções.

Quando o feto completa 12 semanas, aproximadamente, o cérebro já está em formação

e ele já é capaz de reconhece sons internos (batimentos cardíacos da mãe e de sua circulação)

e externos (ruídos, vozes, música e principalmente a voz materna). A partir da 24ª semana de

gestação, o feto já está pronto para responder a estímulos de luz, dor e sons, e reage a estas

excitações.

Para entendermos a capacidade de aprendizado e de memória do feto é necessário

verificar como o mesmo absorve os estímulos do meio externo e de que maneira responde a

eles. A música parece ser um grande e importante estímulo, uma vez que a vibração sonora

pode acalmar ou excitar o feto, acelerando ou diminuindo os seus batimentos cardíacos (o

nível de atividade do feto diminui quando a mãe ouve música relaxante ou fala com ele).

Desde o nascimento, o crescimento intelectual do cérebro humano não é regular nem

contínuo, pois todas as experiências sensitivas que ocorrem durante a vida toda do indivíduo

influenciam no desenvolvimento e na estimulação cerebral. Dos primeiros anos de vida até a

infância, os estímulos recebidos são fundamentais para a aquisição de linguagem,

psicomotricidade e construção da intelectualidade, porque nessa fase da vida eles estão mais

propensos a formar novas conexões com diferentes áreas do cérebro, ou de uma forma mais

cietífica, formar sinapses e estabelecer redes neuronais.

A relação do bebê com os outros é fundamental para sua constituição mental e

também para sua aprendizagem. Os pais (principalmente a mãe), são as primeiras fontes de

estímulos para seus filhos. A voz materna é o ponto de partida para a aprendizagem da

linguagem: o bebê percebe que pertence a uma família e à uma sociedade ao ser evocado

pelos chamamentos do outro.

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Quando a criança já está com 2 anos de idade realiza o dobro de sinapses1 em relação

a sua vida fetal e, consequentemente, consome o dobro de energia. Com o maior número de

possibilidades de sinapses pode-se ter memória e aprendizagem mais eficientes, e o processo

de formação de sinapses não depende apenas do comportamento biológico, mas também de

estímulos externos estabelecido na relação com as outras pessoas.

Os cinco sentidos são o canal de comunicação com o mundo, pois eles têm relação

direta com o cérebro, e essas ligações são interconectadas. Um exemplo é a fala e a sua

conexão com a audição: uma criança aprende a falar ouvindo as outras pessoas falarem, logo,

o som é associado com informações já conhecidas. Relacionamos o que vemos, ouvimos e

sentimos com o que está armazenado em nosso cérebro.

3.2. Paralisia cerebral

A encefalopatia crônica não evolutiva, mais conhecida como paralisia cerebral, é uma

deficiência que ocorre por alguma lesão cerebral que afeta o sistema nervoso central (SNC)

em sua fase de maturação ou de um erro do desenvolvimento cerebral. Os danos podem ser

causados pré/durante ou pós parto, são permanentes e não evoluem com o passar do tempo. É

importante frisar que paralisia cerebral não é a mesma coisa que paralisia infantil, pois essa é

causada pelo vírus da poliomielite.

Em 1843 o Dr. William John Little descreveu pela primeira vez a encefalopatia

crônica da infância, e a definiu como uma patologia relacionada a diversas manifestações,

mas tendo como principal a rigidez muscular. Em 1862, ele estabeleceu uma relação entre o

diagnóstico da deficiência e o parto anormal.

Freud, em 1897, utilizou pela primeira vez o termo paralisia cerebral (PC) para

designar esse quadro. Winthrop Phelps consagrou esse termo ao se referir a um grupo de

crianças que apresentavam transtornos motores devido a lesões cerebrais localizadas no

sistema nervoso central.

O Simpósio de Oxford, em 1959, estabeleceu que PC significa:

1 Comunicação entre os neurônios que ocorre através de estímulos elétricos e químicos

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(...) sequela de uma agressão encefálica, que se caracteriza, primordialmente, por

um transtorno persistente, mas não invariável, do tono, da postura e do movimento,

que aparece na primeira infância e que não só é diretamente secundário a esta lesão

não evolutiva do encéfalo, senão devido, também, à influência que tal lesão exerce

na maturação neurológica. (ROTTA, Newra Tellechea. Paralisia cerebral, novas

perspectivas terapêuticas. Jornal de pediatria, v. 78, n. 1, p. 48-54, 2002.)

O termo paralisia cerebral foi considerado, por alguns, um tanto pejorativo, porque no

seu sentido literal significa uma paralisação total do cérebro, que ele não vai evoluir de

maneira alguma, o que não é verdade, pois o cérebro pode sim estabelecer novas conexões a

partir do contato constante com estímulos externos (o que chamamos hoje de plasticidade

neuronal).

O diagnóstico da PC é multidisciplinar e realizado por pediatras, neurologistas,

oftalmologistas, fonoaudiólogos, entre outros, pois apesar da deficiência motora ser o critério

para a classificação do tipo da PC, outros sintomas estão associados, em diferentes

combinações, como: epilepsia, transtornos de linguagem, auditivos, oculares, visuais e

deficiência intelectual. O cérebro de uma pessoa com paralisia cerebral, apesar de ser

anatomicamente normal, apresenta estruturas que não funcionam devidamente. O atraso

intelectual é facilmente identificável no início da vida escolar e, portanto, pais e professores

devem acompanhar atentamente o aprendizado da criança.

Alguns dos recursos utilizados para diagnosticar a paralisia cerebral são exames de

neuroimagem, que localizam as lesões no cérebro, e Eletroencefalograma (EEG), que auxilia

no diagnóstico de epilepsias, quadro muito comum dessa deficiência cujo tratamento varia de

acordo com o tipo de crise. O diagnóstico da paralisia cerebral deve conter o histórico do

comprometimento predominantemente motor não evolutivo, o exame neurológico capaz de

identificar o tipo de PC, EEG (nos casos de epilepsia associada), Tomografia Axial

Computadorizada (TAC) e Ressonância Magnética (RM).

Os tratamentos dependem das lesões que a paralisia causou no indivíduo. Pelo da

deficiências motora ser a principal, a terapia mais indicada por profissionais é a fisioterapia,

prática convencional e, portanto, mais aceita socialmente.

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A criança com PC costuma apresentar menor peso, menor estatura e menor resistência

a infecções, em comparação às crianças da mesma idade sem nenhuma deficiência; retardo

mental, atraso no desenvolvimento motor, permanência de movimentos e posturas da primeira

infância. Na maioria dos casos, há uma dificuldade de aceitação da criança pelos pais, que

sonhavam com um filho “perfeito” e saudável. A superproteção e a reação de culpa

influenciam a criança a apresentar problemas de comportamento e desenvolvimento. O

médico deve estar ciente de que os pais precisam do devido acompanhamento e orientação:

relações mãe-filho, pai-filho, pai-mãe-filho, familiares, escola e comunidade devem ser

levadas em grande consideração para que o tratamento da criança com PC seja pleno e

completo.

O tratamento da paralisia cerebral é realizado através de estímulos que podem

amenizar os sintomas: o quanto antes o tratamento for iniciado, melhor será a resposta do

sistema nervoso central (SNC) aos estímulos. Antigamente, o atendimento de crianças com

PC era baseado nas experiências pessoais de cada profissional, mas atualmente, há estudos e

pesquisas que dão várias respostas aos problemas encontrados.

É necessário uma equipe multidisciplinar para atender e acompanhar pacientes com

PC: especialistas em fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicopedagogia,

psicologia, oftalmologia, ortopedia, neurologia, neuropediatria e pediatria. Essa equipe deve

estar atenta às etapas do Desenvolvimento Psicomotor (DPM) e usar de vários estímulos

sensitivos e sensoriais, a partir de objetivos e prioridades específicos definidos para cada caso.

A aquisição adequada de massa óssea durante a infância e a adolescência é importante

para prevenir uma osteoporose futura, que é um risco grande para pessoas com PC, pois está

associada a diversos fatores, como a imobilização prolongada, o uso de determinados

medicamentos por longos períodos, a presença de doenças crônicas e déficits nutricionais.

Para tratar a espasticidade de forma medicamentosa, são utilizados anticonvulsionantes. Por

espasticidade entende-se uma anomalia do sistema nervoso central, que causa um aumento

nos tônus musculares, que, por sua vez, limita os movimentos do indivíduo. Pode vir a causar

câimbras, convulsões e até mesmo deformidades como desvios de coluna.

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Acerca das causas, as lesões no SNC nos casos de PC são decorrentes de fatores

endógenos (internos) e fatores exógenos (externos). Fator endógeno é a propensão

geneticamente herdada que o cérebro tem de ser lesionado: o feto em formação, no momento

da fecundação, herda determinado ritmo de crescimento do SNC, as potencialidades das

atividades motora, instintiva-afetiva e intelectual que este irá exercer e a plasticidade cerebral,

que é a capacidade de adaptação do cérebro, base de qualquer aprendizagem. Os fatores

exógenos causam determinado tipo de comprometimento cerebral, dependendo do momento,

duração e intensidade em que este incide. Os fatores exógenos podem se dividir em causas

pré-natais (como infecções e parasitoses; intoxicações; radiações; traumatismos; e fatores

maternos), perinatais (mau uso de fórceps, asfixia; hipoxemia, que é a diminuição de

concentração de oxigênio no sangue; e isquemia, que é a diminuição da entrada de sangue no

cérebro) e pós-natais (distúrbios metabólicos; infecções; encefalites pós-infecciosas e pós-

vacinais; hiperbilirrubina por incompatibilidade sanguínea materno-fetal, onde a bilirrubina

destrói o neurônio pois é tóxica; intoxicações; traumatismos cranianos encefálicos; processos

vasculares; e desnutrição).

Os tipos de paralisia cerebral podem ser classificados de acordo com o momento em

que o dano foi causado, o local do cérebro que foi afetado, os fatores causadores, os sintomas

ou a distribuição topográfica das lesões. A classificação de acordo com aspectos anatômicos e

clínicos da lesão se divide em: espática ou piramidal, que ocupa 88% dos casos de PC

(hemiplegia, monoplegia, diplegia, triplegia ou tetraplegia, onde encontra-se hipertonia

muscular extensora e adutora dos membros inferiores, hiperflexia profunda, sinal de Babinski

e déficit de força localizado ou generalizado), coreoatetósica (alterações no tono muscular do

tipo distonia), atáxicas (alterações do equilíbrio e da coordenação motora, associadas à

hipotonia muscular), mista (caracterizada pelas diferentes combinações de transtornos

motores pirâmido-extrapiramidais, pirâmido-extrapiramidais-atáxicos ou pirâmido-atáxicos).

3.3. Música

3.3.1. Definindo música

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Para haver comunicação oral, é necessária a audição, que permite que o indivíduo

transforme os sons que ele está escutando em mensagens que façam sentido. Os sons são

vibrações capitadas pelo orgão receptor da audição e transformadas e sinais bioelétricos. A

audição permite ao indivíduo, a capacidade de discriminação da intensidade sonora,

discriminação tonal, identificação de timbres, localização espacial dos sons, compreensão da

fala e interpretação de sons complexos, como a música. Pesquisas indicam que o ambiente

musical em que o ambiente convive influencia no aguçamento do aprendizado musical

facilitando o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem e de mecanismos da

cognição. A prática musical estimula o desenvolvimento da percepção auditiva, sendo está

facilitadora do desenvolvimento fonológico. Pessoas que praticam música “apresentam

melhor desempenho em tarefas de matemática, leitura, vocabulário, sintaxe e habilidades

visuespaciais e motoras”. (EUGÊNIO, Mayra, 2011). A música pode fazer parte de diversos

processos terapêuticos, como o de fonoaudiologia, pois trabalha o desenvolvimento da

audição e da linguagem.

A música é composta por uma sequência de sons que se relacionam, isso é o que a

torna harmoniosa e agradável aos ouvidos. Ao tocar apenas uma nota no violão, por exemplo,

dificilmente será transmitido algum sentimento em quem a ouvir, mas, ao tocar um acorde, é

mais provável que a pessoa identifique aquele som como tenso ou “calmo”.

As sensações que a música desperta depende de diversos fatores, como o estado de

espírito de quem ouve e de quem transmite a música, que interferem diretamente no modo que

ela será transmitida e ouvida, ou seja, o cenário em que é apresentada.

Ela pode ser transmitida por meio de canções, instrumentos ou performances.

Exemplos de performances são: cerimônias, rituais, e até eventos musicais ou teatrais. Estes,

por sua vez, são considerados como eventos únicos, uma vez que a música, mesmo que tocada

novamente do mesmo jeito, não desperta as mesmas sensações.

A partir de meados do século XX, a música, assim como outras artes, se transformou

num produto do mercado capitalista, consumida por nós através das mídias (é o que

chamamos de cultura de massa).

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Assim como as palavras, a música promove comunicação. Muitas vezes, uma pessoa

não consegue expressar em forma de palavras o que há dentro do seu interior, aquilo que ela

oculta dos outros e não admite para si mesmo, mas a partir da música, ela pode libertar tudo

isso, só por meio de melodias, batuques, notas, composições, etc.

Clarice Costa (2006, p.9) afirma, a partir de seus estudos, que os pacientes são

verdadeiros “performers”2, por meio da música e relata uma experiência própria:

“(...) sem eu saber ou entender, tanto as histórias como as músicas ouvidas nesses

momentos iam se mesclando e formando a minha história, e começavam a tecer a minha

identidade sonora. ”

“A música tem uma qualidade de viajar, de atravessar, enfim, “de ir de lugar em lugar

em uma sociedade. ” (Edward Said apud COSTA, Clarice Moura; CARDEMAN, Clarice.

Musicoterapia no Rio de Janeiro, 1955 - 2005. Rio de Janeiro, 2006 *).

A música ultrapassa limites de domínios diferentes, variando em sua produção,

recepção e utilização, em todos os momentos históricos, em todas as mais diversas áreas, por

todos os meios de convivência e lugares físicos, em todas as pessoas do mundo, no dia-a-dia,

enfim, está entrelaçada na sociedade como um todo, exercendo uma grandiosa função

coletiva e tendo seu próprio espaço no meio social. Busca-se encontrar e compreender o que a

música pode afetar, por meio dela mesma.

3.3.2. Música e Cérebro

No cérebro humano, quanto maior for o prazer ao escutar uma música, maior será a

quantidade de dopamina3 no cérebro. Há também as funções musicais, que são conjuntos de

diversas atividades cognitivas e motoras que fazem parte do processamento da música.

Segundo Barbizet e Duizabo, em 1985, quando a música é utilizada como atividade

neuropsicológica, requer diversas funções do cérebro, como a auditiva, utilizada para escutar

2 (“performer” é o nome que se dá a pessoa que exerce a narração de sua própria história, de forma consciente

e/ou inconsciente) 3 Neurotransmissor ligado às sensações de prazer.

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e até mesmo apreciar uma harmonia, um ritmo ou um timbre; a função visual, utilizada para

ler uma partitura; a função motora, para tocar um determinado instrumento, e por fim a

interpretação e representação musical interior, com as funções cognitivas e emocionais.

De acordo com Zatorre e McGill, ao pensar no cérebro anatomicamente, não existe

uma parte específica neurológica para a música, como há para a linguagem ou para a audição,

sendo a parte musical, divididamente presente em diferentes áreas cerebrais, mesmo nas áreas

que possuem relação com outros tipos de cognição.

Hoje em dia, a música ultrapassou sua natureza artística e passou a ser um modo de

estudo de diversos aspectos da neurociência. O ato de ouvir música abrange quase todas as

funções cognitivas. As áreas afetadas pela música variam de acordo com as experiências

individuais e com o treinamento sobre a música que a pessoa tem, tornando o estudo bem

mais complexo.

Quanto mais a pessoa ouve música, mais o cérebro irá adquirir os padrões de melodias

e ritmos, e desse modo, a pessoa passará sempre a ouvir mais música. O prazer de ouvir

música, provavelmente vem do sentimento agradável que ela dá ao cérebro.

De acordo com o neurologista Mauro Muskat da Universidade Federal Paulista de

Medicina que pesquisou as alterações elétricas no cérebro dos pacientes ao escutarem música,

disse que de um modo geral, as funções musicais aparentam ser complexas, múltiplas e de

localização assimétricas. Dividindo o hemisfério direito para altura, timbre, discriminação

melódica; e o esquerdo para ritmos, identificação semântica de melodias, o senso de

familiaridade e o processamento temporal e da sequência dos sons. De acordo com ele “um

paciente que tenha sofrido algum dano cerebral pode recuperar algumas funções se for

estimulado com a música”.

A música interfere na plasticidade cerebral, ou seja, nas adaptações realizadas pelo

cérebro, favorecendo conexões entre os neurônios da parte frontal, que é relacionada à

processos de memória e atenção, além da música estimular a comunicação entre ambos os

lados do cérebro. Ultimamente, a música tem sido apresentada como importante fonte para o

desenvolvimento do sistema neurológico da criança e também de suas funções cognitivas.

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Em relação à parte psíquica, a música faz parte dos momentos emocionais importantes

da vida das pessoas. Esse processo tem início nas cantigas de ninar e vai até as músicas

fúnebres. Essas questões se associam à construção de relações afetivas com a música, e este

afeto pode ser adquirido novamente na exposição e na presença de determinadas músicas que

irão relembrar esse sentimento.

Os afetos de uma pessoa podem ser constantemente estimulados por meio da música,

a ponto de ouvir uma música que relembre um momento triste e não se sentir feliz, ou o

contrário que é até uma recomendação musical para mobilizar o tratamento da depressão.

Quase todas as regiões do cérebro e dos sistemas neurais, são envolvidas pela

atividade musical, por meio de exames de imagens do cérebro, pode-se perceber que a música

que tem a capacidade de emocionar, ativa as estruturas das regiões cerebelares4. O ato,

praticamente automático, de acompanhar uma música, tem a capacidade de ativar a região do

hipocampo5, e/ou a região do córtex frontal inferior.6

A formação do cérebro se dá por meio de três partes:

➔ Arqui-Cérebro (cérebro reptiliano), comum à todos os animais;

➔ Sistema Límbico, que é a aquisição evolutiva nos mamíferos;

➔ Neo-cérebro cortical, que está presente em seres mais evoluídos

biológicamente, como os símios, as baleias, os golfinhos e os seres humanos.

O ritmo, apresenta uma relação com o cérebro reptiliano, que é o sistema comum à

todos os animais e é responsável pelo instinto. Então, as músicas com um ritmo básico,

primitivo ou primário, como os batuques ou o ritmo eletrônico, são uma grande fonte de

estímulos para a parte reptiliana do cérebro humano.

Já as músicas mais complexas e melodiosas, iriam provocar o lado emocional do

cérebro, como as músicas clássicas e românticas. Esses tipos de música, ativam o sistema

límbico do cérebro, que tem relação com a intuição e o sentimento.

4 A função básica do cerebelo é de sistematizar e modular a função motora, coordenando os movimentos,

regulando o equilíbrio, os tônus musculares e mantendo a postura. 5 Principal região responsável pela memória. 6 Lobo Frontal.

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Uma das experiências do sentido mais precoces do ser humano, com todas suas

diferenças e qualidades de ritmos, timbres e melodias, fisiologicamente, é o som. Esses sons

precoces do ser humano estabilizam-se duradouramente nas características do ser humano.

São três os elementos básicos que compõe a música:

➔ Harmonia, consiste na simultaneidade de notas musicais, por exemplo, os

acordes do violão;

➔ Melodia, que são as notas tocadas separadamente, por exemplo, o piano, o

saxofone ou a própria voz.

➔ Ritmos, trata-se da noção métrica-temporal da música, a batida da bateria, por

exemplo.

São três as etapas que envolvem o processamento musical:

➔ Percepção Musical, que tem o córtex auditivo primário e o giro temporal como

áreas responsáveis. Lembrando que o córtex primário é sensível e perceptível

ao tom, enquanto o que faz associação à audição, é sensível aos

processamentos mais complexos lineares, como a melodia, e os não lineares,

como a harmonia.

➔ Reconhecimento, que é relacionado à emoção e envolve o sistema límbico7,

sendo que o mesmo está envolvido com a memória musical e com as emoções

que são ligadas à música.

➔ Emoção.

Pelo fato da música ativar muitas áreas do cérebro, isso pode se tornar um problema

para algumas pessoas, um exemplo é a epilepsia musicogênica, que é um caso raro onde as

crises são estimuladas por um estilo musical, nota musical, som instrumental ou até mesmo

por um cantor específico. Existem outros distúrbios relacionados com a música, como as

Alucinações Musicais8, a Amusia9 e a Musicofilia10.

7 Responsáveis primeiramente por controlar as emoções e secundariamente por participar das funções de

aprendizado e memória. 8 Caracterizam-se pela audição de melodias, harmonias ou ritmos com um ou mais timbres instrumentais ou

vocais. 9 Incapacidade de captar os sons musicais, de lembrar-se de uma melodia.

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Divisão do encéfalo de acordo com seus córtex funcionais.

Fonte: <http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=1201>. Data de acesso: 02/05/2015.

3.3.3. Educação Musical

A música é importante para a formação de toda e qualquer pessoa, sendo uma forma

do ser humano se relacionar com o mundo, e é um meio para desenvolver qualquer tipo de

atividade, pois trabalha a concentração, a autodisciplina, a capacidade analítica, o

desembaraço, a autoconfiança, a criatividade, o senso crítico, a memória, a sensibilidade e os

valores qualitativos, de acordo com Hans-Joachim Kollreutter, educador musical e

compositor alemão, naturalizado brasileiro.

Segundo Viviane Louro, Gardner afirma que todos são capazes de aprender música, é

só uma questão de adaptação. Todas as pessoas, inclusive aquelas com algum tipo de

deficiência, têm o direito de ter acesso a um ensino de música sem preconceitos. Porém,

apesar de ser lei o ensino de música em todas as escolas públicas (as particulares são

10 Obtenção enorme de prazer por meio da música.

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convidadas a oferecer esse curso), a maioria delas não oferece concurso para professores de

música.

O “fazer musical” não é somente aprender a tocar um instrumento a partir de uma

determinada idade e ter “talento”, pois há cada vez mais pessoas acreditando e pesquisando

que a música é muito importante para o desenvolvimento do ser humano, que pode permear

todas as esferas da vida de um indivíduo, estabelecendo qualquer relação, capaz de criar laços

afetivos, de contribuir na prática de qualquer profissão, pois ela trabalha a concentração, a

autodisciplina, a capacidade analítica, o desembaraço, a autoconfiança, a criatividade, o senso

crítico, a memória, a sensibilidade e os valores qualitativos: “(...) a música é importante para o

desenvolvimento do ser humano, independente da relação que é mantida com ela.” (LOURO,

2013),

Conhecer a deficiência que seu aluno tem e saber quais adaptações serão necessárias;

ir além do instrumento musical, explorar outros aspectos do “fazer música”; planejar o

trabalho juntamente com profissionais de outras áreas relacionadas, como fisioterapeutas,

fonoaudiólogos, psicólogos etc; elaborar metas de ensino sabendo quem é o público-alvo, o

que se pretende atingir com ele, e a forma como essa meta será alcançada, os métodos; e

principalmente, ter uma postura paciente, exigente, persistente, que incentiva e que respeita,

são questões fundamentais para se ter sucesso no ensino, na ultrapassagem de preconceitos e

numa melhor elaboração de estudos e novas técnicas e adaptações, em relação às pessoas com

deficiência. Dentre as várias adaptações possíveis em relação a educação musical especial,

estão a Tecnologia Assistiva e as Adaptações Pedagógicas.

A Tecnologia Assistiva se utiliza de qualquer equipamento ou sistema para

potencializar/auxiliar as capacidades funcionais de pessoas com deficiência, e seu objetivo é

dar à pessoa com deficiência maior independência, qualidade de vida e inclusão social. Na

educação musical, essas adaptações são destinadas mais às pessoas com deficiências físicas;

adaptações como órteses, adaptação do instrumento musical, alteração da disposição dos

móveis, softwares ou adaptações no computador, pranchas de comunicação (para pessoas

com dificuldade ou total impossibilidade de comunicação oral, através de apontamento de

símbolos que substituem palavras e pranchas temáticas idem, mas pode ser feito por qualquer

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pessoa), adaptações arquitetônicas (como rampas; elevadores de acesso; banheiros adaptados

com portas largas, barras de sustentação e pias baixas; corrimão nas escadas; chão

antiderrapante; portas largas nas salas de aula etc.).

As Adaptações Pedagógicas são direcionadas para pessoas com deficiências mentais,

visual, auditiva etc. As adaptações curriculares são propostas pelo sistema educacional, para

que todos os alunos tenham acesso ao currículo do curso e uma participação integral nas

aulas; e realizadas através de material, conteúdos, objetivos e métodos de ensino, todos

adaptados, curso de capacitação para professores, movimentos compensatórios (movimento

ou parte do corpo não convencional para se tocar um instrumento musical), alterações

musicais (pequenas mudanças na escrita musical da obra original, sem alterar sua essência),

arranjos musicais (grandes mudanças na escrita musical da obra original), alteração técnico-

musical (mudanças no modo de condução da música e/ou em aspectos técnicos, como

dedilhado, andamento, dinâmica etc.).

É preciso de uma reforma urgente no sistema educacional brasileiro, tanto das escolas

de música como das escolas regulares, que deveria começar pelos nossos governantes, pois o

objetivo principal era (não se sabe se é mais), que a educação, por ser pública, ser para todos e

em benefício de todos, sem exceção. Porém, muitas escolas ainda focam na nota do boletim

do final do ano, pois pouco importa pra elas se o aluno tem a oferecer coisas que estão além

das regras burocráticas e caducas que insistem em perseguir o ensino escolar. Logo, se as

escolas querem os melhores (de acordo com o seu sistema institucional), todo aquele que não

cumprir com os pré-requisitos, estarão automaticamente fora do jogo da educação, pois existe

a necessidade de fornecimento de informações que cumpram com o quesito educação,

principalmente a especial, além da exclusão da música como curso importante por parte da

maioria das escolas regulares e pelas autoridades. Aliás, nas matérias não consideradas

importantes, incluem os cursos da área das artes, onde nada deve ser disputado, que sirva de

ocupação que contribua para o crescimento individual das pessoas, e que possa se tornar

coletivo, no mais amplo e positivo sentido. Pequeno detalhe: não há escolas de música

públicas especializadas em atendimento para pessoas com deficiência.

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A realidade da educação musical especial no Brasil é pouco pesquisada, e que por

consequência, não possui recursos nem preparo adequado e aprofundado para professores;

lança argumentos que tentam abolir com a ideia de que a pessoa com deficiência não pode

usufruir da música por outros meios que não seja a terapia, que acaba sendo uma pedra no

sapato para o desenrolar das pesquisas e trabalhos teóricos e práticos na área de educação

musical especial, além de comprometer o traço artístico que existe dentro de cada uma dessas

pessoas.

Cada vez mais a educação está virando um tipo de produção: há um interesse em

definir métodos de ensino, tecnologias na educação, adequação curricular, especializações do

conhecimento, enfim, tornar a educação em uma técnica pura. E a música nesse processo está

se tornando escrava do sistema capitalista. Na educação musical atualmente, precisa ter

regras institucionais, conteúdo programático, determinado desempenho do aluno,

determinados conceitos a serem aprendidos em um determinado tempo, determinada nota

para passar de ano etc.

3.4. Musicoterapia

Pelas palavras da estudante de musicoterapia na FMU: “Estamos constantemente em

contato com o som, tanto bons como ruins. A música (ruídos) nos acalmam, nos estressam,

nos deixam felizes, tristes, emocionados, apaixonados, deprimidos etc. A Musicoterapia vai

usar desse recurso, que é o som, para trazer bem-estar emocional, físico, psicológico e social

de algum individuo ou grupo. Então, eu acredito que algo que pode melhorar o problema de

várias pessoas é de grande relevância para a sociedade. ”

Há uma lacuna na musicoterapia quanto ao uso da música: nas universidades, se

ensina muito mais o aspecto clínico da terapia, do que o aspecto musical: algumas das

matérias oferecidas são música, anatomia, neurologia, primeiros socorros, história da música,

técnicas musicoterápicas, fisiologia, laboratório de musicoterapia, musicoterapia na terceira

idade, desenvolvimento evolutivo musical, psicologia etc. Prova disso é que os profissionais

de musicoterapia não precisam necessariamente terem tido uma formação musical, o que é

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muito errado, pois tem que haver a interação intrínseca entre medicina e música para o efeito

da terapia ter o seu objetivo alcançado com mais êxito.

De acordo com a opinião dela, “é muito importante um musicoterapeuta ter domínio

sobre a música, não se pode ser um musicoterapeuta sem saber cantar ou tocar algum

instrumento. É importante saber primeiros socorros, podem ocorrer inúmeras situações que

necessitem desta habilidade. Neurologia, esta não é necessário dominar, mas é importante

saber reconhecer e entender as patologias dos pacientes. A psicologia também é muito

importante para poder entender os pacientes. ”

Clarice Moura Costa e Clarice Cardeman, autoras do texto “Musicoterapia no Rio de

Janeiro, 1955 - 2005”, defendem a utilização da música como metáfora em musicoterapia, a

interdisplinaridade entre musicoterapia, musicologia e psicologia da música como papel

importante no desenvolvimento de estudos em torno da questão da musicoterapia com

metáfora, afim de se ter uma prática terapêutica com de maior eficácia e compreensão,

levando em consideração a relação social do indivíduo com a música, além das teorias

musicais, muito importantes para a fundamentação da musicoterapia.

É essencial conhecer e estudar sobre as origens da utilização da música como

elemento terapêutico, que atualmente possui imensa atenção ao aspecto clínico do tratamento,

excluindo todos outros aspectos igualmente importantes (como os aspectos espiritual e

psicológico). Essa utilização seria resultado de transformações das práticas de cura e tradições

xamânicas religiosas, ainda encontradas em tribos e sociedades não-tecnológicas do mundo

todo.

A primeira referência à musicoterapia no Rio Janeiro (provavelmente a primeira feita

aqui Brasil), ocorreu em 1955; as primeiras associações de musicoterapia surgiram no Rio de

Janeiro e no Rio Grande do Sul em 1968 e a partir daí, houve uma grande expansão de

clínicas, cursos e produção de conhecimento. Porém, a história da musicoterapia nunca foi

sistematizada no Brasil. Os textos já produzidos fazem referências muito gerais à utilização da

música como elemento terapêutico e sempre baseadas em autores estrangeiros; ou seja, a

bibliografia aqui do Brasil em relação a esse tema é pobre e pouco divulgada, além de não

chegar ao conhecimento de todos, por difícil acesso (linguagem difícil e termos muito

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técnicos). A atividade clínica da musicoterapia na maioria das vezes se restringe apenas ao

local de trabalho (o consultório): há ainda uma grande dificuldade em aprofundar e a

aperfeiçoar essa prática.

A identidade também é um aspecto que está em jogo, pois partindo do

reconhecimento de sons, as lembranças são ativadas e a pessoa se recorda do que ela já fez,

das coisas que aconteceram com ela, das suas emoções, dos seus problemas, enfim, ocorre

uma construção daquilo que o indivíduo é (o musicoterapeuta Kenneth Bruscia pensou em

uma técnica para realizar o processo de construção do “eu”, que será abordada nos próximos

capítulos).

Memória é identidade. Só conseguimos ter uma ideia de quem somos se

dispusermos de algumas referências a respeito do caminho que percorremos

para chegar onde estamos. O desmemoriado é o sujeito que não sabe quem é.

(KONDER, Leandro, 2003 - apud COSTA, Clarice Moura; CARDEMAN,

Clarice. Musicoterapia no Rio de Janeiro, 1955 - 2005. Rio de Janeiro,

2006.).

Aqui no Brasil se discute muito pouco sobre a educação musical para pessoas com

deficiência. Existe uma confusão na hora de definir a musicoterapia e a educação musical

especial (termo utilizado para se referir às pessoas com deficiência), causando uma falta de

produção científica em torno dos dois assuntos. Foi a partir do século XX que a musicoterapia

começou a ser organizada, esquematizada, sistematizada, validando-se como ciência, e a ser

praticada como método de reabilitação física e mental de toda e qualquer pessoa. De acordo

com a musicoterapeuta Bruscia a musicoterapia é um processo em que o terapeuta

proporciona a reabilitação do paciente, através de experiências musicais, situações,

experiências e sensações que permitem uma relação entre o paciente e os elementos da música

(melodia, ritmo, harmonia, timbre, intensidade etc.). Ou seja, o importante não é a música em

si, o repertório, e sim, essa relação paciente-música. O mais importante para o

musicoterapeuta é conhecer nesses elementos musicais e saber de que forma eles interagem

com o paciente, observando e investigando os efeitos que eles produzem. O paciente

desempenha um papel definitivo no processo musicoterápico, pois é a partir do seu gosto

musical e da sua identificação sonora que virá a condução das sessões de musicoterapia.

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ISO é a sigla para Identidade Sonora, que se caracteriza por carregar todos os

elementos sonoros que existem no interior de cada pessoa, e que foram coletados durante toda

a vida do indivíduo. É a base do processo de musicoterapia. A relação terapeuta-paciente tem

o auxílio do “objeto intermediário”, que pode ser um instrumento, um CD, um desenho, um

brinquedo etc. Tanto na musicoterapia como na educação musical especial, os aspectos

terapêuticos e pedagógicos estão sempre associados, mas são praticados de forma diferente

nas duas áreas. A musicoterapia não é qualquer coisa feita de qualquer jeito (por exemplo,

apenas colocar um CD para o paciente ouvir), mas exige do musicoterapeuta muito

planejamento e monitoramento, além de muito estudo e disciplina.

A definição de musicoterapia possui uma ordem de importância: a natureza do

método, o processo musicoterápico em si, e os resultados obtidos. Vale ressaltar que uma

experiência que melhora a saúde não é necessariamente considerada uma terapia, pois numa

terapia, como já foi dito, o processo é essencial, nada é de um dia para o outro.

De acordo com Gainza, a musicoterapia é um uso científico da música para contribuir

de forma beneficente na reabilitação psicofísica de pessoas; e a educação musical é a

capacitação de um sujeito em relação a sua aprendizagem em música e ao seu sucesso, prazer,

sensibilidade ao tocar e a ouvir música, de uma forma diferente. A diferença está nos

procedimentos empregados durante os dois processos afim de alcançar objetivos, no caso,

distintos.

Os princípios de cada disciplina são muito diferentes, e o indivíduo que participa de

um desses processos, não está “como se estivesse participando do outro”: a relação entre

paciente e música não é a mesma nos dois casos. No processo musicoterápico, a música pode

ser utilizada tanto como terapia, como também na terapia. Quando a música é usada como

terapia, ela é a protagonista e o terapeuta é o coadjuvante; quando a música é usada na terapia,

a situação é inversa. E ao se utilizar música sem o terapeuta, a prática não é considerada uma

terapia.

Desde 1972, Claus Bang (“Aalborg University Centre”, Dinamarca), proporciona uma

terapia aos alunos com deficiência, que tem como proposta unir as características pedagógicas

e a terapêuticas. Segundo Claus Bang, o objetivo seria expandir o desenvolvimento e a cura

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dessas pessoas com deficiência, através de atividades musicais organizadas por ele. Nesse

caso, a música não é necessariamente utilizada por um musicoterapeuta, nem em um processo

ligado à música, seus fins são livres. A educação musical não pode ser considerada uma

terapia oficialmente, porque seus objetivos são diferentes dos da terapia: na educação musical

o foco é a aprendizagem e a aquisição de habilidades específicas, enquanto que na terapia, o

foco é a saúde do paciente. Um professor não resolve os problemas pessoais ou de saúde, de

um aluno (a não ser que o fator cause algum dano à aprendizagem), assim como o terapeuta

não resolve problemas educacionais (a não ser que o fator cause danos à saúde). O professor

ensina ao aluno o fazer musical, a teoria etc., enquanto que o terapeuta auxilia o paciente a

superar suas limitações; porém, nada impede que essa prática seja feita através do ensino de

música, como Claus Bang fez. Não se exige nenhum comprometimento musical de um

paciente de musicoterapia: ele não é obrigado a estudar diariamente um instrumento ou a se

esforçar para entender algum conteúdo, algum conhecimento musical, como é exigido de um

aluno de música. Mesmo a educação sendo voltada para pessoas com deficiência, o objetivo

da aprendizagem permanece, enquanto que na musicoterapia, objetivo principal é

proporcionar um processo que resulte num benefício ao paciente. Segundo Claus Bang, é

possível sim ensinar música para pessoas com deficiência, é só uma questão de adaptação.

Após essa completa introdução sobre musicoterapia, segue um exemplo do tipo de

situação que foi analisada neste trabalho:

Para que Juan Alexander conseguisse captar e identificar diferentes sons em

um mesmo ambiente, as sessões de musicoterapia oferecidas pelo Centro

Integrado de Reabilitação (Ceir) foram triviais. Há dois anos, Juan faz

tratamento na instituição e ilustra que, com o acompanhamento adequado,

tanto dos profissionais quanto da família, é possível superar as limitações do

corpo. O garoto nasceu com paralisia cerebral, doença diagnosticada logo

após o nascimento, definida por um conjunto de lesões no cérebro que

comprometem seu desenvolvimento físico e visual. Juan possui

hipersensibilidade a sons, e esse foi um dos principais aspectos trabalhados

pelo setor da musicoterapia em seu tratamento.

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(http://cidadeverde.com/tratamento-de-musicoterapia-ajuda-criancas-a-

superar-deficiencias-74849. Data de acesso: 29/03/2015).

David Aldridge, britânico que realiza pesquisas em musicoterapia, sugere que a

música possa ser a melhor metáfora para a identidade. Existe uma técnica utilizada desde

1985 pelo musicoterapeuta norte-americano Kenneth Bruscia, chamada “Autobiografia

Musical”, em que o objetivo é promover as lembranças das experiências mais marcantes da

vida de uma pessoa.

(...) a formação de uma identidade resulta da forma como a pessoa narra a

história de sua vida e como os eventos que constituem esta história são

vividos por meio da música. (COSTA, Clarice Moura; CARDEMAN,

Clarice. Musicoterapia no Rio de Janeiro, 1955 - 2005. Rio de Janeiro,

2006).

De acordo com o trabalho: “Desenvolvimento cognitivo, auditivo e linguístico em

crianças expostas à música: produção de conhecimento nacional e internacional - Revista

CEFAC”, foram realizados diversos estudos relacionados ao desenvolvimento em crianças

expostas à música dos quais destacaremos alguns:

Um deles, realizado em Santa Maria, Brasil, no ano de 2004, com seis crianças entre 6

e 9 anos de idade com dificuldades do processamento auditivo e queixas no aprendizado

escolar, observou-se que a musicoterapia teve influência positiva nas habilidades do

processamento auditivo em todos os sujeitos da pesquisa.

Em Witten, na Alemanha, realizou-se um estudo em 2010, com 18 crianças entre 3 e

meio e 6 anos de idade, com atraso no desenvolvimento da fala, verificou-se que a capacidade

fonológica, de compreensão e as habilidades cognitivas, como atenção e memória, melhorou

significativamente após as sessões de musicoterapia.

Entre os anos de 2002 a 2010, foram realizados estudos que constataram que a música

tem influência na aquisição e desenvolvimento fonológico e se relaciona com a habilidade de

leitura; toda atividade musical exerce influência sobre o desenvolvimento cognitivo; e atenção

e memória são as principais atividades cognitivas que melhoram após exposição à música, e

que estão relacionados com o desenvolvimento da linguagem e aprimoramento do

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processamento auditivo (série de etapas que permitem a pessoa realizar análises acústicas e

metacognitivas do som). Esse processamento auditivo, em desenvolvimento adequado,

permite que o indivíduo se comunique adequadamente e se organize no espaço em que está

ocupando, além de ser a base da aprendizagem de qualquer tipo e nível.

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4. DISCUSSÃO

Uma das questões a ser debatida a respeito dos assuntos tratados neste trabalho, é a

superação que deve haver do preconceito que é muito presente em relação às pessoas com

deficiência. Há uma ideia equivocada de que elas são inúteis e incapazes em quaisquer

situações.

O comportamento de quem convive com pessoas que têm deficiência influencia

diretamente no seu desenvolvimento, devido ao seu gasto energético para suprir as

necessidades da mesma. O preconceito, a superproteção e a supervalorização são fatores que

contribuem para que o indivíduo fique preso aos limites que outros estabelecem.

É muito comum as pessoas utilizarem de termos inadequados para chamar uma pessoa

com deficiência, como chamá-la de “portadora” de uma determinada deficiência ou até

mesmo rotulá-la como “deficiente”. Ao proferir o termo “portadora”, entende-se que a pessoa

“porta”, ou seja, carrega a deficiência, porém a deficiência não é um fardo ou algo que a

pessoa escolhe portar. Já intitular alguém como “deficiente”, é considerar esse fato, como se

fosse a única ou a mais relevante característica da sua pessoa, o que não é verdade. O correto

é chamá-las de pessoas com deficiência. Também é errado considerar que todos que possuem

algum tipo de deficiência necessitam do mesmo tipo de adaptações e/ou terapias: cada caso é

um caso. O ideal seria ir além da deficiência que a pessoa tem, apostando nas suas

capacidades de aprendizagem e de qualquer outra coisa que possa ser exercida por ela. É

importante ressaltar que o deficiente é como qualquer outra criança. As pessoas devem ver a

deficiência com mais naturalidade.

Um exemplo de inclusão é ainstituição independente com interesse público, uma

escola destinada a pessoas com deficiência, principalmente àquelas com deficiência

intelectual, onde elas podem fazer parte da instituição não só como alunos, mas também como

funcionários. Ela incentiva os alunos a terem conhecimento sobre a sua própria deficiência,

fazendo com que eles saibam quem são e como agir, por exemplo, nos programas de

aprimoramento para empregos.

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Lá, foram realizadas entrevistas com a diretora, com a única musicoterapeuta da

instituição e com uma mãe que tem seu filho inserido no PIEH11 (que atende 45 crianças),

onde foram coletadas importantes informações sobre a própria instituição, sobre os alunos,

sobre as famílias e sobre as sessões de musicoterapia.

Quem paga os professores e especialistas é o Governo do Estado, a Prefeitura doa os

transportes, e a instituição sobrevive de doações e arrecadamento de dinheiro em festas, ou

seja, é um esforço muito grande deixar essa instituição funcionando, pois é apenas pela força

de vontade dos funcionários e dos pais que a escola ainda não foi fechada.

Existem vários projetos dentro dessa instituição, como o PEP12, o Projeto +3013 e o

PIEH, o qual acompanhamos uma sessão de musicoterapia. É um projeto interdisciplinar, pois

são realizadas atividades de musicoterapia, educação física, dança e acompanhamentos na

área de pedagogia e na área da saúde, através da fonoaudiologia e da fisioterapia. A

fonoaudiologia busca realizar principalmente a adequação alimentar e manter um

acompanhamento com os pais. Enquanto a fisioterapia busca realizar a adequação da parte

motora. E por fim a musicoterapia, que busca realizar a adequação da audição.

Como pôde-se constatar na sessão de musicoterapia acompanhada pelo grupo, onde

todas as crianças, de 13 a 15 anos, possuíam deficiência múltipla, o PIEH é um programa de

habilitação, e não de reabilitação, pois em um programa de reabilitação o paciente está

aprendendo novamente coisas que já eram conhecidas e foram perdidas por conta de algum

acidente, e, no caso, os alunos são estimulados e habilitados a realizar tarefas que nunca

foram aprendidas ou vivenciadas pelos mesmos. Por exemplo, a paralisia cerebral é um caso

que precisa de habilitação, pois ocorre no início da vida; já o AVC (ACIDENTE

VASCULAR CEREBRAL), ocorre principalmente em adultos, os quais sabiam realizar

muitas coisas, mas que por conta do acidente, precisarão reaprender o que foi perdido.

Os alunos têm uma grade de horários a serem cumpridos: na hora do almoço, por

exemplo, são colocadas imagens de comidas, na hora das aulas são colocadas imagens dos

11 Programa Interdisciplinar de Estimulação e Habilitação. 12 Programa de Estimulação Precoce. 13 Destinado às pessoas com mais de 30 anos que não podem mais fazer parte das aulas da instituição.

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professores, na hora da saída são colocadas imagens do transporte que os leva para casa, e

assim por diante. Isso ocorre, pelo fato do reconhecimento acontecer principalmente pela

visão; desse modo, eles não precisam ler, pois a maioria não é alfabetizada. Sempre tem que

ter alguém pontuando e ajudando a realizar as tarefas com o aluno. A locomoção deles é

auxiliada por funcionários, pois em algumas salas há a necessidade de levar os alunos até os

professores, e em outras os professores é que vão até os alunos.

Nas aulas, são utilizadas as mesmas estratégias para que haja memorização por parte

dos alunos e para se ter um melhor resultado. É necessário estabelecer um vínculo afetivo

com a criança, afim de se conquistar a confiança e o reconhecimento da mesma. Cada um dos

profissionais traça objetivos específicos com cada aluno, e quando estes objetivos não são

alcançados, não é atribuída uma nota ao aluno, mas os profissionais buscam ajudar o aluno a

alcançar essa meta por meio de novos métodos. Ocorrem reuniões toda semana com a equipe

pedagógica, para se discutir o que deu certo e o que ainda precisa ser melhorado; o avanço

dos alunos; os problemas que ocorreram, enfim, é um conselho de classe como qualquer outra

escola.

A musicoterapia foi inserida nessa instituição há 2 anos, por meio da Luciana

(formada em piano e flauta doce; em musicoterapia pela FMU; especializada em terapia

familiar e pós-graduação em educação especial), que visitou a instituição, apresentou seu

currículo, a diretora propôs que ela trabalhasse com música no Projeto +30, e ela aceitou. Foi

um sucesso: as famílias e os pacientes adoraram, o que levou à expansão dessa atividade a

todos os alunos, nos diferentes programas, realizando atividades como coral, aula de música e

musicoterapia. Os alunos ficam mais tranquilos e mais felizes com a musicoterapia e a dança,

além de proporcionar uma aproximação dos alunos: eles veem como o outro é, como ele age,

e há uma aproximação dos mesmos.

Os estímulos realizados durante a musicoterapia são, simultaneamente, os táteis, os

visuais e os sonoros; trabalha-se principalmente a memória, a concentração, a atenção e a

percepção sonora (ruídos, sons graves, e agudos etc). Os resultados dos estímulos não são

imediatos: é preciso estar atento aos detalhes, pois o avanço é gradual e lento, seguindo um

ritmo próprio do aluno; o mínimo que os alunos fizerem já é considerado um ganho, e eles

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sempre mantém a expectativa. As músicas escolhidas são a partir do gosto deles e o

atendimento é sempre individual, voltado principalmente à deficiência intelectual do aluno. O

tempo total da aula é de 45 minutos, tendo que ser dividido entre 6 alunos, ou seja, é muito

pouco.

A aula de música começa com uma canção de “olá”, para sinalizar aos alunos que a

aula começou. A maior parte da aula é com uma música agitada, que possibilita movimentos

mais agradáveis para os alunos. Quando a aula está finalizando, é colocada uma música

calma, juntamente com uma massagem, para diminuir a agitação, pois logo depois é a hora de

comer. E a música do “tchau” é utilizada para sinalizar que a aula acabou.

De acordo com a musicoterapeuta, a música é uma forma das crianças contarem

histórias. Ela também considera o instrumento uma extensão de quem o toca. Os membros da

da instituição consideram a musicoterapia muito importante para o desenvolvimento das

pessoas com paralisia cerebral. O musicoterapeuta, assim como em todas as profissões,

precisa de uma aceitação interior e amar o que faz, pois não é fácil.

Sobre a relação das famílias com a instituição, há dificuldade no entendimento por

diversos fatores: a questão social pesa bastante (classe baixa), a aceitação da deficiência do

filho e as providências que precisam ser tomadas em relação a isso, os recursos financeiros e

os recursos afetivos. A instituição sempre oferece diversas formações e palestras para os pais.

Os pais não ficam aqui na instituição com os filhos pois trabalham, e há uma

dificuldade com o transporte que é realizado por meio de coletivos, que buscam e levam as

crianças. A energia não deve ser gasta com somente um membro da família, o gasto

energético deve ser distribuído com os outros membros da família. Depois de um tempo, a

deficiência fica mais natural, pois a família já se acostuma à ela. Há um grande gasto

energético na hora em que a deficiência é descoberta, por saber que seu filho foge do “padrão

normal" considerado pelo mundo.

É realizada uma reunião com os familiares uma vez por mês em que é discutido o

desenvolvimento dos alunos, os objetivos que foram alcançados e os futuros objetivos que

serão traçados. Há pacientes que não são cuidados pelos pais, e sim por irmãos ou outros

familiares. Hoje em dia os pais comparecem mais nas reuniões e as vezes realizam atividades

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junto com seus filhos. Na escola, o trabalho realizado é em grupo, e em casa o trabalho é

individual, porém um acaba estimulando o outro. A instituição estimula os pais a colocarem

seus filhos na escola regular desde pequenos para ver como será sua adequação. As famílias

que não tiveram um bom apoio de outras pessoas no início da vida do filho com deficiência,

possuem maiores dificuldades hoje em dia com os filhos, pois a própria família pode acabar

caindo em uma cilada social.

De acordo com a Constituição de 1988, é um dever fundamental dos pais dar afeto aos

filhos, garantindo a dignidade do indivíduo, pois a formação da personalidade da criança

depende deste afeto. Assim, está assegurado legalmente que:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,

ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,

à alimentação, à educação, ao lazer, á profissionalização, à cultura, à

dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,

além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,

exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988; artigo 227,

caput da RC/8).

O afeto seria a primeira estrutura da mente, um aprendizado, assim como a aquisição

de linguagem. Essa primeira relação de afeto é de fato uma memória, que servirá de base para

as demais relações afetivas que serão construídas ao longo da vida do indivíduo. Portanto, a

falta dessa relação afetiva, poderá causar problemas de relacionamento no futuro,

comprometendo o processo de amadurecimento do indivíduo. Apesar de, em certos casos,

existir um investimento financeiro, com a ausência do afetivo, essa situação

consequentemente acarretará em graves distúrbios no comportamento do indivíduo, como

síndromes psicológicas, desde a sua fase de bebê, principalmente se essa ausência de

afetividade for a da mãe. Caso os pais não sejam capazes de assegurar essa afetividade antes

até do período de gestação, é melhor que não fiquem com o filho.

Após a consideração dessa lei de afetividade dos pais em relação aos filhos, foi

aplicado um questionário às mães, o que demonstrou resultados significativos que

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contribuíram para a resposta de um dos problemas do trabalho: se o investimento afetivo

afetivo familiar influencia nos efeitos da musicoterapia.

Maria Luzinete é a mãe de Danilo, um aluno da instituição independente com interesse

público, que tem paralisia cerebral por causa de um mau uso do fórceps em seu nascimento.

Quando ela descobriu a deficiência: “Foi como um soco na cara. ” Foi como se lhe tivessem

dado um desafio, e ela quer vencer, ela quer trilhar um caminho junto com seu filho. O

médico disse que o filho era como uma plantinha do supermercado: se não cuidar do solo,

regar, levar ao sol, a plantinha não dura um mês; mas se você cuidar de todas essas coisas, a

plantinha vai crescer forte, virar uma árvore e pode ser capaz de gerar frutos. E desde então, o

filho ficou mais no hospital do que em casa, pelo menos nessa primeira fase da vida.

Hoje, o filho está muito bem e forte. No último questionário, de 9 objetos ele

conseguiu reconhecer 8. A mãe realmente percebe os efeitos e os estímulos do filho e seu

crescimento. O Danilo se submete/já submeteu a neurologia, fisioterapia, nutrologia,

oftalmologia, musicoterapia, fonoaudiologia, psicopedagogia, ortopedia, terapia ocupacional,

pediatria, hidroterapia, terapia motora, respiratória, cromatologia, hake, reflexologia; duas

vezes por semana. É sempre ela que acompanha o filho nas consultas e terapias.

Ela pega 2 ônibus para ir a à instituição. Ele está entre 6 a 12 meses frequentando a

aula de música e acha que essas aulas de música ajudam muito: na recuperação física e

intelectual, na socialização e na autoestima do paciente. Na opinião dela, em relação às aulas

de música, o paciente gosta, percebe os benefícios, quer frequentar, mas ela não sabe dizer se

ele sabe porque frequenta. Eles ouvem música em casa diariamente, e ele prefere as músicas

mais alegres e agitadas, expressando com o sorriso e movimentos com as pernas, como se

estivesse dançando na cadeira de rodas. Ela nunca faz um trabalho terapêutico complementar

com música em casa, mas acredita que deveria fazer, pois ele possui uma calcificação no

tímpano; portanto, a estimulação é muito necessária.

Para ela, nunca é desgastante acompanhar seu filho, pois além de aprender com ele

todos os dias, não existe desgaste para dedicar a vida a um filho. Sobre o grau de esforço do

filho, ela diz que é imensurável, ele tem uma ganância de viver, é um esforço fora de série.

Sobre o reconhecimento do esforço que a mãe faz por parte do filho, ela diz que ele sempre

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expressa com um sorriso; de manhã ele sempre acorda sorrindo como se estivesse chamando a

mãe para acordar: mesmo não falando, ela sente sua gratidão.

Diz que na antiga escola regular que seu filho Danilo frequentava, era utilizado o

termo “inclusão”, mas não era bem assim. Em sua opinião, a sociedade precisa conhecer

vários tipos de deficiência e saber conviver com elas, saber que precisam de estímulos e

cuidados. Ela não sabe muito sobre o sentimento verdadeiro do resto da família, mas é duro

saber que a família olha para o filho com um olhar de pena, o sentimento mais desprezível

que alguém pode sentir pelo outro. Os pais (da mãe) não demonstram muita afetividade com o

Danilo mas também não desprezam. Para ela, o importante é fazer com que o filho esteja bem.

A “missão” dela é dar o melhor para seu filho. O desgaste seria maior se continuasse com o

marido e se ela fosse atrás dos familiares e do afeto deles. Essa situação, além de desgastante,

prova que o preconceito existe de várias formas.

A mãe disse (com um tom amoroso), que a música aproxima muito ela do filho e as

pessoas em geral. As pessoas pensam que se algo não acontece com eles próprios, nunca vai

acontecer, e que se ocorre com outras pessoas, não é motivo para se importar. Não precisa de

muita coisa para agradá-lo, ele sempre está sorrindo, é fácil cativá-lo, “somente um toque e

ele nunca esquecerá. ”

O tratamento de crianças e adultos tem objetivos diferentes: as crianças estão em

desenvolvimento, e os adultos precisam de coisas mais pontuais, imediatas, como, por

exemplo, o paciente acompanhado em uma instituição particular de São Paulo.

O questionário foi realizado com a mãe do paciente, que tem 30 anos. Segundo ela, a

família inteira é muito ligada com a música, o filho é muito mimado e preguiçoso, pois ele

sempre teve a atenção completa dos pais, antes ouvia música para relaxar ante de dormir,

agora faz meditação. Ela só parou para pensar no desgaste que ela tem com o filho no

momento da pergunta, pois ela e a família já está acostumada com o desgaste desde quando

ele nasceu. Há um desgaste físico mediano, pois é ela e o marido que levam o Rafael para

todos os lugares. Durante 2 anos o filho teve muitas convulsões, a mãe tinha que levá-lo para

o banho (por causa do vapor quente) e depois de um determinado momento era levado ao

hospital. O filho não aceita “não” como resposta, não gosta de ser contrariado, e após muito

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tempo comprimindo a raiva, ele tem “descargas” de energia; se descontrola, se joga no chão,

faz birra. Desde 1997 recebe aulas particulares para desenvolver sua parte motora, para

conseguir comer e falar. Percebe que o filho gosta muito de música e tem uma audição muito

sensível com a música, reconhecendo músicas variadas.

Enfim, o preconceito existente sobre qualquer pessoa pode ser uma forma de proteção

de uma ameaça instintiva, já sabendo que o outro por ter nascido “ defeituoso” ou ter “uma

cor de pele desigual à minha” pode ter os mesmos direitos que eu. Devemos absorver o que a

vida oferece: diferenças, e assim, vencer esse preconceito e sobrepujar os desafios.

De acordo com o documento intitulado “Normas sobre Equiparação de

Oportunidades para Pessoas com Deficiência” (...), é obrigação dos países

(entre eles o Brasil): procurar fazer com que as pessoas portadoras de

deficiência tenham a oportunidade de usar ao máximo as suas capacidades

criadoras, artísticas, não apenas em seu próprio benefício, como também

para o enriquecimento da comunidade (Documentos Internacionais, 2002).

(LOURO, 2013, pág. 3).

(...) o mesmo documento completa que é obrigação: fornecer materiais de

qualidade, treinamento contínuo para professores e profissionais de apoio,

quando necessário; permitir flexibilidade, acréscimo e adaptação de

currículos; garantir que os alunos com deficiência tenham acesso à mesma

porcentagem de recursos educacionais destinados aos estudantes sem

deficiências. (LOURO, 2013, pág. 3).

A música precisa fazer parte dessa inclusão, já que permeia todas as culturas e tem o

poder de unir as pessoas. Tanto no Brasil, como no mundo, na área de necessidades especiais,

a inclusão é o tema mais importante atualmente.

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5. CONCLUSÃO

Pôde-se concluir com o presente trabalho, que independente da condição psíquica,

física e espiritual do indivíduo e da situação em que a música está inserida: na educação, na

terapia, no cotidiano etc, a música é de grande importância. É necessário um questionamento

e uma reformulação na formação dos profissionais em geral. De acordo com Viviane Louro, é

totalmente possível ensinar música para pessoas com deficiência, só precisa de interesse e

informação por parte dos educadores, e nós acrescentamos que é necessário também existir

esse interesse e informação por parte dos pais.

Em relação ao investimento afetivo familiar, a superproteção e a reação de culpa dos

pais, por terem tido um filho “defeituoso” influencia a criança a apresentar problemas de

comportamento e desenvolvimento. E o fato de não perceberem a evolução do filho durante o

tratamento, é prejudicial tanto à eles mesmos, como ao filho.

Hoje em dia, muitas coisas estão mudando em prol dos deficientes, apesar de ainda

haver muito preconceito e exclusão social. Há falta de profissionais especializados para

qualquer tipo de deficiência e ainda é necessário muita reflexão e mobilização em torno do

tema da inclusão e da educação especial (inclusive a musical).

A musicoterapia precisa de mais estudos para ser melhor utilizada e por isso não é

muito conhecida nem indicada pela maioria dos médicos, como pôde-se constatar na

entrevista realizada pelo grupo com uma neurologista (Anexo 2).

Porém, a partir das entrevistas, dos textos lidos e das experiências vivenciadas,

pudemos perceber que o investimento afetivo dos profissionais e dos familiares, além de ser

essencial, influencia sim nos efeitos da musicoterapia, e sob o olhar deles, a musicoterapia

surte efeitos positivos nos pacientes com paralisia cerebral.

Chegamos nessa conclusão pelas entrevistas realizadas com os profissionais e principalmente,

pela análise dos dados e dos questionários com as famílias. O que fortalece essa afirmação, é

o fato de termos analisado várias faces de uma mesma situação: a aplicação de musicoterapia

em pessoas com paralisia cerebral.

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7. ANEXOS

Anexo 1- Questionário das entrevistas com as famílias das pessoas com paralisia cerebral

Pergunta norteadora: Qual é o investimento afetivo que a família faz para o tratamento de musicoterapia do paciente?

1) Idade do paciente:_____

2) Gênero do paciente:

masculino

feminino

outro

3) Qual o seu grau de parentesco com o paciente? _____________________

4) Idade do acompanhante: _____

5) Gênero do acompanhante:

masculino

feminino

outro

6) Grau de escolaridade:

Sem escolaridade

Ensino fundamental I

Ensino fundamental II

Ensino médio

Ensino superior

Pós-graduação

Mestrado

Doutorado

7) Profissão: _________________

8) Há quanto tempo o paciente tem diagnóstico de PC? ________________

9) Há quanto tempo o paciente está em tratamento por causa da paralisia cerebral? ________

10) Há quanto tempo o paciente está em acompanhamento na instituição? __________

11) A quais tratamentos o paciente já se submeteu desde o diagnóstico de PC?

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neurologia

fisioterapia

psicologia

psiquiatria

nutrologia

oftalmologia

musicoterapia

fonoaudiologia

psicopedagogia

ortopedia

terapia ocupacional

pediatria

outros Quais? ________________________________

12) Com que frequência o paciente faz acompanhamentos com profissionais ou sessões de terapia

(aqui referimo-nos a qualquer terapia)?

uma vez por mês

uma vez a cada quinze dias

uma vez por semana

duas vezes por semana

três vezes por semana

quatro vezes por semana

cinco vezes por semana

seis dias da semana

todos os dias da semana

mais de uma vez por dia

13) É você quem acompanha o paciente nas consultas e terapias?

sim

não Quem geralmente acompanha o paciente?_____________

às vezes Com que frequência? _____________________

14) Como vocês vem à instituição?

carro próprio

moto própria

condução especial que busca em casa

carona Quem oferece? __________________________

ônibus Quantos? ____

trem Quantos?____

metrô Quantos? ____

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a pé

outros Especifique: _____________________________

15) Desde quando o paciente frequenta as aulas de música?

há menos de 1 mês

há 1 mês

de 1 a 3 meses

de 3 a 6 meses

de 6 a 12 meses

de 1 a 2 anos

há mais de 2 anos

16) Com relação às aulas de música, você acha que:

A. Ajudam na recuperação física e/ou intelectual do paciente:

muito

pouco

indiferente

B. Ajudam na socialização do paciente:

muito

pouco

indiferente

C. Ajudam na autoestima do paciente:

muito

pouco

indiferente

17) Na sua opinião, o paciente:

A. Gosta das aulas de música:

sim

não

indiferente

não sei

B. Percebe os benefícios das aulas de música:

sim

não

indiferente

não sei

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C. Quer frequentar as aulas de música:

sim

não

indiferente

não sei

D. Sabe porque frequenta as aulas de música:

sim

não

indiferente

não sei

18) O que você sabe sobre as aulas de música que o paciente recebe?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

19) Com qual frequência você conversa com a professora de música sobre o paciente?

uma vez por mês

uma vez a cada quinze dias

uma vez por semana

outros Especifique: _______________________________

20) Vocês ouvem música em casa?

sim, diariamente

às vezes Especifique o gênero musical:

_______________________________

pouco

nunca

21) O paciente gosta de música?

sim

não

indiferente

não sei

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A. Que tipos de música o paciente gosta?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

B. Como você percebe que ele gosta de música?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

22) Em casa a família precisa fazer algum trabalho terapêutico complementar com música?

sim, sempre

sim, às vezes

não, nunca

não sei

A. Se sim, quem faz e como?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

B. Se não, acredita que deveria haver?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

23) Descreva o grau de desgaste familiar em acompanhar um paciente com paralisia cerebral

muito desgastante

desgastante

pouco desgastante

raramente é desgastante

nunca é desgastante

A. Se é desgastante, como enfrentam isto?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

B. Se é desgastante, o que leva a isto?

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____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

24) Descreva o grau de esforço que o paciente faz para superar suas dificuldades:

muito esforço

médio esforço

pouco esforço

raramente faz esforço

nunca faz esforço

A. Se faz pouco ou nenhum esforço, como enfrentam isto?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

B. Se faz pouco ou nenhum esforço, o que o leva a isto?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

25) Relate uma situação difícil enfrentada pela família com o paciente, e como lidaram com ela:

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____

26) Como acha que o paciente reconhece o esforço familiar para lidar com as dificuldades dele?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

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Anexo 2

Entrevista - Neurologista

Maria Gabriela: Oi, eu sou a Maria Gabriela!

Renata Mesquita: Eu sou a Renata.

Sara: E sou a Sara.

Neurologista: Eu sou a ******.

Laura: E vocês disseram o nome, são da onde, fazem o que?

Renata: É... A gente é do Colégio Giordano Bruno, e a gente tá fazendo um trabalho que é pra

Feira de Ciências do colégio, e o nosso trabalho tem a ver com musicoterapia e como que

influencia no... em pessoas que tem deficiência.

Neurologista: Mas, deficiência mental só...ou deficiências de uma forma geral?

Maria Gabriela: De uma forma geral, é...a gente ainda vai escolher.

Laura Battaglia: Mas a princípio tem um certo interesse na parte de deficiência mental,

intelectual, paralisia cerebral.

Neurologista: Aí a gente já começa com uma diferenciação, paralisia cerebral não é sinônimo

de deficiência intelectual, tá? Ela... uma deficiência mental, a gente chama de deficiência

intelectual, tá? A paralisia cerebral é...na verdade, ela é... classificada de acordo com o

comprometimento motor que o paciente tem. Mas tem paciente que, por exemplo, tem

paralisia cerebral tem comprometimento motor e não tem comprometimento cognitivo, tá?

Não tem a inteligência comprometida. Agora, tem criança que tem paralisia cerebral, que tem

alteração motora, tem alteração de linguagem e tem alteração cognitiva também, às vezes

comportamental, tem crianças que são bem agitadas, e que não de adéquam aos ambientes,

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então, é uma deficiência também, só que, assim, a gente tem que definir que são coisas

diferentes. Assim como quem tem uma deficiência visual, não necessariamente vai ter uma

deficiência intelectual, você pode ter múltiplas deficiências ou não, então a deficiência

intelectual é uma delas.

Maria: E tem um jeito de classificar? Por exemplo, a paralisia cerebral que tem num paciente

é paralisia cerebral, desse tipo, ou é cada caso é um caso?

Neurologista: É, a paralisia cerebral a gente classifica pela parte motora, se ela, por exemplo,

tem um comprometimento, que geralmente é mais frequente, que as crianças são, a gente usa

o termo, espático, os quatro membros são espásticos, ela tem uma paralisia cerebral espástica.

Tem crianças que tem comprometimento só de um lado do corpo, é hemiplégica, tem crianças

que tem só das pernas, é paraplégica, a paraplegia espástica, que geralmente eles são

“molinhos”. Além disso, ainda tem aqueles que tem movimentos involuntários que é uma

paralisia cerebral com movimentos estereotipados, involuntários, coreotetose que a gente fala.

Laura: O que leva à paralisia cerebral?

Neurologista: Então, a paralisia cerebral, geralmente a gente classifica como aquela criança

que teve um dano no começo da vida, e esse dano ele é permanente, e ele não é progressivo, e

a gente diferencia isso, das doenças que tem um dano que é progressivo, degenerativo.

Maria: Então, se tipo, a pessoa, perdeu os movimentos do lado direito, por exemplo, ela

sempre vai ter aquilo, e isso só vai piorar.

Neurologista: Não, não é que vai piorar, existe uma coisa que chama encefalopatia, a paralisia

cerebral, o termo técnico é, encefalopatia crônica não evolutiva, existem as encefalopatias

crônicas evolutivas, que são as que vão piorando com o tempo, então a paralisia cerebral é

aquela não evolutiva, ela tem um dano, e tudo o que o paciente apresentar vai ser uma sequela

daquilo, não quer dizer, assim, como a criança ela sofreu o dano lá no começo da vida, e ela

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tem o cérebro que está em maturação, as vezes, por exemplo, tem danos, a deficiência mental,

por exemplo, é difícil você avaliar isso já no primeiro ano de vida, você só vai perceber se ela

tem um comprometimento cognitivo, nessa fase pré-escolar e escolar, agora, a parte motora é

a mais fácil de ver, que a gente consegue ver já no primeiro ano, “então vai piorando com o

tempo porque ela vai ficando retraída?”, se ela não tiver a estimulação adequada, ela vai ter

consequências desta paralisia, daquele dano, não quer dizer que o dano no cérebro tá

piorando, mas, ela vai ter uma consequência daquele dano, a manifestação no corpo daquele

dano.

Laura: A detecção precoce da paralisia cerebral, com a plasticidade neuronal, ela pode

minimizar os danos?

Neurologista: É, o ideal, na criança, que a gente já chama de risco, uma criança que já nasceu,

por exemplo, prematura, que teve um sangramento no cerebro, é uma criança de risco pra

paralisia cerebral, pra ter um atraso, então essa criança ela deve ser estimulada já desde que

nasce desde que sai da maternidade, ela deve ser estimulada, com fisioterapia, fono, muitas

vezes tem a terapia ocupacional.

Maria: A musicoterapia também?

Neurologista: A musicoterapia, é que assim, nessa idade ainda é pouco, mas, mais pra frente,

a musicoterapia entra como uma terapia, e com a plasticidade realmente, a questão da

estimulação precoce minimiza, minimiza assim, você acaba estimulando outras áreas do

cérebro que acabam compensando aquela área afetada. Agora assim, é o que eu sempre digo

pros meus pacientes, essa criança vai ser cem por cento igual a uma que não teve sofrimento

cerebral? Não, ela não vai ser, ela vai sempre estar aquém de uma criança que não teve lesão,

agora, se ela não for estimulada, ela vai se desenvolver MUITO menos do que se ela receber

um estimulo, então o estimulo tende a minimizar, vai cobrir tudo? Não vai, ela sempre vai ter

um “gap” aí em relação às crianças da idade dela.

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Maria Gabriela: Sobre a sua formação, o que especificamente você faz?

Neurologista: Então, o que eu faço? Eu sou neuropediatra, eu sou médica, depois que eu

terminei os seis anos de faculdade eu fiz dois anos de pediatria geral, então eu tenho uma

formação basca de pediatria, depois disso eu fiz mais três anos de neuropediatria, que é uma

outra especificação, mas geralmente pra você ser neuropediatra você precisa ser pediatra,

você tem que ter essa noção de pediatria pra depois você fazer a neuropediatria. Depois disso

ainda fiz um ano de eletroencefalografia, e fiz mestrado na área de epilepsia infantil. Mas eu

não fiz tudo junto, o “eletro” e o mestrado eu fiz uns 5 anos depois que eu já tinha terminado

minha faculdade, meu mestrado foi sobre epilepsia na área de epilepsia infantil.

Renata: O que levou você a estudar neurologia?

Neurologista: Olha, a medicina, eu não tinha muito claro isso não, assim, vocês que estão

nessa fase de ensino médio, assim, eu sempre fui uma boa aluna, sempre gostei de estudar,

sempre estudava bastante, e gostava da área de biológicas, nunca gostei muito da área de

exatas, humanas mais ou menos, mas eu gostava sempre muito da parte de ciências, biologia,

estudava bastante, e então, acho que de uma forma inconsciente a gente já vai se direcionando

pra essa área, e ai na época a minha irmã tinha passado em medicina, ela tava no primeiro ano

de medicina, e ai eu decidi que ia fazer medicina também [risos]. Não fui muito aquela coisa

de, desde pequena eu queria ser médica, nada disso não, e até porque assim, eu me formei na

Federal do Mato Grosso em Cuiabá, e lá assim, nos cursos que a gente tinha na área de

biológicas, a gente não tinha muita opção, ou era enfermagem, nutrição, medicina,

basicamente essas que tinha na federal la, hoje acho que tem um argão maior, e ai eu optei

por fazer medicina, passei no primeiro vestibular, e assim, acho que eu não saberia fazer

outra coisa, e aí pediatria, na verdade eu resolvi fazer porque eu queria fazer homeopatia, e ai

eu queria fazer um curso de homeopatia, mas ai você precisava ter uma especialização antes e

eu não gostava muito de trabalhar com adulto, então eu resolvi fazer pediatria, e também não

era aquela coisa, Ah, porque eu sempre amei criança, mas ai eu resolvi fazer pediatria, só que

nesse meio tempo eu desisti de fazer a homeopatia e então eu resolvi que eu queria fazer uma

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subespecialidade dentro da pediatria, e, quando a gente faz a residência de pediatria no

segundo ano, a gente tem contato com as especialidades, então você passa na clinica de

pneumologia, na clinica de cardiologia, na clinica de dermatologia, na de neuropediatria, e os

professores com quem eu tive contato nessa época me estimularam muito a fazer, assim, eu

gostava muito da formação que eles tinham, então foi aí nesse contato que me despertou o

interesse de fazer neuropediatria, e eu gostei muito, e gosto muito do que eu faço, eu acho

que é uma área bem legal, embora muito complexa, a gente não domina o conhecimento, tem

muita coisa ainda pra se conhecer e mesmo do que já se conhece, é muito amplo, mas isso

assim, eu acho que hoje a ciência como um todo, e outras áreas também, a gente tem mais

contato com a área né... da ciência, mas mesmo uma área de humanas, o conhecimento hoje é

muito amplo, então a gente não pode ter a pretensão de dominar tudo, você deve ter um

domínio sobre aquilo que você faz, ter um conhecimento ter uma competência, um domínio

dentro daquilo que você faz. Hoje em dia não da pra você ficar parado e falar assim, ah eu

vou fazer uma faculdade, vou pegar meu diploma e vou trabalhar, você tem que estar sempre

correndo atrás, você tem que estar sempre se renovando e atualizando seus conhecimentos. A

musicoterapia que é o objeto de estudo de vocês é uma coisa relativamente nova, como

terapia, até assim... eu não sei quantos anos tem oficialmente como terapia.

Maria: Aqui no Brasil... é de 1995...

Neurologista: 95... É nova né, e mesmo assim, você vê... é de 95, e muita gente nem sabe do

que se trata, então mesmo assim, por exemplo, eu não tenho é... na prática, no meu dia-a-dia,

não é uma coisa que eu indico diretamente, vá fazer musicoterapia... eu tenho pacientes que

fazem, mas acaba sendo até por uma ããm... procura dos próprios pais, ainda não faz parte,

digamos assim, do nosso receituário, da nossa rotina, a indicação de... de musicoterapia. A

gente já tá muito acostumado com a fisioterapia, com a fono, com a terapia ocupacional, com

a ecoterapia, que pra as crianças com paralisia cerebral e também com outras deficiências é

bem legal, né? Mas a musicoterapia ainda... é uma área mais nova, então é uma área que

ainda... e deve ter muito pouco profissional também né, até onde eu sei, assim... é difícil de

encontrar...

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Laura: É... dá pra ver ainda a diferença das crianças que fazem ou não fazem a

musicoterapia?

Neurologista: É... não, porque geralmente eles não fazem só isso também, geralmente, é...

assim como a eco, por exemplo, é... A criança que faz ecoterapia ela não faz só eco, é uma

criança que já está inserida em outras terapias...

Maria: Ecoterapia é com cavalo né?

Neurologista: É, ecoterapia.

Sara: Você já, por acaso, já indicou como terapia a musicoterapia ou a ecoterapia?

Neurologista: Ecoterapia muitos, tá? Inclusive crianças autistas também, é legal pra fazer

terapia, é... crianças que tem atraso de uma forma geral, né? Mas musicoterapia não...

confesso que não... não... ainda não é uma coisa que está na minha rotina... eco sim, também

porque há vários centros de ecoterapia, embora não sejam muitos, então... a gente encontra.

Um lugar que eu sei que... onde tá tendo musicoterapia, que eu já tive uns dois pacientes que

as mães comentaram, é na Sociedade Pestalozzi, que é em.. é de Osasco, que eles trabalham

com deficiência mental, a deficiência intelectual né, e tem alguns pacientes que não... Que

tem uma gravidade... eles não vão conseguir ser inseridos no mercado de trabalho né, porque

lá eles tem um... um trabalho que é um centro de formação pra estabelecer algumas rotinas,

por exemplo, os pacientes que tem deficiência intelectual, leve ou até moderada, eles

conseguem ser treinados para fazer algumas atividades né... e depois eles conseguem ser

inseridos no mercado de trabalho pra fazer essa atividade, e a Pestalozzi tem um treino...

Direcionado pra isso.

Maria: É... Como que escreve...?

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Neurologista: É... Pestalozzi, com dois “zês”. É... Pestalozzi foi um grande educador né?

Suíço... E existe no Brasil é... Algumas instituições da Sociedade Pestalozzi, e lá eles ensinam

inclusive, os deficientes intelectuais, eles fazem treino de autonomia também, assim, de

aprender a pegar ônibus, né?... Porque eles têm uma completa dependência né? E tem alguns

que por exemplo, não conseguem não...não...até pela sua gravidade ou por seu

comprometimento no comportamento, eles não vão ser inseridos nessas atividades

profissionalizantes, digamos assim, então eles fazem musicoterapia, eles fazem algumas

coisas mais é... em grupo, e mais atividades assim... Relacionadas com essa parte até de

conter um pouco o comportamento é... dá uma... Uma acalmada nesse sentido.

Maria: Eh... Que tipo de paciente você costuma atender? Das crianças, assim, tem

deficientes...

Neurologista: Tem.

Maria: Tem e...

Renata: Em geral, assim, quais os que você geralmente atende?

Maria: É diverso?

Neurologista: Olha, eu, na verdade trabalho, quer dizer, aqui é uma exceção, tá? Que aqui eu

faço outra coisa. Eh... por isso eu falo que a gente tem que estar sempre se renovando, por

que assim, tem um ano e pouco que eu estou aqui, uma coisa que nem eu fui atrás, acabou

aparecendo na minha vida e eu tô aqui. É...eu trabalho, eu tenho clínica né, privada, eu

trabalho na clínica privada, no consultório e trabalho na prefeitura, trabalho no estado, tá?

Então assim, eu vejo pacientes, an... de diversas faixas sociais, mas vejo muito paciente com

deficiência intelectual, com paralisia cerebral ,né, que ai vamos pensar nas deficiências

motoras, nem todo paciente com deficiência motora tem paralisia cerebral, mas as

deficiências de uma forma geral né, seja motora, intelectual, paciente com autismo, pacientes

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com epilepsia que tem alguma deficiência ou pacientes que são só epiléticos mas crianças

absolutamente normais dos outros pontos de vista, porque não é que é epilético que tem que

ter outras deficiências, tem pacientes que é epilético e igual a vocês, uma de vocês por

exemplo, poderia ser epilético, toma seus remédios, tá controlado e ter uma vida normal.

Maria: Qualquer um pode ter convulsão, né?

Neurologista: Convulsão qualquer um pode ter, agora, o quadro de epilepsia existes alguns

fatores predisponentes né, como, você ficar sem comer e fizer uma hipoglicemia importante,

você pode ter uma convulsão, tá? Não necessariamente você é uma epilética.

Maria: E cada vez que se tem um ataque epilético, danifica o cérebro, né?

Neurologista: Se for uma crise prolongada, por que você começa a alterar o metabolismo do

cérebro, e ai pode ter chances de ter prejuízos, tá? Ah... eu recebo muitos pacientes com dor

de cabeça, a gente trata dor de cabeça em crianças, em crianças e adolescentes tá? Crianças

com problemas de aprendizado, crianças com défcit de atenção (risos), que hoje é o que está

na moda, né, o que tem bastante.

Laura: É uma moda mesmo?

Neurologista: Olha, existe a patologia, a gente fala que é moda por que está uma febre,

assim...

Laura: tem muito mais manifestação automática do que de fato...

Neurologista: É, por que assim, eu acho que a sociedade está meio virada, assim, né? A rotina

da família, a exigência da escola, a exigência do mundo, eu acho que isso propicia, mas a

patologia existe. Tem grupos que negam a existência da patologia, mas ela existe, existe uma

melhora com o tratamento, enfim, mas sempre tem que tomar cuidado para não ficar super

diagnosticando. O que mais vocês querem saber?

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Sara: Você estudou algum tema relacionado a audição ou música e como afeta o cérebro?

Neurologista: Não, assim, uma coisa que precisamos saber é que todos os nossos órgãos

sensoriais, visão, audição, na verdade, aqui é nossa porta de recepção por mundo, os nossos

órgãos sensoriais é o nosso canal de comunicação com o mundo, então é através deles que

conseguimos perceber o mundo, o tato, a visão, audição, paladar, é a forma de perceber, e

tudo tem conexão com o cérebro, então essa é a via, a porta de entrada, daqui, esse estímulo

vai através de uma via nervosa, eles vão para áreas do cérebro e essas áreas elas n são

estantes, assim, temos a área da visão, da audição, da fala, só que existe uma

intercomunicação também dessas áreas, por que se não, se n tivesse essa conexão nós não

associaríamos o que a gente fala com o que a gente escuta com o que a gente vê então todas

essas informações que a gente recebe elas tem que estar interconectadas, então tem áreas do

cérebro que estão só relacionadas para fazer essas associações, então, quando eu recebo um

estimulo auditivo, na verdade assim, eu vou receber esse som, esse som vai, através de uma

via nervosa, para o cérebro e esse som será processado; eu sei que chegou um sou e eu vou

fazer alguma associação desse som com alguma coisa que eu já conheço que está lá nas

minhas caixinhas da minha memória, e vou fazer uma associação desse som; por exemplo,

você me fez uma pergunta, isso está relacionado, assim, por tudo o que eu conheço, de

leitura, de escrita, do aprendizado que eu já tive relação com essas informações, eu entendi a

sua pergunta eu poderia ter algum problema em que eu não entendo a sua pergunta,

entendeu? Ou então não chega direito, e não necessariamente isso é um problema auditivo, eu

posso escutar direito, mas não processar a informação, tá? Agora, se eu processo a

informação, toda a informação é um estimulo e eu posso fazer associações no meu cérebro

por conta desses estímulos; não sei te dizer exatamente como a musicoterapia trabalha isso,

assim, como é exatamente as conexões que ela estimula para ter o efeito benéfico.

Laura: Do seu ponto de vista neurológico, o que diferencia um som agradável de um

desagradável?

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Neurologista: São associações, né? São as associações que a gente faz, por isso que tendo o

conhecimento, tendo o conhecimento prévio você faz associações com coisas agradáveis ou

não, agora, por exemplo...

Laura: Quer dizer o relacionamento com outros sentidos.

Neurologista: Com outros sentidos, por exemplo, pra gente falar, existe uma associação

grande entre a questão da fala, da área da fala com a área auditiva; nós temos a audição, nós

temos a área da fala e nós temos uma associação dessas áreas, nós temos áreas ali que são

conexões da área da fala e audição, tá?

Renata: É…, você sabe que parte do cérebro que é afetada pelas audições?

Maria: Sabe o nome?

Neurologista: Ai, e agora? Eu sei que tá no Lobo Temporal, mas, é...a circunvunção

exatamente eu não me lembro, mas isso vocês conseguem tranquilo na internet, o tipo de uma

área, tem mapas do cérebro com a área de audição, com as áreas das conexões, tá, é lobo

temporal ou giro posterior, lobo temporal ou alguma coisa assim. Existe uma associação

grande entre a questão da fala, da área da fala para a auditiva. Nós temos a área da audição,

nós temos a área de fala e nós temos uma associação dessas áreas, nós temos áreas ali que são

conexões da área da fala com a área da audição, tá?

Renata: É…, quais são as principais diferenças entre o cérebro de uma pessoa sem

deficiências e de uma pessoa com deficiência? Tipo paralisia cerebral.

Neurologista: Então... isso pode variar bastante, tá? Por exemplo, uma criança... uma...

quando a gente fala de deficiência intelectual SÓ, tá? É... uma criança com deficiência

intelectual ela tem um cérebro ANATOMICAMENTE, do ponto de vista, assim, de exames,

né, normal, tá? Ela tem todas as... é... tudo bem formado tá? É... só que... as estruturas não

funcionam como deveriam, tá? Então assim, talvez os neurônios possam ter crescido menos,

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ter menos ramificações, mas, é... anatomicamente quando se olha é um cérebro de tamanho

normal, de peso normal, é... não ta faltando nenhum pedaço. Mas do ponto de vista

microscópico pode ser que tenha menos ramificações, né, mas são coisas que no dia-a-dia,

por exemplo numa ressonância magnética, a gente não percebe, é normal, tá? Agora, na

paralisia cerebral, geralmente você tem uma lesão, certo? Quando a gente tá falando de

paralisia cerebral, a gente tá falando de lesão, que teve uma lesão cerebral, a diferença vai

depender de onde está essa lesão, e de quão grande, de quão grave é essa lesão, tá? Por

exemplo, se eu tiver uma lesão na... ããm... os prematuros, por exemplo que tem sangramento,

eles costumam ããm... ter sangramento numa área específica que são... que é uma área ããm...

ao lado ali dos ventrículos que, isso vai é... para onde passam fibras motoras, então com

muita frequência eles vão ter um comprometimento motor por conta de uma cicatriz que faz

nessa região, tá? Ou se, por exemplo, ela teve uma falta de oxigênio e ela fez um...um...uma...

Uma coisa que a gente chama de esquemia aoto o fluxo de sangue para uma determinada

área, é... o posterior, por exemplo, que ela pode ter um comprometimento visual por conta

disso, tá? Então vai depender, ou, ããm... não falando da parte do nascimento mas pré...prévio

ao nascimento, se ela tem uma mal formação do cérebro, dependendo do que não se formou

no cérebro dela, ela também vai ter uma manifestação, uma diferença disso aí.

Maria: Então pode ser lesionado depois do nascimento?...

Neurologista: Ela pode ter uma lesão pré nascimento, por exemplo ela já, é... faz... formou

uma mal formação, ela pode ter esse dano no nascimento né, pele parto, digamos assim, e

pode ter um distúrbio no primeiro ano de vida, tá?

Maria: Ele pode também...

Neurologista: Agora, pode ter um dano da vida, uma meningite, um acidente, por exemplo...

Uma coisa que tem que tomar muito cuidado na idade que vocês tão, acidentes de carro, né, a

gente vê muito também motoqueiro que cai, bate a cabeça, faz uma lesão. É que nesse caso a

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gente não chama de paralisia cerebral, mas é um dano, é uma lesão, AVC, que é uma coisa

muito frequente, principalmente em quem tem pressão alta...

Renata: Quando o cérebro o cérebro é afetado por algum acidente que tratamentos, tipo, da

neurologia vocês buscam encaminhar a pessoa?

Neurologista: Então, aí a gente tem que ver que área foi afetada, né, por exemplo, se tiver um

comprometimento é... pegou uma área motora, ele vai ter uma lesão motora, ele tem que fazer

fisioterapia, por exemplo, e as reabilitações relacionadas com a parte motora tá? Ããm... se ele

teve alteração, por exemplo, na área da fala, ele vai ter que fazer fono e vai ter que ter uma

estimulação dessa parte fonoaudiológica, ããm, se ele tiver um comprometimento

comportamental, porque as vezes não afeta essas outras coisas mas a pessoa fica com

comportamento inadequado, né? Ela fica meio... é... Uma pessoa que não se comporta dentro

do contexto, ela tira a roupa em qualquer lugar, ou é absurdamente agitada, ela vai ter que,

por exemplo, acompanhamento psicológico, ããm... muitas vezes medicamentoso, se nessa

lesão...ela desenvolveu o quadro de epilepsia, ela vai ter que tomar remédios pra isso, tá? Em

algumas situações precisa de remédio também né? Como parte de comportamento, a parte de

epilepsia, tá?

Maria: E... o AVC, o AVC é diferente de paralisia cerebral então?

Neurologista: É...a paralisia cerebral é um termo que a gente usa pra crianças, que teve um

dano no começo da vida e ele carrega...Por que as doenças cardio-vasculares são as mais

frequentes no mundo...né, são as que mais matam e/ou que deixam sequelas, então infarto e

AVC é o mais comum, é o que a gente mais tem. Então essa pessoa que teve o AVC lá

com...sei lá, 60 anos, tá, ela teve lá uma causa que teve esse AVC, por 60 anos ela foi normal,

ela não é para... ela não tem uma paralisia cerebral, ela tem uma sequela de um AVC. A

mesma coisa uma criança, com...uma doença que chama anemia falciforme tá? Que é uma

doença no sangue, ele tem, é...é uma doença que pode dar AVC, ela teve um AVC com 5

anos de idade, tá? Ela não tem uma paralisia cerebral, mas ela tem uma sequela de AVC, tá?

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Maria: Entendi! E quando tem paralisia ou deficiência…

Neurologista: É...coitada né, na verdade você vai ter... quando você tem um AVC, você vai

ter uma sequela... você pode ter uma sequela motora por causa desse AVC, tá? Que pode ser

igual uma sequela motora de quem tem uma paralisia cerebral. É que a causa é diferente, tá?

Agora, ããm..., uma criança que tem, sei lá, uma paralisia cerebral, ainda por cima ela pode ter

um AVC ou ela pode ter uma meningite... mais tarde, ou ela pode sofrer um acidente de carro

e ter uma sequela em cima? Pode. Todo mundo pode.

Maria: É que a minha irmã ela tem paralisia cerebral, é que assim, eu falo que é AVC junto.

Neurologista: Tá, mas é uma coisa que ela teve lá no comecinho da vida não foi?

Maria: Então... quando ela nasceu.

Neurologista: Então, provavelmente é... por algum motivo ela pode ter tido uma falta de fluxo

sanguíneo e isso ter dado um AVC, e ela deve ter ficado hemiplégica, né? Só que, quando

essa situação acontece lá quando é pequena, é... a gente chama de paralisia cerebral, teve um

sofrimento cerebral que levou à isso, num cérebro que ainda tá imaturo...

Maria: Entendi.

Neurologista: Que dá...

Maria: Mas nesse caso é AVC e Paralisia, que é AVC que foi causado.

Neurologista: É… geralmente assim, você pode chamar só de paralisias também, é que é um

termo que incomoda um pouco né? Que é meio pejorativo paralisia cerebral, uma

encefalopatia crônica não evolutiva por AVC, a causa é o AVC, né, então assim, a causa é o

AVC, mas é diferente de você falar desse AVC num adulto, por exemplo, num jovem...

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Maria: Aham eu sei.

Neurologista: Tá?

Maria: Entendi.

Anexo 3

Entrevista - Estudante de musicoterapia

Perguntas:

1. O que levou você a estudar Musicoterapia?

2. Em sua opinião, qual a relevância social que a Musicoterapia tem para a sociedade?

3. Que áreas são importantes dominar para se estudar Musicoterapia?

4. Quais cursos você tem na faculdade?

Respostas:

1. Eu sempre gostei muito de música, mas não queria fazer uma faculdade pra me tornar

musicista, eu queria uma profissão que pudesse ajudar as pessoas. Pensei em psicologia, fono,

fisioterapia etc. Até que um dia eu vi na televisão uma reportagem sobre Musicoterapia e me

apaixonei. Pesquisei bastante sobre o curso e pronto, quando eu vi já estava matriculada.

2. Estamos constantemente em contato com o som, tanto bons como ruins. A musica (ruídos)

nos acalmam, nos estressam, nos deixam felizes, tristes, emocionados, apaixonados,

deprimidos etc. A Musicoterapia vai usar desse recurso, que é o som, para trazer bem estar

emocional, físico, psicológico e social de algum individuo ou grupo. Então, eu acredito que

algo que pode melhorar o problema de varias pessoas é de grande relevância para a

sociedade.

3. É muito importante um musicoterapeuta ter domínio sobre a música, não se pode ser um

musicoterapeuta sem saber cantar ou tocar algum instrumento. É importante saber primeiros

socorros, podem ocorrer inúmeras situações que necessitem desta habilidade. Neurologia,

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esta não é necessário dominar mas é importante saber reconhecer e entender as patologias dos

pacientes. A psicologia também é muito importante para poder entender os pacientes.

4. Tenho muitas matérias haha... Mas as mais legais são: música, anatomia, neurologia,

primeiros socorros, história da música, técnicas musicoterápicas, fisiologia, laboratório de

musicoterapia, musicoterapia na terceira idade, desenvolvimento evolutivo musical,

psicologia etc.