Colégios são monumentos de memórias oazinguito ferreira
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Colégios são monumentos de memórias(Criado em Quinta, 05 Fevereiro 2015 14:16 – publicado pela Tribuna de Petrópolis, 05/02/205, p.2)
Oazinguito Ferreira da Silveira Filho
Mestre em Educação
Recentemente convidado por alunos e professores do curso de Mídias do Ensino Médio do Colégio
Estadual Pedro II, para prestar um depoimento memorialístico sobre a instituição em um documentário,
nos chocamos com constatações que seguiam além da própria história do estabelecimento. Todos
acentuaram que seria uma tarefa ingrata, pois minha narração se realizaria somente sobre a sua
composição histórica como processado em documento acadêmico, já que quanto à memória recente
necessitaria de promover longas pesquisas em crônicas, obras literárias, cartas ou depoimentos de
professores, alunos e autoridades.
Como professor da instituição, responderia por parte de sua memória, um quarto de seus cem anos,
constituído em patrimônio, pois sua origem remonta a organização pública de um dos históricos cinco
grupos escolar, como o presente na extinta Rua 14 de junho, atual Rua Washington Luiz,
provavelmente pela primeira década do século XX, segundo os últimos levantamentos (1908).
Segundo Michel Pollak, este seria "o problema da ligação entre memória e identidade social", que
acentuaria a necessidade da presença da história oral por seu processo recente, sendo neste sentido
“algo tão particular como pertencente ao coletivo social que o viveu”, necessitando de entrevistas junto
à população que incorporou seu imaginário, suas salas, seu pátio, seu jardim.
Observamos que o Colégio possuiu uma identidade integrada não somente à história da educação da
própria cidade, mas também por se confundir com a história da própria cidade. Responsável pela
formação de milhares de petropolitanos, onde muitos construíram suas identidades políticas na
sociedade fluminense como na brasileira. O D. Pedro foi o primeiro ginásio público municipal
(Washington Luis). Identidade que se confunde com a existência de discentes como de docentes da
própria cidade, como de outros que a ela se integraram.
Assim sua identidade relaciona-se com a vida de inúmeros atores sociais cuja memória é parte
integrante de suas vidas, revelando requintes memorialísticos únicos para a composição da história
institucional, como da educação do município.
Para mim a polemica perdurava, "Quais são, portanto, os elementos constitutivos da memória,
individual ou coletiva? Em primeiro lugar, são os acontecimentos vividos pessoalmente”, afirmaria
Pollak. A lógica permanece de que a memória precede a construção da identidade e torna-se marco
da vida dos indivíduos. Assim se processou a memória dos momentos da escola que foram vividos
também pelo coletivo da comunidade, "...acontecimentos dos quais a pessoa nem sempre participou
mas que, no imaginário, tomaram tamanho relevo que, no fim das contas, é quase impossível que ela
consiga saber se participou ou não.
Os acalorados debates políticos que em seu interior se processaram durante os momentos mais
críticos da história republicana; os seminários e congressos que se realizaram no estabelecimento; até
mesmo feiras industriais em seu terreno ocorreram como a descoberta recentemente da de 1925 com
a presença de inúmeras empresas petropolitanas que participaram da feira de 1922 na Cidade do Rio
de Janeiro; formações que foram essenciais para a sociedade petropolitana em algumas épocas, como
a do extinto ginásio de comercio nos anos 30 substituído pelo Washington Luis; do curso de
Secretariado celebrado por profissionais liberais que necessitavam destes profissionais; até mesmo do
antigo curso de formação de professoras, herdado do IEPK, com um imenso batalhão de normalistas
que realizou tarefas difíceis em décadas impossíveis pelas escolas municipais.
Filmes, debates, que se projetaram para seus alunos, muitos destes proibidos no circuito por suas
condições ideológicas, mas que a ousadia pedagógica permitia um laboratório de estudos; um curso
de Química que rapidamente tornou-se um dos mais importantes do país, com profissionais
empregados em grandes empresas, embrião das Águas do Imperador, na BASF entre outras.
Momentos como os aclamados por um de seus mais antigos diretores, Mário de Oliveira, como o da
criação em meados dos anos 70 de um mini-museu em uma de suas salas, uma exposição patrimonial
de relevo com vestígios datados da memória, ou seja, aquilo que fica gravado como a data precisa de
um acontecimento, uma memorabilia, com suas cadernetas, seus uniformes, cadernos, livros, fotos, o
que atualmente observamos como setor patrimonial, organizado com muitas doações da comunidade
que orgulhavam a instituição, mas tão logo foi destruído por sucessores sem conhecimento do que
significa esta representação memorialística. Momentos onde professores e bedéis arrastavam alunos
para dentro do estabelecimento para que não fossem “raptados” pelas malhas da selvagem “ditadura”
fosse esta do Estado Novo ou representada pelos soldados do batalhão ou pela famosa “radio
patrulha” com seus quepes vermelhos (anos 60). Momentos de risco onde se estendiam colchões para
aqueles docentes que risco corria assim como de vereadores caçados.
Épocas desde os anos 30 que abrigavam reuniões do IHP, da Academia de Ciências e Letras, assim
como demais instituições de relevo e sem teto na cidade para desenvolvimento de nossa
intelectualidade.
Porém nada é mais forte que o orgulho presente em cada cidadão ao passar pelo edifício-monumento,
erguendo seus filhos menores para que estes possam enxergar imaginários momentos que ocorrem
em seu interior desde o passado, como quem sabe observar altivamente um Wolney Aguiar regendo
sua banda, um Fernando Magno à porta de entrada observando postura e uniformes, uma vida que
transforma em memória e esta em identidade da sobrevivência de uma instituição que se encontra
acima da própria cidade presente na memória de seus habitantes.
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