Coleta e Exame Do Fluido Rumenal

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE VETERINÁRIA Depto de Medicina e Cirurgia Veterinária PROPEDÊUTICA CLÍNICA COLETA E EXAME DO FLUIDO RUMINAL Avelino José Bittencourt Professor Adjunto IV 1 - CONTENÇÃO Física Formiga 2 - EQUIPAMENTOS 2.1 Alternativos (Figura 1) a) Abre-bocas b) Sonda 2,30m X 0,008m(diam.) plástica c) Bomba de vácuo d) Kitasato Figura 1. Material alternativo para coleta de suco ruminal. A bomba de vácuo, B tubo de polipropileno (mangueira de gás), C Kitasato, D Rolha com tubo, E ponteira para sucção e filtragem, F Abrebocas de madeira ou guia de sonda. A B C D E F

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

    INSTITUTO DE VETERINRIA

    Depto de Medicina e Cirurgia Veterinria

    PROPEDUTICA CLNICA

    COLETA E EXAME DO FLUIDO RUMINAL

    Avelino Jos Bittencourt Professor Adjunto IV

    1 - CONTENO Fsica Formiga

    2 - EQUIPAMENTOS

    2.1 Alternativos (Figura 1) a) Abre-bocas

    b) Sonda 2,30m X 0,008m(diam.) plstica c) Bomba de vcuo

    d) Kitasato

    Figura 1. Material alternativo para coleta de suco ruminal. A bomba de vcuo, B tubo de polipropileno (mangueira de gs), C Kitasato, D Rolha com tubo, E ponteira para suco e filtragem, F Abrebocas de madeira ou guia de sonda.

    A B

    C

    D E

    F

  • 2.2 - Comerciais

    a) Sonda de Sorensen & Schambye (Figura 2)

    A Figura 2 Aparelho de Sorensen& Schambie: A Sonda metlica em espiral; B Ponteira de suco/filtrao; C Bomba de vcuo; D Tubo conector metlico; E Rolha perfurada para coneco com frasco de coleta; F Tubo de borracha para suco de ar.

    b) Bomba de vcuo eltrica (Figura 3)

    Figura 3 Bomba de vcuo eltrica, bivolt, dotada de manmetro, com capacidade para quatro litros.

    A

    B

    C

    D E

    E

    F

  • 3 - TEMPO PARA EXAME

    3.1 - 20 - 22C mximo. 9hs

    3.2 - 04 - 05C mximo. 24hs

    4 - EXAME PROPRIAMENTE DITO

    4.1 - COR

    Varia de acordo a alimentao, do cinza e oliva ao castanho esverdeado.

    4.1.1 - Normal

    Verde escura pasto (Figura 4)

    Figura 4 Colorao verde escura devido alimentao predominante em pastagem.

    Castanho-amarelado - silagem de milho ou gros

    Cinza - Tubrculos picados

    Verde-oliva a verde acastanhado - Feno

    4.1.2 - Anormal

    Cinza leitoso ou verde leitoso - acidose

    Preto-esverdeado - estase prolongada e/ou putrefao nos pr-estmagos.

    Cinza e com leite coalhado no suco - bezerros com leite seqestrado no rmen como resultado de refluxo abomasal ou insuficincia na goteira esofgica.

    4.2 - VISCOSIDADE E CONSISTNCIA

    4.2.1 - Normal

    Levemente viscoso

    Amostras muito viscosas podem conter grande quantidade de saliva, devendo portanto ser desprezadas (Figura 5).

  • Figura 5 Amostra de suco ruminal com viscosidade elevada (formao de filamento longo), devido ao excesso de saliva.

    4.2.2 - Anormal

    Aguado - inatividade da flora e fauna

    Muitas bolhas pequenas - timpanismo espumoso

    4.3 - ODOR

    4.3.1 - Normal

    Tpico do tipo de alimento fornecido - aromtico e no repugnante.

    4.3.2 - Anormal

    Repulsivo, mofado e ftido - decomposio de protenas ou de leite estragado.

    Penetrante de Ac. Lctico - ingesto excessiva de carboidratos de fcil digesto.

    Estragado e indiferente - suco ruminal inativo

    Amnia - intoxicao pela uria

    4.4 - pH

    4.4.1 - Fisiolgico - de 5,5 - 7,4

    Alimentao base de forrageiras - 6 a 7 (Figura 6)

  • Figura 6 Avaliao de pH de suco ruminal, proveniente de bovino com alimentao base de forrageiras.

    Alimentao a base de concentrados - 5,5 a 6,5

    Varia de acordo com diversos fatores: a) Composio da rao - relao concentrado-volumoso.

    b) Tempo decorrido entre a coleta e a ltima alimentao. No caso da alimentao ser

    fornecida a intervalos irregulares, deve-se coletar e medir aps 3hs da ingesto de

    alimentos.

    c) Quando a amostra coletada, for extremamente viscosa, pode ter ocorrido suco de

    amostras com excesso de saliva, cujo pH deve se encontrar na faixa de 8,5 (pH da

    saliva), neste caso despreza-se os 200ml iniciais e utiliza-se o restante (Figura 7).

    Figura 7 Suco ruminal com excesso de saliva (espumosa), o pH acima de oito.

    4.4.2 - Anormal

    Elevado at a faixa de alcalinidade - jejum por mais de 24hs, flora desativada por intoxicao pela uria ou processo putrefativo, como alcalose e putrefao do

    contedo ruminal.

    A acidez ruminal pode chegar em casos extremos at abaixo de 4,0 (quatro), como conseqncia da fermentao do cido lctico, super-alimentao com carboidratos

  • de fcil digesto (farelo de cereais e tubrculos), por forte refluxo de suco

    abomasal, o qual no pode ser equilibrado pelo bicarbonato da saliva (obstruo

    abomasal junto aos intestinos).

    4.5 - TESTE DO AZUL DE METILENO

    A reduo do azul de metileno reflete o metabolismo fermentativo anaerbio da flora ruminal (bactrias). Com este teste tm-se uma idia do estado das bactrias ruminais.

    4.5.1 - Tcnica:

    a) tubo de ensaio contendo 20ml de suco ruminal

    b) Adicionar 1ml de azul de metileno a 0,03%

    c) homogeneizar por inverso

    Figura 8 Incio do teste do azul de metileno. A tubo sem reagente; B tubo com azul de metileno, j ocorrendo a reduo do mesmo.

    d) Verificar o tempo gasto para que a colorao volte ao normal. Bem como a formao

    de um anel azul na parte superior do tubo, comparando-se com outro contendo

    somente fluido ruminal (Figura 8). A presena do halo azulado na poro superior do

    tubo (Figura 9), deve-se maior concentrao de oxignio nesta poro, que dificulta

    a reduo do azul de metileno neste local, visto que as bactrias so anaerbicas.

    A B

  • Figura 9 Teste da reduo do azul de metileno - Final da prova, onde se nota o halo azulado na poro superior da proveta.

    4.5.2 - Interpretao dos resultados

    a) Reduo em 1 min - rao basicamente constituda de gros.

    b) Reduo dentro de 3 min - microflora altamente ativa de um animal submetido a

    alimentao a base de feno e concentrados.

    c) Reduo entre 3-6 min - dieta a base de feno.

    d) Reduo em mais de 15 min - flora inativada por alimentao pobre em estrutura,

    volumoso indigervel, anorexia por vrios dias e quando o pH menor que 5 na

    acidose ruminal.

    4.6 - SEDIMENTAO E FLUTUAO

    Deve-se verificar, logo aps a coleta do lquido ruminal, o tempo necessrio para ocorrer a sedimentao e flutuao, sendo que as partculas mais finas e os

    infusrios (protozorios) sedimentam rapidamente (Figura 10), enquanto que as

    partculas maiores e mais fibrosas so carreadas para a superfcie por bolhas de gs

    resultantes da fermentao, formando uma camada espumosa de espessura varivel

    (Figura 11).

  • Figura 10 Sedimentao no frasco de coleta, onde se v as partculas mais finas no fundo do frasco.

    Figura 11 Flutuao no frasco de coleta, podem ser verificadas partculas mais espessas e espuma.

    4.6.1 - Normal

    O tempo para que ocorra a sedimentao e flutuao, depende da composio da rao e de quando ocorreu a ltima alimentao - varia de 4-8min (Figura 12).

  • Figura 12. Prova da sedimentao e flutuao do suco ruminal. A Teste da sedimentao e flutuao; B Teste do Azul de Metileno; C Frasco de coleta

    4.6.2 - Anormal

    Sedimentao rpida e flutuao retardada ou ausente este quadro pode ocorrer em animais inapetentes, com inanio ou rao de baixo valor nutritivo (quadro de

    inatividade da flora e apresentando suco ruminal aguado e em acidose ruminal).

    Rpida flutuao com bastante espuma, podendo tambm as pores slidas e liquidas ficarem misturadas por um tempo prolongado pode ser verificado nos animais em que ocorra putrefao e decomposio do contedo ruminal, na

    fermentao espumosa.

    4.7 - FLORA E FAUNA

    4.7.1 - FLORA

    Fazem parte deste grupo as bactrias, que compreende um grande numero de

    espcies, as quais so divididas de acordo com a funo em vrios grupos:

    Celulolticas

    Amidolticas

    Poteolticas

    Formadoras de cido butrico, lctico e propinico.

    Em cada um desses grupos encontra-se uma grande variedade de formas , em funo da composio do alimento (nutrientes), se estabelecer a distribuio

    das espcies de bactrias.

    Quando a alimentao a base de celulose, esto presentes menos bactrias,

    A

    A

    A

    B

    A

    A

    C

    A

    A

  • quando se compara com uma base de amido.

    4.7.2 Normal

    Alimentao base de feno e de gros - predominncia de bactrias Gram-negativas, que so as bactrias que se coram em vermelho ( Figura 13).

    Figura 13. Esfregao de suco ruminal, proveniente de animal alimentado quase que

    exclusivamente base de capim. Onde pode ser observada predominncia de

    cocos e bastonetes gram negativos.

    Alimentao rica em aucares (dissacardeos e/ou monossacardeos) - proliferam primeiramente os cocos, subseqentemente os bastonetes curtos e finalmente os

    bastonetes longos Gram-positivos (coradas em azul ou roxo) .

    4.7.3 - Anormal

    Animais doentes, mas com pH normal - predominncia de Gram-negativas.

    Na acidose ruminal (lctica) - sufocamento das Gram-negativas, podendo at mesmo desaparecer.

    Sobrecarga por alimento rico em amido, predominam bastonetes Gram-positivos.

    Distrbios na digesto proventricular, (inatividade ou putrefao) - ausncia de bactrias dominantes normais para a respectiva alimentao e/ou uma grande

    uniformidade na flora, bem como o aparecimento de formas que geralmente no so

    verificadas.

  • 4.7.4 - Tcnica

    Esfregao do fluido ruminal

    Secar ao ar

    Corar pelo Mtodo Gram:

    Cristal violeta por 1

    Desprezar o excesso de corante

    Cobrir com lugol por 1

    lavar em gua corrente

    Diferenciar em lcool 95% por 15

    Lavar em gua corrente

    Fuccina Fenilada 10% por 30

    Lavar

    Desidratar (secar ao ar)

    4.8 - FAUNA

    Neste grupo incluem-se os protozorios, tambm conhecidos como infusrios.

    Dentre as funes deste grupo de organismos, pode ser destacada a reduo de aucares, amido, hemicelulose, xilanos e pectinas. Os infusrios evitam a

    diminuio excessiva do pH ruminal, pois utilizam parte do amido da reduo

    bacteriana no rmem. Realizam tambm a converso da protena do alimento e das

    bactrias digeridas em protena infusria, que tem valor biolgico mais elevado

    A quantidade de protozorios ir variar de acordo com a composio da rao, com o tempo decorrido aps a ultima ingesto de alimentos e de qual poro ruminal foi

    colhida a amostra.

    No fluido ruminal recm colhido a densidade e a motilidade dos protozorios pode ser visvel a olho nu. Quando a sedimentao se completou os protozorios

    (infusrios) formam uma faixa cinza acima da camada de partculas de alimento que

    se depositou no fundo do tubo de sedimentao.

    4.8.1 - Tcnica

    Para realizar a microscopia - colocar uma gota do suco ruminal em uma lmina,

    aquecer 30C e cobrir com lamnula e examinar ao microscpio (aumentos de 40 e 100 vezes).

    4.8.2 - Exame

    Os infusrios so classificados como pequenos, mdios e grandes (Figura 14). So brilhantes e movem-se rapidamente (no confundir com bolhas de ar).

  • Figura 14. Infusrios do suco ruminal. A- Pequenos; B Mdios; C Grandes.

    No exame deve-se observar a densidade, que classificada em: +++ abundante ++ moderada + pouca - nenhuma

    Proporo entre grandes, mdios e pequenos e a proporo entre vivos(mveis) e

    mortos.

    Nas alteraes da digesto dos pr estmagos, os infusrios grandes desaparecem primeiramente, seguido dos mdios e dos pequenos.

    Todos morrero no pH abaixo de 5,0 (cinco) , como na acidose.

    Indigesto moderada aguda - ao lado dos protozorios vivos, muitos mortos.

    4.9 - OUTROS TESTES.

    Os testes citados abaixo, demandam material mais especializado, e, na maioria

    deles somente podero ser realizados em laboratrio.

    4.9.1 - FERMENTAO DA GLICOSE

    a) Capacidade das bactrias destruir a glicose

    4.9.2 - REDUO DE NITRITOS

    a) Avaliao da atividade das bactrias que reduzem ou sintetizam nitrognio

    4.9.3 - CIDOS GRAXOS VOLTEIS (actico, propinico, butrico, frmico, valrico

    e caprico) e CIDO LTICO

    a) Formados pela fermentao microbiana dos carboidratos, so os principais

    fornecedores de energia aos ruminantes.

    A

    B

    C

  • 4.9.4. - TEOR DE CLORETOS

    a) Detectar refluxo de contedo abomasal nas obstrues

    4.9.5. - ACIDEZ TOTAL (ACIDEZ TITULVEL)

    a) Avaliao precisa do pH.

    4.9.6. - CAPACIDADE DE TAMPONAMENTO

    a) Manuteno de pH favorvel aos processos digestivos

    4.9.7. - CONCENTRAO DE AMONACO

    a) Avaliar a capacidade de enzimas bacterianas em reduzir as protenas do alimento e o

    nitrognio no protico (uria), at amonaco por enzimas bacterianas, que a principal

    fonte de nitrognio para bactrias e protozorios para formao de protenas.