Coleta Seletiva de Lixo Urbano no Rio de Janeiro

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Coleta Seletiva de Lixo Urbano no Rio de Janeiro Maira da Silva Teixeira Pós Graduação em Gestão Ambiental – UFRJ/PNUMA Química Ambiental – Cássia Turan Turci Endereço eletrônico do aluno [email protected] Resumo: Este trabalho apresenta a relação da química nas questões ambientais envolvidas com a coleta seletiva no Estado do Rio de Janeiro, elencando desde os dados históricos da Cidade do Rio de Janeiro, maiores esclarecimentos dos componentes químicos existentes no lixo, as classificações para o lixo, meios de descarte e dados estatísticos quanto a coleta seletiva no Estado. Informações estas, contribuindo na construção de valores sociais e senso crítico, dentro de um estudo científico aqui apresentado, com perspectiva de preservação ambiental dentro da realidade social de cada cidadão, dentro de um material que todos nós produzimos: o Lixo. Palavras-Chave: Coleta Seletiva; Resíduos; Segregação; Classificações; Lixo. 1. Introdução A Revolução Industrial no século XVIII foi o marco do desenvolvimento industrial, quando surgiram os novos tipos de resíduos; os industriais e os produtos comprados, usados e descartados, e que atualmente são diversos. Muitos têm pouco tempo de uso como as embalagens plásticas, pilhas e baterias. No Brasil a preocupação da coleta de lixo se deu em 1880, ano em que o Imperador Dom Pedro II assinou o decreto 3024 aprovando o contrato de limpeza e irrigação da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro – Capital do Brasil naquela época; o contrato foi executado por Aleixo Gary e posteriormente por Luciano Francisco Gary, surgindo então até os dias atuais o nome “GARI” para os funcionários de limpeza urbana em muitas cidades brasileiras. Segundo dados do Lixômetro da Companhia Municipal de Limpeza Urbana da Cidade do RJ – COMLURB, os cariocas estão gastando 92,522 toneladas ao mês de lixo, 510,36 gramas de lixo por hab/dia. O lixo tornou-se um indicador curioso de desenvolvimento de uma nação. A partir de então a Química se mostra importante, e transformando-se em uma “vilã”, por dar ênfase aos efeitos poluentes de certas substâncias no ar, água e no solo, provenientes do lixo.

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Coleta Seletiva de Lixo Urbano no Rio de Janeiro

Maira da Silva Teixeira

Pós Graduação em Gestão Ambiental – UFRJ/PNUMA Química Ambiental – Cássia Turan Turci

Endereço eletrônico do aluno [email protected]. br

Resumo: Este trabalho apresenta a relação da química nas questões ambientais envolvidas com a coleta seletiva no Estado do Rio de Janeiro, elencando desde os dados históricos da Cidade do Rio de Janeiro, maiores esclarecimentos dos componentes químicos existentes no lixo, as classificações para o lixo, meios de descarte e dados estatísticos quanto a coleta seletiva no Estado. Informações estas, contribuindo na construção de valores sociais e senso crítico, dentro de um estudo científico aqui apresentado, com perspectiva de preservação ambiental dentro da realidade social de cada cidadão, dentro de um material que todos nós produzimos: o Lixo.

Palavras-Chave: Coleta Seletiva; Resíduos; Segregação; Classificações; Lixo.

1. Introdução

A Revolução Industrial no século XVIII foi o marco do desenvolvimento industrial, quando surgiram os novos tipos de resíduos; os industriais e os produtos comprados, usados e descartados, e que atualmente são diversos. Muitos têm pouco tempo de uso como as embalagens plásticas, pilhas e baterias.

No Brasil a preocupação da coleta de lixo se deu em 1880, ano em que o Imperador Dom Pedro II assinou o decreto 3024 aprovando o contrato de limpeza e irrigação da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro – Capital do Brasil naquela época; o contrato foi executado por Aleixo Gary e posteriormente por Luciano Francisco Gary, surgindo então até os dias atuais o nome “GARI” para os funcionários de limpeza urbana em muitas cidades brasileiras. Segundo dados do Lixômetro da Companhia Municipal de Limpeza Urbana da Cidade do RJ – COMLURB, os cariocas estão gastando 92,522 toneladas ao mês de lixo, 510,36 gramas de lixo por hab/dia. O lixo tornou-se um indicador curioso de desenvolvimento de uma nação. A partir de então a Química se mostra importante, e transformando-se em uma “vilã”, por dar ênfase aos efeitos poluentes de certas substâncias no ar, água e no solo, provenientes do lixo.

2. Coleta Seletiva no Rio de Janeiro

Com o avanço tecnológico, a produção de lixo ficou cada vez maior, e a coleta e lugares para comportar toda a quantidade de lixo, não acompanharam tal crescimento, provocando um acúmulo de lixo cada vez maior em áreas urbanas. Na minimização dos impactos nos grandes centros, o lixo deve ser recolhido com freqüência e levados para locais adequados. Para que este ciclo ocorra de forma adequada, é necessário conhecer a procedência deste material e também sua diversidade, Conforme Manual de Gerenciamento Integrado IPT-CEMPRE,1995, o lixo é classificado por origem para que o descarte ocorra corretamente, sendo separado em:

- Domiciliar: É originado em residências, constituídos por restos de alimentos, jornais, revistas, produtos deteriorados, garrafas, papel higiênico, fraldas e ainda podem conter resíduos tóxicos.

- Comercial: É aquele originado de estabelecimentos comerciais e prestação de serviços como mercados, bares, lojas etc. Um forte componente é papel, plástico, embalagens e resíduos de asseio de funcionários e clientes.

- Público: Originado dos serviços de limpeza pública e urbana; varrição das vias públicas, limpeza de galerias, praias, córregos e terrenos, podas de árvores, limpeza de áreas onde se tem feiras livres etc.

- Serviços de Saúde e Hospitalar: resíduos sépticos, produzidos em clínicas, farmácias, hospitais, veterinárias, postos de saúde etc. sendo eles: agulhas, gaze, algodão, seringas etc.

- Portos, Aeroportos, Terminais Rodoviários e Ferroviários: Resíduos sépticos; que contém ou potencialmente podem conter germes patogênicos trazidos d outros lugares, originam-se de material de higiene, asseio pessoal e restos de alimentos.

- Entulho: Resíduo da construção civil, material de demolições, restos de obras, solos de escavações etc, Geralmente é um material inerte e passível de reaproveitamento.

- Agrícola: Resíduos sólidos de atividades agrícolas e pecuários, (embalagem dos agroquímicos que devem ser devolvidos aos fabricantes para tratamento adequado) existe também uma preocupação com o esterco animal em que há pecuária intensiva sem o aproveitamento adequado do material.

- Industrial: Originado nas atividades dos diversos ramos de indústrias (química, metalúrgica, petroquímica, alimentícia etc.). O lixo industrial é bastante variado, podendo ser representado por cinza, vidros, resíduos alcalinos, ácidos. Em sua maioria o lixo é tóxico. Segundo a Classificação de Resíduos Industriais, eles ainda podem ser considerados em categoria de 1 à 4 e também quanto a sua natureza se é seco ou úmido.

Todas as classificações ajudam a separar os vários tipos de resíduos para que cada um tenha o tratamento adequado, devido as propriedades químicas e físicas que

atuam diferente em cada material. . A reciclagem é um processo composto por três fases distintas: coleta seletiva ou coleta seleção e separação, revalorização e transformação. Parte deste mercado é totalmente formal e na outra parte, por não existir controle ou regras, a informalidade é extrema.

No Rio de Janeiro, a COMLURB realiza coleta seletiva desde 1993, inicialmente baseado em cooperativas de bairros, muitas que existem atualmente, em um dado momento foi implantada a coleta porta-a-porta Zona Sul e parte da Zona Norte do Rio, com roteiros semanais que atende o público de determinados bairros do Rio.Conforme dados da Comlurb, em um terceiro momento deste processo será dada a continuidade da coleta por cooperativas que levam o lixo para os Centros de Separação de Recicláveis em Botafogo e Vargem Pequena, e continuação das ações de educação ambiental e sanitária também em escolas municipais – Implantação dos “garizinhos”, bem como a identificação dos coletores com as cores padrão da coleta seletiva.

Fonte: Comlurb Garizinhos –

Na tabela abaixo temos o total de lixo recolhido através de coleta seletiva por tipo de material triado no Município do Rio de Janeiro de 2002-2007.

3. A Química e os Tipos de Descarte

Ao realizarmos atividades com o “lixo”, devemos perceber que na realidade, ele é matéria prima de recursos não renováveis, e que sua produção provoca custos energéticos e financeiros, podendo causar impactos negativos ao meio ambiente. Diante do problema surgido: Aumento da geração de resíduos, o mais cabível seria a redução da produção de lixo, realizando medidas para encarecer embalagens descartáveis e de difícil decomposição, incentivo a construção de aterros sanitários, a produção do biogás, a incineração, a compostagem e principalmente estimulando a reciclagem.

O excesso de lixo é prejudicial aos ecossistemas, causando poluição das águas e solo, pois na decomposição da matéria orgânica, existe a formação de gases como o Metano (CH4), este que aquece muito mais do que o gás carbônico (CO2), contribuindo para o agravamento do efeito estufa.

Segundo dados do site lixo.com , o Estado do Rio de Janeiro é composto por 92 Municípios, em resíduos sólidos, se encontra com:

04 Aterros Sanitários Licenciados: Rio das Ostras, Nova Iguaçu, Piraí, Macaé;

13 Aterros “Controlados”: Angra dos Reis, Caxias (Gramacho), Nova Friburgo, Resende, Teresópolis, Barra do Piraí, Rio Bonito, Santa Maria Madalena, Petrópolis, Miracema, Maricá, Porciúncula, Natividade;

06 Aterros Sanitários em Licenciamento: Macaé (novo), Rio de Janeiro (Paciência), Nova Friburgo (novo), Paracambi, São Pedro da Aldeia, Campos;

4 Unidades de Triagem e Compostagem em fase de implantação;

53 Unidades de Triagem e Compostagem implantadas, desde 1977, sendo que 26 unidades operando normalmente;

62 Vazadouros (lixões), sendo 48 com catadores, crianças, animais de corte e vetores.

Os lixões, são áreas onde os resíduos provenientes de diversas origens são depositados a céu aberto – figura 01 e 02, sem nenhuma preparação prévia de matérias ou qualquer tipo de controle ambiental, ele leva substâncias tóxicas para o lençol freático, o que caracteriza um modo agressivo o meio ambiente, as coisas ali depositadas, servem de alimentos para crianças e adultos catadores que vivem dos restos, e vendem o que pode servir para a reciclagem, para tirar o seu sustento diário.

Figura 01

Figura 02

O lixo a céu aberto contribui para proliferação de diversos vetores, fazendo daquele ambiente fonte de contaminação direta pelo lixo e também de doenças causadas pelos vetores ali existentes. O descarte de equipamentos eletrônicos gera resíduos químicos e tóxicos por conterem metais pesados, que degradam lentamente o meio ambiente, uma vez que tais metais entra na cadeia alimentar, eles não tem como serem metabolizados e ficam acumulados causando dados aos sistemas cardiovascular e nervoso. Uma vez no organismo humano, a toxicidade dos metais pode bloquear funções essenciais para atuação de biomoléculas, deslocar outros metais presentes no organismo e modificar conformações de sítios ativos e na estrutura quaternária de proteínas, os principais elementos químicos encontrados nos lixões são Chumbo (Pb), Cádmio (Cd), Níquel (Ni), Mercúrio (Li), Manganês (Mn), Zinco (Zn).

O Aterro Controlado – figura 03, é um intermediário entre o lixão e o Aterro Sanitário, Normalmente é uma célula adjacente ao lixão que foi remediado, ou seja, que recebeu cobertura de argila, e grama e captação de chorume e gás. Esta célula adjacente é preparada para receber resíduos com uma impermeabilização com manta, tem uma operação que procura dar conta dos impactos negativos tais como a cobertura diária da quantidade de lixo com terra ou outro material disponível como forração ou saibro. Tem também recirculação do chorume que é coletado e levado para cima da camada de lixo, diminuindo a sua absorção pela terra ou eventualmente outro tipo de tratamento para o chorume como uma estação de tratamento para este efluente.

Figura 03

A deposição mais adequada nos dias atuais e que está causando problemas para os catadores informais que viviam nos lixões, é o Aterro Sanitário, onde se tem a disposição adequada de resíduos sólidos urbanos – Figura 04, antes de iniciar a deposição do lixo, o terreno foi previamente preparado, com nivelamento de terra e selado a base de argila e mantas de PVC extremamente resistentes; desta forma o lençol freático não estará contaminado pelo chorume, este que é coletado por drenos e encaminhado para o poço de acumulação de onde nos 06 primeiros meses de operação é recirculado sobre a massa de lixo aterrada, passado este tempo quando a vazão e os parâmetros já são adequados para o tratamento, o chorume acumulado será encaminhado para estação de tratamento de efluentes. Desta forma ocorre o aterro diário do lixo que é recebido, não ocorrendo a proliferação de vetores, além do mau cheiro e poluição visual, a área depois de um determinado tempo, é passada a interesse da população local, onde não podem ser construídas habitações, mais poderá servir de área de lazer para a população daquela região, como previsto no aterro sanitário de Nova Iguaçu – figuras 05 e 06

Figura05

Figura 04

Figura 06

Na tabela a seguir, segue os dados percentuais da coleta de lixo no Município do RJ:

Os gases produzidos nos Aterros Sanitários, também devem ser removidos e queimados de forma adequada para evitar riscos ambientais e manter a segurança das pessoas que trabalham nesses locais. O gás produzido é o biogás, este é composto 40% de dióxido de carbono (CO2) e 60% de metano (CH4). Existem projetos sendo desenvolvidos para utilizar o metano como combustível das próprias unidades de tratamento. Nessa reação, o metano é transformado em dióxido de carbono. metano no aquecimento global. Combustão do metano: CH4 + 2 O2 -> CO2 + 2 H2O

Figura 07

Existe também o processo de incineração dos resíduos, processo este realizado em fornos especiais, envolvendo a utilização de filtros e redutores de emissão de gases tóxicos, entre os quais monóxido de carbono, dióxido de carbono e dióxido de enxofre. Sendo assim, este processo implica em adaptações mínimas nas cimenteiras. Numa primeira fase, os resíduos industriais perigosos são enviados para uma estação de pré-tratamento. Os lixos com pouco poder calorífico são fluidizados (trituração, dispersão e separação dos materiais ferrosos); os resíduos líquidos são impregnados com serradura e submetidos a uma possível centrifugação (no caso de possuírem grandes quantidades de água); os resíduos termo fusíveis, alcatrão e betumes, são rearmazenados em lotes. Numa segunda fase os resíduos são levados para as cimenteiras. Em caso de acidente de transporte, os impactos ambientais serão muito menores do que antes do tratamento dos mesmos. Nas cimenteiras são pulverizados para o forno tirando partido do seu poder calorífico (Ex: combustíveis) ou utilizados como matéria-prima substituta na produção de cimento.

Quanto ao processo de Compostagem, - Figura 08, é um dos métodos mais antigos e consiste em aproveitar o lixo para a obtenção de adubo e biogás, onde o O lixo é separado e as sobras do que é reciclável, o material orgânico (restos de plantas e alimentos...) é colocado dentro de tubos giratórios onde fica por cerca de cinco dias. Depois desse processo, o lixo por microorganismos em humos (composto orgânico) pode ser usado como adubo e sanar problemas de solos que foram muito usados pela agricultura e perderam seus nutrientes, mais os microorganismos atuam na decomposição do lixo, é produzida uma quantidade apreciável de biogás, constituído principalmente por metano e que como vimos anteriormente pode ser aproveitado como combustível ou para geração de termoeletricidade. Caso não seja aproveitado, o biogás é queimado na própria usina de compostagem para evitar riscos de explosões.

Figura 08

Existem vários métodos para realização de coleta no Estado do RJ, mesmo em locais onde a coleta seletiva não passe; o caso típico da coleta implantada na Zona Sul da Cidade do RJ e também da Zona Norte, cada cidadão pode zelar pelo asseio social e melhor condição de vida. Segue quadro ilustrativo abaixo, onde existe a segregação de resíduos e destinação adequada.

4. Conclusão

Concluímos que se faz necessária a participação dos setores públicos para adoção de medidas corretivas quanto as coletas realizadas no Estado do Rio de Janeiro, para que a segregação ocorra de forma adequada, e que os lixos não sejam colocados em aterros de forma inadequada, mais também se faz necessária a participação da sociedade, que contribui de diversas formas, seja ela com atividades coletivas, iniciativas que se iniciam dentro de casa, na escola, denúncias, mais tudo com a perspectiva do desenvolvimento sustentável; continuidade das ações, identificando tecnologias e soluções adequadas a realidade social de cada um, de modo que todos estejam englobados em um processo de conscientização ambiental, conhecendo a real importância da valorização do meio ambiente e os problemas que poderão repercutir caso as medidas preventivas e corretivas não sejam realizadas desde já.

5. Referências

ANDRADE, Tânia & JERÔNIMO, Valdith. Meio Ambiente: Lixo e Educação Ambiental. João Pessoa: Grafset, 2004.

Companhia Municipal de Limpeza Urbana - COMLURB.Coleta Seletiva , 2011. Disponível em: <http://comlurb.rio.rj.gov.br/serv_coleta.htm>. Acesso em: 09 outubro 2011.

Instituto Pereira Passos. Distribuição percentual de lixo municipal disposto nos aterros segundo categoria - Município do Rio de Janeiro - 1995 -2009. Disponível em : <

http://portalgeo.rio.rj.gov.br/indice/flanali.asp?codpal=672&pal=LIXO> Acesso em 12 outubro 2011.

LIMA, Roseane. Atributos químicos de substrato de composto de lixo orgânico. 2011 SILVA, Andrea. A Química, O Lixo e a necessidade de uma consciência de preservação Ambiental.2010 SILVEIRA, Letícia. O PROCESSO DE LIMPEZA URBANA E COLETA SELETIVA: a experiência vivenciada no município de Capão da Canoa – RS - 2º Forum Internacional de Resíduos Sólidos – julho2009