Colocação Pronominal

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SINTAXE: COLOCAÇÃO PRONOMINAL Um dos aspectos que diferenciam bastante o português do Brasil do português de Portugal é justamente a posição em que os pronomes oblíquos átonos costumam ocorrer. Como a organização do aspecto rítmico dos enunciados é bem diferente para as duas variedades do português, em Portugal, fatores evolutivos da língua levaram ao uso sistemático do pronome oblíquo átono após o verbo, em contexto em que, no Brasil, prefere-se o emprego antes do verbo. Na língua falada no Brasil hoje não existem regras fixas e rígidas de colocação pronominal, mas na língua escrita seguimos normas, herdadas do português de Portugal, que ainda estão em vigor na gramática normativa e são utilizadas quando se deseja seguir a chamada norma culta, como é o caso do que deve ser feito em qualquer processo seletivo. Os pronomes oblíquos átonos (me, te, se, lhe, o, a, nos, vos, lhes, os, as) podem ocupar, dependendo do contexto gramatical, três posições diferentes numa oração em relação aos verbos 1. Próclise (antes do verbo); 2. Ênclise (depois do verbo); 3. Mesóclise (no interior do verbo). NORMA GERAL Desde que não inicie frase, o pronome oblíquo átono posicionado antes do verbo (próclise) atende, obrigatória ou facultativamente, às regras da linguagem formal. REGRAS DE COLOCAÇÃO PRONOMINAL 1. PRÓCLISE Na próclise, o pronome aparece ANTES do verbo. Segundo a gramática normativa, costuma ser empregada nos seguintes contextos: Na presença de “atratores” Existem determinadas palavras da língua que são consideradas “atratores” dos pronomes pessoais oblíquos átonos, porque, nos enunciados em que elas ocorrem, esses pronomes devem anteceder o verbo que complementam. 1. Nas orações que contenham uma palavra ou expressão de valor negativo. Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. (Lavousier) Nunca se esqueça de mim. Não me fale sobre este assunto. Jamais o deixaremos sozinho. De modo algum o abandonarei hoje. 2. Nas orações em que haja advérbios e pronomes indefinidos. Aqui se vive. (advérbio) Às vezes me espanto com fatos corriqueiros. (advérbio) Tudo me incomoda nesse lugar. (pronome indefinido) Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. (Lavousier) (pronome indefinido) 1

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SINTAXE: COLOCAÇÃO PRONOMINALUm dos aspectos que diferenciam bastante o português do Brasil do português de Portugal é justamente a posição em que

os pronomes oblíquos átonos costumam ocorrer. Como a organização do aspecto rítmico dos enunciados é bem diferente para as duas variedades do português, em Portugal, fatores evolutivos da língua levaram ao uso sistemático do pronome oblíquo átono após o verbo, em contexto em que, no Brasil, prefere-se o emprego antes do verbo.

Na língua falada no Brasil hoje não existem regras fixas e rígidas de colocação pronominal, mas na língua escrita seguimos normas, herdadas do português de Portugal, que ainda estão em vigor na gramática normativa e são utilizadas quando se deseja seguir a chamada norma culta, como é o caso do que deve ser feito em qualquer processo seletivo.

Os pronomes oblíquos átonos (me, te, se, lhe, o, a, nos, vos, lhes, os, as) podem ocupar, dependendo do contexto gramatical, três posições diferentes numa oração em relação aos verbos

1. Próclise (antes do verbo);2. Ênclise (depois do verbo);3. Mesóclise (no interior do verbo).

NORMA GERAL

Desde que não inicie frase, o pronome oblíquo átono posicionado antes do verbo (próclise) atende, obrigatória ou facultativamente, às regras da linguagem formal.

REGRAS DE COLOCAÇÃO PRONOMINAL

1. PRÓCLISE

Na próclise, o pronome aparece ANTES do verbo. Segundo a gramática normativa, costuma ser empregada nos seguintes contextos:

Na presença de “atratores”Existem determinadas palavras da língua que são consideradas “atratores” dos pronomes pessoais oblíquos átonos, porque, nos enunciados em que elas ocorrem, esses pronomes devem anteceder o verbo que complementam.

1. Nas orações que contenham uma palavra ou expressão de valor negativo.

Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. (Lavousier)Nunca se esqueça de mim.Não me fale sobre este assunto.Jamais o deixaremos sozinho.De modo algum o abandonarei hoje.

2. Nas orações em que haja advérbios e pronomes indefinidos.

Aqui se vive. (advérbio)Às vezes me espanto com fatos corriqueiros. (advérbio)Tudo me incomoda nesse lugar. (pronome indefinido)Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. (Lavousier) (pronome indefinido)

3. Nas orações iniciadas por pronomes e advérbios interrogativos.

Quem te convidou para sair? (pronome interrogativo)Por que a maltrataram? (advérbio interrogativo)

4. Nas orações subordinadas; portanto com as conjunções subordinativas.

Ela não quis a blusa, embora lhe servisse.É necessário que o traga de volta.Comprarei o relógio se me for útil.Quando me dei conta, todos já tinham ido embora.Assim que o vi, ele veio falar comigo.Os trabalhadores ficaram frustrados, porque lhes concederam um aumento menor do que o esperado.

5. Com gerúndio precedido de preposição “em”.

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Em se tratando de negócios, você precisa falar com o gerente.Em se pensando em descanso, pensa-se em férias.

6. Com a palavra “só” (no sentido de “apenas”, “somente”) e com as conjunções coordenativas alternativas.

Só se lembram de estudar na véspera das provas.Ou se diverte, ou fica em casa.

7. Nas orações introduzidas por pronomes relativos.

Foi aquele colega quem me ensinou a matéria.Há pessoas que nos tratam com carinho.Aqui é o lugar onde o conheci.

8. Nas orações com pronomes demonstrativos neutros.

Isso me lembra as brincadeiras de infânciaAquilo nos provocou horror.

Nos enunciados exortativos (orações que visam o convencimento), exclamativos, optativos (orações que exprimem desejo) e nas perguntas diretas

Quanto me é doloroso ver-te neste sofrimento!Como te admiro!Deus o ilumine!Ele que se cuide!Quem nos ajuda a enfeitar o salão para a festa?

Nas locuções verbais e nos tempos compostosNos enunciados em que ocorrem tempos verbais compostos e locuções verbais, a tendência generalizada no português brasileiro é a de colocar o pronome átono depois do verbo auxiliar e antes do verbo principal.

Está música alta está me incomodando muito.O professor de redação tem nos explicado pacientemente os temas propostos nos exames vestibulares.

2. MESÓCLISE

Emprega-se a mesóclise quando o verbo estiver no futuro do presente ou no futuro do pretérito do indicativo, desde que não se justifique a próclise. O pronome fica intercalado ao verbo.

Falar-lhe-ei a teu respeito. (Falarei + lhe)Procurar-me-iam caso precisassem de ajuda. (Procurariam + me)Ajudar-nos-ia muito mais a oposição se fizesse críticas construtivas. (Ajudaria + nos)

Observações:

a) Havendo um dos casos que justifique a próclise, desfaz-se a mesóclise.

Tudo lhe emprestarei, pois confio em seus cuidados. (o pronome indefinido “tudo” exige o uso de próclise)Não te darei as chaves. (o advérbio de negação “não” exige o uso de próclise)

b) Com esses tempos verbais (futuro do presente e futuro do pretérito) jamais ocorre a ênclise.

3. ÊNCLISE

A ênclise pode ser considerada a colocação básica do pronome, pois obedece à sequência verbo-complemento. Assim, o pronome surge depois do verbo. Emprega-se geralmente:

1. Nos períodos iniciados por verbos (desde que não estejam no tempo futuro), pois, na língua culta, não se abre frase com pronome oblíquo.

Diga-me apenas a verdade.

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Importava-se com o sucesso do projeto.

2. Nas orações reduzidas de infinitivo.

Convém confiar-lhe esta responsabilidade.Espero contar-lhe isto hoje à noite.

3. Nas orações reduzidas de gerúndio (desde que não venham precedidas de preposição “em”)

A mãe adotiva ajudou a criança, dando-lhe carinho e proteção.O menino gritou, assustando-se com o ruído que ouvira.

4. Nas orações imperativas afirmativas.

Fale com seu irmão e avise-o do compromisso.Professor, ajude-me neste exercício!

5. Se houver pausa depois do advérbio, emprega-se a ênclise.

Agora, constroem-se prédios da noite para o dia. (pausa marcada pelo uso da vírgula: emprega-se a ênclise)

Agora se constroem prédios da noite para o dia. (não há pausa após o advérbio: emprega-se a próclise)

Observações:

1. A posição normal do pronome é a ênclise. Para que ocorra a próclise ou a mesóclise é necessário haver justificativas.

2. A tendência para a próclise na língua falada atual é predominante, mas iniciar frases com pronomes átonos não é lícito numa conversação formal.

Linguagem Informal: Me empreste a caneta.Linguagem Formal: Empreste-me a caneta.

3. Se o verbo não estiver no início da frase, nem conjugado nos tempos Futuro do Presente ou Futuro do Pretérito, é possível usar tanto a próclise como a ênclise.

Eu me machuquei no jogo.Eu machuquei-me no jogo.As crianças se esforçam para acordar cedo.As crianças esforçam-se para acordar cedo.

COLOCAÇÃO DOS PRONOMES OBLÍQUOS ÁTONOS NAS LOCUÇÕES VERBAIS

As locuções verbais podem ter o verbo principal no infinitivo, no gerúndio ou no particípio.

1. Verbo principal no infinitivo ou gerúndio

a) Sem palavra que exija a próclise:

Geralmente, emprega-se o pronome após a locução.

Quero ajudar-lhe ao máximo.

b) Com palavra que exija próclise:

O pronome pode ser colocado antes ou depois da locução.

Nunca me viram cantar. (antes)Não pretendo falar-lhe sobre negócios. (depois)

2. Quando houver preposição entre o verbo auxiliar e o infinitivo, a colocação do pronome será facultativa.

Nosso filho há de encontrar-se na escolha profissional.

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Nosso filho há de se encontrar na escolha profissional.

3. Com a preposição “a” e o pronome oblíquo “o” (e variações) o pronome deverá ser colocado depois do infinitivo.

Voltei a cumprimentá-los pela vitória na partida.

4. Verbo principal no particípio

Estando o verbo principal no particípio, o pronome oblíquo átono não poderá vir depois dele.

As crianças tinham-se perdido no passeio escolar.

a) Se não houver fator que justifique a próclise, o pronome ficará depois do verbo auxiliar.

Seu rendimento escolar tem-me surpreendido.

b) Se houver fator que justifique a próclise, o pronome ficará antes da locução.

Não me haviam avisado da prova que teremos amanhã.

Obs.: na língua falada, é comum o uso da próclise em relação ao particípio. Veja:

Por Exemplo:

Haviam me convencido com aquela história.Não haviam me mostrado todos os cômodos da casa.

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