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Colonialidade: Uma análise sobre manifestação do
eurocentrismo dentro o corpo negro Haitiano a partir de
“Blanchiment de la Peau”
Sanel Charlotin1
Resumo
O estudo sobre “branchiment de la peau” tem como tradução clareamento da
pele e, nos leva fazer uma psicanálise sobre os indivíduos haitianos que estão
se submetendo a tratamentos a fim de tornar sua pele mais clara para garantir
um bom casamento, emprego e um status econômico estável na sociedade
haitiana. Portanto, este trabalho tem como objetivo entender como que o
colonialismo segue manifestando sob os negros haitianos, embora o Haiti seja
a primeira república negra no mundo. Sobretudo, entendemos que existe um
dualismo conflitante dentro do corpo dos negros no Haiti que é o “mundo real”
em uma confrontação com o “mundo ideal” que é o padrão colonial
estabelecido através da europeização. QUIJANO (2010) contextualizou que
este padrão segue incentivando os países com um novo poder global de
controle do trabalho que ele considera como um elemento fundamental de um
novo padrão de poder que está sendo alimentado pelo histórico- estrutural.
Palavras Chaves: Colonialismo. Dualismo conflitante. Blanchiment.
Abstract
1 Universidade Federal da Integração Latino America (UNILA), Graduando em ciência política e sociologia.
Pesquisador da iniciação cientifica “Mídia e colonialidade: Um estudo sobre a representação de haitianos no jornalismo Brasileiro”. E-mail: [email protected] [email protected]
The study on "branchiment de la peau" has a translation of skin bleaching, and
leads us to do a psychoanalysis about Haitian individuals who are undergoing
treatments in order to make their skin clearer to ensure a good marriage,
employment and economic status Stable in Haitian society. Therefore, this
paper aims to understand how colonialism continues to manifest under Haitian
blacks, although Haiti is the first black republic in the world. Mainly, we
understand that there is a conflicting dualism within the black body in Haiti that
is the "real world" in a confrontation with the "ideal world" that is the colonial
standard established through Europeanization. QUIJANO (2010) has
contextualized that this pattern continues to encourage countries with a new
global power of labor control that he regards as a fundamental element of a new
pattern of power that is being fed by historical-structural.
Keys words: Colonialism. conflicting dualism. Blanchiment.
Introdução
Este trabalho “Blanchiment de la peau” tem muita explicação para a justificação
de seu objetivo, principalmente está centralizado em um estudo social sobre as
mulheres haitianas que estão clareando sua pele em apropriarem-se da pele
branca e ele também busca compreender como este fenômeno realizar-se a
manifestar na sociedade haitiana. Portanto, é importante de destacar por que
“blanchiment de la peau” não branqueamento ou clareamento?
A palavra “blanchiment” em francês literalmente tem por tradução
branqueamento, porém, o conceito branqueamento pode ser usado no sentido
figurado, ou seja, seu entendimento tem a ver com um processo sociopolítico e
econômico brasileiro no final do século XIX e inicio do século XX, na
perspectiva de evitar a imensa população negra no Brasil, os governantes
decidiram deixar entrar inúmeros imigrantes europeus no sentido de branquear
o país, ou seja, a imigração européia tem um rol fundamental no primeiro passo
do branqueamento.
Os legisladores estaduais de São Paulo também enxergavam a questão como sendo de sangue. Exortando seus colegas a alocar recursos do Estado para subsidiar a imigração européia, o legislador (e cafeicultor) Bento de Paula Souza declarou que "é preciso inocular
em nossas veias sangue novo, porque o nosso já está aguado'; ao que seus ouvintes responderam, "apoiado, uma transfusão de sangue melhor". Até intelectuais afro-brasileiros como Raimundo Nina Rodrigues e Francisco José de Oliveira Viana promoveram a nova ortodoxia. Embora reconhecendo que "conhecemos homens negros ou de cor de indubitável merecimento e credores de estima e de respeito'; Rodrigues concluiu que "não há de obstar esse fato o reconhecimento desta verdade- que até hoje não se puderam os negros constituir em povos civilizados: 'Por isso, o país tinha de ser reconstruído mediante a imigração européia, um processo que Oliveira Viana documentou em um relato influente e amplamente difundido sobre ''A Evolução Racial'; publicado como parte do censo nacional de 1920 (ANDRWES, 2007, p.153)
Além disso, era um processo que começou ser debatido pelos
pensadores brasileiros do racismo cientifico (Benjamin Constant, Graça
Azanha, Joaquim Nabuco, etc.) com aspectos políticos, econômicos e sociais
em busca da construção duma identidade da nação (para o desenvolvimento
do país com a idéia da civilização e urbanização na conceição da
europeização).
“O racismo científico foi imediatamente abraçado pelas elites da virada do século, que enfrentavam o desafio de como transformar suas nações "atrasadas" e subdesenvolvidas em repúblicas modernas e "civilizadas". Essa transformação, concluíram elas, teria de ser mais do que apenas política ou econômica; teria de ser também racial. Para ser civilizada, a América Latina teria de se tornar branca” (IBIDEM, p.152).
Porém, O termo “blanchiment de la peau” é um narrativo de nosso
estudo sobre a pele das mulheres escuras na sociedade, que está sendo
clareada. Ou seja, é uma mera psicanálise sobre a cor da pele do sujeito
negro no Haiti que está sendo aclarado na busca de uma apropriação ao
individuo da pele branca, apontou (FANON, 2008) “o negro quer ser branco. O
branco incita-se a assumir a condição de ser humano” (P.27).
Em outras palavras, o uso do termo “Branchiment” em Francês em vez
de Branqueamento como em português, é um desvio do obstáculo que poda
surgir na hermenêutica do artigo. Entretanto o “branchiment” neste trabalho tem
como tradução “clareamento” é exatamente um estudo sobre o individuo negro
(haitiano) que está deteriorando sua realidade para alcançar a idealidade
construída pelo colonialismo. Neste caso, a tradução exata de “blanchiment de
la peau” para este artigo é clareamento da pele de forma literal, ou seja, é um
processo de produto tecnológico, não branqueamento como aponta
ANDREWS.
Sendo assim, nosso debate não está na linha da acareação das
palavras, mas sim, estamos tentando mostrar brevemente que essas palavras
em distintas línguas possam criar conflitos ou obstáculos no entendimento dos
termos, por exemplo, o “blanchiment” tem como tradução branqueamento em
português.
Entretanto, em virtude do tempo e dos materiais acessados na
elaboração deste artigo, resultam abertas lacunas a serem preenchidas
posteriormente, muito embora tal infortúnio não comprometa o conteúdo do
trabalho, principalmente não há uma análise do método quantitativo para
encontrar a quantidade de porcentagem de mulheres haitianas que estão
confrontando este fenômeno que consideramos como um fato social.
O colonialismo na interioridade do primeiro Estado negro (Haiti)
Existem outros pesquisadores que trabalham neste tema, por exemplo, a
antropóloga BORDELEAU (2012) com o título de sua obra de mestrado “Le
blanchiment de l´apparence: enjeux identidaires et pratiques corporelles dans
un contexte contemporain. Étude chez des femmes d´origine haitienne de
Montréal” [O clareamento da aparência: questões de identidade e práticas
corporais em um contexto contemporâneo. Estudo sobre as mulheres de
origem haitiana de Montreal] demonstrando que o preconceito de raça e cor
durante a época colonial está presente hoje em dia na comunidade Haitiana,
destacando que existe um desejo nas mulheres haitianas de clarear sua
aparência em busca de afazê-la como das pessoas com pele branca.
Explicando através da obra de (HUNTER 2005) que os homens negros
preferiam mulheres com pele mais clara (p,15), ou seja, o fenômeno de aclarar
a pele não só se manifesta na mulher como também nos homens
psicologicamente e levam ás mulheres á fazerem isso para poderem conseguir
um bom casamento, emprego, status econômico e social.
Portanto, o artigo do jornalista haitiano Gaspard DORÉLIEN (2012)
publicado na revista “SlateAfrique” “Pourquoi tout Le monde est raciste en
Haïti” [Porque todo mundo no Haiti é racista] aborda que ser negro com pele
mais escura no Haiti é estar sem direito, é sinônimo de pobreza e é uma
maldição(...)2. Na obra de TOURÉ (2012) “Blanchis e noirs” a pele clara é via
do caminho da prosperidade e riqueza, por isso geralmente as pessoas com
pele mais escura, desejam ter às vezes uma pela mais clara, com o objetivo de
alcançar uma vida melhor, ter mais possibilidade de conseguir emprego e um
melhor status econômico. Tal qual, sua pesquisa abordando que existem duas
hipóteses que motiva o “blanchiment” [clareamento da pele], primeiro a
escravidão e o outro o colonialismo (...)3, a escravidão deixou cicatrizes e o
colonialismo jogando com elas, através de sua ideologia capitalista, deixou a
causa do “corismo”.
Enquanto o psicólogo haitiano JÉRÔME (2013) no artigo “Haïti, á la mode du
blanchiment de la peau” [Haiti, clareamento da pele na moda] destaca que
existe uma crise de identidade no corpo negro haitiano alimentado pelo poder
social da beleza física que a matriz colonial favorece, pele com cor mais clara é
superior que a pele mais escura(...).4 por outro lado, (FANON, 2008, p.95)
estava tentando de ajudar seu cliente a conscientizar seu inconsciente por
meio de uma psicanálise, ele destacou que o negro esta preso do desejo
inconsciente. Ou seja, a modernidade funciona através do colonialismo cria
uma estrutura social que alimenta conflitos na elaboração do esquema corporal
do negro haitiano, (FANON, 2008:104). A estrutura social tem um padrão ligado
da civilização européia mantendo pelo colonialismo que alimenta o pensamento
de cada individuo no objetivo da reprodução, por outro lado, os representantes
2 DORÉLIEN, Gaspard - La maldiction d´être noir en Haiti foi encontrado no artigo do autor, Publicado na revista “SlateAfrique” com o titulo “
“Pourquoi tout le monde est raciste en Haïti”. Explicando como que mais escura é pele de um individuo menos chance
de realizar o sonho que a indústria cultural esta propagando, ou seja, é difícil de realizar sua condição de vida sem
haver uma relação com o padrão do sistema capitalista. http://www.slateafrique.com/91833/racisme-en-haiti-
radiographie-du-mal
3 TOURE, Aya, 2012 , p.3 4JÉRÔME, Osman -O artigo Haïti, à la mode Blanchiment de la peau foi publicad no blog do Autor em 2013, mostrando como que o sistema cinematográfico principalmente o hollywoodiano interage nas mulheres haitianas na perspectiva de criar este conflito no corpo das mulheres haitianas, querendo ser como aquelas mulheres “show body” ou como os protagonistas cinematográficos.http://lautrehaiti.mondoblog.org/2013/05/26/a-la-mode-du-blanchiment-de-la-peau/produits-eclaircissants-osman-jerome/
da estrutura social neste sistema capitalista são ocidentalizados. Lembrando
que o colonialismo nasceu na modernidade, que foi exata na conquista da
America em 1492, onde o termo da civilização pelo cristianismo era
fundamental para a criação da classificação do europeu e indígena, e nesta
mesma perspectiva os estados nacionais modernos surgiram então, a
classificação do branco, negro e indígena é base da manutenção da economia,
na qual criaram o trabalho assalariado. QUIJANO (2005) acrescentou que “A
classificação racial da população e a velha associação das novas identidades
raciais dos colonizados com as formas de controle não pago, não assalariado,
do trabalho, desenvolveu entre os europeus ou brancos a específica percepção
de que o trabalho pago era privilégio dos brancos” (p.230). Por outro lado, a
colonialidade se manifesta em cada sociedade por meio da estrutura do
Estado, assim, também penetrou nas veias em cada indivíduo na sociedade
mesmo no individuo negro que está sendo inferiorizado.
“Há no homem de cor uma tentativa de fugir à sua individualidade, de aniquilar
seu estar-aqui. Todas as vezes que um homem de cor protesta, há alienação.
Todas as vezes que um homem de cor reprova, há alienação” (FANON,
2008,p.66).
Em outras palavras, para alcançar um emprego, o negro precisa ter um
físico ocidental apropriado, quando mais a pele for clara, há maior a
oportunidade de alcançar seu sonho na sociedade haitiana, lembrando que o
Haiti foi o primeiro Estado negro que o colonialismo se manifestou, quer dizer,
a colonialidade de saber/poder penetrou nas veias do Estado Haitiano através
da estrutura do sistema capitalista, na perspectiva de construir um estado
moderno ligado com capitalista, precisava centro acadêmico para a formação
de uma sociedade civilizada e para estabelecer uma economia própria e forte.
Mas, é importante destacar não existe uma reprodução baseada na estrutura
moderna sem a conexão do eurocentrismo porque a modernidade já é
europeizada. Ou seja, a construção do estado nação haitiano teve obstáculo
por causa da perspectiva modernidade, havia uma circulação da estrutura
cultural (educação, religião, urbanização) dirigida pelo imperialismo durante o
período da construção da nação haitiana.
Sobretudo, lembrando que dois países imperialistas interessados no
Haiti, para CESAIRE (2006) o Haiti é o país que viveu de regime “semicolonial”
comparando com os demais países negros5. O mesmo JAMES (2007) no livro
“Os jacobinos negros” olhava esse perigo que o imperialismo ia trazer para
Estado haitiano, dizendo que
“Os brancos foram banidos do país por muitas gerações e pobre nação, economicamente arruinada com a população carecendo de cultural social, teve suas dificuldades inevitáveis por aquele massacre. Que o novo país tenha sobrevivido e algo a seu favor, pois, se os haitianos pensavam que imperialismo os havia esquecido, estavam muito enganados” (p, 339).
O imperialismo, principalmente dos Estados Unidos manifesta a
construção da sociedade haitiana, lembrando que o imperialismo esta baseado
na economia, portanto, ele traz junto à cultura que tem a ver com um
mecanismo ideológico para dominar as razões dos indivíduos, ou seja, criando
ações por meio da materialização (poder econômico)6. Mas no caso do
“blanchiment de la peau” ou clareamento da pele das mulheres e homens
negros/as Haitianos/as, nos leva entender, a ação que a ideologia do sistema
capitalista leva nestes indivíduos é dupla, em outras palavras, o negro se
encontra dentro um sistema que não lhe favorece, primeiramente o sistema tira
os instintos do homem negro como faz com o homem branco, mas, existe uma
realidade distinta entre homem negro e homem branco. Essa realidade se
revela através de ALTHUSSER (1970) com o livro “Idéologie et Appereils
Idéologiques d´États” mostrando que a sociedade está sendo segurada pela
reprodução que manifesta pela ideologia dominante. O mesmo sujeito cria a
ideologia, ou seja, a ação pelo individuo cria a sociedade, portanto, o Estado
funciona para assegurar a estrutura, criando novos agentes, estes agentes
para ALTHUSSER, representam sujeito assujeitado á ideologia dominante.
« Car c'est dans les formes et sous les formes de l'assu-jettissement
5 CESAIRE, Aimé, 2006, P.45. 6 MARX, Karl –O pensamento da materialização esta baseado no livro “O Capital”, dizendo “Por vir materialização do trabalho humano em geral, forma dinheiro transpôe-se as mercadorias por natureza são adequadas para função social de equivalente geral” (P.213).
idéologique qu'est assurée la reproduction de la qualification de la force de
travail » ( p,12).
Porém, o homem negro ou indígena não consegue ser aquele sujeito
assujeitado com sua própria realidade sem ser alienado ou sem ter a máscara
branca. A grande questão seria quem são estes sujeitos assujeitados?
A antagônica do autor Althusser (1970) nos mostrou que não saída para
o individuo na sociedade por que o individuo assegura a reprodução da força
de trabalho, porém, ele nem percebeu que existem alguns indivíduos que são
os promotores dessa reprodução e alguns apenas são pela força de trabalho.
O dualismo conflitante
Tentamos de partir com a pergunta, quem são estes sujeitos
assujeitados abordados por ALTHUSSER? Lembrando que a revolução
industrial e mudança socioeconômica européia foram alimentadas pela
conquista da América, a destruição da civilização indígena, africana etc.
Durante o processo de colonização a Europa se enriquecer, Porém, é
importante mencionar que para manter esse processo de colonização
precisava um dualismo (Superior/inferior, eu/outro, raça branca/raça negra,
homem/mulher, ocidente/oriente, centro/periferia, moderno/tradicional,
cristandade/pagão, civilização/barbárie etc.) para criar a existência da relação
de poder, deve haver espaço para o dualismo. Ou seja, o dualismo nos leva
entender que o poder não é natural e sim se manifesta quando existe
confrontação relativa, quer dizer, a separação tem como objetivo de manter o
poder para dominar.
Segundo o antropólogo haitiano FIRMIN (1885) “DE L´ÉGALITÉ DES
RACES HUMAINES” existe apenas uma raça que é a raça humana com
espécies diferentes (...)7, embora, durante o processo da modernidade o
ocidente dividiu a raça humana em diferentes raças, na busca de uma criação
de relação de poder por meio dessa classificação. Por outro lado, QUIJANO
(2005) destaca que a idéia de raça foi inventada na América numa perspectiva
8 FIRMIN, Anténor, 1885, P.450.
de classificar os conquistadores com os conquistados durante a colonização e
esta mesma classificação continua manifestando por meio do colonialismo,
criando um padrão de poder mundial para manter a divisão de trabalho. “Na
América, a idéia de raça foi uma maneira de outorgar legitimidade às relações
de dominação” (...).
Além disso, QUIJANO (2000) contextualizou que este padrão segue
alimentando os países com um novo poder global de controle do trabalho que
ele considera como um elemento fundamental de um novo padrão de poder
que está sendo alimentado pelo histórico- estrutural. Este padrão de poder
mundial manifesta em várias formas, ela estabelece a dominação econômica,
dominação da natureza, sexual, do conhecimento (episteme através dos
conceitos etc.), e cria estrutura da autoridade, ou seja, a forma de governo no
sistema capitalista. No caso dos negros haitianos aclarando sua pele, o padrão
do poder consegue manter, e como também se manifestar dentro de seu corpo,
destruindo a realidade deste negro criando um mundo ideal para ele.
Contudo, o DU BOIS (1903) na sua obra versão original “Soul of Black
folks” traduzida em português “as almas do povo negro” (1998), mostra que o
negro esta vivendo com dois pensamentos, dupla consciência (...)8. Segundo
ele para que o negro conheça seu mundo real deve esquecer a identidade do
outro. Sobre tudo, o mundo ideal é a matriz do colonialismo para capturar a
alma do negro em uma perspectiva de desaparecer de seu mundo real. Em
outras palavras, o padrão do poder mundial cria mecanismo para manter esse
dualismo conflitante nos negros haitianos principalmente as mulheres com pele
mais escura.
Podemos entender que esse dualismo no corpo do negro está sendo
alimentado pelo sistema capitalista através da matriz colonial, abordamos que
esta matriz colonial, coloca o negro em um conflito dentro de seu próprio corpo,
há uma relativa de pensamento que não alcança se dialogar, ou seja, existe
uma dupla consciência neste negro, dois pensamentos, que lhe leva odiar sua
8 -O pensamento dualismo no corpo foi encontrado através da obra de W.E.B. DU BOIS abordado sobre o tema dupla consciência no livro “the soul of the Black folks” (1903) traduzido em português “As almas do povo negro” (1998) por José Louis Pereira Da Costa.
pele real na alternativa de conseguir a “pele ideal”, estabelecido pelo padrão do
poder colonial para melhorar seu status econômico.
O espírito do mundo ideal, manifesta através da reorganização
administrativa dos Estados, da cultura, principalmente pela simplificação dos
produtos que a indústria cultural expõe e na própria ciência, então o negro está
preso dentro seu próprio corpo neste sistema capitalista porque este espírito do
mundo ideal é inimigo de seu mundo real, que está sempre com um dualismo
conflitante em seu corpo (realidade e idealidade). De acordo com CÉSAIRE
(2006) existe uma europeização dentro da administração dos aparelhos
ideológicos do Estado (p, 22). Parece que não há espaço para o negro escapar
deste dualismo conflitante no seu corpo, para DUBOIS, o negro deve aceitar
aquele véu que o ocidente lhe colocou, e controlar essa dupla consciência na
busca de uma valorização de seu mundo real (sua cultura, sua pele, seu
folclore), ou seja, esquecendo aquele “EU” do ocidente ficando naquele
“OUTRO” que nos consideram, portanto, devemos ficar no meio desse
dualismo conflitante, em outras palavras, criando novas perspectivas, novos
saberes no meio desse conflito.
Concordando com MIGNOLO (2017) o pensamento fronteiriço, pode nos
ajudar buscar novos saberes para sair do conflito, (...) assim, podemos criar
algumas linhas para uma ecologia de saberes BOAVENTURA (2007), embora
estejamos na fronteira do dualismo haverá novas alternativas para liberar
dessa matriz colonial. A destruição do dualismo que susta o narcisismo na
interioridade do negro haitiano está na questão de modernização, uma vez,
existe problematização epistêmica construtiva na modernização, ou seja,
descolonizar a estrutura do Estado assim haverá possibilidade de salvar o
“mundo real” do negro. A questão está alimentada na estrutura do Estado,
enquanto existe um estado centralizado no colonialismo onde não haverá com
ressuscitar o negro a sua realidade. Não precisamos uma destruição do estudo
senão, uma moderação por meio da reforma da estrutura e uma formação á
descolonização da indústria cultural, da educação, e o sistema econômico e
político.
Considerando como conclusões
Desde inicio do artigo entendemos que a conclusão deste trabalho será
impossível, porém, podemos considerar algumas linhas como conclusão. Além
de tudo, por meio de uma análise intelectual, entendemos o mecanismo que
levou as mulheres haitianas ao “blanchiment” da pele. Vemos que existe um
processo histórico-estrutural relacionado com o colonialismo, ou seja, o padrão
de poder mundial convoca este mundo ideal no sujeito negro. O problema
desse padrão de poder está apropriado só ao sujeito “EU” (Branco ocidente)
não ao outro (Subalterno), porém temos que destacar dentro do sujeito
“OUTRO” existem categorias; temos o outro europeizado e o outro que irá ser
apropriado pela obrigação do sistema ideológico do Estado. Por exemplo, no
livro de MORSE “Espelho do Próspero” alguns países latinos americanos
seguem considerando como europeus, principalmente o Brasil e esta mesma
perspectiva o negro haitiano que aclara sua pele, tenta alcançar o mundo ideal
de “outro europeizado”. Apesar disso, a europeização virou um fenômeno no
“OUTRO” embora o mundo de “otredad” se sente em conflito apenas na busca
do alcance de ser “EU”, porém o EU está marginalizando o OUTRO. Em outras
palavras, apesar da criação da “otredad” ou exterioridade9 pelo ocidente
manter sua hegemonia, também a deixou um dualismo conflitante. Por
exemplo, o clareamento da pele na sociedade haitiana. Para finalizar
entendemos que o fato social do clareamento da pele no Haiti, precisa de um
estudo com novos “saberes” dentro do pensamento fronteiriço que existe no
dualismo conflitante, na busca da liberação da alma destes homens e mulheres
negros (as) que estão deteriorando sua realidade para uma idealidade
inaceitável pelo corpo negro.
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