Com Teresa de Ávila, nas Mãos de Deus

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Frei Patrício Sciadini, ocd.

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EDITORA LTDA.

Rua Jaguaribe, 571 CEP 01224-001 São Paulo, SP — Brasil Fone (11) 2167-1101 www.ltr.com.br Setembro, 2015

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Projeto de Capa: R. P. TIEZZI Impressão: PIMENTA GRÁFICA E EDITORA

Sciadini, Patrício

Com Teresa de Ávila, nas mãos de Deus / Patrício Sciadini. — São Paulo : LTr, 2015.

Bibliografia

ISBN 978-85-361-8463.0

1. Livros de oração e devoção 2. Meditação 3. Teresa, d` Ávila, 1515-1582 I. Título.

15-07559 CDD-248.22

1. Teresa, de Ávila, Santa : Cristianismo 248.22

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A todos os carmelitas, seguidores de Teresa;A todos os homens e mulheres honestos,

que dizem com fé:“Que mandais fazer de mim?”

para que sejam felizes,no dia a dia do hoje, aqui e agora.

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Sumário

Prefácio .....................................................................9

Que Mandais Fazer de Mim? .............................17

1. Senhor, Olhai para Minha Pobreza! .............21

2. Somos Totalmente de Deus, Por que? ..........29

3. Que Projeto Deus tem Sobre Nós? ...............41

4. Eis Aqui o Meu Coração .................................47

5. Aceitar Tudo das Mãos de Deus com Alegria ..............................................................54

6. Feliz na Pobreza e na Riqueza .......................60

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7. Se Quereis, Dai-Me Oração ............................66

8. Abundância ou Carestia ..................................72

9. Onde? Como? E quando? ................................83

10. Calvário ou Tabor dá na Mesma..................91

11. José, Davi, Jonas ...........................................102

12. Calados ou Falando......................................115

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Prefácio

Normalmente se pede o prefácio de um livro a uma pessoa amiga ou importante, para que o livro do autor, mesmo que não diga nada de novo, se torne importante pelas palavras do apreciador. É um “truque bom”, mas eu prefiro prefaciar eu mesmo os livros que escrevo. Neste caso peço que prefacie o meu livro a mesma Teresa de Ávila, não para que o que eu diga seja engrandecido, mas só porque falo dela, e com palavras suas.

Esta poesia “que mandais fazer de mim?”, não sabemos quando ela a escreveu nem porque a escreveu. Para mim é uma “fotografia das mais belas” dos 67 anos, que

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ela viveu na peregrinação terrestre. Não é uma poesia dos primeiros anos, mas sim dos últimos quando, madura de experiência, de sofrimentos, de alegria, de esperança e de frustrações, sente que lhe resta só uma coisa a fazer: colocar-se na escuta de Deus para com-preender o que ele ainda quer que ela faça. Teresa, nas suas meditações, deve ter como todos nós, repensado muito a sua vida, o que tem feito, o que não tem feito, o que poderia não ter feito e fez. E está bastante satisfeita.

A felicidade não está em sonhar e deixar cair os sonhos. Mas em sonhar e lutar com todas as forças para que os sonhos se transfor-mem em realidade. Os sonhadores alienados sofrem de uma doença de megalomania e de complexo de inferioridade. Os sonhadores bíblicos, no estilo de Jesus de Nazaré, sofrem de realismo e de esperança, que não os deixam tranquilos até que veem os sonhos realizados.

É necessário na nossa vida perguntar-nos com seriedade: qual é o projeto que Deus tem sobre mim e como juntos poderemos reali-

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zá-lo? A pequena Teresa do Menino Jesus é sonhadora, mas não se deixa desanimar por nada. Ela diz: “nunca Deus coloca no coração um desejo que seja irrealizável”. Por isso que ela, sentindo o desejo de ser missionária e não podendo realizar nos esquemas com que nor-malmente se entende, ou seja, partindo para terras longínquas, não desanima e excogita uma nova maneira de ser missionária: “serei missionária pela oração e pelo sacrifício!” A Igreja não compreende imediatamente isto; a considera uma sonhadora, mas vai chegar um Papa sonhador, como Pio XI, e a proclama, com os mesmos direitos de Francisco Xavier, o missionário mais viajante de todos, padroeira das missões. Vem outro Papa, São João Paulo II, e a declara a Doutora da Igreja mais nova da história. Ela, que tinha dito: “sinto a vocação de ser doutora”.

Teresa de Ávila percebe que é necessário fazer algo para purificar a vida religiosa da decadência, da mediocridade, do comodismo. Diante de tudo isto ela se põe uma pergunta: “e nós, mulheres que não somos sacerdotes, o

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que podemos fazer?” Inventa um novo estilo de vida de apostolado: “rezar para os teólo-gos, pregadores, os que estão na vanguarda, para que sejam bons capitães”.

Nesta poesia contemplamos uma Teresa pronta e disponível. Não procura a si mesma, mas sim realizar a vontade de Deus. Uma das grandes perguntas do ser humano é: como posso saber quando é vontade de Deus e não a minha vontade ou vontade dos outros? Como discernir isto?

Teresa responde a esta inquietação numa maneira muito simples: vontade de Deus não é o mais fácil, é o mais difícil que é como um exame, nos prepara para a vida. Vontade de Deus é viver com intensidade e com amor o nosso dia a dia, com fidelidade ao projeto assumido. A vida não é uma linha reta, onde tudo caminha bem, mas sim uma estrada com curvas, com subidas, com momentos escuros, difíceis, com luzes e com noites, que nos apavoram. Em cada situação é vontade de Deus que nós não nos deixemos tomar

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pelo desespero, mas que vivamos serenos e tranquilos. Não há uma chave para saber com certeza matemática: “esta é a vontade de Deus?”. A cada momento, como diz o evangelho, é “suficiente a própria preocupa-ção”. Quem vive a vontade de Deus se deixa conduzir, mão na mão de Deus, como no salmo do bom pastor, e sabe que nunca será abandonado.

A vontade de Deus se compreende olhando não o nosso futuro, que é sempre in-certo e inseguro, e nem o nosso presente, que é um pequeno espaço de um caminho, mas sim olhando o nosso passado, o caminho feito, e à luz da história, podemos compreender que Deus nos tem conduzido por bons caminhos. A leitura-meditativa desta poesia teresiana nos ajude a viver a nossa vida com amor e serenidade. São interessantes as referências bíblicas de Teresa: Davi, Jonas, Jó, todos personagens que lutaram na vida contra a correnteza e acabaram sendo vitoriosos.

Deus não quer que sejamos angustiados e vivamos debaixo do medo, mas sim do

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amor. É neste amor cotidiano de Deus que não podemos viver sozinhos, mas sempre compar-tilhar com os outros, que a vontade de Deus nos abre o caminho para novos horizontes.

Não é por acaso que na única oração que Jesus nos tem ensinado, que é o Pai Nosso, nos convida a invocar, a pedir, que se realize a vontade de Deus, isto é, o projeto dele, seja no céu como na terra. O projeto de Deus é como o rascunho de um arquiteto, que em poucas linhas traça o que será um prédio, uma ponte, uma obra de arte. Quem não entende de arquitetura fica olhando meio abobado, e diz consigo mesmo: esperemos para ver! E lentamente contemplam a sua realização.

Quero terminar com uma história que pode nos ajudar: um dia um menino se aproxi-ma de um escultor, que estava trabalhando em uma grande pedra de mármore, suando com martelo e cinzel. O menino perguntou “que estás fazendo?” O escultor disse: Estou tiran-do fora deste bloco de mármore um crucifixo, que está preso aqui dentro. O menino, cheio

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de curiosidade, ficou ali, vendo o trabalho, meio desconfiado...

Lentamente viu aparecer antes a cruz, depois os braços, depois o rosto de um belís-simo crucifixo.

É assim a vontade de Deus, ela está den-tro de nós. A nós cabe tirá-la à luz e vivê-la no dia a dia, com o suor de um escultor e irá aparecer o nosso rosto e vida, transfigurados pela força de Cristo.

Frei Patrício Sciadini, ocd. Cairo, Egito, 15 de agosto de 2015,

festa da Virgem Maria, Escultora da Vida!

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Que Mandais Fazer de Mim?

Teresa de Ahumada e Cepeda, ou d’Ávi-la, ou de Jesus, é a mesma pessoa que veio ao mundo no dia 28 de março de 1528 e morreu aos 67 anos, no finzinho do dia 4 de outubro de 1582. No fim de sua vida cansada, doente, mas dentro do coração com um fogo do amor a Deus e ao próximo, que a tinha acompanhado por toda a sua vida deixou palavras que são uma herança que não podemos esquecer: “é tempo de caminhar!” E “até que enfim morro filha da Igreja”. Na verdade tinha passado a maior parte de sua vida depois dos 50 anos, andando pelas estradas da Espanha, seja no calor como no frio. Tinha fundado mosteiros de monjas e de frades, falado com pessoas

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importantes que mal a suportavam pelo seu estilo de vida e pela sua franqueza. Com pes-soas que tinham uma grande admiração à sua coragem e profetismo. Tinha caminhado para fazer conhecer o amor de Deus, e para por meio do fogo que trazia dentro dela, incendiar o mundo. Sentia que o mosteiro de São José era pequeno demais para não conhecer que o mundo, como ela diz, “está pegando fogo”, e que não é possível permanecer de braços cruzados. E era grande demais para procurar outro lugar para atuar a sua missão. Ela sabia que era necessário viver com intensidade e amor a própria vocação.

Teresa queria só uma coisa: colocar-se na escuta de Deus com todo o seu ser. Ser espaço para que nela ecoasse a palavra do Senhor e pudesse colocá-la em prática. Podemos dizer que sempre se colocou, desde sua infância, uma pergunta a si mesma e ao mesmo Deus: Que mandais fazer de mim?

Deus gosta que nós lhe perguntemos e ele gosta de responder, não com palavras,

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mas orientando os nossos passos, iluminan-do os nossos caminhos, e ajudando-nos a ler os sinais dos tempos. Nos faz compreender o que é necessário fazer e como devemos permanecer nas suas mãos, “ativa, consciente e passivamente”, dóceis à sua vontade de amor.

Não sabemos quando e nem onde, mas conservamos de Teresa de Ávila uma “poe-sia”, testamento, meditação longa, mas crítica e questionadora, que é uma “obra prima da espiritualidade” e de meditação pessoal. Esta poesia repete como refrão a cada estrofe “que mandais fazer de mim?”.

Podemos chamar esta poesia o “salmo de Santa Teresa” e rezá-lo pessoal e comu-nitariamente. Teresa faz uma radiografia de sua vida pessoal, dos seus desertos interiores, de suas lutas, e sente que diante de tudo isto nunca devemos desanimar, mas somente re-petir: “quem mandais fazer de mim?” Que é como dizer com a Virgem Maria de Nazaré: “eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra”.

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Iniciemos este caminho com Teresa, com um momento de silêncio interior, onde fazemos nossas as suas palavras iniciais: “sou vossa, para vós nasci. Que mandais fazer de mim?”.

Vamos começando com Teresa d’Ávila este caminho por meio de sua poesia “Para vós nasci, que mandais fazer de mim?” Este refrão nos estimule na nossa caminhada. E que nos momentos de nossa oração pessoal, possamos sempre sentir-nos questionados por esta pergunta que nasce de nós e que espera uma resposta por parte de Deus. A resposta de Deus nem sempre são palavras, mas intuições, silêncios, sentimentos, e a nós cabe saber “ler os sinais dos tempos e dos lugares”. Devemos perscrutar e decidir. Nunca se decide sozinho, sempre com a luz do Espírito Santo e com a ajuda dos que caminham conosco.

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1. Senhor, Olhai para Minha Pobreza!

Soberana MajestadeE Sabedoria Eterna,Caridade a mim tão terna,Deus uno, suma Bondade,Olhai que a minha ruindade,Toda amor, vos canta assim:Que mandais fazer de mim?

Teresa faz a sua profissão de fé. Podemos considerar esta primeira estrofe como “o cre-do de Teresa” onde ela proclama a grandeza

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de Deus e pede que Ele não a abandone, embora ela seja pecadora. Ela sempre se con-siderou “ruim”. Esta expressão que aparece mais de vinte vezes nos escritos, o que quer dizer? Significa que tem consciência de sua fragilidade, de sua situação de pecado, dos seus limites. Ao mesmo tempo sabe que Deus não a abandona.

Diante de Deus, que ela gosta de chamar “Soberana Majestade”, um nome querido na sua linguagem, Deus não é somente rei, um nome que não manifesta toda a grandeza de Deus, mas sim é “majestade”, alguém que é revestido de luz infinita, uma luz que vai se difundindo e manifestando por toda parte. Precisamos entrar na luz de Deus!

Teresa tenta, com palavras, nos apresen-tar os atributos de Deus:

Majestade — caridade — uno — suma bondade

Santa Teresa, que dirá um dia “agora compreendi porque Deus é suma verdade,

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porque ele é suma humildade”, para nossa cabeça não é fácil compreender que Deus é humilde. Mas é isso mesmo, sendo amor e só amor, se o amor não é humilde não pode ser amor. Quando o amor, seja humano ou divino, vem lhe faltar a humildade, se trans-forma em prepotência, poder que esmaga e não liberta. Deus nos ama, e mesmo quando nos aproximamos dele conscientes do nosso pecado, ele nos abraça na sua ternura e nos anima a prosseguir o caminho.

Teresa, nesta sua oração/poesia, pede que Deus olhe “pela sua ruindade”. Nada de mais belo que um dia termos a graça de pa-rar e reconhecer os nossos pecados, não para perder a esperança e coragem, e nem para sentir-nos abandonados por Deus, mas sim para cantar a misericórdia do Senhor, como fez Teresa ao longo de toda a sua vida.

Uma das palavras que ela usa nos seus escritos é misericórdia. Hoje nós somos quase cada dia convidados, numa forma impressio-nante pelo Papa Francisco, a meditar sobre a

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misericórdia. Belíssima a carta que escreveu sobre “o rosto da misericórdia”.

Eis algumas passagens...

Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericór-dia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré. O Pai, “rico em misericórdia” (Ef 2, 4), depois de ter revelado o seu nome a Moisés como “Deus misericordioso e clemente, vagaroso na ira, cheio de bondade e fidelidade” (Ex 34, 6), não cessou de dar a conhecer, de vários modos e em muitos momentos da história, a sua natureza divina...

Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, sereni-dade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o misté-rio da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei funda-mental que mora no coração de cada pessoa,

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quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.

“Paciente e misericordioso” é o binômio que aparece, frequentemente, no Antigo Testa-mento para descrever a natureza de Deus. O fato de Ele ser misericordioso encontra um reflexo concreto em muitas ações da história da salvação, onde a sua bondade prevalece sobre o castigo e a destruição.

Nas parábolas dedicadas à misericórdia, Jesus revela a natureza de Deus como a dum Pai que nunca se dá por vencido enquanto não tiver dissolvido o pecado e superada a recusa com a compaixão e a misericórdia.

Na Sagrada Escritura, como se vê, a miseri-córdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para conosco. Ele não Se limita a afirmar o seu amor, mas torna-o visível e

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palpável. Aliás, o amor nunca poderia ser uma palavra abstrata. Por sua própria na-tureza, é vida concreta: intenções, atitudes, comportamentos que se verificam na ativida-de de todos os dias. A misericórdia de Deus é a sua responsabilidade por nós. Ele sente-Se responsável, isto é, deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos. E, em sintonia com isto, se deve orientar o amor misericordioso dos cristãos. Tal como ama o Pai, assim também amam os filhos. Tal como Ele é misericordioso, assim somos chamados também nós a sermos misericordiosos uns para com os outros.

Mas o que é misericórdia? Não se pode definir com palavras. Só quando a experimen-tamos na nossa vida, começamos a saborear o doce pão da misericórdia. Quando alguém se abaixa para ver as nossas feridas, curá-las, limpá-las e sem nada dizer silenciosamente e com amor. Misericórdia é não “fazer sentir a quem caiu e se machucou, que foi desatento, que foi descuidado e sem responsabilidade”.

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