Combate à Extinção

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36 n dezembro de 2009 n PESQUISA FAPESP 166 Combate à extinção Pesquisadores identificam áreas prioritárias para conservação no Pará E m plena Amazônia, o estado do Pará naturalmente abriga parte da floresta exuberante característica do Norte do país. Uma amostra de apenas cinco hectares floresce no parque zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), próximo ao centro de Belém. Ali, árvores de copas densas já não formam um teto que impede o sol de chegar ao chão, mas à noite as cutias ainda correm discretas – e olhando para o alto é comum avistar uma ou outra preguiça passeando lentamente pelos galhos. Com o avanço das atividades humanas no estado, sobretudo agropecuárias, o desmatamento ameaça deixar a floresta restrita a ilhas protegidas como essa, pequenas demais para manter a diversidade biológica típica da Floresta Amazônica. Os pesquisadores do Goeldi decidiram descruzar os braços ante a destruição da floresta e buscam meios de atingir as metas do Programa Extinção Zero, criado pelo governo paraense em 2007. Em colaboração com a Conservação Internacional (CI-Brasil) e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará (Sema), eles lançaram o programa Biota Pará para fazer um levantamento da fauna e da flora ameaçadas de extinção. E já foram além: propuseram áreas prioritárias para preservação no estudo Espécies ameaçadas de extinção e áreas críticas para a biodiversidade no Pará, coordenado pelas biólogas Ana Luisa Albernaz e Teresa Cristina Avila-Pires, ambas do Goeldi. Publicado em novembro na forma de um livro, o tra- balho analisou quase 6 mil pontos de ocorrência de 122 espécies (50 de plantas, 23 de invertebrados, 2 de anfíbios, Raridades: o lagarto Stenocercus dumerilii (acima) e a salamandra Bolitoglossa paraense fotos teresa cristina ávila Pires/mPeg Maria Guimarães > Ambiente

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Pesquisas identificam áreas prioritárias para conservação no Pará.

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  • 36 n dezembro de 2009 n PESQUISA FAPESP 166

    Combate extinoPesquisadores identificam reas prioritrias para conservao no Par

    Em plena Amaznia, o estado do Par naturalmente abriga parte da floresta exuberante caracterstica do Norte do pas. Uma amostra de apenas cinco hectares floresce no parque zoobotnico do Museu Paraense Emlio Goeldi (MPEG), prximo ao centro de Belm. Ali, rvores de copas densas j no formam um teto que impede o sol de chegar ao cho, mas noite as cutias

    ainda correm discretas e olhando para o alto comum avistar uma ou outra preguia passeando lentamente pelos galhos. Com o avano das atividades humanas no estado, sobretudo agropecurias, o desmatamento ameaa deixar a floresta restrita a ilhas protegidas como essa, pequenas demais para manter a diversidade biolgica tpica da Floresta Amaznica.

    Os pesquisadores do Goeldi decidiram descruzar os braos ante a destruio da floresta e buscam meios de atingir as metas do Programa Extino Zero, criado pelo governo paraense em 2007. Em colaborao com a Conservao Internacional (CI-Brasil) e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Par (Sema), eles lanaram o programa Biota Par para fazer um levantamento da fauna e da flora ameaadas de extino. E j foram alm: propuseram reas prioritrias para preservao no estudo Espcies ameaadas de extino e reas crticas para a biodiversidade no Par, coordenado pelas bilogas Ana Luisa Albernaz e Teresa Cristina Avila-Pires, ambas do Goeldi.

    Publicado em novembro na forma de um livro, o tra-balho analisou quase 6 mil pontos de ocorrncia de 122 espcies (50 de plantas, 23 de invertebrados, 2 de anfbios,

    Raridades:o lagarto Stenocercus dumerilii (acima) e a salamandra Bolitoglossa paraense

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    Maria Guimares

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  • PESQUISA FAPESP 166 n dezembro de 2009 n 37

    coincidem com reas j protegidas, como terras indgenas, que deveriam passar a ser mais monitoradas. O se-gundo cenrio inclui todos os tipos de unidades de conservao (de proteo integral e de uso sustentvel). Neste ca-so, a recomendao tambm seria uma ateno especial ao manejo das terras. E o terceiro cenrio abrange todas as reas protegidas, inclusive as terras in-dgenas. O resultado mostrou que nem mesmo esse conjunto basta para pro-teger as espcies ameaadas, ainda que haja maior esforo de manejo e moni-toramento. Todos eles indicam que as vrzeas do Amazonas, o leste e parte do sudeste do Par esto sob forte ameaa e precisam de ateno urgente.

    Meio do caminho - Segundo Teresa, o livro, elaborado como uma pro-posta concreta, j foi apresentado Sema para que se discutam metas e estratgias de implementao. Mas o trabalho publicado est longe de ser um ponto final. Precisamos de mais dados, por exemplo, para verificar me-lhor a situao do leste do estado, que est muito degradado, conta a biloga. As distribuies tero tambm de ser confirmadas para ver se as espcies em questo realmente ou ainda existem onde os modelos ecolgicos preveem que estejam. O estudo ajudou a apon-tar ainda deficincias de conhecimento nas quais os pesquisadores deveriam se concentrar nos prximos tempos. Se sabe pouco sobre as plantas de algumas reas do leste e centro do Par. No caso das aves, as maiores lacunas esto no centro-sul e no noroeste. O centro tambm pouco estudado em termos dos mamferos que ali vivem.

    H ainda muito trabalho pela fren-te, que pode ser reduzido caso no se tomem aes imediatas contra a degra-dao ambiental. Menos trabalho no o que os bilogos dali desejam. n

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    am

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    O estudo levou em considerao trs parmetros as reas j protegidas, o tipo de vegetao original e o custo para conservao tendo em vista a pres-so de desmatamento em curto prazo para gerar mapas indicando reas a serem acrescentadas s reservas natu-rais j delimitadas. Tambm se avaliou a eficcia de trs cenrios distintos para a conservao das espcies ameaadas. O primeiro considerava apenas as reas de proteo integral existentes hoje muitas das reas a serem preservadas

    5 de rpteis, 30 de aves e 12 de ma-mferos). Modelos ecolgicos per-mitiram predizer a distribuio total das 47 espcies sobre as quais havia mais dados. Detalhamos o conheci-mento da distribuio das espcies, conta Teresa. Num encontro realizado em fevereiro deste ano, 19 pesquisa-dores do Goeldi e 20 especialistas de outras regies do pas discutiram as melhores maneiras de aproveitar esses dados a fim de permitir o uso susten-tvel do ambiente.

    maaranduba: rvore de at 50 metros, folhas largas e frutos midos, s encontrada na Regio norte