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    2/26Agrofloresta no combate a desertificao Pgina 01

    Apresentao:

    Essa cartilha fruto das atividades desenvolvidas pelo IPTERRAS desde sua fun-dao em 1997. Desde essa data o Instituto se preocupou com o processo de degra-dao na regio de Irec e iniciou um importante trabalho de recuperao de solocom curvas de nvel, cordes de reteno, muretas de pedras, plantio agroflorestal esensibilizao quanto a importncia de preservar a Caatinga.

    Naquela poca nem se falava ainda em problema de desertificao na regio mas oIPTERRAS j surgiu manifestando preocupaes com a eroso e a consequenteperda da fertilidade dos solos.

    s mais tarde, por volta dos anos 2002-2003, quando IPTERRAS chegou a fazerparte da ASA (Articulao Semi-rido), que o Instituto, na figura de Eleno Pereira Ma-chado, comeou a aprofundar e disseminar a questo da desertificao na regio.Nessa poca, o IPTERRAS se tornou tambm uma entidade de referncia(sociedade civil) no Combate a Desertificao no estado da Bahia. Era o resultado deuma caminhada longa de luta e sobre tudo, de experincia e prtica.

    Nesse ano de 2007 (novembro), graas a um apoio financeiro da GTZ (Fundo de peque-

    nos projetos no combate a desertificao) o IPTERRAS realiza na regio de Irec umacapacitao de agricultores, agricultoras e estudantes sobre "agrofloresta no combate adesertificao" com assessoria do agrnomo Henrique Souza, especialista em agroflo-resta no semi-rido.

    Parceiros importantes na realizao desse trabalho:Grupo de Trabalho no Combate a Desertificao (GTCD) da ASAArticulao Semi-rido (ASA)Instituto de Permacultura da Bahia (IPB)

    Centro de Assessoria do Assuru (CAA)

    Queremos dedicar

    esse trabalho anosso grande eeterno compan-heiro Eleno fale-cido no dia 12 defevereiro 2006. Elefoi um dos funda-dores do IPTER-RAS.

    Irec - Bahia, outubro 2007

    Apoio financeiro:GTZ - Deutsche Gesellschaftfr Technische Zusammenarbeit

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    Diante dos problemas ambientais que vm crescendo em nmeros, extenso e intensi-dade, a humanidade est em frente a imensos desafios. Ter necessariamente que repensarseus modos de produzir e consumir buscando uma relao harmoniosa e de cooperaocom a natureza. Entre esses problemas no podemos deixar de falar do aquecimento globalcausado pelas emisses de gs carbnico e metano na atmosfera, a escassez da guadoce, a poluio causada pela produo de energia (carvo, nuclear ou barragens) e final-

    mente outro problema global preocupante, o processo de desertificao nas zonas maissensveis do planeta (zonas ridas, semi-ridas e sub-midas secas).

    O problema da desertificao est diretamente ligado ao nosso modo de produzir alimentosdesde os anos 70. Modelo que se chamou ironicamente revoluo verde! Essa agriculturaindustrial provoca o desmatamento a uma escala assustadora. As queimadas em algunspases tm como efeito a perda da fertilidade da terra. O uso frentico de agrotxicos de todotipo polui os solos e as guas superficiais e subterrneas. O uso mais recente de organismosgeneticamente modificados (OGM) prejudica a soberania dos agricultores ao nvel da dispo-nibilidade das sementes. Ligado ao modelo neoliberal, o agronegcio tem como consequn-

    cias sociais a concentrao das terras e o endividamento e apobrecimento do pequeno agri-cultor.

    O modelo da monocultura que cria sistemas destrutveis, frgeis e totalmente dependentesdos altos e baixos do mercado est hoje obsoleto. No futuro se multiplicaro necessaria-mente tcnicas agroecolgicas que permitem reflorestamento, produo diversificada,estvel e saudvel tanto para o meio-ambiente que para ns, seres humanos.

    "a humanidade est frente a

    imensos desafios. Ter neces-

    sariamente que repensar seus

    modos de produzir e consumir

    buscando uma relao harmo-

    niosa e de cooperao com a

    natureza".

    Marilza Pereira da Silva - IPTERRASJean-David Rochat - E-CHANGER Suia / IPTERRAS

    Cartadosautores

    :

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    Sumrio:

    Agrofloresta no combate a desertificao Pgina 03

    1. Breve apresentao do IPTERRAS p. 04

    2. A desertificao2.1. O que ? Contexto e definio. p. 052.2. As principais causas p. 062.3. Consequncias p. 072.4. A desertificao no Brasil e na regio de Irec. p. 082.5. As prticas agrcolas que favorecem o processo

    da desertificao e da degradao da terra. p. 09

    3. A agrofloresta: uma alternativa vivel parao semi-rido

    3.1. Definio p. 103.2. Princpios e prticas p. 113.3. Regras bsicas do plantio agroflorestal p. 11

    3.4. Tringulo da vida (desenho de Ernst Gtsch) p. 123.5. Quadrinho: por que fazer uma agrofloresta? p. 13

    4. Manual de algumas prticas agro-ecolgicasque asseguram produo e preservaoambiental. p. 14

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    1.OIP

    TERRAS:

    O Instituto de Permacultura em Terras Secas IPTERRAS uma ONG sem finslucrativos de carter social e ecolgico. Com sede e foro na cidade de Irec - BA atuaem toda microregio. Foi criado por estudantes e tcnicos formados na ESAGRI Escola de Agricultura da Regio de Irec e registrado em 1997.

    Misso: Contribuir com o desenvolvimento sustentvel do semi-rido, disseminando prti-

    cas e alternativas de convivncia com o mesmo, baseadas nos princpios da permaculturaatravs da educao poltico - ambiental e do fortalecimento da cultura popular sertaneja.

    Eixos de trabalho:

    A Roa Permanente, sede do Instituto,onde se desenvolve e se dissemina pr-ticas de convivncia com semi-rido:captao de gua de chuva, energiasolar, reflorestamento, agrofloresta,hortas orgnicas, produco de mudas,apicultura, criao de galinhas, preser-vaco de uma rea de Caatinga.

    A Cultura popular: revitaliza efortalece a cultura popular sertanejaincentivando e apoiando grupos emanifestaes.

    Desenvolvimento Institucio-nal e articulao poltica:buscar o fortalecimento institu-cional e contribuir em processosde construo de uma socie-dade mais justa e sustentvel.

    (74) 9121 [email protected]

    A educaao ambiental: recebe-sena Roa Permanente escolas eassociaes com o intuito de sensi-bilizar e estimular crianas, jovens e

    adultos para a utilizao de tcni-cas apropriadas ao semi-rido e aimportncia de preservar o ecossis-tema local.

    O IPTERRAS trabalha pela valorizao do ecossistema Caatinga... Imagens do IPTERRAS

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    2.Adeserti

    ficao:

    2.1 O que ? Contexto e definio:

    As regies ridas, semi-ridas ou sub-midas secas so as terras diretamente amea-adas pelo processo da desertificao, embora representem 37% dos continentes esejam responsveis por 22% da produo mundial de alimentos.

    1 bilho de pessoas vivem nessas terras em 100 pases diferentes. Isso significa quea presso das populaes sobre esses ecossistemas frgeis muito grande.

    Cada ano, no mundo, 10 milhes de hectares de terras produtivas para agriculturaso afetadas pelo processo da desertificao.

    Definio:

    A degradao da terra (degradao dos solos e recursos hdricos, degradao da

    vegetao e biodiversidade e reduo da qualidade de vida das populaes afetadas)nas regies ridas, semi-ridas e sub-midas secas, resultante de vrios fatores.Dentre eles; as variaes climticas e atividades humanas no sustentveis (NaesUnidas - Agenda 21).

    A desertificao a diminuio, a destruio do potencial biolgico da terra ou a percada fertilidade do solo.

    Fonte das imagens: Internet

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    2.2. As principais causas:

    Mudanas climticas: fatores naturais ou resultantes das atividadeshumanas. Hoje sabemos que alguns hbitos humanos aceleram o processo doaquecimento global e mudam o regime das chuvas. O aumento da temperatura oudiminuio das chuvas em determinadas regies favorecem o processo da desertifi-cao.

    Desmatamento desordenado: o desmatamento, alm de provocar aperca da biodiversidade animal e vegetal, deixa os solos desprotegidos e expostos

    eroso. Desmatamento por queimadas tem efeitos piores, como a emisso de gscarbnico e a perca de fertilidade da terra.

    Sobrecultivo: agricultura, sem descanso da terra e sem tcnicas deconservao ou adubao natural dos solos, compromete a produtividade e acolheita tende a baixar em quantidade e qualidade. O uso de agrotxicos e nitratospoluem as guas superficiais e subterrneas.

    Pastoreios excessivos: alm de responsveis pelo desmatamento,essas prticas compactam os solos e poluem os sub-solos sem falar das toneladasde cereais transgnicos para alimentar o gado que so produzidas sem respeitar osrecursos naturais.

    Irrigao mal conduzida: provoca salinizao e compactao dossolos. Quando o sistema de irrigao est inadequado s caractersticas do solo,faz-se mais uma molhao, do que uma simples irrigao.

    A questo da eroso de fundamental importncia para entender oprocesso da desertificaco. Por eroso se entende a transforma-o ou degradao da camada superior do solo que tambm amais frtil. Num solo desprotegido, o vento e a gua tendem a levaressa primeira camada da terra e como consequncia, a perca gra-dual da fertilidade do solo.

    2.Adesertificao:

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    2.3. As Conseqncias:

    Crescimento da pobreza: ao mesmo tempo que diminui a produtividadeda terra, cresce a pobreza. Num processo avanado de desertificao, a produ-

    o de alimentos humanos e animais torna-se mais difcil.

    2.Adesertificao:

    Aumento das migraes / xodo rural: na medida em que a vida nocampo se torna mais complicada, as pessoas migram para os grandes centrosurbanos onde geralmente no acham nem moradia digna nem trabalho.

    Aumento das tenses sociais: as terras produtivas ficam sempre maisraras e caras e concentradas nas mos de poucos.

    Aumento da distncia de viagem dos alimentos: por exemplo regiesdo semi-rido brasileiro que eram auto-suficientes em alimentos comeam a

    receber comida de outras partes do pas ou do mundo. Isso provoca umaumento nas emisses de gs carbnico na atmosfera que resulta no aqueci-

    mento global. Por causa do transporte, o preo dos alimentos s tende aaumentar.

    Fonte das imagens: Internet

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    2.4. A desertificao no Brasil ena regio de Irec:

    2.Adesertificao:

    A ameaa da desertificao uma realidadeem quase todas as zonas ridas, semi-ridas esub-midas secas. No Brasil, as reas Sus-ceptveis Desertificao (ASD) atingem 1482municpios numa rea total de 1.338.076 km2.Corresponde a 15,7% do territrio Nacional e a

    18,6% da populao brasileira (32 milhes depessoas). O semi-rido brasileiro a regioameaada de desertificao mais povoada nomundo. tambm a mais pobre do pas:desses 1482 municpios, 771 apresentam osmenores ndices de Desenvolvimento Humano(Cartilha Parceria para o Combate a Desertifi-cao no Brasil: Governo Federal, SociedadeCivil e Cooperao Alem).

    No semi-rido brasileiro, alguns lugares jesto num processo de desertificao alar-mante: Cabrob PE, Gilbus PI, Irauuba CE, Serid RN e PB, Cariri PB.

    Sobre a regio de Irec, existem ainda poucos dados. Estudantes da UniversidadeFederal da Bahia (UFBA) campus de Irec realizaram em 2002 uma pesquisa sobrea Caatinga. Na poca, restavam apenas 15% de Caatinga na regio e desde essadata, o desmatamento s acelerou.

    Outro dado interessante a baixa de produtividade das terras. Irec conheceu umapoca de ouro em relao a produo de feijo e milho. As terras que eram desma-tadas para o plantio tinham acumulado durante milhares de anos matria orgnica,fantstico adubo natural. Nas monoculturas, essa lgica da natureza no foi respei-tada: terra sem descanso, mal alimentada, compactada, desprotegida...Hoje aregio de Irec recebe feijo de outras partes do pas!

    Nordeste

    brasileiro

    Bahia

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    2.Adesertificao:

    Prticas agrcolas que favore-cem o processo da desertifi-cao e da degradao daterra:

    - As queimadas: alm de provocaro desmatamento, o fogo compacta aterra, destri a matria orgnica(alimento das plantas) e libera gscarbnico na atmosfera.

    - O desmatamento provoca a percada biodiversidade, mudanas nos regi-mes das chuvas alm de deixar asterras desprotegidas e assim sujeitas aeroso.

    - A monocultura: cria sistemasfrgeis e plantas fracas em nutrientes

    - Falta de matria orgnica deixa osolo desprotegido: perca rpida degua por evaporao.- Uso de produtos qumicos

    (adubos e defensivos).

    - Uso do trator: compacta o solo econtribui no aquecimento global.

    - Plantar ladeira abaixo sem pro-teger a terra da eroso.

    - Uma irrigaco mal conduzida. Fotos: regio de IrecFonte: IPTERRAS

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    3.Aagrofloresta:

    3.1. Definio:Agrofloresta um termo novo para uma prtica antiga j utilizada por povos ancestrais. um jeito de trabalhar a terra aproveitando o pequeno espao que a agricultura familiardispe, produzindo diversas culturas fazendo a recuperao e a conservao do solo.

    Os SAFs ou Sistemas Agroflorestais so sistemas sustentveis de uso da terra quecombinam, de maneira simultnea ou em seqncia, o plantio de culturas anuais comrvores frutferas, nativas e plantas adubadeiras utilizando a mesma unidade de terra e

    aplicando tcnicas de manejo adequadas.Poderamos falar de agrofloresta, como floresta de alimentos, mesmo considerando otermo como muito reducionista. Uma agrofloresta ter: flores, fibras, frutos, madeira,massa vegetal, gros, sementes, sombra, animais aumentando a vida e fertilidade dosolo e conseqentemente a biodiversidade.

    reas no IPTERRAS. Podemos observar acobertura no cho, a diversidade, a grande pro-duco de massa vegetal, a valorizao das esp-cies nativas e adaptavis.

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    3.Aagrofloresta:

    3.2. Princpios e prticas agroflorestais:

    Observaes do agricultor e da agricultora. Verificar o que a natureza faz,aprender com ela e tentar copi-la.

    Manejo adequado e compreenso de como a natureza se recupera e comoa vegetao nativa se recompe (sucesso natural das espcies - verquadro).

    Plantio diversificado combinando cultivos agrcolas com rvores nativas,frutferas e adaptveis;

    Plantio em curva de nvel com cordes de reteno;

    Capina seletiva;

    Poda;

    Criao de pequenos animais quecontribuam com o sistema;

    3.3. Regras bsicas do plantioagroflorestal

    - No se queima nada porque mata eenfraquece a vida do solo.

    - No derruba e nem faz destoca dasrvores do terreno. Faz-se apenas ocorte de alguns galhos para abrir espaoe permitir a entrada dos raios de sol.

    - Utiliza-se todo o mato: deixa-se todasas folhas e os galhos em cima da terrapara alimenta-la, mant-la coberta e

    protegida.

    A maioria das plantas so "companheiras" eaceitam crescer com outras.

    Fonte: IPTERRAS

    Sincronizao dos sistemas: capinar ou podar todas as plantas deum sistema ao mesmo tempo.

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    Agrofloresta no combate a desertificao Pgina 12

    Indo da monocultura para a agrofloresta

    Tringulo da vida de Ernst Gtsch

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    3. A agrofloresta:"Viva como se fosse morrer amanh e faa agricul-tura como se fosse viver para sempre". (Jason Clay - WWF)

    Por que agrofloresta no combate a desertificao?

    Por nos fazer entender que o solo um organismo vivo em constante transforma-o;Porque permite uma produo diversificadaPor ser uma prtica contrria ao modelo do agronegcio;Por valorizar o ser humano em seus aspectos, econmicos, culturais e sociais;Por criar sistemas de produo a longo prazo melhorando a qualidade do solo como tempo;Porque precisamos cuidar das pessoas e isso implica cuidar da terra;Por promover preservao e conservao do solo e manejo sustentvel dos recur-

    sos naturais.Permite a acumulao e reteno de gua no sistema.Permite o reflorestamento.Porque cria um espao de trabalho prazeroso e digno para os agricultores e agri-cultoras: beleza, abundncia, sombra, diversidade, alimentos.

    IPTERRAS. No nosso clima semi-rido, devemos criarsistemas abundantes em matria orgnica.

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    4.Manual:

    4.1. O composto:

    A natureza uma grande mestra que nos oferece alimento, sabedoria e abundncia.Podemos aprender muito com ela s v-la como aliada e no como inimiga.

    Vamos entrar na caatinga e remexer a superfcie do solo com as mos, retirando acamada de folhas e ramos acumulados, ento encontraremos uma camada maisescura com aquele cheiro agradvel. Repare tambm que as folhas cadas h algumtempo esto pretas e as que caram recentemente esto ainda perfeitas. um processo contnuo e perfeito. O clcio que estava na folha que caiu o ano pas-

    sado est novamente no solo que ir alimentar a folha nas rvores que cair nova-mente ao solo e assim por diante.

    por isso que a caatinga est sempre saudvel. Seu alimento mineral principal vemda decomposio das folhas, galhos, razes, animais mortos, etc. Um verdadeirocomposto.

    Imitando a caatinga:

    Vamos imitar a caatinga e fazer nosso prprio composto. No existe uma receitaespecfica. Ela depender da matria-prima disponvel em cada regio.Em nossa regio, por exemplo, tem a palha da mamona que consiste num rico mate-rial para compostagem.

    Alguns materiais para compostagem:

    1- Esterco de animais;2- Qualquer tipo de plantas, pastos, ervas, palmas, folhas verdes e secas;

    3- Palhas;4- Todas as sobras de cozinha que seja de origem animal ou vegetal (sobras decomida, cascas de frutas e verduras, de ovos etc.).

    5- Restos de animais: plos, penas, ls, couro, etc.Observao: quanto mais variado e menor for os componentes usados, melhorser a qualidade do composto e mais rpido estar pronto.

    Preparao do composto:

    1- Escolha um lugar na sombra;

    2- Afofe a terra sem revirar com p de corte;

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    4.Manual:

    3- Para que o composto fique pronto rpido, revire bem o monte 01 vez por

    semana, faa isso durante trs semanas e depois a cada duas semanas;

    4- A qualidade do composto depende de dois fatores importantes: a aerao(oxignio) e a umidade (gua);

    5- Quando faltar gua aparecer um bolor esbranquiado ento, s molhar;

    6- Se houver muita umidade ento ocorrer uma fermentao anaerbica (semoxignio) e haver mau cheiro, atraindo moscas. Pode acontecer que o composto

    fique seco por cima (bolor branco), e anaerbico por baixo (larvas de moscas). Sersinal que falta oxignio. Basta revirar o composto para que entre ar;

    7- Uma vez que terminou de fazer o composto, no acrescente novos materiais.Comece a juntar no lugar destinado ao segundo composto.

    Uso do composto:

    Quando o composto est pronto, tem cheiro agradvel de terra vegetal e os mate-

    riais usados formam uma massa escura que no se pode destingir um do outro. Umoutro fator importante que o composto pronto atua como uma reserva de materialhumificado que age sobre as propriedades qumicas, fsicas e biolgicas do solo.

    Pgina 16Agrofloresta no combate a desertificao

    melhor peneirar a matria do com-posto antes do uso.

    O composto colocado ao fazer can-teiros e sementeiras, misturando aosprimeiros cinco centmetros do solo.

    O tempo que o composto leva pra ficarpronto depende da forma como foi revi-rado, da forma que foi feito, do materiale da poca do ano. Se o monte revi-rado uma ou duas vezes por semanaficar pronto mais rpido, dura entreum e trs meses removendo uma vezou mais por semana e 06 meses se omanejo no for freqente.

    Fonte: Internet

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    4.Manual:

    Fontes naturais de Nitrognio (N):

    Folhas verdes,Mamona (folhas e cascas)Esterco especialmente de animais quecomem folhas verdesUrinaLeguminosas que se associam a bact-rias que fixam o nitrognio: andu, feijode porco, mucna preta.

    Fontes naturais de Fsforo:

    Ossos de todos os tipos (cuidado pode ser fonte dedoena se o animal esteve doente!)Esterco de aves que comem gros (cuidado, esterco

    de granja contaminado por antibiticos)Plantas que tenham associaes com um fungo quemobiliza esse elemento (assunto pouco estudado).P de rocha.

    Candidatas a mobilizadoras de Fsforo:

    Palmeiras em geralCactos em geral incluindo a palma e o mandacaru(Foi comprovado que, mesmo sem aportes externosde fsforo, em solos tratados com matria orgnica o

    teor deste elemento aumenta)

    Fontes naturais de Potssio:

    Madeira em geral (troncos, galhos, maravalha)Cinzas (perde facilmente com a chuva)Folhas e troncos de bananeirasTodas as partes do coqueiro da BahiaUrina humana

    Fontes de micro elementos:

    Tudo que vem do mar (algas,conchas, ossos de peixes)RochasPlantas nativas do ecossistema(muitas se especializam em acumularcertos micro elementos, tornando-osdisponveis para o sistema; ento,devemos sempre inclu-las nas agroflorestas e na compostagem)

    De que se alimentam as plantas:

    A planta retira da terra o alimento que precisa para crescer e produzir. Quando asfolhas e frutos caem no cho so comidos pelos microorganismos (pequenos bichin-hos) que vivem no solo. Eles transformam o que era planta em terra de novo. Atravsdesses animais a planta alimenta a terra. A terra estando forte, por sua vez fornecealimento para as plantas e essas para os animais, inclusive ns mesmos. Essesalimentos so chamados de micronutriente e macronutrientes.

    Os macronutrientes so consumidos em grande volume pelas plantas e so eles:

    Nitrognio, fsforo, potssio, clcio, magnsio e enxofre.

    Os micronutrientes so aqueles que as plantas consomem em doses menores: boro,cloro, cobre, ferro, mangans, molibdnio, zinco e, no caso das leguminosas ocobalto.

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    Como fazer o p de galinha:

    1 - pegue 03 varas e faa um A. Amarre ou pregue bem firme para no ficar mole.

    2 - amarre um cordo na parte de cima do aparelho. Com uma pedra na outra pontaabaixo da 3 vara.

    3 - ponha uma perna do aparelho encima de uma pedra e deixe a outra no cho.Faa uma marca onde o cordo cruzar a 3 vara.

    4 - d meia volta no aparelho e inverta, (colocando a perna que estava no choencima da pedra e a que estava encima da pedra no cho) faa uma marca onde ocordo cruzar a 3 vara.

    5 - coloque as duas partes no cho. Na 3 vara agora tem duas marcas, o nvel doaparelho est no meio dessas duas marcas.Divida no meio a distncias entre as duas marcas e faa uma marca mais forte para

    diferenciar das outras.

    Como atuar de forma adequada contra eroso?

    A eroso a destruio fsica da estrutura do solo. A camada mais superficial do solo(areias, argilas, xidos e hmus) que a mais frtil carregada pela gua ou o ventopara as partes mais baixas dos relevos e em geral vai parar nos crregos e rios.

    Mesmo em terrenos com pouco declive (ladeira) importante se trabalhar em curvasde nvel, evitando que o solo frtil e bom para o plantio seja levado pela to esperadae benfica chuva. As curvas de nvel podem ser feitas com um p de galinha (verimagem pgina 20).

    Com esse trabalho a gua no escorre feito enxurrada, penetra na terra favorecendoo crescimento da lavoura. Quando se faz uma roa em curvas de nvel, as linhas deplantio ficam cheias de curvas, isso acontece por que o terreno tem partes que somais altas e outras mais baixas e o p de galinha, procurar os pontos do terreno quetem o mesmo nvel.

    Importante: a parte mais alta do terreno no deve ser desmatada, pois as rvoresprotegem o solo das enxurradas ajudando a segurar a terra e a gua.

    Agrofloresta no combate a desertificao Pgina 19

    4.Manual:

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    21/26Agrofloresta no combate a desertificao Pgina 20

    4.Manual:

    Como usar o p de galinha

    1 - faa vrios piquetes de 2 palmos de cumprimento.

    2 - leve o p de galinha e os piquetes para a roa escolhendo a parte mais alta doterreno para comear.

    3 - finque um piquete no cho

    D meia volta com o p de galinha sem tirar do lugar a perna que est no segundopiquete.V para baixo e para cima at encontrar o nvel e finque outro piquete.

    D meia volta com o aparelho procure o prximo ponto em nvel, indo assim at ooutro lado da roa.

    D uma distncia de uma linha para outra de 10 a 20 metros.Se for necessrio faa valetas com enxadas, arado animal ou trator.

    Na hora de plantar, faa as linhas de plantio seguindo as curvas de nvel.Plante capim acima das linhas para alimentar seus animais no perodo seco.

    Para usar o p de galinha preciso duas pessoas, para facilitar o trabalho.

    Cartilha "A Roa no Serto". IRPAA

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    4.Manual:

    Agrofloresta no combate a desertificao

    Os defensivos naturais. Explicao. Exemplos simples.

    Na natureza existe o que chamamos de cadeia alimentar. Cada animal tem suafuno na natureza e muitos desses so predadores de outros. Quando algunsdesses predadores naturais entram em extino acontece o que chamamos de dese-quilbrio ecolgico. Do desequilbrio vem o ataque da plantao. Numa monocultura,cada ano a terra enfraquece e as plantas esto mal nutridas sendo assim mais facil-mente atacada pelas chamadas pragas e doenas. Sendo assim, mais importanteque usar defensivos naturais prevenir sua horta ou lavoura, alimentando a terracom composto orgnico ou com esterco de gado curtido, no queimar a matria org-

    nica e plantar diversificado.H algumas plantas que servem de repelentes naturais de insetos, nesse casoinvista nessas plantas (hortel, manjerico, boldo). Podem se fazer caldas de folhase frutos de plantas como babosa, angico, pimenta, pau pereira, aveloz entre outras.

    Calda de babosa: (para pulges e lagartas)

    Ingredientes: 1 balde de babosa e 1 balde de gua

    Modo de preparar:Pica a babosa. Misture com gua e deixa curtir durante 24 horas. Na aplicao emfolhagens usar 1 litro de calda para cada 5 litros de gua, pulverizando toda a planta.

    Obs.: deixar passar oito dias para a prxima aplicao em folhagens.

    Depois de pronto bom guardar em vasilhas escuras para garantir um melhor efeito.

    Calda de pimenta ou de lagarta:

    As vezes para afastar as lagartas uma simples calda de pimenta resolve. Calda delagartas machucadas muito eficaz contra elas mesmo.

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    4.Manual:

    Captao de gua de chuva e reaproveitamento das guas cinzas.

    Vamos pegar como exemplo bem prximo de ns, o p de umbu. Bem antes daschuvas ele comea a brotar e florir. Isso acontece porque tem razes-batatas,tambm conhecida como cuca do umbu que armazenam durante os perodos dechuva, gua e alimentos para passar toda a seca.As cucas do umbuzeiro adulto podem pesar at 250 kg. Isso quer dizer que cada pde umbu uma grande cisterna de gua de chuva. Ele est se prevenindo para queno falte gua durante a seca. Alm disso suas folhas e frutos servem de alimento

    para ns seres humanos, para os animais e para prpria terra. O mais importantede tudo isso que no precisa de adubo qumico para produzir bem e de forma gra-tuita cerca de 200 kg frutos por ano, durante 200 anos. (A busca da gua no serto.IRPAA, p.30. 2001).

    Para viver bem no semi-rido, temos que nos adaptar ao clima e seca. No pos-svel e no temos o poder de combater um fenmeno natural, mas, podemos convi-ver com o clima. Precisamos aprender com a natureza essa convivncia captandoa gua de chuva em cisternas, valas de infiltrao, barragens subterrneas, plantar

    culturas apropriadas ao clima e criar animais que so acostumados com a seca.

    Mesmo tendo outras fontes de gua importante aproveitar da gua de chuva, poishoje sabemos que a gua um bem finito, sobretudo gua para consumo humano.Nossa regio rica em lenis subterrneos e esses esto secando ou contamina-dos pelos agrotxicos usados principalmente nas irrigaes. A construo de umacisterna para garantir a gua da famlia pode ser um investimento interessante. Paraas famlias que no dispe de condies financeira, essas podem recorrer a progra-mas como o P1MC (programa 1 milho de cisternas) e muito importante est orga-

    nizado em associaes comunitrias para facilitar aquisio de estruturas familiaresou coletivas para a comunidade.

    Uma vez tendo armazenado sua gua em cisterna, importante fazer o reuso dessagua. As chamadas guas cinza so aquelas guas que utilizamos para lavar ospratos, roupas e para o banho. Essas guas podem ser reutilizadas para confecode crculo de bananeira, aguar pequenas hortas e pomar. Muito importante quepara reutilizar essas guas necessrio ter o cuidado do tipo de sabo que se usa.Detergentes, quiboa, sabo em p podem matar as plantas. Existem sabes neu-

    tros como por exemplo o sabo de cco que pode ser usado sem problemas.

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    4.Manual:

    Como fazer um crculo de bananeira:

    1- Cava-se um buraco de 1m de largura por mais ou menos 70 cm de fundura. Alargura do buraco pode ser maior ou menor de acordo com a quantidade de mudasque se quer plantar. No caso acima seria para quatro mudinhas.

    2- Encha o buraco com matria orgnica, pedaos de madeira, capim de corte eoutros matos que tiver disponvel;

    3- Canalize a gua do banho, da lavagem dos pratos e da roupa para esse

    buraco;

    4- Faa os beros (que cova pra defunto) normais para plantar as mudas debanana, todo agricultor ou agricultora sabe fazer!

    5- Nos primeiros momentos de vida molhe bem as mudas, depois que essas sesituarem elas vo buscar gua no buraco; Adube-as com esterco curtido ou com-posto.

    6- Em todas as fases do crculo de bananeira, mantenha-o com cobertura vegetal,palhas, capim folhas secas etc.;

    A apicultura / meliponicultura:

    Definio: cincia e a arte de criar abelhas (com ou sem ferro) com a principal inten-o de produzir mel.

    As abelhas so pequenos insetos que tem um papel muito importante na natureza

    atravs da polinizao das plantas. Elas fecundam as flores ajudando assim a perpe-tuao de espcies vegetais importantes para a vida dos seres humanos e do planetacom um todo. A polinizao na agricultura por exemplo contribui para o aumento dassafras. A apicultura melhora a qualidade de vida do apicultor e aumenta a renda familiaratravs da comercializao do mel e outros produtos. Estimula e valoriza o trabalho emgrupo, sendo esse o meio mais fcil para comercializao dos produtos derivadosdessa prtica.

    Existem tambm as abelhas nativas ou indgenas que so elas: a mandaaia, mun-

    duri, mosquitinho, uru, jata entre outras. O interesse maior pela criao de abel-has sem ferro justificado pelo valor teraputico do mel. Apesar de ter uma produ-o menor que a apicultura o preo melhor.

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    Dicionrio:

    Desertificao: processo de degradao e perda de fertilidade da terra.

    Eroso: quando a camada superficial do solo, camada mais frtil, levada pelo vento ou pelagua.

    Agrofloresta: sistemas sustentveis de uso da terra que combinam, de maneira simultnea ouem seqncia, o plantio de culturas anuais com rvores frutferas, nativas e plantas adubadeirasutilizando a mesma unidade de terra e aplicando tcnicas de manejo adequadas.

    Adubo: alimento / fortificante das plantas.

    Curva de nvel: valetas ou plantio respeitando o nvel de uma propriedade. Para evitar oprocesso da eroso.

    Sincronizao do sistema agroflorestal: capina ou poda ao mesmo tempo num terreno todo.

    Crculo de bananeiras: aproveitar as guas cinzas para molhar bananeiras. Cava-se um buracoque se enche de matria orgnica. Dirigir as guas cinzas dentro desse buraco e plantar asbananeiras ao redor.

    Permacultura: tcnica de planejamento de uma rea buscando a integrao entre o Homem e a

    paisagem provendo alimento e energia.xodo rural: quando as pessoas deixam o campo e vo viver numa cidade onde geralmente noacham nem moradia digna nem trabalho.

    NPK: Potssio, fsforo e nitrognio. Muites vezes os agricultores pensam que aplicar essesminerais nas plantas suficiente. Na verdade as plantas precisam de outros minerais tambm.

    Composto:jeito de reusar a matria orgnica da cozinha (cascas de frutas e verduras) o doquintal e criar um adubo natural.

    Salinizaao do solo: quando uma irrigao feita com gua salgada e sem gotejamento.

    Queimadas: prtica criminal que contribui nas emisses de gs carbnico, enfraquece os solos efavorece o processo de eroso.

    Agroecologia: prticas agrcolas que respeitam tanto as pessoas como o meio ambiente emgeral. Se busca uma relao harmoniosa e de cooperao com a natureza.

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    Bibliografia:Livros e cartilhas:

    Sites interessantes:

    www.agrofloresta.netwww.marsha.com.brwww.permaculura-bahia.org.brwww.asabrasil.com.brwww.permacultura.org.br

    www.e-changerbrasil.org.br

    A Roa na Caatinga. IRPAA, 1996

    A busca da gua no Serto. IRPAA, 2001

    Agricultura agroflorestal ou agrofloresta. Joseilton Evangelista de Sousa, CentroSabia. Provisual Diviso grfica, 2000.

    Agricultura e florestas Princpios de uma interao vital. Jorge Vivan. Livraria eeditora Agropecuria, 1998.

    O Stio abundante Co-criando com a natureza. Marsha Hanzi. Edies Alecrim,1999.

    Agrofloresta: Um novo jeito de fazer agricultura. Kurt Habermeier e AvanildoDuque da Silva. Centro Sabia. 1998.

    Desertificao: Entender para prevenir e combater. Edneida Cavalcanti e SolangeCoutinho. Instituto Desert. 2001.

    Parceria para o Combate a Desertificao no Brasil: Governo Federal, SociedadeCivil e Cooperao Alem.

    Conveno das Naes Unidas de Combate a Desertificao PAN Brasil. Minis-trio do Meio Ambiente e Secretaria de Recursos Hdricos. Edies MMA.

    Unidade da vida. Edson Hiroshi. Wvc Editora. 1997. 188p.