COMEÇOU A SAFRA 16/17 REVISTA CANA ONLINE-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM ELETRONICA,...
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2 Abril · 2016
3
Clivonei Roberto [email protected]
Luciana [email protected]
A safra da retomadatar a pagar seu imposto de renda”, salienta
Antonio de Padua Rodrigues, diretor técni-
co da Unica (União da Indústria da Cana-de
-açúcar). Padua diz que esta safra
traz um novo ânimo ao se-
tor, induzindo as empre-
sas a investirem numa
boa manutenção in-
dustrial, na frota, na
reforma, depois de
anos de cenário ne-
gativo. Além dis-
so, não acredita que
novas usinas sejam
paralisadas ao longo
da safra 2016/17. Ao
contrário. “Já se comenta
no mercado que a Usina San-
ta Rita pode voltar a processar cana”.
Françóia reforça a posição de Padua,
defende que unidades desativadas voltem
a operar. “Talvez nessa próxima safra ainda
não, mas na seguinte, com a tendência de
preços melhores, isso pode acontecer.”
A safra canavieira 2016/17 é tema de
nossa matéria de capa. Buscamos
saber com especialistas qual o qua-
dro sucroenergético para 2016.
E o balanço das análises
apresentadas foi muito
animador.
Ao analisar os
fundamentos e ce-
nários do setor, o
economista Marco
Antonio Conejero,
professor da Univer-
sidade Federal Flu-
minense (UFF), acre-
dita que a recuperação
virá no curto prazo.
“Sou obrigado a dizer que
o setor vive um momento constrangedora-
mente bom, levando-se em consideração o
restante da economia, no que tange a pre-
ços e demanda”, pondera Alexandre Figlioli-
no, sócio da MB Agro Consultoria.
Segundo Marco Antonio Françóia, di-
retor da MBF Agribusiness, em termos de
preços, as expectativas são muito boas para
as próximas safras. Ele estima que os preços
dos produtos do setor se mantenham mais
remuneradores por três anos seguidos.
Para Arnaldo Corrêa, diretor da Archer
Consulting, 2016 é um ano para as empre-
sas respirarem mais aliviadas. Pedro Mizu-
tani, vice-presidente de Relações Externas e
Estratégia da Raízen, diz que o setor já en-
trou num período de recuperação.
“Muitas empresas que não viam lucro,
hoje têm oportunidade de ter lucro e vol-
CÁ ENTRE NÓS
Capa
Começou!Holofote- Qual o destino das usinas
em recuperação judicial?
Tendências- O mercado de iogurtes no Brasil:
crescendo além da crise
Amigos da Cana- O embaixador de
Rio das Pedras
Economia- Setor terá novos pedidos de
recuperação judicial em 2016?
A Cana e Outras Culturas- Soja em rotação com cana
atribui benefícios ao solo
e ao bolso do produtor
Nordeste- Menor safra dos últimos 30 anos
ÍNDICE
Editores: Luciana [email protected]
Clivonei Roberto [email protected]
Redação: Adair [email protected]
Leonardo [email protected]
MarketingRegina Baldin
ComercialGilmar Messias: (16) [email protected]@canaonline.com.br
Editor gráficoThiago Gallo
Fitotécnico- A cana está entre as culturas que
menos utilizam agroquímicos
Mecanização- Colhedoras
em ação
Tecnologia Industrial- Usinas chegam à capacidade
máxima de moagem
Pesquisa & Desenvolvimento- RIDESA promove intercâmbio
de variedades de cana com
os principais programas de
melhoramento do mundo
Pré-Agrishow- Sonho da Agrishow é voltar a
ter casa cheia e vendas em alta
V EncontroCana Substantivo Feminino- Sucesso!!!
Aproveite melhor suanavegação clicando em:
Áudio LinkFotosVídeo
Entre em contato:Opiniões, dúvidas e sugestões sobre a re-vista CanaOnline serão muito bem-vindas:Redação: Rua João Pasqualin, 248, cj 22
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www.canaonline.com.br
CanaOnline é uma publicaçãodigital da Paiva& Baldin Editora
HOLOFOTE
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pos poderão assumir essas unidades e ou-
tros irão se recuperar ao longo do tem-
po. É o que eu acredito. Estamos vivendo,
como consultoria, um movimento de pro-
cura, por parte de alguns investidores, por
aquisição de unidades que tenham seu
passivo alongado e em boas condições
operacionais, o que diminuiria a necessi-
dade de desembolso imediato na compra.
Mas ainda acho que é preciso muita cau-
tela, pois não dá para medir o real apetite
e condições desses investidores.
Marcos Antonio Françóia,
diretor da MBF Agribusiness
Espaço para concentração
Não sei precisar quantas empresas se
recuperarão de fato e quantos fecha-
rão as portas. A consultoria Agroconsult
revelou dados concretos da redução do
endividamento setorial na safra 2015/16
apesar do crescimento da recuperação ju-
dicial. Deve-se também ressaltar
que a recuperação judicial tra-
ta-se de uma estratégia de re-
negociação e alongamento do
perfil da dívida. Particularmen-
te vejo espaço para cres-
cimento na concentração
do mercado das usinas
diante da perspectiva
de concentração no
mercado de distribui-
ção de açúcar e etanol. Porém, não acre-
dito no retorno imediato dos movimentos
Com preços melhores, não teremos unidades fechando
Há uma confusão nos números divul-
gados pelo mercado. Foram feitos
79 pedidos de recuperação judicial desde
2008. Mas algumas unidades encerraram
suas atividades no meio do caminho, ten-
do a decretação de falência por não cum-
prirem o plano. Outras foram adquiridas
por outros grupos. Mas pedidos na justi-
ça, com concessão para dar seguimento
ao processo, foram 79. Dessas, nem todas
estão moendo. É difícil afirmar quantas se
recuperam, pois não temos detalhes de
todas, após a aprovação do plano. Aque-
las que estão de alguma forma cumprin-
do o plano aprovado e não estão se en-
dividando, fazendo vendas antecipadas
de safra (visto que crédito bancário aca-
ba com o pedido de Recuperação Judi-
cial), terão grandes chances de recupera-
ção com o mercado em alta. As empresas,
desde 2008, que entraram nesse proces-
so, sempre tiveram a expectativa do mer-
cado melhorar, porém algumas não
tiveram fôlego para chegar a
esse momento. As que estão se
mantendo ou que entraram re-
centemente com o pedido, têm
chance maior de recuperação.
Com preços melho-
res, não teremos
unidades fe-
chando, pois
alguns gru-
8 Abril · 2016
de fusão e aquisição diante do ainda ele-
vado endividamento setorial. Prefiro acre-
ditar no crescimento orgânico dos maio-
res grupos, ou seja, via aumento da escala
produtiva das unidades já existentes.
Marco Antonio Conejero, economista
e professor da Universidade
Federal Fluminense (UFF)
Oportunidade de recuperação
Neste momento de melhora dos pre-
ços dos produtos do setor, as empre-
sas têm oportunidade de se recuperarem.
As que não tinham competitividade lá
atrás e fecharam, dificilmente vão se recu-
perar porque não havia condições de fa-
zerem o dever de casa. Já as empresas que
estão aí operando, mesmo com dificulda-
de, mas fizeram o dever de casa, cortaram
custos, melhoraram a tecnologia, se pro-
fissionalizam, vão se recuperar.
E as empresas que estão bem
equilibradas ou bem de cai-
xa vão ganhar muito dinheiro.
Pedro Mizutani, vice-
presidente de Relações
Externas e Estratégia
da Raízen
Precisa ter cana
As empresas que entraram em recu-
peração judicial (RJ) neste ano ou no
ano passado e conseguiram fazer um bom
acordo com os credores de alongamen-
to da dívida, têm em 2016 uma boa opor-
tunidade de fa-
zer caixa. Afinal, é
um momento
delicado para
a empresa.
Nenhum for-
necedor entrega produtos ou serviços
sem que o pagamento seja à vista. Acre-
dito que 2016 e os próximos dois ou três
anos serão bons para o setor. Um período
para quem está em recuperação judicial
se recuperar. O que é possível se tiver boa
gestão e se tiver cana, mas não adianta es-
tar em RJ se não tiver cana, ou se o cana-
vial estiver abandonado. De modo geral,
acredito que este ano será bom para to-
dos do setor, guardadas as limitações do
endividamento. Mas cada empresa em RJ
está numa situação. Se vão se recuperar
de fato ou se vão sucumbir, depende da
situação financeira e de como estiverem
seus canaviais.
Antonio Cesar Salibe, presidente-
executivo da União dos Produtores
de Bioenergia (Udop)
A gestão do negócio
Cerca de 70 usinas estão em recupera-
ção judicial. É um número que vinha
crescendo sistematicamente. Hoje pode
ser maior. Qual será o destino dessas em-
presas? A gestão do negócio é uma condi-
cionante muito importante. Em períodos
de preços relativamente bons e de lucros,
a gestão faz toda a diferença no curto e no
médio prazos. Até o momento, as usinas
HOLOFOTE
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que não conseguiram se recuperar e fe-
charam não fizeram o setor perder em ca-
pacidade de moagem. A redução de pro-
dução de quem sai tem sido substituída
por quem fica. Por outro lado, o ritmo de
crescimento da área de cana atualmen-
te é muito tímido. No curto prazo, o
excesso de cana ou sua falta tem de-
pendido do clima.
Julio Maria M. Borges, economista,
sócio-diretor da JOB
Economia e Planejamento e
professor da Universidade
de São Paulo
O peso dadívida em dólar
É difícil prever o destino das empresas
em RJ, tem que conhecer a situação
de cada uma em especial. Mas com o au-
mento da margem das empresas, podem
eventualmente ter uma situação melhor.
No entanto, é preciso analisar outros im-
pactos do cenário atual, como a questão
do dólar. Com o retorno do Lula ao qua-
dro político, de repente, podemos ter o
acirramento do câmbio, o que piora ainda
mais o endividamento em dólar. E difícil
imaginar que essa pequena recuperação
dos preços possa fazer frente ou reduzir
a pressão do câmbio e o endividamento
em dólar.
Luiz Carlos Corrêa Carvalho,
presidente da Associação
Brasileira do Agronegócio
(ABAG) e diretor da Canaplan
Cada caso é diferente
Não é possível generalizar,
cada caso tem situação
diferente. Mas regra geral
esse patamar atual de pre-
ços começa a gerar condi-
ção de pagamento dos juros
da dívida, mas não mais
do que isso. No momen-
to, não temos avaliação
se novas usinas poderão fechar. Entre 2008
e 2015, 83 unidades fecharam as portas.
Plínio Nastari, diretor da
Datagro Consultoria
20% voltandoao bom caminho
Infelizmente e por uma série de motivos,
o caminho da Recuperação Judicial tem
sido uma via sem volta para muitas das
empresas que recorrem a este expedien-
te. Porém, em alguns poucos casos a com-
binação de alguns fatores, como bom en-
tendimento de controladores sérios com
credores, aliados a uma nova gestão com-
petente, fazem me crer que alguns gru-
pos podem efetivamen-
te voltar a ter uma vida
nova saudável pós
RJ. Arriscaria 20% tal-
vez voltando ao bom
caminho.”
Alexandre
Figliolino,
sócio da MB
Agro Consultoria
HOLOFOTE
11
TENDÊNCIAS
O mercado de iogurtes no Brasil:
crescendo além da crise
Nos últimos anos, o mercado na-
cional de iogurtes cresceu signi-
ficativamente. O principal motivo
foi a maior conscientização das pessoas
sobre a necessidade de hábitos alimenta-
res mais saudáveis. O aumento da difusão
de informações sobre os benefícios nutri-
cionais, aliado ao incremento da qualida-
de do produto, como é o caso de sucesso
do iogurte “grego”, contribuiu significati-
Daniela Coco1 e Ana Palazzo2
Em 2015, embora menor, o crescimento foi de 7,4%
APENAS ENTRE 2010 A 2015, O MERCADO DE IOGURTES QUASE
DOBROU: A RECEITA SAIU DE R$ 7,7 BILHÕES PARA R$ 14,5 BILHÕES
12 Abril · 2016
vamente para o aumento nas vendas no
Brasil. Além disso, o mercado consumidor
brasileiro cresceu muito, principalmente
entre 2002 e 2012. O aumento veio acom-
panhado da elevação da renda média das
famílias e um maior apetite por produtos
funcionais e diferenciados, o que benefi-
ciou diretamente as vendas de iogurtes.
tores, aliados à inflação (que continua em
alta) e o aumento do desemprego, po-
dem contribuir para reduzir o consumo de
produtos considerados de “segunda ne-
cessidade”, como é o caso dos iogurtes
premium. Assim, este setor terá que se re-
adequar a essa nova realidade para man-
ter o crescimento.
Apenas entre 2010 a 2015, o merca-
do de iogurtes quase dobrou: a receita saiu
de R$ 7,7 bilhões para R$ 14,5 bilhões. Em
2015, embora menor, o crescimento foi de
7,4%. Como se sabe, a situação econômi-
ca do país sofreu alterações nos últimos
anos – e mais ainda nos últimos meses –,
afetando a renda da população. Esses fa-
Em momentos de crise econômica,
os consumidores se tornam mais sensíveis
aos preços e podem optar produtos mais
baratos, produzidos por empresas menos
conhecidas ou restringindo o consumo
de marcas “top” aos itens em promoção.
Nesse sentido, pode haver mudanças no
market share do setor, com empresas me-
O leite, que responde por 70% da matéria-prima utilizada, ainda sofre com o baixo padrão de qualidade
TENDÊNCIAS
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14 Abril · 2016
TENDÊNCIAS
nores vendendo mais. Além disso, ações
promocionais, como “Leve 8, Pague 7” e
garrafas com maior quantidade de pro-
duto por preços menores, tem se mostra-
do fundamentais. Isso vale principalmen-
te para supermercados e hipermercados.
Segundo o Euromonitor, 91% das vendas
acontece no varejo, principalmente em su-
permercados e hipermercados. Daí é pos-
sível perceber a importância desses canais
manterem estratégias de venda atraentes.
Uma análise do perfil do consumidor
também pode contribuir para a decisão de
investir ou não no setor. Uma análise váli-
da é comparar o consumo de iogurte no
Brasil com o de outros países: aqui a mé-
dia é de três vezes por semana. O núme-
ro pode ser considerado alto. Mas se torna
pequeno quando compara-se com o con-
sumo em países como a França e a Holan-
da. Nesses países, a taxa per capita é de
sete vezes por semana.
Além disso, o consumo de iogurtes
no Brasil está concentrado nas áreas urba-
nas (98%). A renda parece não pesar tanto,
mas as classes A e B ainda prevalecem na
liderança, segundo a Canadean.
Quanto à faixa etária, os maiores con-
sumidores são bebês, crianças, adolescen-
tes e adultos de 25 a 34 anos. Neste con-
texto, seria interessante a elevação da
participação da população mais velha no
consumo. Iniciativas de marketing que en-
fatizem os benefícios do iogurte para a ter-
ceira idade, como prevenção da osteoporo-
se, doenças cardíacas, entre outros, podem
contribuir para o aumento do consumo.
Além disso, na atual crise, que pres-
O consumo de iogurtes no Brasil está concentrado nas áreas urbanas (98%)
15
O mercado consumidor brasileiro é robusto e possui um amplo espaço para o crescimento do consumo de iogurtes
1Gerente de Agribusiness da PwC Brasil, especialista em Food Trust e na indústria de lácteos
2Analista de Agribusiness do Centro PwC de Inteligência em Agronegócio
siona as margens de lucro, não se pode
descartar a possibilidade de fusões e aqui-
sições – especialmente em um setor pul-
verizado, como é o setor lácteo no Bra-
sil. A boa perspectiva de crescimento, o
câmbio desvalorizado e a matéria prima
barata, atraem investidores nacionais e
estrangeiros. Multinacionais, grandes coo-
perativas e companhias nacionais podem
adquirir negócios menos rentáveis visan-
do expandir seu market share.
A consolidação é uma tendência na
maioria dos mercados pulverizados e, em
alguns casos, aumenta a competição en-
tre as empresas, gerando benefícios para o
setor – e para o consumidor. A concorrên-
cia mais acirrada pode, por exemplo, levar
à melhoria na qualidade da matéria-prima,
já que os laticínios terão que trabalhar a
qualidade do leite produzido nas fazendas
para conseguir inovar com produtos finais
diferenciados e de melhor qualidade.
O leite, que responde por 70% da
matéria-prima utilizada, ainda sofre com o
baixo padrão de qualidade,
altos índices de informali-
dade e adulteração. A con-
solidação do setor de lác-
teos, aliada à adoção de
boas práticas para garantir a segurança do
alimento, pode contribuir para melhorar
toda a cadeia de produção.
Apesar da crise econômica, o merca-
do consumidor brasileiro é robusto e pos-
sui um amplo espaço para o crescimento
do consumo de iogurtes, que até 2020 de-
verá chegar em R$ 18 bilhões, segundo o
Euromonitor. No entanto, as empresas de-
vem estar preparadas para enfrentar os
desafios, se adaptar às mudanças e apro-
veitar as oportunidades que este merca-
do oferece.
16 Abril · 2016
O embaixador de Rio das PedrasDIRETOR TÉCNICO DA UNICA, ANTONIO DE PADUA RODRIGUES É UMA DAS
PRINCIPAIS LIDERANÇAS NACIONAIS DA AGROINDÚSTRIA SUCROENERGÉTICA
Clivonei Roberto
Padua:o rei do peixe
AMIGOS DA CANA
Nos anos de 1950 e 60, não exis-
tiam muitas opções de diversão,
ainda mais nas cidades peque-
nas. Por isso, em Rio das Pedras, na região
de Piracicaba, o que mais se via era a ga-
rotada correr atrás da bola nos campinhos
de futebol. Estar com os amigos e ba-
ter uma bolinha estavam entre os passa-
tempos preferidos da infância do peque-
no Padua, aquele mesmo que hoje é uma
das principais lideranças nacionais do se-
tor sucroenergético. Se quer conversar so-
bre conjuntura, saber de números de sa-
fra, lembrar de histórias do passado, é só
ligar para ele.
Antonio de Padua Rodrigues prati-
17
Estação de trem em Piracicaba - A família de Padua foi morar ao lado da linha do trem
Padua: presença constante nos
momentos históricos do setor
camente nasceu no meio dos
canaviais, em um engenho de
aguardente em Rio das Pe-
dras, onde seus pais trabalha-
vam. Ele inclusive lembra-se
das inúmeras vezes que acom-
panhou sua mãe no trabalho
manual de corte de cana.
Quando tinha dez anos, seu pai de-
cidiu tentar a vida em Piracicaba. A famí-
lia foi morar ao lado da linha do trem, no
centro da cidade, onde seu pai abriu o “Bar
da Estação”. “Foi ali onde cresci. Em Pira-
cicaba, fiz o grupo, o ginásio, sempre aju-
dando meus pais no bar.”
Mas queria o destino que ele voltas-
se a lidar com a cana-de-açúcar. Em 1976
foi contratado como assistente da dire-
toria no escritório central do Planalsucar
(Programa Nacional de Melhoramento de
Cana-de-açúcar), em Piracicaba, aos 24
anos de idade. Sua admissão no Planalsu-
car foi favorecida pela experiência que Pa-
dua já tinha adquirido na elaboração de
projetos e modelos orçamentários. Ele ha-
via trabalhado nessa área na prefeitura de
Rio das Pedras, tendo inclusive feito curso
em Administração de Projetos de Pesqui-
sa pela Universidade de São Paulo (USP).
“Ganhei espaço porque poucas pessoas,
em 1976, conheciam sobre o que eram
programas, projetos, sobre en-
quadramento ao novo modelo
de orçamento.”
Pouco depois, em 1978,
tornou-se responsável pela
área financeira de todos os
18 Abril · 2016
projetos de pesquisa contratados pelo
Planalsucar dentro do Proálcool – tanto na
área agrícola como na industrial.
“Naquele momento o Planalsucar
acabou expandindo suas estações experi-
mentais e quase todos os estados produ-
tores de cana tinham estação experimen-
tal. E eu era o coordenador administrativo
do programa”, relata.
Ele ficou no Planalsucar até 1983.
Junto com outros profissionais que tra-
balhavam no programa, como Luiz Carlos
Corrêa Carvalho, fundou a Canaplan. “Fo-
mos para a iniciativa privada, dando su-
porte em custo e produção para a Sopral e
para a Orplana. Também fizemos o acom-
panhamento e a implantação do progra-
ma de pagamento de cana pelo teor de
sacarose.”
Em 1990, Padua teve a oportunidade
de trabalhar em São Paulo, quando nas-
ceu a Associação das Indústrias de Açú-
car e Etanol – entidade que foi o embrião
da Unica (União da Indústria de Cana-de
-açúcar), onde ocupa atualmente o cargo
de diretor técnico.
Muita história para contar
No seu período de Planalsucar, Pa-
dua atuou ao lado de agrônomos em pro-
jetos de pesquisa e desenvolvimento. Na
Canaplan, entre 1983 e 1990, conviveu
com um time que chegou a ser constituí-
do por seis agrônomos e três técnicos da
AMIGOS DA CANA
Em mais um capítulo importante do setor: no Ethanol Summit ao lado de Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos
19
área industrial. “Com esses profissionais,
trabalhava com planejamento, custos, in-
dicadores agronômicos e industriais.” De-
pois, na Associação de Indústrias e mais
tarde na Unica, manteve uma convivência
diária com as usinas.
E além da experiência e do conheci-
mento, a memória ajuda. Ele lembra, em
detalhes, histórias da sua trajetória no se-
tor e também dos momentos importantes
da agroindústria canavieira no país que
sucedeu o surgimento do Proálcool, em
1975.
Recorda-se, por exemplo, da cons-
trução da Usina Alcoolbras, no Acre. Pela
Canaplan, ele foi o responsável pela mon-
tagem da unidade. Teve que levar uma
equipe operacional de Brasília para fa-
zer a primeira safra em território acreano.
“Montamos um alojamento para 200 cor-
tadores de cana perto da usina, num lu-
gar aberto.” Mas, já na primeira noite, um
problema: alguns dos trabalhadores saí-
ram para fazer suas necessidades, quando
deram de cara com uma onça. “Ninguém
se machucou, mas todos ficaram assusta-
dos. Quiseram voltar no mesmo dia para
casa.” Para acalmá-los, teve que entrar em
ação o seu lado político: “ao invés de co-
meçar a safra no dia seguinte, fizemos um
Sempre antenado às práticas sucroenergéticas
20 Abril · 2016
Religioso: ao lado da família durante a missa
grande churrasco”, conta
Padua, que também partici-
pou da implantação da usi-
na em Presidente Figueire-
do, no Amazonas.
Ao longo dos últimos
40 anos, ele sempre teve
uma convivência grande com o setor pelo
país afora. “Garanto que mais de 60% de
todas as unidades em operação no país
hoje, de açúcar e etanol, algum dia eu visi-
tei, inclusive no Nordeste.”
Mercado maduro
Hoje, aos 63 anos, Padua tem uma
trajetória que se confunde com o proces-
so de expansão e profissionalização do se-
tor sucroenergético brasileiro.
Acompanhou de perto vários mo-
mentos da atividade. Tanto a efervescên-
cia que veio após a criação do Proálcool,
o surgimento do carro dedicado a etanol,
em 1978, e um ciclo de depreciação dos
preços do petróleo que se iniciou em 1985
e estagnou a oferta de etanol no país.
Depois veio o processo de desregu-
lamentação do setor, promovido pelo en-
tão presidente Fernando Collor. “Aquilo
deu uma guinada no setor, abrindo para as
exportações de açúcar, que antes eram co-
mandadas pelo governo. Ele praticamente
liberou os preços do açúcar no mercado
interno.” Segundo Padua, o setor voltou a
crescer a partir da expansão de produção
e das exportações de açúcar. O embarque
de açúcar do país deu um salto, passando
AMIGOS DA CANA
Bater uma bolinha é sagrado e seu time do coração é o São Paulo
21
de 1 milhão de toneladas para cerca de 25
milhões atualmente.
Para Padua, o fim do IAA (Institu-
to do Açúcar e do Álcool) não foi traumá-
tico para o setor. “A passagem de preços
administrados para uma realidade de mer-
cado foi muito saudável. Ao se desamar-
rar do governo, o setor deu um salto de
qualidade.”
No entanto, no início dos anos 90,
continuava estancada a produção de eta-
nol – crescia a participação do anidro e re-
duzia a do hidratado. Mas esse mercado
ganhou novo impulso no início dos anos
2000, com o lançamento dos carros flex.
De acordo com Padua, hoje o mer-
cado do setor sucroenergético está madu-
ro. “O que matou o setor foi a política go-
vernamental inadequada que veio depois
de 2008.”
Em sua opinião, as demais crises
que o setor enfrentou foram “bravas”, mas
sempre com perspectivas positivas. O que
não se pode dizer da crise que o setor en-
frentou nos últimos anos.
Bocha, dobradinha e...
muita união
Padua casou-se em 1978, e teve dois
filhos, Felipe e Francine. Sempre com uma
vida corrida, cheia de viagens e reuniões
nos mais diferentes lugares do país, so-
mente conseguia estar em casa com a fa-
mília aos finais de semana. “Mas quem
A pescaria é um capítulo à parte na vida de Padua
22 Abril · 2016
Outra paixão é o automobilismo: aqui com o filho Felipe no Prêmio Brasil de Fórmula 1
AMIGOS DA CANA
cuidou do dia a dia dos filhos e da casa
foi minha esposa, Cecília Rossi Rodrigues,
que foi um esteio nessa trajetória, uma
grande parceira.”
Hoje Padua fica em São Paulo de se-
gunda a quinta-feira. Mas quando chega
a sexta, é dia de arrumar as malas e vol-
tar para o interior. Uma de suas maio-
res paixões é se encontrar com os ami-
gos de infância, da época que morava em
Rio das Pedras - as mesmas pessoas com
quem Padua dividia os campinhos de fu-
tebol. “Todos estão com mais de 60 anos.
É um grupo de amigos com poder aqui-
sitivo diversificado, de atividades profis-
sionais variadas. Mas na hora do encontro,
não há diferenças. A questão é que, como
não aguentamos mais correr atrás da bola,
nosso prazer agora é jogar bocha e depois
jantamos juntos.”
Mas quem cozinha? Normalmente
Padua é um dos que pilotam o
fogão. No cardápio, pratos que
não são nada light: “faço ar-
roz, feijão, ovo frito, mas o que
a turma gosta mesmo é de do-
bradinha, feijoada, rabada com
polenta, rabada com ossobuco”.
Padua e seus amigos chegaram a
fundar o Clube de Veteranos de Rio das
Pedras. “Compramos uma área de 60 mil
metros quadrados, onde fizemos um con-
domínio com 22 lotes. Nesse terreno, re-
servamos uma área para a sede social,
para o campo de futebol, para a cancha
de bocha.”
Ao encontrar a turma, o que vale
mesmo é a convivência. É recordar os ve-
lhos tempos. Mas, de vez em quando, a
saudade do passado extrapola a recorda-
ção e o preparo físico: ele e os amigos ar-
riscam bater uma bolinha aos sábados à
tarde.
A grande paixão
Sempre que consegue arrumar uma
brecha na agenda, Padua também se de-
dica a outro hobby: a pescaria. “Tenho um
grupo de amigos que, no mínimo uma vez
23
por ano, viaja pra pescar.” Um dos lugares
preferidos é lançar o anzol nas águas do
Rio Paraguai.
Para 2016, a pescaria será no Rio Xin-
gú, no Pará. “Para essa viagem, montamos
um grupo de 16 pessoas de Piracicaba.”
Nessas pescarias, Padua já não quer
muita aventura. “Como faremos no Xingú,
prefiro ficar numa pousada própria para
receber o pescador, com toda infraestru-
tura.” E no final da tarde, é hora de bater
papo, contar vantagem, e ouvir os causos
que sempre o pescador tem para contar.
“Mas quando estou em Piracicaba,
gosto de curtir as minhas ‘latas-velhas’”.
É como ele chama a sua coleção de car-
ros antigos. São cerca de 30 veículos, entre
Fusca, Karmann Ghia, Impala, Aero Willys,
ônibus escolar americano, caminhões que
foram usados pelo Exército - “que comprei
em leilão”, diz -, entre outras preciosidades.
Todos estão em ótimo estado. “Vez
ou outra saio andando com eles por Pi-
racicaba ou vou até Rio das Pedras, onde
sempre faço uma visita muito especial.”
Na terra natal, Padua aproveita para
rever a maior de suas paixões. “Tenho a sa-
tisfação de todo final de semana ir até a
casa de minha mãe, que está com 86 anos
de idade, para tomar um cafezinho com ela.”
Mãe e filho saboreiam um bom vinho
Duas paixões:a netinha e veículos antigos
24 Abril · 2016
ECONOMIA
A crise no setor sucroenergético
tem forçado muitas empresas, de
toda a cadeia produtiva, a usarem
os recursos da Lei de Falência e Recupe-
Setor terá novos pedidos de recuperação judicial em 2016?
* Marcos Antonio Françóia
ração de Empresas (N°. 11.101/05), para
que muitas vezes, como última alternativa,
consigam se manter no mercado.
Essa atitude, considerada radical, foi
Em sua grande maioria, os administradores das empresas tentaram em vão renegociar essa dívida
ATUALMENTE SÃO COMPUTADOS 79 PEDIDOS DE
RECUPERAÇÃO JUDICIAL (RJ), DESDE O ANO DE 2008
25
induzida pelo endividamento histórico do
setor, que teve uma sobrecarga a partir do
ano de 2006, quando muitos fizeram in-
vestimentos acreditando na bandeira le-
vantada pelo governo federal de apoio
ao combustível limpo e alternativo, o eta-
nol. Esse contexto expansionista levou ao
consecutivo aumento dos custos de pro-
dução (bens de capital, insumos e mão de
obra). O aumento da demanda fez abai-
xar os preços dos produtos finais e toda
essa evolução negativa forçou as empre-
sas a deixarem de investir. A crise se tor-
nou ainda maior com a restrição de libera-
ção de crédito a partir de 2008, problemas
climáticos e, principalmente, a indefinição
nas políticas públicas.
Em sua grande maioria, os adminis-
tradores das empresas tentaram em vão
renegociar essa dívida, pedindo por um
período de carência, alongamento do pra-
zo de pagamento, redução nas taxas de
juros e flexibilização nas garantias, tudo o
que as instituições financeiras não querem.
A contragosto, algumas instituições
até cederam nas questões de prazo, entre-
tanto, isso foi insuficiente para a retomada
econômica dos beneficiados. Além disso,
o alongamento do prazo de pagamen-
to da dívida foi parcial, pois nem todos os
credores aceitaram as novas condições, le-
vando as empresas mais rapidamente ao
colapso operacional.
Atualmente são computados 79 pe-
didos de Recuperação Judicial (RJ), desde
o ano de 2008. Esse número é de unidades,
independente de quantas fazem parte de
um grupo ou outro. Também, independe
A crise no setor sucroenergético tem forçado muitas empresas, de toda a cadeia produtiva, a usarem os recursos da Lei de Falência e Recuperação de Empresas
26 Abril · 2016
ECONOMIA
da capacidade de moagem, se pouca ou
muita. São 79 indústrias processadoras de
açúcar ou etanol, ou ambos.
Esse número veio se acumulando
durante os anos, sendo 15 unidades em
2008, 18 em 2009, 34 no período entre
2010 e 2014, e 12 no ano de 2015.
O que sustenta o pedido de Recupe-
ração Judicial é o pressuposto de que o
mercado tenda a melhorar (conceito oti-
mista) e o empreendimento, alongando
o pagamento de seu passivo, consiga se
manter operacional, com manutenção do
emprego e suas atividades sociais.
Partindo desse pressuposto, todos
os planos econômicos tiveram a premis-
sa de que haveria uma melhora no mer-
cado de açúcar e etanol, fato que somen-
te se confirmou a partir do final de 2015,
e com boas tendências para os próximos
anos. Diante disso, muitas empresas fica-
ram no meio do caminho pois não tive-
ram condições de honrar com as premis-
sas aprovadas na assembleia de credores.
Algumas foram adquiridas por outros gru-
pos e outras, faliram.
A questão que toma corpo no mo-
mento é se, com a estimativa de melho-
ra da rentabilidade do setor, a empresa em
processo de RJ tem mais chance de recupe-
ração e se ocorrerão novos pedidos de RJ.
Entendo que sim, pois as chances de
recuperação aumentam, principalmente
para as empresas que vem, mesmo com
dificuldades, cumprindo as metas estabe-
lecidas no plano de recuperação judicial e
não estão se financiando em venda ante-
cipada de safra, lembrando que o crédito
bancário para essas empresas inexiste.
Quanto a ter novos pedidos, acho
isso possível, pois a falta de crédito ainda
é fato e independente de sinais positivos
do mercado, o nível de endividamento das
empresas continua alto e os balanços e o
cadastro, cada vez piores, inviabilizando no
curto prazo novas fontes de financiamen-
to. Ou esses grupos se ajeitam com os cre-
dores, conseguindo alongamento e revisão
nas taxas de juros, ou a recuperação será
uma alternativa para a sobrevivência, que,
diferente dos anos que precederam, terão
planos econômicos mais consistentes devi-
do à sinalização positiva do mercado.
“Quanto a ter novos pedidos, acho isso possível”, diz Marcos Antonio Françóia, diretor da MBF Agribusiness
27
28 Abril · 2016
A CANA E OUTRAS CULTURAS
Soja em rotação com cana atribui benefícios ao solo e ao bolso do produtor
CIRCUITO TECNOLÓGICO DE SOJA, PROMOVIDO PELA
COOPERCITRUS DE RIBEIRÃO PRETO, SP, EM PARCERIA COM A
VALAGRO, REUNIU MAIS DE 50 CANAVIEIROS E SOJICULTORES
Visitas em lavouras de soja em ponto de colheita
Com o intuito de apresentar os be-
nefícios e resultados da reforma
de cana consorciada com a cultu-
ra da soja, a Coopercitrus de Ribeirão Pre-
to, em parceria com a Valagro, realizou, no
dia 12 de fevereiro, o Circuito Tecnológi-
co de Soja. Dividido em dois momentos, o
evento reuniu cerca de 50 produtores de
29
cana no auditório do Shopping Rural, para
presenciarem palestras técnicas e, poste-
riormente, visitarem um circuito de plantio
de diferentes variedades de soja em pro-
priedades de cooperados.
O RTC da Coopercitrus de Ribeirão
Preto, João Valdir Sverzut Junior, explica,
de forma técnica, as vantagens do inves-
timento em soja. “O aumento da camada
vegetal otimiza a infiltração de água no
solo, diminuindo a ocorrência de erosões.
Outra vantagem é o aumento do teor de
matéria orgânica, que favorece o desen-
volvimento de bactérias fixadoras de ni-
trogênio, importantes para as plantas que,
sozinhas, não conseguem fazê-la. A fixa-
ção do N contribui para a diminuição da
contaminação do solo e das águas do len-
çol freático, reduzindo ou evitando o uso
de fertilizantes e diminuindo os gastos
com as culturas subsequentes. O aumen-
to da massa vegetal, bem como dos orga-
nismos decompositores, gera uma maior
utilização dos gases presentes na atmos-
fera, promovendo a diminuição dos gases
de efeito estufa.”
Quanto às vantagens para os produ-
tores, João Valdir fala sobre a amortização
do custo dos insumos em detrimento dos
investimentos do plantio da cultura suces-
sora, além de ser uma commodity de óti-
ma aceitação no mercado e uma opção
melhor entre os cereais feijão e amendoim
por ter ciclo menor, preço fixo no merca-
do externo, condições de armazenagem e
genética evoluída.
Segundo ele, alguns produtores que
não querem parar o plantio de cana, mas
que necessitam reciclar o solo, acabam
utilizando a soja como adubação verde.
Palestras técnicas também fizeram parte da programação do Dia de Campo
Apoio
30 Abril · 2016
“A decomposição dessas plantas no solo
gera aminoácidos. É uma adubação bara-
ta, feita geralmente quando a cana é co-
lhida tarde. Para quem almeja conservar o
solo e plantar cana rapidamente, investe
nesse processo”.
Em cinco anos, na Coopercitrus de
Ribeirão Preto, o cadastro de áreas de co-
operados que plantam soja saltou de 9
mil para 42 mil ha. Gerente de sementes
da Coopercitrus, Gustavo de Moraes Bor-
ges explanou sobre a estrutura do depar-
tamento de grãos da cooperativa, com-
posta por UBS (Usina de Beneficiamento
de Sementes) credenciada pelo MAPA (Mi-
nistério de Agricultura, Pecuária e Abas-
tecimento), que produz sementes de soja
e feijão beneficiadas e de alta qualidade;
tem laboratório de análise de germinação
e vigor; realiza a compra da produção de
soja, milho e café dos cooperados, a pre-
ços competitivos; oferece apoio técnico na
lavoura e apoio comercial para que o coo-
perado decida o momento oportuno para
negociar a sua produção.
O gerente focou o serviço de tro-
ca de grãos, uma opção de os coopera-
dos realizarem troca de suas produções de
soja, milho ou café, ou parte dela, como
moeda para a aquisição dos bens neces-
sários à condução da lavoura, como in-
sumos, máquinas, implementos e demais
produtos. “Nos últimos dois anos a troca
de grãos tem ganhado muita força na coo-
perativa. Em outros estados é a modalida-
de de compra mais forte para os produto-
A CANA E OUTRAS CULTURAS
A Coopercitrus produz sementes de soja e feijão beneficiadas e de alta qualidade
31
res, por auxiliar na aquisição de produtos
e maquinários”.
Sobre a importância da qualidade
das sementes para a produtividade, Gus-
tavo ressalta: “Não adianta ter um bom
preparo de solo e investir nas melhores
tecnologias, se não utilizar uma boa se-
mente em campo”.
O engenheiro agrônomo da Coo-
percitrus, Aloisio Ravagnani Dias, minis-
trou palestra sobre as vantagens na asso-
ciação do plantio de soja na rotação de
cana. “Esse é um ano bom, com clima fa-
vorável e bons preços, quem não estiver
fazendo rotação de culturas, deve come-
çar a fazer” e recomenda para quem quer
adiantar o plantio de cana, aplicar o sis-
tema de meiosi com mudas pré-brotadas.
Variedades demonstradas
O coordenador de sementes da Coo-
percitrus, Daire Carlos da Silva, ressaltou a
importância de os produtores conhecerem
os Estádios Fenológicos da Planta, que au-
xiliam no manejo e no atendimento técni-
co da cooperativa. “Tendo conhecimento
dos estádios fenológicos, há mais pratici-
dade em avaliar as necessidades nutricio-
nais e de manejos de pragas e doenças.
Quando a soja está em R1, o produtor já
sabe que não deve fazer o uso de herbici-
das, pois pode haver abortamento das flo-
res e prejudicar o crescimento da planta;
quando está em R5 começa o enchimen-
to de grãos, havendo necessidade de con-
trolar percevejos e aplicar, quando neces-
sário, potássio para maior peso e tamanho
dos grãos; quando chega em R8 é a hora
da colheita”.
Atualmente, a Coopercitrus traba-
lha com 17 variedades de soja, sendo 7
da marca Monsoy, 5 Nidera e 5 Syngenta.
Em cinco anos, na Coopercitrus de Ribeirão Preto, o cadastro de áreas de cooperados que plantam soja saltou de 9 mil para 42 mil ha
Apoio
32 Abril · 2016
Na segunda parte do evento, os produto-
res puderam conferir os resultados da im-
plantação de variedades de soja em pro-
priedades de cinco cooperados da filial de
Ribeirão Preto: Rosely Bonvicini - Sitio São
Pedro, variedade M 5947 IPRO; Mário Ser-
gio Rossi - Sitio São Miguel, variedades M
5947 IPRO e M 7110 IPRO; Anna Helena
Tinoco Cabral Lima - Fazenda Sta. Helena,
variedades M 6410 IPRO e BMX PONTÊN-
CIA RR; Vinicius Jacomini - Fazenda Sto.
Antonio - variedade M 6410 IPRO; e To-
maz de Aquino Lima Pereira - Fazenda Sta.
Catarina, variedade NS 7209 IPRO.
“Todos os convidados são agriculto-
res canavieiros que, na sua rotatividade,
plantaram variedades de soja da Cooper-
citrus, estão interagindo entre eles, co-
nhecendo áreas em comum de variedades
distintas e vendo a performance do com-
portamento delas entre diferentes solos,
ambientes de produção, altitudes, mane-
jos, para ver as respostas entre elas. A Va-
lagro tem sido nossa parceira e diretriz na
A CANA E OUTRAS CULTURAS
Na Coopercitrus, os cooperados realizam troca de suas produções de soja, milho ou café, ou parte dela, como moeda para a aquisição dos bens necessários à condução da lavoura
33
área nutricional, em condicionamento de
elementos de fertilidade. O intuito nos-
so é fazer com que o produtor permaneça
no campo, produza e se subsidie com sua
produção, que diversifique, amplie seus
conhecimentos, além de haver interação
entre eles”, explica João Valdir.
Resultados pré-colheita
Muito satisfeito com seu plantio de
soja na Fazenda Santa Helena, o coope-
rado Luiz Odilon Tinoco Cabral Lima, em
uma área de reforma de 72 ha, realizou o
recolhimento de palha da cana e um pre-
paro de solo convencional para o plantio
de soja. “Fizemos uma experiência de re-
colhimento de palha na área de reforma,
onde a Coopercitrus foi nossa parceira,
nos fornecendo o equipamento e a expe-
riência de seus técnicos. Neste ano, pre-
tendemos dar continuidade a esta parce-
ria. Vendemos 200 toneladas de palha ao
valor de R$ 90/t. A tradição da família era
o arrendamento e, para nós, o plantio de
soja está sendo satisfatório, pois tivemos
um ano excelente de chuvas, condição cli-
mática fantástica e estou achando que te-
remos uma produtividade muito boa.”
Luiz Odilon salienta que a vantagem
da soja é que se pode sulcar direto, sem
novo preparo de solo. Além disso, há a fi-
xação de nitrogênio como adubação or-
gânica e as folhas que ficam na lavoura se
decompondo são um adicional de nutrien-
tes. “Estamos muito satisfeitos, os técnicos
da cooperativa são extremamente compe-
tentes e nos acompanharam o tempo in-
teiro na cultura.”
A meiosi com cana e soja é outra prática que cresce no setor
Apoio
34 Abril · 2016
Menor safra dos últimos 30 anos
A safra 2015/16 da cana nordesti-
na foi bastante afetada pelo fenô-
meno climático El Niño. Ele aque-
ce as águas do Oceano Pacífico e provoca
muita chuva na região Sul do Brasil e seca
no Nordeste. Este fenômeno já é consi-
derado um dos maiores da história. Com
isso, deve haver uma redução de 11 mi-
lhões de toneladas de cana no Nordes-
te relacionada à safra anterior. Estima-se
apenas 51 milhões de toneladas na safra
atual, diferente das 62 milhões de tonela-
das de cana da produção anterior.
Em Pernambuco, por exemplo, que
é o segundo maior estado produtor do
NE, haverá uma redução de 20% da atu-
al safra em comparação à passada. A safra
2015/2016 ainda não terminou, mas deve
produzir apenas 12 milhões de toneladas
de cana. Este quantitativo representa, in-
felizmente, a menor safra dos últimos 30
anos no estado.
Já em Alagoas, maior estado produ-
tor de cana do NE, a redução será mais
drástica. Haverá um déficit de 8 milhões
de toneladas em comparação à safra ante-
rior. Prevê-se uma produção só de 15 mi-
lhões, o que é bem abaixo das 23 milhões
da safra 2014/15.
Este El Niño, de fato, tem sido um
dos mais fortes, influenciando para baixo
os índices pluviométricos no Nordeste. A
chuva ficou bem abaixo da média histó-
rica no período do desenvolvimento dos
O CICLO 2015/16 NO NORDESTE DEVERÁ TER UMA REDUÇÃO DE 11 MILHÕES
DE TONELADAS DE CANA EM FUNÇÃO DA SEVERIDADE DO FENÔMENO EL NIÑO
NORDESTE
Canaviais do Nordeste são castigados pela seca
AFC
P
35
canaviais. Também ficou assim durante o
início da moagem nos meses de outubro,
novembro e dezembro, quando não cho-
veu praticamente nada. A situação provo-
cou a mortalidade de boa parte da soca da
cana, que não brotou.
Um pouco de alento chegou no mês
de janeiro de 2016, mas não devido ao El
Niño. A chuva voltou na região devido ao
sistema meteorológico Vórtice Ciclôni-
co, que é responsável por chuva somente
quando a sua borda fica estacionada so-
bre o continente. Foi isto que aconteceu e,
graças a Deus, voltou a chover no Nordes-
te, com muita chuva. Para se ter noção, só
em janeiro choveu 245% a mais que a mé-
dia histórica do período.
Preços
Outro bom momento para o se-
tor canavieiro da região diz respeito aos
bons preços do açúcar, álcool e da maté-
ria-prima. O preço do açúcar quase do-
brou de valor. Chegou a R$ 100 este ano.
Ele era comercializado em média a R$ 60
em 2015. Iguais valores são observados na
positiva variação do preço da tonelada de
cana (subiu de R$ 60 para R$ 100). O álco-
AFC
P
Alexandre Andrade Lima: “Em Pernambuco haverá uma redução da produção de 20% da atual safra em comparação à passada”
36 Abril · 2016
ol hidratado saiu de R$ 1,30 (sem impos-
tos) para R$ 2,00.
Todavia, apesar dos bons preços, in-
felizmente não existe mais matéria-pri-
ma para fornecer às usinas em função
dos terríveis efeitos da seca sobre a safra.
Além disso, os produtores de cana convi-
vem com grandes dificuldades financei-
ras em decorrência da falta de pagamen-
to da cana por parte de algumas usinas da
região.
Para a próxima safra, há perspectivas
da manutenção dos bons preços pratica-
NORDESTE
Grande parte da socaria morreu
AFC
P
Em Alagoas, maior estado produtor de cana do NE, a redução será mais drástica
37
dos hoje. O cenário deriva da continuação
do déficit de açúcar no mercado mundial.
Porém, há preocupação com os preços in-
ternacionais do petróleo, os quais estão
bem baixos. É preciso que o governo fe-
deral mantenha a atual política do preço
de petróleo em longo prazo, não acom-
panhando os preços do mercado mundial.
Mas, se ele baixar o valor da gasolina, a
ação interferirá nos preços do açúcar e da
cana, porque, consequentemente, amplia
a concorrência com o etanol, reduzindo
seu consumo e incentivando a produção
maior de açúcar, o que acarreta efeitos ne-
gativos aos mercados.
Contudo, diante da difícil conjuntura
política/institucional e econômica vivida
no Brasil, é improvável que o governo bai-
AFC
P
xe o preço da gasolina em consonância ao
mercado internacional do petróleo. A hi-
pótese se fundamenta com base nos refle-
xos financeiros negativos que a ação des-
dobraria sobre o caixa da Petrobras.
Portanto, baixar o valor da gasolina é
uma iniciativa equivocada e não deve ser
adotada. Além disso, existe ainda toda vi-
sibilidade da ação diante da conjuntura de
desdobramentos da operação Lava Jato,
da Justiça e Política Federal, que investiga
muita corrupção na empresa.
Alexandre Andrade Lima,
presidente da AFCP (Associação
dos Fornecedores de Cana de
Pernambuco) e da Unida (União
Nordestina dos Produtores de Cana)
38 Abril · 2016
Segundo previsão da UNICA,até o final de março cerca de120 empresas entraram em operação
39
Começou!A SAFRA CANAVIEIRA 2016/17 TEM
INÍCIO, OFICIALMENTE, EM 1º DE
ABRIL. A EXPECTATIVA É QUE SEJA
A SAFRA DA RETOMADA DO SETOR
40 Abril · 2016
Asafra da esperança! O ciclo
2016/17 de cana-de-açúcar já co-
meçou à todo vapor, antes mes-
mo do mês de abril, trazendo consigo a
expectativa de uma temporada de recu-
peração, depois de vários anos cinzentos.
Ao analisar todos os fundamentos e cená-
rios do setor, o economista Marco Anto-
nio Conejero, professor da Universidade
Federal Fluminense (UFF), acredita na re-
cuperação no curto prazo, mas a atividade
ainda carece de uma perspectiva de lon-
go prazo. “Bom seria ter uma priorização
do etanol e da bioenergia de cana na ma-
triz energética, reduzindo nossa vulnera-
bilidade à cotação do açúcar no mercado
internacional e à estratégia de recupera-
ção da Petrobras.”
Para ele, a retomada de curto prazo
está centrada em dois fatores fundamentais:
1) Recuperação de preços, sobretu-
do do açúcar (crescimento de 36% na sa-
fra passada);
2) Desvalorização do real frente ao
dólar (queda de 48%).
“A desvalorização também contri-
bui para que o açúcar brasileiro recupere
a sua competitividade frente aos demais
países concorrentes. Dados da Datagro re-
velam que enquanto o custo médio de fa-
bricação de açúcar no Brasil gira em torno
de 13 centavos de dólar por libra-peso, na
Tailândia, fica em 16,5, e na Austrália, em
18,1”, afirma Conejero.
O setor está na
contramão do tsunami
“Sou obrigado a dizer que o setor su-
croalcooleiro vive um momento constran-
gedoramente bom, levando-se em consi-
deração o restante da economia, no que
tange a preços e demanda”, pondera Ale-
xandre Figliolino, sócio da MB Agro Con-
sultoria. Para ele, a atividade canavieira
está na contramão do tsunami que o Bra-
sil enfrenta. “Mas o setor é extremamen-
te assimétrico e a situação grave que atin-
ge inúmeros grupos ainda demandará um
Clivonei Roberto
Conejero acredita na recuperação do setor no curto prazo
CAPA
41
tempo enorme para ser resolvida, embora
em alguns casos a situação seja insolúvel.”
Figliolino aponta a situação mais po-
sitiva do setor a alguns fatores: dólar valo-
rizado em relação ao real, mudanças tribu-
tárias que atingiram o etanol em relação à
gasolina, e ao atual momento do mercado
mundial de açúcar que, após cinco anos
de superávit, enfrenta seu primeiro ano de
déficit. Mas ele alerta que a previsão de
queda de consumo no ciclo Otto (5%) no
Brasil, devido à recessão econômica, não é
uma boa notícia para o etanol.
Boa expectativa de preços
Segundo Marco Antonio Françóia,
diretor da MBF Agribusiness, em termos
de preços, as expectativas são muito boas
para as próximas safras. Ele estima que os
preços dos produtos do setor se mante-
nham mais remuneradores por três anos
seguidos. “Todavia, estimar algo no Brasil
está complicadíssimo devido à crise políti-
ca e econômica.”
Diante do mercado, acaba sendo
muita especulação fazer previsões. Afinal,
há o risco do petróleo se manter em baixa,
o que pressiona o preço da gasolina para
baixo, mas na outra ponta há os amargos
prejuízos da Petrobras sustentando o pre-
ço da gasolina mais alto. “Além disso, os
consumidores parecem não olhar mais
a questão de economia no tanque, mas
o quanto gastam na hora de abastecer,
quanto sai do bolso. Nessa linha, o consu-
mo do etanol vai se mantendo.”
Se no mercado brasileiro de combus-
tíveis existe a possibilidade de diminuição
do consumo do etanol hidratado, por ou-
tro pode haver desvio da produção para
açúcar. Caso isso aconteça, “podemos ter
Figliolino: “o setor sucroalcooleiro vive um momento constrangedoramente bom”
Françóia estima que os preços dos produtos do setor se mantenham mais remuneradores por três anos seguidos
42 Abril · 2016
uma margem menor nesse segundo pro-
duto, mas continuará com boas margens.
Só o tempo para definir. Por isso que digo
que planejar no Brasil requer sangue frio e
muito conhecimento”.
De qualquer forma, os fundamen-
tos do preço do açúcar são bons. Na aná-
lise de Françóia, a quebra da safra mundial
de cana-de-açúcar eleva as estimativas de
preço e ganha quem tem produto e está
melhor estruturado economicamente.
Açúcar e etanol
Segundo a Datagro, ao final da sa-
fra 2015/2016 haverá um déficit global de
4,37 milhões de toneladas de açúcar, pu-
lando para 7,64 milhões de toneladas na
safra 2016/2017 devido a problemas cli-
máticos registrados na Índia. Inclusive, al-
gumas usinas indianas já pararam por falta
de cana e desestímulo de preços.
Marco Fava Neves, professor da FEA/
USP (Faculdade de Economia, Adminis-
tração e Contabilidade da Universida-
de de São Paulo), destaca que boa par-
te das consultorias projeta 34 milhões de
toneladas de produção de açúcar no Bra-
sil em 2016/17. “Espera-se um incremen-
to de até 5 milhões de toneladas na pro-
dução da commodity no Brasil e cerca de
60% já foi vendido, aproveitando o preço
e o câmbio.”
Outro componente importante no
mercado internacional do açúcar em 2016
deverá ser a contestação brasileira na Or-
ganização Mundial do Comércio (OMC) da
política açucareira da Tailândia, que é o
segundo maior exportador, atrás do Bra-
sil. “Seus subsídios aos produtores inter-
ferem muito negativamente no comércio
mundial.”
Para Fava Neves, o fato de as usi-
nas terem feito hedge de açúcar em gran-
des volumes deve aliviar a queda de pre-
ços do etanol no início da safra. Em 2015
chegaram a R$ 1,15/l e neste ano não de-
vem cair de R$ 1,5/l. “Temos que obser-
var neste ano qual será o comportamento
de consumo do usuário da frota flex com
o preço atual.” O hidratado ocupou cerca
de 30% em 2015 (cada ponto representa
algo como 300 milhões de litros). “Porém,
vivemos provável mudança de comporta-
mento: mesmo acima dos 70%, as vendas
Fava Neves: “Espera-se um incremento de até 5 milhões de toneladas na produção de açúcar no Brasil”
CAPA
43
de etanol hidratado de novembro a janei-
ro foram 10% maiores que no mesmo pe-
ríodo anterior. As vendas de gasolina ca-
íram 9,3%, segundo a Agência Nacional
de Petróleo, Gás Natural e Biocombustí-
veis. Pode ser que os consumidores es-
tejam preferindo uma compra que tenha
menor desembolso ou o etanol vem con-
quistando preferência”, analisa o professor
da FEA/USP.
Doce commodity
Na safra 2016/17, Arnaldo Corrêa,
diretor da Archer Consulting, acredita que
os preços do açúcar em centavos de dó-
lar por libra peso melhorem consideravel-
mente, mas os preços em reais por tone-
lada podem não necessariamente seguir
o mesmo ritmo. “Isso porque hoje o dó-
lar tem componente político grande. Por
exemplo, com sinalização para o merca-
do de mudança do governo, podemos ter
a queda do dólar, e assim os investido-
res lá fora ficam mais confortáveis. A taxa
de câmbio tenderá a cair e, consequente-
mente, poderá haver uma subida de pre-
ços em Nova York, porém não necessaria-
mente na mesma proporção”, explica.
Para Corrêa, 2016 é um ano para as
empresas respirarem mais aliviadas. “Não
é ano para todos saírem comemorando,
mas temos melhor perspectiva.”
O endividamento das empresas é
um grande peso. A dívida do setor, hoje,
é de cerca de R$ 92 bilhões. “Grande par-
te é fruto da política que o governo imple-
mentou desde 2005. Durante muito tem-
po o setor produziu e vendeu hidratado
abaixo do custo de produção.” De acor-
do com os cálculos de Corrêa, nos últimos
dez anos, considerando a curva de preço
do hidratado x custo de produção, “vemos
que por mais de 35% do período essa cur-
va de preço ficou abaixo do custo de pro-
dução. Ou seja, imagine uma empresa que
durante 35% do tempo vendeu seu produ-
to abaixo do custo de produção?”
A perda do setor durante os últimos
seis anos, em que a remuneração esteve
abaixo do custo de produção, representou
um prejuízo de R$ 465 milhões.
Corrêa: 2016 é um ano para
as empresas respirarem
mais aliviadas
44 Abril · 2016
Safra recorde
“Esta será uma safra
recorde”, aposta o econo-
mista Julio Maria Borges,
professor da USP e diretor da Job Eco-
nomia. “O clima chuvoso ajudou muito a
produção de cana. A matéria-prima dispo-
nível para moagem poderá ter um acrésci-
mo entre 30 e 50 mi tc.”
Na opinião de Borges, o setor não
tem perdido capacidade de moagem. A
redução de produção de quem sai tem
sido substituída por quem fica. Por outro
lado, o ritmo de crescimento da área de
Borges: “os novos investimentos dependem
de maior clareza da economia e da política”
Preços do açúcar em alta adoçam o caixa das usinas
CAPA
45
cana atualmente é muito tímido. “No cur-
to prazo o excesso de cana ou sua falta
tem dependido muito do clima.”
Para ele, no médio e no longo pra-
zos, novos investimentos virão pois o Bra-
sil é muito competitivo em âmbito mun-
dial e vai aproveitar as oportunidades dos
mercados. “Mas os novos investimentos
dependem de maior clareza da economia
e da política. Seja no Brasil, seja no resto
do mundo.”
Novo ânimo
Na visão de Alexandre Figliolino,
os novos patamares de preço do açúcar
e etanol trouxeram ânimo novo ao setor.
A desvalorização cambial, o crescimento
do consumo de etanol hidratado em ou-
tro nível de preço, aliado a uma safra re-
corde, com as produtividades pelo me-
nos em termos de TCH voltando aos níveis
históricos, são fatores que trazem um âni-
mo maior ao setor depois de quatro anos
muito difíceis.
“Com isso, devemos ter duas coisas
que normalmente não andam juntas: bons
preços e elevada produção. O açúcar deve
crescer entre 2 e 3 milhões de toneladas e
um ligeiro acréscimo na produção de eta-
nol também deve ser observado, mas a sa-
fra sem dúvida virá com um mix mais açu-
careiro”, analisa Figliolino.
De acordo com ele, haverá uma me-
lhora significativa no resultado operacio-
nal das empresas que estão com canaviais
produtivos e custos razoavelmente enxu-
tos e que vêm sabendo tirar bom provei-
to das boas oportunidades de fixação de
preços que os mercados de açúcar e dólar
têm possibilitado.
“Estas empresas vão ter oportunida-
de, depois de muito tempo, de gerar cai-
xa livre para reduzir seu nível de alavan-
cagem. Porém, temos que considerar que
um grupo expressivo de empresas do se-
tor, seja pelo nível elevado de endivida-
mento ou por estarem desestruturadas
operacionalmente, ou ambas as coisas
juntas, não vão conseguir sair da situação
difícil que se encontram.”
Figliolino lembra que o custo do di-
nheiro está pelas alturas, quando dispo-
nível, já que o crédito está extremamente
escasso, contribuindo para agravar ainda
Mizutani: o setor sucroenergético brasileiro já entrou num período de recuperação
46 Abril · 2016
mais a situação. “Isso nos faz pensar todos
os dias em mecanismos possíveis para evi-
tar que uma parte importante do setor vá
por água abaixo, o que implicaria em ele-
vadas perdas para todos os envolvidos.”
A retomada já é real
Para Pedro Mizutani, vice-presidente
de Relações Externas e Estratégia da Raí-
zen, o setor sucroenergético brasileiro já
entrou num período de recuperação. “So-
fremos nos últimos cinco anos. Mas hoje a
combustíveis cada vez mais não está fa-
zendo a conta dos 70% na comparação
entre etanol e gasolina. “Acho que ele
está tendo o princípio da sustentabilida-
de, da energia renovável também na ca-
beça. É lógico que o preço ainda é dife-
rencial. Mas se a cada ano que passa uma
porcentagem da população acreditar que
o etanol é mais sustentável, e decidir pa-
gar um pouco mais por isso, ou na condi-
ção de igualdade de preço colocar etanol,
já é grande vitória pra gente.”
Pena que a bioeletricidade não está
nesse mesmo bom momento. “Mas não dá
pra gente agarrar tudo também. A chuva
favoreceu muito a produtividade da cana.
Nossos produtos principais são açúcar e
etanol. E se quando falta água a bioeletri-
cidade tem preço alto, por outro lado per-
demos produtividade na cana-de-açúcar.
Mas sabemos que este vai ser um ano do
açúcar e do etanol. A eletricidade vai ser
um adicional.”
Para ele, nesse momento de melhora
da remuneração dos produtos da agroin-
dústria canavieira, as empresas que esti-
verem bem equilibradas ou bem de caixa
vão ganhar muito dinheiro.
Embora várias usinas tenham parali-
sado as operações, Mizutani destaca que
a quantidade de cana moída está sendo a
mesma. “As usinas que ficaram estão mais
fortalecidas. A capacidade ociosa dessas
usinas foi preenchida. Isso dá mais com-
petitividade para as usinas que ficaram.”
desvalorização cambial nos favorece, traz
competitividade ao açúcar, e outro ponto
favorável é quanto ao etanol. Com a ga-
solina nos níveis que está, o etanol repre-
sentando 70%, 75% do preço da gasolina,
é muito bom.”
Em sua opinião, o consumidor de
Salibe: Para as usinas bem financeiramente, essa é safra que o preço remunera o custo
CAPA
47
Também para Antonio Cesar Salibe,
presidente executivo da Udop (União dos
Produtores de Bioenergia), a safra 2016/17
é a da retomada. “Será o ciclo de mudan-
ça de humor do setor. Nesse ano devere-
mos ter resultados bons tanto em produ-
ção como em produtividade, com bons
preços finais para a venda do açúcar.”
É suficiente? Para as usinas bem fi-
nanceiramente, essa é safra que o preço
remunera o custo. “Mas para quem está
carregado de dívidas, não tem melho-
ra de preço de produto que consiga pa-
gar. Quem está com muito endividamento,
esta também será uma safra problemáti-
ca”, frisa Salibe.
Capacidade no limite
Com a crise que vem afetando o setor
sucroenergético nos últimos anos, muitas
unidades fecharam as portas ou pediram
recuperação judicial (RJ). O país chegou a
ter mais de 430 usinas, mas, desde 2008,
79 unidades entraram em recuperação ju-
dicial (RJ) e 83 tiveram suas operações pa-
ralisadas. Somente no estado de São Pau-
lo atualmente existem 23 unidades em RJ.
Com o fechamento de tantas unida-
des industriais nos últimos anos e com o
aumento da quantidade de cana-de-açú-
car disponível, notadamente por conta do
clima favorável em 2015 e início de 2016,
não haveria o risco de, neste ano, haver
Padua não acredita que novas usinas
sejam paralisadas ao longo da
safra 2016/17
Mercado comenta que a Usina Santa Rita, em Santa
Rita do Passa Quatro, SP, volta a moer nesta safra
48 Abril · 2016
“cana demais para indústria de menos?”
Para os especialistas, esse não é (pelo
menos não ainda) um problema que o se-
tor tem pra enfrentar no momento. “Não
acredito que temos cana demais. O que
temos é unidades que absorveram cana
de unidades desativadas ou que não estão
honrando com os compromissos com os
fornecedores de cana, que transferem a ti-
tularidade da matéria-prima”, diz Françóia.
No entanto, essas usinas com maior
capacidade de absorção de cana ficam
no risco do clima. Segundo ele, a safra
2015/16 apresentou um número, ainda a
se confirmar, de 30 milhões de toneladas
de cana bisada (volume que para outros
especialistas pode ter chegado a 50 mi-
lhões). “Mas não é porque não havia fábri-
ca, mas sim porque havia concentração de
cana em muitas unidades e o clima não fa-
voreceu a moagem.”
Além disso, Françóia acredita que
unidades desativadas voltem a operar.
“Talvez nessa próxima safra ainda não,
mas na seguinte, com a tendência de pre-
ços melhores, isso pode acontecer.”
Antonio de Padua Rodrigues, diretor
técnico da Unica (União da Indústria da
Cana-de-açúcar), não acredita que novas
usinas sejam paralisadas ao longo da safra
2016/17. Ao contrário. “Já se comenta no
mercado que a Usina Santa Rita pode vol-
tar a processar cana, embora seja uma in-
formação ainda não confirmada. Além dis-
so, uma usina nova em Goiás deverá fazer
sua primeira safra.”
Além disso, ele aponta a necessida-
de de as usinas com capacidade ociosa
expandirem sua produção para ganharem
musculatura diante das dificuldades finan-
ceiras. “Uma usina com capacidade de 2
milhões moendo 1 milhão não vai ter ge-
ração de caixa para melhorar de situação.
Tem que otimizar a fábrica, atingir boa
gestão de custos, precisa realizar vendas
bem feitas.”
Mas esse cenário de capacidade de
produção no limite pode ocasionar novos
investimentos na capacidade industrial,
Surge a esperança de que mais usinas desativadas voltem a moer nas próximas safras
CAPA
49
considerando que há demanda e preços
animadores?
“Acredito que sim, voltam os investi-
mentos, mas ainda bem lentamente”, opi-
na o diretor da MBF. “O mercado precisa
sentir com firmeza essa tendência de me-
lhora. Não dá para conviver com as ques-
tões econômicas e políticas do Brasil e
ter tranquilidade para a tomada de deci-
são. Uma simples ameaça ao governo faz
o dólar cair e influencia todo o mercado”,
completa.
Figliolino reconhece que a paralisa-
ção de várias unidades ou mesmo aquelas
que estão moendo em situação precária
torna muito desafiador moer uma gran-
de quantidade de cana, como a que es-
tará disponível no ciclo 2016/17. Por isso,
ele concorda que será necessária uma sa-
fra longa, além de um clima favorável para
permitir moer as 620 milhões de tonela-
das, que é o volume que ele prevê para o
Centro-Sul nesta safra.
Segundo Plínio Nastari, diretor da Da-
tagro Consultoria, um total de 353 usinas
vão moer no Centro-Sul na safra 2016/17.
A recuperação não
depende só de preços
Luiz Carlos Carvalho, diretor da Ca-
naplan e presidente da ABAG (Associação
Brasileira do Agronegócio), não tem tanta
clareza de que há um cenário de retoma-
da do setor. “Eu não diria que está em re-
cuperação. A safra 2016/17 dá indicativos
de preços melhores do que na safra ante-
rior, mas depende de uma série de fatores,
e não somente de preços melhores.”
O setor vive um momento de expec-
tativa de preços melhores, mas não espe-
tacularmente melhores, segundo ele. “Para
as empresas com problemas financeiros, é
difícil imaginar que essa pequena recupe-
ração de preço possa fazer frente ou redu-
zir a pressão do câmbio e o endividamen-
to em dólar.”
Na visão de Carvalho, a capacidade
instalada da indústria de cana-de-açúcar
já está no teto. “Nas regiões onde a cana
de uma usina que fechou pode ser moída
por uma unidade vizinha, tudo bem, o im-
pacto fica amenizado, mas nem sempre é
assim ou será assim.”
Carvalho: O setor vive um momento de expectativa de preços melhores, mas não espetacularmente melhores
50 Abril · 2016
Para Carvalho, “no nosso caso há
processo de redução de capacidade por
redução de investimento e deterioração
financeira das empresas por falta de hori-
zonte na questão política”.
Segundo ele, o setor sucroenergéti-
co mostra os seus limites justamente num
momento em que está sendo pressiona-
do por questões macroeconômicas e pelo
endividamento em que se encontram vá-
rias unidades. “A tendência desse setor é
de estagnação e até de redução, a não ser
que as coisas mudem.”
Retorno dos investimentos
Padua comemora a melhor conjun-
tura do setor. “Muitas empresas que não
viam lucro, hoje têm oportunidade de
ter lucro e voltar a pagar seu imposto de
renda.”
Para ele, esta é uma safra que traz
um novo ânimo renovado, induzindo as
empresas a investirem numa boa manu-
tenção industrial, na frota, na reforma, de-
pois de anos de cenário negativo.
No entanto, Padua aponta que ain-
da não há uma sinalização de longo pra-
zo. No final de 2015, na COP-21, em Pa-
ris, o governo brasileiro demonstrou total
apoio aos combustíveis renováveis, proje-
tando a necessidade de produção de 50
bilhões de litros de etanol até 2030. Para
isso, novas usinas teriam que ser constru-
ídas. “Mas ainda não se criou regras que
permitam atingir esse objetivo. Sem criar
essas regras, sem segurança, é evidente
Esta é uma safra que traz um novo ânimo ao setor, induzindo as empresas a investirem numa boa manutenção industrial
CAPA
51
que o Brasil não vai atingir essas metas.”
Ao analisar a conjuntura atual do setor e
do Brasil, Padua afirma que o cenário é de
estabilidade e não de volta da expansão.
Para asfaltar um ambiente de maior
confiança e atratividade para novos in-
vestimentos, Plínio Nastari também alerta
para a premência de políticas públicas es-
táveis, de longo prazo, que deem previsi-
bilidade ao negócio.
Na visão de Conejero, na falta de uma
perspectiva clara de priorização do setor
na estratégia de governo, os investimen-
tos em novas unidades não devem voltar.
“Os prováveis investimentos serão relacio-
nados à manutenção industrial anual típi-
ca e na renovação de canaviais.” Segundo
ele, os investimentos passados em capaci-
dade de cogeração de energia não devem
se repetir na safra atual em função da que-
da do preço do MWh. “Ademais, os gru-
pos que dispõem de mais de uma unidade
podem ainda decidir por expandir a capa-
cidade de unidades mais rentáveis com o
fechamento de unidades menores e pou-
co rentáveis.”
Já Figliolino relata que pequenos in-
vestimentos, com custo baixo por unida-
Produção de cana só sairá de 600 milhões para 800 milhões de toneladas de cana se houver incentivo governamental
52 Abril · 2016
de de acréscimo de produção, estão vol-
tando a acontecer, principalmente porque
o fechamento de unidades e o aumento
de produtividade tem aumentado signi-
ficativamente a oferta de cana com dimi-
nuição da competição por matéria-prima.
“São situações que eu chamo de consoli-
dação silenciosa com crescimentos de uns
e enxugamento de outros, e mais ligadas
a pequenos investimentos voltados a des-
travar gargalos de produção e que têm
alta taxa de retorno. É o máximo que o
atual momento político, econômico e cre-
ditício permite.”
Ao falar de futuro, Mizutani acredi-
ta que só haveria um novo ciclo de cres-
cimento, saindo de 600 milhões para 800
milhões de toneladas de cana, se houves-
se incentivo governamental, com a inser-
ção do etanol na matriz energética. “Por-
que nenhum empresário vai investir só por
causa desse boom de preços por 2 ou 3
anos. Precisa ter um horizonte mais a lon-
go prazo.”
Fusões e aquisições
Françóia acredita que podem ha-
ver movimentos de fusões e aquisições,
mas isso vai tomar força mais para mea-
dos da nova safra, por meio da confirma-
ção dos resultados positivos que o merca-
do estima.
Para Conejero, há espaço para cres-
cimento na concentração do mercado das
usinas diante da perspectiva de concen-
tração no mercado de distribuição de açú-
car e etanol. Porém, ele não acredita no re-
torno imediato dos movimentos de fusão
e aquisição diante do ainda elevado en-
dividamento setorial. “Prefiro acreditar no
crescimento orgânico dos maiores grupos,
ou seja, via aumento da escala produtiva
das unidades já existentes.”
Os números da safra
Para Françóia, a safra 2016/17 será
longa. Vai começar mais cedo, como é o
caso de algumas usinas que iniciaram em
março, sem contar as unidades que vão
emendar uma safra na outra, sem nenhum
intervalo de entressafra. “O ciclo terminará
mais tarde também, pois a quantidade de
Maior consumo de etanol, apesar da redução do consumo de combustível no país, também é animador
CAPA
53
54 Abril · 2016
cana bisada foi alta. Isso para as empre-
sas que têm capacidade de adquirir cana
de terceiros e também um canavial pró-
prio mais estável.”
Conejero relata que a Agroconsult
e a Copersucar acreditam em um cresci-
mento de 3% da safra 2016/17 em relação
à safra passada, uma evolução para algo
em torno de 680 milhões de toneladas de
cana no Brasil, sendo 625 milhões de to-
neladas no Centro-Sul. Isso deve contri-
buir para o crescimento da produção de
açúcar, mas não de etanol.
Já a consultoria Kingsman aposta em
uma produção de 35,12 milhões de tonela-
das de açúcar (crescimento de mais de 10%)
e 27,3 milhões de litros do biocombustível
(estável em relação à 2015/16). Ou seja, o
mix deve crescer para açúcar (44,20%).
“A dúvida está ainda no comporta-
mento das chuvas durante a safra e quan-
to isso irá impactar na moagem das usinas
e no resultado final do ATR em kg/ tonela-
da de cana. Por exemplo, o tempo chuvo-
so em março/2016 frustrou a expectativa
de antecipação do início da próxima safra
para muitas unidades”, diz Conejero.
Para a safra 2016/17, Padua espera
um volume de produção semelhante ao
da safra 2015/16. “Ou seja, poderemos ter
entre 615 e 620 milhões de toneladas de
cana.”
O grande diferencial de 2016 é a ex-
pectativa de preços melhores para os pro-
As chuvas em 2015 deixaram as usinas
55 dias sem moer
CAPA
55
dutos do setor. “Todos trabalham com o
cenário de que nessa safra o preço será
melhor do que na passada na ordem de
13% a 14%.”
Como não deverá haver mudança
significativa no volume de cana moída, e
também não houve investimento na capa-
cidade de processamento, de modo geral,
o que vai dimensionar o tamanho da safra
será o aproveitamento de moagem no de-
correr do ciclo, lembra Padua.
Plínio Nastari, diretor da Datagro
Consultoria, também aposta em um volu-
me de cana moída em 2016/17 semelhan-
te ao do ciclo anterior. Ele espera um rendi-
mento em Kg de ATR um pouco melhor na
nova safra, porque deve ser um ano com
menor intensidade de chuvas, em particu-
lar no segundo semestre. “Não é suficien-
te para gerar um retorno de investimentos
em expansão de capacidade de moagem.
Já investimento em canavial, em mecani-
zação, continua, mas expansão da capaci-
dade de moagem não é viável ainda.”
Já a Archer Consulting prevê para o
ciclo 2016/17 o processamento de 618,5
milhões de toneladas de cana no Centro-
Sul. “Desse número, estamos falando em
34,4 milhões de toneladas de açúcar, o que
representa aproximadamente acréscimo
de 3% no volume de cana em relação à sa-
fra anterior, além de 27,5 bilhões de litros
de etanol”, diz o diretor da consultoria.
Ele também acredita que haverá a re-
dução do ATR pelo quarto ano consecu-
tivo, como consequência da expansão da
colheita mecanizada no Centro-Sul.
Na opinião de Corrêa, o ciclo 16/17
pode começar ainda sob forte influência
do clima. “Acredito que vamos ter muita
chuva ainda neste ano, no começo da co-
lheita, e isso trará atrasos. Por isso, há uma
percepção do mercado de que a disponi-
bilidade de açúcar que se esperava para
Plínio Nastari aposta em um volume de cana moída em 2016/17 semelhante ao do ciclo anterior
abril/maio não deverá ocorrer.” O mercado
acredita que a safra no Centro-Sul começa
com problemas por conta do clima. Outro
fator que poderá influenciar neste ano po-
derá ser a isoporização dos canaviais, mas
pode estar cedo para afirmar isso.
Equívocos políticos
Além de torcer para que o clima este-
56 Abril · 2016
ja favorável para o produtor agrícola, o fa-
tor político-governamental também tende
a influenciar na recuperação do setor.
E bem que o governo e a política po-
deriam começar a jogar a favor de um se-
tor que é tão importante para o país. Por
equívocos governamentais, segundo Cor-
rêa, o setor deixou de vender cerca de R$
50 bilhões de litros de hidratado nos últi-
mos seis anos. “Se analisarmos o quanto
deixou de crescer, o quanto perdeu de re-
ceitas ao longo dos últimos governos, per-
demos cerca de R$ 100 bilhões, que é mais
ou menos o tamanho da dívida do setor.”
Apesar do cenário turbulento no
país, de crise política e econômica, o setor
sucroenergético tenta manter o diálogo
com o governo federal, segundo Mizuta-
ni. “Sempre temos conversado, mas o Bra-
sil atravessa fase difícil, e não só o setor
sucroenergético. Por isso não adianta es-
perar que o governo faça por você. Temos
que fazer a nossa parte.” Ele confia que a
situação política do Brasil vai destravar,
“mas o empresário não pode ficar espe-
rando resolver isso para produzir. O obje-
tivo do empresário sério é produzir inde-
pendente da política existente”.
E a largada da safra 2016/17 já foi
dada. Há muitas variáveis em jogo, mas
é possível dizer que as expectativas são
favoráveis.
Florescimento de cana, que eleva a isoporização, poderá influenciar a atual safra
CAPA
57
Leonardo Ruiz e Luciana Paiva
Quando bem utilizada, aplicação aérea possui risco zero para pessoas ou ambientes e efetividade de 100% para as pragas
A QUANTIDADE DE AGROQUÍMICO POR HECTARE UTILIZADA NA CULTURA
CANAVIEIRA ATENDE AOS PADRÕES INTERNACIONAIS ESTABELECIDOS
PARA AS REGIÕES TROPICAIS, SEM NOTIFICAÇÃO DE IMPACTOS
A cana está entre as culturas que menos utilizam agroquímicos
FITOTÉCNICO
Embora a área agricultável brasilei-
ra tenha permanecido praticamente
a mesma ao longo dos últimos dois
anos, a venda de defensivos agrícolas em
2015, quando comparada a 2014, regis-
trou forte queda, que beira 22%, segun-
do balanço disponibilizado pelo Sindiveg
– Sindicato Nacional da Indústria de Pro-
VIT
OR
RA
MO
S
58 Abril · 2016
dutos para Defesa Vegetal.
Essa redução acabou, ainda, por pu-
xar para baixo o mercado global, que caiu
cerca de 9,8% no mesmo período. Após
um período de crescimento de cinco anos,
essa foi a primeira vez na década que esse
mercado sofre com variação negativa de
vendas.
De acordo com o Sindiveg, a desvalo-
rização do Real, o contrabando, que atinge
até 20% das vendas de defensivos agríco-
las no Brasil, e a dificuldade de obtenção
de linhas de crédito rural por parte dos
agricultores, que afeta o fluxo de compra
dos mesmos e leva ao aumento dos esto-
ques da indústria e canais de distribuição,
estão entre os motivos que levaram a esse
cenário no Brasil. “A questão do crédito e a
inadimplência no campo preocupa o setor
significativamente. Por conta dessa condi-
ção, a indústria acaba financiando quase
70% das vendas aos agricultores”, afirma
a vice-presidente executiva do Sindicato,
Silvia Fagnani.
Do montante total de defensivos
agrícolas vendidos no Brasil em 2015, a
esmagadora maioria (52%) foi destinada a
cultura da soja. Em segundo lugar vem a
cana-de-açúcar e o milho, com 10% cada.
Para se fazer uma comparação, em 2014,
enquanto no Brasil a soja investiu 6,7 bi-
lhões de dólares em defensivos, a cana
gastou 1 bilhão de dólares.
O Professor Associado 3 e pesquisa-
dor da Universidade de São Paulo (USP),
Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” (ESALQ), Pedro Jacob Christoffo-
leti, explica que, por conta de seu ciclo pe-
Sindiveg – Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal
Sindiveg – Sindicato Nacional daIndústria de Produtos para Defesa Vegetal
FITOTÉCNICO
59
Christoffoleti explica que, por conta de seu ciclo perene, a cana-de-açúcar utiliza um número menor de pulverizações de defensivos agrícolas
pécies de plantas daninhas
que infestam os canaviais
brasileiros e que causam
grandes prejuízos caso não
sejam combatidas. Estima-
tivas apontam que, depen-
dendo do nível de infestação, a produção
pode ser reduzida em até 85%. “Outros
métodos conhecidos de controle dessas
ervas, como o manual, mecânico e o pre-
ventivo, são usados em complemento ao
controle químico, porém, se isolados, ne-
cessitam de ser usados mais de uma vez
no mesmo ciclo da cultura, pois possuem
eficiência limitada. Isso faz com que o cus-
to-benefício seja desvantajoso.”
Entre as moléculas de herbicidas mais
utilizadas em cana-de-açúcar, sejam elas
isoladas ou em associação, destacam-se
o Tebuthiuron, Diuron, Ametryn, Metribu-
zin, Isoxaflutole, Amicarbazone, Clomazo-
ne, Sulfentrazone, Hexazinone, Flumyzin,
Diclosulan, Imazapyr, Imazapic, S-Meto-
lachlor, Mesotrione, Glyphosate, MSMA e
Paraquat. “Porém, não há como dizer qual
o herbicida mais utilizado, já que a reco-
mendação é feita em função da flora da-
ninha presente no canavial, aliada a época
rene, a cana-de-açúcar utiliza um núme-
ro menor de pulverizações de defensivos
agrícolas do que as culturas anuais, que,
devido a seus ciclos curtos, conseguem
cultivar, em média, 2,5 vezes por ano. “Se
somarmos a carga de agroquímicos utili-
zadas nas aplicações múltiplas dessas cul-
turas e compararmos com o uso em cana,
o nível geral por hectare acaba sendo
menor.”
Herbicida é o mais utilizado
na cultura canavieira
No geral, os inseticidas continuam
sendo a classe mais comercializada de
defensivos. Porém, na cana-de-açúcar, o
grande destaque são os herbicidas. Para
o pesquisador do Instituto Agronômico
(IAC), de Campinas, da Secretaria de Agri-
cultura e Abastecimento do Estado de São
Paulo, Carlos Alberto Mathias Azania, isso
ocorre, pois existe uma ampla gama de es-
60 Abril · 2016
do ano em que a aplicação é realizada, as
características físico-químicas do produto
e a textura do solo.”
Com relação à quantidade de aplica-
ção, o pesquisador explica que ela é va-
riada, pois cada molécula tem uma dose
específica recomendada em bula. “Entre-
tanto, em solos arenosos e médios, utili-
zam-se doses menores. Já em solos argilo-
sos, é recomendável uma dose um pouco
maior.”
Melhoramento genético e
controle biológico reduzem o
uso de inseticidas, acaricidas
e fungicidas na cana
A agricultura brasileira desenvolve o
maior programa de controle biológico do
mundo e o professor do Laboratório de
Biologia de Insetos do Departamento de
Entomologia e Acarologia da Escola Supe-
rior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/
USP), José Roberto Postali Parra, destaca
a cultura canavieira como a principal res-
ponsável por esse feito. “A Cotésia, que é
utilizada para o controle da broca na fase
de lagarta, é liberada em mais de três mi-
lhões de hectares. Outros 500 mil hectares
recebem a Trichogramma galloi para con-
trole da broca na fase de ovo. E em mais
de dois milhões de hectares com cana são
utilizados inseticidas à base do fungo Me-
tarhizium anisopliae para o controle da ci-
garrinha-da-raiz (Mahanarva fimbriolata).”
Parra observa que na cultura da soja,
o fungo Trichoderma harzianum é utiliza-
Na cana-de-açúcar, os herbicidas são a classe mais comercializadade defensivos devido à ampla gama de espécies de plantas daninhas
FITOTÉCNICO
61
do em mais de cinco milhões de hecta-
res para controlar o mofo branco, doença
causada pelo fungo Sclerotinia sclerotio-
rum. Porém, proporcionalmente, o con-
trole biológico na cana com o uso da Co-
tesia é maior, pois na safra 2014/2015 a
soja ocupou uma área de 31,57 milhões de
das e acaricidas seja muito baixo na cul-
tura canavieira. O excelente desempenho
do controle biológico, observa Menten,
incentivou até mesmo as Multinacionais
de agroquímicos a investir no desenvolvi-
mento de produtos biológicos.
Entre os defensivos, na cultura cana-
vieira os menos utilizados são os fungici-
das, pois, segundo Menten, no controle de
doenças da cana, o principal aliado do se-
tor são as pesquisas de melhoramento ge-
nético, que desenvolvem variedades resis-
tentes às doenças.
Tecnologia de aplicação
Para o pesquisador do Instituto Agro-
nômico (IAC), de Campinas, da Secretaria
de Agricultura e Abastecimento do Esta-
do de São Paulo, Hamilton Humberto Ra-
mos, a tecnologia de aplicação de defen-
sivos em cana-de-açúcar encontra-se em
níveis tão evoluídos como em outras cul-
turas tecnicamente desenvolvidas, como
soja e milho. Segundo ele, a diferença se
encontra em qual a tecnologia mais viável
para cada situação. “O uso de pulveriza-
dores automotrizes com grande tamanho
de barra e altas velocidades, por exem-
plo, é possível em regiões planas de cer-
rado. Porém, são menos viáveis em áreas
pequenas, curtas e com declividade mais
acentuada, como as encontradas nas regi-
ões canavieiras de Ribeirão ou Piracicaba.”
Já o gerente técnico e de regula-
mentação estadual da Andef (Associação
Para Azania, o custo-benefício é a grande vantagem da aplicação de herbicidas sobre as outras formas de controle de plantas daninhas
hectares, e a cana nove milhões, dos quais
a terça parte recebeu controle biológico.
De acordo com o José Otávio M. Men-
ten, Coordenador do Curso de Engª Agro-
nômica, Dep. de Fitopatologia e Nemato-
logia, LFN - ESALQ/USP, o sucesso desse
controle faz com que o uso de insetici-
62 Abril · 2016
Nacional de Defesa Vegetal), Luís Carlos
Ribeiro, afirma que as tecnologias de apli-
cação no Brasil são excelentes, porém, é
preciso incentivar o uso correto das mes-
mas. “Nosso país possui uma das mais ri-
gorosas regras de registro de defensi-
vos agrícolas do mundo. No entanto, o
que precisamos investir é na educação de
quem abre a tampa do produto”.
Segundo Ribeiro, a Andef tem traba-
lhado incansavelmente na educação dos
produtores para que não haja intoxicação
por mau uso ou por uso abusivo. “Pos-
suímos diversos programas educacionais
que trabalham pesado a conscientização
do produtor rural, como cursos e palestras
sobre aplicação segura e correta de pro-
dutos agrícolas”.
Um deles é o CAS (Certificação Aero-
agrícola Sustentável), fruto de uma parce-
ria entre a Andef, FEPAF (Fundação de Es-
tudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais) e
SINDAG (Sindicato Nacional das Empresas
de Aviação Agrícola), tendo como entida-
des coordenadoras a Universidade Estadu-
al Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/
UNESP-Botucatu), a Universidade Federal
de Lavras (UFLA) e a Universidade Federal
de Uberlândia (UFU). Luís Carlos Ribeiro: “Precisamos investir na educação de quem abre a tampa do produto”
DIV
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AN
DEF
Em 2014, o total de defensivos utilizados pela cultura canavieira (inseticida, fungicida, acaricida e herbicida) foi de 68 mil toneladas
63
O programa é um sistema voluntá-
rio de certificação para aplicadores aére-
os, cujo principal objetivo é incentivar a
capacitação e a qualificação de empresas
de aviação agrícola e de operadores ae-
roagrícolas privados. O enfoque primário
do processo é o aprofundamento do con-
ceito de responsabilidade e sustentabili-
dade das operações de aplicação de de-
fensivos por via aérea, visando melhorias
na qualidade das pulverizações e redu-
ção de riscos de impacto ambiental des-
tas atividades.
De acordo com o gerente técnico da
Andef, o CAS foi criado devido à utilização
cada vez maior da aplicação aérea de de-
fensivos agrícolas nas culturas brasileiras,
principalmente na cana-de-açúcar que,
devido a sua altura, impossibilita a entra-
da de maquinário agrícola. Embora ainda
vista com olhos negativos pela população,
que acreditam que o processo pode ser
perigoso para a saúde humana, a aviação
agrícola, quando bem utilizada, possui ris-
co zero para pessoas ou ambientes e efe-
tividade de 100 para as pragas.
O setor está dentro do padrão
aceitável internacional de
uso de defensivos químicos
O uso adequado de agroquímicos é
uma das exigências no quesito sustenta-
bilidade e também no processo de certi-
ficação, que ganha corpo no setor sucro-
energético. Menten relata que no Brasil, a
cana é uma cultura altamente tecnificada,
o que contribui para a aplicação correta,
tanto que a cana não tem apresentado re-
gistros de resíduos de agroquímicos.
O pesquisador informa que, em 2014,
o total de defensivos utilizados pela cultu-
ra canavieira (inseticida, fungicida, acari-
cida e herbicida) foi de 68 mil toneladas,
que divididos pelos 9 milhões de hectares
de cana cultivados no país, a média é de
7,5 quilos por hectare de cana, o que equi-
vale a 3 quilos de princípio ativo por hec-
tare. Há culturas que utilizam 15 quilos de
princípio ativo por hectare. “Não podemos
esquecer que estamos em uma região tro-
pical, com maior incidência de pragas, do-
enças e plantadas daninhas, não temos a
neve que é um excelente controlador na-
tural. Então, este número de 3 quilos/ha
está dentro do padrão aceitável interna-
cional. Mas para que acultura se mantenha
nesse padrão, incentivamos a aplicação
correta, a dose certa e o manejo integrado
de pragas (MIP)”, diz Menten.
Menten: incentivo à aplicação correta, à dose certa e ao manejo integrado de pragas (MIP)
64 Abril · 2016
MECANIZAÇÃO
Com o corte mecanizado a colheita, da cana emendou o dia com a noite
65
Colhedoras em ação
DESDE A CHEGADA DA PRIMEIRA COLHEDORA DE
CANA AO BRASIL, ESSAS MÁQUINAS “GIGANTES”
EVOLUÍRAM MUITO, MAS ESPECIALISTAS
ALERTAM PARA A NECESSIDADE DE MAIS
MELHORIAS, COMO NO CORTE DE BASE
66 Abril · 2016
Clivonei Roberto
Quando as primeiras colhedoras
de cana começaram a circular
pelos canaviais do Brasil, ainda
na década de 1960, havia certo ceticismo.
Muitos não entendiam os benefícios que
esta máquina gigante, que pesa cerca de
20 toneladas, poderia trazer para o siste-
ma de processamento da cana-de-açúcar.
Mas isso mudou a passos largos nos últi-
mos dez anos. Elas já fazem parte da ro-
tina dos canaviais do Centro-Sul do país.
Tanto que o nível de mecanização da co-
lheita no estado de São Paulo – maior es-
tado produtor de cana-de-açúcar do país
– já ultrapassa os 90%.
É unanimidade que as colhedoras
vieram pra ficar e que evoluíram ao lon-
go dos anos, porém alguns especialistas
apontam para a necessidade de evolução
do sistema completo de colheita mecani-
zada – inclusive da máquina. Algo impor-
tante tanto para a qualidade das opera-
ções, como para o bolso do produtor.
Na opinião de Sidnei João Bortolo-
zzo, engenheiro agrônomo, consultor e
coordenador do Gmec (Grupo de Moto-
mecanização do Setor Sucroenergético),
o desempenho das atuais colhedoras de
cana é bastante satisfatório. “Evoluiu bas-
tante no quesito da limpeza da cana, no
consumo de combustível e na produção
diária. Temos usinas colhendo uma média
de 600 t de cana/dia por colhedora e usi-
nas que até superam esta média.”
Para se avaliar adequadamente o de-
sempenho de uma colhedora de cana, Bor-
tolozzo sublinha que é preciso levar em
consideração alguns pontos que influem
diretamente na performance da máquina,
que são os seguintes:
- dimensão do talhão,
- presença ou não de árvores,
- preparo do solo e do plantio,
- topografia,
- produtividade da matéria-prima,
- dimensionamento correto da frota
de colheita e de transporte,
- se está colhendo uma ou duas li-
nhas de cana, e
- a qualidade da operação.
“Quando falamos de desempenho, é preciso aliar o quanto a máquina produz, com a qualidade e o consumo de combustível”, diz Bortolozzo
MECANIZAÇÃO
67
Pontos a aperfeiçoar
O presidente do Gmec salienta que
desde as primeiras máquinas que come-
çaram a cortar os canaviais brasileiros até
hoje, os equipamentos passaram por aper-
feiçoamentos relevantes em vários pontos,
como no sistema hidráulico, no ângulo
ce o esforço dos fabricantes de colhedoras
que buscam, a cada dia, disponibilizar me-
lhorias que permitam operar com melho-
res índices de eficiência e produtividade.
“Porém, precisamos de mais tecno-
logias, principalmente aplicadas ao au-
to-ajuste das condições instantâneas da
dos “pirulitos”, melhoria da cabine, do sis-
tema de arrefecimento do motor, do sis-
tema de limpeza da cana, além da substi-
tuição dos motores diesel – questão que é
pauta de muita discussão.
O engenheiro mecânico Edimilson
Gomes Leal, gerente de Manutenção Auto-
motiva da Usina Ferrari, também reconhe-
colheita, adequando os parâmetros de re-
gulagens que resultem em operação mais
econômica, independente das ações do
operador”, diz Leal, que também aponta
a necessidade da oferta de funcionalida-
des que facilitem a operação, como sin-
cronismo automático entre colhedora e
transbordo, funções repetitivas acionadas
Primeira colhedora de cana brasileira, desenvolvida pela Santal na década de 1960, cortava cana queimada
68 Abril · 2016
por um toque etc. “Há que se considerar a
aplicação nas colhedoras de cana de tec-
nologias disponíveis em equipamentos de
outras culturas”, acrescenta.
O gerente de Manutenção Automoti-
va da Usina Ferrari cita ainda a necessida-
de de ações que permitam a redução dos
custos operacionais, melhoria da servicibi-
lidade com ganhos substanciais de dispo-
nibilidade mecânica e redução de perdas,
oferecendo equipamentos que possam
ser operados eficientemente, em diferen-
tes condições de colheitabilidade, produ-
tividade do canavial e topografias.
Também para Bortolozzo, a colheita
mecanizada ainda não atende em 100% a
expectativa de usinas e produtores. “O se-
tor anseia por equipamentos mais resis-
tentes, com menor grau de complexida-
de e que ajude a proporcionar redução no
custo da manutenção”, salienta.
Bortolozzo cita alguns pontos que
ainda necessitam de atenção por parte
dos fabricantes:
- rever o conceito da caixa de bom-
bas (caixa de 4 furos),
- o sistema de limpeza dos toletes de
cana pode ser melhorado,
- o corte de base necessita ser revis-
to com urgência (“este é um anseio enor-
me das usinas”),
- redimensionar o material rodante,
- melhorar o recolhimento da cana
após o corte de base,
- rever a caixa estrutural do equipa-
mento (“chassi” da colhedora),
- buscar simplificar o sistema hidráu-
lico,
- aperfeiçoar o elevador.As colhedoras de cana já evoluíram bem, mas ainda podem melhorar
MECANIZAÇÃO
69
Qualidade da operação
Perdas de matéria-prima e quebras
do equipamento. Estes são, segundo o co-
ordenador do Gmec, dois graves proble-
mas na colheita mecanizada de cana. Mas
quais são suas suas causas? “Podemos
pontuar da seguinte forma: 28% destes
problemas decorrem da operação, 32%
são resultados do terreno (topografia, sis-
tematização etc), 20% são de responsabi-
lidade da manutenção, e 20% referem-se
à colhedora”, diz Bortolozzo, destacando
que esses números podem variar de re-
gião para região e até mesmo de usina
para usina.
Uma das principais causas dos “pro-
blemas” diz respeito à qualidade da ope-
ração. Para o coordenador do Gmec, é
importante o operador do equipamento
estar atento a diferentes questões, como à
velocidade de deslocamento, ao RPM que
está sendo empregado na colhedora, à
correta regulagem, à pressão do corte de
base, além de realizar verificações diárias
do material de desgaste e evitar colisões
em manobras e deslocamentos. “A solu-
ção passa por treinamentos, reciclagem
e trabalho forte de conscientização dos
operadores sobre os cuidados que devem
ter com a máquina e com a lavoura.”
A usina tem que se preocupar com a
capacitação do operador e com sua cons-
Perdas de matéria-prima e quebras do equipamento: dois graves problemas na colheita mecanizada de cana
70 Abril · 2016
cientização na condução da máquina. “Se,
por exemplo, não estiver na velocida-
de de deslocamento selecionada, o índi-
ce de quebra é alto”, avisa o coordenador
do Gmec.
Com melhor capacitação, é possí-
vel atender uma demanda apontada por
Leal: “os recursos disponíveis nos equipa-
mentos precisam ser melhor aplicados pe-
los operadores”. No entanto, o gerente de
Manutenção Automotiva da Usina Ferra-
ri alerta que “a disponibilidade de treina-
mentos operacionais e de manutenção é
uma carência real”.
Já Bortolozzo enxerga que os gran-
des fabricantes de colhedoras têm exer-
cido um papel importante nesse aspec-
to, por ofertarem treinamentos teóricos,
práticos e em simuladores para os ope-
radores. No entanto, ele aponta que os
problemas vão além do operador do equi-
pamento: “se a qualidade dos homens da
manutenção for baixa, não teremos repa-
ros de qualidade, mas sim ‘remendos’ e as
paradas serão mais constantes. Quanto ao
item terreno/sistematização, todos temos
plena consciência que os tiros curtos ne-
cessitam de muitas manobras, assim como
uma sistematização deficiente causa mais
torções no equipamento. Quanto à colhe-
dora, necessita de maior robustez na sua
estrutura e sistema hidráulico”, relata.
A fim de melhorar os índices de co-
lheita, além dos treinamentos dos profis-
sionais envolvidos no processo, Bortolo-
zzo conta que as empresas têm adotado
O simulador de colhedora de cana é uma importante ferramenta para a qualificação dos operadores
MECANIZAÇÃO
71
estratégias mais amplas. Este trabalho co-
meça já no arrendamento, selecionando
áreas, sempre que possível, de bom tama-
nho, isentas de árvores e com baixa decli-
vidade. E nos terrenos de posse da usina,
também estão intensificando a melhoria
da sistematização e do plantio.
Quebrar paradigmas
Na opinião de Leal ainda é preci-
so quebrar paradigmas no projeto de al-
guns componentes das máquinas, como,
por exemplo, o elevador e o corte de base,
que demandam intervenções significati-
vas durante a safra e evoluíram pouco ou
quase nada nos últimos anos.
Mas Humberto Carrara, gerente de
processos agrícolas do Grupo USJ, vai
além. Salienta que, as colhedoras de cana
que “conhecemos no Brasil e no mundo”
têm um conceito da colhedora australiana
do meio do século passado. “É um projeto
de mais de 50 anos. Não tem muito mais
o que melhorar, seria necessário formular
um novo conceito de colhedora de cana.”
Segundo ele, é um equipamento com
problemas crônicos de corte de base, além
de problemas sérios com impurezas e da-
Carrara: “seria necessário formular um novo conceito de colhedora de cana”
Uma frente de colheita de cana envolve uma série de máquinas e implementos
72 Abril · 2016
nos de soqueira. “Enquanto o equipamen-
to tiver o conceito de cortador de base de-
baixo do chassi da máquina, praticamente
tudo o que for feito será uma perfumaria.
Precisa de uma solução que reduza o im-
pacto da faca girando em cima da cana.”
Na visão de Carrara, se analisar o de-
sempenho da máquina que se tem hoje,
de modo geral, é satisfatório. Inclusive,
relata que o conceito atual de colhedo-
ra vem acumulando várias melhorias ao
longo do tempo que são muito positivas.
“A servicibilidade melhorou muito, assim
como a facilidade de troca de componen-
tes, a automação do equipamento (redu-
zindo a intervenção do operador), mas fo-
ram avanços que aconteceram dentro do
equipamento que temos hoje.”
No entanto, o gerente do Grupo USJ
frisa que se a discussão ficar somente fo-
Uma das principais causas dos “problemas” diz respeito à qualidade da operação
MECANIZAÇÃO
73
cada na máquina perde-se a oportunidade
de analisar o contexto geral. “Uma colhe-
dora de cana hoje, que custa perto de R$
1 milhão, trabalha em 60% das 24 horas,
isso considerando as empresas que estão
bem no benchmarking”, revela o gestor,
que completa: “esse índice, na média entre
as unidades, gira entre 40% e 50%. Ou seja,
em um dia de 24 horas, quem está bem
trabalha com a máquina por 16 horas.”
Carrara observa que o problema não
está só na máquina. “Tem o peso da servi-
cibilidade da manutenção, da baixa dispo-
nibilidade, da colheitabilidade da área. Por
isso, não tem como fugir de algumas per-
guntas: como é a gestão de todo o siste-
ma? Por que a máquina fica tanto tempo
‘fora do jogo’?”
De acordo com ele, ao se analisar
essa realidade, o produtor e a usina fi-
cam sem argumentos para chegar no fa-
bricante de colhedora e dizer que é pre-
ciso evoluir o corte de base, por exemplo.
“Por que aí é perigoso ouvir: como vou co-
locar toda minha engenharia para pesqui-
sar novas soluções, para depois a máquina
só trabalhar 50% do tempo?”
Para o gerente de processos agrí-
Em um dia de 24 horas, quem apresenta melhor desempenho
trabalha com a máquina por 16 horas
74 Abril · 2016
colas do Grupo USJ, antes de o setor su-
croenergético “sonhar” com um concei-
to de colhedora de cana revolucionário,
tem que aprender a extrair muito mais da
máquina que tem disponível atualmente.
“Esse equipamento que temos ainda não
chegou ao máximo que pode oferecer, a
eficiência global ainda é muito baixa.”
Ele revela uma reunião que aconte-
ceu recentemente envolvendo diferentes
especialistas em motomecanização em ca-
na-de-açúcar, com a presença de executi-
vos e gestores de várias usinas. O objetivo
foi fazer um brainstorm sobre o conceito
ideal de colhedora e colheita mecanizada.
“Fizemos uma mesa redonda para conver-
sar sobre o que é preciso mudar.” Quem
sabe seja o embrião da “colhedora dos
sonhos”.
Sintonia com as
demandas do cliente
Para um dos grandes fabricantes de
colhedoras de cana do mercado, a Case
IH, a evolução está continuamente no ra-
dar. Segundo Fábio Balaban, especialista
de marketing de produto da companhia,
sempre é possível melhorar e evoluir de
acordo com as necessidades do mercado.
“Hoje já alcançamos um nível tecnológico
alto. A Case IH, por exemplo, oferece solu-
ções completas para as usinas e, para isso,
realizamos clínicas em campo, pesquisa
com os clientes e conversamos muito com
nossa rede de concessionários para saber
o que o cliente precisa e quer para melho-
rar sua produtividade.”
Os profissionais da Case IH se dedi-
cam ao desenvolvimento de componentes,
sistemas, e softwares que facilitem tanto a
operação quanto a manutenção das co-
lhedoras de cana. Tanto que uma grande
inovação que a companhia trouxe para o
segmento canavieiro é o conceito Efficient
Power, “em que temos como destaque os
motores eletrônicos das colhedoras Smart
Cruise, que geram uma economia de até
25% do consumo de combustível”, diz
Balaban.
Outro exemplo apresentado por ele
é o gerenciamento de produtividade, que
avalia os dados gerados pelo sistema e
permite um diagnóstico mais preciso da
Balaban: “investir no manejo de sistematização para a colheita é um grande desafio para o setor”
MECANIZAÇÃO
75
área plantada, economiza tempo na toma-
da de decisões e faz diferença na produti-
vidade. “Além de acompanhar as informa-
ções da colheita mecanizada em tempo
real, o produtor pode estabelecer a varia-
ção de produtividade das áreas e ter ele-
mentos que suportarão as decisões sobre
tratos culturais, logística e transporte de
cana.”
Já um aspecto da colhedora que é
decisivo para a qualidade da operação, o
corte de base, recebeu atenção especial
por parte da companhia. “Nas colhedo-
ras da Case IH, os elementos responsáveis
por um corte com maior qualidade e rente
ao solo são instrumentados por meio de
sensores, que operam na pressão do cor-
te e também na altura. Os sensores “co-
piam” as irregularidades do solo, garan-
tindo sempre um corte mais preciso e com
menos abalos às soqueiras de cana”, expli-
ca Balaban.
Ele lembra que a concentração de
açúcar na cana está na parte inferior da
cana. “Assim, conversando e escutando
as necessidades dos clientes, desenvolve-
mos o AUTOTRACKER, que é o sistema de
auto-nivelamento do corte em relação ao
solo, aumentando a performance do sis-
tema. O nível de sensoriamento desse sis-
tema apresenta tecnologias com muita
precisão, porém, o preparo de solo para a
colheita mecanizada ainda não está sendo
contemplado na sua amplitude, podendo
gerar, em alguns casos, dificuldades nesse
nivelamento.”
A colhedora de cana da Case IH tem
recursos para minimizar esses impactos.
No entanto, de um modo geral, “investir
no manejo de sistematização para a co-
Nas colhedoras Case IH os sensores “copiam” as irregularidades do solo
76 Abril · 2016
Na cabine de uma colhedora de cana:
conforto e tecnologia de precisão
Leal: “A safra 2016/17 já se inicia com desafios, pois na primeira etapa colheremos as canas bisadas”
lheita, garantindo uma maior eficiência
global do processo, é um grande desafio
para o setor”, conclui Balaban.
Planejar sempre
A safra 2016/17 no Centro-Sul de-
verá ser “gigante”. As consultorias do se-
tor têm previsões diferentes do volume
de cana que será processado, mas oscilam
entre 615 e 630 milhões de toneladas.
Para colher e transportar tanta cana,
sem deixar a indústria na mão, plane-
jar deve ser a palavra de ordem da usina.
“Gaste tempo fazendo planeja-
mento da safra e dimensionan-
do os equipamentos para não
sofrer com a falta de tempo (in-
disponibilidade) do meio para
o final da safra”, afirma o co-
ordenador do Gmec. Cada usi-
na deve traçar a sua estratégia.
“É essencial a equipe saber do
potencial de suas áreas, da co-
lheitabilidade, das dificuldades
que terá pela frente. Para superar eventu-
ais problemas, da estratégia deve constar
um plano ‘B’”.
Como o cenário mostra uma safra
longa, Bortolozzo chama a atenção para
a importância da manutenção dos cami-
nhões canavieiros, transbordos e colhedo-
ras, assim como não menosprezar a ma-
nutenção dos reboques e semirreboques.
Também sugere como estratégia
para as usinas a utilização de dois turnos
de 10 horas para o corte, transbordamen-
to e transporte. Bortolozzo ressalta se tra-
MECANIZAÇÃO
77
tar de um ponto que vai trazer beneficio
(redução de gasto) para a usina, se tiver
uma boa implantação e gerenciamento.
Colheita online na Ferrari
Na Usina Ferrari, a previsão de moa-
gem na safra 2016/17 é de 3,4 milhões de
toneladas de cana, em uma área de 37.500
hectares. “O ciclo já se inicia com desafios,
pois na primeira etapa colheremos as ca-
nas bisadas, em que aumenta a dificulda-
de operacional e a possibilidade de maio-
res perdas”, frisa Leal.
Os pilares para o sucesso da ope-
ração na Ferrari, segundo ele, são a efici-
ência, a produtividade e a confiabilidade.
“O comprometimento das equipes é fator
fundamental, sempre alicerçado no bom
planejamento e nas boas práticas de co-
lheita.” Na Usina Ferrari, a colheita é 100%
mecanizada, feita por uma estrutura com-
posta por 28 colhedoras e 68 transbordos,
operando em nove frentes.
Toda a operação de colheita na Fer-
rari é monitorada on-line. A empresa con-
ta com um sistema de gestão que permite
acompanhar cada parâmetro operacional:
velocidade de colheita, rotação do extrator
primário, pressão no corte de base, imple-
mento e esteira do elevador ligados, modo
automático ou manual do corte de base
etc. O sistema também permite controlar
outros aspectos do equipamento, como
pressão do óleo do motor, temperatura do
fluido de arrefecimento, rotação do motor,
motor ocioso, nível e consumo de com-
bustível, além dos motivos de parada.
“Estas informações são utilizadas
para determinar as melhores condições
operacionais de cada área, considerando-
se a variedade de cana, o TCH, a área, a co-
lheitabilidade etc.”
Na Usina Ferrari, a colheita é 100% mecanizada, feita por uma estrutura composta por 28 colhedoras e 68 transbordos, operando em nove frentes de colheita
78 Abril · 2016
O prazo final para adequação ao
Protocolo Agroambiental está
batendo na porta das usinas e
produtores canavieiros do Centro-Sul do
Brasil. 2014 foi o ano limite para a meca-
nização completa da colheita da cana em
áreas mecanizáveis. Já em 2017 expira o
prazo para que as áreas não mecanizáveis,
aquelas com terrenos acidentados e decli-
Quando a inovação está no DNAFCN TECNOLOGIA APOSTA EM SOLUÇÕES VIÁVEIS PARA O PRODUTOR
Leonardo Ruiz e Clivonei Roberto
vidades acima de 12%, parem de ser colhi-
das com queima.
Apesar de representar um avanço, o
protocolo ameaça a permanência de mi-
lhares de pequenos e médios produtores
na atividade. Eles possuem áreas peque-
nas que inviabilizam a entrada de colhe-
doras combinadas de cana picada. Se já
não bastasse, muitas dessas áreas pos-
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CENTRACANA permite o corte de cana inteira em relevos de até 34% de declividade lateral
MECANIZAÇÃO
79
suem declividade superior ao li-
mite técnico destas colhedoras
(12%). Ou seja, a mecanização da
colheita não seria possível.
De olho nesse nicho, a FCN Tecnolo-
gia, com sede em Piracicaba, SP, desenvol-
veu diversos equipamentos que se encai-
xam bem à demanda desse mercado. Um
desses produtos é a CENTRACANA, que
permite o corte de cana inteira em relevos
de até 34% de declividade lateral. “Além
disso, o equipamento corta duas ruas si-
multâneas de cana inteira, realizando o
corte mais barato em curso no mercado”,
afirma o sócio gerente da FCN, Félix de
Castro Neto.
Segundo ele, todos os equipamentos
da empresa são solução para os agriculto-
res de áreas menores, bastando para tan-
to que formem pequenos grupos coopera-
tivados. “A ação intensa do mercado está
concentrada em redução de custos na ope-
ração, aumento de produtividade, menor
compactação dos canaviais e abrangência
Felix adianta que a FCN já trabalha no desenvolvimento de uma
garra traçadora que transformará a cana inteira em cana picada
A FCN sempre marca presença nos eventos de exposição de tecnologia agrícola para levar suas inovações aos produtores
80 Abril · 2016
de áreas declivosas, fatores que são propor-
cionados por todos os nossos produtos.”
Felix observa que em matéria de co-
lheita, as novas tecnologias que são lança-
das estão sempre gravitando em torno do
mesmo conceito operacional destes equi-
pamentos. “Por isso, o mercado está ávido
por mudanças e inovações. ‘Ousar’ é a pa-
lavra de ordem. Por isso, as inovações estão
sendo muito bem aceitas pelo setor”, diz
Félix. Dentre os vários conceitos presentes
nos produtos da FCN, o copiador de solo
é um dos exemplos. Uma solução que não
utiliza eletrônica e copia o relevo do solo in-
dependentemente da ação do operador.
Boas projeções
A FCN trabalha no desenvolvimento
de uma garra traçadora que transforma-
rá a cana inteira em cana picada, conta Fé-
lix, servindo para a preparação de toletes
utilizáveis em plantadoras mecânicas e/ou
toletes para moagem, adensando as car-
gas a serem transportadas. “Estas garras
serão acopláveis a todos os modelos de
carregadoras de cana disponíveis no mer-
cado.” Equipamento que permitirá a redu-
ção da quantidade de mudas utilizadas
no plantio mecanizado. Outra solução da
empresa que está em fase de desenvolvi-
mento é um equipamento específico para
plantio no sistema de Meiosi.
O esforço da empresa em trans-
formar grandes ideias em soluções viá-
veis para o produtor tem dado resultado.
“Crescemos ano a ano, mesmo durante a
crise. Inclusive estamos ocupando sede
própria desde janeiro de 2016.” Na proje-
ção de Félix, a expectativa para este ano
é positiva. “Começamos o ano com maior
avidez do mercado do que no ano passa-
do. Temos mais negócios acontecendo.”
A CENTRACANA corta duas ruas simultâneas de cana inteira
MECANIZAÇÃO
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82 Abril · 2016
Leonardo Ruiz
Com maior produção e sem investimentos em ampliação, a safra será longa
RECUPERAÇÃO DA PRODUÇÃO CANAVIEIRA NA
ÚLTIMA SAFRA EMPURROU INDÚSTRIA SUCROENERGÉTICA
PARA O LIMITE DE SUA CAPACIDADE OPERACIONAL
Usinas chegam à capacidade máxima de moagem
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
A queda sistemática de produtivi-
dade registrada ao longo das úl-
timas safras levou a indústria su-
croenergética a uma longa ociosidade. A
redução da produção, aliada à intensa cri-
se financeira, enfrentada não só pelo se-
tor, mas também pelo país, fez com que
as usinas congelassem todo e qualquer
investimento nos parques industriais e fo-
cassem seus esforços apenas na área agrí-
cola. Ampliações na indústria estavam fora
de cogitação. Até mesmo a manutenção
83
do parque industrial foi restringida.
Na penúltima safra, especialistas co-
meçaram a alertar que a agroindústria ca-
navieira estaria próxima de sua capacida-
de máxima de moagem. Segundo eles,
muita cana ficaria em pé no ciclo 2014/15,
já que as usinas não teriam condições de
moer toda aquela matéria-prima. Feliz-
mente, ou infelizmente, essa visão não se
concretizou, pois os fatores ambientais re-
duziram a oferta de cana naquela safra.
O fantasma da capacidade máxima
de moagem voltou a assombrar o setor
na safra 2015/16. É que houve recupera-
ção significativa dos canaviais, o que le-
vou a um aumento de produção. A média
de produtividade, que durante anos ba-
teu a marca de 90 toneladas por hectare e
que caiu para 60 toneladas durante a cri-
se, deve fechar em torno de 82 toneladas
por hectare no ciclo 15/16.
Entretanto, devido a um início mais
tardio dos trabalhos, aliado às chuvas que
caíram no meio do ano, a indústria pode,
mais uma vez, respirar aliviada, pois nem
mesmo a extensão da moagem até os pri-
meiros meses de 2016 conseguiu fazer
com que toda a matéria-prima prevista
fosse moída, o que acabou deixando em
torno de 8% de cana em pé.
Para a safra 2016/17, com previsão
inicial de moagem, na região Centro-Sul,
de 630 milhões de toneladas, o cenário é
que agora sim o setor chegou ao máximo
de sua capacidade de moagem/dia e para
dar conta da produção, vai ter de esticar a
safra, até porque, com os preços bem re-
muneradores, e o caixa vazio, a ordem é
moer.
Otimizando da melhor
maneira possível
A professora adjunta da Universida-
de Estadual Paulista Júlio de Mesquita Fi-
lho (UNESP), em RDIDP (Regime de Dedi-
cação Integral à Docência e à Pesquisa), na
Faculdade de Ciências Agrárias e Veteriná-
rias Campus de Jaboticabal, Márcia Mut-
ton, afirma que a indústria tem tido sim
alguns investimentos, porém, ainda insufi-
cientes para atender à demanda que o se-
tor exige. “De uma maneira geral, quando
Para Márcia Mutton, a indústria tem tido alguns investimentos, porém, ainda insuficientes para atender à demanda que o setor exige
84 Abril · 2016
a crise chega, ela pega todas as empresas
de surpresa. Assim, tudo o que foi planeja-
do ao longo dos anos acaba sendo coloca-
do à prova quando essa situação de maior
contenção atinge o setor produtivo.”
Segundo ela, como a situação atu-
al do setor não permite realizar os inves-
timentos necessários, as usinas devem
trabalhar para otimizar a gestão e o pla-
nejamento dos processos, utilizando mé-
todos que possam trazer maior eficiência,
reduzir custos e aumentar a produtividade
das operações. “A usina deve ajustar suas
metodologias no sentido de melhorar os
controles de qualidade dos processos e as
interações das informações a fim de oti-
mizar as operações seguintes. Isso, no fi-
nal, trará ganhos que, até então, não eram
conhecidos.”
É possível, por exemplo, otimizar
o processo de clarificação, pois, com um
material de melhor qualidade, as opera-
ções seguintes, como evaporação e recu-
peração, serão impactadas positivamente.
“Se trabalharmos com um melhor uso dos
equipamentos, conseguiremos diminuir o
retrabalho dentro da empresa. São técni-
cas que podem ser utilizadas para fazer
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Na Barrálcool, o último grande investimento na indústria aconteceu no ano de 2014, nos processos de geração de vapor e balanço térmico
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
85
com que o parque industrial seja capaz de
desdobrar o material que será processa-
do, obtendo, assim, maior eficiência, ren-
dimento e produtividade”, afirma Márcia.
A professora ressalta, ainda, que a
comunicação entre as áreas agrícola e in-
dustrial também deve ser melhorada. “A
gestão da colheita não pode ser feita, ex-
clusivamente, pela agrícola. As áreas, jun-
tas, é que devem trabalhar nesse planeja-
mento. Se, por exemplo, a agrícola avisar
que vai entrar uma cana de pior qualida-
de, a indústria poderá preparar a moenda
para receber essa matéria-prima e traba-
lhar melhor a clarificação do produto.”
Barralcool busca
aumentar a produtividade
Uma das Usinas que tem investi-
do no planejamento como medida palia-
tiva é a Barrálcool, localizada no municí-
pio mato-grossense de Barra do Bugres.
Segundo o assessor e consultor da Em-
presa, José Raimundo Neto, devido a um
bom planejamento, foi possível uma ade-
quação às oscilações do mercado, hora
produzindo mais, hora mantendo a pro-
dução para o atendimento dos clientes,
o que está possibilitando uma operação
com conforto dentro da capacidade no-
minal instalada. “A indústria está buscan-
do cada vez mais produtividade agríco-
la e eficiência industrial. Talvez seja por aí
que vamos conseguir obter maior produ-
ção agrícola e industrial a partir da aplica-
ção de know-how.”
O assessor relata que o último gran-
de investimento na indústria aconteceu no
ano de 2014, nos processos de geração de
vapor e balanço térmico. “Adquirimos uma
José Raimundo Neto: “Devido a um bom planejamento, foi possível uma adequação às oscilações do mercado”
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86 Abril · 2016
turbina de condensação com extração,
que nos possibilitou não só uma maior es-
tabilidade térmica no parque industrial,
como também um aumento da oferta de
energia para comercialização, com payba-
ck rápido.”
Usina Lins investe
para aumentar a
capacidade de moagem
Entre 2012 e início de 2013, a Usi-
na Lins, situada no município paulista de
mesmo nome, realizou dois investimentos
significativos em sua planta: a implanta-
ção da fábrica de açúcar, com capacida-
de de produção de 125 mil toneladas de
açúcar/safra, e a instalação de uma penei-
ra molecular para produção de etanol ani-
dro, com capacidade de 130 mil m³/safra.
O objetivo, segundo o gerente da divi-
são industrial da Empresa, André Teixei-
ra, foi aumentar a capacidade de moagem
da unidade e melhorar o mix de produtos
ofertados (etanol anidro, açúcar branco
Com previsão de moer 2,75 milhões de toneladas na safra 2016/17,Usina Lins chegou ao limite de sua capacidade operacional
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
87
para mercado interno e açúcar bruto para
mercado externo).
Através dessas ações, a usina, que
pertence ao grupo Batatais, conseguiu ele-
var sua capacidade de moagem para cerca
de 2,75 milhões de toneladas de cana-de
-açúcar por safra. Esse, aliás, é o volume que
a empresa espera moer na safra 2016/17,
que foi iniciada pela unidade na primeira
semana de março, em função do clima fa-
vorável e da cana bisada. Esse valor é 9%
maior do que o registrado em 2015/16.
De acordo com gerente da divisão in-
dustrial, o objetivo agora é manter o pro-
cessamento da safra na sua capacidade
máxima, já que não há investimentos sig-
nificativos de ampliação previstos para os
próximos anos. “No momento, a estraté-
gia é absorver operacionalmente o máxi-
mo da capacidade instalada e, em parale-
lo, avaliar se há necessidade de alterações
estruturais.”
André Teixeira: “Não há plano de investimento significativo previsto em aumento de capacidade” D
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Em 2013, a Usina Lins implantou uma fábrica de açúcar, com capacidade de produção de 125 mil t de açúcar/safra
88 Abril · 2016
ÓRGÃO DE PESQUISA DA AUSTRÁLIA FOI O PRIMEIRO A
FIRMAR O CONVÊNIO COM A RIDESA; O PRÓXIMO ACORDO
ESTÁ SENDO NEGOCIADO COM A COLÔMBIA
RIDESA promove intercâmbio de variedades de cana com os principais programas de melhoramento do mundo
A existência de variação genética é
uma condição fundamental para
que os programas de melhora-
mento que compõem a Rede Interuniver-
sitária para o Desenvolvimento do Setor
Sucroenergético (RIDESA) continuem con-
tribuindo significativamente para a eleva-
ção dos rendimentos agroindustriais do
PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
89
setor canavieiro brasileiro.
Atualmente, para a obtenção das va-
riedades RB, a Rede conta com a disponi-
bilidade de dois Bancos de Germoplasma:
o da Estação de Floração e Cruzamento
Serra do Ouro, em Murici, Alagoas, e o da
Estação de Floração e Cruzamento de De-
vaneio, em Amaraji, Pernambuco. No to-
tal, são mais de 4.000 acessos, entre espé-
cies do gênero Saccharum e correlatos, e
híbridos de cana-de-açúcar provenientes
de programas de melhoramento genético
nacionais e internacionais.
A maior parcela dos materiais trocados com outras instituições possui características de interesse dos pesquisadores brasileiros
Estação de Floração e Cruzamento Serra do Ouro -um dos Bancos de Germoplasma à disposição da RIDESA
90 Abril · 2016
Segundo Danilo Eduardo Cursi, en-
genheiro agrônomo e pesquisador do
Programa de Melhoramento Genético de
Cana-de-açúcar (PMGCA) da UFSCar (Uni-
versidade Federal de São Carlos) – perten-
cente à RIDESA -, um aspecto fundamen-
tal é a manutenção desta diversidade por
meio da introdução de novos clones eli-
te provenientes das universidades federais
que integram a Rede.
somente como genitores nos cruzamentos
e em experimentos de competição varie-
tal”, afirma Danilo.
A maior parte das variedades troca-
das com outras instituições de pesquisa
não será adaptada às condições de culti-
vo do Brasil. Porém, a maior parcela des-
tes materiais possui características de in-
teresse para os pesquisadores do Brasil
que, por meio do melhoramento, poderão
O fitopatologista australiano Robert Magarey, da SRA, é recepcionado no Brasil por Danilo, em nome da RIDESA
Outro fator importante é o intercâm-
bio de germoplasma entre programas de
melhoramento ao redor do mundo. “Para
isso, desde 2011 o programa de melho-
ramento genético da cana-de-açúcar da
UFSCar, em nome e em consentimento das
outras universidades, tem se responsabili-
zado em contatar diferentes instituições,
com o objetivo de firmar acordo para tro-
ca segura de germoplasma e espécies re-
lacionadas de cana-de-açúcar para o uso
ser incorporadas às variedades brasileiras.
“Algumas características podem ser cita-
das como: alto rendimento de cana e açú-
car, resistência a insetos e doenças, brota-
ção das soqueiras, entre outras.”
Além disso, Danilo ressalta que as
principais variedades RB’s serão exporta-
das e, portanto, testadas sob diferentes
condições edafoclimáticas. Desta forma,
importantes informações, como reação a
doenças ainda não presentes no Brasil, se-
PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
91
Após a liberação, os materiais serão conduzidos até o Centro de Ciências Agrárias da UFSCar, em Araras, SP, onde serão multiplicados e caracterizados
rão fornecidas aos pesquisadores da RI-
DESA. “Estes informes são bastante rele-
vantes, uma vez que medidas prévias e
estratégias de melhoramento podem ser
tomadas de forma antecipada e preventi-
va”, sublinha Danilo.
Ele lembra que, inevitavelmente, o
movimento de germoplasma envolve um
risco de introdução acidental de pragas
de quarentena vegetal, juntamente com o
material que possa servir de planta hos-
pedeira. “Em particular, agentes patogéni-
cos que são frequentemente assintomáti-
cos, tais como vírus, constituem um risco
especial.” No entanto, a fim de minimizar
este risco, testes eficazes, como o de inde-
xação molecular de doenças, são necessá-
rios para assegurar que o material impor-
tado, e até mesmo exportado, esteja livre
de pragas.
“Diante desse importante risco, a
UFSCar exige que os outros países este-
jam de acordo em promover uma troca
de germoplasma baseada nas orientações
técnicas da FAO/IBPGR,
regras específicas para
Circulação Segura de
Germoplasma de Cana-
de-açúcar, criada em 1993 pela Interna-
tional Society of Sugar Cane Technologists
(ISSCT)”, relata Danilo, acrescentando que
neste guia, normas gerais de recomenda-
ções para exportação são apresentadas.
O primeiro
acordo estabelecido
O primeiro acordo estabelecido pela
RIDESA para troca de variedades foi com o
programa de melhoramento genético da
cana-de-açúcar da Sugar Research Austra-
lia (SRA, ex-BSES), um dos maiores centros
de pesquisa com melhoramento de cana
do mundo. O interesse no intercâmbio de
germoplasma partiu do pesquisador Mike
Cox, pouco antes e durante os meses em
que Danilo passou em treinamento junto à
equipe da SRA, em 2011.
Desde o período que permaneceu na
Austrália até seu retorno à RIDESA/UFSCar,
Danilo, juntamente com o professor Her-
mann Paulo Hoffmann, coordenador do
PMGCA/UFSCar, mantiveram contato com
92 Abril · 2016
os pesquisadores responsáveis pelo con-
vênio, iniciando-se então os trâmites para
a realização do acordo. “Após um longo
período de negociação, ambas as institui-
ções acordaram em fazer o intercâmbio de
até 10 variedades por ano durante os cin-
co anos de duração do contrato. Para isso,
o material a ser trocado deve possuir um
nível mínimo de biossegurança e padrões
selecionados para reduzir o risco de con-
taminação com pragas e doenças previa-
mente estabelecidas”, explica Danilo.
No início de 2016, as primeiras 10
variedades australianas chegaram ao Bra-
sil e, por dois anos, serão submetidas a ri-
gorosos testes fitossanitários no Quaren-
tenário, seguindo legislação específica
determinada pelo Ministério da Agricultu-
ra e Pecuária do Brasil (MAPA). Após a libe-
ração, os materiais serão conduzidos até o
Centro de Ciências Agrárias da UFSCar, em
Araras, SP, onde serão multiplicados e ca-
racterizados. Logo em seguida, serão en-
viados para os bancos de germoplasma
da RIDESA, onde serão disponibilizados
para utilização em cruzamentos por todas
as universidades pertencentes à Rede. Em
paralelo, serão acompanhados os resulta-
dos das variedades RB’s na Austrália, sen-
do que as primeiras enviadas chegaram ao
país da Oceania em setembro de 2015.
Além da Austrália, outros programas
de melhoramento de relevância e expres-
sividade ao redor do mundo estão sendo
contatados. Em março de 2016, a UFSCar
aprovou o seu mais novo contrato de tro-
ca de variedades, desta vez com o Centro
de Investigación de la Caña de Azúcar de
Colombia (CENICAÑA). “Este contrato tem
os mesmos objetivos e critérios que foram
estabelecidos com o SRA, da Austrália. A
intenção é importar e exportar as primei-
ras variedades entre a Colômbia e o Brasil
ainda este ano. Outros programas de me-
lhoramento estão em negociação”, finali-
za Danilo.
O intercâmbio permitirá que as principais variedades RB’s sejam exportadas e, portanto, testadas sob diferentes condições edafoclimáticas
PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
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94 Abril · 2016
PRÉ-AGRISHOW
Sonho da Agrishow é voltar a ter casa cheia e vendas em alta
EM 2015, A AGRISHOW APRESENTOU QUEDA DE 30% EM
FATURAMENTO, O PAÍS SE MANTÉM NA CRISE, MAS A EXPECTATIVA
DOS REALIZADORES DA FEIRA É REVERTER O QUADRO BAIXISTA
Leonardo Ruiz
Quem passa pelo km 321 da Ro-
dovia Antônio Duarte Nogueira
já consegue ver uma movimen-
tação intensa de máquinas e pessoas tra-
balhando pesado para montar uma es-
trutura que somará cerca de 440 mil m²
de área total. É a Agrishow (Feira Interna-
Com 440 mil m² de área total, a Agrishow
2016 está praticamente pronta para receber os
visitantes. Ao fundo, a cidade paulista de
Ribeirão Preto
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cional de Tecnologia Agrícola em Ação)
se preparando para sua 23ª edição, que
ocorrerá de 25 a 29 de abril, em Ribeirão
Preto, SP.
A expectativa é que cerca de 160 mil
pessoas, mesmo número da edição passa-
da, visitem a Feira ao longo dos cinco dias
95
de evento. A Agrishow 2016 contará com
cerca de 800 expositores, que irão de-
monstrar suas tecnologias mais avançadas
para trazer ganhos expressivos de produ-
tividade para os produtores. Além das já
tradicionais marcas brasileiras, a Feira terá,
ainda, a participação de grandes empresas
estrangeiras, vindo dos mais diversos paí-
ses, como China, Turquia, Alemanha, Esta-
dos Unidos, Finlândia, Itália e Espanha.
Para esta edição, os organizado-
res do evento estão promovendo inves-
timentos em infraestrutura, com o intuito
de proporcionar ainda mais conforto e se-
gurança aos visitantes. Entre as novidades
já anunciadas, destacam-se o asfaltamen-
to de mais duas avenidas e duas ruas, to-
talizando 25 mil metros, e a construção de
um novo e moderno sanitário de alvenaria.
“Em um ano de grandes desafios
econômicos, estamos investindo, e esses
recursos aplicados na Agrishow 2016 res-
saltam o comprometimento dos organiza-
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A expectativa é que cerca de 160 mil pessoas, mesmo número da edição passada, visitem a Agrishow 2016 ao longo dos cinco dias de evento
José Danghesi, diretor da Agrishow, aposta em um cenário positivo para esse ano, com especial volume em exportações
96 Abril · 2016
dores com os expositores, produtores ru-
rais e com toda a cadeia do agronegócio
em levar um ambiente ainda mais propí-
cio para demonstração de tecnologia, re-
alização de negócios e disseminação de
conhecimento”, afirma José Danghesi, di-
retor da Feira.
Momento delicado
Em 2015, pela primeira vez na histó-
ria da Feira, a Agrishow registrou queda no
volume de negócios em relação ao ano an-
terior. A 22º edição faturou R$ 2,7 bilhões,
valor 30% menor do que o visto em 2014.
Para Danghesi, a alta dos juros e a incerte-
za política econômica foram as principais
responsáveis por esses números.
Já para essa edição, as expectativas
estão um pouco melhores, devido, princi-
palmente, a recente divulgação do côm-
puto final do desempenho do Produto In-
terno Bruto (PIB) de 2015. Enquanto o PIB
total nacional, calculado pelo Instituto Bra-
sileiro de Geografia e Estatística (IBGE), re-
gistrou uma retração de 3,8%, o da agro-
pecuária cresceu 1,8% na comparação com
2014. “Isso apenas confirma o fato de que
o agronegócio brasileiro tem se consoli-
dado, ao longo da última década, como o
principal setor que sustenta a economia do
país”, ressalta o Diretor da Feira.
Além disso, Danghesi afirma que a
elevada taxa de câmbio fará com que o
volume de negócios se mantenha, em es-
PRÉ-AGRISHOW
Agrishow 2016 terá mais duas avenidas
asfaltadas
97
pecial, com as exportações em alta. “Esse
é um resultado positivo neste momento
em que o Brasil ainda vive uma crise de
confiança generalizada.”
Grãos e cana
devem dominar feira
Para o diretor-executivo da ABAG,
Luiz Cornacchioni, grãos será a cultura pre-
dominante na Agrishow 2016, devido ao
volume que representa hoje para o agro-
negócio brasileiro. “O que acontece é que
esse segmento é formado, em sua maio-
ria, por empresários modernos e que privi-
legiam uma gestão eficiente do seu negó-
cio. Com isso, conseguem ter um fluxo de
caixa mais equilibrado e, como são mais
conscientes em relação à necessidade de
se investir para garantir e manter ganhos
de produtividade, devem movimentar os
negócios na Feira.”
Já para o diretor financeiro da Coo-
Para Fernando Degobbi, a cana-de-açúcar deve predominar as comercializações na Feira
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Público confere, de perto, tecnologias que poderão auxiliá-lo na busca por mais produtividade
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98 Abril · 2016
percitrus - Cooperativa de Produtores Ru-
rais, Fernando Degobbi, a cana-de-açúcar
deve predominar as comercializações, em
função do período em que o evento é re-
alizado, dos recursos de pré-custeio que a
Cooperativa vem trabalhando, da melho-
ria geral nos preços internacionais do açú-
car e também de um melhor equilíbrio na
relação dos preços do etanol no Brasil. “A
expectativa é que o produtor passe a in-
vestir mais, principalmente em máquinas,
mercado esse que vem há dois anos com
resultados ruins.”
Porém, para que os produtores te-
nham condições de investir em suas pro-
priedades e concretizar esse cenário po-
sitivo, é importante que haja auxílio das
entidades financeiras com relação a crédi-
tos e taxas de juros. O diretor-executivo da
ABAG afirma que, diante da situação geral
da economia, com desaceleração acentu-
ada, inflação em alta, problema fiscal sé-
PRÉ-AGRISHOW
Luiz Cornacchioni: “Diante da situação geral da economia, se as condições de crédito e de financiamento de 2015 se repetirem, todos já estarão no lucro”
Demonstrações de campo atraem a atenção do público da Feira, podendo conferir se as máquinas realmente fazem o que é prometido pelos fabricantes
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rio do governo e desemprego crescente,
se as condições de crédito e de financia-
mento de 2015 se repetirem, todos já es-
tarão no lucro. “No caso do Plano Safra,
por exemplo, que está no início das dis-
cussões, a previsão é repetir o volume do
ano passado, que foi de US$ 187 bilhões.
Se não acontecer nenhum corte já será
muito bom, haja vista que, de 2015 para
diz. Em muitos casos é ali mesmo, vendo
a demonstração da máquina e seu desem-
penho em determinada cultura, que são
fechados grandes negócios. Uma pesqui-
sa realizada em 2013 revelou que cerca de
58% dos frequentadores vão à Feira para
conhecer as inovações nas demonstrações
de campo e do núcleo de tecnologia.
Na edição passada, além das dinâ-
cá, todas as variáveis pioraram muito”, re-
lata Cornacchioni.
Tecnologia em ação
A Agrishow não é chamada de Feira
Internacional de Tecnologia Agrícola em
Ação por acaso. Nela, os produtores po-
dem conferir, na prática, se o equipamento
efetivamente faz aquilo que o fabricante
micas de campo, o público pode conferir,
ainda, um polo voltado apenas à Agricul-
tura de Precisão, que demonstrou como
tecnologias de ponta podem auxiliar na
utilização correta e adequada dos recur-
sos, proporcionando, assim, uma série de
benefícios, como aumento de produtivi-
dade e economia de insumos.
Essas demonstrações, organiza-
Sistema de monitoramento de solo com GPS foi um dos destaques do Polo de Agricultura de Precisão na Agrishow 2015
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100 Abril · 2016
das pela Coopercitrus, exibiram novida-
des como um sistema de precisão volta-
do ao plantio de sementes que, utilizando
as coordenadas programadas previamen-
te, impede a sobreposição. Outra tecnolo-
gia que chamou a atenção foi um sistema
de monitoramento com GPS, que possibi-
lita uma análise completa de todas as ne-
cessidades do solo, indicando os pontos
nas lavouras que estão deficientes em de-
terminados nutrientes.
A edição deste ano, porém, não con-
tará com o Polo novamente, pois, segundo
o diretor financeiro da Coopercitrus, Fer-
nando Degobbi, no ano passado, a Coo-
perativa entendeu que aquele era o mo-
mento ideal para mostrar as novidades
e as novas tecnologias para o mercado.
“Como essas tecnologias têm um tempo
para novos lançamentos, entendemos que
neste ano acabaríamos repetindo o que
foi apresentado no ano passado, sendo
assim, a nossa estratégia é esperar um pe-
ríodo maior para poder apresentar novi-
dades em termos de tecnologias.”
Entretanto, o público não ficará ca-
rente de novidades, já que a Coopercitrus
estuda participação em uma dinâmica de
mudas pré-brotadas (MPB).
Shopping Rural
Presença garantida na Agrishow, o
Shopping Rural, idealizado pela Cooper-
citrus, estará com novo layout, oferecen-
do mais modernidade, funcionalidade e
conforto para os visitantes da Feira, se-
jam eles cooperados ou não. Em uma área
de 4.200 m², poderão ser encontrados di-
versos produtos para a casa e campo com
condições facilitadas de pagamento.
Segundo o diretor financeiro da Coo-
percitrus, a Cooperativa registrou, em 2015,
um crescimento em relação ao ano ante-
rior, principalmente, pelo fato de ter sido
feito um pool com as empresas parceiras.
“Adquirimos 12 mil convites, que foram dis-
tribuídos aos cooperados e tivemos um au-
mento de público no Shopping Rural Coo-
percitrus e, consequentemente, no volume
de negócios”, afirma Fernando Degobbi.
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Neste ano, a Coopercitrus levará para a Agrishow um Shopping Rural mais moderno e funcional
101
Cauteloso com o resultado da Feira, Pardinho espera ser surpreendido
Para este ano, a visão é bastante oti-
mista, já que a Cooperativa espera um cres-
cimento de 20% em relação a 2015. “Essa
positividade ocorre em função das commo-
dities agrícolas que vêm com preços bons
e descoladas da crise política e econômica
que o País está passando. Em algum mo-
mento, a variação do dólar com preços
mais altos desvalorizando o real, favorece a
exportação, o que melhora o resultado do
produtor rural”, explica Degobbi.
Ampla linha canavieira
A DMB Máquinas e Implementos
Agrícolas, com sede em Sertãozinho, SP,
levará para a 23ª Agrishow sua ampla linha
de produtos para o setor canavieiro. Se-
gundo Auro Pardinho, gerente de marke-
ting da Empresa, a grande vedete este ano
será, novamente, a plantadora de cana
PCP 6000 Automatizada. “A máquina em
si foi lançada em 2014, porém, por ser um
equipamento inovador no setor, ele ainda
atrai o interesse dos profissionais sucroe-
nergéticos onde quer que esteja exposto.”
Diminuir o consumo de mudas por
área plantada e a influência do “fator hu-
mano” no resultado do plantio foram os
dois objetivos que levaram a DMB a inves-
tir no desenvolvimento desse equipamen-
to. “Já virou uma regra dizer que a média
de utilização de mudas no plantio meca-
nizado é na ordem de 20 toneladas por
hectare. Com nossa máquina, esse núme-
ro cai pela metade, pois ela devolve para
a caçamba o excesso de mudas da esteira,
fazendo com que apenas os rebolos pre-
sentes nas taliscas sejam distribuídos nos
sulcos de plantio.”
Para sanar os problemas do fator hu-
mano, a DMB implantou um CLP (Centro
Lógico Programável) na plantadora, onde
todas as operações são programadas ele-
tronicamente e acionadas com um simples
toque na tela feito pelo tratorista através
de uma IHM (Interface Homem-Máquina)
instalada na cabine do trator.
Para manter o fluxo de rebo-
los no ponto ideal das estei-
ras para serem transportados
e distribuídos nos sulcos de
plantio, a plantadora possui
sensores que acionam eletro-
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102 Abril · 2016
Pelo terceiro ano consecutivo, a grande
vedete da DMB na Agrishow será a
plantadora de cana PCP 6000 Automatizada
PRÉ-AGRISHOW
nicamente os empurra-
dores traseiros, manten-
do as esteiras abastecidas
até o término da carga
de mudas.
Outro destaque do estande da DMB
será sua adubadora de discos, implemen-
to acoplado nos três pontos do trator e
destinado a realizar a adubação das so-
queiras da cana-de-açúcar. O equipamen-
to permite a deposição do adubo nos dois
lados da linha da cana numa profundida-
de ao redor de 10 cm, onde se concentra a
maior porcentagem de renovação do sis-
tema radicular da cultura.
Para Pardinho, a principal vantagem
dessa adubadora é sua eficiência e alto
rendimento, colocando a quantidade cer-
ta no local mais adequado. “Atualmente,
devido às janelas curtas para aplicação
de insumos, o pessoal aplica adubo sem
a devida atenção e de qualquer jeito. Isso
levará a grandes prejuízos, pois, ao longo
dos últimos 10 anos, o adubo foi o insumo
que mais subiu de preço.”
Com relação às expectativas para a
Feira desse ano, o gerente de marketing
da DMB se diz cauteloso, pois, se numa
ponta os preços estão mais atrativos, na
outra os produtores estão receosos de in-
vestirem em suas propriedades no cená-
rio de incerteza politica vivido atualmen-
te pelo Brasil. “A cana, por exemplo, está
com perspectivas de melhora nos preços,
porém, o produtor está com baixa liqui-
dez, pois vem já a algumas safras sem ga-
nhar dinheiro. Aliando esses fatores às di-
ficuldades de crédito e à situação do país,
tenho um grande ponto interrogativo na
minha cabeça sobre o que pode acontecer
na Agrishow desse ano. Espero ser surpre-
endido”, relata Pardinho.
A Agrishow é uma iniciativa das prin-
cipais entidades do agronegócio no país:
ABAG (Associação Brasileira do Agrone-
gócio), Abimaq (Associação Brasileira da
Indústria de Máquinas e Equipamentos),
ANDA (Associação Nacional para Difusão
de Adubos), Faesp (Federação da Agricul-
tura e da Pecuária do Estado de São Pau-
lo) e SRB (Sociedade Rural Brasileira), e é
organizado pela Informa Exhibitions, inte-
grante do Grupo Informa.
103
Case IH lança na Agrishow versão 2016 da colhedora de cana A8800
AS MODIFICAÇÕES
NA MÁQUINA
AUMENTARÃO A
PRODUÇÃO EM 10.080
TONELADAS POR SAFRA,
JÁ QUE POSSIBILITAM UM
ACRÉSCIMO DE 211 HORAS/SAFRA
A Case IH, marca da CNH Indus-
trial, levará para a Agrishow
deste ano uma grande no-
vidade para o setor sucroenergético:
a versão 2016 da colhedora de cana
A8800, que visa proporcionar mais
rendimento e menor custo opera-
cional para o produtor. A expectativa
da marca é de atingir, com esse lan-
çamento, pelo menos 45% a 50% do
mercado de cana.
Segundo o especialista de
marketing de produto, Fábio Balaban,
as modificações na máquina, todas di-
retamente relacionadas à confiabilida-
Versão 2016 da colhedora de cana A8800, da Case IH, vem com
mais de 40 pontos de melhorias
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ULG
AÇ
ÃO
CA
SE IH
de, aumentarão a produção em 10.080
toneladas por safra, já que possibili-
tam um acréscimo de 211 horas/safra.
“A nova A8800 vem com mais de 40
pontos de melhorias e essas mudan-
ças foram desenvolvidas com foco em
três grandes pilares: maior disponibili-
dade, menor custo operacional e tec-
nologia de gestão.”
Outro destaque da nova ver-
são são os sistemas de filtragem, que
possibilitam um aumento do interva-
lo de troca e reduzem a quantidade
de filtros, principalmente no sistema
hidráulico. O novo modelo também
104 Abril · 2016
PRÉ-AGRISHOW
aperfeiçoa a estrutura do ele-
vador, através da adição de
peças com um material mais robusto
e resistente, o que possibilitou um au-
mento da vida útil dos componentes.
“Como a marca sempre prezou pela
facilidade de manutenção, decidimos
instalar, também, um sistema de ilu-
minação que auxilia reparos noturnos.
Mais um avanço dessa área é relacio-
nado aos novos rolamentos dos rolos
alimentadores, que tiveram uma re-
dução de 83% no seu tempo de tro-
ca, caindo de duas horas e meia para
15 minutos.”
Balaban salienta que a versão
2016 da A8800 apresenta centraliza-
ção dos pontos de lubrificação, um di-
ferencial que possibilita realizar a ta-
refa em 30 minutos (a cada 50 horas
de colheita). Ao todo, são seis pontos,
estes com 17 bicos graxeiros, em um
total de 91.
Mas as novidades não ficaram
concentradas apenas no aumento da
disponibilidade mecânica. A Empresa
também investiu grandemente na re-
dução de custos. O novo Sistema de
Filtragem da Sucção de óleo hidráuli-
co, por exemplo, proporciona um au-
mento no intervalo de troca, de 250
para 1000 horas, o que reduz de 48
para apenas seis filtros por safra. Além
disso, foi realizada uma vedação dos
motores hidráulicos, que entrega uma
redução da frequência de troca dos
retentores em cinco vezes.
Mas não é apenas para o setor
sucroenergético que a Case IH prepa-
ra novidades. A empresa também le-
vará para a Agrishow a recém-lançada
série de colheitadeiras axiais (Axial-
Flow Série 130), um dos maiores in-
vestimentos na história da marca no
Brasil: 40 milhões de dólares. A máqui-
na estará disponível na Feira em qua-
tro modelos: 4130 (da classe 5), 5130e
6130 (da classe 6) e 7130(da classe 7).
“Durante a Agrishow, vamos
aproximar o produtor de toda essa
tecnologia empregada nas máquinas,
mostrando, inclusive, como elas fun-
cionam por dentro. Além disso, iremos
contar com um amplo time de fábri-
Fábio Balaban: “Acreditamos em um
incremento de 2% para o mercado de máquinas
agrícolas em 2016”
DIV
ULG
AÇ
ÃO
CA
SE IH
105
106 Abril · 2016
ca e concessionários preparados para
atender os visitantes de forma per-
sonalizada”, relata o especialista de
marketing de produto.
Mercado de máquinas
deve inflar em 2016
Para Fábio Balaban, um dos mer-
cados que deve registrar crescimen-
to é o de máquinas agrícolas. “Acredi-
tamos em um incremento de 2% para
esse setor em 2016, quando o merca-
do interno de tratores deverá chegar
a 38 mil unidades e o de colheitadei-
ras a, aproximadamente, quatro mil”,
afirma o especialista de marketing de
produto da Case IH.
Já as vendas de colhedoras de
cana também deverão ser impulsiona-
das, puxadas, principalmente, pelo fim
da queimada nos canaviais. “Além dis-
so, uma colhedora de cana que chega
a operar três mil horas por safra, por
exemplo, se desgasta em menos tempo,
precisando ser reposta em janelas mais
curtas. Nesse sentido, vamos trabalhar
de perto com nossos clientes que preci-
sam fazer a renovação de sua frota.”
Expectativa de aumento de venda de máquinas agrícolas, entre elas as colhedoras de cana
PRÉ-AGRISHOW
107
Aconteceu em 10 de março, no audi-
tório do Centro de Cana do IAC, o
V Encontro Cana Substantivo Fe-
minino. O evento se consolida como um
dos principais eventos do setor sucroener-
gético. Cerca de 250 pessoas prestigiaram
o evento, na maioria mulheres. E a avalia-
ção final foi a mais positiva possível.
Mas a aprovação ao evento não vem
apenas das mulheres, mas também dos ho-
Sucesso!!!V Encontro Cana Substantivo Femininose consolida como um dos principais eventos do setor
Mais de 200 profissionais
prestigiaram o V Encontro Cana
Substantivo Feminino
mens. Antonio César Salibe, diretor execu-
tivo da Udop, parabenizou a organização
da quinta edição do Encontro Cana Subs-
tantivo Feminino. Para ele, a cada edição
o encontro cresce mais em público e em
qualidade das palestras. “Um exemplo foi
o painel sobre como e onde melhorar na
área agrícola, com convidadas de alto ní-
vel e palestras muito esclarecedoras. Elas
deram aula sobre o que está sendo feito
em suas empresas.”
O Encontro reuniu tanto no público
CANA SUBSTANTIVO FEMININO
108 Abril · 2016
Painel: A sustentabilidade ganha espaço na gestão empresarial –das ações socioambientais à boa empresa para trabalharCristiane Lourenço, Gerente de Desenvolvimento Sustentável e Parcerias na Cadeia de Valor da Bayer CropScience, Maria Luiza Barbosa, diretora da TerraGrata Consultoria e Consultora de Sustentabilidade da Unica, Ana Carolina Velasco, Gerente de Relacionamento do GIFE - Grupo de Institutos Fundações e Empresas
Painel: O setor sucroenergético sob a ótica feminina – como e onde melhorar - da área agrícola ao mercado externoA jornalista Luciana Paiva bate um papo com: Alessandra Orlando, gerente de Consultoria de RH da área de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raízen; Béatrice de Toledo Dupuy, Gerente de Comunicação Corporativa da Tereos Guarani; Danila Passarin, pesquisadora do CTC; Elis Santos, da DEAG, Documentação e Trâmites Aduaneiros; Maria Paula Curto, Diretora de Recursos Humanos da Biosev; Priscilla Valerio de Almeida, Diretora Administrativa da Agrícola Volta Grande, Márcia Rossini Mutton, professora da FCAV – Unesp de Jaboticabal, SP
109
110 Abril · 2016
O agronegócio sob a ótica feminina – como e onde melhorarPaula Bellodi Santana, produtora de cana, noz macadâmia e gado, Jaboticabal, SP, Mirela Gradim, Superintendente da Coplana, Guariba, SP, Elizana Baldissera Paranhos, agricultora de Capão Bonito, SP, vencedora da região Sudeste do País do Desafio de Máxima Produtividade da Soja (2014), realizado pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB) e Mônika Bergamaschi, ex-secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e atual presidente-executiva do Instituto Brasileiro para Inovação e Sustentabilidade no Agronegócio (Ibisa)
Princípios de Empoderamento das Mulheres, iniciativa da ONU Mulheres e do Pacto Global criada para incentivar a igualdade de gênero e o empoderamento da mulher no trabalho e na comunidadePedro Mizutani, vice-presidente de Relações Externas e Estratégia da Raízen, Carla Pires, Grupo Odebrecht, Karina Fonseca, Odebrecht Agro e Ana Paula Malvestio, Sócia e Líder em Diversidade da PwC
CANA SUBSTANTIVO FEMININO
111
112 Abril · 2016
como entre as palestrantes mulheres com
história de garra, superação, dedicação e
muita competência. Não apenas falaram
do papel das mulheres em suas organi-
zações, como analisaram questões como
sustentabilidade, gestão agrícola, agrone-
gócio e apresentaram trabalhos que têm
sido feitos quanto ao empoderamento fe-
minino. O evento também discutiu ques-
tões técnicas, de interesse dos profissio-
nais que atuam no agro e, especialmente,
com cana-de-açúcar, dando ideia do que
se pode esperar para a próxima safra
sucroenergética.
O único homem a participar dos pai-
néis foi Pedro Mizutani, vice-presidente de
Relações Externas e Estratégia da Raízen,
que acredita muito no potencial femini-
As mulheres invadem o Centro de Cana do IAC
Os participantes
ganharam mimos
de empresas
apoiadoras
Nos intervalos o papo rolou solto
CANA SUBSTANTIVO FEMININO
113
no. Mas ele percebe que elas ainda são tí-
midas na busca por maior espaço nas or-
ganizações. “Elas têm o desejo, mas têm
timidez, inclusive para buscarem mais
oportunidades. Há muito mais campo de
trabalho que poderiam ocupar.”
O encerramento do V Encontro Cana
Substantivo Feminino ficou por conta da
apresentação musical de Pedro Mizuta-
ni e do Grupo Todos Nós, que levantou o
público e fechou o evento com chave de
ouro.
Confira alguns flashes neste balanço
do Encontro e veja matéria completa na
próxima edição (31) da Revista CanaOnli-
ne, visualize no site ou baixe grátis o apli-
cativo para tablets e smartphones – www.
canaonline.com.br.
Ao longo do dia, as participantes do V Encontro Cana Substantivo Feminino puderam testar suas habilidades em operar um simulador de colheita de cana-de-açúcar disponibilizado pela Raízen
Os participantes também se interessaram em
saber mais sobre as tecnologias expostas
Antonio César Salibe, diretor executivo da Udop, parabenizou a organização do V Encontro Cana Substantivo Feminino A homenageada do V Encontro Cana Substantivo Feminino foi Maria Jorgete Stupiello, esposa de José Paulo Stupiello, presidente da STAB
114 Abril · 2016
No encerramento, o Grupo Todos Nós convidou o público para dançar e cantar
As 10 melhores
pontuações no simulador
foram premiadas pela
Raízen e pelo CTC...
Premiada pelo Grupo São Francisco...
Premiada pela ENG
CANA SUBSTANTIVO FEMININO
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