Comédia Dell Arte

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA LICENCIATURA EM ARTES-TEATRO ANTÔNIO HAMILTON HALLEY LOPES ALELUIA CLÁUDIA TEIXEIRA PINTO ARAUJO ISABEL LISBOA DA SILVA SIMONE RIBEIRO FROES COMÉDIA DELL ARTE

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Comédia Dell Arte

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIALICENCIATURA EM ARTES-TEATRO

ANTNIO HAMILTON HALLEY LOPES ALELUIACLUDIA TEIXEIRA PINTO ARAUJOISABEL LISBOA DA SILVASIMONE RIBEIRO FROES

COMDIA DELL ARTE

JEQUI BA2014ANTNIO HAMILTON HALLEY LOPES ALELUIACLUDIA TEIXEIRA PINTO ARAUJOISABEL LISBOA DA SLVASIMONE RIBEIRO FROES

COMDIA DELL ARTE

Atividade apresentada disciplina Histria do Teatro II, do Curso de Licenciatura em Artes-Teatro, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, sob a orientao da professora Alda Ftima de Souza.

JEQUI BA2014SUMRIO

1. Commedia dell'Arte.......................................................................................................42. Principais caractersticas................................................................................................53. Personagens...................................................................................................................84. Atores e companhias.....................................................................................................95. Contribuies...............................................................................................................106. Referncias..................................................................................................................10

COMMEDIA DELL'ARTE

A Commedia dell'Arte ( comdia da arte) uma forma de teatro popular que surgiu na Itlia, pas que ainda mantinha viva a cultura do teatro popular na Antiguidade Clssica, desenvolvendo-se no Renascimento (perodo em que ocorreu o Teatro Renascentista ou o Teatro Elizabetano na Inglaterra), entre os sculos XVI e XVII, e mantendo sua popularidade at o final do sculo XVIII. Seu impulso imediato veio do carnaval, com os cortejos mascarados e suas apresentaes de nmeros acrobticos e pantomimas. Teve o papel fundamental dentro da sociedade para desmistificar o teatro, que durante sculos seguiu um padro extremamente opressor e fora dos modelos populares, abrindo as portas para uma nova forma de dramaturgia, sem os conceitos que, durante muito tempo, impossibilitaram a criao livre de dramaturgos e encenadores, pois se utilizando da linguagem coloquial do povo, ofereceu ao ator total liberdade de criao e improvisao, tendo como objetivo, alm de levar lazer ao povo nas praas pblicas, contrariar os excessos dos ricos e poderosos e satirizar a aristocracia e o poder. Sua origem remonta a Roma antiga, por intermdio da Fbula Atelana, uma espcie de farsa vinda da cidade de Atela, popular em 240a.C., cuja representao consistia no desenvolvimento improvisado de intrigas pr-determinadas que aconteciam mediante quatro tipos fixos caracterizados por mscaras, no comportamento e no aspecto, estilizando tipos populares. Era representada por atores profissionais, e teve vrias denominaes como Commedia all'improviso (comdia fundamentada sobre o improviso), Commedia a soggeto (comdia desenvolvida atravs de um roteiro) e ainda Commedia delle Maschere (comdia de mscaras). De acordo com Margot Berthold: Quando o conceito de Commedia dellarte surgiu na Itlia no comeo do sculo XVI, inicialmente significava no mais que uma delimitao em face do teatro literrio culto, a commedia erudita. Os atores dellarte eram, no sentido original da palavra, artesos de sua arte, a do teatro. Foram, ao contrrio dos grupos amadores acadmicos, os primeiros atores profissionais. (BERTHOLD, 2004, p. 353) Pela primeira vez, as mulheres tiveram o direito de participar na produo teatral (em contraste com o teatro elizabetano). O nmero de papis femininos aumentou, embora no tenham se tornado to permanente e profundo como os personagens masculinos. Mais do que autores e textos, o que marcou essa linguagem teatral foram os personagens. Cada personagem tinha caractersticas prprias, apresentava mscaras e figurinos especficos, personalidade, trejeitos, formas de se movimentar, posturas corporais e gestos bem marcados. Sendo cada ator especialista em determinado personagem, o qual representava durante toda a vida. Para Jean-Jacques Roubine, o ator chegava a doar sua vida ao personagem que representava:O ator dell'arte, que no entanto domina quase todas as tcnicas de representao de seu tempo (improvisar um texto, mas tambm recit-lo, cantar, danar, executar nmeros de habilidades e de acrobacia etc.), consagra sua vida a alguns personagens a ponto de formar com eles uma unidade. (ROUBINE, 2002, p. 71)O ator tinha um papel fundamental, cabendo-lhe no s a interpretao do texto, mas tambm improvisao, inovao, malabarismo, canto e outros feitos. A enorme responsabilidade que tinha o ator em desenvolver o seu papel, com o passar do tempo, levou a uma especializao do mesmo, limitando-o a desenvolver uma s personagem e a mant-la at a morte. A contnua busca de uma linguagem puramente teatral levou o gnero a um distanciamento cada vez maior da realidade. A Commedia dellArte se disseminou pelo mundo principalmente durante o perodo da Contrarreforma, quando a Igreja catlica comeou a perseguir esse tipo de trabalho alegando que as peas tratavam de temas infames e contrrios religio. Os atores se espalharam, buscando outros locais para se fixar, principalmente na Frana e Espanha, motivo pelo qual nesses lugares encontram-se os mesmos personagens, porm muitas vezes com nomes diferentes. Afirmam tambm alguns estudiosos que, pelo fato de nesses pases as peas serem apresentadas em lngua estrangeira, a italiana, a linguagem corporal foi se aprimorando cada vez mais, pois os atores tinham de comunicar a histria por meio do corpo, movimentaes e aes. Foi somente no sculo XVIII que Carlos Goldoni, escritor italiano, comeou a registr-la em textos escritos, perdendo por um lado o carter de improviso dessa forma de arte, mas, por outro, preservando as histrias, que so encenadas at os dias de hoje por grupos do mundo todo.

PRINCIPAIS CARACTERSTICAS

Na Commedia dellArte a dramaturgia nascia a partir da encenao dos atores, que alm de terem uma intensa preparao tcnica (vocal, corporal, musical) representavam, geralmente, o mesmo personagem por toda vida, criando uma codificao precisa do tipo representado. Os espetculos eram repletos de situaes cmicas e improvisos, e eram elaborados por meio de criao coletiva, utilizando-se um roteiro bsico, chamado canovaccio, que variava muito em termos de intriga e de relao entre os personagens. Na poca no existiam textos escritos para a Commedia dell'Arte, tudo era feito de maneira improvisada com base nesses roteiros, porm cada personagem possua um repertrio prprio que se recombinava conforme a situao. O canovaccio trazia um esboo da pea, o que os atores iriam representar, a exemplo do argumento da pea A Venturosa Isabella, apresentado por Flamnio Scala. Viveu outrora em Gnova um jovem bem-nascido e de boa fortuna, denominado Cntio, ao qual, tendo perdido pai e me, restara uma nica irm, dotada de muita beleza e honrados costumes. Deu-se que o irmo (cujo nico desejo era o de bem despos-la) fizesse amizade com um certo Capito, cujo nico desejo era o de ter a citada irm por esposa; percebendo isto, o irmo foi ter uma conversa ntima com a irm, a qual tambm mostrou desejo afim ao do Capito. Assim, contrado entre os dois matrimnios de f e de palavra, deu-se que o citado Capito, devido a importantssimos negcios, necessitou mudar-se para Npoles, no sem antes prometer estar de volta muito em breve e casar-se com Isabella, pois que este era o nome da jovem. No entanto, sua permanncia em Npoles pelo tempo de trs anos, e seu esquecimento da promessa feita, levou o irmo a tomar a deciso de casar novamente, e com melhor partido, a irm. A qual, percebendo o que ele pretendia, abertamente disse j no querer um marido. Diante da constante presso do irmo, planejou deixar a ptria e, em trajes de criada, levando um criado seu, mudou-se para Roma, onde ouvira estar o Capito, que mais uma vez e com outra mulher, casar-se pretendia. Atuando seu plano, foi a Roma, com a nica inteno de censurar o Capito pela falta para com a palavra dada. Uma vez encontrado, desabafa-se com ele e depois, devido a vrios acontecimentos, torna-se mulher de outra pessoa, com satisfao do prprio irmo. (SCALA, 2003, p. 86)

Dentro da estrutura dos canovaccios tambm existia a possibilidade de intervenes autnomas, denominadas de lazzi (piadas, tiradas, situaes engraadas) que os atores introduziam para comentar ou sublinhar comicamente as aes principais, interligar as cenas e ocupar os espaos vazios. Com o uso, esses lazzi eram repetidos e fixados e passavam a fazer parte do repertrio dos personagens. Segundo Dario Fo, os artistas da Commedia dell'Arte eram muito bem preparados:Os cmicos possuam uma bagagem incalculvel de situaes, dilogos, gags, lenga-lengas, ladainhas, todas arquivadas na memria, as quais utilizavam no momento certo, com grande sentido de timing, dando a impresso de estar improvisando a cada instante. Era uma bagagem construda e assimilada com a prtica de infinitas rplicas, de diferentes espetculos, situaes acontecidas tambm como o contato com o pblico, mas a grande maioria era, certamente, fruto de exerccio e estudo. (FO, 2011, p. 17)As companhias consistiam normalmente de oito a doze atores que mantinham forte tradio familiar e artesanal, percorrendo toda a Europa, apresentando-se em vilas, cidades e lugarejos, nas ruas e praas pblicas, sempre pedindo permisso ao chegar, para se apresentar com suas carroas ou praticveis, sendo rara a possibilidade de se apresentarem em um espao cnico adequado. A precariedade dos meios de transporte e vias e as consequentes dificuldades de locomoo, determinavam a simplicidade dos adereos e cenrios. Muitas vezes, estes ltimos resumiam-se a uma enorme tela pintada com a perspectiva de uma rua, de uma casa ou de um palcio. O ator era o elemento mais importante, pois sem grandes recursos materiais eles tornaram-se grandes intrpretes, levando a teatralidade ao seu expoente mais elevado.O uso da mscara foi extremamente importante e para serem utilizadas os atores deveriam dominar sua tcnica. Deixavam a parte inferior do rosto descoberta, permitindo uma perfeita fonao e uma cmoda respirao. Permitiam o imediato reconhecimento do personagem pelo pblico, no propondo uma caracterizao definitiva dos personagens, porm delimitando. Nas antigas civilizaes a mscara assumia o carter sagrado e mitolgico da representao, j na Commedia dellArte reproduzia caractersticas italianas e satiriza com a regio do pas que representava, auxiliada pelos diversos dialetos ou falas com expresses dialetais.As mscaras reproduziam as caractersticas que os italianos atribuam a cada regio do pas: o mercador da Repblica de Veneza, o carregador Brgamo, o pedante de Bolonha, o apaixonado toscano, o capito espanhol ou italiano, ou napolitano [...] Assim a representao da Commedia dellArte fornece um quadro completo das classes e das regies italianas (SCALA, 2003, p. 22).Entretanto a mscara s faz sentido no conjunto da encenao e quando mantm preservada a personagem das transformaes que intrpretes diferentes, em fsico, idade, estilo, etc., introduziam sempre. Alm de valorizar as habilidades gestuais e corporais, tambm assumia uma diversidade expressiva de que o rosto no podia se encarregar, pois tirava a expresso facial do ator para for-lo a explorar o potencial expressivo do restante de seu corpo.

PERSONAGENS

Os personagens, chamados de tipi fissi (tipos fixos) eram identificados atravs de figurinos e mscaras, alguns at carregavam adereos, como palmatrias e eram divididos em trs categorias: os enamorados (innamorati), os velhos (vecchi) e os criados, chamados zannis. Eram uma espcie de representao arquetpica dos tipos sociais da poca. Algumas representavam regies da Itlia e falavam dialetos tpicos dessas regies.Pantaleo (Pantalone): Rico comerciante, muito conservador, avarento e mulherengo, sempre corteja uma das moas da histria. Fala dialeto veneziano, tendo o costume de colocar provrbios no meio das falas. Usa uma mscara negra de nariz pontudo, barbicha, cala, meias vermelhas, chinelos, casaco preto at o tornozelo e uma bolsa pequena na cintura.Doutor (Dottore): Vivo, advogado ou mdico. Ora aliado de Pantaleo, ora rival. Quando nasceu, no chorou, disse uma frase em latim. Fala o dialeto de Bologna, sempre diz coisas em latim para se mostrar erudito, porm no to culto. facilmente enganado pelos outros. Representa um marido trado pela mulher e muito ciumento. Usa uma mscara que cobre apenas o nariz e a testa, usa roupa branca e preta. Os criados dividiam-se em duas categorias: o primeiro zanni, esperto, que com suas intrigas movimentava para frente as aes; e o segundo zanni, rude e simplrio, que com suas atrapalhadas brincadeiras interrompia as aes e desencadeava a comicidade.Arlequim (Arlecchino): O mais conhecido dos criados. a representao do homem que busca trabalho, est sempre com fome, arma as intrigas da histria e possuidor de uma incrvel destreza corporal. Usa meia mscara preta e veste roupas remendadas com losangos verdes, vermelhos e azuis e chapu preto ou branco.Briguela (Brighella): cnico e astuto, o mais inquieto e esperto dos personagens, disputando com Arlequim o amor da criada. Usa roupa verde e branca, com capa, mscara verde com nariz pontudo e lbios grossos. Polichinelo (Pulchinella): um campons napolitano, corcunda, de movimentao muito lenta, o mais vulgar dos criados, parece tolo, mas no . Usa grande capuz e mscara com nariz adunco. Zerbinetta: Personagem feminino conhecido por outros nomes como: Colombina, Corallina, Rosetta. sensual, interesseira, debochada, adorando ser disputada pelos outros criados. No usa mscara.Os enamorados, casal de jovens apaixonados. Aparecem com vrios nomes diferentes, dependendo do roteiro. No usam mscaras, cantam e danam muito bem, falam o dialeto de Toscana.Orazio: Apresenta tambm outros nomes como Flvio, Otvio, Llio ou Flvio. Jovem e atraente, egosta, ftil e vaidoso, vestido sempre na ltima moda. Ingnuo, apaixona-se facilmente, sendo alvo das armaes de Arlequim.Isabela: Sedutora, apesar de inocente, apaixona-se facilmente, refinada e vaidosa, tambm independente e rebelde, o que ocasiona conflitos com o pai. Geralmente filha de Pantaleo, mas pode aparecer como sua esposa.Entre outros personagens importantes h Capitano (Capito), sempre o ltimo personagem a aparecer na histria: Um covarde que contava vantagens de suas proezas em batalhas e no amor, para depois ser completamente desmentido. Mostrava-se um valente, embora fosse um grande covarde. Fazia uma stira aos soldados espanhis. Usa chapu de plumas, colete, camisa com mangas bufantes, cala apertada, capa e espada. As suas derrotas constituam um dos momentos marcantes da comdia.

ATORES E COMPANHIAS

O ator e autor ngelo Beolco (15021542) teve grande importncia para a Commedia dell'Arte, tendo sido conhecido como Ruzante, personagem que representava e que se caracterizava por ser um campons guloso, grosseiro, preguioso, ingnuo e zombador, estando no centro de quase todos os contextos cmicos. Nas suas comdias o ator recitava em dialeto padovano. Por representarem os primeiros documentos literrios em que a repetio de caracteres iguais em personagens de mesmo nome anima uma srie de tipos-fixos, que podem ser considerados os precursores das mscaras da Commedia dell'Arte, indiscutvel sua importncia na histria do teatro italiano.Uma das mais famosas intrpretes foi Isabella Andreini. Isabella foi to popular que, mais tarde, seu nome foi emprestado a um dos personagens da Commedia.Em 1545 tm-se o registro da formao da primeira trupe I Gelosi (Os Ciumentos), na cidade de Pdua. As melhores companhias (I Gelosi, Confidenti, Fideli) conseguiram levar suas peas da rua para o palcio, e a todas as grandes cidades da Europa renascentista, fascinando e atraindo o pblico de todas as classes socais.CONTRIBUIES

A Commedia dellArte teve papel fundamental dentro da sociedade para desmistificar o teatro, que durantes sculos seguiu um padro extremamente opressor e fora dos modelos populares, alm de abrir as portas para uma nova forma de dramaturgia, sem os conceitos que, durante muito tempo, impossibilitaram a criao livre de dramaturgos e encenadores.Influenciou a maioria dos dramaturgos cmicos, sendo que se pode considerar como o mais importante o francs Molire, maior representante do gnero comdia de caracteres, um tipo de comdia que satirizava os costumes e os tipos sociais da corte francesa do sculo XVII. Durante quase trs sculos exerceu fascinao por quase toda a Europa e tambm entusiasmou atores, dramaturgos e encenadores como: Shakespeare, JeanLouis Barrault, Meyerhold, Jacques Lecoq, Dario Fo, Strehler, e tantos outros. Porm, merece destaque o primeiro autor a formalizar atravs da dramaturgia a tradio da Commedia dellArte, o italiano Carlo Goldoni, com as peas Mirandolina, Arlequim, servidor de dois patres, etcDa mesma forma inspirou bastantes personagens famosas contemporneas como: Chaplin, o Gordo e o Magro, Oscarito, Grande Otelo e tambm o palhao de circo. sobretudo na herana da commedia dellarte que o teatro moderno funda as prprias razes.Algumas caractersticas desta manifestao artstica esto presentes at hoje em autos populares brasileiros, a exemplo do Bumba-meu-boi, na presena dos mascarados Mateu, Birico e Catirina que trazem fortes semelhanas com os zannis.

REFERNCIAS BERTHOLD, Margot. Histria Mundial do Teatro. So Paulo: Perspectiva, 2004.FO, Dario. Manual Mnimo do Ator. 5 ed. So Paulo: Senac, 2011.https://ead.ufrgs.br/rooda/biblioteca/http://pequenahistoriadoteatro.blogspot.com.br/2008/05/commdia-dellarte.htmlROUBINE, Jean-Jacques. A Arte do Ator. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.SCALA, Flamnio. A loucura de Isabella e outras comdias da Commedia dellArte. So Paulo: Fapesp/ Iluminuras, 2003.