Comentário: 27° Domingo do Tempo Comum - Ano A

2
NOSSA MISSÃO: PRODUZIR FRUTOS DE JUSTIÇA E DIREITO Pe. José Bortoline – Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulos, 2007 * LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL * ANO: A – TEMPO LITÚRGICO: 27° DOMINGO TEMPO COMUM COR: VERDE I. INTRODUÇÃO GERAL 1. Nós somos parte do povo de Deus e nos reunimos para celebrar a fé. A celebração é o espaço onde pedimos e agrade- cemos. Agradecemos porque recebemos e pedimos porque precisamos. À semelhança da comunidade de Filipos, somos convidados a fazer das celebrações um espaço onde aprende- mos a ser ternos apesar dos conflitos e a discernir o bem que está sendo feito (2ª leitura Fl 4,6-9). Nelas descobrimos que a caminhada é longa, mas Jesus é nossa sustentação nas lutas pela justiça e direito, síntese da nossa missão (evangelho Mt 21,33-43). Se não tomarmos a sério esse compromisso (1ª leitura Is 5,1-7), não poderemos afirmar que somos parte do povo ao qual Deus confiou seu Reino. II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 1ª leitura (Is 5,1-7): Um povo que não produz frutos de justiça e direito 2. Este é um dos poemas mais bonitos de todo o Antigo Testamento. Nele o amigo do esposo (isto é, o profeta) canta as decepções e a não-correspondência por parte de quem se esperava uma resposta de amor. 3. Lido no plano real, o poema lembra a vida na roça e fala da frustração do agricultor diante do insucesso no cultivo de parreiras. O agricultor pensou e agiu do melhor modo possí- vel: escolheu um terreno numa fértil encosta, pois ela é o lugar mais adequado para o cultivo de videiras; tirou as pedras e escolheu cepas da melhor qualidade; levantou ao redor da plantação um muro de pedras (cf. v. 5), para que os animais não entrem nela e causem dano (ainda hoje, na Palestina, po- dem ser vistas parreiras se espalhando pelo chão; daí a neces- sidade de cerca); ergueu no centro do parreiral uma torre de vigia, a fim de que seus frutos não sejam roubados, e até ca- vou um lagar para pisar as uvas. Agora é só esperar que pro- duza frutos; mas, surpreendentemente, o parreiral deu uvas azedas (v. 2). 4. O v. 3 põe os ouvintes na roda. Eles são chamados a ser árbitros entre o agricultor e a vinha: "O que poderia ainda ter feito por minha vinha e eu não o fiz? Eu contava com uvas gostosas, mas por que ela produziu uvas azedas?" (v. 4). A resposta dos que ouvem o poema, apesar de não ter sido regis- trada no texto, é evidente: os ouvintes reconhecem que tudo foi bem executado; agora aprovam o que o agricultor vai fa- zer: "Vou desmanchar a cerca protetora e ela será devastada, vou derrubar o seu muro e ela será calcada aos pés. Vou entre- gá-la à devastação: não será mais podada nem capinada, de modo que os espinhos e mato a abafem. Vou proibir às nuvens que a molhem com chuva" (v. 6). 5. Este último elemento nos força a descer a um plano mais profundo, pois nenhum agricultor tem poder sobre as nuvens do céu. Para o povo da Bíblia, só Deus é que pode fazer isso (cf. Jó 38,34). Então o poema não é tanto um cântico de um agricultor desiludido com suas parreiras, quanto a frustração de Deus em relação à sua noiva, Israel: "Pois a vinha do Se- nhor Todo-poderoso é a casa de Israel, e os cidadãos de Judá são sua plantação querida" (v. 7a). Lido em profundidade, o poema mostra um Deus extremamente zeloso com seu povo, libertando-o da escravidão do Egito e plantando-o na Terra Prometida, aí instalando-o como povo livre e responsável pela construção de sociedade justa e fraterna, onde a justiça e o direito fossem as bases dessa nova sociedade. Deus não tinha mais nada a fazer, a não ser esperar (vv. 2.4.7) que desse fru- tos. Mas o que se constata é justamente o contrário: "Ele espe- rava que reinasse o direito, mas eis que domina a violação do direito; esperava pela justiça, mas só se ouvem os gritos dos injustiçados" (v. 7b). 6. Os interlocutores do profeta haviam concordado com o agricultor quando ele decidiu desmanchar a cerca protetora para que a vinha fosse devastada. Agora terão de concordar que a invasão assíria e a ruína do país serão conseqüência de uma série de injustiças e violações do direito. Quando a justiça e o direito (cercas que protegem o povo, sobretudo os peque- nos) são pisados, é sinal de que o país está próximo da ruína. Evangelho (Mt 21,33-43): Um povo que produza frutos de justiça e direito 7. Jesus está em Jerusalém e, mais exatamente, no Templo, centro do poder político, econômico e ideológico daquela época. É aí que ele conta três parábolas: a primeira já foi apre- sentada (cf. evangelho do domingo passado) e a terceira irá aparecer no próximo domingo. Trata-se de parábolas de con- fronto e de conflito entre o Mestre da Justiça e os promotores da sociedade injusta, representados pelos chefes dos sacerdo- tes (poder religioso-ideológico) e anciãos do povo (poder econômico). Na parábola de hoje eles são os vinhateiros. Não só não produzem frutos de justiça e direito, mas impedem que os mensageiros do proprietário (os profetas) suscitem no povo esses mesmos frutos. 8. A parábola de hoje se encontra também em Marcos e Lucas. Mateus, contudo, a trabalhou a seu modo, conferindo- lhe cores próprias. A primeira mudança substancial que ele introduziu está no fato de Jesus perguntar aos ouvintes (os chefes dos sacerdotes e anciãos do Sinédrio) o que o dono da vinha deveria fazer com aqueles empregados maus que mata- ram os empregados e o próprio filho do proprietário. E a res- posta que dão é a sentença contra eles próprios. Outra mudan- ça substancial é a conclusão da parábola: "O Reino de Deus será tirado de vocês e será entregue a um povo que produzirá seus frutos" (v. 43). Finalmente, é própria de Mateus a insis- tência sobre os frutos da vinha que representa o Reino de Deus. À luz do texto de Isaías (cf.1ª leitura) estamos em con- dições de saber quais são esses frutos: trata-se da justiça e do direito. Sem eles não é possível pertencer ao Reino de Deus (cf. 5,20). 9. A parábola é uma rápida síntese da história. Deus, repre- sentado pelo proprietário da vinha, deu provas de extrema dedicação a seu povo, como o agricultor que cerca sua vinha, põe no centro uma torre de vigia e até cava um lagar para pisar as uvas (v. 33). A vinha tem todas as condições de dar frutos, e o lagar está aí para testemunhar que o processo só será con- cluído com a apresentação dos frutos. Transpondo a parábola para a vida, constatamos que Deus não quer nada para si. O que ele quer de seu povo são frutos de justiça e direito e isso, bem o sabemos, diz respeito às relações sociais. 10. A história é o tempo e o lugar onde Deus quer colher frutos de justiça e direito: "Quando chegou o tempo da colhei- ta, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos" (v. 34). Mas o que tem acontecido ao longo da história do povo de Deus? A parábola mostra uma violência constante e crescente contra os que Deus enviou como seus mensageiros: uns foram espancados, outros mortos, outros ainda apedrejados (v. 35). Para o povo da Bíblia, o apedrejamento era a pior condenação. O proprietário não se

description

Comentário bíblico: 27° Domingo do Tempo Comum - Ano A - TEMA: "NOSSA MISSÃO: PRODUZIR FRUTOS DE JUSTIÇA E DIREITO" - LEITURAS BÍBLICAS (PERÍCOPES): https://pt.slideshare.net/josejlima3/27-domingo-do-tempo-comum-ano-a-2014 - TEMAS E COMENTÁRIOS: AUTORIA: Pe. José; Bortolini, Roteiros Homiléticos, Anos A, B, C Festas e Solenidades, Editora Paulus, 3ª edição, 2007 - OUTROS: http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=430 SOBRE LECIONÁRIOS: - LUTERANOS: http://www.luteranos.com.br/conteudo/o-lecionario-ecumenico - LECIONÁRIO PARA CRIANÇAS (Inglês/Espanhol): http://sermons4kids.com - LECIONÁRIO COMUM REVISADO (Inglês): http://www.lectionary.org/ http://www.commontexts.org/history/members.html ; http://lectionary.library.vanderbilt.edu/ - ESPANHOL: http://www.isedet.edu.ar/publicaciones/eeh.htm (Less)

Transcript of Comentário: 27° Domingo do Tempo Comum - Ano A

NOSSA MISSÃO: PRODUZIR FRUTOS DE JUSTIÇA E DIREITO Pe. José Bortoline – Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulos, 2007

* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL * ANO: A – TEMPO LITÚRGICO: 27° DOMINGO TEMPO COMUM – COR: VERDE

I. INTRODUÇÃO GERAL

1. Nós somos parte do povo de Deus e nos reunimos para celebrar a fé. A celebração é o espaço onde pedimos e agrade-cemos. Agradecemos porque recebemos e pedimos porque precisamos. À semelhança da comunidade de Filipos, somos convidados a fazer das celebrações um espaço onde aprende-mos a ser ternos apesar dos conflitos e a discernir o bem que está sendo feito (2ª leitura Fl 4,6-9). Nelas descobrimos que a caminhada é longa, mas Jesus é nossa sustentação nas lutas pela justiça e direito, síntese da nossa missão (evangelho Mt 21,33-43). Se não tomarmos a sério esse compromisso (1ª leitura Is 5,1-7), não poderemos afirmar que somos parte do povo ao qual Deus confiou seu Reino.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1ª leitura (Is 5,1-7): Um povo que não produz frutos de justiça e direito

2. Este é um dos poemas mais bonitos de todo o Antigo Testamento. Nele o amigo do esposo (isto é, o profeta) canta as decepções e a não-correspondência por parte de quem se esperava uma resposta de amor.

3. Lido no plano real, o poema lembra a vida na roça e fala da frustração do agricultor diante do insucesso no cultivo de parreiras. O agricultor pensou e agiu do melhor modo possí-vel: escolheu um terreno numa fértil encosta, pois ela é o lugar mais adequado para o cultivo de videiras; tirou as pedras e escolheu cepas da melhor qualidade; levantou ao redor da plantação um muro de pedras (cf. v. 5), para que os animais não entrem nela e causem dano (ainda hoje, na Palestina, po-dem ser vistas parreiras se espalhando pelo chão; daí a neces-sidade de cerca); ergueu no centro do parreiral uma torre de vigia, a fim de que seus frutos não sejam roubados, e até ca-vou um lagar para pisar as uvas. Agora é só esperar que pro-duza frutos; mas, surpreendentemente, o parreiral deu uvas azedas (v. 2).

4. O v. 3 põe os ouvintes na roda. Eles são chamados a ser árbitros entre o agricultor e a vinha: "O que poderia ainda ter feito por minha vinha e eu não o fiz? Eu contava com uvas gostosas, mas por que ela produziu uvas azedas?" (v. 4). A resposta dos que ouvem o poema, apesar de não ter sido regis-trada no texto, é evidente: os ouvintes reconhecem que tudo foi bem executado; agora aprovam o que o agricultor vai fa-zer: "Vou desmanchar a cerca protetora e ela será devastada, vou derrubar o seu muro e ela será calcada aos pés. Vou entre-gá-la à devastação: não será mais podada nem capinada, de modo que os espinhos e mato a abafem. Vou proibir às nuvens que a molhem com chuva" (v. 6).

5. Este último elemento nos força a descer a um plano mais profundo, pois nenhum agricultor tem poder sobre as nuvens do céu. Para o povo da Bíblia, só Deus é que pode fazer isso (cf. Jó 38,34). Então o poema não é tanto um cântico de um agricultor desiludido com suas parreiras, quanto a frustração de Deus em relação à sua noiva, Israel: "Pois a vinha do Se-nhor Todo-poderoso é a casa de Israel, e os cidadãos de Judá são sua plantação querida" (v. 7a). Lido em profundidade, o poema mostra um Deus extremamente zeloso com seu povo, libertando-o da escravidão do Egito e plantando-o na Terra Prometida, aí instalando-o como povo livre e responsável pela construção de sociedade justa e fraterna, onde a justiça e o direito fossem as bases dessa nova sociedade. Deus não tinha mais nada a fazer, a não ser esperar (vv. 2.4.7) que desse fru-

tos. Mas o que se constata é justamente o contrário: "Ele espe-rava que reinasse o direito, mas eis que domina a violação do direito; esperava pela justiça, mas só se ouvem os gritos dos injustiçados" (v. 7b).

6. Os interlocutores do profeta haviam concordado com o agricultor quando ele decidiu desmanchar a cerca protetora para que a vinha fosse devastada. Agora terão de concordar que a invasão assíria e a ruína do país serão conseqüência de uma série de injustiças e violações do direito. Quando a justiça e o direito (cercas que protegem o povo, sobretudo os peque-nos) são pisados, é sinal de que o país está próximo da ruína.

Evangelho (Mt 21,33-43): Um povo que produza frutos de justiça e direito

7. Jesus está em Jerusalém e, mais exatamente, no Templo, centro do poder político, econômico e ideológico daquela época. É aí que ele conta três parábolas: a primeira já foi apre-sentada (cf. evangelho do domingo passado) e a terceira irá aparecer no próximo domingo. Trata-se de parábolas de con-fronto e de conflito entre o Mestre da Justiça e os promotores da sociedade injusta, representados pelos chefes dos sacerdo-tes (poder religioso-ideológico) e anciãos do povo (poder econômico). Na parábola de hoje eles são os vinhateiros. Não só não produzem frutos de justiça e direito, mas impedem que os mensageiros do proprietário (os profetas) suscitem no povo esses mesmos frutos.

8. A parábola de hoje se encontra também em Marcos e Lucas. Mateus, contudo, a trabalhou a seu modo, conferindo-lhe cores próprias. A primeira mudança substancial que ele introduziu está no fato de Jesus perguntar aos ouvintes (os chefes dos sacerdotes e anciãos do Sinédrio) o que o dono da vinha deveria fazer com aqueles empregados maus que mata-ram os empregados e o próprio filho do proprietário. E a res-posta que dão é a sentença contra eles próprios. Outra mudan-ça substancial é a conclusão da parábola: "O Reino de Deus será tirado de vocês e será entregue a um povo que produzirá seus frutos" (v. 43). Finalmente, é própria de Mateus a insis-tência sobre os frutos da vinha que representa o Reino de Deus. À luz do texto de Isaías (cf.1ª leitura) estamos em con-dições de saber quais são esses frutos: trata-se da justiça e do direito. Sem eles não é possível pertencer ao Reino de Deus (cf. 5,20).

9. A parábola é uma rápida síntese da história. Deus, repre-sentado pelo proprietário da vinha, deu provas de extrema dedicação a seu povo, como o agricultor que cerca sua vinha, põe no centro uma torre de vigia e até cava um lagar para pisar as uvas (v. 33). A vinha tem todas as condições de dar frutos, e o lagar está aí para testemunhar que o processo só será con-cluído com a apresentação dos frutos. Transpondo a parábola para a vida, constatamos que Deus não quer nada para si. O que ele quer de seu povo são frutos de justiça e direito e isso, bem o sabemos, diz respeito às relações sociais.

10. A história é o tempo e o lugar onde Deus quer colher frutos de justiça e direito: "Quando chegou o tempo da colhei-ta, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos" (v. 34). Mas o que tem acontecido ao longo da história do povo de Deus? A parábola mostra uma violência constante e crescente contra os que Deus enviou como seus mensageiros: uns foram espancados, outros mortos, outros ainda apedrejados (v. 35). Para o povo da Bíblia, o apedrejamento era a pior condenação. O proprietário não se

cansa, e envia outros empregados, em número maior, mas eles os tratam da mesma forma (v. 36). Jesus traça um quadro totalmente negativo das lideranças do povo: ao amor sempre crescente de Deus corresponde violência sempre maior das lideranças. Alguns estudiosos vêem no primeiro grupo de empregados os profetas antes do exílio e, no segundo, os pro-fetas posteriores ao cativeiro na Babilônia. Esse detalhe não é importante. O interessante é notar que Deus não se cansa de enviar mensageiros e defensores da justiça e do direito mas, tanto naquele tempo como hoje, as lideranças injustas limpam a praça, aumentando sempre mais a violência contra os profe-tas de Deus.

11. O v. 37 mostra que Deus esgota todas as possibilidades e arrisca tudo. Sua última tentativa é o envio do próprio filho (o texto subentende que seja o único), imaginando que seja res-peitado, pois o filho (Jesus) é o representante legítimo do proprietário (v. 37). É a última tentativa e também a última oportunidade: "Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, tra-maram: ‘Este é o herdeiro. Venham, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança’. Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram" (vv. 38-39).

12. Tentemos aprofundar esses dados. Em primeiro lugar, a morte de Jesus, o Filho de Deus, não é fruto do acaso. Pelo contrário, é resultado de trama bem montada pelas lideranças que defendem a injustiça e pisam o direito. Em segundo lugar, essas lideranças pretendem perpetuar-se na injustiça e violação do direito, pois querem tomar posse da herança do Filho, ou seja, tentam tornar-se, com essas armas, donos vitalícios do povo. Em terceiro lugar, estão dispostos a pôr para fora da vinha (isto é, eliminar sistematicamente) quantos pretendam seguir o caminho do Filho, que é o caminho da justiça e do direito. Jesus foi crucificado fora da cidade, como bandido e banido da sociedade.

13. Aqui cabe uma pergunta: esta parábola é uma criação da comunidade após a morte e ressurreição de Jesus? Não é fácil responder. Mas muitos estudiosos crêem que Jesus tenha de fato contado a parábola às lideranças, pois, a essas alturas, no olho do furacão (no Templo de Jerusalém) ele enfrenta as lideranças e desmascara seus planos de morte.

14. Jesus provoca as lideranças: "Quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?" (v. 40), e elas caem na arapuca: "Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo" (v. 41). Notemos que as lideranças emitem a sentença contra si próprias: são lide-ranças perversas que merecem a morte e a exclusão do povo que luta pela justiça e direito!

15. A conclusão da parábola é evidente. Jesus cita o salmo 118,22s: "A pedra que os construtores rejeitaram (ou seja, ele próprio) tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos" (v. 42). Pedra angular era a

que sustentava, no alto, o arco de entrada de toda construção. Sem ela o arco todo cai e não é possível construir coisa algu-ma. Jesus é essa pedra. Ele é a sustentação do novo povo de Deus, cuja função é produzir, na sociedade, frutos de justiça e direito (cf. v. 43).

2ª leitura (Fl 4,6-9): O sentido da celebração comunitária

16. Continuamos acompanhando, como segunda leitura, os trechos mais significativos da carta aos Filipenses (para uma visão de conjunto, cf. o comentário à 2ª leitura do 25º Domin-go Comum). Após ter mostrado que a comunidade vive confli-tos que vêm de fora e também de dentro, Paulo passa à exorta-ção. Para ele a celebração comunitária da Santa Ceia é mo-mento importante para enxergar com clareza a caminhada e buscar juntos a paz.

17. O texto de hoje inicia recomendando que os filipenses não se angustiem com nada, mas, em qualquer situação, apre-sentem a Deus suas necessidades por meio da oração comuni-tária, no momento da súplica, com sentimentos de gratidão pelo que Deus tem feito às pessoas. Parece ser esse o sentido do v. 6. Fica claro, portanto, que Paulo está falando da cele-bração comunitária como espaço para a serenidade apesar dos conflitos. E acrescenta: "E a paz de Deus, que vai além de todo entendimento, guardará os seus corações e pensamentos em Cristo Jesus" (v. 7). Paulo não tem dúvidas disso. Ele próprio está cercado de conflitos (está na prisão). Apesar dis-so, consegue transmitir paz e serenidade, mostrando-nos que é possível conjugar luta e ternura numa sociedade conflitiva. Confirmação disso é o fato de a carta aos Filipenses transmitir alegria e paz de ponta a ponta. E, notemos, trata-se de carta de um presidiário. Se os conflitos brutalizam as pessoas, é sinal de que alguma coisa não está certa. Isso vale também para nós: deixamo-nos brutalizar pelos conflitos? Onde está a ter-nura? "Os da libertação — disse-me alguém que vê as coisas de fora — parecem pessoas revoltadas".

18. A seguir, Paulo apresenta uma série de coisas boas a serem aprendidas em comunidade: "Ocupem-se com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor" (v. 8). E conclui: "Pratiquem o que aprenderam e receberam de mim, ou que de mim viram e ouviram" (v. 9). A celebração comunitária, portanto, é o espaço onde nos reforçamos diante dos conflitos e nos abastecemos de ternura; é o lugar onde descobrimos muitas coisas boas e nos animamos na caminha-da; onde reavivamos o aprendizado para a prática cristã. De fato, o v. 9 traz alguns verbos próprios da [instrução] primiti-va: aprender, receber, ver, ouvir e praticar. Notemos, ainda, que Paulo não transmitiu aos filipenses um ensino abstrato; pelo contrário, era acompanhado de ações em que as pessoas podiam constatar na vida do agente de pastoral o que ele esta-va transmitindo.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

19. A primeira leitura (Is 5,1-7) e o evangelho (Mt 21,33-43) apresentam o tema deste domin-go: Deus ama seu povo de modo único e extraordinário. E a resposta positiva que devemos dar a esse amor consiste em ações de justiça e direito. Por isso, será interessante recordar as lutas dos que nos precederam, os mártires da caminhada. Jesus é a sustentação desse povo e de suas lutas. Como traduzimos em nossa vida as exigências do amor de Deus?

20. A 2ª leitura (Fl 4,6-9) convida a celebrar melhor, a suplicar agradecendo, a descobrir e po-tenciar os valores humanos fundamentais, a nos enchermos de ternura apesar dos conflitos, a re-descobrir [um ensino libertador] que nos ajude na caminhada da libertação.