Comentário: 31° Domingo do Tempo Comum - Ano A

2

Click here to load reader

description

Comentário bíblico: 31° Domingo do Tempo Comum - Ano A - Tema: "AUTORIDADES RELIGIOSAS CORRUPTAS QUE BUSCAM PRESTÍGIO" - LEITURAS BÍBLICAS (PERÍCOPES): https://pt.slideshare.net/josejlima3/31-domingo-do-tempo-comum-ano-a-2014 - TEMAS E COMENTÁRIOS: AUTORIA: Pe. José; Bortolini, Roteiros Homiléticos, Anos A, B, C Festas e Solenidades, Editora Paulus, 3ª edição, 2007 - OUTROS: http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=819 SOBRE LECIONÁRIOS: - LUTERANOS: http://www.luteranos.com.br/conteudo/o-lecionario-ecumenico - LECIONÁRIO PARA CRIANÇAS (Inglês/Espanhol): http://sermons4kids.com - LECIONÁRIO COMUM REVISADO (Inglês): http://www.lectionary.org/ http://www.commontexts.org/history/members.html ; http://lectionary.library.vanderbilt.edu/ - ESPANHOL: http://www.isedet.edu.ar/publicaciones/eeh.htm (Less)

Transcript of Comentário: 31° Domingo do Tempo Comum - Ano A

Page 1: Comentário: 31° Domingo do Tempo Comum - Ano A

AUTORIDADES RELIGIOSAS CORRUPTAS QUE BUSCAM PRESTÍGIO

Pe. José Bortoline, Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades, Paulos, 2007

* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL * ANO: A – TEMPO LITÚRGICO: 31° DOMINGO COMUM – COR: VERDE

I. INTRODUÇÃO GERAL 1. É fácil termos um discurso profético quando se trata de denunciar a corrupção e a busca de prestígio fora das instituições eclesiais. Porém, quando se trata de olhar para dentro de casa, tudo se torna difícil. Preferimos, talvez, fazer vista grossa ou, quem sabe, querer tapar o sol com peneira. 2. A Palavra de Deus toca hoje nossa realidade. Por meio de Malaquias, denuncia a corrupção religiosa que profana o nome de Deus diante do povo (cf. 1ª leitura Ml 1,14b-2,2b.8-10). Jesus desabona as autoridades religiosas que, em nome da fé, acobertam a ambição e a busca de prestígio, garantindo que Deus humilha quem se exalta e exalta quem se humilha (cf. evangelho Mt 23,1-12). Paulo é figura do autêntico agente de pastoral, pois não dissocia Palavra e vida. Ao contrário, é por sua vida que anuncia a Palavra (cf. 2ª leitura 1Ts 2,7b-9.13). II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 1ª leitura (Ml 1,14b-2,2b.8-10): Autoridades religiosas corruptas 3. Malaquias é o último dos profetas clássicos. Pouco se sabe de sua vida. Os estudiosos discutem a respeito de seu nome, pois o livro foi assim chamado em vista do que se diz em 3,1: “Estou mandando o meu mensageiro para preparar o caminho à minha frente”. Malaquias significa “meu mensageiro” ou “mensageiro de Javé”. 4. Esse profeta surgiu cerca de cinqüenta anos depois de Ageu e Zacarias, os profetas da reconstrução do Tem-plo de Jerusalém após o exílio. Na época de Malaquias o Templo já está construído. Mas o culto aí celebrado tor-nou-se puro rito, e os responsáveis por isso são os sacer-dotes corruptos. 5. Malaquias denuncia os sacerdotes. No texto de hoje descobrimos várias acusações contra as autoridades reli-giosas. Por causa de sua corrupção, o nome de Deus foi desrespeitado entre as nações (1,14); não levaram a sério a glória do nome de Javé (2,2); abandonaram a estrada; fizeram tropeçar a muitos pelo ensinamento; desfizeram a aliança com Levi (2,8); não andaram nos caminhos de Deus e fizeram discriminação de pessoas no ensinamen-to (2,9). 6. A denúncia de Malaquias é severa. Depois do exílio, a vida do povo judeu foi reconstruída sobre o alicerce da religião. Esta deveria ser a identidade do povo, o modo como o povo se relacionava com Deus. Todavia, os sa-cerdotes se tornaram corruptos e violaram a aliança. A corrupção aparece no fato de eles discriminarem pessoas no ensinamento (2,8.10). Pesa sobre as autoridades reli-giosas a mesma denúncia que os profetas antes do exílio lançavam contra o poder político. E fica no ar uma per-gunta: Qual corrupção é pior: a das autoridades políticas ou a das autoridades religiosas? Estas últimas têm a a-gravante de usarem o nome de Deus para justificar sua corrupção!

7. A sentença contra as autoridades religiosas corruptas já foi dada (cf. 2,2). Elas, que deviam abençoar o povo (isto é, serem promotoras de vida para o povo), se tor-nam malditas (ou seja, vão desaparecer). 8. Malaquias crê que o povo não é bobo. Ele percebe quando as autoridades religiosas estão a serviço da vida e quando usam a religião para manter seus privilégios: “Por isso também eu torno vocês desprezíveis e rebaixa-dos para todo o povo” (2,9). Evangelho (Mt 23,1-12): Jesus desmascara nossa bus-ca de prestígio 9. O conflito entre Jesus e as autoridades — como pudemos observar ao longo desses últimos domingos do Tempo Comum — foi se avolumando. Agora, no capítu-lo 23, ele chega ao ponto máximo. Jesus ensina o povo a não confiar nas autoridades que o mantêm dominado. a. Jesus se posiciona, (v. 1) 10. Uma frase aparentemente banal: “Jesus falou às multidões e aos seus discípulos” (v. 1) nos oferece pre-ciosa informação. Jesus toma posição entre o povo (mul-tidões e discípulos dele) e as autoridades do povo (dou-tores da Lei e fariseus). Ele está cortando o caminho das autoridades injustas. A partir daqui o povo não irá mais servir aos interesses delas, pois Jesus vai desmascará-las, mostrando o novo que a justiça do Reino traz. b. desmascara as autoridades injustas, (vv. 2-7) 11. Jesus mostra ao povo e aos discípulos dele que os doutores da Lei e os fariseus pretendem ser os autênticos intérpretes de Moisés: “Os doutores da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés” (v. 2; literalmente se diz: “Na cátedra de Moisés tomaram as-sento os doutores da Lei e os fariseus”). 12. De acordo com Dt 18,15.18, Deus garantiu a Moisés que um profeta o substituiria. Ora, sabemos que os pro-fetas eram pessoas profundamente comprometidas com a causa da justiça. Deus prometeu um profeta, mas o que apareceu? Apareceram os doutores da Lei e os fariseus, defensores do legalismo. Construíram uma religião sem profecia, a religião do puro e do impuro. Moisés foi pro-tagonista da libertação do povo; seus pretensos intérpre-tes tornaram-se protagonistas da opressão religiosa e do jugo da lei. 13. Jesus é irônico: “Por isso vocês devem fazer e ob-servar tudo o que eles dizem. Mas não imitem suas a-ções! Pois eles falam e não praticam” (v. 3). Será que Jesus está falando sério? Será que o povo vai seguir uma autoridade hipócrita? Não. A ironia de Jesus é cortante. Mais adiante (v. 7), mostra ao povo que essas autorida-des apreciam o título de Mestre. E Jesus lhes tira esse título (cf. v. 8). Quem for inteligente que entenda a iro-nia de Jesus! 14. O desmascaramento das autoridades injustas começa mostrando que elas são agentes de opressão e não de liberdade e vida para o povo: “Amarram pesados fardos

Page 2: Comentário: 31° Domingo do Tempo Comum - Ano A

e os colocam nos ombros dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los sequer com um dedo” (v. 4). Anteriormente Jesus tocou esse tema: o povo anda encurvado e oprimido pela religião (cf. 11,28-30). Ele veio para libertá-lo desse jugo, pois sua carga é leve. 15. O desmascaramento continua com a demonstração de como as autoridades religiosas buscam prestígio na vida civil e na vida religiosa: “Vejam como usam faixas largas na testa e nos braços, e como põem na roupa lon-gas franjas, com trechos da Escritura” (v. 5). Os filacté-rios (faixas largas) eram caixas pretas de pergaminho contendo trechos significativos da Lei (Dt 11,13-22; 6,4-9; Ex 13,11-16; 13,2-10). Desde os 13 anos os judeus carregavam uma caixa na testa e outra no braço esquerdo durante a oração da manhã e ao longo dos dias de traba-lho. Jesus diz que as autoridades religiosas alargam essas caixas (sua busca de prestígio não tem medida). Com isso pretendiam mostrar a todos que eram pessoas com-prometidas com o projeto de Deus. Pura busca de prestí-gio! 16. Jesus mostra, ainda, como procuram as “mesas das autoridades” nos banquetes, os “primeiros bancos” nas sinagogas e fazem questão de serem reconhecidas em público, sendo chamadas de Mestre (vv. 6-7). É pura busca de prestígio na vida civil e na vida religiosa. Esses privilégios mantêm o povo dominado sob o peso de e-norme fardo. Se alguém não virar a mesa, jamais o povo será libertado! c. aponta o novo da justiça do Reino, (vv. 8-10) 17. Jesus dá as costas às autoridades injustas e mostra às multidões e aos discípulos dele o novo do Reino. O novo consiste em não ambicionar privilégios. Há um só Mes-tre, um só Pai, um só Líder. Todos, indistintamente, são irmãos, filhos de Deus e seguidores do Cristo. Com isso Jesus suprime todas as hierarquias. Nós estamos tão acostumados a elas, e as buscamos, ambicionamos, que nem nos damos conta da gravidade dessa busca e ambi-ção. Não é isso um fardo pesado para o nosso povo? d. a verdadeira “grandeza” (vv. 11-12) 18. Jesus acabou de afirmar que não há hierarquia. O único valor absoluto é a fraternidade que se põe a servi-ço: “O maior de vocês deve ser aquele que serve a vo-cês” (v. 11). Trata-se de serviço-profecia, como fez Moi-sés, como fez Jesus. A verdadeira “grandeza” é a doação da vida para libertar o povo dos fardos que o oprimem. Deixemos a Deus a tarefa de exaltar as pessoas, pois somente a ele compete humilhar quem se exalta e exaltar

quem se humilha (cf. v. 12). Mas tenhamos certeza de uma coisa: Deus dá a cada um o contrário daquilo que ambicionou. 2ª leitura (1Ts 2,7b-9.13): Um retrato de agente de pastoral 19. Os versículos que compõem a segunda leitura deste domingo são o autêntico retrato da liderança religiosa. De fato, Malaquias denunciava os sacerdotes corruptos e Jesus puxava o tapete das autoridades religiosas do seu tempo. Paulo, ao contrário, apresenta a postura do agente de pastoral que vive no meio do povo. 20. Ele tinha sido fariseu e conhecia a Lei como os peri-tos. Mas em meio aos tessalonicenses apresenta-se como mãe que, segurando a criança à altura dos seios, alimen-ta-a e a aquece (v. 7). Ele não se contenta em apresentar uma mensagem. Quer dar mais: “Desejávamos dar-lhes não somente o Evangelho de Deus, mas até a própria vida; a tal ponto chegou a nossa afeição por vocês” (v. 8). 21. É muito estranho que, num contexto patriarcal-machista como o da época de Paulo, ele se apresente com as características da mãe. Isso deve ter soado como novidade escandalosa para muita gente. Também o mo-do de viver de Paulo chocava: ele chegou a Tessalônica com as marcas da tortura sofrida em Filipos; chegou marcado no corpo e ferido na alma. E diferentemente de todos os demais pregadores ambulantes, não se deixa conduzir pela ambição do lucro: trabalha de dia para ganhar seu sustento, e à noitinha anuncia a Palavra, exa-tamente como fazemos em nossas comunidades. Depois da canseira do dia, além dos problemas em casa, ainda achamos um tempinho para a comunidade, a catequese, a pastoral etc. 22. Trabalhando com as próprias mãos (v. 9), Paulo se põe ao nível dos escravos e marginalizados. E com toda a ternura, afeição, dedicação, garra e alegria que caracte-rizam as mulheres que trabalham em nossas pastorais. 23. Paulo não separou o Evangelho da vida. Pelo contrá-rio, unia-os de tal maneira que os tessalonicenses aderi-ram com alegria a ele e à mensagem que comunicava com a vida. E acabaram descobrindo, nas palavras e gestos de Paulo, a própria Palavra de Deus (v. 13). Ele deixou de lado a teologia do fariseu e falou de Deus a partir da vida. Dessa forma apontou o caminho de Deus que se funde e se confunde com o caminho das pessoas e comunidades.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO 24. Autoridades religiosas corruptas (cf. Ml 1,14b-2,2b.8-10). A 1ª leitura é uma denúncia das auto-ridades religiosas que se corrompem e promovem um culto vazio. Por que não denunciarmos também a corrupção religiosa? Temos medo? 25. Jesus desmascara nossa busca de prestígio (cf. Mt 23,1-12). O discurso da Igreja continua sendo uma palavra profética? Por que muitas pessoas se desinteressaram pela religião? Há busca de prestígio na Igreja? Como se manifesta? 26. Um retrato de agente de pastoral (cf. 1Ts 2,7b-9.13). Paulo mostra o caminho de toda pessoa comprometida com Deus. É um caminho de doação, entrega, sacrifício e testemunho. Como suprimir a distância entre a palavra pregada e a vida vivida? O fato de Paulo se apresentar como mãe ilumina nossa prática pastoral?