Comentário Bíblico Expositivo

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COMENTÁRIO BÍBLICO EXPOSITIVO Antigo Testamento Volume I Pentateuco WARREN W. WIERSBE

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COMENTÁRIO BÍBLICO

EXPOSITIVO

Antigo TestamentoVolume I — Pentateuco

WARREN W. WIERSBE

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1ª Edição6ª Reimpressão

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2012

WARREN W. WIERSBE

TRADUZIDO POR

SUSANA E. KLASSEN

COMENTÁRIO BÍBLICO

EXPOSITIVO

Antigo TestamentoVolume I — Pentateuco

Geográficaeditora

Santo André, SP - Brasil

WARREN W. WIERSBE

TRADUZIDO POR

SUSANA E. KLASSEN

COMENTÁRIO BÍBLICO

EXPOSITIVO

Antigo TestamentoVolume I — Pentateuco

Geográficaeditora

Santo André, SP - Brasil

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Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados pela:

Geo-Gráfica e editora ltda.Av. Presidente Costa e Silva, 2151 - Pq. Capuava - Santo André - SP - BrasilSite: www.geograficaeditora.com.br

Copyright © 2001 por Warren W. WiersbePublicado originalmente pela Cook Communications Ministries,Colorado, EUA.

Título Original em Inglês: The Bible Exposition Commentary – OldTestament: Pentateuch

Preparação: Liege Maria de S. MarucciRevisão: Theófilo VieiraCapa: Douglas LucasDiagramação: Viviane R. Fernandes CostaImpressão e Acabamento: Geográfica Editora

Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão AlmeidaRevista e Atualizada, 2ª edição (Sociedade Bíblica do Brasil), salvo indi-cação específica.

A 1ª edição brasileira foi publicada em maio de 2006.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Wiersbe, Warren W.Comentário Bíblico Expositivo : Antigo Testamento : volume I,Pentateuco / Warren W. Wiersbe ; traduzido por Susana E. Klassen. –Santo André, SP : Geográfica editora, 2006.

Título original: The Bible Exposition Commentary -Old Testament: Pentateuch

ISBN 85-89956-48-2

1. Bíblia A.T. – Comentários I. Título.

06–3968 CDD–221.7Índice para catálogo sistemático:

1. Antigo Testamento : Bíblia : Comentários 221.72. Comentários : Antigo Testamento : Bíblia 221.7

Comentário Bíblico ExpositivoCategoria: Teologia / Referência

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SUMÁRIO

GÊNESIS........................................................................................................ 7

ÊXODO......................................................................................................... 232

LEVÍTICO....................................................................................................... 329

NÚMEROS.................................................................................................... 408

DEUTERONÔMIO........................................................................................ 490

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A marca FSC é a garantia de que a madeira utilizadana fabricação do papel interno deste produto provém

de florestas gerenciadas de uma maneiraresponsável, seguindo rigorosos critérios sociais e

ambientais e cuja origem é controlada.

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ESBOÇO

Tema-chave: ComeçosVersículo-chave: “No princípio, criou Deus...”

(1:1)

I. DEUS CRIA O UNIVERSO – 1

II. ADÃO E EVA – 2–51. O jardim – 22. A queda – 33. As conseqüências da queda – 4–5

III. NOÉ E SUA FAMÍLIA – 6:1 –11:9

1. O dilúvio – 6–72. A nova Terra – 83. A aliança – 94. As nações – 105. A torre de Babel – 11:1–9

IV. ABRAÃO E SARA – 11:10 –25:11

O começo do povo hebreu

V. ISAQUE E REBECA – 25:12 –28:22

VI. JACÓ E SUA FAMÍLIA – 29:1 –38:30

O estabelecimento do povo hebreu comonação

VII. JOSÉ E SEU MINISTÉRIO –39:1 – 50:26

A proteção dos hebreus como nação

Observe as dez “gerações” em Gênesis: Oscéus e a Terra (1:1 – 2:46); Adão (5:1 –6:8); Noé (6:9 – 9:29); Sem, Cam e Jafé(10:1 – 11:9); Sem (11:10-26); Tera (11:27– 25:11); Ismael (25:12-18); Isaque (25:19– 35:29); Esaú (36:1 – 37:1); Jacó (37:2 –50:26).

CONTEÚDO1. A.C.: Antes da criação

(Gn 1:1).................................................... 92. Quando Deus fala, algo acontece

(Gn 1)...................................................... 153. As primeiras coisas primeiro

(Gn 2)...................................................... 214. Este é o mundo de meu Pai –

ou não?................................................... 285. Perigos no paraíso

(Gn 3)...................................................... 346. Caim no centro do palco

(Gn 4:1-24)............................................ 427. Quando as perspectivas são

sombrias, tente olhar para cima(Gn 4:25 – 6:8)...................................... 48

8. Um homem e sua fé, um homeme sua família (Gn 6:9 –7:24)................ 54

9. O Deus dos recomeços(Gn 8)...................................................... 60

10. À vida! À vida!(Gn 9:1-17)............................................ 66

11. O resto da história(Gn 9:18 – 10:32).................................. 71

12. Cuidado – Deus trabalhando(Gn 11)................................................... 77

13. De volta aos fundamentos(Revisão de Gn 1 – 11)........................ 82

GÊNESIS

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14. Um novo começo(Gn 11:27 – 12:9)................................. 86

15. Fome, rebanhos e rixas(Gn 12:10 – 13:18)............................... 91

16. Crer é vitória(Gn 14)................................................... 96

17. A noite escura da alma(Gn 15)................................................. 102

18. Cuidado com os desvios!(Gn 16)................................................. 107

19. O que é um nome?(Gn 17)................................................. 112

20. Como pelo fogo(Gn 18 – 19)......................................... 117

21. Abraão, o vizinho(Gn 20; 21:22-34)............................... 123

22. “Tempo de chorar, tempo de rir”(Gn 21:1-21; Gl 4:21-31).................... 128

23. A maior prova de todas(Gn 22).................................................. 133

24. Lá vem a noiva!(Gn 24)................................................. 138

25. “Tempo de morrer”(Gn 23; 25:1-11).................................. 143

26. Tal pai, tal filho... quase(Gn 25 – 26)......................................... 149

27. Uma obra-prima arruinada(Gn 27 – 28)......................................... 156

28. Disciplina e decisões(Gn 29 – 31)......................................... 163

29. Pondo o passado em ordem(Gn 32 – 34)......................................... 170

30. Você pode voltar para casa(Gn 35 – 36)......................................... 177

31. Apresento-lhes o herói(Gn 37).................................................. 182

Interlúdio: Judá e Tamar(Gn 38)................................................. 188

32. O Senhor faz a diferença(Gn 39 – 41)......................................... 190

33. Quando os sonhos se realizam(Gn 42 – 43)......................................... 197

34. A verdade e suas conseqüências(Gn 44 – 45)......................................... 204

35. A sabedoria do avô(Gn 46 – 48)......................................... 210

36. Uma família de futuro(Gn 49)................................................. 216

37. Três ataúdes(Gn 50)................................................. 222

38. Seja autêntico:Visão geral e resumo........................... 228

GÊNES IS

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Apesar do nome “Gênesis”, que significa“começos”, e de sua localização como o

primeiro livro da Bíblia, o Livro de Gênesisnão é o começo de tudo. Gênesis 1:1 noslembra que: “No princípio, criou Deus”. Assim,antes de estudar os fundamentos apresenta-dos em Gênesis 1–11, vamos nos familiarizarcom o que Deus fez antes daquilo que seencontra registrado em Gênesis. Depois disso,estudaremos o que Deus fez e que apareceno relato de Gênesis e, por fim, o que ocorreudepois de Gênesis. Isso nos dará a visão maisampla de que precisamos para estudar o res-tante da revelação de Deus na Bíblia.

1. ANTES DE GÊNESIS: O PLANO DE

REDENÇÃO

O que estava acontecendo antes de Deuscriar o Universo com sua palavra? Essa podeparecer uma pergunta hipotética e poucorazoável do tipo: “Quantos anjos cabem nacabeça de um alfinete?”, mas não é!1 Afinal,Deus não age de modo arbitrário, e o fato deter criado algo indica que devia ter em men-te um propósito magnífico. Qual era, então,a situação antes de Gênesis 1:1 e o que elanos ensina sobre Deus e sobre nós mesmos?

Deus existia em glória sublime. Deus éeterno. Ele não tem começo nem fim. As-sim, é totalmente auto-suficiente, não pre-cisa de nada além dele mesmo para existir eagir. De acordo com A. W. Tozer: “Deus temuma relação voluntária com tudo o quecriou, mas não tem uma relação necessáriacom coisa alguma além dele próprio”.2

Deus não precisa de nada, nem do Univer-so material e nem da raça humana, e, noentanto, criou os dois.

Se você quer confundir sua cabeça, me-dite sobre o conceito de eterno, algo quenão tem começo nem fim. Sendo criaturasligadas ao tempo, você e eu podemos facil-mente nos concentrar nas coisas passageirasao nosso redor. No entanto, é difícil – paranão dizer impossível – imaginar aquilo que éeterno.3 Contemplar a natureza e o caráterdo Deus Trino que sempre foi, que é, e quesempre será, daquele que nunca muda, é umatarefa grande demais para nós. “No princí-pio, criou Deus”; Moisés escreveu: “Antesque os montes nascessem e se formassem aterra e o mundo, de eternidade a eternidade,tu és Deus” (Sl 90:2). Frederick Faber ex-pressou esse fato da seguinte maneira:

Além do tempo, do espaço, único e só.4

E, no entanto, Três em sua sublimidade,Tu és, grandiosamentee para sempre, somenteDeus em unidade!5

A “teologia de processo”, uma antiga here-sia com uma roupagem moderna, fala de um“deus limitado” que se encontra no proces-so de tornar-se um deus “maior”. Contudo,se Deus é Deus, da forma como entendemosessa palavra, então ele é eterno e não precisade nada; ele é onisciente, onipotente eonipresente. A fim de ter um “deus limita-do”, é preciso, antes de tudo, redefinir a pa-lavra “Deus”, pois de acordo com a própriadefinição desse termo, Deus não pode serlimitado.

Além disso, se Deus é limitado e “estáse expandindo”, que poder o está tornandomaior? Esse poder teria de ser maior do que“Deus” e, portanto, ser Deus! Isso não faria,então, com que tivéssemos dois deuses emvez de um?6 Porém, o Deus da Bíblia é eter-no e não tem começo. Ele é infinito e nãopossui qualquer limitação de tempo ou es-paço. Ele é perfeito e não tem como “me-lhorar”; por ser imutável, não tem comosofrer qualquer alteração.

O Deus que Abraão adorava é o Deuseterno (Gn 21:33), e Moisés disse aosisraelitas: “O Deus eterno é a tua habitaçãoe, por baixo de ti, estende os braços eternos”

A.C.: ANTES DA CRIAÇÃO

GÊNESIS 1:1

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(Dt 33:27). Habacuque disse que Deus era“desde a eternidade” (Hc 1:12; ver também3:6), e Paulo chamou-o de “Deus eterno”(Rm 16:26; ver também 1 Tm 1:17).

A Trindade divina encontrava-se em co-munhão de amor. “No princípio, criou Deus”seria uma declaração assustadora para umcidadão de Ur dos caldeus, lugar de ondeAbraão veio, pois os caldeus e os povos aoseu redor adoravam uma miríade de deusese deusas maiores e menores. No entanto, oDeus de Gênesis é o único Deus verdadeiroe não tem “deuses rivais” para contender comele, como acontece nas fábulas e mitos domundo antigo (ver Êx 15:1; 20:3; Dt 6:4; 1 Rs8:60; 2 Rs 19:15; Sl 18:31).

Esse Deus verdadeiro e único existe naforma de três pessoas: Deus o Pai, Deus oFilho, e Deus o Espírito Santo (ver Mt 3:16,17; 28:18-207; Jo 3:34, 35; 14:15-17; At2:32, 33; 38,39; 10:36-38; 1 Co 12:1-6; 2 Co13:14; Ef 1:3-14; 4:1-6; 2 Ts 2:13, 14; Tt3:4-6; 1 Pe 1:1, 2). Isso não quer dizer queum só Deus se manifesta de três formas di-ferentes nem que há três deuses, mas simque um Deus existe em três Pessoas, iguaisem seus atributos e, no entanto, individuaise distintas no que se refere a seus ofícios,incumbências e ministérios. De acordo como Credo de Nicéia (325 d.C.), “Cremos emum só Deus, Pai [...] e em um só Senhor,Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado peloPai [...] Luz da Luz, Deus verdadeiro doDeus verdadeiro, gerado, não criado, deuma só substância com o Pai [...]. Cremosno Espírito Santo”.

Certa vez, ouvi um pastor começar umculto orando: “Pai, obrigado por morrer pornós na cruz”. Contudo, foi Deus, o Filho, nãoDeus, o Pai, quem morreu pelos pecadoresna cruz; e é Deus, o Espírito Santo, que con-vence os pecadores e os conduz ao arrepen-dimento e à salvação. Misturar e confundiras três Pessoas da Divindade implica fazeralgo arriscado: mudar o que é ensinado nasEscrituras.

A doutrina da Trindade não foi reveladaclaramente no Antigo Testamento, pois a ên-fase dessa parte das Escrituras é sobre o fatode que o Deus de Israel é um só Deus, que

não foi criado e que é o único e verdadeiroDeus. Adorar os falsos deuses dos povos queviviam a seu redor foi a grande tentação e opecado no qual Israel caiu repetidamente,de modo que Moisés e os profetas bateramsempre na tecla da unidade e da singularida-de do Deus de Israel. Até hoje, o adoradorjudeu devoto recita o Shema todos os dias:“Ouve [shema], Israel, o SENHOR, nosso Deus,é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teuDeus, de todo o teu coração, de toda a tuaalma e de toda a tua força” (Dt 6:4,5). ODeus revelado nas Escrituras não tem seme-lhantes nem rivais.

No entanto, o Antigo Testamento apre-senta vislumbres e alusões à maravilhosaverdade da Trindade, uma verdade que maistarde seria claramente revelada por Cristo epelos apóstolos no Novo Testamento. As de-clarações na terceira pessoa do plural en-contradas em Gênesis (Gn 1:26; 3:22; 11:7;ver também Is 6:8) indicam que as Pessoasda Divindade trabalham juntas, e as diversasocasiões em que “o Anjo do SENHOR” entrouem cena, mostram a presença do Filho deDeus (ver Gn 16:7-11; 21:17; 22:11, 15;24:7, 40; 31:11; 32:20-24; Êx 3:1-4 com At7:30-34; 14:19; 23:20-26; 32:33 – 33:17; Js5:13ss; Jz 2:1-5 e 6:11ss).

O Messias (Deus, o Filho) fala de si mes-mo, do Espírito e do Senhor (Pai) em Isaías48:16, 17 e 61:1-3; e o Salmo 2:7 declaraque Jeová tem um Filho. Jesus tomou oversículo 7 para si quando desafiou os inimi-gos que não o aceitavam como Filho de Deus(Mt 22:41-46). Em Gênesis 1:2 e 6:3, o Espí-rito de Deus é distinguido do Senhor (Pai), eessa mesma distinção pode ser encontradaem Números 27:18; Salmo 51:11; Isaías40:13; 48:16; e Ageu 2:4,5.

Apesar de a palavra “trindade” não apa-recer em parte alguma da Bíblia, a doutrinacertamente está presente, oculta no AntigoTestamento e revelada no Novo. Essa doutri-na profunda e misteriosa tem algum signifi-cado prático para o cristão da atualidade?Sem dúvida, pois as três Pessoas da Divinda-de estão todas envolvidas no planejamentoe na execução da vontade divina para o Uni-verso, inclusive o plano da salvação.

GÊNESIS 1 :1

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A Trindade divina planejou a redenção.O maravilhoso plano de redenção não foialgo improvisado para o povo de Deus es-colhido em Cristo “antes da fundação domundo” (Ef 1:4; Ap 17:8) e entregue ao Filhopelo Pai tanto para pertencer a seu reino (Mt25:34) quanto para participar de sua glória(Jo 17:2, 6, 9, 11,12, 24). A morte sacrificialdo Filho não foi um acidente, mas sim umcompromisso (At 2:23; 4:27, 28); pois ele“foi morto desde a fundação do mundo” (Ap13:8).

Nas deliberações eternas, a Divindade de-cidiu criar um mundo que incluiria seres hu-manos feitos à imagem de Deus. Não só oPai (Gn 1:1; 2 Rs 19:15; At 4:24), mas tam-bém o Filho (Jo 1:1-3, 10; Cl 1:16; Hb 1:2) eo Espírito Santo (Gn 1:2; Sl 104:30) partici-param da criação. Deus não criou o mundoporque precisava de alguma coisa, mas simpara que pudesse compartilhar seu amorcom suas criaturas que, diferentes dos an-jos, são feitas à imagem de Deus e podemcorresponder a seu amor livremente.

A Divindade determinou que o Filho vi-ria à Terra e morreria pelos pecados do mun-do, e Jesus veio para fazer a vontade do Pai(Jo 10:17, 18; Hb 10:7). As palavras de Je-sus vinham do Pai (Jo 14:24), e suas obraseram comissionadas pelo Pai (Jo 5:17-21,36; At 2:22) e investidas do poder do Espí-rito (At 10:38). O Filho glorifica o Pai (Jo14:13; 17:1, 4), e o Espírito glorifica o Filho(Jo 16:14). As Pessoas da Trindade traba-lham em conjunto para realizar a vontadede Deus.

De acordo com Efésios 1:3-14, o planoda salvação é trinitário: somos escolhidospelo Pai (vv. 3-6), redimidos pelo Filho (vv.7-12) e selados com o Espírito (vv. 13, 14)– tudo isso para o louvor da glória de Deus(vv. 6, 12, 14)8. O Pai concedeu autoridadeao Filho para dar vida eterna àqueles queele entregou ao Filho (Jo 17:1-3). Tudo issofoi planejado antes mesmo que o mundoexistisse!

É importante observar que as três Pes-soas da Divindade têm um papel na salvaçãodos pecadores perdidos. No que se refere aDeus o Pai, ele, em sua graça, me escolheu

em Cristo antes da fundação do mundo. Noentanto, eu não tinha conhecimento algumda eleição divina até que fui convertido9. Noque se refere ao Filho, fui salvo quando elemorreu por mim na cruz, e eu sabia dessagrande verdade desde os primeiros dias deminha vida. No entanto, no que se refere aoEspírito Santo, fui salvo em maio de 1945,quando fui convencido pelo Espírito de Deuse confiei em Jesus Cristo. Então, concretizou-se em minha vida aquilo que Deus havia pla-nejado desde a eternidade.

O nascimento espiritual é um tanto pare-cido com o nascimento humano: você passapor ele, mas leva algum tempo para com-preendê-lo! Afinal, eu não saberia o dia demeu aniversário se alguém não tivesse mecontado. É só depois que nascemos na famí-lia de Deus que toda essa maravilha nos érevelada pela Palavra e desejamos, então,compartilhá-la com outras pessoas.

Quando você pensa na profundidade dosplanos eternos de Deus, percebe que sãograndes demais para sua mente. Mas não de-sanime, pois, ao longo dos séculos, teólogoscompetentes e devotos não conseguiramchegar a um consenso sobre suas especula-ções e conclusões. Um de meus professoresno seminário costumava nos lembrar do se-guinte fato: “Tente explicar essas coisas evocê pode perder a cabeça, mas tente desfa-zer-se delas e perderá sua alma”.

Moisés expressou muito bem essa ver-dade: “As coisas encobertas pertencem aoSENHOR, nosso Deus, porém as reveladas nospertencem, a nós e a nossos filhos, para sem-pre, para que cumpramos todas as palavrasdesta lei” (Dt 29:29). O importante não ésaber tudo o que Deus sabe, mas obedecera tudo o que ele nos ordena. “Porque nósconhecemos em parte” (1 Co 13:9).

2. GÊNESIS: A PROMESSA DE REDENÇÃO

Quando Deus escreveu a Bíblia, não nos deuum livro de teologia enfadonho divido emseções chamadas Deus, a Criação, o Homem,o Pecado e assim por diante. Em vez disso,deu-nos uma história, uma narrativa que co-meça na eternidade passada e termina na eter-nidade futura. Trata-se de uma história sobre

GÊNESIS 1 :1

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Deus e seu relacionamento com todos ostipos de pessoas e como elas reagiram a suaPalavra. Ao ler essas narrações, aprendemosum bocado de coisas sobre Deus, sobre nósmesmos e sobre nosso mundo. Além disso,descobrimos que nossa história pessoal podeser encontrada em algum lugar nas páginasdas Escrituras. Se você ler com tempo e ho-nestidade suficientes, descobrirá a si mesmodentro da Bíblia.

O Livro de Gênesis tem cinqüenta ca-pítulos em nossas versões da Bíblia, mas otexto hebraico original não possui divisões.Depois de descrever a criação (1:1 – 2:3),Moisés apresentou uma lista de onze “gera-ções” que constituem a narração de Gênesis:os céus e a Terra (2:4 – 4:26); Adão (5:1 –6:8); Noé (6:9 – 9:29); os filhos de Noé, Sem,Cam e Jafé (10:1 – 11:9), dando ênfase aSem, o pai dos semitas (11:10-26); Tera, paide Abraão (11:27 – 25:11); Ismael (25:12-18); Isaque (25:19 – 35:29); Esaú 36:1-8),que também é chamado de Edom (36:9 –37:1); e Jacó (37:2 – 50:26). São esses osindivíduos apresentados em Gênesis.

Os onze primeiros capítulos de Gênesistratam da humanidade em geral e concentram-se em quatro acontecimentos principais: acriação (1 – 2), a queda do homem e suasconseqüências (3 – 5), o dilúvio (6 – 9) e arebelião em Babel (10 – 11). O restante deGênesis volta-se para Israel de modo específi-co (12 – 50) e relata a vida de quatro grandeshomens: Abraão (12:1 – 25:18), Isaque (25:19– 27:46), Jacó (28 – 36) e José (37 – 50).10

Chamamos esses homens de “patriarcas”, poisforam os fundadores de Israel como nação.

Durante nosso estudo do Livro de Gêne-sis, tenha sempre em mente que Moisés nãoescreveu uma história detalhada de cada pes-soa ou acontecimento. Ele registrou apenasaquelas coisas que o ajudaram a cumprirseu propósito, que era explicar a origem dascoisas, especialmente a origem dos judeus

como nação. Gênesis 1 – 11 é um registrodo fracasso humano, mas Deus recomeçoucom o chamado de Abraão. O pecado dohomem trouxe a maldição de Deus (3:14,17; 4:11), mas pela graça, a aliança de Deuscom Abraão trouxe bênçãos a todo o mun-do (12:1-3).

Também observamos que, no registro deGênesis, quando o homem consegue mos-trar o que tem de pior e atingir seu pontomais baixo, Deus lhe dá um recomeço. Deacordo com o Dr. G. Campbell Morgan, ociclo de Gênesis é composto de “geração,degeneração e regeneração”.11 Caim matouAbel, mas Deus deu Sete para continuar alinhagem temente a ele. A Terra tornou-seviolenta e perversa, de modo que Deusexterminou a humanidade, mas escolheu Noée sua família para prosseguir com a obra di-vina. Deus chamou Abraão e Sara dentre ospagãos de Ur dos caldeus e deu-lhes um fi-lho chamado Isaque. O futuro do plano deDeus para a salvação estava nesse filho.Isaque e Rebeca tiveram dois filhos, Esaú eJacó, mas Deus rejeitou Esaú e escolheu Jacópara constituir as doze tribos de Israel e her-dar as bênçãos da aliança.

Em outras palavras, do começo ao fim,Gênesis é a história da vontade soberana eda graça eletiva de Deus. Isso não significaque as pessoas da história eram simples ro-bôs, uma vez que erraram e até tentaramimpedir a realização do plano de Deus. Noentanto, sempre que as pessoas resistiramao domínio de Deus, ele prevaleceu e cum-priu seu propósito divino de qualquer modo.“O conselho do SENHOR dura para sempre; osdesígnios do seu coração, por todas as gera-ções” (Sl 33:11).

Aquilo que tem início em Gênesis é desen-volvido ao longo de toda a Bíblia e, então,encontra sua plena consumação no Livro deApocalipse, como podemos ver no seguinteresumo:

GÊNESIS 1 :1

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GÊNESIS

O primeiro céu e a primeira Terra.O primeiro jardim; a Árvore da Vida éguardada.O primeiro casamento.Satanás tenta Eva a pecar.A morte entra em cena.A construção de Babilônia.A promessa de um Redentor.

APOCALIPSE

O novo céu e a nova Terra.A “cidade do jardim” e a Árvore da Vidadisponível.O último casamento, as bodas do Cordeiro.Satanás é lançado no lago de fogo.Não há mais morte.A destruição de Babilônia.O reino do Redentor.

GÊNESIS 1 :1

Há muitas outras comparações entre essesdois livros, mas as que apresentamos acimadão uma idéia de quão importante é o Livrode Gênesis para se compreender o plano deDeus e o restante das Escrituras.

3. DEPOIS DE GÊNESIS:O CUMPRIMENTO DA REDENÇÃO

Deus revelou seu grandioso plano de salva-ção de maneira gradual. Em primeiro lugar,ele deu uma promessa (Gn 3:15), a primeirapromessa de salvação encontrada nas Escri-turas. Trata-se da promessa de um Redentorque nasceria de uma mulher, derrotaria Sa-tanás e traria a salvação para a humanidade.O Salvador prometido seria um homem, nãoum anjo, e salvaria seres humanos, não anjoscaídos (Hb 2:5-18).

De onde viria esse Redentor prometido?Gênesis 12:1-3 responde a essa pergunta: oRedentor será um judeu, do povo de Abraão.Por meio de um milagre de Deus, Abraão eSara tiveram Isaque; e Isaque foi o pai deJacó. No entanto, Jacó teve doze filhos quefundaram as doze tribos de Israel. Qual des-sas tribos daria ao mundo o Salvador? Gê-nesis 49:10 nos diz: o Redentor virá da tribode Judá.

O Livro de Êxodo conta como Deus cons-truiu a grande nação de Israel, enquanto essepovo sofria no Egito e, então, como ele oslibertou com seu grande poder. O povo de-veria ter se apropriado da herança de Canaã,mas, em sua incredulidade, desobedecerama Deus e acabaram vagando pelo desertodurante quarenta anos (Nm 13 – 14).Josué liderou a nova geração, conduzin-do-a para a Terra Prometida, onde estabe-leceu a nação.

Depois de uma era trágica de governodos juízes e do reinado de Saul, registradosno Livro de Juízes e em 1 Samuel, Deus un-giu Davi para ser rei e revelou que o Reden-tor prometido procederia da família de Davi(2 Sm 7). Não apenas seria o “filho de Davi”,como também nasceria em Belém, a cidadede Davi (Mq 5:2). Por intermédio do profetaIsaías, Deus anunciou que o Redentor nasce-ria de uma virgem de modo miraculoso (Is7:14; ver Lc 1:26-38).

Sem dúvida, ao longo das eras do Anti-go Testamento, Satanás fez todo o possívelpara impedir os planos de Deus. Caim erado diabo (1 Jo 3:12) e matou seu irmãoAbel, mas Deus deu Sete para continuaressa linhagem temente ao Senhor (Gn 4:25,26). Durante o dilúvio, Deus preservouNoé e sua família. Da família de Sete nas-ceu Abraão, o pai dos hebreus, uma novanação.

Em pelo menos quatro ocasiões, essalinhagem temente a Deus foi ameaçada deextinção. Abraão mentiu duas vezes sobrea esposa, Sara, e ela foi levada por reis pa-gãos (12:10-20; 20:1ss). Seu filho, Isaque,cometeu o mesmo pecado e colocou emrisco a esposa, Rebeca (26:6-16). Duranteos dias sombrios que posteriormente so-brevieram à monarquia hebraica, a perver-sa rainha-mãe Atalia ordenou a morte detodos os descendentes da linhagem real. Noentanto, um pequeno príncipe chamadoJoás foi salvo e, assim, deu continuidade àlinhagem de Davi (2 Rs 11).

Que fim teve essa história? “Vindo, po-rém, a plenitude do tempo, Deus enviouseu Filho, nascido de mulher, nascido sob alei, para resgatar os que estavam sob a lei, a

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fim de que recebêssemos a adoção de fi-lhos” (Gl 4:4, 5). O anjo anunciou aos pas-tores: “É que hoje vos nasceu, na cidade deDavi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor”(Lc 2:11).

A promessa havia se cumprido! E tudocomeçou em Gênesis!

Agora, voltemo-nos para o magnífico einspirado registro de Moisés sobre a criaçãodos céus, da Terra e da vida humana.

1. É questionável que os teólogos da antigüidade, em algum momento, tenham feito essa determinada pergunta, mas a

questão não é totalmente irrelevante. Anjos são espíritos e não possuem corpo material, exceto de modo temporário

quando são enviados em missões especiais; assim, como podem ocupar espaço? Tomás de Aquino discutiu essa

questão em sua Summa Theologica, de modo que ela deve ser considerada importante.

2. TOZER, A. W. The Knowledge of the Holy. Nova York: Harper and Brothers, 1961, p. 39.

3. É claro que todo ser humano existirá para sempre, quer seja no céu quer no inferno; mas no que se refere a este

mundo, somos todos forasteiros e peregrinos, estamos todos “de passagem”.

4. O termo “só” não indica que Deus precisasse de amigos. A palavra significa “sozinho”.

5. TOZER, A. W. The Christian Book of Mystical Verse. Harrisburg, Pa.: Christian Publications, 1963, p. 7.

6. Aquilo que conhecemos hoje como “teologia de processo” teve origem nos ensinamentos do filósofo inglês Alfred

North Whitehead (1861-1947), amplamente difundidos por seu discípulo Charles Hartshore. A teologia de processo

foi popularizada pelo rabino Harold Kushner em seu livro Quando coisas ruins acontecem a pessoas boas (São Paulo:

Nobel). De acordo com Kushner, no momento, Deus é fraco demais para fazer alguma coisa sobre o câncer, as guerras

e as tragédias da vida; mas, à medida que confiamos nele e fazemos o bem, nós o fortalecemos para que ele alcance

maiores realizações. Para conhecer o ponto de vista evangélico sobre a teologia de processo, ver On Process Theology,

editado por Ronald H. Nash (Baker Book House, 1987), e minha obra Why Us? When Bad Things Happen to God’s

People (Fleming, H. Revell, 1984).

7. A conjunção aditiva “e” na frase batismal é importante, pois mostra a igualdade das Pessoas da Divindade.

8. A doutrina da eleição divina não é uma desculpa para não se falar do evangelho a outros. O mesmo Deus que ordenou

o fim – a salvação dos perdidos – também ordenou o meio para se alcançar esse fim, que é o testemunho de seu povo

e as orações para que sua Palavra seja bem-sucedida. Deus escolhe pessoas para serem salvas, e então as chama por

meio do evangelho (2 Ts 2:13, 14). As duas coisas andam juntas. Não sabemos quem são os eleitos, e o Senhor

ordenou que levássemos o evangelho ao mundo todo (Mc 16:15; At 1:8).

9. O Dr. H. A. Ironside, que pastoreou durante dezoito anos a Igreja Moody de Chicago, costumava ilustrar essa verdade

ao descrever uma porta na qual havia uma placa onde estava escrito: “Todo aquele que vier pode entrar”. Crendo

nessas palavras, você passa pela porta e é salvo. Então, olhando para trás, vê outra placa do lado de dentro, que diz:

“Escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo”.

10. Essa divisão de capítulos é arbitrária, uma vez que existe uma sobreposição de gerações nas narrações, como sempre

acontece na história dos seres humanos. Tecnicamente, a seção “gerações de Jacó” começa em 37:2, mas a história de

Jacó inicia muito antes e coloca Isaque em segundo plano. Não há uma seção chamada “gerações de José”, uma vez

que José faz parte da narração de Jacó, que encerra o Livro de Gênesis.

11. Ver as obras de Morgan, The Analyzed Bible e Living Messages of the Books of the Bible, ambas publicadas por Fleming

H. Revell.

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Algumas pessoas dizem que o presidentedos Estados Unidos é “o líder mais po-

deroso do mundo”, porém mais de um ex-presidente iria discordar dessa afirmação.Ex-presidentes confessaram que suas ordensexecutivas não eram sempre obedecidas eque não podiam fazer muita coisa sobreisso.

Durante o primeiro mandato do pre-sidente Nixon, por exemplo, ele ordenouque fossem removidas de Washington D.C.algumas construções temporárias de aspec-to desagradável, prédios feios que estavamlá desde a época da 1ª Guerra Mundial; noentanto, levou meses para que sua ordemfosse acatada. Quando os jornalistas come-çaram a escrever sobre “a presidência im-perial”, Nixon afirmou que se tratava de umaidéia “absurda”.1 Pode ser que presidentesdeclarem e assinem ordens oficiais, mas issonão garante que alguma coisa vai, de fato,acontecer.

No entanto, quando Deus fala, algoacontece! “Pois ele falou, e tudo se fez; eleordenou, e tudo passou a existir” (Sl 33:9).Quando refletimos sobre os atos de Deusregistrados em Gênesis 1, não podemosdeixar de nos curvar reverentemente emadoração, pois seus atos criadores reve-lam um Deus de poder e de sabedoria, cujapalavra tem autoridade.

1. DEUS CRIA (GN 1:1, 2)Três livros da Bíblia abrem com “começos”:Gênesis 1:1; Marcos 1:1 e João 1:1. Cadaum desses começos é importante. As pala-vras: “No princípio era o Verbo” (Jo 1:1) re-metem-nos à eternidade passada, quando

Jesus Cristo, o Verbo vivo de Deus, existiacomo o Filho de Deus. João não estava suge-rindo que Jesus teve um começo. Jesus Cris-to é o Filho eterno de Deus que existia antesde todas as coisas, pois fez todas as coisas(Jo 1:3; Cl 1:16, 17; Hb 1:2). Assim, o “co-meço” de João é anterior ao de Gênesis 1:1.2

O Evangelho de Marcos começa com aspalavras: “Princípio do evangelho de JesusCristo, Filho de Deus”. A mensagem do evan-gelho não começou com o ministério deJoão Batista, pois as boas novas da graçade Deus foram anunciadas em Gênesis 3:15.De acordo com o testemunho de Hebreus11, houve pessoas que creram na promes-sa de Deus ao longo de todo o Antigo Testa-mento, e esses que creram foram salvos (verGl 3:1-9 e Rm 4). O ministério de João Ba-tista, o precursor de Jesus, foi o princípioda proclamação da mensagem sobre JesusCristo de Nazaré (ver At 1:21, 22 e 10:37).

A frase: “No princípio, criou Deus oscéus e a terra” (Gn 1:1) refere-se a um pas-sado indeterminado, no qual Deus fez comque o Universo viesse a existir a partir donada (Sl 33:6; Rm 4:17; Hb 1:3).3 Gênesis1:1, 2 é a declaração de que Deus criou oUniverso, enquanto a explicação sobre seusdias de trabalho criativo é apresentada norestante do capítulo.

No capítulo 1, o Deus criador é chama-do trinta e duas vezes de Elohim, uma pala-vra hebraica que enfatiza sua majestade epoder (o nome “Jeová”, usado no contextoda aliança, aparece pela primeira vez emGn 2:4). Elohim é um substantivo pluralusado com freqüência junto a verbos e ad-jetivos no singular (os tempos verbaishebraicos são singulares, duais ou plurais).Alguns acreditam que essa forma plural é oque a gramática chama de “plural de majes-tade” ou, ainda, que pode ser uma indica-ção da existência de Deus em três Pessoas.Nas Escrituras, a criação é atribuída ao Pai(At 4:24), ao Filho (Jo 1:1-3) e ao EspíritoSanto (Sl 104:30).

Elohim revela seu poder ao criar todas ascoisas simplesmente ordenando-as pela pa-lavra falada. A matéria não é eterna; ela teveinício quando Deus falou e tudo passou a

QUANDO DEUS FALA,ALGO ACONTECE

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existir (Ef 3:9; Cl 1:16; Ap 4:11; 5:13). AsEscrituras não revelam o motivo de Deuster decidido começar sua obra criativa comuma massa escura, sem forma e vazia; 4 maso Espírito Santo, que se movia sobre aságuas, 5 teria dado ordem ao caos e belezae plenitude ao que antes era vazio. 6 O Espí-rito ainda pode fazer isso, hoje em dia, navida de todo aquele que se entrega a ele.

As nações que cercavam o povo de Israelpossuíam antigas tradições que “explicavam”a origem do Universo e da humanidade. Es-ses mitos falavam de monstros que lutaramnas profundezas dos oceanos e de deusesque guerrearam para que o Universo viessea existir. No entanto, o relato simples deGênesis apresenta-nos um Deus que, sozi-nho, criou todas as coisas e ainda está nocontrole de sua criação. Se o povo de Israeltivesse prestado mais atenção ao queMoisés havia escrito, jamais teria adoradoos ídolos de seus vizinhos pagãos.

2. DEUS FORMA (GN 1:3-13)Existe um padrão nas atividades de Deusdurante a semana da criação: primeiro eleformou e depois encheu. Fez três esferasde atividade: os céus, a Terra e as águas e,então, encheu-as com as formas de vidaapropriadas.

Primeiro dia (vv. 3-5). Deus ordenou quea luz brilhasse e, depois, separou a luz dastrevas. Mas como podia haver luz se os lu-minares são mencionados apenas no quartodia (vv. 14-19)? Uma vez que não é mencio-nado que essa luz procedesse de qualquerum dos luminares criados por Deus, é pro-vável que se originava do próprio Deus, queé luz (Jo 1:5) e que se cobre com um mantode luz (Sl 104:2; Hc 3:3, 4). A cidade eternaterá luz sem fim e sem a ajuda do Sol ou daLua (Ap 22:5), portanto, não é possível quehouvesse luz desde o princípio do tempo,antes da criação dos luminares?7

A vida como a conhecemos não poderiaexistir sem a luz do Sol. Paulo viu nesse atocriador a obra de Deus na nova criação, asalvação dos perdidos. “Porque Deus, quedisse: Das trevas resplandecerá a luz, elemesmo resplandeceu em nosso coração,

para iluminação do conhecimento da glóriade Deus, na face de Cristo” (2 Co 4:6). “Avida estava nele [Jesus] e a vida era a luz doshomens” (Jo 1:4).

Nas Escrituras, a luz é associada a Cristo(Jo 8:12), à Palavra de Deus (Sl 119:105,130), ao povo de Deus (Mt 5:14-16; Ef 5:8)e à bênção de Deus (Pv 4:18), enquanto astrevas são associadas a Satanás (Lc 23:53; Ef6:12), ao pecado (Mt 6:22, 23; Jo 3:19-21),à morte (Jó 3:4-6, 9), à ignorância espiritual(Jo 1:5) e ao julgamento divino (Mt 8:12).Isso explica por que Deus separou a luz dastrevas, uma vez que as duas não têm nadaem comum. O povo de Deus deve “andar naluz” (1 Jo 1:5-10), pois “que comunhão, daluz com as trevas?” (2 Co 6:14-16; Ef 5:1-14)

Desde o primeiro dia da criação, Deusestabeleceu o princípio da separação. Elenão apenas separou a luz das trevas (Gn1:4), mas também o dia da noite (v. 14),como, posteriormente, separou as águassobre o firmamento das águas debaixo dofirmamento (vv. 6-8) e a terra das águas (vv.9, 10). Por meio de Moisés, Deus ordenouao povo de Israel que permanecesse sepa-rado das nações a seu redor (Êx 34:10-17;Dt 7:1-11), e quando transgrediram essemandamento, sofreram as conseqüências.Hoje em dia, o povo de Deus precisar tercuidado com seu modo de viver (Sl 1:1) enão ser contaminado pelo mundo (Rm 12:1,2; Tg 1:7; 4:4; 1 Jo 2:15-17).

Tendo em vista que Deus é o Criador, eletem o direito de dar às coisas o nome quelhe aprouver; assim, temos “dia” e “noite”. Apalavra “dia” pode referir-se à porção de tem-po em que é possível ver o Sol bem como atodo o período de vinte e quatro horas com-posto de “tarde e manhã” (Gn 1:5).8 Às ve-zes, os escritores bíblicos usavam a palavra“dia” para descrever um período mais lon-go, durante o qual Deus cumpre um deter-minado propósito como “o dia do SENHOR”(Is 2:12) ou “o dia do Juízo” (Mt 10:15).

Quando falamos de coisas espirituais, éimportante que usemos o dicionário de Deusbem como seu vocabulário. As palavras tra-zem consigo certos significados próprios, ese atribuímos o significado incorreto a uma

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palavra, isso pode nos colocar em sériasdificuldades. Seria um erro fatal para o pa-ciente se o médico confundisse “arsênico”com “aspirina”, de modo que os profissio-nais da saúde têm o cuidado de usar a ter-minologia exata. O “vocabulário cristão” éainda mais importante, pois a conseqüên-cia de uma confusão pode ser a morte eter-na. A Bíblia explica e ilustra palavras comopecado, graça, perdão, justificação e fé, emudar seu significado é o mesmo que colo-car mentiras no lugar da verdade de Deus.“Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem,mal; que fazem da escuridade luz e da luz,escuridade; põem o amargo por doce e odoce, por amargo” (Is 5:20).

Segundo dia (vv. 6-8). Deus colocou umfirmamento entre as águas superiores e infe-riores e o chamou de “Céus”, aquilo queconhecemos como “céu”. Ao que parece,as águas eram como um “manto” de vaporque cobria inicialmente a massa usada nacriação. Quando foram separadas da por-ção seca, as águas inferiores tornaram-se osoceanos e mares, e as águas superiores de-sempenharam um papel no dilúvio no tem-po de Noé (Gn 7:11, 12; 9:11-15).

A palavra traduzida por “firmamento”significa “compreender”. Nas Escrituras, porvezes faz-se referência ao céu como umaabóbada ou cobertura; no entanto, em ne-nhuma passagem as Escrituras apóiam a idéiapagã mitológica de que o céu é algum tipode cobertura sólida. Os luminares foram co-locados no firmamento (Gn 1:14-17), e sobele voam as aves (v. 20).

Terceiro dia (vv. 9-13). Deus reuniu aságuas e fez surgir a porção seca, criando,assim, a “Terra” e os “Mares”. Os vizinhospagãos de Israel acreditavam em todo tipode mito sobre os céus, a Terra e os mares.No entanto, Moisés deixou claro queElohim, o único e verdadeiro Deus, era Se-nhor de tudo. Pela primeira vez, Deus de-clarou aquilo que havia feito como sendo“bom” (v. 10). A criação de Deus ainda éboa, mesmo que sofra por causa do pe-cado (Rm 8:20-22) e que tenha sido de-vastada e explorada por seres humanospecadores.

Deus também fez surgir a flora sobre aterra: a relva, as ervas que dão semente e asárvores que dão frutos “segundo a sua espé-cie”, o que possibilita a ordem na natureza.Deus colocou limites de reprodução tantopara plantas como para animais (Gn 1:21),pois ele é Senhor da criação. Não há sugestãode algum tipo de “evolução”. Deus estavapreparando a Terra para ser habitada pelosseres humanos e animais, e as plantas ajuda-riam a prover o alimento para eles. Pela se-gunda vez, Deus diz que aquilo que fez ébom (v. 12).

3. DEUS PREENCHE (GN 1:14-27; 2:7)Deus criou três “espaços” específicos: a terra,os mares e o firmamento dos céus. Duranteos três dias criativos que se seguiram, preen-cheu esses espaços.

Quarto dia (vv. 14-19). No firmamentodos céus Deus colocou os corpos celestes edeu-lhes sua incumbência: fazer a divisãoentre a noite e o dia e oferecer “sinais” paramarcar os dias, anos e estações. A luz já ha-via aparecido no primeiro dia, mas no quar-to dia foi concentrada nos corpos celestes.

Em função de suas práticas religiosas, opovo de Israel precisava saber as datas eestações, quando começava e terminava osábado, quando tinha início um novo mês equando era época de comemorar suas fes-tas anuais (Lv 26). Antes da invenção dorelógio e da bússola, as atividades do serhumano estavam intimamente ligadas aosciclos da natureza, e os navegadores de-pendiam das estrelas para guiá-los. Israelprecisava da ajuda dos corpos celestes paraorientar suas atividades, e Deus usou sinaisdos céus para comunicar-se com seu povoaqui na Terra.9

Deus ordenou aos israelitas que nãoimitassem seus vizinhos pagãos adorandocorpos celestes (Êx 20:1-6; Dt 4:15-19;17:2-7). Deviam adorar o verdadeiro Deusque havia criado as “hostes celestiais”, oexército dos céus que obedecia às suasordens. Porém, o povo não obedeceu aomandamento de Deus (Jr 8:2; 19:13; Ez8:16; Sf 1:4-6), e seus pecados trouxeramgrande sofrimento.

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Os povos da Antiguidade eram fascina-dos pela Lua, pelas estrelas, pelos movimen-tos do Sol e dos planetas, e há apenas umalinha muito tênue entre admiração e adora-ção. Nas palavras de Ralph Waldo Emerson:“Se as estrelas aparecessem apenas numanoite a cada mil anos, como poderiam oshomens crer, adorar e preservar por muitasgerações a lembrança da cidade de Deusque havia sido mostrada...”.10

Quinto dia (vv. 20-23). Deus havia cria-do os céus e as águas e, então, encheu-osabundantemente de criaturas viventes. Fezpássaros para voar nos céus e criaturas aquá-ticas para brincar nos mares. “Que variedade,SENHOR, nas tuas obras! Todas com sabedoriaas fizeste; cheia está a terra das tuas rique-zas. Eis o mar vasto, imenso, no qual se mo-vem seres sem conta, animais pequenos egrandes” (Sl 104:24, 25).

Nesse dia, foi acrescentado um novo ele-mento à obra de Deus: ele não apenas viuque isso era “bom”, mas também abençoouos seres que havia criado. Essa é a primeiravez que o termo “abençoar” aparece na Bí-blia. A bênção de Deus permitiu que os ani-mais e as aves se reproduzissem emabundância, desfrutando de tudo o queDeus havia criado para eles. Deus tambémabençoou o primeiro homem e a mulher (Gn1:28; 5:2), o sábado (2:3) e Noé e sua família(9:2). Depois da criação, talvez a ocasiãomais importante em que Deus concedeu suabênção foi quando, por sua graça, fez alian-ça com Abraão e seus descendentes (Gn12:1-3). Essa bênção estende-se até o povode Deus nos dias de hoje (Gl 3:1-9).

Sexto dia (vv. 24-31; 2:7). Deus havia for-mado os céus e os preenchido com os lumi-nares celestes e as aves que voam. Haviaformado os mares e enchido as águas comvárias criaturas aquáticas. A criação chegoua seu ápice quando, no sexto dia, o Senhorcriou a fauna e, depois, o primeiro homem, oqual, juntamente com sua esposa, teria do-mínio sobre a Terra e suas criaturas.

Assim como o primeiro homem, os ani-mais foram feitos do pó da terra (2:7), oque explica por que o corpo tanto de sereshumanos quanto de animais volta ao pó

depois da morte (Ec 3:19, 20). No entanto,os seres humanos e os animais são diferen-tes. Não importa quão inteligentes sejamalguns animais ou quanto possam apren-der, não foram dotados da “imagem deDeus” como os seres humanos.11

A criação do primeiro homem é conside-rada uma ocasião muito especial, pois antesdo acontecimento é realizada uma “confe-rência”. As palavras “Façamos o homem ànossa imagem” parecem ser a conclusão deuma deliberação entre as Pessoas da Divin-dade.12 Não é possível que Deus estivessediscutindo seus planos com os anjos, poiseles não foram feitos à imagem dele (“à nos-sa imagem”) e não tiveram nada a ver com acriação de Adão.

“Então, formou o SENHOR Deus ao homemdo pó da terra e lhe soprou nas narinas ofôlego de vida, e o homem passou a ser almavivente” (Gn 2:7). O verbo “formou” faz lem-brar o oleiro criando uma obra de arte comsuas mãos habilidosas. O corpo humano é,de fato, uma obra de arte, um organismoincrivelmente complexo, que só teria sidoidealizado pela sabedoria de Deus e criadopelo seu poder.

A matéria física do corpo de Adão veioda terra, pois o nome “Adão” significa “tira-do da terra”; a vida de Adão, porém, veiode Deus. É claro que Deus é espírito e nãotem pulmões para respirar e soprar. Essadeclaração consiste em algo que os teólo-gos chamam de “antropomorfismo”, o usode características humanas para explicaruma obra ou atributo divino.13

Há vários fatos importantes a observarsobre a origem dos seres humanos. Em pri-meiro lugar, fomos criados por Deus. Nãosomos produto de algum acidente galácticonem ocupamos o degrau mais alto da esca-da evolutiva. Foi Deus quem nos fez, o quesignifica que somos criaturas e dependemosinteiramente dele. “Pois nele vivemos, e nosmovemos, e existimos” (At 17:28). Lucas3:38 chama Adão de “filho de Deus”.

Em segundo lugar, fomos criados à ima-gem de Deus (Gn 2:26, 27). Diferentementedos anjos e dos animais, os seres humanospodem ter um relacionamento muito especial

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com Deus. Não apenas nos deu personali-dade – a mente para pensar, emoções parasentir, arbítrio para tomar decisões –, mastambém nos concedeu uma natureza espiri-tual interior que nos permite conhecê-lo eadorá-lo. A imagem de Deus presente noshomens e nas mulheres foi desfigurada pelopecado (Ef 4:18, 19), mas por meio da fé emCristo e da submissão à obra do Espírito San-to, os cristãos podem ter a natureza divinarenovada dentro de si (2 Pe 1:4; Ef 4:20-24;Cl 3:9, 10; Rm 12:2; 2 Co 3:18). Um dia,quando virem Jesus, todos os filhos de Deuscompartilharão da gloriosa imagem de Cris-to (1 Jo 3:1-3; Rm 8:29; 1 Co 15:49).

Em terceiro lugar, fomos criados para terdomínio sobre a Terra (Gn 2:26, 28).14 Adãoe Eva foram os primeiros regentes da criaçãode Deus (Sl 8:6-8). “Os céus são os céus doSENHOR, mas a terra, deu-a ele aos filhos doshomens” (Sl 115:16). No entanto, quandoAdão acreditou na mentira de Satanás e co-meu do fruto proibido, perdeu seu domínio,e agora o pecado e a morte é que reinamsobre a Terra (Rm 5:12-21).

Quando Jesus Cristo, o último Adão (1 Co15:45), veio à Terra, exerceu o domínio queo primeiro Adão havia perdido. Demons-trou ter autoridade sobre os peixes (Lc 5:1-7; Jo 21:1-6; Mt 17:24-27), as aves (Mt26:69-75) e outros animais (Mc 1:13; 11:3-7). Quando morreu na cruz, conquistou opecado e a morte, de modo que agora a gra-ça pode reinar (Rm 5:21), e o povo de Deus“reinará em vida” (Rm 5:17) por meio deJesus Cristo. Um dia, quando voltar, Jesusirá devolver aos seus o domínio perdido emfunção do pecado de Adão (Hb 2:5ss).

Até o dilúvio (Gn 1:29, 30; 9:1-4), tantoAdão quanto os animais eram vegetarianos.Isaías 11:7 indica que os animais carnívorosvoltarão a ser herbívoros quando Cristo vol-tar e estabelecer seu reinado na Terra.

Em quarto lugar, esse Criador maravi-lhoso é digno do nosso louvor, da nossa ado-ração e obediência. Quando Deus fez umlevantamento de sua criação, viu que tudoera “muito bom” (Gn 1:31). Ao contrário doque algumas religiões e filosofias ensinam, acriação não é um mal, e não é pecado gozar

as boas dádivas que Deus compartilhaconosco (1 Tm 6:17). Davi observou toda acriação de Deus e perguntou: “Que é o ho-mem, que dele te lembres? E o filho dohomem, que o visites?” (Sl 8:4). A Terra nãopassa de um pequeno planeta orbitando den-tro de uma imensa galáxia e, ainda assim:“Ao SENHOR pertence a terra” (Sl 24:1). Foi oplaneta que ele escolheu para visitar e remir!

As criaturas celestiais diante do trono deDeus o louvam por sua criação, e nós deve-mos fazer o mesmo. “Tu és digno, Senhor eDeus nosso, de receber a glória, a honra e opoder, porque todas as coisas tu criaste, sim,por causa da tua vontade vieram a existir eforam criadas” (Ap 4:11). Quando curvamosnossa cabeça para orar antes das refeições eagradecer ao Senhor a comida que ele pro-vê, quando vemos o sol e a chuva que nossão oferecidos sem qualquer custo e quandovemos o desenrolar das estações, devemoselevar nosso coração em louvor ao Criadorpor sua fidelidade e generosidade.

Por fim, devemos ser bons despenseirosda criação. Isso significa que devemos respei-tar os outros seres humanos também feitos àimagem de Deus (Gn 9:6). Significa apreciaras dádivas que recebemos da criação e nãodesperdiçá-las nem abusar delas. Veremosessas questões em mais detalhes adiante, masé válido observar que não podemos honrarao Deus da criação se desonramos aquiloque ele criou.

Devemos aceitar a criação como umadádiva e empregá-la para a glória de Deus.São de Isaac Watts estas belas palavras:

A bondade do Senhor louvo eu,pois a Terra de alimento encheu.Com sua palavra as criaturas formou,“São boas”, no final, declarou.Senhor, tuas maravilhas patentes estão,para onde quer que volte meu olhar;Quer seja o caminho por onde meus pésvão,quer nos céus que estou a fitar.

“O SENHOR é bom para todos, e as suas ternasmisericórdias permeiam todas as suas obras”(Sl 145:9).

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20 GÊNESIS 1

1. Ver In the Arena. Richard M. Nixon. Nova York: Simon and Schuster, 1990, p. 206.

2. João descreve sete dias na vida de Jesus (Jo 1:19-28, 29-34, 35-42, 43-51; 2:1), o que, obviamente, é um paralelo com

Gênesis 1. Moisés escreveu sobre a antiga criação, mas João fala da nova criação (2 Co 5:17).

3. A palavra hebraica bara significa “iniciar algo novo, fazer existir”. É usada no relato da criação para descrever a criação

dos peixes e das aves (Gn 1:21), a criação do homem e da mulher (v. 27) e toda a obra criadora (Gn 1; 2:3, 4).

4. A “teoria da lacuna”, apresentada no livro Earth’s Earliest Ages [Eras antigas da Terra], de G. H. Pember, e popularizada

pela Bíblia de Referência Scofield, afirma que a criação original de Gênesis 1:1 foi julgada na queda de Satanás e que

os versículos 3 em diante descrevem a restauração da criação destruída. O versículo 2 deve ser lido: “A terra, porém,

tornou-se sem forma e vazia”. Assim, houve uma “lacuna” de duração indeterminada entre o primeiro e o segundo

versículos de Gênesis. Contudo, que motivo Deus teria para destruir a criação toda só por causa da rebelião de Satanás?

E se ele a criou instantaneamente, por que levaria seis dias para restaurá-la? As duas idéias têm defensores competen-

tes, e todos afirmam apoiar-se no texto original hebraico. Ao que me parece, os versículos 3 em diante descrevem os

atos originais de criação divina e não é necessário colocar uma “lacuna” entre o versículo 1 e o versículo 2 para resolver

quaisquer dificuldades.

5. A imagem do versículo 5 é semelhante à de uma águia pairando sobre seus filhotes (Dt 32:11). Tanto no hebraico (ruah)

como no grego (pneuma), a palavra para “Espírito” também quer dizer “vento” (ver Jo 3:8), de modo que o versículo

pode ser traduzido como “o vento de Deus pairava sobre as águas”. No entanto, a tradução mais lógica parece ser

“Espírito”.

6. “Sem forma e vazia” corresponde à expressão hebraica tohu wabohu, que descreve absoluta devastação, vazio e ruína.

Jeremias tomou essa imagem emprestada para descrever o julgamento de Deus sobre a terra de Judá (Jr 4:23) e Isaías

empregou-a para descrever a ruína de Edom (Is 34:11).

7. Alguns comentaristas acreditam que o trabalho de Deus no quarto dia não foi de criar luzeiros, mas de atribuir-lhes suas

funções. No entanto, a descrição de Gênesis 1:14-19 é paralela àquela dos outros cinco dias e dá todas as evidências

de ser uma explicação do ato criador de Deus.

8. Ao referir-se ao dia de vinte e quatro horas, o povo judeu dizia “tarde e manhã” e não “manhã e tarde”, pois seus dias

começavam com o pôr-do-sol e não o com o nascer do sol. Assim, o pôr-do-sol da quinta-feira deu início à sexta-feira e

o pôr-do-sol de sexta trouxe o sábado.

9. Quem usa mapas astrais para orientar suas decisões está seguindo antigos e fúteis costumes pagãos. Não há evidência

alguma de que a posição dos corpos celeste influencie a vida humana aqui na Terra. A Bíblia condena toda tentativa do

ser humano de prever ou de controlar o futuro (Dt 18:10-13; Is 47:13; Jr 10:2). A declaração de que o Sol e a Lua foram

feitos para “governar” o dia e a noite, respectivamente, não significa que exerçam qualquer influência particular sobre

questões pessoais, mas sim que o dia e a noite são os momentos em que operam. De acordo com a rotação da Terra,

sua órbita ao redor do Sol bem como a órbita da Lua ao redor da Terra, o Sol e a Lua governam a quantidade de luz que

incide sobre a Terra.

10. EMERSON, Ralph Waldo. Nature. Boston: Beacon Press, 1985, pp. 9, 10.

11. Ainda que muitos animais sejam mais fortes e vivam mais tempo do que nós, Deus deu aos seres humanos o domínio

sobre eles. No entanto, isso não significa que podemos abusar e fazer o que bem entendermos com as criaturas de

Deus (Jr 27:5). Apesar de os animais nos terem sido dados para servir-nos, devemos tratá-los como criaturas feitas por

Deus. “O justo atenta para vida dos seus animais” (Pv 12:10). “Não atarás a boca ao boi quando debulha” (Dt 25:4).

Deus cuida dos animais (Sl 36:6; 104:10-18; Mt 6:26) e sabe quando estão sofrendo (Jl 1:18-20; 2:22; Jn 4:11). Deus

se interessa até mesmo pela forma como tratamos os frágeis passarinhos (Dt 22:6, 7). Aqueles que abusam da criação

de Deus e a exploram, um dia, serão julgados (Ap 11:18).

12. Encontramos um “diálogo” parecido em Gênesis 3:22; 11:7; ver também Isaías 6:8.

13. Como vimos, a palavra hebraica ruah significa “fôlego” e “espírito” (ou Espírito). O fôlego de Deus deu vida a Adão,

assim como o Espírito de Deus dá vida ao pecador que crê em Cristo (Jo 3:7, 8; 20:22).

14. É possível que Lúcifer desejasse ter o privilégio de exercer domínio sobre a Terra e suas criaturas, quando se rebelou

contra Deus e liderou alguns anjos numa revolta conta o Senhor. Isaías 14:12-17 fala principalmente da queda do rei

da Babilônia, mas por trás dessa passagem misteriosa esconde-se a imagem do “filho da alva”, que queria ser como o

Senhor e que prometeu tornar Eva como Deus (Gn 3:5).